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O espaçotempo da Língua Brasileira de Sinais no contexto da Educação

Infantil e do Ensino Fundamental: um levantamento da produção científica


brasileira

Fernanda Maria Santos Albuquerque1

Resumo
Aborda a diferença e a diversidade, especificamente, entre as pessoas surdas e
ouvintes, bem como aborda as ações político-pedagógicas relacionadas à Língua
Brasileira de Sinais desde os primeiros anos de escolarização obrigatória e gratuita.
Através de uma pesquisa bibliográfica, busca compreender o espaçotempo da
Libras no contexto da Educação Infantil e do Ensino Fundamental. Tem como
resultado o crescimento do número de produções científicas que pesquisam e dão
visibilidade ao referido contexto e suas relações entre os anos de 2005 e 2017.
Conclui que houve um alargamento do espaçotempo da Libras na Educação Infantil
e no Ensino Fundamental do Brasil.
Palavras-chave: Libras; Educação Infantil; Ensino Fundamental; produção científica
brasileira.

1. Introdução
A diferença e a diversidade constituem as pessoas em todo o mundo. Sejam
relacionadas ao sexo, à idade, à etnia ou ao modo de ser e de viver, a diferença e a
diversidade demandam respeito. Seja em ambientes particulares ou em espaços
públicos, o respeito à diferença, à diversidade e, por conseguinte, à cidadania de
todas as pessoas, precisa permear todas as ações políticas.
Nessa direção, destacam-se as pessoas surdas e as pessoas ouvintes no
ambiente educacional escolar brasileiro e as ações pedagógicas relacionadas à
Língua Brasileira de Sinais desde os primeiros anos de escolarização obrigatória e
gratuita. O objetivo geral é compreender o espaçotempo2 da Língua Brasileira de
Sinais no contexto da Educação Infantil e do Ensino Fundamental. Enquanto que, os
objetivos específicos foram identificar e analisar a produção científica brasileira que
permeia a relação entre a Libras e as duas etapas indicadas da Educação Básica do
Brasil.
Tais proposições justificam-se a partir de modificações na legislação e
estrutura educacional brasileira neste início de século. Ao inserirem a Libras como
disciplina curricular obrigatória nos cursos de formação de professores para o

1
Graduação em pedagogia pela Universidade Federal de Pernambuco, especialização em Libras pela Faculdade
de Educação São Luís. E-mail da autora: fernanda.m.s.albuquerque@gmail.com
2
Com essa expressão, busca-se enfatizar a inseparabilidade entre o espaço e o tempo na contemporaneidade.
exercício do magistério, em nível médio e superior 3; ao ampliarem o espaçotempo do
Ensino Fundamental para nove anos, iniciando-se aos 6 (seis) anos de idade das
crianças4; e ao tornarem obrigatória e gratuita a Educação Infantil, desde a pré-
escola, ou seja, desde os 4 (quatro) anos de idade das crianças 5, as modificações
impulsionam reflexões acerca do cenário emergente.
Assim sendo, no próximo ponto, através de uma pesquisa bibliográfica 6
(SEVERINO, 2007), desenvolvem-se as reflexões acerca do cenário emergente
baseadas na identificação e na análise da produção científica brasileira que
relaciona a Libras à Educação Infantil e ao Ensino Fundamental no Brasil. Por fim,
tira-se conclusões a partir da compreensão do espaçotempo da Língua Brasileira de
Sinais nos primeiros anos de escolarização no Brasil.

2. Desenvolvimento – Reflexões acerca do cenário emergente


O percurso histórico da surdez é imbuído de estigmas, preconceitos e
desconhecimento social, nos diz Mainiere (2011). Apenas a partir do século XX tem-
se mudanças significativas no percurso histórico da surdez e de demais
necessidades especiais. Do ponto de vista legislativo, internacional e brasileiro, são
dignas de destaque: a Declaração Universal dos Direitos Humanos em 1948; a
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988; a Convenção das Nações
Unidas sobre os Direitos da Criança, em 1989; o Estatuto da Criança e do
Adolescente, de 1990; a Declaração de Jomtien, também de 1990; a Declaração de
Salamanca, de 1994; entre outras. Todas proclamam a cidadania de todas as
pessoas indistintamente, incluindo as pessoas com necessidades especiais –
ampliando, progressivamente, tal concepção.
Estas legislações desdobram-se em ações públicas, das quais destacam-se
as ações político-pedagógicas nas escolas. Tal destaque se dá em virtude da
potência da escola na promoção do respeito às diferenças entre as pessoas e,
portanto, da cidadania. Nesta direção, torna-se indispensável recorrer ao termo
“escola inclusiva”:
Representando um avanço em relação ao movimento de integração escolar,
que pressupunha o ajustamento da pessoa com deficiência para sua

3
Decreto nº 5.626/05.
4
Lei nº 11.274/06.
5
Lei nº 12.796/13.
6
Quando se faz uso de categorias teóricas já trabalhadas por outros pesquisadores e transforma-se as
produções científicas em fontes a serem pesquisadas.
participação no processo educativo desenvolvido nas escolas comuns, a
inclusão postula uma reestruturação do sistema educacional, ou seja, uma
mudança estrutural no ensino regular, cujo objetivo é fazer com que a
escola se torne inclusiva, um espaço democrático e competente para
trabalhar com todos os educandos, sem distinção de raça, classe, gênero
ou características pessoais, baseando-se no princípio de que a diversidade
deve não só ser aceita como desejada. (MEC/SEESP, 2001, p.40).
Sendo assim, no que se refere à surdez como um aspecto da diversidade e
ao direito da pessoa surda à Libras como primeira língua (inclusive em seu processo
de escolarização), buscou-se a identificação e a análise da produção científica
brasileira que permeia a relação entre a Libras, a Educação Infantil e o Ensino
Fundamental do Brasil. Isto foi possível através do Catálogo de Teses e
Dissertações da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(CAPES) - (CTDC)7, pois, o mesmo reflete as atividades de pesquisa do Sistema
Nacional de Pós-Graduação brasileiro, disponibilizando a produção científica
brasileira ano a ano.
Adotou-se como marco o período entre 2005 e 2017 8 e utilizou-se como
termos de busca: (1) Libras AND “Ensino Fundamental”; (2) Libras AND “Educação
Infantil”. Em relação aos resultados da primeira busca, tem-se um total de 789
produções científicas, dispostas nas tabelas a seguir de acordo com o tipo de
produção científica e o número anual de produção científica.
Gráfico 1 - Tipo de produção científica: Libras e Ensino Fundamental

Tipo de produção cientí fi ca


PROFISSIONALIZANTE16
MESTRADO PROFISSIONAL 96
MESTRADO 538
DOUTORADO 139
0 100 200 300 400 500 600

Gráfico 2 - Número anual de produção científica: Libras e Ensino Fundamental

7
Disponível em: <https://catalogodeteses.capes.gov.br/catalogo-teses/#!/> Acesso em: 05 jan. 2018.
8
O período relaciona-se ao início das modificações na legislação e estrutura educacional brasileira sinalizadas
na introdução, bem como, considera o tempo necessário para a atualização da produção científica referente a
2018.
160
140
120 135
124
100 112
80 88
60 69
40 60 58
41
20 29 30
0 18 15
10
2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017

Já em relação aos resultados da segunda busca, tem-se um total de 717


produções científicas, também dispostas em tabelas de acordo com o tipo de
produção científica e o número anual de produção científica.
Gráfico 3 - Tipo de produção científica: Libras e Educação Infantil

Profissionalizante12

Mestrado Profissional 112

Mestrado 483

Doutorado 110

0 100 200 300 400 500 600

Gráfico 4 - Número anual de produção científica: Libras e Educação Infantil


160
140
120 140
100 109 109
80
60 76
61
40 51 47
20 31 31
0 20 19
11 12
2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017

Em ambas as buscas é curioso o surgimento da produção científica do tipo


profissionalizante e mestrado profissional, configurando-se como espaçotempo em
potencial para reflexões acerca do contexto destacado. Continuando a análise, é
notório e plausível o destaque de dissertações que assumem a relação entre a
Libras e os primeiros anos de escolarização no Brasil. Também é notório, no
entanto, preocupante, o contraste entre o número da produção científica do tipo
mestrado e o número do tipo doutorado. Tal contraste pode evidenciar tanto a
descontinuidade do estudante no entremeio do referido tema pesquisado, quanto o
necessário aumento do número de cursos do tipo doutorado na Pós-Graduação
brasileira. Outra discrepância se destaca em menor grau: a diferença entre o número
de pesquisas realizadas no Ensino Fundamental (789) e as realizadas na Educação
Infantil (717).
Destarte, o crescimento do número de produções científicas ao longo dos
anos selecionados é encorajador. Ao todo, foram realizadas 1.506 pesquisas, cujo
contexto abarca a diferença, a diversidade, a cidadania, a surdez, a Libras, a
escolarização e a inclusão no Brasil.

3. Conclusão

O espaçotempo da Língua Brasileira de Sinais no contexto da Educação


Infantil e do Ensino Fundamental é afiançado por meio da legislação internacional e
nacional. A presença dessa língua nos primeiros anos de escolarização das crianças
surdas ou ouvintes soma esforços na efetivação de escolas inclusivas, do respeito
às diferenças, da aclamação da diversidade e da promoção da cidadania no Brasil.
Através de uma pesquisa bibliográfica em torno da produção científica
brasileira, pode-se concluir que houve um alargamento do espaçotempo da Libras
na Educação Infantil e no Ensino Fundamental, muito embora, seja inegável a
existência de desafios sociopolíticos e estruturais a serem enfrentados no contexto
brasileiro.

Referências

BRASIL, Decreto nº 5.626, de 22 de dezembro de 2005. Regulamenta a Lei no


10.436, de 24 de abril de 2002, que dispõe sobre a Língua Brasileira de Sinais -
Libras, e o art. 18 da Lei no 10.098, de 19 de dezembro de 2000. Disponível em: <
http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/decreto/d5626.htm>
Acesso em: 05 jan. 2018.

______, Ministério da Educação. Secretaria de Educação Especial. Diretrizes


nacionais para a educação especial na educação básica. 2001. Disponível em: <
http://portal.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/diretrizes.pdf> Acesso em: 06 jan. 2018.

_______, Lei nº 11.274, de 6 de fevereiro de 2006. Altera a redação dos arts. 29,
30, 32 e 87 da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as
diretrizes e bases da educação nacional, dispondo sobre a duração de 9 (nove) anos
para o ensino fundamental, com matrícula obrigatória a partir dos 6 (seis) anos de
idade. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2004-
2006/2006/Lei/L11274.htm> Acesso em: 05 jan. 2018.
______, Lei nº 12.796, de 4 de abril de 2013. Altera a Lei no 9.394, de 20 de
dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para
dispor sobre a formação dos profissionais da educação e dar outras providências.
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2011-
2014/2013/Lei/L12796.htm> Acesso em: 05 jan. 2018.

MAINIERI, Cláudia Mara Padilha. Desenvolvimento e aprendizagem de alunos


surdos: cognitivo, afetivo e social. Curitiba: IESDE Brasil S.A., 2011.

SEVERINO, Antonio Joaquim. Metodologia do Trabalho Científico. São Paulo:


Cortez, 2007.

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