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Greenberg & Mitchell Relacoes Objetais na Teoria Psicanalitica rr Relagdes Objetais na Teoria Psicanatitica 1 Relacoes Objetais e Modelos Psicanaliticos Every man carries within himself a world made up of all that he has seen and loved. and i ito this world thot he returns, incessantly, though he may poss through, and seem to inhabit, a workd quite foreian to .* Chateaubriand, Voyage en ltahe trabalho diario do psicanalista esta intimamente ligado as relagoes dos seus pacientes com outras pessoas. Como todo mundo, os pacientes passam um bom tempo falando sobre pessoas. Mesmo quando suas associag6es correm em direcao a outras preocupacées divorciadas do oceano de pessoas — para sonhos, fantasias, sintomas e assim por diante—, a presenca de outros pode sempre ser inferida. Além domais, o paciente emanialise esta falando paraalquém; sua comunicagao ¢ formada por sia compreensao e relacao com quem esta falando. Todas as teorias psicanaliticas reconhecem isto. Na primeira teoria pulsional de Freud (1905 a}, 0 objeto da pulsao (em termos amplos, a pessoa em diregao a qual a pulsao ¢ dirigida) era, tanto quanto sua fonte e objetivo, postulado como uma de suas caracteristicas essenciais. Embora 0 objeto fosse visto como o elemento mais variavelda pulsao. um elemento nao-inerente ou originalmente relacionado a ela, haver qualquer expressdo de demanda de pulsaosem, pelomenos, um: A pulsao, medida que era compreenstvel psicologicamente, ao mente, tornava-se conhecida através dos seus derivativos, atra alaum objeio. Neste sentido, todo conhecimento psicanalitico relacdes do individuo com os outros. ‘Abordagens psicanaliticas de relacdes obj complicadas pela concepeao de queas “pessoas nao agem necessariamente de uma mane pessoas confirmaria. Este fatosurgiu dra to psicanalitico, aquele de Anna O. ( Relagoes Objetais na Teorin Psicanalition 2 SSF como persequidor, preenchendo a fungdo de um tipo de quinta-coluna interna critica ou como uma fonte dle sequranga ¢ recurso intemo, chamado em tempos de estresse e isolamento. Oque em geral concorda-se sobre estas imagens internas é que elas se constituer num residuo da mente, de relagdes com pessoas importantes na vida do individue. De alguma forma, trocas cruciais com outros cleixam suas marcas; elas sao “internalizadas” €. assim, passam a formar atitudes subseqtientes, reagoes, percepgoes, @ assitn por diante. Esta obseryacao apresenta ao teorizador psicanalitico uma gama de perguntas dificeis As quais ¢ dirigida uma boa parte dos estdos conternporaneos Corno as caracteristicas de objetos intemos se relacionam com aquelas das pessoas “reais” do passadoe co presente? E 0 objeto internoumarepresentagaoda percepcao do individue de uma relagao total com outra pessoa ou de aspectos e caracteristicas especificas do outro? Quais sao as circunstancias pelas quais essas imagens tomam-se internalizadas equal é 0 mecanismo pelo qual elas se estabelecem como parte do mundo intermo do individuo? Qual é a conexao entre estas representacdes internas e as relacoes subse quentes com outras pessoas reais no mundo externo? Como funcionam os objetos internos dentro da vida mental? Existem diferentes tipos de abjetos intemos? Diferentes circunstancias e mecanismos de internalizacao levam a diferentes tipos de objetos internos? O termo “teoria de relacées objetais”, no seu sentido mais amplo, refere-se a tentativas, dentro da psicanilise, de responder a estas perguntas, isto é, de confrontar a observagao potencialmente confusa de que pessoas vivern simultaneamente num mundo extemoe num intemo, e quea relacao entre ambos varia da mistura mais fluida até a separacao mais rigida. O termo, assim, designa teorias. ou aspectos de teorias. relacionadas com 0 explorar relacionamento entre pessoas reais externas e imagens @ resfduos internos relacionades com elas e o significado de tais residuos para o funcionamento psiquico. Abordagensdestes problemas constittuem-se no foco principal da teorizacao psicanalitica nas tllimas décadas. ‘A discussdo de teorias de relacdes abjetais é complicada pelo fato de que o termo tem sido usadoem contextos muito diferentese com intimeras conotacdese denotacdes diferentes, resultando em ambigtiidade e confusao consideraveis. Alguns autores fazem objecao ao uso amplo recém-descrito, argumentando que ameaca privar o termo de toda especificidade de significado e obscurecer areas significantes de divergéncia tedrica (Lichtenberg, 1979), Eles preferem restringira designacao “teorias de relagoes objetais” aostrabalhos de um teérico particular. Mas neste uso um outro problemase desenvolve porque 0 termo € aplicado a mais de uma posicdo tedrica, sequidamente incompativel Ecom freqiiéncia usado exclusivamente para descrever a abordagem desenvolvida por Melanie Klein e de igual maneira seguido com relacao apenas as teorias de W. RD. Fairbaim, apesar do fato que a natureza, origem e contetido dos “objetos” vanam dramaticamente nestas duas abordagens. Em anosmaisrecentes, Otto Kemberg (1976) usou 0 termo para stia propria sintese particular da psicologia do ego de Jacobsen e Mahler, influenciado por termos e énfases derivados dos escritos de Melanie Klein. Uma outra dificuldade com otermo € que set uso por muitos autores temsentides tendenciosos e polémicos. Guntrip (1969) opde a “teoria das relagées objetais” de Fairbairn e Winnicott ao que ele considera a psicologia "mecanicista” de Hartmann e dos psicélogos do ego americanos, uma distingao que lhe permite concluir que a primeira é a melhor porque “mais humana”. Tecricos que operam dentro de tradicao psicanalitica mais ortodoxa usam o termo como ofensa. uma maneira de acusar outro autor de se concentrar em superficialidades psicoldgicas (comportamento com outras pessoas) @ custa das profundidades mentais. A “teoria das relagdes objetais”, na visao ————— "_ fay R. Greenborg and Stephen A. Mitchell Be ne haviorisrno, os fendmenos aos quais se estes autores, implica numa concessio ao bel paaoeaite de “derivative da pulsio”, ente dlescritos pelo conce' é referem sao mais adequadamente descrite eee elas aparecem na experiéncia do : festagées da pulsao c releindo-s 8s manifests ca puso como eles Rpster tt ees de divicluo (Brenner, 1978), Outro qrupe de: dncariodacka Hany Stack Sullivan véernasrelagéesobjelas oneal ee ae (Witenberg, 1979), Arqumentam que relagdes objetais sao rela eikonal © termo permite a quem o usa proclamar submissao continuada ee as Pode-se discutir que o termo teoria das relagdes objetais ¢ usar aS icin enti variavel e tao desesperadamente vinculado a disputas te6ricas que j4 nao teria rman. Gora sarwncdal eh pouco claro, pode-se arqumentar que tentar uma manté-lo. Co oferencial ti laro, eee, i aborclagem tedricaao tratamento das relagoes objetais é um projeto eat) ae bee movediga. No entanto, porque o temo ¢ tao largamente usado ha literat eee pS a ns litica, a substituigao por uma série de novos termos mais estreitamente definidos necessitaria de uma traduicao impraticavel de seqmentos enormes da literatura psicana- litica existente numa nova linguagem: Simplesmente largar o termo resultaria em mais ao inves de em menos confusao, principalmente num projeto que se centra em tomo de uma exposigao e comparagao de tradigées teoricas diferentes. De acordo com isto, vamos manter o termo relagoes objetais num sentido geral; é importante, no entanto, que especifiquemos nossa definicao no comeco e que mantenhamos em foco os sentidos especificos do termo para as diferentes teorias que examinamos. © conceito de relagdes objetais originou-se como uma parte inerente da teoria Pulsional de Freud. O “objeto” na linguagem de Freud é © objeto libidinal (na teoria Posterior também o objeto da pulsao agressiva). Neste sentido, o significado da palavra “objeto” é paralelo ao seu duplo tiso em inglés cotidiano, no qual ele se refere tanto a uma coisa como a um objetivo ou alvo. O objeto de Freud é uma coisa, mas nao é qualquer coisa; 6 a coisa que 6 o alvo de uma pulsao. O “objeto” da psicanaliso nao 6, assim,o “objeto” dapsicologiaacadémica,isto¢, simplesmente uma: entidadequeexiste notemPo e noespaco (veja Piaget, 1937). Noseuremprego original, oconceito de objeto ava interligado ae contingente ao conceito de: Pulsao, Apesar desta conexao, alguns tenheos Psicanalticos retiveram os termos “objeto” @ “relagoes objetais” embora tenham eliminado completamente 0 coneeito de pulsio no sentido freudiano classico ee aitetn eee Guntrip, 1969). Outras teotias que enfatizam o Papel do objeto (se dash, 1964 Raney.) Ree NB eoraspulsone ateoria. nao dscriminnader gee Sm. Olermo, embora aparentementeligade freudiana e aquelas que nag tte exasabordagens que acettam ateoriaibicinal Devido a esta ambiguidade, rejeitar [6 : A dpa em vag a ae copes ees exes lagoes objetais € um espaco sem sentid studantesdepsicanal las velagdes objetais: numa “verdadeira” abordagem das Nese iro, cto ar, em catisado confiséo sean fim a siya eae externas inleras (ease maine eee Svs objetais intomo e externo, Acredilamos que termo conserva’ Tesla amplo sentido, Todas asteoriaspsicanaliinn «ose elas devem ter para manterem contato om, abordagens sao diferenciadas pelo seu us ‘om 0 entre seus mundos Sua utilidade somente A eaeantemteotias de relagdes objetais; Peréncia distia do individuo. Varias 80 de obsey es cemoutoscoqunnowsscbumvareen Rees Ge concern ees ftom eadescomateoriapulsional cacaes eque-se disto que 0 nosso empre EMmPrego, explicitamente dis nculo entre os termos “objet eee Sualquers . ubjacentes. Apesar da s ‘i ‘objeto". divorclado de s ee AonAL, acteditan ee } acteditamos que o te 12 utlidade teoricgs TN © ferme e “rel Dbjetais na Te sicanalitica . 1. Dentro da histéria da psicandlise, 0 termo tem sido usado para deserever tanto pessoas reais no mundo extemno como as imagens delas internamente estabelecidas Esta conotagae dual é titi ae descreyer o intercambio entre “dentro” e “fora” que ecome: em cada tralamento analitico (veja Modell, 1968, Stierlin, 1970) 2. Apalavra “objeto” é vaga o suliciente no emprego ordinario para conotar une ampla gama de caracteristicas. Isto es! bem deacordo coma experiencia de pacientes, cujo mundo pode estar povoado por “objetos” que sao ativos ou estaticos, benignos ou malignos, vivos ou mortos, ¢ assim por diante. A propria generalidade do termo indica a vatiedade da experiéncia de alquém com outras pessoas, 3, Embora otermo emsisejagenérico, o conceito objeto sugere tangibilidade. Mais uma vez isto esta bem de acordo com a experiéncia dos pacientes que yéem 0s intercambios comseus objetos como tendo toda arealidade experiencial das transacoes no mundo externo. Embora na fenomenologia da experiéncia do paciente “objetos intemos” sejam sentidos como realmente existentes, nosso emprego do terra nao implica na realidade fisica de tais objetos, Certamente eles nao sao entidades ou homtinculos dentro da mente. 4. Retornando ao emprego ordinario do termo, um objeto, apesar de sua durabilidade, pode ser manipulado e modificado. Pode ser reformado, repintado, cortado em dois, consertado, até mesmo destruido. Esta conotagao presta-se bern a0 conceito psicanalitico de operagées intrapsiquicas que podem ser realizadas sobre ‘objetos, as experiéncias que muitos pacientes relatam correspondem a tais relagoes. Modelos Conceituais na Teoria Psicanalitica A psicanélise é, por sua prépria natureza, uma disciplina interpretativa. A teorizagdo psicanalitica opera dentro de uma dialética continua de fertilizagao cruzada com dados clinicos. Freud desenvalveu sua teoria a partir do material clinico fomecido por seus pacientes; a teoria, por sua vez, continuamente forma e ilumina os recém- emergentes dados clinicos, Embera o psicanalista praticante tente suspender seus preconceitos tedricos enquanto escuta os seus pacientes a fim de permanecer tao fiel quanto possivel & fenomenologia da experiéncia do paciente, a teoria deve entrar em algum ponto. A prépria natureza da pratica psicanalitica como uma investigacao cooperativa na vida do paciente pressupée que algo esta faltando na experiencia do paciente sobre ele mesmo. Se isto é conceitualizado como sendo o resultado da repressao (Freud), da falta de cuidados (Sullivan), agao_negada ou repudiada® (Schafer) auto-engano (Fromm) oumé-fé (Sartre), asuposigao é de quealaunsaspectos salientes da realidade do paciente, alguma dimensao crucial de significado, estao ausentes do seu relato da sua propria experiéncia, esteja ou nao 0 paciente consciente disto (Ricoeur, 1970). ‘As teorias psicanaliticas dao possibilidades interpretativas a flm de suprir dimen- s6es que faltam ao relato do paciente sobre si mesmo. Cada teoria seleciona da complexidade da vida alguns aspectos ou dimensoes compreendidos como estandono centro das preocupacgdes humanas, colorindo muito dos aparentemente difusos e variados aspectos da experiéncia clo paciente. Esta dimensao fomece contetidos para interpretacdes, um conjunto de significados dentro cos quais o material clinico pode ser compreendido. Os conceitos basicos em cada teoria psicanalitica tomam-se a urdidura ea trama das quais é tecida a complexa tapegaria da experiéncia humana. No proprio + NRT “disclaimed action" no original Jay R Greenberg and Stephen A. Mitchell 10 alho esta se sequindo de uma maneira tica e viva, os jquase invistveis. O analista, uma vez passaclo 1a teoria na mente para empregar Ele nao vai continuamente da frente e sua teoria, decifrando detalhes. Ele | iaatencao échamada ora para um proceso psicanalitico, se o trabi i amplosprincipiostedricossubjacentes sao: © seu primeito aprendizado, nao conserva a st ativamente como um dicionario de significados. para tras entre os comunicados de seu paciente escuta orelato do paciente sobre sua experiéncia e sti - lado ora para outro, Certos temas sobressaem, certos pedagos nao combinam. Gradualmente seus pensamentos sobre 0 paciente se eristalizam. Alguns processos subjacentes na vida do paciente e a comunicagao de sua experiencia emerge. O analista comeca a ter uma idéia do que foi omitido e esta consciencia forma os seus pensamentos com relagao a possiveis intervencoes interpretativas. Como pode ele comunicar algo da sua experiéncia e compreensao das omissoes salientes no relato do paciente de uma maneira que va enriquecera compreensao deste tiltimo? Durante todo este proceso, 0s conceitos teéricos como tais podem estar ausentes dos pensamentos do analisia. No enianto, fomecem o cenario invisivel, a estrutura nao vista, dentro da qual o analisia otuve a estoria do paciente. Assim, os conceitos basicos dentro da teoria psicanalitica fomecem possibilidades interpretativas para orientar o clinica em direao adimensoes cruciais e ocultasde significados, inlormando assensibilidades do analista A caracterizacao da psicanalise como uma disciplina interpretativa desafia a sua credibilidade como uma disciplina cientifica? De maneiraalguma, Abordagensrecentes nafilosofiae histéria da ciéncia iluminaram as caracteristicas presumiveise interpretativas de todas as disciplinas cientificas e langaram bastante luz sobre como funcionam as. teorias psicanaliticas Até as tllimas décadas, a filosofia ocidental da ciéncia foi dominada por uma compreensao da ciéneia e de suas teorias fundamentada no empirismo e, neste século, elaborada pelas doutrinas filoséticas do positivismo légico, Dentro desta compreensio, denominada por recentes fildsofos da ciencia como “The Received View”, presume-se uma intima comespondencia entre boa teoria e eventos e processos reaisno mundoreal: 08 fatos sao estabelecidos imefutavelmente, através da cbservacao objetiva; as teorias oferecem diferentes explicacoes destes fatos na base dos quais podem ser feitos rognosticos testaveis, a experimentacao determina a comecao ou o erro da teoria: a Siisica enon oem ne ee Nos anos 50 @ 60 esta sto da filosofa e da Netra fe nae ns ea cretcentes © uma compreensao mull diferente fot desertion ao fo! chamado de analise “Weltanschauiung” (Supe, is80, a cléncia nao é uma linha continua de idéias que re tam uma aproximacao cada vez maior & “verdade”. Mergulhados no Sarre et gulhados no ahial clima cientifico esadamente influenc ado pela teona da relativi laividade, pelo Princi naga de Heisenberg epelo aparentemente infinitoretomo da likien das oon ee contemporaneos da ciéncia recon tiva”. Nao ha fatos e cbsoracoe: eo que observamos. A propria ciéncia, nesta visdo, necessariay umalinguagem éncia opera. assim, dentrode uma perspeet as diferentes teorias desenvolvid, i ee ivaconceitual, uma las nesta abordagem, as contr Weltanschauung, Entre. jes Objetais na Teoria Psicanalitica ss buigdes de Thomas Kuhn (1962) foram muito influentese randemente erpregedar, Averdade eleargumenta, nao é cognoscivel,apreocupagao da ciéncia écom asolugao de problemas e a historia das idéias cientificas consiste em uma série de modelos, maneirasde vero mundo” (p. 4), que sao mais ou menos titeis para resolver problemas Os mais amples e influentes destes modelos, ou paradigmas, nao pressupoem ou incomporam necessariamente os paradigmas precedentes. Eles representam urna série desolucoesalternativas, retratos douniverso, que sao cristalizados a partirde fragmentos de dados e conceitos, Kuhn sugere que aquelas coniribuigdes que sao para ser compreendidas como paradigmas tém duas caracteristicas definidoras; “suas realiza Ges foram suficientemenie sem precedentes para atrair um gripo duradouro de adeptos, afastando-as de outras formas dissimilares de atividades cientifica. Simultane- amenie, suas realizagdes foram suficientemente abertas para deixar toda sorte de problemas para © grupo redefinido de praticantes da ciencia resolver” (p. 10). Cada paradigma principal forma 0 arcabouco para observacao e teorizacao por um periodo de tempo e é, eventualmente, substitufdo por uma nova cristalizacno, um novo retrato. que joga uma luz diferente sobre as coisas, titil para resolver problemas diferentes oO paradigma reinante num tempo determinado tern uma enorme influéncia na atividade Gentifica, determinando que dacs sav considerados como significativos ¢ reais, que miétodos so considerados validos e onde o cientista deve se posicionar em relacao 20 seu objeto de estudo. Um dos aspectosmais intrigantes do trabalho de Kuhn é seu enfoque na transigao entre paradigmas. Se a ciéncia consiste numa série de modelos descontinuos, como se vai de um paradigma ao sequinte? Quais sao as caracteristicas de fal transicao? Sua descricdo deste proceso ilumina o que pode ser considerado como sendo as caracte- risticas mais “politicas” da historia das idéias cientificas. Os paradigmas, por serem modelos da realidade tomados como “verdade”, inspiram lealdades. Durante operiodo de maior influéncia de um paradigma quase todos os que trabalham em um campo especifico estao sob influéncia. Ha acordo compartilhado sobre as suposicoes epistemolégicas, as abordagens metodologicas € 0 perimetro observacional que ele fornece. Amnedida que o periodo de maxima influéncia passa, novos dados, novasidéias comecam a emergi fora dos limites legitimados pelo paradiama. Ai, entao, apresenta- se um corlejo de diferentes opcdes estratégicas. Alguns permanecem leais ao velho paradigma e discordam por completo da validade de dados e conceitos novos discordantes. Uma outra estratégia, que pode ser chamada de acomodacao, inclui tentativas de ampliar 0s conceitos eas froniziras do velho paradigma para inciuir o que é novo. Isto pode funcionar por algum tempo, dependendo da novidade dos novos dados, da clasticidade do paradigmaantigo edahabilidade dointérpreteem explicacoes casufsticas, No entanto, em algun ponto, sugere Kuhn. uma reorganizacéo “retooling” é inevitavel — uma mudanca de paradigmas é “economicamente” necessaria e Sssencial av pruyresso futuro. Entao o velho paradigma cesaparece e um novo emerge. Kuhn e outrosproponentes deandllises Weltanschauung sofreram criticasde todos 0s tipos. O termo de Kuhn, “paradigma”, foi atacado como sendo tao vago e flexivel a ponto de nao significar nada (Masterman (1971) cataloga 22 significados). Sua visao da eencia como acontecendo através de sucessivas “revolucoes” foi julgada aplicavel a certos periodos historicose disciplinas cientificas, mas nao a outros ea todas. Proponen- tes de andlises Weltranschauung, em geral, tm sido acusados de dar muito pouco peso a0 lugar da racionalidade na ciéncia e ao quanto um argumento racional, objetivo, desetnpenha um importante papel em escolhas entre diferentes teorlas. Assim, enquan- to’ The Received View’ ouseja,avisiotradicional, baseada numacrencainquestionavel enfatizavar a tade da ciéncia, @ as analises Weltranschauuing entatz sol ress set fiésfos da. enc contemporbnecs exo Kitone 67 ». Kuhn, em resposta a estas critica specifica 0% tipos de critérios iregho a uma situagao intermedi » seu trabalho posterior, el ica 5 escolhiade teoriae até mesmo rejeita ua abordagem ermo “paradigina errno “P Jbjotivos que fazem parte eae slo e vago que convidava a simplificagbes € ma como sendo tao amplo e vago que cor a ee eas Comunidades cientificas tén em comum muitos reagora Kuhn, ¢ esta vasta gama de crencas constitu compron ‘ognitivos” , sugere agora F oun neces se numa “matrz disciplinar”. Entre os viriostipos de ferramentis conceituals, empre- nomenos, est40 muitas tipos dife gadas em um mattizdisciplinar para explicar fenomenos, esta0 muitos tipos diferente le modelos. Alguns servem como simples analogias ou métodos houristions — comportasse ou pode ser visto como B”. Outros modelos tém um papel mutto mal profundo e mais universal dentro de uma comunidade cientifica, na qual fomece um arcabouco basico de orientagao e crenca, servinde como devidos a mocao e interagso de atomos qualitativament 298). E precisamente em tomo deste tipo de modelo que neutr 20 falar de modelos na teoria psicanalitica, estamos empreg termo para referirmo-nos ao tipo de compromisso metafisico que Kuhn aaeee empregar oo SER es rca geal ltl se aan co ple: onfusio filossfica que se preocupa com questoes de objetividade, subjetividade mificagao de teorias. Estamos sugerindoqueaabordagem de Kuhn aod tode idéias cientificas e sua de 10 de modelos como compror tante aplicaveis a histéria do pensamento psicanalitico e se con proveitos a de abordar as diferentes estratégias de teoria ias psicanaliticas operam com modelos que refletem corr basciam-se em premissas nao testaveis que concemem a quat entais. O primeiro, a abordagem que forma muitos outros aspect: a teoria, relaciona-se a unidade basica de andlise. O queéprim nstitutivosbasicos dec abordagem nao estamos necessariamente inferindo sua aplic problemas fundan jvoeoqu nsirucao da experiencia: pulsces, desejcs -om outros, identificacoes, escolhas, acéo, stos as “estruturas” os padrées, o “rechelo” da p. a ampla base esteja delineada, trés outras dimensées da preocupacéo teérica tém de ser estudadas. Primero querem? Quais s40 os objetivos dominantes e subjacentes Segundo, Quaissac.0s blocos vo: diarte? De que s80 co secificas otivagao: o que as pe di desenvoll dade f mento: na transformacao da cria: ltivamente pouco desenvolvida em adulto telativame Simentos cruisis? Tercetro, estrutura: © que da a umn duo sua forma dade do comportams O que liga-relaciona ida individual? >, acontecimentose relacSesem acontecimentos passados ¢ expens Relacoes Objetais na Teoria Psicanalitica eee comportamento presents? Os conceitos em cada uma destas Areas tocam em, interagem com e sao contingentes a conceitos em outras areas. Tornadas juntas, as abordagens a problemas dentro de cada area formar um amplo arcabougo para gerar hipoteses clinicas e possibilidades interpretativas. Quando diferentes te6ricos refletern semelhaneas fundamentais em suas abordagens, consideramo-los como trabalhando dentro do mesmo modelo. As teorias psicanaliticas que lidam com estes problemas de uma maneita que é fundamentalmente diferente de solucoes precedentes sao conside tadas como operando a partir de um modelo alternative" Atensao mais significativa na historia das idéias psicanaliticas tem sido a dialética enire © modelo freudiano original, que toma como seu ponto de partida as pulsoes instintivas, e um amplo modelo altemativo iniciado no trabalho de Fairbaim e Sullivan que desenvolve estruturasomente a partirdas relacdes do individuo com outras pessoas. De acordo com isto, designamos o modelo original de modelo estrutural- pulsional e a perspectiva alternativa de modelo estrutural-relacional. Escalhemos estes termos como um meio deiluminaras diferencas entre os modelos nos seus compromissos metafisicos quanto ao subjacente contetico de menie. Todas as teorias psicanaliticas pressupoem padrées e fungées duradouras, além de caracteristicas, que tipificam a personalidade individual. Tais padroes e funcoes organizam a experiencia e relacionam a experiencia a resposia comporiamental subsequente. A maioria dos tedricos denomina-vs de “estrutura psiquica” para enfatizar sua consisténcia e continuidade temporal. (Sullivan, (1953), com receio do perigo de reificagao inerente ao uso de conceitos como “estrutura” , substitui por “dinamismo”,) Mantenos o termo estrutura, cientes de que tal emprego implica numa metéfora de “espacializacéo” que nao é para ser tormada literalmente. (Veja Schafer, 1972.) Estamos empregando-o no sentido sugerido por Rapaport que designa “estruturas” dentro da psicanalise como configuracdes “que tem. um baixo indice de mudanca” (1967, p. 701) e Lawrence Friedman, que caracteriza estruturas em termos de uma “estabilidade reativa” (1978 b, p. 180). « Nosso uso do termo "modelo" é muito distinfo daquele empregade por Gedo e Goldberg am Modelos da mente (1975) Hlesdictnguem ‘modelo="de"teorias’,empregendo oprimaito termodeum modobem maistinitado para i vlcitise Aeamples “eategoriagbo de dados elnicos” O modelo topoardfico, modelo estutural, o modelo do arco ets e a worla de selagoes objelaisSd0 todos Vstos como mieios para explica diferentes problemes clinicos JTncreloe Otggnizam estes subsitemas’ de funcionamento mental em una ierarquia desenvolvimental eral e aanina omnes principios da t2orla desistemas aerais. [so pressupoe que sae. categorias simplesmente neutras ¢ aeore innols independentes de quaisquer premissastedricas mals amplas, Discordamos desta opiniao, e nossa aot ea were ios almens6es ca teoringdo psicanalfica emonsta a sua insustentabilidade, Os diferentes modelos ai cameteriamo pensamento psicanalficonao 80 siplesmente mies crganizacionais, masrefetem diferentes srijes da realidade. Nao podem ser compreensivelmente combinaclos numa tnica teoria

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