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Há quem chegue até mesmo a inutilizar as tão disputadas doses contra a covid-19.
Nos Estados Unidos, um farmacêutico de um hospital em Wisconsin destruiu
propositalmente mais de 500 doses do imunizante da Moderna, deixando os frascos
fora da geladeira por horas.
BBC News Brasil - Durante meses o presidente Jair Bolsonaro adotou um discurso
antivacina, desestimulando a imunização contra a covid-19. Já houve na História um
chefe de Estado abertamente contra a vacinação em plena pandemia?
Mesmo quem tinha opiniões contra vacinas, ao chegar ao poder passava a defender a
imunização. Em termos históricos, o que vimos são chefes de Estado e de governo que
se engajam a favor das vacinas e que defendem os progressos da medicina e da
imunização. De Napoleão Bonaparte, que quis vacinar suas tropas, ao prefeito de
Nova York, nos anos 40, que tomou vacina diante de fotógrafos durante uma epidemia
de varíola na cidade para incentivar os habitantes a fazer o mesmo, em geral os
governantes seguiram os discursos pró-vacina.
Mesmo durante o conflito Leste-Oeste foi assim. Na época da Guerra Fria, quando
existia o risco de apertar o botão nuclear, os países do Leste aceitavam a entrada
de médicos de organizações humanitárias ocidentais e da Organização Mundial da
Saúde para realizar campanhas de vacinação contra a poliomielite e a tuberculose.
Esses países travavam uma disputa contra os Estados Unidos, mas deixavam entrar em
seus territórios médicos americanos para vacinar a população.
BBC News Brasil - O presidente Bolsonaro chegou a dizer em tom jocoso que as
pessoas poderiam ter problemas como virar jacaré, ao comentar possíveis efeitos
colaterais da vacina da Pfizer/BioNTec. É o mesmo tipo de argumento utilizado pelos
primeiros movimentos antivacinas há mais de 200 anos?
Vignaud - Ele disse isso? É incrível. Realmente esse é um discurso contra a vacina
muito antigo, do final do século 18. Afirmava-se que o homem se transformaria em
animal por causa do imunizante. Caricaturas da época da vacinação contra a varíola
mostravam vacas que saíam de braços humanos e também vacas que cuspiam pessoas
vacinadas.
BBC News Brasil - Esse discurso do presidente brasileiro martelado durante meses
pode reforçar os movimentos antivacina e influenciar a campanha de vacinação no
Brasil?
Os líderes considerados populistas não saíram ilesos durante esse ano de pandemia.
Penso que o ex-presidente americano, Donald Trump, perdeu as eleições em parte por
causa disso. O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, soube se adaptar, mas
será complicado para ele, sobretudo porque há uma forte evolução da pandemia no
país. Para esse tipo de líder, a gestão da urgência é algo complicado. Como
geralmente funciona na base de declarações não comprovadas, às vezes a realidade se
impõe ao discurso simplista.
Agora Bolsonaro mudou o discurso. Eles são obrigados a fazer isso porque estão numa
lógica de seguir a vontade do povo. Se deixarem o povo morrer, como aconteceu com
Trump, custa caro em termos políticos.