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RAÇA

EDUCAÇÃO DAS RELAÇÕES


ÉTNICO-RACIAIS

EXCELÊNCIA EM EDUCAÇÃO A DISTÂNCIA


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RAÇA
"Enquanto imperar a filosofia de que há
uma raça inferior e outra superior, o
mundo estará em permanente guerra.
Éuma profecia, mas todo mundo sabe
que isso é verdade."
BobMarley

Se não existem raças diferentes entre seres humanos, de que


maneira podemos entender o conceito de raça? Em primeiro lugar,
gostaríamos de contar uma história. Enquanto era realizada uma
pesquisa de mestrado, sobre a criança negra na escola, foi proposto aos
professores que desencadeassem uma discussão sobre o racismo no
ambiente escolar. Os educadores deveriam montar cartazes com
gravuras e imagens retiradas de revistas, demonstrando a diversidade
humana.

fig. 01

Durante a atividade, uma das professoras alegou o seguinte:


"Não consigo encontrar negros e índios em imagens nas revistas". Ela
foi orientada para que fizesse o melhor possível, representando a
diversidade de outras maneiras.
Ao terminarem as colagens, todos os professores apresentaram
seus cartazes.
A professora, que não conseguia encontrar negros e índios nas
revistas, representou essas pessoas com o que ela considerava

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aptidões, habilidades e lugares sociais que ocupavam. Negros foram
representados por esportes, como futebol e basquete, dança e música.
Índios foram representados com imagens que remetiam à natureza:
fauna e flora.
Outros professores conseguiram encontrar imagens de negros,
índios, japoneses, alemães e italianos. Cada qual no seu lugar social:
índio na floresta, negro na favela ou na cadeia, japoneses na escola ou
na culinária, etc.

fig. 02: Campanha da Benetton. considerada por muitos como preconceituosa

Ao propor uma discussão, para que houvesse reflexão sobre o


que foi representado, nenhum deles conseguiu perceber a associação
que estava explícita nos cartazes confeccionados. Tornou-se tão
comum atribuirmos determinadas características a grupos de pessoas
em função da sua etnia e raça, que não percebemos a generalização e o
absurdo de determinadas associações.

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O que podemos concluir disso?


a) Existe uma divisão social que determina lugares sociais para
cada pessoa de acordo com a cor da pele/origem
b) Existe uma relação natural entre habilidades e cor da
pele/origem
Por exemplo: negros são bons esportistas, têm a dança no
sangue (nasceram assim e sua condição de ser negro lhe garante essa
habilidade), o lugar deles no Brasil são as favelas e as prisões, a maioria
da população carcerária é negra e, portanto, os negros cometem mais
crimes e tem perfil criminoso.
Essa realidade demonstra que, apesar de morarmos em um país
em que o racismo é crime, ele se esconde na comunicação. A linguagem
mostra seu conteúdo simbólico ao fazer a associação entre origem,
raça, etnia e traços de personalidade, que não são naturalmente
determinados.
Então, apesar de não existirem raças entre pessoas, existe uma
dimensão social, política e cultural no conceito de raça.

Gomes (2003, p. 78) considera que o conceito de raça deve ser


discutido do ponto de vista político e social quando analisados'[ ... ]
os lugares ocupados e a situação dos negros e brancos em nossa
sociedade.'

Para Assis e Canen (2003, p. 713), '[ ...] ser negro, embora possa
ter componentes biológicos, não se esgota nos mesmos - é parte
de uma construção identitária, em que a identificação racial e social
é culturalmente construída.'

Gomes (2005) aponta que, ao aludir à raça, o Movimento


Negro e os intelectuais estão dimensionando o racismo e as
construções social e histórica referentes a condição do negro no
Brasil. (SARZEDAS, apud GOMES 2005, p. 42)

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Ou seja, precisamos falar de raças em sua dimensão política,


social e cultural, pois há, sim, em nosso país, relações diferenciadas e
representações diversas atreladas à condição da estética "racial" e dos
aspectos físicos que denunciam essas diferenças raciais. Isso ocorre
como se houvesse lógica em associar cor da pele, tipo de cabelo e o
contorno do nariz à forma de conduta, estilos de comportamento e
traços de personalidade.
A raça passa a existir quando, por exemplo, uma estética é
considerada melhor do que outra: "Ter cabelo liso é mais bonito do que
ter cabelo crespo". A própria sociedade, no decorrer da história,
racializou - dividiu por raças - a humanidade ao considerar a
superioridade de algumas etnias. Assim como os aspectos culturais
relacionados, a sociedade também considerou que há raças superiores
e inferiores, tendo, muitas vezes, a legitimação da ciência para utilizar
esse discurso.
A transformação da desigualdade temporária-cultural, social e política-
numa desigualdade permanente, biológica, é um produto da ideologia
cientificista do século XIX. No entanto, depois da justificativa racial ter
perdido legitimidade científica, a suposta inferioridade cultural - em
termos materiais e espirituais - de grupos humanos em situação de
subordinação passou a ser a justificativa padrão do tratamento
desigual."(GUIMARÃES, 1999, p. 214)

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Isso significa que, primeiramente, a ciência legitimou a divisão


das raças, inclusive em termos qualitativos. Quando o avanço no
conhecimento científico demonstrou que não havia essa divisão
qualitativa das raças, a sociedade se encarregou de manter essa divisão
por meio da cultura. Entretanto, somente o conceito de raça, mesmo
nas dimensões política, social e cultural, não é suficiente para
entendermos toda a dimensão da questão. Por isso, utilizamos o
conceito de etnia.
Pense no meio social em que você vive. Dos profissionais que
você conhece, que trabalham nos serviços mais bem remunerados e
que exigem maior grau de qualificação, quantos são negros? Quando
refletimos sobre isso, percebemos que, apesar de não haver raças no
sentido biológico, a divisão racial está implícita nas relações sociais e
nos lugares que cada pessoa ocupa em nossa sociedade. Por isso, os
autores defendem que devemos discutir raças no sentido político e
social a partir do momento em que existe uma divisão em nossa
sociedade baseada em características físicas.

As diferenças de renda ainda persistem


entre os brasileiros: os de pele negra continuam a
ganhar menos que os de pele branca, mas essa
I
realidade vem mudando significativamente. Em
dez anos, o total de empreendedores que se
declararam pretos cresceu 29%; os de pele clara, apenas 1%.
Também nos salários houve mudança: desde 2009, subiram 22,5%
entre homens negros contra 9, 1% entre os brancos. O fenômeno se
repetiu com as mulheres: aumento salarial de 22% para negras e de
12,4% para brancas. Os negros também tiveram maior aceitação no
mercado de trabalho, com uma redução mais acentuada da taxa de
desemprego na comparação com os brancos.
http:Uclippingmp.planejamento.gov.br/cadastros/noticias/20
13/9/15/negros-conquistam-mais-emprego-e-renda)

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Lista de imagens

fig.01: http://www.diabeticool.com/wp-content/u ploads/2014/06/d iferentes-etnias-


hu manas-d iabetesJ pg
fig.02: http://www.acontecendoaqui.eom.br/wp-content/uploads/2014/11/benetton-
1991-angelanddevilJpg
fig.03: http://www.palmares.gov.br/?p=30867

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