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Alvaro Bianchi
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All content following this page was uploaded by Alvaro Bianchi on 05 November 2015.
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Vale destacar que os termos liberalism e libertarianism tem sentidos usuais diferentes nos Es-
tados Unidos. O substantivo liberalism designa, frequentemente, uma tradição que remonta
ao utilitarismo inglês na qual a liberdade tem como pressuposto a justiça social e o Estado
pode ter um papel importante em sua realização. Libertarianism, por sua vez, diz respeito à
Cristianismo e individualismo
Em 1951, o jovem William Buckley Jr., então com 25 anos, publicou seu
livro God and Man at Yale [Deus e o homem em Yale] acusando a renomada
instituição universitária de ter fracassado em sua missão de doutrinar seus
alunos com duas ideias: o cristianismo e o individualismo. Recusando explici-
tamente o princípio da liberdade, Buckley censurava o predomínio da ideias
keynesianas no ensino da teoria econômica e afirmava que em Yale a principal
influência era “coletivista” (p.42). O livro foi lançado pela editora de Henry
Regnery, a qual iria mais tarde notabilizar-se como a casa dos conservadores.
Uma campanha publicitária financiada pelo pai de Buckley, um magnata da
indústria do petróleo, adquiriu rápido sucesso, principalmente depois que a
própria Yale University e o establishment liberal promoveram uma feroz cam-
panha contra as ideias do autor.
Os liberais detestaram o livro, mas sua recepção entre os conservadores foi
eufórica e subitamente Buckley ganhou notoriedade. Dono de uma persona-
lidade exuberante, polemista implacável e escritor de refinado estilo, além de
jovem bem nascido e de estilo aventureiro, o autor de God and Man at Yale era a
voz e o rosto pela qual muitos ansiavam há longo tempo. Mas esse não foi o úni-
co livro conservador a fazer sucesso nesta época. Poucos anos depois foi a vez de
Russell Kirk (1918-1994) publicar, pela mesma editora, The Conservative Mind
[O pensamento conservador] (1954). Tratava-se de um volumoso texto, rejeita-
do pela editora Knopf que o considerou pouco atrativo, que tinha a pretensão
de reconstruir a trajetória do pensamento conservador “de 1790 a 1952”, como
destacou a primeira resenha que recebeu (apud Regnery, 2014 [1995], p.v).
Se o objetivo de Buckley com seu livro era desafiar a opinião pública libe-
ral, o de Kirk tinha um propósito bem diferente: formar uma opinião pública
liberal e fornecer as bases intelectuais para o relançamento de uma imaginação
conservadora. A carta com a qual Kirk encaminhou seu manuscrito já aponta-
va sua intenção ao publicá-lo:
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Kirk fez várias listas enumerando as personalidades que constituiriam essa tradição intelec-
tual nos Estados Unidos (ver, por exemplo, Kirk, 2007 [1982], p.14-15).
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Anos mais tarde afirmaria que uma verdadeira “tirania das minorias” teria se estabelecido nos
Estados Unidos. O autor de The Conservative Mind esclarecia seu ponto de vista: “Refiro-me
à minoria feminista, à minoria militante negra, à minoria dos direitos sociais, à minoria dos
fabricantes de armas, à minoria das fusões industriais, à minoria da estigmatização da África
do Sul, à minoria sionista, à minoria homossexual, à minoria dos direitos dos animais”
(Kirk, 2014, p.219).
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Embora apresente os conservadores como defensores da prudência e da tolerância em vários
momentos de seus escritos seu discurso se torna violento, como quando cita favoravelmente
o escritor Nathaniel Howthorne para dizer que nenhum homem tinha sido tão justamente
enforcado como John Brown (1800-1859), o mártir dos abolicionistas norte-americanos
(Kirk, 2007 [1994], p.38).
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“Eu acredito que se Rousseau estivesse vivo, e em um de seus intervalos lúcidos, ele ficaria cho-
cado com o frenesi prático de seus discípulos os quais em seus paradoxos são servis imitadores
e mesmo em sua incredulidade descobrem uma fé implícita” (Burke, 1999 [1790], p.278).
6
Em The Politics of Prudence, Kirk (2014, p.103-115) apresenta dez “princípios conservado-
res” que retomam e desenvolvem os cânones aqui anunciados.
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Kirk retoma a ideia de “despotismo democrático” da obra De la démocratie en América, de
Alexis de Tocqueville. O advento dessa forma despótica poderia ser um dos efeito da “revo-
lução dos gerentes”, denunciada por James Burnham (Kirk, 2014 [1986], p.467).
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A bibliografia sobre o tema é enorme, mas destacam-se as narrativas biográficas dos próprios
envolvidos (ver Chambers, 1952; Hiss, 1957). Cf. a coleção de artigos de opinião da época
reunida por Swan (2003).
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Buckley receberia ainda a mais alta comenda, a Presidential Medal of Freedom [Medalha
Presidencial da Liberdade], das mãos do presidente George Bush, em 1991.
reza econômica, mas também ética” (Buckley Jr., 2000, p.338). Seu principal
legado era, para os conservadores, a derrota do comunismo:
Os anos 1980 são mais certamente a década na qual o comunismo deixou de ser um
credo, sobrevivendo apenas como uma ameaça. E Ronald Reagan teve mais a ver
com isso do que qualquer chefe de Estado no mundo. (Buckley Jr., 2000, p.347)
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