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Bruno Schiappa
CET, MJB, FG, Tatiana Dinis, Gustavo Vicente, Rui Pina Coelho
Comunicadores: Alberto Ferreira da Rocha Junior, Ana Campos, Cátia Faísco, Jorge
Eduardo Magalhães de Mendonça, Matheus Cunha Rodrigues, Sérgio das Neves
2 – A investigação: São vários os estudos que refletem sobre a relação intrínseca entre
teatro e sociedade. Erving Goffman, Erika-Ficher Lischt, Marvin Carlson, Michel
Foucault, Freud, Jung, Nitzsche, Maria João Brilhante, Vera San Payo de Lemos, e eu
próprio, são apenas alguns dos que posso nomear mas a lista é mais vasta.
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Sofia. “Na dor, o mundo torna-se pobre e vazio; na melancolia é o próprio ego [que se
torna isso].” (Freud: 1917)
Conta a lenda que dormia Uma Princesa encantada A quem só despertaria Um Infante,
que viria De além do muro da estrada. Ele tinha que, tentado, Vencer o mal e o bem,
Antes que, já libertado, Deixasse o caminho errado Por o que à Princesa vem. A
Princesa adormecida, Se espera, dormindo espera. Sonha em morte a sua vida, E orna-
lhe a fronte esquecida, Verde, uma grinalda de hera. Longe o Infante, esforçado, Sem
saber que intuito tem, Rompe o caminho fadado. Ele dela é ignorado e Ela para ele é
ninguém. Mas cada um cumpre o Destino – Ela dormindo encantada, Ele buscando-a
sem tino Pelo processo divino Que faz existir a estrada. E, se bem que seja obscuro
Tudo pela estrada fora, E falso, ele vem seguro, E, vencendo estrada e muro, Chega
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onde em sono ela mora. E, inda tonto do que houvera, À cabeça, em maresia, Ergue a
mão, e encontra hera, E vê que ele mesmo era A Princesa que dormia.
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humano e qualquer corpo em qualquer espaço tem sempre uma carga mais ou menos
erótica. Esse mesmo erotismo, na Arte, é a sublimação e manifestação filtrada da
sensualidade e sexualidade.
Sobre o erotismo, diz Ana Carvalheira (2018) que “os investigadores da sexualidade
não estudam o erotismo, ou chamam-lhe outros nomes […]. São os poetas, os escritores,
os filósofos e os artistas que escrevem sobre este conceito fundamental da natureza
humana e central à sexualidade.” Neste ponto convém definir sexualidade como aquilo
que participa do âmbito do sexo mas que não está restringido ao espaço e ao tempo do
sexo, estando mesmo, muitas vezes, fora desse espaço e tempo para estar no espaço e
tempo da fantasia e do erotismo. Todas as fantasias partem de imagens específicas,
materializadas na ideia ou no sonho, como defende Freud. Nesse sentido, o que estimula
a fantasia e leva à concretização, ou não, da mesma, é o erotismo, que por sua vez se
alimenta da fantasia posto que também se alimenta de sugestões oferecidas pelas
imagens. Vários espectadores reúnem erotismo e pornografia no mesmo conjunto. “A
pornografia é o erotismo dos outros”, foi a frase que André Breton tornou famosa,
apesar de originalmente ter sido formulada por Alain Robbe-Grillet. Mas será a
pornografia, arte? Se a arte é tornar visível o invisível como definiu Edward Craig,
então temos todos que confirmar a pornografia como criação artística. Mas poderá ser
algo para além da arte porque estimula mais e melhor cada indivíduo, e, de modo
diferente, cada um? A este respeito faço referência ao filme Ikiru, de Akira Kurozawa,
no qual surge uma cena em que um casal está a assistir a um espetáculo de sexo ao vivo
e diz “isto não é arte, isto é mais direto e maior do que a arte”. Fernando Guerreiro, meu
supervisor científico nesta investigação, acrescenta que “É como a pornografia, não é
um desvio da arte, a dita arte é que se está sempre a desviar dela, de onde se calhar
vem.” Podemos ainda definir a pornografia como a “escrita sobre um objeto com o
próprio objeto” (Fernando Guerreiro – 2017) e, ainda, para ficar mais clara a referência
ao filme de Kurosawa, que a representação é, em si, uma censura porque não apresenta
o objeto mas algo que o substitui. Quando vemos um ato sexual em filmes, como por
exemplo, de Pasolini, estamos perante algo que parece explicito mas que é uma
representação de uma ideia. No cinema pornográfico, claro que muitas situações
também são a representação de uma ideia, mas uma representação muito maior do que a
apresentação. Daí os objetos pornográficos (banda desenhada, escritos, e.g., de Henry
Miller ou Boris Vian, filmes de pornografia heterossexual, ou bissexual, ou cissexual,
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ou transexual, ou ainda pansexual), estimularem eroticamente quem os vê, de forma
variável para cada um, porque é essa a natureza da fantasia, ser o espaço de liberdade
individual que é único para cada um dos 7 mil milhões de seres humanos que existem
no mundo. A pornografia, enquanto espaço de fantasia, está mais perto das sexualidades
porque, exatamente, estimula sensualmente essas sexualidades, que defino como o
espaço de fantasia que nos faz ter pulsão ou impulso e que, maior parte das vezes, não é
concretizável para além do espaço dessa mesma fantasia. Do fantasma. Do espectro. Do
spectare, Do ver. Da Arte. E aqui regressamos ao erotismo enquanto estímulo, pulsão,
impulso vitais. Somos resultado de um ato sexual. Logo, a própria “criação” de vida, é
erótica. Enquanto estamos em gestação, estamos ligados a outro ser humano – a mãe.
Somos um ser continuum. Quando nascemos somos separados desse outro ser humano.
Entramos no estado de descontinuidade e é aí que, através do erotismo, vagueamos à
procura de um regresso ao estado continuum. O erotismo está diretamente relacionado
com o sentido vital de Rudolph Steiner. Somos movidos pelo erotismo patente ou
sublimado. “Um homem que ignora o erotismo é tão estranho quanto um homem sem
experiência interior” (BATAILLE: 1957). Defende ainda que o erotismo resulta de uma
associação do prazer sexual com o interdito. Octavio Paz, escritor e poeta mexicano e
prémio Nobel da Literatura, publicou em 1993 um ensaio com o título La llama doble
(A chama dupla) onde refere: “O erotismo é a poética do corpo, o testemunho dos
sentidos. Como um poema, não é linear, serpenteia sobre si mesmo, mostra-nos o que
não vemos com os nossos olhos, mas com os olhos da nossa alma. Erotismo é aquilo
que a imaginação acrescenta à natureza.”
Para Esther Perel (2006: Matting in captivity. Reconciling the erotic and the domestic)
há uma inteligência erótica cujos ingredientes são o mistério, a curiosidade, a
brincadeira e a novidade. Mas o ingrediente central é a imaginação. Ana Carvalheira
(2018) afirma que o erotismo é individual, independentemente do género. O erotismo
encerra três componentes, como Ana Carvalheira arrisca afirmar: 1. A imaginação. As
experiências imaginárias que criamos alimentam o erotismo sendo a imaginação o palco
onde ensaiamos e fantasiamos situações que são o combustível para o desejo. A
imagética erótica tem o efeito de excitação e de nos levar à atividade sexual. Nesse
sentido regresso ao conceito de sexualidade para afirmar que é como as impressões
digitais: cada um tem a sua. O que é o mesmo que dizer que, ao ser individual, também
o erotismo difere de pessoa para pessoa, por mais semelhante que pareça.
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2. O sensorial. O sensorial inclui os cinco sentidos (ou os 12 de Rudolph Steiner)
através dos quais percecionamos o mundo, atribuindo-lhe depois significados com o
nosso aparelho cognitivo, a nossa mente.
“Zonas erógenas? Dois metros quadrados de pele mais ou menos. Esse grande órgão
extraordinário que aquece e arrefece, acolhe e se arrepia, vibrante, sensível ao toque de
outra pele. Mas há muito mais. Determinados cheiros, sons, ou imagens, podem
constituir estímulos sensoriais com enorme potencial erótico. Sobretudo o olfato, o
sentido mais primitivo e fundamental na experiência sexual.” (CARVALHEIRA: 2018)
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7 – O corpo em cena: Todo o corpo observado é sujeito de desejo. Medimos as
proporções, a constituição, as cores, os brilhos, os sinais individuais. Comparamo-nos
ou queremos partilhar uma experiência com ele. Mesmo quando nos repulsa, se
continuamos a observá-lo, procuramos ou somos atraídos por eventuais elementos
apelativos. Nas Artes, essa condição do corpo enquanto sujeito de desejo, é ampliada. A
própria natureza da arte, autoriza uma observação persistente, com uma duração
estendida. Se, sobre estas possibilidades, sobressai ainda a do corpo em comportamento
– que é o caso dos espetáculos – a dinâmica desse desejo é estabelecida entre o
performer e o espectador de acordo com a energia gerada entre ambos.
O prólogo de Agnès Vannouvong, dirigido a Jean-Luc Verna, em À bras le corp (2004)
e que resulta num elogio poético à metamorfose em palco.
“O teu corpo mutante mexe-se. Ele encarna-se, sob o meu olhar de espectadora. Tu
avanças hirto, orgulhoso, um pouco de vermelho para os lábios na tua boca pálida, a tua
pele suave, tatuada, um olho violeta e/ou outro vermelho. Cortaste os pelos do teu sexo,
deslizados nas extremidades, num quadrado minúsculo, num saco de plástico, disposto o
escuro velo como uma linha, um trilho, um signo. Pareces-te com uma criatura híbrida,
uma virgem de género volátil. Faz-se tarde. No vídeo, as imagens desfilam. Partem,
derrapam. Tu exibes as tuas identidades voláteis, flutuantes. […] Embarcas-me numa
experiência farmacopornográfica. Prestas homenagem às estrelas, travestis, prostitutos e
prostitutas, brinquedos para a atividade sexual, drag queen camp, drag queen kitch.
Surgem as imagens de um vídeo. Queen, Freddy Mercury de peruca castanha, brincos
de plástico, top cor-de-rosa, minissaia de imitação de pele, tios ou loucas retorcidas.
[…] Passa uma rapariga fálica durante o teu concerto. Uma imagem de um rapaz com
saltos altos agulha. Um corpo vital […] fétiche dos fétiches nos sonhos […] entre
motivos pontilhados.”
Ainda sobre o corpo, cito Noémie Étienne na sua introdução ao texto À bras le corp
(2004): “O corpo […] é perpetuamente transformado, plástico e orgânico. É um local de
passagem, umas vezes atravessado e outras vezes atravessada, um espaço de negociação
que inventa as suas próprias ferramentas físicas e emocionais para operar e ser
operado.”
Imagens.