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Sentidos
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Neolivros
A Coleção dos Sentidos
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A Coleção dos Sentidos
lecysousa@contagemtem.com.br
Editor: Neolivros
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A Coleção dos Sentidos
O Autor
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A Coleção dos Sentidos
ÍNDICE
VISUAIS
2 –Cegueira
3 –Vouyer
4 –Palavras da destruição
5 –Festa animal
7 –A narrativa do desencanto
8 –O azul em movimento
9 –Meio-dia abstrato
10 –Imitando Picasso
OLFATIVOS
1 –A essência ausente
3 –Odores e andanças
4 –Coisa de cinema
5 –Último desejo
CINESTÉSICOS
1 –Vida em trânsito
3 –Ode à inutilidade
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A Coleção dos Sentidos
AUDITIVOS
1 –Ao pé do ouvido
2 –Coquetel de ruídos
4 –Sussurro vegetal
GUSTATIVOS
2 –Memorável banquete
3 –Existência estomacal
4 –Sabor de liberdade
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A Coleção dos Sentidos
VISUAIS
15 de janeiro, 14 horas
Júnia não tira seus óculos de armação preta e grossa para nada. Seu
formato é aquele que as pessoas chamam de olhos de gato. Nesse
caso são olhos de gata. Bem, não sei. Em suas mãos, uma carta que
havia chegado mais cedo. A propósito, embora essa observação seja
sintaticamente inútil, ela chegou a ter um affair com o carteiro que
jamais fez estágio para santo.
Cegueira
Dia amarelo-ouro.
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A Coleção dos Sentidos
Vouyer
Palavras da destruição
Festa animal
Então, meio sem querer, o cavalo dançava sem sair do lugar. A sua
atitude era suspeitíssima, posto que ele se mantinha afastado da
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A Coleção dos Sentidos
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A Coleção dos Sentidos
Agora é a fazenda do seu Afonso. A gente passou umas férias lá. Essa
foto é mágica. Vê essa mocinha de branco atrás do ipê amarelo? Ela
não estava lá quando eu cliquei o cenário. Todos testemunharam,
mas ninguém explica coisa alguma.
Você está vendo essa loira de calça jeans justíssima? Essa foto foi
tirada num fórum . Para começar, os cabelos dela não são realmente
loiros. Eles são castanhos-escuros. Depois, ela foi, até pouco tempo,
Leonel Jean Siqueira, mas continua sendo pai de dois filhos. Ele ou
ela , dependendo do ponto de vista, é um antropólogo
respeitadíssimo no meio acadêmico e publica diversos artigos em
revistas científicas.
A narrativa do desencanto
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A Coleção dos Sentidos
-Alô, som –ela gritou e deve ter sido ouvida a uns quatro quarteirões.
–Juarez do terceiro andar, eu sei que você está aí, seu cachorro vira-
lata. Eu sou aquela fruta que você comeu até se fartar e jogou fora o
caroço. Pois é, o caroço está aqui pra dizer que...pra dizer que... você
é um desgraçado e que... e que... droga... eu... eu te amo, Juarez, eu
te amo , Juarez, eu te amo... droga... eu te amo, EU TE AMO, EU TE
AMO!
Olhando para o vazio, Lillith portou-se como uma surda. Foi como se
o mundo tivesse acabado. Ela desceu do trio elétrico e andou, olhar
fixo no vazio, rumo à Avenida Principal. A noite chegou e com ela
uma forte chuva. Lillith continuou andando, encharcada, atraindo a
atenção de todos que passavam por ela. As pessoas achavam que
aquela figura era uma atriz de algum filme de arte, cujo diretor
aproveitou o mal tempo para rodar algumas cenas. O segundo
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A Coleção dos Sentidos
pensamento que passava por suas cabeças era que aquela mulher
era a louca mais atraente que eles já viram.
O azul em movimento
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A Coleção dos Sentidos
Meio-dia abstrato
Então, o mundo é uma bola azul viajando por aí sem rumo definido e
eu aqui, feito besta, a buscar explicações para o Triângulo das
Bermudas e para o lay-out dos biquínis de bolinhas.
Que horas são? O sol voa alto com seus distantes bilhões de
quilômetros terrestres, enquanto um ônibus sorridente atravessa a
rua. Se você reparar bem não se trata de um ônibus comum, mas de
um comprido traço de tinta verde feito por um pincel inquieto. É
possível ver pequenos quadrados que se assemelham a janelinhas.
Além disso, o suposto ônibus parece sorrir. Tudo é como um livro de
testes psicológicos aplicados em ingênuas cobaias humanas.
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A Coleção dos Sentidos
Alguém sabe me dizer que horas são? Lá vem a Alice com aqueles
olhos gulosos tirar meus trajes de Verão...
Imitando Picasso
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A Coleção dos Sentidos
OLFATIVOS
A essência ausente
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A Coleção dos Sentidos
Odores e andanças
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A Coleção dos Sentidos
Para fazer jus à rota do andarilho, subimos uma rua de carne bovina,
descemos uma de carne suína seguimos retos por uma de galinhas,
dobramos um de bacalhau e desembocamos numa de piranhas. A
tour alimentícia parecia não ter fim. Estando eu decidido a escrever
sobre a mudança das nuvens no céu, o andarilho me surpreendeu
dizendo:
-Acho que agora você tem alguma inspiração para escrever sobre
minha vida errante.
Coisa de cinema
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A Coleção dos Sentidos
Último desejo
Ele pediu sete rosas brancas, sete rosas vermelhas, sete rosas rosas
e mais sete damas da noite, sete cravos, sete magnólias e sete
odaliscas para uma dança do ventre(esse desejo a família não
entendeu muito bem).
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A Coleção dos Sentidos
Cinestésicos
Vida em trânsito
Preciso pegar a estrada. Se chover, não vou. Chove. Vou. Seja o que
Deus quiser. Atitude, sempre. Pingos grossos. Pára-brisas, que nada.
Pára-tempestades. Deixo a loja de conveniência para trás e através
da vitrine de vidro temperado, além das prateleiras com desenho
futurista, vejo a garçonete em seu uniforme sedutor. Ela me olha
docemente. Não são as primeiras coisas que deixo para trás. O céu é
liquido e cai pulverizado sobre os meus óculos de marca estrangeira.
Tudo fica para trás, raios! Raios, mesmo, daqueles finos que parecem
os vasos cerebrais do céu. O céu é um cabeção que, ao ficar nervoso,
saia debaixo! Olha, eu não sei bem aonde isso vai parar, posto que
não disponho de mapas. Afinal, quem não se perde uma vez ou
outra? Gostei do eco ou ou, gramaticalmente condenável, mas
lembra alguém perdido num canyon qualquer gritando por socorro.
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A Coleção dos Sentidos
Poucas vezes segui por uma BR tão plana, plena, macia e triste.
Garoa singela. Sinto que alguém morreu, mas não sei quem, quando,
como, onde ou porquê, não necessariamente nessa ordem. Eu
consigo ouvir o silêncio do vazio e, francamente, é de arrepiar.
Quantos amanheceres deixaram de existir minutos atrás e quantos
sonhos deixaram de cumpri suas agendas?
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A Coleção dos Sentidos
Enquanto isso, Ela o fita com aquele olhar grávido com quem diz:
vamos elaborar nosso romance na terceira pessoa. Os dois estão num
Café de um mega centro urbano e se você está achando esta
seqüência descritiva por demais, vá ver um filme mudo ou ler uma
coletânea de poemas concretos dentro de um apartamento de
alvenaria. E tem mais, eles estão ouvindo lounge. Se você detesta,
tanto melhor. Abandone esse conto agora e experimente um a
história em quadrinhos. Soou infantil? Vá-se deliciar com a literatura
de Habermas ou Spinoza. As mesas do Café são de madeira rústica.
Ela está sentada a três mesas de Eugênio e o Arco do Triunfo reina
na secular Paris. O autor é meio metido a burguês emergente e tem
o hábito esnobe de usar signos europeus em suas composições, sem
jamais ter “pisado”no oceano Atlântico, como se isso fosse o must.
Ode à inutilidade
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A Coleção dos Sentidos
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A Coleção dos Sentidos
Em meio a uma festa que parecia não ter fim (nota-se que esse autor
adora narrar festas improváveis), baixou uma inesperada escuridão.
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A Coleção dos Sentidos
Mesmo assim, seu maior orgulho era ver o mundo com uma
autonomia de 180 graus e extrair das flores o que nelas houvesse de
mais doce.
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A Coleção dos Sentidos
AUDITIVOS
Ao pé do ouvido
Sua amiga Bárbara gritando de horror e dor por ser atropelada por
um caminhão naquele fim de tarde.
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A Coleção dos Sentidos
Coquetel de ruídos
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A Coleção dos Sentidos
Ela sabia que tal fogo se arvorava intenso, dada a secura da palha
em que rompia a fagulha. Mas era da ilusão que ela gostava.
Sussurro vegetal
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A Coleção dos Sentidos
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A Coleção dos Sentidos
GUSTATIVOS
Mas havia algum tempo que um certo sabor lhe visitava e seu
computador cerebral não conseguia identificar.
Memorável banquete
Tudo pronto.
Uma mesa branca e comprida feito uma ponte exibia sua farta
iguaria. Aves, pescados, quadrúpedes, massas, saladas, sucos, vinhos
e champanhes estavam preparados para o que desse e viesse. O som
divinal de uma harpa dominava o cenário.
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A Coleção dos Sentidos
Existência estomacal
Por todos os lados que se quisesse olhar, o vislumbre era único. Tudo
eram bocas cheias e fechadas pela mastigação. O mundo se resumiu
numa única coisa: vontade de comer! Muito embora, nem sempre
essa vontade fosse concretizada. Dormia-se, acordava-se, lia-se e
escrevia-se, odiava-se e amava-se somente para comer. Afinal, o que
poderia garantir uma sobrevida, uma continuidade, um orgulho
incorrigível?
Um bom título para narrar a ânsia febril por consumo seria Nascidos
para comer. Por todos os lados que se quisesse olhar, como num
espelho, só se viam olhos vazados de fome e bocas incrivelmente
nervosas. Não havia nada que pudesse matar a fome.
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A Coleção dos Sentidos
Sabor de liberdade
Após trinta anos atrás das grades, devido a um erro judicial, Efraim
sentiu o sabor tardio da liberdade.
O seu primeiro desejo, após uma vida inteira vendo o sol nascer
quadrado, foi tomar um sorvete de duas bolas com casquinha na
sorveteria
Bom Gosto
. Em flashback, toda tragédia da reclusão, os dias absurdos e as
noites agonizantes tomaram conta da sua cabeça. Até se lembrou do
livro Memórias do Cárcere, de Graciliano Ramos, um dos muitos que
lera naqueles eternos invernos.
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A Coleção dos Sentidos
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