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Aquisição da linguagem: alfabetização e letramento a partir do viés pedagógico

Thalles Ricardo de Melo Silva1

O texto discute os conceitos de alfabetização e letramentos por via do discurso


pedagógico. Entende-se como processo de alfabetização a aquisição dos códigos letrados,
assim como sua compreensão. O letramento é definido como o uso social do código
linguístico. Defende-se que há um processo de complementaridade entre a alfabetização e o
letramento, visto que a compreensão e utilização da escrita e da leitura devem objetivar o uso
social dado por meio do contexto que o aluno está inserido. Todavia, para que haja a
aquisição da linguagem, o professor deve compreender as fases da alfabetização,
considerando o estudante como um sujeito ativo na produção do conhecimento.
A pedagogia de Comenius visava à ampliação do ensino. Destarte, o autor defendia a
ideia de que a educação deveria ser voltada a um método que possibilitasse a massificação da
aprendizagem. A produção de cartilhas era um meio de executar essa máxima. Por
conseguinte, a alfabetização era constituída mediante a formulação desses instrumentos
pedagógicos. Por meio deles, o professor transmitia os conteúdos. Tinha-se como tradição o
ensino voltado para a relação entre grafemas e fonemas. Havia duas formas de compreender
essa relação, um partindo dos grafemas para se chegar às palavras; e o outro modo indo das
palavras em direção das sílabas/grafemas. O papel do aluno, nessa lógica, era o de
assimilação, participando do processo de ensino-aprendizagem como um sujeito passivo.
Entretanto, com o advento do construtivismo, alterou-se a concepção de ensino-
aprendizagem no processo de alfabetização. Para essa corrente epistemológica, o
conhecimento se estrutura a partir das relações entre sujeito e meio, e esta relação é mediada
pela maturação biológica do indivíduo. Isso significa que, para uma proposta pedagógica, é
preciso considerar etapas de aquisição da linguagem, pois, para além da intenção pedagógica,
deve-se considerar o grau de maturação da criança.
Emília Ferreiro e Ana Teberosky, ao contribuir com a abordagem construtivista,
produziram estudos voltados à psicogênese da aquisição da linguagem, que é composta por
etapas gradativas2. Para as autoras, a criança passa por cinco fases: pré-silábica, silábico sem
valor sonoro, silábico com valor sonoro, silábico alfabético e alfabético.

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Aluno do curso de segunda graduação em pedagogia
2
Apesar de serem gradativas, as etapas são constituídas com avanços e retrocessos. Ademais, cada criança
possui um tempo específico de aprendizagem.
Na fase pré-silábica, a criança não estabelece relação entre fala e escrita. Esta é
dispersa e instável, não representando, necessariamente, nenhuma informação. Nesse nível,
as autoras conceitualizam dois períodos, o icônico e o não icônico. No período icônico a
criança representa suas ideias pelos desenhos, todavia, não possui a noção de escrita, uma vez
que acredita que a escrita e o desenho são processos homônimos. Já na fase não icônica, a
representação escrita é instituída mediante garatujas e rabiscos, contudo, ainda não há o
reconhecimento das letras. Outra característica dessa fase é o realismo nominal, que consiste
em relacionar a palavra com a imagem. Como exemplo prático, a formiga seria representada
por uma escrita menor do que leão, pois haveria equivalência entre o tamanho do animal e a
sua representação escrita.
A fase silábica sem valor sonoro é conceitualizada a partir da fase que a criança
utiliza letras para a representação, todavia, estas não possuem valor sonoro, ou seja, não há
relação entre grafema e fonema. Assim, há a distinção entre letras, imagens e números. Além
disso, amplia-se a quantidade de letras reconhecidas pela criança. A fase silábica com valor
sonoro é caracterizada pela atribuição de valor sonoro às letras. Mas nessa fase, apesar de
haver uma precípua atribuição entre grafema e fonema, a escrita ainda é fragmentada. Como
exemplo prático, em vez de os fonemas estarem ligados a sílabas, os valores são atribuídos
unicamente às letras, o que fragmenta a totalidade fonética da palavra.
A fase silábico alfabética é a primeira que a criança começa a construir sílabas. tal
fenômeno se deve ao fato de a criança aumentar o número de letras conhecidas, assim como
atribuir valor sonoros a elas. Por fim, a fase alfabética é constituída pela total relação entre
grafema e fonema, podendo, entretanto, ocorrer erros ortográficos. Ademais, é nesta fase que
a criança começa a reconhecer a função da língua mediante a leitura e a escrita.
Contemporaneamente, atribui-se um valor significativo à função social da escrita.
Destarte, é necessário distinguir os termos alfabetização e letramento. O primeiro refere-se ao
domínio dos códigos linguísticos, que diferem do uso da língua falada. Alfabetizar significa
ensinar o estudante a compreender o código escrito. Contudo, a alfabetização deve estar
intrinsecamente associada ao letramento, que consiste no uso social dos códigos linguísticos.
A aquisição da linguagem, pois, deve possuir finalidades.
Logo, é importante, ao ensinar a leitura e a escrita, fomentar diversos gêneros
literários, pois cada um possui uma função distinta dentro da sociedade. Uma poesia, por
exemplo, difere do gênero dissertativo, que possui uma função distinta daquela. Essa
ampliação dos usos da escrita e da leitura devem ser fomentados nas práticas pedagógicas.
Necessita-se, nesse sentido, de uma estrutura que permita uma abordagem mais aprofundada,
como, por exemplo, a disponibilização de uma biblioteca na escola.
O texto produziu uma breve discussão sobre a aquisição da linguagem. Pontuou-se
que, para alfabetizar, deve se considerar a relação que o aluno estabelece com o meio. Para
que isso ocorra, o professor deve observar os processos de maturação. Isso significa, em
termos práticos, que o aluno possui fases, que devem ser consideradas quando o instrumento
pedagógico for aplicado. A aquisição dos códigos linguísticos deve estar atrelada ao uso
social da língua. Logo, a alfabetização e o letramento são processos complementares.
Hodiernamente, para que haja uma otimização do processo de ensino-aprendizagem, precisa-
se utilizar a alfabetização e o letramento juntos na prática pedagógica.

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