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Marcelo Almeida
CAPÍTULO UM
Partindo
Fui pioneiro juntamente com um querido irmão, ainda nos finais dos anos 80 no
paradigma das células. Na época, “vimos” em Deus que este era um movimento de
vanguarda que trazia em si mesmo algo para o que as igrejas convencionais não tinham
resposta. Entendemos que o “cada crente um ministro” e o “cada casa uma Igreja”
representavam um salto de volta às origens, um passo gigantesco na restauração da Igreja.
Vimos também que “cada crente é o templo” sagrado onde o Espírito Santo habita. Mas a
obra não acabava ali naquela visão. A obra requeria um certo tipo de estrutura para as
coisas fluírem e continuarem fluindo.
Toda mensagem pede uma estrutura de igreja compatível com ela. Não há
neutralidade em nenhuma teologia. Entendi em Deus que há valores, narrativas bíblicas e
verdades que pedem uma estrutura nova para cada “vinho novo". Nesse nosso caso aqui
não será diferente. Precisamos de um Odre Novo para este Vinho Novo, uma estrutura
nova para uma visão nova. Mesmo na “visão das células” e nas Igrejas que praticam o
modelo celular houve um imenso retrocesso onde a Igreja organismo tornou-se uma rígida
organização incapaz de continuar avançando na Restauração do modelo da Igreja
apostólica do livro de Atos. Deus nos chama a continuarmos a peregrinação rumo a uma
igreja mais neotestamentária.
Um amigo querido que leu o meu livro “Eu Sou a Videira” ficou muito surpreso ao
ler algo muito semelhante ao que eu escrevera, em um outro livro lançado recentemente
por Francis Chan nos Estados Unidos. Em seu livro “Letters to the Church” - (Cartas à
Igreja), o autor propõe um novo paradigma de Igreja. Com a seguinte proposta ele começa
o seu livro:
“Imagine que você está sozinho em uma ilha deserta sem nada a não ser um
exemplar da Bíblia. Você não tem nenhuma experiência com o cristianismo e tudo
o que conhecerá dele virá da sua leitura da Bíblia. Como você imagina que deveria
ser o funcionamento da Igreja? Falo sério. Feche os olhos por dois minutos e
imagine como a Igreja seria.”
Como nós, o autor chegou às mesmas conclusões acerca das células que chegamos
há trinta anos atrás. Ele saiu de uma mega igreja convencional, concluiu que era
necessário ir para o “grupo pequeno” mas depois foi além. Ele propõe levar a igreja do
Templo, ao seu componente mais orgânico e de volta às casas! Semelhantemente, desejo
propor a você uma jornada rumo à eclesiologia e à prática da Igreja dos primeiros dias. Se
fizermos o exercício proposto por Francis Chen lendo o Novo Testamento e reproduzindo
apenas e exclusivamente o que está ali, chegaremos a um modelo de obra revolucionário,
orgânico e vivo!
Não proponho, como faz o autor de “Letters to the Church”, que não haja mais
reuniões públicas em um grande local. Proponho sim que a principal reunião seja nas
casas e que o modelo do Novo Testamento seja mesmo levado em conta e praticado sem
limite algum! Será, inevitável, propormos questões que trarão desconforto a alguns
queridos irmãos. De antemão eu peço perdão por isso! Minha intenção de modo algum é
ofender quem quer que seja com o que tenho visto em Deus. Minha oração é que as
minhas convicções não abalem as convicções de ninguém que as tenha recebido de Deus
também. Cada um edifique na fé que tem. Não somos inimigos mas companheiros no
mesmo Reino. Se ao ler este livro você concluir que este paradigma é por demais
desconfortável, simplesmente o coloque de lado e ore por nós! Com certeza preciso
demais da sua oração.
Não quero que pessoas rebeldes, magoadas e com motivos errados usem este
pequeno livro para justificar suas práticas carnais, antiéticas, desonrosas, divisivas e
destrutivas. Este livro não tem a intenção de fazer proselitismo e nem de colher em terra
alheia. Se alguém faz isso comete pecado e não tem de modo algum o meu apoio e
concordância. Nada tem a ver comigo e nem com o que Deus tem nos mostrado.
Fui salvo em uma Igreja convencional que nunca usou a prática das células. Nem
por isso deixaram de ser uma obra de Deus. Irmãos queridos de todo o espectro
evangélico merecem respeito e os temos em alta consideração. Novamente, cada um veja
como edifica sendo fiel à luz que tem e à capacidade que foi dada segundo a “medida da
Graça" confiada a cada um. Simplificando: “seja fiel àquilo que Deus te comissionou a
fazer"!
Se, por outro lado você tem sido incomodado pelo Senhor a continuar a marcha
rumo à Restauração da Igreja, se deseja avançar um pouco mais, se está “sem igreja”, este
livro é para você. Desejo que o Espírito Santo o motive, te dê clareza e te encha de uma
nova inspiração! Bem mais do que isto, desejo que você pegue fogo ao ler estas páginas!!!
CAPÍTULO DOIS
Você ja percebeu que Jesus somente dá aos seus seguidores duas grandes
recomendações cardeais? Além de tudo o que ele ensinou nos seus três anos e meio de
Ministério o Senhor dá apenas duas ordens diante das quais nenhum cristão genuíno tem
escolha: O Grande Mandamento e a Grande Comissão. Estão nelas a fonte do equilíbrio
na edificação da Igreja se soubermos obedecer o Senhor em ambas as suas
recomendações. Aqui também estão a fonte do desequilíbrio no que muitas Igrejas
praticam pois escolhem apenas um dos Mandados Cardeais do Senhor. Nenhum cristão,
entretanto tem escolha diante dessas duas ordens dadas de amar os de dentro de casa e ir
aos perdidos que estão lá fora!
Creio que se Jesus, o Senhor da Igreja, nos deu as duas ordens cardeais, há sim uma
maneira simples de praticarmos algo que contempla a qualidade e o crescimento ao
mesmo tempo. Há uma maneira de viver a experiência de sermos tanto uma família de
Deus e também de crescermos de maneira sustentável e bíblica. A resposta é mais simples
do que você imagina: É só praticarmos as duas coisas ao mesmo tempo! Simples assim. O
desequilíbrio está em colocarmos foco e ênfase em uma delas apenas. Este é o problema!
Todo desequilíbrio acontece quando os pragmáticos acusam os que querem uma Igreja
mais “família de serem “almáticos” e desprezam o Grande Mandamento. Ou na via
inversa, quando aqueles que desejam uma Igreja mais “Comunidade” acusam os demais
de serem “uma linha de montagem” de uma indústria mas desprezam a Grande Comissão.
O Pragmatismo é uma filosofia secular proposta por William James (1842-1910).
Infelizmente sua filosofia tomou conta da Igreja! Em nome dela deixamos morrer a
centésima ovelha, esquecemos a dracma perdida e excluímos o filho pródigo. Fazemos o
que Jesus não fez em nome dessa filosofia. A depender disso o endemoninhado Gadareno
estaria possesso e a viver nos sepulcros até os dias de hoje pois em nosso pragmatismo
jamais deixaríamos um ministério que estava “bombando” para passar ao outro lado e
resgatar aquele infeliz solitário que nada tinha a acrescentar ao ministério do “Profeta das
Massas”. Contrariando todo o pragmatismo Jesus “pagou” para ir lá ao alcance daquele
homem miserável. Vultosas ofertas deixaram de entrar na bolsa de Judas Iscariotes quando
o Senhor determinou que trocariam as multidões para ir em socorro daquele infeliz e
solitário jovem.
Os racionais se chocam com os emocionais e os criticam e vice versa. Mas espera
um pouco... Não precisamos das duas coisas??? Eu diria que quem vive na alma,
satisfazendo seus caprichos emocionais edifica na carne tanto quanto aqueles que
adotaram a filosofia do pragmatismo. Ambas são anti-bíblicas e trarão desequilíbrios graves
ao serem praticadas. De novo, não há neutralidade no que pregamos!
O Grande Mandamento nos fala de aprendermos a viver na prática o amor também
prático para com os nossos irmãos e irmãs. Servir-lhes nas suas necessidades, gastar-nos no
discipulado e praticarmos as coisas que nos farão ser e viver a “experiência da
Comunidade” de Atos dos Apóstolos. Fala de viver o Grande Mandamento de amar-nos
uns aos outros como Cristo nos amou, o que nos levará a dar as nossas vidas para a Igreja.
Quando todos fazem isto temos aquele maravilhoso ambiente da Ek-Klesia apostólica.
Temos um genuíno avivamento! Estar na igreja se torna algo gostoso, empolgante, bom,
relevante e nos enche de alegria. O melhor de tudo isso é que colheremos qualidade nos
relacionamentos, no ensino, na formação e no treinamento de líderes. Haverá muita gente
disponível para cuidar dos novos na fé e a atmosfera de “família de Deus” pode ser
mantida. Esta é a experiência que encontramos no Livro de Atos no capítulo 2. A igreja era
uma comunidade tão maravilhosa que atraía a simpatia até dos que a viam de fora.
Mas não podemos ficar presos apenas ao Grande Mandamento senão nos
tornaremos um clube de gente introspectiva, um “ceuzinho artificial” na terra enquanto os
milhões de pecadores lá fora estão a perecer. Conheço muitas igrejas assim que preferem
ser esse “clube” de santos a viver em algum lugar alienado da realidade como se não
houvesse desafios enormes a serem enfrentados lá fora.
A Grande Comissão, ao envolver a família de Deus para ganhar os perdidos, estará
cumprindo uma das razões básicas de “Ser igreja", ser expressão da vida e do caráter de
Cristo para o mundo. Essa iniciativa de evangelizar o descrente, entretanto, não virá
desprovida da atmosfera de família e comunidade. Onde filhos sejam gerados, amados e
cuidados e não para serem deixados órfãos, ao relento e à mercê de maus pastores.
Se entretanto, não vivermos o Grande Mandamento na atmosfera da igreja, a prática
da Grande Comissão será semelhante às incubadoras e às granjas onde os pintainhos são
criados aos milhares sem suas mães. Evangelismo sem a contrapartida do discipulado é
uma incubadora artificial onde geram-se os crentes que são mantidos em um orfanato
espiritual. Por isso muitos cristãos jamais crescem espiritualmente. Saíram da incubadora e
foram direto para o orfanato!
O Senhor da Obra deseja que vivamos e pratiquemos as duas coisas de maneira
equilibrada e harmônica: O Grande Mandamento e a Grande Comissão! Há uma
edificação maravilhosa esperando por nós, por mim e por você meu querido irmão! Deus
deseja que esse modelo de Igreja vivo, moderno e contextualizado se multiplique aos
milhares nas cidades, nas vilas, nas fábricas, nas universidades, entre artistas e militares,
entre professores e demais profissionais. No meio dos jovens, famílias, entre homens,
mulheres e idosos.
CAPÍTULO TRÊS
Talvez seja novidade para alguns dizer que na Igreja dos primeiros dias não havia
templos. Nenhum templo! Deus mesmo, do Santo dos Santos, na parte mais interior do
templo judaico em Jerusalém rasgou o véu que separava aquele recinto das outras partes.
Por que Deus fez aquilo? Ora claramente entendemos a mensagem! Com esse ato Ele
disse: “NÃO MORO MAIS AQUI"! Mais tarde o apóstolo Paulo afirma aos Coríntios: “Não
sabeis que sois templos de Deus e que o Espírito Santo habita dentro de vós"? Em outro
lugar ainda diz: “Aquele que se une ao Senhor é um só espírito com Ele". Assim, para o
crente da Igreja daqueles dias não havia dúvidas sobre o lugar onde a Presença de Deus
repousava. Aliás toda a figura do tabernáculo e depois do templo era para significar a
chegada desse solene momento onde o Testemunho de Deus se mudaria daquela estrutura
para dentro do espírito de cada cristão. O crente é o templo de Deus hoje!
Infelizmente a Igreja percorreu um longo caminho negando esse fato bíblico
revolucionário e com implicações tão sérias na vida dos crentes. Ainda nos primeiros
séculos da era cristã, após Constantino, com a igreja se tornando presa e dependente do
Estado, logo os cristãos passaram a reunir-se novamente em “edifícios sagrados”. Novos
“templos” passaram a ser erigidos, agora, não mais aos deuses pagãos romanos mas ao
Deus cristão. À medida que a igreja foi perdendo a vida e uma casta clerical foi usurpando
e atrofiando todas as funções do Corpo de Cristo, cada vez mais o “templo” foi tomando o
centro do culto e de todas as coisas. Chegamos ao ponto em que sem um templo acaba-se
a igreja! Para muitos chegou-se ao absurdo de que só haverá igreja se houver um prédio,
um local para reunirem-se. Esta, entretanto não era a prática do Novo Testamento.
Mesmo com a Reforma Protestante não se livraram os crentes de ter o seu “Templo”
e renovou-se o mesmo tipo de atitude reverencial a um prédio onde supostamente Deus
estava e morava. O conceito problemático de ir à Igreja ao invés de ser Igreja perdura até
os dias de hoje mesmo em Igrejas que vivem o paradigma celular. Ao fim e ao cabo o
"Templo” continua sendo o centro de tudo, mesmo permanecendo fechado a maior parte
do tempo e sendo aberto apenas em fins de semana para receber os “fiéis”. Gastamos
fortunas para adquirir, construir, reformar e manter prédios vazios que nada expressam do
modelo neotestamentário. Numa Igreja orgânica as coisas podem funcionar diferentes
disso.
Até o “layout” onde as cadeiras são dispostas à maneira grega, onde cada crente vê
apenas a nuca do irmão que está à frente, indica que não estamos ali para nos relacionar e
sim para assistir ao culto. Portanto tenha reverência e cale a boca! Você não está ali para
cultuar participando mas vendo, ouvindo e repetindo. O sujeito na plataforma e com
microfone está ali pra comandar um show e você apenas para segui-lo. Se fizer mais que
isso incomodará o pastor ou o padre que anima aquele culto. A estrela ali não é você, é o
líder lá adiante. Infelizmente, na maioria dos casos, no cristianismo-organização não
haverá outros momentos para que a igreja pratique um modelo dinâmico, relacional,
participativo e orgânico de ser igreja. Nada de expressão da espontaneidade e iniciativa
cabem em certas estruturas rígidas.
Entendo que este é o momento de voltarmos às bases da Igreja Cristã dos primeiros
dias. As células devem se tornar verdadeiras Igrejas nas casas crescendo em implicações
até reproduzirem aquele mesmo ambiente. Na igreja nas casas, partimos o pão,
compartilhamos a Palavra viva, discipulamos, evangelizamos, levantamos as ofertas e
dízimos, consagramos nossas crianças, rimos e choramos juntos. É na vida da igreja que
acontecerão as coisas mais preciosas e importantes das nossas vidas! Na igreja somos
família e somos comunidade juntos. Ali crescemos juntos, os dons espirituais de cada um
podem mesmo ser descobertos e desenvolvidos. A dinâmica do Corpo do Senhor Jesus se
expressa de modo maravilhoso e sem impedimento algum. Nesse ambiente o sobrenatural
de Deus se manifestará e os milagres acontecerão. Entendo que alguém que
lidera algo assim, por mais que se reuna em alguma casa e fora de qualquer “templo”
caminha para ser reconhecido como um pastor real do rebanho de Deus, ainda que não
tenha diploma em teologia e nem possua um prédio que outros chamariam de “Igreja".
Uma igreja nas casas, nesse modelo mais orgânico torna-se, na prática, mais
organismo vivo do que uma mera organização. Uma igreja assim tem inúmeras vantagens
sobre quaisquer modelos convencionais pois libera os recursos financeiros da obra para
serem canalizados integralmente para missões e na vida dos necessitados. Uma obra
orgânica assim descobrirá os dons de cada crente e verdadeiramente os ativará para serem
usados na vida da igreja. Esta obra orgânica multiplica líderes em escala geométrica e na
prática treina todo o povo de Deus para ser ativo, maduro e comprometido com a causa
do Reino de Deus. Uma obra assim terá apenas pastores vivamente comprometidos e
conhecidos por seus próprios rebanhos que os conhecem e seguem de perto.
Não há espaço aqui para pastores se esgotando com a obra de Deus pois todos
estão envolvidos e comprometidos a compartilhar as tarefas, pesos e responsabilidades.
Podemos ter pastores que mantém as suas profissões sem que sejam necessariamente
“tempo integral” dedicados exclusivamente ao ministério pastoral. O potencial liberado
por esse modelo é poderoso e revolucionário!!! Na verdade todos os cristãos são
dedicados a tempo inteiro levando a experiência e a expressão do evangelho para onde
quer que estejam. Como disse antes, repito. Não proponho que as igrejas parem de se
reunir para cultos públicos, mas que se dê a máxima importância às reuniões nas casas.
Cultos públicos poderão acontecer em garagens, centro de convenções, hotéis, fábricas,
escolas e ao ar livre em parques públicos. Reuniões assim podem acontecer uma vez por
mês ou mais, dependendo da cidade onde a Igreja está estabelecida.
CAPÍTULO QUATRO
Clérigos e Leigos
CAPÍTULO CINCO
CAPÍTULO SEIS
CAPÍTULO SETE
CAPÍTULO OITO
“Pois o Senhor dos exércitos tem um dia contra todo soberbo e altivo, e contra todo o que
se exalta, para que seja abatido; contra todos os cedros do Líbano, altos e sublimes; e
contra todos os carvalhos de Basã; contra todos os montes altos, e contra todos os outeiros
elevados; contra toda torre alta, e contra todo muro fortificado; e contra todos os navios de
Társis, e contra toda a nau vistosa. E a altivez do homem será humilhada, e o orgulho dos
varões se abaterá, e só o Senhor será exaltado naquele dia. Isaías 2.12-17
Qualquer um que decidir viver perto de um cedro deve desistir de ver a luz e
desfrutar de umidade. Os cedros são árvores fortíssimas que “monopolizam” totalmente o
espaço onde estão. Todas as demais plantas que estiverem perto de um cedro sofrerão
sempre com sua tendência de usar a luz e a água exclusivamente para si mesmos. Note
bem que esta é uma maneira de edificação. Para os demais, sobrará as sombras e uma
terra seca e árida. Cedros não lidam muito bem com companhia e “concorrência”. São
sempre donos exclusivos do “pedaço”. Precisam saber de tudo sempre e em todo lugar.
Têm uma necessidade de serem únicos e atrair toda exclusiva atenção para si mesmos.
Cedros nunca têm perguntas. Já sabem todas as respostas, são categóricos, dogmáticos e
absolutos!
Infelizmente, um cedro no meio da igreja, em vez de levantar outros líderes fortes,
terão sempre a tendência de sugar toda a vida ao redor de si. É como um buraco negro
espiritual que inibe, deprime, sufoca quaisquer outras lideranças ou expressões divinas ao
redor. Perto de um cedro, a “multiforme sabedoria de Deus” será reduzida à “uniforme
sabedoria do homem”. Lamentavelmente, vemos prosperar inúmeras obras assim.
Movimentos que lá no passado representaram uma golfada de frescor e de vida, hoje são
obras de um apóstolo só, um bispo solitário, personalista, autocrático e muitas vezes
imperial.
Por que isso é tão grave? Porque não é o modelo de igreja do Novo Testamento e
nada tem a ver com o referencial apostólico da genuína “tradição apostólica” legada a nós
como referencial. Pode ser muito oportuno e bom para o homem que ocupa o topo da
“cadeia alimentar”, mas isso não é igreja neotestamentária. De fato, é a manifestação
daquele tipo terrível de clericalismo pseudo-apostólico. A Bíblia diz que Deus é contra
todo o cedro do Líbano e fala também sobre o seu machado posto sobre o tal cedro.
Será que Deus tem problema com alguma forma de vegetação e de árvore? Qual a
diferença entre a videira, que é Cristo, e o cedro? Por que Jesus escolhe essa planta, a
videira, para nos dar seu modelo de edificação? Ele o faz a fim de referir-se a mim e a
você, à nossa conexão uns com os outros, à nossa unidade uns com os outros e à nossa
ligação com Ele mesmo. Jesus está revelando aqui seu modelo de edificação. A videira de
João 15 expressa o Grande Mandamento e o ambiente vivo de uma igreja que vive como
uma genuína família.
Sabe qual a diferença entre o tipo de crescimento da videira e o do cedro? Uma
videira nunca cresce para cima. Ela não tem “natureza”, estrutura e modos de crescer para
o alto. A Videira cresce para os lados. Essa característica maravilhosa possui um
significado que se torna referencial para nós. O “interesse” da videira nunca é ser vista e
destacar-se acima dos demais galhos num tipo de crescimento doente. Se isso acontecer,
caracteriza-se como uma anomalia doente da videira.
Uma videira normal se espalha, conecta-se, abençoa as pessoas, toca e nutre-as
com cachos de uvas e frutos fáceis de serem alcançados. Ela não busca se destacar. O
cedro, por outro lado, sempre cresce para o alto. Parece pleonasmo, mas é exatamente
esta a ideia: cresce para cima. Ele tem de ser visto de longe e receber toda a glória e não
suporta outros por perto. Sua altura nunca é compartilhada e usará de todos os meios para
monopolizar tudo ao seu redor fazendo toda a igreja sofrer. Vemos isso na igreja romana e
decadente da Idade Média.
Uma de nossas escolas bíblicas funcionava em num sítio, e lá havia um lindo cedro.
Era antigo, o caule muito grande, uma árvore que crescera muito. Tornou-se uma árvore
muito alta, chegando a uns vinte e cinco metros de altura. No lugar onde estava plantado,
não havia outras plantas. Era uma árvore nobre, imponente e solitária. Era como se o cedro
dissesse: “Eu preciso aparecer, preciso me destacar, e ai de você se chegar perto de mim,
competindo com a minha gloriosa formosura!” Aquele cedro era visto de longe mas estava
lá sozinho.
Entretanto, o que é mais interessante, diferentemente da videira, é que ele não
produz frutos, não alimenta ninguém, toda a sua seiva destina-se exclusivamente para si
mesmo. Cedro não produz nada! Há uma única coisa para a qual o cedro é muito bom:
ser cortado a fim de que a sua nobre madeira seja utilizada para se produzir muitos
móveis. A videira, ao contrário, dá o seu fruto doce e qualquer um, até uma criança, pode
estender a mão e colhê-lo. O fruto da videira é alcançável e não serve ao propósito de dar
glória e destaque a um único homem. Nenhum dos ramos da videira se sobrepõe sobre os
demais e não há uma parte dela com “ganas clericais”. A videira é pelo corpo todo e sua
seiva e frutos se distribuem também para o corpo todo. Por essas características a videira
como planta representa tão bem o modelo orgânico da Igreja dos primeiros dias.
Que lindo modelo do “cada crente, um ministro; cada igreja, uma sede apostólica
pioneira e plantadora de igrejas; cada pastor, um apóstolo-servo poderoso em palavras e
obras”! Este deve ser o nosso encargo: levantar a todos e nunca inibir, sufocar, reprimir,
intimidar e afastar os irmãos. Essa visão refere-se a levantar muitos outros centros de
influência apostólicos, muitos outros líderes apostólicos e não apenas um ou dois
assentados sobre o “trono de São Pedro” numa Roma contemporânea.
Infelizmente, várias expressões do maravilhoso movimento da restauração
terminaram exatamente assim: dois ou três “papas” reivindicando para si mesmos a
autoridade exclusiva e sua cidade, como “Sé Romana”, a partir de onde sua influência
exclusiva pudesse arrebanhar o maior número possível de seguidores oferecendo ou
impondo uma “cobertura espiritual”. Esta foi a causa de uma das mais tristes decepções
que experimentei nos anos de vida cristã e no ministério.
Você é chamado para ser a videira de João 15, e não apenas isto, deve estar
firmemente comprometido em ser contra qualquer clericalismo que faça sofrer a igreja de
Cristo. Não seja você mesmo alguém que duplica uma liderança tóxica. Seja um líder que
frutifica, que cresce no ministério da Palavra, um líder que serve, alguém que Deus usa no
ambiente simples da igreja, com unção e com vida para produzir seu fruto. Fruto
alcançável para o irmãozinho simples, para gente que não precisa ir longe a fim de se
alimentar e ser abençoado, para se refrescar na sombra das suas folhas. Isto é uma igreja
orgânica.
Deus nos livre de sair dessa edificação para o modelo nocivo do cedro. Esse modelo
clerical sempre desemboca em uma “Torre de Babel” erigida para algum “apóstolo” que
precisa ser aplaudido, adulado, refletindo todo o glamour do cedro. Quanto a nós,
multiplicaremos líderes fortes, pastores maduros e hábeis na Palavra e na liderança, gente
que anda com pernas próprias. Vamos ver surgir inúmeras sedes apostólicas espalhadas
pelo mundo todo, cujos pastores sejam levantados por Deus como apóstolos-servos,
chamados para se multiplicarem como a videira de João capítulo 15.
Nas igrejas, estimularemos o “cada crente, um ministro”, fazendo dos nossos
presbitérios também um lugar assim que inspira, encoraja, promove e libera as pessoas
para atingir seu pleno potencial. Vamos investir e viabilizar os sonhos ministeriais dos
membros do Corpo! Deus nos livre de sermos nós mesmos um cedro, de estimulam
lideranças “estilo cedro”, tolerarmos os cedros e, pior de tudo, jogarmos confete nesse tipo
de modelo cedro neoclerical. Quanto a nós, desejamos edificar no modelo de uma
liderança também orgânica.
CAPÍTULO NOVE
CAPÍTULO DEZ
CAPÍTULO ONZE
CAPÍTULO DOZE
Significado e não Rendimento
Eu valho o que significo ou o que trago de lucro? Depende de onde estou. Se estou
numa empresa eu valho o que trago de lucros e ganhos sim. É isso que norteia a
contratação de funcionários. Mas e na Igreja? Há pessoas maravilhosas que rendem muito,
trazem muitos visitantes, ganham muitas almas, consolidam muitos. Gente brilhante, que
discipula, multiplica o discipulado e treina muitos líderes. Glória a Deus por esses e que
continuem fazendo isso! Mas a grande pergunta é: e quando isso não acontece? Ou
quando acontecia e parou de acontecer? Um exemplo: um jovem na igreja, entre seus
dezessete e dezoito anos, estava em todos os cultos e reuniões de oração pela manhã, era
presente em todas as reuniões e era sempre ativo. Estava em todas as programações e
conferências da igreja. Esse tal jovem, seguindo o curso normal da vida, terminou o ensino
médio e agora decidiu fazer o vestibular para medicina. Ele sempre foi cheio do Espírito
Santo, ama a Deus, frutificou muito, já ganhou muitas vidas para Cristo, agora precisa tirar
tempo para estudar e estudar muito, estudar feito um louco a fim de entrar na
universidade. Além disso, ele trabalha meio período nos negócios do pai. A primeira
consequência na vida de um jovem assim, nessa temporada da vida, é que não vai mais
render o que sempre rendeu antes. Ele não vai levar para a igreja tantos visitantes como
costumava levar. Para se profissionalizar precisa por foco nos estudos por uma temporada.
Nesse tempo ele não vai estabelecer uma célula evangelística temporária como antes
fazia.
Os primeiros comentários de um “gerente” seria: “você está perdendo a visão, está
perdendo o coração, cobiçando as coisas do mundo”. Este é o grande teste, não para o
rapazinho, mas para o seu líder. Aqui está a grande pergunta: ele vale o que significa ou o
que rende? Ele é da família ou apenas um escravo de uma organização impiedosa? Não é
ele quem responderá a esta pergunta, é seu líder!
Eu posso perguntar também se valho o que produzo nessa igreja ou o que significo
como gente, como pessoa? O discipulado que vivemos é algo temporário ou é para a vida
toda? O que eu realmente significo: sou filho de Deus, sou amado, sou parte da família,
sou parte da igreja orgânica, independentemente de qualquer fase na minha vida? Ou isso
aqui é só uma temporada na qual depilam-se as ovelhas e comem-lhes as carnes e usam
os ossos como adubo?
Algo comum na igreja é ouvir que amizades e relacionamentos envelhecem. Isso é
verdade. Relacionamentos de amizade e de discipulado não são como um casamento.
Podem, sim, ser temporários até cumprirem um propósito. O que me incomoda é pessoas
na casa de Deus usarem isso como justificativa de ir deixando no seu rastro uma fila de
cadáveres de Lázaros mortos, sepultados e cheirando mal. Incomoda-me usarem isso
como justificativa “espiritual” para ignorar, deletar e afastar pessoas do seu círculo de
proximidade. Gente insensível e de platina. Ora, gente assim nunca será o modelo de
Cristo!
Corremos o risco de tratar as pessoas como coisas, vendo apenas o momento, e não
as décadas que estão adiante de nós. As pessoas precisam ter segurança de que o nosso
investimento é de longuíssimo prazo, é para a vida toda, é nosso projeto existencial muito
além de uma temporada, além de uma mera jornada de crescimento. Em longo prazo, isso
é que fará toda a diferença. Se nós aplicarmos o princípio equivocado de valorizar as
pessoas na base do que elas rendem, pelo retorno que dão, pelo que elas produzem,
vamos machucar muita gente, vamos ferir muita gente, excluir dos nossos relacionamentos
muita gente querida, inteligente, brilhante. Vamos tornar a vida dessas pessoas
extremamente desconfortável.
Alguns casos, algumas excessões podem ter a ver com gente que desistiu mesmo da
caminhada, entretanto não é disso que estou tratando aqui. Eu mesmo, daqui uns anos,
não vou render mais o que estou rendendo, não vou mais conseguir viajar como viajo, não
vou pregar tanto quanto prego hoje, não vou frutificar como de costume. E aí? O que você
fará comigo? Vai me excluir também? Quando eu não corresponder mais às suas altíssimas
expectativas, ou quando você descobrir as minhas falhas, vai me jogar no lixo também? Eu
valho para você o que rendo, o que produzo ou o que significo? Vai me ignorar, me deixar
de escanteio, me deletar? Não rendo mais como antes para a visão, então acabou a minha
utilidade? Só presto enquanto sou útil? Nós amamos as pessoas porque elas são
importantes para nós e são da família de Deus. Cuidado, pois o que você faz com os
outros é exatamente o que farão com você no futuro.
CAPÍTULO TREZE
Durante vários anos busquei aprender os princípios e uma estrutura adequada para
fazer discipulado. Errei inicialmente por não saber exatamente como estabelecer um
modelo que funcionasse. Inicialmente as expectativas de quem era discípulo eram postas
naquilo que o discipulador poderia fazer por ele. Havia uma dependência não muito sadia
naquilo que o homem produziria de transformação na vida dos seus discípulos. Ora, isto
não é bíblico. Pois ninguém muda ninguém. Uma pessoa não tem o poder de mudar a
outra não interessa a pressão ou esforço que faça! O Espírito Santo é quem pode mudar
alguém usando a resposta individual de cada pessoa. No começo houve excessos e a
expectativa de transformação, suprimento e mudança eram colocados inteiramente no
homem. Houve gente frustrada que depois de caminhar alguns anos sob esse tipo de
discipulado não se tornavam naquilo que desejavam ter se tornado. Era como se o
discipulado em si mesmo devesse ser capaz de muda-los sem uma resposta sua à altura.
Olhando para trás, entretanto, mesmo diante de alguns excessos os resultados gerais
foram maravilhosos e experimentamos um avivamento! Acertamos muito mais do que
erramos. O Senhor fez grandes coisas na vida da maioria daqueles irmãos. Milhares de
líderes foram treinados e a Igreja cresceu de uma maneira extraordinária e orgânica!
Ficamos maravilhados com os resultados que vieram como consequência da qualidade.
Posso dizer hoje que houve bem mais acertos do que erros.
Infelizmente, mais tarde aqueles poucos excessos, produziram entre nós uma reação
radical para o lado inverso a isso. Alguns entenderam, não sei de onde, que o discipulado
deveria ser para ensinar a fazer coisas e não mais para se tornar e ser. O problema é que
isso não é neutro e traz consigo consequências gravíssimas no longo prazo. Discipulado
para fazer pode ser pragmático, mas tampouco é bíblico! No longo prazo, esse veneno
transforma a Igreja numa organização fria. Como disse, não há ensino neutro.
Essa mudança no eixo central do nosso discipulado seria gravíssima e foi algo que
só vim a perceber recentemente. Na sequência do tal tripé de ensino, na mesmíssima
vertente, começou-se a haver um ensino de que para agradar a Deus deveríamos trazer
gente para a Igreja praticando a Grande Comissão. Que isto era o que mais importava para
Deus. E que para alguém ser um vencedor deveria ser “frutífero". Leia-se fruto como a
habilidade de trazer muita gente para a Igreja. Que um genuíno vencedor não era alguém
cheio do Espírito Santo que vencia o diabo, o pecado, a carne e o mundo. Na prática, um
genuíno vencedor, de acordo com esse ensino, era alguém que fazia sua célula crescer e
conduzia muita gente a Cristo. A ênfase foi posta na defesa do argumento de que se
alguém quer agradar a Deus deve encher sua célula de gente, isto é, crescer, crescer e
crescer numericamente. Na prática, só se importavam com isto. O que exigíamos no
discipulado, supervisão e relatórios era isto.
Estávamos ensinando como fazer uma célula enxuta, funcional, pragmática,
crescente e que se multiplicava uma vez ao ano. Passamos a ensinar a fazer coisas. A
identidade de alguém estava invariavelmente ligada agora nas coisas que ele mostrava
saber fazer! Todos nós embarcamos nesse ensino sem questionar nada pois os abundantes
resultados eram a prova da aprovação divina. Até que veio a assustadora rotatividade de
membros, líderes exaustos, pastores deprimidos, rupturas de gente outrora fiel.
Definitivamente aquele ensino precisava ser revisto!
Aquele ensino parece neutro e equilibrado, mas não é! Lentamente o eixo da prática
e funcionamento das estruturas foram sendo voltados à performance, exclusivamente. Aqui
descartou-se o Grande Mandamento em completo favor e ênfase na Grande Comissão. A
primeira consequência foi o fim do fluir da Presença de Deus, a segunda foi um declínio
lento da qualidade da vida espiritual e devocional dos novos líderes, a terceira e a mais
visível foi a produção de um discipulado-gerência frio que causou um grande e
generalizado dano na vida da igreja com gente cansada e machucada de todo jeito.
Finalmente um êxodo de gente cansada buscando em outros lugares algo diferente do que
estava sendo praticado. Ví aos milhares gente saindo da igreja vacinada contra qualquer
coisa parecida com células.
Sim, é isto mesmo que estou dizendo! Fruto deveria ser resultado e não
consequência de um esforço da carne. Comecemos com uma pergunta: é a qualidade que
traz o crescimento ou o crescimento vem pela aplicação de métodos humanos? Uma
célula de evangelismo cresce porque há vida de Deus e um maravilhoso ambiente ou
também porque insistimos que todos ali tragam pessoas e insistimos em muitos eventos de
evangelismo mobilizando todos numa “indústria do crescimento”? É claro que estou sendo
simplista nesta análise! Mas a minha experiência indica que o crescimento pode vir das
duas formas. Entretanto, há uma só forma onde o crescimento vem de maneira bíblica,
harmônica, normal e sem causar esgotamento generalizado: como consequência de
qualidade, do fluir da vida de Deus e de um ambiente onde a igreja é de fato uma família,
uma comunidade orgânica. Novamente, a Grande Comissão somente será praticada de
maneira bíblica em lugares onde o Grande Mandamento também estiver sendo praticado.
Da mesma forma, seguindo o perigoso tripé que tira a Igreja da base Bíblica, o
ensino dos vencedores deve focar naquilo que a Bíblia foca. Ser Vencedor no Novo
Testamento é vencer o diabo, o pecado, o mundo e a carne. O resultado disso será
fecundidade espiritual com vidas sendo geradas na Casa de Deus. Inverter as coisas pode
soar pragmático mas não é Bíblico e nem traz o contexto da Igreja dos primeiros dias.
Paulo jamais ensina que para sermos vencedores devemos encher a Igreja de gente
aliciada por métodos humanos. Mas o anúncio da Palavra deveria acompanhar aqueles
que viviam a vida da Igreja de maneira plena. Era a “boca falando do que estava cheio o
coração". Precisamos da Igreja para frutificar, precisamos da vida da Igreja para vencer em
nossas fraquezas e problemas e somente inseridos numa genuína família de Deus
poderemos estar livres dos pecados e cacoetes da carne. Ganhar vidas, portanto deveria
vir principalmente porque vivemos em plenitude a experiência de sermos a família de
Deus. Ha uma razão para a Bíblia dar tanta ênfase na família de Deus.
CAPÍTULO CATORZE
CAPÍTULO QUINZE
CAPÍTULO DEZESSEIS
Antioquia e não Uma Roma
CAPÍTULO DEZESSETE
CAPÍTULO DEZENOVE
CAPÍTULO VINTE
CAPÍTULO VINTE E UM
VINTE E DOIS
VINTE E TRÊS
Deus nos chamou para Ir mais rápido ou para ir mais longe? São duas opções e
como igreja podemos praticar qualquer uma delas. Nós queremos ir mais rápido ou
desejamos ir mais longe? As duas coisas não conseguem caminhar juntas. Ou nós vamos
mais longe causando poderoso, profundo e definitivo impacto, ou vamos mais rápido. Se
formos mais rápido vamos forçar todas as estruturas da igreja e tudo vai ficar pesado pois
é preciso forçar os irmãos com muito mais ativismo e muito mais pressão.
Aquilo que era feito com encargo, com amor, resultado de uma paixão, um
chamado, um ideal maravilhoso, agora é obrigado, é forçado. Agora é na penha, agora é
na pressão, agora é na chantagem emocional. Se nós queremos ir mais rápido tudo vai
ficar pesado, o discipulado vai ficar pesado, os relacionamentos serão penosos, e as
pessoas vão demonstrar cansaço. Não estou dizendo que a obra de Deus não tem um
preço! Não estou dizendo que servir a Deus, orar e jejuar não tem um custo. Não me
entenda mal! Tem um preço sim, há desgaste nisso e isto é óbvio. Mesmo sabendo que a
obra de Deus traz certo preço, você recobrará o animo pois está cercado de um ambiente
rico da vida de Deus . Será um esforço intencional, espontâneo e alegre.
Na próxima estação, onde vamos sair para evangelizar novamente, multiplicar as
células temporária de evangelismo e continuar crescendo outro preço de semeadura
deverá ser pago. Tudo isso, entretanto será vivido com encargo e alegria. Por outro lado, se
queremos ir mais rápido ao invés de ir mais longe todas as estruturas vão estar
pressionadas e em algum momento o crescimento começará a cair. Daqui a pouco as
pessoas vão desistindo do modelo de igreja que tira o “sangue da jugular”. Já vimos isso
acontecer com outros modelos de igrejas em células que já começaram por aí mundo a
fora.
Ir mais longe significa amar nossos jovens e leva-los à plenitude da igreja. Significa
amar os adolescentes até vê-los amadurecerem. Significa também amar essas crianças que
estão correndo no nosso meio. São essas crianças que irão levar esse mover de Deus nas
próximas gerações. É essa geração que vai tocar o século com o mover de Deus.
Queremos ir mais longe, não necessariamente ir mais rápido. Ir mais longe significa
manter a qualidade, manter a paixão, manter o nível do fluir da presença de Deus entre
nós, manter o nível de discipulado de maneira saudável, correta, bíblica. Manter esse
desafio de edificar esse sonho de avivamento, de ser uma geração que toca nações. Esse
tem que ser o nosso coração.
Se queremos ir mais rápido porque outros modelo estão avançando e não podemos
ficar para trás uma hora vamos esbarrar nos conflitos da pressão do crescimento. Se por
outro lado optarmos por ir bem mais longe, talvez não teremos um crescimento de 100 %
ao ano. Quando as igrejas tiverem se multiplicado e tivermos um crescimento de 25%, no
longo prazo, esse crescimento será exponencial. Será um crescimento poderoso, com
intensidade e qualidade nas bases, com liderança bem treinada, apaixonada por Cristo.
Isto será a colheita de igrejas orgânicas de crescimento sustentável e consistente no
longuíssimo prazo. Nenhum crescimento maior que 25% ao ano no longo prazo é
saudável coloque isto na cabeça meu querido irmão.
Qual obra estamos edificando com todo o potencial que Deus colocou à nossa
disposição? Qual igreja queremos edificar com o tempo disponível, os recursos, a
inteligência, os líderes com sua disposição de trabalho, com sua disponibilidade, suas
famílias e com seus filhos? Espero sinceramente que esteja convicto do chamado a irmos
bem mais longe!
Sabe porque o tremendo mover de Deus que se iniciou com Davi acabou em
Roboão seu neto? Porque quando Davi morreu, Roboão, o netinho, tinha apenas um ano
de idade. Não deu tempo de falar da glória de Deus, da Arca da Aliança e do Monte Sião.
Não deu tempo de encher o coração de Roboão das histórias dos avivamentos e dos
moveres de Deus. Não deu para deitar na cama de Roboão e contar a ele como a glória de
Deus tomava o tabernáculo, como a presença de Deus fluía ao adorarem diante da arca
vinte e quatro horas com vinte e quatro turnos diariamente. Não deu para encher o
coração de Roboão para falar de Samuel, para falar das unções de Deus. Então Roboão
sem referenciais do Mover do Espírito Santo, dividiu o reino.
Quando os exércitos dos inimigos vieram, levaram todos os tesouros da casa do
Senhor. Levaram todo o ouro e Roboão não se importou e os substituiu por bronze. Não
houve crise e nem conflito algum com a perda da glória. “Podemos dar uma polidinha que
vai ficar tão bom como o ouro e ninguém vai notar a diferença”! A maioria do povo não se
preocupa com conteúdo, contanto que haja louvor do mesmo jeito, contanto que as coisas
continuem acontecendo como sempre!
Só havia um detalhe! Não havia mais ouro, não havia mais glória, não havia mais
unção, nem mais vida ou mover de Deus. O ouro foi embora, a glória de Deus foi embora.
Roboão, a terceira geração, já não possuía mais o coração apaixonado por Deus, não
havia mais encargo por uma genuína manifestação de Deus. Aquele mover de Deus que
poderia ter ido mais longe não chegou sequer à terceira geração! Que terrível!
Você deseja ser instrumento de uma poderosa manifestação de Deus? Queremos ver
os nossos filhos e netos crescerem nesse ambiente! Crescer em amor e paixão por Jesus,
consagrá-los ali nesse ambiente. E algum dia esses descendentes nos descerão à sepultura
dizendo a nosso respeito: “aqui vai um homem de Deus que amou a Jesus com todas as
consequências e que viveu em plenitude a vida da igreja. Aqui está alguém que amou a
Glória de Deus!”
VINTE E QUATRO
VINTE E CINCO
Tenho observado inúmeros Moveres de Deus que avançam até certo ponto, causam
um bom impacto com seu crescimento e referencial, mas após uma ou duas décadas
declinam em meio a divisões e perda da Glória e do fluir de Deus. Simplesmente param
de crescer e ficam para trás sendo apenas o saudosismo para alguns e a perplexidade para
outros. Por que? Muitas obras que foram para nós modelo ficaram paradas em algum lugar
do passado e hoje representam mais retrocesso do que avanço. Por que?
Há muitos moveres de Deus que foram ficando no passado e à medida que as
décadas vieram, desapareceram. Se você ler a história da igreja, muitos moveres de Deus
não chegaram até nós. Durante essas quatro décadas nas quais eu sou convertido, tenho
visto inúmeros moveres de Deus que ficaram para trás. Simplesmente passaram. Por que
passaram? O que foi colocado sobre o fundamento? Esta é a pergunta e este critério não
são meus, são de Paulo. A pergunta é do apóstolo. O que se coloca sobre o fundamento
determina duas coisas, de acordo com Paulo: o crescimento e a permanência de uma
obra.
Os resultados falarão por si mesmos com vidas salvas e transformadas, Igrejas
plantadas e líderes treinados. Isso já testemunha por si mesmo acerca de uma obra.
Ninguém questiona se há um agir do Espírito Santo quando vida e qualidade são
apresentados como frutos. A primeira grande questão segundo o apóstolo é: houve
crescimento? A segunda questão é se tal obra permaneceu! Para tanto, não se avaliam um
diagnóstico de poucos anos. São necessários trinta, cinquenta anos para mensurar a
consistência e o impacto de uma obra.
Qual é a maldição, então, dos moveres de Deus? Começam bem, causam grande
impacto, produzem um crescimento surpreendente e a seguir declinam e desaparecem.
Nessa ordem! O diagnóstico de Paulo é que o que se coloca sobre o fundamento será
determinante para essas duas coisas: crescimento e permanência. O que desejamos
colocar sobre o fundamento numa igreja orgânica? Queremos ir mais rápido, ou
desejamos permanecer, indo mais longe? Ir mais rápido fala dessas obras que não
permaneceram. Puderam crescer, mas o problema delas todas não foi esse. Não foi o
impacto através de um modelo inovador, de usarem a mídia, de terem ido para a televisão,
terem trazido um louvor contemporâneo, de introduzirem as células... O problema foi que
não permaneceram.
Em São Paulo surgiram inúmeras Igrejas poderosas. Não é conveniente mencionar
aqui seus nomes, mas todas elas tiveram seus dias de glória. Surgiram, cresceram,
causaram surpresa e declinaram. Em alguns casos, alguma coisa ainda permanece de pé,
contudo sem nenhuma marca ou impacto. Em outros casos tudo desapareceu. Não há
mais nada! Assim, a questão não é apenas o crescimento. O que completa a equação é a
segunda questão: permaneceu?
Se fazemos a opção por ir mais rápido significa que não estamos preocupados com
o longo prazo. Significa que estamos com todo o foco apenas no já, no imediato, neste
único momento. Não nos preocupamos se daqui há quinze anos a obra permanecerá. A
maldição dos moveres de Deus é que eles vão rápido, mas a grande maioria perece pelo
caminho e não permanece. A pergunta é, nós vamos mais longe? Vamos permanecer? Este
é o ponto. O que nos leva a permanecer? A glória de Deus continuar fluindo, presente,
marcante, o temor pelo fluir do Espírito Santo, pela graça de Deus em nós, por
multiplicarmos líderes que amam a presença de Deus, que valorizam Sua santa Presença,
que consideram central, inegociável essa vida de Deus, é o que vai determinar se vamos
mais longe. Esse fluir é o que continua a atrair as pessoas e gente disposta a tudo pelo
Senhor décadas e décadas no futuro.
Várias Igrejas poderosas entre as Comunidades que representaram uma maravilhosa
vanguarda na década de 90, hoje tornaram-se monumento ao passado. Igrejas
maravilhosas que nos atraíram para alguns grandes centros no Brasil e tanto nos
influenciaram tornaram-se também um espectro melancólico de quem tem discurso mas
nada manteve do Mover de Deus de outrora. Por que? Pelos mesmos motivos descritos
acima. Este portanto é o momento em que devemos reafirmar a nossa aliança por algo
superior e apostólico no sentido Bíblico. Nos posicionar pela “Tradição Apostólica” da
Igreja tão claramente manifesta através da visão neotestamentária. Os princípios do “cada
crente um Ministro, cada casa uma Igreja, cada Igreja um centro de influência apostólico”
deve ser um valor de longo prazo. Cada pastor um líder a construir seu sonho cumprindo
seu chamado de crescer e investir igualmente nos seus discípulos, sua equipe e demais
santos devem ser nosso anelo no longo prazo. Definitivamente desejamos ir mais longe e
não necessariamente ir mais rápido!
VINTE E SEIS
Toda a vida da Igreja no Novo Testamento e até o quarto século acontecia nas casas
e isto é um fato! Havia uma reunião semanal onde todos estavam juntos ali a cultuar,
adorando juntos ao Senhor. Paulo em Romanos capítulo 16 faz menção de vários desses
núcleos se referindo “à igreja que se reune na casa de...” Isto aqui é mais do que nosso
conceito convencional de células. Isto era bem mais do que uma célula: ERA A IGREJA
DO SENHOR! Era a igreja com todas as suas implicações acontecendo... Evangelismo,
visitas, orações para cura divina, vigilhas, cursos de batismo, discipulado para treinamento
de líderes, comunhão, festa, partir do pão na santa ceia, levantamento de ofertas e
dízimos... tudo! Tudo acontecia ali e nos bastidores durante a semana. Isto é maravilhoso!
Quando Paulo faz referências de que enviara Tito e Timóteo para constituirem
presbíteros, era para essas igrejas que aconteciam nas casas que pastores estavam sendo
ordenados. Portanto veja quão simples e ao mesmo tempo forte era essa “estrutura”
orgânica da igreja do Senhor.
Além da coluna vertebral da vida da igreja acontecendo a partir das casas, escolas,
fábricas, parques e lugares públicos, hospitais, presídios, desejamos na direção do Espírito
Santo estabelecer células temáticas evangelísticas temporárias. Isto é, uma ou duas vezes
por ano, tendo vivido em plenitude o Grande Mandamento, desejamos nos mobilizar para
a Grande Comissão de maneira intencional. Além do evangelismo orgânico e natural que
acontecerá durante todo o tempo, desejamos estabelecer a partir da igreja nas casas essas
células temporárias por 30 dias ou mais. O alvo específico é manter a igreja com olhos
para os de fora tanto quanto tem olhos para os de dentro. O culminar desse momento
evangelístico intencional será um Encontro nas Casas com aqueles participantes das
células temporárias. Esperamos que o céu desça e que os milagres e o sobrenatural de
Deus aconteçam de maneira poderosa.
De dois em dois ou mais, os membros da igreja na casa poderão, se quiserem, abrir
uma célula temática temporária. Este será um momento para convidar amigos, vizinhos,
parentes e colegas para um momento único onde o amor de Deus e da igreja será
derramado sobre essas pessoas.
Entendemos em Deus que essa estrutura simples, funcional e transferível é a ideal
para países fechados onde a igreja não possui liberdade de se reunir publicamente.
Entendemos que esta estrutura orgânica é também ideal para as grandes metrópoles onde
transito e locais para a reunião pública se tornaram desafios cada vez mais reais e
intransponíveis.
Reuniões Públicas
A partir da coluna vertebral que são as igrejas nas casas, as igrejas juntas poderão,
se quiserem, manter reuniões públicas onde um grande ajuntamento acontecerá para um
momento profético mensalmente ou quinzenalmente. Não precisamos engessar esta visão
com nenhuma forma de dogmatismo. Vemos que em países livres, desde que o paradigma
do “crente como o templo” não seja trocado por prédios, não há porque não haver
reuniões públicas.
Entre os pastores das igrejas nas casas um presbitério de governo para a cidade
poderá ser escolhido juntamente com a cobertura apostólica a fim de que essas dinâmicas
sejam estabelecidas de maneira consensual e prática. Vemos nisso um grande, espetacular
e maravilhoso potencial de Deus para a plantação e para o crescimento da igreja de Jesus
Cristo na terra.
VINTE E SETE
O Senhor tem claramente nos chamado para constituirmos uma família de igrejas.
Há dias atrás, visitando uma igreja em Redding, CA, um conhecido compositor, mas
desconhecido meu, nos entregou a mim e a minha esposa uma poderosa palavra profética
acerca de todas as coisas que vem acontecendo em nossa vida e ministério. Ao meu lado
estava o pastor da igreja que a seguir me disse: “você é alguém chamado para ‘paternidade
espiritual’”. Mal sabia ele que insistentemente pessoas de diferentes lugares tem sido
enviadas por Deus me solicitando exatamente isto. Sei portanto que estamos sob um
chamado e sob uma unção para estabelecermos novos e elevados caminhos na Casa de
Deus. Isso, entretanto não é papel de um homem, é a função do Corpo, dos membros, dos
ministérios, da igreja toda mobilizando-se juntamente para este fim.
O melhor e mais maravilhoso lugar para se estar é dentro do “Propósito Profético
de Deus para as nossas vidas". Para o cumprimento do seu Propósito Profético Deus une
pessoas. É nesse lugar que haverá alegria, recursos, motivação e frutos, muitos frutos
espirituais. Vamos juntos a isto???
Este livro portanto, se presta a ser uma proposta, leve, flexível mas com
implicações serias e eternas. Se você se sente parte disso, gostaria que se
comprometesse a investir, edificar, caminhar e participar juntos da edificação de
algo em Deus. Neste exato momento há irmãos queridos orando e anelando por isto
em diversos lugares do Brasil, América Latina, Europa, Estados Unidos e África.
Vamos juntos a isto?
A base de partida mais elementar e básica entretanto é crermos todos e termos todos
uma mesma confissão de fé elementar e inegociável. No mais, além disso, podemos ser
flexíveis e inclusivos. Sugiro que estudemos e adotemos a Confissão de Westminster com
algumas excessões que poderão ser tratadas oportunamente no futuro.
Como já foi dito, desejamos ser uma obra orgânica e apostólica que reconhece e
flui nos cinco ministérios de Efésios 4:11 e 12. Para tanto desejamos reconhecer entre nós
essas funções que definem uma prática e não meramente títulos. A partir dessa equipe de
Ministério uma identidade ministerial poderá ser estabelecida de maneira viva, leve e
orgânica. Em muito o meu coração se inspira por algo vivo e maravilhoso assim!
VINTE E OITO
Vemos nas Escrituras, no Novo Testamento, mas especificamente depois do livro dos
Atos dos Apóstolos, três tipos de vínculos entre pastores com suas Igrejas: o
relacionamento de paternidade espiritual, o relacionamento de cobertura apostólica e o
relacionamento de aliança ministerial. Desejamos praticar essas mesmas coisas em nossa
Comunhão Orgânica.
VINTE E OITO
Sonhamos com um novo vinho que nos encha de alegria e deleite no Senhor.
Desejamos muito mais da Presença e da Glória do Senhor e para isto colocaremos todo o
nosso foco em buscar essa Presença para desfrutarmos dela, para nos encher da Presença
e para liberarmos a Presença onde quer que chegarmos. Deus nos chamou para
exercermos esse trabalho Sacerdotal nessas três grandes e fundamentais dimensões. Esta é
a função mais básica de cada crente: ser um sacerdote e saber lidar com a Presença de
Deus.
Além disso e de forma prática, este vinho precisa de odres adequados, de uma
estrutura que não impeça a Presença de Deus de agir no Corpo e através do Corpo de
Cristo e seus membros. Não adianta falar da Presença do Senhor quando a estrutura onde
estamos a sufoca, bloqueia e impõe controles humanos contra ela. Não adianta falar de
“cada crente um ministro” quando criamos um novo tipo de clericalismo e também não
adianta falar da graça divina quando a estrutura que temos não tem nada de graciosa mas
tornou-se uma organização rígida e engessada a ferir o próprio Corpo do Senhor.
Entendemos que nesses dias precisamos avançar rumo à reforma das estruturas,
rumo a um poderoso avivamento e rumo à restauração da Igreja ao modelo dos dias
apostólicos. Este é um chamado e um privilégio enorme. Hoje há santos de Deus nos
cinco continentes aguardando por esse momento maravilhoso e histórico. Você deseja
fazer parte disso? Então escreva este livro comigo! Este é um convite especial e pessoal de
mim pra você. Vamos juntos?
*Este livro somente será revisto, acrescido e publicado como resultado de sua leitura
conjunta, oração e participação dos irmãos convidados a isto.
Referências: