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TT: 058
Emissão: 29/02/2012
Revisão: 00
O Fator Felicidade
Por que falar de felicidade quando boa parte da economia mundial segue prostrada
e gente do mundo todo sabidamente anda infeliz?
Porque novas descobertas na neurociência, na psicologia e na economia tornam
absolutamente claro o elo entre urna forca de trabalho feliz e contente e resultados
melhores para a atividade empresarial. A felicidade pode ter um impacto tanto para a
empresa como para um país. E o movimento para medir o bem-estar nacional com
outros critérios que não o PIB pode ser um divisor de águas: como sabemos, o que é
medido é administrado. A ciência da felicidade já avançou muito. Seria tolice não tirar
proveito desse conhecimento.
A matemática do bem-estar
Há um jeito melhor de medir o progresso do que o PIB?
Justin Fox é autor de O Mito dos Mercados Racionais (Best Business, 2011) e diretor editorial
da Harvard Business Review.
Dinheiro não é tudo. Mas, para medir o sucesso de uma nação, há muito é
praticamente a única coisa usada (além, é claro, de esportes). O indicador dominante
desde a 2ª Guerra Mundial é o valor, em dólar, do produto econômico de um país,
expresso inicialmente como produto nacional bruto e, mais tarde, como produto
interno bruto.
IDEIA EM RESUMO
Desde a 2ª Guerra Mundial, o produto nacional bruto e seu substituto, o produto
interno bruto, tem sido os principais indicadores do sucesso de uma nação. Agora,
porém, governos e entidades sem fins lucrativos estão trabalhando para criar
indicadores alternativos para a avaliação do progresso.
O PIB esta sob ataque por três grandes motivos. Um deles é que, mesmo em seus
próprios termos, é falho: ignora um bom volume de atividade econômica (o serviço
domestico não remunerado, por exemplo) e, por representar, num único número,
sistemas vastos e complexos, é inevitavelmente distorcido. Outro motivo é que não
computa a sustentabilidade econômica e ambiental. Por último, indicadores já
disponíveis — de escolaridade, por exemplo, ou expectativa de vida — podem refletir
o bem-estar muito melhor do que a produção econômica.
Esse trabalho teve sua apoteose na década de 1930, quando Paul Samuelson
tentou explicar a economia do bem-estar em termos puramente matemáticos. Na
mesma época, os economistas Simon Kuznets, nos Estados Unidos, e Richard Stone, no
Reino Unido, vinham criando os sistemas de contas nacionais que deram origem ao
PNB e ao PIB. Não estavam realmente preocupados com a utilidade; a grande meta era
tomar mais fácil, para governantes, administrar a economia de uma nação em meio a
crises financeiras e guerras. Mas a combinação de um indicador simples, da crença
entre economistas de que padrões de gastos revelavam tudo e do aumento da
influência e do prestígio de economistas foi poderosa. Na década de 1940, o PNB foi
adotado pelo Fundo Monetário Internacional e pelo Banco Mundial, então
recém-criados, como principal indicador do crescimento econômico; ao longo dos
anos, assumiu conotações ainda mais profundas de sucesso e bem-estar.
Para seu proposito original — medir flutuações econômicas de curto prazo —, o
PIB não deve ser suplantado tão cedo. Aliás, pode até estar ganhando terreno: no
momento, há uma grande discussão para definir se o americano Federal Reserve e
outros bancos centrais deviam, em tempos de crise, fechar o foco não na inflação, mas
no crescimento do PIB.
Já quando a atenção se desloca de altos e baixos de curto prazo a coisa fica mais
complicada. “Nosso produto nacional bruto (...) computa a poluição do ar e a
publicidade de cigarro e ambulâncias para limpar nossas rodovias do morticínio”, disse
Robert F. Kennedy na campanha presidencial em 1968. “Computa fechaduras especiais
para nossas portas e prisões para aqueles que as arrombam. Computa a destruição das
matas e a perda de nossas maravilhas naturais para a expansão urbana caótica (...). O
produto nacional bruto não computa, no entanto, a saúde de nossos filhos, a
qualidade de sua educação ou seu prazer em brincar.
Embora tenha recebido pouca atenção na época, a invectiva de Kennedy ganhou
fama de lá para cá — e merecidamente, pois de forma sucinta da voz a quase todas as
grandes criticas ao PIB. As três principais vertentes são as seguintes: (1) o PIB e,
mesmo em seus próprios termos, um indicador falho; (2) não leva em conta a
sustentabilidade ou a durabilidade; e (3) há critérios melhores para medir o progresso
e o desenvolvimento. Vejamos cada item desses em detalhe.
Erro de medição. O calculo do PIB envolve uma série de escolhas — e até escolhas
sensatas podem levar a resultados distorcidos. Estatísticos naturalmente preferem
bens e serviços que são comprados e vendidos — e, portanto, facilmente avaliados
pelo valor de mercado — a atividades econômicas cujo valor precisa ser estimado.
Coisas como serviço doméstico não remunerado, embora nitidamente de grande
importância econômica, ficam de fora do cálculo. E o valor de programas do governo,
incluindo serviços de saúde, em geral e sub-representado, bem como o valor do lazer.
Mas esse viés antiestimativa é irregular: o “aluguel imputado”, uma estimativa de
quanto um proprietário de imóvel pagaria para viver se não fosse o dono do imóvel —
representa cerca de 10% do PIB dos EUA, por exemplo.
Outro elemento da inevitável arbitrariedade do PIB foi introduzido com o
abandono do PNB na década de 1980 e início da de 1990. O PNB computava a renda
dos cidadãos de um país em qualquer parte do mundo em que fosse gerada. Com a
expansão do comércio e do investimento internacionais, foi ficando cada vez mais
difícil conciliar essa medida com indicadores domésticos como emprego e produção
industrial. Fazia sentido adotar o PIB, que mede apenas a produção interna. A
mudança, porém, alterou a trajetória de crescimento de muitos países. Nações em
desenvolvimento com alto investimento
Artista em foco
Todo mês, os artigos que compõem nosso miniespecial são
ilustrados com obras de um artista de destaque. Já que os conceitos
discutidos nesses artigos costumam ser complexos e abstratos,
esperamos que a obra vibrante e cerebral desses fotógrafos,
pintores e criadores de instalações possa infundir energia e inteligência nestas páginas
e potencializar as ideias apresentadas.
Neste mês, o foco e ilustrado com obras de Yue Minjun, líder entre artistas
contemporâneos na China. Seus autorretratos (e o sorriso de Yue que estampa o abre
dos artigos do foco) buscam inspiração em ícones da arte chinesa e ocidental e trazem
um comentário sardônico sobre o mundo moderno.
Para mais obras do artista, visite yueminjun.aitron.net.
HBR: O estudo da felicidade ganhou forca nos últimos 20 anos. Por quê?
Gilbert: Foi só recentemente que vimos que seria possível casar uma das dúvidas
mais antigas do homem — “qual a natureza da felicidade humana?” — com o novo
método para obter respostas: o científico. Há coisa de décadas, o problema da
felicidade era basicamente reduto de filósofos e poetas.
A psicologia sempre teve interesse no emocional, mas nas duas últimas décadas o
estudo de emoções teve uma explosão — e uma das emoções estudadas com mais
intensidade por psicólogos e a felicidade. Nos últimos tempos, economistas e
neurocientistas se uniram ao grupo. Cada disciplina dessas tem interesses distintos,
mas que se cruzam: o psicólogo quer entender o que o ser humano sente, o
economista quer saber a que o indivíduo dá valor, o neurocientista quer ver como o
cérebro humano reage a recompensas. Ter três disciplinas distintas interessadas na
questão ajudou a colocar o tema no mapa da ciência. Teses sobre a felicidade são
publicadas na revista Science, o prêmio Nobel vai para gente que estuda a felicidade,
no mundo todo o poder público se desdobra para descobrir como medir e aumentar a
felicidade dos cidadãos.
E é possível medir algo tão subjetivo quanto a felicidade?
Medir uma experiência subjetiva é muito mais fácil do que se imagina. É o que seu
oftalmologista faz para receitar um óculos de grau. O médico coloca uma lente na
frente de seus olhos e pede que você diga como se sente; depois, vai colocando outras
lentes e perguntando de novo. A informação que você dá se converte em dados, que
são submetidos a uma análise cientifica para se chegar a uma lente que lhe de a visão
perfeita — tudo com base no que o médico ouviu de sua experiência subjetiva. O que
um indivíduo relata em tempo real é uma aproximação muito boa daquilo que está
sentindo, e permite que quem está de fora veja o mundo através de seus olhos. A
pessoa talvez não saiba dizer o quão feliz estava ontem ou o quão feliz vai estar
amanhã, mas pode, sim, dizer como se sente no momento em que lançamos a
resposta. “Como você está?” talvez seja a pergunta mais feita no mundo, e ninguém se
surpreende com ela.
Há muitas maneiras de medir a felicidade. Podemos pedir que a pessoa indique o
quão feliz se sente em determinado momento usando uma certa escala. Podemos usar
a ressonância magnética para medir o fluxo de sangue no cérebro ou a eletromiografia
para medir a atividade dos “músculos do sorriso” na face. Na maioria das
circunstâncias, porém, é alta a correlação entre esses indicadores — e só o governo
federal preferiria um indicador complicado e caro a uma versão simples e barata.
Mas a escala em si não é subjetiva? O que para você é um cinco para mim pode
ser um seis.
Imagine que uma farmácia venda um punhado de termômetros baratos que
saíram da fábrica mal calibrados. Gente com temperatura normal pode registrar mais
de 37°C e duas pessoas com a mesma temperatura podem ter um resultado diferente.
Um erro desses podia levar alguém a buscar um tratamento medico desnecessário ou
a não procurar um médico quando deveria. Logo, um termômetro ruim as vezes é um
problema — mas nem sempre. Se eu trouxesse cem pessoas ao laboratório, por
exemplo, expusesse metade delas a um vírus da gripe e usasse aqueles mesmos
termômetros falhos para tomar sua temperatura uma semana depois, a temperatura
media da turma exposta ao vírus quase certamente seria superior à temperatura
média dos demais. Certos termômetros subestimariam, alguns superestimariam —
mas, desde que medisse um número suficiente de gente, um erro anularia o outro.
Mesmo com instrumentos mal calibrados, é possível comparar grandes grupos de
indivíduos.
Uma escala de classificação é como um termômetro falho. Por ser inexata, e
inadequada para medir certas coisas (para dizer, por exemplo, exatamente o quão feliz
estava John as 10h42 do dia 3 de julho de 2010), embora seja perfeitamente adequada
para o gênero de medição que a maioria dos cientistas faz na psicologia.
E ser feliz é bom sempre? O mundo das artes está cheio de gênios infelizes:
Beethoven, Van Gogh, Hemingway. Uma certa dose de infelicidade não é bom para o
desempenho?
Bobagem! Todo mundo conhece alguma figura histórica que foi infeliz e criativa,
mas isso não significa que a infelicidade de modo geral promova a criatividade. Sem
dúvida, há alguém por aí que fumou dois maços de cigarros por dia e chegou aos 90
anos, mas isso não significa que o cigarro faz bem para a pessoa. A diferença entre
usar casos isolados para provar uma tese e usar a ciência para provar uma tese é que
na ciência não dá para simplesmente escolher o exemplo mais conveniente. É preciso
examinar todos os casos — ou no mínimo uma boa amostra — e ver se há mais gente
criativa feliz ou infeliz, se há mais gente não criativa feliz ou infeliz. Se a infelicidade
promovesse a criatividade, haveria uma parcela maior de gente criativa entre os
infelizes do que entre os felizes. E não há. Em geral, gente feliz e mais criativa e mais
produtiva. Já houve um ser humano cuja desgraça foi a fonte de sua criatividade?
Certamente. Mas essa pessoa é a exceção, não a regra.
Muitos chefes diriam que o trabalhador produtivo não é aquele mais contente
com a vida, que é preciso criar um certo desconforto, deixar a pessoa um pouco
ansiosa em relação ao trabalho.
Quem trabalha com dados em vez de seguir a intuição não diz isso. Não conheço
nenhum dado que mostre que gente ansiosa e receosa seja mais criativa ou produtiva.
É bom lembrar que satisfação não significa ficar sentado fitando a parede. Isso é o que
a pessoa faz quando esta entediada — e todo mundo odeia o tédio. Já sabemos que as
pessoas se sentem mais felizes quando estão devidamente desafiadas: quando estão
tentando atingir metas difíceis, mas não fora de alcance. Desafio e ameaça não são a
mesma coisa. A pessoa viceja quando desafiada e definha quando ameaçada.
Naturalmente, uma ameaça pode surtir efeito. Se um chefe disser a alguém que faça
algo até sexta ou, então, será demitido, provavelmente esse algo será feito até sexta.
Mas também terá um funcionário que, dali em diante, vai fazer de tudo para puxar seu
tapete e que não sentirá nenhuma lealdade pela organização, que nunca fará mais do
que o mínimo necessário. Seria muito melhor dizer ao funcionário: “Acho que a
maioria das pessoas não conseguiria fazer isso até sexta, mas acredito totalmente que
você conseguirá. E é importantíssimo para a equipe”. Psicólogos vem estudando a
recompensa e o castigo há um século, e o resultado é bem claro: a recompensa é mais
eficaz.
Bom, ter desafios deixa a pessoa feliz. O que mais sabemos hoje sobre as fontes
de felicidade?
Se tivesse de resumir toda a literatura científica sobre as causas da felicidade
humana em uma palavra, essa palavra seria “social”. Somos, de longe, a espécie mais
social da Terra. Nem as formigas ganham de nós. Se tivesse de prever seu grau de
felicidade, e pudesse saber uma única coisa sobre sua pessoa, não ia querer saber seu
sexo, sua religião, seu estado de saúde ou sua renda. Ía querer saber sobre sua rede
social: seus amigos e sua família e a força de seu elo com eles.
Além de ter uma forte rede de relatos, o que traz felicidade no dia a dia?
O psicólogo Ed Diener descobriu algo muito interessante. Ele mostra,
basicamente, que a frequência de suas experiências positivas é um indicador muito
melhor da felicidade do que a intensidade dessas experiências positivas. Quando
pensamos naquilo que nos faria felizes, tendemos a pensar em coisas intensas como
um encontro romântico com uma estrela de cinema, ganhar um Pulitzer, comprar um
iate. Mas Diener e colegas mostraram que a qualidade de experiências boas nem de
longe pesa tanto quanto sua quantidade. Alguém que viva todo dia uma dezena de
coisas moderadamente boas tende a ser mais feliz do que a pessoa que teve uma
única experiência verdadeiramente incrível. Logo, use sapatos confortáveis, de um
belo beijo na mulher, coma uma batatinha frita. Isso tudo parece pequeno — e é. Mas
coisas pequenas pesam.
Creio que isso ajuda a explicar por que é tão difícil prevermos nosso estado
emocional. Imaginamos que uma ou duas coisas grandes terão efeito profundo. Mas,
ao que parece, a felicidade e a soma de centenas de pequenas coisas. Alcançar a
felicidade requer a mesma abordagem usada para perder peso. Quem tenta
emagrecer sonha com uma pílula mágica que produza resultados instantâneos. Isso
não existe. Sabemos exatamente como as pessoas emagrecem: comem menos e se
exercitam mais. Não precisam comer muito menos nem se exercitar muito mais — só
precisam fazê-lo reiteradamente. Com o tempo, o resultado aparece. É o mesmo com
a felicidade. O que alguém pode fazer para ser mais feliz são coisas óbvias e pequenas,
e que não tomam muito tempo. Mas é preciso fazê-las todos os dias e esperar pelos
resultados.
IDEIA EM RESUMO
Estudos mostram que chefes podem tomar quatro medidas para ajudar os
subordinados a vicejar no trabalho. Todas as quatro são necessárias para promover
uma cultura de vitalidade e aprendizagem.
Dar liberdade para a tomada de decisões.
No Facebook, o pessoal é incentivado a “move fast and break things” (“agir rápido e
quebrar coisas”). Ou seja, tem muita liberdade para resolver problemas por conta
própria.
Compartilhar informações.
Trabalhadores em restaurantes da Zingerman's — incluindo aí ajudantes de cozinha —
recebem feedback em tempo real sobre todo aspecto das operações, de índices de
satisfação de clientes ao número de xícaras sujas na pia.
Minimizar incivilidade.
Líderes na consultoria Caiman Consulting atribuem a taxa de retenção na empresa (de
95%) a uma cultura na qual todo candidato precisa dar provas de civilidade antes de
ser contratado.
Dar feedback sobre o desempenho.
A firma de crédito imobiliário Quicken Loans tem painéis que exibem dados
continuamente atualizados sobre o desempenho individual e da equipe em relação a
metas.
Compartilhar informações
Desempenhar suas funções num vazio de informação é maçante e não inspira; não
há razão para buscar soluções inovadoras quando não dá para ver o impacto maior.
Um indivíduo pode dar uma contribuição mais eficaz quando entende como seu
trabalho se encaixa na missão e na estratégia da organização.
A Alaska Airlines optou por investir o tempo da administração para ajudar o
pessoal a ter uma visão mais ampla da estratégia. O Plano 2010 foi lançado com uma
comunicação tradicional, mas também com um road show que se estendeu por meses
e sessões de capacitação para ajudar o trabalhador a compartilhar ideias. Até hoje, o
presidente, o superintendente e o diretor de operações saem em campo a cada três
meses para colher informações sobre peculiaridades de distintos mercados; em
seguida, disseminam o que descobriram. Os benefícios aparecem em indicadores
anuais do orgulho que o pessoal sente pela empresa — agora chegando a espetacular
marca de 90%.
Na Zingerman's (uma comunidade no estado americano de Michigan que reúne
empresas do setor alimentício e para a qual colaborou Wayne Baker, um colega nosso
no Center for Positive Organizational Scholarship), a informação é o mais transparente
possível. Embora a organização nunca tenha retido deliberadamente os resultados — a
informação financeira sempre esteve à vista para todo funcionário ver —, quando
estudaram a gestão com livro aberto (“open book management”) em meados da
década de 1990, os cofundadores Ari Weinzweig e Paul Saginaw passaram a acreditar
que todo trabalhador mostraria mais interesse se estivesse envolvido no “jogo”.
27% Operários com pontuação alta no quesito “vicejar” tinham desempenho geral
27% superior ao de colegas menos vicejantes.
53% Operários que vicejavam tinham 53% mais probabilidade de sentir uma
progressão positiva na carreira do que outros trabalhadores.
Implementar uma política de livro aberto mais formal e relevante não foi fácil. O
pessoal podia conferir os números, mas tinha poucos motivos para se interessar pela
informação e não entendia muito bem a relação dos dados com seu trabalho diário.
Nos primeiros cinco ou seis anos, a empresa lutou para inserir o conceito em seus
sistemas e rotinas e para fazer o pessoal assimilar o que Baker chama de rigor do
“huddle”: o termo em inglês para a reunião semanal em torno de um quadro branco
na qual a equipe monitora resultados, mantem um placar e projeta números da
semana seguinte. Embora entendesse as regras da gestão com livro aberto, o pessoal
no começo não via o sentido de incluir mais uma reunião em sua agenda já atribulada.
Foi só quando a alta liderança tornou obrigatório o huddle que o pessoal entendeu o
verdadeiro proposito dos quadros brancos, que exibiam não só resultados financeiros,
mas também indicadores de serviço e qualidade da comida, medias de contas, dados
internos de satisfação e “diversão”, o que poderia incluir de concursos semanais a
indicadores de satisfação do cliente, passando por ideias de funcionários para
inovação.
Certas empresas da Zingerman's começaram a instituir “minijogos”: incentivos de
curto prazo para corrigir um problema ou explorar oportunidades. A equipe de um
restaurante da comunidade, o Road-house, usou o jogo da “saudação” para
determinar quanto tempo demorava para um cliente receber as boas-vindas. Clientes
que não eram saudados exibiam menor satisfação — e o pessoal volta e meia se
pegava dando cortesias para compensar falhas no atendimento. O jogo desafiou o
pessoal da recepção a saudar no prazo de cinco minutos todo cliente que entrava, com
uma recompensa financeira modesta para 50 dias seguidos de sucesso — e inspirou
essa turma a rapidamente descobrir e corrigir falhas no processo de atendimento, cuja
nota melhorou consideravelmente no decorrer de um mês. Outras empresas da
Zingerman's lançaram jogos semelhantes, com incentivos para entrega mais rápida,
menos acidentes com facas na padaria (o que reduziria custos de seguro) e uma
cozinha mais arrumada.
Naturalmente, os jogos criaram certa tensão interna, pois além de boas noticias
também trazem más, o que pode abalar o moral. Mas, no geral, aumentaram muito o
senso de posse do pessoal da linha de frente, contribuindo para um melhor
desempenho. De 2000 a 2010 a receita da Zingerman's subiu quase 300%, para mais
de US$ 35 milhões; os líderes da empresa consideram a gestão com livro aberto um
fator crucial desse sucesso.
Nosso estudo
Passamos os últimos sete anos investigando a natureza daquilo que chamamos de
“vicejar” no local de trabalho e fatores que favorecem ou inibem esse vicejar.
Em vários estudos com as colegas Cristina Gibson e Flannery Garnett, aplicamos
questionários ou entrevistamos mais de 1.200 trabalhadores de escritório e Operários
de uma série de setores, incluindo ensino superior, saúde, serviços financeiros,
operações marítimas, energia e manufatura. Também estudamos indicadores de
energia, aprendizado e crescimento com base em informações fornecidas por
trabalhadores e chefes, além de índices de retenção, saúde, desempenho geral no
trabalho e atitude de cidadania organizacional.
Criamos uma definição de vicejar que decompõe o conceito em dois fatores: vitalidade
(a sensação de estar energizado e vivo) e aprendizado (obtenção de conhecimentos e
habilidades). Quando juntamos os dois, os resultados são impressionantes. Por
exemplo, gente com alta energia e alta aprendizagem era 21% mais eficaz na liderança
do que aqueles com alta energia apenas. Os resultados num critério em particular —
saúde — foram ainda mais extremes. Quem exibia alta energia e baixa aprendizagem
tinha um resultado 54% pior na saúde do que gente com nota alta em ambos.
Relatos simples dão credibilidade a essa afirmação. Dois anos atrás, por exemplo,
vimos Ari Weinzweig dar uma palestra no Roadhouse. Um convidado perguntou se era
realista esperar que o garçom ou o ajudante típicos entendessem a estratégia e as
finanças da empresa. Em resposta, Ari se dirigiu a um ajudante de cozinha que não
vinha tomando parte na conversa: o adolescente se incomodaria de dizer qual a visão
da Zingerman's e indicar se o restaurante estava cumprindo ou não as metas
semanais? Sem pestanejar, o rapaz resumiu a visão com as próprias palavras e, em
seguida, contou como o restaurante vinha se saindo naquela semana no quesito
“pratos enviados de volta a cozinha”.
Embora a Zingerman's seja uma empresa relativamente pequena, outras bem
maiores — como os supermercados Whole Foods e a empresa de transportes YRC
Worldwide — também adotaram a gestão com livro aberto. Sistemas que deixam a
informação amplamente a vista geram confiança e dão ao trabalhador o
conhecimento de que precisa para chegar a boas decisões e tomar a iniciativa com
confiança.
Minimizar incivilidade
O custo da incivilidade é imenso. Em estudo realizado com Christine Pearson,
professora da Thunderbird School of Global Management, descobrimos que metade
dos trabalhadores que haviam sido alvo de condutas incivis no trabalho tinham
intencionalmente diminuído seu esforço. Mais de um terço derrubara
deliberadamente a qualidade do trabalho. Dois terços perdiam muito tempo evitando
o ofensor e aproximadamente a mesma parcela dizia que seu desempenho piorara.
A maioria das pessoas já foi alvo de grosserias no trabalho. Eis um punhado de
declarações de nossa pesquisa:
“Meu chefe me pediu para preparar uma análise. Era meu primeiro projeto, e
ninguém me deu nenhuma instrução ou exemplo. Ele me disse que o trabalho estava
uma porcaria”.
“Meu chefe disse: ‘Se quisesse saber o que você acha, teria perguntado’.”
“Meu chefe me viu tirar um clipe de metal de uns papéis e joga-lo na lixeira. Na
frente dos meus 12 subordinados, me repreendeu (...) e me mandou pegar o clipe de
volta.”
“No viva-voz, na frente dos colegas, meu chefe me disse que o trabalho que eu
fizera era ‘primário’.”
Ouvimos centenas de historias — que, infelizmente, soam bem conhecidas para a
maioria daqueles que trabalham. Mas não ouvimos tanto sobre os custos. A
incivilidade impede que as pessoas vicejem. Quem foi alvo de grosserias volta e meia
exibe, também, um comportamento incivil. Sabota os colegas. “Esquece” de copiar
colegas em comunicações. Espalha fofocas para desviar a atenção. Diante da
incivilidade, um trabalhador tende a estreitar o foco para evitar riscos — perdendo,
no processo, oportunidades de aprender. Uma consultoria de gestão que estudamos,
a Caiman Consulting, foi fundada como uma alternativa a firmas maiores. Instalada no
estado americano de Washington, em espaços que não são particularmente
elegantes, a empresa e reconhecida pela cortesia de sua cultura. A checagem de
antecedentes no processo de contratação inclui verificar o histórico de civilidade do
candidato.
“As pessoas deixam um rastro”, diz o diretor da Caiman, Greg Long. “É possível
evitar uma cultura corrosiva sendo cuidadoso e consciente logo no começo.” O
diretor-gerente, Raazi Imam, disse: “Não tenho tolerância para gente que esculacha ou
desrespeita os outros”. Quando isso acontece. Imam chama o ofensor de lado para
deixar clara sua política. Long atribui a taxa de retenção da empresa — 95% — a sua
cultura.
A Caiman rechaça candidatos altamente qualificados que não combinam com essa
cultura. Também mantem uma lista de consultores que poderiam ser um aporte a
firma para o caso de uma vaga abrir. A diretora de RH, Meg Clara, coloca fortes
habilidades interpessoais e inteligência emocional entre os principais critérios para a
contratação.
Na Caiman, como em toda empresa, os chefes dão o tom quando o assunto e
civilidade. Uma única maça podre pode tirar a cultura do prumo, Um jovem gerente
contou o caso da chefe, uma executiva que tinha o habito de gritar, de sua sala, “Você
cometeu um erro!” por uma falta mínima como um erro de digitação. Sua voz
ressoava no espaço, fazendo todo mundo se encolher e o destinatário sentir um
profundo constrangimento. Na esteira, os colegas se reuniam numa área comum para
tomar café e comiserar. Uma pessoa ali de dentro nos contou que a conversa não
girava em torno de como subir na empresa ou aprender a ignorar o abuso — mas em
uma maneira de se vingar e cair fora.
Em nosso estudo, ficamos surpresos com o reduzido numero de empresas que
consideram a civilidade — ou a incivilidade — ao avaliar um candidate. A cultura de
uma empresa e inerentemente contagiosa; trabalhadores são assimilados ao entorno.
Em outras palavras, se buscar civilidade ao contratar, é mais provável que esse traço
seja integrado a sua cultura.
Shawn Achor é presidente da consultoria Good Think e autor de The Happiness Advantage
(Crown Business, 2010)
Em julho de 2010, em meio a uma expansão mundial que a levaria a outros 19
países, a fabricante americana de cremes e cosmeticos Burt's Bees estava passando
por enormes mudanças. Numa situação dessas, de alta tensão, muitos líderes
atazanam os subordinados com reuniões frequentes ou inundam sua caixa de entrada
com pedidos urgentes. No processo, elevam o grau de ansiedade de todos, o que por
sua vez ativa a parte do cérebro que processa ameaças — a amigdala — e tira recursos
do córtex pré-frontal, responsável pela solução eficaz de problemas.
John Replogle, então presidente da empresa, agiu de outra maneira. Todo dia,
mandava um e-mail elogiando um membro da equipe por alguma atividade ligada a
expansão. Interrompia as próprias apresentações sobre a empreitada para recordar
seus gerentes de conversar com as respectivas equipes sobre os valores da Hurt's
Bees. No meio da campanha de expansão, pediu que eu facilitasse uma sessão de três
horas sobre felicidade com os funcionários. Como me contou um integrante da cúpula
um ano mais tarde, a ênfase de Replogle em cultivar uma liderança positiva manteve o
envolvimento e a coesão dos gerentes, que promoveram com sucesso a transição para
uma empresa internacional.
Esse resultado não devia causar surpresa. Estudos mostram que, quando as
pessoas trabalham com um estado de espírito positivo, o desempenho em quase todo
plano — produtividade, criatividade, engajamento — melhora. Apesar disso, a
felicidade talvez seja o mais incompreendido dos fatores do desempenho. Para
começar, a maioria das pessoas acha que o sucesso precede a felicidade. “Quando for
promovido, serei feliz”, pensam. Ou “Quando tiver atingido minhas metas de vendas,
vou me sentir bem”. Mas, já que o sucesso é um alvo em movimento (assim que atinge
a meta, a pessoa estipula uma mais difícil), a felicidade que resulta do sucesso e
passageira.
Na verdade, funciona ao contrario: quem cultiva um estado de espirito positivo se
sai melhor diante de desafios. É o que chamo de “vantagem da felicidade”: todo
resultado da empresa mostra melhora quando o cérebro é positivo. Observei esse
efeito em meu papel como pesquisador e ao dar palestras em 48 países sobre o elo
entre felicidade e sucesso do trabalhador. E não estou sozinho: numa meta-análise de
225 estudos acadêmicos, os pesquisadores Sonja Lyubomirsky, Laura King e Ed Diener
acharam fortes indícios de causalidade direcional entre satisfação com a vida e bons
resultados em empresas.
Outro equivoco comum é que nossos genes, o entorno ou uma combinação dos
dois determinam o quão felizes somos. É verdade que ambos os fatores tem impacto.
Mas a sensação geral de bem-estar de uma pessoa é incrivelmente maleável. Os
hábitos que você cultiva, a forma como interage com colegas de trabalho, o modo
como encara o estresse — isso tudo pode ser administrado para aumentar sua
felicidade e suas chances de sucesso.
Ajude os colegas
Das cinco atividades descritas acima, a mais eficaz talvez seja interagir de forma
positiva com gente em sua rede social de apoio. O forte apoio social está ligado a um
número surpreendente de resultados desejáveis. Estudos de Julianne Holt-Lunstad,
Timothy Smith e Bradley Layton mostram, por exemplo, que altos níveis de apoio
social tem tanta relação com a expectativa de vida quanto a atividade física regular; já
o baixo apoio social é tão nocivo quanto a pressão arterial elevada.
40% Meus estudos mostram que o trabalhador com pontuação mais elevada na
prestação de apoio social tem 40% mais probabilidade de receber uma promoção no
ano seguinte, relata satisfação consideravelmente maior no trabalho e se sente dez
vezes mais motivado com o trabalho do que gente com pontuação no quartil mais
baixo.
Os benefícios do apoio social não são só físicos. Num estudo com 1.648 alunos da
Harvard University que realizei com Phil Stone e Tal Ben-Shahar, descobrimos que o
apoio social era o maior antecedente da felicidade durante períodos de estresse
elevado. Com efeito, a correlação entre felicidade e a escala Zimet de apoio social
(critério acadêmico que utilizamos para determinar a interação positiva dos alunos
com sua rede social) foi um incrível 0,71 (a título de comparação, a correlação entre
tabagismo e câncer é de 0,37).
O foco daquele estudo foi a quantidade de apoio social que os alunos recebiam.
Mas, em outra pesquisa, que fiz em marco de 2011, descobri que ainda mais
importante para a felicidade sustentada e a motivação era a quantidade de apoio
social que o aluno dava. Quantas vezes, por exemplo, um estudante ajuda alguém que
esteja sobrecarregado de trabalho? Quantas vezes inicia interações sociais no
trabalho? Gente que dava apoio social — que assumia parte da carga dos outros, que
chamava colegas para almoçar e que organizava atividades na empresa — tinha não
só dez vezes mais chance de estar motivada no trabalho do que aqueles que ficavam
na sua, mas também tinha 40% mais chance de conseguir uma promoção.
Como funciona o apoio social na pratica como ferramental para a felicidade do
pessoal? A Ochsner Health System, uma grande organização de saúde com a qual
trabalho, usa uma abordagem que chama de “10/5 Way” para aumentar o apoio social
entre trabalhadores e pacientes. Orientamos 11 mil funcionários, líderes e médicos
sobre o impacto do apoio social na experiência do paciente e pedimos que alterassem
seu comportamento. Se um funcionário estiver a menos de dez pés (três metros) de
outra pessoa no hospital, deve fazer contato visual e sorrir. Se estiver a cinco pés (1,5
metro), deve dizer oi. Desde a adoção da 10/5, a Ochsner registrou um aumento no
número de visitas de pacientes, alta de 5% na probabilidade de um paciente
recomendar a organização e avanço considerável na avaliação de profissionais
médicos. O apoio social parece levar não só a funcionários mais felizes, mas também a
clientes mais satisfeitos.
Mude sua relação com o estresse
O estresse e outro fator que contribui muito para a felicidade das pessoas no
trabalho. Muitas empresas ensinam o pessoal a mitigar o estresse, dando ênfase aos
efeitos negativos para a saúde. O problema é que, depois disso, a pessoa se estressa
por sentir estresse.
O estresse tem um lado positivo. Em fevereiro de 2011, num projeto com a Pfizer,
pedi a executivos que enumerassem as cinco experiências que mais haviam
influenciado o que eram hoje. Quase tudo o que relataram envolvera grande estresse
— afinal, pouca gente cresce nas férias. Pegue qualquer biografia e o leitor verá o
mesmo: o estresse não é só um obstáculo ao crescimento; pode, também, ser seu
combustível.
Sua atitude para com o estresse pode mudar drasticamente o modo como ele o
afeta. Num estudo que Alia Crum, Peter Salovey e eu fizemos no UBS em meio à crise
bancária e a pesada reestruturação, pedimos a gerentes que assistissem a um de dois
vídeos — o primeiro retratava o estresse como prejudicial ao desempenho e o
segundo mostrava de que forma o estresse contribui para o cérebro e o corpo
humanos. Quando avaliamos esse pessoal seis semanas depois, descobrimos que
quem tinha assistido ao vídeo do “reforço” tirava nota mais alta na escala Stress
Mindset Scale — ou seja, via o estresse como algo que melhorava, em vez de piorar,
seu desempenho. Esses indivíduos registraram redução considerável em problemas de
saúde e um aumento importante na felicidade no trabalho.
O estresse é parte inevitável do trabalho. A próxima vez que estiver se sentindo
sobrecarregado, prove o seguinte exercício: faça uma lista das pressões que está
sofrendo. Divida tudo em dois grupos: as que pode controlar (como um projeto em sua
lista de afazeres) e as que não pode (o mercado acionário, preços de imóveis). Escolha
uma pressão que pode controlar e de um passo pequeno e concreto para reduzí-la.
Com isso, é possível empurrar o cérebro de volta para um estado mais positivo — e
produtivo.
Está patente que aumentar a felicidade eleva suas chances de sucesso. Cultivar
novos hábitos, apoiar colegas de trabalho e encarar de forma positiva o estresse são
boas maneiras de começar.