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UM EVANGELHO SIMPLES

NUMA IGREJA ORGÂNICA

O Revolucionário Caminho Para


Uma Igreja Orgânica, Crescente e Saudável

Marcelo Almeida
CAPÍTULO UM

Partindo

Ao completar trinta anos de Ministério eu estava completamente exausto. Descobri


que perdera a real transparência e a viva vulnerabilidade que praticara nos primeiros anos.
Eu não era mais conhecido pelo que era mas pelo que eu fazia. E posso dizer que fizera
grandes coisas. Estivemos no centro de um maravilhoso avivamento que aconteceu entre
os finais dos anos 80 e início dos 90. Vimos a Glória de Deus se manifestar de maneira
maravilhosa salvando e impactando milhares de pessoas. Fomos pioneiros num modelo de
Igreja em células que funcionava e se multiplicava. Em 1999 iniciamos um movimento de
Igrejas que plantou centenas de Igrejas e se espalhou para dezenas de nações sob a minha
coordenação internacional. Mas agora estava exausto e tomado por uma grande
insatisfação ministerial. Sentia que faltava alguma coisa fundamental em tudo.
Muito do meu esgotamento veio das constantes viagens que aconteceram por anos
seguidos. Somente com uma companhia aérea eu voei mais de dois milhões de milhas. O
esgotamento profundo chegou implacável, física, emocional e espiritualmente. Dentro de
mim a alegria havia ido embora e sentia que algo interiormente estava muito errado. Abri
com minha esposa diversas vezes que estava me sentindo morto. Apesar dos inúmeros
frutos, da estabilidade financeira e de uma família amorosa, dentro de mim as coisas não
estavam bem. Esgotado, eu queria morrer. A depressão tomara o lugar da motivação e
muitas vezes me vi desejando o fim. Passei a dormir apenas três horas por noite. Pior que
tudo isso, por estar isolado, no ponto mais baixo da minha depressão e confusão interior,
perdera completamente os parâmetros tão elevados que nortearam a minha vida, meu
chamado e Ministério.
Sei que alguns queridos e sinceros servos de Deus ao se depararem com estas
páginas vão se identificar com algumas das minhas tempestades, as pressões, o estresse, o
meu esgotamento e talvez com a perda de valores que são tão sagrados e inegociáveis. Sei
que estarei descrevendo a vida de alguns. Há um silêncio sepulcral de gente honesta que
não se sente com confiança de abrir seus próprios problemas, medos, inseguranças e
pecados. Simplesmente não podem abrir problemas no ambiente em que estão por
diversas razões. Ser vulnerável e transparente em um ambiente de cristianismo-
organização é virtualmente impossível. Posso dizer que se você vive servindo ao
cristianismo organizado e não em uma comunidade viva, provavelmente já esteja no
ponto de exaustão indo apenas no embalo sem saber como sair da imensa “roda gigante”
em que sua vida se meteu. Se você é um pastor tempo integral na obra, certamente tem
contas a pagar e não vê como deixar esse modelo de obra que tritura líderes, crentes e
suas famílias. Afinal o “Show deve Continuar" a qualquer custo. Há alguma alternativa? É a
pergunta que muitos fazem. Quero dizer que há sim. Definitivamente há! Mas antes é
preciso fazer um diagnóstico honesto.
Em muitos contextos a praga do pragmatismo transformou equipes ministeriais em
times de vendas onde é proibido ser vulnerável, transparente, humano... normal. Times de
líderes voltados a resultados e para a performance tem virado um problema na maioria das
igrejas que conheço. O pior é que quem chega do mundo, quem se converte ali, acredita
que aquilo é o padrão bíblico. Não é. Infelizmente pastores, líderes e igrejas inteiras se
tornaram vacinados contra o modelo de células por encontrar nele uma lavoura que visa
lucro e não um jardim que proporciona deleite.
Eu mesmo, nesse ciclo vicioso muitas vezes não cuidei apropriadamente do meu
jardim. Depois de alguns anos nessa roda viva dos ciclos de crescimento e multiplicação o
cansaço e o esgotamento chegarão invariavelmente. Façamos uma pesquisa na membresia
de certas Igrejas... A grande maioria é de novatos e a quantidade de gente que ficou cinco,
sete, dez anos e saiu, é maior do que a daqueles que permaneceu.
Lendo o Novo Testamento nos deparamos com uma Igreja profundamente diferente
daquilo que encontramos hoje sendo praticado em muitos lugares. O cristianismo de hoje,
a Igreja-organização, em muito perdeu as características do que encontramos na Igreja
apostólica dos primeiros dias. Mas há alguma forma de vivermos aquilo que encontramos
na Bíblia? Sei que esta mesma pergunta já foi feita antes. Muitas vezes! Este tem sido o
profundo desejo de santos de Deus que desde a Reforma Protestante tem retornado ao
modelo original. É uma santa peregrinação de volta à glória da Igreja Primitiva. Nesse
maravilhoso processo de Reforma, Avivamento e Restauração encontramos as origens das
principais denominações.
O processo, entretanto ainda não acabou. Há ainda um longo e precioso caminho a
ser trilhado. Em várias gerações o Espírito Santo guiou Seu povo nessa marcha rumo à
Igreja cheia de Glória e sem rugas. O percurso ainda requer disposição para continuarmos
marchando. Convido você a ler este “projeto de livro” em oração e temor diante de Deus
para que o Espírito Santo possa leva-lo a um lugar de liberdade e visão espiritual nunca
sonhados. Mais que isto, se você está lendo este “projeto de livro” eu o convido a
participar escrevendo-o comigo sem pressa! Vamos construir ouvindo juntos a Deus e
praticando na vida da Igreja os princípios aqui contidos. Não tenho pressa! Você também
não tenha pressa. Alguns dos últimos capítulos foram deixados em branco de propósito,
aguardando a sua participação se assim o quiser e se assim for movido por Deus.

O Grande Mandamento e a Grande Comissão


Há uma maneira de ser igreja que equilibra as duas ordens cardeais de Jesus, o
Grande Mandamento e a Grande Comissão. No Grande mandamento amamos uns aos
outros, amamos as pessoas, servirmos e discipularmos numa grande e maravilhosa
Comunidade que é mais família e mais orgânica. Na Grande Comissão evangelizamos,
crescemos numericamente, mas através de filhos e filhas espirituais e não num sistema frio
de colheita impessoal e organizacional. Ao terminar esta leitura certamente você será
capaz de ver com outros olhos o que Deus quer trazer à tona nesse novo tempo. Talvez
Deus irá desafia-lo a dar algumas respostas a Ele. Espero que as dê positivamente.

O Cerne das Células, um Paradigma Inegociável

Fui pioneiro juntamente com um querido irmão, ainda nos finais dos anos 80 no
paradigma das células. Na época, “vimos” em Deus que este era um movimento de
vanguarda que trazia em si mesmo algo para o que as igrejas convencionais não tinham
resposta. Entendemos que o “cada crente um ministro” e o “cada casa uma Igreja”
representavam um salto de volta às origens, um passo gigantesco na restauração da Igreja.
Vimos também que “cada crente é o templo” sagrado onde o Espírito Santo habita. Mas a
obra não acabava ali naquela visão. A obra requeria um certo tipo de estrutura para as
coisas fluírem e continuarem fluindo.
Toda mensagem pede uma estrutura de igreja compatível com ela. Não há
neutralidade em nenhuma teologia. Entendi em Deus que há valores, narrativas bíblicas e
verdades que pedem uma estrutura nova para cada “vinho novo". Nesse nosso caso aqui
não será diferente. Precisamos de um Odre Novo para este Vinho Novo, uma estrutura
nova para uma visão nova. Mesmo na “visão das células” e nas Igrejas que praticam o
modelo celular houve um imenso retrocesso onde a Igreja organismo tornou-se uma rígida
organização incapaz de continuar avançando na Restauração do modelo da Igreja
apostólica do livro de Atos. Deus nos chama a continuarmos a peregrinação rumo a uma
igreja mais neotestamentária.

A Terra Que te Mostrarei

Um amigo querido que leu o meu livro “Eu Sou a Videira” ficou muito surpreso ao
ler algo muito semelhante ao que eu escrevera, em um outro livro lançado recentemente
por Francis Chan nos Estados Unidos. Em seu livro “Letters to the Church” - (Cartas à
Igreja), o autor propõe um novo paradigma de Igreja. Com a seguinte proposta ele começa
o seu livro:

“Imagine que você está sozinho em uma ilha deserta sem nada a não ser um
exemplar da Bíblia. Você não tem nenhuma experiência com o cristianismo e tudo
o que conhecerá dele virá da sua leitura da Bíblia. Como você imagina que deveria
ser o funcionamento da Igreja? Falo sério. Feche os olhos por dois minutos e
imagine como a Igreja seria.”

Como nós, o autor chegou às mesmas conclusões acerca das células que chegamos
há trinta anos atrás. Ele saiu de uma mega igreja convencional, concluiu que era
necessário ir para o “grupo pequeno” mas depois foi além. Ele propõe levar a igreja do
Templo, ao seu componente mais orgânico e de volta às casas! Semelhantemente, desejo
propor a você uma jornada rumo à eclesiologia e à prática da Igreja dos primeiros dias. Se
fizermos o exercício proposto por Francis Chen lendo o Novo Testamento e reproduzindo
apenas e exclusivamente o que está ali, chegaremos a um modelo de obra revolucionário,
orgânico e vivo!
Não proponho, como faz o autor de “Letters to the Church”, que não haja mais
reuniões públicas em um grande local. Proponho sim que a principal reunião seja nas
casas e que o modelo do Novo Testamento seja mesmo levado em conta e praticado sem
limite algum! Será, inevitável, propormos questões que trarão desconforto a alguns
queridos irmãos. De antemão eu peço perdão por isso! Minha intenção de modo algum é
ofender quem quer que seja com o que tenho visto em Deus. Minha oração é que as
minhas convicções não abalem as convicções de ninguém que as tenha recebido de Deus
também. Cada um edifique na fé que tem. Não somos inimigos mas companheiros no
mesmo Reino. Se ao ler este livro você concluir que este paradigma é por demais
desconfortável, simplesmente o coloque de lado e ore por nós! Com certeza preciso
demais da sua oração.
Não quero que pessoas rebeldes, magoadas e com motivos errados usem este
pequeno livro para justificar suas práticas carnais, antiéticas, desonrosas, divisivas e
destrutivas. Este livro não tem a intenção de fazer proselitismo e nem de colher em terra
alheia. Se alguém faz isso comete pecado e não tem de modo algum o meu apoio e
concordância. Nada tem a ver comigo e nem com o que Deus tem nos mostrado.
Fui salvo em uma Igreja convencional que nunca usou a prática das células. Nem
por isso deixaram de ser uma obra de Deus. Irmãos queridos de todo o espectro
evangélico merecem respeito e os temos em alta consideração. Novamente, cada um veja
como edifica sendo fiel à luz que tem e à capacidade que foi dada segundo a “medida da
Graça" confiada a cada um. Simplificando: “seja fiel àquilo que Deus te comissionou a
fazer"!
Se, por outro lado você tem sido incomodado pelo Senhor a continuar a marcha
rumo à Restauração da Igreja, se deseja avançar um pouco mais, se está “sem igreja”, este
livro é para você. Desejo que o Espírito Santo o motive, te dê clareza e te encha de uma
nova inspiração! Bem mais do que isto, desejo que você pegue fogo ao ler estas páginas!!!

CAPÍTULO DOIS

O Delicado Balanço Entre o Grande Mandamento e a Grande Comissão

Você ja percebeu que Jesus somente dá aos seus seguidores duas grandes
recomendações cardeais? Além de tudo o que ele ensinou nos seus três anos e meio de
Ministério o Senhor dá apenas duas ordens diante das quais nenhum cristão genuíno tem
escolha: O Grande Mandamento e a Grande Comissão. Estão nelas a fonte do equilíbrio
na edificação da Igreja se soubermos obedecer o Senhor em ambas as suas
recomendações. Aqui também estão a fonte do desequilíbrio no que muitas Igrejas
praticam pois escolhem apenas um dos Mandados Cardeais do Senhor. Nenhum cristão,
entretanto tem escolha diante dessas duas ordens dadas de amar os de dentro de casa e ir
aos perdidos que estão lá fora!

Aqueles Que Colocam Ênfase na Grande Comissão

Entretanto, de acordo com suas preferências e características de personalidade os


crentes escolhem esta ou aquela ordem de Jesus. Alguns ficam no grande mandamento,
outros ficam com a grande comissão. Igrejas contaminadas com o vírus da filosofia
americana do pragmatismo colocarão todo o seu esforço em ganhar vidas, avançar,
multiplicar células, plantar milhares de Igrejas, serem uma grande organização a qualquer
custo. O resultado numérico virá com certeza e milhares de pessoas serão alcançadas.
Mas a que custo? Logo logo vão se parecer com uma empresa voltada a cumprir seus alvos
definidos por um corpo de diretores executivos e chefiados por um CEO. Infelizmente a
maioria das Igrejas neopentecostais recentemente seguem esse modelo de obra.
Aos poucos todo esse “império” estará triturando gente, matando líderes e forçando
uma multidão silenciosa a sofrer em silêncio com medo de “perder a visão" e “sair fora
do propósito". Quando alguém diz que está cansado e esgotado sempre haverá um
diagnóstico a trazer-lhes culpa: “você tirou os olhos de Cristo” ou ainda, “você saiu da
graça e está debaixo da lei". Em ambos os casos a culpa é sempre do infeliz do crente e
nunca há nada de errado com a super-estrutura, a super-máquina em que virou aquela
obra. A ênfase única na Grande Comissão traz este desequilíbrio. Ao negarem qualquer
ajuste, como em diversas denominações, assumem uma atitude arrogante de terem
chegado a um ponto de não enxergarem nenhuma necessidade de mudança. Ora, sejamos
práticos! Qual estrutura de Igreja é plenamente perfeita? Deveríamos ser humildes e estar
dispostos sempre a fazermos uma auto-crítica e termos ouvidos que ouvem genuinamente.
Infelizmente entretanto, com o êxito e envelhecimento quase todas as estruturas tornam-se
rígidas e arrogantes.

Aqueles Que Colocam a Ênfase no Grande Mandamento

Na outra ponta do desequilíbrio haverá aqueles que também sinceramente


desejarão fazer da Igreja uma “Comunidade do Amor” que vive para relacionamentos
saudáveis, que cuida uns dos outros e que cada vez mais se tornará fechada em si mesma
e no seu equivocado modelo de qualidade em detrimento do crescimento. Sob esse
pretexto não evangelizam e nem desejam o trabalho serio de edificação da Igreja de Jesus
Cristo. Em outras palavras, num extremo temos a igreja estilo Banco e no outro temos a
igreja estilo Clube. Num extremo temos a Igreja estilo Marta e no outro estilo Maria.
Numa ponta o trabalho árduo e sem alegria e no outro a festa sem responsabilidades. Qual
é o equilíbrio disso? É possível? Sim, Jesus amava e era amigo das duas, tanto de Maria
quanto de Marta!

Onde Está o Equilíbrio?

Creio que se Jesus, o Senhor da Igreja, nos deu as duas ordens cardeais, há sim uma
maneira simples de praticarmos algo que contempla a qualidade e o crescimento ao
mesmo tempo. Há uma maneira de viver a experiência de sermos tanto uma família de
Deus e também de crescermos de maneira sustentável e bíblica. A resposta é mais simples
do que você imagina: É só praticarmos as duas coisas ao mesmo tempo! Simples assim. O
desequilíbrio está em colocarmos foco e ênfase em uma delas apenas. Este é o problema!
Todo desequilíbrio acontece quando os pragmáticos acusam os que querem uma Igreja
mais “família de serem “almáticos” e desprezam o Grande Mandamento. Ou na via
inversa, quando aqueles que desejam uma Igreja mais “Comunidade” acusam os demais
de serem “uma linha de montagem” de uma indústria mas desprezam a Grande Comissão.
O Pragmatismo é uma filosofia secular proposta por William James (1842-1910).
Infelizmente sua filosofia tomou conta da Igreja! Em nome dela deixamos morrer a
centésima ovelha, esquecemos a dracma perdida e excluímos o filho pródigo. Fazemos o
que Jesus não fez em nome dessa filosofia. A depender disso o endemoninhado Gadareno
estaria possesso e a viver nos sepulcros até os dias de hoje pois em nosso pragmatismo
jamais deixaríamos um ministério que estava “bombando” para passar ao outro lado e
resgatar aquele infeliz solitário que nada tinha a acrescentar ao ministério do “Profeta das
Massas”. Contrariando todo o pragmatismo Jesus “pagou” para ir lá ao alcance daquele
homem miserável. Vultosas ofertas deixaram de entrar na bolsa de Judas Iscariotes quando
o Senhor determinou que trocariam as multidões para ir em socorro daquele infeliz e
solitário jovem.
Os racionais se chocam com os emocionais e os criticam e vice versa. Mas espera
um pouco... Não precisamos das duas coisas??? Eu diria que quem vive na alma,
satisfazendo seus caprichos emocionais edifica na carne tanto quanto aqueles que
adotaram a filosofia do pragmatismo. Ambas são anti-bíblicas e trarão desequilíbrios graves
ao serem praticadas. De novo, não há neutralidade no que pregamos!
O Grande Mandamento nos fala de aprendermos a viver na prática o amor também
prático para com os nossos irmãos e irmãs. Servir-lhes nas suas necessidades, gastar-nos no
discipulado e praticarmos as coisas que nos farão ser e viver a “experiência da
Comunidade” de Atos dos Apóstolos. Fala de viver o Grande Mandamento de amar-nos
uns aos outros como Cristo nos amou, o que nos levará a dar as nossas vidas para a Igreja.
Quando todos fazem isto temos aquele maravilhoso ambiente da Ek-Klesia apostólica.
Temos um genuíno avivamento! Estar na igreja se torna algo gostoso, empolgante, bom,
relevante e nos enche de alegria. O melhor de tudo isso é que colheremos qualidade nos
relacionamentos, no ensino, na formação e no treinamento de líderes. Haverá muita gente
disponível para cuidar dos novos na fé e a atmosfera de “família de Deus” pode ser
mantida. Esta é a experiência que encontramos no Livro de Atos no capítulo 2. A igreja era
uma comunidade tão maravilhosa que atraía a simpatia até dos que a viam de fora.
Mas não podemos ficar presos apenas ao Grande Mandamento senão nos
tornaremos um clube de gente introspectiva, um “ceuzinho artificial” na terra enquanto os
milhões de pecadores lá fora estão a perecer. Conheço muitas igrejas assim que preferem
ser esse “clube” de santos a viver em algum lugar alienado da realidade como se não
houvesse desafios enormes a serem enfrentados lá fora.
A Grande Comissão, ao envolver a família de Deus para ganhar os perdidos, estará
cumprindo uma das razões básicas de “Ser igreja", ser expressão da vida e do caráter de
Cristo para o mundo. Essa iniciativa de evangelizar o descrente, entretanto, não virá
desprovida da atmosfera de família e comunidade. Onde filhos sejam gerados, amados e
cuidados e não para serem deixados órfãos, ao relento e à mercê de maus pastores.
Se entretanto, não vivermos o Grande Mandamento na atmosfera da igreja, a prática
da Grande Comissão será semelhante às incubadoras e às granjas onde os pintainhos são
criados aos milhares sem suas mães. Evangelismo sem a contrapartida do discipulado é
uma incubadora artificial onde geram-se os crentes que são mantidos em um orfanato
espiritual. Por isso muitos cristãos jamais crescem espiritualmente. Saíram da incubadora e
foram direto para o orfanato!
O Senhor da Obra deseja que vivamos e pratiquemos as duas coisas de maneira
equilibrada e harmônica: O Grande Mandamento e a Grande Comissão! Há uma
edificação maravilhosa esperando por nós, por mim e por você meu querido irmão! Deus
deseja que esse modelo de Igreja vivo, moderno e contextualizado se multiplique aos
milhares nas cidades, nas vilas, nas fábricas, nas universidades, entre artistas e militares,
entre professores e demais profissionais. No meio dos jovens, famílias, entre homens,
mulheres e idosos.

CAPÍTULO TRÊS

A Igreja Orgânica e a Igreja no Templo

Talvez seja novidade para alguns dizer que na Igreja dos primeiros dias não havia
templos. Nenhum templo! Deus mesmo, do Santo dos Santos, na parte mais interior do
templo judaico em Jerusalém rasgou o véu que separava aquele recinto das outras partes.
Por que Deus fez aquilo? Ora claramente entendemos a mensagem! Com esse ato Ele
disse: “NÃO MORO MAIS AQUI"! Mais tarde o apóstolo Paulo afirma aos Coríntios: “Não
sabeis que sois templos de Deus e que o Espírito Santo habita dentro de vós"? Em outro
lugar ainda diz: “Aquele que se une ao Senhor é um só espírito com Ele". Assim, para o
crente da Igreja daqueles dias não havia dúvidas sobre o lugar onde a Presença de Deus
repousava. Aliás toda a figura do tabernáculo e depois do templo era para significar a
chegada desse solene momento onde o Testemunho de Deus se mudaria daquela estrutura
para dentro do espírito de cada cristão. O crente é o templo de Deus hoje!
Infelizmente a Igreja percorreu um longo caminho negando esse fato bíblico
revolucionário e com implicações tão sérias na vida dos crentes. Ainda nos primeiros
séculos da era cristã, após Constantino, com a igreja se tornando presa e dependente do
Estado, logo os cristãos passaram a reunir-se novamente em “edifícios sagrados”. Novos
“templos” passaram a ser erigidos, agora, não mais aos deuses pagãos romanos mas ao
Deus cristão. À medida que a igreja foi perdendo a vida e uma casta clerical foi usurpando
e atrofiando todas as funções do Corpo de Cristo, cada vez mais o “templo” foi tomando o
centro do culto e de todas as coisas. Chegamos ao ponto em que sem um templo acaba-se
a igreja! Para muitos chegou-se ao absurdo de que só haverá igreja se houver um prédio,
um local para reunirem-se. Esta, entretanto não era a prática do Novo Testamento.
Mesmo com a Reforma Protestante não se livraram os crentes de ter o seu “Templo”
e renovou-se o mesmo tipo de atitude reverencial a um prédio onde supostamente Deus
estava e morava. O conceito problemático de ir à Igreja ao invés de ser Igreja perdura até
os dias de hoje mesmo em Igrejas que vivem o paradigma celular. Ao fim e ao cabo o
"Templo” continua sendo o centro de tudo, mesmo permanecendo fechado a maior parte
do tempo e sendo aberto apenas em fins de semana para receber os “fiéis”. Gastamos
fortunas para adquirir, construir, reformar e manter prédios vazios que nada expressam do
modelo neotestamentário. Numa Igreja orgânica as coisas podem funcionar diferentes
disso.
Até o “layout” onde as cadeiras são dispostas à maneira grega, onde cada crente vê
apenas a nuca do irmão que está à frente, indica que não estamos ali para nos relacionar e
sim para assistir ao culto. Portanto tenha reverência e cale a boca! Você não está ali para
cultuar participando mas vendo, ouvindo e repetindo. O sujeito na plataforma e com
microfone está ali pra comandar um show e você apenas para segui-lo. Se fizer mais que
isso incomodará o pastor ou o padre que anima aquele culto. A estrela ali não é você, é o
líder lá adiante. Infelizmente, na maioria dos casos, no cristianismo-organização não
haverá outros momentos para que a igreja pratique um modelo dinâmico, relacional,
participativo e orgânico de ser igreja. Nada de expressão da espontaneidade e iniciativa
cabem em certas estruturas rígidas.
Entendo que este é o momento de voltarmos às bases da Igreja Cristã dos primeiros
dias. As células devem se tornar verdadeiras Igrejas nas casas crescendo em implicações
até reproduzirem aquele mesmo ambiente. Na igreja nas casas, partimos o pão,
compartilhamos a Palavra viva, discipulamos, evangelizamos, levantamos as ofertas e
dízimos, consagramos nossas crianças, rimos e choramos juntos. É na vida da igreja que
acontecerão as coisas mais preciosas e importantes das nossas vidas! Na igreja somos
família e somos comunidade juntos. Ali crescemos juntos, os dons espirituais de cada um
podem mesmo ser descobertos e desenvolvidos. A dinâmica do Corpo do Senhor Jesus se
expressa de modo maravilhoso e sem impedimento algum. Nesse ambiente o sobrenatural
de Deus se manifestará e os milagres acontecerão. Entendo que alguém que
lidera algo assim, por mais que se reuna em alguma casa e fora de qualquer “templo”
caminha para ser reconhecido como um pastor real do rebanho de Deus, ainda que não
tenha diploma em teologia e nem possua um prédio que outros chamariam de “Igreja".
Uma igreja nas casas, nesse modelo mais orgânico torna-se, na prática, mais
organismo vivo do que uma mera organização. Uma igreja assim tem inúmeras vantagens
sobre quaisquer modelos convencionais pois libera os recursos financeiros da obra para
serem canalizados integralmente para missões e na vida dos necessitados. Uma obra
orgânica assim descobrirá os dons de cada crente e verdadeiramente os ativará para serem
usados na vida da igreja. Esta obra orgânica multiplica líderes em escala geométrica e na
prática treina todo o povo de Deus para ser ativo, maduro e comprometido com a causa
do Reino de Deus. Uma obra assim terá apenas pastores vivamente comprometidos e
conhecidos por seus próprios rebanhos que os conhecem e seguem de perto.
Não há espaço aqui para pastores se esgotando com a obra de Deus pois todos
estão envolvidos e comprometidos a compartilhar as tarefas, pesos e responsabilidades.
Podemos ter pastores que mantém as suas profissões sem que sejam necessariamente
“tempo integral” dedicados exclusivamente ao ministério pastoral. O potencial liberado
por esse modelo é poderoso e revolucionário!!! Na verdade todos os cristãos são
dedicados a tempo inteiro levando a experiência e a expressão do evangelho para onde
quer que estejam. Como disse antes, repito. Não proponho que as igrejas parem de se
reunir para cultos públicos, mas que se dê a máxima importância às reuniões nas casas.
Cultos públicos poderão acontecer em garagens, centro de convenções, hotéis, fábricas,
escolas e ao ar livre em parques públicos. Reuniões assim podem acontecer uma vez por
mês ou mais, dependendo da cidade onde a Igreja está estabelecida.

CAPÍTULO QUATRO

Como Era o Ministério Apostólico

Em certa ocasião eu afirmei que baseado em Efésios 4:11 e 12 a razão da existência


dos apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres era investir nos santos, em fazer
seus sonhos acontecerem. Obviamente, o sonho aqui, no contexto do texto fala da obra do
Senhor. A razão da minha função ministerial portanto, é investir como um pai espiritual
nos seus sonhos no que se refere à obra de Deus.
Um amigo querido me admoestou dizendo que era perigoso eu dizer isso
publicamente. Perigoso para o tipo de obra que estávamos realizando onde as pessoas
deveriam ser leais e sonhar os sonhos do líder e da organização. Pensando depois mais
profundamente e enxergando o modelo de igreja orgânico do Novo Testamento eu só
posso dizer que eu estava certo.
Sinceramente eu não vejo na Bíblia muito do tipo de apóstolo-imperador que temos
hoje em dia em muitos lugares. Trata-se de um tipo de ministério totalmente descolado da
realidade do “chão da fábrica", em outras palavras, o cristianismo-organização cria seus
próprios apóstolos estrelas que nada tem mais a ver com o modelo paulino pioneiro,
plantador de Igrejas, que vive a prática e a rotina da paternidade espiritual que Paulo
viveu. Deus nos chamou para sermos apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres
que investem mesmo em treinar os santos e investem mesmo em viabilizar seus sonhos
como verdadeiros pais espirituais segundo as escrituras. Isso é impossível no cristianismo-
organização pois o tempo, o dinheiro, a lealdade política e todo o trabalho será aplicado
em favor de uma organização e do líder no topo da pirâmide. É nisto que muitos estão
colocando seus melhores dias, a sua vida e o seu sangue.

Clérigos e Leigos

Na Igreja dos primeiros dias vemos o Corpo de Cristo em pleno funcionamento.


Cada membro funcionava em seus dons segundo a Graça de Deus dada a cada um. Havia
o exercício pleno de todos os dons ministeriais do apóstolo, profeta, evangelista, do pastor
e do mestre. Não para dominar sobre o rebanho de Deus mas para treina-lo e envia-lo. Ser
apóstolo naqueles dias nada tinha a ver com cargos ou títulos. Apóstolos não se pareciam
com príncipes mas de acordo com Paulo eram os que mais sofriam e se expunham pela
causa do evangelho. Em outras palavras ser apóstolo naqueles dias era uma “fria” do ponto
de vista de conforto pessoal, vantagens, glamour e estabilidade financeira.
Logo a partir do segundo século da Igreja, vemos a obra de Deus lentamente afastar-
se perigosamente do modelo inicial. Para proteger os irmãos das inúmeras heresias foi-se
adotando uma pretensa origem monárquica, uma tal “sucessão apostólica” onde cada
bispo para ser reconhecido deveria provar sua origem procedendo dos primeiros
apóstolos. Uma distinção entre os leigos e o clero começou a surgir lentamente. Ainda que
compreensível, isto trouxe uma consequência muito ruim. Foi uma das coisas que deu
origem ao germe do clericalismo.
Finalmente, quando este sistema chegou a prevalecer na Igreja dizia-se que sem o
bispo não havia Igreja! A massa ignorante, passiva, dominada, usada e manipulada dos
leigos passou a ser controlada pelos novos “sacerdotes” possuidores dos oráculos divinos.
Sem esses, os cristãos simplesmente não tinham como ter acesso a Deus e Sua Graça. Este
era o ensino e esta era a prática. Muitos abusos absurdos foram cometidos ao longo da
história por causa desse nefasto sistema demoníaco que paralisou a Igreja. Com esse
sistema foi roubada a expressão e as funções do Corpo de Cristo em favor de uma casta
sacerdotal centralizadora e semi-pagã.
Primeiro o inimigo roubou da igreja a noção de templo do Espírito Santo prendendo
os irmãos dentro de quatro paredes de volta a “templos” feitos de pedra, e agora, o diabo
rouba-lhes as funções colocando a grande massa de crentes sob a dependência de um
“sacerdote” que seria seu intermediário diante de Deus.
Com as escrituras sagradas confinadas em poucos monastérios e acessada por
poucos homens, a grande massa de cristãos substituiu a Vida encontrada nas Escrituras
Sagradas por um emaranhado de tradições pagãs que foram ganhando importância e
legitimidade através de concílios e papas que foram adicionando uma outra tradição,
diferente daquela antiga e pura tradição dos apóstolos originais. Na Reforma a Igreja foi
finalmente purificada de muita coisa, entretanto, infelizmente, o clericalismo católico deu
origem ao clericalismo protestante. O templismo católico deu origem ao templismo
protestante, a paralisia dos membros no catolicismo perdurou com a agora nova paralisia
protestante.
Com o advento das igrejas em células muitos irmãos viram um novo e decisivo
passo rumo à Igreja dos primeiros dias ser tomado. Muitos crentes foram despertados,
treinados e enviados. A Igreja experimentou um grande despertamento e mesmo Igrejas
convencionais passaram a usar a estratégia dos “grupos pequenos", “grupos familiares", ou
“grupos de vida". Não importa a terminologia, o avanço foi enorme. Infelizmente o germe
do clericalismo mesclado com política na Igreja e o gosto pelo poder faz com que um
novo tipo de clericalismo se alastre novamente alimentado por argumentos que o cercam
de uma pretensa autoridade espiritual. É sempre assim.
O ungido do Senhor nunca erra e só o fato de se levantar alguma questão em
privado ou publicamente você está sendo desleal e traindo a equipe. Os princípios
bíblicos da lealdade, compromisso com a equipe e da honra aos líderes são elevados a um
nível do Velho Testamento! É proibido ter dúvidas, é proibido sonhar seus sonhos, é
proibido abrir seus pecados. Ser transparente é coisa de mulheres, ser vulnerável como
Cristo é estar na alma... Vão se criando uma panela de pressão onde todos fingem estar
bem e sorrisos religiosos substituem o santo e bendito ambiente de uma família e
comunidade saudável e livre. Maldito clericalismo que atrofia os membros do corpo,
bloqueia a expressão visível do Senhor e cria um sistema perverso onde o organismo
torna-se refém de uma organização fria, dura e vazia.
Em qual modelo de obra poderemos viver livres do templismo e do clericalismo? Em
que modelo de obra poderemos viver o que vemos de maneira simples e maravilhosa ser
praticado pelos discípulos do Senhor no Novo Testamento? Cremos que de volta à igreja
como era nos dias apostólicos podemos experimentar o que vemos ali nas páginas da
Bíblia. Numa igreja orgânica podemos experimentar isto.

CAPÍTULO CINCO

Os Sistemas de “Pequenos Papas”

A expressão máxima do clericalismo só é plena, completa e totalmente destrutiva


quando a figura do papa é reproduzida. Na Igreja medieval isso tomou um grande e longo
processo com o bispo de Roma reivindicando sobre si mesmo esse poder absoluto e
inquestionável sobre as demais sedes da cristandade. Hildebrando, que se tornaria o papa
Gregório VII (1020-1085), chegou a afirmar de si mesmo: “o papa está entre Deus e o
homem; está abaixo de Deus, mas acima do homem; é menos que Deus mas é mais do
que o homem". O papa carrega em si mesmo a aura de infalível, intocável e que não
precisa prestar contas a ninguém. O que diz e o que sai de sua boca automaticamente se
torna palavra de Deus. É precisamente esse tipo de autoridade exacerbada que muitas
Igrejas independentes e muitos movimentos apostólicos de um apóstolo só tem
reproduzido hoje em dia. Isto é nefasto! Da mesma forma que a Igreja Católica produziu
seus papas, hoje em dia em muitas Igrejas independentes e em alguns movimentos
apostólicos é precisamente isto que se criou.
O papa cria ao redor de si mesmo um sistema financeiro, de poder, de influência e
de controle de onde nada e nem ninguém escapa. Pior, sempre está cercado de líderes
sem expressão que legitimam essa superioridade com uma suposta chancela de pessoas
que nada fazem a não ser concordar. É diferente de um sistema apostólico legítimo que
flui com várias vozes e várias influências fortes, livres e harmônicas. No papado o único
canal de direção profética "legitimo” é o próprio papa e aqueles por ele escolhidos e
controlados.
É inconcebível no papado surgir quaisquer outras fontes de vida, palavra, direção e
inspiração. Se surgirem outras fontes, essas serão caladas. Numa organização assim, tudo
deverá fluir desse príncipe que está acima de todos. Mas quem disse que a Igreja como um
organismo vivo assemelha-se a uma organização comandada dessa forma? Não é sem
razão que Jesus escolheu doze homens e não um substituto! O colégio apostólico
primitivo operava com várias vozes e fluía numa mesma direção com vários homens de
maneira harmônica. Alguém pode ter a última palavra, pode presidir, mas quem preside
deve também se sujeitar de fato e não por mera aparência aos demais irmãos. Assim, o
apostolado bíblico é muito distante e diferente de qualquer tipo de sistema papal atual
praticado em muitos lugares.
Se fôssemos desenhar um corpo anacrônico assim, nosso desenho seria uma figura
deformada de uma cabeça gigantesca com uma boca enorme e os membros todos
atrofiados. Isso não se parece com o Corpo de Cristo funcional, saudável e vivo. É mais um
monstrengo esquisito do que o santo, vivo e harmônico Corpo do Senhor.
Temos diante de nós os dois modelos de obra que podemos legar para o futuro.
Qual deles vamos estabelecer? A resposta a isso definirá a obra nas décadas porvir.
Definirá a Obra na qual você está investindo os seus melhores dias. Queremos reproduzir
o apostolado bíblico ou papado decadente da igreja que perdeu a glória e a vida divinas?
Essa pergunta é extremamente atual quando recentemente comemoramos os 500 anos da
Reforma Protestante.
Originalmente, havia uma razão para Jesus ter escolhido doze apóstolos, doze
homens com características e potencial completamente diferentes uns dos outros. Ele os
colocou no mesmo nível por alguma razão. Em nenhum lugar do Novo Testamento, vemos
o Senhor estabelecendo um deles como “Príncipe Herdeiro” acima dos demais. Na
sequência, quando a igreja se espalha pelos próximos três séculos, muitas “sedes
episcopais” poderosas, numerosas e influentes foram levantadas por Deus. Esses
“epíscopos” ou pastores de pastores não praticavam o modelo de um “papa príncipe”,
como vemos surgir bem mais tarde. Esses primeiros bispos eram apóstolos investidores no
corpo do Senhor. Com uma clara autoridade local sim, mas sem pretensões papais.
Quando isso se perde? Por uma “contingência histórica”, com o colapso do Império
Romano e depois, após as conquistas muçulmanas que varrem o cristianismo do norte da
África, chegando à península Ibérica e também invadindo o velho e cristão Império
Bizantino. Sobra na cristandade apenas a cidade de Roma, e para substituir a antiga figura
do imperador romano, está ali um membro das famílias mais ricas da Europa, que agora
compram a peso de ouro a posição do “Trono de São Pedro”. O papa torna-se, então, um
príncipe secular que possui exércitos regulares, um território sobre o qual governa e uma
autoridade repressiva e centralizadora. Essa figura inquestionável e arrogante tem agora o
poder de matar e, pior que isso, enviar a alma dos rebeldes para o inferno,
excomungando-os da igreja.
Deus nos livre dessas figuras que, a seu modo, a seu tempo e no seu contexto,
duplicam e reproduzem esse tipo de liderança abrutalhada, grossa, impositiva,
inquestionável, implacável e que nada tem a ver com Cristo. Infelizmente entretanto, em
alguns lugares e ambientes cristãos atuais, é exatamente isso que tem acontecido: uma
proliferação de “minipapas” em todo espectro deste nosso “mundo evangélico”.
Sejamos práticos então: você pode ser o papa na obra onde está investindo a sua
vida, ou você pode ser um apóstolo-servo que investe na igreja de acordo com as
Escrituras. O apostolado de Paulo, por exemplo, promove as pessoas, investe, dá
oportunidades, abre caminhos, treina, ganha, ama, serve, gasta-se, libera. Ele afirma:
“Deus colocou-nos, os apóstolos, em último lugar” (1Co 4.9). Ser apóstolo, portanto, nada
tem a ver com cargo ou promoção, não é o tornar-se um príncipe, mas um servo.
Apostolado bíblico não é o que existe aí fora em vários movimentos apostólicos
atuais. Aquela coisa de um apóstolo só, onde o sujeito é tão doente que não consegue
conviver com mais ninguém. Estamos atualmente nessa onda apostólica que mais tem a
ver com competição, títulos, exclusividade e um modelo de personalismo autocrático e
clerical da pior espécie. Ouvi falar recentemente que alguém deixou para trás o título de
apóstolo e foi ordenado “patriarca”. Não é assim que edificaremos o modelo do Novo
Testamento entre nós. Esse tipo de coisa deve nos dar náuseas e provocar em nós absoluta
indignação!
O apostolado genuíno vai levantar muitas cidades como bases fortes em muitos
lugares. Um apóstolo genuíno duplica-se em muitos outros apóstolos igualmente fortes,
cheios da vida e fruto, independentes e capazes de praticar uma genuína autonomia
ministerial. Um genuíno apóstolo não duplica gente fraca, dependente, insegura, sem
identidade, presas com laços de alma a si mesmo. Gente insegura sempre depende de
aprovação para dar mais dois passos adiante. Num apostolado genuíno, cada igreja local
pode evoluir até se tornar também uma base apostólica forte nas mãos de Deus e um
referencial para a região onde está.
Na via inversa, no papado, ninguém pode competir com seu reinado humano. Tudo
é dele, por ele, para ele e em função dele! Não se meta com o “galo do galinheiro” e nem
com o “cavalo dominante” da manada. Alguém nesse espírito é como Saul, que por muitos
motivos perseguirá Davi com ganas assassinas. Gente assim é matadora de chamados e
vocações, sufoca gente inteligente e jamais permitirá que outros melhores do que si
mesmos vejam a “luz da ribalta”! É por isto que movimentos assim sempre desembocam
em uma nova denominação pois é impossível aceitar que outras Igrejas da “comunhão”
tenham algo que a sede não tem!
O apostolado fala de investir nas pessoas, promover outros, servir compartilhando
tudo que tem, o que é, seu tempo, sua energia, intimidade, privacidade e seu dinheiro.
Basicamente, um apóstolo não vive para si mesmo. Veja seus rastros e tire suas conclusões
da obra que alguém edifica e aqueles que o seguem. Assim, o coração apostólico vai
mentorear, abençoar, levantar e liberar, deixando as pessoas livres para cumprirem seu
próprio chamado. Duvide da saúde espiritual e emocional de líderes que nunca liberam as
pessoas e que sempre levam seus relacionamentos com seus liderados ao nível de ruptura.
Daqueles que prendem as pessoas até não aguentarem mais o “ar respirado” que lhes é
oferecido. Duvide daqueles que vêem cansaço como deslealdade.
O papado, precisa centralizar tudo e detalhadamente. Ama aplicar monopólio e
precisa CONTROLAR formas, iniciativas, ênfases, preferências, tudo. Todo papado é
sufocante e extermina a multiforme expressão do corpo do Senhor. No papado, como já
dissemos, as coisas têm que ser dele, por ele, com ele, curvam-se diante dele, sujeitam-se
a ele, paga-se o imposto devido a ele, num total e absoluto controle. Voltaremos a falar de
controle mais à frente.

CAPÍTULO SEIS

O Cristianismo Orgânico e o Cristianismo-Organização

Estou chamando de “cristianismo-organização” alguns modelos denominacionais


que de tão fortes quase perderam seu componente orgânico. A “organização” passa a ser o
fim em si mesmo. Nesse sistema a obra de Deus torna-se refém das necessidades de
“mostrar serviço” para os superiores e em pagar os altos custos que fazem a “roda girar".
Seja o pagamento de salários sejam os custos dos caríssimos prédios alugados, seja o
preço pago para a manutenção de tudo isto. A pressão financeira é enorme, o desgaste
emocional sobre o pastor é descomunal. Nesse sistema é comum pastores e líderes
esgotados, em depressão e vivendo dramas e dilemas absolutamente sozinhos e sem o
contexto seguro e confiável onde possam ser amados e aceitos.
É preciso levar os crentes “à Igreja” no domingo a fim de que a arrecadação não
caia. O dinheiro e as pressões financeiras se tornam um gigante a ameaçar a obra. O
termo “tirar” ofertas e dízimos é bem apropriado. Alguns chegam ao absurdo de usar de
manipulação barata jogando com a culpa (o devorador vai acabar com o que você tem!),
ou com a ganância - (dê isto e aquilo que o Senhor te dará cem vezes mais!). No topo da
pirâmide, entretanto estão aqueles que tem acesso a rendas, receitas, lucros que os
pastores e líderes “normais” jamais terão vivendo exclusivamente para a obra. Um
sentimento de culpa toma o coração dos líderes que nunca vêem a prosperidade dos
grandes chegando a si mesmos. Falar disso é um tabu pois indica incredulidade quando na
verdade a estrutura pesada da organização é que se tornou um sistema injusto e desigual.
A necessidade de se “bater na tecla” dos dízimos diz mais respeito à corda no
pescoço do pastor do que propriamente em ser um tema bíblico. Para sermos mesmo
bíblicos deveríamos ensinar que não somente os dez por cento pertecem a Deus, mas
tudo. Os cem por cento, a nossa vida, nossas famílias, casa, carro, poupança e
investimentos, tudo. Mas é bem mais difícil ensinar os crentes a ouvir e a seguir o Espírito
Santo. É mais fácil fazermos leilão na hora das ofertas... O discipulado que ensina os
discípulos a ouvir e seguir o Senhor é tão fora da realidade, a qualidade dos crentes que
saem do “sistema” é tão baixa que escandalizaria ensinarmos mesmo todo o padrão do
Novo Testamento. Assim ficamos apenas nos dízimos atrelados ao modelo do Velho
Testamento.
No Cristianismo organizado a tendência é “pasteurizar” tudo, padronizar tudo,
fazer tudo acontecer como em uma grande “linha de montagem” de uma fábrica. Em
pouco tempo ninguém mais saberá responder o porque que se faz as coisas desta ou
daquela maneira. A Igreja tornou-se um exército de autômatos “apertadores de parafusos”
que nada mais sabem, de nada mais entendem e tudo duplicam de maneira impecável.
Repetem-se os mesmos cursos, fazem-se os mesmos retiros, pregam-se as mesmas palavras
e fazendo isto estamos fazemos de conta que estamos “ativando os membros". Ledo
engano! Estamos atrofiando os membros que nem sabem mais fazer qualquer coisa fora da
caixinha de sapatos em que se tornou a igreja.

CAPÍTULO SETE

Liderança Orgânica e a Liderança Tóxica

Comecemos tratando de liderança tóxica em contraposição com uma liderança


orgânica. Como podemos definir uma “liderança tóxica"? São líderes que deixam as
marcas do seu comportamento pessoal destrutivo, disfuncional, que infligem sérios
prejuízos aos seus seguidores e às suas organizações. Essas organizações experimentam
uma grande rotatividade em seus quadros e quem sai é logo criticado como alguém com
algum defeito, que foi incapaz de responder aos elevados padrões exigidos. Normalmente
organizações tóxicas sangram perdendo seus melhores líderes por serem incapazes de
lidar com a complexidade, com os problemas e com o potencial de líderes de alto nível. A
falta de liberdade escancara a porta de trás tornando esse tipo de obra um cemitério de
Lázaros!
Líderes tóxicos servem a si mesmos e usam as pessoas e a organização para atingir
seus objetivos pessoais financeiros e de poder. Na Igreja orgânica, por outro lado, num
ambiente saudável, muitos outros líderes fortes surgem capazes de substituir muito bem
aqueles que vieram antes deles. Há dois tipos de líderes tóxicos: o inseguro-passivo e o
colérico-truculento. Ambos deixam o mesmo nefasto rastro de destruição na casa de Deus.
Nada é fruto de uma construção viva e genuína com sua própria equipe.
Os inseguros sempre tem medo de concorrência e por isso se cercam de todos os
cuidados para impedir qualquer competição por parte de quem tem mais vida, mais
unção, mais liderança e mais poder de Deus. Vivem numa eterna obsessão e temor de
serem passados para trás ou traídos.
Líderes tóxicos fogem de ouvir seus liderados e terem um retorno honesto. Sempre
fazem as coisas acontecerem na base de sua própria vontade ignorando ou recebendo o
apoio passivo de um grupo de líderes apáticos que nunca partilha suas próprias idéias,
opiniões e iniciativas. Se o fazem, são ignorados e se surge alguém também forte será
rapidamente triturado pela estrutura e pelo sistema.
A liderança tóxica é também narcisista. Eles tem um senso exagerado de sua própria
importância e acreditam que são especiais de alguma forma colocando-se como modelos
idealizados a tal ponto que se torna impossível duplicar seus passos pois tornam-se
supermodelos distantes e irreais. O problema é que os que os seguem acabam por se sentir
culpados ao não experimentar os mesmos resultados, influência e nem prosperidade.
Líderes tóxicos manipulam seus liderados. Pregam uma “unidade” em torno de resoluções
feitas apenas por eles mesmos. Todos devem repetir os mesmos mantras e chavões até que
o chefe se canse daquela temporada e daquela ênfase e parta para a seguinte e assim
sucessivamente. Vão chamar isso de unidade quando é também falta de opção. As
direções nunca são resultado de oração conjunta mas das idéias de um homem só e
sempre.
Muitas vezes debaixo de uma liderança tóxica os liderados sob intimidação sentem-
se inadequados, com medo, reprovados, menos espirituais ou ridicularizados
publicamente. Como os líderes tóxicos não toleram a diversidade, a mínima discordância
é vista como profunda deslealdade. Quem não diz sempre “sim” cairá em desgraça e
desfavor. A unidade, portanto torna-se uma panela de pressão. Diz-se ter liberdade mas
ninguém ousará discutir com “deus”. Líderes assim não descem ao nível dos seus liderados
deixando-os confortáveis e diminuindo de estatura, ao contrário, seu ego é grande demais
para diminuir.
Criam sempre e invariavelmente prisões de alma naqueles que os rodeiam levando-
os a depender emocionalmente de sua aprovação em cada aspecto da vida. Essa talvez
seja a mais nefasta característica. Depender de alguém, dono dos oráculos divinos para
lhes fazer se sentirem bem e no caminho certo. Uma insegurança e uma co-dependência
absurda e malígna são criadas. Uma autêntica simbiose entre um pequeno rei e um
séquito de seguidores fracos é o resultado disso. O rei precisa daqueles, e aqueles
precisam do seu rei.
Líderes tóxicos fazem muita coisa mas sua marca final é a ineficiência ao deixarem
para traz mais gente excluída do que gente dentro do barco. Parecem altamente eficazes,
mas sua eficácia é mascarada pelos números estratosféricos dos que vieram, ficaram por
um tempo e se foram. O pior é que os que se foram tornam-se vacinados contra qualquer
outra experiência de igreja semelhante àquela.
No longo prazo a liderança tóxica que deu tanto resultado inicialmente produzirá
um exército queimado e esgotado de soldados feridos. Insatisfação generalizada, baixa
produtividade, conflitos, pouca inovação e estagnação serão o futuro disso tudo. Pouco a
pouco uma estrutura assim terá um exército de gente desmotivada que deu tudo o que
tinha mas que jamais foi reconhecida pelo seu trabalho árduo e lealdade de coração. Os
que serviram sem reservas verão ser reconhecidos os “preferidos do líder”. Em muitos
casos pessoas que nunca deram frutos ou serviram com o mesmo emprenho e dedicação.
Infelizmente e historicamente, a tendência é que quanto mais velha a estrutura mais
engessada e mais avessa a ouvir as vozes da periferia e das pontas. Por isso, todo
movimento de renovação não vem do centro do poder, mas dessas mesmas periferias. Em
cada geração as estruturas envelhecem e basta vinte e cinco anos para uma obra ficar
velha e ser incapaz de ouvir, mudar, renovar-se. É comum que o que foi avivamento dá
lugar a um sistema rígido onde a estrutura tornou-se surda e insensível deixando atrás de si
um rastro de destruição e de gente magoada, mal resolvida e ressentida. Todos os que se
foram são sistematicamente criticados para justificar seus sistemas que fabricam gente
infeliz e cansada.
Na via inversa disso há a uma liderança-serva e orgânica. Uma liderança orgânica
reafirma, investe, promove, inspira, dá liberdade e na última fase deixa ir. Funciona
exatamente como lidamos com os nossos filhos naturais. Seria doentio sermos pais que
jamais deixam seus filhos se casarem, constituírem suas famílias e irem viver os seus
próprios sonhos. Desejamos o melhor para os nossos filhos naturais. Deveria ser o mesmo
para os nossos discípulos e para aqueles obreiros que estão sendo gerados sob nossa
liderança. Nenhuma comunidade genuína pode ser criada quando isso não acontece pois
para haver comunhão verdadeira é preciso haver humildade, vulnerabilidade,
relacionamento.
O problema todo está na necessidade de fazermos crescer uma grande e vistosa
organização que promove o homem e joga confetes sobre o seu ego. É incompatível
termos ao mesmo tempo grande organizações, mega igrejas e uma liderança que libera e
deixa ir. Precisamos do discurso e da narrativa da fidelidade, lealdade, honra e
compromisso com a equipe para segurar as pessoas todas ao nosso redor e
indefinidamente. Sei que posso parecer radical, mas não consigo ver como algo bíblico a
dependência que se cria debaixo de certos líderes que passam a definir o futuro e os
destinos dos seus liderados. Não vejo tal poder extremado nas Escrituras. Isso vai na
direção contrária da autodeterminação e da necessidade de cada discípulo aprender a
ouvir, seguir e obedecer à voz do Espírito Santo.

CAPÍTULO OITO

Sermos a Videira de João 15 e não um Cedro

Escolher as plantas para estarem debaixo de um cedro representa um grande


desafio, pois eles não só bloqueiam a luz solar e impedem que a humidade chegue ao
solo, como também sugam toda a água ao redor. Para as plantas que se desenvolvem sob
uma árvore de cedro, é necessário tolerar a sombra e solos muito secos.
Na Igreja primitiva além do peixe, a Igreja era representada como uma videira. Em
nossa prática de liderança, deveríamos edificar no perfil da videira, e nunca no perfil do
cedro. A visão e a prática de “cada crente, um sacerdote” refere-se à videira
exclusivamente, e nunca ao cedro. Isso deve ser para nós definidor de rumos, de visão, de
estrutura, de estilo, de ênfase e de prática. É nisso que devemos, todos nós, investir nossa
existência inteira. Desde muito cedo, decidi jamais edificar no modelo do cedro. Veja a
seguir o que Deus afirma acerca do cedro:

“Pois o Senhor dos exércitos tem um dia contra todo soberbo e altivo, e contra todo o que
se exalta, para que seja abatido;  contra todos os cedros do Líbano, altos e sublimes; e
contra todos os carvalhos de Basã; contra todos os montes altos, e contra todos os outeiros
elevados; contra toda torre alta, e contra todo muro fortificado; e contra todos os navios de
Társis, e contra toda a nau vistosa. E a altivez do homem será humilhada, e o orgulho dos
varões se abaterá, e só o Senhor será exaltado naquele dia. Isaías 2.12-17

Qualquer um que decidir viver perto de um cedro deve desistir de ver a luz e
desfrutar de umidade. Os cedros são árvores fortíssimas que “monopolizam” totalmente o
espaço onde estão. Todas as demais plantas que estiverem perto de um cedro sofrerão
sempre com sua tendência de usar a luz e a água exclusivamente para si mesmos. Note
bem que esta é uma maneira de edificação. Para os demais, sobrará as sombras e uma
terra seca e árida. Cedros não lidam muito bem com companhia e “concorrência”. São
sempre donos exclusivos do “pedaço”. Precisam saber de tudo sempre e em todo lugar.
Têm uma necessidade de serem únicos e atrair toda exclusiva atenção para si mesmos.
Cedros nunca têm perguntas. Já sabem todas as respostas, são categóricos, dogmáticos e
absolutos!
Infelizmente, um cedro no meio da igreja, em vez de levantar outros líderes fortes,
terão sempre a tendência de sugar toda a vida ao redor de si. É como um buraco negro
espiritual que inibe, deprime, sufoca quaisquer outras lideranças ou expressões divinas ao
redor. Perto de um cedro, a “multiforme sabedoria de Deus” será reduzida à “uniforme
sabedoria do homem”. Lamentavelmente, vemos prosperar inúmeras obras assim.
Movimentos que lá no passado representaram uma golfada de frescor e de vida, hoje são
obras de um apóstolo só, um bispo solitário, personalista, autocrático e muitas vezes
imperial.
Por que isso é tão grave? Porque não é o modelo de igreja do Novo Testamento e
nada tem a ver com o referencial apostólico da genuína “tradição apostólica” legada a nós
como referencial. Pode ser muito oportuno e bom para o homem que ocupa o topo da
“cadeia alimentar”, mas isso não é igreja neotestamentária. De fato, é a manifestação
daquele tipo terrível de clericalismo pseudo-apostólico. A Bíblia diz que Deus é contra
todo o cedro do Líbano e fala também sobre o seu machado posto sobre o tal cedro.
Será que Deus tem problema com alguma forma de vegetação e de árvore? Qual a
diferença entre a videira, que é Cristo, e o cedro? Por que Jesus escolhe essa planta, a
videira, para nos dar seu modelo de edificação? Ele o faz a fim de referir-se a mim e a
você, à nossa conexão uns com os outros, à nossa unidade uns com os outros e à nossa
ligação com Ele mesmo. Jesus está revelando aqui seu modelo de edificação. A videira de
João 15 expressa o Grande Mandamento e o ambiente vivo de uma igreja que vive como
uma genuína família.
Sabe qual a diferença entre o tipo de crescimento da videira e o do cedro? Uma
videira nunca cresce para cima. Ela não tem “natureza”, estrutura e modos de crescer para
o alto. A Videira cresce para os lados. Essa característica maravilhosa possui um
significado que se torna referencial para nós. O “interesse” da videira nunca é ser vista e
destacar-se acima dos demais galhos num tipo de crescimento doente. Se isso acontecer,
caracteriza-se como uma anomalia doente da videira.
Uma videira normal se espalha, conecta-se, abençoa as pessoas, toca e nutre-as
com cachos de uvas e frutos fáceis de serem alcançados. Ela não busca se destacar. O
cedro, por outro lado, sempre cresce para o alto. Parece pleonasmo, mas é exatamente
esta a ideia: cresce para cima. Ele tem de ser visto de longe e receber toda a glória e não
suporta outros por perto. Sua altura nunca é compartilhada e usará de todos os meios para
monopolizar tudo ao seu redor fazendo toda a igreja sofrer. Vemos isso na igreja romana e
decadente da Idade Média.
Uma de nossas escolas bíblicas funcionava em num sítio, e lá havia um lindo cedro.
Era antigo, o caule muito grande, uma árvore que crescera muito. Tornou-se uma árvore
muito alta, chegando a uns vinte e cinco metros de altura. No lugar onde estava plantado,
não havia outras plantas. Era uma árvore nobre, imponente e solitária. Era como se o cedro
dissesse: “Eu preciso aparecer, preciso me destacar, e ai de você se chegar perto de mim,
competindo com a minha gloriosa formosura!” Aquele cedro era visto de longe mas estava
lá sozinho.
Entretanto, o que é mais interessante, diferentemente da videira, é que ele não
produz frutos, não alimenta ninguém, toda a sua seiva destina-se exclusivamente para si
mesmo. Cedro não produz nada! Há uma única coisa para a qual o cedro é muito bom:
ser cortado a fim de que a sua nobre madeira seja utilizada para se produzir muitos
móveis. A videira, ao contrário, dá o seu fruto doce e qualquer um, até uma criança, pode
estender a mão e colhê-lo. O fruto da videira é alcançável e não serve ao propósito de dar
glória e destaque a um único homem. Nenhum dos ramos da videira se sobrepõe sobre os
demais e não há uma parte dela com “ganas clericais”. A videira é pelo corpo todo e sua
seiva e frutos se distribuem também para o corpo todo. Por essas características a videira
como planta representa tão bem o modelo orgânico da Igreja dos primeiros dias.
Que lindo modelo do “cada crente, um ministro; cada igreja, uma sede apostólica
pioneira e plantadora de igrejas; cada pastor, um apóstolo-servo poderoso em palavras e
obras”! Este deve ser o nosso encargo: levantar a todos e nunca inibir, sufocar, reprimir,
intimidar e afastar os irmãos. Essa visão refere-se a levantar muitos outros centros de
influência apostólicos, muitos outros líderes apostólicos e não apenas um ou dois
assentados sobre o “trono de São Pedro” numa Roma contemporânea.
Infelizmente, várias expressões do maravilhoso movimento da restauração
terminaram exatamente assim: dois ou três “papas” reivindicando para si mesmos a
autoridade exclusiva e sua cidade, como “Sé Romana”, a partir de onde sua influência
exclusiva pudesse arrebanhar o maior número possível de seguidores oferecendo ou
impondo uma “cobertura espiritual”. Esta foi a causa de uma das mais tristes decepções
que experimentei nos anos de vida cristã e no ministério.
Você é chamado para ser a videira de João 15, e não apenas isto, deve estar
firmemente comprometido em ser contra qualquer clericalismo que faça sofrer a igreja de
Cristo. Não seja você mesmo alguém que duplica uma liderança tóxica. Seja um líder que
frutifica, que cresce no ministério da Palavra, um líder que serve, alguém que Deus usa no
ambiente simples da igreja, com unção e com vida para produzir seu fruto. Fruto
alcançável para o irmãozinho simples, para gente que não precisa ir longe a fim de se
alimentar e ser abençoado, para se refrescar na sombra das suas folhas. Isto é uma igreja
orgânica.
Deus nos livre de sair dessa edificação para o modelo nocivo do cedro. Esse modelo
clerical sempre desemboca em uma “Torre de Babel” erigida para algum “apóstolo” que
precisa ser aplaudido, adulado, refletindo todo o glamour do cedro. Quanto a nós,
multiplicaremos líderes fortes, pastores maduros e hábeis na Palavra e na liderança, gente
que anda com pernas próprias. Vamos ver surgir inúmeras sedes apostólicas espalhadas
pelo mundo todo, cujos pastores sejam levantados por Deus como apóstolos-servos,
chamados para se multiplicarem como a videira de João capítulo 15.
Nas igrejas, estimularemos o “cada crente, um ministro”, fazendo dos nossos
presbitérios também um lugar assim que inspira, encoraja, promove e libera as pessoas
para atingir seu pleno potencial. Vamos investir e viabilizar os sonhos ministeriais dos
membros do Corpo! Deus nos livre de sermos nós mesmos um cedro, de estimulam
lideranças “estilo cedro”, tolerarmos os cedros e, pior de tudo, jogarmos confete nesse tipo
de modelo cedro neoclerical. Quanto a nós, desejamos edificar no modelo de uma
liderança também orgânica.

CAPÍTULO NOVE

Edificando Conteúdo e não Fórmulas

O que buscamos e priorizamos, “mera forma ou conteúdo”? Formato ou realidade?


O que priorizamos? Seja sincero. O que nos preocupa mais é o formato, o rótulo, a cara,
as aparências, o exterior das coisas, o nome, a marca, o registro, a patente, a terminologia?
Não deveríamos jamais negociar o conteúdo, a realidade das coisas espirituais. Devemos
edificar conteúdo, sempre!
Quando ministramos e ensinamos o fazemos apenas porque está no nosso “menu”?
É só para cumprir uma agenda, lançar o conteúdo como dado numa planilha? Ao contrário
disso, devemos levar os irmãos à poderosa revelação e depois à a uma viva e marcante
experiência em cada uma daquelas verdades maravilhosas, Estamos tocando gente na
mente ou impactando seu espírito? Nosso ensino é apenas algo qualquer ou causou uma
profunda impressão definitiva naquele discípulo amado?
O seu anelo mais íntimo deveria ser o de ganhar revelação de cada verdade
fundamental em sua vida. Desejar experimentar isso, expressar o caráter e a beleza de
Cristo em sua vida e em todos os seus relacionamentos. Nunca, jamais, apenas se
contentar em adotar fórmulas, nomes, marcas e terminologias. O nosso desejo mais
profundo deveria ser o fazer a obra e edificá-la, priorizando o conteúdo, não teoria e
jamais a forma. Deveríamos ser firmes em jamais aceitar um formato sem conteúdo e
essência. Tampouco a palavra ministrada deveria ser meros chavões e frases de efeito. É
mandatório que o que compartilhamos na vida da igreja seja essência e conteúdo.
Qual a razão de ensinarmos que cada crente é um ministro, cada crente, um
templo? Por que primamos tanto por essas coisas? É só um preciosismo tolo ou é um
fundamento inegociável? Se desejamos mesmo ser uma Igreja neotestamentária, orgânica,
devemos gemer diante de Deus se percebemos que em alguma área de edificação ficou
apenas a forma vazia sem o brilho da vida, da essência e do conteúdo de outrora. Na
Igreja nas casas, seu modelo e dinâmica, servem para expressar a essência do nosso
chamado, seus princípios, aquele ambiente rico, onde cada crente funciona e desenvolve-
se. As Igrejas, cada uma delas, portanto, não podem ser apenas uma estrutura interessante
e criativa. Devem ser muito mais. São nossa volta ao modelo da igreja de Atos dos
Apóstolos. É ali onde vivemos a “vida da igreja”.
Somos o templo do Senhor, e quando você chega, Ele chega; quando você toca em
alguém, Ele toca. É mais do que formato e aparência. É conteúdo e realidade!!! Você foi
chamado para ser esse templo glorioso onde estiver, a fim de expressar não a forma, mas o
conteúdo. Isso vai determinar que tipo de obra nós vamos continuar sendo daqui a dez,
vinte, trinta anos. Quem prima por manter formatos e terminologias acabará guardando as
aparências das coisas, enquanto a realidade delas já desvaneceu há muito tempo.
Oh! Que sejamos ortodoxos naquilo que Ele, o Senhor, nos confiou como obra. Seja
firme em nunca negociar valores, princípios, revelação, vida e a realidade experimental
das coisas que Deus nos tem dado como igreja. Queremos o conteúdo, a realidade, a
experiência ganha na vida dos discípulos. Desejamos o mover genuíno do Senhor, e não
as aparências das coisas. Deus nos livre de ser o povo dos mil rótulos, marcas, logotipos
descolados, marketing eficiente, terminologias, da patente registrada, porém sem a sua
vida e a essência de Cristo e do fluir do Seu Espírito.

CAPÍTULO DEZ

Pais e Mães Espirituais e não Patrões

O apóstolo Paulo estabeleceu um tipo de relacionamento com sua equipe que ia


muito além de um time de vendas. Ele se refere a um deles, Timóteo, como “verdadeiro
filho”. Esta geração é uma geração sem pais, é uma geração que não possui referenciais e
nem conhece a noção de paternidade, por isso falta propósito. É papel da mãe alimentar; a
mãe protege, acolhe e envolve o filho em um ambiente de amor. Entretanto, é o pai que dá
propósito. Por isso, esta geração vive navegando num mar sem direção, correndo atrás de
futilidades, de coisas que satisfazem apenas a sua fisiologia e ventre, sem nunca ter a
percepção de que a grande questão da vida é bem mais profunda do que isso. Só
alcançamos satisfação, significado e relevância quando encontramos propósito. E isso
quem compartilha são verdadeiros pais espirituais. Quem dá norte, bússola, direção
normalmente é um pai. Por isso, Deus nos chamou para sermos pais, e não patrões em sua
casa.
Vivemos hoje a “febre do movimento do coaching” onde milhares de pessoas
pagam para serem mentoreadas e acompanhadas por um tempo por um coach
profissional. Há de tudo nesse ambiente, desde gente que trabalha apenas com auto ajuda,
outros usam estratégias motivacionais e outros ainda que são muito efetivos desenvolvendo
habilidades práticas. Tenho respeito por quem faz isso ajudando as pessoas a encontrar seu
rumo.
Objetivamente, entretanto, o que falta mesmo são pais e mães espirituais a fazer
esse papel. Está implícito nessa busca por ajuda. Esta é uma geração órfã que grita por
paternidade espiritual! Vejo por outro lado na Igreja muitos que criticam esse movimento
do coaching combatendo essa busca por um mentor que sirva de referencial. Ora não
adianta criticar o sintoma sem ir direto à causa! A realidade hoje é que a Igreja não tem
oferecido discipulado bíblico, comunidade e paternidade espiritual. O cristianismo-
organização peca por não viver o ambiente do Grande Mandamento. Vive-se mais o
ambiente empresa com foco na Grande Comissão. Isso dá mais resultados mensuráveis!
Infelizmente a igreja está cheia de patrões mas faltam pais. Não podemos estragar
para sempre os relacionamentos, oferecendo a dinâmica errada de estar recrutando
empregados que são descartados diante do menor problema. Ao vivermos isso, passamos a
informação de que pessoas valem lixo! Diante de uma temporada de falta de resposta,
serão todos descartados e deletados. Pessoas não são objetos que depois do uso podem ser
encostados. Nós líderes seremos cobrados por Deus se aplicarmos esse tipo de “liderança
pragmática” sem compaixão e sem respeito pelas pessoas.
Fico chocado quando vejo pessoas que responderam, serviram e entregaram-se por
anos a fio serem sumariamente “decapitadas” por terem dado uma resposta menor do que
certos irmãos esperavam. Avaliações implacáveis são feitas sobre quem esteve ali servindo
fielmente por anos a fio. Diante de um pretenso “faro” de deslealdade, gente que esteve ali
servindo por anos e anos é lançada ao lixo. Fico imaginando Pedro e todos os discípulos
do Senhor, o que seria deles, o que seria de nós se Jesus praticasse esse tipo nocivo e
implacável de critério? Não me admira que em ambientes assim haja mais crentes
desviados fora da igreja do que dentro dela.
Às vezes, vejo em algumas obras gente ser mandada para o paredão de fuzilamento
sem dó, sem temor e sem nenhum peso de consciência. Quem faz isso está em pecado
contra o Corpo, especialmente quando estamos envolvidos em treinamento de líderes. O
pior é que essa atitude e mensagem é passada a todos aqueles que estão na fila vendo as
coisas acontecerem. A conclusão é: “o que está acontecendo com aquele infeliz é
exatamente o meu destino amanhã quando chegar a minha vez”. Em relacionamentos nos
quais as pessoas valem nada, elas são tratadas como empregados. Normalmente, tais
empregados são apenas comunicados dos eventos, das metas e alvos. Filhos, por outro
lado, são trazidos para perto, envolvidos, desafiados e inspirados. Filhos participam de
todas as fases dos processos, enquanto empregados ficam na fila aguardando ser
comunicados pela chefia. Quando eu fiz escola bíblica, o que me inspirava era a
generosidade e o amor daqueles irmãos que nos discipulavam para o ministério. Em
algumas escolas bíblicas de hoje, eu não duraria um dia sequer.
Ao treinarmos líderes, muitas vezes somos tentados a priorizar a disciplina em
detrimento da inspiração. Se é assim, formaremos gente hipócrita, que diante de nós diz o
que esperamos ouvir, vestem-se como exigimos, comportam-se como um bando de “anjos
desinfetados”, mas por detrás aprontam todas. Se priorizamos a disciplina, estaremos
passando a mensagem de que vale mais a forma, a vestimenta, as aparências, o linguajar
do que as realidade do Espírito. Eu jamais iria para uma escola bíblica que valoriza mais
como dobro as minhas toalhas e arrumo as gavetas, do que o meu relacionamento com
Deus, o meu ouvir o Espírito Santo e o meu fluir nas coisas espirituais. Se nessa escola
bíblica exige-se mais acerca do seu corte de cabelo do que a sua habilidade de ver Cristo
nas Escrituras, faça-me um favor: saia rápido daí. Essa gente não merece a sua entrega e
dedicação!
O tipo de relacionamento que você estabeleceu com os irmãos da igreja é o de
patrão com empregados e subordinados? Sua forma de lidar com as pessoas é sempre de
cobrança? Diante de metas não batidas, as desqualifica diante dos demais membros da
equipe? Alguns irmãos transformam o discipulado em algo cruel, duro, abusivo, porque se
veem exatamente assim. São patrões. Um patrão não se importa com você, com seus
empregados, pois todos são substituíveis. O tom de cobranças e críticas abusivas é a
normalidade. Não estou falando de falta de responsabilidade e compromisso com o bom
funcionamento das coisas. A grande questão é: que tipo de vínculo nós estabelecemos em
todos os níveis de liderança que temos dentro da igreja? Da equipe dos diáconos, no
louvor, com os jovens, na rede de crianças, entre obreiros ou até entre discipuladores, e
pastores. Qual relação estamos construindo? A relação é a de patrão com um bando de
“idiotas úteis” e descartáveis? Isto seria algo inaceitável!
O próprio Senhor defenderá seus filhos de gente abusiva assim. A mensagem que se
passa é mais ou menos a seguinte: “Você está aqui para me servir; se falhar em alguma
coisa, tem muita gente na fila esperando por oportunidade! Não quer do meu jeito? A
porta da rua está aberta, pode ir embora, pois há muita gente aguardando a vez!” Esse tipo
de coisa deve nos encher de indignação e zêlo pelo Corpo do Senhor. É assim que você
trata o seu filho, a sua filha? É assim que é a casa de Deus de acordo com o Novo
Testamento? Não! É assim que Paulo lidava com as pessoas, com os demais apóstolos e
com os irmãos? Era assim que Jesus tratava os seus? Definitivamente não!
Deus nos chamou para ser pais espirituais desta geração. Isso atrairá as pessoas a
viver no melhor lugar do mundo para se estar. Vão achegar-se à vida da igreja famílias
disfuncionais, homens, mulheres, adolescentes e jovens totalmente perdidos e rejeitados lá
fora. Pessoas que usavam drogas e estão com a vida arruinada, aqueles que cederam à
prostituição e à homosexualidade desenfreada. Gente escrava da pornografia e
masturbação e que viveu décadas dentro da Igreja sem poder abrir seus pecados por medo
e desconfiança. Na Igreja orgânica vão se achegar porque encontraram um lugar de
aceitação incondicional e sem julgamentos prévios, um ambiente livre de juízo,
comparações ou rejeição. Vão se aproximar porque encontraram um lugar de amor
generoso, de investimento paciente e principalmente de paternidade. Na paternidade há
confiança suficiente para ser transparente, vulnerável e não ter mais segredos que
escravizam.
Guarde esses fundamentos para que a igreja do Senhor possa crescer. E não permita
que esse espírito de paternidade e de investimento seja trocado por uma atitude patronal
onde as pessoas são obrigadas a fazer o que você quer, na hora que quer, do jeito que
quer sob pena de serem excluídas, demitidas ou rejeitadas. Se alguém vive isso em algum
lugar, está desfigurando a igreja. Isso não é e nunca foi igreja, isso é uma empresa, é como
um Banco! Esse tipo de ambiente compromete o crescimento da igreja, pois as pessoas
acabam percebendo que nada ali lhes pertence. São meros trabalhadores braçais de uma
organização a vender um serviço para a clientela e cobrando o alto imposto dos dez por
cento!
Em tempos de redes sociais, basta um “click” para um movimento de massas ser
iniciado implacável, impossível de ser contido. Tais organizações abusivas sem pais
espirituais estão com os dias contados. Um novo modelo de obra está surgindo. Milhares
de irmãos sabem que há algo profundamente equivocado no modelo de igreja-
organização. Prevejo que grandes igrejas que vivem esse modelo patrão-empregado ao
invés de praticarem a santa paternidade bíblica, perderão milhares de membros, famílias,
jovens que sairão em busca de algo mais vivo e bíblico. É por isso que devemos buscar
sistematicamente o modelo orgânico de edificação. Os tempos urgem pois os tempos são
outros.

CAPÍTULO ONZE

Discipulado e não Gerência

Outro perigo enorme, especialmente em ambientes que negligenciam o Grande


Mandamento em favor da Grande Comissão, é transformar o discipulado em gerência.
Fazendo assim, troca-se o cuidado pastoral pelas ovelhas, perde-se a percepção do valor
das pessoas e tudo se transforma em uma roda viva em torno de meros alvos estabelecidos.
O foco e prioridade são transferidos das ovelhas para os alvos. Isso não quer dizer que não
devemos ter metas. Ter alvo é ter parâmetro, é mobilizar e maximizar os recursos que
temos de modo sábio. É ser responsáveis e bons mordomos com aquilo que o Senhor nos
deu. Não é disso que tratamos quando falamos de discipulado-gerência.
Está corretíssimo estabelecermos alvos. Devemos estabelecer metas para o
evangelismo, para as conferências e até alvos financeiros. Isso é um parâmetro bom e
saudável, é ter um rumo, uma baliza, um referencial do que se deseja alcançar, de onde se
pretende chegar. O melhor a fazer é estabelecer esses alvos junto com todos os envolvidos
no processo e como resultado de oração conjunta. A Igreja mobilizada pelos seus líderes
ora e define os seus alvos de crescimento juntos! Isso é ótimo. Você orou, buscou a Deus,
conversou com a equipe e definiu o alvo, que se torna uma posição de fé conjunta de toda
a igreja.
Outra coisa, entretanto, bem diferente é a postura do gerente da sapataria ou da
fábrica de biscoitos, da pastelaria ou da equipe de vendas. Nesses ambientes de gerência
voltada para os resultados e metas, você não significa nada. As coisas funcionam na base
dos interesses e da ameaça da “linha de corte”. O expediente da humilhação, desrespeito,
ironia e sarcasmo é o que define um ambiente assim. É tudo massificado. Tudo envolve
números, percentual, relatórios frios, gráficos e estatísticas, pois é isso mesmo o que você
vale para um gerente: um réles número!
Alguém quer lá saber o que você sente, pensa, anela ou aspira? Alguém está
preocupado em saber se você tem alguma necessidade? Se for falar de unção ou de
encargo, vão rir na sua cara! O gerente está focado exclusivamente em bater a meta e
mostrar um relatório impressionante para o diretor da empresa. Quantos visitantes?
Quantos convidados foram ao retiro? Números, números e números. Em um ambiente
como esse, os vínculos de discipulado perderam o significado e já não tem mais o
componente pastoral, cheio de amor, encargo, amizade, cuidado, liberdade, confiança e
zêlo.
Alguém que age assim na vida da igreja está no lugar errado. Alguém assim deveria
trabalhar em um banco privado, e não na igreja do Senhor. Lá você pode esganar seus
subordinados para bater as metas, pode cobrar o que quiser sem levar em conta as
pessoas, pode oprimir seus subordinados, focando exclusivamente nos seus alvos. Pode
abusar de crueldade e de todo tipo de manipulação, só não venha fazer isso na igreja do
Senhor! Se um grupo de discipulado transformou-se nisso, se um presbitério local virou
isso, se a reunião das irmãs está reduzida a isso, todos precisam se arrepender do seu
grande pecado e do imenso desserviço causado contra o corpo do Senhor. A consequência
imediata disso será um ambiente desmotivador, opressor, que desembocará na decadência
ministerial. Por favor não pague para ver!
Pouco a pouco, essas pessoas que vieram cheias de sonhos e ideais, voluntárias no
trabalho de Cristo, investindo seu tempo e energia pela causa, acabarão descobrindo que
entraram numa “fria”, num grande esquema, numa esteira enorme de uma linha de
produção de uma fábrica que você chama de igreja. Vão pular fora até não sobrar mais
ninguém sobre quem o gerente ou a “gerentona” possa dar os seus chiliques.
Queremos viver discipulado ou vamos transformar essa visão maravilhosa de igreja
orgânica apenas em gerência? Precisamos de um profundo encargo pelas vidas, enxergá-
las para além das aparências, e não medi-las pelo que trazem, rendem ou fazem de
vantajoso. O paradigma é o relacionamento, a comunhão, o andar juntos, a inspiração
pura e pastoral, é dar suporte, investir nos sonhos e anelos desses irmãos. É dessa forma
que alcançaremos os alvos propostos numa atmosfera de encargo e santa empolgação. É
pegar um Lázaro que Jesus ressuscitou, tirar a venda dos seus olhos e começar a
compartilhar visão, desafio, inspiração. É tirar as amarras das suas mãos, que o impediam
de agir, de trabalhar e compartilhar ferramentas. É treiná-lo, discipulá-lo. É tirar as amarras
dos pés e caminhar com ele até que consiga se firmar com pernas próprias recobrando a
dignidade e a agilidade. Precisamos cuidar da igreja e cuidar da igreja não é enxergá-la
como uma linha de produção. Deus o chamou meu irmão, para ser um discipulador. Se
não sabe fazer isso, procure descobrir quem faz bem e aprenda. Siga modelos. Viva a vida
comum da igreja.  Isso nos leva à próxima questão fundamental de uma Igreja orgânica:
devemos priorizar o significado das pessoas e não o que rendem.

CAPÍTULO DOZE
Significado e não Rendimento

Eu valho o que significo ou o que trago de lucro? Depende de onde estou. Se estou
numa empresa eu valho o que trago de lucros e ganhos sim. É isso que norteia a
contratação de funcionários. Mas e na Igreja? Há pessoas maravilhosas que rendem muito,
trazem muitos visitantes, ganham muitas almas, consolidam muitos. Gente brilhante, que
discipula, multiplica o discipulado e treina muitos líderes. Glória a Deus por esses e que
continuem fazendo isso! Mas a grande pergunta é: e quando isso não acontece? Ou
quando acontecia e parou de acontecer? Um exemplo: um jovem na igreja, entre seus
dezessete e dezoito anos, estava em todos os cultos e reuniões de oração pela manhã, era
presente em todas as reuniões e era sempre ativo. Estava em todas as programações e
conferências da igreja. Esse tal jovem, seguindo o curso normal da vida, terminou o ensino
médio e agora decidiu fazer o vestibular para medicina. Ele sempre foi cheio do Espírito
Santo, ama a Deus, frutificou muito, já ganhou muitas vidas para Cristo, agora precisa tirar
tempo para estudar e estudar muito, estudar feito um louco a fim de entrar na
universidade. Além disso, ele trabalha meio período nos negócios do pai. A primeira
consequência na vida de um jovem assim, nessa temporada da vida, é que não vai mais
render o que sempre rendeu antes. Ele não vai levar para a igreja tantos visitantes como
costumava levar. Para se profissionalizar precisa por foco nos estudos por uma temporada.
Nesse tempo ele não vai estabelecer uma célula evangelística temporária como antes
fazia.
Os primeiros comentários de um “gerente” seria: “você está perdendo a visão, está
perdendo o coração, cobiçando as coisas do mundo”. Este é o grande teste, não para o
rapazinho, mas para o seu líder. Aqui está a grande pergunta: ele vale o que significa ou o
que rende? Ele é da família ou apenas um escravo de uma organização impiedosa? Não é
ele quem responderá a esta pergunta, é seu líder!
Eu posso perguntar também se valho o que produzo nessa igreja ou o que significo
como gente, como pessoa? O discipulado que vivemos é algo temporário ou é para a vida
toda? O que eu realmente significo: sou filho de Deus, sou amado, sou parte da família,
sou parte da igreja orgânica, independentemente de qualquer fase na minha vida? Ou isso
aqui é só uma temporada na qual depilam-se as ovelhas e comem-lhes as carnes e usam
os ossos como adubo?
Algo comum na igreja é ouvir que amizades e relacionamentos envelhecem. Isso é
verdade. Relacionamentos de amizade e de discipulado não são como um casamento.
Podem, sim, ser temporários até cumprirem um propósito. O que me incomoda é pessoas
na casa de Deus usarem isso como justificativa de ir deixando no seu rastro uma fila de
cadáveres de Lázaros mortos, sepultados e cheirando mal. Incomoda-me usarem isso
como justificativa “espiritual” para ignorar, deletar e afastar pessoas do seu círculo de
proximidade. Gente insensível e de platina. Ora, gente assim nunca será o modelo de
Cristo!
Corremos o risco de tratar as pessoas como coisas, vendo apenas o momento, e não
as décadas que estão adiante de nós. As pessoas precisam ter segurança de que o nosso
investimento é de longuíssimo prazo, é para a vida toda, é nosso projeto existencial muito
além de uma temporada, além de uma mera jornada de crescimento. Em longo prazo, isso
é que fará toda a diferença. Se nós aplicarmos o princípio equivocado de valorizar as
pessoas na base do que elas rendem, pelo retorno que dão, pelo que elas produzem,
vamos machucar muita gente, vamos ferir muita gente, excluir dos nossos relacionamentos
muita gente querida, inteligente, brilhante. Vamos tornar a vida dessas pessoas
extremamente desconfortável.
Alguns casos, algumas excessões podem ter a ver com gente que desistiu mesmo da
caminhada, entretanto não é disso que estou tratando aqui. Eu mesmo, daqui uns anos,
não vou render mais o que estou rendendo, não vou mais conseguir viajar como viajo, não
vou pregar tanto quanto prego hoje, não vou frutificar como de costume. E aí? O que você
fará comigo? Vai me excluir também? Quando eu não corresponder mais às suas altíssimas
expectativas, ou quando você descobrir as minhas falhas, vai me jogar no lixo também? Eu
valho para você o que rendo, o que produzo ou o que significo? Vai me ignorar, me deixar
de escanteio, me deletar? Não rendo mais como antes para a visão, então acabou a minha
utilidade? Só presto enquanto sou útil? Nós amamos as pessoas porque elas são
importantes para nós e são da família de Deus. Cuidado, pois o que você faz com os
outros é exatamente o que farão com você no futuro.

CAPÍTULO TREZE

Um Perigoso Tripé de Ensino

Durante vários anos busquei aprender os princípios e uma estrutura adequada para
fazer discipulado. Errei inicialmente por não saber exatamente como estabelecer um
modelo que funcionasse. Inicialmente as expectativas de quem era discípulo eram postas
naquilo que o discipulador poderia fazer por ele. Havia uma dependência não muito sadia
naquilo que o homem produziria de transformação na vida dos seus discípulos. Ora, isto
não é bíblico. Pois ninguém muda ninguém. Uma pessoa não tem o poder de mudar a
outra não interessa a pressão ou esforço que faça! O Espírito Santo é quem pode mudar
alguém usando a resposta individual de cada pessoa. No começo houve excessos e a
expectativa de transformação, suprimento e mudança eram colocados inteiramente no
homem. Houve gente frustrada que depois de caminhar alguns anos sob esse tipo de
discipulado não se tornavam naquilo que desejavam ter se tornado. Era como se o
discipulado em si mesmo devesse ser capaz de muda-los sem uma resposta sua à altura.
Olhando para trás, entretanto, mesmo diante de alguns excessos os resultados gerais
foram maravilhosos e experimentamos um avivamento! Acertamos muito mais do que
erramos. O Senhor fez grandes coisas na vida da maioria daqueles irmãos. Milhares de
líderes foram treinados e a Igreja cresceu de uma maneira extraordinária e orgânica!
Ficamos maravilhados com os resultados que vieram como consequência da qualidade.
Posso dizer hoje que houve bem mais acertos do que erros.
Infelizmente, mais tarde aqueles poucos excessos, produziram entre nós uma reação
radical para o lado inverso a isso. Alguns entenderam, não sei de onde, que o discipulado
deveria ser para ensinar a fazer coisas e não mais para se tornar e ser. O problema é que
isso não é neutro e traz consigo consequências gravíssimas no longo prazo. Discipulado
para fazer pode ser pragmático, mas tampouco é bíblico! No longo prazo, esse veneno
transforma a Igreja numa organização fria. Como disse, não há ensino neutro.
Essa mudança no eixo central do nosso discipulado seria gravíssima e foi algo que
só vim a perceber recentemente. Na sequência do tal tripé de ensino, na mesmíssima
vertente, começou-se a haver um ensino de que para agradar a Deus deveríamos trazer
gente para a Igreja praticando a Grande Comissão. Que isto era o que mais importava para
Deus. E que para alguém ser um vencedor deveria ser “frutífero". Leia-se fruto como a
habilidade de trazer muita gente para a Igreja. Que um genuíno vencedor não era alguém
cheio do Espírito Santo que vencia o diabo, o pecado, a carne e o mundo. Na prática, um
genuíno vencedor, de acordo com esse ensino, era alguém que fazia sua célula crescer e
conduzia muita gente a Cristo. A ênfase foi posta na defesa do argumento de que se
alguém quer agradar a Deus deve encher sua célula de gente, isto é, crescer, crescer e
crescer numericamente. Na prática, só se importavam com isto. O que exigíamos no
discipulado, supervisão e relatórios era isto.
Estávamos ensinando como fazer uma célula enxuta, funcional, pragmática,
crescente e que se multiplicava uma vez ao ano. Passamos a ensinar a fazer coisas. A
identidade de alguém estava invariavelmente ligada agora nas coisas que ele mostrava
saber fazer! Todos nós embarcamos nesse ensino sem questionar nada pois os abundantes
resultados eram a prova da aprovação divina. Até que veio a assustadora rotatividade de
membros, líderes exaustos, pastores deprimidos, rupturas de gente outrora fiel.
Definitivamente aquele ensino precisava ser revisto!
Aquele ensino parece neutro e equilibrado, mas não é! Lentamente o eixo da prática
e funcionamento das estruturas foram sendo voltados à performance, exclusivamente. Aqui
descartou-se o Grande Mandamento em completo favor e ênfase na Grande Comissão. A
primeira consequência foi o fim do fluir da Presença de Deus, a segunda foi um declínio
lento da qualidade da vida espiritual e devocional dos novos líderes, a terceira e a mais
visível foi a produção de um discipulado-gerência frio que causou um grande e
generalizado dano na vida da igreja com gente cansada e machucada de todo jeito.
Finalmente um êxodo de gente cansada buscando em outros lugares algo diferente do que
estava sendo praticado. Ví aos milhares gente saindo da igreja vacinada contra qualquer
coisa parecida com células.

Discipulado Para Ser e Não Apenas Para Fazer

Se olharmos para o Novo Testamento de maneira panorâmica veremos que nem o


discipulado de Jesus com seus discípulos e nem o do apóstolo Paulo com os seus foram
para fazer, mas para ser. Jesus não andava ensinando os passos como fazer uma
campanha evangelística ao ar livre com eficácia... Ele não estava ali para ensinar os
métodos e ferramentas para curar enfermos e as táticas para libertar endemoninhados. Pelo
contrário, Jesus ensinava a andar no Espírito, a entender quais eram os valores do Seu
Reino. A transformação individual era a marca do discipulado de Jesus Cristo e não
qualquer outra coisa. Me arrependo de ter concordado com a mudança da nossa ênfase,
mas à época não entendera as profundas implicações que viriam com aquilo.
É mais fácil para o homem definir que vai ensinar a fazer do que apontar para Jesus
Cristo, caminhar junto em completa vulnerabilidade e transparência, chamar seus
discípulos para perto e servir de referencial próximo. É mais fácil dar seminários usando os
abundantes materiais disponíveis nos livros acerca de treinamento de líderes. Os 21
aspectos disso, os 17 fundamentos daquilo, as essenciais leis daquilo outro. Infelizmente
só produziremos mais gente faminta por paternidade espiritual se sentindo sozinha e
andando isolada dentro da Casa de Deus. Depois não adianta criticar quem se inscreve
em seminários caros de “coaching"... O fato é que quando o eixo do discipulado vai para
o fazer lentamente destruiremos a “igreja família", destruiremos a base da Igreja como
“comunidade” e faremos o discipulado algo impessoal, frio e distante. Isso soa bastante
prático mas não pertence à cultura do Reino de Deus e do Novo Testamento.

O Mais Importante Para Deus Não é Você Encher Sua Célula

Sim, é isto mesmo que estou dizendo! Fruto deveria ser resultado e não
consequência de um esforço da carne. Comecemos com uma pergunta: é a qualidade que
traz o crescimento ou o crescimento vem pela aplicação de métodos humanos? Uma
célula de evangelismo cresce porque há vida de Deus e um maravilhoso ambiente ou
também porque insistimos que todos ali tragam pessoas e insistimos em muitos eventos de
evangelismo mobilizando todos numa “indústria do crescimento”? É claro que estou sendo
simplista nesta análise! Mas a minha experiência indica que o crescimento pode vir das
duas formas. Entretanto, há uma só forma onde o crescimento vem de maneira bíblica,
harmônica, normal e sem causar esgotamento generalizado: como consequência de
qualidade, do fluir da vida de Deus e de um ambiente onde a igreja é de fato uma família,
uma comunidade orgânica. Novamente, a Grande Comissão somente será praticada de
maneira bíblica em lugares onde o Grande Mandamento também estiver sendo praticado.

Para Ser Vencedor, Seja Cheio do Espírito Santo

Da mesma forma, seguindo o perigoso tripé que tira a Igreja da base Bíblica, o
ensino dos vencedores deve focar naquilo que a Bíblia foca. Ser Vencedor no Novo
Testamento é vencer o diabo, o pecado, o mundo e a carne. O resultado disso será
fecundidade espiritual com vidas sendo geradas na Casa de Deus. Inverter as coisas pode
soar pragmático mas não é Bíblico e nem traz o contexto da Igreja dos primeiros dias.
Paulo jamais ensina que para sermos vencedores devemos encher a Igreja de gente
aliciada por métodos humanos. Mas o anúncio da Palavra deveria acompanhar aqueles
que viviam a vida da Igreja de maneira plena. Era a “boca falando do que estava cheio o
coração". Precisamos da Igreja para frutificar, precisamos da vida da Igreja para vencer em
nossas fraquezas e problemas e somente inseridos numa genuína família de Deus
poderemos estar livres dos pecados e cacoetes da carne. Ganhar vidas, portanto deveria
vir principalmente porque vivemos em plenitude a experiência de sermos a família de
Deus. Ha uma razão para a Bíblia dar tanta ênfase na família de Deus.

CAPÍTULO CATORZE

Transparência, Vulnerabilidade e Prestação de Contas

No poderoso avivamento Morávio e depois, a seguir, no avivamento Metodista os


irmãos praticavam uma genuína transparência uns para com os outros. Não havia segredos
e naqueles pequenos grupos confessavam seus pecados, eram perdoados e oravam uns
pelos outros. Isto é algo poderoso e libertador. Quando os relacionamentos são saudáveis,
quando há vínculos de verdade isto é possível e é grandemente abençoador.
Jesus viveu exatamente isto com os seus discípulos. O Senhor foi quem mais viveu
essa transparência e vulnerabilidade. Ele criou entre os seus esse tipo de atmosfera e
deveria também ser nessa direção a nossa caminhada como igreja. Não estou dizendo,
entretanto que você deve abrir sua intimidade com qualquer um e em cada lugar que
chegar. Isto seria uma grande tolice! Mas na vida da igreja, no ambiente de discipulado ou
de paternidade espiritual devemos sim poder ser completamente transparentes uns com os
outros, nos aceitando e amando uns aos outros. Há vínculos a serem criados por Deus
para você numa Igreja orgânica.

CAPÍTULO QUINZE

Gloria de Deus e não Glamour do Homem

A glória de Deus vem com sua manifestação em nossa realidade, é a expressão do


próprio Deus nos encharcando com a sua vida divina. Em meio à manifestação de sua
glória, Ele mesmo é centralizado, reconhecido e adorado. O glamour, por outro lado, vem
quando nós lucramos quando Deus faz a sua obra. No ambiente da glória de Deus, somos
quebrantados, humildes, sensíveis, misericordiosos, cheios de bondade e de uma
mansidão vinda pelo temor de Deus em nosso coração. No glamour, ao contrário disso,
tornamo-nos ultracomplicados, ultraexigentes, ultraimplacáveis, sem misericórdia ou
compaixão, ultraríspidos, raivosos, mordazes, ultrassofisticados e ultraimpacientes.
Quando em meio à manifestação da glória de Deus, estávamos entre aqueles que adoram
diante da arca em uma tenda, já no glamour, por outro lado, nos mudamos para uma torre
bem alta num palácio de cristal inacessível. Como a boca fala do que está cheio o
coração, já não nos importamos com a glória, nossa conversa é sobre a marca das
torneiras de ouro instaladas em nossa banheira de marfim.
Eu aposentei um terno que foi usado por mais de quinze anos. Eu só tinha esse terno
apesar de ter dinheiro para comprar muitos se o quisesse. Pessoas se ofereceram para me
presentear com outro quando observavam que eu só vestia esse tal único terno em todas as
ocasiões. Isto as incomodava. Ora, à época eu morava em Nova York onde estão os
endereços mais sofisticados da moda mundial! O país é o centro do consumo sofisticado e
do capitalismo, mas eu sou um pastor. Como posso andar por aí vestindo um figurino de
cinco, quinze mil dólares? Se você pode gastar isso com roupas e está em paz, não o
condeno de forma alguma! Prospere e seja muito feliz!!! Refiro-me aqui ao tom que
damos ao ambiente da igreja e ao modelo para discípulos que não conseguem comprar
um terno desses.
Vou usar uma caneta de ouro, com diamantes e o meu nome gravado com rubis
entre discípulos que vivem aperto financeiro? Acha compatível? Eu não! A glória de Deus
não é glamour e há beleza, sim, na simplicidade! Os homens mais ricos do mundo e suas
famílias se vestem e se portam com simplicidade. Jesus e seus apóstolos jamais exageraram
nos seus usos e costumes. Por que eu faria isso? Assim, se você pode investir em coisas
muito sofisticadas, invista. Há pessoas muito prósperas entre nós e isso é uma grande
bênção! Mas por favor não coloque isto como uma régua para medir as pessoas e nem
estabeleça a sofisticação como um padrão dentro da Igreja.
Vou a alguns lugares e levo um susto: achei que estava me encontrando com os
irmãos sendo igreja, mas na verdade acabei entrando na festa de entrega do Oscar. Visitei
uma igreja onde pastoreava um dos homens mais famosos dos Estados Unidos na época.
Lá, tudo era um show. O piano de calda de repente surgia do subsolo flutuando e o coral
se apresentava como na Broadway. As pessoas se vestiam como que para a posse da rainha
da Inglaterra, os homens todos com os cabelos tratados por escovinha e laquê. Muito
lindo. Só não vi glória de Deus alguma naquele ambiente.
Dessa forma, aqueles irmãozinhos que não conseguem pagar por aquilo, que não
têm dinheiro para vestir-se de acordo para a noite do “Gremmy Award” estarão excluídos
do badalo. Nem de longe, eu me oporia a você se vestir bem. O ponto aqui é quando a
glória de Deus trouxe tanto crescimento, tanta prosperidade e tanta influência que
podemos correr o risco de deixar de ser gente normal, afastando-nos das pessoas com pés
no chão e mãos calejadas. É glória de Deus ou é glamour? É feira de competição de quem
tem mais, de quem mostra mais? Evite isso a todo custo, pois isso não é uma igreja
orgânica.
As pessoas precisam ver coisas genuínas e a simplicidade de Cristo na igreja. “Ah,
pastor eu gosto de coisas sofisticadas!" Por favor, entenda a mensagem! Compre o que
quiser sem peso na consciência e seja feliz! Só não traga uma ultraexagerada sofisticação
para o meio de gente simples. Se queremos experimentar crescimento e avanço,
precisamos manter os fundamentos das coisas que estão lá na origem dessa glória, desse
crescimento, desse êxito que nos trouxe até aqui. Precisamos manter o foco na glória de
Deus, na presença de Deus, no fluir de Deus e em sua maravilhosa majestade entre nós.
Simples assim.

CAPÍTULO DEZESSEIS
Antioquia e não Uma Roma

Roma e Antioquia apontam para duas realidades e dois momentos na Igreja.


Antioquia representa aquela gente apaixonada por Jesus que pratica um apostolado
pioneiro e que leva o Evangelho para as nações. Antioquia é por excelência um centro
difusor de poderoso esforço missionário que planta Igrejas de modo pioneiro. Em
Antioquia investimos e servimos; em Roma exigimos tributo a nós mesmos. Em Antioquia
plantamos, consolidamos e liberamos; em Roma as pessoas devem vir a nós em
reconhecimento à Sé romana, algo do tipo um sol que exige que todas as forças do
sistema solar estejam sempre em órbita de si mesmo. A obra que você edifica na sua
cidade tem sido Antioquia ou caminha a passos largos para ser uma Roma? Nós nascemos
para ser Antioquia ou Roma? A resposta a isso definirá o seu futuro.
Investir e liberar ou treinar e controlar? Na igreja orgânica Deus nos chamou para
investir. Isso ficou muito claro pra mim há anos atrás. Deus não me chamou para controlar
a vida e nem as iniciativas de ninguém. Muito menos monopolizar nossos cursos, nossa
visão e nossas igrejas. No cristianismo-organização, entretanto, não é a vida das pessoas
que importa. É a agenda da organização que controla a vida de todos os líderes e
liderados. Em ambientes assim não venha falar de sonhos pessoais. O único sonho
possível é o da organização! Ora isso mata as funções, as iniciativas e os dons do Corpo.
Isto não é a Igreja do Novo Testamento!
Foi por Deus e pela mão Divina, não foi por nós mesmos que realizamos o que
realizamos até aqui. Com que dinheiro, com que recursos pudemos plantar tantas igrejas
internacionais? Recursos muito menores do que o grande desafio. Foi milagre atrás de
milagre. É isso que Deus deseja fazer mas em bases diferentes. Ele deseja nos levar a viver
seus milagres. O Senhor quer nos levar a investir, treinar, abençoar, inspirar, desafiar
pessoas, ensinar a mobilizar, ensinar a liderar e mentorear para uma prática exitosa de
ganhar almas.
Numa obra orgânica desejamos consolidar essas vidas, treinar seu potencial num
trilho prático onde cada pessoa possa desenvolver liderança e habilidades para frutificar,
pastorear, para ouvir de Deus com ouvidos próprios, para fluir no Espírito Santo e
transbordar na presença de Deus. Deus tem cumprido suas promessas! E quando essas
pessoas estiverem prontas deverão ser liberadas. Esse é o ápice do investimento, treinar
para liberar e para serem frutíferos. Foi para isso que Deus nos chamou, investir e liberar.
Nunca treinar e manter sob rédeas e controlar.
Isto não é algo irrelevante, ao contrário, é definidor do nosso destino e futuro. Aqui
nós temos um desafio por extremo sensível pois, se temos Roma logo logo precisaremos de
um papa. Mas a igreja do Novo Testamento, do livro dos Atos tem Antioquia com todos os
princípios ligados a esse modelo. No Novo Testamento o modelo da Roma Medieval não
está presente. O conceito de Roma só surge bem mais tarde.
Em Antioquia, os irmãos estão orando e jejuando com encargo para plantar muitas
igrejas ao redor e de repente, diz o Espirito Santo: “separai-me a Paulo e Barnabé para a
obra que Eu tenho reservado”. Que obra é essa? Vamos plantar igrejas por toda a Europa,
África, Ásia e até os confins da terra. Esse é o “espírito de Antioquia”! A intenção aqui não
é construir uma sede imperial papal como em Roma, onde há um papa venerado e
incensado no “Trono de São Pedro” e cujo anel deve ser beijado.
Antioquia, por outro lado, fala de mantermos o encargo de espalhar o evangelho,
de plantar igrejas, de levar a obra de Deus para todos os lugares, de usar bem os recursos
financeiros e saber investi-los em vidas, em gente e em algo que dê Glória ao Nome do
Senhor. Fala de multiplicarmos às dezenas várias sedes apostólicas e ministérios quíntuplos
para a manifestação de uma Igreja poderosa e prevalecente nesta geração.
Antioquia não quer controlar, centralizar, normatizar e sujeitar ninguém a si mesma.
Antioquia está feliz em eclipsar-se quando surge Éfeso e outros centros apostólicos. Qual
problema se outros crescem muito mais que nós? Isso prova nossos frutos e resultados.
Roma, entretanto reunirá exércitos e esmagará qualquer lampejo de vida ou de glória que
compita com a sua posição única de Sé Romana. Foi o que fizeram contra os Valdenses, os
Lollardos, os Hussitas, contra os Huguenotes e qualquer um que ousasse levantar-se com
alguma expressão de Cristo. Antioquia não é Roma. Que possamos nos manter fiéis ao
chamado de edificarmos Antioquia e jamais uma Roma. Para isto queremos uma igreja
orgânica e não imperial.

CAPÍTULO DEZESSETE

Servir a Igreja e não Servir-se da Igreja

Deus deseja que pratiquemos o princípio do servir ou do servir-se? Se meu coração


é por servir, o meu encargo é com o seu bem estar, é com a superação das suas limitações.
Meu encargo é que você cresça, que você seja feliz, que você atinja a plenitude do seu
potencial de liderança, que você avance com entendimento, com revelação e
consistência. Assim eu vou te servir, com tudo o que sou e com tudo o que eu tenho. A
Bíblia diz que o Senhor, tendo amado os seus que estavam no mundo, os amou até o fim.
Isso significa que os amou com todos os seus recursos e até ao fim deles. Outro significado
de amar até o fim refere-se a amar até ver resultados definitivos, até ver mudanças práticas.
Tendo amado, tendo servido - esse é o sentido de João capítulo treze, os serviu até
vê-los transformados. Há entretanto pessoas que possuem uma agenda escondida. “Vou te
servir viu? Mas agora você fica me devendo uma! Eu te ajudei muito, por isso de agora em
diante você deve vir sempre pagar tributo a mim e ‘comer na minha mão”. “O preço do
que fiz por você é uma lealdade sufocante que vai te prender a mim mesmo”. Ora a única
maneira de sair desse sistema opressivo é com uma ruptura. Vão criticar muito os que
saem para evitar que outros mais saiam também. Dói ser deixado, por isso vão denegrir
como podem quem se desligar de maneira honrosa ou não. Sempre quem sai será inferior,
sem visão, desleal, entre outros muitos adjetivos negativos.
Aqui os princípios da honra, da lealdade e da aliança, que são maravilhosos, podem
servir a um propósito muito torpe: o de controlar as pessoas e mantê-las todas à órbita de
alguém. Quantas vezes eu já vi isso em muitas obras por ai! O maior teste portanto de
quem serve é dar liberdade genuína às pessoas, liberdade, inclusive de crescer mais,
ocupar maior espaço e expressar maior influência. Por que será que achamos que filhos e
discípulos devem sempre ser infantilizados e tratados como se sempre nos devessem
algum tributo?
O teste da saúde de uma obra é discípulos irem mais longe, avançarem mais,
prosperarem além de nós e multiplicarem muito maior fruto e influência. Infelizmente, o
que acontece demais é o que chamo de “síndrome da sogra megera”. A sogra, tendo
cumprido o papel natural de conceber, gerar, criar, educar, formar e casar o filho, agora
recusa-se a sair de cena. Ela ainda precisa morder um “naco” daquilo que o filho tem. É
precisamente essa a motivação de alguns líderes que se recusam a liberar, a estimular o
crescimento dos discípulos que cruze a fronteira do que eles mesmos enxergaram e
fizeram. É como o Faraó que diz aos filhos de Israel: “podem ir adorar a Deus, mas vão
somente até ali adiante”.
Ora sabemos muito bem que quem controla perde, quem retém perde, quem limita
perde. Se queremos servir no modelo de Cristo, devemos faze-lo da maneira certa.
Devemos desistir de servir para servir-nos a nós mesmos comendo a carne e os frutos dos
nossos filhos espirituais. Aqui está o cerne de um crescimento continuado ou do princípio
do declínio de muitas obras que já fizeram história. Qual você escolhe?
Não chame de lealdade ou honra a pressão para as pessoas virem comer à sua mão.
Isto é vil! Como assim? Numa igreja orgânica é claro que vamos cumprir o espírito de
lealdade, é claro que vamos praticar o princípio da honra, é claro que vamos viver aquilo
que é bíblico. Devemos tomar a cruz e praticar o que é correto em plenitude. Amar e
servir com os bens aqueles que vieram antes de nós, aqueles que presidem bem e
ministram bem. Isso é um dever da igreja de acordo com o Novo Testamento. Isto é
bíblico.
Mas sabe qual é o momento mais alto, mais nobre do discipulado e do servir? É
quando chegou o momento de liberar o discípulo para que alce o seu próprio vôo, para
que cumpra os seus próprios sonhos, para que viva o seu próprio ministério. É liberar as
pessoas a fim de que avancem na maximização do seu potencial sem o nosso
cerceamento. Como líderes, pastores e discipuladores precisamos aprender a ser deixados,
ser esquecidos e trocados por outros. Isto é o ápice! Se um filho não vai embora, esse filho
tem problema. Se a criança nunca cresce e tem que estar debaixo da tutela do pai para
sempre, esse menino é doente, tem algum problema muito grave. Se ele precisa
continuar debaixo de proteção, deve ter alguma limitação intelectual ou física. Entretanto,
se é normal, é natural que vá embora no sentido de crescer, de maximizar o seu potencial,
sua fé, visão, que vá buscar ter suas próprias experiencias com Deus, os milagres, a
revelação, a unção e desenvolver sua autoridade. Qual o problema há em deixa-lo ir? Isso
nos coloca entre Davi e Saul. É o momento que vai requerer de nós ser Davi e não Saul.
Porque esse é o problema de Saul. Se você tem os problemas que Saul tinha não irá
permitir que pessoas debaixo de você cresçam acima de sua própria tacanha, medíocre,
anã, limitada e insegura estatura espiritual.
Numa das obras onde servi, Deus me deu dois pastores melhores do que eu. Um era
melhor do que eu em administração e discipulado. O sujeito era brilhante! Quando eu ia
conversar com ele sobre algo do gênero, ele já havia “comprado o milho e feito o
mingau”. O outro era um irmão que orava muito mais do eu, jejuava muito mais, alguém
simples, mas quando liderava, o céu descia. Quando esse segundo impunha a mão na
cabeça das pessoas, milagres aconteciam.
Houve uma situação em particular, conversando com esse segundo pastor onde eu
perguntei o que ele era para mim. Você não é meu discípulo, pois a sua origem era um
outro ministério muito reconhecido e querido por nós. Assim, eu disse a ele: “você não
parece meu discípulo, pois continua aparentemente ligado àquele outro líder de onde você
veio, se parece mais com ele do que conosco aqui. O que você é meu, é meu amigo?
Também não, pois não temos esse nível de proximidade.” Ao ouvir isto ele replicou:
“pastor eu vou orar e te trago uma resposta.” Três dias depois ele voltou e me disse: “eu já
sei o que eu sou seu. Eu sou seu cooperador nessa obra que Deus te deu”.
O outro, aquele irmão a quem me referi acima, o administrador, tivemos vários
conflitos. Numa ocasião eu disse a ele: “vou te devolver para onde você veio. Não te
aguento aqui, você parece o general Joabe. Aquele general de Davi, desbocado. Me sinto
desconfortável com você. Se não te aceitarem de volta vou te mandar lá pra Amazônia, a
fim de ser pastor de papagaios. Disse a ele que não dava certo mais tê-lo ali a trabalhar
comigo. Depois dessa conversa eu fui orar! E Deus me falou: “toma muito cuidado com o
que você vai fazer com gente que te deixa desconfortável por serem muito melhores do
que você em alguma área. Cuidado com o que você faz com pessoas que te enviei e que
são mais inteligentes, melhores líderes, mais profundos, pregam melhor, são mais usados
nos dons espirituais, administram melhor ou discipulam melhor do que você. Toma muito
cuidado porque este teste é seu, não deles. Isto vai determinar o alcance do seu
ministério!” Essa percepção na minha vida mudou tudo dentro de mim.
Se permanecem com você gente que apenas sabe menos, que faz menos, que lidera
menos, que conhece menos, que frutifica menos, você estará estabelecendo um nível
muito baixo para a sua igreja. Aprendi a lição. Deus me chamou para promover esses
irmãos, para leva-los a crescer e a avançar. Sabe o resultado disso, eu os “prendi” para
sempre com laços de amor. A igreja que entregamos para um desses discípulos era uma
igreja de três mil membros e hoje é uma igreja de mais de vinte mil membros. A igreja
cresceu quando fui embora!
Que coisa boa! Se fosse o contrário só mostraria que a igreja estava ali para me
servir e não a Deus. Sempre haverá um tempo de deixar ir e não reter, de levantar novos
líderes e de sair de cena. Me entristece quando as pessoas não viram que envelheceram e
que devem passar o bastão para a nova geração. Pelo amor de Deus, nós não somos como
o papa em Roma que só libera a cadeira quando morre mantendo as rédeas por décadas a
fio mesmo quando já se tornara um velho caquético. Servir, ou servir-nos a nós mesmos?
Deus te chamou para promover gente melhor do que você na vida de uma Igreja
genuinamente orgânica. Deus enviar a você gente mais inteligente, mais capaz, mais
ungida, mais intrépida, gente mais sábia, com mais revelação. Vai haver conflitos,
confrontos e o que você fará com eles? Promova, ame, cuide, corrija, discipule. Em
algumas situações amar é dizer a verdade em amor: “você não ouve ninguém meu filho,
minha filha! Você não teve pai, seu marido não te lidera e agora sobrou para mim que sou
seu pastor. Só você que não enxerga a arrogância, a petulância, a presunção,
independência e o orgulho.”
À medida que caminhamos no principio da Cruz, a Cruz vai trabalhando no caráter
desses irmãos queridos que caminham conosco. Chegará o momento que você deverá
liberá-los. Quanta gente preciosa, próxima a mim, que é muito melhor do que eu! Eu sei
que eles me amam nas minhas limitações. É verdade também que eles não fazem o que eu
faço. Eles podem não ter o tipo de chamado que tenho ou a coragem ou a Graça de Deus
para fazer certas coisas. Cada um de nós possui o seu chamado específico. Aprenda
portanto a servir, liberar e sair de cena.
CAPÍTULO DEZOITO

Unidade e Não Uniformidade

Há uma maravilhosa beleza na unidade da fé e na unidade em torno de princípios e


valores. A unidade é o que faz uma obra crescer consistente no longo prazo sem dividir-se
a cada dois anos. Cansei de ver divisões pelos mais tolos, infantis e fúteis motivos ao longo
das décadas. Há muitas Igrejas onde a cada dois anos, essa é a média, uma nova divisão
acontece. Dividem-se por qualquer coisa e em muitos casos por poder, cobiça e
competição. Pessoas que se prestam a esse papel escuso de dividir uma obra por motivos
de inveja ou partidarismo certamente darão contas à Deus por ferirem Seu Corpo. Deus
nos chamou à unidade de coração, de mente, de doutrina, de propósitos e de estilo. Deus
nos chamou para vivermos em unidade. Este é um valor preciosíssimo e inegociável.
Há aqui uma série de aspectos que reforçam esse “espírito de unidade”. Fazemos
isso no discipulado, ensinando princípios de liderança, honra, lealdade e principalmente
de negar-se a si mesmo e tomar a cruz colocando de lado questões secundárias como
preferências, estilos e ênfases. Somente tomando a Cruz pagaremos o real preço de sermos
unidos com gente tão diferente de nós mesmos.
Por outro lado há aqui um perigo imenso de acharmos que unidade vem como
consequência de passarmos a régua impondo uma uniformidade para além do bom senso.
Há obras que perderam o mover de Deus ao engessarem processos, métodos, iniciativas e
a própria expressão livre do Corpo de Cristo. Se impomos uma normatização às Igrejas
desrespeitando o princípio da localidade, estaremos fazendo o mesmo que no passado
trouxe um desastroso declínio para a Igreja. Do ponto de vista organizacional a obra do
Senhor nunca deveria ser “nacional”, daí rejeitarmos de modo contundente o modelo
decrépito de “Igreja Estatal”. A obra do Senhor tampouco deveria ser controlada como
algo “Universal”, “Mundial” ou “Católico”. Tudo isso só deu margem para imposições sem
fim, controle sem fim e uma uniformização de tudo na Igreja. Queremos afinal, unidade
ou caminhamos para uma uniformidade crescente como vemos em cada denominação
que nos antecedeu?
Se formos “uniformes” já não haverá espaço para o “cada crente um ministro” entre
nós. Já não haverá espaço para “cada Igreja, uma sede apostólica influente”. Muito menos
haverá espaço para “cada pastor um líder apostólico” pois vamos vestir a todos com uma
só roupa, uma só expressão. É isto mesmo o que queremos? Unidade ou uniformidade? Ao
uniformizar empobrecemos, levamos as pessoas a serem reduzidas à forma em detrimento
do conteúdo, sufocaremos iniciativas e tenderemos a estabelecer um “escritório central”
para controle dos jovens e dos kids e dos casais, dos homens, uma central das células e
por aí vai. Só há um problema: isso viola tudo o que nos dispomos a edificar como igreja
orgânica. Uniformizar viola a iniciativa e a liberdade do corpo, viola a autoridade dos
presbitérios locais, deprime a autoridade local em favor de algum líder distante que
controla tudo a partir de uma “sede”. Isso, novamente não é a Igreja do Novo Testamento e
não é o que nos dispomos a edificar. Por favor seja contra qualquer “espírito de sede” pois
invariavelmente nela estará um papa. Seja, ao contrário, alguém que investe e edifica
múltiplos lugares fortes onde a gloria de Cristo e a Vida da Igreja são irradiados.
Unidade só é possível em Cristo. Se não for assim, unir-se a alguém por causa de
doutrina, por causa de preferencias ou estilo, uma hora vai haver divisão sobrando muito
pouca coisa de pé. Por que? Porque todas essas coisas dividem, trazem desunião. As
minhas preferencias são diferentes das suas. O meu estilo é diferente do seu. As minhas
preferências doutrinarias também são diferente das que você gosta. A minha liturgia é
diferente da sua. Somos muito diferentes em tudo e é preciso respeitar isso. O único lugar
que nós temos unidade é em Cristo. Não haverá unidade em mais nada, coloque isto na
sua cabeça, querido irmão!!! Não é uma uniformização criteriosa e detalhada de cada
quadrante que trará unidade. Não é definindo como cada Igreja deve fazer isto ou aquilo,
nos menores detalhes que trará a unidade que almejamos manter. Esse controle
onipresente em cada aspecto, essa uniformização é um grande equívoco no qual inúmeras
obras já incorreram.
A uniformização só prejudicou a iniciativa de cada líder como ministro legítimo em
cada localidade. Foi por isso que na Igreja primitiva os apóstolos de Jerusalém se limitaram
apenas a recomendar para as Igrejas gentílicas: “lembrai-vos dos órfãos e das viúvas em
suas tribulações e guardai-vos da corrupção do mundo.” Por favor desista de querer vestir
na marra um uniforme nos outros. Deixe disso e edifique a Unidade em cima de
fundamento mais sólido, mais bíblico e mais perene. É vindo para Cristo que nós vamos
encontrar unidade, é vindo para Cristo é que somos mais condescendentes com as
diferenças, é vindo para Ele que amamos os irmãos.
E porque caminhamos unidos? Porque somos todos iguais? Não! Mantemos a
unidade porque temos um chamado e um propósito maravilhoso acontecendo entre nós.
Esse chamado é mais alto que nossos muros e muretas, preferencias e estilos, preciosismos
e logomarcas, direitos autorais e tendencias a monopolizar certas coisas. Eu não vou
estragar essa unidade por causa de coisas pequenas, por causa de certos desconfortos. Por
causa de certas diferenças não vamos trocar essa glória que temos por coisas de crianças
inquietas. Mas isso só acontece quando estamos em Cristo. É isso que nos fará crescer e
vamos crescer muito! Deus levante as igrejas orgânicas em todos os lugares com esse
espírito de unidade.
Uniformidade é quando “passamos a régua” e exigimos que os outros engulam as
nossas preferencias. Não desvalorize e nem imponha uma linguagem que não é
apropriada para os dias atuais. Não queira impôr aos jovens o que para você é uma
preferência! Querer regulamentar, engessar, normatizar, padronizar e legislar sobre o que
nossas Igrejas devem fazer e o que os nossos jovens devem adotar como padrão de
expressão é fazer o mesmo que certas igrejas pentecostais fizeram no século passado.
Coisas que para nós hoje parecem absurdas como a proibição do uso de barba para
homens, roupas “jeans” ou a prática de esportes.
Precisamos ter cuidado para não fazermos a mesmíssima coisa legislando e ingerindo
sobre a linguagem dos jovens. Desista de querer normatizar. O respeitadíssimo Bill
Johnson afirma algo com o qual concordo sem reservas: “o que acabou com os
avivamentos não foram os excessos e exageros, foi o controle humano sobre o que Deus
estava fazendo”. Portanto se quer normatizar as coisas que outros vão praticar saiba que
está violando claramente o princípio de “cada crente um ministro” em favor de desejar
ingerir, usurpar e controlar os outros. Nossa unidade deve ser sobre Cristo e sua doutrina,
Seus altos desígnios, Seus propósitos, a visão que Ele nos deu, a comissão que nos
entregou e a essência da manifestação plena da Sua Presença e Sua Glória. No resto
devemos ser totalmente flexíveis, abertos, tolerantes e inclusivos. Deus nos chamou para a
unidade e não para a uniformidade. Estamos aqui para viver essa unidade em Cristo Jesus
em nossas igrejas.

CAPÍTULO DEZENOVE

Ser Referencia Sem Normatização

Temos enorme dificuldade em deixar coisas secundárias serem realmente


secundárias. Se forem realmente secundárias será mais fácil relevar, colocar em segundo
lugar mantendo uma perfeita e plena unidade. Especialmente quando começamos a
plantar muitas Igrejas, iremos estabelecer referenciais. Na mesma via do que dissemos no
capítulo anterior, a tendência de muitos é avançar o sinal e normatizar tudo! Mas afinal,
para começo de conversa, o que é ser referencia?
Ser referência é viver um real e poderoso mover de Deus no meio dos nossos
louvores e adoração. É ter as igrejas fluindo nas casas, o fluir do Espírito do Senhor nos
encontros, uma atmosfera poderosa de conversões às centenas, jovens santos e
apaixonados por Cristo, jovens que oram com intensidade, jejuns coletivos onde há a
presença massiva da maioria dos nossos líderes, pastores que falam as mesmas coisas sem
fofocas e desonra, um estilo de liderança é leve, pastores quebrantados e ensináveis, o
relacionamento dos solteiros que querem se casar é santo e transparente... Isto é ser
referencia, é um modelo fortíssimo! Esta é a maneira suave de influenciar poderosa e
profundamente as pessoas.
Por outro lado há o método humano. Esse método se manifesta quando queremos
normatizar todos os processos, etapas, ferramentas, eventos e começamos a destacar o que
é secundário: a forma. “A partir de hoje é mandatório fazer um jejum de quarenta horas a
começar na sexta feira a noite na décima badalada do relógio antes de cada retiro. Toda a
equipe de louvor tem que usar um uniforme e adorar de costas para o povo! O culto Kids
durará trinta minutos e usaremos a revista infantil enviada pela nossa Casa Publicadora!
Isso passará a valer para todas as Igrejas da marca.” Normatização de
tudo, do louvor, do encontro nas casas, das células, de cada detalhe da vida da Igreja é o
caminho rápido para perdermos a visão e substituirmos o Mover do Espírito pelo controle
do homem. A Palavra não aprova algo assim, o Novo Testamento não é assim. Não vemos
os apóstolos dando ordem nenhuma para Paulo. Eles não normatizaram nada para ele. Eles
não deram ordem para que Paulo normatizasse o mundo gentio, a prática da igreja, o culto
da igreja, o estilo da igreja, o ensino da igreja. A ordem era ensinar todo o Conselho de
Cristo. Apenas isto!
Isso significa que não deve haver normatização nenhuma que não seja aquela
necessária para preservar a própria Igreja do erro e do desvio da verdade. Deus nos
chamou para sermos poderosa e profunda referencia mas tomemos cuidado para não
transformar referencia em normatização. “Façam tudo conforme o modelo que tendes em
nós". Isso é referencia sem normatização!
Fica ainda mais urgente notarmos que todos os moveres de Deus fluíram em uma
manifestação contemporânea com seu linguajar, estratégias e expressão que tocaram o
mundo lá fora. Há décadas éramos fortemente contra todo o legalismo dos usos e
costumes de certas Igrejas pentecostais. Tais obras tornaram-se velhas, ultrapassadas e os
primeiros a abandonar aquele “barco de normatizações” foram os jovens. Uma outra
estrutura acabou por atrair milhares desses jovens que descobriram uma expressão santa,
contextualizada e de vanguarda em algo novo e genuíno que Deus estava fazendo.
Portanto não podemos e não devemos engessar, imiscuir-nos, travar, constranger ou
legislar sobre o que nossos jovens vestem, usam e quais adereços são permitidos e quais
proibidos. Obviamente não me refiro aqui a coisas pecaminosas e contrárias às Escrituras.
Ao contrário refiro-me à tentativa de alguns em controlar a linguagem e expressão
contemporânea, legítima e atual dos nossos jovens.
Fiquem todos conscientes que se nós como Igreja entrarmos por esse caminho
legalista certamente perderemos multidões de rapazes e moças que deixarão a versão de
uma igreja envelhecida por outras expressões puras de mover de Deus onde esse
legalismo, controle e constrangimento não acontecem. Por isso queremos ser uma viva e
poderosa expressão de uma poderosa rede de igrejas orgânicas.

CAPÍTULO VINTE

Uma Obra Inclusiva Nunca Exclusiva

A Igreja de Cristo é por natureza inclusiva. Inclui principalmente os perdidos,


excluídos, condenados, rotulados, as prostitutas e ladrões, gente para quem o mundo não
dava alternativas. A Igreja também é inclusiva quanto àqueles irmãos que não crêem
exatamente como nós mesmos, não pregam exatamente o que pregamos, não possuem as
mesmas ênfases e nem o mesmo estilo e preferências. Alguns não praticam a cultura exata
de liderança que praticamos ou a visão de igreja orgânica, a multiplicação e o tipo de
discipulado que temos. Ainda assim nosso chamado como Igreja é sermos inclusivos e
jamais exclusivos.
É perceptível o ambiente de uma Igreja inclusiva. Pessoas entram e sentem Graça no
ambiente, sentem-se “da família”. São impactadas pela acessibilidade das pessoas, pelo
interesse sincero, pela importância genuína atribuída a quem chega. Pessoas machucadas
por estruturas religiosas ou que trazem marcas profundas na alma são restauradas nessa
atmosfera viva da Presença de Deus. Alguém que chega machucado do mundo e encontra
uma comunidade inclusiva, se sentirá aceito incondicionalmente. Esta é a característica
mais marcante, o resultado mais direto da mensagem da Graça de Deus em uma
comunidade cristã. As pessoas que vem são adotadas nesse ambiente, são amadas, são
feitas participantes daquilo que nós como família de Deus vivemos.
Já em uma obra exclusiva, as pessoas são descartadas, deletadas, postas de lado
pelos mais diversos motivos. Há nisso, da mesma forma, um certo “deslumbramento
consigo mesmos”. “Somos realmente muito bons em tudo o que fazemos... Deus ama os
seus filhos mas, quanto a nós, Ele deve ter alguma preferência... Só isto explica tanto
favor... Nosso nível de revelação, de Palavra, de ensino e liderança é demais mesmo, você
não acha?” Quem é exclusivo se acha realmente muito melhor que os demais, comporta-
se assim e tem a tendência de erigir muros passando a ver a obra como um todo mais
como Organização do que um Organismo.
A única maneira de nos mantermos inclusivos é termos uma visão correta de todo o
Corpo de Cristo sem nos julgar melhores do que ninguém, mas como parte daquilo que
Deus faz nesses dias atuais. Só assim nos manteremos abertos e saudáveis recebendo
águas e liberando as águas. Aprendendo de outros, sendo influenciados por outros e ao
mesmo tempo abençoando e servindo outros irmãos.
A igreja é isto mesmo, uma família aberta para todo o Corpo de Cristo, disposta a
compartilhar, servir, apoiar e viver uma comunhão genuína com toda a família da fé. Oh
que possamos amar a Igreja, servir a Igreja, cuidar da Igreja e unir a Igreja sem jamais feri-
la, constrangê-la ou macula-la com qualquer exclusivismo dogmático, divisivo ou sectário.
Somos chamados a nos mantermos receptivos, acolhedores, pacientes, calorosos e
dispostos a integrar as pessoas na família. Jamais deveríamos expressar represália quando
outras formas de linguagens estiverem borbulhando entre nós.
Nos Estados Unidos e também no Brasil os jovens hoje são caracterizados por essa
geração dos “post millennials” que ouvem diversas fontes e em todo lugar, não recebendo
mais exclusivamente do púlpito de suas Igrejas. Veja a sua página do Facebook... De
quantas fontes você ouve semanalmente? Veja sua conta no Instagram... Você acredita
realmente que alguém conseguirá combater a linguagem das calças jeans com rasgões, os
púlpitos feitos com barril de óleo ou prancha de Surf, a programação visual dos palcos das
Igrejas estilo descolado entre outras muitas coisas? Isso não deu certo no passado e não
dará certo agora.

CAPÍTULO VINTE E UM

Ser Inspirativos Não Professorais. Uma Linha Fina

Deus nos chamou para ser Professorais ou Inspiracionais? Somos professorais


quando o tempo todo chegamos como quem sabe tudo. Quando controlamos o
conhecimento e os outros são sempre os ignorantes. Quando sempre temos a razão e
deixamos isso muito claro para todos. Em todo lugar que chegamos, assumimos
automaticamente a posição de ensinar, fazendo questão sempre de consertar alguma
coisa, acrescentar alguma observação, fazer algum ajuste para deixar claro que somos nós
quem tem sempre a palavra final e as rédeas. Quando fazemos questão de demonstrar o
tempo todo que a posição de todos em redor é a de pagar tributo à nossa sabedoria
inigualável. Isto é terrível!
É produzir gente dependente, presa com laços de alma a mestres cruéis que sempre
precisam liberar sua aprovação a fim de que os irmãos se sintam aprovados. Acreditem-
me, eu vivi isso quando deixei o Seminário após me formar na Escola Bíblica. Havia ali
certo pastor que fazia questão de deixar muito claro que para eu ter a bênção de Deus eu
deveria voltar sempre para lhe pedir aprovação. Um dia ele teve a ousadia de dizer
claramente: tudo o que vocês praticam, vocês receberam de mim. Esse laço de alma é
maldito e não produz uma Igreja saudável, ao contrário, produz um bando de crentes
dependentes e presos com laços de alma a seus líderes. Isto nada tem a ver com nosso
valor inegociável de “cada crente um Ministro”.
Alguém que é professoral não suporta não ter razão e em todo lugar que chega tem
que ser o centro das atenções. Alguém assim é quem sabe tudo, quem fala sempre, quem
ensina tudo, quem entende de tudo enquanto todos devem manter o silencio. Alguém
professoral não consegue nunca se relacionar de igual para igual com ninguém. Não
consegue ter na liderança alguém próximo no mesmo nível de fé, de ousadia, de
entendimento, inteligência e maturidade. Você consegue perceber que a atitude
professoral humilha, sujeita os demais e é também uma forma de prender as pessoas e
exercer controle?
Na igreja orgânica Deus não nos chamou para sermos professorais. Deus nos
chamou para sermos inspiracionais. Sua vida vai inspirar os outros irmãos, sua fé vai
inspirar outros, seu nível de santidade, de vida na cruz vai inspirar a todos quantos se
relacionarem com você. Ele nos chamou para sermos inspiracionais com a sua vida, com a
sua revelação, com sua expressão de Cristo.

VINTE E DOIS

Ortodoxia e Nunca Dogmatismo

O termo “Ortodoxia” refere-se à absoluta fidelidade à tradição apostólica do


primeiro século bem como ao Kerigma sustentado pelos pais da Igreja no segundo e
terceiro séculos da era cristã. Portanto, ser “Ortodoxo” significa manter-se fiel a Jesus e ao
seu ensino. O dogmatismo ao contrário causa um imenso mal para a Igreja pois refere-se a
alguém que usa de suas preferências, estilos e ênfases impondo essas coisas à força para
que sejam engolidas, adotadas e implementadas por toda a Igreja concordem ou não,
tendo fundamento ou não. Fazem de suas questões menores normas e doutrina a serem
impostas como se fossem de origem divina.
O problema do dogmatismo é que e ele oprime, sufoca, retira a liberdade,
constrange e impõe a vontade de alguém sobre todos os demais membros do Corpo de
Cristo. O dogmatismo é divisivo e força lealdades hipócritas pois as pessoas mesmo não
concordando sujeitam-se sob o medo de represália, acusações de deslealdade e falta de
aliança.
O dogmático transforma em dogma qualquer questão secundária. Tudo se torna algo
importantíssimo, crucial, fundamental. Pouco a pouco vai se tornando cercado de normas,
regras, leis, protocolos, exigências, modelos e fica simplesmente impossível conviver com
tais pessoas. Tudo é um dogma fundamental para tais indivíduos. Tratam qualquer assunto
bobo como a coisa mais importante para Deus! O pior é que arrastam todos que estão
juntos a praticar seus dogmas. À luz de Deus e das escrituras, aos poucos, se verão que
muitos daqueles dogmas eram apenas preferências tolas de algum dogmático!
O segundo problema do dogmatismo e dos dogmáticos é usar de extrema força para
implementar certas posições quando fica patente tempos depois os exageros, os excessos e
a falta de sustentação desses preciosismos humanos. Que o Senhor nos livre de
transformar cada ensino, estratégia, ferramenta, estilos, preferências e ênfases em dogma
inegociável. Isso também é uma forma de exercer controle, manipulação e força. Oh que
o Espírito Santo nos mantenha sensíveis a Ele mesmo e ao Seu Mover entre nós. Isto é ser
orgânico.

VINTE E TRÊS

Ir Mais Longe ao Invés de ir Mais Rápido

Deus nos chamou para Ir mais rápido ou para ir mais longe? São duas opções e
como igreja podemos praticar qualquer uma delas. Nós queremos ir mais rápido ou
desejamos ir mais longe? As duas coisas não conseguem caminhar juntas. Ou nós vamos
mais longe causando poderoso, profundo e definitivo impacto, ou vamos mais rápido. Se
formos mais rápido vamos forçar todas as estruturas da igreja e tudo vai ficar pesado pois
é preciso forçar os irmãos com muito mais ativismo e muito mais pressão.
Aquilo que era feito com encargo, com amor, resultado de uma paixão, um
chamado, um ideal maravilhoso, agora é obrigado, é forçado. Agora é na penha, agora é
na pressão, agora é na chantagem emocional.  Se nós queremos ir mais rápido tudo vai
ficar pesado, o discipulado vai ficar pesado, os relacionamentos serão penosos, e as
pessoas vão demonstrar cansaço. Não estou dizendo que a obra de Deus não tem um
preço! Não estou dizendo que servir a Deus, orar e jejuar não tem um custo. Não me
entenda mal! Tem um preço sim, há desgaste nisso e isto é óbvio. Mesmo sabendo que a
obra de Deus traz certo preço, você recobrará o animo pois está cercado de um ambiente
rico da vida de Deus . Será um esforço intencional, espontâneo e alegre.
Na próxima estação, onde vamos sair para evangelizar novamente, multiplicar as
células temporária de evangelismo e continuar crescendo outro preço de semeadura
deverá ser pago. Tudo isso, entretanto será vivido com encargo e alegria. Por outro lado, se
queremos ir mais rápido ao invés de ir mais longe todas as estruturas vão estar
pressionadas e em algum momento o crescimento começará a cair. Daqui a pouco as
pessoas vão desistindo do modelo de igreja que tira o “sangue da jugular”. Já vimos isso
acontecer com outros modelos de igrejas em células que já começaram por aí mundo a
fora.
Ir mais longe significa amar nossos jovens e leva-los à plenitude da igreja. Significa
amar os adolescentes até vê-los amadurecerem. Significa também amar essas crianças que
estão correndo no nosso meio. São essas crianças que irão levar esse mover de Deus nas
próximas gerações. É essa geração que vai tocar o século com o mover de Deus.
Queremos ir mais longe, não necessariamente ir mais rápido. Ir mais longe significa
manter a qualidade, manter a paixão, manter o nível do fluir da presença de Deus entre
nós, manter o nível de discipulado de maneira saudável, correta, bíblica. Manter esse
desafio de edificar esse sonho de avivamento, de ser uma geração que toca nações. Esse
tem que ser o nosso coração.
Se queremos ir mais rápido porque outros modelo estão avançando e não podemos
ficar para trás uma hora vamos esbarrar nos conflitos da pressão do crescimento. Se por
outro lado optarmos por ir bem mais longe, talvez não teremos um crescimento de 100 %
ao ano. Quando as igrejas tiverem se multiplicado e tivermos um crescimento de 25%, no
longo prazo, esse crescimento será exponencial. Será um crescimento poderoso, com
intensidade e qualidade nas bases, com liderança bem treinada, apaixonada por Cristo.
Isto será a colheita de igrejas orgânicas de crescimento sustentável e consistente no
longuíssimo prazo. Nenhum crescimento maior que 25% ao ano no longo prazo é
saudável coloque isto na cabeça meu querido irmão.
Qual obra estamos edificando com todo o potencial que Deus colocou à nossa
disposição? Qual igreja queremos edificar com o tempo disponível, os recursos, a
inteligência, os líderes com sua disposição de trabalho, com sua disponibilidade, suas
famílias e com seus filhos? Espero sinceramente que esteja convicto do chamado a irmos
bem mais longe!
Sabe porque o tremendo mover de Deus que se iniciou com Davi acabou em
Roboão seu neto? Porque quando Davi morreu, Roboão, o netinho, tinha apenas um ano
de idade. Não deu tempo de falar da glória de Deus, da Arca da Aliança e do Monte Sião.
Não deu tempo de encher o coração de Roboão das histórias dos avivamentos e dos
moveres de Deus. Não deu para deitar na cama de Roboão e contar a ele como a glória de
Deus tomava o tabernáculo, como a presença de Deus fluía ao adorarem diante da arca
vinte e quatro horas com vinte e quatro turnos diariamente. Não deu para encher o
coração de Roboão para falar de Samuel, para falar das unções de Deus. Então Roboão
sem referenciais do Mover do Espírito Santo, dividiu o reino.
Quando os exércitos dos inimigos vieram, levaram todos os tesouros da casa do
Senhor. Levaram todo o ouro e Roboão não se importou e os substituiu por bronze. Não
houve crise e nem conflito algum com a perda da glória. “Podemos dar uma polidinha que
vai ficar tão bom como o ouro e ninguém vai notar a diferença”! A maioria do povo não se
preocupa com conteúdo, contanto que haja louvor do mesmo jeito, contanto que as coisas
continuem acontecendo como sempre!
Só havia um detalhe! Não havia mais ouro, não havia mais glória, não havia mais
unção, nem mais vida ou mover de Deus. O ouro foi embora, a glória de Deus foi embora.
Roboão, a terceira geração, já não possuía mais o coração apaixonado por Deus, não
havia mais encargo por uma genuína manifestação de Deus. Aquele mover de Deus que
poderia ter ido mais longe não chegou sequer à terceira geração! Que terrível!
Você deseja ser instrumento de uma poderosa manifestação de Deus? Queremos ver
os nossos filhos e netos crescerem nesse ambiente! Crescer em amor e paixão por Jesus,
consagrá-los ali nesse ambiente. E algum dia esses descendentes nos descerão à sepultura
dizendo a nosso respeito: “aqui vai um homem de Deus que amou a Jesus com todas as
consequências e que viveu em plenitude a vida da igreja. Aqui está alguém que amou a
Glória de Deus!” 

VINTE E QUATRO

Generosidade e Nunca Monopólio

Todo Mover Soberano de Deus começa com uma maravilhosa atmosfera de


generosidade. Desejamos ver aquilo que Deus está fazendo entre nós se espalhando e
abençoando tantos quantos Ele desejar. O testemunho que vemos no livro dos Atos dos
Apóstolos era de que todos aqueles que possuíam propriedades as vendiam e com o
produto da venda supriam as necessidades do povo de Deus. A Bíblia ainda acrescenta:
“... ninguém considerava coisa alguma exclusivamente sua...” Era esta a atmosfera de
extravagante generosidade daquela Igreja apostólica sob a ação maravilhosa do Espírito
Santo. Generosidade em compartilhar material de ensino, visão, estratégias e tudo o que
temos. Dele recebemos e para Ele consagramos ao liberalmente servir à Igreja.
Na mesma via de “cada crente um Ministro, cada Igreja local um poderoso centro
de influência apostólica, cada pastor um frutífero líder apostólico”, não faz sentido
monopolizar nada que se refere ao treinamento dos santos como os cursos para formação
de liderança, batismo, material das Escolas Bíblicas, cursos de casais, jovens e
adolescentes, kids e nas nossas células de evangelismo. Todo esse material deve ser
compartilhado liberalmente e oferecido como propriedade da Igreja. Se alguém tem
expectativa de ganhar algum lucro com a produção de material deve ir para o mercado
concorrer de igual para igual com todas aquelas Igrejas que desejam e aquelas localidades
que desejam produzir o seu próprio material.
Devemos estimular os irmãos a contribuir com sua iniciativa e nunca sufocar,
impedir, proibir ou constranger os irmãos. Não devemos ter um material “oficial” quando
outras expressões de igual qualidade é marginalizada sempre em favor da venda e dos
lucros daquilo considerado material “legítimo”. Não vamos constranger com o argumento
de que aquilo que produzem não é “oficial”. Em nenhuma hipótese deveríamos impedir a
rica iniciativa de cada crente, cada pastor e cada Igreja local naquilo que não são os
nossos cursos principais. Generosidade, liberalidade ou monopólio, controle? Nosso papel
numa obra orgânica é promover sempre, estimular sempre, encorajar sempre, apoiar
outras iniciativas e as capacidades riquíssimas que estão presentes nas nossas Igrejas.

VINTE E CINCO

A Maldição dos Moveres de Deus

Tenho observado inúmeros Moveres de Deus que avançam até certo ponto, causam
um bom impacto com seu crescimento e referencial, mas após uma ou duas décadas
declinam em meio a divisões e perda da Glória e do fluir de Deus. Simplesmente param
de crescer e ficam para trás sendo apenas o saudosismo para alguns e a perplexidade para
outros. Por que? Muitas obras que foram para nós modelo ficaram paradas em algum lugar
do passado e hoje representam mais retrocesso do que avanço. Por que?
Há muitos moveres de Deus que foram ficando no passado e à medida que as
décadas vieram, desapareceram. Se você ler a história da igreja, muitos moveres de Deus
não chegaram até nós. Durante essas quatro décadas nas quais eu sou convertido, tenho
visto inúmeros moveres de Deus que ficaram para trás. Simplesmente passaram. Por que
passaram? O que foi colocado sobre o fundamento? Esta é a pergunta e este critério não
são meus, são de Paulo. A pergunta é do apóstolo. O que se coloca sobre o fundamento
determina duas coisas, de acordo com Paulo: o crescimento e a permanência de uma
obra.
Os resultados falarão por si mesmos com vidas salvas e transformadas, Igrejas
plantadas e líderes treinados. Isso já testemunha por si mesmo acerca de uma obra.
Ninguém questiona se há um agir do Espírito Santo quando vida e qualidade são
apresentados como frutos. A primeira grande questão segundo o apóstolo é: houve
crescimento? A segunda questão é se tal obra permaneceu! Para tanto, não se avaliam um
diagnóstico de poucos anos. São necessários trinta, cinquenta anos para mensurar a
consistência e o impacto de uma obra.
Qual é a maldição, então, dos moveres de Deus? Começam bem, causam grande
impacto, produzem um crescimento surpreendente e a seguir declinam e desaparecem.
Nessa ordem! O diagnóstico de Paulo é que o que se coloca sobre o fundamento será
determinante para essas duas coisas: crescimento e permanência. O que desejamos
colocar sobre o fundamento numa igreja orgânica? Queremos ir mais rápido, ou
desejamos permanecer, indo mais longe? Ir mais rápido fala dessas obras que não
permaneceram. Puderam crescer, mas o problema delas todas não foi esse. Não foi o
impacto através de um modelo inovador, de usarem a mídia, de terem ido para a televisão,
terem trazido um louvor contemporâneo, de introduzirem as células... O problema foi que
não permaneceram.
Em São Paulo surgiram inúmeras Igrejas poderosas. Não é conveniente mencionar
aqui seus nomes, mas todas elas tiveram seus dias de glória. Surgiram, cresceram,
causaram surpresa e declinaram. Em alguns casos, alguma coisa ainda permanece de pé,
contudo sem nenhuma marca ou impacto. Em outros casos tudo desapareceu. Não há
mais nada! Assim, a questão não é apenas o crescimento. O que completa a equação é a
segunda questão: permaneceu?
Se fazemos a opção por ir mais rápido significa que não estamos preocupados com
o longo prazo. Significa que estamos com todo o foco apenas no já, no imediato, neste
único momento. Não nos preocupamos se daqui há quinze anos a obra permanecerá. A
maldição dos moveres de Deus é que eles vão rápido, mas a grande maioria perece pelo
caminho e não permanece. A pergunta é, nós vamos mais longe? Vamos permanecer? Este
é o ponto. O que nos leva a permanecer? A glória de Deus continuar fluindo, presente,
marcante, o temor pelo fluir do Espírito Santo, pela graça de Deus em nós, por
multiplicarmos líderes que amam a presença de Deus, que valorizam Sua santa Presença,
que consideram central, inegociável essa vida de Deus, é o que vai determinar se vamos
mais longe. Esse fluir é o que continua a atrair as pessoas e gente disposta a tudo pelo
Senhor décadas e décadas no futuro.
Várias Igrejas poderosas entre as Comunidades que representaram uma maravilhosa
vanguarda na década de 90, hoje tornaram-se monumento ao passado. Igrejas
maravilhosas que nos atraíram para alguns grandes centros no Brasil e tanto nos
influenciaram tornaram-se também um espectro melancólico de quem tem discurso mas
nada manteve do Mover de Deus de outrora. Por que? Pelos mesmos motivos descritos
acima. Este portanto é o momento em que devemos reafirmar a nossa aliança por algo
superior e apostólico no sentido Bíblico. Nos posicionar pela “Tradição Apostólica” da
Igreja tão claramente manifesta através da visão neotestamentária. Os princípios do “cada
crente um Ministro, cada casa uma Igreja, cada Igreja um centro de influência apostólico”
deve ser um valor de longo prazo. Cada pastor um líder a construir seu sonho cumprindo
seu chamado de crescer e investir igualmente nos seus discípulos, sua equipe e demais
santos devem ser nosso anelo no longo prazo. Definitivamente desejamos ir mais longe e
não necessariamente ir mais rápido!

VINTE E SEIS

A Visão De Uma Igreja Orgânica, um Evangelho Simples

Chegou a hora de falarmos de estrutura. É preciso reconhecer que este é o ponto


delicado de toda a visão onde as coisas ganham visibilidade e funcionalidade. Toda visão
requer uma estrutura! Como ser uma obra totalmente orgânica e ainda assim ter um
estrutura mínima que não atrapalhe a viva e livre expressão da Igreja? É possível? Acredito
que sim.
Antes de tratarmos, entretanto, do modelo de estrutura de uma obra orgânica desejo
deixar claro que há espaço em nossa família de Igrejas para denominações que desejam
praticar em um primeiro momento apenas os valores de uma igreja viva e orgânica como
já descrito exaustivamente anteriormente. Há espaço para quem deseja os valores sem
pular de vez em uma estrutura nova. Não desejamos de modo algum que ninguém se sinta
“obrigado a abandonar o prédio” e ir para as casas. Não desejamos que ninguém pare de
se reunir aos domingos de maneira afoita, inconsequente e precipitada, De fato
entendemos que podemos ser uma poderosa expressão de uma igreja orgânica mantendo
as duas coisas, tanto o prédio quanto as reuniões públicas. A proposta, deste livro
entretanto é avançarmos ainda mais na Reforma, Avivamento e Restauração da igreja. Mas
faça isto apenas e unicamente quando não houver mais dúvidas e seu coração se sentir
livre para isto. Se não houver convicção permaneça na prática que possui!
Flexível, Duplicável, Transferível

Nossa estrutura precisa ser simples, flexível, duplicável e facilmente transferível.


Você aceita avançarmos nisso juntos? Desenvolvermos isto juntos sem precipitações ou
pressa? Deseja partilhar dessa maravilhosa e incrível jornada com amigos-irmãos de vários
outros lugares? Se sua resposta é sim, entre no barco e vamos avançar rumo àquilo que o
Senhor tem para nós nesta geração!

O Modelo do Novo Testamento

Toda a vida da Igreja no Novo Testamento e até o quarto século acontecia nas casas
e isto é um fato! Havia uma reunião semanal onde todos estavam juntos ali a cultuar,
adorando juntos ao Senhor. Paulo em Romanos capítulo 16 faz menção de vários desses
núcleos se referindo “à igreja que se reune na casa de...” Isto aqui é mais do que nosso
conceito convencional de células. Isto era bem mais do que uma célula: ERA A IGREJA
DO SENHOR! Era a igreja com todas as suas implicações acontecendo... Evangelismo,
visitas, orações para cura divina, vigilhas, cursos de batismo, discipulado para treinamento
de líderes, comunhão, festa, partir do pão na santa ceia, levantamento de ofertas e
dízimos... tudo! Tudo acontecia ali e nos bastidores durante a semana. Isto é maravilhoso!
Quando Paulo faz referências de que enviara Tito e Timóteo para constituirem
presbíteros, era para essas igrejas que aconteciam nas casas que pastores estavam sendo
ordenados. Portanto veja quão simples e ao mesmo tempo forte era essa “estrutura”
orgânica da igreja do Senhor.

A Igreja de Volta às Casas

Como ja dissemos antes, não propomos que se mudem as células convencionais e


nem se parem os cultos públicos de maneira atabalhoada e precipitada. Digo e repito com
todas as letras: ISTO NÃO É NECESSÁRIO! Se vivermos os valores descritos neste livro,
mesmo em igrejas convencionais JÁ HAVERÁ UM GRANDE AVANÇO rumo a uma
genuína igreja orgânica. Algo maravilhoso acontecerá apenas com os valores sendo
praticados de maneira firme e consistente.
Portanto repito: não mude nada na estrutura de Igreja que você pratica sem uma
clara direção de Deus, sem a participação de toda a sua liderança e sem o envolvimento
de uma cobertura apostólica experiente. Alterar a estrutura de uma igreja já existente é
como fazer a manutenção dos motores de um avião em pleno vôo. É sempre algo
delicado. Além disso em momento algum estamos colocando o modelo de Igreja aqui
apresentado como o único e como a condição para estarmos fluindo juntos como uma
verdadeira família de Deus.
Ditas essas coisas, acredito que, a seu tempo, devemos viver em plenitude aquilo
que as escrituras sagradas nos mostram como estrutura viva para a igreja orgânica do Novo
Testamento. Se estamos a começar do zero em algum lugar, não haverá sentido não
fazermos as coisas de modo estritamente bíblico desde o início.
Somos hoje um grande, diversificado e multinacional grupo de amigos-irmãos a “ver
em Deus” que chegou o momento de algo novo para esta geração. Desejamos viver isto
juntos. Esta é a razão deste pequeno livro. O objetivo deste livro, portanto é dar
visibilidade àquilo que o Senhor tem nos desafiado a praticar.

Células Evangelísticas Temporárias

Além da coluna vertebral da vida da igreja acontecendo a partir das casas, escolas,
fábricas, parques e lugares públicos, hospitais, presídios, desejamos na direção do Espírito
Santo estabelecer células temáticas evangelísticas temporárias. Isto é, uma ou duas vezes
por ano, tendo vivido em plenitude o Grande Mandamento, desejamos nos mobilizar para
a Grande Comissão de maneira intencional. Além do evangelismo orgânico e natural que
acontecerá durante todo o tempo, desejamos estabelecer a partir da igreja nas casas essas
células temporárias por 30 dias ou mais. O alvo específico é manter a igreja com olhos
para os de fora tanto quanto tem olhos para os de dentro. O culminar desse momento
evangelístico intencional será um Encontro nas Casas com aqueles participantes das
células temporárias. Esperamos que o céu desça e que os milagres e o sobrenatural de
Deus aconteçam de maneira poderosa.
De dois em dois ou mais, os membros da igreja na casa poderão, se quiserem, abrir
uma célula temática temporária. Este será um momento para convidar amigos, vizinhos,
parentes e colegas para um momento único onde o amor de Deus e da igreja será
derramado sobre essas pessoas.
Entendemos em Deus que essa estrutura simples, funcional e transferível é a ideal
para países fechados onde a igreja não possui liberdade de se reunir publicamente.
Entendemos que esta estrutura orgânica é também ideal para as grandes metrópoles onde
transito e locais para a reunião pública se tornaram desafios cada vez mais reais e
intransponíveis.
Reuniões Públicas

A partir da coluna vertebral que são as igrejas nas casas, as igrejas juntas poderão,
se quiserem, manter reuniões públicas onde um grande ajuntamento acontecerá para um
momento profético mensalmente ou quinzenalmente. Não precisamos engessar esta visão
com nenhuma forma de dogmatismo. Vemos que em países livres, desde que o paradigma
do “crente como o templo” não seja trocado por prédios, não há porque não haver
reuniões públicas.
Entre os pastores das igrejas nas casas um presbitério de governo para a cidade
poderá ser escolhido juntamente com a cobertura apostólica a fim de que essas dinâmicas
sejam estabelecidas de maneira consensual e prática. Vemos nisso um grande, espetacular
e maravilhoso potencial de Deus para a plantação e para o crescimento da igreja de Jesus
Cristo na terra.

VINTE E SETE

Uma Família de Igrejas

Construindo Juntos Um Chamado Profético

O Senhor tem claramente nos chamado para constituirmos uma família de igrejas.
Há dias atrás, visitando uma igreja em Redding, CA, um conhecido compositor, mas
desconhecido meu, nos entregou a mim e a minha esposa uma poderosa palavra profética
acerca de todas as coisas que vem acontecendo em nossa vida e ministério. Ao meu lado
estava o pastor da igreja que a seguir me disse: “você é alguém chamado para ‘paternidade
espiritual’”. Mal sabia ele que insistentemente pessoas de diferentes lugares tem sido
enviadas por Deus me solicitando exatamente isto. Sei portanto que estamos sob um
chamado e sob uma unção para estabelecermos novos e elevados caminhos na Casa de
Deus. Isso, entretanto não é papel de um homem, é a função do Corpo, dos membros, dos
ministérios, da igreja toda mobilizando-se juntamente para este fim.
O melhor e mais maravilhoso lugar para se estar é dentro do “Propósito Profético
de Deus para as nossas vidas". Para o cumprimento do seu Propósito Profético Deus une
pessoas. É nesse lugar que haverá alegria, recursos, motivação e frutos, muitos frutos
espirituais. Vamos juntos a isto???

Edificando Uma Visão


Estabelecer uma visão é mais um processo do que um evento. Haverá muitas coisas
a se experimentar, testar, ajustar, substituir e refazer. O maravilhoso entretanto é que
estaremos cooperando com Deus na edificação de uma obra que não é nossa, é dele!
Convido você, portanto a participar deste momento único de Deus para nós como família
de Deus, povo de Deus, igreja viva de Deus.

Este livro portanto, se presta a ser uma proposta, leve, flexível mas com
implicações serias e eternas. Se você se sente parte disso, gostaria que se
comprometesse a investir, edificar, caminhar e participar juntos da edificação de
algo em Deus. Neste exato momento há irmãos queridos orando e anelando por isto
em diversos lugares do Brasil, América Latina, Europa, Estados Unidos e África.
Vamos juntos a isto?

Um Mesmo Corpo Doutrinário

A base de partida mais elementar e básica entretanto é crermos todos e termos todos
uma mesma confissão de fé elementar e inegociável. No mais, além disso, podemos ser
flexíveis e inclusivos. Sugiro que estudemos e adotemos a Confissão de Westminster com
algumas excessões que poderão ser tratadas oportunamente no futuro.

A Identidade e Paternidade Apostólica

Como já foi dito, desejamos ser uma obra orgânica e apostólica que reconhece e
flui nos cinco ministérios de Efésios 4:11 e 12. Para tanto desejamos reconhecer entre nós
essas funções que definem uma prática e não meramente títulos. A partir dessa equipe de
Ministério uma identidade ministerial poderá ser estabelecida de maneira viva, leve e
orgânica. Em muito o meu coração se inspira por algo vivo e maravilhoso assim!

VINTE E OITO

Três Níveis de Comunhão

Vemos nas Escrituras, no Novo Testamento, mas especificamente depois do livro dos
Atos dos Apóstolos, três tipos de vínculos entre pastores com suas Igrejas: o
relacionamento de paternidade espiritual, o relacionamento de cobertura apostólica e o
relacionamento de aliança ministerial. Desejamos praticar essas mesmas coisas em nossa
Comunhão Orgânica.

Em Relacionamento de Paternidade Espiritual

Como dissemos antes, Paulo claramente refere-se a Timóteo como um “verdadeiro


filho” e sabemos, lendo as demais porções da Escritura que havia entre eles um vínculo
pessoal onde Paulo exercia essa maravilhosa função. Nesse nível, que é o primeiro, o foco
está e deve ser em estabelecer um RELACIONAMENTO bom, fluente, real e livre onde as
expectativas sejam todas claramente estabelecidas e as afinidades testadas. Nesse tempo
de oração e comunhão é preciso perguntar ao Espírito Santo se haverá frutos divinos nessa
associação. É este o tempo de livremente vir, e se for o caso ir embora. Se alguém for
embora, ninguém deve nada a ninguém a não ser o amor. Sejamos todos livres pois foi
para esta viva liberdade que Ele nos libertou!
É nesse nível que confiança, transparência, vulnerabilidade mas também conquistas
e alvos são estabelecidos. É este aqui, no primeiro nível o tempo de aprofundar
relacionamento para que algo orgânico e não organizacional seja posto como
fundamento. Da mesma forma, para aqueles que anelam algo mais profundo caminhando
para os outros níveis, este será sempre o ponto fundamental de partida, o início.

Em Relacionamento de Cobertura Apostólica

Em nossa família de Igrejas, desejamos reconhecer os cinco ministérios e viver isto


organicamente com base em relacionamentos reais, não meramente organizacionais.
Portanto, de acordo com as Escrituras, claramente vemos que as igrejas reconheciam a
autoridade apostólica de Paulo e dos demais apóstolos e um vínculo além de paternidade
era estabelecido.
No passado, no maravilhoso movimento das Comunidades, muita gente se frustrou
com coberturas espirituais apenas de nome sem nenhum valor, sem nenhum sentido e sem
nenhum foco prático. Além disso, aquela, em muitos casos era apenas “cobertura de
chantilly com morangos". Não havia vínculos reais e nem um relacionamento real
envolvendo autoridade.
Desejamos nesse segundo nível prestar verdadeira mentoria prática sobre
ministérios e suas igrejas vendo-as florecer de modo maravilhoso e sadio. Sem um vínculo
real de autoridade isto é impossível e nada de objetivo seria alcançado.
Para as Igrejas que já possuem um nome e registro próprio não vemos nenhuma
necessidade em se fazer qualquer alteração, pois nosso vínculo não se trata de uma
denominação mas de uma família. Alguém pode argumentar que famílias possuem um
sobrenome... Entendemos em Deus, que a seu tempo teremos também o nosso
“sobrenome familiar". A seu tempo o Senhor nos dará algo assim que nos identifique como
família de igrejas.

Em Relacionamento de Aliança Ministerial

No Novo Testamento vemos um terceiro tipo de relacionamento ainda mais


profundo que era o de aliança ministerial. Foi isto que levou Paulo e Barnabé a partirem de
Antioquia. Era este tipo de vínculo apostólico-missionário que uniu o apóstolo a Tito,
Epafrodito, Timóteo, Silas, Priscila e Áquila como a tantos outros. Paulo também faz
menção de vínculos financeiros com esse propósito com diversas igrejas. Nesse atual
movimento orgânico desejamos apoiar o avanço da causa do Evangelho e construir
vínculos e ferramentas práticas para viabilizar o avanço da obra do Senhor de modo
pioneiro e real.
Nesse terceiro vínculo de relacionamento todas as responsabilidades são
partilhadas. Há nele paternidade espiritual, haverá cobertura apostólica e também um
projeto ministerial envolvendo tudo que somos e temos. Acredito que é a partir deste nível
de envolvimento de onde poderemos reconhecer os irmãos entre nós, os cinco ministérios
e a fluir em toda a família de igrejas.

VINTE E OITO

Um Mover do Espírito Santo

Sonhamos com um novo vinho que nos encha de alegria e deleite no Senhor.
Desejamos muito mais da Presença e da Glória do Senhor e para isto colocaremos todo o
nosso foco em buscar essa Presença para desfrutarmos dela, para nos encher da Presença
e para liberarmos a Presença onde quer que chegarmos. Deus nos chamou para
exercermos esse trabalho Sacerdotal nessas três grandes e fundamentais dimensões. Esta é
a função mais básica de cada crente: ser um sacerdote e saber lidar com a Presença de
Deus.
Além disso e de forma prática, este vinho precisa de odres adequados, de uma
estrutura que não impeça a Presença de Deus de agir no Corpo e através do Corpo de
Cristo e seus membros. Não adianta falar da Presença do Senhor quando a estrutura onde
estamos a sufoca, bloqueia e impõe controles humanos contra ela. Não adianta falar de
“cada crente um ministro” quando criamos um novo tipo de clericalismo e também não
adianta falar da graça divina quando a estrutura que temos não tem nada de graciosa mas
tornou-se uma organização rígida e engessada a ferir o próprio Corpo do Senhor.
Entendemos que nesses dias precisamos avançar rumo à reforma das estruturas,
rumo a um poderoso avivamento e rumo à restauração da Igreja ao modelo dos dias
apostólicos. Este é um chamado e um privilégio enorme. Hoje há santos de Deus nos
cinco continentes aguardando por esse momento maravilhoso e histórico. Você deseja
fazer parte disso? Então escreva este livro comigo! Este é um convite especial e pessoal de
mim pra você. Vamos juntos?

*Este livro somente será revisto, acrescido e publicado como resultado de sua leitura
conjunta, oração e participação dos irmãos convidados a isto.

Referências:

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