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A formação da competência textual-discursiva dos alunos tem sido uma das grandes
preocupações dos educadores e estudiosos da linguagem, especialmente nas últimas décadas,
quando constatamos que o domínio da escrita alfabética não garante ao nosso aluno a
competência de produzir textos em linguagem escrita. Tal averiguação pôs em cheque os
modelos de aulas puramente metalinguísticas e nos convocou a desenvolver um trabalho mais
funcional, que privilegiasse a leitura e a produção de textos.
Diante disso, muitos foram (e são) os esforços para que sejam desenvolvidas estratégias
tanto convincentes ao público nativo digital, quanto eficientes no tocante ao resultado esperado:
o domínio de uma variedade de gêneros
Estudos de referência ao trabalho do professor
discursivos que circulem socialmente. Essa
Koch (2008, 2003); Marcuschi (2000, 2011,
inquietação provocou a difusão dos saberes, 2012); Ribeiro et al. (orgs. 2010a, 2010b); Rojo
antes restritos ao meio acadêmico-científico, (org. 2013); Schneuwly e Dolz (2004); Bronckart
(2006).
para os ambientes escolares, alcançando os
professores da educação básica e conferindo-lhes segurança no processo de
ensino/aprendizagem da língua materna.
Sustentando tais estudos e práticas, destaca-se a abordagem sociointeracionista
discursiva, cujas correntes disseminaram, alcançando eco no Brasil, dentre os que concebem a
língua como uma atividade de interação entre sujeitos sociais, visando à realização de
determinado fim. Isso gerou uma mudança radical na prática escolar, antes calcada apenas no
discurso como produto, e encontrou dificuldades e um grande mal-estar entre muitos
profissionais, especialmente, aqueles cuja formação previa uma ação tradicionalista. Havia a
expectativa de uma fórmula de ação, pois se o que fazíamos não estava alcançando o resultado
pedagógico esperado, como fazer então?
Concomitante a isso, os avanços tecnológicos e todas as suas peculiaridades trazem para
o cenário escolar, com uma rapidez incomum, a geração de alunos digitais, com novas
demandas de letramento na hipermídia, com linguagens, estilos e artefatos específicos, os quais
não podem ficar ausentes da aula de língua materna.
Sendo a perspectiva de ensino interacionista endossada pela LDB 9394/96 e pelos PCN
(1998), os professores se viram, cada vez mais, incomodados a construir um trabalho capaz de
promover o diálogo entre escola e prática social. Tal incômodo foi importante vetor para
impulsionar os saberes rumo às possibilidades da ação docente, a fim de agenciar o
desenvolvimento da linguagem escrita na sala de aula concatenada com a realidade vivida.
LDB 9394/96 -> a educação escolar deve vincular-se ao mundo do trabalho e à prática social.
PCN Língua Portuguesa (1998) -> cabe à escola a responsabilidade de garantir aos alunos os saberes
linguísticos necessários ao exercício pleno da cidadania, considerando a realidade e os interesses dos alunos
e usando o texto como oportunidade de refletir sobre a linguagem, de compreender o mundo que os cerca
e de interagir com a realidade.
Esses termos devem ser trabalhados sem pressa pelo professor, pois são essenciais para
que os alunos compreendam a proposta e confiem no processo a ser vivenciado por eles.
A oficina de escrita é uma proposta vivida por mim, desde 1996, quando me foi
apresentada pela instituição na qual atuava. Na época, trabalhei com a disciplina da 5ª série do
Ensino Fundamental até o 3º ano do Ensino Médio, alcançando uma adesão acima das
expectativas, o que rendeu, naquele período, a publicação de dois livros dos alunos, várias
exposições, premiações em concursos locais e nacionais, resultados favoráveis nos vestibulares
e encontros de autores com convidados externos à sala de aula.
De 2001 a 2003, realizei o Mestrado e tomei as produções dissertativo-argumentativas
de alunos de 3º ano do Ensino Médio como meu objeto de estudo. Naquela oportunidade,
comparei as produções de um grupo preparado para a escrita nos modelos convencionais com
outro que vivenciou o processo de oficina de escrita desde o 7º ano do Ensino Fundamental, e
pude constatar uma superioridade no desempenho linguístico-textual dos alunos da oficina de
escrita, pois, apesar de não terem sido treinados especificamente para o texto dissertativo, eles
sobressaíram em relação aos demais. Os ganhos observados na ocasião referiram-se,
principalmente, aos aspectos da Linguística Textual, relativos à organização tópica linear e
hierárquica do texto, ao domínio da norma culta, articuladores discursivos, pontuação e
vocabulário, utilizados em favor da estrutura argumentativa, além do domínio do gênero.
Em 2002, iniciei minha trajetória no Ensino Superior, para onde tenho levado a proposta
sempre que percebo a necessidade e condições de produção propícias. Os resultados na
melhoria de produção escrita dos alunos e da consciência que tomam sobre o ato de escrever
são muito favoráveis, motivando-os a prosseguirem no desenvolvimento da competência
comunicativa escrita.
Tendo situado você, leitor, no caminho percorrido por mim com a proposta da oficina
de escrita, é tempo de apresentá-la mais objetivamente.
“Gostei muito da Oficina, pois descobri que gosto de criar histórias e que posso melhorar cada vez
mais.”
“Na oficina, pude conhecer melhor os meus colegas, a partir dos seus trabalhos.”
“Cresci muito com a Oficina, melhorei a minha escrita, as minhas ideias se desenvolveram mais.”
“É bom ter um roteiro a seguir, isso nos incentiva a ter mais responsabilidade.”
“Ao mesmo tempo esse trabalho é prazeroso e educativo.”
“É trabalhoso, mas é mais prazeroso do que antes.”
“Achava que era ótimo na escrita, mas vi que posso melhorar muito.”
REFERÊNCIAS
CALKINS, Lucy McCormick. A arte de ensinar a escrever. Porto Alegre: Artes Médicas,
1989.
COSTA VAL, Maria da Graça. Repensando a textualidade. In: AZEREDO, José Carlos de
(Org). Língua portuguesa em debate: conhecimento e ensino. 2. ed. São Paulo: Vozes,
2000. p. 34-51.
CRISTÓVÃO, Vera Lúcia Lopes; NASCIMENTO, Elvira Lopes. Gêneros textuais e ensino:
contribuições do interacionismo sociodiscursivo. In: KARWOSKI, Acir Mário et al. Gêneros
textuais: reflexão e ensino. 4.ed. São Paulo. Parábola Editorial, 2011.
MARCUSCHI, Luiz Antônio. Linguística de texto: o que é e como se faz? São Paulo: Parábola
Editorial, 2012.
RIBEIRO, Ana Elisa et al.. Linguagem, tecnologia e educação. São Paulo: Petrópolis, 2010a.
RIBEIRO, Ana Elisa et al.. Leitura e escrita em movimento. São Paulo: Petrópolis, 2010b.
ROJO, Roxane (org.) Escola conectada: os multiletramentos e as TICs. São Paulo: Parábola,
2013.
SCHNEUWLY, Bernard; DOLZ, Joaquim. Gêneros orais e escritos na escola. São Paulo:
Mercado de Letras, 2004.
SILVA, Jane Quintiliano. Gênero discursivo e tipo textual. SCRIPTA, Belo Horizonte, v. 2, n.
4, p. 87-106, 1º sem. 1999.