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J.J.

Gremmelmaier

Zumbido

Edição do Autor
Primeira Edição
Curitiba
2018

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Autor; J. J. Gremmelmaier
Edição do Autor
Primeira Edição
2018
Urbanos
CIP – Brasil – Catalogado na Fonte
Gremmelmaier, João Jose
Zumbido / Romance de Ficção /084 pg./ João Jose Gremmelmaier / Curiti-
ba, PR. / Edição do Autor / 2018
1 - Literatura Brasileira – Romance – I – Titulo
85 – 62418 CDD – 978.426
As opiniões contidas neste livro são dos personagens e não obrigatoriamente asse-
melham-se as opiniões do autor, esta é uma obra de ficção, sendo quase todos ou todos os
nomes e fatos fictícios (ou não).
©Todos os direitos reservados a J.J.Gremmelmaier
É vedada a reprodução total ou parcial desta obra sem autorização do autor.
Sobre o Autor;
João Jose Gremmelmaier, nasceu em Curitiba, estado do Paraná, no Brasil, formação
em Economia, empresário por anos, teve de confecção de roupas, empresa de estamparia,
empresa de venda de equipamentos de informática, mas também trabalhou em um banco
estatal.
J.J Gremmelmaier escreve em suas horas de folga, alguns jogam, outros viajam, ele
faz tudo isto, a frente de seu computador, viajando em historias, e nos levando a viajar jun-
tos. Ele sempre destaca que escreve para se divertir, não para ser um acadêmico, ele tem
uma característica própria.
Autor de Obras como Fanes, Guerra e Paz, Mundo de Peter, Trissomia, Crônicas de
Gerson Travesso, Earth 630, Fim de Expediente, Marés de Sal, Anacrônicos, Ciguapa, Magog,
João Ninguém, Dlats e Olhos de Melissa, entre tantas. Capaz de criar um universo todo pró-
prio de personagens. Ele cria historias que começam aparentemente normais, tentando
narrativas diferentes, cria seus mundos imaginários, e muitas vezes vai interligando historias
aparentemente sem ligação nenhuma. Existem historias únicas, com começo meio e fim, e
existe um universo de historias que se encaixam, formando o universo de personagens de
J.J.Gremmelmaier.
Um autor a ser lido com calma, a mesma que ele escreve, rápido e continuamente.

Zumbido
Conto rapido, daqueles que nunca consegui um fim, escrevi e não
me convenci da historia, vamos falar de uma infecão, e das aventu-
ras de Manoel Maier.

Agradeço aos amigos e colegas que sempre me deram força a continuar a es-
crever, mesmo sem ser aquele escritor, mas como sempre me repito, escrevo para
me divertir, e se conseguir lhes levar juntos nesta aventura, já é uma vitória.

Ao terminar de ler este livro, empreste a um amigo se gostou, a um inimigo


se não gostou, mas não o deixe parado, pois livros foram feitos para correrem de
mão em mão.
J.J.Gremmelmaier
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©Todos os direitos reservados a J.J.Gremmelmaier

J.J.Gremmelmaier

Zumbido

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Estamos no futuro, ano, pode ser ano que
vem, pode ser na década que vem, pode ser
apenas nos universos de J.J.Gremmelmaier.
A cidade foi tomada por uma peste, pes-
soas começam a se portar estranhas, e em
meio a isto, grupos se isolam, a historia come-
ça dentro de um grupo de sobreviventes des-
tes, vamos contar a vida de Manoel Maier,
brasileiro, morador de uma cidade isolada, ao
fundo, ele via os restos do que foi a maior ci-
dade de sua nação, hoje queimando, mas em
sua função, verificar se os limites de isolamen-
to estão protegidos, até se ver fora do local,
tendo de sobreviver.

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Manoel, olha para o segurança,
que lhe fala olhando o veiculo.
— Problemas senhor?
— Não, inspeção de frequência,
acho isto uma chatice.
— Os pneus?
Manoel sorriu e olha os pneus e fala.
— Até os meus pneus furam, tive de trocar e aproveitei para
trocar todos.
— Mantem a atenção senhor, podem não ter falado, mas um
grupo saiu semana passada e não voltou.
— E foram onde?
— Verificar porque tinha uma interferência no abastecimento
de agua, a agua voltou ao normal, mas eles não voltaram.
— Ninguém foi lá os tirar?
— Por aqui não saíram senhor Manoel.
Manoel olha que verificam o veiculo, verificam suas credenci-
ais, seu sangue e viu que estavam mais alertas, algo estava errado e
ninguém falou nada.
A 6 meses, foram de um problema que parecia controlado a
um caos, lembra de estar a praça com sua companheira, e aquele
grupo de pessoas começarem a se aproximar, os dois se afastaram,
mas era estranho, eles falavam por zumbidos, não pareciam violen-
tos, mas quando começavam a violência, aquele som, um zumbido
quase constante, eles quebravam, batiam, matavam.
Manoel e sua companheira, Maria, se esconderam e deixa-
ram os seres passar, viram pessoas mortas, gente que parecia ser
infectado por aquilo, duas semanas entre o evento e conseguirem
sair de lá, fez Maria ter uma infecção na perna, ela se alastrou e o
que parecia nos primeiros dias curável, duas semanas, quando os
resgataram, a forçou ter de amputar a perna, ela teve um ataque
cardíaco e não aguentou, ele não escolheu a função, da cidade de
São Paulo a frente, poucos sobreviveram, a cidade queima a 6 me-
ses, as vezes viam a violência vir no sentido deles, mas ainda esta-
vam tentando se organizar, e obvio, as vezes perdiam gente para
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esta coisa estranha que os atacou, algo que ainda parecia sem sen-
tido a Manoel, ainda mais vendo os seres passar ao longe, por duas
semanas, eles pareciam procurar respostas com aquele som estra-
nho, e não olhavam aos olhos, pareciam perdidos, como se algo
estivesse errado a sua mente.
Lembra da primeira vez que olhou aqueles olhos, totalmente
azuis, como se não existisse a parte branca, a própria parte negra,
as vezes tendia ao azul, e quando eles ficavam violentos, a primeira
coisa que se percebia era aqueles rostos azulados, naquele momen-
to era bom não estar no caminho.
Ninguém falou sobre as causas, apareceu dois dias antes os
primeiros casos, a mídia estava ridicularizando aquilo, dizendo que
eram riquinhos tentando defender-se de uma atrocidade, e dois
dias depois viu aquilo pelos olhos atacar pessoas ao parque, duas
semanas de horror até um grupo de pessoas se organizarem e tira-
rem eles de lá.
Estava em uma base isolada ao norte da cidade, as vezes viam
a violência pelos vidros de observação a cidade, as vezes ouvia
aquele zumbido alto, vindo no sentido da base, era quando se es-
condiam na parte baixa da antiga sede de preparação de coman-
dante, era quando mais ficava nervoso.
Ele põem a veste de proteção, e entra no carro, o liga e vê
eles deslacrarem a porta e começa a sair lentamente, viu os rapazes
fecharem rápido e viu o caminho cheio de obstáculos, ele Aciona o
sistema e alguns abaixam a rua, ele passa e voltam a se erguer, olha
pelo retrovisor, a proteção se erguendo e via apenas a praça de
observação ao longe, a rua a frente, mais a frente estava com restos
de um edifício, ele caíra a duas semanas, algo pegou fogo rápido e
ele veio a baixo, se fosse por ali ele teria de abrir o caminho na força
do motor, liga os sistemas e começa a avançar lentamente, ele nun-
ca teve pressa, ele fazia isto a cada três dias, uma volta naquela
grande quadra, as barreiras estavam erguidas, mesmo não vendo
nada, os nervos ficavam tensos, ele não tinha ideia do que poderia
acontecer.
O sair ao sul, era sempre tenso, ruas estreitas, mas olha para
o prédio lateral de vigília e o rapaz faz sinal para ele avançar.

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Manoel lembra quando chegou na região, nunca tinha vindo
no sentido norte da cidade, e somente depois de passar o portão,
entendeu o quanto era um lugar melhor.
A resistência, em 30% era composta de policiais formados na
base onde nos instalamos. Nas primeiras semanas, revessando em
grupos de 10, trabalhamos 24 horas e construímos um muro a toda
volta da base da policia militar de Barro Branco, uma imensa qua-
dra, após o muro derrubado, em alguns pontos, derrubamos as
casas mais encostadas e vazias, pois tinham de olhar para fora do
muro, eles na época puxaram para dentro carros próximos, não
sabiam o quando aquela ação que fora apenas para abrir o caminho,
as vezes facilitava obter pneus melhores.
A saída era por um ponto que haviam derrubado todas as ca-
sas rentes a base, do muro até a praça Caetano Alves.
A rua estava suja, mas silenciosa, Manoel temia mais o silen-
cio, mesmo de dia, do que barulho que lhe fazia se localizar.
Ele vira a esquerda, passa pela pequena praça, olha para o
prédio que fora de treinamento e hoje é o de observação para a
cidade a frente, Joãozinho, faz sinal que estava livre sobre a torre
de observação e Manoel começa a pequena jornada, que durava
quase duas horas, ele passa ao lado da associação dos policiais e
começa a subir a Parada Gonçalves, verificando o muro, olhava
atento o muro, e as linhas de proteção pós muro, na altura do posto
de gasolina, o muro fechou o muro para dentro do terreno, mas ele
verifica o estado do muro e do portão de segurança, por onde as
vezes, roubávamos um caminhão de combustível e entravamos por
ali.
A parte tensa, era quando ele tinha de se afastar do muro,
entrando para a cidade, para fazer umas quatro quadras e voltar a
um ponto que ele olhava a frente, não mais de 150 metros, mas que
lhe deixava tenso.
O passar por ruas desertas, aquele silencio, o fazia ouvir a sua
respiração, os médicos que estavam no grupo, não sabiam o que
estava acontecendo.
Ele volta a olhar a base, olha a entrada norte, o muro que an-
tes não existia, lembra das arvores que derrubaram, para não facili-
tar a subida, e a pequena saída, para se um dia, precisassem sair por
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ali, pelo retrovisor, olha as montanhas do parque estadual da Canta-
reira, lembra que Maria falava para fugir para lá, mas ele não che-
gou nem a o acompanhar até ali, levada pelo destino, e sozinho, não
iria.
Estava a avançar quando passa pela região do canil da policia,
lembra que eles tiveram de sacrificar, eles de alguma forma pega-
vam aquilo, os olhos ficavam azuis, mas eles pareciam perder a vi-
são e começam a morder tudo a volta, como se tentando se defen-
der, foi triste aquele dia.
Ele termina a parte norte e começa a descer a Nova Cantarei-
ra e olha aqueles seres mais a frente, para o carro, eles estavam
calmos, mas como caminhavam a frente, indo para o centro, sem
interagir, ele apenas parou o carro, não teria como enfrentar todos
e nem queria atrair mais deles.
Olha que eles pareciam desviar obstáculos apenas quando to-
cavam nele, não sabia se para sentir o que era, ou aquilo os prejudi-
cava a visão,
Como estava parado, ele pega o binóculos e começa a obser-
var, sabia que o carro era espelhado, então eles viam a eles quando
olhavam ao carro, alguns se assustavam, mas apenas dois deles
passaram pelo carro se juntado ao grupo, se ouvia os resmungos,
aquele zumbido clássico, Manoel não entendia isto ainda.
Parado no ponto oposto, meia volta ainda a dar, elo observa
e vê ao longe, na avenida, para cima do ponto que estava, o carro
do grupo que saiu, estava largado a rua, mas não tinha sinal de que
haviam pessoas por perto, e não tinha ordens de verificar.
Ele olha para a cidade ao fundo, parecia uma cidade morta,
queimando, nada de novo.
Ele estava com a frase de que saíram pessoas semana anteri-
or, porque não falaram nada? Ele sabia que deveriam ter ido verifi-
car outra coisa, não apenas a agua, embora fosse o caminho de
grandes dutos do Cantareira para a cidade.
Ele teria de esperar os seres terminarem a sair da avenida,
então verifica todos os lados, um prédio as costas, a quase 200 me-
tros começa esfumaçar, vira isto acontecer em muitos, sistema de
gás sem uso, por algum motivo da um problema simples e desenca-
deia a queima de um prédio, ele olha com o visor para a estrada ao
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fundo e volta a olhar aquele carro aparentemente abandonado em
meio a rodovia, não tinha nada a volta, tirou uma foto e voltou ao
serviço.
Desce a Nova Cantareira, ele não tinha certeza do que pode-
ria os salvar, as vezes parecia que era apenas adiar o inevitável, já
que ninguém parecia saber o que estava acontecendo.
Ele passa na avenida, olhando o muro, vendo que estava in-
tacto, com todo cuidado, pois naquela altura tinha o hospital na
parte interna, e se via os restos das casas derrubadas, fazendo uma
montanha, depois o arames farpados e depois o muro de 4 metros,
olhando agora parece fácil ter feito tudo isto, sinaliza para Roberval
na guarita e ele faz sinal que está livre, Manoel dobra ao lado da
Americana, e começo a voltar para as ruas apertada do bairro, passa
pela frente da Academia da Policia Militar do Barro Branco.
Para, olha em volta, muro estável, as barreiras colocadas, ve-
rifica em volta e começa a retornar.
Ele volta e um dos rapazes lhe indaga.
— Demorou, algum problema?
— Não, um grupo de 20 desciam a Nova Cantareira e não quis
chamar a atenção deles.
Eles tiram uma amostra de seu sangue e ele vai a sala de ali-
mentação, não tinham mais de 800 pessoas ali, cada uma com uma
função, diziam eles, mas Manoel sabia que alguns pareciam não ter
função nenhuma, talvez o tedio fosse um problema para alguns.
A comida parecia que iria acabar, pois naquele fim de tarde
foi apenas polenta com molho, nada nem para acompanhar.
Sabia que parte da provisão, a principal, era dedicada ao hos-
pital ao fundo, mas a barriga reclamou no fim daquele dia.
Manoel estava sentado quando Henrique chega a mesa, um
senhor bem apresentável, que resolvera organizar aquilo, e gerar
uma resistência, ele olha Manoel e fala.
— Precisamos conversar Manoel. – O senhor tinha sempre
aquele uniforme de comandante com a designação Santos, mas
todos o chamavam de Henrique, e se ele não falava sobre isto, pou-
cos iriam perguntar, pois realmente ali alguns tentavam se mostrar
como iguais, outros, queriam ainda impor diferenças sociais.
— Problemas?
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Ele apenas olha o prato e sacode a cabeça afirmativamente.
— O que precisam?
— Estamos ajeitando 4 carros, o Pedro saiu com um grupo a
semana passada, para obter mais alimentos, e não voltaram, vi as
fotos que mandou no relatório do dia, parece que eles tiveram pro-
blema com o carro a menos de um quilometro do muro.
Manoel sabia que poucos ali se arriscavam do lado de fora,
ele agradeceu por ter um lugar, mas aquele lugar lembra ele a mor-
te de seu amor, ainda era difícil, mas não tinha para onde fugir ain-
da.
— O que pretende Henrique, pois não podemos perder gente
estrutural, entendo que minha falta aqui dentro eles não sentiriam.
— Não seja modesto.
— Não sou, mas o que precisa.
— No sentido do litoral, Pedro havia achado um deposito de
comidas abandonado, ele disse que seria fácil, ele passou uma men-
sagem que estava saindo de lá, e some, não tem rastros do cami-
nhão que deveria ter junto, como o carro.
— Ele e quem sumiram?
— Carlos e Jonathan.
— Certo, e vou sozinho?
— Vou dispor de dois carros, se der para conseguir um a mais,
vamos conseguir, mas conto com você.
— Pode contar Henrique, apenas avisa quando, e saímos no
sentido da comida, sei que sem comida as pessoas começam as
reclamações.
— Algo a volta?
— Mesmo os seres, parecem afastados.
— Estranho não ter vindo ajuda de lugar nenhum, nos primei-
ros dias achei que chegaria, agora, parecemos ser os últimos lúci-
dos.
— Vamos tentar focar no que é preciso Henrique, consegue 3
pessoas e um carro, eu vou a frente e eles me seguem, mas tem de
avisar eles, eu avanço lentamente.
Henrique sorriu, e Manoel terminou de comer a polenta.
No começo da noite, sempre tinha um grupo de policiais, que
fazia treino nos restos de duas construções, nunca soube se eles
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construíram daquele jeito mal acabado para fazer treinamento, ou
apenas usavam pois estava sem acabamento.
Após a morte de Maria, Manoel começa a se dedicar a tentar
entender de tiro, ele não se considerava ainda nem razoável, isto o
fazia fazer testes de tiros, e estes, eram feitos naquele lugar, antes
de entrar, não se ouvia nada, paredes bem isoladas, quando se en-
trava, se ouvi tiros, muitos tiros, ele achava que todos estavam ten-
sos e precisavam relaxar, as vezes temia na hora H faltar bala, mas
balas e não saber atirar também não lhe adiantava.
Ele faz seu treino, e vai ao alojamento, improvisado, mas que
comparado a escondido uma hora num lugar, outra em um pior.

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Como toda manha, Manoel
olha para fora, sobe na construção
frontal ao local, ele olha aquela ci-
dade, cada dia uma parte pegava
fogo.
Henrique para ao seu lado e fala.
— Vai sair hoje, o que observa?
— Porque os rádios estão mudos, porque nada veio nos auxi-
liar, porque parece, que até os ratos estão morrendo, não tem uma
ave no ar senhor, a duas semanas ainda existiam pombos, hoje,
nem eles estão por ai.
— Queria entender de medicina, mas os médicos falam que
não entendem, uma hora a pessoa está boa, na outra ora, começa a
mudar de cor e ficar agressiva.
— Mas isto mata? – Perguntei.
— Se infectou? – Henrique assustado.
— Pelo que disse, ninguém sabe a volta se estamos infecta-
dos, mas senhor, se não mata, onde eles estariam?
Henrique olha para a cidade.
— Em prédios pegando fogo.
— Ou não, mas a pergunta é porque sempre eles estão indo
ao centro, nunca saindo de lá, o que eles estão fazendo, onde estão,
pois garanto que não quero passar por uma região com milhões
deles senhor.
Henrique olhou para trás e falou.
— Manoel, este é o capitão Ramalho, subtenente Marta, sol-
dado Cristiano, eles tem treino em tiro, então eles vão lhe dar co-
bertura neste afastar.
Manoel não falou nada, mas não gostou, não era um grupo
de pessoas procurando comida, e sim dispostos a matar para conse-
guir comida.
Capitão Ramalho olha Manoel e fala.
— Sabe obedecer ordens.
— Me esforço senhor, se acharem que não sou capaz, reco-
mendo pegarem alguém mais treinado.
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Manoel olha para Henrique que fala.
— Ele comanda, falou em ir a frente, mas o capitão acredita
que vocês podem o proteger a retaguarda.
Manoel começava a se arrepender de ter topado ir para esta
missão, mas não falaria, talvez o tedio fosse o maior problema ali.
O capitão olha para ele e fala.
— No carro dentro de meia hora, esteja lá.
Manoel se levanta e se despede de Henrique.
— Se não voltar, cuida das crianças, embora seria triste este
grupo ser o ultimo de humanos no planeta, mas odeio ter de pensar
nisto.
Manoel vai a seu alojamento, pega a pequena arma que trei-
nava, o pouco de balas que tinha, e se olha em um retalho de espe-
lho a parede.
— Talvez esteja não hora de ir encontrar Maria.
Ele põem as coisas em uma mochila e desce para o carro, ele
coloca a arma no porta malas, olha para os pneus, para a proteção
frontal, e enche o tanque.
O rapaz da vigília olha para ele e fala.
— Se cuida Manoel, sei que algo está acontecendo.
— Porque?
O rapaz não falou nada, mas olhou para a entrada, Manoel sai
pela entrada e olha aquela imensa leva de baratas, todas mortas no
caminho, ele olha para a ponta, ratos mortos, eles tentaram fugir
dos esgotos.
— Mantem todos alertas, e liga as câmeras a toda volta, po-
demos precisar entrar por outro ponto.
O capitão chega ao local e olha Manoel.
— Enche o tanque.
— Está cheio senhor.
— Do meu veiculo, não do seu.
Olhei para Serginho da vigília que fala.
— Estão cheios senhor.
Manoel sentia que o senhor não o queria levar, isto queria di-
zer, não era parte da equipe, ele manda a moça acompanhar e fala.
— Vamos sair, tem de tentar nos acompanhar rapaz, lá fora é
para fortes.
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Quase que Manoel disse que não iria, mas olha a moça que
fala.
— Vamos.
— Assume ao volante Marta.
Manoel olha o capitão e fala.
— Se não me quer lá senhor, é só falar.
— Não quero, e não tenho opção, me impuseram lhe levar,
não pense que não deixo pessoas para trás.
Manoel entrou no veiculo, eles estavam armados, mas não
lhe indicaram uma arma, então ele não pegou, a moça entrou e
Manoel falou.
— Vamos por que lado Subtendente.
— Subtenente Ramos, para o senhor.
— Fiz algo de errado?
— Se fizer, lhe mato lá mesmo.
Manoel olha para o rapaz na entrada, eles não olharam, não
esperaram ele verificar, abrem a entrada e saem, sem nem verificar
perímetro, Manoel que sempre fizera com toda calma e segurança
olha o senhor gritar com o rapaz do comando.
— Baixa de uma vez estas proteções.
Eles baixam e o senhor acelera e pega a direita, ele iria direto
a Nova Cantareira.
A moça o segue, vejo eles fechando a entrada, verifico o pe-
rímetro, e olho aqueles insetos mortos.
— Nunca viu baratas, um marica. – Marta.
Manoel não comentou, mas quando entram na nova Canta-
reira, viram aquele grupo vindo, eles não pararam, o capitão a fren-
te, acelera e sobe na viatura e atira nos seres, e passaram rápido,
eles nem olharam se eram infectados, embora 90% fosse, sabia que
se este fosse o grupo que os resgataria, eles teriam morrido.
Manoel não estava armado, não parecia entender a função
dele naquilo, talvez ele não tivesse entendido, até a moça parar o
carro, apontar a arma para ele e falar.
— Corre.
Quando ela destrava a arma, ele sai pela porta rápido e co-
meça a correr no sentido dos seres, Manoel ainda ouve.
— Depois dizemos que o perdemos.
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Manoel olha os seres, eles desciam a Cantareira, e ele para de
correr, e passa por eles, eles zumbiam baixo, mas eles sabiam que
ele não era um infectado, nunca estivera tão perto deles, mas os
carros começam a armar as armas e Manoel começa a correr, talvez
os seres tenham entendido como sinal de perigo, pois eles começa-
ram a correr também, mas eles corriam em todos os sentidos, pare-
ciam sem noção de distancia.
Manoel chega a altura do mercado quase na esquina da Tar-
novischi, olha as portas arrobadas e atravessa ela, o cheiro de podre
do local, estabelecia que as coisas apodreceram e não foram comi-
das, isto estava a 100 metros do muro que ajudou a construir, por-
que não pegaram, ou eles se organizaram após, não tinha respostas,
mas as prateleiras fora aquelas das carnes, estavam todas vazias,
correu pelos corredores, vendo uma luz no fundo, pensou em ser a
saída, e ouviu o pessoal começar a correr.
Ele olha o muro e pensa se eles sabiam que ele seria deixado
para morrer, a foram que Henrique se despediu, eles sabiam, eles
estavam se livrando de um peso, ele tentava negar isto, mas sabia
que eles o colocaram para correr, ainda em uma área que as câme-
ras dos muros pegavam.
Manoel sai pela porta, olha ao fundo a Mansão Capricho, ele
apenas passa do lado, tenta manter a calma, ouve os tiros, ele ca-
minha subindo a rua paralela, muita coisa atravessada, muito inseto
morto ao chão, cães mortos, gatos e pássaros, mortos, o cheiro não
era só no mercado de coisas apodrecendo, era a toda volta.
Olha para pessoas mortas, olha uma parada a porta da man-
são, ela se fazia de morta, ele a desviou, e ouviu.
— Onde estão os desgraçados, vou matar todos.
Olhei o senhor, ele estava com os olhos azulados, a pele co-
meçando a azular, e uma arma de grosso calibre a mão, eu não que-
ria enfrentar aquilo então começo a recuar, vi o senhor descer um
óculos escuros, olhar em volta e começar a puxar o gatilho.
Se ouvia agora o senhor atirando, me arrasto no canto, fico
atrás de uma arvore imensa e espero ele parar de atirar.
Ouvi os carros pararem a frente e o capitão olhar para ele e
falar.
— Está bem senhor?
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— Matando estes desgraçados.
Não sei o que capitão pensou, mas ouvi o destravar da arma
no carro e ouvi o senhor puxar o gatilho, ouvi pelo menos um res-
mungo de dor, e não sei quem foi, mas vi os dois carros darem ré,
pelo barulho, com os pneus estourados.
Na rua abaixo, olhava os seres, eles começavam a ter raiva, e
não sabia o que aconteceria, teria de ficar bem quieto, olho para a
porta da casa e o senhor estava morto.
Entrei na casa e olho a quantidade de gente morta, por tiros
rápidos, ali não fora ação da doença e sim de algo tentando desinfe-
tar a região.
Lembrei nesta hora que os rapazes haviam me falado de con-
certo da agua, e o senhor de problemas de comida.
Eles poderiam estar mandando pessoas em missões suicidas,
para se livrar do peso.
Atravesso a casa e olho do outro lado da avenida, o capitão e
a Subtenente, tinha um corpo sobre o capô, ele não ouvia a conver-
sa dos dois, mas era nítido, que algo bem estranho estava aconte-
cendo.
Eles dirigem lentamente e Manoel vê os pneus estourados, os
quatro, detonaram lataria e pneus de seu caro, sacanagem.
Manoel atravessa a rua e olha os seres comendo aquelas ba-
ratas mortas ao chão, estanha aquilo, e continua tentando passar
desapercebido.
Olha um grupo mais violento chegar a eles e começarem a
bater nos mais fracos, estanha como a violência toma todos e co-
meçam a se agredir mutuamente e violentamente.
Manoel olha para o sobrado a frente e a atravessa para os
conjuntos residenciais, não parecia ter ninguém olha para o céu,
deveria estar perto do meio dia, e teria de conter forças.
Entra em um e começa a subir as escadas, todas as portas ar-
robadas, sobe até o ultimo andar, olha para a avenida ao fundo e
olha para os dois carros parados.
Manoel pensou se eles precisavam de ajuda, as vezes ele que-
ria não ser tão irracional, mas olha para um pacote de bolacha a
ponta, estava mole, ele olha para a porta e teve a sensação de ter

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alguém, se arrepiou e viu um cão, parecia muito magro, tentando
latir, estava fraco.
Manoel passa o olho e fala.
— Tem alguém aqui?
Uma cabeça se coloca para fora, na cozinha, desconfiada,
com um taco de beisebol na mão, Manoel passa a vista e deveria ser
uma criança, não tinha mais de 10 anos, como teria sobrevivido
mais de 60 dias isolada.
— Está invadindo.
— Desculpa, apenas me localizando.
— Está comendo minha bolacha.
Manoel solta a bolacha e fala.
— Estou de saída.
— Não posso deixar você dizer onde estou.
Manoel entendeu que o menino achava que teria de lhe ma-
tar, e não adiantaria argumentar.
— Está sozinho a quanto tempo?
— Não estou sozinho.
Manoel olha o cão rosnar para ele, e viu mais 3 surgirem a
porta.
— Merda. – Fala Manoel sem sentir.
— Acha que consegue escapar deles, alguns tentaram, mas
eles são bons nisto, ainda mais com fome.
Manoel olha que os olhos do menino eram normais, ele esta-
va reagindo, para sobreviver, mas para ele sobreviver, teria de ter
uma forma de sair dali.
— Se não sair menino, vou acabar com sua casa.
— Esta não é minha casa, vimos que entrou e entramos, pre-
cisamos de comida, o senhor é a comida.
Olhei para a Janela, 6 andares, subi pela escada, estava can-
sado, estava isolado, e sabia que algo estava errado, ouço os carros
começarem a andar de novo, e sabia que me mandaram para a
morte, se voltar podem dizer que não, mas se não voltar, eles esta-
rão mais felizes, Manoel achava que até o menino estava com ra-
zão, lembra de sua amada, foi fugindo de pessoas normais, que ela
levou o tiro na perna, depois toda a complicação, talvez eles tives-
sem razão.
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Mas Manoel não gostava de morrer, os cachorros estavam a
porta, o menino, na cozinha, deveria ter entrando junto, ou estava
mentindo, olha em volta, pega uma espécie de abajur e joga contra
a porta, os cachorros recuaram um pouco, ele chega rápido ao me-
nino e segura o taco de beisebol, ele mordeu com força seu braço,
Manoel sorriu e falou.
— Morde como uma menininha rapaz.
Ele me olha o inverter e os cachorros parecerem na duvida se
avançavam, o coloquei a frente e comecei a andar no sentido dos
cães, eles pareciam bravos mesmo, eles inverteram olhei para a
escada, comecei a descer, e olho para o menino e falo.
— Quer mesmo morrer por um teimoso?
— Não tem como vencer.
— Se os demais lhe verem, acaba sua festa menino.
Ele olha em volta, estava descendo de costas a escada, agora
com o taco de beisebol na mão e chegamos a entrada, o menino me
olha assustado, os seres estavam ali, ele olha os cães e fala.
— Subam rápido.
Estranhei, mas eles obedeceram, eu empurrei o menino e ele
sai correndo para cima, ele para um pouco e olha Manoel virar-se e
apenas olhar para os seres e ir saindo, passando por eles.
O menino volta a subir, e tranca a porta.
Manoel sai empurrando eles, pareciam serem inertes, que
não ofereciam perigo, mas algo os infectou, e Manoel agradeceria
se não o infectasse, mas não teria certeza.
Manoel vai a avenida, estranha os seres arrastando tudo para
ela, a briga ao fundo parecia dividir dois grupos, mas ambos, queri-
am aquele trecho intransitável, ele sobe como se procurando onde
os corpos estariam, ou onde o capitão estaria, ele saíra para conse-
guir uma coisa, descobrir o que estava acontecendo com o grupo
que viera antes.
Ele chega ao carro do grupo inicial, ele olha em volta, o que
ele estranha, era o não ter ninguém por perto, Manoel olha para os
prédios ao fundo e o menino estava olhando para ele.
Entra no carro e olha que bem ali, acabara a gasolina, mas da-
li para baixo, eles teriam uma chance de chegar, se tentassem, olha
os seres arrastando as coisas para o meio da rua mais abaixo, e pe-
18
nas que a duas semanas, eles tinham feito isto também, lembra que
mandaram ele verificar.
Ele olha em volta e ouve alguém falar ao fundo.
— Mandei correr.
— Quer me matar, a vontade. – Manoel olhando o grupo fe-
char a rua e Marta chegar até ele.
— Eles pelo jeito foram cercados, e não conseguiram passar.
Manoel lembra da bolacha, estava mole, mas não tão mole
para estar ali a 60 dias, ele olha em volta e fala.
— Quer voltar, aproveita Subtenente Ramos, daqui a pouco,
será noite.
— Parece não os temer.
— Eles não sabem nem quem são, mas eles estão destruindo
tudo.
— Eles querem que tentemos passar.
Ela estava armada, ela me aponta a arma e fala.
— Corre e abre o caminho.
— Atira, eu vou dar a volta.
Manoel olha para a moça que fala.
— O capitão disse que iria dar a volta e não apareceu, man-
dou eu guardar posição.
— Foram treinados ali, pois parecem sem treino militar ne-
nhum moça.
— As vezes, as coisa não saem como achamos que via acon-
tecer, mas Reinaldo queria uma saída, aquele lugar está condenado,
tem muita gente para manter a boca cheia, Henrique mandou abrir
um caminho para sair, Pedro foi primeiro, agora nós, pois a comida
e a agua acabaram ali.
— E quem é Reinaldo.
— Capitão Ramalho.
Manoel riu, olha em volta e viu aquele menino vindo a rua pe-
los fundos e olhar para os cães.
— O que pretende senhor, você não tem medo das coisas.
— Sobreviver, está naquela janela a muito tempo.
— Quase um mês.
— De onde conseguiu a bolacha.

19
— Um pessoal desceu a rua, pouca coisa, um furgão de coi-
sas, mas um grupo parecia os perseguir os mataram quando não
conseguiram passar neste ponto direto.
Marta olha o menino e pergunta.
— Morreram todos?
— Não entendi, mas o senhor que os matou falou que não
podiam deixar os demais descobrir onde era a base deles.
— Não é muito pequeno para estar sozinho a rua? – Marta.
— Não é muito fraca para se dizer policial militar?
Manoel olha para a moça, ela não tinha braços de quem fize-
ra academia, diria que seus braços eram menores do que de Maria.
Ela aponta no menino e Manoel ergue a arma travando e falo.
— Vocês são malucos, quer atirar e todo aquele pessoal co-
meçar a achar que estão sendo atacados?
— Ele me desacatou.
— E o que fiz, já que sei que a ordem era me matar?
— Pode não saber, mas viu de mais, Henrique mandou dar
um jeito em você.
— Vi demais?
— Você fotografou o veiculo de Pedro, este aqui parado, ele
não gosta de pessoas que olham para o lado.
— Então não quero estar na base que ele está comandando.
Manoel começa a subir a rua, ele chega ao carro da moça,
olha em volta, seu carro mais exatamente.
Ela chega a ele e pergunta.
— Os dois carros pifaram.
Manoel olha o menino vindo e fala.
— Qual casa tem algum carro menino?
— O colégio, mas ele não tem bateria, não dá partida.
Ele entrou no pátio do colégio, tudo sujo e revirado, ele olha
para uma sala, viu os rapazes, encostados a parede e fuzilados, o
menino olha o estado de inchado e fala.
— Que desperdício de carne.
Marta olha para ele revoltada, ele aponta para o fundo e Ma-
noel olha aquele carro e fala.
— Vamos ver se conseguimos ir ao norte antes de anoitecer
totalmente.
20
— Não iria dar a volta? – Marta.
— Se não me querem lá, porque voltaria.
— Mas as ruas são perigosas.
— São, sei disto, fiquei quase duas semanas esperando um
milagre, perdi minha companheira graças a isto, e começo a descon-
fiar por que.
Manoel foi na parte externa, tirou a bateria de seu carro, pe-
gou o galão ao fundo, a mochila e levou ao carro, joga uma bolacha
inteira para o menino e fala.
— Senta nos fundos.
— E o Tob?
— É sua responsabilidade menino.
Manoel põem a arma na cintura, ajeita a bateria no lugar, co-
loca combustível no veiculo e dá a partida, demorou para dar a pri-
meira volta, mas quando funcionou, a moça entrou e falou.
— Pelo jeito não é apenas um palerma.
— Vamos.
O menino colocou os três cachorros no banco de trás, esta-
vam fedidos, e me olha comendo a bolacha e dividindo com os ca-
chorros.
— Você tem comida? Como?
— Este é a minha única refeição, estamos saindo de um lugar
por falta de comida, não por perigo.
Manoel olha o caminho, toda vez que parecia os grupos, eles
paravam e esperavam ele passar, e mal haviam saído do Colégio, ali
estavam as criaturas, Marta olha para Manoel e pergunta.
— Porque eles não atacam?
— Eles não enxergam, mas se todos começam a se agredir,
todos se defendem, e dai, é violência gratuita, é como se você esti-
vesse em um tablado de luta, sabe que tem outros ali, mas não os
enxerga, quando eles começam a lhe bater você bate de volta para
não morrer.
— Aquele velho na mansão parecia enxergar. – O menino.
Manoel não pareceu entender também, mas ele na primeira
chance, pega para a direita e começa a retornar, pela vila Albertina.
— Achei que iria desviar pelo outro lado.
— Iria, mas bem ao fundo vinha uma luz, fraca.
21
Era fim de tarde anoitecendo, Manoel entra em uma rua se-
cundaria e apaga a luz.
Marta olha para os carros bem ao fundo passarem no sentido
do ponto que estava a barreira, Manoel com as luzes apagadas,
começa retornar, atravessa a rua e para no ponto alto que dava
para ver pouco, ele sai do carro, olha o prédio alto e começa a subir
andar a andar do prédio, mas antes, desliga os gás no subsolo.
Ele sobe, o menino veio junto, Marta ficou no carro e o meni-
no pergunta.
— Ela é de confiança?
— Vamos, temos de olhar de cima.
Chegam a um apartamento no décimo andar, e olham para o
grupo na parte baixa, o capitão estava cercado, 6 veículos, os seres
ao fundo, não se ouvia o que falavam na parte de baixo e Manoel
escuta o menino falar.
— O grandão está dizendo que ele não roubou nada.
Manoel olha ele com o binóculos na mão, observando e per-
gunta.
— São os do outro dia?
— Sim.
Manoel olha em volta, ele estava bem alto, ele não teria mui-
to o que fazer, ele olha para Marta a porta do carro, ela estava na
duvida se ia no sentido do capitão dela.
Manoel olha uma concentração de seres no canto observan-
do, e vai a cozinha, pega um saco e coloca todas as panelas nele e
gira no ar e torce para chegarem o mais próximo dos seres na parte
baixa, o menino não entendeu, até ouvir o barulho das panelas, os
seres começarem a se agitar e o pessoal se armar, pois eles come-
çam a se bater e começam a ir para a avenida, quando o grupo de
um lado começa a fazer aquele Zumbido no ar, violentamente, vi-
ram Marta começar a subir, e os seres surgirem de todos os lados,
estava a olhar quando os rapazes começam a dar tiros, os tiros,
chamaram mais atenção, o menino olha para Manoel e ele não
olhava para a confusão e sim para o muro ao fundo.
Manoel viu as câmeras pegarem o movimento, mas ninguém
se apresentou, ele sempre ficava na parte oposta, mas dali dava
para ver os andares do hospital, que diziam precisar de mais comi-
22
da, pois estavam com pessoas feridas, tenta lembrar da operação
de sua amada, não fora feita ali, ele olha e o prédio estava total-
mente escuro, sem movimento algum.
O menino olha para Manoel e fala.
— Faça o que fizer, mas nunca entre naquele lugar.
Manoel olha sem entender.
— Por quê?
— Eu escapei dali, eles comem gente, eles levam para dentro,
eles dizem que são do bem, mas dai alguém sempre morre sem
explicação, eu vi meu irmão morrer, eles aplicaram algo nele e o
coração dele parou, eles não sabiam que estava olhando, eles corta-
ram ele, tiraram a pele e separaram em porções.
Manoel para na afirmativa, ele vira sua amada ter um ataque
de coração, mas porque o mandaram para fora então?
— Será que estou infectado? – Fala Manoel sem perceber.
— Porque acha isto?
— Eles me tiraram de lá e me mandaram correr, se estivesse
bem, eles não teriam servido aos demais? – Manoel pensando na
morte de sua amada, ele tentava achar algo que não se encaixasse
nisto, e ouve a moça a porta.
— Soube como que eles descobriram que está infectado?
— Eles não me transformaram em carne para oferecer aos
demais.
— Que nojo, eles não fariam isto. – Marta.
— Segundo o menino, fizeram isto com o irmão dele, ali, on-
de todos vocês dizem ser um hospital.
Marta olha o menino e fala.
— Não inventa.
Manoel desvia para baixo o binóculos de visão noturna e olha
que existem duas pessoas vivas, mas o capitão está estático demais
sobre o capô, o calor diz, vivo, talvez ele seja mais esperto do que
Manoel pensou.
Os demais estava caindo, e Manoel fala.
— Se é para ajudar seu capitão, vai, eu não pretendo morrer
lá, mas com dois veículos vocês saem fácil.
Marta olha para Manoel e pergunta.
— Tem certeza?
23
— Já me consideram morto, se estou mesmo infectado, vou
me afastar até do menino, mas vai, não sirvo nem de comida.
Marta sai, o menino olha Manoel e fala.
— Não quero descer.
— Não disse que precisa ir, deixa eles se matarem sozinhos
menino, por sinal, como é seu nome?
— João Nelson Ferreira.
— João Nelson Ferreira, vamos fazer um trato?
— Trato?
— Sim, você não me mata e eu não lhe mato, assim que der,
vamos fugir deste inferno.
— Acha que tem saída?
— Prédios grandes são mais perigosos, o fogo mata mais que
a peste, mas pelo jeito sabe disto.
— Sim.
— Vamos com calma, mas teremos de descansar.
— Acha que ela vai embora mesmo.
— Vamos descer 4 andares e nos colocar em um lugar que ela
não saiba que estamos.
— Não confia nela.
— Ela queria me matar, acho que nem ela entendeu o que
você falou, sobre o fim da carne.
— Acha que menti?
— Não, mas faz sentido, a única carne não infectada era dos
humanos internos naquele lugar, toda vez que saiamos, eles nos
examinavam antes e depois, quando deu algo, eles me colocam
para fora muito rápido, eles não queriam arriscar.
— Você morava lá.
— Eu não via as mortes, apenas uma carne moída misturada
na polenta.
— Que nojo.
Manoel concordou, sentiu o estomago revirar, mas como não
tinha nada nele, por isto não vomitou.
— Acha que vai se tornar um destes seres?
— Acho, é um acho, bem sem noção, que não.
— Por quê?

24
— Se fosse para me transformar em um, já teria me trans-
formado, se eles fossem médicos de verdade, talvez soubessem de
algo, mas a sensação que tenho, é que um grupo tomou o prédio,
no meio da confusão, e foram atraindo, como você falou, comida
para eles, até o dia que acabou.
— E não lhe mataram porque acham que você está infectado,
seria isto.
— Quem sabe, pode ser, mas como disse, não existe somente
esta chance, existem muitas, mas se for mudando, é só sair calma-
mente, viu por si, eles são violentos até gastarem as energias, não
sei de onde eles tiram energia, mas acabam batendo com força,
levando tiros, sei que já os vi comendo aquelas baratas no chão.
— Eu quase experimente para ver se era bom. – João.
Manoel sorriu.
Eles desceram e em um armário eles colocam as coisas, en-
tram com os cachorros e adormecem, teriam de descansar.

25
Manoel acorda com o lamber
de um cachorro, que parecia ter
comido carniça, ele afasta o mesmo
e olha o menino com sua arma o
apontando a mesma.
— Acha que acredito que sua carne não é boa para consumo?
Manoel sorriu e perguntou.
— O capitão já saiu?
— Sim.
— Então vamos tirar da rua a carne que veio os atacar ontem,
antes que apodreça.
O menino olha estranho e fala.
— Mas não vai ter nojo?
— Acho que sim, mas quem sabe você me explica como o fa-
zer, pois sei que podemos passar fome, mas vamos agitar a região.
— Os dois subiram, eles olharam as peças, eles acham que sa-
ímos de alguma forma, mas não entendo o que eles querem?
— Nem eu, descobrir onde tem um segundo grupo de sobre-
viventes e tomar o lugar, quem sabe fazendo o que fizeram ali, as-
sumem, matam os demais, comem tudo que eles tinham e vão ao
próximo ponto.
O menino estava com a arma e Manoel a pega e fala.
— Depois lhe ensino a destravar e atirar.
— Não tem medo?
— Já perdi tudo na vida menino, do que posso ter medo.
— Se vamos tirar os corpos, tem de ser antes do pessoal ao
longe.
— Eles vieram quando? – Manoel.
— Quando aconteceu, eles apareceram logo depois do grupo
abrir a rua, não entendi, parecem quase programáveis, pois eles
abrem e fecham a rua, não entendo, as vezes parecem não enxer-
gar, as vezes, enxergar tudo.
Manoel pensou se desceria, mas começa a descer e olha para
os carros bem ao fundo, ele tira a bateria de um, de um segundo,

26
pede para o menino levar para o colégio, quando eles tiraram a
quarta bateria, ficam ao colégio e Manoel fala.
— Mas levaram apenas os rapazes do outro lado?
Manoel olha o menino olhando aqueles seres entrando, ar-
rastando um corpo, sem o ver, eram muitos, e pensa se eles não
queriam chamar muita atenção, fiz sinal para ele subir e fomos ao
segundo piso e perguntou.
— Sabe ler lábios?
— Meu pai era surdo mudo, minha mãe me ensinou Libras e
leitura labial.
— Onde eles estão?
— Não sei se minha mãe sobreviveu, mas meu pai é um se-
nhor de vermelho, ali no fundo, entre os seres.
Manoel olha para um veiculo abrir caminho e colocarem os
rapazes mortos em um carro e olharem em volta, o medo nos olhos,
as armas nas mãos.
— Estão falando que viemos para o colégio e fomos seguidos
pelos seres. – João.
Manoel olha o grupo se agrupar e começar a sair, o menino
olha Manoel estranho e se afasta.
— Fiz algo menino?
— Eles falam que é uma grande perda sua saída.
— Qual deles falou?
— O com uniforme de policial.
— Acho que está encenando para os demais menino, ele me
mandou para a morte.
O pequeno João olha em volta e fala.
— Porque parece que sempre as coisas estão fora do contes-
to senhor, parece que eles sabem que estamos aqui, mas somente
quando se desequilibram nos atacam?
— Não sei, mas as vezes podemos levar azar, pois se alguém
começar a ficar nervoso, parece quase passar a todos.
O menino fez gesto com as mãos para Manoel ficar quieto, e
ele olha em volta e ouve aquele Zumbido baixo e começam a sair,
chegam ao pátio do colégio e viram o Capitão olhando os dois, Mar-
ta estava apontando uma arma para os dois, o menino olha a moça
e faz um gesto com a mão, ela não viu acontecer nada.
27
— Pensei que era burro rapaz, pensando que eles lhe salvari-
am, quando eles põem para fora a ordem é não voltar, se não tiver
algo para oferecer. – Capitão Ramalho.
A moça olha para os seres a volta e fala para o capitão.
— O que fazemos Capitão?
— Eles são um atrativo, vamos sair, eles que se virem sozi-
nhos.
Manoel estranhou, eles estavam usando-o e o menino.
— Eles não sabem o que fazem ou estão nos usando senhor?
— Não sei.
Manoel olha em volta e chega ao estacionamento dos carros
ao fundo, olha para um em particular e fala.
— Hora de pensar menino.
— Pensar?
— 90% dos carros não tem bateria, alguém os tirou, não é ba-
teria descarregada, é sem bateria, o supermercado ali atrás, estava
totalmente vazio, apenas carnes que não teriam como fazer rápido,
estavam lá apodrecendo, os insetos, ratos, aves, gatos e alguns cães
morreram, se olhar em volta, ate os pombos, mortos, os seres pare-
cem melhor alimentados que eu e você.
— Eles comem a barata ao chão.
— Talvez, mas não parece lógico.
— O que pensou? – O menino.
— Estamos isolados, não sabemos se fora da cidade é assim.
— E porque não nos tirariam?
— Não sabemos, podemos estar infectados, podemos estar
em quarentena, embora faça mais de 40 dias, mas porque os seres
põem e tiram as coisas da rua?
— Não sei, eles fazem isto toda semana, de 2 em dois dias.
—Dois em dois dias?
— Sim.
Manoel chega a um banheiro ao fundo, pega uma peça na
mochila de roupa, toma um banho, olha o menino e pergunta.
— Não se cuida menino?
— Eles pareciam não atacar os com cheiro deles, mas você
não tinha o cheiro e passou por eles.

28
— Cheiro de medo, eles atacam, isto é quase uma ação de
cães, mas não entendi ainda a ideia deles atacarem às vezes, às
vezes não.
Manoel chamou os cães, usou um sabonete no local e os deu
banho, e o menino fala.
— Não tenho roupa para trocar.
— Vamos conseguir, toma um banho que consigo um unifor-
me do colégio ao fundo.
O menino parecia estar com um uniforme, Manoel não sabia
a quanto tempo o menino estava assim, mas o indicou um banho
depois de lavar os cães que vão para o sol ao fundo, para secar-se.
Ele entra na parte que parecia vender uniformes e pega 4 pe-
ças e uma mochila, coloca tudo, tinha duas toalhas do colégio, re-
torna e passa para o menino, ele seca-se e se olha.
— As vezes tenho medo de parecer normal.
— Vamos pegar um carro daqueles e começar a seguir as di-
cas, não sei ainda o que fazer, mas vamos dar uma volta, talvez
grande, mas precisamos saber se é apenas aqui.
Manoel coloca uma bateria num dos carros que tinha tirado,
tinha uma arma sem munição na parte alta, era aberto, então olhou
o menino, que assoviou e os cães veem e com calma saem no senti-
do que vira os demais virem.
Ao fundo, o capitão olha para Marta e fala.
— Onde eles vão?
— Não sei, mas ele sabe que a comida ali está acabando, eles
podem ter levado gente, mas tem muita gente para aquela quanti-
dade de comida.
— O que faremos?
— Henrique não chamou nem o senhor, nem nós, então ele
nos considera fora, vamos.
— Acha que ele aceitaria a nós novamente?
— Não sei, mas este Manoel parece querer algo, ele não veio
a passeio, ele está saindo ao fundo como se estivesse indo a uma
festa, olha em volta, ele parece que não estava no problema.
— Acha que ele entedeu algo?
— Não sei, vamos o seguir.

29
Os dois começam a sair enquanto Henrique olha pelas câme-
ras e Joãozinho fala.
— Onde eles vão?
— Não sei, mas quem é o menino?
— Não sei senhor, ele pelo jeito estava enfiado em uma mati-
lha, para sobreviver.
— São os únicos cães vivos, os demais morreram Joãozinho.
— Eles vão agora no sentido que o grupo veio, mas não sei se
darão uma grande volta ou algo assim.
Henrique olha os seres começarem a limpar o caminho, não
entendia aquilo ainda.
Manoel dirige na rua, ficava fácil saber por onde eles vieram,
pois estava aberto naquele sentido.
— Vamos onde? – João.
— Vamos despistar.
— Nos seguem?
O casal se passando por policiais.
João olha para traz e logo a frente, atravessam a rua entrando
em um posto de gasolina, Manoel olha o pessoal esperar mais ao
fundo, eles não queriam parecer estar seguindo algo, mas ficou bem
visível isto.
Manoel tira a lateral do tanque e começa a bombear a gasoli-
na, ele enche o tanque, e pega umas embalagens de saco plástico e
as enche.
— Acha que não tem combustível no caminho?
— Não sei, mas este carro é um improviso, então logo o
abandonaremos, mas não quer dizer que não vamos longe.
O menino viu Manoel ajeitar o carro e falar.
— Vamos olhar em volta.
O menino não entendeu, mas Manoel viu que os carros ainda
estavam ao estacionamento do mercado, começou lento e deve ter
se proliferado muito rápido, ele olha para dentro do mercado e viu
movimento e fala.
— Tem gente ai.
— Mas podem ter comida.

30
Manoel olhava os carros, ele olha um com comida na parte
do porta malas, arromba a porta e tira os pacotes, tinham coisas
podres, mas viu bolachas, sacos de comida e foi isolando.
Se via o movimento do lado de dentro, olhando para o carro,
a sensação que a arma estava disposta para aquele lado, pegaram
poucas coisas e saíram.
João queria pegar mais e Manoel falou.
— Vamos, mortos não comem.
Ele olha serio e saem dali, pegando a Maria Amélia, viram
dois senhores virem a entrada olhando, pareciam saudáveis, mas
com medo.
João olha que Manoel logo a frente, vendo que estavam ten-
tando lhe dar distancia, entra em uma garagem de ônibus, ele olha
o menino atravessando o pátio.
— Vamos pegar algo que nos de mais tração.
Manoel nem ouviu direito isto e ouviu um tiro, ouviu um dos
cachorros resmungar e o menino se encolher.
Manoel pega a arma e acelera para o fundo, não sabia quem
estava ali, mas tinha mais de um e estavam atirando.
Ele entra na garagem do fundo, e olha o menino.
— Entra.
— Tem seres lá dentro.
— Sei disto, deixa o que se machucou no carro e entra, eu o
sigo.
O menino entra, dois cachorros o seguiram e fecha a porta,
um dos cães parecia ter levado um tiro de raspão.
Manoel olha para um grupo de pessoas entrando, olha um
deles, usavam a mesma veste do grupo que atacara o capitão.
Manoel deita no chão e se arma e fala gritado.
— Não me forcem matar gente saudável.
Um senhor que corria começa a caminhar, e olha para Mano-
el.
— Área restrita.
— Verdade, eu sou funcionário, o senhor é quem?
— Não vamos dividir nada com invasores rapaz. – Fala outro.
Manoel não era bom em tiro, então estava esperando que os
rapazes chegassem mais perto.
31
Manoel olha os rapazes puxarem as armas, pensou que iriam
atirar nele, mas sentiu as miras bem acima dele e começaram a
atirar, viu os seres começarem a passar por ele, e os rapazes come-
çarem a sair, meio com medo.
Manoel olha para os seres passarem por ele, deitado ao chão,
alguns pisaram nele, mas ele se manteve firme, sem grande movi-
mento, as vezes era tenso pensar em ficar inerte.
Ele se levanta e começa a entrar, muitos saíram dali, pareci-
am ter se escondido ali, andando em grupos.
Manoel olha para o grupo olhar ele ao longe, como se esta-
nhando, e olha os seres se acotovelarem em um barracão de ônibus
mais na entrada.
João o toca pelas costas e ele dá um salto de susto.
Ele olha o menino assustado e o mesmo ri.
João olha ele e pergunta.
— O que viemos fazer aqui.
— Eu trabalhava aqui menino, parece uma eternidade.
— Certo, veio pegar algo?
Caminham até o fundo e viu os 5 caminhões de resgate de
ônibus dispostos, ele continuava estranhando a ausência de bateri-
as, e ali não era diferente.
Ele pega o combustível e começa a abastecer um dos veícu-
los, enquanto ele entra na parte de traz, olha as baterias de reserva,
testa duas delas, e sorri.
Manoel imaginou que quem tirou as baterias não imaginou
que ali tinham baterias reservas para ônibus que eles usavam,
quando a mesma dava defeito no meio do caminho.
Ele coloca a bateria no lugar, pega mais duas, põem no fundo
e fala.
— Verifica se foi serio o machucado.
— Não quero o sacrificar, é um amigo.
— Sei disto.
Os seres se afastaram, Manoel enche o tanque e começa a
pensar por onde sair, para ir ao norte, o melhor caminho ainda era a
Fernão Dias.
Ele chega ao carro, olha o menino fazendo carinho e falando
baixinho.
32
— Vai ficar bem, já passamos por coisas piores.
Manoel não imaginou o que o menino quis dizer com disto,
mas sabia que o menino era apegado aos cães, talvez eles foram a
família que o permitiu sobreviver estes 6 meses.
Manoel pega o mesmo no colo e fala.
— Senta no carro, e assovia para os demais.
— Não quero o deixar.
— Não falei em deixar.
O menino olha Manoel erguer o mesmo, que sentia dor, pe-
gara na coxa traseira do mesmo, levanta o mesmo e fala para o me-
nino sentar e colocar o sinto, ele coloca e coloca em seu colo o cão e
fala.
— Tenta não soltar ele.
Manoel deu a volta e olha para o pessoal a frente, teria de
passar por ali, ele liga o caminhão e começa a buzinar, os seres no
barracão a frente começam a se agitar, o menino viu que Manoel
iria provocar os seres e fechou bem as janelas, os cães ao fundo
pareceram tensos com um deles ferido.
Os seres começam a caminhar para a estrada, ainda falavam
baixo, mas pareciam não querer ser perturbados e aquele som
atrapalhava suas conversas, ou fosse o que fosse que falavam.
O grupo a frente parece fazer sinal para sair, ele começam a
recuar e aquele grupo de mais de 300 pessoas com peles azulada
escura, olhos bem azuis, jeito estranho, dolorido de andar, come-
çam a avançar, o grupo foi a frente e Manoel chega calmamente a
rua, o grupo começa a recuar, eles recuaram pela Maria Amélia e
ele subiu lentamente pela Manuel Gaya e para a poucos metros, ele
força a entrada daquele Pet bem na esquina, entra e pega material
para limpar o ferimento, alguma comida para os cães, coisas para os
cães e sai rápido, ele sobe um pouco mais a rua e entra em uma
transversal e desliga o caminhão.
Manoel pega o cão e coloca no fundo do caminhão, ao lado
do guincho, e fala para João.
— Tenta manter ele calmo.
— Vai fazer o que?
— Tirar a bala, limpar, fazer uma sutura e dar um remédio pa-
ra infecção.
33
— Pensei que diria para o abandonar, meu pai sempre dizia
com as mãos, que temos de ser fortes para abandonar os fracos,
para nos dar chance de sobrevivência.
Manoel fez o menino segurar a cabeça estavam no fim de
uma rua, em subida, de ré, numa entrada de garagem, para os ver,
teriam de entrar na rua.
O menino viu Manoel tirar a bala, o cão quase o mordeu, mas
entendeu que deveria estar doendo, depois passou uma pomada e
um desinfetante spray e fechou o corte, passou uma compressa e
falou.
— Precisamos de um lugar para passar a noite.
— Pensei que mataria aqueles senhores.
— Não entendi o que faziam lá, mas com certeza, querem pe-
ças e gasolina, ali está fácil de pegar.
— Qual seu plano? – O menino encara Manoel.
— Tentar sair ao norte, se não der, a leste.
— Porque não daria?
— Não tenho um plano menino, mas não podemos deixar as
coisas paradas, que alguém nos dá um tiro.
Manoel olha a casa que pararam e viu que haviam seres den-
tro da casa, ele apenas começa a sair, lentamente, o cão agora
dormia, e os demais, pareceram se juntar a ele, no banco de trás.
Manoel no lugar de ir pela rua principal direto para Tremem-
bé, vai pelas secundarias, ele dirige com calma, e João pergunta.
— Sempre precavido?
— Vamos tentar achar algo para comer a mais, mas não adi-
anta ser algo que não conseguimos carregar João, se pegamos pou-
co e saímos rápido, é o ideal.
— Acha que nos observam?
— Gostaria de acreditar que sim, que todos não estão mor-
tos. – Manoel parecia as vezes mórbido nas palavras.
Eles param o caminhão a uma quadra da entrada principal do
Ourinhos Supermercado, Joao vez sinal para os cães ficarem e saem,
com calma, em uma porta na parto oposta da entrada, Manoel for-
ça a mesma e ela destrava, o menino olha que estavam entrando
pela porta dos fundos do deposito, eles não entraram no mercado,

34
João pega uma sacola de bolachas e Manoel um galão de agua e
algumas bolachas a mais.
Eles saem e olham aquelas armas apontadas para eles.
— Baixa com calma senhores.
Uma senhora olha para o rapaz e fala.
— É só um pai e um filho.
— Sabe que não temos como dividir reservas Marilia.
Manoel olha para João, ele meche as mãos, o rapaz riu pois
ele havia colocado as bolachas no chão, ele mira no rapaz, a moça
desvia o olhar, Manoel pensa no quão besta seria a sua morte e
ouve os cães a morder o rapaz que apontava a arma para João, ele
atira para o chão, o menino recua, outro olha assustado e Manoel
por reflexo atira no rapaz e depois no outro e olha a moça.
— Se não quer morrer, corre.
Ela se debruça no chão e fala.
— Você matou meu filho.
Manoel pensou que ela estava sentindo a morte, mas ela
apenas se abaixa e pega a arma, Manoel olha ela apontar e sente o
tiro no ombro, a dor o faz erguer a arma e descarrega a arma na
moça. Com dor e olha para João.
— Vamos. – A palavra saiu doida.
Os caem saem no sentido do caminhão, eles entram e sabiam
que agora iria agitar, eles chegam ao caminhão, e João olha ele for-
çar para dentro do mercado, eles atravessam corredores vazios ou
bagunçados e estraçalham o vidro frontal, e saem pelo lado oposto.
O menino viu ele dirigir a leste, começava ir para o fim do dia,
e sabia que Manoel estava sangrando.
João não sabia onde estava, mas viu quando Manoel deu ré e
ficou ao lado de uma construção, estranha, e sai pela sua porta.
— Tá doendo?
Manoel sacudiu a cabeça afirmativamente, foi a parte do
fundo, e viu que não tinha agua, olha para a rua e fala.
— Vamos entrar para dentro.
— O que tem ai?
— Cemitério do Tremembé.

35
Manoel segura o local do tiro, estava doendo, pula o muro,
caminha poucos metros, o menino veio com os cães, ele encosta em
uma entrada de tumulo e se encosta.
João estava assustado, pois ele seguira alguém que agora es-
tava ferido.
Manoel limpa o local, estava doendo, ele passa o cicatrizante
animal, nem pensa se era indicado para humanos, sente a pressão
baixar e fala.
— Vou encostar um pouco.
Manoel sente o menino se encostar nele e falar baixo.
— Tenta melhorar, por favor.
Manoel olha o menino, finalmente mostrando o medo, o
abraça, sente que teria frio, mas se encolhe, teria de melhorar.

36
Manoel dormiu, estava so-
nhando que estava com dor e acor-
da, olha em volta, tenta se mexer e
ouve.
— Acordou, eles nos amarra-
ram senhor.
Manoel acorda assustado, tenta se localizar, já era dia, esta-
vam em meio a um campo de futebol, olha em volta, estava no Ja-
çanã.
Olha em volta e um grupo o estava olhando e um senhor fala.
— Quem são estes filho?
— Não sei, estavam dormindo no cemitério, pelo jeito o se-
nhor ali foi quem atirou no pessoal da Irmandade, pois levou um
tiro no ombro.
— E o que pretende com os dois?
— Os cães vão dar um bom churrasco, eles, não sei, depois
penso pai, apenas não queria atrair mais gente para aquele lugar,
parecem estar procurando, e o senhor tem um caminhão de rebo-
que, que funciona, poucos tem isto pai.
Manoel olha para os cães mortos ao fundo, estavam fazendo
um churrasco, talvez eles virassem o próximo, o menino estava re-
voltado e fala baixo.
— Eles mataram o Tob, eu mato eles.
Manoel sentia-se fraco, mas teria de melhorar, estavam
amarrados em um poste bem ao centro do gramado, eles já deveri-
am ter prendido outros ali, mas começava achar que se dera mal,
olha para aquela chuva começar, e o menino perguntar.
— Tá melhor, eles lhe chutaram e não acordou, pensei que
tinha morrido.
— Tá bem doido.
Manoel não tinha um plano de fuga, e tinha aquele pessoal,
nitidamente armado, a volta, estava pensando na sorte, quando
ouviu o tiroteio na parte as suas costas e pergunta.
— Vê algo menino?

37
— Não, não entendi, mas não vejo nada. É depois da constru-
ção, não vejo naquele sentido, mas parece ter algo ali, e alguém
está atirando.
Estes foram os que saíram da garagem, mas não parecem
com os que estavam querendo nos matar.
— Acho que deveria ter ficado no prédio, deveria ter ficado
no prédio, sim, porque tinha de sair de lá. – João olhando em volta.
A chuva engrossa, e Manoel sente o escorrer um pouco para
o chão, da corda, ele força o poste e sente que estava mau fixado e
fala.
— Alguém olhando menino?
— Não, se armaram e foram para o outro lado.
Manoel começa a forçar e o menino pergunta.
— O que está fazendo.
— Tentando soltar o poste de madeira.
João olha para o local e fala.
— Para um pouco.
Estava engrossando a chuva e alguém estava olhando, mas o
rapaz veio rápido, pegou algo sobre a mesa e voltou para a entrada
que não viam dali.
O sacudir de um lado para outro, uma hora, tendeu para um
lado e os dois se veem deitados no chão.
O que fazemos? – O menino.
— Tenta descer.
— Não vai, enrosca na sua corda.
Manoel começa a se mexer no chão, tentando livrar as mãos,
os dois estavam deitados tentando isto, quando a corda sai pela
parte baixa, Manoel ajuda o menino a se livrar, ele pensa em cami-
nhar até o portão, mas não sabia o que estava acontecendo, então
começa a entrar na parte coberta, viu a cara de revolta do menino
vendo os cães ao fogo, ele olha Manoel e fala.
— Vê se não morre que fico sozinho agora.
Manoel fez sinal para entrarem numa peça ao fundo, parecia
um vestiário, olham para onde era a piscina, nem parecia tão suja
assim, eles foram se ocultando, e quando chegam a parte do fundo,
viram os dois grupos trocando tiros.
João se deita ao chão e Manoel se deita ao lado.
38
Os dois ficam vendo os dois grupos trocando tiros, não sabia
quem eram, mas nitidamente, eram rivais, talvez esta rivalidade, fez
os demais irem no outro sentido, eles queriam algo.
Os dois viram que depois de um tempo, eles pararam de ati-
rar, os grupos se recolhem e começam a ajudar os feridos, foi nesta
hora que um rapaz veio de dentro falando alto.
— Escaparam Pablo.
— Eles não teriam como escapar, devem estar para dentro
ainda.
Manoel viu eles irem no sentido que vieram, eles não sabiam
ainda quantos estavam do outro lado, aproveitam e pulam o muro
do fundo, e se veem no quintal de uma casa, olham para a rua, e
pensam em como sair dali, João olha Manoel, ele não estava bem.
Ele ajuda o rapaz caminhar pela casa, atravessam, olham para
a rua aparentemente deserta e Manoel fala.
— Não vou conseguir.
— Não me deixa só, eles mataram meus amigos. – João se re-
ferindo aos cães.
Manoel senta, estavam ainda na casa, ele tenta pensar, e olha
para o menino.
— Consegue ver se tem algo na cozinha.
— Algo?
— Uma pinça, algo que dê para tirar a bala, um álcool e um
pano.
O menino vai a cozinha, pega algumas coisas, volta e olha
Manoel pegar uma pinça e colocar no buraco, ele pareceu sentir
muita dor, seu rosto se contorcia, mas ele evitava um ruído.
Ele tira a bala e olha para o álcool, encharca o pano com álco-
ol e coloca no lugar, se viu as lagrimas de Manoel que pergunta.
— Algo que desse para fechar o corte.
O menino alcança uma fita, Manoel não tinha outra opção,
põem na região e aperta bem, sobe as escadas e olha o casal morto
a cama, o grupo a volta liquidou o pessoal próximo, apenas por li-
quidar, ele pega uma camisa, olha uma calça, põem um tênis me-
lhor no pé e olha o menino.
— Vamos devagar, mas precisamos de algumas coisas.
— Eles colocaram fogo no caminhão.
39
— Idiotas.
Um grupo de seres subia a rua, e se viu eles vindo no sentido,
não sabiam se o grupo deixava eles passarem ou atirava neles, mas
Manoel fez sinal para João e subiram no centro daquele grupo, que
parecia ir no sentido dos Jardins.
O grupo ao longe parecia nem olhar eles, pareciam procurar
do outro lado as coisas.
Caminham pelas ruas com aquele grupo, eles olhavam eles
atentos, Manoel não entendia eles, mais a frente, viram uma farmá-
cia e saíram do grupo, Manoel viu o menino entrar em uma fresta e
ir para dentro, ele não passaria ali, ele pega uns remédios, umas
compressas e fala.
— Não sei para que servem, mas era o que tinha ai.
Manoel olha bem ao fundo e viu o muro do cemitério, ainda
era dia, eles começam a contornar e param, olham o grupo de pes-
soas olhando os restos do carro, recuam na rua e entram em um
sobrado, Manoel estava cansado, mas sobe ao segundo andar e
olha para o grupo que estava ali.
O menino chega ao lado e fala.
— Muito longe para saber o que falam.
— Parecem revirar os restos, procuram algo.
— Quem são estes senhor? – Pergunta João.
— Nem tenho certeza, parecem sempre bem armados, e pelo
jeito dois grupos tomaram a região.
Manoel pega os remédios e fala.
— O problema e que todos são fortes, se eu tomar, eu posso
sair do ar menino.
— Então segura para a noite.
A dor estava insuportável, e Manoel toma um sem agua, sem
nada, o menino entendeu que o problema, era a dor.
Manoel olha o pessoal se afastar e o menino pergunta.
— O que tem a volta.
— Na quadra de cima, o capitão e a subtenente, apenas ob-
servam.
O menino olha e fala.
— Eles vão ao caminhão também.

40
— Grupo a direita, observando, não parecem ter nos visto,
mas viram os dois.
— Vai os alertar?
— Eu não consigo ajudar, e não sei o que são estes, então
temos de observar, nós não iriamos os matar João, mas não tivemos
alternativa.
— Certo.
Os dois veem o capitão e a moça chegarem ao caminhão e
começarem a olhar, e ouvem um senhor falar alto.
— Mãos para cima, se tentarem algo, morrem.
O capitão estava com cara de quem faria merda e Manoel
olha o menino.
— Não olhe, não vale a lembrança.
O menino não entendeu, mas viu o capitão puxar a arma, ele
nem terminou de puxar e são atingidos pelos dois lados, e o menino
olha para dentro.
— Estão olhando em volta.
— As vezes queria saber em que merda nos metemos.
O menino estava olhando para Manoel e olha assustado para
a porta, Manoel olha para ela e sente aquela arma de choque, ele
apenas sente os músculos não lhe obedecerem, viu um rapaz chegar
e o imobilizar, algemar o menino e empurrar pela porta.
Manoel nem teve tempo de pegar o remédio, que ficou ao
chão.
Ele foi grogue empurrado para fora, e um senhor olha para os
dois e pergunta ao rapaz ao fundo.
— Dois observadores, coloquem no carro e vamos.
Os dois são empurrados em um porta malas e João chega ao
lado de Manoel.
— Você leva a pior sempre?
Manoel não conseguia nem falar, pensa na possibilidade e
sorri, mas desta vez estava vendo os levarem.
Eles foram no sentido do Hospital São Luiz Gonzaga, Manoel
mesmo quase sem controlar os músculos, nunca havia levado um
choque de arma de choque, parecia que ainda estava babando, olha
que a volta do hospital fizeram o que eles fizeram a volta da base,

41
um muro de 4 metros, um rapaz faz sinal, outro os acelera para
entrar e passam por uma barricada com pessoas armadas.
João olha que levaram Manoel para dentro e grita.
— O que vão fazer com ele.
Manoel é preso em uma maca, estranha, e um senhor olha o
rapaz que trouxe da rua e pergunta.
— De onde veio este?
— Dos Jardins.
— O menino?
— Também.
— Põem ele na maca ao lado, temos de saber se eles são in-
fecciosos, se for, sabem o que fazer.
— O que procura senhor?
— Algo que nos livre estes seres.
O senhor tira o sangue de Manoel e olha para a maquina fa-
zer os testes e fala.
— Este é interessante, não sei o menino, mas este o é.
— Porque senhor?
O senhor para e pensa, ele abre um livro e fala.
— Saudades de Luz, internet, coisas simples assim.
— Problemas?
— Peguem uma cobaia na DP.
— Quer comparar? – O rapaz.
— Não tinha pensado no assunto por este lado, as vezes te-
mos de descobrir o que nos afetou, não esquece, ninguém sabe se o
do lado, não pode vir a ser um ser como os a rua.
Manoel estava ouvindo, viu trazerem o menino se batendo
todo e prenderem ele na cama, ele olha Manoel e pergunta.
— Eles vão nos matar?
— Talvez menino, talvez.
— Sou novo para morrer.
Manoel sorriu e olha para o senhor, ele não entendia de me-
dicina, mas finalmente alguém tentando entender.
O menino viu lhe tirarem o sangue e fala.
— O que vai fazer com isto?
O senhor não respondeu, colocou na mesma solução e depois
no mesmo aparelho do sangue do Manoel e falou.
42
— O menino não tem a doença Paulo, o rapaz, deveria a ter
desenvolvido, ele tem índices assustadores de ferro no sangue, mas
ele não desenvolve, por isto quero verificar o porque.
João parecia preocupado, e olha para o senhor.
— O braço dele está melhor?
O medico não entendeu, e olha para a camisa, a rasga e olha
o esparadrapo no braço, tira ele, Manoel sentiu a dor e o senhor viu
que estava sangrando.
Limpa e fala para o auxiliar que Manoel sabia agora se cha-
mar Paulo.
— Ele sangrou muito, ele não tem comido nada, dieta forçada
de queima de ferro, e com sangramento, isto pode o ter salvo.
O auxiliar olha para o doutor.
— Existe perigo?
— Ele carrega com ele, o patógeno, mas como vimos, o que
precisamos é descobrir como pegamos isto, pois cidades inteiras
parecem ter pego isto, de um momento para outro.
O senhor falava e fechava o buraco da bala agora desinfeta-
do.
— E porque acha que ele não pegou a doença.
— Olhos normais, pele normal, apenas o que indica que pe-
gou, é este nível assustador de Ferro no sangue.
— Nunca entendi esta doença senhor, porque nos atingiu.
— Temos de descobrir o foco transmissor.
Manoel olha para trazerem um dos espécimes, ele ficou irri-
tado, ele começa a zunir alto, mas o senhor aplica algo e tira uma
amostra de sangue.
O doutor olha para os resultados e fala.
— Paulo, o que vou falar é uma incoerência, o senhor parece
estar desenvolvendo hemocromatose, que é uma doença ou genéti-
ca, ou quando o corpo contrai hemoglobinopatia, e o corpo libera
muito ferro no corpo, mas a diferença, isto não explica os seres lá
fora, eles parecem zumbis.
João que ouvia fala.
— Eles não são zumbis, eles comem, eles parecem ter medo
de tudo, zumbis com medo não tem graça. – João.
O medico olha para o menino e pergunta.
43
— Seu pai?
— Não, meu pai anda com estes azuis a rua.
— Ele lhe deu proteção?
— Ele foi expulso de um grupo que fica lá na base da PM, do
Barro Branco, ele me achou a poucos dias.
— E o segue por quê?
— Ele me mostrou que os seres não conseguem nos ver, eles
sentem os a volta, mas a vista deles parecem estar em transe, eles
nos deixam passar, é só não brigar, apenas abrir passagem.
— E falou porque que não seriam zumbis? – Paulo.
— Eles parecem juntar grupos, os grupos se atacam, Zumbis
atacariam apenas os que não são como eles.
— Ele levou o tiro quando?
— Quando nos cercaram na saída de um mercado, tinham
cães que atacaram o pessoal e começou um tiroteio, onde ele levou
um tiro, mas foi ontem final da tarde.
— E andam sangrando por ai?
— Dormimos no cemitério, acordamos num campo de fute-
bol, amarrados, pulamos um muro e vocês nos pegaram quando ele
queria verificar algo no caminhão.
— Fala demais menino, pode o complicar ou se complicar.
— Ele parece procurar a morte, parece que o pessoal de Bar-
ro Branco matou a companheira dele.
Manoel estava zureta, então não contestou, se tivesse bem
teria contestado, mas parecia mais para os mortos que para os vivos
naquele instante.
O medico olha para o local, ele não teria como fazer um le-
vantamento de tudo que as pessoas comeram, pretendia pelo me-
nos salvar alguns, mas parecia que nada lhe dava a resposta.
Paulo olha para o doutor desanimado e pergunta.
— Não era o que pensava? – Apontando o ser azulado a ca-
ma, pensando em o devolver a cela.
— Lembra que eu falei que é incoerente? Quando você oxida
o ferro gerando esta doença, fosse o faz através do ferro de proce-
dência animal, não a vegetal, mas como uma leva completa de se-
res, em todos os ambientes, adquiriu isto, como foi transmitido,
nitidamente não é pelo ar, não é pelo contato, não sei.
44
— E como se enfrentaria esta doença?
— Na incoerência, a doença os fariam, ter fadiga, fraqueza,
cirrose do fígado, diabetes, insuficiência cardíaca e arritmias, dor
nas articulações, hipotireoidismo, e não alta taxa de violência, é
como se fosse um misto.
João olha para o medico e pergunta.
— E o que provoca aquela alteração nos olhos, eles ficam
quase todos azuis, e com uma irritação imensa a luz.
O medico olha o menino, olha Paulo e fala.
— Conduz eles a um quarto, isolado, ainda temos leite?
— Pouco senhor.
— Dá um pouco aos dois, nem que um copo.
Os dois foram levados nas macas ao quarto, bem ao fundo, e
lá desamarram João, e saem pela porta.
João desamarra Manoel que fala.
— Viramos cobaias.
— Estava ouvindo? – João.
— Pelo menos ele fechou o buraco.
João viu Manoel sentar a cama ao fundo e falou.
— Descansa, você está azul.
— Não brinca.
João riu, pois Manoel estava branco, mas ele queria ver se o
rapaz se preocupava.
O doutor pede para falar com outros dois.
— O que descobriu doutor? – Um residente.
— Não tinha pensado no que o menino falou, estávamos
olhando para os níveis de ferro, e não estava pensando nos níveis
de Melanina, e estou testando ainda a nível de DNA, para ver se
temos uma alteração genética padrão dos níveis dos Genes OCA2 e
HERC2 dos seres, a redução de melanina, com a pele azulada pelo
excesso de ferro, me leva a casos em Appalachia nos Estados Uni-
dos, e pode nos revelar que pode ser um agente mutante, mas se
for verificando a alteração genética, temos por onde indicar o cami-
nho.
— Não entendi. – Um dos médicos.
— Em Appalachia, o que forçou o aparecimento de problemas
de pele azulada e redução de melanina, foi o ter de CO2 reativo no
45
ar e na agua, desencadeou no gado local a infecção e até hoje não
se tem certeza se foi nos búfalos ou no gado normal, mas sabe-se
que eles transportaram para o povo uma alteração patogênica que
dava aos habitantes, parte deles, a cor azulada da pele.
— E como descobriria o que causa?
— Tem de ser um fornecedor de Fe²+, isto é proteína animal,
a vegetal nos gera Fe³+, mas esta não gera problema de acumulo de
ferro, vou fazer o teste e vou verificar o que alguns deles tem no
estomago.
— Falou em dar leite ao senhor, algum motivo?
— Reduz a quantidade de ferro no sangue.
— Acha que ele não vai desenvolver?
— Acho que não, ele tem níveis superiores a da cobaia no
sangue e não desenvolveu, por isto estou fazendo os testes, ele
pode não ter tido acesso ao conjunto de comidas que geraram isto,
ou ele por natureza tem um genoma já preparado para isto.
— Acha que teremos uma luz?
— Acho, o menino falou que passou entre os seres, e conti-
nua sem a doença, não é algo transmitido pelos seres e sim ou pelo
ar ou pela comida, se nos alterou geneticamente, algo a nível ali-
mentar de anos, pode ter esperado a hora certa de explodir.
— Vamos observar os dois, pensamos que eram os que mata-
ram dos nossos na região, mas estão vestidos diferente.
O medico olha para o rapaz e não faz comentário, ouvira do
menino um enfrentamento, mas não teria como garantir que eram
eles, já que como o senhor falou, o senhor narrado estava vestido
diferente.
— Porque seriam eles?
— Observavam o mesmo carro que usaram.
O medico olho para Paulo e perguntou.
— Estão bem isolados?
— Sim.
— Pessoal, sei que muitos querem uma solução, mas preci-
samos achar uma saída, não quero perder dos nossos, quando falo
em achar o que causou, é para não ter de por alguém numa cela,
mesmo sabendo que é melhor para ela, se somos uma irmandade,
que continuemos irmãos.
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— Acha que descobriu algo doutor, está diferente?
— Quero saber o que está acontecendo, estes vieram a nós,
um mesmo tendo levado um tiro, tinha ciência das coisas e se cui-
dou, os a rua, as vezes podem estar indo a morte e não se cuidam.
Os demais saíram e ele olha o auxiliar, e pergunta.
— Eles conseguiram algum recado externo?
— Não, o menino da Marilia, parece que não quer pensar na
morte da mãe e está lá tentando acesso, ele disse que os satélites
estão no lugar, as fibras estão no lugar, apenas as pessoas não estão
lá, ele acessa servidores que tem sistema de funcionamento auto-
mático, mas todos estão com alerta de baterias acabando.
O medico olha os exames e fala.
— Temos de descobrir o que fizeram, algo que altere o nível
de melanina e de ferro no corpo.
Manoel olha João e pergunta.
— Como está menino?
— Bem, parece melhor.
— Eles se assustaram com meu sangue, espero não virar um
negocio destes.
— Sabe que não são negócios, são os antigos moradores.
Manoel olha o local, era um local de isolamento, a porta dizia,
isolados, sem janelas, sem nada além das camas, ele estava encos-
tado pensando.
Manoel olha o menino olhando o local onde tiraram sangue e
pergunta.
— Porque tem medo de quando tiram sangue?
João olha o chão.
— Minha mãe tinha leucemia, ela ia ao hospital e ficava lá ho-
ras sentadas, com uma maquina mudando seu sangue.
Manoel olha o menino que as vezes se mostrava um guerrei-
ro, as vezes carente, ainda sem saber se ele confiava nele.
— Ela morreu a quanto tempo?
— Uma semana depois do problema, meu pai saiu de casa e
não voltou, víamos ele na rua perambulando, mas ela tinha uma
consulta para o dia seguinte, não tive... – o menino enxuga uma
lagrima – como a levar lá, meu irmão e eu ainda tentamos ir ao hos-
pital e nos receberam bem, falaram que ela foi encontrada morta já,
47
depois vi matarem meu irmão, e numa noite fugi de lá, e voltei para
o apartamento, ela não estava mais lá.
O menino olha Manoel serio.
— Eu não comia a alguns dias, deixei aquela bolacha para
emergência, eu... – o menino olhava para o chão, Manoel levanta da
cama e senta ao lado da dele e fala.
— Vamos tentar sobreviver.
— As vezes queria ter mudado, eles pelo menos não parecem
sofrer, não parecem lembrar o que foram, apenas caminham a rua.
Manoel o abraça e fala.
— Não gosto de ficar preso.
João o abraça e fala.
— Também não.

48
O barulho trouxe Manoel ao
consciente, estava deitado, senta-se
tentando se situar, e olha João a lhe
olhar.
— Alguém está dando tiros a
horas, queria dormir assim profundamente. – O menino sorrindo
sem graça.
Manoel olha ele e pergunta.
— Sabe de que lado?
O menino aponta uma parede e Manoel faz sinal para ele
mudar de cama e fala.
— Sempre espero não morrer preso num lugar destes.
Manoel ouve os tiros e fala.
— Não sei quem está entrando, mas vem cada vez mais per-
to.
— O que acha que fazemos.
Manoel aponta para baixo da cama, o menino sorri, ele arru-
ma as duas camas, olha uma proteção de teto, ele não teria nem
como chegar ao local, mas ele olha para o teto, pensa em como
alcançar o local, ele puxa a cama, com a ponta dos dedos, ele afasta
pouco a proteção, sorri e devolve a cama ao lugar, e vai para baixo
da outra cama, junto com o menino.
— Agora silencio.
Os dois ficaram quietos, estavam ali a um tempo ouvindo os
tiros e olha alguém entrar a peça, falando alto.
O rapaz olha para o local vazio e fala.
— Onde ti colocaste ele, onde tu falou que eles estavam?
— Mas eles estavam aqui.
Alguém com botinas de militar entra na peça e olha em volta
e olha para o teto.
Os dois estavam encolhidos e ouvem.
— Tens uma ultima chance, onde estava os dois rapaz, ultima
chance, onde teu grupo os escondeu?
— Não estou mentindo senhor.

49
Os dois ouvem o tiro e veem o rapaz cair aqueles olhos volta-
dos para eles, João tremia, e ouvem.
— Me procurem, eles fugiram pelo sistema de ar, sabem a
ordem.
O rapaz olhando os dois, morto, fez Manoel olhar para Paulo,
os olhos estalados, o barulho saindo e os tiros pararam, não sabia o
que tinha acontecido, Manoel sai de baixo da cama e faz sinal para
o menino sair.
O rapaz ao chão estava morto, eles olham a porta entre aber-
ta, eles olham o corredor com mortos.
Manoel ouve o som e fala.
— Colocaram fogo em algo, temos de sair.
João olha aquela fumaça começar a vir pelos corredores e fa-
la.
— Eles acham que estamos escondidos no teto, querem nos
matar. – Manoel.
O menino ainda olhava o rapaz morto ao quarto, Manoel olha
em volta e pensa em como escapar, ele pensa no que estavam fa-
zendo, entra em uma peça, a que estavam, e olha o doutor morto,
jogaram todas as considerações dele, chega a sala, pega elas, põem
em uma pasta, olha o menino e fala.
— Vamos para baixo.
— Onde?
Manoel olha as labaredas vindo e faz sinal para irem a parte
do fundo, se via a caixa de agua, tinha pessoas armadas ao fundo,
olha os carros do exercito, os conjuntos de pessoas ao fundo, todas
mortas, o fogo ao longe, dizia que colocaram fogo em mais algum
lugar.
O barulho de tanques saindo, estabelecia exercito.
Manoel faz sinal para o menino ir pelo canto, chegam a uma
calha de agua ao fundo, que corria para o rio fundo.
Os dois se arrastaram ali, mais a frente não tinha saída, mas
era um canto.
— Não tem saída. – João.
— Se encolhe menino, em silencio.
Os dois ficam ali deitados e imaginando o fogo.
Um general chega a entrada e fala.
50
— Acabaram com todos?
— Não achamos os dois que foram pegos.
— Devem ser apenas mais dois, mas isola, espera terminar de
queimar e volta a base.
— Sim senhor.
O exercito começa a sair e os militares ficam ali olhando os
restos do hospital queimar, atiraram em quem saiu em meio ao
fogo.
Ao fundo, um grupo de sobreviventes do grupo do Jaçanã,
olha para o grupo de militares saindo.
Um rapaz olha para outro e pergunta.
— O que eles querem destruindo o hospital Reginaldo?
— Não sei, pelo jeito mataram todos lá.
O grupo olha os militares saindo e Reginaldo olha para um
dos meninos que foi ao caminhão.
— O que viu ontem no caminhão?
— Estes militares, eles estavam lá olhando o caminhão, de-
pois foram para a região da Empresa de Ônibus, e vieram no sentido
do hospital, não sei quem dava informação, mas o pessoal da Ir-
mandade tirou o menino e o senhor de um sobrado próximo, não
sei o que faziam, mas é evidente que ele foram atrás do senhor e do
menino, devem os ter matado, pois nada saiu de lá senhor.
— Prendemos eles, se tivéssemos com eles, poderíamos ser
nós os mortos. – Reginaldo.
— Temos de tomar cuidado, pois não sabemos se estes mili-
tares não estão limpando a região, pois viu, eles não perguntaram,
eles mataram todos, de adultos a crianças. – O rapaz olha para o
local com aquele óculos que pegou no caminhão, no dia anterior.
— O que olha. – Reginaldo.
— Tem algo na canaleta de agua, mas os soldados ainda estão
olhando, então se estiver alguém vivo ali, deve estar esperando.
O senhor olha para os militares e para o local e fala.
— Vamos observar, pois algo estes militares queriam, e pare-
ce que estão indo a base ao norte.
— Acha que estão nos isolando senhor?
— Não sabemos se é local, os rapazes ali saberiam.
— O que fazemos?
51
— Pelo jeito perdemos a chance de saber, pelo jeito os dois
que escaparam daqui, era algo procurado.
O rapaz fica olhando os restos e olha mais duas posições com
calor esperando, todos estacionados, como se estivessem parados,
esperando um milagre, o rapaz olha para a rua e fala sorrindo, pois
era o que muitos esperavam.
— O milagre dos seres vem chegando.
Os militares começam a recuar, aquele grupo imenso de pes-
soas vindo da região da Cantareira no sentido do hospital, eram
muitos e o rapaz fala.
— Alguém se levantou no buraco ao fundo, quer dizer dois,
um grande e um pequeno senhor.
O senhor olha para o rapaz que alcança o detector de calor,
olha para aquele ser, ao fundo, não o via ainda, mas olha ele olhar
em volta, como se procurasse algo.
Manoel se ergue e olha para João.
— Vamos com calma, para o fundo.
— O que tem ali?
— Um riacho, que vai estragar os calçados, mas vamos.
Manoel ouve aquele barulho baixo, de alguém reclamando,
ele olha para a rua, e fala.
— Os seres vem ver algo, mantem a calma.
Manoel entra nos restos, estava quente e olha uma porta caí-
da queimando e ouve a reclamação por baixo, parecia um rapaz,
jovem, pega um pedaço de papel e levanta uma ponta e fala.
— Conseguem sair?
Dois rapazes saem do lugar, um de uns 12 e um de uns 15, ele
olha Manoel desconfiado e fala.
— Não deveria estar morto?
Manoel aponta a ponta e fala.
— Hora de sair.
O rapaz olha aqueles seres e fala.
— Mas está cheio de seres azuis.
— Passa por eles apenas, não olha, apenas passa.
O rapaz fica na duvida, Manoel olha João e fala.
— Vai na frente João, já ajudamos, vamos sair, eles que sa-
bem se vão.
52
Os dois olham o menino começar a passar pelos seres e ir no
sentido do rio, os rapazes ficam na duvida e Manoel fala.
— Se forem ficar, apenas não batam neles, não provoquem
quem está apenas caminhando.
— Vão onde?
— Voltar.
João que estava passando estranha e para em meio aos seres
e Manoel passa por ele e fala.
— Vai ficar?
Os rapazes veem Manoel e João pularem para dentro do cór-
rego ao fundo e começarem a voltar.
— Vamos voltar por quê?
— Vamos, eles estão ouvindo.
João viu que era um barro, o rio estava com agua da ultima
chuva, mas bem barrento, e subiram pela ponta mais alta da es-
querda e começam a passar por baixo da rua a frente, iriam fazer
agora pelo córrego.
Os dois se afastam e os seres passam e o senhor Reginaldo
olha os dois rapazes olhando para o rio e pergunta.
— Onde eles vão?
Os dois olham assustados e fala.
— Vai nos matar?
— Pelo jeito o exercito está atrás daqueles dali, mas eles vão
onde?
— O senhor falou em voltar. Mas de onde eles vieram? – O
rapaz de nome Mayco.
— Barro Branco. – Reginaldo.
— Como sabe? – O outro menino.
— Eles veem fugidos de lá, alguém os pôs para andar, parece
que foram aceitos aqui, não entendi.
— O doutor queria saber por que os dois não pegaram a do-
ença, estava fazendo testes, quando o exercito entrou atirando em
tudo.
Reginaldo olha para Mayco.
— E o que este doutor estava fazendo, porque achava que es-
tes eram uma resposta?

53
— Ele pediu para que tentássemos achar informação sobre
uma praga que atingiu algumas pessoas a muito tempo nos Estados
Unidos, estávamos fazendo esta pesquisa, mas pelo jeito, alguém
veio verificar quem estava tentando respostas, eles entraram ati-
rando e depois colocaram fogo.
Reginaldo olha para o rapaz ao fundo e fala.
— Leva eles para Jaçanã, parece que alguém sabe o que cau-
sou isto e está tentando evitar que alguém ache a resposta.
— Se ele achou não sabemos, mas ele queria achar, ele ficou
a noite inteira debruçado em papeis, e pelo jeito nem sabe o que o
matou.
Reginaldo olha para os carros do exercito bem ao fundo e fa-
la.
— Volta dando uma volta longa, evita eles rapaz.
— Certo, acha que eles vão voltar mesmo?
— Acho que temos de saber se o exercito foi para lá, se foi,
eles acreditam que eles sabem de algo.
Manoel olha para tras, viu que os rapazes não vieram, olha
em volta e fala.
— Vamos acelerar menino.
— Acelerar?
— Não entendi.
Manoel olha para o menino e fala.
— O rio não está alto, a estrutura de concreto nos permite
andar, vamos andar até eu falar para sair.
— Sabe onde vamos?
— Verificar, e se ouvirmos barulho, paramos.
Os dois avançam pelo canal e Reginaldo olha para Paulinho.
— Eles vão voltar para a garagem, se entendi.
— Eles vão caminhar onde ninguém olha, o córrego.
— Sim, uma forma de desviar olhos, o senhor conhece a regi-
ão, não é qualquer um.
— O conhece?
— Ele entrou na oficina de ônibus, em 10 minutos ele pegou
o que precisava, e saiu, ele não deu um tiro.
— Certo, mas acha que devemos fazer oque?

54
— Observar, o que o exercito fez foi covardia, ali tinha gente
ferida, tinha crianças, eles mataram todos, sem perguntar, entraram
atirando, se alguém sobreviveu foi por eles responderem a bala,
senão teriam matado todos e ninguém nem sabia por que morre-
ram.
O grupo volta para a base na associação Atlética Jaçanã.
Manoel olha o menino, ele parecia estranhar o lugar, eles
caminharam mais de 3 horas, Manoel fez sinal para ele que sairiam,
eles pararão a frente da garagem e veem tudo pegando fogo.
— O que querem?
— Posso estar enganado, mas eles vão limpar a região, não
sei o que aquele senhor ontem, que falava difícil, descobriu, mas o
que for, tem gente querendo que não saia daqui.
— Eles estariam nos querendo mortos?
— Não sei porque, mas as vezes, tenho medo de me tornar
um deles menino, e o que me faz achar isto, é meus instintos esta-
rem a toda, meu olfato a toda, diria que estou começando a sentir
quando os seres se aproximam.
— Não me abandona.
— Não quero abandonar, mas é bom saber.
— Certo, vamos voltar para onde me pegou, vai me abando-
nar?
— Vamos descobrir a verdade.
Manoel olha ao longe e viu que bem distante, estava o grupo
de Jaçanã, eles o observavam, e sabia que aquele calçado limpo que
viu por baixo da cama, era exercito, mas não exercito desorganiza-
do, e sim, que ainda tem as botinas limpas e brilhosas.
— Eles queimaram tudo.
— Eles não conhecem a região, eles parecem gente de longe.
— Porque fala isto?
— Paulistano raramente usa ti, ele usa você, eles vieram do
sul, não sei onde estão, mas vieram pela rodovia ao norte. Temos de
nos organizar menino.
Manoel sai e passa a rua rápido, ficaram pouco tempo na rua,
os ônibus estavam em fogo, mas já no fim, eles entraram colocando
fogo, mas ai teriam de ter destruído tudo.
Manoel olha para João e fala.
55
— Eles devem ter forçado a saída de todos os azuizinhos da-
qui, o que nos ajudou a sair do outro lugar.
João olha Manoel chegar bem ao fundo e pedir ajuda.
— Me ajuda aqui.
Os dois empurraram uma porta pesada e o menino olha para
o resto de um caminhão e pergunta.
— Funciona?
— Ainda sem condições de fazer o serviço, mas vamos desta
vez ser menos bonzinhos.
João sorriu e falou.
— Acha que estamos sendo muito bonzinhos?
— Sim.
Manoel coloca combustível em um veiculo que ainda estava
sem o guincho preso, estavam o preparando para ser um novo guin-
cho, ele solta o guincho e olha para o tanque ao fundo, queimou
inteiro.
Ele liga o caminhão, não ficaram para olhar, faz sinal para o
menino entrar e foram saindo, no sentido dos Jardins.
Reginaldo olha de longe e fala.
— Ele voltou a estar motorizado.
— Acha que ele vai fazer oque?
— Invadir a outra base.
— O vamos ajudar ou atrapalhar? – Mayco.
— Preciso conversar com ele, parece entender o que o medi-
co estava falando?
Os dois olham um grupo de militares olhando ao fundo, saí-
rem no sentido que o senhor e o menino iam.
O grupo fica na duvida se iria seguir eles.
Manoel olha para o veiculo bem ao fundo e fala.
— Prende o cinto menino.
— O que vamos fazer?
— Invadir um local, que espero estar deserto.
— Certo, acha que eles já entraram lá.
— Se não enterram, eles fazem parte do problema, então en-
traremos.
— Mas como?
— Por onde eles não esperam, onde mais.
56
Manoel passou direto a Nova Cantareira, acelerou, quando
estava saindo no fundo da Rua do Horto, pegou a subida da Rosalvo
Ribeiro, ele sabia que quando ela começasse a descer, estaria na
curva da associação, teriam as estacas, e o muro.
— Se segura. – Manoel.
Ele não sabia se estavam o seguindo, mas ele acelera, o me-
nino viu as rodas saírem do chão quando inverteu o sentido, viu o
muro frontal, se segura e sente o caminhão bater na parte alta da-
quelas armações de ferro, e começar a girar, o susto dele foi corta-
do pelo “Hurruuuu” de Manoel, ele sente o muro e o caminhão cai
de ponta cabeça do lado de dentro.
Manoel olha para a porta, a chuta, ajuda o menino a sair e
olha para a guarita vazia, pega a pasta, chega guarita e vê o peque-
no Ricardo morto, João entendeu que estavam em um lugar que
não teria ninguém, mas eles caminham pela lateral, não sabia se
havia pessoas ali, mas caminham até o local de tiros, viu que estava
vazio, viu que estava tudo vazio, João olha Manoel e pergunta.
— O que viemos fazer aqui?
— Campo conhecido é melhor que desconhecido menino.
Eles entram no local e olham para as pessoas mortas ao fun-
do, chegam ao armário de armas, vazio, o olhar de João era de esta-
rem em um cemitério.
João olha para as câmeras e fala.
— Volta para fora menino?
— Problemas?
— Sim.
João vê Manoel pegar uma barra de ferro e bater nas câme-
ras, e furar algo no fundo, ele pega algo no fundo, o menino viu que
era um isqueiro e começam a sair com aquele lugar enchendo de
gasolina e os corpos pegando fogo.
Manoel fez sinal para andarem e indicou o mato a frente e fa-
lou.
— Vai pela trilha, não sai dela.
— Não é seguro?
— Não.
O menino olha para a frente e via que vinham pessoas bem
no fundo pela trilha, olha para Manoel, ele o para em uma arvore e
57
ele começa a indicar para subir em uma, ele se esconde e olha os
militares chegando, ele faz sinal para o menino se encolher e espera
os rapazes, exercito, não sabia se queriam ele morto.
Manoel olha que estavam chegando, olha para o caminho e
sai dele, ele corre olhando a trilha, os militares começam a o seguir,
entrando atrás dele, estava indo no sentido dos canis abandonados,
e ouve as explosões começarem, minas terrestres.
Os militares se vem em um campo entre arvores e não sabi-
am onde pisar, eles param quando a quarta mina explode, João
olhava para Manoel continuar.
Ele chega a entrada do canil, sabia que ali era apenas para
gente que soubesse onde pisar, mas estava vazio, chega ao fundo e
pega uma arma, lembra com tristeza das armas, foi as que mataram
os cães.
Ele pega uma caixa de bala e sobe a cobertura e olha os rapa-
zes, tentando pisar com calma, mira no primeiro e atira, mira no
segundo, os rapazes não sabiam onde se esconder, um pisa ao lado
e explode os demais se mechem e Manoel começa os derrubar,
mesmo erando alguns tiros.
Ao fundo a dependência da associação pegava fogo, João ou-
via a chegada de tanques por algum lugar, não os via.
Ouve aquela explosão, não sabia que havia um grande tanque
de reserva de combustível ali, aquilo começa a correr pela rua late-
ral e duas casas ao lado pegam fogo.
Manoel pega um megafone e pergunta.
— Quem me ataca?
Os militares que haviam vindo atrás já estavam mortos, o
menino estava na arvore observando.
Manoel caminha até a guarita, eles raramente ficavam em
todas, mas em cada uma tinha um binóculos, aquele eles não tira-
ram as armas, pois teriam de pisar nas minas, mas Manoel não que-
ria algo fácil, ele olha a casa e põem fogo no tecido da sala de tro-
féus, e sai, chega a parte que dava para olhar para baixo, com o
visor térmico e fala olhando para o lado do João.
— Fica ai um pouco João.

58
O menino não entendia a ideia, mas via a sede ao fundo co-
meçar a queimar, e olha para os rapazes chegando no sentido opos-
to, e fica pensando se Manoel sabia o que estava fazendo.
Manoel chega ao fundo e sobre em uma caixa de agua, chega
a laje superior e olhando pelo visor olha um senhor ao fundo, olha
para sua bota, olha para ele e mira, não teria muitas chances, espe-
ra o ser chegar perto e atira nele, sente a bala desviar e atingir o
senhor no ombro, o senhor recolhe o ombro e fala.
— Matem este desgraçado de uma vez.
Manoel olha o senhor se recolher atrás de um carro e sorri,
mira no tanque de combustível mais a baixo, o pessoal não enten-
deu, antes de ver aquilo começar a pegar fogo, e o senhor gritar.
— Acha que não o matamos?
Manoel pega no megafone, pensa e o encosta ao lado, ele
queria saber exatamente onde ele estava.
Ele pega o megafone sem se erguer liga ele e gira a direita, lo-
cal oposto a que menino estava e atira, ele bate na arvore e faz um
ruído, sentiu os tiros serem disparados para aquele lado, e o senhor
fala.
— Ele está querendo dar a volta.
Manoel olha o senhor, as pessoas começam a se desviar pen-
sando que ele recuaria pela rua ao fundo que dava na outra prote-
ção, ele espera o senhor vira de costas e atira, todos ouvem o tiro e
se viram para onde ele estava e veem o general cair com o tiro a
cabeça.
Manoel sentiu a fumaça erguer em volta, a construção as cos-
tas estava pegando fogo e a fumaça vinha para aquele ponto, ele
sente a dificuldade de respirar.
Ele perde a visão dos soldados, mas começa a ouvir tiros, eles
deveriam estar atirando em algo que vinha no sentido oposto.
João desce da arvore e volta por onde veio e entra no cami-
nhão, de ponta cabeça, ele parecia não saber para onde viria, mas
tentava pensar, e não queria morrer ali.
Ele estava quieto quando vê aqueles rapazes armados apon-
tarem para ele a arma. O menino já fora preso por eles, os conhecia,
mas não sabia se eles atirariam.
— Onde ele está?
59
— Pra que quer saber? – João.
— Ele pode estar correndo perigo.
João não sabia se falava, e ouve.
— Quem me procura?
João sorri e olha para aquele senhor lhe apontar a arma e fa-
lar.
— Não sei ainda se somos inimigos ou aliados.
— Sou aliado de quem não atira em mim senhor, se vai atirar,
posso o deixar morrer neste lugar. – Manoel blefando.
O senhor fez sinal para baixarem as armas e João sai pela por-
ta oposta e dá a volta e chega as costas de Manoel.
— Temos de saber o que fazer?
— Não sei ainda, mas aquilo é exercito, vai vir mais.
— E como vencemos? – João.
— Como pretende vencer? – Reginaldo.
— Senhor, enquanto nos matamos a rua, eles não se preocu-
pam, se nos aniquilarmos, eles ficam felizes. – Manoel.
— Pelo jeito tinham um bom lugar aqui.
— Muito visível, quando entraram foi matando todos e reuni-
ram na construção ao fundo que queima ao fundo todos e os fuzila-
ram, como fizeram no Hospital.
— E o que pretende?
— Eu vou ao sul.
— Não vai parar? – João.
— Lembra onde estamos?
João olha a mão de Manoel e fala.
— Suas mãos estão azuis.
Manoel olha as mãos e fala.
— É, quem sabe vá no meio dos que andam a rua.
— Mas... – João.
— Calma, ainda sei quem sou.
Reginaldo olha para Manoel e fala.
— Você não se tornou um zumbi azul, você mantem a lucidez,
acho que é o que eles não querem que chegue aos demais.
— Posso verificar o lugar senhor? – Manoel falando.
— Pode, eles queimaram tudo na parte baixa.

60
— Na parte alta estava o combustível, isto é precioso na guer-
ra. – Manoel olha as mãos e fala – Talvez aquele médico lá no hospi-
tal estivesse certo.
— No que? – João.
— Não tenho dores nas juntas, não me sinto fraco, e não pa-
reço estar doente fora a cor.
Manoel passa pelo pessoal e fala.
— Mantenham os pés na trilha, fora dela tem mina terrestre.
Reginaldo olha em volta, o senhor colocou fogo em tudo, sa-
bia que o fogo cercando os militares transformou em fácil algo que
poderia ter demorado horas, mas gente saindo da fumaça, foi fácil
derrubar.
Chegam a entrada e Manoel olha para as imagens e para o
sistema de transmissão, ainda sem sinal, olha para as câmeras, ain-
da ativas, e fala.
— Alguém ainda controla as câmeras.
— De onde?
— De fora provavelmente.
Manoel chega a parte de comando e estavam todos os siste-
mas ali, eles não desligaram, ele olha o caminho, o Joaozinho ao
canto morto, os rapazes do controle de entrada mortos, ele coloca a
imagem das câmeras e fala.
— Como é seu nome senhor?
— Reginaldo.
— Devem três cães ao João.
— Tem de entender...
— Eles protegeram o menino como uma família, era a matilha
dele quando o encontrei, o deve 3 bons cães.
Reginaldo olha o menino que fala.
— Tem...
— Não tenho, mas o que pretende Manoel.
— Entender.
Manoel pega os papeis e começa a olhar, eram as anotações
de um medico chamado Carlos Rezende, Manoel nem sabia se era o
senhor e fala.
— Aqui diz que é uma alteração genética, provocada por uma
ensina da gema do ovo, que altera a absorção de ferro, não entendi.
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Mayco ao fundo entra e fala.
— Ele achou algo?
— Não entendi, mas se entendi, uma alteração nos conteúdos
da ração das galinhas, forçou isto, e somente agora com a disfunção
provocada por esta alteração, desencadeou o problema, mas a au-
sência de melanina, faz eles evitarem certas horas de sol, pois os
queima, a enzima no cérebro desliga as funções para não pararem
com muita concentração de ferro, mas não entendo disto.
— Tem cura? – Reginaldo.
— Segundo ele, sim, mas teríamos de transmitir isto para fo-
ra, estamos em um país que o exercito parece querer destruir esta
informação.
Manoel desliga a câmera e fala.
— Agora vamos falar serio.
— Não estava falando serio? – Mayco.
— Eles estavam ouvindo rapaz.
— Certo, qual a ideia?
— Entraram por onde? – Manoel.
— O seguimos, mas não vimos quando entrou na Cantareira.
— Então voltem e protejam os seus, tirem dos pontos que es-
tão, espalhem por casa na redondeza.
— Porque? – Reginaldo.
— Se eles não querem cura, e a temos, eles vão tentar parar
tudo, hora de ir para o Cantareira.
Reginaldo olha para Manoel e pergunta.
— Mas e o risco?
— Este binóculos a base de calor, é para desviar eles.
— E vai fazer oque?
— Vou esperar eles, o que mais.
O senhor começa a sair e Mayco perguntou.
— Não quer que transmita para fora?
— Ainda não, mas se conseguir um local de transmissão, co-
meça a transmitir qualquer coisa, mas sai do lugar.
— Certo, eles podem nos localizar, mas não quer os fornecer
a cura?
— Eles usariam para nos matar rapaz.

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João olha Mayco sair e olha os demais se afastando e pergun-
ta.
— O que vamos fazer.
João olha Manoel ligar as câmeras, e começar a passar nos
pontos que nunca fora, recolhendo armas dos militares, comida e
agua dos cantis, a reserva local de comida estava forte apenas em
polenta, espalha alguns explosivos do exercito que entrara ali, e
põem sistemas de explosivos nas granadas de entrada, ele olha as
próprias mãos e senta-se ao fundo, na entrada do hospital, o prédio
acima queimava.
— Se for perdendo a inteligência, sabe que tem de se afastar.
– fala sorrindo.
— Sei que está enfrentando, os demais, se escondendo, não
entendi, porque ficou mais azul.
— Não sei, foi quando respirei basicamente só fumaça, não
entendi, mas sinto a cor voltando, é como se o nível de ferro de-
pendesse da quantidade de oxigênio que absorvo.
— E vamos fazer o que?
— Eles vão nos dar as câmeras que querem, então saberemos
por onde eles vão entrar.
— Mas como escapamos?
— Vamos tentar não nos matar, certo.
— Você os detonou, não sei nem como.
— Quem estava nesta base, acreditava que o maior proble-
ma, era os humanos, não os seres, mas tinham um medo incrível de
trazer a praga para dentro.
João olha as câmeras virarem para eles e pergunta.
— Eles acham que não notamos?
— Não estão preocupados.
— Vamos onde?
Saem por um canto e foram a rua, e João pergunta.
— Saímos da base.
— Sim.
Atravessam a rua e Manoel olha aquele colégio a frente e fala
olhando serio o menino.
— Sei que parece não ter sentido o que estou fazendo, mas é
que não tem mesmo.
63
— Mas porque então estamos fazendo.
— Menino, eles tem de pensar que estamos planejando algo
e tentar adivinhar o que, mas não estamos fazendo, eles nos olha-
ram sair e pensam que vamos aprontar algo.
— E não vamos?
João olha Manoel arrombar uma porta, pegar um calçado no-
vo, joga um para ele, uma meia, e um uniforme e fala.
— Algo que dê para correr.
— Eu fiquei com medo e voltei para o carro, mas não sabia o
que fazer.
— Fez o certo João, fez o certo.
— Porque?
— Eu teria abalroado uns 3 antes de atirarem em você, era
local aberto e de fácil mira.
— E não teme morrer mesmo.
— Eles não querem ficar onde estou, eles acham que estou
prestes a mudar, e sair pela rua caminhando.
— E não está?
Manoel sorri e fala.
— A caixa de agua era pintada de azul menino.
João sorriu vendo o senhor entrar no chuveiro ao fundo, de
agua gelada e tirar aquela cor dele.
Ele seca-se e coloca uma roupa que encontrou ali, aquele se-
nhor deixava João sempre olhando desconfiado.
— Tem de ver que não faz meu tipo senhor Manoel.
— Tem de ver que é uma criança desconfiada João.
Ele sorriu e se trocou e pegam um carro que estava no colégio
e saem no sentido do Tucuruvi.
João viu entrarem em um hospital a frente, imaginou que
Manoel não falaram mas estava com dor, ele consegue umas com-
pressas e refaz o curativo, arrombam uma porta e sobem para a
cobertura e Manoel fala.
— Temos de conversar, toda aquela conversa de respirar gás
carbônico, é o que dizia no documento, do medico, então era para
eles, não tenta. – Manoel.

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— Certo, você estava fazendo teatro, entendi quando tomou
banho que era para eles, mas me assusta sua frieza, eles pensam
que você está mal.
— Eles ficariam por perto se falasse a verdade.
— E o que fazemos aqui.
— Vemos o pessoal, esta escurecendo, estacionamos a rua,
entramos e mesmo tentando, eles não tem visão de lá até aqui.
— E faremos o que?
— Vamos nos cobrir, vai chover, mas com uma lona no fundo,
observamos por onde o exercito vai chegar.
— Acha que eles vão tentar nos matar?
— Sim.
Manoel se recolhe ao canto e fala olhando João.
— Descansa um pouco, depois vou descansar, eles começam
a chegar ao longe.
João olha o helicóptero no ar, ao fundo, eles não chegariam
diretamente, viu eles chegando em tanques pela rua, em dois senti-
dos e ele fala.
— Eles sabem ou acham que sabem? – João.
— Desconfio que eles nem tem ideia, exercito é para cumprir
ordens sem contestar.
— E vamos olhar?
— Sim, eles tem de saber, que eles morrem.
— É um jogo?
— Sim, vamos verificar, e saiba, eu não entro em algo para
morrer, mas eu levando minha companheira, para aquele lugar, que
parecia nos oferecer proteção a posso ter levado a morte.
— Por isto nem parou para olhar os mortos.
— Ali tinha gente que pareciam pessoas de bem João.
Joao abraçou Manoel e fala.
— Obrigado por estar aqui.
Manoel sorriu e olhou o menino, ele deixa Joao a observar e
desce olhando o caminho, ele vai até o posto de gasolina abaixo,
anda no escuro do prédio lateral, vendo aquele grupo de seres no
estacionamento do hospital acima, olha para João no telhado do
Presidente.

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Ele liga os sistemas de som, não sabia se funcionaria, ele pe-
gara um sistema de granadas com detonador a radio, colocara no
posto, na entrada do prédio dos seres, e volta com cuidado para o
hospital, ele não sabia o todo, mas quando chega no alto, viu que
mais militares estavam a volta, era perto da meia noite quando ele
ouve os morteiros sobre o colégio, pensam que deveriam estar lá,
Manoel olha para a ação e aciona explosivos sobre as minas no sen-
tido das escola de oficiais.
Os soldados começam a entrar pela frente, um caminhão
chegava a região e ele aciona os explosivos na linha de proteção
externa ao muro e começa explodir, um após o outro, os soldados
recuam, nitidamente um comandante veio a entrada e dois helicóp-
teros iluminaram a região.
Manoel olha o posto de gasolina a 4 quadras, aciona ele e os
caminhões que passavam no sentido da base, veem aquele posto
explodir, um foi atingido, Manoel olhava o comandante na entrada
e os helicópteros tentam achar onde estavam os dois.
Ele aciona o sistema de bombas dentro do hospital que quei-
mara e o mesmo começa a implodir, a poeira subiu naquele sentido.
O comandante olha para a manobra e pensa que eles tentari-
am escapar por ali.
Um agrupamento descia pela Nova Cantareira e sumiu diante
da poeira.
A frente do estacionamento explode a bomba, Manoel sente
o barulho forte abaixo e vê os seres saírem para a rua, os militares
olham aquele agrupamento, começam a atirar, alguns começam
emitir aquele som aterrador de zumbido, e começam a atacar, Ma-
noel pela primeira vez olhava isto por cima, eles pareciam usar o
som quase como um sonar, e os soldados foram sendo mordidos,
atacados, desacordados, o comandante dá ordem para os helicópte-
ros que parecem avançar no sentido dos seres, eles não parecem
sentir dor, e começam a atacar tudo.
O som se torna ensurdecedor, e mais seres aparecem, atraí-
dos por aquele som, os soldados se olham cercados, Manoel olha
estranho, João olha estranho e fala.
— Quase dá vontade de ir lá.
— Sente isto também?
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— Sim, a violência vem a tona, não sei o que este ruído faz,
mas desperta algo que dá medo.
Os militares foram sendo atacados, muitos, os mesmos no lu-
gar de acalmar, ficavam mais nervosos, e recebiam mais ataques,
estranho ver o como o medo, o nervoso, transformava soldados
treinados em vitimas quase inofensivas.
Quando era próximo das 3 da manhã, os seres começam a
acalmar, arrastar mortos para os buracos onde se escondiam, pare-
ciam exaustos, andam em grupo, quase um empurrando o outro.
João parecia cansado e vidrado naquilo.
Manoel fez sinal para ele ficar e falou.
— Vou verificar, mantem a calma.
— Acha seguro?
— Acho que não temos opção.
Manoel desce sobre o olhar do menino, ele olha os mortos a
rua, a quantidade de desperdício, olha para um dos rapazes do
exercito se tornar um deles, caminhar para onde o zumbido baixo
parecia o chamar, não lhe olhou aos olhos, parecia olhar ao chão.
Os rapazes ao chão, alguns se levantam, Manoel olha para
eles, as pupilas azuladas, eles ainda não tinham a pele azulada.
A transformação começando pela ausência de melanina ocu-
lar, não pela pele azul.
O chegar e ver mais um general morto, dava a condição, pega
a identificação do mesmo, olha aquele carro de combate, olha em
volta e pensa se teria o que fazer?
Ele queria uma cura e não um enfrentamento eterno, nem
que ele morresse, olha para a rua, começavam a se erguer, alguns
bem feridos, mas que logo se armariam e retornariam a uma base,
ele se afasta sem olhar mais.
Os soldados parecem olhar ele como inimigo, ódio aos olhos,
estranha, tudo que fizera, era para entender o problema, não para
os ter como inimigos.
João olha que Manoel seria cercado, pensou que o senhor te-
ria de ser ajudado, mas ele apenas olha para o hall do prédio ao
fundo e aperta algo a mão, os seres se agitam e começam a sair, os
soldados olham para ele, se afastando, ele anda no sentido dos se-
res de costas e os vê passar por ele.
67
Estavam cansados, se via a cara de exaustos, mas o de medo
dos soldados os fez recuar.
Manoel olha para onde estava e apenas abre os braços e co-
meça a forçar alguns poucos a voltar, os demais pareceram sentir o
movimento e voltarem juntos.
Manoel fecha os braços e deixa eles passarem voltando, os
soldados ao fundo tentam ver o senhor, e não viam.
João olha para o agrupamento militar receber um caminhão
ao fundo.
O general Matoso chega a eles e olha os estragos e pergunta
a um soldado.
— Me informe soldado.
— Não sabemos se nossa vitima morreu, estávamos verifi-
cando um segundo sobrevivente, mas ele se misturou aos seres.
O general olha para os mortos, os estragos e pensa no quanto
pareceu desorganizada a operação, para poder perder a poucos.
— Me informem sobre o comando.
— O general veio verificar porque General Guedes não res-
pondia, ele organizou uma operação com base as câmeras, mas
parece que eles esperavam isto, não entendemos general.
O general em seu caminhão vê o Sargento ao fundo falar.
— As câmeras não mostram eles saindo senhor, mas mostra
eles colocando algumas coisas ao chão, não sabíamos que tínhamos
minas terrestres a toda volta, quando uma explodiu, elas entraram
em explosão sequencial, a toda volta.
O general viu que tinham uma volta a toda volta da base,
afundada.
— Eles detonaram o hospital para nos tirar a visão da parte
alta, vinda pela Nova Cantareira.
O general olha os estragos e olha para os carros atacados.
— Eles detonaram algo no posto de gasolina ao fundo quando
passávamos com os caminhões de soldados e parecem ter detonado
explosivos nos esconderijos dos seres que ficaram furiosos.
— Eles, que fala, são quantos?
— Nem ideia senhor.
— Falou em um sobrevivente, ele parecia ter alterações?
— Não.
68
— Alguém a mais, viram o menino?
— Não.
O general olha alguns soldados se afastando, com os braços
largados, pescoço meio lateral, como se tentassem enxergar algo, e
fala sem sentir.
— A vacina não funciona, ou é impressão?
— Alguns foram infectados sim senhor.
— Preciso saber, quantos parecem da resistência no enfren-
tamento.
O sargento mostra as cenas dentro do caminhão e o general
não via ninguém e fala.
— Não aparece ninguém além dos seres.
O rapaz mostra a imagem do rapaz indo no sentido dos seres,
e passando por eles, depois os mesmos recuam juntos, e fala.
— E se eles souberem se misturar senhor?
O general olha a imagem e fala.
— Parece nosso alvo, mas este não tem a doença, como o ge-
neral afirmava.
O sargento coloca a imagem do ser azulado antes, e agora pa-
recia bem e o general fala.
— Verifica, ainda falta para amanhecer, vamos organizar, mas
pelo jeito, o rapaz veio detonar a base. – O general olhando a base
que existia em Barro Branco, com fogo em 3 lados, e o hospital des-
truído.
— Senhor, perdemos mais de 600 rapazes hoje.
— Viemos verificar, pois o antigo general, estava com duzen-
tas pessoas, ele fez uma operação em Guapira, depois em Sambai-
ba, com 300 homens, parecia tudo sobre controle, ele falou que
tínhamos de evitar que fosse transmitido, sobre as causas, ele está
morto, o rapaz nitidamente parece estar se curando, e me veio uma
duvida sargento, o que está realmente acontecendo aqui.
O sargento coloca as imagens do avanço dos seres e o general
fala.
— Estão a cada dia mais violentos, não sei o que aconteceu
aqui, mas é obvio, eles tem mais de 100 mil seres por perto, eles
vieram todos no sentido do som, eles nos atacam como um enxa-
me, parecem não ter dor, mas alguns morreram a rua.
69
O senhor sai do caminhão e olha em volta e os soldados co-
meçam a dar um tiro de misericórdia nos que ainda se mexiam ao
chão, mesmo nos soldados infectados, um tiro único a cabeça, Ma-
noel olha aquilo chegando novamente a região que João estava.
Coloca as cintas plásticas na estrutura do prédio, e olha para ela,
esperava não precisar explodir o lugar.
Olha os seres nos halls de entrada, nos dois espaços, eles
abrem caminho e Manoel chega as escadas, toma folego.
Sobe e olha para o general ao fundo.
— O que faremos? – João.
— Descansar e observar.
João olha o senhor puxar a lona e se encolher, começava uma
garoa fina, mas o dia não estava frio.

70
Manoel acorda, estava quente
e se descobre e olha aqueles senho-
res olhando para ele.
— Se identifique? – O militar
as costas.
Joao estava olhando assustado e Manoel fala sentindo os de-
tonadores no bolso, e olha deixando as mãos visiveis.
— Manoel Maier, motorista de caminhão, esperando para ser
evacuado ou socorrido.
O militar olha a foto e fala.
— Acha que acreditamos em você senhor. – Um general.
Manoel olha João e fala.
— Só não pula.
— Não sou maluco.
Manoel olha o senhor e fala.
— Acusa-me de que, já que eu não tenho arma, vocês muitas,
eu sou um motorista de ônibus, vocês, militares, eu um sobreviven-
te que passou 62 dias até ver alguém oficial, todos os demais, que-
rendo nos matar ou nos matar.
— Levantem as mãos.
Manoel levanta e faz sinal para João erguer, ele olha para
Manoel e pergunta.
— E se começarem atirar como no hospital.
— Pula, pois é mais fácil um milagre do que eles errarem o ti-
ro. – Manoel olhava o oficial.
— Quem atirou em vocês em que hospital?
— Um dos seus, matou médicos, crianças, para não se falar
ou perguntar sobre a doença, mas se vai nos matar, ou usar como
cobaia como naquele hospital, acho que ainda prefiro pular.
— Sabe demais para ser inocente.
O militar pega a pasta e alcança ao general.
O mesmo olha os relatórios e fala.
— Bem o que procurávamos.

71
Manoel pensa que morreria ali, pegaram ele dormindo, a fal-
ta de comida, lhe dava muito sono, ele não queria morrer, mas pu-
lar de um prédio de oito andares, também era, olha o menino.
Ele começa a zunir baixo, Manoel não entendeu direito, sen-
tiu vontade de fazer o mesmo, mas olha o militar ficar tenso e falar.
— Para que ou lhe mato.
Manoel viu o menino não parar e fala.
— Vão nos matar mesmo rapaz, vocês não são educados a
servir o povo, e sim generais com alguma pretensão escusa.
O menino recuou, ele estava chegando a beira, zunindo baixo
e deixa o corpo cair, zunindo, os soldados tentam chegar rápido,
mas o menino já caia, o general olha para Manoel e fala.
— Quer tentar o mesmo?
Manoel apenas olha o senhor, anda de costas e olha os sol-
dados e fala.
— Nos vemos na parte baixa. – Manoel olha para o general e
fala – e se não entendeu, tudo que tem ai é mentira, não existe
cura, não existe saída, todos nós vamos morrer.
Manoel estava contando até 10, estranhou pois o menino não
gritara, o menino não fizera barulho de alcançar o chão, era uma
queda de menos de 10 segundos, ele sabia que o menino estava
pensando em algo, ele sente a sua mente, aquele som ensurdece-
dor e se lança ao ar de costas, ele olha os militares chegarem a beira
e o general grita para tirarem, e sente algo o segurar, o desacelerar
e o colocar ao chão, muitas pessoas, não entendeu, e viu os seres
olhando o menino ao canto que fala.
— Assustador algo assim.
— Vamos. – Manoel.
Manoel desce ao estacionamento, mas não sai, ele vai para a
saída de drenagem e vai ao fundo, começam a andar e sair pelo
fundo, por uma manilha, pensando em onde iriam.
O general olha para os papeis e olha para os soldados, olham
para o chão e pergunta.
— O que são estes dois?
Os soldados estavam ainda pensando, viram aquele conjunto
de pessoas se empilhando e depois reduzindo a queda e o senhor
cair de pé e sair.
72
O general olha ao canto as armas, os explosivos e olha a pasta
e pergunta.
— Alguém entendeu?
Eles estavam assustados, sem saber o que fazer, mas parecia
que algo estava fora do contexto difícil de administrar.
Manoel sentou-se ao canto e olhou João.
— O que foi aquilo?
— Não sei, senti na minha mente, eles nos matariam lá, você
falou em pular e comecei a ouvir o zumbido, o medo foi embora,
pensei que estava pulando para a morte até sentir as mãos me se-
gurando, não quero fazer aquilo de novo. – O menino.
Manoel olha o menino e fala.
— Vamos acalmar, tenho de pensar.
— Eles ficaram com tudo.
— Sei, a bolacha é que mais me preocupo.
João sorriu e falou.
— O que faremos?
— Não sei, entender, pois eu não entendi nada.
— Impressão minha ou eles estão matando os sobreviventes,
e deixando os seres? – João.
Manoel pensou e falou.
— Hora de conseguir entender o problema.
— Mas como?
— Vamos esperar eles saírem e vamos ao centro.
— E o centro é seguro?
Manoel se encolheu, novamente se escondendo.
O general começa a descer e viu que teriam de esperar, os se-
res estavam a toda volta, no hall, se começassem atirar, poderiam
vir mais, e olha para os rapazes e pega o comunicador.
— Me informem.
— Estão indo em grande quantidade para o hospital Presiden-
te. Não entendemos o que está acontecendo.
— Viram algo sair do hospital?
— Não, mas tem muitos destes a rua.
Os militares entram no terceiro andar e ficam a esperar, os
seres pareciam vir ao hotel, e ficam a olhar, não teriam por onde

73
sair, sem um enfrentamento, eles viram as imagens do enfrenta-
mento, então estavam querendo sair apenas.
O general olha para o sargento.
— Não entendi como alguém pode pular do decimo andar,
mesmo sendo 8 até o ponto que o pegaram, e estar vivo?
— Também não, acha que isto é realmente uma armação?
— Não sei, não tenho autonomia para analisar, pediram para
destruir e não repassar.
O soldado olha desconfiado e o general completa.
— Eles querem algo, não sabemos o que. Pior, se eles estives-
sem em uma sociedade normal a volta, seria impossível identificar o
senhor, ele parece ter melhorado totalmente, mas não entendi, os
seres o seguraram, o que é ele?
— Ele e o menino senhor, não são parentes mas foram apro-
ximados por sobreviverem e são salvos, o menino de alguma forma,
pediu socorro, ele zumbiu, não entendi aquilo.
O general olha para o rapaz e fala.
— Esquece isto, não vamos escrever isto em lugar algum – Ele
pega uma bandeja de metal e coloca fogo no material.
O sargento olha os explosivos e as armas e fala.
— Não dá para dizer que ele não estivesse pronto para uma
guerra senhor.
O general olha os explosivos, os sistemas de detonação, olha
para a rua e fala.
— Mas sozinho ele não conseguiria fazer isto.
— Os grupos em Guapira estão se escondendo de nós senhor,
teremos de os caçar, mas não vieram para cá.
— Porque parece que estamos sem entender o problema?
— Porque não estamos entendendo senhor, estamos aqui pa-
ra cumprir ordens. – Sargento.
O senhor olha os restos a mesa, ele não sabia o que era, mas
sinal que não queriam aquilo, ele nem olhou, para não achar que
teria de salvar os papeis.
João olha para Manoel que fala.
— Continua, sai pela pracinha a frente da igreja a baixo, mas
tenho de fazer algo.

74
João não entendeu, continuou a andar, Manoel recuou, olha
para os seres no hall e abraça dois deles, e começa a indicar a parte
externa, os seres estranham, mas começam a sair, um zunido leve,
parece que fez todos saírem, se afastarem e os militares ao longe
estavam acompanhando sem entender.
Manoel chega a frente, ele olha para o general no andar su-
perior e o mesmo olha ele lhe encarar, olha ele pegar o detonador e
começa a ouvir as explosões, os seres se afastam e o prédio começa
a ruir, o general não teve tempo de reação, olha os soldados ten-
tando sair e ouve aquilo rachar e vir todo sobre eles.
Manoel olha os soldados em meio ao grupo e começa a des-
cer a rua, no sentido da praça em frente a igreja.
Os soldados que estavam mais a baixo olham o prédio vir a
baixo e tentam falar com o general, e começam ver os seres vindo
no sentido deles, começam a recuar.
Manoel aproveita o recuar e muda de rua, os seres iriam a
frente, ele no sentido que o menino fora, ele chega a praça baixa,
olha o menino sentado e fala.
— Cansado?
— Com fome.
— Vamos tentar não chamar muita atenção, algo pegou fogo
no Carrefour ao fundo, então temos de achar o que comer.
— Pensou no que?
— Mexerica.
O menino sorriu e caminharam a rua, o menino viu quando
subiram por um local íngreme, ele ajuda ele a subir no muro e de-
pois pula e olha para a sede do Corpo de bombeiro, mas o principal,
os pés de mexerica lotados.
— Sabia deste paraíso?
— Reparei quando descíamos a rua, mas naquela hora, colo-
cando explosivos não consegui parar.
O menino pega uma e pergunta.
— E se estiver envenenada?
— Morremos com a barriga cheia de liquido.
O menino sorriu e senta-se enquanto Manoel entra na cede e
olha umas mascaras, uma mochila ao fundo, e começa a mudar de
roupa e de ideias.
75
Carros de bombeiros sem bateria, as vezes parecia persegui-
ção, mas eles fizeram o trabalho deles, agora Manoel teria de fazer
o seu, e olha para o armário de armas, machadinha, e olha um uni-
forme no fundo, muda de roupa e coloca o cinto e olha para a rua,
os seres avançavam calmamente no sentido dos militares, teriam de
sair dali.
Ele olha para o capacete, coloca ele, olha para o carro ao fun-
do, ele pelo jeito ficou 60 dias parado, mas o exercito não.
Ele lembra de uma historia antiga, olha o caminhão do bom-
beiro, eles tiraram até a estrutura de salvamento, eles esvaziaram o
bombeiro, ele olha o gerador ao fundo e olha o sistema de gasolina
dos veículos, olha para fora, na entrada do hotel, olha João e fala.
— Mantem-se oculto.
— Não está abusando?
— Sim, mas tem coisas que não saberia fazer, e uma, como
produzir uma bateria.
O menino sorriu, e viu o senhor sair na frente do corpo de
bombeiro e o militar bem ao fundo olha para ele, não sabia o que
fariam, mas ele caminha contra o fluxo, com aquele uniforme, com
mascara de gás, no sentido do hotel.
Manoel pensa se lhe reconheceram, chega a um caminhão
que estava parte soterrado pelo hotel e abre a frente, abre a porta,
olha o comunicador, põem na cintura, uma arma, abre o capo e vai
para a frente do veiculo, solta a bateria e olha em volta, pega a ba-
teria, coloca nas costas, caminha no meio da rua, olha os seres e
chega a base dos bombeiros e grita para João.
— Pega o que puder, estamos saindo.
O menino sorri e chega ao carro e fala.
— Não cabe tanto assim, mas no pé não estraga.
— Verdade.
O menino vê Manoel dar a partida e todos veem ao fundo
aquele caminhão do bombeiro saindo da garagem.
Um rapaz ao fundo olha para o comunicador e fala.
— Quem é aquele bombeiro?
— Não sei, ele pelo jeito vai ao centro.
Os dois estavam tentando uma comunicação quando veem o
general sair ferido dos escombros, ajudado por outros dois.
76
O senhor olha o caminhão do bombeiro e olha os seres entre
eles e os militares, olha para o soldado e fala.
— Perdemos bons homens ai.
— Aquele senhor é um perigo.
O general deu a volta e chega aos soldados.
— Me informem.
— Como está senhor, vimos o prédio ruir, não entendemos?
— Aquele senhor, Manoel Maier, verifiquem se eles tem algo
sobre este senhor, pois ele tem experiência em tiros, em explosivos,
ele – o senhor olha os restos, pensa, poucos viram, poucos sobra-
ram – deu um jeito de sair da cobertura e detonar a estrutura do
prédio, levamos sorte, eu e o soldado pulamos para a marquise,
mas quem não o fez, está soterrado pelo prédio.
— Quantos anos teria este senhor? – O soldado.
— Uns 30 no máximo.
— Com este nome temos 22 pessoas senhor no Brasil, 4 na
cidade de São Paulo, mas deve ser este com 28 anos senhor.
— O que tem?
— Carteira de motorista E, EAR, MOPP, serviu como soldado
na sua cidade natal, Mafra, não temos além disto senhor, sangue A
negativo, disfunção imunológica, afastado por problemas pessoais.
— E onde ele está?
— Desconfiamos que ele pegou um caminhão do corpo de
bombeiro e está indo ao centro.
— Não tem certeza?
— Vimos um senhor sair da base dos bombeiros a frente, mas
ele estava de mascara e vestido como bombeiro.
— Ele vai mudando a aparência, mas manda um helicóptero
interceptar eles.
O rapaz chama a base e o general pede para interceptarem o
caminhão.
Manoel para o caminhão na altura do Carandiru, ele sai e faz
sinal para o menino sair, coloca dois apoios nos pneus de trás, colo-
ca no ponto morto e olha para uma barreira a frente, estica uma
corda e os dois entram em um hotel, sobem e João pergunta.
— O que estamos fazendo aqui?
— Aqui que eu e minha companheira fomos resgatados.
77
— Mas deixou o caminhão ligado.
— Sim, não temos como passar a barreira a frente, então es-
pero que o exercito venha atrás de nós.
— Não entendi.
Manoel ouve o helicóptero e faz sinal para ele recuar, o heli-
cóptero chega rápido, olha para o mesmo, puxa a proteção do pneu
e o caminhão começa a descer, inicialmente lentamente, mas o
helicóptero chega abrindo fogo, os rapazes na proteção a frente,
começam abrir fogo contra o caminhão e depois contra o helicópte-
ro que os atravessa.
Os rapazes se escondem e o mesmo lança um míssil no cami-
nhão e este explode, o grupo começa atirar no helicóptero que re-
cua.
João olha para Manoel e pergunta.
— Eles vão vir olhar.
— Não duvido, vamos ao fundo e saímos para o prédio ao la-
do.
Manoel passa no sistema de gás, acerta ele com a machadi-
nha e ele começa a vazar, os dois atravessam e os rapazes começam
a chegar, o menino olha para trás e olha o rapaz jogar um fosforo e
tudo começa a pegar fogo, e os dois se protegem a uma parede e o
prédio começa a estourar.
— Pelo jeito não veio para cá pois precisava de algo mais for-
te.
O rapaz ao lado do general mostra as imagens do helicóptero
e ele olha aquele grupo de pessoas fechando o centro e vê o cami-
nhão explodir.
O general olha para o soldado e fala.
— Pede tanques, vamos a este lugar.
— Eles vão perguntar porque?
— O rapaz não é burro para cair assim, estupidamente, não
entendi ainda a ideia, mas tudo indica que ele vai passar por aque-
les rapazes e vai ao centro, não sei a ideia.
— Sistemas de comunicação? – O soldado.
— Pode ser, algo para avisar alguém.
— Mas avisar oque? – O soldado.

78
O general não respondeu, mas talvez não acreditasse que o
rapaz fosse maluco de tentar.
Manoel olha para o ar, não eram helicópteros nacionais, ti-
nham aquele símbolo norte americano, então estavam em ação
conjunta, o que ampliava o problema.
Ele olha o menino e fala.
— Vamos esperar um pouco, vamos dar tempo a eles, não
temos pressa.
— Estou apertado.
Manoel apontou uns banheiros que deveriam estar sem agua
ao fundo, e o menino sorriu.
Ele fica pensando sobre o problema e olha para o comunica-
dor e começa a passar nas frequências, ele acha uma onde alguns
rapazes pediam socorro e fala.
— Se alguém do exercito se propor a ir lhe ajudar rapaz, se
esconde, eles estão matando todos.
O rapaz indagou quem era, e Manoel apenas fala.
— Soldado Maier, eles estão matando os sobreviventes, não
sei o motivo, mas se ouvir helicópteros, são Apache, Norte Ameri-
canos, se olhar os tanques, os nossos lixos nacionais, mas cuidado, e
se estão transmitindo a muito tempo, melhor sair dai logo.
Manoel não sabia, mas esta transmissão foi pega longe, e re-
passada, alguns grupos muito distantes, começam a olhar o exercito
e se perguntar qual a função deles, e estranham que eles estavam
em prol de algo.
Ele fica ali a trocar informação, sabia que já deveriam triangu-
lando onde ele estava, ele pensa no que fazer e pensa na coisa mais
maluca a fazer.
Ele sorri da ideia idiota e pensa.
“Ou morre ou vira lenda”
Manoel olha o menino vir aliviado e falar.
— Fedeu.
— Vamos, temos de andar.
— Onde vamos?
Manoel zumbiu bem fraco e o menino sorriu e fez o mesmo,
as ruas em volta, começam a encher de seres, o pessoal da barrica-
da a frente fica tenso vendo aqueles grupos chegando em quanti-
79
dade e Manoel pega o megafone e sai e frente e começa a caminhar
no sentido da barricada, onde o caminhão pegava fogo.
— Pedindo autorização para passar rapaz, apenas passar.
O rapaz dentro da proteção não via quem falou, mas via
aqueles seres chegando e um senhor olha para os seres e bem ao
fundo o exercito chegando, se eles começassem algo poderiam es-
tar todos mortos, então faz sinal para os rapazes abrirem caminho e
os seres começam a pular a proteção e passar.
Manoel sai do grupo e olha o senhor a frente e pergunta.
— Quem é o responsável?
O senhor olha para Manoel e fala.
— Eu, quem é você?
— Apenas alertando, o exercito tá matando todos os sobrevi-
ventes, quer passar em meio aos Azuis, apenas não os ataca, passa,
eles não nos veem como ameaça, mas se começarem zunir alto, se
esconde, eles vão bater e se bater até não terem mais forças.
— Porque o exercito estaria matando todos? – Um rapaz.
— Não entendi, alguém no Hospital São Luís Gonzaga desco-
briu algo, diziam ser a cura, o exercito surgiu no dia seguinte e ma-
tou todos os médicos, ate as crianças.
— E vai para onde?
— Os exércitos tem vindo pelo norte, não sei de onde, mas se
eles vem do norte, eu vou ao sul.
Manoel faz sinal para o menino entrar no grupo e os dois so-
mem em meio aos seres e continuam a andar.
O senhor de nome Patrick olha os rapazes e pergunta.
— Quem é este?
— Não sei, mas ele caminha usando os seres, parece pela ves-
te, quem estava no caminhão, que o exercito veio detonar, eles nos
filmaram naquela hora, o rapaz está saindo do caminho, o que re-
comenda Patrick?
— Esconde as pessoas, deixa o exercito passar, não sei o que
está acontecendo, mas ele pediu para passar, sabemos que ele po-
deria apenas os por em agitação e não estaríamos aqui, pois os se-
res parecem adivinhar onde estamos.
Manoel olha o caminho, ruas sem fim, ele não sabia para on-
de iria, ele estava avançando, e não sabia o que fazer, as vezes ele
80
zumbia baixo e mais seres apareciam, eles começam a ser muitos,
Manoel olha o exercito ao fundo, eles não avançariam sobre os se-
res, tentavam manter-se invisíveis no meio daqueles seres, ele che-
ga ao Campo de Marte e olha para os militares a frente, e viu que os
ao fundo começaram a se armar.
Manoel olha os seres, parecia que eles lhe sentiam, ele não
entendeu, mas parecia ser parte dele, no começo ele não se preo-
cupou em os por em lugares que morreriam, continuava não se
preocupando, e ao mesmo tempo, eles pareciam lhe olhar, saber
quem ele era, quando nem ele sabia.
Eles se afastam para o Parque Anhambi ao fundo enquanto
Manoel e o menino chegam ao aeroporto e um rapaz os aponta a
arma.
— Se identifiquem.
— Manoel e João, pedindo para passar apenas.
— Passar? – Um senhor ao fundo que viu que eles vieram em
meio aos seres.
— O exercito as costas quer nos matar, e não gosto de mor-
rer, então caminhamos.
— Está infectado?
— Até eles estão senhor, não sabemos o que atingiu, um me-
dico da Santa Casa achou saber a respostas, e este pessoal entrou
matando tudo, até as crianças, tem muita gente morta ao norte,
eles só atiram em saudáveis, então acredito que esteja saudável.
Um general aponta a arma ao fundo para Manoel que fala.
— E saiba general, entreguistas, morrem hoje, na cidade de
São Paulo, ou vocês voltam a defender o povo, ou serão apenas
restos de pessoas ao chão.
O general olha serio, estava com a arma apontada e fala.
— E não teme a morte?
— Eu não temo o que todos vão estar daqui a pouco, se não
pararem de estupides, olha a cidade em volta senhor, morta, esta-
mos na maior cidade da américa latina, ela deve ter perto de 300
mil seres vivos, mais uns 10 mil não infectados, a pergunta senhor,
porque?
João olhava em volta, fica de costas olhando os militares que
avançaram, ele estava tenso, mas ele apenas zumbi fino e o exercito
81
que passara apenas quando os seres se afasta, sentem os seres os
cercarem, o general apontava a arma para Manoel, que o encarava,
o menino olha o outro entrando, com muitas armas, os seres come-
çam a cercar tudo, os helicópteros aparecem ao ar.
O menino aperta a mão e Manoel, que olha os demais che-
gando e fala baixo.
— Mantem a atenção, pois sei que a calma será difícil.
— Mas se eles nos ajudarem, podem vir a nos matar.
Manoel toca o curativo no braço, nem estava bem e olha para
o general.
— Como será senhor, pois exercito americano no Brasil, a
quem servem senhor, pois um governo sem povo, não existe, então
se vocês cumprem ordens contra o povo, vocês não precisam de
nós, que comecem a trabalhar para por comida a boca.
O menino olhava o general que aponta para ele e fala.
— Acharam que escapavam?
O menino olha o senhor e fala.
— Naquela hora, eram o que, 12 armas contra eu e Manoel,
sem opção, e agora senhor, vamos ver se é feito mesmo do mesmo
material que o senhor as costas.
O general olha em volta e sente os seres aumentarem um
tom de agressividade, e fala.
— Acha que não podemos com eles?
— Acho que não entendeu general, você está morto, assim
como o do outro lado, infectados, mas quando se põem um general
para proibir a cura, sinal que ele já não é general, ele é burro, pois
quando chegar em casa, estará com toda a família morta.
O impasse estava ali, os seres estavam chegando, Manoel
sente o primeiro tiro lhe atravessar o peito e cai a frente, o menino
olha os seres e zumbi alto e todos olham para o menino assustados
vendo surgir seres de todos os lados.
O general apontava a arma para o menino e sente algo o
morder o braço, ele nem vira o ser chegar ali, e avança com força,
os seres a volta chegam a volta do menino e começam a o proteger
e avançar em todos os sentidos.

82
O menino parece olhar com raiva e olha os militares ao fun-
do, que atiraram em Manoel começar a recuar, os seres avançam e
um ao fundo perguntou.
— Porque atirou general?
— Ele...
— Morreu senhor, e agora.
O senhor vê os seres avançarem contra quem atirava e os
porte com os dentes os forçando largar a arma e outros chegam os
mordendo violentamente.
Manoel olha para o menino invertendo o corpo e fala olhan-
do João.
— Tenta acamar menino.
João olha para Manoel e sorri, os seres foram acalmando e fa-
la.
— Não vai morrer mesmo?
Os seres terminam de derrubar o exercito e começam a arras-
tar corpos para longe, e Manoel fala.
— As vezes temos de ver que a arma está ao lado, e não a re-
conhecemos.
— Não entendi. – Joao intrigado.
— Manda eles saírem da cidade, eles vão atacar com tudo.
Os seres olham para o menino e começam a sair.
— O que entendeu?
— Vamos sair também.
Manoel levanta, tira um colete que colocara no quartel e fala.
— Ainda bem que não atiraram na cabeça.
Manoel olha em volta e caminham até o carro a frente, em
que o general veio vendo todos caídos a volta e fala.
— Vamos.
Ele liga o carro e olha para o senhor da barricada e fala.
— Pega os seus, aproveita os carros, vamos sair da cidade,
vão atacar com tudo.
Patrick olha Manoel, não entendera, mas era obvio que ele
foi a pé e estava voltando com o carro do exercito.
— E temos quanto tempo?
— Não sei, mas por isto estou saindo.

83
Manoel olha para o fundo e olha para o senhor Reginaldo
chegando e fala.
— Meia volta, hora de passar nas bases e tirar todos, vamos
subir a montanha ou nos ocultar em algum lugar. – Fala Manoel.
— Onde?
Manoel olha em volta, não sabia com o que atacariam, mas se
fosse incendiário, tudo se perderia.
— Os tuneis do contorno Norte devem aguentar.
O pessoal começa a dirigir no sentido da Cantareira, e senti-
ram os seres começarem a caminhar no mesmo sentido, o menino
olha para Manoel.
— Vai me abandonar por medo?
— Vamos entender isto menino, eles não precisavam nos sal-
var, sabe disto.
— As vezes eu fico quase como eles. – João.
— Acha que está infectado?
Manoel olha o menino que fala.
— Eu era albino, não entendo, não sou mais.
Manoel sorriu pois sinal que nem quem mandou fazer a ope-
ração entendeu, ele era o alvo, não o menino, mas talvez a inexis-
tência de quantidades abaixo do que a doença registrava de mela-
nina no corpo, fez no menino, toda uma reação diferente.
Eles pegam ao norte e começam a chegar aos tuneis, as pes-
soas foram chegando e se viu os aviões vindos do mar, soltar bom-
bas que foram destruindo o centro da cidade.
Manoel olha aquilo ao longe e fala.
— Tá doendo onde levei o tiro.
— Tem de se cuidar Manoel, tem um menino aqui para você
cuidar.
Manoel sorriu e olha os demais olharem o local sacudir com
as bombas bem distantes, o fogo queimar e destruir de uma vez o
local.

84
Manoel olha para a cidade, a 6
meses, a resistência está resistindo e
ampliando, o que eram grupos ini-
migos, com um inimigo em comum
se unem.
Ele olha o menino as vezes olhar os seres como sendo parte
dele, não sabe exatamente o que aconteceu, ele não fala, mas tem
quase certeza de que a historia dele não foi como ele falou, mas
tinha certeza ele foi a melhor coisa que aquele problema colocou no
seu caminho, ele tenta parecer normal, todos sabem que ele quan-
do avança, todos os demais avançam junto, as pessoas podem não
entender, mas ele de alguma forma, está ligado a todos.
Refizeram a base em Barro Branco, estão recebendo gente
que vem de todos os lados, Manoel tenta remontar famílias, a cada
dia, as resistências ganham mais apoio, e o radio, diz que é mundial,
não sabemos se dá para confiar nos números, mas dizem que uma
adulteração no ovo, fez uma alteração que atingiu humanos, mas
não iniciou a reação antes de somar um som, dizem que tudo foi
desencadeado pelo som nos humanos, os seres da cidade, de ratos
a gatos, acabam comendo vestígios de produtos feitos pelo homem,
quando entrou em reação, os animais silvestres, por instinto se
afastam das cidades, os demais, morrem.
Nos humanos, 30% deles se tornaram seres azuis, 68% mor-
reu, e somos a pequena sobra, dos seres que tem de aprender a
fazer tudo.
O exercito, escondeu os dados, alguém provocou, alguém
tentou ganhar com isto, e no fim, temos pelo radio, aviso de que
eles acabaram sucumbindo.
Manoel olha os demais, não sabe o como vamos enfrentar o
todo, mas sorri quando o menino chega ao seu lado e fala.
— Um dia temos de entender isto.
Fim

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