Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
net/publication/279718646
CITATIONS READS
0 1,376
2 authors:
Some of the authors of this publication are also working on these related projects:
TV Digital interativa: um estudo comparado entre Brasil, Espanha e Portugal View project
All content following this page was uploaded by José Luís Bizelli on 05 July 2015.
Comunicação e Sociedade
A sociedade atual vem passando por transformações rápidas e intensas, assim como
em outros momentos de mudanças sociais ao longo da história, em virtude do
desenvolvimento tecnológico, especificamente, dos meios de transporte e comunicação que
impulsionaram este processo.
Neste contexto, analisando o retrato atual da sociedade, dentre os responsáveis pelas
mudanças de paradigmas e fruto das tecnologias de informação e comunicação (TIC)
destaca-se a internet, a qual a partir de seu surgimento promoveu uma reconfiguração
cultural e o nascimento de uma nova estrutura de sociabilidade contemporânea, espaço que
disponibiliza diversos recursos inovadores que conectam as pessoas promovendo a
ampliação do seu campo de interações sociais, quando se considera a comunicação como
1
Mestre em Educação Escolar, UNESP, Faculdade de Ciências e Letras, Departamento de Ciências da
Educação, CEP: 14800-901, Araraquara, SP, Brasil. UNICEP, Departamento de Arquitetura e Urbanismo,
CEP: 13563-470, São Carlos, SP, Brasil. jessica.ufscar@yahoo.com.br.
2
Professor Adjunto da UNESP – Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho. Faculdade de
Ciências e Letras – Departamento de Antropologia Política e Filosofia. Araraquara – SP – Brasil. 14800901 –
bizelli@fclar.unesp.br
agente construtor da percepção do mundo para o indivíduo (SCHERRER, 2009). Não
obstante, Gehrke (2002, p. 12) afirma:
Seguindo esta conjuntura, a priori evidenciam-se como principais agentes deste novo
modelo de comunicação: 1. o correio eletrônico que tornou possível a troca de mensagens
com facilidade e agilidade sem a necessidade de preocupação com o meio, com o tipo de
transporte das mesmas e com a localização geográfica dos envolvidos; 2. os chats, ou salas
de bate papo, que criaram uma nova forma de interação possibilitando conversas em tempo
real entre familiares, amigos ou até desconhecidos, situados em qualquer lugar do mundo.
Estes mecanismos, bem como tantos outros hoje existentes, afetaram o homem
interferindo no seu modo de administração do tempo, nas suas relações sócio-profissionais
e em sua convivência na sociedade, ampliando suas possibilidades e perspectivas, como
ressaltado por Gehrke (2002, p.14). Segundo este autor a internet abriu caminhos para
pessoas com limitações físicas ou emocionais socializarem-se com mais facilidade.
Em decorrência das mudanças comunicativas, hoje, além dos correios eletrônicos e
chats, destacam-se na sociabilidade contemporânea as comunidades virtuais, pois são
espaços que possibilitam o debate de temas específicos, por um conjunto de pessoas com
interesses e objetivos comuns.
O estudo dessas mudanças no presente, principalmente quanto às práticas
comunicativas, base de trocas sócio-culturais humanas, é importante para o entendimento
cultural da sociedade contemporânea, a qual tem sido definida como cibercultura, em que
as palavras-chave são velocidade, conectividade e interatividade, termos que traduzem
especificidades da comunicação pela Internet (GEHRKE, 2002).
Vale ressaltar que a cibercultura não se refere apenas a aspectos tecnológicos, pois se
trata de um fenômeno social que reinventa o cotidiano e agrega a tecnologia tornando
possível novas formas de sociabilidade ao usuário (MOURA, 2005).
Assim, estudar essas mudanças comunicativas também permite entender as novas
formas de sociabilidade, o que contribui para entender a extensão do papel da comunicação
nos dias atuais.
A internet e as relações de identidade social
Surge na sociedade global um cenário de aceleração dos “fluxos e laços entre
nações” (HALL, 1999, p.69) baseadas na informação e tecnologia, onde a comunicação é
detentora. Os espaços permanecem fixos, mas podem ser atravessados em segundos pela
Internet. Nesse cenário o sentimento de pertencer a um lugar é alterado pela ruptura da
distancia e do tempo.
A partir da possibilidade de povos e nações interligar-se rapidamente, através de
equipamentos eletrônicos, o homem contemporâneo, mas do que em qualquer outro
período anterior, pode acessar e conhecer facilmente uma variedade de culturas. É por isso
que esse homem pode perder o referencial do seu lugar no mundo, instituindo várias
identidades (GEHRKE, 2002). Canclini, (1995, p.142) define que “São identidades
formadas a partir de repertórios textuais e iconográficos gerados pelos meios eletrônicos de
comunicação e com a globalização da vida urbana”.
A memória agora é coletiva, não se baseia mais em conhecimentos e tradições
regionais, e os códigos que formam a identidade são partilhados coletivamente, por pessoas
espalhadas em locais distantes geograficamente. (GEHRKE, 2002) Segundo Barbero
(2003, p.63): “A comunicação é percebida, em todo caso, como o cenário cotidiano do
reconhecimento social, da constituição e expressão dos imaginários”.
Em suma retrata-se uma reconfiguração das culturas universais intensificadas pela
comunicação e interação. Como afirma Moraes (2003, p.68): “As culturas vivem enquanto
se comunicam umas com as outras e esse comunicar-se comporta um denso intercâmbio de
símbolos e sentidos”. Hall complementa:
Ele ainda afirma que tal grupo vive pela co-atuação e partilham seus valores,
interesses, metas e posturas de apoio mútuo, por meio de interações on-line. Segundo Lévy
(2009) ”Comunidade atual seria a expressão muito mais adequada para descrever os
fenômenos de comunicação coletiva no ciberespaço do que comunidade virtual”. Porem o
sentindo de virtual que tem sem sido compreendido é o exposto por Lévy: (2000, p.47).
3
Gilles Deleuze e Felix Guattari defendem a tese de que a desterritorialização é a marca da chamada
sociedade pós-moderna, dominada pela mobilidade, pelos fluxos, pelo desenraizamento e pelo hibridismo
cultural.
4
Outras comunidades se formam, por exemplo, em torno de games e gamers (BIZELLI; SANTOS, 2011).
O ciberespaço potencializa o surgimento de relacionamentos sociais
delineados em torno de interesses comuns, de traços de identificação,
pois ele é capaz de aproximar e conectar indivíduos que talvez nunca
tivessem oportunidade de se encontrar pessoalmente.
Em termos gerais uma vez que as comunidades virtuais são identificadas pelo perfil
de seus usuários, dependendo assim do depoimento do cotidiano de seus membros para que
se forme uma identidade coletiva, ela acaba indo alem do virtual e fazendo parte do
cotidiano, no espaço físico da sociedade contemporânea.
5
Em 1989, o pesquisador Tim Berners-Lee, do Centro Europeu de Pesquisas Nucleares, criou a Web que se
transformou em um dos serviços mais usados na Internet. O objetivo do pesquisador era criar um sistema
interno baseado em hipertexto, que disponibilizasse informações sobre as pesquisas realizadas no centro de
forma organizada e prática.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Pode-se verificar neste trabalho a internet como componente tecnológico relevante
para a comunicação e difusora da informação contemporânea através de três fatores
fundamentais. Primeiro: atua diariamente na relação pessoal de seus usuários; segundo:
produtos tecnológicos oferecidos pelos ambientes virtuais facilitam a comunicação e
integração entre os indivíduos; e produz, distribui e permite a crítica da informação que
segundo Gehrke (2002, p.175), dentro de uma perspectiva de evolução e competitividade
assume um papel de fundamental importância na sociedade contemporânea.
Ao que diz respeito à sociabilidade e o uso da internet, tem-se que a identidade e o
sentimento de pertencimento são o que lhe atribui sentindo como individuo integrante de
um grupo social, sendo assim hoje quando o mundo está quase que completamente
interligado pelos meios de comunicação, a identidade social é construída por um conjunto
de atributos culturais formandos, mas do que em qualquer outro momento a partir de um
repertorio múltiplo.
Portanto o sentimento de pertencer a algum grupo baseia-se em fluxos de informação
e imagens difundidos nesse meio. Para Gehrke (2002, p.176), “Tanto quanto amplia o
acesso a uma variedade incontável de códigos culturais a internet implica radicalmente a
possibilidade de cada internauta viver múltiplas identidades, visto que o mesmo constrói
inúmeros personagens, através do anonimato, em espaços de interação social”.
Verifica-se assim que a característica diferencial da possibilidade de estabelecer
relacionamentos sociais no ciberespaço está na forma de adquirir traços de identificação,
pois os próprios indivíduos escolhem o grupo que pretende fazer parte de acordo com seu
interesse particular, tendo a chance de participar de quantas comunidades desejarem. Para
Corrêa (2006) “A formação de comunidades virtuais é resultado tanto do impacto das
novas tecnologias de comunicação informação (TIC), a partir da consolidação de uma
cibercultura, quanto do processo de fragmentação das identidades culturais, que é reflexo
direto do efeito da globalização como característica inerente à modernidade”.
Não obstante a partir do quadro teórico apresentado é possível afirmar que a
cibercultura representada pelas redes alternativas de comunicação disponibilizadas pela
internet está alterando as rotinas de comunicacionais dos indivíduos, o que inclui o acesso
à informação, as rotinas de trabalho e o relacionamento social.
No mais a extensão do ciberespaço acompanha e aceleram os passos da sociedade,
em geral, a internet com suas particularidades, reconfigurou o nosso sistema de
pensamento e conceitos de comunicação, o que ela faz é transportar para nossa realidade a
virtualidade, e constituir assim a cultura de uma sociedade em rede, à qual pertencemos.
REFERÊNCIAS
CASTELLS, Manuel. Internet e Sociedade em Rede. In: MORAES, Dênis de (org.). Por
Uma Outra Comunicação: Mídia, mundialização cultural e poder. Rio de Janeiro:
RECORD, 2003.
CORRÊA, Cynthia H. W. A Sociabilidade no Ciberespaço a partir da Lógica da
Identificação. Razón y Palabra, México, v. n.49, n.ano 11, p. 1-10, 2006.
_____. Da diáspora: identidades e mediações culturais. Belo Horizonte: Ed. UFMG, 2003.