Estudar literatura hoje é algo estranho; deveria ser a coisa mais fá cil, e, no entanto, é o troço mais complicado. Deveria ser a coisa mais fá cil, porque o que é necessá rio é pouco, e está disponível. Para estudar literatura direito você só precisa de quatro componentes bá sicos: livros, tempo, boca e ouvido. Idealmente, a coisa funcionaria da seguinte maneira: a pessoa lê uma diversidade de textos, simplesmente por curiosidade, porque sã o interessantes e dã o prazer; seja devido à quilo que as obras têm de desafiador, seja por causa das diferenças entre livros de escritores diversos ou de um mesmo autor, naturalmente surge um impulso para construir uma questã o, para formular uma hipó tese de leitura que organize aquilo que acontece na massa narrativa que foi absorvida, e que de outro modo permaneceria amorfa ou autocontraditó ria. Em sua forma proposicional mais abstrata a hipó tese de leitura seria: objeto “x” significa “y”, onde “x” corresponde a um corpus específico e “y” à quilo que é trazido pelo leitor, e que deve “grudar” em tal corpus, como se já estivesse lá desde o começo. E no entanto estudar literatura hoje é a coisa mais complicada, por uma série de razõ es. Duas delas eu gostaria apenas de mencionar, mas não desenvolver, porque isso levaria para uma outra direçã o. A primeira tem uma origem social ampla e refere-se à possibilidade de que as transformaçõ es por que tem passado a cultura nos ú ltimos 30-40 anos estejam afetando a condiçõ es bá sicas da experiência da literatura. Muito já se falou na ascensã o de uma cultura da imagem, o visual turn, que estaria deslocando o mundo da letra; a digitalizaçã o do mundo e a presença constante de estímulos sensoriais cada vez mais fortes também têm levado a questionamentos a respeito de um novo regime de produçã o sígnica e a emergência de distú rbios como Transtorno do Déficit de Atençã o com Hiperatividade (TDAH). O complicado de lidar com esse tema é nã o cair em uma postura moralista e queixosa, que detectasse no presente somente decadência e regressã o, que sã o inegá veis. Para evitar as simples lamú rias, deve-se refletir também sobre os potenciais instaurados por tudo aquilo que é traz consigo destruiçã o. Seja como for, um segundo motivo, relacionado com o anterior, refere-se ao pró prio estatuto do que é a literatura. Se tivesse mais tempo (e energia), eu poderia defender a hipó tese de que o surgimento daquilo que hoje chamamos de Teoria é tanto sintoma quanto causa para uma perda de nitidez sobre o que é a literatura, que atestaria uma diminuiçã o do interesse que ela seria capaz de gerar. É quase como se, por exemplo, diante da ficcionalizaçã o universal gerada pela propaganda, a literatura, para permanecer enfá tica, estivesse obrigada hoje a incorporar um material conceitual em sua tessitura, ao menos uma autoconsciência de si como coisa construída. Outro â ngulo, mais empírico, para detectar o mesmo fenô meno seria perceber como estã o minguando os eruditos, aqueles professores que só leem literatura, e como está proliferando a ideia de que é necessá rio ter um “arcabouço teó rico” para ler qualquer obra, como se fosse impossível abordar qualquer objeto diretamente.
2. O nascimento da abordagem crítica: o mundo da antiguidade
A ameaça da poesia na repú blica de Platão Crítica literá ria e as categorias poéticas de Aristó teles A permanência do modelo grego na Idade Média e Renascimento
3. A invençã o da estética na modernidade: Hegel e os Româ nticos
Os româ nticos: autonomia, sublime, genialidade e expressã o. Hegel: o curso de estética e seus desdobramentos. Crítica literá ria como valor de classe no apogeu da revoluçã o industrial
4. As estéticas acompanham as revoluçõ es do século XX
Formalismo Russo e Revoluçã o de 1917 Vanguardas e a segunda revoluçã o industrial Freud e a descoberta de um novo sujeito, expressionismo e surrealismo Tecnologizaçã o da crítica e o fim das utopias: construir para desconstruir A consciência da identidade e os movimentos pó s-coloniais.
5. Estética contemporâ nea
Presentismo da pó s-modernidade e sua extensã o a vida midiá tica O problema da autonomia da crítica literá ria e a tentativa de um retorno ético Academicismo inó cuo vs crítica jornalística.