Você está na página 1de 3

Aula 1

Teoria e Crítica Literárias III

1. Estudar Literatura Hoje, Fá bio A. Durã o


Estudar literatura hoje é algo estranho; deveria ser a coisa mais fá cil, e,
no entanto, é o troço mais complicado. Deveria ser a coisa mais fá cil, porque
o que é necessá rio é pouco, e está disponível. Para estudar literatura direito
você só precisa de quatro componentes bá sicos: livros, tempo, boca e
ouvido.
Idealmente, a coisa funcionaria da seguinte maneira: a pessoa lê uma
diversidade de textos, simplesmente por curiosidade, porque sã o
interessantes e dã o prazer; seja devido à quilo que as obras têm de
desafiador, seja por causa das diferenças entre livros de escritores diversos
ou de um mesmo autor, naturalmente surge um impulso para construir uma
questã o, para formular uma hipó tese de leitura que organize aquilo que
acontece na massa narrativa que foi absorvida, e que de outro modo
permaneceria amorfa ou autocontraditó ria. Em sua forma proposicional
mais abstrata a hipó tese de leitura seria: objeto “x” significa “y”, onde “x”
corresponde a um corpus específico e “y” à quilo que é trazido pelo leitor, e
que deve “grudar” em tal corpus, como se já estivesse lá desde o começo.
E no entanto estudar literatura hoje é a coisa mais complicada, por uma
série de razõ es. Duas delas eu gostaria apenas de mencionar, mas não
desenvolver, porque isso levaria para uma outra direçã o. A primeira tem
uma origem social ampla e refere-se à possibilidade de que as
transformaçõ es por que tem passado a cultura nos ú ltimos 30-40 anos
estejam afetando a condiçõ es bá sicas da experiência da literatura. Muito já
se falou na ascensã o de uma cultura da imagem, o visual turn, que estaria
deslocando o mundo da letra; a digitalizaçã o do mundo e a presença
constante de estímulos sensoriais cada vez mais fortes também têm levado a
questionamentos a respeito de um novo regime de produçã o sígnica e a
emergência de distú rbios como Transtorno do Déficit de Atençã o com
Hiperatividade (TDAH). O complicado de lidar com esse tema é nã o cair em
uma postura moralista e queixosa, que detectasse no presente somente
decadência e regressã o, que sã o inegá veis.
Para evitar as simples lamú rias, deve-se refletir também sobre os
potenciais instaurados por tudo aquilo que é traz consigo destruiçã o. Seja
como for, um segundo motivo, relacionado com o anterior, refere-se ao
pró prio estatuto do que é a literatura. Se tivesse mais tempo (e energia), eu
poderia defender a hipó tese de que o surgimento daquilo que hoje
chamamos de Teoria é tanto sintoma quanto causa para uma perda de
nitidez sobre o que é a literatura, que atestaria uma diminuiçã o do interesse
que ela seria capaz de gerar. É quase como se, por exemplo, diante da
ficcionalizaçã o universal gerada pela propaganda, a literatura, para
permanecer enfá tica, estivesse obrigada hoje a incorporar um material
conceitual em sua tessitura, ao menos uma autoconsciência de si como coisa
construída. Outro â ngulo, mais empírico, para detectar o mesmo fenô meno
seria perceber como estã o minguando os eruditos, aqueles professores que
só leem literatura, e como está proliferando a ideia de que é necessá rio ter
um “arcabouço teó rico” para ler qualquer obra, como se fosse impossível
abordar qualquer objeto diretamente.

2. O nascimento da abordagem crítica: o mundo da antiguidade


 A ameaça da poesia na repú blica de Platão
 Crítica literá ria e as categorias poéticas de Aristó teles
 A permanência do modelo grego na Idade Média e Renascimento

3. A invençã o da estética na modernidade: Hegel e os Româ nticos


 Os româ nticos: autonomia, sublime, genialidade e expressã o.
 Hegel: o curso de estética e seus desdobramentos.
 Crítica literá ria como valor de classe no apogeu da revoluçã o
industrial

4. As estéticas acompanham as revoluçõ es do século XX


 Formalismo Russo e Revoluçã o de 1917
 Vanguardas e a segunda revoluçã o industrial
 Freud e a descoberta de um novo sujeito, expressionismo e
surrealismo
 Tecnologizaçã o da crítica e o fim das utopias: construir para
desconstruir
 A consciência da identidade e os movimentos pó s-coloniais.

5. Estética contemporâ nea


 Presentismo da pó s-modernidade e sua extensã o a vida midiá tica
 O problema da autonomia da crítica literá ria e a tentativa de um
retorno ético
 Academicismo inó cuo vs crítica jornalística.

Você também pode gostar