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3º DECÊNDIO JANEIRO / 2008 – ANO XXVIII – Nº 3

I MOBILIÁRIO Os limites legais da venda de imóvel de ascendentes


para descendentes. Autor: Marcelo Dornellas (p. 3)

Furto na garagem – Responsabilidade civil do condomínio.


Autor: Gerson R. Carmanhanis (p. 4)

O que vem a ser a compra e venda de imóveis.


Autor: Jorge Tarcha (p. 6)

Geo-referenciamento de imóveis rurais.


Autor: Carlos Antonio de Araújo (p. 27)

Incorporação imobiliária – Auto-financiamento pelos


adquirentes – Rescisão – Retenção dos valor das arras –
Aplicação dos princípios consumeristas (STJ) (p. 11)

Locação por tempo determinado – Exoneração


automática do fiador – Dupla garantia – Nulidade (p. 15)

Terraço de apartamentos: Fechamento com vidro.


Autor: Daphnis Citti de Lauro (p. 35)

Jurisprudência Cartorária (p. 23)


ISSN 1982 - 4599

38 ANOS 9 771982 459001 BDI - Boletim do Direito Imobiliário


Direção:
Dominique Pierre Faga ÍNDICE
COMENTÁRIOS E DOUTRINA
Conselho Editorial:
Dominique Pierre Faga OS LIMITES LEGAIS DA VENDA DE IMÓVEL DE ASCENDENTES PARA DESCENDENTES
Alberto Prates dos Santos (Marcelo Dornellas) ..................................................................................................................... 03
Antonio Albergaria Pereira FURTO NA GARAGEM – RESPONSABILIDADE CIVIL DO CONDOMÍNIO
Heronides Dantas de Figueiredo
(Gerson R. Carmanhanis) ........................................................................................................... 04
E-mail: redacao@diariodasleis.com.br
Jornalista Responsável:
Julio Cesar Borges, MTB nº 42073 PRÁTICA DE DIREITO IMOBILIÁRIO
O QUE VEM A SER A COMPRA E VENDA DE IMÓVEIS (SEU CONCEITO JURÍDICO)
ISSN: 1982-4599
(Prof. Jorge Tarcha) ..................................................................................................................... 06
Colaboradores:
Adriano Erbolato Melo
Amaro Moraes e Silva Neto JURISPRUDÊNCIA
Américo Isidoro Angélico EMBARGOS DE TERCEIRO – POSSE EM FAVOR DO EMBARGANTE – AUSÊNCIA DE
Arthur Edmundo de Souza Rios REGISTRO DA ESCRITURA (STJ) ............................................................................................ 08
Bianca Castelar de Faria
ARROLAMENTO – ITBI – ISENÇÃO – INDEFERIMENTO – IRRELEVÂNCIA DA DISCUSSÃO
Carlos Alberto Dabus Maluf
Daniel Alcântara Nastri Cerveira (TJSP) .......................................................................................................................................... 09
Dilvanir José da Costa COMPRA E VENDA – INCORPORAÇÃO – SISTEMA DE AUTO-FINANCIAMENTO – RETEN-
Felipe Leonardo Rodrigues ÇÃO DAS ARRAS – APLICAÇÃO DO CDC (STJ) .................................................................... 11
Fernanda Souza Rabello
RESCISÓRIA – AÇÃO DE RETIFICAÇÃO DE ÁREA – INADMISSIBILIDADE (TJSP) ............. 14
Geraldo Beire Simões
Guilherme Fanti LOCAÇÃO POR TEMPO DETERMINADO – DUPLA GARANTIA – FIADOR – IMPOSSIBILI-
Iuli Ratzka Formiga DADE DE EXONERAÇÃO AUTOMÁTICA (STJ) ....................................................................... 15
Jaques Bushatsky MANDADO DE SEGURANÇA – MUNICÍPIO – EDIFICAÇÕES – FISCALIZAÇÃO – TRANS-
Jorge Tarcha
FERÊNCIA DO PODER DE POLÍCIA (TJSP) ............................................................................ 18
José Hildor Leal
Kênio de Souza Pereira NUNCIAÇÃO DE OBRA NOVA – JULGAMENTO ‘EXTRA PETITA’ – INOCORRÊNCIA –
Leonardo Henrique M. Moraes Oliveira CONSTRUÇÃO DE MURO (STJ) ............................................................................................... 20
Luis Camargo Pinto de Carvalho
Luiz Antonio Scavone Jr.
JURISPRUDÊNCIA CARTORÁRIA
Marcelo Manhães de Almeida
Márcio Flávio Lima REGISTRO DE IMÓVEIS – VENDA E COMPRA DE PARTE CERTA – DESMEMBRAMEN-
Marco Aurélio Bicalho de A. Chagas TOS ANTERIORES – APURAÇÃO DO REMANESCENTE (CSM/SP) .................................... 23
Marco Aurélio Leite da Silva REGISTRO IMOBILIÁRIO – EXIGÊNCIA DE APRESENTAÇÃO DO TÍTULO ORIGINAL –
Mário Cerveira Filho
(CSM/SP) ...................................................................................................................................... 25
Michel Rosenthal Wagner
Narciso Orlandi Neto
Regnoberto Marques de Melo Jr. BOLETIM CARTORÁRIO
Ricardo Amin Abrahão Nacle GEO-REFERENCIAMENTO DE IMÓVEIS RURAIS (Carlos Antonio de Araújo) ........................ 27
Valestan Milhomem da Costa ESTÍMULO AO CARTORÁRIO ESTUDIOSO ............................................................................... 31
Wilson Bueno Alves
ROUXINÓIS DA CLASSE ............................................................................................................... 32
Gerência Comercial:
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Impressão e Acabamento: TICULAR ...................................................................................................................................... 33
Gráfica Josemar
CONDÔMINO – ACORDO PARA PAGAMENTO DE DÉBITO – PARTICIPAÇÃO EM ASSEM-
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BLÉIA ........................................................................................................................................... 33
DIÁRIO DAS LEIS LTDA.
CNPJ(MF) 47.381.850/0001-40 LOCAÇÃO – BENFEITORIAS REALIZADAS PELO LOCATÁRIO – INDENIZAÇÃO ................ 34
Rua Bocaina, 54 - Perdizes CONDOMÍNIO – FUNDO DE OBRAS – VALOR DA CONTRIBUIÇÃO PELOS CONDÔMINOS ... 34
CEP: 05013-901 - São Paulo - SP
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Telefone e Fax: (11) 3673-3155 (PABX)
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cial. Os artigos assinados não refletem ne-
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2 DIÁRIO DAS a LEIS
opinião do DLI. ÍNDICES DE CORREÇÃO MONETÁRIA .......................................................
da direção(DLI)
IMOBILIÁRIO 3º DECÊNDIO JANEIRO/2008 – Nº 3
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COMENTÁRIOS E DOUTRIN
DOUTRINA
A
OS LIMITES LEGAIS DA VENDA DE IMÓVEL
DE ASCENDENTES PARA DESCENDENTES

Marcelo Dornellas (*)

A alienação de imó- te, incluindo o cônjuge do vação necessita de maior empenho.


vel de ascendente para alienante no rol daqueles De qualquer forma, a utilização
seus descendentes en- que necessitam anuir com de pessoa interposta objetivando lu-
contra na lei determinados a venda, para permitir seu dibriar o texto legal, isto é, o ascen-
limites, os quais, caso aperfeiçoamento, in dente efetivando a venda de um bem
inobservados podem ge- verbis: a suposto estranho, que, por sua vez
rar a anulação do negócio. “Artigo 496. É anulá- o revende ou o doe ao descendente
A legislação pátria, vel a venda de ascenden- daquele, também é anulável, vez que,
desde o Código Civil de te a descendente, salvo da mesma forma violará a lei, só que
1.916, em seu artigo se os outros descenden- indiretamente e, sem dúvida, com in-
1.132, já impunha condições para tes e o cônjuge do alienante expres- dícios de fraude mais latentes.
validação dessa modalidade de ne- samente houverem consentido”. A esse respeito, o ilustre
gócio, justamente para impedir a Entretanto, o parágrafo único do doutrinador Arnaldo Rizzardo, em sua
ocorrência de fraude por parte de artigo em questão, limita a obra “Contratos – Editora Forense –
ascendente que, com o objetivo de obrigatoriedade de intervenção do 3ª edição”, nos ensina:
reduzir o quinhão hereditário de cer- cônjuge, apenas quando o regime da
to herdeiro busca a alienação de seus “A interposição de terceira pes-
união tratar-se de separação obriga- soa visa encobrir a venda direta, coi-
bens aos outros membros da prole, tória. “Parágrafo único. Em ambos os
com o fito de se esquivar da inevitá- bida expressamente pelo artigo 496
casos, dispensa-se o consentimento (art. 1.132 do Código Anterior), de
vel colação de bens, proveniente da do cônjuge se o regime de bens for o
doação. modo a dar ao ato a aparência de
de separação obrigatória”. uma compra e venda. De certo, está
Isso porque, a doação de ascen- Como já mencionado, a intenção mais evidente a intenção de se inten-
dente para descendente importará no do legislador é evidente, no sentido tar a fraude da própria lei, o que mo-
adiantamento da legítima, de modo de evitar liberalidades disfarçadas de tiva a anulação do negócio”.
que, quando da abertura da suces- negócios reais e onerosos em mani-
são os bens doados serão trazidos à O Tribunal de Justiça do Estado
festo prejuízo de certos herdeiros, de São Paulo, em acórdãos proferi-
colação, instituto que, aliás, tem pon- haja vista que as conseqüências nes-
tualmente como cerne igualar as le- dos, retrata de forma objetiva o en-
ta modalidade de operação se verifi- tendimento jurisprudencial sedimen-
gítimas. Nesse diapasão, a pretensão cam substancialmente mais nocivas
do ascendente restaria frustrada, tado:
do que nas doações, considerando- “Compra e venda - Imóveis -
acarretando na inocuidade de seu se que nestas, os bens doados vol-
esforço em beneficiar um de seus Ascendente a descendente - Direta
tam à colação, enquanto que os ven- e por interposta pessoa - Violação em
descendentes. didos não. ambos os casos do artigo 1.132 do
Desta feita, a lei prevendo A limitação objeto deste estudo Código Civil - Prescrição -
factível situação, qual seja, doação não se restringe apenas a venda di- Inocorrência, quer seja vintenária ou
camuflada em simulação de venda e reta de pai para filho, por exemplo, quadrienal - Recurso não provido.
compra que pretendesse transpare- também, tem-se por anulável a ven- (Tribunal de Justiça de São Paulo -
cer negociação onerosa e justa, da realizada com a intervenção de Apelação Cível n. 30.158-4 - Mirassol
condicionou a eficácia de alienações terceiro, na qualidade de pessoa in- - 4ª Câmara de Direito Privado -
envolvendo as partes aqui em deba- terposta. A primeira, aliás, pode ser Relator: Cunha Cintra - 03.09.98 - V.
te, a necessidade de anuência dos facilmente constatada por intermédio U.)”
demais descendentes. de consulta ao instrumento corres- ”Escritura pública - Ação
O Novo Diploma Civil, por sua pondente, no qual se verá ou não a anulatória e possessória com pedido
vez, em seu artigo 496, deu nova re- anuência dos demais filhos, ao con- de liminar - Cerceamento de defesa
dação ao seu dispositivo anteceden- trário desta última, onde a compro- inexistente - Venda de ascendente a

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descendente por interposta pessoa, pressa no que tange a conseqüência Turma – Rel. Min. Aldir Passarinho
sem a aquiescência dos demais des- jurídica decorrente da realização do Junior – DJU 11.12.2001)”
cendentes - Simulação demonstrada negócio sem que atendido o requisi- ”Ação pauliana - Ação improce-
- Compra e venda realizada entre o to lá previsto. O ato é anulável. dente - Admissibilidade - Positivada
vendedor primitivo e o cunhado de E sendo anulável necessita, in- a venda de imóvel entre ascendente
seu filho - Revenda do comprador, condicionalmente, de comprovação e descendente - Indemonstração de
que não tomou posse do imóvel, ao da simulação do negócio. Com base ocorrência de fraude e má-fé entre
filho do vendedor primitivo pelo mes- nesta premissa, há que se permitir os contratantes “consilium fraudis” -
mo preço, 45 dias após a primeira por parte do filho adquirente a produ- Diferimento das custas - Recurso
venda - Ato nulo - Arts. 145, V, e 1132 ção de prova contrária às alegações parcialmente provido. (Tribunal de
do CC - Majoração dos honorários de de fraude à lei. Até porque, a fraude Justiça de São Paulo, Apelação Cível
advogado - Exegese do art. 20, § 4º, não se presume, deve ser provada, n. 340.740-4/1 - São Paulo - 4ª Câ-
do CPC - Improvimento do recurso restando imprescindível que se ates- mara de Direito Privado - Relator:
dos réus, provido, em parte, o adesi- te o consilium fraudis entre as par- Munhoz Soares - 21.10.04 - V. U.)”
vo dos autores. (Tribunal de Justiça tes.
de São Paulo - Apelação Cível n. Pode-se concluir a partir do aci-
135.445-4-/5 - Batatais - 4ª Câmara Inexistindo prejuízos dos demais ma disposto, que a alienação de bem
de Direito Privado de Férias “Janei- herdeiros, sendo o preço do negócio imóvel (móveis, inclusive) de ascen-
ro/2003” - Relator: Carlos Stroppa - justo e real, fraude não haverá, e va- dentes para seus descendentes, en-
30.01.03 - V. U.)” lidado o ato estará, pois, a mera ven- contra restrições legais, entraves es-
da de pai para filho, por exemplo, não tes que objetivam evitar fraudes
Independente das circunstâncias importa em sua anulabilidade. oriundas de negócios simulados que
nas quais se proceda a venda, quer detenham como foco preterir herdei-
seja diretamente do ascendente para Nossos pretórios, nos termos de
decisão do Superior Tribunal de Jus- ros em detrimento de outros, no que
o descendente ou através de pessoa se refere ao quinhão hereditário ga-
interposta, em ambas as hipóteses, tiça e do Tribunal de Justiça do Esta-
do de São Paulo, corroboram o en- rantido por lei.
far-se-á indispensável à anulação do
tendimento exposto: Portanto, mesmo respeitando-se
negócio, a prova da simulação
“Inobstante, farta discussão dou- as teses contrárias, não se pode afir-
caracterizadora da fraude.
trinária e jurisprudencial, adota-se a mar que o simples fato da venda de
A intenção do legislador tal como corrente que entende cuidar-se de ato um bem nas circunstâncias ora des-
anteriormente ventilado, foi a de evi- anulável, de sorte que o seu critas importará na ineficácia do ato, na
tar a fraude fundada na venda simu- desfazimento depende da prova de medida em que, atentando-se ao es-
lada de bens que se preste para que a venda se fez por preço inferior pírito da lei, impor-se-á a comprovação
acobertar doações de fato, prejudi- ao valor real dos bens, para fins de de fraude entre os contratantes, para
cando assim, a legítima de um ou caracterização da simulação, circuns- então, aplicar-se a sanção legal.
mais herdeiros. tância sequer aventada no caso dos (*) O autor é sócio do escritório
O artigo aplicável à espécie (art. autos, pelo que é de se ter como líci- Cerveira, Dornellas e advogados as-
496 do C.C. 2002) faz previsão ex- ta a avença (STJ – Resp. 74.135 - 4º sociados

FURTO NA GARAGEM
RESPONSABILIDADE CIVIL DO CONDOMÍNIO

Gerson Ribeiro Carmanhanis (*)


Assunto que tem despertado dos nas garagens dos edifícios. uma vez que comumente não assu-
bastante interesse na mídia é o pro- Em princípio, os condomínios mem o dever de guarda ou vigilância
blema que os condomínios em edifí- não possuem nenhuma responsabi- dos veículos ou de seus acessórios.
cios vêm enfrentando no seu dia-a- lidade civil pela ocorrência em suas Ao estacionar o seu veículo na
dia no que concerne a ocorrência de dependências de furto ou roubo de vaga de garagem existente no pré-
furto ou roubo de acessórios de veí- veículos, bem como pelos objetos dio, o condômino não transfere a
culos, quando estes estão estaciona- deixados no interior dos mesmos, guarda do mesmo ao condomínio,

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muito menos se estabelece um con- a responsabilidade do condomínio a lei de ordem pública, muito menos
trato de depósito. quando nenhuma obrigação assuma os bons costumes, uma vez que é
Assim, impõe-se a necessidade perante os condôminos relativamen- perfeitamente aceitável que os
de estabelecer distinção entre os con- te à guarda de veículos”. condôminos estabeleçam, por mútua
domínios que dispõem de serviços de Ainda, decidiu o Superior Tribu- conveniência, de que mais adequado
segurança, garagista ou manobrista nal de Justiça: ao interesse comum é não ter o con-
e os que não possuem tais serviços. domínio que indenizar danos, eventu-
“Responsabilidade Civil - Condo- almente sofridos pelos condôminos.
Tal fato é de extrema importân- mínio - Furto de veículo. A responsa-
cia, porquanto a responsabilidade do bilidade do condomínio, decorrente de Neste sentido, vale destacar os
condomínio é limitada a ações preven- furto ou danificação de veículo deixa- ensinamentos do saudoso ilustre juris-
tivas cabíveis para garantir-se segu- do na garagem do edifício, existirá na ta J. Nascimento Franco, na sua exce-
rança aos condôminos e seu medida em que ficar estabelecido que lente obra “Condomínio”, Editora Revista
patrimônio, dentro das necessidades será propiciada segurança, por deli- dos Tribunais”, que assim assevera:
e possibilidades da coletividade beração dos condôminos. A assunção “Também inexiste responsabilida-
condominial, sendo inadmissível os de responsabilidade poderá, ainda, de do condomínio por furto ou dano a
condomínios assumirem responsabi- fazer-se tacitamente. Não será, entre- veículos estacionados na garagem, se
lidades por eventos ocorridos no inte- tanto, do simples fato de existir portei- na Convenção houver cláusula
rior do prédio, respondendo tão-so- ro ou vigia que se haverá de concluir excludente daquela responsabilidade e
mente quando dispõe de vigilante es- que se oferece completa segurança se não ficar provada culpa dos empre-
pecífico para oferecer a segurança ou com os deveres daí decorrentes. Re- gados. Não obstante, havendo ou não
aparelhos eletrônicos destinados para curso não conhecido. (Rec. Esp. n.º cláusula excludente da responsabilida-
tal fim; aí nestas hipóteses estará o 41775-9,SP, DJU 15.08.94). de, o condomínio tem o dever de inde-
condomínio ofertando um serviço Em assim sendo, restou claro nizar, se o furto for cometido por vigia
além dos padrões normais de servi- que se em assembléia os ou empregado do edifício, pois no caso
ços de portaria, recepção, manuten- condôminos deliberarem em não con- se configura culpa “in eligendo” do sín-
ção e limpeza das partes comuns. Ou tratar vigia para garagem ou a insta- dico na contratação do pessoal. Por
seja, não há fundamento jurídico para lação de parafernália eletrônica que força desse princípio, o condomínio
se responsabilizar o condomínio quan- implicariam melhor segurança para responde: a) por danos causados a ve-
do nenhuma obrigação assume peran- coletividade condominial, a fim de ículos por culpa de porteiro ou gara-
te os condôminos relativamente à guar- reduzirem as despesas, não se mos- gista encarregado pela administração
da de veículos e seus acessórios. tra exigível ao condomínio responder do edifício de manobrar os carros e de
Com efeito, denota-se que para civilmente pela obrigação de indeni- guardar suas chaves; b) a pessoas
que haja responsabilidade civil do zar algum condômino que teve aces- acidentadas por mau funcionamento
condomínio, importante para o sórios de seu veículo furtado quando dos elevadores, notadamente por fa-
deslinde da questão, será certamen- estacionado na garagem. lhas mecânicas graves, uma vez que
te a circunstância de o condômino se impõe permanente controle desse
Registre-se que algumas conven- equipamento”.
estar ou não sujeito ao pagamento de ções condominiais possuem cláusula
despesas com manobristas ou vigi- Por fim, em resumo chega-se à
excludente de responsabilidade, ou conclusão de que para que haja a res-
as das garagens, hipótese em que se seja, encontra-se previamente estipu-
poderá sustentar a existência da re- ponsabilidade dos condomínios em
lado no estatuto condominial a von- edifícios é necessário que se tenha
lação de guarda e vigilância, que vai tade dos comunheiros em não inde-
culminar conseqüências na seara da adotado determinadas medidas de
nizar eventuais prejuízos sofridos segurança e que tivesse falhado no
responsabilidade civil. pelos condôminos ou por terceiros. caso concreto, ou, ainda, quando a
Nesta esteira vem se firmando Por oportuno, diga-se, em aper- Convenção do condomínio estipular
o entendimento dos nossos Tribunais, tada síntese, que tal cláusula não é em uma de suas cláusulas a assunção
inclusive o Superior Tribunal de Jus- aceita pacificamente pelo Judiciário, expressa de responsabilidade. Em
tiça, em Acórdão proferido pela Quar- eis que existem várias decisões no assim sendo, não ocorrendo tais hi-
ta Turma, tendo como Ministro sentido de que a cláusula de não in- póteses não há que se falar em res-
Relator Barros Monteiro: denizar não é lícita, por ofender lei ponsabilidade civil dos condomínios.
“Responsabilidade Civil. Condo- de caráter cogente, de ordem públi- (*) O autor é advogado do escri-
mínio. Furto de Motocicleta estacio- ca. Entretanto, a forte doutrina asse- tório Schneider Advogados Associa-
nada na garagem. Não se configura verando que tal cláusula não ofende dos.

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PRÁTICA DE DIREITO IMOBILIÁRIO
DIREITO
O QUE VEM A SER A COMPRA E VENDA DE IMÓVEIS
(seu conceito jurídico)
Prof. Jorge Tarcha (*)

Em números anteriores mostra- domínio é aplicada para as coisas Uma pessoa vai ao banco para
mos a possibilidade de se lavrar por corpóreas, que têm corpo, como um pagar uma conta de fornecimento de
meio de instrumento particular uma imóvel, um objeto, enquanto a locu- energia elétrica, e o faz por meio de
escritura definitiva de compra e ção propriedade vale para tudo, in- cheque comum.
venda de imóveis, desde que o seu clusive para as coisas incorpóreas Primeira hipótese: o caixa não
valor não ultrapasse trinta salários como, por exemplo, a propriedade dá a quitação. Fornece, apenas, uma
mínimos. intelectual. senha e diz que o título quitado so-
Assinalamos, ainda, as princi- A principal obrigação do mente será entregue após a compen-
pais diferenças entre os dois tipos de comprador sação do cheque.
escritura definitiva, a pública e a par- Conforme o art. 481, a obriga- Esse pagamento foi em caráter
ticular. ção do comprador consiste em pa- pro solvendo. O cheque não foi con-
Neste artigo trataremos da com- gar o preço da coisa, em dinheiro. siderado como se fosse dinheiro.
pra e venda como contrato. Pode-se dizer de outra manei- Segunda hipótese, mais co-
O texto legal ra: mum: o caixa, recebendo o cheque,
Para entender o que seja esse O contrato de compra e venda entrega de imediato a conta devida-
negócio jurídico vamos recorrer ao exige pagamento total. mente quitada.
que diz a lei, no caso o Código Civil. Seu conteúdo é a obrigação de Ou seja, ele considerou o che-
Art. 481. Pelo contrato de com- transmitir a propriedade contra o que como se fosse dinheiro.
pra e venda, um dos contratantes se pagamento do preço. Esse pagamento foi em caráter
obriga a transferir o domínio de certa Então, não se pode comprar a pro soluto.
coisa, e o outro, a pagar-lhe certo pre- prazo? Continuemos a tratar da exce-
ço em dinheiro. ção à necessidade de pagamento em
Não.
Note-se que o Código Civil não dinheiro.
dá, propriamente, um conceito des- Quem compra a prazo não está
comprando. Está prometendo com- Se na escritura ficou estabeleci-
se contrato. O que o legislador fez do o pagamento por meio de qualquer
(acompanhando fielmente o Código prar.
tipo de título de crédito, em caráter
revogado), foi mencionar as obriga- Quem vende a prazo não está pro soluto, isso equivale a pagamen-
ções de cada parte. vendendo. Está prometendo ven- to em dinheiro, para todos os fins de
A principal obrigação do der. direito.
vendedor A compra e venda efetiva ape- Pagamento com cheque sem
Assim, a obrigação do vendedor nas se dará quando todo o preço for fundos
é a de transferir o domínio da coi- pago.
Veremos, em outra ocasião, as
sa. Há uma exceção conseqüências do pagamento do pre-
Que coisa? Pode ser uma caixa Imagine-se um negócio no qual ço com cheques sem provisão de fun-
de fósforos, pode ser um imóvel, o preço seja pago, total ou parcial- dos (seja em caráter pro soluto, seja
pode ser uma gigantesca empresa. mente, por meio de títulos (por pro solvendo), com a respectiva ju-
Que significa transferir o exemplo, notas promissórias ou che- risprudência.
domínio? ques pré-datados), em caráter pro Nos contratos de compromis-
soluto. so ou de promessa de compra e
Significa transferir a proprieda-
de de uma pessoa para outra (no No pagamento por meio de títu- venda, de qualquer valor, não há a
caso, do vendedor para o compra- los, estes poderão ser dados em ca- escritura definitiva.
dor). ráter pro soluto ou em caráter pro Já foi visto que, quando se com-
solvendo. pra e vende, a operação deverá ser
Domínio, para os efeitos práti- Um exemplo facilitará a compre- documentada por um instrumento
cos, é o mesmo que propriedade. ensão desses dois tipos de pagamen- denominado escritura definitiva, pú-
A diferença é que a expressão to: blica ou particular.

6 DIÁRIO DAS LEIS IMOBILIÁRIO (DLI) 3º DECÊNDIO JANEIRO/2008 – Nº 3


DIREITO
PRÁTICA DE DIREITO IMOBILIÁRIO

Porém, quando apenas se pro- mente, ser lavrada a escritura defini- Quando acabou de pagar, Alice
mete vender ou comprar, a operação tiva (que deverá ser pública, pois o não tinha dinheiro para lavrar a es-
poderá ser comprovada por instru- valor excede os trinta salários). critura definitiva, pagando o ITBI
mento particular (um contrato de O famigerado compromisso (sisa) e registrá-la. Assim tinha em
compromisso de compra e venda), quitado mãos, somente, um compromisso
qualquer que seja o valor do imóvel. particular quitado e nem sequer re-
Agora, surge uma pergunta: não gistrado.
Esse instrumento particular, poderia o comprador contentar-se
após completado todo o pagamento, com um compromisso quitado? Logo a seguir, a situação finan-
deverá ser substituído por uma es- ceira de Alcides se deteriorou. Seus
critura definitiva. De maneira nenhuma. Vejamos credores foram à cata de bens em
quais as razões da negativa: seu nome, no Registro de Imóveis,
Nos contratos de compromisso
de compra e venda não há o É comum a pessoa pagar inte- para penhorá-los em processo de
recolhimento do ITBI (SISA) gralmente por um imóvel e não es- execução.
criturar o negócio, por vários motivos, O que será que encontraram?
O ITBI (Imposto sobre a Trans- como por exemplo:
missão de Bens Imóveis) somente O compromisso quitado
incide nas escrituras definitivas, a) Não ter dinheiro para pagar o prejudica também o vendedor
sejam elas públicas ou particulares. ITBI e os emolumentos cartorários e
registrais; Se a operação não for registra-
No caso das escrituras públicas, da, o imóvel terá dois proprietários, a
como é sabido, esse tributo será pago b) Ou não ter caixa contábil pe- saber:
ao tabelião, que agirá como agente rante a Receita Federal.
um proprietário de fato, o com-
do fisco, no recolhimento. Sobre este último caso, sabe- prador, que pagou o preço
Tratando-se de escritura defini- mos da existência de pessoas que
possuem grandes fortunas, obtidas e um proprietário de direito, o
tiva particular, o recolhimento deverá vendedor, em nome do qual ainda fi-
ser efetuado diretamente pelo com- por meio do tão conhecido “caixa
dois”. gura o imóvel.
prador, em banco.
Tais indivíduos aplicam vultosas Pois bem. O comprador entrou
O registrador exigirá o compro- na posse do imóvel e dele desfruta.
vante de pagamento, por ocasião da somas em imóveis, mas não lhes é
entrada do título. possível escriturar e registrar as ope- Todavia, os impostos, taxas,
rações, por motivos óbvios. contribuições de melhoria e rateios de
Um exemplo muito freqüente, na despesas condominiais ainda figuram
prática Julgam então estar protegidos
tendo em mãos um compromisso em nome do vendedor.
Imagine-se que João deseja ad- quitado. No inadimplemento do compra-
quirir, de José, um imóvel, por cem
Haveria algum problema? Veja- dor com relação a tais despesas, as
mil reais.
mos. cobranças irão recair na pessoa do
Ajustou-se um sinal de dez mil vendedor.
reais e o pagamento do saldo de no- Um exemplo muito instrutivo:
Alice comprou, de Alcides, um apar- O compromisso quitado não
venta mil reais em trinta dias.
tamento, comprometendo-se a dar poderá ser registrado
Na prática dos negócios, essa é uma entrada e pagar o saldo em dez
uma operação à vista. Mas, juridica- prestações mensais. Um registrador consciente, ao
mente, não é. deparar com um contrato de compro-
Procedeu corretamente, provi-
Trata-se de uma promessa, ou misso de compra e venda com as
denciando antes todas as certidões
compromisso de compra e venda, parcelas totalmente pagas, negará o
pessoais do vendedor.
que, como já dito,.poderá ser objeto registro.
Alcides tinha o nome absoluta-
de um contrato elaborado por instru- mente limpo, de sorte que ela fechou Exigirá que seja lavrada a escri-
mento particular. negócio, por meio de um instrumen- tura definitiva, pública ou particular,
Porém, quando for pago o saldo to particular de compromisso de com- conforme o valor do imóvel, com o
de noventa mil, deverá, obrigatoria- pra e venda. devido recolhimento do ITBI.

(*) O autor é Advogado, Professor de Direito Imobiliário. Autor dos livros: Direito Imobiliário, Uma Abordagem
Didática, edição particular; Títulos de Crédito, Editora Plêiade; Contratos Mercantis, Editora Graph Press; Despesas
Ordinárias e Extraordinárias de Condomínio, Editora Juarez de Oliveira. Autor do curso a distância, por correspondên-
cia, sobre locação de imóveis, da empresa Diário das Leis. E-mail: jorgetarcha@jorgetarcha.com.br

3º DECÊNDIO JANEIRO/2008 – Nº 3 DIÁRIO DAS LEIS IMOBILIÁRIO (DLI) 7


JURISPRUDÊNCIA
JURISPRUDÊNCIA
EMBARGOS DE TERCEIRO – POSSE EM FAVOR DO EMBARGANTE –
AUSÊNCIA DE REGISTRO DA ESCRITURA NO REGISTRO DE IMÓVEIS
ADMISSÃO DOS EMBARGOS – C. CIVIL/1916 (STJ)
Recurso Especial Nº 457.524 - RN (2002/0104369-0) É o relatório.
Relator: Ministro João Otávio de Noronha 1. “É admissível a oposição de embargos de terceiro
Recorrente: Fazenda Nacional fundados em alegação de posse advinda de compromis-
Recorrido: Magno Fernando Vila e Cônjuge so de compra e venda de imóvel, ainda que desprovido
EMENTA do registro” (Súmula n. 84/STJ).
Processo Civil. Embargos de terceiro. Posse em 2. Recurso especial parcialmente conhecido e, nes-
favor do embargante. Ausência de registro da escritu- sa parte, improvido.
ra no cartório de imóveis. Súmula n. 84 do STJ. 1. “É VOTO
admissível a oposição de embargos de terceiro fun-
dados em alegação de posse advinda de compromis- A irresignação não reúne condições de prosperar.
so de compra e venda de imóvel, ainda que desprovi- Conforme bem consignado no decisum impugnado,
do do registro” (Súmula n. 84/STJ). 2. Recurso espe- a jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça tem ad-
cial parcialmente conhecido e, nessa parte, improvido. mitido a oposição de embargos de terceiro fundados em
ACÓRDÃO alegação de posse advinda de compromisso de compra e
venda de imóvel, ainda que desprovido de registro. Des-
Vistos, relatados e discutidos os autos em que são se modo, o aresto recorrido alinha-se ao enunciado da
partes as acima indicadas, acordam os Ministros da Se- Súmula n. 84 desta Corte.
gunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unani-
midade, nos termos do voto do Sr. Ministro Relator, co- Corroborando tal entendimento, trago à colação os
nhecer parcialmente do recurso e, nessa parte, negar-lhe seguintes julgados: “Embargos de terceiro. Aquisição de
provimento. Os Srs. Ministros Humberto Martins e Eliana imóvel. Financiamento do agente financeiro pelo extinto
Calmon votaram com o Sr. Ministro Relator. Impedido o BNH - Banco Nacional de Habitação. Súmulas nºs 7 e 84
Sr. Ministro Castro Meira. Presidiu o julgamento o Sr. Mi- da Corte. Prequestionamento. 1. A Súmula nº 84 da Corte
nistro João Otávio de Noronha. autoriza o ajuizamento dos embargos de terceiro ainda
que ausente o registro. 2. Não prequestionados os arti-
RELATÓRIO gos 655, § 2º, do Código de Processo Civil e 755 do Códi-
Trata-se de recurso especial interposto pela Fazen- go Civil de 1916, ficam inviáveis de apreciação nesta Cor-
da Nacional, com fundamento nas alíneas “a” e “c” do te. 3. A Súmula nº 7 da Corte não autoriza o reexame das
permissivo constitucional, contra acórdão proferido pela provas, no caso, sobre a natureza do bem de família. 4.
Primeira Turma do TRF da 5ª Região, o qual restou assim Recurso especial não conhecido” (REsp n. 584.979/PE,
ementado: “Embargos de terceiro. Contrato de compra Terceira Turma, relator Ministro Carlos Alberto Menezes
do imóvel não registrada. Súmula 84 do STJ. Direito, DJ de 2.5.2005).
Insubsistência da penhora. 1. “É admissível a oposição “Embargos de terceiro. Efeito suspensivo. Promes-
de embargos de terceiros fundados em alegação de pos- sa de venda e compra. Imóvel gravado com hipoteca.
se advinda do compromisso de compra e venda de imó- Admissibilidade da via eleita.
vel, ainda que desprovido de registro” (Súmula nº 84 do
– “É admissível a oposição de embargos de terceiro
STJ). 2. Os embargos demonstraram a posse do bem pe-
fundados na alegação de posse advinda de compromisso
nhorado, desde muito antes, até, da constituição do pró-
de compra e venda de imóvel, ainda que desprovido de
prio débito, ou do ajuizamento da execução, de acordo
registro” (Súmula n. 84-STJ).
com a escritura de promessa de compra e venda celebra-
da entre eles e a executada, mas não levada a registro. 3. – “A hipoteca firmada entre a construtora e o agente
Remessa oficial improvida” (fl. 101). financeiro, anterior ou posterior à celebração da promes-
sa de compra e venda, não tem eficácia perante os
Sustenta a recorrente, nas razões do apelo nobre, adquirentes do imóvel” (Súmula n. 308-STJ).
que o aresto impugnado violou os arts. 530, 531 e 533 do
Código Civil de 1916, alegando, ainda, divergência Recurso especial conhecido e provido” (REsp n.
jurisprudencial. Defende, em síntese, colacionando pre- 475.688/PR, Quarta Turma, relator Ministro Barros
cedentes da Suprema Corte, que não enseja embargos Monteiro, DJ de 27.6.2005).
de terceiros a penhora a promessa de compra e venda Diante do exposto, conheço parcialmente do recurso
não inscrita no registro de imóveis. e, nessa parte, nego-lhe provimento.
Admitido o recurso, sem contra-razões, ascenderam É o voto.
os autos ao Superior Tribunal de Justiça. Brasília, 15 de agosto de 2006.
8 DIÁRIO DAS LEIS IMOBILIÁRIO (DLI) 3º DECÊNDIO JANEIRO/2008 – Nº 3
JURISPRUDÊNCIA
JURISPRUDÊNCIA

ARROLAMENTO – IMPOSTO DE TRANSMISSÃO – PEDIDO DE ISEN-


ÇÃO – INDEFERIMENTO – IRRELEVÂNCIA DA DISCUSSÃO PARA O
ARROLAMENTO (TJSP)
ACÓRDÃO do do Egrégio Superior Tribunal de Justiça, da lavra da
Arrolamento. Isenção do imposto de transmissão nobre Ministra Eliana Calmon, assim ementado:
causa mortis. Lei nº 10.705/2000. Declaração pelo juiz. Tributário - Imposto de Transmissão Causa Mortis
Art. 1.013 CPC. Precedentes do STJ que, todavia, se (Art. 179 do CTN). 1. Cabe ao juiz do inventário, à vista da
referem ao procedimento comum do inventário e não situação dos herdeiros, miseráveis na forma da lei, por
ao procedimento simplificado do arrolamento. Arts. isto ao apanágio da Justiça Gratuita, declará-los isentos
982 e ss. e 1.031 e ss. CPC. Irrelevância da discussão do pagamento do imposto de transmissão causa mortis.
para o arrolamento. Art. 1.034 do CPC. No arrolamen- 2. Providência que independe de burocrático requerimen-
to não se discutem questões ligadas ao lançamento, to na esfera administrativa para o reconhecimento judici-
pagamento ou quitação de tributos sobre a transmis- al. 3. Recurso especial provido. (REsp 238.161-SP, 2ª T.,
são da propriedade e taxas judiciárias, ressalvado o Min. Eliana Calmon, j. 12/09/2000, DJ 09.10.2000, p. 133,
direito de a Fazenda apurar diferença em processo JBCC, 185/297, LEXSTJ, 137/240).
administrativo. Recurso provido para afastar a discus- Todavia, não só este julgado, como outros sobre o
são ligada ao “causa mortis” e determinar o prosse- mesmo tema (REsp 114.461/RJ, 4ª T., Min. Ruy Rosado
guimento do feito. de Aguiar, j. 09/06/1997, REsp 143.542/RJ, 1ª T., Min.
Vistos, relatados e discutidos estes autos de Agravo Milton Luiz Pereira, j. 15/02/2001, REsp 138.843/RJ, 2ª
de Instrumento nº 460.013-4/0-00, da Comarca de São T., Min. Castro Meira, j. 08/03/2005, REsp 173.505/RJ, 2ª
Caetano do Sul, em que figuram como agravantes Aline T., Min. Franciulli Netto, j. 19/03/2002) referem-se especi-
Nasi, Anderson Nasi e Espólios de Mário Nasi e de Dilva ficamente ao procedimento comum de inventário (arts. 982
Selleri Nasi e agravado o juízo. e ss., CPC) e não ao procedimento simplificado de arrola-
Acordam, em Quarta Câmara de Direito Privado do mento (arts. 1.031 e ss., CPC).
Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, por votação No procedimento comum de inventário, diz o art.
unânime, dar provimento ao recurso. 1.013 do Código de Processo Civil, de fato, que caberá
Trata-se de agravo de instrumento tirado da r. deci- ao juiz julgar o cálculo do imposto causa mortis, e, conso-
são (fl. 20), pela qual o MM. Juiz indeferiu o pedido de ante os julgados supracolacionados, caber-lhe-ia decidir
isenção do pagamento do imposto de transmissão causa acerca da isenção.
mortis - ITCMD, formulado pelos agravantes Aline e Mas tal não é o caso sob exame, que se trata de
Anderson, beneficiários da justiça gratuita, nos autos do arrolamento, no qual não serão conhecidas ou aprecia-
arrolamento de bens deixados por Mário Nasi, falecido das questões relativas ao lançamento, ao pagamento ou
em 15.9.96, por entender que “no exercício da competên- à quitação de taxas judiciárias e de tributos incidentes
cia jurisdicional, não cabe ao juiz ficar isentando o reco- sobre a transmissão da propriedade dos bens do espólio
lhimento do tributo”. (art. 1.034, CPC). E, se não cabe ao juiz conhecer ou apre-
Os agravantes, considerando que o óbito do de cujus ciar tais questões, também não cabe a ele decidir sobre a
Mário ocorreu antes da vigência da Lei Estadual 10.705/ isenção pretendida, que deve ser pleiteada administrati-
00, sustentam, com fundamento no § 2º do art. 1.013 do vamente.
Código de Processo Civil, que o “recolhimento do impos- Aliás, nessa esteira, igualmente não cabe ao Juiz do
to ‘causa mortis deve ser calculado pelas vias judiciais, arrolamento condicionar seu prosseguimento à compro-
cabendo ao juiz da causa, ao homologar o cálculo, reco- vação da regularidade do pagamento do imposto de trans-
nhecer a isenção tributária”. Pedem, pois, a reforma da missão causa mortis pelos agravantes, porque a provi-
decisão, para que sejam declarados isentos do pagamento dência é absolutamente irrelevante ao deslinde do pro-
do ITCMD, referente às cotas incidentes sobre a metade cesso.
do bem deixado pelo de cujus. Em suma, nos casos específicos de arrolamento, a
homologação da partilha independe de aprovação pela
Indeferido o pedido liminar (fl. 22), sobrevieram in- autoridade fazendária do cálculo, isenção, parcelamento,
formações (fl. 27). etc. do imposto causa mortis.
Este é o relatório. Nesse sentido, já decidiu recentemente esta Câma-
Os agravantes sustentam seu pedido na Lei 10.705/ ra, em acórdão relatado pelo ilustre Des. Maia da Cunha
00, no art. 1.013 do Código de Processo Civil e em julga- (AI nº 396.256-4/7 - São Paulo, j. 30.6.05).
3º DECÊNDIO JANEIRO/2008 – Nº 3 DIÁRIO DAS LEIS IMOBILIÁRIO (DLI) 9
JURISPRUDÊNCIA
JURISPRUDÊNCIA

“Assente-se, inicialmente, que, embora a discussão mologação de partilha ou adjudicação, o respectivo for-
gire em torno da incidência ou não da Lei nº 10.705/2000, mal, bem como os alvarás referentes aos bens por ele
pelo fato de o falecimento dos inventariados ter ocorrido abrangidos, só serão expedidos e entregues às partes
anteriormente à sua edição, o certo é que tal controvérsia após a comprovação, verificada pela Fazenda Pública, do
não tem razão de ser se no arrolamento não se admite pagamento de todos os tributos.
qualquer discussão sobre o imposto de transmissão, nos A partir daí se passou a vislumbrar a necessidade de
exatos termos do art. 1.034 do Código de Processo Civil. ser exigido o recolhimento do tributo, antes da expedição
A questão a ser enfrentada para a solução definitiva do formal de partilha, pela alteração produzida no Código
da controvérsia envolve a interpretação do art. 1.034 em de Processo Civil através da Lei nº 9.280/96.
relação ao art. 1.031, § 2º, acrescentado pela Lei nº 9.280/ No entanto, melhor análise do parágrafo acrescenta-
96, ambos do Código de Processo Civil. do ao ‘caput do art. 1.031, mostra que é apenas aparente
O art. 1.034 dispõe que: o conflito com o art. 1.034. O que visou o § 2º do art.
‘Art. 1.034 - No arrolamento, não serão conhecidas 1.031, nas partilhas amigáveis feitas em arrolamento, foi,
ou apreciadas questões relativas ao lançamento, ao pa- antes da expedição do formal ou de alvará, submeter ao
gamento ou à quitação de taxas judiciárias e de tributos crivo da Fazenda ‘a prova da quitação dos tributos relati-
incidentes sobre a transmissão da propriedade dos bens vos aos bens do espólio e às suas rendas’, o que é muito
do espólio. diferente da ‘quitação de taxas judiciárias e de tributos
incidentes sobre a transmissão da propriedade dos bens
Parágrafo primeiro - A taxa judiciária, se devida, será do espólio a que alude o art. 1.034, ambos do Código de
calculada com base no valor atribuído pelos herdeiros, Processo Civil.
cabendo ao fisco, se apurar em processo administrativo
valor diverso do estimado, exigir a eventual diferença pe- Em suma, o que se está afirmando é que, em rela-
los meios adequados ao lançamento de créditos tributá- ção às taxas judiciárias e ao imposto de transmissão da
rios em geral. propriedade dos bens do espólio, não incide a regra do §
2º, do art. 1.031, do Código de Processo Civil, cuja finali-
Parágrafo segundo - O imposto de transmissão será dade é específica para os tributos ligados aos bens do
objeto de lançamento administrativo, conforme dispuser espólio e suas rendas. Em outras e simples palavras: no
a legislação tributária, não ficando as autoridades arrolamento é inviável qualquer discussão sobre o impos-
fazendárias adstritas aos valores dos bens do espólio atri- to de transmissão conhecido como ‘causa mortis’, não se
buídos pelos herdeiros’. submetendo, portanto, a nenhuma conferência ou exigên-
Daí se pode inferir, com clareza, que, por conta do cia da Fazenda em relação ao seu recolhimento.
art. 1.034, §§ 1º e 2º, do Código de Processo Civil, no Nessa linha de entendimento já decidiu a 2ª Câmara
arrolamento não é possível a discussão envolvendo tribu- de Direito Privado, em v. acórdão relatado pelo eminente
tos incidentes sobre a transmissão de propriedade dos Desembargador Boris Kauffmann, do qual se colhe se-
bens do espólio. O texto veda a discussão e a exigência guinte trecho.
de tributos incidentes sobre os bens do espólio, ficando
para o fisco, administrativamente, a incumbência de veri- ‘O art. 1.031 do Código de Processo Civil exige, em
ficar a correção dos valores e cobrar eventual diferença seu caput, a prova de quitação ‘dos tributos relativos aos
através do procedimento administrativo apropriado. bens do espólio e às suas rendas’, ou seja, aqueles que
têm, como fato gerador, o próprio bem ou a renda por ele
E nessa direção sempre se decidiu tanto neste Egré- produzida, ao passo que o art. 1.034 do mesmo estatuto
gio Tribunal de Justiça quanto no Colendo Superior Tribu- alude à taxa judiciária e ao ‘tributo incidente sobre a trans-
nal de Justiça (Agravo de Instrumento nº 183.879-1, Ri- missão da propriedade dos bens do espólio’, isto é, a taxa
beirão Preto, 1ª Câmara de Direito Privado do TJSP. Rel. devida pela prestação do serviço judiciário e o imposto
Des. Guimarães e Souza, em 27.10.92, Rec. Esp. 36.738/ devido pela transmissão do bem’. (Agravo de Instrumen-
SP, 1ª Turma do STJ, Rel. Min. Demócrito Reinaldo, em to nº 288.281-4/8, São Paulo, Des. Boris Kauffmann, Voto
14.12.94, Unânime, ‘in RT 718/267). 9.660. M.V.).
A questão surgiu a partir da introdução do § 2º, do A idéia do legislador foi a de facilitar a solução de
art. 1.031, do Código de Processo Civil, fato ocorrido com transmissão dos bens através do arrolamento, sempre de
a Lei nº 9.280, de 30.5.96, quando se passou a entender pequena monta, não fazendo nenhum sentido que se exi-
que não mais poderia prevalecer o disposto no art. 1.034 ja tenham os herdeiros que vencer a burocracia e a difi-
do Código de Processo Civil. culdade oriunda do cumprimento de Portaria junto ao Posto
Tudo por conta da redação do § 2º do art. 1.031, as- Fiscal que, além de normalmente ser distante da sede do
sim colocada: ‘Transitada em julgado a sentença de ho- Poder Judiciário competente para prestar a jurisdição, ain-
10 DIÁRIO DAS LEIS IMOBILIÁRIO (DLI) 3º DECÊNDIO JANEIRO/2008 – Nº 3
JURISPRUDÊNCIA
JURISPRUDÊNCIA

da impõe exigências que se constituem num verdadeiro e 36.758/SP, Relator Min. Demócrito Reinaldo, DJU
invencível calvário para os pequenos beneficiários de he- 13.02.1995). Recurso especial não conhecido (Rec. Esp.
rança. nº 466.790/SP, 2ª Turma, Min. Franciulli Netto, em
E diversamente não se pode entender, sob pena de 10.06.2003, “in” DJ de 08.09.2003, pg. 294).
o arrolamento de bens, em vez de ser o procedimento de Daí porque, no caso em apreciação, por razão diver-
fácil e rápida solução imaginado do legislador, constituir- sa da mencionada pelo agravante, é absolutamente des-
se num problema impossível de ser solucionado pelo sim- necessária a verificação da isenção e outras providênci-
ples e pequeno herdeiro de bens de reduzido valor. as ligadas ao recolhimento do imposto ‘causa mortis’, e,
Tanto que, muito recentemente, o Colendo Superior em conseqüência, de rigor o provimento do recurso para
Tribunal de Justiça confirmou este entendimento com a determinar o prosseguimento do inventário sem qualquer
seguinte ementa: ‘Recurso especial - Alínea “A” - Tributá- discussão sobre o recolhimento daquele tributo’.
rio - Imposto de Transmissão Causa Mortis - Inventário Ante o exposto, dá-se provimento ao recurso, para
da genitora dos inventariantes processado sob a forma determinar o prosseguimento do arrolamento sem qual-
de arrolamento - Discussão acerca do pagamento inte- quer discussão sobre o recolhimento do imposto sobre
gral do Imposto e Taxas Judiciárias - Impossibilidade - transmissão causa mortis pelos agravantes.
Art. 1.034 E parágrafos do CPC. É cediço o entendimen- Participaram do julgamento, os Desembargadores
to, tanto doutrinário quanto jurisprudencial, no sentido de Ênio Zuliani (Presidente, sem voto), Fábio Quadros e Natan
que nos inventários processados sob a modalidade de Zelinschi.
arrolamento, procedimento de rito sumário, não se admi-
te questionamento pela Fazenda Estadual acerca do pa- São Paulo, 28 de setembro de 2006.
gamento de tributos relativos à transmissão (cf. REsp nº Teixeira Leite, Relator

COMPRA E VENDA – INCORPORAÇÃO – SISTEMA DE AUTO-FINANCI-


AMENTO – DEVOLUÇÃO DAS PARCELAS PAGAS – RETENÇÃO DO
VALOR DAS ARRAS – APLICAÇÃO DOS PRINCÍPIOS CONSUMERISTAS
À RELAÇÃO JURÍDICA (STJ)
Recurso Especial nº 633.793 - SC (2004/0025934-0) Precedente: EResp nº 59.870/SP, Rel. Min. Barros
Relatora: Ministra Nancy Andrighi Monteiro.

Recorrente: APL Incorporações e Construções Ltda - Há enriquecimento ilícito da incorporadora na


aplicação de cláusula que obriga o consumidor a es-
Recorrido: Maria Inês Hasckel perar pelo término completo das obras para reaver seu
EMENTA dinheiro, pois aquela poderá revender imediatamente
Consumidor. Recurso especial. Rescisão de con- o imóvel sem assegurar, ao mesmo tempo, a fruição
trato de compromisso de compra e venda de imóvel. pelo consumidor do dinheiro ali investido.
Incorporadora que se utiliza de sistema de ‘auto-fi- - Irrelevante a homologação do contrato-padrão
nanciamento’. Devolução das parcelas pagas pelo pelo Ministério Público, porquanto tal decisão não
promitente-comprador, já descontado o valor das ar- pode vincular o resultado da análise judicial da ques-
ras, apenas após o término de toda a construção. Apli- tão.
cação dos princípios consumeristas à relação jurídi-
ca. Irrelevância do veto ao § 1º do art. 53 do CDC. Aná- Recurso especial não conhecido.
lise prévia do contrato-padrão pelo Ministério Públi- ACÓRDÃO
co. Irrelevância. Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam
- Rejeitam-se os embargos de declaração quan- os Ministros da Terceira Turma do Superior Tribunal de
do ausente omissão, obscuridade ou contradição a Justiça, na conformidade dos votos e das notas
ser sanada. taquigráficas constantes dos autos, por unanimidade, não
- Apesar do veto ao § 1º do art. 53 do CDC, o teor conhecer do recurso especial, nos termos do voto da Sra.
de tal dispositivo pode ser depurado a partir dos prin- Ministra Relatora. Os Srs. Ministros Castro Filho e Carlos
cípios gerais do direito positivo brasileiro e do CDC. Alberto Menezes Direito votaram com a Sra. Ministra

3º DECÊNDIO JANEIRO/2008 – Nº 3 DIÁRIO DAS LEIS IMOBILIÁRIO (DLI) 11


JURISPRUDÊNCIA
JURISPRUDÊNCIA

Relatora. Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Antô- b) violação ao art. 53 do CDC, além de existência de
nio de Pádua Ribeiro. Ausente, ocasionalmente, o Sr. Mi- dissídio jurisprudencial, porquanto abusiva é, apenas, a
nistro Humberto Gomes de Barros. cláusula que estabeleça a perda total das prestações pa-
Brasília (DF), 07 de junho de 2005 (data do julga- gas e não a que determine o adiamento da devolução.
mento). É o relato do necessário.
Ministra Nancy Andrighi, Relatora VOTO
RELATÓRIO A Exma. Sra. Ministra Nancy Andrighi (Relator):
A Exma. Sra. Ministra Nancy Andrighi (Relator): Cinge-se a controvérsia ao exame da possibilidade
Recurso especial interposto por APL INCORPORA- de declaração da abusividade de cláusula contratual que
ÇÕES E CONSTRUÇÕES LTDA, com arrimo nas alíneas determina a restituição dos valores pagos em razão de
“a” e “c” do permissivo constitucional, contra acórdão pro- rescisão contratual, já descontado o valor relativo às ar-
ferido pelo TJSC. ras, apenas após o término das obras financiadas por
aqueles aportes.
Ação: de devolução de valores pagos, proposta por
MARIA INÊS HASCKEL em desfavor do ora recorrente, I - Da rejeição dos embargos declaratórios
objetivando a imediata restituição das prestações men- O recorrente não disse qual artigo de lei federal, em
sais dadas em adimplemento de compromisso de com- seu entendimento, teria sido violado pela rejeição dos
pra e venda de imóvel, em virtude de rescisão da respec- embargos declaratórios, e nem trouxe dissídio
tiva avença. jurisprudencial sobre a questão, de modo que é inviável a
Sentença: julgou procedente o pedido para declarar análise de sua irresignação, tanto pela alínea “a” quanto
a nulidade das cláusulas contratuais que determinam a pela alínea “c” do permissivo constitucional.
devolução dos valores pagos apenas após o término da De qualquer sorte, a simples leitura das razões de
obra. embargos de declaração mostram que o inconformismo
Acórdão: negou provimento ao apelo, com a seguin- diz respeito ao julgamento de mérito da lide, o que não
te ementa: daria ensejo ao sucesso da alegação de nulidade do
acórdão recorrido.
“APELAÇÃO CÍVEL - AÇÃO DE DEVOLUÇÃO DOS
VALORES PAGOS - RESCISÃO CONTRATUAL - PRO- II - Da aplicação do art. 53 do CDC à lide
MESSA DE COMPRA E VENDA DE IMÓVEL - PARCE- Sustenta o recorrente que o acórdão, ao declarar
LAS PAGAS - RESTITUIÇÃO DEVIDA - APLICAÇÃO DO abusiva a cláusula que prevê a restituição dos valores no
ART. 53 DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR - mesmo número de parcelas mensais àquelas efetivamente
RETORNO DAS PARTES CONTRATANTES AO ESTA- pagas, com data de vencimento inicial no sexto mês após
DO ANTERIOR - ENRIQUECIMENTO SEM CAUSA - IM- o término da construção de todo o conjunto habitacional,
POSSIBILIDADE - SENTENÇA MANTIDA - RECURSO feriu o art. 53 do CDC, porquanto tal dispositivo restringe-
NÃO PROVIDO. se a declarar, apenas, a abusividade da cláusula que pre-
‘Nos contratos de compra e venda de imóveis com veja a perda total dos valores pagos.
pagamento avençado em prestações, afigura-se nula de Sustenta, ainda, que houve veto presidencial ao § 1º
pleno direito a cláusula que prevê a perda total daquelas, do mesmo art. 53, cuja redação era a seguinte: “Na hipó-
na hipótese de rescisão contratual, nos termos do art. 53 tese prevista neste artigo, o devedor inadimplente terá di-
do Código de Defesa do Consumidor. reito à compensação ou à restituição das parcelas quita-
Sendo nula tal disposição, à promitente vendedora das à data da resolução contratual, monetariamente
compete restituir as parcelas pagas à promitente compra- atualizadas, descontada a vantagem econômica auferida
dora, sob pena locupletar-se ilicitamente’. (ACV n. com a fruição”; em virtude do veto, insustentável seria,
97.001921-1 - Rel. Des. Wilson Augusto do Nascimento)” portanto, o posicionamento adotado pelo acórdão recorri-
(fls. 129). do.

Embargos de declaração: rejeitados. Ademais, o Conselho Superior do Ministério Público


de Santa Catarina teria homologado o arquivamento de
Recurso especial: sustenta o recorrente: inquérito civil destinado a analisar supostas irregularida-
a) nulidade do acórdão recorrido, em face da rejei- des no contrato-padrão da entidade, de modo que a cláu-
ção dos embargos declaratórios, sem, contudo, indicar sula em questão obteve o aval de órgão público que tem
qual artigo de lei teria sido violado ou apresentar dissídio como função institucional, dentre outras, a defesa dos
jurisprudencial; consumidores do Estado.

12 DIÁRIO DAS LEIS IMOBILIÁRIO (DLI) 3º DECÊNDIO JANEIRO/2008 – Nº 3


JURISPRUDÊNCIA
JURISPRUDÊNCIA

No julgamento do Eresp n. 59.870/SP, Rel. Min. Bar- ‘status quo ante’ para as duas partes em iguais condi-
ros Monteiro, por maioria, DJU de 09.12.2002, restou pa- ções; não é possível autorizar-se que a incorporadora
cificada questão que é logicamente antecedente à colo- possa imediatamente dispor do imóvel sem reconhecer,
cada na presente lide - qual seja, a possibilidade de quanto à fruição dos dinheiros empregados, o mesmo di-
resilição do compromisso de compra e venda por iniciati- reito ao recorrido.
va do devedor, se este não mais reúne condições econô- Sustenta, ainda, a recorrente a legalidade da cláusu-
micas para suportar o pagamento das prestações la em questão em face de anterior homologação de arqui-
avençadas com a empresa vendedora do imóvel, restan- vamento de procedimento instaurado pela Coordenadoria
do ainda reconhecido o direito à restituição de parte das de Defesa do Consumidor do Ministério Público do Esta-
parcelas pagas. do de Santa Catarina, este destinado à análise de irregu-
Nesse julgamento, foi enfrentada a questão do veto laridades no contrato-padrão da incorporadora.
ao § 1º do art. 53 do CDC, restando assentado no voto Tal questão, contudo, não pode ser erigida a óbice
vencedor que, apesar de tal circunstância, o teor do dis- para o reconhecimento judicial da ofensa ao art. 53 do
positivo é passível de depuração a partir dos princípios CDC. O inquérito civil porventura arquivado está inserido
gerais do direito positivo brasileiro, devendo tal conclusão no âmbito do controle administrativo das cláusulas gerais
ser estendida à presente demanda. dos contratos, segundo o magistério de Nelson Nery
Acompanhando o voto vencedor do supra citado pre- Júnior:
cedente, assim se referiu o i. Min. Cesar Asfor Rocha so- “Uma das formas de tutela contratual do consumidor
bre a questão: “ (...) creio que do próprio sistema se pode é a que se realiza mediante o controle das cláusulas ge-
extrair o que foi agora posto pelo eminente Relator destes rais dos contratos. Esse controle pode ser efetivado ad-
embargos de divergência, conduzindo-me a dizer que a ministrativamente ou pela via judicial (...).
existência daquele parágrafo importava em uma
explicitação do que poderia ser extraído do próprio corpo O controle administrativo dá-se: a) pela instauração
do Código de Defesa do Consumidor”. de inquérito civil (art. 8º, § 1º, da Lei nº 7.347/85, aplicável
à ações fundadas no CDC por incidência do art. 90, CDC);
Sobre o tema, afirma Nelson Nery Júnior que “O CDC b) pela adoção de providências no âmbito da administra-
enumerou uma série de cláusulas consideradas abusivas, ção pública, relativamente às atividades por ela fiscaliza-
dando-lhes o regime da nulidade de pleno direito (art. 51). da ou controlada (...).
Esse rol não é exaustivo, podendo o juiz, diante das cir-
cunstâncias do caso concreto, entender ser abusiva e, Pode haver controle administrativo, por meio do in-
portanto, nula, determinada cláusula contratual. Está para quérito civil, tanto do ponto de vista abstrato, quanto do
tanto autorizado pelo caput do art. 51 do CDC, que diz concreto. O controle abstrato faz-se sempre que chegar
serem nulas, ‘entre outras’, as cláusulas que menciona. ao conhecimento do Ministério Público a existência de clá-
Ademais, o inc. XV do referido artigo contém norma de usula potencialmente abusiva em formulário-padrão da
encerramento, que dá possibilidade ao juiz de considerar administração pública ou de qualquer fornecedor particu-
abusiva a cláusula que ‘esteja em desacordo com o siste- lar, irrelevante tenha havido ou não contrato de adesão
ma de proteção ao consumidor’. Em resumo, os casos de com base no referido formulário. Há controle concreto
cláusulas abusivas são enunciados pelo art. 51 do CDC quando algum interessado deduz reclamação em qual-
em numerus apertus e não em numerus clausus” (“Códi- quer órgão de proteção ao consumidor, que pode provo-
go Brasileiro de Defesa do Consumidor comentado pelos car a atividade do Ministério Público na instauração do
autores do Anteprojeto”. Rio de Janeiro: Forense Univer- inquérito civil para apuração dos fatos” (Ob. Cit., pág. 466-
sitária, 7ª edição, 2001, pág. 463). 468).
A manutenção da cláusula contratual em análise ge- No caso, houve o exercício do controle administrati-
rará enriquecimento indevido à recorrente. Conquanto te- vo concreto por parte do Ministério Público, o que, ao con-
nha este por linha de defesa a necessidade de respeito trário do afirmado, resultou na alteração de uma série de
ao auto-financiamento dos imóveis populares construídos, pontos no contrato-padrão fornecido pela incorporadora.
o fato é que tal disposição obriga o consumidor a esperar É, assim, imprecisa a afirmação de que o contrato foi
pelo término completo das obras de todo o conjunto aprovado pelo Parquet, pois, conforme se extrai da cópia
habitacional, mas nada diz a respeito da possibilidade de da decisão de homologação do arquivamento a fls. 114,
revenda do mesmo imóvel a terceiro pela incorporadora, “(...) restou comprovado que a empresa reclamada pro-
que passaria, assim, a obter um duplo financiamento para curou ajustar suas cláusulas aos ditames da lei”; ademais,
a construção com lastro na mesma unidade residencial. o objeto da investigação preliminar estava delimitado “(...)
Com a rescisão contratual, necessário é o retorno ao ao reajuste de parcela do financiamento e à cobrança de

3º DECÊNDIO JANEIRO/2008 – Nº 3 DIÁRIO DAS LEIS IMOBILIÁRIO (DLI) 13


JURISPRUDÊNCIA
JURISPRUDÊNCIA

juros perpetrada pela reclamada” (fls. 113); e, mais im- o recorrente a transcrever ementas de julgados, sem pro-
portante, ainda que assim não fosse, impossível reconhe- ceder ao necessário cotejo analítico entre o acórdão recor-
cer a predominância ou mesmo influência da decisão do rido e os paradigmas, em desacordo com o que estabele-
Conselho Superior do Ministério Público na análise judici- cem os arts. 541, par. ún., do CPC e 255, § 2º, do RISTJ.
al de caso concreto, porquanto as decisões citadas ope- Forte em tais razões, não conheço do recurso espe-
ram em esferas diversas. cial.
Quanto ao alegado dissídio jurisprudencial, limitou-se Brasília, 07 de junho de 2005

RESCISÓRIA – SENTENÇA PROFERIDA EM AÇÃO DE RETIFICAÇÃO


DE ÁREA – INADMISSIBILIDADE – CARÊNCIA DA AÇÃO (TJSP)
ACÓRDÃO de julho do mesmo ano, os requeridos ajuizaram a aludi-
Rescisória - Sentença proferida em ação de retifi- da ação de retificação de área, contudo não menciona-
cação de área - Processo de jurisdição voluntária que ram que haviam vendido parte dela para José Pedro Elias,
não admite ação rescisória - Preliminar argüida pelo que posteriormente, em 11 de setembro de 2001, cedeu e
Ministério Público acolhida - Requerentes julgados transferiu aos requerentes a totalidade da área adquirida
carecedores de ação e condenados em honorários e dos requeridos.
na perda do depósito previsto no artigo 488, inciso II Assim, os requerentes como sucessores devem ser
do Código de Processo Civil. considerados terceiros interessados, mesmo porque
Vistos, relatados e discutidos estes autos de Ação condôminos da área e não participaram do processo. Ade-
Rescisória nº 324.718-4/4-00, da Comarca de São Paulo, mais, a perícia referiu-se à transcrição nº 7.574 como ori-
em que são autores Dorival de Nadai (e outros), sendo gem do caminho de servidão existente, quando o correto
réus Victor D’Andréa Sobrinho (e outros). era a transcrição nº 17.474, verifica-se, portanto, existir
erro de fato.
Acordam, em Oitava Câmara de Direito Privado do
Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, proferir a Dessa forma, pediram a citação dos requeridos e a
seguinte decisão: “julgaram os autores carecedores da procedência da ação, com anulação da sentença proferi-
ação, v.u.”, de conformidade com o voto do Relator, que da, ante a ausência de citação dos requerentes com a
integra este acórdão. realização de novo laudo, facultando a apresentação de
quesitos.
O julgamento teve a participação dos Desembargadores
Joaquim Garcia (Presidente) e Silvio Marques Neto. Os requeridos foram citados e apresentaram contes-
tação, argüindo preliminares e pleiteando a improcedên-
São Paulo, 04 de outubro de 2006. cia da demanda, com exceção de Wanderley D’Andréa e
Álvares Lobo, Relator sua esposa, que ficaram revéis.
VOTO As partes ofertaram razões finais, cada qual insistin-
Trata-se de ação rescisória, fundamentada nos arti- do em suas alegações.
gos 485, incisos III, V e IX e 487, inciso II, ambos do Có- Os autos foram remetidos à Procuradoria Geral de
digo de Processo Civil, visando rescindir sentença profe- Justiça, vindo o parecer subscrito pelo Dr. Luiz Antonio
rida nos autos da ação de retificação de área que se pro- Orlando opinar pela carência de ação, ante a falta de pos-
cessou perante a 3ª Vara Judicial da Comarca de Limeira sibilidade jurídica e, no mérito, pela improcedência da
(processo nº 986/00). demanda.
Aduzem, em síntese, que os ‘requeridos eram os É o relatório.
únicos proprietários de um imóvel agrícola denominado Impossível prosperar o presente pleito.
Sítio Santa Tereza, localizado no Bairro do Tatu, Municí-
pio e Comarca de Limeira, objeto da matrícula nº 1.426 Visam os autores rescindir sentença proferida em
do Segundo Cartório de Registro de Imóveis daquela ação de retificação de área, procedimento de jurisdição
comarca, com área de 37,50 alqueires, ou 90 hectares e voluntária, cuja sentença não faz coisa julgada material.
75 ares’ (fls. 2/3). Alegam que os requeridos venderam É firme a doutrina, bem como a jurisprudência deste
em 8 de março de 2000, parte dessa área para José Pedro Tribunal no sentido de não admitir ação rescisória de sen-
Elias, correspondente a dois terços (2/3) do total. Em 25 tença proferida em processos de jurisdição voluntária,

14 DIÁRIO DAS LEIS IMOBILIÁRIO (DLI) 3º DECÊNDIO JANEIRO/2008 – Nº 3


JURISPRUDÊNCIA
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conforme bem alertou o Procurador de Justiça oficiante sua obra ‘Primeiras Linhas de Direito Processual Civil’,
anotando vários acórdãos e doutrina sobre o tema, cujo vol. 3, 4ª ed. (9ª tiragem), pág. 78, Editora Max Limonad.
tópico, peço vênia para transcrever. “Não produzem coisa julgada as sentenças proferi-
“Impõe-se, de logo, reconhecer a inidoneidade da das em procedimento de jurisdição voluntária, ou gracio-
rescisória ajuizada, considerada a falta de possibilidade sa. Nesses procedimentos não há lide a ser decidida e a
jurídica de sua utilização com vistas à desconstituição de autoridade de coisa julgada é característica das decisões
sentença proferida em procedimento de jurisdição volun- que resolvem a lide. Diga-se, pois, que têm autoridade de
tária, como é o caso da retificação de registro imobiliário coisa julgada as sentenças definitivas proferidas nos pro-
fundada, na época, no art. 213, § 2º, da Lei de Registros cedimentos de jurisdição contenciosa, não as decisões
Públicos (RSTJ 71/255; RJTJESP 137/267; JTJ 204/115) finais nos procedimentos de jurisdição voluntária.”
onde, ausente ato judicial pertinente à ‘res in judicium Igual entendimento é esposado por Arnaldo Esteves
deducta’, teve vez o julgado rescindendo. Lima e Poul Erik Dyrlund, na obra ‘Ação Rescisória’, 1ª
Com efeito, tratando-se de procedimento de jurisdi- ed., Forense Universitária, pág. 80, onde, examinando a
ção voluntária, a decisão proferida, por não fazer coisa questão, apontam acórdão proferido pelo Supremo Tribu-
julgada material, não é passível de rescisão fundada no nal Federal no RE nº 86.348-CE, relatado pelo Ministro
art. 485 do CPC, devendo sua desconstituição operar-se Cunha Peixoto e publicado na RTJ 94/677.
na forma prevista pelo art. 486 da mesma codificação pro- “Ação rescisória - Pressuposto.
cessual, ou seja, mediante proposição de ação de nulida-
de - ‘querela nulitatis - perante o primeiro grau de jurisdi- A ação rescisória, tendo por finalidade elidir a coisa
ção. julgada, não é meio idôneo para desfazer decisões profe-
ridas em processos de jurisdição voluntária e graciosa,
Nesse sentido o autorizado magistério de NARCISO não suscetíveis de trânsito em julgado, mormente quan-
ORLANDI NETO em sua obra ‘Retificação do Registro de do a pretensão é formulada por quem não foi parte do
Imóveis’, Ed. Juarez de Oliveira, 2ª ed., 1999, pág. 180/181.” feito administrativo.
Esse também é o ensinamento de Sérgio Rizzi, em Recurso extraordinário conhecido e provido, para jul-
sua obra ‘Ação Rescisória’, ed. RT, 1979, que à página 30 gar a autora carecedora da ação.”
e seguintes afirma:
Em conseqüência, nada mais é preciso acrescentar
“Todas as sentenças proferidas em procedimentos para declarar os requerentes carecedores da ação pro-
de jurisdição voluntária são irrescindíveis. Na jurisdição posta.
voluntária não há processo, não há lide, não há sentença
de mérito, não há coisa julgada material. Pelo exposto, acolho a preliminar suscitada pelo re-
presentante do Ministério Público para declarar a carên-
Daí dizer José Frederico Marques: ‘Não será cia desta ação rescisória, condenados os autores ao pa-
admissível ação rescisória: a) ...; b) nos casos de jurisdi- gamento das custas e honorários de advogado dos re-
ção voluntária, porque aí não se pode falar em sentença queridos, arbitrados em R$ 1.000,00, com fundamento no
de mérito transitada em julgado.’” art. 20, § 4º do Código de Processo Civil, bem como na
De igual forma é o pensar de Moacyr Amaral Santos, perda do depósito a que alude o art. 488, inciso II do Có-
escrevendo sobre o Código de Processo Civil anterior, em digo de Processo Civil.

LOCAÇÃO POR TEMPO DETERMINADO – DUPLA GARANTIA – NULI-


DADE DA EXIGIDA EM SEGUNDO LUGAR; FIANÇA – IMPOSSIBILIDA-
DE DE EXONERAÇÃO AUTOMÁTICA (STJ)
Recurso Especial nº 868.220 - SP (2006/0151571-8) ção por tempo determinado. Dupla garantia. Nulidade
Relator: Ministro Arnaldo Esteves Lima daquela exigida em segundo lugar. Prorrogação legal
por prazo indeterminado. Fiança. Exoneração automá-
Recorrente: Sebastião Chicarolli Neto e outro
tica. Impossibilidade. Precedentes. Dissídio
Recorrido: Henco Empreendimentos e Construções Ltda jurisprudencial. Não-ocorrência. Súmula 83/STJ. Re-
EMENTA curso especial conhecido e improvido.
Direito civil. Recurso especial. Contrato de loca- 1. A exigência de dupla garantia em contrato de

3º DECÊNDIO JANEIRO/2008 – Nº 3 DIÁRIO DAS LEIS IMOBILIÁRIO (DLI) 15


JURISPRUDÊNCIA
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locação não implica a nulidade de ambas, mas tão- débitos subseqüentes ao vencimento do contrato, até a
somente daquela que houver excedido a disposição efetiva desocupação e a entrega das chaves do imóvel
legal. locado.
2. A Terceira Seção do Superior Tribunal de Justi- Opostos embargos declaratórios, foram eles acolhi-
ça, no julgamento do EREsp 566.633/CE, ocorrido em dos pelo Tribunal a quo, sem efeitos modificativos.
22/11/06, firmou o entendimento de que, havendo cláu- Sustentam ofensa ao art. 37 da Lei 8.245/91, ao ar-
sula expressa no contrato de aluguel de que a res- gumento de que a exigência de dupla garantia para o con-
ponsabilidade do fiador perdurará até a efetiva entre- trato de locação implicaria a nulidade de ambas. Aduzem,
ga das chaves do imóvel objeto da locação, não há ainda, que a Corte de origem, ao entender válida a fiança
falar em desobrigação deste, ainda que o contrato te- até a efetiva entrega das chaves, teria divergido do enten-
nha se prorrogado por prazo indeterminado. dimento de outros tribunais.
3. “Não se conhece do recurso especial pela di- Contra-razões às fls. 141/155. Recurso admitido na
vergência, quando a orientação do tribunal se firmou origem.
no mesmo sentido da decisão recorrida” (Súmula 83/
STJ). É o relatório.

4. Recurso especial conhecido e improvido. VOTO

ACÓRDÃO Ministro Arnaldo Esteves Lima (Relator):

Vistos, relatados e discutidos os autos em que são A Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça já se
partes as acima indicadas, acordam os Ministros da Quinta manifestou no sentido de que, verificada a exigência de
Turma do Superior Tribunal de Justiça, por unanimidade, dupla garantia em contrato de locação, não deverá o ma-
conhecer do recurso, mas lhe negar provimento. Os Srs. gistrado decretar a nulidade de ambas, nos termos do
Ministros Jane Silva (Desembargadora convocada do TJ/ parágrafo único do art. 37 da Lei 8.245/41, mas tão-so-
MG), Felix Fischer e Laurita Vaz votaram com o Sr. Minis- mente daquela que houver excedido a disposição legal.
tro Relator. A propósito, confira-se o seguinte precedente:
Ausente, justificadamente, o Sr. Ministro Napoleão Processual civil. Recurso especial. Admissibilidade.
Nunes Maia Filho. Dissídio. Julgados do mesmo tribunal. Súmula 13/STJ.
Brasília (DF), 27 de setembro de 2007 Art. 37 da Lei nº 8245/91. Dupla garantia.

Ministro Arnaldo Esteves Lima, Relator - “A divergência entre julgados do mesmo Tribunal
não enseja recurso especial.” (Súmula 13/STJ).
RELATÓRIO
- Ao verificar a existência de dupla garantia no con-
Ministro Arnaldo Esteves Lima: trato locatício - nulidade prevista no parágrafo único do
Trata-se de recurso especial manifestado por Sebas- art. 37 da Lei nº 8245/91 - compete ao julgador auferir, no
tião Chicarolli Neto e outro com base no art. 105, III, “a” e caso concreto, baseado em critérios objetivos, qual ga-
“c”, da Constituição Federal. rantia deve subsistir.
Insurgem-se os recorrentes contra acórdão do Tri- - Não há como, a partir da interpretação do referido
bunal de Justiça do Estado de São Paulo que, reforman- artigo de lei, concluir pela existência de hierarquia ou
do a sentença, julgou improcedentes seus embargos à prevalência de uma determinada garantia sobre a outra.
execução, ao entendimento de que a exigência de dupla - Recurso especial não conhecido. (REsp 94.815/SP,
garantia não importa a nulidade de ambas, mas tão-so- Rel. Min.felix Fischer, Quinta Turma, DJ 28/9/98)
mente daquela ofertada em segundo lugar, e, ainda, que
a prorrogação do contrato de locação por prazo De outro lado, a Terceira Seção desta Corte, no jul-
indeterminado não implica exoneração automática da fi- gamento do EREsp 566.633/CE, ocorrido em 22/11/06,
ança, uma vez que existira cláusula expressa prevendo firmou o entendimento de que, havendo cláusula expres-
sua extensão até a efetiva entrega das chaves do imóvel. sa no contrato de aluguel de que a responsabilidade do
fiador perdurará até a efetiva entrega das chaves do imó-
O acórdão recorrido foi assim ementado (fl. 88): vel objeto da locação, não há falar em desobrigação des-
1. Vedada a exigência de dupla garantia nos contra- te, ainda que o contrato tenha se prorrogado por prazo
tos de locação, é de se pronunciar a nulidade daquela indeterminado.
excedente convencionada em segundo lugar no instru- O voto condutor do referido acórdão foi assim con-
mento contratual. cebido:
2. Subsiste a responsabilidade dos fiadores pelos A fiança é a promessa, feita por uma ou mais pesso-

16 DIÁRIO DAS LEIS IMOBILIÁRIO (DLI) 3º DECÊNDIO JANEIRO/2008 – Nº 3


JURISPRUDÊNCIA
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as, de satisfazer a obrigação de um devedor, se este não ção até o termo final do contrato locativo (prazo certo) e
a cumprir, assegurando ao credor o seu efetivo cumpri- expressamente anuíram em estender a fiança até a en-
mento. trega do imóvel nos casos de prorrogação do contrato

Esse tipo de garantia tem como características a locativo para prazo indeterminado, responderão pelos

acessoriedade, a unilateralidade, a gratuidade e a débitos daí advindos.

subsidiariedade. Entretanto, na segunda hipótese, ante o caráter gra-

Ante suas características, e nos termos do Código tuito da fiança e a indefinição temporal para a entrega do

Civil, tanto o revogado (art. 1.483) quanto o novo (art. 819), imóvel, eis que depende exclusivamente da vontade do

o contrato de fiança não admite interpretação extensiva. locatário, a garantia deve ser entendida como sendo por
prazo indeterminado, a possibilitar ao fiador a sua exone-
Nestes termos, pode-se extrair que a fiança:
ração, nos termos do artigo 1.500 do Código Civil revoga-
a) é um contrato celebrado entre credor e fiador; do, se o contrato tiver sido celebrado na sua vigência, ou
b) é uma obrigação acessória à principal; do artigo 835 do Novo Código Civil, se o contrato foi acor-
dado após a sua entrada em vigor.
c) pode ser estipulado em contrato diverso do garan-
tido, como também inserido em uma de suas cláusulas, No caso concreto, os recorrentes obrigaram-se pelo
mas sem perder a sua acessoriedade; fiel cumprimento do contrato de locação até a efetiva en-
trega das chaves do imóvel locado (fl. 17/apenso), razão
d) não comporta interpretação extensiva, logo o fia-
pela qual não há falar em sua exoneração. Nesse mesmo
dor só responderá pelo que estiver expresso no instru-
sentido:
mento de fiança, e,
Processual civil. Locação. Embargos de declaração
e) extingue-se pela expiração do prazo determinado
no agravo regimental no agravo de instrumento. Fiança.
para sua vigência; ou, sendo por prazo indeterminado,
Responsabilidade até a entrega das chaves. Previsão
quando assim convier ao fiador (art. 1.500 do CC revoga-
contratual. Possibilidade.
do e 835 do novo CC); ou quando da extinção do contrato
principal. II - A responsabilidade dos fiadores no contrato de
locação deve se estender até a efetiva entrega das cha-
Ao transportar este instituto para a Lei de Locação,
ves, desde que haja expressa previsão contratual nesse
imprescindível que os artigos do referido Diploma Legal
sentido. (Precedente: EREsp nº 566.633/CE, 3ª Seção,
se adaptem aos princípios norteadores da fiança.
julgado em 22/11/2006, Rel. Min. Paulo Medina, acórdão
Ainda que o artigo 39 da Lei n.º 8.245/91 determine
pendente de publicação, noticiado no Informativo de Ju-
que “Salvo disposição contratual em contrário, qualquer
risprudência nº 305).
das garantias da locação se estende até a efetiva devolu-
Embargos de declaração acolhidos. (EDcl no AgRg
ção do imóvel”, tal regramento deve se compatibilizar com
no Ag 790.333/PR, Rel. Min. Felix Fischer, Quinta Turma,
o instituto da fiança, se esta for a garantia prestada.
DJ 14/5/07)
Assim, a cada contrato de fiança firmado, diferentes
Por fim, nos termos da Súmula 83/STJ, “Não se co-
conseqüências serão produzidas aos encargos do fiador.
nhece do recurso especial pela divergência, quando a ori-
Dessa forma, há que se fazer algumas considera-
entação do tribunal se firmou no mesmo sentido da deci-
ções:
são recorrida”
1º) se os fiadores concordaram em garantir a loca-
Ante o exposto, conheço do recurso especial e nego-
ção, tão-somente, até o termo final do contrato locativo
lhe provimento.
(prazo certo), não responderão pelos débitos advindos da
sua prorrogação para prazo indeterminado; É o voto.

2º) se os fiadores concordaram em garantir a loca- Brasília, 27 de setembro de 2007

3º DECÊNDIO JANEIRO/2008 – Nº 3 DIÁRIO DAS LEIS IMOBILIÁRIO (DLI) 17


JURISPRUDÊNCIA
JURISPRUDÊNCIA

MANDADO DE SEGURANÇA – MUNICÍPIO – EDIFICAÇÕES – FISCALI-


ZAÇÃO – TRANSFERÊNCIA AO PARTICULAR DO PODER DE POLÍCIA
(TJSP)
ACÓRDÃO desprovimento do apelo (fls. 81/84).
Mandado de segurança - Cabimento da ação - Pos- É o sucinto relatório.
sibilidade de impetração contra lei de efeito concreto e “A priori”, cumpre destacar o cabimento da vertente
auto-executória, ou seja, que independe de ato admi- ação e o reconhecimento do direito à tutela jurisdicional,
nistrativo para se aplicar aos casos concretos - Lei Mu- conquanto o “writ” tenha sido impetrado contra lei munici-
nicipal que determinou a realização de vistoria técnica pal.
em condomínios - Alegação de transferência do poder
de polícia ao particular - Inconstitucionalidade da limi- Isto porque o impetrante não se insurge especifica-
tação imposta - Inocorrência - Prefeitura que mantém o mente contra a lei municipal em tese, mas sim procura
poder de fiscalização das edificações - Competência garantir o direito de não sofrer sanções em razão de sua
dos Municípios para editar normas sobre direito urba- aplicação. Destarte, a finalidade deste “mandamus” não
nístico - Manutenção da decisão impugnada - Recurso é a retirada do texto legal do mundo jurídico, mas, ape-
a que se nega provimento. nas, seja o impetrante desobrigado de seu cumprimento.

Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apela- Com efeito, “o mandado de segurança só é meio idô-
ção Cível com Revisão nº 300.511-5/8-00, da Comarca neo para impugnar atos da Administração que causem
de Santos, em que é apelante Condomínio Edifício Dona efeitos concretos; por meio dele, objetiva-se afastar a
Ana, sendo apelado Prefeito Municipal de Santos. aplicação da lei no caso específico do impetrante; e, como
a decisão produz efeitos apenas entre as partes, a lei con-
Acordam, em Primeira Câmara de Direito Público do tinuará a ser aplicada às demais pessoas a que se diri-
Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, proferir a ge.” (“Direito Administrativo”, Maria Sylvia Zanella di Pietro,
seguinte decisão: “negaram provimento ao recurso, ven- 12ª edição, Atlas, São Paulo, 2000, p. 617).
cido o 3º juiz.”, de conformidade com o voto do Relator, E prossegue a doutrinadora, asseverando que a ju-
que integra este acórdão. risprudência: “passou a admitir o mandado de segurança
O julgamento teve a participação dos Desembargadores contra a lei em duas hipóteses: na lei de efeito concreto e
Franklin Nogueira (Presidente, sem voto), Danilo Panizza, na lei auto-executória, o que se aplica também aos decre-
vencedor e Venício Salles, vencido. tos de efeito concreto e auto-executórios. Lei de efeito
São Paulo, 26 de setembro de 2006. concreto é aquela emanada do Poder Legislativo, segun-
do o processo de elaboração das leis, mas sem o caráter
Regina Capistrano, Relatora de generalidade e abstração próprio dos atos normativos.
VOTO Ela é lei em sentido formal, mas é ato administrativo, em
Cuida-se de apelação interposta contra a r. sentença sentido material (quanto ao conteúdo), já que atinge pes-
pela qual o d. Magistrado denegou a segurança e cassou soas determinadas (...). Lei desta natureza produzem efei-
a liminar concedida “initio litis”. tos no caso concreto, independentemente da edição de
ato administrativo; na falta deste, o mandado deve ser
Diz o apelante, em síntese, que a Lei Complementar impetrado diretamente contra a lei. Lei auto-executória é
441/2001, que atribui ao administrado o dever de fiscali- a que independe de ato administrativo para aplicar-se aos
zar suas edificações e elaborar laudos técnicos acerca caso concretos. Além da própria lei de efeito concreto,
das condições das mesmas implica transferência de que é auto-executória, também o são as que encerram
titularidade do poder de polícia da administração pública, proibição. Além disto, entendemos ser possível a
sendo certo que cabe somente ao poder público a função impetração em caráter preventivo, não contra quem apro-
de fiscalização das edificações cuja construção aprova, vou a lei, mas contra a autoridade administrativa que irá
sustentando a inconstitucionalidade da limitação imposta, aplicá-la ao caso concreto. Em hipóteses como essa, a
na medida em que a promoção da segurança deve ser promulgação da lei traz uma ameaça certa de lesão, que
perquirida pela administração pública. pode ser afastada, preventivamente, por meio do manda-
Recebido o recurso (fls. 70), vieram aos autos as do de segurança” (“idem”, “ibidem”).
contra-razões do Município de Santos (fls. 71/76), A Egrégia 2ª Câm. de Direito Público deste Tribunal
deduzidas no sentido da manutenção da r. sentença. assim já decidiu: Veja-se: “Mandado de Segurança Pre-
O Ministério Público ofertou parecer opinando pelo ventivo - Sentença denegatória, que entendeu tratar-se

18 DIÁRIO DAS LEIS IMOBILIÁRIO (DLI) 3º DECÊNDIO JANEIRO/2008 – Nº 3


JURISPRUDÊNCIA
JURISPRUDÊNCIA

de mandado de segurança contra lei municipal em tese - Demais disto, a exigência da realização de uma
Inconformismo da impetrante - Admissibilidade - Nas hi- autovistoria nos termos da Lei Complementar nº 441/2001
póteses em que o impetrante não se insurge diretamente não acarreta a transferência do poder de polícia ao admi-
contra a lei em tese, mas tão-somente busca não sofrer nistrado, eis que somente se previu a necessidade de re-
os efeitos de sua aplicação, é perfeitamente admissível o alização de vistoria técnica, por profissional ou empresa
mandado de segurança preventivo - Para que haja a legalmente habilitada e cadastrada na Prefeitura, man-
impetração do mandado de segurança preventivo, não é tendo a Administração o poder de fiscalização sobre as
necessário esteja consumada a situação de fato sobre a condições de estabilidade e segurança das edificações
qual incide a lei questionada, bastando que tal situação em questão, o que se depreende claramente do texto le-
esteja acontecendo, vale dizer, que tenha sido iniciada a gal, eis que a comunicação dos resultados da vistoria, caso
sua efetiva formação ou pelo menos estejam concretiza- seja verificada a necessidade de intervenção, é compul-
dos fatos dos quais logicamente decorre o fato gerador sória, cujo não cumprimento das determinações dá ense-
do direito cuja lesão é temida - Inaplicabilidade, em tais jo à aplicação de penalidade pela Prefeitura.
hipóteses, da Súmula 266 do STF - Sentença modificada Isto porque a lei municipal em questão somente atri-
- Recurso provido” (Ap. nº 210.802.5/5-00), rel. Des. Alo- bui à Administração Pública poder de polícia preventivo
ísio de Toledo César, j. 24.05.05). para disciplinar direito, interesse ou liberdade, regulando
Neste sentido, também já decidiu o Colendo Superi- a prática da autovistoria, levando em conta o interesse
or Tribunal de Justiça, que: “para que haja a impetração público no que tange à segurança das edificações.
do mandado de segurança preventivo não é necessário Anote-se que tal poder de polícia preventivo pode ser
esteja consumada a situação de fato sobre a qual incide a exercido, pelo poder público, também por ordem ao ad-
lei questionada, bastando que tal situação esteja aconte- ministrado, para que este faça ou se abstenha de fazer
cendo, vale dizer, que tenha sido iniciada a sua efetiva algo.
formação ou pelo menos estejam concretizados fatos dos
Desta forma, configurado que a Lei em questão ape-
quais logicamente decorre o fato gerador do direito cuja
nas viabiliza o exercício do poder de polícia pela Prefeitu-
lesão é temida” (EREsp nº 46.765-MG, j. em 12.05.2004,
ra, sendo certo que nos termos da Constituição Federal a
STJ, Primeira Seção, rel. Min. Eliana Calmon).
edição de normas de zoneamento urbano, uso e ocupa-
Fica afastada, assim, a carência da ação, por se tra- ção do solo e construções em geral é da competência
tar, “in casu”, a lei de efeito concreto, auto-aplicável, que dos municípios, nos termos do art. 30, I e VIII da Consti-
diretamente constrange o impetrante. tuição Federal, não se caracteriza a alegada
No mérito, o recurso não merece provimento. inconstitucionalidade da norma contra a qual se insurge o
Consoante bem ponderado pelo d. Procurador de apelante, razão por que o recurso não havia mesmo como
Justiça que oficiou nos autos, a legislação municipal em ser provido.
tela “não trata da limitação ao direito de propriedade, ma- Assim já se decidiu, consoante se pode auferir do
téria prevista pela nossa Constituição entre os direitos in- seguinte julgado, da lavra do eminente Desembargador
dividuais e coletivos, somente transfere ao particular o Danilo Panizza, “verbis”: “Edificação - Vistoria preventiva
dever de comprovação das condições de estabilidade e - Admissibilidade - Inocorrência de inconstitucionalidade.
de segurança das edificações. Ora, a legislação em ques- A providência legal que impõe ao particular, proprietário
tão trata de direito da competência do município. E isso ou possuidor de edifício com várias moradias, a
se deve porque o peculiar interesse a que se referia nos- autovistoria não significa exclusão do poder de polícia ine-
sa Constituição anterior ou o interesse local a que se re- rente ao agente público, mas sim significa mera cautela
fere nosso atual texto constitucional outorga legitimidade administrativa. Ausência de liquidez e certeza. Recurso
legiferante ao município. Ato de sabedoria do constituinte negado” (Ap. c/ Revisão nº 300.968.5/2-00 - 1ª Câm. de
pátrio que levou em conta a grande extensão territorial Direito Público, v.u., j. 20/06/2006).
deste país e a diversidade cultural das regiões existentes Isto posto, nego provimento ao recurso.
(...)”. É o meu voto.

3º DECÊNDIO JANEIRO/2008 – Nº 3 DIÁRIO DAS LEIS IMOBILIÁRIO (DLI) 19


JURISPRUDÊNCIA
JURISPRUDÊNCIA

NUNCIAÇÃO DE OBRA NOVA – JULGAMENTO ‘EXTRA PETITA’ –


INOCORRÊNCIA – CONSTRUÇÃO DE MURO – OBSTRUÇÃO DA SER-
VIDÃO – EXISTÊNCIA DE PREJUÍZO – SUCUMBÊNCIA RECÍPROCA –
(STJ)
Recurso Especial nº 623.704 - SC (2004/0003777-5) ACÓRDÃO
Relatora: Ministra Nancy Andrighi Vistos, relatados e discutidos estes autos, acordam
Recorrente: Condomínio do Edifício José Romão os Ministros da Terceira Turma do Superior Tribunal de
Justiça, na conformidade dos votos e das notas
Recorrido: Renata Mohr e outro
taquigráficas constantes dos autos, por unanimidade, co-
EMENTA nhecer do recurso especial e dar-lhe provimento, nos ter-
Civil e processo civil. Recurso especial. Ação de mos do voto da Sra. Ministra Relatora. Os Srs. Ministros
nunciação de obra nova. Pretensão de ver impedida a Castro Filho e Carlos Alberto Menezes Direito votaram com
construção de muro entre dois imóveis, ao argumen- a Sra. Ministra Relatora. Ausente, justificadamente, o Sr.
to de que tal obra impediria o acesso a um deles por Ministro Ari Pargendler. Ausente, ocasionalmente, o Sr.
rua que terminaria, exatamente, no limite entre as pro- Ministro Humberto Gomes de Barros.
priedades. Erros detectados em todas as escrituras Brasília (DF), 21 de fevereiro de 2006 (data do julga-
apresentadas pelas partes. Constatação, pelo perito, mento).
de existência de mera servidão entre os imóveis. Aco-
Ministra Nancy Andrighi, Relatora
lhimento do pedido do autor, com fundamento nessa
servidão. Impossibilidade. Teoria da substanciação. RELATÓRIO

- Alegaram os autores-recorridos, como causa de A Exma. Sra. Ministra Nancy Andrighi (Relator):
pedir, a existência de testada entre a rua e sua propri- Recurso especial interposto por Condomínio do Edi-
edade, residindo o alegado interesse de agir na futura fício José Romão, com fundamento na alínea “a” do per-
utilização dessa via como acesso, a partir do missivo constitucional, contra acórdão proferido pelo
desmembramento da propriedade em porções meno- TJSC.
res. Ação: de nunciação de obra nova, movida por Rena-
- Não houve referência, na inicial, à existência de ta Mohr e outro em desfavor do ora recorrente, com o
servidão entre os imóveis, a fundamentar um supos- objetivo de ver impedida a construção de muro entre os
to direito de passagem entre eles. imóveis de propriedade dos litigantes, porquanto tal obra
- O processo civil brasileiro é regido, quanto ao acabaria por impedir o acesso ao terreno dos ora recorri-
ponto, pela teoria da substanciação, de modo que a dos por meio da rua sem saída que, nos termos da inicial,
causa de pedir constitui-se não pela relação jurídica teria seu fim exatamente nos limites dessa propriedade.
afirmada pelo autor, mas pelo fato ou complexo de Sentença: julgou parcialmente procedente o pedido,
fatos que fundamentam a pretensão que se entende nos termos da prova pericial realizada, que constatou erro
por resistida; a mudança desses fatos representa, em todas as escrituras apresentadas pelas partes, esta-
portanto, mudança na própria ação proposta. belecendo que, em verdade, havia uma servidão de pas-
- A atividade de síntese do juiz não pode terminar sagem a unir a rua sem saída ao terreno dos ora recorri-
em conclusão que não se subsume ao embate entre dos, de modo que a construção do muro seria possível
as premissas de fato e de direito que foram coloca- desde que respeitado aquele direito real pré-constituído.
das pelas partes em conflito. Apelação: negou provimento à apelação do ora re-
Recurso especial provido. corrente, com a seguinte ementa:

20 DIÁRIO DAS LEIS IMOBILIÁRIO (DLI) 3º DECÊNDIO JANEIRO/2008 – Nº 3


JURISPRUDÊNCIA
JURISPRUDÊNCIA

“APELAÇÃO CÍVEL - NUNCIAÇÃO DE OBRA NOVA do limite do terreno dos ora recorridos, e que a extensão
- JULGAMENTO EXTRA PETITA - INOCORRÊNCIA - de terra ali incrustada havia sido pelo condomínio adquiri-
CONSTRUÇÃO DE MURO - OBSTRUÇÃO DA SERVI- da.
DÃO - EXISTÊNCIA DE PREJUÍZO - SUCUMBÊNCIA A sentença, por sua vez, decidiu a lide nos termos da
RECÍPROCA - RECURSO DESPROVIDO” (fls. 259). perícia judicial realizada. Segundo esta, ambas as escri-
Recurso especial: alega violação aos arts. 128 e 460 turas estariam equivocadas, porquanto o resultado dos
do CPC, porque a decisão, ao reconhecer a existência de estudos técnicos realizados definiu que “(...) as terras dos
servidão entre os imóveis, foi além da causa de pedir e do autores fazem testada com a rua Curt Dopheide em pelo
pedido conforme estes foram delimitados na petição inici- menos três (3,00) metros (...)”, não porque a via pública
al, de modo a configurar julgamento extra petita. até ali se estendesse, mas porque há registro, nos mapas
É o relato do necessário. da Prefeitura local, da existência de antigo acesso entre
VOTO os prédios. Continua a sentença nos seguintes termos:

A Exma. Sra. Ministra Nancy Andrighi (Relator): “Ora, tratando-se evidentemente de um acesso que não
pertence ao condomínio, a solução está em conformar
Cinge-se a controvérsia, exclusivamente, à análise
parcialmente a liminar para obstar que o muro iniciado
da existência de julgamento extra petita, por alteração na
pelo condomínio requerido não ultrapasse a área que este
causa de pedir formulada na petição inicial, porquanto o
possui registrada, ‘deixando livre os 3,00 metros do aces-
acórdão julgou parcialmente procedente pedido de
so’” (fls. 178).
nunciação de obra nova ao reconhecer a existência de
direito de servidão entre os imóveis, ao passo que a inici- O acórdão, já provocado quanto à suposta
al referia-se apenas à existência de logradouro suficien- infringência aos arts. 128 e 460 do CPC, manifestou-se

temente extenso para atingir a propriedade dos autores e no seguinte sentido:


formar, em relação a ela, acesso diferenciado. “(...) não há que se falar em julgamento extra petita,

Segundo José Ignácio Botelho de Mesquita, “Para não sendo a causa decidida ao largo dos limites em que

que se saiba se alguma alteração nos fatos afirmados pelo foi proposta, visto que fora acolhida a alegativa de acesso
autor ou no direito por ele enunciado na inicial importa à rua Curt Depheide deduzida no petitum, adotando os
quebra da identidade da ação e conseqüente substituição fundamentos esposados na inicial, ainda que em
de uma ação por outra no curso do processo é preciso, metragem diversa da pleiteada.
primeiramente, definir o conteúdo da causa de pedir” (...)
(“Conteúdo da causa de pedir”, RT 564/48). Portanto, ainda que tenha-se constatado que o imó-
Na petição inicial, relatam os ora recorridos que, de vel dos apelados não faz testada em 8,40 metros com a
acordo com a escritura pública de seu imóvel, a rua sem rua Curt Depheide, o laudo pericial e o depoimento do
saída faria testada com este, confrontando-o em exatos Engenheiro Ronaldo Pozes da Silva conformam a exis-
oito metros e quarenta centímetros; assim, o fechamento tência da ligação em 3,00 metros, por intermédio de uma
da rua por um muro lhes causaria prejuízos, apesar de o antiga servidão” (fls. 262/264).
terreno possuir ampla saída para outro logradouro, na Em resumo, alegaram os autores-recorridos, como
medida em que a área “(...) está destinada a futuro causa de pedir, a existência de testada de 8,40 metros
desmembramento aos seus herdeiros, e estes ficariam entre a rua sem saída e a sua propriedade, residindo o
sem acesso” por essa via inferior (fls. 06). alegado interesse de agir, na presente ação, na futura uti-
Em contestação, alegou o condomínio ora recorren- lização dessa via como acesso, a partir do
te, com base em escrituras próprias e em lei que discipli- desmembramento da propriedade em porções menores.
nou o comprimento de diversas vias públicas do municí- Não houve referência, na inicial, à existência de servidão
pio, que a rua sem saída, na verdade, teria apenas oiten- entre os imóveis como fato constitutivo do direito alega-
ta e cinco metros de extensão, findando a quinze metros do; claro está que o pedido tomava por base fundamento

3º DECÊNDIO JANEIRO/2008 – Nº 3 DIÁRIO DAS LEIS IMOBILIÁRIO (DLI) 21


JURISPRUDÊNCIA
JURISPRUDÊNCIA

fático diverso, consubstanciado em escritura pública er- mas deriva do necessário respeito aos princípios consti-
roneamente lavrada quanto às dimensões e limites do tucionais do contraditório e do devido processo legal.
logradouro público. Afinal, a defesa do réu, ora recorrente, foi dirigida à
Nesses termos, não assiste razão ao acórdão recor- comprovação de fatos extintivos, impeditivos e/ou
rido quando este afirma que a sentença havia adotado modificativos do direito alegado pelos autores. Como a
“os fundamentos da petição inicial”. A parcial procedência tese destes consubstanciou-se no sentido de que a rua
da ação de nunciação de obra nova, para resguardar da sem saída fazia testada com o terreno de sua proprieda-
construção do muro uma servidão de passagem de três de, a antítese da defesa foi orquestrada com fundamento
metros de largura e quinze metros de comprimento entre na alegação de que a rua era, na verdade, mais curta do
as propriedades, significa a transmutação do fato que o necessário para que efetivamente houvesse esse
constitutivo do direito alegado pelo autor, sem que se possa encontro e para que dela fosse possível, pelos autores,
levantar em defesa dessa medida a aplicação do art. 462 retirar tal utilidade esperada.
do CPC, no tocante à permissão dada ao juiz para tomar Não se defendeu o ora recorrente da existência de
por relevantes os fatos apurados após a propositura da uma antiga servidão de passagem, porque o fundamento
ação, porquanto “como tal não se considera a circunstân- do alegado direito trazido na inicial era diverso. A ativida-
cia já existente, ainda que só apurada no curso do pro- de de síntese do juiz, no processo dialético que se esta-
cesso”, nos termos do Resp nº 4508/SE, 3ª Turma, Rel. belece a partir do confronto entre tese (pretensão do au-
Min. Eduardo Ribeiro, DJ de 19.04.93. tor) e antítese (resistência do réu), por ser resultado ne-
O processo civil brasileiro é regido, quanto ao ponto, cessariamente jungido a um rigorismo lógico, não pode
pela teoria da substanciação, de modo que a causa de terminar, como ocorreu na presente hipótese, em conclu-
pedir constitui-se não pela relação jurídica afirmada pelo são que não se subsume ao embate entre as premissas
autor, mas pelo fato ou complexo de fatos que fundamen- de fato e de direito que foram colocadas pelas partes em
tam a pretensão que se entende por resistida; a mudança conflito.
desses fatos representa, portanto, mudança na própria Não se nega ao juiz a possibilidade de, ao fazer valer
ação proposta. Assim é que “o juiz pode decidir a causa o princípio iura novit curia, decidir a lide pela aplicação de
baseando-se em outro texto legal que não o invocado pela fundamentos jurídicos distintos daqueles trazidos pelas
parte, mas não lhe é dado escolher dos fatos provados, partes. Mas, na presente demanda, o que se tem é a total
qual deve ser o fundamento de sua decisão, se o fato incongruência entre a causa de pedir da petição inicial e a
eleito for diferente daquele alegado pela parte, como fun- fundamentação da sentença. O art. 934, I, do CPC é ex-
damento de sua pretensão” (PINTO, Teresa Arruda Alvim. presso em admitir o cabimento da ação de nunciação de
“Nulidades da sentença”. São Paulo: RT, 2ª edição, 1990, obra nova para que se defenda, além da propriedade ou
pág. 139). posse, também uma servidão; mas não é dado ao juiz
Forçoso é admitir, portanto, que em momento algum declarar incidentalmente tal direito nesse específico tipo
houve por parte dos autores, ora recorridos, sequer men- de procedimento especial, com base em documento ad-
ção à preexistência de uma servidão entre os imóveis a ministrativo não trazido pelo autor, a quem o reconheci-
fundamentar um suposto direito de passagem entre eles. mento do direito beneficiaria, para assim ver erigida, a
A causa de pedir identifica o pedido; assim, se este, de fórceps, a premissa necessária ao julgamento de parcial
qualquer forma, é julgado procedente, mas por fundamento procedência do pedido.
diverso, o que se tem, na realidade, é o acolhimento de Forte em tais razões, Conheço e Dou Provimento ao
um pedido igualmente diverso daqueloutro pelo autor for- recurso especial, para, reformando o acórdão recorrido,
mulado. declarar a nulidade da sentença e dos atos a ela posteri-
A desobediência ao princípio da congruência entre a ores, determinando a remessa dos autos ao juiz natural,
inicial e a sentença não tem origem em algum formalismo para que este prossiga na esteira do devido processo le-
processual, este ainda herança de um exacerbado gal.
abstracionismo entre direito processual e direito material, Brasília, 21 de fevereiro de 2006

22 DIÁRIO DAS LEIS IMOBILIÁRIO (DLI) 3º DECÊNDIO JANEIRO/2008 – Nº 3


JURISPRUDÊNCIA CAR
JURISPRUDÊNCIA CART
TORÁRIA
REGISTRO DE IMÓVEIS – VENDA E COMPRA DE PARTE CERTA DE
IMÓVEL – DESMEMBRAMENTOS ANTERIORES – NECESSIDADE DE
PRÉVIA RETIFICAÇÃO DO REGISTRO PARA APURAÇÃO DO REMA-
NESCENTE – REGISTRO RECUSADO (CSM/SP)
ACÓRDÃO irregular, em afronta aos ditames da Lei 6.766/79, e de
Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apela- que se forem descontadas todas as vendas já realizadas,
ção Cível nº 702-6/6, da Comarca da Capital, em que é não há disponibilidade quantitativa para o desfalque de-
apelante Carlos Esteves e apelado o 11º Oficial de Regis- corrente desta alienação, o que reclama a prévia retifica-
tro de Imóveis da mesma Comarca. ção da área maior.

Acordam os Desembargadores do Conselho Superi- Acrescenta que o imóvel está inserido em área de
or da Magistratura, por votação unânime, em negar provi- proteção de mananciais, e que o registro do parcelamento
mento ao recurso, de conformidade com o voto do relator do solo mascarado em forma de condomínio afronta ou-
que fica fazendo parte integrante do presente julgado. tras disposições legais.

Participaram do julgamento, com votos vencedores, O Juízo Corregedor Permanente julgou procedente
os Desembargadores Celso Luiz Limongi, Presidente do a dúvida, baseado em reiterados precedentes do Colendo
Tribunal de Justiça e Caio Eduardo Canguçu de Almeida, Conselho Superior da Magistratura de que a alienação de
Vice-Presidente do Tribunal de Justiça. frações ideais de imóveis, de áreas certas e delimitadas,
caracteriza significativo indício a revelar que a real inten-
São Paulo, 26 de abril de 2007. ção dos envolvidos é instituir um verdadeiro parcelamento
Gilberto Passos de Freitas, do solo, em desobediência às posturas da Lei 6.766/79.
Corregedor Geral da Justiça e Relator Acrescenta que a existência de registro anterior de
VOTO venda de fração ideal não implica no registro da escritura
Registro de Imóveis. Recusa de registro de escri- ora apresentada nas mesmas condições, porque é pacífi-
tura de compra e venda, mantida pela sentença do co o entendimento de que erros pretéritos não autorizam
Juízo Corregedor Permanente, por configurar burla à novos e reiterados erros. Menciona a questão da disponi-
Lei 6.766/79 e comprometimento da disponibilidade bilidade quantitativa, que também consiste óbice ao re-
quantitativa. gistro.

Hipótese que não demonstra intenção de tangenciar O recorrente alega que o compromisso de compra e
a Lei do Parcelamento do Solo Urbano. Área maior de venda do qual é objeto a parte ideal do imóvel em ques-
pequena dimensão e venda de partes ideais que tão, foi firmado antes da vigência das Leis 6.015/73 e
correspondem à área de pequena metragem, realizada 6.766/79, as quais, portanto, não são aplicáveis. Acres-
para pessoas diversas e que não têm vínculo umas com centa que utiliza o imóvel como moradia há mais de 40
as outras. (quarenta) anos, e que outros nas mesmas condições e
que adquiriram partes ideais há menos tempo obtiveram
Ausente, ademais, a possibilidade de sucessivos
o registro.
desmembramentos posteriores.
Sustenta que a legislação vigente permite a venda
Óbice ao registro, contudo, no que diz respeito à dis-
de quinhões e a formação de condomínio entre os propri-
ponibilidade quantitativa. Inviável, neste aspecto, o regis-
etários.
tro do título, porque a soma das partes ideais alienadas
resulta em área com metragem superior à área corres- Afirma que a soma das áreas vendidas não chega a
pondente aos 24,975% da totalidade do imóvel vendido perfazer sequer a totalidade da área maior.
ao recorrente. Recurso não provido. A Procuradoria Geral de Justiça opinou pelo não pro-
1. Tratam os autos de dúvida suscitada pelo 11º Ofi- vimento do recurso.
cial de Registro de Imóveis da Comarca da Capital, refe- É o relatório.
rente à escritura de compra e venda de fração ideal que
lhe foi apresentada, cujo registro na matrícula nº 273.275 2. Não se vislumbra, à vista das peculiaridades do
foi recusado, sob o fundamento de que este tipo de alie- caso em tela, burla à Lei 6.766/79.
nação estaria a mascarar a existência de parcelamento Da análise da matrícula nº 273.275, verifica-se que

3º DECÊNDIO JANEIRO/2008 – Nº 3 DIÁRIO DAS LEIS IMOBILIÁRIO (DLI) 23


JURISPRUDÊNCIA
JURISPR CART
UDÊNCIA CAR TORÁRIA

os proprietários da área de 1.120 m², Mario Mendes trair de área maior transcrita perante o 11º Oficial do Re-
Coimbra e sua mulher, venderam partes ideais desta área gistro de Imóveis da Capital, mas cumpre ter em mente
maior para quatro adquirentes, conforme consta dos re- que este, na certidão que expediu, consignou “que o imó-
gistros “R.1”, “R.2”, “R.3” e “R.4”, e, ainda, ao recorrente. vel da transcrição nº 20.229, relatada no início da presen-
Não há nenhuma vinculação entre estes adquirentes, te certidão, não foi objeto de loteamento ou desmem-
cada qual adquiriu dos titulares do domínio da área maior bramento registrado(ou regularizado) neste cartório” (fls.
suas partes ideais, com metragens de pequena dimen- 76 verso).
são. Aplica-se, pois, o escólio de Narciso Orlandi Neto:
Os registros foram feitos nos anos de 1996 e 1998 e “As regras reunidas no princípio da especialidade
a situação permanece inalterada, apenas um dos impedem que sejam registrados títulos cujo objeto não
adquirentes vendeu no ano de 1998 a parte ideal adquiri- seja exatamente aquele que consta do registro anterior.
da para terceiro, cujo título ingressou no registro no ano É preciso que a caracterização do objeto do negócio
de 2000. repita os elementos de descrição constantes do registro.
A Lei 6.766/79 visa impedir vulneração à organiza- Quando se tratar, por exemplo, de alienação de par-
ção urbana e proteger os adquirentes de lotes. te de um imóvel, necessário será que a descrição da par-
As situações que configuram burla à referida lei são te permita localizá-la no todo e, ao mesmo tempo, conte-
aquelas que revelam verdadeiro empreendimento imobi- nha todos os elementos necessários à abertura da matrí-
liário, decorrente de desmembramentos sucessivos de cula (conf. Jorge de Seabra Magalhães, ob. cit., p.63)”
área extensa em elevado número de lotes, o que não ocor- (Retificação do Registro de Imóveis, Ed. Oliveira Mendes,
re no caso vertente. São Paulo, 1997, p.68).
Contudo, a pretensão do registro do título esbarra no Em que pese a alegação de que o parcelamento é
óbice referente à disponibilidade quantitativa. antigo, anterior à Lei nº 6.766/79 e realizado na vigência
Neste aspecto, os cálculos apresentados no recurso do Decreto-lei nº 58/37, cumpre ter em mente que, no
apresentado não estão corretos, porque o recorrente se âmbito do Registro Imobiliário propriamente dito, não se
esqueceu de somar a aquisição feita por Marcos Roberto encontram dados suficientes para individualizar o “lote”
Da Silva Oliveira. em testilha, bem como o remanescente da área total pri-
mitiva.
Com efeito, em conformidade com o “R.1”, a venda
abrangeu 407,50 m²; com o “R.2”, abrangeu 185,20 m²; Do ponto de vista tabular, não modificam a situação
com o “R.3”, abrangeu 147, 50 m², e com o “R.4”, abran- a existência de certidões expedidas pela Prefeitura Muni-
geu mais 147,50 m². Esta última área não foi acrescenta- cipal de Jandira (fls. 101/102), referentes ao cadastra-
da nos cálculos do recorrente. mento de tal terreno, nem a juntada de plantas pela recor-
rente (fls. 103/105).
A soma delas resulta em 887,70 m2, que, subtraídos
da área total de 1.120 m2, resulta em 232,70 m2. São documentos que poderão subsidiar pedido futu-
ro, voltado à retificação ou regularização registrária, mas
O título apresentado indica a aquisição da parte ideal que não têm o condão, por estranhos ao fólio real, de
correspondente a 24,975% da área de 1.120 m2, o que viabilizar o pronto registro pretendido.
resulta em 279,72 m2, portanto, em metragem superior Nesta esteira, já decidiu este Conselho, ao apreciar
aos 232,70 m2 disponíveis, nos termos expostos pelo a Apelação Cível nº 35.016-0/4, que “não há como regis-
Oficial. trar parcela destacada de área maior, quando não for pos-
Nestas condições, mostra-se inviável o registro do sível controlar, com eficiência, a partir de elementos tabu-
título aquisitivo, porque é necessário apurar o remanes- lares, a disponibilidade da área destacada e da remanes-
cente, de modo a permitir a segura delimitação e caracte- cente”.
rização do imóvel e o controle da disponibilidade registrária, Oportuna, pois, a observação do Oficial suscitante,
conforme exige a legislação vigente e que deve ser consi- no sentido de que, à margem da transcrição original, fo-
derada no momento em que título é apresentado. ram efetuadas as averbações de abertura das Ruas
Este Colendo Conselho Superior da Magistratura, na Jandira, Fernando Pessoa, Sorocabana, São José,
Apelação Cível nº 188-6/9, da Comarca de Barueri, ao Piratininga e Progresso, mas sem a perfeita delimitação,
analisar questão referente à pretensão de registro de títu- verificando-se, ainda, além disso, que a área maior trans-
lo cujo lote foi destacado de área transcrita, assim deci- crita sofreu diversos destaques, “o que impossibilita o con-
diu: trole da disponibilidade quantitativa e da especialidade”
“Cuida-se de porção de terreno que se pretende ex- (fls. 04).

24 DIÁRIO DAS LEIS IMOBILIÁRIO (DLI) 3º DECÊNDIO JANEIRO/2008 – Nº 3


JURISPRUDÊNCIA
JURISPR CART
UDÊNCIA CAR TORÁRIA

Ou seja, os elementos presentes no álbum real, que bilitando o registrador de controlar com eficiência, a partir
são os que efetivamente importam para a finalidade dos elementos constantes dos assentamentos registrários,
colimada, não propiciam a certeza e a segurança indis- a disponibilidade da área sob os aspectos quantitativo e
pensáveis para que possa ser levado a efeito o registro geodésico, ou seja, a localização exata de tais lotes e da-
do título apresentado. quele mencionado na escritura pública apresentada a re-
Como elucidado no julgamento da Apelação Cível nº gistro na gleba maior, o que inviabiliza, sem prévia retifica-
62.498-0/5, da Comarca de Guarulhos, independentemen- ção dos assentamentos registrários para apurar as áreas
te da discussão sobre a necessidade de registro do ocupadas pelos lotes referidos nas mencionadas transcri-
loteamento realizado sob a égide do Decreto-lei nº 58/37, ções e a remanescente, o registro do título contratual”.
não se admite que o lote seja registrado sem a adequada Este mesmo julgado menciona outros no mesmo
especificação geográfica: sentido:
“Registro de Imóveis - Venda e compra de parte cer- Apelações Cíveis números 74.831-0/9, da Comarca
ta de imóvel - Desmembramentos anteriores - Necessi- da Capital e 91.612-0/4, da Comarca de Guarulhos.
dade de prévia retificação do registro para apuração do O entendimento perfilhado no julgado acima trans-
remanescente - Registro do título contratual, recusado por crito é semelhante ao caso em tela e autoriza concluir
tal motivo.” que o registro do título, por este motivo, é inviável.
Contém o V. Acórdão trecho esclarecedor: Diante do exposto, nego provimento ao recurso.
“A precariedade da descrição de tais lotes não per- Gilberto Passos de Freitas,
mite sua localização com exatidão no terreno, impossi- Corregedor Geral da Justiça e Relator

REGISTRO IMOBILIÁRIO – INDISPENSÁVEL A APRESENTAÇÃO DO


TÍTULO ORIGINAL – CORRETA A RECUSA AO REGISTRO (CSM/SP)
ACÓRDÃO Rio Preto que, apreciando dúvida inversamente suscita-
Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apela- da, negou acesso ao fólio real de Cédula Rural Pignoratícia
ção Cível nº 624-6/0, da Comarca de São José do Rio e Hipotecária n° 20/25054-1, emitida em 20/04/2005, com
Preto, em que é apelante o Banco do Brasil S.A e apelado vencimento em 04/04/2012. Assim se decidiu em razão
o 2º Oficial de Registro de Imóveis, da mesma comarca. do prazo inicial de validade do título ultrapassar o limite
Acordam os Desembargadores do Conselho Superior da máximo de 05 anos, previsto no art. 61 do DL 167/67, a
Magistratura, por votação unânime, em negar provimento inviabilizar o registro pretendido pelo recorrente.
ao recurso, de conformidade com o voto do relator que Houve apelação a fls. 39/46, na qual se revela a
fica fazendo parte integrante do presente julgado. Partici- insurgência do recorrente com relação ao decidido. Isto
param do julgamento, com votos vencedores, os porque seria possível o registro em questão, nos termos
Desembargadores Celso Luiz Limongi, Presidente do Tri- da legislação em vigor. A douta Procuradoria de Justiça
bunal de Justiça e Caio Eduardo Canguçu de Almeida, opinou pelo não conhecimento do recurso, ante a falta do
Vice-Presidente do Tribunal de Justiça. São Paulo, 1º de título original, ou, subsidiariamente, pelo seu improvimento,
fevereiro de 2007. na esteira do já decidido pelo Conselho Superior da Ma-
Gilberto Passos de Freitas, gistratura (fls. 61/65).
Corregedor Geral da Justiça e Relator É o relatório.
VOTO 2. Saliente-se, de início, que embora a chamada dú-
Registro de Imóveis. Dúvida inversamente susci- vida inversa, suscitada diretamente pelo interessado, ve-
tada. Indispensável a vinda do título original. Falta de nha sendo admitida, na hipótese vertente não estão pre-
prenotação válida. Correta a recusa ao registro, con- enchidos os requisitos mínimos para que a pretensão do
forme precedentes do Conselho Superior da Magis- recorrente possa vir a ser acolhida.
tratura. Recurso improvido. Na verdade, nenhum título original consta dos autos,
1. Cuida-se de recurso interposto contra sentença conforme exigido nos artigos 203, II, e 221, da LRP, o que
proferida (fls. 27/31) pelo MM. Juiz Corregedor Perma- não fica suprido pela vinda das simples xerocópias de fls.
nente do Oficial de Registro de Imóveis de São José do 16 e seguintes.

3º DECÊNDIO JANEIRO/2008 – Nº 3 DIÁRIO DAS LEIS IMOBILIÁRIO (DLI) 25


JURISPRUDÊNCIA
JURISPR CART
UDÊNCIA CAR TORÁRIA

Ademais, a prenotação já teria expirado em 07/06/ bre-se que, conforme estabelecido no subitem 30.1 do
2005 (fls. 15), tendo sido suscitada a dúvida somente em capítulo XX das Normas de Serviço da Corregedoria Ge-
21/10/2005. ral da Justiça, mesmo que a dúvida não tenha sido argüi-

Acerca da hipótese, este Conselho já decidiu: “Re- da pelo registrador, ensejando a suscitação direta pelo

gistro de Imóveis - Dúvida inversamente suscitada - Falta próprio interessado (o que se conhece por Dúvida Inver-

do título original e de prenotação - Inadmissibilidade – sa), o título deverá ser obrigatoriamente prenotado.

Prejudicialidade - Recurso não conhecido”. Enfim, não há como fugir à circunstância que o título

“Pacífica a jurisprudência deste Colendo Conselho carece da indispensável prenotação válida, bem como da

Superior da Magistratura no sentido da necessidade de juntada de sua via original, como seria de rigor.

apresentação do título original, como decidido na apela- A ausência dos requisitos supra-mencionados deixa,
ção cível nº 30.728-0/7. da Comarca de Ribeirão Preto, enfim, inviabilizado o acolhimento da presente apelação.
Relator o Desembargador Márcio Martins Bonilha, nos Mesmo que não houvesse tal óbice, ainda assim o
seguintes termos: Ora, sem a apresentação do título ori- registro não poderia ocorrer.
ginal, não admite a discussão do quanto mais se venha a
Como se sabe, é atribuição do oficial proceder à qua-
deduzir nos autos, porque o registro, em hipótese algu-
lificação do título e isto se dá mediante a aplicação da
ma, poderá ser autorizado, nos termos do artigo 203, II,
legislação específica vigente à época do seu respectivo
da Lei 6.015/73. Não é demasiado observar que no to-
ingresso.
cante à exigência de autenticidade, o requisito da exibi-
Verifica-se, pois, a conformidade com os postulados
ção imediata do original diz respeito ao direito obtido com
e princípios registrários (Apelações Cíveis nº. 22.417-0/4,
a prenotação do título, direito que não enseja prazo refle-
Piracaia e 44.307-0/3, Campinas): “Incumbe ao oficial
xo de saneamento extrajudicial de deficiências da docu-
impedir o registro de título que não satisfaça os requisitos
mentação apresentada’”.
exigidos pela lei, quer sejam consubstanciados em ins-
Prossegue-se: “Ao ser suscitada a dúvida, a requeri-
trumento público ou particular, quer em atos judiciais”.
mento do interessado, o título recusado deve ser prenotado
No mesmo sentido, o disposto no item 106 do Capí-
para que esteja assegurado o direito de prioridade do
tulo XX, Tomo II, das Normas de Serviço da Corregedoria
apresentante”. Conclui-se: “Não tendo sido mantido nos
Geral da Justiça.
autos, no original, nem oportunamente prenotado, o título
cujo registro pretende a recorrente, não é de ser conheci- Pois bem, conforme aqui observado pelo registrador,
do o recurso, prejudicadas as demais questões suscita- pelo seu Juízo Corregedor Permanente e ainda pela douta
das pelas partes (Apelação Cível nº 43.728-0/7, da Procuradoria de Justiça, impossível se atender ao recla-
Comarca de Batatais, publicado D.O.E., Poder Judiciário, mo do recorrente sem afrontar o já decidido pelo Conse-
Caderno I, Parte I, de 13 de outubro de 1998, página 04, lho Superior da Magistratura nos autos das Apelações
relatado pelo eminente Des. Sérgio Augusto Nigro Con- Cíveis n° 233-6/5, 516-6/7 e 529-6/6.
ceição)”. 3. Ante o exposto, é negado provimento ao recurso
No mesmo sentido, o decidido nas Apelações Cíveis interposto, ficando mantida a r. sentença de primeiro grau
nº441-0, 2.177-0, 4.258-0, 4.283-0, 8.235-0, 8.705-0/6, que considerou inviável o registro.
8.926-0/4, 10.483-0/1, 10.961-0/3, 12.439-0/6, 13.820-0/ Gilberto Passos de Freitas,
2, 16.680-0/4, 17.542-0/2, 17.586-0/2, 18.427-0/5. Lem- Corregedor Geral da Justiça e Relator.

26 DIÁRIO DAS LEIS IMOBILIÁRIO (DLI) 3º DECÊNDIO JANEIRO/2008 – Nº 3


BOLETIM CARTORÁRIO
O Boletim Cartorário foi criado em março de 1990. O seu idealizador e
3/1

redator é o Dr. Antonio Albergaria Pereira, que possui uma experiência de


mais de cinqüenta anos em cartórios, sendo ainda um dos mais premiados na
área cartorária.

A redação do Boletim Cartorário e a seleção das matérias estão a cargo de


seu redator.
Antonio Albergaria Pereira

GEO-REFERENCIAMENTO DE IMÓVEIS RURAIS

Carlos Antonio de Araújo (*)


1. AS ALTERAÇÕES dos dados constantes do CCIR, da
INTRODUZIDAS PELA LEI 10.267/ denominação e de suas característi-
2001 cas, confrontações, localização e
A lei 10.267/01 introduziu no sis- área;
tema fundiário e registral brasileiro a § 3º. Nos casos de desmem-
obrigatoriedade de se realizar o geo- bramento, parcelamento ou remem-
referenciamento de todos os imóveis bramento de imóveis rurais, a identi-
rurais. Referida lei foi regulamenta- ficação prevista na alínea a do item 3
da pelo dec. 4.449/02, o qual foi alte- do inciso II do § 1º será obtida a par-
rado pelo decreto 5.570/05. tir de memorial descritivo, assinado
O geo-referenciamento dos imó- por profissional habilitado e com a
veis rurais será progressivo e de acor- nulidade e de nenhum efeito surtir devida Anotação de Responsabilida-
do com a área de cada imóvel, sen- quaisquer atos que infrinjam o dispos- de Técnica - ART, contendo as coor-
do que o citado dec. 5.570/05 impõe to na referida lei, não podendo ainda denadas dos vértices definidores
a realização do mesmo nos seguin- os serviços notariais lavrar escrituras dos limites dos imóveis rurais,
tes prazos: a partir de 20/02/2004 dessas áreas, nem ser tais atos geo-referenciadas ao Sistema
para os imóveis com área de cinco registrados nos Registros de Imóveis, Geodésico Brasileiro e com preci-
mil hectares ou superior; 20/11/2004, sob pena de responsabilidade admi- são posicional a ser fixada pelo
para os imóveis com área de mil a nistrativa, civil e criminal de seus titu- INCRA, garantida a isenção de cus-
menos de cinco mil hectares; 20/11/ lares ou prepostos. tos financeiros aos proprietários de
2008, para os imóveis com área de imóveis rurais cuja somatória da área
quinhentos a menos de mil hectares O geo-referenciamento veio a
alterar substancialmente os requisitos não exceda a 4 (quatro) módulos fis-
e 20/11/2011, para os imóveis com cais.
área inferior a quinhentos hectares, da matrícula do imóvel, dados pelo
prazos estes definidos pelo artigo 10 artigo 176, parágrafo 1º, inciso II, item § 4º. A identificação de que trata
do dec. 4.449/02, cuja redação foi 3, letra “a”, e pelos parágrafos 3º e 4º o § 3º tornar-se-á obrigatória para
dada pelo dec. 5.570/05. do citado artigo, sendo eles: efetivação de registro, em qualquer
Art. 176. O Livro nº 2 - Registro situação de transferência de imóvel
Esgotados os mencionados pra- rural, nos prazos fixados por ato do
zos, ficam os oficiais do registro de Geral - será destinado à matrícula
dos imóveis e ao registro ou Poder Executivo.
imóveis proibidos de praticarem atos
registrais envolvendo as áreas rurais, averbação dos atos relacionados no 2. O QUE É GEO-
relativos a desmembramento, art. 167 e não atribuídos ao Livro nº REFERENCIAMENTO?
parcelamento ou remembramento, 3. A citada lei faz menção expres-
transferência de área total, criação ou § 1º. A escrituração do Livro nº sa ao Sistema Geodésico Brasileiro,
alteração da descrição do imóvel, re- 2 obedecerá às seguintes normas: o que pode ser definido como um
sultante de qualquer procedimento II - são requisitos da matrícula: conjunto de normas técnicas que têm
judicial ou administrativo, até que seja por objetivo dar a exata dimensão,
feita a identificação do imóvel na for- 3) A identificação do imóvel, que localização e confrontação de qual-
ma prevista no dec. 4.449/02, ou seja, será feita com indicação: quer propriedade brasileira, pública
o geo-referenciamento, sob pena de a) se rural, do código do imóvel, ou privada. O “Dicionário Luft”¹ defi-
3º DECÊNDIO JANEIRO/2008 – Nº 3 DIÁRIO DAS LEIS IMOBILIÁRIO (DLI) 27
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BOLETIM CARTORÁRIO 3/2

ne geodésia como sendo a ciência da legal e particular do patrimônio natu- tificação do imóvel quanto à sua lo-
forma e das dimensões da Terra, ou ral, bem como outras limitações e calização e área.
de parte da superfície desta. restrições de caráter dominial e 4. QUANDO É EXIGIDO O
Segundo Kátia Duarte Pereira e ambiental, para fins de atualização MEMORIAL DESCRITIVO?
Moema José de Carvalho Augusto², cadastral.
Segundo o dicionário jurídico
da Coordenação de Geodésia do Tais comunicações servem para “DireitoNet”³, memorial descritivo vem
IBGE, georreferenciar ao Sistema compor o CNIR - Cadastro Nacional a ser “um relatório ou uma narração
Geodésico Brasileiro – SGB, signifi- de Imóveis Rurais, que tem base co- que descreve os fatos ou atos prati-
ca identificar inequívocamente o mum de informações, gerenciada cados para o cumprimento de um
imóvel, descrevendo-o através de conjuntamente pelo INCRA e pela objetivo desejado. É mais conhecido
coordenadas do sistema de refe- Secretaria da Receita Federal, pro- como o relatório apresentado pelo
rência do mapeamento oficial ado- duzida e compartilhada pelas diver- agrimensor na demarcação e divisão
tado no país, que é de responsabili- sas instituições públicas federais e de terras”.
dade do IBGE. estaduais produtoras e usuárias de
informações sobre o meio rural bra- De acordo com a lei 10.267/01,
O geo-referenciamento é extre- o geo-referenciamento será obriga-
mamente importante para o Brasil, sileiro. De acordo com o parágrafo 6º
do artigo 7º do decreto 4.449/02, o tório, quando ocorrer desmem-
devido à sua dimensão continental e bramento, parcelamento, remem-
aos constantes conflitos agrários, em CNIR não criará código próprio de
identificação, devendo ser utilizado o bramento, ou transferência de área
especial, nas Regiões Norte e Cen- total. Também será exigível nos au-
tro-Oeste, última fronteira agrícola do código que o INCRA houver atribuí-
do ao imóvel no CCIR, o qual deverá tos judiciais que versem sobre imó-
país. veis rurais, garantida a isenção de
ser mencionado nos atos notariais e
Realizado o geo-referencia- registrais de que trata o artigo 176 da custos financeiros aos proprietários
mento de uma propriedade, não res- Lei de Registros Públicos. de imóveis rurais cuja somatória da
tarão mais dúvidas acerca de sua área não exceda a quatro módulos
exata localização, dimensão e con- A obrigação de prestar informa- fiscais.
frontação, sepultando de vez parte do ções ao CNIR é estendida aos titula-
res de domínio útil e aos possuido- A lei 6.739/79, ao disciplinar a
sistema registral brasileiro, onde as matrícula e o registro de imóveis ru-
propriedades são caracterizadas de res a qualquer título, sempre que hou-
ver alteração nos imóveis rurais, em rais, faz menção expressa ao artigo
acordo com os confrontantes. 225 da lei de registros públicos – Lei
relação à área ou à titularidade, bem
3. FINALIDADE DO GEO- como nos casos de preservação, 6.015/73, para assegurar à União,
REFERENCIAMENTO conservação e proteção de recursos aos Estados, Distrito Federal e Muni-
O geo-referenciamento tem por naturais. cípios, o direito de promoverem, via
finalidade conhecer a exata dimen- administrativa, a retificação da ma-
Por disposição expressa do ar- trícula, do registro ou da averbação
são, localização e confrontantes de tigo 198 da lei 5.172/66 – Código Tri-
cada propriedade rural, contribuindo feita em desacordo com o art. 225 da
butário Nacional, os dados armaze- Lei nº 6.015/73, quando a alteração
para o fim dos conflitos agrários, in- nados pelo CNIR são protegidos por
vasão de terras públicas, etc., dotan- da área ou dos limites do imóvel im-
sigilo fiscal, deles não podendo fazer portar em transferência de terras pú-
do as autoridades de dados uso indevido o INCRA ou a Receita
confiáveis para executar as diversas blicas.
Federal do Brasil.
políticas públicas ligadas à área ru- O geo-referenciamento servirá Entendemos que tal retificação
ral, inclusive a cobrança do ITR – ainda, para a correta identificação dos prescinde de geo-referenciamento e
Imposto Territorial através da Recei- imóveis rurais, eis que o artigo 176 memorial descritivo do imóvel, mes-
ta Federal do Brasil. da Lei de Registros Públicos, dispõe mo porque a lei 10.267/01 não distin-
O decreto regulamentador da lei que é requisito da matrícula, a identi- gue terras privadas de terras públi-
10.267/01, impõe aos serviços de re- ficação do imóvel, que será feita com cas.
gistros de imóveis a obrigação de indicação, se rural, do código do imó- O artigo 225 da lei de registros
comunicar mensalmente ao INCRA vel, dos dados constantes do CCIR, públicos determina aos tabeliães,
as modificações ocorridas nas matrí- da denominação e de suas caracte- escrivães e juízes, que indiquem com
culas, decorrentes de mudanças de rísticas, confrontações, localização precisão, nas escrituras e nos autos
titularidade, parcelamento, desmem- e área. O mesmo artigo determina a judiciais, os característicos, as con-
bramento, loteamento, unificação de realização do geo-referenciamento, frontações e as localizações dos imó-
imóveis, retificação de área, reserva mencionando expressamente a iden- veis, mencionando os nomes dos
28 DIÁRIO DAS LEIS IMOBILIÁRIO (DLI) 3º DECÊNDIO JANEIRO/2008 – Nº 3
CART
BOLETIM CARTORÁRIO 3/3

confrontantes e, ainda, quando se tra- Para os efeitos da mencionada Norma Técnica para Geo-referen-
tar só de terreno, se esse fica do lado instrução normativa, o INCRA consi- ciamento de Imóveis Rurais, aprova-
par ou do lado ímpar do logradouro, dera como um único imóvel rural da pela PORTARIA/INCRA/P/Nº
em que quadra e a que distância duas ou mais áreas confinantes, per- 1101, de 17 de novembro de 2003.
métrica da edificação ou da esquina tencentes ao mesmo proprietário, ti- A atualização cadastral compre-
mais próxima, exigindo dos interes- tular de domínio útil ou possuidor a ende as operações de inclusão, alte-
sados certidão do registro imobiliário, qualquer título, na forma individual ou ração e cancelamento, efetuada por
considerando irregulares, para efeito em condomínio ou composse, mes- meio dos já mencionados formulári-
de matrícula, os títulos nos quais a mo quando o imóvel estiver situado os.
caracterização do imóvel não coinci- total ou parcialmente em um ou mais
da com a que consta do registro an- municípios ou em mais de uma Uni- A apresentação do formulário
terior. dade da Federação, estiver situado Declaração para Cadastro de Imóveis
total ou parcialmente em zona rural Rurais - Dados sobre Uso, somente
Embora o texto indique tratar-se é obrigatória para imóveis cuja área
de imóveis urbanos, o mesmo se apli- ou urbana, ou ter interrupções físicas
por cursos d’água, estradas ou outro total seja igual ou superior a quatro
ca aos imóveis rurais, por interpreta- módulos fiscais, salvo casos em que
ção sistemática dos artigos 8º-A, 8º- acidente geográfico, desde que seja
mantida a unidade econômica, ativa haja determinação expressa do
B e 8º-C da lei 6.739/79, os quais INCRA.
listam os procedimentos a serem ou potencial.
adotados pelo Oficial do Registro de O INCRA, no processo de atu- Assim, o memorial descritivo
Imóveis por ocasião da retificação de alização cadastral dos imóveis ru- está diretamente ligado ao geo-
área, proposta pelo poder executivo rais, obriga os proprietários ou pos- referenciamento, sendo parte inte-
das três esferas de governo, asse- suidores a apresentarem os se- grante deste, não sendo possível re-
gurando ao Oficial o direito de susci- guintes formulários: Declaração alizar o geo-referenciamento sem a
tar dúvida quando entender necessá- para Cadastro de Imóveis Rurais - elaboração do memorial descritivo
rio. Dados Sobre Estrutura, para co- elaborado por engenheiro. É obriga-
leta de dados referentes à área, si- tória a apresentação do memorial
4.1. DO CADASTRO NACIONAL descritivo nas situações previstas na
DE IMÓVEIS RURAIS JUNTO AO tuação jurídica e localização do
imóvel, entre outros; Declaração alínea “a”, item 3, do inciso II, do § 1º
INCRA. do artigo 176 da Lei 6.015/73, bem
para Cadastro de Imóveis Rurais -
A Instrução Normativa nº 24 do Dados Sobre Uso, para coleta de como nas hipótese dos artigos 213 e
INCRA, estabelece os critérios técni- dados referentes à situação do uso 225 da mesma lei.
cos para o geo-referenciamento, deter- e à exploração do imóvel; Decla- 5. DO PROCESSO
minando que todos os proprietários, ti- ração para Cadastro de Imóveis
tulares de domínio útil ou possuido- Para realizar o geo-referencia-
Rurais - Dados Pessoais e de Re- mento, deverá o proprietário contra-
res a qualquer título de imóveis ru- lacionamentos: utiliza-se para co-
rais, estão obrigados a prestar a De- tar engenheiro para o fim específico
leta de dados sobre as pessoas fí- de levantar as coordenadas do imó-
claração para Cadastro de Imóveis sicas ou jurídicas e informações re-
Rurais, composta de formulários e vel, de acordo com o sistema
ferentes ao relacionamento, por geodésico brasileiro.
das plantas e memoriais descriti- detenção ou uso temporário do
vos correspondentes, sempre que imóvel; Planta e Memorial Descri- De acordo com o artigo 213 da
ocorrer modificações nas informa- tivo: utiliza-se para coleta de da- Lei de Registros Públicos, a realiza-
ções referentes ao imóvel ou à pes- dos de localização geográfica dos ção do geo-referenciamento induz
soa a ele vinculada. imóveis; e, Mapa de Uso: utiliza- inevitavelmente à retificação do regis-
A referida instrução normativa se para coleta de dados de explo- tro, havendo ou não alteração das
conceitua imóvel rural, na forma do ração dos imóveis. medidas perimetrais do imóvel, eis
inciso I, art. 4º da Lei 8.629, de 25 de Todos os formulários devem ser que o Oficial lançará na matrícula do
fevereiro de 1993 e suas alterações, preenchidos de acordo com as ins- imóvel os rumos, ângulos de deflexão
como sendo o prédio rústico de área truções contidas no Manual de Ori- ou inserção de coordenadas geo-
contínua, qualquer que seja a sua lo- entação para Preenchimento da De- referenciadas.
calização, que se destine ou possa claração para Cadastro de Imóveis Antes de proceder à retificação
se destinar à exploração agrícola, Rurais, editado pelo INCRA em 2002, do registro, deverá o oficial se certifi-
pecuária, extrativa vegetal, florestal e as peças técnicas deverão ser apre- car de que a planta do imóvel, elabo-
ou agroindustrial. sentadas em conformidade com a rada por geo-referenciamento, con-

3º DECÊNDIO JANEIRO/2008 – Nº 3 DIÁRIO DAS LEIS IMOBILIÁRIO (DLI) 29


CART
BOLETIM CARTORÁRIO 3/4

tém a assinatura de todos os con- tes de áreas parcialmente alienadas, derão lavrar escrituras dessas áreas,
frontantes, e em faltando a assina- caso em que serão considerados nem ser tais atos registrados nos
tura de algum deles, deverá o Ofi- como confrontantes tão-somente os Registros de Imóveis, sob pena de
cial notificá-lo a requerimento do in- confinantes das áreas remanescen- responsabilidade administrativa, civil
teressado, para se manifestar em tes. e criminal de seus titulares ou
quinze dias, promovendo-se a no- As áreas públicas poderão ser prepostos. Na omissão da lei, pres-
tificação pessoalmente ou pelo cor- demarcadas ou ter seus registros supõe-se que o oficial do registro de
reio, com aviso de recebimento, ou, retificados pelo mesmo procedimen- imóveis esteja obrigado a arquivar
ainda, por solicitação do Oficial de to, desde que constem do registro ou cópia de todo o processo de geo-
Registro de Imóveis, pelo Oficial de sejam logradouros devidamente referenciamento.
Registro de Títulos e Documentos averbados. NOTAS
da comarca da situação do imóvel
ou do domicílio de quem deva Entende-se como confrontan-tes 1. Dicionário LUFT, Editora Ática,
recebê-la. não só os proprietários dos imóveis 2ª Ed. 1991.
contíguos, mas, também, seus even- 2. O Sistema Geodésico Brasi-
A notificação será dirigida ao tuais ocupantes. O condomínio geral,
endereço do confrontante constante leiro e a lei de Geo-referenciamento
de que tratam os arts. 1.314 e seguin- de Imóveis. geodesia.ufsc.br.
do Registro de Imóveis, podendo ser tes do Código Civil, será representa-
dirigida ao próprio imóvel contíguo ou do por qualquer dos condôminos, e o 3. www.direitonet.com.br.
àquele fornecido pelo requerente, e condomínio edilício, de que tratam os BIBLIOGRAFIA
uma vez não encontrado o arts. 1.331 e seguintes do Código
confrontante ou estando em lugar in- BRASIL, LEI nº 10.267, de 28
Civil, será representado, conforme o ago. 2001. Institui o geo-referencia-
certo e não sabido, tal fato será certi- caso, pelo síndico ou pela Comissão
ficado pelo oficial encarregado da di- mento de imóveis rurais. Júris Sínte-
de Representantes. se nº 64. Mar-Abr/2007.
ligência, promovendo-se a notificação
do confrontante mediante edital, com O geo-referenciamento também BRASIL, Lei nº 6.015, de 31 dez.
prazo de quinze dias, publicado por será obrigatório quando ocorrer reti- 1973. LEI DE REGISTROS PÚBLI-
duas vezes em jornal local de gran- ficação de área, de acordo com o ar- COS. Júris Síntese nº 64. Mar-Abr/
de circulação. Presumir-se-á a tigo 213 da Lei de Registros Públicos, 2007.
anuência do confrontante que deixar a requerimento do interessado, no
caso de inserção ou alteração de BRASIL, Lei nº 10.406, de 10
de apresentar impugnação no prazo jan. 2002. CÓDIGO CIVIL BRASILEI-
da notificação. medida perimetral de que resulte, ou
não, alteração de área, instruído com RO. Júris Síntese nº 64. Mar-Abr/
Findo o prazo sem impugnação, planta e memorial descritivo assina- 2007.
o oficial averbará a retificação do por profissional legalmente habili- Brasil, Lei 4.504, de 30 nov.
requerida. Se houver impugnação tado, com prova de anotação de res- 1964. ESTATUTO DA TERRA. Júris
fundamentada por parte de algum ponsabilidade técnica no competen- Síntese nº 64. Mar-Abr/2007.
confrontante, o oficial intimará o re- te Conselho Regional de Engenharia BRASIL, Lei nº 4.947, de 6 de
querente e o profissional que houver e Arquitetura - CREA, bem assim
assinado a planta e o memorial, a fim
abr. de 1966. Fixa normas de direito
pelos confrontantes. agrário, dispõe sobre o sistema de
de que, no prazo de cinco dias, se
manifestem sobre a impugnação. CONCLUSÃO organização e funcionamento do Ins-
Conjugando-se o parágrafo 3º tituto Brasileiro de Reforma Agrária.
Havendo impugnação e se as do artigo 176 da lei 6.015/73, com o Júris Síntese nº 64. Mar-Abr/2007.
partes não tiverem formalizado tran- artigo 2º da Instrução Normativa de BRASIL, Lei 5.868, de 12 de dez.
sação amigável para solucioná-la, o nº 24 do INCRA, conclui-se que o
oficial remeterá o processo ao juiz de 1972. Cria o Sistema Nacional de
geo-referenciamento, composto de Cadastro Rural. Júris Síntese nº 64.
competente, que decidirá de plano ou planta e memorial descritivo, deve ser Mar-Abr/2007.
após instrução sumária, salvo se a obrigatoriamente apresentado ao
controvérsia versar sobre o direito de INCRA para fim de atualização BRASIL, Lei 6.739, de 5 de dez.
propriedade de alguma das partes, cadastral, e ao cartório de notas para de 1979. Dispõe sobre a matrícula e
hipótese em que remeterá o interes- lavratura da escritura de compra e o registro de imóveis rurais. Júris Sín-
sado para as vias ordinárias. venda de imóvel rural, bem como ao tese nº 64. Mar-Abr/2007.
Pelo mesmo procedimento po- Cartório do Registro de Imóveis, sem BRASIL, Lei 9.393, de 19 de dez.
derão ser apurados os remanescen- o que os serviços notariais não po- de 1996. Dispõe sobre o Imposto so-

30 DIÁRIO DAS LEIS IMOBILIÁRIO (DLI) 3º DECÊNDIO JANEIRO/2008 – Nº 3


CART
BOLETIM CARTORÁRIO 3/5

bre a Propriedade Territorial Rural – Abr/2007. disputado território. Em matéria


ITR. Júris Síntese nº 64. Mar-Abr/2007. (*) O autor é Tabelião em Bom fundiária, os erros datam de sua ori-
BRASIL, Decreto nº 4.449, de 30 Despacho, MG. gem, pois, citando RUY CIRNE LIMA:
de out. de 2002. Regulamenta a Lei “Nem a metrópole portuguesa, nem o
NOTA DO REDATOR DO Império, jamais poderiam partilhar e
nº 10.267, de 28 de ago. de 2001. BOLETIM CARTORÁRIO
Júris Síntese nº 64. Mar-Abr/2007. distribuir as nossas terras devolutas,
Quando li a mencionada lei e o em caráter de pessoas privadas” (cf.
BRASIL, Decreto nº 5.570, de 31 seu decreto regulamentador que o pág 107, Pequena História Territorial
de out. de 2005. Dá nova redação a articulista menciona, tinha acabado do Brasil. Sesmarias e Terras
dispositivos do Decreto nº 4.449, de de ler o livro de autoria de Euclides Devolutas). Registro: Nas proximida-
30 de out. de 2002. Júris Síntese nº da Cunha, PERU X BOLÍVIA, questi- des de São Paulo, existem terras in-
64. Mar-Abr/2007. onando os direitos sobre um territó- dígenas. Tanto a lei como o decreto
BRASIL, Instrução Normativa rio que hoje integra o território da na- regulamentador que o articulista apre-
INCRA nº 24, de 28 de nov. de 2005. ção brasileira pela ausência de ele- cia com muita objetividade, ignoram
Aprova os procedimentos para atua- mentos válidos (cartas geográficas) essa realidade. Preceitos legais, en-
lização cadastral e os formulários de para auxiliar na solução da disputa tendo eu, não corrigem erros passa-
coleta do Sistema Nacional de Ca- do questionado território, e a melhor dos, embora louvável seja a disserta-
dastro Rural. Júris Síntese nº 64. Mar- solução foi o BRASIL comprar esse ção do articulista.

ESTÍMULO AO CARTORÁRIO ESTUDIOSO


Sempre entendi, e ainda man- janeiro de 2.002. Desde então esse “cabo a rabo”. Quanto ao dispositivo
tenho esse entendimento, que o Código passou a ser de leitura diá- que responde à pergunta está no seu
cartorário, estudioso, consciente e ria para mim, simplesmente “porque início: É O ARTIGO 14 – Tal disposi-
responsável, só deve, com seguran- UM DIA FUI CARTORÁRIO”, a con- tivo inexistia no código anterior. Sua
ça, praticar seus serviços, lendo di- firmar o anexim: “o uso do cachim- eficácia plena fica na dependência
ariamente os dispositivos do Códi- bo faz a boca torta”. Então formulei e vigência da expressa e válida ma-
go Civil, pois nele está o conteúdo e esta indagação: “qual o dispositivo nifestação do doador, que só terá
a substância dos atos e fatos de na- do atual Código Civil, que inexistia sua plena validade e eficácia quan-
tureza jurídica, que envolvem inte- no anterior” que disciplina a forma- do ocorrer a MORTE do doador, se
resses dos indivíduos. Tão importan- ção pública ou particular de um ATO antes não tiver sido revogada a do-
te são suas atribuições funcionais, JURÍDICO, que somente pode ser ação. Esse dispositivo disciplina a
que o legislador o identifica como praticado por pessoa física, mas sua formação de um ATO JURÍDICO, e
“profissional do direito”. Para estimu- eficácia fica na dependência da ocor- sua eficácia só ocorrerá quando
lar os leitores cartorários, no passa- rência de um FATO JURÍDICO futu- ocorrer um “FATO JURÍDICO” (mor-
do fiz duas indagações; uma, em que ro? Acho que a pergunta foi bem for- te do doador). O preceito que o meu
dispositivo do então Código Civil está mulada. Somente um leitor do BO- ilustre leitor cita, não responde à in-
a palavra “amor”, a outra, em que LETIM CARTORÁRIO se interessou dagação, mas sua manifestação re-
dispositivo está a palavra “alma”. pelo indagado, e respondendo men- vela que para respondê-la ele leu o
Pelo número de respostas corretas cionou, no meu entender, erronea- Código Civil vigente. Para encerrar,
que recebi, o ato foi compensador e mente o dispositivo. Dado o desin- dado ser sua a única manifestação
estimulante. teresse ao indagado, e em homena- dos meus amáveis leitores, com ela
Está em vigência um NOVO gem ao notário Adriano Erbolato conformei e alegrei-me com o que
CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO (Lei Melo, que expressamente manifes- li escrito em sua exposição, e sem
Federal 10.406, de 10 de Janeiro de tou-se sobre o assunto, felicito-o ser bíblico, registro: “SÓ TU MANI-
2002) que fixou sua vigência para pela manifestação (embora incorre- FESTASTE?”, inspirado na parábo-
um ano após a sua publicação (Art. ta) que comprova que leu o VIGEN- la da cura dos leprosos, que a Bí-
2.044), e esta ocorreu no dia 10 de TE CÓDIGO CIVIL, quase que de blia registra.

3º DECÊNDIO JANEIRO/2008 – Nº 3 DIÁRIO DAS LEIS IMOBILIÁRIO (DLI) 31


CART
BOLETIM CARTORÁRIO 3/6

ROUXINÓIS DA CLASSE
1. Segundo o meu desorganiza- redator do BOLETIM CARTORÁRIO “ROUXINÓIS DA CLASSE”, que
do fichário, relaciono pela última vez procurei estimular todos os inte- conscientemente, sabem e sentem
os ROUXINÓIS DA CLASSE, que no grantes da classe para, que os ser- o valor do estudo. O BOLETIM
ano 2007 valorizaram as páginas do viços que realizam, fossem realiza- CARTORÁRIO, pela idade, pois
BOLETIM CARTORÁRIO, cuja deno- dos corretamente, e para realizá-los completa 18 anos, já adquiriu sua
minação tem por fundamento um corretamente deveriam ESTUDAR. maioridade, e tem ele inúmeros rou-
conto de Hans Cristian Anderson. Há Venci. Criei o Boletim Cartorário e xinóis, que podem e devem mantê-
mais de dez anos existe o BOLETIM através dele revelei valores existen- lo vivo e atuante. Não me peçam
CARTORÁRIO. Meu primeiro artigo tes na classe, e os denominei ROU- para continuar após ter completado
sobre assunto cartorário foi divulga- XINÓIS DA CLASSE. Anualmente oitenta e nove anos de idade. Pou-
do no então Boletim do Direito Imobi- divulgo seus nomes no BOLETIM pem-me do desprazer de não
liário - 3º decêndio de fevereiro de CARTORÁRIO, homenageando-os atendê-los. Se, após o meu afasta-
1983, atualmente Diário das Leis Imo- pelo amor ao estudo que revelam mento, que ocorrerá em abril de
biliário, duas pesquisas feitas pela di- nas suas exposições. 2008, o BOLETIM CARTORÁRIO
reção do Diário das Leis, o BOLETIM 3. O BOLETIM CARTORÁRIO deixar de existir, traindo sua finalida-
CARTORÁRIO, recebeu ampla e es- hoje é uma realidade e já adquiriu de única – revelar valores existentes
timulante aprovação dos seus leito- sua emancipação. Entrego-o aos na classe – será minha maior frus-
res. Até hoje, o BOLETIM CARTORÁ- cartorários estudiosos e a eles tração, bem maior do que sofri quan-
RIO não faltou num só numero como transfiro a responsabilidade de do fui aposentado compulsoriamen-
complemento do Diário das Leis imo- mantê-lo. Dois motivos levam-me a te. Considerar-me-ei um fracassado.
biliário. tomar tal decisão . PRIMEIRO: Os Julgo-me com o direito de conscien-
2. Se oficialmente advertiram- serviços notariais são formalizados temente parar, quando em abril do
me de que deveria me afastar das hoje de forma diversa da que ado- corrente ano completarei 89 anos de
atividades de cartorário, pois havia tada no meu tempo; SEGUNDO: idade. Já não tenho, e isso realmen-
completado 70 anos de idade, rea- Sinto, efetivamente, incapacidade te sinto, a desenvoltura em apreciar
gi contra tal advertência. Hoje sou para adaptar-me a esse novo pro- certos temas cartorários. O número
um homem com 88 anos de idade, cesso eletrônico na formalização de de cartorários que remetem colabo-
bem próximo dos 89 anos. Reagi alguns atos notariais. Se me falta rações para o BOLETIM CARTO-
contra a minha aposentadoria com- essa comprovada capacidade, de- RÁRIO, assegura-me, e estou con-
pulsória de cartorário, a qual não cidi parar de redigir assuntos vencido, que com eficiência ele será
mais é imposta como uma guilhoti- cartorários. Não quero deixar de ser mantido vivo e atuante. Não permi-
na, no dia em que ele completa 70 redator do BOLETIM CARTORÁRIO tam, meus leitores cartorários,
anos de idade. Na minha vida, sem em conseqüência de um FATO JU- notadamente os ROUXINÓIS DA
querer ser , SÓ FUI CARTORÁRIO, RÍDICO que a todo ser humano atin- CLASSE, que ele desapareça. Rela-
e na classe permaneci durante 50 ge, mas sim por um ATO JURÍDI- ciono a seguir os cartorários que hon-
anos, Embora não visse muito atra- CO que tomo de forma consciente. raram as páginas do BOLETIM
tivo nas atividades cartorárias, pro- Aos oitenta e oito anos de idade, CARTORÁRIO, quando com brilhan-
curei seguir esta advertência: “se DECIDI: em abril do corrente ano tismo apreciaram assuntos cartorá-
você não faz o que gosta, procure de 2008 deixarei de ser o redator rios. Em 2007, ouvimos, divulgamos
gostar do que faz, para tornar seu do BOLETIM CARTORÁRIO, e tal e aplaudimos o canto dos seguintes
serviço menos sacrificante. Como obrigação eu a transfiro para os rouxinóis... São eles:

1. Adelor Cabreira ......................................................... 3 10. José Hildor Leal ....................................................... 6


2. Adriano Erbolato Melo ............................................... 3 11. Luiz Antonio Leite Neto ............................................ 1
3. Agenor Conceição de Oliveira ................................... 1 12. Luiz Gustavo Leão Ribeiro ...................................... 1
4. Ari Alvares Campos Pires ......................................... 1 13. Luiza Steiner Schroeder .......................................... 1
5. Carlos Antonio de Araujo ........................................... 2 14. Robson de Alvarenga .............................................. 1
6. Carlos Marcelo de Castro Ramos Mello .................... 1 15. Sérgio Jacomino ..................................................... 1
7. Eduardo Pacheco Ribeiro de Souza ......................... 1 16. Thiago Machado Burtet ........................................... 1
8. Felipe Leonardo Rodrigues ....................................... 1 17. Valestan Milhomem da Costa .................................. 1
9. Guilherme Fanti ......................................................... 3 18. Wilson Bueno Alves ................................................ 1

32 DIÁRIO DAS LEIS IMOBILIÁRIO (DLI) 3º DECÊNDIO JANEIRO/2008 – Nº 3


PERGUNT
PERGUNTAS & RESPOST
GUNTAS AS
RESPOSTAS
RESPONSABILIDADE DO LOCADOR PELO EXCESSIVO VALOR DA
CONTA DE ENERGIA POR DEFEITOS NA FIAÇÃO
Pergunta: Na locação de uma sala comercial, o locatário pagava mensalmente o valor de aproximadamente
R$ 200,00 de consumo de energia elétrica, até que apareceu uma conta de energia no valor de 1.600,00. Foi
constado que o problema estava na instalação elétrica do prédio, fio desencapado que descarregou energia
para o terra. Pergunto: De quem é a respondabilidade pelo pagamento do excesso na conta de energia eletrica?
(R.P. – Indaial, SC)
Resposta: Se foram constatados problemas na instalação elétrica (fios desencapados, anteriores à locação, sem
culpa do locatário), a responsabilidade será do locador que não entregou o imóvel em estado de servir ao uso a que se
destina, nos termos do art. 22, I, da Lei 8.245/91. Nos termos do inciso IV deste mesmo artigo o locador tem o dever de
responder pelos vícios ou defeitos anteriores à locação. Como o locatário levou imediatamente ao conhecimento do
locador o surgimento deste defeito, cuja reparação a este corresponde, ficará o locatário isento de quaisquer responsa-
bilidades para o que advier deste fato danoso, nos termos do art. 23, IV, da Lei do Inquilinato. Após a verificação do
problema, será necessário saber se o locatário poderia realizar a imediata reparação dos danos, para não perpetuar
contas mensais exorbitantes com gastos de energia elétrica provocados pelo descarregamento de energia para a terra.
Ou se resolve amigavelmente ou se discute em processo de conhecimento para apuração das responsabilidades de
ambas as partes.

COMPROMISSO E CONTRATO DE COMPRA E VENDA QUITADO PODE-


RÁ SER FEITO POR INSTRUMENTO PÚBLICO OU PARTICULAR
Pergunta: Contrato de compra e venda. Quando realizo um contrato de compra e venda, o mesmo deverá
ser mediante instrumento público, assim como o de promessa de compra e venda? (R.N.T – Ipatinga, MG)
Resposta: O contrato de compra e venda quitado e o compromisso de compra e venda poderão ser feitos por
instrumento particular, podendo ser registrados conforme art. 167, I, n.º 9, 18, 20 e 29; e averbado, II, nº 3, da Lei de
Registros Públicos, no Cartório de Registro de Imóveis, assim como a escritura outorgada no Cartório de Notas. Nos
termos do art. 1.417 do Código Civil, o compromisso de compra e venda poderá ser celebrado por instrumento público ou
particular e, se este compromisso for registrado no Cartório de Imóveis, adquire o promitente comprador direito real à
aquisição do imóvel, podendo exigir do promitente vendedor a outorga da Escritura no Cartório de Notas e, se houver
recusa, poderá ser requerida ao juiz a adjudicação do imóvel, nos termos do art. 1.418 do mesmo “codex”.

CONDÔMINO QUE FÊZ ACORDO PARA PAGAMENTO DE DÉBITO EM


ATRASO E A PARTICIPAÇÃO EM ASSEMBLÉIA
Pergunta: Condômino que faz acordo para pagamento parcelado de débitos em atraso, pode participar das
assembléias condominiais? (A.A.P. – São Paulo, SP)
Resposta: Nos termos do inciso III, do art. 1335 do novo Código Civil, o condômino poderá votar nas deliberações
da assembléia e dela participar desde que esteja quite. Se o condomínio concedeu um acordo ao inadimplente, pactu-
ando um parcelamento, evitando uma ação de cobrança com a penhora do apartamento, acabou por novar ou prorrogar
o vencimento da obrigação. Se o condômino estiver rigorosamente em dia com o pagamento das prestações acorda-
das, terá direito a voto naquele momento. Doutrina: Inovações nas Reuniões de Condomínio – Comentários e Doutrina
– Sylvio Grechi – DLI nº 16 - ano: 2003, Trecho: “(...) E o condômino que fez um acordo judicial ou extrajudicial com o
condomínio, mas vem pagando as parcelas mensais? Ele poderia votar? Uma questão polêmica. Na minha opinião
esse condômino, ao cumprir rigorosamente o estabelecido no acordo, tem direito a voto naquele momento, já que o
condomínio inovou sua dívida com o parcelamento, prorrogou o vencimento da obrigação e, portanto, assiste-lhe o
direito de participar e votar. Ele continua devedor, sim , mas está quite até aquele momento.”

3º DECÊNDIO JANEIRO/2008 – Nº 3 DIÁRIO DAS LEIS IMOBILIÁRIO (DLI) 33


PERGUNT
PERGUNTAS
GUNT RESPOSTAS
AS & RESPOSTAS

LOCAÇÃO – BENFEITORIAS REALIZADAS PELO LOCATÁRIO – INDE-


NIZAÇÃO
Pergunta: Se num contrato de locação é estipulado valor de indenização por benfeitorias realizadas no
imóvel locado, e esta indenização for de valor igual ou superior ao valor do imóvel, quero saber se é possível,
por parte do locador ou de outras pessoas interessadas na locação, por exemplo, um herdeiro que não o
inventariante, pedir judicialmente a redução do valor de indenização por benfeitorias, por se tratar de cláusula
excessiva, impondo a uma das partes contratantes onerosidade excessiva? (F.R.S. – Bauru, SP)

Resposta: Primeiramente, terão legitimidade para discussão judicial, as partes contratantes. Se o locador faleceu,
a locação passará para aos herdeiros, nos termos do art. 10 da Lei 8.245/91. Nos termos do art. 480 do Código Civil, “se
no contrato as obrigações couber apenas a uma das partes, poderá ela pleitear que a sua prestação seja reduzida, ou
alterado o modo de executá-la, a fim de evitar onerosidade excessiva” (veja os artigos 478 e 479). Sobre as benfeitorias,
veja se as mesmas se enquadram conforme a lei do inquilinato, ou seja: Nos termos do art. 35 da Lei do Inquilinato, as
benfeitorias úteis introduzidas pelo locatário, desde que autorizadas, serão indenizáveis, e permitem o exercício do
direito de retenção. As benfeitorias necessárias, mesmo que não autorizadas, também serão indenizadas. De qualquer
forma, poderá ser apurado o valor das benfeitorias por perícia em processo judicial. As benfeitorias voluptuárias não
serão indenizáveis, podendo ser retiradas pelo locatário, desde que não afete a estrutura do imóvel, nos termos do art.
36 da mesma lei em comento.

CONDOMÍNIO – FUNDO DE OBRAS – VALOR DA CONTRIBUIÇÃO PE-


LOS CONDÔMINOS
Pergunta: O Novo Codigo Civil, em seu artigo 1334, estabelece a forma de rateio para despesas de condo-
mínio e extraordinaria, pela fração ideal. Mas como ficaria então as aprovações em Assembléias das cotas
fundo de obras , para a formação de um fundo para despesas ainda a serem contratadas, e estabelecida cota
única para todas as unidades, independente de tamanho? Este fundo deveria também ser proporcional à fra-
ção ideal? (J.C.M. – Santos, SP)

Restosta: Nos termos do art. 1336, I do Código Civil, é dever do condômino contribuir para as despesas do
condomínio, na proporção de suas frações ideais, assim como delineia o art. 1334, I, do mesmo “codex”, salvo dispo-
sição em contrário na Convenção. Se desobedecidas as normas legais e as constantes da Convenção, instala-se
nulidade que enseja a qualquer condômino a propositura da ação anulatória.

CONDOMÍNIO EDILÍCIO – SUCESSIVAS REELEIÇÕES DO SÍNDICO


Pergunta: Em um condomínio, o síndico vem se reelegendo para o cargo nos últimos dez anos. A conven-
ção do condomínio diz: “O Edifício terá obrigatoriamente síndico, escolhido em Assembléia Geral, com manda-
to por 2 (dois) anos, podendo ser reeleito (...)”. Pode o mesmo ser reeleito sucessivamente? A expressão reeleito
não seria por mais um período, ou seja 2 anos? (O.M. – Brasília, DF)

Resposta: O Novo Código Civil não proíbe que o síndico possa ser reeleito mais de uma vez sucessivamente. Se
a Convenção não dispuser nada em contrário, o síndico poderá ser reeleito sucessivamente, quantas vezes a Assem-
bléia reelegê-lo. A expressão “podendo ser reeleito” não limita o número de reeleições.Veja o seguinte comentário
publicado no DLI e em nosso site www.diariodasleis.com.br: O Condomínio e o novo Código Civil - Elenco das altera-
ções havidas, trecho: “O Síndico será eleito pelo prazo máximo de dois anos, cujo mandato poderá renovar-se. O
síndico poderá não ser condômino (art. 1347). Pela lei condominial anterior só era permitida a reeleição por uma vez.
Agora, o mandato poderá ser renovado indefinidamente.” (DLI nº 17/2003, Dominique Pierre Faga e Heronides Dantas
de Figueiredo).

34 DIÁRIO DAS LEIS IMOBILIÁRIO (DLI) 3º DECÊNDIO JANEIRO/2008 – Nº 3


NOTÍCIAS
NOTÍCIAS
TERRAÇO DE APARTAMENTOS: FECHAMENTO COM VIDRO

Daphnis Citti de Lauro (*)

Os condomínios edilícios são constituídos de partes de propriedade exclusiva (os apartamentos) e partes que são
propriedade comum dos condôminos. A fachada do prédio (ou as fachadas, porque todos os lados são considerados
“fachada”), faz parte da propriedade comum dos condôminos.
Dentre os deveres do condômino, inclui-se a obrigação de não alterar a forma e a cor da fachada, das partes e
esquadrias externas. Existem alterações de terraços ou sacadas de apartamentos que são gritantes e não deixam
margem a discussões. Portanto, indiscutivelmente, se enquadram na proibição mencionada.
Há alterações, entretanto, que estão sujeitas à interpretação e, portanto, são encaradas subjetivamente. Para
alguns constituem alteração de fachada, para outros não. É o caso da instalação de aparelhos de ar condicionado e, o
que é objeto de nosso tema, o fechamento de terraços de apartamentos com vidro.
As decisões judiciais são conflitantes. Algumas entendem que fechamento com vidro não altera a fachada e ou-
tras, ao contrário, que efetivamente alteram. Como depende da interpretação de cada juiz ou tribunal, a conclusão de
vários autores é que cada caso é um caso e que não dá para generalizar.
Se a convenção condominial – que é a lei interna do condomínio – proibir expressamente, não há discussão. É
proibido e ponto final. Se a convenção silenciar, nossa opinião é de que a questão do fechamento de terraços de
apartamentos não se cinge unicamente à questão de se altera ou não a fachada. O problema é outro.
Suponhamos que um condômino, sem consultar o síndico, feche o seu terraço com vidro, sob o argumento de que
o fez por segurança ou porque venta muito no andar dele. E mais, que o fechamento (encarando com benevolência) não
desvaloriza o prédio nem o deixa com aparência feia. Portanto, a conclusão é que não houve alteração de fachada e,
portanto, a atitude dele é lícita. Não infringiu a lei (artigos 1331 a 1358 do novo Código Civil). Mais precisamente, o artigo
1336, inciso III.
Mas, aí foi criado um precedente. Portanto, todos os demais condôminos têm o direito de fechar os seus terraços
com vidro. Somente que cada um fechará com uma empresa diferente, com esquadrias diferentes e com cores diferen-
tes (ou com filmes mais claros ou mais escuros).
A conclusão é que o prédio ficará desfigurado e, além de estragar a aparência da fachada (ou fachadas), fatalmen-
te terá suas unidades desvalorizadas, com prejuízo para todos os condôminos, indistintamente.
Portanto, o problema não é se o fechamento com vidro altera a fachada ou não. É que, se todos fecharem suas
sacadas ou terraços com vidro, igualmente, a fachada não será alterada. Se cada um fechar de um jeito, ela será
alterada.
Nossa opinião, portanto, é que nenhum condômino pode fechar unilateralmente sua sacada. Isso é proibido. Ele
deve pedir ao síndico que convoque uma assembléia geral ou que aproveite a próxima assembléia e coloque o tema
para ser discutido na “Ordem do Dia”.
A assembléia decidirá, pela maioria dos condôminos, se pode ou não. Se decidir que sim, deve ser feito um estudo
e aprovada uma forma de fechamento. Assim, se algum condômino (ou todos) desejar fechar sua sacada ou terraço
com vidro, deverá seguir religiosamente as linhas aprovadas em assembléia geral.
É preciso lembrar que, num prédio de apartamentos, os condôminos vivem em comunidade, todos com direitos e
deveres em relação ao condomínio e em relação aos demais co-proprietários. Atitudes isoladas, além de egoístas e
antipáticas, devem ser evitadas.
(*) O autor é advogado, formado pela Faculdade de Direito da Universidade Mackenzie e Mestre em Direito Comer-
cial pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC e sócio da Advocacia Daphnis Citti de Lauro (e-mail:
dclauro@aasp.org.br).

3º DECÊNDIO JANEIRO/2008 – Nº 3 DIÁRIO DAS LEIS IMOBILIÁRIO (DLI) 35


ÍNDICES DE CORREÇÃO MONETÁRIA
TR POUPANÇA FGV - % IBGE - % FIPE - %
MESES
% % I G P- M IGP/D I IPC-D I IPA-D I INCC -DI INPC IPC-A IPC
Jan./2006 0,2326 0,7338 0,92 0,72 0,65 0,81 0,34 0,38 0,59 0,50
Fev. 0,0725 0,5729 0,01 (-) 0,06 0,01 (-) 0,12 0,19 0,23 0,41 (-) 0,03
Mar. 0,2073 0,7083 (-) 0,23 (-) 0,45 0,22 (-) 0,82 0,20 0,27 0,43 0,14
Abr. 0,0855 0,5859 (-) 0,42 0,02 0,34 (-) 0,15 0,36 0,12 0,21 0,01
Mai. 0,1888 0,6897 0,38 0,38 (-) 0,19 0,46 1,32 0,13 0,10 (-) 0,22
Jun. 0,1937 0,6947 0,75 0,67 (-) 0,40 1,06 0,90 (-) 0,07 (-) 0,21 (-) 0,31
Jul. 0,1751 0,6760 0,18 0,17 0,06 0,17 0,47 0,11 0,19 0,21
Ago. 0,2436 0,7448 0,37 0,41 0,16 0,53 0,24 (-) 0,02 0,05 0,12
Set. 0,1521 0,6529 0,29 0,24 0,19 0,28 0,11 0,16 0,21 0,25
Out. 0,1875 0,6884 0,47 0,81 0,14 1,16 0,21 0,43 0,33 0,39
Nov. 0,1282 0,6288 0,75 0,57 0,24 0,75 0,23 0,42 0,31 0,42
Dez. 0,1522 0,6530 0,32 0,26 0,63 0,11 0,36 0,62 0,48 1,04
Ano 2006 2,12% 8,33% 3,83% 3,79% 2,05% 4,29% 5,04% 2,81% 3,14% 2,55%
Jan./2007 0,2189 0,7200 0,50 0,43 0,69 0,32 0,45 0,49 0,44 0,66
Fev. 0,0721 0,5725 0,27 0,23 0,34 0,19 0,21 0,42 0,44 0,33
Mar. 0,1876 0,6885 0,34 0,22 0,48 0,11 0,27 0,44 0,37 0,11
Abr. 0,1272 0,6278 0,04 0,14 0,31 0,02 0,45 0,26 0,25 0,33
Mai. 0,1689 0,6697 0,04 0,16 0,25 (-) 0,04 1,15 0,26 0,28 0,36
Jun. 0,0954 0,5959 0,26 0,26 0,42 0,09 0,92 0,31 0,28 0,55
Jul. 0,1469 0,6476 0,28 0,37 0,28 0,42 0,31 0,32 0,24 0,27
Ago. 0,1466 0,6473 0,98 1,39 0,42 1,96 0,26 0,59 0,47 0,07
Set. 0,0352 0,5354 1,29 1,17 0,23 1,64 0,51 0,25 0,18 0,24
Out. 0,1142 0,6148 1,05 0,75 0,13 1,02 0,51 0,30 0,30 0,08
Nov. 0,0590 0,5593 0,69 1,05 0,27 1,45 0,36 0,43 0,38 0,47
Dez. 0,0640 0,5643 1,76 1,47 0,70 1,90 0,59 0,97 0,74 0,82
Ano 2007
Jan./2008 0,1010 0,6015

SINDUSC ON/CUB - % (**) DÓLAR - R$


MESES IMPOSTO DE R ENDA RETIDO NA FONTE
MG RJ RS SC SP COMERCIAL PARALELO
Jan./2006 0,83 0,31 0,41 0,37 0,16 2,216 2,450 Base de A l íq u o ta ( % ) Parcela a
Fev. 0,19 0,03 (-) 0,10 (-) 0,12 0,32 2,140 2,277 Cálculo (R$) Deduzir (R$)
Mar. 0,06 4,30 (-) 0,02 (-) 0,39 (-) 0,18 2,165 2,280 Até 1.372,81 Isento -
Abr. 0,49 (-) 0,48 0,02 0,26 0,05 2,089 2,300 De 1.372,82 A
Mai. 0,55 0,07 0,81 2,91 2,77 2,324 2,400 2.743,25 15,0 205,92
Jun. 0,24 0,14 1,70 0,70 0,25 2,165 2,393 Acima 2.743,25 27,5 548,82
Jul. 0,19 0,26 0,39 (-) 0,004 0,17 2,176 2,400 DEDUÇÕES:
Ago. 0,16 0,35 (-) 0,09 0,23 0,05 2,133 2,350 a) R$ 137 ,99 por de pende nte; b) Pensãoalimen-
Set. 0,16 0,02 0,09 (-) 0,12 0,07 2,174 2,350 tar integral; c) R$ 1.372,81 para aposentados,
Out. 0,12 0,74 (-) 0,04 (-) 0,04 0,00 2,143 2,370 pensionistas e transferidos para a reserva re-
Nov. 0,07 0,16 (-) 0,19 (-) 0,86 0,06 2,166 2,400 munerada que tenham 65 anos de idade ou
Dez. 2,96 0,03 0,36 0,20 0,51 2,135 2,370 mais; d) contrib uição à Prev idênc ia Soc ial.
Ano 2006 6,15% 6,01% 3,38% 3,13% 4,28% (-) 8,76% (-) 6,32%
Jan./2007 0,69 0,02 0,36 0,067 0,21 2,124 2,350 UPC (R$) - Jan. / Mar. - 2008 = 21,31
Fev. 0,19 0,10 0,08 0,32 0,16 2,121 2,300 Salário-Mínimo - Jan. - 2008 = 380,00
Mar. 0,22 2,44 0,28 0,17 0,15 2,050 2,250 UFESP(SP) (R$) - 2007 = 14,23 - 2008 = 14,88
Abr. 0,31 0,13 0,82 0,56 0,71 2,033 2,200 UFM/SP (R$) - 2007 = 83,48 - 2008 = 86,56 (*)
Mai. 0,36 0,02 0,22 3,17 1,21 1,9289 2,100
Jun. 0,23 0,45 2,06 0,16 1,43 1,926 2,100 OBSERVAÇÕES:
Jul. 0,35 0,05 0,22 0,75 0,58 1,877 2,090 TR e P oupan ça - Perc entual co rrespond ente
Ago. 0,24 0,29 0,08 (-) 0,02 0,50 1,962 2,150 ao primeiro dia útil do mês, a ser creditado
Set. 0,40 0,23 0,27 0,26 0,26 1,838 2,100 t r in t a d ia s a p ó s; ( *) t ri b u to s l a nç a d o s em U F M ,
Out. 0,68 0,63 0,45 0,72 0,78 1,744 2,050 exceto IPTU. Multiplique a quantid ade de UFM
Nov. 0,52 0,12 0,23 0,31 0,68 1,783 2,000 (extinta em 01.01.1996) correspondente por
Dez. 4,19 0,10 0,08 0,55 0,59 1,771 1,990 R$ 76,58; Dólar - Cotações do último dia útil do
Ano 2007 mês. (**) Até 02/2007, conf. NBR 12.721/1999;
Jan./2008 a partir de março/2007, conf. NBR 12.721/2006.

COEFICIENTES ACUMULADOS ATÉ O MÊS ANTERIOR


REAJUSTE EM O UTUBRO /2007 REAJUSTE EM N OVEMB RO/2007
Indexador B i m. T r im . Q u ad r im . Sem. Anual B i m. T r im . Q u ad r im . Sem. Anual
I G P -M / F G V 1,0228 1,0257 1,0283 1,0292 1,0567 1,0235 1,0335 1,0364 1,0396 1,0629
I G P -D I /F G V 1,0258 1,0296 1,0323 1,0353 1,0616 1,0192 1,0334 1,0373 1,0416 1,0610
I P C /F G V 1,0065 1,0093 1,0135 1,0192 1,0450 1,0036 1,0078 1,0106 1,0174 1,0450
I N P C /I B G E 1,0084 1,0116 1,0148 1,0201 1,0492 1,0055 1,0114 1,0147 1,0205 1,0478
I P C -A / IB G E 1,0065 1,0089 1,0117 1,0171 1,0415 1,0048 1,0095 1,0120 1,0176 1,0412
I P C / FI P E 1,0030 1,0058 1,0113 1,0183 1,0487 1,0032 1,0039 1,0066 1,0158 1,0456

REAJUSTE EM D EZEMBR O/2007 REAJUSTE EM JANEIRO /2008


Indexador B i m. T r im . Q u ad r im . Sem. Anual B i m. T r im . Q u ad r im . Sem. Anual
I G P -M / F G V 1,0175 1,0306 1,0407 1,0463 1,0623 1,0247 1,0354 1,0487 1,0620 1,0775
I G P -D I /F G V 1,0180 1,0299 1,0443 1,0509 1,0660 1,0254 1,0330 1,0451 1,0636 1,0789
I P C -D I /F G V 1,0040 1,0062 1,0105 1,0175 1,0453 1,0097 1,0110 1,0133 1,0204 1,0460
I N P C /I B G E 1,0073 1,0098 1,0158 1,0222 1,0479 1,0140 1,0171 1,0196 1,0289 1,0516
I P C -A / IB G E 1,0068 1,0086 1,0134 1,0186 1,0419 1,0112 1,0143 1,0161 1,0233 1,0446
I P C / FI P E 1,0055 1,0079 1,0086 1,0169 1,0461 1,0130 1,0138 1,0162 1,0197 1,0438

OBS .: Para reajuste anual de aluguel: multiplique o valor pelo indexador contratado.
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