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FUVEST: "FIREHOSING" E A DEMOCRACIA.

Leia os textos abaixo e escreva uma dissertação-argumentativa, em prosa, sobre o tema:


“Firehosing” e a democracia.

TEXTO 1) “Isso pode ser falso, mas é útil para promover o que eu acredito.”
(fala de um autocrata sobre o uso de “Firehosing”).

TEXTO 2. de·mo·cra·ci·a (sf): a) Forma de governo em que a soberania é exercida pelo povo;
b) Sistema de governo em que cada cidadão tem sua participação; c) Sistema político dedicado
aos interesses do povo; b) Forma de governo que tem o compromisso de promover a igualdade
entre os cidadãos. In: Dicionário Michaelis online. (2019)

TEXTO 3.
TEXTO 4) Firehosing (fluxo de uma mangueira de incêndio):

a) alto volume de conteúdo;


b) sem comprometimento com a realidade;
c) sem consistência entre o que se diz entre um discurso e outro.

– Le Monde Diplomatique.

TEXTO 5) “Polêmicas efêmeras que confundem milhões e falsidades que consolidam crenças são
combustível para o firehosing, uma tática que tem nas redes sociais o terreno perfeito.”
- Renan Borges Simão, jornalista, novembro de 2018.

TEXTO 6) “Os cachorros não foram até os humanos antigos implorando para viver conosco; nós
os domesticamos. Eles foram criados para serem obedientes. Aceitam ser treinados, são
previsíveis e trabalham para nós. Isso não é nenhum demérito para os cachorros. É ótimo que
sejam leais e confiáveis.

Os gatos são diferentes. Eles apareceram e, em parte, domesticaram a si próprios. Não são
previsíveis. Os vídeos populares de cachorros costumam mostrar treinamentos, ao passo que a
maioria dos vídeos absurdamente populares de gatos são aqueles que expõem comportamentos
estranhos e surpreendentes.

Embora inteligentes, os gatos não são uma boa escolha para quem quer um animal que aceite
o treinamento de maneira confiável. Basta assistir a um vídeo de circo de gatos na internet: o
mais comovente é que fica claro que os animais estão decidindo se colocam em prática o truque
que aprenderam, não fazem nada ou saem andando em direção à plateia.

Os gatos fizeram o que parecia impossível: se integraram com ao mundo moderno, de alta
tecnologia, sem se entregarem. Eles ainda estão no controle. Você não precisa se preocupar que
algum meme furtivo produzido por algoritmos, pago por um oligarga sinistro e oculto, passe a
dominar seu gato. Ninguém domina seu bichano; nem você, nem ninguém”. – Jaron Lanier. CEO
da VLP Research, cientista e escritor. In: Dez argumentos para você deletar agora suas redes
sociais. (2018).

TEXTO 7. Entrevista Le Monde Diplomatique Brasil

[P/Pergunta; R/Resposta]

[P] Que aproximações e distanciamentos você vê entre os conceitos de “firehosing” e “guerra


híbrida”?

[R] O conceito de “guerra híbrida” foi, digamos assim, “inventado” por um norte-americano que
reside na Russia, o Andrew Korybko. Sua teoria, a grosso modo, pretende dar conta de entender
uma estratégia de guerra indireta (ou “terceirizada”), mas cujo agente provocador é
basicamente os EUA. Ela é “híbrida” pois trata de uma junção das [a] chamadas “primaveras”
(Argélia, Egito, Jordânia e Iêmen, mas depois Europa central e do leste, e finalmente hoje, depois
de rever a teoria, Américas Central e do Sul); e [b] seguidas de intervenções baseadas em
“guerras não convencionais” ou “assimétricas”, caso necessário. No primeiro ponto, ele
identificou primeiramente o uso de pautas identitárias associadas a bandeiras genéricas
(“liberdade”, “democracia”). Boa parte desta teoria nasceu para explicar o tabuleiro geopolítico
de duas áreas sensíveis nas tensões entre EUA e Russia, a Síria e a Ucrânia, que foram os
desdobramentos dos primeiros movimentos das “revoluções coloridas” anteriores, que foram
uma espécie de campo de testes. No final das contas, isso é, em termos de uma “longa duração”
das teorias da guerra, um deslocamento dos confrontos diretos cuja matriz poderia ser a grosso
modo atribuída a Clausewitz, para uma teoria mais baseada em Sun-Tzu, cuja ideia é maximizar
os ganhos com o mínimo de enfrentamento.

Já os pesquisadores que propagaram esse termo, “firehosing of falsehood” ou, como foi
traduzido sinteticamente, “mangueira de falsidade” – Christopher Paul e Miriam Mathews –,
são cientistas sociais da RAND Corporation, e seu relatório diz respeito à “interferência russa”
na eleição norte-americana[2]. Similarmente à “guerra híbrida”, podemos ver nesse “método”
um desdobramento de uma série de doutrinas baseadas em “operações psicológicas” que
existem de maneira mais consolidada desde a 2ª Guerra Mundial. Trata-se, aqui, de propagar
um jogo de informações e contra-informações que desestabilizam os poderes constituídos, para
posteriormente reorganizar as forças sociais a partir de um segundo movimento de ordenação
cognitiva, apostando que o desdobramento final não necessitará de um desdobramento
“direto” (uma “guerra assimétrica), mas se dará dentro de um jogo institucional, como a
“justiça” ou as “eleições”. Ao fim podemos dizer que ambos são uma espécie de “espelho” um
do outro; na verdade, o conceito da RAND é uma espécie de contra-ataque (acadêmico,
conceitual) ao de “guerra-híbrida”. - Piero Camargo Leirner – Universidade Federal de São
Carlos (UFSCAR). Dezembro de 2018.

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