SCHOPENHAUER E FEUERBACH
ABSTRACT: Arthur Schopenhauer (1788-1860) and Ludwig Feuerbach (1804-1872) were two
thinkers who developed an understanding of the world fully atheistic and therefore reflected on
what they thought as religion. The objective of this work is to understand how these two
philosophers understood the religion and, therefore, their critique of religion. The methodology
used in the development of this work was deductive with bibliographic analysis as
methodological technique using the works of Schopenhauer: The World as Will and Representation
and Parerga and Paralipomena, and Feuerbach’s: The Essence of Christianity and Lectures on the essence of
religion, as well as some of his commentators. For Schopenhauer, religion is the metaphysics for
the people, since the vast majority do not have access to the most rigorous philosophical
knowledge. For him, there are basically two divisions of religions: the pessimistic and optimistic.
The pessimists are Eastern religions and Christianity, while among the optimists is Judaism that
Schopenhauer develops deep critics. The Christian God is a miscegenation stemmed from other
gods of Persia and Brahmanism. Already the criticism of religion made by Feuerbach, stems from
several factors, but the most important is the fact that the religion be alienating causing the
human factor to be forgotten, making the man a being individualistic and selfish. With this,
Feuerbach proposes a new religion, which is guided exclusively in men and not in a metaphysical
being.
KEYWORDS: Will. Representation. Criticism. Anthropology.
* Pós-graduado Lato Sensu em Filosofia Contemporânea pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras
de Cajazeiras – FAFIC. Email: jheovannedv@hotmail.com
** Graduando em Filosofia pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Cajazeiras – FAFIC.
Email: luede_pb@hotmail.com
ISSN: 2447-8806
Duas visões ateístas sobre a religião: Schopenhauer e Feuerbach
INTRODUÇÃO
O século XIX foi o palco de grandes pensadores que por sua vez produziram
influências nos séculos subseguistes. Arthur Schopenhauer (1788-1860) e Ludwig Feuerbach
(1804-1872) são uns bons exemplos de intelectuais que estavam à frente de seu tempo ao
produzirem profundos conhecimentos filosóficos. A religião também foi uma de suas
preocupações, e sua possível explicação necessitou de um labor reflexivo excessivo destes
dois filósofos.
O que é a religião? Como fazer uma reflexão puramente filosófica da religião? Foram
questões que já existiram na época de Schopenhauer e Feuerbach, mas em longe ainda está
para se chegar a uma resposta consensual. Desta forma, o objetivo deste trabalho é o de
compreender como estes dois filósofos entendiam a religião e, por conseguinte, sua crítica da
religião, haja vista, que os dois eram ateus.
Na organização filosófica de Schopenhauer a Vontade está no centro das ações do
universo, desde os seres inanimados, para os animais, até o homem. A agressividade é uma
atitude inerente ao ser humano governado por este ímpeto irracional. Desta forma, seu
“sistema” era eminentemente ateu por não conceber um ser bom e organizador, sendo mais
coerente admitir um demônio que manipula a tudo, do que mesmo a Deus.
A metafísica da Vontade trata-se de uma cosmologia e não uma teologia. A religião é
essa cosmogonia para o povo, já que a grande maioria não tem acesso ao conhecimento
filosófico mais rigoroso. Para Schopenhauer há basicamente duas divisões das religiões: as
pessimistas e as otimistas. As pessimistas são as religiões orientais e o cristianismo, já dentre
as otimistas está o judaísmo em que Schopenhauer desenvolve profundas críticas.
Feuerbach, no decorrer das suas obras, estabelece que o problema religioso é a
principal preocupação de seus textos. A religião, para ele, tem um papel importante, pois é um
fator significativo da existência humana, entretanto, a religião nos moldes atuais, não tem
serventia para o gênero humano, pelo fato desta acabar alienando a própria essência do
homem.
A crítica a religião, feita pelo pensador, decorre de vários fatores, porém, o de maior
importância é o fato de a religião ser alienante fazendo com que o fator de humanidade seja
esquecido, tornando o homem um ser individualista e egoísta. Com isto, Feuerbach propõe
uma nova religião, sendo esta pautada exclusivamente nos homens e não em um ser
metafísico.
A metodologia utilizada no desenvolvimento deste trabalho foi a dedutiva com técnica
metodológica a análise bibliográfica utilizando as obras de Schopenhauer: O mundo como
vontade e como representação e Parerga e paralipomena, e a de Feuerbach: A essência do cristianismo e
Preleções sobre a essência da religião, bem como alguns de seus comentadores.
Desta forma, este trabalho está dividido em três capítulos. O primeiro, Metafísica e
ateísmo, onde há a fundamentação da metafísica da Vontade e consequentemente de toda sua
cosmogonia ateísta. O segundo, Religião e critica da religião, onde de fato há a compreensão de
Schopenhauer em relação a religião e sua critica decorrente de ser ela uma metafísica
superficial que satisfaz a necessidade popular. E por fim, Feuerbach e a religião, em que com a
transformação da teologia como mera antropologia, a religião se tona algo alienante para o
povo e acaba obscurecendo a verdade.
2. METAFÍSICA E ATEÍSMO
desta realidade metafísica que age nele inconscientemente. A vida é uma alternância de
sofrimento e dor.
Sua vida, portanto, oscila como um pêndulo, para aqui e para acolá, entre a
dor e o tédio, os quais em realidade são seus componentes básicos. Isso
também foi expresso de maneira bastante singular quando se disse que, após
o homem ter posto todo sofrimento no inferno, nada restou para o céu senão
o tédio (SCHOPENHAUER, MVR I, § 57, p. 402).
Schopenhauer nega a existência de um deus, mas será que não poderíamos considerar
ou nomear a Vontade com características ou semelhanças de um deus, achando por assim
dizer, vestígios de uma teologia schopenhaueriana? A resposta não é tão simples, haja vista
que em simpósios sempre houve alguém que tentasse fazer tal relação, como se reproduzisse a
artimanha de Tomás de Aquino de teologizar o motor imóvel de Aristóteles, só que desta vez
com a Vontade de Schopenhauer. Porém, tal atitude é uma desvirtuação do conceito original
do autor, sendo uma nova interpretação que em sua rigorosidade é errônea.
Não se pode afirmar uma teologia e sim uma cosmologia schopenhaueriana, pois o
mesmo não desenvolveu uma teoria mística, apesar de ver semelhanças da religião em seu
pensamento, sua organização filosófica estava desprovida de um ser divino. Diferente da ética
religiosa que prescreve regras e condutas morais, Schopenhauer desenvolveu uma ética
descritiva que não se preocupava se alguém a seguia, haja vista, que para alguns era quase
impossível a libertação da Vontade.1 Assim sendo, as semelhanças que tem as religiões (cristã,
budista, hinduísta) com o pensamento de Schopenhauer foram frutos de um desenvolvimento
do senso comum que com a experiência com o mundo desenvolveram formas ascéticas que
libertavam momentaneamente do sofrimento. Desta forma, Lefranc nega aqueles que
defendem uma teologia em Schopenhauer:
Mas o filósofo como tal não se permite as facilidades das hipóteses ou das
intuições transcendentes: sua teoria deve sempre ser cosmologia e não se
tornar teologia, mesmo quando, em perspectiva ética, ela se empenha em
esclarecer a libertação do mundo. Não se deve esquecer que a tarefa própria
da filosofia é descrever e não prescrever. Contrariamente ao que muitos
1
A ética de Schopenhauer era a da compaixão, ou seja, o sentimento de colocar-se no lugar do outro. A
compaixão fazia com que o indivíduo negasse a Vontade e consequentemente um alívio momentâneo do
sofrimento. Nem todos tinham a capacidade de contemplar o sublime, praticar o ascetismo ou sentir compaixão
(formas de “libertação”), sendo essa uma prática desenvolvida e não ensinada por pessoas que estão à frente da
outras: o gênio. “O gênio é um homem em cuja cabeça o mundo como representação atingiu um grau a mais de
claridade e se apresenta de maneira mais nítida” (SCHOPENHAUER, P/P II, § 54, p. 117).
Por mais que se possa haver comparações entre Deus e a Vontade, não se pode afirmar
que são os mesmos. Pois de maneira geral Deus é um ser ordenador enquanto que a Vontade
se fundamenta em um caos. Definir Vontade é algo complexo, mas uma coisa que não se pode
afirmar é que ela seja uma consciência ou que tenha um propósito racional.
Não é fácil definir a vontade. Para começar, é menos difícil dizer o que ela
não é. Não é nenhuma espécie de mente nem consciência, do mesmo modo
como não dirigi as coisas para nenhum propósito racional (do contrário,
“vontade” seria outro nome para designar Deus). O mundo de Schopenhauer
é desprovido de propósitos. A sua noção de vontade é talvez a mais bem
captada pela noção de empenhar-se por alguma coisa, desde que nos
recordemos de que a vontade é fundamentalmente “cega”, estando presente
em forças da natureza integralmente desprovidas de consciência
(JANAWAY, 2003, p. 18, grifo do autor).
A resposta para esta questão do sofrimento dado pelos cristãos seria que o ser humano
é constituído de livre-arbítrio, portanto, de uma liberdade dada pelo próprio Deus. Porém,
Schopenhauer nega a existência do livre-arbítrio, dizendo que a liberdade no homem nada
mais é do que ilusão, pois na verdade somos escravos da Vontade. O indivíduo sempre está
sendo manipulado como uma marionete a realizar as incongruências deste ímpeto. Ao afirmar
a existência da Vontade, ao mesmo tempo Schopenhauer está negando um deus, pois é “[...]
oportuno dizer desde logo que seu sistema filosófico é integralmente ateu” (JANAWAY,
2003, p. 17, grifo nosso).
A afirmação de que a “organização filosófica” de Schopenhauer é integralmente ateia é
um dos pontos de semelhanças ao budismo, pois apesar de ser uma religião, ela não contém
nenhum deus para ser adorado. O budismo é uma religião ateia que tem como Buda um
exemplo a ser seguido para se conseguir chegar ao estágio do Nirvana, ou seja, a iluminação
que cessa as várias encarnações que o indivíduo deve passar para recompensar os erros da
outra reencarnação.
2
P/P II: Parerga e paralipomena (Tomo II). [Tradução F. C. Ramos como Verdade e Método e também Sobre a
ética (duas partes do escrito completo)].
significa sedutor do povo e Filaleto amigo da verdade. Vale ressaltar, que Schopenhauer é
tendencioso a fazer uma crítica à religião, mas ele admite também a sua importância. Desta
forma, tanto Demófilo como Filaleto têm razão em seus argumentos.
Nas palavras de Demófilo a religião surge para suprir a necessidade metafísica do
povo, que não conhece a filosofia, ou seja, um conhecimento mais sistemático. As pessoas
necessitam de uma explicação da vida intimamente ligadas às três perguntas que sempre as
instigaram desde os primórdios: “Quem sou eu?”, “De onde vim?” e “Para onde vou?”. A religião
é a única forma em que o povo tem acesso a questões eminentemente mais profundas, em que
a maioria não se preocupa, pois estão sobrecarregadas pelo labor do trabalho diário. Por esta
causa, Demófilo afirma, citando Platão, que o povo se torna incapaz de filosofar.
Os filósofos são aqueles que vieram para despertar o povo para um conhecimento
pautado de uma verdadeira especulação rigorosa da realidade. Mas o cuidado também recai
sobre a filosofia, quando esta, por um acaso substitui a religião, fica apenas dependente das
palavras de autoridades, desta forma, “mesmo quando uma filosofia efetivamente verdadeira
toma lugar da religião, ela seria adotada por nove entre cada dez homens apenas pela
autoridade, seria então novamente questão de fé” (SCHOPENHAUER, P/P II §174, p. 202).
Por o povo necessitar de uma metafísica e por ser ela quase inacessível, a religião se
torna primordial, haja vista, que no seu campo filosófico tem algumas “verdades” ou até
muitos erros, mas já no campo moral se encontra nela apenas a verdade. As religiões sempre
pregam o bom convívio e em grande maioria as regras morais são iguais entre elas. Este fato se
torna uma preciosidade para as religiões, pois os instintos sempre predominam o ser humano,
e suas regras morais apaziguam esta vontade de destruir o outro.
3
Schopenhauer se refere a passagem que diz “o Senhor reina; as nações tremam diante daquele que está sentado
no trono, acima dos querubins; a terra treme” (BÍBLIA SAGRADA, Sl 99:1), segundo esta passagem bíblica
Deus está sentado em seu trono acima dos querubins que por sua vez estes, em várias passagem bíblicas, têm
formatos algumas vezes horrendos e diferentes das representações atuais.
Assim como o cristianismo, o islamismo tem suas raízes no judaísmo que adere ao
deus Idra-Ormuzd-Jehova nomeando-lhe como Alá que já existia anteriormente na Arábia.
Nos suplementos de O mundo como Vontade e como representação, Schopenhauer
exemplifica melhor essa passagem entre a concepção do deus Ormuzd para Jeová, que passa
também pelo mito de Indra do bramanismo hindu, para por fim, o Deus Cristão.
4. FEUERBACH E A RELIGIÃO
O problema religioso sempre esteve em discussão por toda a história da filosofia, mas
peculiarmente, surge na figura de Ludwig Feuerbach que brilhantemente analisa a religião e
tece uma brilhante crítica contra ela, especialmente a cristã. Feuerbach nos lega a maioria de
suas obras sobre este problema e qual a solução para tal. O problema sobre a religião adquire
em Feuerbach a sua problemática mais substancial, onde o mesmo é considerado por muitos o
teórico mais exponencial sobre a crítica da religião, superando nomes como: Marx, Bloch,
Sartre entre outros.
A religião aparece em Feuerbach, com papel importantíssimo no desenvolvimento do
homem. Ela não deve ser descartada, ela deve ser reformulada, pois, a religião cristã e suas
derivações acabam alienando o homem e criando um ser baseado em ilusões e desligado
totalmente do verdadeiro fundamento da sua vida: a materialidade.
O papel dela é tão importante, que o nosso pensador, a coloca como fator
determinante da nossa consciência, onde tal é objeto de estudo da religião.
A essência do homem está intimamente ligada a sua consciência, como tal, essa
consciência acaba por meio de um processo de hipóstase, fabricando Deus, baseado em nossas
perfeições, volições, afecções, dramas, sentimentos e vontades. Dentro deste processo, o
individuo também cria a religião utilizando desta para explicar o que seria Deus, subvertendo
isso em uma antropologia, onde a essência da religião e da teologia seria transfigurada em uma
antropologia.
E a conceituação da religião, como pode ser definida? Estando intimamente ligada ao
homem, enquanto ser com consciência de si e dos outros, determina-se: “A religião é uma
solene das preciosidades ocultas do homem, a confissão dos seus mais íntimos pensamentos, a
manifestação pública dos seus segredos de amor” (FEUERBACH, 2007, p. 44). Novamente, é
observado o caráter de antropologia também na religião, onde a mesma seria um mero
discurso sobre nossas essências. Falar da religião como da teologia, é falar de antropologia, é
falar do homem. Conforme: “pondo em dúvida sua divindade e transcendência; afirmando que
tanto Deus quanto a religião são criações humanas e, por esse motivo, suas características e
sua essência são reflexo das características e essência humanas” (SILVA; LIRA. 2015. p. 195).
Tal crítica repousa no caráter alienante da religião, pois, ela acaba criando consciência
individualista nos seres. A resolução proposta por Feuerbach é a criação de uma nova
filosofia, e essa filosofia acabaria por converter-se em religião. Outro fundamento para
resolver esse caráter individualista da religião cristã é a criação de uma ética pautada no
sensível, onde por via do sensível, dos sentimentos, das afecções, o homem alcançaria a
perfeição do agir moral, importando-se com os outros e criando o sentimento de estar no
lugar do outro enquanto um ser que se preocupa e fora das ilusões da religião e da filosofia
especulativa.
Prossegue o desenvolvimento da crítica do filósofo de Landshut, onde o mesmo
estabelece que a religião cristã é um atributo negativo para o homem, pois, ela destrói nossa
essência: “No Cristianismo, segundo Feuerbach, o homem objetiva e distorce sua própria
essência, perde-se dela, para, em seguida, fazer-se seu objeto, dela transformada em pessoa
singular, Deus” (SOUZA, 2009, p. 251). O individuo ao perder sua essência, acaba alienando
de si mesmo, e precisando recompor-se disso, torna a figura de Deus para tentar dar um
fundamento a sua existência. O constructo cristão é alienante, porque não valoriza o
verdadeiro fundamento do homem, que é o sensível, assim também como a filosofia Hegeliana
que é um profundo ataque a toda materialidade. Dentro dos ataques estabelecidos por
Feuerbach, também é visível acompanhar as refutações contra Hegel. O idealismo proposto
por Hegel é também um ataque a verdadeira essência do homem, pois, valoriza unicamente o
espiritual e o ideal, e isto torna-se como um contraposto ao material, ao sensível, o que
segundo Feuerbach (2007, p. 20): “Em geral condeno incondicionalmente qualquer
especulação absoluta, imaterial, autossuficiente – a especulação que tira a sua matéria de si
mesma”. É evidente que a crítica a Hegel, decorre do fato que o mesmo não considerou em
qualquer de seus escritos e de seus arcabouços, o linear do sensível e a sua importância para o
homem.
Outra crítica importante desenvolvida por Feuerbach é que, a religião cristã é
altamente subjetivista e não liga para o gênero. “O cristianismo – do mesmo modo que, agora,
a modernidade filisteia – ‘só tem olhos para o indivíduo’, e absolutamente ‘não se preocupa
com o gênero’; ‘sacrifica o gênero ao individuo’, que fica ‘divinizado’ e erigido em ‘absoluto’”
(SOUZA, 2009, p. 261). Ao dar total importância ao individuo, acaba caindo em contradição,
pois acaba esquecendo o gênero, esquecendo o outro, ou seja, acaba criando uma espécie de
subjetividade religiosa, favorecendo um egoísmo. O gênero, aqui, deve ser entendido como o
desdobramento da sua essência, ou seja, a humanidade do humano, sendo explicado por a
trindade que constitui todo homem – razão, amor e vontade. -
Na sua obra extensa, um texto surge como essencial para compreender, tanto a sua
concepção de religião como a crítica feita a ela. Tal texto é o: Preleções sobre a essência da religião
de 1851.
Feuerbach tece novamente uma crítica a concepção hegeliana de religião,
considerando que o filósofo do Idealismo inverte totalmente o que seria a essência da religião:
“Por isso objetei a filosofia hegeliana que ela tornava supérfluo o essencial da religião e
inversamente essencial o supérfluo, e que a essência da religião é exatamente aquilo que a
filosofia transforma em mera forma” (FEUERBACH, 2009, p. 24). Hegel, em sua filosofia, quer
anteceder o espírito a matéria, concebendo a forma antes mesmo do objeto e isto para
Feuerbach é um erro tanto na filosofia como na religião que Hegel tentou criar a partir do seu
método dialético.
Deus na visão de Feuerbach é uma criação da mente humana, especialmente da
faculdade de fantasiar e nisto floresce a sua crítica a religião, considerando que a religião
cristã é apenas uma fantasia com a capacidade de alienar o homem. “O próprio Deus é uma
entidade sensorial, um objeto da contemplação, da visão, não da contemplação corporal, mas
da espiritual, ou seja, uma contemplação da fantasia” (FEUERBACH, 2009, p. 25). O
cristianismo é uma religião que desconsidera os elementos fantasiosos do homem, tornando
ele como um sujeito desprovido de essência, estabelecendo que ela - a essência – é formada a
partir de um determinismo divino, ou seja, é Deus que constrói a essência do homem a partir
de sua capacidade de criação, Ele determina a essência do homem em consonância com a sua.
Daí decorre a crítica feuerbachiana onde a nossa essência é a mesma de Deus, pois, Ele é uma
(CHAGAS, 2015, p. 5). Tal natureza, para Feuerbach, é independente tanto de espírito como
de matéria, Ela é causa orgânica de tudo, ela pressupõe toda a vida, ela tem sua própria
vontade, enquanto um ente capaz de criar e recriar. Tal tese de Feuerbach sobre a natureza
desemboca nas concepções evolucionistas de Charles Darwin, onde o pensador de
Landshutaproxima-se das concepções darwinistas, porém, não há qualquer indício das
leituras de Darwin feitas por Feuerbach, tais concepções carecem de influências de Darwin.
Feuerbach estabelece uma crítica ao caráter de dependência e de prisão que a religião,
especialmente a cristã exerce nos homens. Ele considera que a religião é um produto do medo
e da incapacidade do homem levantar-se contra ela. Cito Feuerbach:
CONSIDERAÇÕES FINAIS
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