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Apresentação

[...] foram os livros escolares de Português, pelo seu caráter “antológico”, que me abriram as
portas para a fruição literária: ainda hoje posso recitar poesias aprendidas naquela época distante.
Terminado o curso [equivalente ao nível médio], trabalhei durante cerca de dois anos como serra-
lheiro mecânico numa oficina de reparação de automóveis. Também por essas alturas tinha come-
çado a frequentar, nos períodos noturnos de funcionamento, uma biblioteca pública de Lisboa. E
foi aí, sem ajudas nem conselhos, apenas guiado pela curiosidade e pela vontade de aprender, que
o meu gosto pela leitura se desenvolveu e apurou.
[...]
José Saramago. Autobiografia. Disponível em:
<http://josesaramago.blogs.sapo.pt/95061.html>. Acesso em: 7 jun. 2013.

[...] No premêro livro havia


Eu nasci aqui no mato, Belas figuras na capa,
Vivi sempre a trabaiá, E no começo se lia:
Neste meu pobre recato, A pá – O dedo do Papa
Eu não pude estudá Papa, pia, dedo, dado,
No verdô de minha idade, Pua, o pote de melado
Só tive a felicidade Dá-me o dado, a fera é má
De dá um pequeno insaio E tantas coisa bonita
In dois livro do iscritô, Qui o meu coração parpita
O famoso professô Quando eu pego a rescordá.
Filisberto de Carvaio. [...]
Patativa do Assaré. Aos poetas clássicos. Texto impresso em folhetos de cordel, s.d.

Professor,
É com alegria e entusiasmo que entregamos a você esta coleção de Língua Portugue-
sa para o Ensino Médio. Ela foi concebida para auxiliá-lo na importante e complexa tarefa
de inserir seus alunos nos múltiplos letramentos requeridos para uma atuação cidadã,
ética e engajada. Esta proposta é resultado de cinco grandes frentes de ação:
• sistematização de experiências de nossa equipe em sala de aula;
• conversas com professores de Língua Portuguesa sobre o livro didático;
• estudo das diretrizes oficiais para a Educação e o ensino de Língua Portuguesa
no Brasil;
• revisão crítica dos conteúdos tradicionais da disciplina de Língua Portuguesa;
• diálogo com as contribuições das áreas de Educação, Linguística, Linguística apli-
cada e ensino de Literatura formuladas ao longo das últimas décadas.
Esperamos estabelecer uma efetiva parceria com o professor e com seus alunos,
contribuindo para renovar o dia a dia em sala de aula e ressignificar os processos de
ensino-aprendizagem. Os depoimentos acima, de José Saramago e Patativa do Assaré –
manifestações inequívocas e igualmente legítimas da nossa língua portuguesa, d’além-mar
e da nossa terra –, mostram em prosa e em verso que o livro didático pode ser fonte de
alegria e de encantamento, marcando de forma perene a vida dos leitores. É esse, também,
o nosso sincero desejo.
A equipe

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Sumário
PARTE 1 Formação continuada ................................................................ 456
Aspectos gerais da coleção ........................................ 404 Literatura ........................................................................................................... 456
Palavras iniciais ........................................................................................ 404 Linguagem ........................................................................................................ 458
Objetivos do ensino de Língua Produção de texto .................................................................................... 459
Portuguesa para o Ensino Médio ............................................ 404
Conexões entre as partes do LD
Concepções de língua e linguagem ...................................... 406
(boxes Hipertexto) ........................................................................ 460
A estrutura da coleção ........................................................................ 407
Literatura .......................................................................................................... 460
Eixos norteadores da coleção ...................................................... 407
Linguagem ........................................................................................................ 462
Letramento literário ......................................................................... 407
Reflexão linguística ........................................................................... 410 Produção de texto .................................................................................... 463
Produção de textos ............................................................................. 413 Conexões interdisciplinares
Leitura e compreensão de textos ............................................ 416
(ícones de interdisciplinaridade) ........................... 464
Variação linguística ........................................................................... 417
Literatura ........................................................................................................... 465
Oralidade .................................................................................................... 419
Projetos ........................................................................................................ 421 Linguagem ........................................................................................................ 465
Interdisciplinaridade ........................................................................ 422 Produção de texto .................................................................................... 465
Sobre a avaliação ..................................................................................... 423
PARTE 3
Anexo – Síntese das seções e boxes ............................... 425 Respostas das atividades .............................................. 466
Bibliografia geral recomendada .......................................... 427 Literatura .......................................................................................................... 466
Capítulo 1 .................................................................................................. 466
PARTE 2 Capítulo 2 .................................................................................................. 467
Sugestões didáticas e ampliação de Capítulo 3 .................................................................................................. 469
repertório deste volume .................................................. 430 Capítulo 4 .................................................................................................. 470
Capítulo 5 ................................................................................................... 471
Visão geral – Temas, conceitos e Capítulo 6 .................................................................................................. 471
atividades essenciais ................................................................ 430 Capítulo 7 ................................................................................................... 472
Capítulo 8 ................................................................................................... 473
Objetivos e Sugestões complementares ....... 432 Capítulo 9 .................................................................................................. 474
Literatura ........................................................................................................... 432 Capítulo 10 ............................................................................................... 476
Unidade 1 • Ao encontro da literatura ............................... 432 Capítulo 11 ................................................................................................ 476
Unidade 2 • O Trovadorismo ...................................................... 433 Capítulo 12 ................................................................................................ 477
Unidade 3 • O Humanismo ......................................................... 434 Capítulo 13 ............................................................................................... 478
Unidade 4 • O Classicismo .......................................................... 435 Capítulo 14 ............................................................................................... 478
Unidade 5 • Manifestações literárias Capítulo 15 ............................................................................................... 479
no Brasil quinhentista ................................ .... 436 Linguagem ....................................................................................................... 480
Unidade 6 • O Barroco .................................................................... 437 Capítulo 16 ............................................................................................... 480
Unidade 7 • O Arcadismo ............................................................ 439 Capítulo 17 ............................................................................................... 482
Linguagem ....................................................................................................... 440 Capítulo 18 ............................................................................................... 485
Capítulo 19 ............................................................................................... 487
Unidade 8 • Introdução aos estudos
sobre a linguagem .............................................. 440 Capítulo 20 .............................................................................................. 489
Capítulo 21 ................................................................................................ 491
Unidade 9 • Linguagem e comunicação ........................... 441
Capítulo 22 ............................................................................................... 493
Unidade 10 • Linguagem e sentidos ................................... 443
Capítulo 23 ............................................................................................... 495
Unidade 11 • Linguagem e materialidade ...................... 444
Capítulo 24 ............................................................................................... 499
Produção de texto ................................................................................... 446
Produção de texto .................................................................................... 501
Unidade 12 • Narrar ......................................................................... 446
Capítulo 25 ................................................................................................ 501
Unidade 13 • Relatar ....................................................................... 446
Capítulo 26 .............................................................................................. 502
Unidade 14 • Expor ........................................................................... 448 Capítulo 27 ............................................................................................... 504
Unidade 15 • Argumentar ............................................................ 449 Capítulo 28 ............................................................................................... 505
Capítulo 29 ............................................................................................... 506
Leituras complementares ................................................... 450
Capítulo 30 .............................................................................................. 507
Literatura .......................................................................................................... 450
Capítulo 31 ............................................................................................... 508
Linguagem ........................................................................................................ 453 Capítulo 32 ................................................................................................ 510
Produção de texto .................................................................................... 454 Capítulo 33 ................................................................................................. 511

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PARTE 1 – Aspectos gerais da coleção

Palavras iniciais Objetivos do ensino de Língua


É grande a responsabilidade envolvida na forma- Portuguesa para o Ensino Médio
ção do jovem que, nos anos finais de sua Educação O LD para o Ensino Médio participa de um contexto
Básica, passa por um momento de transição: começa de ensino-aprendizagem cujos objetivos vêm sendo deli-
a se preparar para a inserção profissional, mas ainda neados por um conjunto de iniciativas de políticas públi-
precisa percorrer uma importante etapa de sua for- cas. Um marco significativo foi a promulgação, em 1996,
mação geral, seja do ponto de vista acadêmico, na da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional n.
preparação para prosseguir nos estudos de nível su- 9 394/96 (LDBEN/1996), que incluiu o Ensino Médio na
perior, seja do ponto de vista humano, para o exercí- Educação Básica. Da promulgação da LDBEN/96 para cá,
cio pleno da cidadania. instituíram-se as Diretrizes Curriculares Nacionais para o
A centralidade da área de Linguagens, códigos e suas Ensino Médio (DCNEM), em 1998 – atualizadas em
tecnologias nessa formação é inegável. Para os objetivos 2012 pela Resolução CNE/CEB n. 2/2012 –; publicaram-
arrolados acima, é necessário possibilitar ao jovem letra- -se os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino
mentos múltiplos, já que, como ressaltam as Orienta- Médio (PCNEM), em 1999/2000; divulgaram-se as
Orientações Complementares aos PCNEM, conhecidas
ções Curriculares para o Ensino Médio (Ocem), “a leitu-
como PCN+, em 2002; por fim, como fruto de discussão,
ra e a escrita [são] ferramentas de empoderamento e
com professores de vários estados, dos problemas do
inclusão social” (Brasil, 2006, p. 28). E isso vale para
PCNEM e do PCN+, foram elaborados novos documen-
todas as práticas de linguagem envolvendo os diferentes tos relativos aos Parâmetros Curriculares Nacionais, que
sistemas semióticos, e não apenas para aquelas que en- culminaram na publicação, em 2006, das Orientações
volvem a palavra escrita. Curriculares para o Ensino Médio (Ocem).
Também é preciso dialogar com as contribuições que a Em simultaneidade com a publicação desses do­
Linguística Aplicada vem aportando, ao longo das últi- cumentos orientadores da ação docente, instituíram-se
mas décadas, ao ensino de Língua Portuguesa, tornando- importantes iniciativas em direção a uma sistemática de
-as compreensíveis para o professor que, muitas vezes, avaliação para o Ensino Médio: em 1995/1996, a amplia-
não teve a oportunidade de operar com esses conheci- ção do Sistema de Avaliação da Educação Básica (Saeb)
mentos em sua formação inicial. para o Ensino Médio; em 1997, a criação do Exame Na-
Na elaboração desta coleção, buscamos entender cional do Ensino Médio (Enem); em 2003, a ampliação do
de que modo a educação linguística no Brasil atingiu Programa Nacional do Livro Didático também para o En-
as configurações atuais. Perseguimos uma visão de sino Médio (Bunzen e Mendonça, 2006, p. 16). Por meio
conjunto, admitindo que o ensino de Língua Portu- da Portaria n. 109/2009, o Enem passou por uma grande
reformulação, assumindo simultaneamente as funções de
guesa é território instável, de tensões e descontinui-
instrumento de avaliação sistêmica, certificatória e clas-
dades que exigem uma abordagem dialógica e dialéti-
sificatória – como mecanismo de seleção para institui-
ca para não perder de vista seu principal interessado: ções de ensino superior (Moehlechke, 2012, p. 46).
o aluno.
Também é digna de nota a Portaria n. 971/2011, que
Reconhecendo o papel vital do livro didático (de instituiu o Programa Ensino Médio Inovador (ProEMI)
agora em diante referido como LD) em face dos rare- como parte das ações do Plano de Desenvolvimento da
feitos recursos de apoio à atuação docente, queremos Educação (PDE), com o objetivo de fomentar propostas
que esta coleção fortaleça cada vez mais a autonomia curriculares inovadoras nas escolas do Ensino Médio.
do professor, ajudando-o a fazer-se legítimo porta- Nesta coleção, tomamos os PCNEM, os PCN+ e as
-voz do projeto político-pedagógico de sua escola. Ocem como importantes referenciais, em especial essas
Entendemos que o caminho para devolver ao profes- últimas, que entendemos serem resultado de um ama-
sor o seu lugar de direito, como gestor privilegiado durecimento das iniciativas anteriores. Também leva-
dos processos de aprendizagem dos seus alunos, par- mos em conta as matrizes de habilidades e competên-
te da explicitação dos pressupostos que nortearam a cias do Enem e do Saeb na elaboração das atividades de
elaboração desta coleção e da familiarização do pro- leitura, considerando que ambos são os grandes instru-
fessor com os componentes deste projeto. É o que fa- mentos oficiais de avaliação do Ensino Médio, de abran-
remos a seguir. Quanto maior for a intimidade entre gência nacional.
professor e LD, melhores serão as condições de o pri- A seguir, reproduzimos, em quadros-síntese, os con-
meiro “navegar” por entre as páginas do segundo, da ceitos estruturantes da área de Linguagens, códigos e
maneira mais conveniente e adequada à sua turma, suas tecnologias, tais como apresentados no documento
respeitando as especificidades desse grupo. dos PCN+.

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Conceitos estruturantes da área de Linguagens, códigos e suas tecnologias

Conceitos Competências e habilidades associadas aos conceitos


Representação e
Comunicação

 1. Linguagens: verbal, não verbal, digital  1. Utilizar linguagens nos três níveis de competência: interativa,
 2. Signo e símbolo gramatical e textual.
 3. Denotação e conotação  2. Ler e interpretar.
 4. Gramática  3. Colocar-se como protagonista na produção e recepção de textos.
 5. Texto  4. Aplicar as tecnologias da comunicação e da informação em situações
 6. Interlocução, significação, dialogismo relevantes.

 1. Análise e síntese  1. Analisar e interpretar no contexto de interlocução.


 2. Correlação  2. Reconhecer recursos expressivos das linguagens.
Investigação e
Compreensão

 3. Identidade  3. Identificar manifestações culturais no eixo temporal, reconhecendo


 4. Integração momentos de tradição e de ruptura.
 5. Classificação  4. Emitir juízo crítico sobre essas manifestações.
 6. Informação versus redundância  5. Identificar-se como usuário e interlocutor de linguagens que estruturam
 7. Hipertexto uma identidade cultural própria.
 8. Metalinguagem  6. Analisar metalinguisticamente as diversas linguagens.

 1. Cultura  1. Usar as diferentes linguagens nos eixos da representação simbólica:
Contextualização Sociocultural

 2. Globalização versus localização expressão, comunicação e informação, nos três níveis de competência
 3. Arbitrariedade versus motivação dos signos (interativa, gramatical e textual).
e símbolos  2. Analisar as linguagens como geradoras de acordos sociais.
 4. Negociação de sentidos  3. Analisar as linguagens como fontes de legitimação desses acordos.
 5. Significado e visão de mundo  4. Identificar a motivação social dos produtos culturais na sua perspectiva
 6. Desfrute (fruição) sincrônica e diacrônica.
 7. Ética  5. Usufruir do patrimônio cultural nacional e internacional.
 8. Cidadania  6. Contextualizar e comparar esse patrimônio, respeitando as visões de
 9. Conhecimento: dinâmica e construção coletiva mundo nele implícitas.
10. Imaginário coletivo  7. Entender, analisar criticamente e contextualizar a natureza, o uso e o
impacto das tecnologias da informação.
Brasil. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Média e Tecnológica. PCN+ Ensino Médio: orientações educacionais complementa-
res aos parâmetros curriculares nacionais. Volume Linguagens, códigos e suas tecnologias. Brasília, 2002. p. 38-50.

As Ocem recomendam à disciplina de Língua Portu- Levando em conta essa recomendação, a qual se des-
guesa a promoção de oportunidades para o aluno: dobra em objetivos específicos, as Ocem propõem a or-
‚‚ Conviver, de forma não só crítica mas também lúdica, ganização das atividades de Língua Portuguesa no Ensi-
com situações de produção e leitura de textos, atualiza- no Médio em torno de eixos, distribuídos entre “práticas
dos em diferentes suportes e sistemas de linguagem [...]; de linguagem” e “análise dos fatores de variabilidade das
‚‚ [...] conviver com situações de produção escrita, oral e (e nas) práticas de língua(gem)”. Reproduzimos esses
imagética, de leitura e de escuta, que lhe propicie uma eixos parcialmente a seguir.
inserção em práticas de linguagem em que são colocados
em funcionamento textos que exigem da parte do aluno Quadro 1
conhecimentos distintos daqueles usados em situações Eixos organizadores das atividades de Língua Portuguesa no
de interação informais, sejam elas face a face ou não. [...]; Ensino Médio — práticas de linguagem
‚‚ Construir habilidades e conhecimentos que o capacitem Atividades de produção e de recepção de textos
a refletir sobre os usos da língua(gem) nos textos e sobre
fatores que concorrem para sua variação e variabilidade, • Atividades de produção escrita e de leitura de textos gerados nas
diferentes esferas de atividades sociais — públicas e privadas [...]
seja a linguística, seja a textual, seja a pragmática. [...]
O que se prevê, portanto, é que o aluno tome a língua • Atividades de produção de textos (palestras, debates, seminá-
escrita e oral, bem como outros sistemas semióticos, rios, teatro, etc.) em eventos da oralidade [...]
como objeto de ensino/estudo/aprendizagem, numa • Atividades de escuta de textos (palestras, debates, seminários,
abordagem que envolva ora ações metalinguísticas (de etc.) em situação de leitura em voz alta [...]
descrição e reflexão sistemática sobre aspectos linguís- • Atividades de retextualização: produção escrita de textos a
ticos), ora ações epilinguísticas (de reflexão sobre o uso partir de outros textos, orais ou escritos, tomados como base ou
de um dado recurso linguístico, no processo mesmo de fonte [...]
enunciação e no interior da prática em que ele se dá), • Atividades de reflexão sobre textos, orais e escritos, produzidos
conforme o propósito e a natureza da investigação em- pelos próprios alunos ou não [...]
preendida pelo aluno e dos saberes a serem construídos. Brasil. Ministério da Educação. Secretaria de Educação
Brasil. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Média e Média e Tecnológica. Orientações curriculares para o Ensino Médio,
Tecnológica. Orientações curriculares para o Ensino Médio, v. 1: v. 1: Linguagens, códigos e suas tecnologias.
Linguagens, códigos e suas tecnologias. Brasília, 2006. p. 32-33. Brasília, 2006. p. 37-38.

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Quadro 2 ber o mundo, ligados aos grupos sociais dos quais participa-
mos ou com os quais interagimos.
Eixos organizadores das atividades de Língua Portuguesa no
Brasil. Ministério da Educação. Secretaria de Educação
Ensino Médio — análise dos fatores de variabilidade das (e nas)
Média e Tecnológica. Orientações curriculares para o Ensino Médio,
práticas de língua(gem)
v. 1: Linguagens, códigos e suas tecnologias.
Foco das atividades de análise Brasília, 2006. p. 25.
• Elementos pragmáticos envolvidos nas situações de interação A essa explicação podemos acrescentar que aquilo
em que emergem os gêneros em estudo e sua materialidade —
os textos em análise [...] que as Ocem referem como “língua” pode também ser
• Estratégias textualizadoras [...] entendido como linguagem verbal, ou seja, a linguagem
que faz uso de signos linguísticos. As línguas seriam, as-
• Mecanismos enunciativos [...]
sim, não só “uma das formas de manifestação da lingua-
• Intertextualidade [...] gem”, mas mais especificamente a materialização parti-
• Ações de escrita [...] cular da linguagem verbal verificada nas diferentes
Brasil. Ministério da Educação. Secretaria de Educação comunidades humanas.
Média e Tecnológica. Orientações curriculares para o Ensino Médio, Nota-se que essas concepções de língua e linguagem,
v. 1: Linguagens, códigos e suas tecnologias.
que colocam em primeiro plano a interação entre sujei-
Brasília, 2006. p. 38-39.
tos, rompem com as visões de linguagem “como repre-
Todo LD parte de uma concepção sobre seu objeto de sentação do pensamento”, “sistema de códigos” e “ins-
ensino-aprendizagem. Na área de Linguagens, códigos trumento de comunicação”. Essa mudança de paradigma
e suas tecnologias e, especialmente, no ensino de Lín- será apresentada de forma explícita para o aluno nesta
gua Portuguesa, é preciso ter clareza sobre aquilo que se coleção, já que dela emanarão outros conceitos estrutu-
concebe como linguagem e como língua. É o que ex- rantes para a área de estudos da linguagem.
plicitaremos a seguir.
 Em reflexão sobre o tratamento da oralidade nos LDs
de Língua Portuguesa, Luiz Antônio Marcuschi (2002)
Concepções de língua e linguagem realiza uma síntese das características das línguas que
Assim como as Ocem, situamos os conceitos de lín- podem ser úteis para um entendimento sistemático so-
gua e de linguagem no interior do chamado (Socio)inte- bre a concepção de língua como “atividade interativa
racionismo, que abrange tanto estudos na área da Lin- (dialógica) de natureza sociocognitiva e histórica”:
guística, da Filosofia da Linguagem, da Etnometodologia,
a) heterogeneidade (que constitui um dos motivos de sua
da Sociologia, da Psicologia e da Educação, quanto da variação histórica, dialetal, social e assim por diante);
Psicologia do Desenvolvimento (Brasil, 2006, p. 23).
Nesse enquadre teórico de entendimento sobre o sujei- b) indeterminação (seja do ponto de vista sintático ou se-
mântico, o que explica o fato de as línguas não serem
to como “constituído por meio da linguagem”, pode-se
transparentes semanticamente. Daí a necessidade de
afirmar que:
tratá-las em contextos situacionais e não no vazio);
[a linguagem é] uma capacidade humana de simbo- c) historicidade (elas não são estanques e vão se modifi-
lizar e de interagir e, por essa via, condição para que se cando ao longo do tempo. As razões e as perspectivas
construam realidades [...]. das mudanças podem ser muitas);
[...] a língua é uma das formas de manifestação da lin-
guagem, é um entre os sistemas semióticos construídos d) interatividade (que hoje se identifica como seu caráter
histórica e socialmente pelo homem. Assim, o homem, em dialógico, isto é, a língua se dá essencialmente como uma
suas práticas orais e escritas de interação, recorre ao siste- atividade interpessoal e não é um simples sistema de uso
ma linguístico – com suas regras fonológicas, morfológicas, privado; neste sentido, a língua é trabalho social);
sintáticas, semânticas e com seu léxico. Cabe assinalar que, e) sistematicidade (que diz respeito à sua organização in-
sendo, porém, uma atividade de construção de sentido, a in- terna e caráter não aleatório, com regras mesmo que
teração – seja aquela que se dá pelas práticas da oralidade ou variáveis, mas definidas);
intermediada por textos escritos – envolve ações simbólicas
(isto é, mediadas por signos), que não são exclusivamente f) situacionalidade (o que diz respeito ao seu uso sempre
linguísticas, já que há um conjunto de conhecimentos que em contextos, de modo que não podemos atribuir um
contribui para sua elaboração. Nesse conjunto de conheci- sentido de nível zero aos enunciados produzidos na
mentos, há tanto os relativos à própria língua como os re- língua; eles sempre estão situados);
ferentes a outros sistemas semióticos envolvidos no texto, g) cognoscibilidade (este aspecto sugere que a língua é
os quais – decorrentes do desenvolvimento das tecnologias, também um sistema cognitivo que serve para a cons-
fruto de mudanças também sistêmicas nos grupos sociais – trução e compreensão do mundo mental ou não).
são construídos e apropriados pelos sujeitos. Além desses, Marcuschi, Luiz Antônio. Oralidade e ensino de língua:
devem ser também considerados os conhecimentos sobre uma questão pouco “falada”. In: Dionisio, Angela; Bezerra,
as formas pelas quais se estabelecem relações entre sujeitos Maria Auxiliadora (Org.). O livro didático de português:
sociais e, ainda, conhecimentos sobre os modos de conce- múltiplos olhares. Rio de Janeiro: Lucerna, 2002. p. 22-23.

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Explicitaremos, a seguir, de que forma esta coleção A literatura também é um modo discursivo; no en-
responde aos objetivos de ensino traçados para a disci- tanto, a “condição limítrofe” ou “transgressora” própria
plina de Língua Portuguesa, partindo das concepções do texto literário, aliada ao seu espírito de permanência
de língua e linguagem aqui apresentadas. na cultura, indica a necessidade de uma abordagem es-
pecífica, particular. (Brasil, 2006, p. 49)
A estrutura da coleção Ao refletir sobre a justificativa para que a literatura e
Cada volume desta coleção divide-se em três partes: Li- as artes em geral façam parte do currículo do Ensino
teratura, Linguagem e Produção de texto. Essa divisão, Médio, as Ocem afirmam:
de cunho estritamente didático, tem por objetivo auxiliar Nesse mundo dominado pela mercadoria, colocam-
o professor a organizar as experiências de ensino-aprendi- -se as artes [...] como meio de educação da sensibilidade;
zagem de sua turma, não refletindo uma concepção de como meio de atingir um conhecimento tão importante
que o estudo da literatura, a reflexão linguística e a produ- quanto o científico – embora se faça por outros caminhos;
ção de textos sejam alheios uns aos outros. O que se tem como meio de pôr em questão (fazendo-se crítica, pois) o
em cada parte é a ênfase em uma dimensão do ensino- que parece ser ocorrência /decorrência natural; como meio
-aprendizagem. Em Literatura, predominantemente, se- de transcender o simplesmente dado, mediante o gozo da
rão feitas leituras e atividades de metaleitura de textos lite- liberdade que só a fruição estética permite; como meio de
acesso a um conhecimento que objetivamente não se pode
rários; em Linguagem, terá espaço privilegiado a reflexão
mensurar; como meio, sobretudo, de humanização do ho-
sobre a linguagem e a língua – suas formas, funções e mem coisificado: esses são alguns dos papéis reservados
usos; em Produção de texto, as propostas de produção às artes, de cuja apropriação todos têm direito. [...]
textual serão o eixo organizador das atividades. Brasil. Ministério da Educação. Secretaria de Educação
As unidades e os capítulos de cada parte foram conce- Média e Tecnológica. Orientações curriculares para o Ensino Médio,
v. 1: Linguagens, códigos e suas tecnologias.
bidos em progressão, sugerindo sua utilização em uma
Brasília, 2006. p. 52-53.
sequência linear. As partes, por sua vez, se desenvolvem
de forma independente, mas contam com diversas estra- Assim, parece pertinente reservar uma parte signifi-
tégias de articulação entre seus temas e conceitos. cativa do LD para o trabalho com a literatura, em abor-
Em Linguagem, o boxe Usina literária, na última dagem que respeite sua autonomia e especificidade.
ocorrência da seção Prática de linguagem, articula o estu- Mais adiante, as Ocem refletem sobre a relação entre o
do da língua ao fenômeno literário; na seção Língua viva, estudo da literatura e o LD, afirmando:
o boxe Texto em construção frequentemente remete a um Acreditamos que os manuais didáticos poderão, a mé-
gênero textual trabalhado na parte de Produção de texto, dio prazo, apoiar mais satisfatoriamente a formação do
ou, ainda, a determinados procedimentos lá desenvolvi- leitor da Literatura rumo à sua autonomia. Se isso ocor-
dos para a produção ou a avaliação de textos. Em Produ- rer, os livros didáticos deverão manifestar sua própria in-
ção de texto, o boxe Observatório da língua remete a as- suficiência como material propício para a formação plena
pectos linguísticos estudados na parte de Linguagem; de leitores autônomos da Literatura, ao incluir, nas suas
propostas didáticas, a insubstituível leitura de livros.
além disso, a seção Entre o texto e o discurso, presente em
Brasil. Ministério da Educação. Secretaria de Educação
alguns capítulos, propõe articulações com aspectos tex- Média e Tecnológica. Orientações curriculares para o Ensino Médio,
tuais e discursivos abordados em Linguagem. Por fim, o v. 1: Linguagens, códigos e suas tecnologias.
boxe Hipertexto indica oportunidades de articulação te- Brasília, 2006. p. 65.
mática ou conceitual entre as três partes. Em cada volu-
Diante dessa ponderação, é necessário sublinhar que
me o professor encontrará orientações para o trabalho
a proposta de inclusão da literatura no LD não deve
com cada um dos boxes Hipertexto.Veja, ao final destas
substituir a leitura das obras literárias pelos alunos.
orientações gerais, o quadro com uma breve descrição
de cada seção e boxe, com sugestões de utilização. Conquanto seja necessário admitir que o LD, por si
só, não garante a formação plena de leitores autônomos
São apresentados, a seguir, os eixos norteadores do
da literatura (isso vale para todos os objetivos propostos
trabalho para as três partes do LD, com menções às es-
para a área, já que o responsável direto pela formação
pecificidades de cada uma.
do aluno é o professor, e não o LD), ele pode contribuir
Eixos norteadores da coleção muito para essa formação.
Sua principal contribuição será promover a “educa-
Letramento literário ção da sensibilidade”, entendida em sentido amplo. O
As Ocem (Brasil, 2006) apontaram a necessidade de objetivo desta coleção é instigar os alunos a conhecer e
reavaliar, nas proposições dos PCNs (Brasil, 1999), o interagir com manifestações artísticas, sensibilizar seu
lugar reservado ao estudo da literatura no Ensino Mé- olhar para os recursos expressivos das diferentes formas
dio, já que a inclusão dela no estudo da linguagem ne- de arte, sinalizar pontos de contato entre o fazer artístico
garia a autonomia e especificidade devidas ao fato literá- e as grandes questões éticas e estéticas, propiciar-lhes ex-
rio, desconsiderando debates intensos. periências estéticas variadas. Nesse sentido, acredita-se

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que o tratamento da literatura no LD participa desse im- Na sequência, o LD oferece informações sobre o con-
portante trabalho de humanização por meio da arte. texto de produção das obras que serão estudadas na
Para o alcance desse objetivo, optou-se, na parte de unidade (privilegiadamente os contextos histórico, cul-
Literatura, pelo estudo de textos representativos do câ- tural e literário). Essa exposição é entremeada por frag-
none literário em língua portuguesa a partir de uma or- mentos de textos literários, de modo que o estudo dos
ganização cronológica, colocando-se em primeiro plano aspectos contextuais não aconteça dissociado do conta-
a relação entre os textos e seus contextos de produção. to com a literatura. Ao lado desses excertos, o boxe
Cada unidade aborda um período histórico correspon- Margens do texto dá ao professor a opção de demorar-se
dente a uma estética literária. Uma exceção é a primeira um pouco mais nessas leituras, se desejar.
unidade do volume 1 (unidade 1 – Ao encontro da lite- A seção Uma leitura propõe, por meio de comentários
ratura), que realiza uma introdução aos estudos literá- e perguntas em forma de hipertexto, a leitura dialogada
rios. Nela, a seleção de textos tem por objetivo atrair os de um texto literário.
alunos e sensibilizá-los para o fato literário, com obras Já a seção Ler o [estilo de época], que fecha esses ca-
de autores representativos da literatura nacional e mun- pítulos iniciais, propõe a observação de aspectos te-
dial (procurou-se oferecer uma boa seleção de textos in-
máticos e formais que possibilitem vislumbrar o pro-
tegrais – poemas e contos breves, presentes nas páginas
jeto estético que animava a produção literária do
16-17, 19, 22, 23, 27, 36, 40, 41, 43, 44 e 45, além de
período. Algumas questões levam o aluno a estabele-
fragmentos de poemas, contos, romances e peças tea-
cer relações entre texto e contexto histórico, ou entre
trais, nas páginas 24, 25, 28-29, 30, 31, 32, 33, 34 e
esse texto e a estética em meio à qual ele foi produzi-
35). Em simultaneidade com essas experiências de lei-
do e da qual constitui um exemplar mais típico ou
tura, alguns conceitos-chave para o trabalho com a lite-
menos típico (ou, ainda, absolutamente atípico). Ou-
ratura vão sendo construídos.
tras se voltam à construção estética do texto em sua
A partir da segunda unidade do volume 1 (unidade 2 – singularidade.
O Trovadorismo), tem início a abordagem cronológica das
Nos capítulos seguintes, debruça-se sobre a obra dos
estéticas literárias. No primeiro capítulo de cada unidade,
a seção inicial (Sua leitura) convida o aluno a uma leitura autores mais representativos do período, em Portugal e
comparativa entre um texto literário e outro de linguagem no Brasil. Novamente, cada capítulo traça um panorama
artística não literária (pintura, iluminura, desenho, foto- do contexto de produção de cada país. A abordagem so-
grafia ou escultura), sensibilizando-o para os recursos ex- bre os autores privilegia informações pertinentes ao es-
pressivos de cada linguagem e chamando sua atenção tudo da sua obra literária. Um conjunto significativo de
para indícios do contexto de produção das obras. Essa pri- textos de cada autor, reproduzidos a partir de suas obras
meira seção propõe uma atividade de leitura com uma in- mais importantes segundo o julgamento da crítica, é
trodução mínima de elementos contextuais, refletindo a apresentado para o aluno nas seções Sua leitura desses
convicção de que o contato do aluno com os textos literá- capítulos.
rios deve ter precedência em relação ao estudo formal da O tratamento dos textos literários nas seções de leitu-
literatura. O fato de o texto literário ser disposto ao lado ra zela pela distinção clara entre autor e enunciador do
de uma pintura também revela a aposta de que isso não texto: o trabalho do escritor cria uma instância enuncia-
cria uma “concorrência” de estímulos. Sendo o apelo visu- tiva interna ao texto literário – o eu lírico, na poesia, e o
al mais imediato para o aluno do Ensino Médio, ele pode narrador, na prosa de ficção. O uso sistemático das ex-
ser uma via privilegiada para a aproximação à literatura. pressões eu lírico e narrador pretende deixar claro que
Ademais, não se pode pensar em uma “educação da sensi- os sentidos produzidos por um texto literário não po-
bilidade” que pretenda operar com as experiências estéti- dem ser desvendados por meio de perguntas como
cas do sujeito de forma estanque, compartimentada. Essa “qual foi a intenção do autor” ou, ainda, “o que o autor
estratégia se alinha à seguinte afirmação das Ocem: quis dizer com...”. Como lembra José Hélder Pinheiro
Alves (2002):
Também é desejável adotar uma perspectiva multicul-
tural, em que a Literatura obtenha a parceria de outras áreas, “O que o autor quis dizer com isso?” Ora, o autor dis-
sobretudo artes plásticas e cinema, não de um modo sim- se. A pergunta é: que sentido(s) pode(m) ser atribuído(s)
plista, diluindo as fronteiras entre elas e substituindo à expressão? Quando se trata de interpretação de poemas
uma coisa por outra, mas mantendo as especificidades e o [ou de textos em prosa], esse tipo de pergunta não é muito
modo de ser de cada uma delas, pois só assim, não pejora- adequado, até porque o autor pode ter tido a intenção de
tivamente escolarizados, serão capazes de oferecer fruição dizer uma coisa e sua expressão ter superado a intenção
e conhecimento, binômio inseparável da arte. ou até mesmo não ter passado de intenção.
Brasil. Ministério da Educação. Secretaria de Educação Alves, José Hélder Pinheiro. Abordagem do poema: roteiro
Média e Tecnológica. Orientações curriculares para o Ensino Médio, de um desencontro. In: Dionisio, Angela; Bezerra, Maria Auxi-
v. 1: Linguagens, códigos e suas tecnologias. liadora (Org.). O livro didático de português: múltiplos olhares. Rio
Brasília, 2006. p. 73-74. de Janeiro: Lucerna, 2002. p. 68.

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Essa abordagem da literatura que privilegia a rela- A vida literária está estruturada por essas “tribos” que
ção entre os textos literários e seus contextos de pro- se distribuem pelo campo literário com base em reivindi-
dução possibilita aos alunos reconhecer relações in- cações estéticas distintas: círculo, grupo, escola, cenáculo,
bando, academia...
tertextuais e interdiscursivas que indicam, também,
Maingueneau, Dominique. O contexto da obra literária.
relações entre a literatura e as organizações sociais. Es- 2. ed. Trad. Marina Appenzeller. São Paulo:
sas relações não podem ser entendidas em uma mol- Martins Fontes, 2001. p. 30.
dura “determinista”. Como afirma o estudioso Otto
Maria Carpeaux: É por isso que o tópico O contexto de produção, vincu-
lada a cada uma das estéticas, apresenta O contexto histó-
A literatura não existe no ar, e sim no Tempo, no Tem- rico, O contexto cultural e também O contexto literário. A
po histórico, que obedece ao seu próprio ritmo dialético. abordagem historiográfica da literatura pode, assim,
A literatura não deixará de refletir esse ritmo – refletir, oferecer uma visão abrangente de obras e estéticas que
mas não acompanhar. Cumpre fazer essa distinção algo dialogam tanto com o meio externo quanto com a tradi-
sutil para evitar aquele erro de transformar a literatura ção literária. Vale lembrar aqui a contribuição de Anto-
em mero documento das situações e transições sociais.
nio Candido para a compreensão do fato literário. Em
[...] A relação entre a literatura e a sociedade não é mera
dependência: é uma relação complicada, de dependên-
Formação da literatura brasileira (1959), Candido apon-
cia recíproca e interdependência dos fatores espirituais ta para a articulação entre autor, obra e público como
(ideológicos e estilísticos) e dos fatores materiais (estrutu- condição para a constituição do chamado “sistema lite-
ra social e econômica). rário”. Para o estudioso, o sistema literário brasileiro só
Carpeaux, Otto Maria apud Bosi, Alfredo. Por um passa a existir a partir de meados do século XIX, contra-
historicismo renovado: reflexo e reflexão em história literária. pondo-se ao que ele considera, em período anterior, um
In: Literatura e resistência. São Paulo: conjunto de “manifestações literárias” que ainda não
Companhia das Letras, 2002, p. 7.
participavam de uma tradição. Por considerarmos que o
A literatura é, a um só tempo, produto e conforma- conceito de sistema literário é crucial para o entendi-
dora de um conjunto de tendências sociais, culturais e mento da literatura como instituição cultural, patrimô-
linguísticas. Refletir sobre essa condensação de fatores é nio social, e não somente como relação particular que se
uma via legítima de contato com os textos literários. A estabelece entre o leitor individual e a obra singular, o
construção de um repertório histórico, geográfico, filo- tópico O contexto literário encerra-se, em todas as estéti-
sófico e sociológico pode enriquecer a leitura de cada cas, com os subtópicos O sistema literário do [estilo de
obra em sua singularidade, mesmo que se reconheça a época] e O papel da tradição.
autonomia e a permanência dos objetos estéticos para Uma abordagem pouco crítica da história da literatu-
além do momento da sua criação. A historicidade da ra pode reduzir os movimentos literários ou os estilos
cultura (e da literatura) permite aos alunos perceber que de época (que entrelaçariam imagens e símbolos, valo-
uma obra se insere no espaço e no tempo de um con- res e ideias, gêneros e temas, formas de expressão e re-
junto de ideias e valores – seja para ratificá-los, seja para cursos linguísticos) a unidades estáveis, estéreis e ho-
fazer frente a eles; ao mesmo tempo, uma apreensão do mogêneas, materializadas numa listagem de autores,
texto literário em sua singularidade demonstra seu cará- leitores e obras. Por isso, é importante que a discussão
ter expressivo e criativo e sua contribuição para esse em sala de aula também aponte, como diz Alfredo Bosi,
conjunto de ideias e valores. para as relações de descontinuidade que existem dentro
Apesar de postularmos a existência de uma via de do sistema literário, enfatizando não somente os refle-
mão dupla entre contexto histórico geral e as manifes- xos mútuos entre literatura e sociedade (cultura) mas,
tações literárias, o principal contexto que afeta a litera- sobretudo, os aspectos que contradizem as “convenções
tura é o literário, sujeito a um complexo conjunto de dominantes do seu tempo”:
contingências que o singularizam diante dos outros Uma história da literatura brasileira que pretendes-
campos da atividade humana, ao mesmo tempo que se ser verdadeira, isto é, fiel a seu objeto, deveria admitir
lhe dão uma autonomia relativa. Nas palavras de Domi- que os textos dispostos no tempo do relógio não têm nem
nique Maingueneau: a continuidade nem a organicidade dos fenômenos da na-
tureza. Os escritos de ficção, objeto por excelência de uma
A obra literária não surge “na” sociedade captada como história da literatura, são individuações descontínuas do
um todo, mas através das tensões do campo propriamente processo cultural. Enquanto individuações, podem expri-
literário. A obra só se constitui implicando os ritos, as nor- mir tanto reflexos (espelhamentos) como variações, dife-
mas, as relações de força das instituições literárias. Ela só renças, distanciamentos, problematizações, rupturas e, no
pode dizer algo do mundo inscrevendo o funcionamento limite, negações das convenções dominantes do seu tempo.
do lugar que a tornou possível, colocando em jogo, em sua Bosi, Alfredo. Por um historicismo renovado: reflexo e
enunciação, os problemas colocados pela inscrição social reflexão em história literária. In: Literatura e resistência.
de sua própria enunciação. São Paulo: Companhia das Letras, 2002. p. 9.

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Garantida uma abordagem não determinista da his- mente ao fim da última seção Prática de linguagem de
tória literária, o estudo da literatura se torna um lócus cada capítulo, no boxe de atividades Usina literária. A
de investigação, análise e interpretação dos textos, das atividade chama a atenção do aluno para a relação entre
estéticas e das produções autorais, bem como de suas determinadas construções linguísticas e a produção de
repercussões em épocas posteriores. Por meio do boxe efeitos expressivos. Pouco a pouco, o aluno deve cons-
O que você pensa disto?, que encerra cada capítulo de Li- truir um repertório para observar as configurações espe-
teratura, os alunos são chamados a tornarem-se partíci- cíficas, originais e expressivas da língua nos textos lite-
pes dessa repercussão, a relacionar aspectos que afloram rários, que passa a auxiliar também as atividades de
na estética literária estudada a problemas do mundo leitura da parte de Literatura.
contemporâneo, “atualizando” os conteúdos impressos Na seção Língua viva, textos literários serão fre-
e expressos pela literatura brasileira e universal. quentemente explorados, ilustrando diversos efeitos
Também são levados em conta outros campos do sa- de sentido relacionados aos tópicos linguísticos abor-
ber humano que possam se entrelaçar ao objeto literá- dados no capítulo. Ainda que prevaleça a ênfase na
rio, oferecendo chaves diversas de leitura. Além do boxe reflexão linguística, a especificidade do texto literário
O que você pensa disto?, a seção Ferramenta de leitura lan- é respeitada.
ça um desafio ao propor a aplicação de conceitos do Em Produção de texto, a literatura está presente nos
campo das ciências humanas e da teoria literária na lei- agrupamentos de gêneros em que predomina a sequên-
tura do texto literário, como estratégia de aprofunda- cia tipológica do narrar. No primeiro ano, investiga-se o
mento e de extrapolação dos sentidos do texto. A apre- conto de humor. No segundo ano, é a vez das crônicas.
sentação sucinta desses conceitos é um convite para um No terceiro ano, o conto psicológico é abordado. A frui-
trabalho interdisciplinar com outras áreas do Ensino ção estética dos textos literários é estimulada; embora a
Médio e/ou uma investigação a ser empreendida pelo sequência de atividades propostas culmine com a pro-
professor e seus alunos. dução do gênero textual pelos alunos, talvez sua maior
A coleção inclui também textos contemporâneos e de contribuição seja, de fato, torná-los leitores literários
literaturas estrangeiras. Esses últimos aparecem com mais qualificados.
frequência na seção Sua leitura dos capítulos de abertura A “literariedade” de textos que não pertencem à esfe-
das unidades. Quanto aos textos contemporâneos, rece- ra literária também pode ser abordada. Isso acontece,
bem tratamento especial em unidade própria do volume por exemplo, no trabalho com o perfil biográfico, tema
3 (unidade 6 – Tendências da literatura brasileira con- do capítulo 32 do volume 2.
temporânea). Os contemporâneos também compare- Por fim, enfatizamos a importância de o professor
cem de forma sistemática, ao longo dos três volumes, na construir e implementar um programa sistemático de
seção de encerramento de unidade Entre textos. A pro- leitura das obras literárias. Como ressaltam as Ocem:
posta da seção é oferecer uma pequena antologia, varia-
da em relação a épocas, estéticas e autores, escolhida a Práticas de leitura e de metaleitura responderiam a
uma dupla dimensão da Literatura na escola: por um lado,
partir de um determinado fio condutor. Isso ajuda o
a fruição individual do texto, que é o modo como se lê Li-
aluno a construir um entendimento sobre a tradição li- teratura fora da escola, revela uma autêntica prática social,
terária e a observar que há uma relação direta entre a que, de regra, o professor não consegue mensurar [...]; por
ampliação do seu repertório de leituras e sua condição outro lado, a reflexão e a análise, a leitura como instru-
de reconstruir sentidos de textos literários. mento de aprendizagem e ensino, revelam a prática escolar
Em conformidade com a Lei n. 10.693/2003, que in- [...]. Essa dupla dimensão jamais pode ser esquecida, não
só na leitura como em qualquer outro conteúdo escolar,
troduziu a obrigatoriedade do estudo da história e da
já que a escola não é um microcosmo fechado. Qualquer
cultura afro-brasileira e africana no currículo escolar da conteúdo na escola é um instrumento de aprendizagem,
Educação Básica, e sobretudo em reconhecimento às mas ao mesmo tempo deve persistir a dimensão social
profundas relações históricas, sociais e culturais entre o desse conteúdo, uma vez que se forma para o mundo, para
nosso país e as nações africanas de língua portuguesa, a fornecer ao aluno recursos intelectuais e linguísticos para
última unidade da parte de Literatura do volume 3 a vida pública.
aborda as literaturas dos países africanos lusófonos Brasil. Ministério da Educação. Secretaria de Educação
Média e Tecnológica. Orientações curriculares para o Ensino Médio,
(unidade 7 – Panorama das literaturas africanas de lín-
v. 1: Linguagens, códigos e suas tecnologias.
gua portuguesa). Privilegiamos as literaturas de Angola Brasília, 2006. p. 81.
e Moçambique, que possuem maior penetração em nos-
so meio literário. Reflexão linguística
Textos literários também serão abordados, em menor No livro Por que (não) ensinar gramática na escola, Sí-
proporção, nas partes de Linguagem e de Produção de rio Possenti afirma que qualquer discussão sobre a per-
texto. Em Linguagem, estarão presentes sistematica- tinência ou não desse ensino passa pelo questionamento

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sobre o que é “gramática”. Para Possenti, ela pode ser en- investiga os efeitos associados a cada tendência: o “efeito
tendida, genericamente, como um “conjunto de regras”, de evidência do conceito” (quando há explicitação temá-
o que se desdobra em três possibilidades: tica sobre categorias gramaticais, mesmo associadas ao
estudo do texto) e o “efeito de apagamento do conceito”
1) conjunto de regras que devem ser seguidas;
(quando não há especificação sobre os tópicos relativos
2) conjunto de regras que são seguidas; às classes gramaticais). Com relação ao primeiro, afirma:
3) conjunto de regras que o falante da língua domina. Seja dentro do próprio corpo do texto, sob a forma
Possenti, Sírio. Por que (não) ensinar gramática na escola. de observações, ressalvas, comentários, seja nas notas de
Campinas: Mercado de Letras, 1996. p. 64. rodapé, há nas gramáticas a exposição de um saber sobre a
Possenti faz coincidir essas definições, respectiva- língua que escapa ao conceito (ou regra) e que no conjunto
reflete a flexibilidade do saber gramatical frente às insta-
mente, com a “gramática normativa”, a “gramática des-
bilidades constitutivas que envolvem o funcionamento da
critiva” e a “gramática internalizada”. Afirma que a pri- língua. [...] apesar dessas formas parecerem secundárias
meira é a mais conhecida dos professores e a privilegiada na gramática, elas são muito importantes para compreen-
nos compêndios gramaticais, cujo objetivo é ensinar a dermos o funcionamento da língua. [...]
“falar e escrever corretamente”. A segunda orienta o tra- Nos livros didáticos, todas essas questões [...] são apa-
balho dos linguistas, com o objetivo primeiro de expli- gadas.
citar as regras utilizadas pelos falantes em situações de Dias, Luiz Francisco. O estudo de classes de palavras: pro-
blemas e alternativas de abordagem. In: Dionisio,
uso da língua. A terceira corresponderia a Angela; Bezerra, Maria Auxiliadora (Org.).
O livro didático de português: múltiplos olhares.
hipóteses sobre os conhecimentos que habilitam o falante Rio de Janeiro: Lucerna, 2002. p. 127.
a produzir frases ou sequências de palavras de maneira tal
que essas frases e sequências são compreensíveis e reco- Quanto ao “efeito de apagamento do conceito”, diz o
nhecidas como pertencendo a uma língua. autor:
Possenti, Sírio. Por que (não) ensinar gramática na escola.
[...] o livro didático não pode fugir da sua responsa-
Campinas: Mercado de Letras, 1996. p. 64-69.
bilidade de oferecer ao aluno e ao professor uma orien-
Esmiuçando os sentidos da palavra regra, Possenti tação sobre questões importantes relativas à natureza da
distingue as ideias de “obrigação” e de “regularidade e linguagem e ao seu papel na nossa vida. [...]
constância”. Assim, esclarece que a gramática descritiva Defendemos a posição segundo a qual cabe ao livro di-
não “prescreve” usos; ela apenas os descreve, eviden- dático até ir além da própria gramática tradicional para ofe-
ciando o que há de regular e constante (ainda que a recer ao aluno uma visão ampla do fenômeno gramatical.
constância seja a própria variação). Dias, Luiz Francisco. O estudo de classes de palavras: pro-
blemas e alternativas de abordagem. In: Dionisio,
O autor conclui que o ensino de “gramática” pode Angela; Bezerra, Maria Auxiliadora (Org.).
continuar sendo válido, desde que se saiba de que gra- O livro didático de português: múltiplos olhares.
mática se trata. Possenti defende privilegiar a “gramáti- Rio de Janeiro: Lucerna, 2002. p. 133-135.
ca internalizada”, pondo em segundo lugar a “gramáti- Buscando escapar das armadilhas vislumbradas por
ca descritiva” e por último a “gramática normativa”: Dias, assumiu-se, na parte de Linguagem, uma descrição
O mais importante é que o aluno possa vir a domi- do funcionamento da língua tomando como objeto, pri-
nar efetivamente o maior número possível de regras, isto vilegiadamente, as variedades urbanas de prestígio e a
é, que se torne capaz de expressar-se nas mais diversas norma-padrão. Isso é feito de forma explícita para o alu-
circunstâncias, segundo as exigências e convenções des- no; por meio dos boxes Diversidade, regras próprias de
sas circunstâncias. Nesse sentido, o papel da escola não outras variedades também são evidenciadas, de forma
é o de ensinar uma variedade no lugar da outra, mas de não prescritiva ou valorativa.
criar condições para que os alunos aprendam também as
variedades que não conhecem, ou com as quais não têm Essa opção baseia-se na convicção de que cabe à esco-
familiaridade, aí incluída, claro, a que é peculiar de uma la ensinar ao aluno o que ele ainda não sabe. Uma escola
cultura mais “elaborada”. É um direito elementar do aluno realmente democrática não pode privar o aluno de co-
ter acesso aos bens culturais da sociedade, e é bom não nhecer e dominar as variedades urbanas de prestígio e a
esquecer que para muitos esse acesso só é possível através norma-padrão, sob o risco de mantê-lo à margem de boa
do que lhes for ensinado nos poucos anos de escola. parte dos bens culturais e de práticas sociais prestigiosas.
Possenti, Sírio. Por que (não) ensinar gramática na escola. Confrontar a descrição das regras de funcionamento das
Campinas: Mercado de Letras, 1996. p. 83.
variedades de maior prestígio às regras das variedades
Para conduzir o aluno a “dominar efetivamente o nativas dos alunos é, além de um modo de evidenciar di-
maior número possível de regras”, é preciso ensinar-lhe ferenças e facilitar a apropriação das primeiras, caminho
conceitos formais e fazer uso de nomenclatura específica? para mostrar que elas participam de um conjunto de di-
Luiz Francisco Dias aponta duas tendências predomi- versas variedades, igualmente válidas e eficazes para a
nantes nos LDs no tratamento das classes gramaticais e interação entre os usuários da língua.

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Ainda é relevante questionar se, para o alcance desse Essa problematização dos conceitos da gramática tra-
objetivo, seria necessário ou útil trabalhar com as cate- dicional é feita na medida em que se revele produtiva
gorias gramaticais nos moldes tradicionais, por meio de para os propósitos do ensino de Língua Portuguesa no
metalinguagem especializada. Acreditamos que sim, nível médio. Em alguns momentos, as categorias grama-
embora não como forma privilegiada de conduzir o alu- ticais ou prescrições relativas à norma-padrão são apre-
no a apropriar-se das variedades urbanas de prestígio e sentadas de forma objetiva, em tabelas ou esquemas.
da norma-padrão. Esse estudo deve, sobretudo, contri- Resta explicar a opção por denominar a parte especí-
buir para desenvolver a capacidade de reflexão crítica e fica de trabalho com esses conteúdos de Linguagem, e
estimular o exercício do pensamento científico. Em arti- não simplesmente de Gramática. Ainda que se reconhe-
go sobre a compreensão textual, Marcuschi afirma: ça a utilidade da abordagem dos fatos gramaticais para
o desenvolvimento de determinadas habilidades pelos
Na sociedade contemporânea, tornou-se particular-
mente importante saber como procurar e identificar coi-
alunos, ela não representa o aspecto central do trabalho
sas, fatos, valores, informações, de modo que o domínio proposto para a reflexão linguística. O objetivo da fren-
de certos princípios gerais de classificação, os critérios de te é, por meio da construção de uma metalinguagem
busca, análise e interpretação de dados e a capacidade de para se referir aos fenômenos linguísticos, investigar a
seleção entre alternativas são cada vez mais importantes. produção de efeitos de sentido na língua. A descrição
Marcuschi, Luiz Antônio. Compreensão de texto: algumas propriamente gramatical é, assim, ponto de partida, e
reflexões. In: Dionisio, Angela; Bezerra, Maria Auxiliadora não de chegada, para o trabalho nessa parte do LD.
(Org.). O livro didático de português: múltiplos olhares.
Rio de Janeiro: Lucerna, 2002.p. 50-51. Mendonça confirma a pertinência dessa proposta ar-
ticulada entre gramática e leitura/produção de textos,
Há uma relação direta entre essa afirmação e os estu- enfatizando sua contribuição para o desenvolvimento
dos – cientificamente balizados – de tópicos gramati- da capacidade de reflexão sobre a língua:
cais. No segundo volume, ao introduzir o estudo sobre
as classes de palavras que serão abordadas ao longo dos Várias pesquisas já apontaram a ineficiência do ensi-
capítulos subsequentes, o primeiro capítulo da parte de no de nomenclaturas ou de regras gramaticais desvincula-
das de seus efetivos contextos de uso e funcionamento – o
Linguagem (capítulo 21) dedica-se a evidenciar os pro-
texto – seja como objeto de leitura ou de produção. Nessa
cessos de “escolha e combinação” que operam em todos perspectiva, o estudo de tópicos gramaticais só teria senti-
os “níveis de descrição linguística”. Já o segundo capítu- do se servisse ao desenvolvimento das habilidades de lei-
lo (capítulo 22) propõe uma reflexão sobre os objetivos tura e escrita ou, em séries mais avançadas, como objeto
de se empreender uma classificação, os critérios adota- de conhecimento numa perspectiva de reflexão sobre os
dos para classificar os fenômenos e a importância de se fenômenos linguísticos.
manter coerência com esses critérios durante a aplica- Mendonça, Márcia Rodrigues de Souza.Pontuação e senti-
ção dos conceitos construídos. Nas palavras de Dias: do: em busca da parceria. In: Dionisio, Angela; Bezerra, Maria
Auxiliadora (Org.). O livro didático de português:
[...] a minimização do papel da gramática na aquisi- múltiplos olhares. Rio de Janeiro: Lucerna, 2002. p. 113.
ção de uma competência textual, salvo raras exceções, não Essa investigação sobre a relação entre as regras gra-
tem sido acompanhada de uma discussão sobre o papel maticais e o texto tem início nas seções Prática de lingua-
da gramática em outros aspectos importantes do conheci-
gem, distribuídas ao longo de cada capítulo da parte de
mento da língua, que não se resume unicamente ao domí-
nio da textualidade.
Linguagem para marcar o fim de um conjunto de tópi-
Dias, Luiz Francisco. O estudo de classes de palavras: pro-
cos e levar os alunos a exercitar a aplicação dos concei-
blemas e alternativas de abordagem. In: Dionisio, tos trabalhados. Nessas seções, privilegia-se a diversidade
Angela; Bezerra, Maria Auxiliadora (Org.). de gêneros/textos e se aposta na sistematização dos con-
O livro didático de português: múltiplos olhares. ceitos por meio da investigação significativa de sua rela-
Rio de Janeiro: Lucerna, 2002. p. 128-129.
ção com a produção de efeitos de sentido.
Fazemos isso partindo das categorias arroladas na No- As seções de exposição de conteúdos, alternadas
menclatura Gramatical Brasileira (NGB). Assumindo com as seções de atividades, convergem para a seção
que ela está claramente ultrapassada e é herdeira de in- Língua viva, momento central do trabalho em cada ca-
coerências e contradições da gramática tradicional, pen- pítulo de Linguagem. Nela, conhecimentos construí-
samos ser essa a oportunidade de questioná-la e cons- dos ao longo do capítulo são problematizados e extra-
truir o caminho para um conhecimento novo. É bastante polados em sua relação com os usos efetivos da língua
provável que os alunos tenham operado com esses mes- por seus usuários, por meio da leitura e análise de um
mos conceitos e termos ao longo do Ensino Fundamen- texto mais longo, preferencialmente integral, seguido
tal, e a reflexão quanto aos problemas dessa descrição ou não de outro texto mais curto (ou parcialmente re-
pode ajudá-los a compreender como se constrói o co- produzido) para aprofundamento dos temas aborda-
nhecimento científico. dos. Aspectos textuais e discursivos são explorados em

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sua relação com as categorias gramaticais: pode-se, por Do segundo volume em diante, os aspectos normati-
exemplo, investigar os diferentes valores semânticos vos continuam sendo tematizados, mas ganham espaço
que a variação de grau confere a um conto ou a uma os fatores de textualidade. Investiga-se, por exemplo, a
notícia; verificar como o uso dos verbos performativos função de hipônimos e hiperônimos como recursos de
atesta a perspectiva de linguagem como ação; observar coesão. Nos capítulos sobre numerais e advérbios, a
como os discursos direto e indireto são usados na cons- função coesiva dessas classes de palavras também é tra-
trução de um ponto de vista em uma notícia; estudar a tada. A relação entre os tempos verbais e a ancoragem
repetição como fator de progressão textual em uma enunciativa, vinculada ao estudo dos verbos, auxiliará
crônica, etc. os alunos a se perceberem como gestores dos textos que
Entendida de forma ampla, a língua se materializa, produzem, textos que se organizam segundo parâme-
inclusive, em determinado gêneros textuais que trazem tros previamente definidos e que devem ser respeitados
na sua essência a multiplicidade de linguagens, cuja ob- para que os sentidos pretendidos se efetivem.
servação é crucial para a construção de sentidos. É o No terceiro volume, em consonância com o estudo da
caso, por exemplo, dos anúncios publicitários, dos sintaxe, a pontuação será investigada como fator de coe-
cartazes de propaganda e das tiras. Muitas vezes a são e como recurso de produção de expressividade. Di-
produção do efeito de humor ou de persuasão está di- versas seções são destinadas a esse estudo, articulado aos
retamente relacionada à articulação entre o texto e a re- temas dos capítulos. O anacoluto, ocorrência comum e
presentação pictórica, sendo necessário “ler” esses ele- esperada na modalidade oral – em que os sentidos do
mentos solidariamente. texto são construídos de forma bastante vinculada à
A parte de Produção de texto apresenta o boxe fixo situação de produção –, é investigado na modalidade es-
Observatório da língua. Nele, aspectos abordados na par- crita, também sob o viés da expressividade versus a falta
te de Linguagem são retomados em sua articulação com de clareza. A modalização no texto escrito é tema de ou-
tra seção. Outros fatores de textualidade, além da coe-
o gênero textual estudado. De forma inversa, a parte de
são, tais como a informatividade (em sua relação com a
Linguagem também apresenta um boxe fixo que integra
progressão textual), são objeto de estudo nesse volume.
a seção Língua viva, denominado Texto em construção.
No último capítulo, propõe-se uma detalhada investiga-
Nele, a proposta de produção textual – respeitando as
ção sobre o hipertexto e as maneiras como se constroem
mesmas etapas das propostas da parte de Produção
os sentidos nessa forma de organização textual.
de texto, embora de forma mais sucinta e objetiva – dá
ao aluno a oportunidade de exercitar o aspecto textual No tocante à ortografia, propõe-se em mais de uma
ou discursivo que acaba de estudar na seção. São, por- ocasião um trabalho indutivo de construção de regras.
tanto, objetivos diferentes ligados às mesmas atividades Essa metodologia é inspirada nos estudos realizados por
em cada parte do LD: em Linguagem, propõe-se a pro- Artur Gomes de Moraes (1999 e 2003), cujas obras são
dução de textos como forma de refletir sobre a produ- citadas nas referências bibliográficas deste manual.
ção de efeitos de sentido; em Produção de texto, aspec- Por fim, cumpre dizer que, na parte de Literatura,
tos linguísticos são recuperados na medida em que embora o estudo linguístico não seja tematizado em se-
favorecem a produção de determinado gênero textual. ção ou boxe específico, está sempre presente como re-
Com isso, torna-se compreensível a afirmação de Mar- curso para a abordagem do texto literário, configurando
cuschi de que “O dilema: ‘gramática ou texto?’ é um falso um dos instrumentos de análise possíveis.
dilema. Não se vai longe sem gramática e não se usa a
gramática a não ser para produzir textos”. (Marcuschi, Produção de textos
2002, p. 50). Quanto ao trabalho com o ensino de leitura e produ-
Na seção Em dia com a escrita, focaliza-se, a cada vo- ção de textos, Egon Rangel aponta para a mudança de
paradigma representada pela adoção de uma nova con-
lume, um aspecto dessa modalidade. No primeiro volu-
cepção de língua e de linguagem, apoiada nas teorias do
me, privilegia-se o trabalho com aspectos normativos,
uso e da análise do discurso:
como a convenção ortográfica. Esse trabalho está ali-
nhado à investigação das relações entre fala e escrita – O que agora interessa é, antes de mais nada, a descri-
que auxiliará os alunos a perceberem que a escrita não ção e, em especial, o domínio de funcionamentos próprios
meramente reproduz ou representa a fala, ainda que os do texto; portanto, de recursos e de procedimentos de
sistemas de escrita de base alfabética operem sobre um construção e reconstrução das tramas linguísticas capazes
princípio fonográfico – e aos estudos de fonologia e de, nas situações para as quais foram trançadas, produzir
os sentidos pretendidos pelos sujeitos.
morfologia, já que conhecimentos fonológicos e morfo-
Rangel, Egon. Livro didático de língua portuguesa:
lógicos, entre outros, são mobilizados pelo usuário da o retorno do recalcado. In: Dionisio, Angela; Bezerra,
língua ao decidir sobre a “forma correta” (ortográfica) Maria Auxiliadora (Org.). O livro didático de português:
de se escrever uma palavra. múltiplos olhares. Rio de Janeiro: Lucerna, 2002. p. 17.

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Nesta coleção, o trabalho com produção de texto Alguns aspectos merecem destaque: a necessidade
se ampara na teoria dos gêneros textuais de Dolz & de conhecimento e estabelecimento das regras comuns
Schneuwly, derivada da teoria bakhtiniana dos gêne- para que um texto, oral ou escrito, possa circular entre,
ros do discurso. Como sintetiza Maria Auxiliadora no mínimo, dois interlocutores; a noção de que, mes-
Bezerra: mo que se conheçam as regras a partir das quais um
texto se estrutura, este somente se realiza em uma ativi-
Assim, falarmos em tipos e gêneros textuais implica
considerarmos a sua estrutura e uso; falarmos em gêneros dade verbal; o campo (social) ou contexto em que a
discursivos implica considerarmos a interação entre inter- ação verbal ocorre deve ser determinado, constituir-se
locutores e a enunciação. como um espaço de circulação e de trocas simbólicas
Bezerra, Maria Auxiliadora. Textos: seleção variada e atual. possíveis entre os interlocutores; a elaboração de um
In: Dionisio, Angela; Bezerra, Maria Auxiliadora (Org.). O livro texto requer “decisões conjuntas”, o que significa que
didático de português: múltiplos olhares. uma produção textual nunca é algo que se faça isolada-
Rio de Janeiro: Lucerna, 2002. p. 39.
mente na medida em que sempre se dirige a alguém
Em situações de comunicação, a interação entre as que, por se colocar em relação a esse texto mesmo que
pessoas ocorre por meio de textos, que são, a um só em uma posição de simples escuta ou leitura, interfere
tempo, conjuntos estruturados de elementos linguísti- no modo como ele é produzido. Sobre esse último as-
cos, cognitivos e sociais que transpõem a realidade pecto inerente às “decisões conjuntas” numa produção
para o universo da linguagem, aparentemente recons- tex­tual, diz Bakhtin:
truindo e reordenando o que se encontra presente no
mundo, mas de fato criando essa realidade. O estudo do A compreensão de uma fala viva, de um enunciado
vivo é sempre acompanhada de uma atitude responsiva
texto não pode ser descolado das práticas sociais em
ativa (conquanto o grau dessa atividade seja muito variá-
que ele surge.
vel); toda a compreensão é prenhe de resposta e, de uma
Marcuschi propõe uma imagem sugestiva de como forma ou de outra, forçosamente a produz: o ouvinte tor-
ocorre a interação social numa produção textual. na-se locutor.
Bakhtin, Mikhail. O enunciado, unidade da comunicação
[...] produzir um texto assemelha-se a jogar um
verbal. In: Estética da criação verbal. São Paulo:
jogo. Antes de um jogo, temos um conjunto de regras
Martins Fontes, 1992. p. 291.
(que podem ser elásticas como no futebol ou rígidas
como no xadrez), um espaço de manobra (a quadra, o Essa passagem coloca em relevo a influência ativa do
campo, o tabuleiro, a mesa) e uma série de atores (os interlocutor sobre o texto a ser produzido e remete às
jogadores), cada qual com seus papéis e funções (que condições de produção de um texto, grosso modo resu-
podem ser bastante variáveis, se for um futebol, um bas- míveis na fórmula eu/tu/lugar/momento. Partindo desse
quete, um xadrez etc.). Mas o jogo só se dá no decorrer
pressuposto, os gêneros textuais são abordados a partir
do jogo. Para que o jogo ocorra, todos devem colaborar.
de sua forma composicional, das situações sociais de
Se são dois times (como no futebol) ou dois indivíduos
(como no xadrez e na conversação dialogal), cada um terá produção e circulação, das opções de estilo e das esferas
sua posição particular. Embora cada qual queira vencer, da atividade humana a que se associam.
todos devem jogar o mesmo jogo, pois, do contrário, Em obra de 1996, em exercício para a criação de uma
não haverá jogo algum. Para que um vença, devem ser progressão no ensino de gêneros textuais, Dolz &
respeitadas as mesmas regras. Não adianta reunir dois Schneuwly propuseram um agrupamento provisório de
times em campo e um querer jogar vôlei e outro que-
gêneros. Roxane Rojo e Glaís Cordeiro, ao traduzir o
rer basquete. Ambos devem jogar ou basquete ou vôlei.
quadro para o português, incluíram este comentário:
Assim se dá com os textos. Produtores e receptores de
textos (ouvinte/leitor – falante/escritor) todos devem Já que os gêneros e sua circulação são práticas reco-
colaborar para um mesmo fim e dentro de um conjun- nhecidamente culturais, tomamos a liberdade de inserir
to de normas iguais. Os falantes/escritores da língua, no Quadro 1 alguns gêneros que circulam com frequência
ao produzirem textos, estão enunciando conteúdos e em nossa sociedade e que não figuram no Quadro origi-
sugerindo sentidos que devem ser construídos, inferi- nal. Também aproximamos ou adaptamos a designação de
dos, determinados mutuamente. A produção textual, alguns deles.
assim como um jogo coletivo, não é uma atividade
Rojo, Roxane; Cordeiro, Glaís Sales.
unilateral. Envolve decisões conjuntas. Isso caracteriza In: Schneuwly, Bernard; Dolz, Joaquim; e colaboradores.
de maneira bastante essencial a produção textual como Gêneros orais e escritos na escola. Trad. Roxane Rojo e
uma atividade sociointerativa. Glaís Sales Cordeiro. Campinas: Mercado de Letras, 2007.
Marcuschi, Luiz Antônio. Produção textual, p. 60. Nota de rodapé.
análise de gêneros e compreensão. São Paulo:
Parábola Editorial, 2008. p. 77. (grifos do autor) Vejamos, então, como ficou o quadro.

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Proposta provisória de agrupamento de gêneros
Domínios sociais de comunicação
Aspectos tipológicos Exemplos de gêneros orais e escritos
Capacidades de linguagem dominantes

Cultura literária ficcional • conto maravilhoso; conto de fadas; fábula; lenda; narrativa de aventura; narrativa
de ficção científica; narrativa de enigma; narrativa mítica; sketch ou história engra-
Narrar
çada; biografia romanceada; romance; romance histórico; novela fantástica; conto;
Mimeses da ação através da criação de intriga
crônica literária; adivinha; piada
Documentação e memorização de ações humanas • relato de experiência vivida; relato de viagem; diário íntimo; testemunho;
Relatar anedota ou caso; autobiografia; curriculum vitae; ...; notícia; reportagem;
Representação pelo discurso de experiências crônica social; crônica esportiva; ...; histórico; relato histórico; ensaio
vividas, situadas no tempo ou perfil biográfico; biografia; ...
Discussão de problemas sociais controversos • textos de opinião; diálogo argumentativo; carta de leitor; carta de reclamação;
Argumentar carta de solicitação; deliberação informal; debate regrado; assembleia; discurso de
Sustentação, refutação e renegociação de defesa (advocacia); discurso de acusação (advocacia); resenha crítica; artigos de
tomadas de posição opinião ou assinados; editorial; ensaio; ...
Transmissão e construção de saberes • texto expositivo (em livro didático); exposição oral; seminário; conferência; comu-
Expor nicação oral; palestra; entrevista de especialista; verbete; artigo enciclopédico;
Apresentação textual de diferentes texto explicativo; tomada de notas; resumo de textos “expositivos” e explicativos;
formas dos saberes resenha; relatório científico; relatório oral de experiência; ...
Instruções e prescrições
• instruções de montagem; receita; regulamento; regras de jogo; instruções de uso;
Descrever ações
comandos diversos; textos prescritivos; ...
Regulação mútua de comportamentos
Schneuwly, Bernard; Dolz, Joaquim; e colaboradores. Gêneros e progressão em expressão oral e escrita: elementos para reflexões sobre
uma experiência suíça (francófona). In: Gêneros orais e escritos na escola. Trad. e org. Roxane Rojo e Glaís Sales Cordeiro.
Campinas: Mercado de Letras, 2007. p. 60-61.

Na parte de Produção de texto, trabalhamos com os gru- Os gêneros do discurso, segundo a definição de
pos narrar, relatar, expor e argumentar. Excluímos deli- Bakhtin, são “tipos relativamente estáveis” de enuncia-
beradamente o grupo descrever ações por entender que dos reconhecidos pelos usuários da língua em determi-
nele se encontram gêneros menos relevantes para a cons- nado contexto social. Surgem da necessidade de repre-
trução da cidadania. Rojo e Cordeiro, ao justificarem a esco- sentação e comunicação de determinado aspecto da
lha dos gêneros que figuram na terceira parte do livro de realidade que se faz presente para um grupo de sujei-
Dolz & Schneuwly – “Propostas de ensino de gêneros” –, tos. Por conta disso, os gêneros nascem, circulam,
colocam a questão nestes termos: transformam-se e caem em desuso, de acordo com o
Priorizamos as esferas e os agrupamentos de gêneros, movimento e a transformação da própria sociedade.
em nossa opinião, mais relevantes para a formação da cida- Gêneros de prestígio social, que revelam em sua diver-
dania no Brasil e mencionados nos PCNs: a) narrar, impor-
tante para a formação do leitor literário; b) expor, impor- sidade a complexidade de nosso mundo, são aborda-
tante para a formação do estudante e do profissional bem- dos pela coleção.
-sucedido em algumas áreas, como jornalismo, magistério,
negócios etc.; e c) argumentar, importante para a formação
Da citada definição de Bakhtin, deve-se frisar a ex-
do cidadão consciente e defensor de seus direitos. pressão “relativamente estáveis”. A realização de cada
Rojo, Roxane; Cordeiro, Glaís Sales. In: Schneuwly, gênero comporta variações determinadas por fatores di-
Bernard; Dolz, Joaquim; e colaboradores. Gêneros orais e escritos versos, por isso esta coleção não apresenta os gêneros
na escola. Trad. Roxane Rojo e Glaís Sales Cordeiro. Campinas:
Mercado de Letras, 2007. p. 17. estudados como modelos rígidos e, quando necessário,
Incluímos na coleção o grupo relatar, que contempla oferece ao aluno mais de um exemplo de realização de
gêneros como a notícia, a reportagem e o artigo de di- cada gênero.
vulgação científica, porque a esfera jornalística tem um Os capítulos partem da leitura e do estudo do gênero
grande peso na sociedade contemporânea, a ponto de e terminam com a produção propriamente dita. O aluno
muitos a chamarem de “quarto poder”. Convém habili- se apropria das situações sociais em que o gênero circula
tar o aluno a ler e produzir gêneros desse grupo, que e ganha sentido, observando os elementos que o singu-
veiculam não só informações, mas também posições a larizam. Ao fim, os movimentos de produção e reescrita
respeito de temas relevantes para o nosso tempo. (dos gêneros escritos) ou de produção e reelaboração
Os quatro grupos são trabalhados em todos os volu- (dos gêneros orais) visam a garantir que, progressiva-
mes da coleção, a cada vez com uma diferente seleção mente, os alunos se apropriem das estratégias de leitura/
de gêneros. Entre estes, incluímos os que parecem mais escuta/produção específicas de um gênero e, também,
compatíveis com o nível de amadurecimento do aluno que problematizem sua significação na esfera em que ele
do Ensino Médio e que abordam temáticas relevantes circula, descortinando as trocas simbólicas que se impri-
para a sociedade atual. mem nos jogos de interação linguística.

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O entendimento da produção de textos como uma Os exercícios de compreensão raramente levam a re-
“atividade recursiva” admite a necessidade de que o flexões críticas sobre o texto e não permitem expansão
produtor volte constantemente ao início do processo, ou construção de sentido, o que sugere a noção de que
compreender é apenas identificar conteúdos. Esquece-se a
siga adiante, revise-o diversas vezes antes de concluir a
ironia, a análise de intenções, a metáfora e outros aspectos
tarefa. Para tanto, apresentamos um roteiro detalhado relevantes nos processos de compreensão. [...]
para a elaboração textual, com ênfase na revisão do tex-
to (item Avaliação da seção Produzir um [gênero]). Essa [...] Perde-se uma excelente oportunidade de treinar
revisão pode ser feita pelo aluno: o LD oferece os parâ- o raciocínio, o pensamento crítico e as habilidades argu-
metros de avaliação e, no encaminhamento da reescrita/ mentativas. Também perde-se a oportunidade de incenti-
var a formação de opinião.
reelaboração do texto, indica um foco para esse mo-
Marcuschi, Luiz Antônio. Compreensão de texto: algumas
mento da edição final da produção. Outra possibilidade reflexões. In: Dionisio, Angela; Bezerra, Maria Auxiliadora
é a avaliação ser feita em duplas ou pelo professor, a qual (Org.). O livro didático de português: múltiplos olhares.
Reinaldo (2002) descreve da seguinte maneira: Rio de Janeiro: Lucerna, 2002. p. 51-52.
No mesmo artigo, Marcuschi relata a iniciativa de com-
Por meio da reflexão das práticas interativas sobre a es-
pilação, análise e classificação de questões de compreensão
crita no contexto escolar, esse paradigma tem cedido lugar
às reflexões que evidenciam a importância da participação
de texto de 25 LDs de Ensino Fundamental e Médio e
do outro nos procedimentos cognitivos do aprendiz da es- comenta os resultados dessa investigação:
crita [...]. [...] surge o procedimento didático da criação de
Uma análise, mesmo que sumária, destes dados revela
eventos interativos (com a participação do par mais compe-
que há um predomínio impressionante (70%) de questões
tente – professor ou colega leitor), com reflexões em torno fundadas exclusivamente no texto, sendo que quase um
da primeira versão do texto, que conduzem a um processo quinto das perguntas são pura cópia e mais da metade só
de aprofundamento da ação conscientemente controlada precisam de uma olhada em dados objetivamente inscri-
sobre as partes do texto que apresentam problemas de tos no texto para resposta. Mais preocupante, no entanto,
compreensão ao leitor, exigindo transformações. [...] é o fato de somente um décimo das questões situarem-se
Reinaldo, Maria Augusta G. de Macedo. A orientação para na classe de perguntas que exigem reflexão mais acurada,
produção de texto. In: Dionisio, Angela; Bezerra, Maria Auxi-
ou seja, algum tipo de inferência ou raciocínio crítico, e
liadora (Org.). O livro didático de português: múltiplos olhares. Rio
elas equivalem ao mesmo percentual de indagações que
de Janeiro: Lucerna, 2002. p. 95.
podem receber qualquer tipo de resposta, já que nas ques-
A produção de textos também é trabalhada em seções tões subjetivas e vale-tudo aceita-se qualquer resposta.
fixas da parte de Linguagem. No boxe Texto em constru- Por fim, questões de natureza estrutural também apare-
ção da seção Língua viva, propõe-se a elaboração de um cem com relativa frequência (9%) neste quadro, embora
não sejam questões de compreensão.
texto que possibilite ao aluno experimentar os efeitos de Marcuschi, Luiz Antônio. Compreensão de texto: algumas
sentido relacionados ao tema desenvolvido na seção. reflexões. In: Dionisio, Angela; Bezerra, Maria Auxiliadora
Embora o foco da atividade seja diferente do previsto (Org.). O livro didático de português: múltiplos olhares.
para a parte de Produção de texto, todas as etapas de Rio de Janeiro: Lucerna, 2002. p. 57.

produção textual devem ser realizadas. Identificar informações objetivas pode ser necessário na
Outro gênero textual produzido na parte de Lingua- construção de um raciocínio sobre o texto; no entanto, é a
gem, em todas as unidades, é o debate regrado. Isso mais básica das muitas competências envolvidas em uma
acontece na seção Articulando, em que se propõem atividade de leitura. Nesta coleção, privilegiamos questões
questões polêmicas relacionadas à língua para o exercí- que exigem inferências e raciocínio crítico. Mesmo quando
cio do pensamento crítico e da formulação e sustenta- se admite resposta pessoal, o manual fornece parâmetros
ção de um ponto de vista. Para que o debate não se tor- para avaliação das formulações construídas pelos alunos.
ne uma conversação espontânea, apoiada em “achismos”, A enumeração a seguir, feita por Roxane Rojo (2002),
é fundamental que os alunos se debrucem sobre os tex- indica algumas capacidades envolvidas na leitura:
tos de leitura, ampliando essa pesquisa por meio de ou- ‚‚ Recuperação do contexto de produção do texto: Para
tras fontes. É necessário que o professor estabeleça con- interpretar um texto discursivamente, é preciso situá-
dições para que o gênero debate regrado se configure e -lo: Quem é seu autor? Que posição social ele ocupa?
constitua um instrumento de ensino-aprendizagem. Que ideologias assume e coloca em circulação? Em que
situação escreve? Em que veículo ou instituição? Com
Leitura e compreensão de textos que finalidade? Quem ele julga que o lerá? Que lugar
As atividades de leitura são um dos principais eixos social e que ideologias ele supõe que este leitor inten-
de trabalho da coleção e polo mobilizador do desenvol- tado ocupa e assume? Como ele valora seus temas?
Positivamente? Negativamente? Que grau de adesão
vimento de variadas habilidades e competências.
ele intenta? Sem isso, a compreensão de um texto fica
Ao avaliar a maneira como o LD de português vem num nível de adesão ao conteúdo literal, pouco desejá-
tratando, historicamente, essas atividades, Marcuschi vel a uma leitura crítica e cidadã. Sem isso, o leitor não
(2002) diagnostica: dialoga com o texto, mas fica subordinado a ele.

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‚‚ Percepção de relações de intertextualidade (no nível mencionado anteriormente), nos quais se podem obser-
temático): Ler um texto é colocá-lo em relação com ou- var as variedades históricas, regionais, sociais e situacio-
tros textos já conhecidos, outros textos que estão tra- nais, as constantes retextualizações praticadas entre as
mados a este texto, outros textos que poderão dele re- modalidades escrita e oral, a operação da noção de ade-
sultar como réplicas ou respostas. Quando esta relação
quação linguística, entre outros.
se estabelece pelos temas ou conteúdos abordados nos
diversos textos, chamamos a isso intertex­tualidade. A organização da parte de Produção de texto com base
‚‚ Percepção de relações de interdiscursividade (no nível nas sequências didáticas de Dolz & Schneuwly, somada
discursivo): Perceber um discurso é colocá-lo em relação ao objetivo primordial da frente – a produção de textos de
com outros discursos já conhecidos, que estão tramados diferentes gêneros –, determina o perfil predominante das
a este discurso. Quando esta relação se estabelece, então, atividades de leitura: a observação e compreensão das
num dado texto, como por exemplo nas paródias, nas marcas de cada gênero estudado, nos planos composicio-
ironias, nas citações, falamos de interdiscursividade. nal, discursivo e estilístico. Isso ocorre na seção Ler um
‚‚ Percepção de outras linguagens (imagens, som, ima- [nome do gênero], que prepara o aluno para a produção,
gens em movimento, diagramas, gráficos, mapas etc.) realizada na seção Produzir um [nome do gênero], que en-
como elementos constitutivos dos sentidos dos textos cerra todos os capítulos.
e não somente da linguagem verbal escrita.
As matrizes de habilidades e competências do Enem
‚‚ Elaboração de apreciações estéticas e/ou afetivas: Ao ler, e do Saeb também serviram de guia para a elaboração
replicamos ou reagimos ao texto constantemente: senti- das atividades de leitura da coleção nas três partes.
mos prazer, deixamo-nos enlevar e apreciamos o belo na
forma da linguagem, ou odiamos e achamos feio o resul-
Por fim, elencamos algumas propostas de Marcuschi
tado da construção do autor; gostamos ou não gostamos, para o trabalho com leitura e compreensão textual:
pelas mais variadas razões. E isso pode, inclusive, inter- i. Identificação das proposições centrais do texto [...]
romper a leitura ou levar a muitos outros textos. ii. Perguntas e afirmações inferenciais [...]
‚‚ Elaboração de apreciações relativas a valores éticos e/ iii. Tratamento a partir do título [...]
ou políticos: Mas também discutimos com o texto:
discordamos, concordamos, criticamos suas posições iv. Produção de resumos [...]
e ideologias. Avaliamos os valores colocados em circu- v. Reprodução do conteúdo do texto num outro gê-
lação pelo texto e destes, são especialmente importan- nero textual [...]
tes para a cidadania, os valores éticos e políticos. Esta vi. Reprodução do texto na forma de diagrama [...]
capacidade é que leva a uma réplica crítica a posições vii. Reprodução do texto oralmente [...]
assumidas pelo autor no texto.
Rojo, R. H. R. A concepção de leitor e produtor de textos viii. Trabalhos de revisão da compreensão [...]
nos PCNs: “Ler é melhor do que estudar”. In: Freitas, M. T. A.; Marcuschi, Luiz Antônio. Compreensão de texto: algumas
Costa, S. R. (Org.). Leitura e escrita na formação de professores. reflexões. In: Dionisio, Angela; Bezerra, Maria Auxiliadora
São Paulo: Musa/UFJF/Inep-Comped, 2002. p. 31-52. (Org.). O livro didático de português: múltiplos olhares.
Rio de Janeiro: Lucerna, 2002. p. 59- 60.
Ao abordar o eixo de letramento literário, falamos so-
bre as atividades de leitura da parte de Literatura. Agora, Variação linguística
falaremos das partes de Linguagem e Produção de texto. Em artigo no qual reflete sobre a educação linguística
Em Linguagem, as atividades de leitura buscam levar no Brasil na década compreendida entre os anos de
o aluno a associar as categorias de descrição gramatical 1998 e 2008, o linguista Marcos Bagno afirma:
aos efeitos de sentido gerados na interação. Isso ocorre A variação linguística tem que ser objeto e objetivo do
na seção Prática de linguagem, com textos mais curtos e ensino de língua: uma educação linguística voltada para a
diversificados, e na seção Língua viva, com textos mais construção da cidadania numa sociedade verdadeiramen-
longos. Esta última dá maior ênfase à abordagem prag- te democrática não pode desconsiderar que os modos de
mática, colocando em foco diversos componentes da si- falar dos diferentes grupos sociais constituem elementos
tuação de enunciação. fundamentais da identidade cultural da comunidade e dos
indivíduos particulares, e que denegrir ou condenar uma
Todas essas atividades envolvem um amplo leque de variedade linguística equivale a denegrir e a condenar os
estratégias cognitivas. Além da localização de informa- seres humanos que a falam [...].
ções explícitas, há questões que ativam conhecimentos Bagno, Marcos. Educação linguística no Brasil: balanço de
prévios do aluno, que focalizam a interação entre leitor, uma década (1998-2008). Revista de Linguagens Boca da Tribo,
autor e texto ou os valores semântico-pragmáticos do v. 1, n. 1, p. 158, abr. 2009.
vocabulário e que se dirigem aos aspectos linguístico- Partilhando dessa convicção, esta coleção também
-textuais responsáveis pela construção da textualidade. toma a variação linguística como eixo de trabalho. An-
A seleção de textos dessa parte cobre grande diver- gela Dionísio (2002) faz uma síntese das principais con-
sidade de gêneros (inclusive literários, em algumas se- clusões resultantes de pesquisas científicas sobre a va-
ções Língua viva e no boxe Usina literária, conforme riação linguística empreendidas nas últimas décadas:

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a) toda língua é variada, multifacetada, heterogênea, Os estudos linguísticos já forneceram evidências de
não monolítica nem uniforme (Marcuschi, 1997); que esse modelo é uma idealização; não corresponde,
b) “todas as línguas variam, isto é, não existe nenhuma ao menos não de forma sistemática e uniforme, aos usos
sociedade ou comunidade na qual todos falem da da linguagem registrados nos escritos dos autores literá-
mesma forma” (Possenti, 1996:33-34); rios consagrados. Ainda que haja pontos de contato en-
c) “a variedade linguística é o reflexo da variedade social tre esse modelo e algumas ocorrências na produção des-
e, como em todas as sociedades existe alguma dife- ses autores, muitas vezes eles refletem um uso que não
rença de status ou de papel entre indivíduos ou gru- mais corresponde à língua portuguesa falada ou escrita
pos, estas diferenças se refletem na língua” (Possenti, na contemporaneidade, nem mesmo pelos usuários
1996:34); considerados cultos segundo determinados parâmetros
d) “a imprensa é o melhor termômetro das variações lin- (alto nível de escolaridade e grau de letramento, por
guísticas, da incorporação de certos usos, da sua ele- exemplo). É também Marcos Bagno quem evidencia a
vação à condição de norma linguística da comunidade importância dessa distinção:
(Preti, 1998:2);
É impossível levar adiante um ensino consistente de
e) “cada variedade tem seus domínios próprios, onde é se-
português no Brasil sem fazer a distinção entre norma
nhora quase absoluta. Não existe, simplesmente, uma
culta e norma-padrão, expressões tomadas como sinôni-
variedade ‘certa’. Cada situação de comunicação (ensaio
mas, mas que de fato representam duas entidades socio-
científico, peça teatral, conversa de botequim, discurso
linguísticas diferentes: enquanto essa distinção não ficar
de formatura, pedido de informação na rua etc.) impõe
uma variedade própria, que é a ‘certa’ naquela situação” clara para todos os envolvidos no processo de educação
(Perini, 1995:25). linguística, será inevitável o surgimento de equívocos e
distorções no tratamento dos fatos da língua.
Dionisio, Angela Paiva. Variedades linguísticas: avanços
e entraves. In: Dionisio, Angela; Bezerra, Maria Auxiliadora Bagno, Marcos. Educação linguística no Brasil: balanço
(Org.). O livro didático de português: múltiplos olhares. de uma década (1998-2008). Revista de Linguagens
Rio de Janeiro: Lucerna, 2002. p. 76-77. Boca da Tribo, v. 1, n .1, p. 158, abr. 2009.

A percepção sobre a diversidade e a variação como as- Com relação à distinção entre norma culta e
pectos constitutivos das línguas amplia o campo de ação variedades urbanas de prestígio, o segundo termo
em Língua Portuguesa. As variedades urbanas de prestí- põe em evidência que os usos da língua pelos
gio deixam de ser tomadas como “a língua” e passam a usuários considerados cultos também não apre-
ser vistas como parte de um espectro; a norma-padrão sentam uniformidade. Em alguns momentos, os
passa a ser entendida como uma idealização. Para Egon dois termos podem ser usados como sinônimos
Rangel (2002), o reconhecimento da variação linguística na coleção. Vale assinalar que a expressão nor-
coloca os educadores “diante de um duplo imperativo, mas urbanas de prestígio foi usada no Guia didá-
ao mesmo tempo ético e didático-pedagógico”: tico do PNLD 2008, com a seguinte justificativa:
‚‚ revelar e discutir as determinações históricas, políticas
Em substituição à expressão “norma culta”, normas
e sociais que atribuíram, a apenas uma das variantes
urbanas de prestígio é um termo técnico recente, intro-
da língua, o lugar social e o prestígio de que desfruta;
duzido para designar os falares urbanos que, numa comu-
‚‚ combater os mitos e preconceitos linguísticos que nidade linguística, como a dos falantes de português do
agem no sentido de excluir as variantes não padrão da Brasil, desfrutam de maior prestígio político, social e cul-
cidadania linguística. tural e, por isso mesmo, estão mais associados à escrita, à
Rangel, Egon. Livro didático de língua portuguesa: o retor- tradição literária e às instituições como o Estado, a Escola,
no do recalcado. In: Dionisio, Angela; Bezerra, Maria Auxilia-
as Igrejas e a Imprensa.
dora (Org.). O livro didático de português: múltiplos olhares. Rio
de Janeiro: Lucerna, 2002. p. 17-18. Brasil. Ministério da Educação. Guia de livros didáticos
PNLD 2008: apresentação. Brasília, 2007. p. 22.
Ao longo da coleção, o professor deparará com os
termos norma-padrão (referido no contexto dos estudos A presença desse termo em um documento que orien-
linguísticos também como variedade padrão), norma cul- ta a escolha dos livros didáticos pelos professores de Lín-
ta e variedades urbanas de prestígio (novamente, em ou- gua Portuguesa pode ser tomada como um sinal de que
tros contextos é possível encontrar a expressão normas tal discussão já vem sendo incorporada ao contexto da
urbanas de prestígio). A distinção entre os dois primeiros formação docente e da sala de aula.
termos é importante, na medida em que evidencia a No Brasil, desde 1969, diversas iniciativas ligadas ao
existência de um modelo linguístico que preside a maior Projeto da Norma Linguística Urbana Culta (Projeto
parte dos manuais de gramática e boa parte dos livros Nurc) buscam, a partir da constituição de corpora de
didáticos de Língua Portuguesa, postulando como se textos autênticos, descrever de forma sistemática a nor-
deve ou não se deve falar ou escrever a partir da preten- ma urbana culta falada no Brasil (o projeto teve início
sa observação dos usos empreendidos pelos “escritores nas cidades de Porto Alegre, São Paulo, Rio de Janeiro,
consagrados”. Salvador e Recife; posteriormente, foi se expandindo

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para outros centros urbanos). Aos poucos, essa sistema- Oralidade
tização vem sendo trazida a público e poderá, com o
Assim como ocorre com a variação linguística, a
tempo, vir a ser tomada como referência para o ensino
compreensão sobre a necessidade de um trabalho siste-
de Língua Portuguesa na educação básica. É fato que
mático com a oralidade em sala de aula é (ou, pelo me-
isso ainda encontrará muita resistência em alguns seto-
nos, deveria ser) uma decorrência natural da concepção
res da sociedade, que alimentam crenças arraigadas a
de língua que se adota. Se a entendemos como “ativida-
respeito da língua. Incluir esse tipo de debate, de forma
de interativa (dialógica) de natureza sócio-cognitiva e
explícita, no livro didático de Língua Portuguesa é uma
histórica” (Marcuschi, 2002, p. 22), que se materializa
contribuição que a coleção busca dar para essa mudan- por meio de textos orais e escritos, não faz sentido que
ça de cenário. todo o trabalho do professor de Língua Portuguesa se
Na parte de Linguagem, sabendo-se que a descrição centre no domínio da escrita. Como bem lembra Mar-
morfossintática da língua empreendida pela gramática cuschi (2002), “o homem é um ser que fala”, e as ativi-
tradicional toma por referência a norma-padrão, busca-se dades envolvendo a língua falada são muito mais pre-
sinalizar ao aluno que ela não corresponde, o mais das sentes no cotidiano da maior parte dos usuários da
vezes, aos usos efetivos da língua pelos falantes, mesmo língua do que a escrita. Entretanto, isso não pode servir
por aqueles considerados cultos. Isso é feito de forma pri- de pretexto para que não se abordem os gêneros orais
vilegiada pelo boxe Diversidade, especialmente a partir do em sala de aula, sob a falsa justificativa de que a sua prá-
volume 2, quando do início do estudo sobre as classes de tica sistemática na vida cotidiana eliminaria a necessida-
palavras, e também no volume 3, quando se procede à de de tomar a oralidade como objeto de ensino-apren-
análise sintática no nível frasal. dizagem. Marcuschi esclarece:
Mesmo não correspondendo, em sua totalidade, às va- Certamente, não se trata de ensinar a falar. Trata-se de
riedades urbanas de prestígio, a norma-padrão goza de identificar a imensa riqueza e variedade de usos da língua.
grande prestígio social e, por isso, é abordada na unidade Marcuschi, Luiz Antônio. Oralidade e ensino de língua:
uma questão pouco “falada”. In: Dionisio, Angela; Bezerra,
11 do volume 3, na parte de Linguagem. Nessa ocasião, é Maria Auxiliadora (Org.). O livro didático de português: múltiplos
possível confrontar algumas das regras da norma-padrão olhares. Rio de Janeiro: Lucerna, 2002. p. 24.
com usos efetivos da língua. Esse pode ser o ponto de par- De forma ampla, Marcuschi assinala algumas das
tida para uma reflexão crítica sobre o status atribuído à contribuições que o trabalho com a oralidade pode tra-
norma-padrão. Cabe ao ensino de Língua Portuguesa evi- zer para a sala de aula: investigação sobre o fenômeno
denciar as distorções associadas a esse status e contribuir da variação linguística; análise sobre níveis de uso da
para que os alunos, tendo acesso à norma-padrão como língua; observação sobre as contribuições da fala na for-
um bem cultural, possam dela prescindir com segurança mação cultural e na preservação de tradições não escri-
quando os contextos de uso da língua assim o permitirem. tas que persistem mesmo em culturas em que a escrita
Assumida a premissa de que um dos objetivos do ensi- já entrou de forma decisiva; esclarecimento sobre aspec-
no de Língua Portuguesa é tornar seus alunos “poliglotas tos relativos ao preconceito e à discriminação linguística;
em sua própria língua” (conforme defende o professor Eva- análise sobre o caráter de mecanismo de controle social
nildo Bechara), a noção de adequação linguística adquire assumido pela língua, em sua íntima, complexa e com-
importância crucial. A evidência da variação linguística ga- provada relação com as estruturas sociais. (Marcuschi,
nha sentido não apenas como forma de combate ao pre- 2002, p. 23-24.)
conceito linguístico, mas também para ampliar a consciên- As diretrizes oficiais para o ensino de Língua Portu-
cia dos alunos sobre a importância de se considerar as guesa no nível médio indicam a necessidade de ampliar
variedades mais adequadas a cada situação de uso. Nesse a competência do aluno para o uso dos diferentes gêne-
sentido, também na parte de Produção de texto se observa ros orais, especialmente aqueles de registros mais for-
uma preocupação em ampliar a percepção do aluno a res- mais em contextos públicos de comunicação. Pensando
peito do interlocutor real ou projetado em cada gênero, nisso, incluiu-se, na parte de Produção de texto, o tra-
bem como seu entendimento sobre a situação de produção balho sistemático com gêneros orais públicos de regis-
envolvida nesse gênero, pois essa percepção será determi- tro mais formal – envolvendo a leitura de um ou mais
nante para as escolhas linguísticas que ele empreenderá. exemplares do gênero, a reflexão sobre suas marcas e a
A noção de variação linguística também é decisiva para orientação para a produção de novo texto, com configu-
a observação de elementos estéticos que caracterizaram ração da proposta, orientações para o planejamento,
momentos de ruptura na história da literatura. Isso será elaboração, avaliação e reelaboração do texto produzi-
enfatizado, por exemplo, na parte de Literatura, durante do. No volume 1, os alunos trabalharão com o Relato
o estudo do Modernismo. Também no volume 3, no con- de experiência vivida (unidade 14, capítulo 28), com
tato com as literaturas da África lusófona, os alunos pode- a Comunicação oral (unidade 14, capítulo 30) e com a
rão constatar que são absolutamente fluentes na leitura Mesa-redonda (unidade 15, capítulo 33); no volume 2,
de textos produzidos por escritores africanos. será a vez do Debate regrado (unidade 13, capítulo 37)

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e da Fala em audiência pública (unidade 13, capítulo tratada neste estudo, preocupado essencialmente com a
38); por fim, no volume 3, aborda-se o Discurso de passagem da fala para a escrita.
orador de formatura (unidade 13, capítulo 34) e o Marcuschi, Luiz Antônio. Da fala para a escrita: atividades
de retextualização. 8. ed. São Paulo: Cortez, 2007. p. 46.
Seminário (unidade 14, capítulo 35).
Além disso, também há na parte de Produção de texto Na coleção, adotamos a palavra retextualização, em
outras propostas que, embora devam resultar em um amplo sentido, como qualquer adaptação feita a partir de
texto escrito, solicitarão dos alunos lidar com um corpus um texto-base para resultar em outro texto, seja da mes-
oral. É o caso da Reportagem (unidade 13, capítulo 27) ma modalidade (fala/fala ou escrita/escrita), seja na pas-
no volume 1; do Perfil biográfico (unidade 11, capítu- sagem da fala para a escrita ou vice-versa. No entanto, in-
lo 32) no volume 2; e da Entrevista (unidade 13, capí- teressa-nos particularmente a retextualização da fala para
tulo 33) no volume 3. Em situações como essas, terá es- a escrita, como proposta por Marcuschi, uma vez que
paço privilegiado o trabalho com a retextualização do muitos dos gêneros escritos apoiam-se em textos original-
texto oral para a modalidade escrita. mente produzidos na modalidade falada, e essa readequa-
ção de textos de uma modalidade para a outra não é algo
Esclarece Marcuschi, em uma nota ao seu livro Da simples ou banal.
fala para a escrita: atividades de retextualização:
A retextualização da fala para a escrita será solicitada
A expressão retextualização foi empregada por Neu-
aos alunos em diferentes momentos da coleção, mas é
sa Travaglia (1993) em sua tese de doutorado sobre a
tradução de uma língua para outra. O uso do termo re- especialmente tematizada no volume 1, nas partes de
textualização, tal como feito aqui, se recobre apenas par- Linguagem (Unidade 9, capítulo 19, seção Língua viva –
cialmente com aquele feito por Travaglia, na medida em A retextualização do oral para o escrito) e de Produção
que aqui também se trata de uma “tradução”, mas de uma de texto (unidade 13, capítulo 27, boxe Observatório da
modalidade para outra, permanecendo-se, no entanto, língua – A adequação de um texto oral à modalidade es-
na mesma língua. Igualmente poderíamos usar as expres- crita), e no volume 3, na parte de Produção de texto
sões refacção e reescrita, como o fazem Raquel S. Fiad e (unidade 13, capítulo 33, seção Entre o texto e o discurso
Maria Laura Mayrink-Sabison (1991) e Maria Bernadete
– A retextualização).
Abaurre et alii (1995), que observam aspectos relativos
às mudanças de um texto no seu interior (uma escrita A seguir, reproduzimos um diagrama criado por Mar-
para outra, reescrevendo o mesmo texto) sem envolver cuschi para sistematizar as operações envolvidas nessa
as variáveis que incidem no caso da retextualização como retextualização.

Modelo das operações textuais-discursivas na passagem do texto oral para o texto escrito
“” ou “  ” texto falado base (TEXTO-BASE)
a
1 OPERAÇÃO Eliminação de marcas estritamente interacionais, hesitações e partes de palavras (estratégia de eliminação baseada
 ou  na idealização linguística).
2a OPERAÇÃO Introdução da pontuação com base na intuição fornecida pela entoação das falas (estratégia de inserção
 ou  em que a primeira tentativa segue a sugestão da prosódia).
3a OPERAÇÃO Retirada de repetições, reduplicações, redundâncias, paráfrases e pronomes egóticos (estratégia de
 ou  eliminação para uma condensação linguística).
4a OPERAÇÃO Introdução da paragrafação e pontuação detalhada sem modificação da ordem dos tópicos
 ou  discursivos (estratégia de inserção).
5a OPERAÇÃO Introdução de marcas metalinguísticas para referenciação de ações e verbalização de
 ou  contextos expressos por dêiticos (estratégia de reformulação objetivando explicitude).
6a OPERAÇÃO Reconstrução de estruturas truncadas, concordâncias, reordenação sintática,
 ou  encadeamentos (estratégia de reconstrução em função da norma escrita).
7a OPERAÇÃO Tratamento estilístico com seleção de novas estruturas sintáticas e novas
 ou  opções léxicas (estratégia de substituição visando a uma maior formalidade).
8a OPERAÇÃO Reordenação tópica do texto e reorganização da sequência
 ou  argumentativa (estratégia de estruturação argumentativa).
9a OPERAÇÃO Agrupamento de argumentos condensando as ideias (estratégia de
condensação).

OPERAÇÕES ESPECIAIS: readaptação dos turnos (nos diálogos) para formas monologadas ou dialogadas.
1 2 3 4 5 6 7 8 9
        

 texto escrito final (TEXTO-ALVO)

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Algumas observações sobre as legendas para ler o na preservação de tradições não escritas (os alunos
modelo: deverão recontar, para as crianças da comunidade, nar-
a) A sequência inicial na parte superior do modelo rativas orais dos grupos indígenas, africanos ou de sua
{“” ou “  ”} lembra apenas que pode tratar- comunidade local).
-se de um texto falado monologado {“”} ou então de Reproduzimos, por fim, para auxiliar o professor na
um texto falado dialogado {“  ”} que serve de
criação de um programa efetivo de trabalho com a ora-
texto-base para a retextualização.

lidade na sala de aula, sugestões de Marcuschi para a
b) O símbolo {} posto abaixo de cada uma das 9 ope- análise de textos falados, já presentes nas propostas do
rações sugere que se pode partir desse ponto para o LD, que podem ser ampliadas em sala de aula:
texto escrito final, e o símbolo {} indica que se pode
ir à operação seguinte. 1. Audição de [...] falas das mais diversas regiões brasileiras
e de pessoas diferenciadas quanto ao sexo, idade, profis-

c) O símbolo { } na parte inferior do modelo lembra são, formação etc. Isso possibilita perceber as diferenças
que esse é o texto escrito tido como o ponto de chega- sob o ponto de vista da prosódia, sotaques, léxico, estra-
da, isto é, o texto-alvo do processo de retextualização. tégias comunicativas... [Hoje a internet é possivelmente
Marcuschi, Luiz Antônio. Da fala para a escrita: atividades a fonte mais acessível desse tipo de material.]
de retextualização. 8. ed. São Paulo: Cortez, 2007. p. 75. 2. Debate a respeito da formação do preconceito e da dis-
Durante a retextualização de textos orais para a escri- criminação linguística. Observação da variação com um
olhar não discriminatório. Identificação da fala como
ta, o professor deve investigar com os alunos que opera-
um fator que contribui para a formação de identidades.
ções estão envolvidas na adequação do texto-base para o
3. Análise da polidez e sua organização na fala. De maneira
texto-alvo. Elas dependem da finalidade prevista para o
especial observar como este aspecto interfere de maneira
texto final: se o objetivo for ter um registro escrito da ma- decisiva na qualidade da interação verbal e até mesmo na
neira como a coesão se processa em um texto falado, será compreensão e natureza dos atos de fala praticados.
importante preservar as repetições, as retomadas, as re- 4. Identificação dos papéis dos interlocutores e dos diver-
formulações, bem como as mudanças de turno (alter- sos gêneros produzidos determinando suas caracterís-
nância entre as falas de um e de outro). Se o objetivo for ticas (estruturais e comunicativas) com base em indi-
produzir um perfil biográfico, na apresentação de tre- cadores tais como, número de participantes, papéis,
chos de fala da pessoa biografada algumas marcas típicas forma de organizar os tópicos, formas de sequenciação,
da oralidade podem ser eliminadas, mas é importante tomadas de turno...
preservar as palavras e expressões que caracterizam sua 5. Discussão sobre as formas de se desenvolver os temas.
identidade. Se uma entrevista servir de base para um ar- Quais são as diferenças em relação à escrita? Muda-se
tigo de divulgação científica, deve predominar a função de tópico com mais frequência na fala e com a mesma
facilidade se retorna ao tópico anterior. Inserem-se ele-
desse gênero textual: tornar acessíveis ao público leigo as mentos com mais frequência, interrompem-se os inter-
descobertas produzidas no meio científico. Nesse caso, locutores, etc.
os depoimentos orais dos especialistas não só serão rea- 6. Identificação de alguns aspectos típicos da produção
dequados para a escrita, mas algumas palavras e expres- oral, tais como as hesitações, os marcadores conver-
sões terão de ser substituídas para garantir o entendi- sacionais (neste caso, observar que papel têm eles na
mento do texto pelo leitor. Esses são alguns exemplos marcação das frases e na organização da linguagem
das variáveis envolvidas na retextualização e de como o como um todo), as repetições de elementos lexicais,
produtor do texto terá de tomar decisões e operar com o as constantes correções (de si mesmo e dos outros), os
material bruto de acordo com as finalidades do gênero. modalizadores, os dêiticos, etc.
7. Análise de características mais marcantes da estrutura
Estão previstas, na coleção, outras seções e ativida-
linguística na fala, tal como as estruturas oracionais e
des que ajudarão os alunos a refletir sobre o valor asso- sua organização com cortes constantes, retomadas, etc.
ciado às modalidades oral e escrita em nossa sociedade
8. Atividades de reescritura de um diálogo dos que apa-
e desfazer mitos e equívocos do senso comum. Por recem nos livros em língua escrita padrão. Indicar em
exemplo, no volume 1, na parte de Linguagem, no que situações se reproduz este mesmo tipo de lingua-
capítulo 19 da unidade 9 (Da fala para a escrita, da gem que se tem pela frente num certo texto didático,
escrita para a fala); e no volume 2, na parte de Lingua- por exemplo, num diálogo. Em que é que muda, sob o
gem, na seção Articulando da unidade 7 (O valor social ponto de vista de efeito estético e de compreensão, o
da escrita). fato de se reescrever um texto?
Marcuschi, Luiz Antônio. Oralidade e ensino de língua:
Os Projetos do volume 1 também buscam contribuir, uma questão pouco “falada”. In: Dionisio, Angela; Bezerra,
no trabalho com a oralidade, quanto a dois aspectos Maria Auxiliadora (Org.). O livro didático de português: múltiplos
elencados por Marcuschi. No primeiro, na realização do olhares. Rio de Janeiro: Lucerna, 2002 p. 33-34.
“Mapeamento linguístico da comunidade”, os alunos
poderão investigar as relações entre oralidade e variação Projetos
linguística. No segundo, “Encontro de histórias”, refleti- Refletir sobre o lugar da escola na contemporaneida-
rão sobre a importância da fala na formação cultural e de é um desafio; sobretudo, se nos perguntamos qual

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deve ser o seu papel na formação dos alunos: qual é o cial, mobilizando os conhecimentos trabalhados em
sentido que sua trajetória escolar adquire do ponto de sala de aula em prol de investigar e, sempre que possí-
vista individual e coletivo? A sociedade deposita sobre o vel, propor intervenções à comunidade; a terceira, de
jovem uma série de demandas e esperanças, principal- ordem cultural, tornando o currículo um espaço de par-
mente no que tange às possibilidades de transformação ticipação, decisão e avaliação por parte dos alunos, esti-
da realidade humana e social. mulando com isso o acolhimento de formas de expres-
Nesse sentido, a escola deve contemplar ações que pos- são ligadas à cultura juvenil no contexto escolar.
sibilitem aos jovens o desenvolvimento de uma postura Abordar a problemática da mobilização e participação
autônoma diante da realidade. Os conteúdos escolares, di- de jovens na sociedade implica discutir qual o papel do
ferentemente do enfoque da escola tradicional, não podem conhecimento adquirido no ambiente escolar e qual a
constituir fins em si mesmos, mas devem promover o de- função da escola diante das demandas sociais. Se, em seu
senvolvimento de capacidades e competências que prepa- projeto pedagógico, a escola define como uma de suas
rem os alunos para o exercício de práticas cidadãs. prioridades a formação de crianças e jovens para que
Propõe-se nesta coleção uma série de atividades in- exerçam seus direitos e deveres como cidadãos de modo
tegradas em torno de seis projetos, que envolvem dis- consciente e ativo, é decisivo implementar propostas pe-
cussões, conteúdos e problemáticas abordados ao lon- dagógicas que realizem tal intento. Nessa perspectiva, o
go dos três volumes. Espera-se com isso criar condições conhecimento resultante do processo de ensino-aprendi-
para que, munidos dos saberes adquiridos ao longo zagem pode ser potencializado na medida em que, para o
dos anos letivos do Ensino Médio, os alunos investi- desenvolvimento de um projeto, os alunos trocam entre
guem suas comunidades e nelas atuem de forma plane- si ideias e saberes, respeitando as diferenças e selecionan-
jada, intencional e diretiva. do os dados de pesquisa mais significativos. A experiên-
Os projetos têm os seguintes objetivos: cia de ultrapassar esquemas teóricos já sistematizados ao
delinear problemas que fazem parte da realidade do meio
ƒƒ Contribuir para a aproximação entre a realidade es-
social em que vivem confere progressivamente aos alunos
colar e seu entorno social e para o fortalecimento de
um sentido significativo para o conhecimento.
seus vínculos;
Os projetos sugeridos nesta coleção contam com
ƒƒ Criar condições para que os alunos desenvolvam capa-
uma descrição cuidadosa de suas etapas de realização.
cidades e competências relativas à vida em sociedade;
Sugere-se que, desde o início, os alunos participem do
ƒƒ Promover sínteses parciais de conceitos, noções, re- detalhamento e do planejamento de cada etapa, a fim de
gras e conteúdos específicos trabalhados ao longo reforçar o caráter coletivo e compartilhado dessa ativi-
dos semestres; dade cujo principal objetivo é desenvolver a autonomia.
ƒƒ Desenvolver capacidades relacionadas à pesquisa
científica, tais como coleta e organização de dados, Interdisciplinaridade
sistematização, generalização, análise e interpretação Um aspecto que também deve nortear a formação
de informações; dos alunos na Educação Básica, em especial no Ensino
ƒƒ Desenvolver capacidades relativas ao trabalho em Médio, é a interdisciplinaridade. Essa necessidade é en-
grupo; fatizada na Resolução CNE/CEB n. 2/2012 e na Porta-
ƒƒ Trabalhar com formas discursivas expositivas no mo- ria n. 971/2011, que instituiu o Programa Ensino Mé-
mento de socialização de resultados; dio Inovador (ProEMI).
ƒƒ Elaborar resoluções para problemas que afetam o Segundo Gérard Fourez, pensador que se debruçou
bem comum de forma criativa, solidária, crítica e sobre o tema da integração dos conhecimentos e sua im-
construtiva; plicação na formação social dos agentes envolvidos nas
práticas escolares, há ao menos duas ordenações distintas
ƒƒ Conhecer, por meio das aprendizagens escolares, a e complementares na base de uma perspectiva interdisci-
realidade em que os alunos se inserem; plinar: uma de caráter científico e outra de caráter social.
ƒƒ Contribuir para a formação positiva da autoimagem No primeiro caso, tem-se em vista o modo pelo qual
dos jovens, convidando-os a integrar ativamente um os conhecimentos se articulam, levando-se em conta uma
grupo que se verá como um agente de integração en- visão móvel e dinâmica dos saberes, que não devem se
tre a escola e a comunidade em seu entorno. atrelar a esquemas prontos e fixos de representação e in-
Do ponto de vista curricular, os projetos que fazem terpretação dos fenômenos estudados. Uma disciplina
parte desta coleção visam a articular três grandes pers- não pode ficar restrita aos conceitos que a fundamentam
pectivas: a primeira, de ordem pedagógica, estimulando e aos saberes que a constituem, de acordo com um mode-
os alunos a construir alternativas próprias de conheci- lo tradicional de escolaridade. É decisivo entender os alu-
mento, definindo também os modos pelos quais realiza- nos como sujeitos ativos e participantes do processo de
rão e avaliarão sua pesquisa; a segunda, de ordem so- construção do conhecimento e, nesse sentido, o professor

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deve criar espaços que possibilitem aos alunos a desco- teses de seus pares, desestabilizam-nas e criam novas
berta de saberes interdisciplinares. concepções que devem ser aplicadas à realidade.
No segundo caso, o professor deve propor situações de Quando visto dessa forma, o “erro” – e também o “acer-
ensino-aprendizagem que favoreçam a construção de co- to” – não é mais do que um elemento que ajuda a compor
nhecimentos em consonância com problemáticas que afe- o diagnóstico do professor sobre as aprendizagens de seus
tam a vida em sociedade. A sala de aula torna-se um lugar alunos, sinalizando a necessidade de repensar o seu plane-
onde o conhecimento mobiliza posturas e atitudes diante jamento, de experimentar outras estratégias de ensino-
do mundo que a cerca. As ciências, especialmente as hu- -aprendizagem, de realizar de forma mais próxima a ges-
manas, devem promover pontos de contato entre si a fim tão da aprendizagem de um aluno. A avaliação, nessa
de que os alunos não fragmentem sua leitura da realidade. perspectiva, significa saber em que ponto se está e o que é
Esta coleção responde a essas considerações empre- preciso fazer para se chegar aonde se pretende.
gando uma pluralidade de estratégias. Uma delas se ma- Quando encarada dessa forma a avaliação ganha um
terializa nos dois projetos de cada volume, que levarão caráter “formativo”. Nas palavras de Elizabeth Marcuschi:
o aluno a interagir com a comunidade escolar e extraes- [...] a avaliação formativa (Scriven, 1967, apud Perre-
colar de modo a extrapolar os saberes de Língua Portu- noud, 1999:14) busca regular a ação pedagógica, conside-
guesa. Também chamamos a atenção, em boxes e seções rando cada aluno individualmente. Com base nos objeti-
específicas da coleção – como O que você pensa disto? e vos de aprendizagem estabelecidos, em atividades perma-
Ferramenta de Leitura, na parte de Literatura, e Língua nentes e nos pontos críticos identificados, propõe o en-
Viva, na parte de Linguagem –, para as relações entre os caminhamento de medidas que possibilitem a construção
do conhecimento por aqueles alunos que revelam não ter
fenômenos da linguagem e a realidade histórico-social.
atingido a aprendizagem necessária. Há respeito às dife-
Entendemos, enfim, que as Ciências Humanas em geral renças, sem que isso signifique promover a desigualdade.
(História, Geografia, Sociologia, Filosofia) devem fazer A avaliação formativa não exclui notas ou conceitos, mas
parte do repertório dos alunos no momento de investi- esses devem ser fundamentados e envolver orientações
gação linguística e estética. Ao longo dos volumes, o seguras, indicadores precisos que permitam ao professor e
professor encontrará o ícone de interdisciplinaridade ( ) ao aluno compreender o que precisa ser melhorado, o que
assinalando atividades que mobilizam conhecimentos necessita ser ensinado e aprendido.
interdisciplinares e se prestam a uma exploração cola- [...] A avaliação formativa considera o processo, envol-
borativa com professores de outras disciplinas e áreas ve a autoavaliação e não se restringe ao domínio dos con-
teúdos, mas inclui competências e habilidades.
(veja, na parte específica do manual, as páginas deste
Marcuschi, Elizabeth. Os destinos da avaliação no manual
volume que contêm o ícone e as conexões interdiscipli- do professor. In: Dionisio, Angela; Bezerra, Maria Auxiliadora
nares sugeridas por atividade). (Org.). O livro didático de português: múltiplos olhares. Rio de
Janeiro: Lucerna, 2002. p. 148.
Sobre a avaliação Um dos instrumentos mais importantes para ope-
No paradigma de uma aprendizagem centrada em con- racionalizar essa forma de avaliação é o estabelecimen­
teúdos – e premida pela necessidade de medir, de forma to de objetivos de aprendizagem claros e passíveis de
objetiva, o “sucesso” ou “fracasso” de seus alunos –, a esco- serem aferidos.
la tradicional perpetuou um modelo de “avaliação somati- Em se tratando de habilidades e competências, é ne-
va”. De caráter classificatório, seletivo e frequentemente cessátio cuidado especial para traduzir em notas ou con-
punitivo, deixava de lado aspectos importantes (hoje en- ceitos a relação entre os objetivos estabelecidos para a
tendidos como centrais) do processo educacional, como a aprendizagem e aquilo que os alunos demonstram como
aquisição de competências e habilidades e a construção de conhecimento efetivamente construído. Também é preci-
valores e atitudes. Querendo enquadrar os indivíduos em so dar peso adequado a cada aspecto a ser avaliado.
padrões preestabelecidos, baseava-se em pressupostos de Esses objetivos devem ser traçados considerando-se
desempenho estáticos, determinados antes do início do o programa de ensino de Língua Portuguesa como um
trabalho pedagógico. Segundo essa visão, os alunos eram todo, mas idealmente devem ser subdivididos em obje-
avaliados a partir de mecanismos controladores e discipli- tivos parciais, para que seja possível transformar a ava-
nadores, não havendo espaço para que o ato de avaliar liação em uma prática processual, realizada ao longo de
produzisse novas aprendizagens e descobertas. todo o ano letivo, e não apenas ao final de etapas buro-
O atual entendimento sobre como se processa a apren- craticamente instituídas.
dizagem cria a necessidade de romper com essa concep- Para auxiliar o professor na implementação desse
ção de avaliação. O “erro” deve ser encarado como parte método de avaliação formativa, este manual oferece um
fundamental do processo de ensino-aprendizagem: ele é quadro de objetivos gerais e específicos a serem atingi-
uma evidência dos processos mentais por meio dos quais dos pelos alunos durante o desenvolvimento de cada
os alunos experimentam a realidade, criam hipóteses so- capítulo. Os objetivos gerais são mais abrangentes e si-
bre o seu objeto de estudo, confrontam-nas com as hipó- nalizam competências que devem ser construídas ao

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longo de todo o Ensino Médio. Os objetivos específicos, O trecho a seguir, reproduzido de artigo de Elizabeth
voltados para habilidades e competências articuladas a Marcuschi, sintetiza o que falamos até aqui:
conteúdos de cada capítulo, indicam aspectos mais por- [...] hoje é cada vez mais forte a concepção que vê o tex-
menorizados que podem ajudar o professor a construir to autêntico (oral ou escrito) como polo mobilizador dos
uma visão do percurso a ser realizado pelos alunos. estudos linguísticos, a leitura como processo de constru-
O trabalho com Literatura, Linguagem e Produção ção de sentidos e a produção textual como uma atividade
de texto tal como pensado nesta coleção pressupõe que, exercida por um sujeito, requer planejamento, revisão
uma abertura para formas variadas de interação alunos- e refação. Se a avaliação observar a aprendizagem do aluno a
-conteúdos-professor, traduzidas não só em atividades partir desses enfoques e, em cada um deles, suas especifici-
dades, certamente estará dando uma grande contribuição
de leitura e produção de textos, mas também na forma
para que observações críticas, feitas por ele mesmo, pelo
de debates, discussões, seminários, pesquisas, projetos, professor, colegas, comunidade, aflorem e sejam encami-
trabalhos em grupo, etc. Essa variedade permite que a nhadas de forma menos punitiva e mais formativa.
sistemática de avaliação ocorra de modo dinâmico, sem Marcuschi, Elizabeth. Os destinos da avaliação no manual
que se perca o fio da progressão da aprendizagem. do professor. In: Dionisio, Angela; Bezerra, Maria Auxiliadora
A cada unidade, o manual do professor propõe suges- (Org.). O livro didático de português: múltiplos olhares. Rio de
Janeiro: Lucerna, 2002. p. 149.
tões de avaliação, baseadas em atividades propostas no
próprio livro do aluno, ou em atividades complementa- Uma reflexão acerca do binômio ensino-aprendizagem
res sugeridas no manual. A avaliação não deve acontecer pode sinalizar também para a necessidade de uma pro-
de forma isolada das práticas cotidianas da sala de aula; posta sistemática de autoavaliação docente e de parâme-
é decisivo que ela ocorra de modo contínuo. As suges- tros sobre os quais ela deve se assentar. A aprendizagem
tões de cada unidade sinalizam marcos de avaliação, in- pode ocorrer de forma dissociada de qualquer tipo de
dicando ao professor que aspectos do processo de apren- ensino formal. Muitos processos de aprendizagem se dão
dizagem podem ser aferidos em cada situação: na relação entre pares ou simplesmente pelas vivências
compreensão e aplicação de conceitos, proficiência na do sujeito em seu contato com o mundo.
produção de textos orais e escritos, habilidade para tra- A palavra ensino, no entanto, é intrinsecamente ligada
balhar em grupo, capacidade de autoavaliação e de ava-
ao termo aprendizagem: não se pode dizer que alguém
liação do outro de forma crítica, ética e construtiva, entre
“ensinou” algo se, na relação pedagógica que necessaria-
outros. Sugere-se que o professor estabeleça focos de
mente se supõe pelo uso da palavra, o outro sujeito en-
avaliação da aprendizagem, construindo um instrumen-
to por meio do qual seu olhar se dirigirá especialmente a volvido não “aprendeu”. Resumindo: pode-se aprender
determinadas habilidades e competências. Isso lhe dará com ou sem ensino, mas não se pode ensinar sem que
mais segurança, também, no momento da devolutiva haja aprendizagem.
para o aluno. É preferível que as devolutivas ocorram Esse deve ser o termômetro do professor quanto à qua-
por meio de atividades pontuais, mas de forma clara e lidade do seu ensino: se a maior parte dos alunos, ou uma
orientada para a melhoria dos aspectos identificados parte considerável deles, não alcança os objetivos de apren-
como insuficientes. Idealmente, todo aspecto avaliado dizagem propostos, isso indica que algo precisa ser revisto
deve, após o diagnóstico do professor e o estabelecimen- em relação a estratégias de ensino, abordagem de conteú-
to de novas estratégias para o alcance dos objetivos pro- dos, encaminhamento dos trabalhos, tipos de atividade,
postos, ser submetido a nova avaliação. forma de avaliação, entre outros procedimentos.
A maneira como o professor e a escola avaliam é o es- Dessa forma, as ações de avaliação dos alunos são, na
pelho da educação que valorizam e da concepção do mesma medida, ações de autoavaliação do professor.
processo de ensino-aprendizagem que praticam. Se os Com base nos objetivos traçados, os dados colhidos a
estudantes são avaliados somente de maneira indivi­ partir dos marcos avaliativos estabelecidos para cada con-
dual, corre-se o risco de se formarem alunos que pouco junto de atividades devem indicar “em que ponto se está
desenvolveram a capacidade de trabalho coletivo. Se a e o que é preciso fazer para se chegar aonde se pretende”.
avaliação é sempre dispersa no grupo, cada aluno nunca
vai ter clareza sobre as especificidades do seu processo Trocas de experiências entre professores da mesma
de aprendizagem, sobre sua maneira particular de área podem ser muito valiosas para se pensar em cami-
aprender. Se a avaliação é usada para premiar e punir, nhos alternativos, partilhar situações de ensino-apren-
torna-se uma espécie de competição entre os alunos, dizagem bem-sucedidas, buscar subsídios teóricos e
rompendo assim qualquer vínculo de solidariedade. metodológicos para reorientar a prática, quando neces-
Para que a avaliação se torne produtiva, deve ser dialó- sário. Na parte específica deste manual, a seção Forma-
gica, valorizando em igual proporção as atividades indi- ção continuada oferece uma gama de indicações de tex-
viduais e as coletivas, as atividades de avaliação do pro- tos teóricos, livros, filmes, músicas e sites relacionados a
fessor, de avaliação entre pares e de autoavaliação. Deve, este volume que podem contribuir para o professor re-
ainda, abrir espaço para a criatividade, a participação e pensar sua prática em sala de aula, renovando de forma
o questionamento, atitudes que caracterizam o jovem. permanente seu interesse pela docência.

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Anexo – Síntese das seções e boxes
A presença de seções fixas na coleção auxilia o andamento do trabalho em sala de aula. Cabe ao professor flexi-
bilizar a realização das atividades, variando-as de acordo com seus objetivos e as necessidades de seus alunos.
Seções em capítulos
Nome da seção Breve descrição Utilizações possíveis
• Promove diálogo entre textos de duas linguagens artís-
ticas: a literatura e as artes plásticas. • Pedir aos alunos que analisem os textos e discu-
tam as questões em pequenos grupos, trocando
Sua leitura
• Solicita a observação de recursos expressivos próprios impressões iniciais.
de cada linguagem e estimula a busca de relações
(seção inicial) • Pedir aos alunos que analisem a imagem de
formais e temáticas entre as obras analisadas.
abertura da unidade e a relacionem com os textos
• Promove a ativação de conhecimentos prévios e anteci- desta seção.
pa elementos do contexto de produção a ser estudado.
• Apresenta a análise de alguns elementos de texto literá-
rio representativo do período estudado e pede ao aluno
• Exercício individual ou exploração coletiva do
que complete a análise observando outros elementos.
texto pela classe, com a mediação do professor.
Uma leitura • Estimula as capacidades de localização de informações,
• Em grupos, formular mais uma ou duas questões
Literatura

produção de inferências, recuperação da situação de


sobre o texto, que devem ser respondidas pelos
produção do texto, réplica ativa, percepção de relações
demais grupos.
de interdiscursividade e de intertextualidade e elabora-
ção de percepções estéticas.
• Tomar textos apresentados como referência para
formação de repertório historiográfico.
Ler o [estilo de • Destaca alguns elementos fundamentais do estilo lite- • Após o estudo dos capítulos dos autores filiados à
época] rário que conferem identidade à unidade. estética, retomar a seção para observar pontos de
ruptura e descontinuidade entre obras/autores e
características do estilo de época que prevalece-
ram no período.
• Propõe leitura de um ou mais textos literários, de um • Tomar textos apresentados como ponto de partida
Sua leitura ou mais autores. para apreciação mais abrangente sobre o estilo e
(capítulos • Explora relação do texto com seu contexto de produção as singularidades de cada escritor.
autores) (valores, ideias, visões de mundo, ideologias) e singula- • Ajudar professor e alunos a selecionar obras
ridades da obra. literárias a serem lidas integralmente.
• Realizar os exercícios individualmente, em casa
• Exercita a aplicação dos conceitos estudados por meio
ou na sala de aula.
Prática de da análise de textos de gêneros variados.
linguagem • Função diagnóstica: avaliar se os alunos se
• Sistematiza conceitos por meio da investigação signifi-
apropriaram dos conceitos estudados e se sabem
cativa de sua relação com efeitos de sentido.
aplicá-los na leitura de textos.
• Avaliação processual. Por se tratar de exercício
• Problematiza um aspecto específico dos conhecimentos mais longo, com investigação sobre usos efetivos
Linguagem

gramaticais construídos no capítulo, por meio da da língua, mobiliza diversas habilidades.


Língua viva análise de um texto mais longo.
• Atividade individual ou em duplas.
• Aborda aspectos textuais e discursivos em sua relação
com as categorias gramaticais. • Reservar tempo em sala de aula para a correção
das atividades.
• Privilegia a modalidade escrita da língua, dando maior
destaque a um aspecto em cada volume. • Promover trabalho articulado entre as partes do
Em dia com a
LD. (Exemplo: no volume 2, o uso de numerais
• No primeiro ano, focaliza-se a convenção ortográfica; como recurso coesivo é abordado no capítulo 24
escrita no segundo ano, ganham espaço os fatores de textuali- de Linguagem e no capítulo 34 de Produção de
dade; no terceiro ano, a pontuação é investigada como texto (boxe Observatório da língua).
fator de coesão e de produção de expressividade.
• Propõe leitura de texto como ponto de partida para a
• Trabalhar diferentes estratégias de leitura: inferên-
investigação de aspectos ligados à situação de produ-
Leitura cias a partir do título, ativação de conhecimentos
ção, à estrutura composicional e às marcas linguísticas
prévios, elaboração de esquema, resumo, questões.
do gênero.
Produção de texto

Ler um • Solicita a observação de elementos do texto de leitura • Esmiuçar exemplar do gênero textual estudado.
[gênero] que instrumentarão a produção de textos do gênero. Outras questões podem ser acrescentadas.
• Realizar coletivamente a análise dos comentários
Entre o texto e • Evidencia estratégias empregadas nos textos lidos.
sobre o texto apresentado.
o discurso • Aprofunda análise de aspectos textuais ou discursivos.
• Fazer exercícios individualmente ou em duplas.
Produzir um • Propõe atividade de produção (proposta, planejamento, • Trabalhar cada etapa da produção com igual rigor,
[gênero] elaboração, avaliação, reescrita/reelaboração). enfatizando a reescrita/reelaboração.

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Boxes de atividade
Nome do boxe Breve descrição Utilizações possíveis
• Acompanha excertos de textos literários entremeados à • Exercício coletivo mediado pelo professor.
Margens do
Literatura

exposição teórico-conceitual, chamando a atenção para • Em grupos, formular mais questões a serem
texto
determinado aspecto temático ou de estilo. respondidas pelos demais grupos.
• Leva o aluno a articular conceitos e noções presentes • Promover debate.
O que você
em determinado período literário com problemáticas • Avaliar capacidade de posicionamento do aluno
pensa disto?
referentes ao contexto contemporâneo. (pedir redação individual de parágrafo).
• Propõe articulação entre as partes de Linguagem e • Transportar critérios de análise a outros textos.
Linguagem

Usina literária Literatura, abordando aspectos linguísticos dos textos • Buscar outros textos literários cuja expressivida-
literários e seus efeitos estéticos. de se relacione a elementos semelhantes.
Texto em • Propõe pequena produção textual, integrando reflexão
• Realizar a atividade em duplas.
construção linguística e competência escritora.
• Propõe a observação de aspecto linguístico • Motivar os alunos a identificar, em textos traba-
Prod.
texto

Observatório da
especialmente presente no gênero, promovendo lhados em outras disciplinas, os mesmos aspec-
língua
articulação entre Linguagem e Produção de texto. tos linguísticos.

Seções de fim de unidade


Nome da seção Breve descrição Utilizações possíveis
Literatura

Ferramenta de • Apresenta conceitos de outros campos das ciências hu- • Envolver o professor da disciplina relacionada
leitura manas para aplicação na leitura de texto literário. ao tema na compreensão dos conceitos.
• Apresenta antologia comentada de textos de diferentes • Solicitar que alunos ampliem a coletânea da
Entre textos
períodos, línguas de origem, tradições, gêneros, etc. unidade com textos pesquisados por eles.
• Propõe debate regrado, com base na reflexão crítica • Realizar trabalho com gênero debate regrado.
Linguagem

Articulando
sobre questões polêmicas e relevantes da língua. • Convidar outras turmas e especialistas.
A língua tem
• Apresenta aspectos curiosos ou engraçados das línguas. • Realizar as atividades em grupos, em sala.
dessas coisas
Todas

Vestibular • Apresenta seleção de questões e de propostas de redação • Organizar pequenos simulados e, depois da
(e Enem) dos principais exames vestibulares e do Enem. atividade, corrigir respostas com os alunos.

Boxes de ampliação e sistematização


Nome do boxe Breve descrição Utilizações possíveis
Ling.

• Solicitar aos alunos que avaliem se as regras


• Evidencia regras próprias de variedades não padrão,
Diversidade das variedades deles estão mais próximas da
de forma não prescritiva ou valorativa.
norma-padrão ou das apresentadas no boxe.
Prod. texto

• Pedir aos alunos que criem no caderno um


Ling./

• Sistematiza ou constrói conceitos apresentados no quadro de conceitos de cada capítulo.


Anote
capítulo ou decorrentes das atividades realizadas. • Pedir aos alunos que também produzam sínte-
ses depois de atividades ou leituras.
• Discutir com os alunos circunstâncias concretas
• Introduz informações sobre a situação de produção de
Prod.
texto

Situação de da produção de textos, localizando-os em con-


cada gênero (quem produz, para quem, com que perio-
produção texto social, histórico e ideológico e detalhando
dicidade, espaço de circulação/suporte, etc.)
motivações que determinam a produção.
• Estímulo para revisão ou para uma primeira
• Explicita articulações conceituais ou temáticas entre
Hipertexto abordagem dos temas, com ênfase na articula-
as três partes do LD, com remissões.
ção entre conhecimentos de cada parte do LD.
• Dá dicas de músicas que se relacionam à época, aos • Levar as músicas para a sala de aula (verificar
Fone de ouvido
autores, às obras ou aos temas estudados nos capítulos. de antemão as condições técnicas).
• Dá sugestões de leitura de obras a partir das quais se • Ler trechos das obras em voz alta, em sala.
Livro aberto
pode promover um trabalho de intertextualidade. • Estimular os alunos a procurar obras na biblioteca.
Todas

• Dá dicas de filmes que se relacionam à época, ao • Programar sessões de cinema (verificar de


Sétima arte
autor, às obras ou aos temas estudados nos capítulos. antemão as condições técnicas).
Passaporte • Fornece indicações de sites relacionados aos assuntos
• Propor pesquisa complementar na internet.
digital discutidos no capítulo.
• Apresenta informações históricas e culturais pertinen- • Aprofundar trabalho com boxes, sugerindo leitu-
Repertório
tes ao assunto estudado. ras, pesquisas ou atividades complementares.
• Esclarece conceito que não é necessariamente parte
Vale saber • Aprofundar o tema do boxe.
do conteúdo, mas ajuda a compreendê-lo.

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Bibliografia geral recomendada
Para que o professor possa dar prosseguimento a sua formação, indicamos abaixo alguns textos que, de forma
geral, aprofundam as concepções que nortearam a formulação da presente coleção.
Afonso, Almerindo Janela. Avaliação educacional: regula- bdcamara/785/estatuto_crianca_adolescente_7ed.
ção e emancipação – para uma sociologia das políticas pdf>. Acesso em: 4 maio 2013.
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Casanova, Pascale. A república mundial das letras. Trad. Jauss, H. R. A literatura e o leitor: textos de estética da
Marina Appenzeller. São Paulo: Estação Liberdade, recepção. 2. ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2002.
2002. ________. História literária como desafio à ciência literá-
Chartier, R. A ordem dos livros: leitores, autores e bi- ria. Vila Nova de Gaia: José Soares Martins, s.d.
bliotecas entre os séculos XIV e XVIII. Trad. Mary Kleiman, A. B. Texto & leitor: aspectos cognitivos da lei-
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