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Número 12 - Dezembro 2002

Nasceu
Jesus
S empre absolutamente
livre de toda man-
cha de pecado, toda bela e
perfeita, Maria possui
uma tal plenitude de
inocência e santidade
que, depois da de
Deus, não se pode
conceber outra
maior. Ela nunca
esteve nas trevas,
mas sim numa luz
perene; e por-
tanto, digna de
Nossa S enhora d a vir a ser a habita-
Luz ( Mosteiro d as
ção de Cristo.
Concepcionistas,
em S ão Paulo)
(Da Bula “Ineffabilis
Deus”, com que o Beato Pio
IX proclamou o Dogma da
Imaculada Conceição)
Thimothy Ring
Revista mensal dos

ARAUTOS DO
EVANGELHO
Associação privada internacional de
fiéis de direito pontifício
Ano I, nº 12, Dezembro 2002

SumáriO
Diretor Responsável:
André Ribeiro Dantas

Conselho de Redação:
Guy Gabriel de Ridder, Humberto
Luís Goedert, Juliane Vasconcelos
A. Campos, Luis Alberto Blanco
Cortés, Mariana Morazzani Arráiz

Publicada por:
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Diego R. Lizcano

Montagem:
Equipe de artes gráficas dos
Arautos do Evangelho

Impressão e acabamento: Os Arautos do Evangelho se apresentam no Colégio São Viator,


Takano Editora Gráfica Ltda.
em Bogotá, Colômbia (p. 26)
Av. Dr. Silva Melo, 45 - 04675-010 - SP

Os artigos desta revista poderão ser reproduzidos, Escrevem os leitores ........................................................................................................ 4


desde que se indique a fonte e se envie cópia à
Redação. O conteúdo das matérias assinadas E o Verbo se fez carne (Editorial) ...................................................................... 5
é da responsabilidade dos respectivos autores.
Um Natal sob o signo do Rosário ................................................................................ 6
Assinatura Anual:
A voz do Papa .................................................................................................................. 12
Comum .............. R$ 49,00
Colaborador ...... R$ 72,00 Um ano dedicado ao Rosário ...................................................................................... 16
Benfeitor ............ R$ 99,00
O santo Sacrifício da Missa ........................................................................................ 17
Patrocinador ...... R$ 150,00
Exemplar avulso R$ 4,90 A Catedral de São Paulo, em todo o seu esplendor ................................................ 18
Uma prova de amor para os povos americanos .................................................... 21
A Divina Pastora ............................................................................................................ 24
Na capa, foto- Arautos no mundo ......................................................................................................... 26
montagem com o
coro dos Arautos O Círio de Nazaré, a maior procissão do mundo ................................................... 34
do Evangelho no Um perfume de Natal no ar ......................................................................................... 38
mosteiro de Carta de Papai Noel a todos os pais do Mundo ..................................................... 40
São Bento, em
Bolo natalino alemão ................................................................................................... 42
São Paulo
(fotos: Timothy Ring A mesa de Natal, reflexo de alegria e piedade ....................................................... 43
e L. A. Blanco)
Venha compartir conosco a alegria do Natal! ....................................................... 44
Aconteceu na Igreja e no mundo ................................................................................. 46
Os santos de cada dia .................................................................................................. 48
Uma “neta de Deus” ...................................................................................................... 50
ESCREVEM OS LEITORES

DIVULGAÇÃO DA VOZ DO PAPA em homenagem ao Santo Francis- Estão ativos nas igrejas e eventos
A edição de outubro está muito co, exemplo a ser seguido, puderam religiosos. Fico sempre muito emo-
boa. Acho que é a revista de maior ver e sentir, diante de seus olhos e cionada quando os vejo com aque-
divulgação da voz do Santo Padre dentro da alma e do coração, o le hábito lindo. Lembro-me com
João Paulo II no catolicismo brasi- quanto Nossa Mãe tem para nos saudade do meu querido sobrinho,
leiro. Também as matérias e as his- dizer. D., que, com a graça de Deus e de
tórias são muito instrutivas e suge- Ulisses Ramiro (Taubaté, SP) Nossa Senhora, é Arauto do Evan-
rem reflexão. Acredito também que gelho e mora em São Paulo. Ele es-
é pelo reaprendizado da contempla- ADMIRADA DE VER TANTAS tá muito feliz, e eu mais ainda, por
ção através da verdadeira arte que COISAS BONITAS ele.
muitas almas retornarão às vias do Trabalho em uma loja infantil. Maria da Glória Pires (Recife,
Senhor. Fiquei muito alegre de receber a vi- PE)
Luciano Mafioleti (Cuiabá, MT) sita de Nossa Senhora e dos Arau-
tos do Evangelho no meu serviço. COLEÇÃO COMPLETA
RESPOSTAS DE QUE PRECISAVA Achei muito bonito o “trabalho” Como proceder para adquirir os
Fiquei muito feliz com a revista que vocês fazem. Não comprei a re- cinco primeiros números dessa es-
de setembro. Além de me emocio- vista, mas a minha patroa a com- plêndida publicação? Não preten-
nar, encontrei alguns questionamen- prou, e eu pude dar uma olhada. do perder nenhum exemplar de
tos e outras respostas que precisava Fiquei admirada de ver tantas coi- uma revista que tão bem faz às al-
naquele momento. Parabéns pelo sas bonitas, e textos que prendem a mas, com artigos de extrema quali-
trabalho, que Deus abençoe para leitura. Quando percebemos, a re- dade e importância espiritual.
continuar daí para melhor! vista já foi lida. Paulo César Corrêa (Batatais,
Fátima Aparecida Moreira Flo- Gostaria de saber mais sobre os SP)
res da Silva (via Internet) Arautos, e se uma jovem se interes-
sar em ser uma, qual o procedi- INCENTIVO NA FÉ
MENSAGEIROS DA BOA NOVA mento a ser tomado. Recebi, com satisfação, o nº 10
Taubaté está em estado de graça Andreia (Piquete, SP) da maravilhosa Arautos do Evan-
celestial. No dia de seu Santo Pa- gelho. Superlativo merecido, por-
droeiro, humilde servo do Senhor e AULAS DE CULTURA E RELIGIÃO que traz matéria que nos torna ain-
Homem do Milênio, São Francisco Arautos do Evangelho, além de da mais arrojados na Fé que pro-
das Chagas, teve ela a grata e santi- suas excelentes ilustrações, traz ar- fessamos. Meus sinceros parabéns
ficadora presença dos mensageiros tigos que são verdadeiras aulas de aos responsáveis por tão preciosa
da Boa Nova, das mensagens de cultura e religião, como exemplo, o revista.
Nosso Senhor Jesus, que por inter- do Sr. João C. Dias. Adoro tudo. Luiz Tiellet (Rio de Janeiro, RJ)
médio de sua Santa Mãe, Maria, Gostaria que vocês publicassem,
veio abençoar este povo devoto, fer- com fotos, as atividades dos Arau- COLABORAÇÃO
voroso e esperançoso. É impossível tos daqui do Recife. Gostaria de colaborar com a
ao mais descrente dos seres huma- Acompanho-os de perto e vejo sessão “Santos de cada dia” de de-
nos, na presença de tanta formosu- como eles têm uma atuação mara- zembro. Para tanto estou enviando
ra, de tanta devoção, de tanto ca- vilhosa, principalmente entre os jo- uma síntese da vida de Santa Ade-
risma, não se emocionar. Impossí- vens, nos colégios, promovendo en- laide, incluída no elenco das “Gran-
vel não chorar, de alegria, por ter contros, retiros, etc. Também fazem des mulheres na História do Mun-
como Mãe e Redentora Nossa Se- o apostolado da imagem peregrina do — primeiro milênio”. Felicito-o
nhora de Fátima. Todos os que as- de N. S. de Fátima, nas residências, ainda pelo alto nível de suas publi-
sistiram ao ofício do dia do Pa- presídios, hospitais, etc., não só na cações.
droeiro de Taubaté, a Santa Missa capital, como também no interior. Marcos Rodrigues Chaves

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Editorial

T ão significativo foi o nascimento de Jesus, que dividiu a


história da Humanidade em dois grandes períodos: antes de
Cristo (A.C.) e depois de Cristo (D.C.). Não podia deixar
de ser assim. Afinal, o que de mais importante poderia
ocorrer na Criação do que a encarnação de Deus, e sua
plenitude — em termos humanos — no Natal? A segunda Pessoa da
Santíssima Trindade que se apresenta a nós, verdadeiro homem, na
gruta de Belém.
Um dos títulos de Jesus é Emmanuel, palavra hebraica que significa
Deus conosco. Como um termo tão simples pode conter uma verdade
tão ampla, tão misteriosa, tão inabarcável por nós como essa?
“E o Verbo se fez carne e habitou entre nós” (Jo 1, 14). Deus nos amou
tanto que desejou que seu Filho estivesse bem perto de nós. E o Filho
— Deus verdadeiro de Deus verdadeiro — tanto nos amou que se com-
prazia em se chamar “Filho do homem”, como lemos tantas vezes no
Evangelho.
Ao nos aproximarmos de um presépio e contemplarmos a imagem
do Menino Jesus, lembremo-nos desse amor que levou Deus a colocar-
se ao nosso alcance, tornando-se uma criancinha, tão frágil, tão tenra; a

EO passar nove meses no seio virginal de uma criatura humana, Maria San-
tíssima; a querer depender do carinho d’Ela; a desejar o amor maternal
d’Ela; a dispor que esse amor maternal incidisse também sobre nós,
pois no-La deu por Mãe.

VERBO A Cristandade já celebrou cerca de duas mil vezes o nascimento de


Jesus, em circunstâncias diversas: festivas ou trágicas, agitadas ou tran-
qüilas, gloriosas ou banais. Mas, qualquer que fosse a ocasião, sempre
presente se fez uma paz sobrenatural que toca o coração de todos, a

SE FEZ mesma paz que reinou naquela noite bendita do Natal de Deus huma-
nado. Graça que não apenas nos lembra o Deus feito homem, mas nos
convida também a nos elevarmos até Ele.
Quando acabamos de atravessar os umbrais do terceiro milênio, uma

CARNE pergunta paira no ar sem encontrar resposta: o que nos aguarda? Que
rumo tomarão os acontecimentos?
O futuro só Deus conhece. Todavia, de algo estamos certos: “Por fim
meu Imaculado Coração triunfará” — prometeu Nossa Senhora. De
nossa parte, esse triunfo pode ser apressado pela fidelidade ao Santo
Rosário, como Ela mesma pediu em Fátima, e como o Papa quer de
nós.
Recolhidos diante do presépio, com o Terço na mão, peçamos que
chegue logo esse dia bendito em que Maria, e por meio d’Ela, seu divi-
no Filho, tenham seus tronos no coração de cada homem.

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Um Natal
sob o signo do Rosário

A cada ano, no Natal, diferente é o contexto em


que se celebra aquela Luz que um dia brilhou
nas trevas. Neste 2002, nós o comemoramos sob o
João Scognamiglio Clá Dias
Presidente Geral benéfico influxo da Carta Apostólica de João Paulo II,
dos Arautos do Evangelho
sobre o Rosário.

O caro leitor já se per-


guntou alguma vez
por que razão Jesus
veio ao mundo naque-
la época? Não pode-
ria Ele ter nascido logo após o peca-
do de Adão e Eva? Ou, pelo con-
trário, por que não adiou sua vinda
cios seriam menos claros, mas uma
análise meticulosa não deixará de
encontrá-los.
Uma coisa, porém, é certa. Deus
faz tudo perfeito. Logo, Jesus só po-
de ter nascido no momento mais
adequado, em todos os sentidos.
Comentando esta questão, o reno-
Realmente o mundo antigo se
sentia decrépito e esgotado, afunda-
do numa corrupção de costumes
nunca vista, desgastado por escânda-
los, corroído pela idolatria, dureza
de coração, ganância, crueldade, tra-
to impiedoso entre os homens, tira-
nia, etc. Caminhava, pois, inexora-
para cerca do fim do mundo, pouco mado teólogo espanhol, Pe. Antonio velmente para a ruína. Segundo os
antes da volta de Henoc e Elias? Royo Marín, OP, confirma a tese aci- comentadores, essas eram as “tre-
No primeiro caso, pareceria haver ma, baseando-se no ensinamento de vas” nas quais brilhou a luz do Salva-
várias vantagens. Por exemplo, a efu- São Paulo, de que Deus enviou seu dor (segundo o Evangelho de São
são das graças da Redenção já no Filho ao mundo “quando chegou a João).
início da humanidade poderia evitar plenitude dos tempos” (Gl 4, 4).
muito morticínio, muitas crueldades, O que significa “plenitude dos Recordações da Luz que
crimes e calamidades comuns no tempos”?
tempo do paganismo. Teria evitado Na homilia de abertura da Qua-
brilhou nas trevas
mesmo? É muito de se duvidar. Bas- resma de 2001, o Papa João Paulo II Todo Natal recorda essa Luz que
ta analisar a História do Ocidente explicou que significa “tempo favo- brilhou nas trevas há dois mil anos.
cristão, especialmente nos últimos rável (...) isto é, o tempo em que Deus, De cada vez a comemoração é feita
três séculos, para verificar que a vin- através de Jesus, ‘satisfez’ e ‘socorreu’ com características próprias, com
da de Nosso Senhor — embora te- o seu povo, realizando plenamente as graças particulares, quase sempre re-
nha suavizado notavelmente o rela- promessas dos profetas”. Do ponto de lacionadas com a situação da Igreja
cionamento entre os homens — não vista histórico — continuou o Santo e da Cristandade na respectiva épo-
evitou esses males. Padre — aquele era o momento fa- ca.
Quanto à hipótese da vinda de vorável para se anunciar o Evange- As graças de Natal no tempo das
Cristo no fim do mundo, os benefí- lho a todos os povos. catacumbas, por exemplo, deviam ter

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Luis A. Blanco

aspectos especiais que a diferencia- dios da vida de nosso Redentor. No


vam muito daquelas da época de Recordação da seu primeiro Terço, ele nos conduz a
Carlos Magno. E as da Idade Média
— tempo assinalado por um auge de
Luz que brilhou nas meditar precisamente sobre o Natal
e as circunstâncias que o envolve-
fervor católico — foram diferentes trevas há dois mil ram: a Anunciação e a Encarnação
das do século XX, um século “carac- do Verbo no seio puríssimo de Ma-
terizado de maneira particular pelo anos, este Natal ria; a visita da Santíssima Virgem à
mistério da iniqüidade”, conforme as sua prima Santa Isabel; o próprio
palavras do Papa João Paulo II na celebra-se sob o signo nascimento de Jesus em Belém; a
homilia de 18/8/2002.
Neste segundo ano do Terceiro
do santo Rosário, apresentação do Menino Jesus no
Templo. Esses sublimes fatos — e to-
Milênio, a comemoração do Natal se “oração evangélica, dos os demais da vida do Salvador —
dá numa conjuntura muito feliz. Es- nós os acompanhamos através dos
tá ele aureolado pela Carta Apos- centrada sobre olhos da Virgem Maria, recitando o
tólica de João Paulo II, O Rosário da Rosário.
Virgem Maria.
o mistério Ele é propriamente uma “oração

Estreita relação com o Natal


da Encarnação evangélica, centrada sobre o mistério
da Encarnação redentora” — diz o
Compêndio do Evangelho, o Ro- redentora” Papa —, segundo a experiência vivi-
sário nos recorda os principais episó- da pela Santíssima Virgem, que trou-

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xe em seu seio, nutriu, criou e acom-
panhou os passos de seu Divino Fi-
Poderoso meio não causava dano apenas no campo
espiritual, mas estendia seus malefí-
lho. para se alcançar cios também a toda a sociedade tem-
Em sua oportuna Carta Apostóli- poral.
ca, o Santo Padre mostra ainda que as graças do Céu, Uma cruzada da qual participa-
Maria é para nós a Mestra que me- ram cavaleiros de toda a Europa,
lhor conhece seu Filho Jesus e pode não apenas em favor não foi suficiente para estancar o
levar-nos ao conhecimento d’Ele:
“Percorrer com Ela as cenas do Rosá-
de cada alma, mas mal. Como obter de Deus o fim des-
sa grave situação e a conversão da-
rio é como freqüentar a ‘escola’ de Ma- também dos povos quele pobre povo?
ria para ler Cristo, penetrar nos seus O grande São Domingos — fun-
segredos, compreender a sua mensa- e das nações, dador da Ordem dos Irmãos Prega-
gem. Uma escola, a de Maria, ainda dores (os frades dominicanos) — me-
mais eficaz, quando se pensa que Ela
o Rosário teve papel diu toda a extensão da tragédia e
a dá obtendo-nos os dons do Espírito
Santo com abundância e, ao mesmo
determinante sentiu-se inspirado a intervir. Reti-
rou-se para um local ermo, próximo
tempo, propondo-nos o exemplo da- em momentos de Tolosa (capital do Languedoc),
quela ‘peregrinação da fé’, na qual é onde passou três dias e três noites
mestra inigualável.” decisivos na história em oração e penitência, implorando
da Igreja ao Senhor que interviesse para salvar
aquelas populações. Em conseqüên-
Nas situações aflitivas da
cia de seu esforço, acabou por cair
Igreja
Abaixo, Nossa Senhora revela desfalecido. E eis que então apare-
Se — como diz um São Luís Ma- a devoção do Rosário ceu-lhe Maria Santíssima, resplande-
ria Grignion de Montfort ou um San- a São Domingos de Gusmão cente de glória, dizendo-lhe que, pe-
to Afonso Maria de Ligório — o Ro- (Capela do Palácio Episcopal de Sevilha) lo Rosário, ele poderia ganhar para
sário é um poderoso meio para al- Deus aqueles “corações endureci-
cançar graças de san- dos”. E assim foi. Pre-
tificação pessoal, auxí- gando essa devoção,
lio para a salvação das São Domingos não só
almas, não é só no pla- obteve numerosas con-
no individual que ele versões, como também
se mostra eficaz. uma grande mudança
Também no nível dos nos costumes religiosos
povos e da nações, ele e morais dos habitan-
ganha um brilho espe- tes da região.
cial nos momentos em São Domingos me-
que a Igreja está em receu passar para a
aflitiva situação. Foi História como o pri-
assim já no seu nasce- meiro grande pregador
douro, quando Nossa do santo Rosário e, pra-
Senhora o recomendou ticamente, seu institui-
a São Domingos de dor.
Gusmão.
No ano de 1214, a Na batalha de
heresia dos maniqueus, Lepanto
ou albigenses, estava se Mas não só nos tor-
espalhando por todo o mentos da Idade Mé-
Languedoc, região me- dia ficou provada a efi-
ridional da França, ar- cácia do Rosário. No
rancando à Igreja Ca- século XVI vamos no-
Felipe Arcas

tólica multidões de fiéis. vamente encontrar Ma-


A doutrina maniquéia ria defendendo, por

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“Não foi o valor,
nem as armas,
nem os chefes,
mas sim a
Senhora do
Rosário que
nos tornou
vitoriosos”,
exclamou o
Papa São Pio V
(abaixo), após
o triunfo
da esquadra
católica na
Batalha de
Lepanto
(ao lado)
Fotos: Photo Scala, Firenze

meio dele, seus filhos. Em 1571, os tana, entretanto mais poderosa que
turcos maometanos devastavam os a cristã. Graças a essa vitória, ficou
Bálcãs, e sua enorme frota de guerra afastada de uma vez por todas a
espalhava o terror no mar Mediter- ameaça turca.
râneo. Uma invasão da Europa oci- Desejoso de reconhecer e agrade-
dental estava iminente, e o único cer o decisivo auxílio de Maria nessa
modo de evitá-la seria quebrar o po- batalha, o senado veneziano man-
derio naval islamita. dou colocar no Palácio dos Doges
Era urgente formar uma aliança um quadro comemorativo, com a
dos príncipes católicos e armar uma inscrição: “Non virtus, non arma, non
esquadra capaz de fazer frente ao duces, sed Maria Rosarii, victores nos
inimigo da Fé cristã. Com este obje- fecit” — “Não foi o valor, nem as ar-
tivo, o Papa São Pio V fez o que pô- mas, nem os chefes, mas sim a Se- superiores. Para agravar o quadro,
de nos terrenos diplomático, logísti- nhora do Rosário que nos tornou vi- espalhava-se pela França o jansenis-
co e militar. Mas pôs sua confiança toriosos”. mo, astuta heresia que apresentava
sobretudo na intervenção da Auxi- de maneira deformada a doutrina
liadora dos Cristãos, à qual recorria Na França do século XVIII católica, evitando atacá-la de frente,
por meio do Rosário, levando os ou- No século seguinte, vamos encon- com o que tornava difícil sua refu-
tros a imitá-lo. trar a Virgem do Rosário auxiliando tação.
No dia 7 de outubro daquele ano, um de seus mais ardorosos e emi- Pregando uma ardente devoção a
ao largo do Estreito de Lepanto, no nentes devotos, São Luís Maria Nossa Senhora e incentivando a ora-
litoral grego, travou-se a maior ba- Grignion de Montfort, noutra difícil ção diária do Rosário, São Luís
talha naval da História até então. A situação para a Igreja. Grignion conseguiu transformar a
esquadra católica, composta de pou- A sociedade francesa achava-se Bretanha e a Vandéia (províncias do
co mais de 200 navios e 80 mil com- minada em suas bases pelo iluminis- oeste da França), em regiões ardo-
batentes, colocada sob a proteção de mo, pelo indiferentismo religioso e rosamente católicas, a tal ponto que,
Nossa Senhora do Rosário, derrotou por um lamentável afrouxamento dois séculos após, foram essas duas
de modo fragoroso a frota maome- dos costumes, sobretudo nas classes províncias as que maior resistência

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opuseram ao assalto das tropas anti- ria do Terço, como meio de alcançar Angustiados pela probabilidade de
clericais da Revolução Francesa. o fim da guerra mundial que ensan- perderem sua independência no do-
güentava o mundo. mínio comunista, os austríacos se
Em Fátima Foi somente na última aparição, voltaram filialmente para Nossa Se-
em 13 de outubro, que Nossa Senho- nhora.
Não é possível falar do Rosário ra consentiu em revelar sua identi- Um franciscano, frei Petrus Pav-
sem mencionar com destaque as apa- dade às três crianças, utilizando es- licek, formou a “Cruzada Reparado-
rições em Fátima. Pois ali Nossa Se- tas simples palavras: “Eu sou a Se- ra do Rosário pela Paz no Mundo” e
nhora recomendou com particular nhora do Rosário”. Não poderia ha- passou a organizar grandes procis-
empenho essa devoção. ver maior prova de apreço da Mãe sões anuais em honra do Nome de
Na primeira aparição, a 13 de de Deus por essa devoção. Maria. Sempre com a participação
maio de 1917, aconselhou aos três vi- de milhares de pessoas, cada uma
dentes que rezassem diariamente o dessas procissões seguia pelas ruas
Em pleno século XX
Terço para pedir o fim da guerra e a do centro de Viena, rogando pela li-
paz do mundo. Renovou com insis- Mais perto de nós, encontramos bertação do país. Um movimento ge-
tência, na segunda e na terceira apa- outra demonstração da eficácia do ral de entusiasmo pelo Rosário per-
rições, a recomendação de rezar o Rosário. correu toda a nação, e uma torrente
Terço todos os dias. Assim como o restante da Europa de preces jorrou sobre as portas do
E no dia 13 de setembro, a Vir- centro-oriental, também a Áustria Céu. E então aconteceu o milagre:
gem Santíssima insistiu mais uma fora ocupada pelas tropas soviéticas, pouco após a Páscoa de 1955, o go-
vez na necessidade da recitação diá- ao término da 2ª Guerra Mundial. verno moscovita retirou suas tropas
da Áustria.
O país inteiro acorreu para agra-
decer a maternal proteção da Santís-
sima Virgem, destacando-se a gran-
de solenidade no dia 10 de setembro,
festa do Nome de Maria, ocasião em
que o Ministro das Relações Exteri-
ores declarou: “Todos nós que aqui

Nas aparições de
Fátima, em 1917,
a Mãe de Deus
manifestou seu imenso
apreço pela devoção
do santo Rosário,
recomendando com
insistência a recitação
diária do Terço, e
revelando-se a si
própria como a
Timothy Ring

“Senhora do Rosário”

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L’Osservatore Romano
estamos hoje reunidos e que com hu-
mildade, mas também com ufania,
nos declaramos católicos, pudemos
conhecer o poder da oração. (...) Nos-
sas orações foram nossas armas e nos-
sa fortaleza. (...) Ganhamos a liber-
dade! Oh! Maria! nós vos agradece-
mos.”

Paz no mundo e nas famílias


Se o mundo de hoje está submer-
so num oceano de males e exposto a
perigos que o rondam de todos os la-
dos, isto não se deve tão-só às dis-
putas econômicas e políticas, mas
principalmente a uma grave crise
moral e religiosa. É dela que surgem
as angústias, as incertezas, a desori-
entação generalizada. Contudo, as-
sim como nas situações críticas ante-
riores, a solução está ao alcance de
nossas mãos... e de nossos corações:
a devoção do Santo Rosário.
Daí o empenho do Papa João
Paulo II em incentivar essa devoção.
“No início de um Milênio que co-
meçou com as cenas assustadoras do
atentado de 11 de setembro de 2001”
— diz o Santo Padre na Carta Apos-
tólica — “e que registra, cada dia, em
tantas partes do mundo, novas situa-
Santuário de Mariazell, Áustria, 1983 - O Papa João Paulo II reza diante da
ções de sangue e violência, descobrir imagem da Santíssima Virgem, cuja soberana intercessão, invocada por meio
novamente o Rosário significa mergu- do Rosário, libertou aquele país da ocupação comunista
lhar na contemplação do mistério
d’Aquele que ‘é a nossa paz’, tendo paz estaria assegurada nas relações fa- mo ajuda eficaz para conter os efeitos
feito ‘de dois povos um só, destruindo miliares, se fosse retomada a recitação devastadores desta crise da nossa
o muro da inimizade que os separava’ do Santo Rosário em família!” — ex- época.”
(Ef 2, 14).” clamou o Papa na audiência de 29 de
Depois de ressaltar que deseja setembro passado, quando anunciou
Uma prece diante do presépio
confiar a causa da paz à oração do o Ano do Rosário. E na citada Carta
Rosário, o Papa exprime sua pater- Apostólica ele alerta: “A família, cé- Diante do presépio, dirijamos nos-
nal aflição: “Pouco valem as tentati- lula da sociedade, está cada vez mais sas ardentes súplicas ao adorável
vas da política, se as almas continuam ameaçada por forças desagregadoras Menino Jesus, por intermédio da
exacerbadas e não são capazes de um a nível ideológico e prático, que fazem imaculada Virgem Maria e do purís-
novo olhar do coração.” E indaga: temer pelo futuro dessa instituição simo São José, pedindo que as exor-
“Quem pode, porém, infundir tais sen- fundamental e imprescindível e, con- tações do Santo Padre na Carta
timentos, senão o próprio Deus? .... seqüentemente, pela sorte da socieda- Apostólica O Rosário da Virgem Ma-
Exatamente nessa perspectiva, o Ro- de inteira.” ria tenham amplo desenvolvimento
sário se revela uma oração particular- Para sanar esse mal, que remédio por todo o mundo católico. E que
mente indicada.” aconselha o Vigário de Cristo? “O aquela Luz que brilhou nas trevas há
Falta a paz, hoje em dia, não so- relançamento do Rosário nas famílias cerca de dois mil anos resplandeça
mente entre as nações, mas, muitas cristãs, no âmbito de uma pastoral não só neste Natal, mas ilumine toda
vezes, até no recinto do lar. “Quanta mais ampla da família, propõe-se co- a nossa vida. !

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A VOZ DO PAPA

L’Osservatore Romano
O Papa João Paulo II abençoa as oferendas durante a missa do Jubileu dos Bispos, em 2000

A família, sua vocação e missão


E m discurso aos participantes da Assembléia Plenária do Pontifício Conselho para a Família, em 18
de outubro deste ano, o Papa João Paulo II acentuou a grande importância da oração e da vida sa-
cramental para que as famílias se mantenham unidas e tomem consciência de sua vocação e missão.

O tema proposto para esta


Plenária é particularmen-
te atual: Pastoral fami-
liar e casais em dificul-
dade. Trata-se de um tema amplo e
complexo, do qual desejais conside-
to, gostaria de vos oferecer algumas
sugestões para vossa reflexão e ori-
entação.

“A família que reza unida,


permanece unida”
como nunca que a família crente to-
me consciência da própria vocação e
da sua missão. O ponto de partida
para ela, em qualquer contexto e cir-
cunstância, é salvaguardar e intensi-
ficar a oração, uma oração incessan-
rar apenas alguns aspectos, pois já te ao Senhor, para que a própria fé
tivestes a oportunidade de o enfren- Num mundo que está secularizan- cresça e seja cada vez mais vigorosa.
tar noutras ocasiões. A respeito dis- do-se cada vez mais, é importante Como escrevi na Carta apostólica

12
Rosarium Virginis Mariae: “A família constantemente nos corações e melhor antídoto para enfrentar e su-
que reza unida, permanece unida” (n. acompanha-nos ao longo do cami- perar obstáculos e tensões.
14). nho marcado pelo sofrimento, como
É verdade que, quando se vivem aconteceu com os dois peregrinos de
Fragilidade da família sem a
determinados momentos, o subsídio Emaús.
da ciência pode oferecer uma boa Deve reservar-se uma solicitude
vida sacramental
ajuda, mas nada poderá substituir especial aos jovens casais, para que Isto torna-se ainda mais necessá-
uma fé fervorosa, pessoal e confian- não se rendam face aos problemas e rio quando proliferam estilos de vida
te, que se abra ao Senhor, que disse: conflitos. e se difundem modas e culturas que
“Vinde a Mim, todos os que estais A oração, a freqüência constante fazem duvidar do valor do matrimô-
cansados e oprimidos, e aliviar-vos-ei” do sacramento da Reconciliação, a nio, chegando até a considerar im-
(Mt 11, 28). direção espiritual, nunca devem ser possível o dom recíproco dos espo-
O encontro com Cristo vivo, Se- abandonadas com a intenção de as sos até à morte, numa jubilosa fideli-
nhor da Aliança, é a fonte indispen- substituir por outras técnicas de dade (cf. Carta às Famílias, 10). A
sável de energia e de renovação, pre- apoio humano e psicológico. Nunca fragilidade aumenta se predomina
cisamente quando aumentam a fra- deve ser esquecido aquilo que é fun- aquela mentalidade divorcista, que o
gilidade e a debilidade. Eis por que é damental, isto é, viver em família sob Concílio denunciou com vigor, por-
necessário recorrer a uma vida espi- o olhar terno e misericordioso de que leva, muitas vezes, a separações
ritual intensa, abrindo o espírito à Deus. e a rupturas definitivas. Também uma
Palavra de vida. É necessário que no A riqueza da vida sacramental, no educação sexual mal-concebida pre-
fundo do coração ressoe a voz de âmbito de uma família que participa judica a vida da família. Quando fal-
Deus, a qual, mesmo se por vezes na Eucaristia todos os domingos (cf. ta uma preparação integral para o
parece calar-se, na realidade ressoa Dies Domini, 81), é, sem dúvida, o matrimônio, que respeite as etapas

O ROSÁRIO
REZAR EM FAMÍLIA, REZAR PELA PAZ

A
memória litúrgica da Bem-Aventurada ta-se que de pouco servem as tentativas da políti-
Virgem do Rosário, nos estimula a re- ca, embora sejam sempre necessárias, se os cora-
descobrir esta oração tradicional, tão ções continuam exacerbados e se não somos capa-
simples e, ao mesmo tempo, tão profunda. zes de renovar o olhar do coração, para retomar o
O Rosário é um percurso de contemplação do diálogo com esperança.
rosto de Cristo realizado, por assim dizer, com os Mas quem pode infundir tais sentimentos,
olhos de Maria. É, por conseguinte, uma oração senão Deus? É mais necessário do que nunca que
que se enraíza no centro do Evangelho, per- se lhe eleve de todo o mundo a invocação pela
manece em total sintonia com a inspiração do paz. Precisamente nesta perspectiva, o Rosário
Concílio Vaticano II e está em perfeita harmonia revela-se como uma oração particularmente indi-
com a indicação que dei na Carta Apostólica Novo cada. Ele constrói a paz também porque, enquan-
millennio ineunte: é preciso que a Igreja “se faça to faz apelo à graça de Deus, infunde em quem o
ao largo” no novo Milênio, recomeçando a partir recita aquele germe de bem, de que se podem es-
da contemplação do rosto de Cristo. (...) perar frutos de justiça e de solidariedade na vida
Desejo confiar mais uma vez à oração do Ro- pessoal e comunitária.
sário a grande causa da Paz. Encontramo-nos pe- Penso nas nações, mas também nas famílias.
rante uma situação internacional cheia de ten- Quanta paz seria garantida nas relações fami-
sões, às vezes incandescente. Nalguns pontos do liares, se fosse retomada a recitação do Santo Ro-
mundo onde o conflito é mais forte — penso so- sário na família! (Ângelus, 29 de setembro de
bretudo na martirizada terra de Cristo — consta- 2002)

13
progressivas do crescimento dos na-
morados (cf. Familiaris consortio, 66),
Missão das universidades:
reduzem-se na família as possibilida-
des de defesa.
Ao contrário, não existe uma si-
tuação difícil que não possa ser en-
frentada de modo adequado quando
se cultiva um clima de vida cristã coe-
rente. O próprio amor, ferido pelo
E m homilia na celebração
eucarística de abertura
do novo ano acadêmico das
a realidade, sabe que se move, por
assim dizer, “numa terra santa” (cf.
Êx 3, 5), porque nada existe de po-
sitivo, dentro ou fora do homem,
pecado, também é um amor redimi- universidades eclesiásticas, em que não reflita de alguma forma a
do (cf. CIC, 1608). É evidente que na sabedoria divina. “Ó Senhor, nosso
ausência de vida sacramental, a fa- 25 de outubro p.p., João Paulo Deus, como é grande o vosso nome em
mília cede mais facilmente às insí- II ressaltou a necessidade de toda a terra” (Sl 8, 2-10).
dias, porque permanece sem defe- unir o saber da fé e a santida- A perícope evangélica há pouco
sas. proclamada fala-nos de dois níveis
Como é importante favorecer o de de vida. de “sabedoria”: um primeiro nível
apoio familiar para os casais, sobre- consiste na capacidade de “interpre-
tudo jovens, por parte das famílias tar o aspecto da terra e do céu” (Lc

E
espiritual e moralmente sólidas! É 12, 56), ou seja, de compreender os
um apostolado fecundo e necessário sta é a geração daqueles que nexos causa-efeito nos fenômenos
sobretudo neste momento histórico. procuram a presença do Se- naturais. Em outro nível, mais pro-
nhor (Sl 23, 6). As palavras fundo, situa-se a capacidade de jul-
Conversar com os filhos é que cantamos como refrão do Sal- gar o “tempo” no qual se desenvol-
mo responsorial assumem hoje,
indispensável para sua ve a história da salvação, o tempo
nesta Basílica, um significado parti- no qual Deus atua e espera a cola-
formação cular. De fato, ela vê reunidos Rei- boração do homem.
Gostaria de acrescentar, a este tores, Professores e estudantes das Na “plenitude dos tempos”, recor-
ponto, uma consideração sobre o Universidades eclesiásticas roma- da São Paulo (Gl 4, 4), Deus en-
diálogo que deve ser cultivado no nas, para a tradicional celebração viou o Seu Filho unigênito. Toda-
processo formativo com os filhos. do início do novo Ano Acadêmico. via, o evangelista João observa que
Falta, muitas vezes, o tempo para vi- (...) ele “veio ao que era Seu e os Seus não
ver e dialogar em família. Ao olhar para vós, caríssimos Ir- O receberam” (Jo 1, 11). A presença
Com freqüência, os pais sentem- mãos e Irmãs, penso com reconhe- do Verbo encarnado preenche o
se despreparados e até receiam as- cimento: eis, Senhor, “esta é a gera- tempo com uma singular qualida-
sumir, como é seu dever, a tarefa da ção daqueles que te procuram”. Com de: torna-o “decisivo”, no sentido
educação integral dos seus filhos. efeito, o que é o estudo da teologia de que nele é decidido o destino
Pode acontecer que estes, precisa- senão uma forma particular de pro- eterno de cada um dos homens e de
mente devido à falta de diálogo, en- curar o rosto de Deus? E de igual toda a humanidade. Ao extremo
contrem obstáculos sérios em ver modo, o que é o empenho nas ou- dom de Deus corresponde a extre-
nos seus pais modelos autênticos a tras ciências, que são ensinadas nos ma responsabilidade do homem.
imitar e vão procurar noutras partes vossos Ateneus, senão a introdução
modelos e estilos de vida que muitas às realidades do homem, da Igreja, Uma forma de hipocrisia
vezes se manifestam falsos e lesivos da história, em que Deus se revela a
da dignidade do homem e do verda- si mesmo e ao seu imperscrutável A observação severa feita por
deiro amor. A banalização do sexo, mistério de Salvação? Cristo às multidões adapta-se muito
numa sociedade saturada de erotis- bem à nossa época, na qual a hu-
manidade desenvolveu uma eleva-
mo, e a falta de referências de princí- Dom de Deus,
pios éticos, podem arruinar a vida díssima capacidade de analisar e ler
responsabilidade do homem os fenômenos, por assim dizer, “em
das crianças, dos adolescentes e dos
jovens, impedindo a sua formação “Do Senhor é a terra e a sua pleni- superfície”, mas tendencialmente evi-
para um amor responsável, madu- tude: o mundo inteiro e todos os que ta as perguntas mais profundas so-
ro, e para o desenvolvimento da sua nela habitam” (Sl 23, 1): seja qual bre os significados últimos, sobre o
personalidade. for a perspectiva da qual o crente vê sentido da vida e da morte, do bem

14
difundir a autêntica sabedoria cristã
e do mal na história. A grave acu- nhor. Eles estão chamados, de mo- cheios de toda a plenitude de Deus”
sação: “Hipócritas!” (Lc 12, 56), do particular, a pôr-se sempre de (Ef 3, 18-19).
proferida por Jesus, diz claramente maneira renovada ao serviço da uni- Amém!
que não se trata apenas de um não dade da Igreja. Esta unidade, aberta
saber julgar o que é justo (cf. Lc 12, por sua natureza à dimensão católi- Nossa Senhora,
Sede da Sabedoria
57), mas também de um não querer ca, encontra aqui em Roma o ambi-
aceitá-lo. A hipocrisia consiste nu- ente ideal para ser acreditada, estu-
ma falsa sabedoria, que se alegra dada e servida.
com tantos conhecimentos, mas es- Queridos Irmãos e Irmãs, con-
tá bem atenta para não se compro- serva-se e edifica-se a unidade do
meter com questões empenhativas a Corpo eclesial através do vínculo da
nível religioso ou moral. paz, na verdade e na caridade (cf. Ef
A primeira Leitura de hoje, tira- 4, 3). Por conseguinte, é necessário
da da Carta de São Paulo aos Efé- que as vossas Universidades sejam,
sios, apresenta uma síntese admirá- antes de tudo, lugares de autêntica
vel entre fé e vida, entre teologia e sabedoria cristã, onde cada um se
sabedoria evangélica: é a perspecti- empenha na primeira pessoa, por
va da unidade. Ela alimenta-se de al- realizar uma síntese entre a fé e a vi-
gumas virtudes que o Apóstolo apre- da, entre os conteúdos estudados e
senta: humildade, mansidão, paciên- o modo de se comportar.
cia, suportação recíproca no amor
(cf. Ef 4, 2). A exortação moral de O exemplo dos Santos
Paulo baseia-se totalmente na con- Sejam nisto mestres, para vós, os
templação do mistério e na sua tra- Santos, especialmente os Doutores
dução no comportamento concreto da Igreja e os que dedicaram sua vi-
dos membros da comunidade. da ao estudo e ao ensino. Eles são,
no sentido mais nobre, a “geração
“Realizar uma síntese daqueles que procuram a presença do
entre a fé e a vida” Senhor” (Sl 23, 6) e, precisamente
Por conseguinte, o antídoto con- por terem sido apaixonados contem-
tra a hipocrisia é uma constante re- pladores do rosto de Deus, soube-
lação entre o que se sabe e o que se ram transmitir ao próximo os refle-
vive, entre a mensagem de verdade xos luminosos de verdade, de beleza
recebida como dádiva com a voca- e de bondade que deles derivam.
ção cristã e as atitudes pessoais e co- Maria Santíssima, Sede da Sabe-
munitárias concretas. Por outras pa- doria, vigie sempre sobre as vossas
lavras, entre o saber da fé e a santi- academias e sobre cada um de vós.
dade da vida. Ela vos obtenha do Espírito Santo
Estas reflexões, inspiradas pela Pa- abundância de sabedoria, ciência, e
Luis A. Blanco

lavra de Deus, interpelam sobretu- entendimento, para que, como diz


do todos os que estão comprome- São Paulo na Carta aos Efésios, pos-
tidos nas Universidades eclesiásti- sais “compreender, com todos os santos,
cas. Professores e estudantes estão qual seja a largura, o comprimento,
chamados a exercer uma atenção a altura e a profundidade do amor
constante para interpretar os sinais de Cristo, e conhecer a sua cari-
dos tempos em relação ao Sinal cen- dade, que excede toda a
tral da Revelação divina, Cristo Se- ciência, para que sejais
Um ano dedicado ao Rosário

A rdoroso devoto da Virgem Maria, Dom Benedito


Beni faz eco à voz do Papa, dirigindo a nossos
leitores palavras eloqüentes de incentivo à recitação Dom Benedito Beni dos Santos
do Rosário. Bispo Auxiliar de São Paulo — Região Lapa

O Papa João Paulo II aca-


ba de publicar a sua úl-
tima Carta Apostólica,
tendo como tema o Ro-
sário de Nossa Senho-
ra. O que é o Rosário? É uma devo-
ção popular que mostra muito bem a
missão da Virgem Maria: conduzir
“Eis a serva do Senhor; faça-se em
mim segundo a tua palavra.” Com
essa exclamação, Maria se colocou
totalmente a serviço da obra salvífica
do Filho de Deus feito Homem. E o
Rosário nos mostra claramente a par-
ticipação de Nossa Senhora na histó-
ria da salvação, pois é ao mesmo
nhora, recitando a Ave Maria. O Ro-
sário focaliza os mistérios da infân-
cia de Jesus (Mistérios Gozosos, ou
seja, de alegria), os mistérios da
Paixão de Jesus (Mistérios Doloro-
sos) e os mistérios de sua glorifica-
ção (Mistérios Gloriosos).
A fim de tornar o Rosário uma
todas as pessoas a Jesus Cristo, seu tempo Cristológico e Mariológico. contemplação completa de todos os
filho. Por isso mesmo, o conteúdo do É um louvor às maravilhas que mistérios da vida de Cristo, o Papa
Rosário são os mistérios da vida de Deus realizou na plenitude da histó- João Paulo II acaba de acrescentar
Cristo, desde sua encarnação até a ria da salvação e, ao mesmo tempo, os Mistérios da Luz, que têm como
sua morte, ressurreição e envio do uma declaração de amor a Nossa Se- conteúdo alguns momentos impor-
Espírito Santo. nhora. Em toda declaração de amor tantes da vida pública de Jesus: o iní-
Mas, ao mesmo tempo, o Rosário existe o método da repetição. É jus- cio de seu ministério nas Bodas de
mostra a inserção de Nossa Senhora tamente esse método que é usado no Caná, seu batismo no rio Jordão, a
na obra redentora de Cristo. No mo- Rosário. Repetimos 150 vezes a mes- pregação do Reino de Deus, a trans-
mento da Anunciação, Ela exclamou: ma declaração de amor a Nossa Se- figuração e a instituição da Eucaris-
tia.
São João inicia seu Evangelho pro-
Francisco Berrizbeitia

clamando: “A luz veio ao mundo.”


Luz, na Sagrada Escritura, significa
salvação. Os mistérios acrescentados
pelo Papa mostram que Jesus é de
fato o salvador presente no mundo.
O Papa pede que seja celebrado, a
partir do mês de outubro passado
até outubro do ano que vem, o ano
do Rosário.
D. Beni Que todas as comunidades cristãs
em visita à procurem nesse ano valorizar a ora-
Casa-mãe ção do Rosário, sobretudo em famí-
dos lia, pois, deste modo, estarão dando
Arautos do
Evangelho,
passos largos no seguimento de Je-
em São sus, conduzidas pelas mãos mater-
Paulo nais de Nossa Senhora. †

16
O Santo Sacrifício da Missa
N o anterior artigo sobre a Missa, vimos como sacrifí-
cios e holocaustos eram parte integrante das antigas
religiões. Vimos também que o sacrifício legítimo da Sina-
goga perdeu sua razão de ser quando o Filho de Deus se ofe-
receu como vítima na Cruz. Neste número, o autor comenta Pedro Paulo de Figueiredo
profecias do Antigo Testamento que anunciam o Sacrifício do Conselheiro Geral e Presidente
da Região São Bento (Europa)
Calvário e a Missa.

D esde o princípio do mundo, em toda a


parte, Deus insistiu no oferecimento de
sacrifícios, como ponto essencial da reli-
gião. Nosso Senhor Jesus Cristo veio ins-
tituir um sacrifício novo, perfeito, anun-
ciado pelos Profetas. Na Missa, o próprio Filho de Deus
se oferece ao Pai por nós, renovando de modo incruento
o sacrifício do Calvário.
Depois da previsão sublime de Isaías, outro grande
profeta prediz o sacrifício do Calvário e até aponta para
a data em que este acontecerá: “Depois de sessenta e duas
semanas, o Ungido inocente será eliminado” (Dan 9, 26).
A Missa foi instituída por Nosso Senhor Jesus Cristo
para ser uma renovação incruenta do Sacrifício da Cruz.
Assim, quando este último era profetizado, a própria ce-
lebração da Missa também o era.
Deus anunciava a imolação na Cruz e prometia outro
sacrifício, sem efusão de sangue, divino, esplêndido,
As profecias do Grande Sacrifício
imensamente perfeito e santo, que seria oferecido con-
No Antigo Testamento, pela boca dos profetas, Deus tinuamente sobre a Terra.
anunciou a substituição do sacrifício da Lei Antiga por Malaquias proclama: “Vós já não me agradais — diz
um novo, perfeito e puro, o sa- Javé dos exércitos. Eu não aceito
crifício do próprio Homem Deus. a oferta das vossas mãos. Em to-
“Tu não quiseste sacrifício nem do o lugar se oferece uma oferta
oferta. Deste-me, porém, um cor- pura, pois grande é o meu Nome
po e eu disse: ‘Eis-me, ó meu entre as nações” (Ml 1, 10-11).
Deus. Aqui venho cumprir a tua Apesar de profetizada, a Mis-
vontade, segundo está escrito de sa — o ato mais alto, mais au-
mim’” (Sl 40, 7-8). gusto que se realiza sobre a Ter-
Cerca de setecentos anos an- ra — não podia ser imaginada
tes de Jesus Cristo, Isaías pre- pelos homens. Mesmo porque o
disse claramente o Sacrifício do próprio sacrifício do Calvário
Filho de Deus: “Pareceu-nos um não podia ser por eles imagina-
objeto digno de desprezo e o últi- do. Como aliás, era inconcebí-
mo dos homens, um varão de do- vel que o Filho de Deus, a se-
res (...). gunda Pessoa da Trindade San-
Foi ferido pelas nossas iniqüi- tíssima, por amor ao gênero hu-
dades, foi quebrantado pelos nos- mano, tomasse a nossa carne,
sos crimes. (...) Foi oferecido, por- vestisse a nossa fraqueza, assu-
que ele mesmo o quis e não abria misse a nossa natureza para po-
a sua boca. Será levado como der padecer e sofrer como víti-
uma ovelha ao matadouro e co- ma do grande Sacrifício que de-
mo o cordeiro diante do que o via resgatar a humanidade.
Timothy Ring

tosquia emudecerá e não abrirá a


sua boca” (Is 53, 3-7). (Continua no próximo número.)

17
A Catedral de São Paulo, em
todo o seu esplendor

O rgulho dos católicos do Brasil, a Catedral paulistana foi fi-


nalmente reaberta após longo período de restauração, tor-
nando-se novamente, por sua beleza, ocasião de graças para os
Eduardo Luís Campos Lima e
Vanessa Ferreira Alvim
que nela adentram em espírito de oração.

O centro antigo de São


Paulo, embora há mui-
tos anos em decadên-
cia, é ainda o principal
ponto religioso da ca-
pital paulista, uma vez que abriga a
Catedral da Sé. Após laboriosa re-
forma, teve ela suas portas reabertas
e restituída sua dignidade própria à
Casa de Deus. A despeito dos arra-
nha-céus vistos por perto, ela se
mantém como edifício de estatura
insuperável, pois toca nos Céus e
conduz ao sobrenatural.
Lenta e triste decadência
A notável beleza da Catedral, tão
considerada no projeto original (a
inauguração se deu nos festejos do
Quarto Centenário da cidade, em
1954), foi progressivamente cedendo
espaço à decadência material, decor-
rente da falta de manutenção ade-
quada, das falhas estruturais e, nos
últimos anos, do vandalismo. Vitrais
quebrados, telhados perfurados e
abóbadas rachadas foram tornando-
se comuns, ofuscando seu aspecto
majestoso.
“Além dos problemas físicos que se
apresentavam aos montes, a Catedral

Entre os autores, a engenheira Maria


Aparecida Nasser, responsável pela
restauração da Catedral da Sé (ao lado)
Fotos: Timothy Ring e Luis Maria B. Varela
À esquerda: aspecto da fachada lateral, da cúpula e das torres
apontando para o céu; à direita: detalhe do pórtico de entrada, com suas ogivas góticas

sofria também de problemas de movi- “A implantação do metrô fez com A planta da catedral, arquitetada
mentação estrutural, tendo muitas que o lençol de água se deslocasse em estilo gótico pelo alemão Maxi-
trincas”, informou Maria Aparecida para baixo, fazendo ceder o terreno miliano Hehl, em 1911, previa a cons-
Soukef Nasser, engenheira respon- sob a Catedral. Suas bases foram en- trução de dezesseis torres. Todavia,
sável pelas obras de reparo. tão rebaixadas de forma desigual e apenas duas foram erigidas à época.
Esses defeitos, acumulados ao ocorreram rachaduras”, disse a enge- Com a restauração, as quatorze tor-
longo de quarenta e cinco anos, em- nheira Maria Aparecida. Tais racha- res faltantes foram incluídas. Feitos
panavam a sacralidade do templo e duras, que afetavam principalmente em cobre, seus telhados tiveram de
contribuíam, muitas vezes, para afas- as abóbadas, tinham solução traba- ser patinados em verde, pois é essa a
tar os fiéis; afinal, tocar o coração do lhosa. “Tudo na catedral é muito alto. coloração que as torres anteriores
Pai Celeste em um ambiente que As trincas estavam, às vezes, à altura adquiriram no decorrer do tempo.
não condiz com sua santa formosura de sessenta metros”, pontuou a enge- Apontando para o céu, e mais
parecia-lhes tarefa árdua. A comu- nheira. propriamente para Deus, as torres
nidade local foi se diluindo em ou- Não foram essas as únicas dificul- são elemento saliente em qualquer
tras paróquias, e a Sé, abandonada e dades: a localização da planta origi- igreja, mas sobretudo nas góticas.
obscurecida, mergulhou em triste nal demorou mais que o previsto. Tal Entretanto, mais característicos des-
decrepitude, chegando até a servir atraso resultou em menor tempo útil se estilo são os belíssimos vitrais. Na
de casa de desocupados, etc. A ne- e aumentou a pressa dos trabalhado- Sé paulistana podemos ver vários
cessidade de reformas fez-se urgente res, mas não lhes tirou o ânimo. “A deles. Embora não tenham o primor
quando um tijolo despencou do alto equipe inteira ficou muito tocada por dos europeus, são fundamentais pa-
da cúpula e caiu no corredor. Embo- trabalhar na Catedral. Havia muito ra produzir nesse edifício sagrado
ra não causasse vítimas, o acidente empenho, mesmo quando os trabalhos um efeito encantador. Um dos mais
levou à interdição imposta pelo Con- eram pesados”, contou a engenheira belos, contudo, fora inexplicavelmen-
tru (Departamento de Controle de Maria Aparecida, frisando que todos te substituído por uma vidraça e lar-
Uso de Imóveis, da Prefeitura), em os funcionários da restauração têm gado num canto qualquer do templo,
1999, quando averiguou-se que o clara consciência de que foi essa a na época da construção. Descoberto
edifício representava risco para os obra de suas vidas. “Sinto-me muito agora pela equipe de engenharia, foi
freqüentadores. privilegiada por ter participado de algo recuperado e colocado no lugar para
tão importante”, concluiu ela. o qual fora projetado, acima do pór-
Trabalhar na Catedral, um tico principal.
privilégio Restauração ficou melhor
Há males que vêm para bem. Os que o original Na cúpula, um traço de
trabalhos de restauração levaram a Não é difícil perceber que a graça ecletismo
empresa construtora a descobrir e de Deus agiu nessa obra de reforma; Característica da Catedral paulis-
reparar falhas cometidas na constru- possibilitou até mesmo levar a cabo tana é ter sido projetada com uma
ção, agravadas por obras realizadas detalhes inconclusos do empreendi- cúpula. A arquitetura gótica baseia-
na região. mento original. se essencialmente em ogivas. Já a cú-

19
No interior cuidadosamente restaurado, considerava as catedrais góticas mui-
reluzem as policromias dos vitrais, formando to parecidas com os homens, Mon-
um harmonioso conjunto com a imponência senhor Bevilacqua fez uma compa-
das colunas e arcarias góticas
ração: “Nós também nunca estaremos
acabados. A nossa Catedral de pe-
dras, da Sé, continuará a ser construí-
da; a catedral que temos em nós — o
desenvolvimento de nossa personali-
dade e de nossa fé — nunca terá a
obra concluída. O projeto de Deus pa-
ra conosco é muito maior e mais boni-
to que o projeto que Maximiliano Hehl
tinha para a nossa Catedral; e nunca
conseguiremos concluí-lo”.
Percebe-se agora, facilmente, a
renovada beleza da Catedral da Sé.
Porém, mais notório ainda é o au-
mento da freqüência na igreja. “Es-
pera-se que muitos que procuraram a
Sé inicialmente por curiosidade, con-
tinuem a freqüentá-la e acabem for-
mando uma verdadeira comunidade
em que se pode rezar bem”, afirmou
Monsenhor Bevilacqua, animado com
a possibilidade de o encantamento
pula é predominante no estilo renas- Por sua vez, ressalta o porta-voz estético favorecer as conversões.
centista. Com sua grande cúpula, a da Arquidiocese, Mons. Dario Bevi- Indispensável é destacar, nessa
Sé de São Paulo abre mão de ser to- lacqua: “É importante lembrarmos obra de grande envergadura, o papel
talmente gótica. Esse traço de ecle- que catedrais de estilo gótico nunca fundamental do nosso Cardeal, Dom
tismo, porém, traz-lhe especial rele- são acabadas. O arquiteto catalão Claudio Hummes, que, com maes-
vo, já que no mundo são poucas as Gaudi, responsável pela construção tria e arrojo, a planejou, orientou e
igrejas góticas que possuem cúpula. da Igreja da Sagrada Família, em levou a cabo.
Esse é, ademais, um dos determi- Barcelona, costumava dizer que sem-
nantes da grandeza do templo: seu pre restaria algo por fazer na cons- Outro exemplo do papel
ápice encontra-se a sessenta e qua- trução dela”. Ressaltando que Gaudi do belo
tro metros do piso. Este fato, aliás,
De qualquer forma, é certo que,
dificultou a manutenção durante
estando mais formosa, a Catedral
anos. “Há problemas constantes de
Eduardo L. Campos Lima

atrai maior número de fiéis, além de


infiltração, quebra de telhas e vitrais.
lhes proporcionar maior júbilo e per-
A grandeza da Sé fez com que o vo-
severança na oração.
lume de questões aumentasse quase
Este é um exemplo do indispen-
em escala geométrica”, afirmou a en-
sável papel do belo na evangeliza-
genheira Maria Aparecida.
ção. Assim, a reforma da Catedral
vai muito além de uma mera obra de
Semelhança com os homens restauração. Ela visa restituir aos
Segundo a engenheira Maria Apa- fiéis um meio de aproximar-se de
recida, a obra da Catedral não pode Deus, como acentuou Monsenhor
ser dada como encerrada. Continua- Bevilacqua: “A beleza é um ótimo
rão a ser executadas reformas gra- caminho para se chegar a Deus”. E
duais. Por exemplo, certos detalhes completou: “Em recente carta aos ar-
que viabilizarão o acesso às partes tistas, o Santo Padre disse a seguinte
superiores do edifício ainda não fo- Mons. Dario Bevilacqua frase: ‘A beleza salvará o mundo’. Eu
ram acabados. acredito nisso também”. !

20
Uma prova de amor para
os povos americanos
D urante sua recente viagem ao México, o Papa João
Paulo II canonizou João Diego, o índio mexicano ao
qual Nossa Senhora de Guadalupe apareceu. Neste artigo, o
autor revela aspectos da mensagem simbólica presentes na
Leonardo Barraza miraculosa imagem da Padroeira da América Latina, cuja
Correspondente
no México
festa se celebra no dia 12 de dezembro.

Fotos: Cortesia de Mons. Vicente Monroy (Basílica de Guadalupe)


O s povos pré-hispânicos do México trans-
mitiam a narração dos fatos de sua his-
tória, de geração em geração, por meio
de poemas e letras de cantos transcritos
através de símbolos hieroglíficos e outras
figuras, em rudes fibras de cactos, algodão, peles ou cas-
cas de árvores. São os chamados “códices”.
Por sua vez, os historiadores são unânimes em afirmar
que a figura de Nossa Senhora de Guadalupe estampada
na tilma (poncho típico usado pelos indígenas do Méxi-
co) de Juan Diego está repleta de figuras simbólicas.
Característica que a torna ainda mais singular, porque
era destinada a povos que se comunicavam justamente
por meio de imagens e símbolos. Na mente dos índios, a
estampa da Mãe de Deus não era um mero retrato, belo
e extraordinário, como o foi para os missionários e con-
quistadores, mas representava uma mensagem ou um “có-
dice” vindo dos céus.
Por meio desta demonstração sobrenatural, Nossa Se-
nhora de Guadalupe manifestou para aqueles povos seu
carinho todo especial, sua bondade sem limites e uma mi-
sericórdia e uma suavidade que até então eles nunca ha-
viam experimentado.
Analisemos, alguns desses símbolos presentes na ima-
gem de Nossa Senhora de Guadalupe.

O cinto e o resplendor
Nossa Senhora de Guadalupe se apresenta com um
cinto que não se localiza em sua cintura, porém mais aci-
Nossa Senhora de Guadalupe

21
ma. Era o sinal para os indígenas de que Ela estava ges- A Flor de quatro pétalas
tante. A quem daria à luz? Ao “Sol Resplandecente”.
Se analisarmos com atenção a túnica de Nossa Senho-
O grande resplendor que Nossa Senhora tem atrás de
ra, abaixo do cinto veremos uma pequena flor de quatro
si, ou que sai de dentro d’Ela, é o sol. Para os habitantes
pétalas. Essa flor é a nahui-hollín, de grande importância
do México, esse astro era o símbolo da divindade. Logo,
na visão indígena do Universo. Ela representava a antiga
a senhora da figura não era outra senão a Mãe de Deus.
cidade de Tenochtitlan, a capital azteca, e em especial a
colina de Tepeyac, onde se deu a aparição de Nossa Se-
Data da Aparição nhora. Representava também a plenitude da presença de
Há um dado significativo, vinculado ao símbolo do sol. Deus.
Estava relacionado com o chamado solstício de inverno. Era outra indicação, para aqueles povos, de que a Se-
No Brasil, como em todo o hemisfério sul, ele ocorre nhora com o manto de estrelas levava em seu puríssimo
em 22 de junho. Devido à inclinação do eixo terrestre, o seio o único Deus verdadeiro.
Sol atinge seu máximo afastamento da linha do Equador. As demais flores e figuras impressas em sua túnica
É o início do inverno, é também o dia em que o Sol nasce não estão aí postas ao acaso. Correspondem aos diversos
mais tarde e se põe mais cedo. Por isso, igualmente, é o aspectos geográficos do México, que os índios sabiam in-
dia mais curto e a noite mais longa do ano. terpretar com perfeição.
No hemisfério norte,
no qual está situado o Os cabelos
México, o solstício de in-
Nossa Senhora aparece com os cabelos soltos, o
verno acontece em 22 de
que entre os astecas era sinal de virgindade. Portan-
dezembro. Desde a mais
to, mostrava ser Ela Virgem ao mesmo tempo que
remota antiguidade, os
Mãe.
povos pagãos considera-
vam essa data a mais im-
portante do ano, pelo sim-
bolismo do Sol que, após
definhar, volta a crescer.
Os povos primitivos
mexicanos, muito conhe-
cedores de astronomia,
tinham esse dia na mais
alta consideração, constituindo sua principal data
religiosa. Era a ocasião em que o sol moribundo
recobrava vigor, era o retorno da vida, o ressurgi-
mento da luz, a vitória sobre as trevas. A aparição
de Nossa Senhora de Guadalupe deu-se exatamen-
te nessa ocasião. Embora naquele tempo constas-
se como 12 de dezembro, tratava-se de um erro do
calendário Juliano, que foi corrigido mais tarde.
Na realidade, estava-se em 22 de dezembro.
Para reforçar a impressão neles causada, nesse
mesmo momento o cometa Halley atingiu seu zê-
nite no céu mexicano.

O manto de estrelas
De acordo com recentes estudos, pôde-se com-
provar com admirável exatidão que, no manto de
Nossa Senhora, estão representados os astros mais
brilhantes das principais constelações visíveis do
Vale de Anahuac, na ocasião da aparição. Era Acima, o rosto virginal da Santíssima Virgem, emoldurado pelos
uma prova a mais de que a Senhora vinha do Céu. cabelos soltos; e a flor de quatro pétalas, nahui-hollín.

22
Os olhos da Virgem de Guadalupe

A existência da figura de
um homem estampada
no olho direito da ima-
gem da Virgem de Guadalupe é
lupa o olho da imagem milagro-
sa e ratificou a descoberta do fo-
tógrafo. Posteriormente, escreveu
um livro intitulado Juan Diego
um fato inegável, confirmada por nos olhos da Santíssima Virgem
diversos profissionais e cientis- de Guadalupe (Ed. Tradición. Mé-
tas após meticulosas investiga- xico, 1974).
ções. Cinco conceituados oftalmo-
Em 1929, o fotógrafo oficial logistas — Javier Torroella, Ra-
da antiga Basílica de Guadalu- fael Torrija Lavoignet, Guiller-
pe, Alfonso Marcué, afirmou ter mo Silva Rivera, Ismael Ugalde
descoberto no olho direito da Nieto e Joseph P. Gallagher —
imagem a figura de um homem fizeram uma rigorosa análise do
barbado. mesmo olho da imagem, em 1956,
Em 1951, o desenhista José Sa- chegando a conclusão idêntica à
linas Chávez examinou com uma do desenhista Salinas Chávez, e
forneceram disto um certifica-
do.
Acima: a figura de São João Diego
Em 1981, os cientistas da Na- aparece impressa no olho direito da
tional Aeronautical and Space imagem. À esquerda: o desenhista
Administration (NASA), Philip Salinas Chávez examina a estampa
Callahan e Jody Brandt Smith, da Virgem de Guadalupe
realizaram em conjunto um de-
talhado estudo fotográfico, após dade ninguém pode negar — con-
o qual declararam que a imagem duzem à conclusão evidente de
da Virgem de Guadalupe “é inex- que Nossa Senhora quis deixar
plicável no atual estágio da ciên- para a humanidade dos séculos
cia”. Com base nesse estudo, fo- futuros um testemunho, tão ca-
ram publicados três livros. tegórico como misericordioso, de
Os resultados dessas sucessi- sua milagrosa aparição no sécu-
vas investigações — cuja serie- lo XVI.

O rosto de maravilhas que a ciência, com todos os seus avanços,


Por fim, Nossa Senhora apresentou-se com traços mes- não consegue explicar. Por exemplo, o extraordinário fenô-
tiços, rosto moreno e ovalado. Não se pode deixar de ver meno de suas pupilas, nas quais se distinguem com lupa
aí uma manifestação do maternal amor d’Ela pelos pri- minúsculas figuras humanas; a durabilidade do rude man-
mitivos habitantes da América. to (tilma), que nem o ácido sulfúrico consegue destruir; o
* * * modo misterioso em que foi impressa a figura da Vir-
Muitíssimos outros símbolos podem observar-se na ex- gem; e outros aspectos que futuramente abordaremos.
traordinária estampa de Nossa Senhora de Guadalupe e São as maravilhas da “sempre Virgem Santa Maria,
nenhum deles lá está ao acaso, pois tudo n’Ela é de uma Mãe do Verdadeiro Deus”, como Ela mesma se definiu
suprema Sabedoria. De outro lado, existe um sem-número quando falou pela primeira vez com São Juan Diego. !

23
Angela M. Tomé

A Divina Pastora
“Divina Pastora”, conforme lhe fora indicado pela Vir-
gem.
Bom pregador, apressou-se também a divulgar do púl-
pito essa devoção. A graça a ele concedida encontrou eco
nos corações dos fiéis que o ouviam, e logo se formaram
algumas confrarias para honrar a Mãe de Deus sob essa
Angela Maria Tomé
invocação.

A confraria da Divina Pastora


Em Jaen — cidade cheia de história, situada na Anda-
luzia, assim como Sevilha — existia desde o ano 1595 a
“Irmandade da Imaculada Conceição de Maria”. Quan-

N
o ano de 1703 apareceu Nossa Senho- do a devoção à Divina Pastora expandiu-se, esta irman-
ra a frei Isidoro, capuchinho, na ci- dade se converteu em “Confraria da Divina Pastora”.
dade de Sevilha, vestida com trajes Cada ano sua festa é celebrada no primeiro domingo de
pastoris e manifestando-lhe sua von- setembro, e os atuais confrades, que se intitulam “pasto-
tade de ser invocada como a Mãe do res” e “pastoras”, conservam com muita ufania e fervor
Divino Pastor. as suas práticas tradicionais de devoção. Essa Confraria
Fiel a essa aparição, Frei Isidoro mandou pintar nesse tem sua sede na Igreja de Santo Ildefonso, cujo pároco é
mesmo ano, no coro baixo do convento, um quadro da também seu capelão.

24
Já no final de agosto iniciam-se os festejos em honra deira “voa”, sem deixá-la cair, é claro. Aos poucos, levan-
da Divina Pastora, com missas, sermões e atos coletivos tam-se, sempre girando a bandeira, e encerram a demons-
de adoração ao Santíssimo Sacramento. A imagem é re- tração com algum gesto de maior beleza, não sem antes
movida de seu nicho habitual e colocada sobre um belís- gritar a plenos pulmões: Viva la Pastooora!!
simo andor. A ambientação não poderia ser melhor. Os À tarde sai a procissão, acompanhada por grande mul-
“pastores” da Confraria colocam uma oliveira atrás da tidão. O pesado andor de prata maciça, esplendorosa-
Virgem, de maneira que esta parece ter acabado de sen- mente adornado com flores, é portado por 40 confrades
tar-se à sombra dela. Ao seu redor há várias ovelhas. Al- denominados “costaleros”, os quais, num passo estudado
gumas, muito próximas, recebem os carinhos da Pastora; e uniforme, assemelhando-se a uma marcha, vão atraves-
outras, mais distantes, pastam tranqüilamente sob seu sando as ruas da cidade seguidos por uma banda que
olhar vigilante. Nota-se o cuidado extremo da Divina executa músicas pastoris. O “pastor” que lidera os “cos-
Pastora pelo seu rebanho, não apenas por sua atitude ao taleros”, de vez em quando grita: “Viva la Pastora!!” Ao
mesmo tempo carinhosa e vigilante, mas também por- que lhe respondem todos bem alto e a uma só voz: “Gua-
que algumas ovelhas trazem uma fita amarrada ao pes- pa!!” E outra vez: “Viva la Pastora!!” — “Guapa!!” E
coço. As fitas são de cores diversas e sempre terminam mais uma vez: “Viva la Pastora!!” — “Guapa!!” E assim
com um charmoso laço. se dirigem de volta à igreja, onde recebem a bênção final.
Como não recordar que tudo isto é um símbolo encan- O que permanece destes festejos na alma de um sim-
tador da maneira como a Virgem Santíssima trata os seus ples fiel católico que deles toma parte? Vários bons efei-
devotos? — Além de mantê-los no bom caminho, Ela os tos. A fé se fortalece; a devoção à Virgem Maria se apro-
adorna com suas próprias virtudes e os conduz a seu Di- funda; reavivam-se a admiração pelo passado carregado
vino Filho. de bênçãos e o desejo confiante de um porvir glorioso pa-
Uma das ovelhas leva pendurado ao pescoço um pe- ra a Santa Igreja e para o mundo, no qual todos sejamos
queno sino, e muito familiarmente pousa as patinhas dian- um só rebanho sob um só Pastor e uma só Pastora. !
teiras no colo da imagem. É a ovelha-guia, que parece es-
tar recebendo instruções da “Pastora”. Esta talvez lhe es-
teja dizendo por onde deve guiar o rebanho, ou quais se- Ao lado: o belo estan-
jam os cuidados a tomar, ou então a esteja afagando de darte da Confraria
modo especial por haver-se comportado bem na sua ta-
da Divina Pastora.
refa...
Ao fundo vão algumas ovelhas transviadas, que estão Abaixo: a competição
a ponto de cair nas garras do lobo. Mas São Miguel Ar- das bandeiras, na
canjo, por ordem da “Pastora”, acode a tempo. À frente praça da igreja, é um
da “Pastora” vai seu Filho, um pastorzinho sorridente que dos concorridos
caminha misturado com as ovelhas.
momentos da festa
O “voltear” das mariana em Jaen
bandeiras
No domingo da festa, cele-
bra-se uma solene Missa, acom-
panhada por cânticos pastoris
tradicionais. Logo após, os “pas-
tores” e “pastoras” reúnem-se
na antiquíssima praça da igre-
ja e aí se dedicam a uma com-
petição cheia de graça e habili-
dade: o “voltear” das bandei-
ras. Sucedem-se homens e ra-
pazes, que, com uma só mão, fa-
zem girar com movimentos bo-
nitos e elegantes uma das gran-
des e largas bandeiras da Con-
fraria. Ajoelham-se e até dei-
tam-se no chão enquanto a ban-

25
A R A U TO S N

Acima e à direita: dois


momentos das
apresentações no
Colégio São Viator.
À esquerda: Um
jovem arauto
colombiano tange a
arpa llanera, aplaudido
calorosamente
pelos ouvintes
“Tournée” por pa
A música é um excelente instrumento de apostola-
do. Bem o sabem Os Cavaleiros do Novo Milê-
nio, conjunto musical formado por Arautos de
várias nacionalidades. Por isto percorrem incessantemente,
não apenas o imenso Brasil, mas também os países da Améri-
ca e da Europa.
No dia 9 de novembro, partiram eles de São Paulo para
mais uma tournée por países da América do Sul e América
Central. Ao todo, 70 músicos. Já no aeroporto de Cumbica,
seu vistoso uniforme chamou de tal modo a atenção que foram
obrigados a dar um improvisado concerto. O mesmo aconte-
ceu dentro da aeronave, a pedido da tripulação.
No saguão do aeroporto de Bogotá, aguardava-os uma equi-
pe do programa de TV “Noticias Uno”. Além de uma entre-
vista com o regente, João S. Clá Dias, mais um pequeno con-
certo para os telespectadores.
Acima: No dia seguinte, domingo, Os Cavaleiros do Novo Milênio
apostolado deram dois concertos, ambos no ginásio do Colégio São Via-
com alunos
tor. O primeiro, de manhã, para 2.200 participantes da campa-
do Ginásio
Vermont. nha “Salvai-me, Rainha de Fátima, pela Graça de Jesus”. Ao
À esquerda: anoitecer, para os alunos daquele conceituado estabelecimen-
entrevista na to de ensino e seus familiares, comemorando o 40º aniversário
chegada ao de sua fundação. Nesses dois concertos, o conjunto foi enri-
aeroporto quecido por um instrumento musical tipicamente colombiano.
de Bogotá
Trata-se da arpa llanera, tangida por um jovem Arauto dessa
nação, muito aplaudido pelos ouvintes, não só por sua perícia,

26
O MUNDO

Acima: durante a
Missa, na igreja de
São João d’Ávila,
celebrada pelo Vigário
Geral da Arquidiocése
de Bogotá, Dom
Olavio López Duque
(à direita)

Abaixo: os arautos

aíses da América animam a celebração


litúrgica na paróquia
de São Tarcísio

mas também pelo fato de ver um compatriota fazendo parte


desse já famoso conjunto internacional.
No dia 11, um programa diferente. Numa emocionante ce-
rimônia, numerosos jovens receberam o hábito de Arauto do
Evangelho. Foi ela realizada durante Missa solene na igreja de
Santo Ambrósio, em Bogotá, concelebrada pelo Pe. Albeyro,
reitor do Colégio São Viator, e o Pe. Guillermo Agudelo, Pro-
tonotário Apostólico.
O conjunto musical participou ativamente da Missa cele-
brada no dia 15 por Dom Olavio López Duque, Vigário Geral
da Arquidiocese de Bogotá, na paróquia de São João d’Ávila.
A igreja foi insuficiente para acolher a todos os assistentes.
Mais de 700 fiéis ficaram de fora, ocupando os recintos ane-
xos.
Os Arautos animaram celebrações litúrgicas também nas
paróquias de São Tarcísio, Santa Beatriz, Santa Maria de los
Ángeles, e da Porciúncula.
Durante sua estadia em Bogotá, eles foram hospedados com
fraternal dedicação pelas irmãs vicentinas. As amplas e reco-
lhidas instalações da “Casa de Ejercicios los Pinares” permiti-
ram-lhes aproveitar o tempo livre para cerimônias de adora-
ção ao Santíssimo Sacramento, horas de oração, ou para fazer
apostolado com jovens colombianos.
No momento de encerrarmos esta edição, Os Cavaleiros do
Novo Milênio estavam de partida para a capital da República Numa emocionante cerimônia, vários jovens receberam o
Dominicana. hábito de Arauto do Evangelho

27
Arautos
na América

Nas fotos acima e ao lado: durante uma solene Eucaristia


celebrada na Capela do Liceu Guatemala, foram recebidos 54
novos Cooperadores dos Arautos do Evangelho.
Abaixo: Aspectos do terço processional que percorreu as ruas
da capital guatemalteca, com a presença do prefeito da cidade
(ao centro, na foto ovalada)

GUATEMALA
NOVOS COOPERADORES MAIS 75 ORATÓRIOS
Em solene Eucaristia celebrada Durante uma pomposa Celebra-
no dia 5 de outubro na Capela do ção eucarística na Catedral, foram
Liceu Guatemala, 54 novos Co- entregues mais 75 oratórios aos
operadores fizeram ato de con- respectivos Coordenadores. Com
sagração a Nossa Senhora e assi- isso, já passam de 430 os oratórios
naram o termo de compromisso que peregrinam por mais de 13
de Arauto Cooperador. Essa ce- mil lares nesse país.
rimônia foi privilegiada por uma
bênção especial do Papa João VISITA DO NÚNCIO
Paulo II. APOSTÓLICO
Nesse mesmo dia, como parti- No dia 17 de novembro, os Arau-
cipação da Jornada Mundial do tos do Evangelho guatemaltecos
Rosario, os Arautos do Evange- receberam em sua sede a honrosa
lho organizaram um terço pro- visita do Núncio Apostólico, Dom
cessional que percorreu as ruas Ramiro Moliner Inglés. O repre-
da capital desde a praça do Obe- sentante de Sua Santidade apro-
lisco até a paróquia de Ciudad veitou a oportunidade para exor-
Vieja. O prefeito da Cidade de tar os jovens Arautos a cumprir
Guatemala acompanhou a pro- bem sua vocação de “reacender
cissão e, no final, coroou a ima- a fé em todos os corações nos quais
gem de Nossa Senhora. ela esfriou-se ou perdeu-se”.

28
NICARÁGUA
Com o objetivo de colaborar para
o êxito do Ano Missionário 2003, os
Arautos do Evangelho nicaragüen-
ses promoveram uma Jornada Maria-
na pelas Missões, consistente em uma
grandiosa procissão com a imagem 3
peregrina de Nossa Senhora de Fáti-
4
ma (foto 1), recitação do Rosário e so-
1 lene Celebração Eucarística na Cate-
2 dral de Manágua, lotada por milhares
de fiéis.
Nos meses de outubro e novem-
bro, entre outras atividades apostóli-
cas, os Arautos de Nicarágua deram
um concerto na Catedral de Maná-
gua e conduziram a imagem peregri-
na a numerosos colégios e igrejas pa-
roquiais (fotos 2, 3 e 4).

CANADÁ
Seguindo o exemplo do gran-
de Doutor da Igreja, São Tomás
de Aquino — o qual afirmou
que aprendeu mais rezando di-
ante do Santíssimo Sacramento
do que estudando nos livros —
os jovens Arautos canadenses
fazem seus estudos na capela,
PARAGUAI diante de Jesus Sacramentado. PERU
No seu esforço de transmitir 24º ANIVERSÁRIO DO PONTIFICADO
à juventude uma mensagem de Em ação de graças pelo 24º
fé e de esperança, os Arautos aniversário do pontificado de
do Evangelho, entre outras ati- João Paulo II, os Arautos do
vidades, promovem peregrina- Evangelho promoveram uma so-
ções da imagem de Nossa Se- lene celebração eucarística no
nhora de Fátima aos estabeleci- dia 24 de outubro, presidida por
mentos de ensino desse país. No Dom José Antonio Eguren An-
Colégio Santa Clara, um dos selmi, Bispo Auxiliar de Lima.
mais importantes de Assunção, A igreja de Santa Maria Rainha,
a imagem foi conduzida em pro- no elegante distrito de Miraflo-
cissão a todas as salas de aula, res, ficou lotada de fiéis que, a
sendo rezado um terço em cada convite dos Arautos, acorreram
uma delas. a essa celebração.

29
nia
Aspectos da cerimôm
po r Do m Ma jella,
presidida
em Sa lva do r

O coro dos Arautos


do
Evangelho se apresen
ta na
Semana da Asa, em
São Paulo

Por todo o Brasil


S alvador, Curitiba, Recife, Ponta Grossa, Brasília,
Belém do Pará... Não é apenas em São Paulo e no Rio
que atuam os Arautos do Evangelho! Por todo o Brasil, eles
procuram levar Nossa Senhora para acrescentar beleza às
celebrações litúrgicas, dar aos jovens força e entusiasmo, con-
fortar excluídos e doentes. Vejamos alguns exemplos.

SALVADOR: nal, Os Cavaleiros do Novo Milênio


deram, no anfiteatro Dom Bosco (San-
CERIMÔNIA PRESIDIDA
tana), um concerto para mais de mil
POR DOM MAJELLA assistentes, entre militares da Força
Em 5 de outubro, Dom Geraldo Aérea e seus familiares. Após a apre-
Majella Agnelo, Cardeal-Arcebispo sentação, o regente João S. Clá Dias
de Salvador e Primaz do Brasil, pre- foi cumprimentado efusivamente pe-
sidiu solene Celebração Eucarística lo Comandante e diversas outras au-
na Sé Catedral. Durante o ato litúr- toridades.
gico, 33 novos Cooperadores recebe-
Missão Mariana em Curitiba ram a túnica com a Cruz de Santiago, BELÉM DO PARÁ:
e o Cardeal ministrou o sacramento HOMENAGEM A NOSSA
da Confirmação a 37 jovens.
Terminada a celebração, dirigiram-
SENHORA NA ASSEMBLÉIA
se todos à casa dos Arautos do Evan- A convite dos organizadores, os
gelho para um coquetel comemorati- Arautos do Evangelho participaram
vo, com a presença do Cardeal e cer- de uma homenagem a Nossa Senho-
ca de 300 convidados. ra de Nazaré, em sessão extraordiná-
ria na Assembléia Legislativa do Es-
tado do Pará. Para esse ato, a ima-
SÃO PAULO: SEMANA DA ASA
gem foi condizida ao Palácio da Ca-
Como parte saliente das comemo- banagem, numa procissão com mais
rações da Semana da Asa, organiza- de 1.500 fiéis, que percorreu grande
Homenagem a Nossa Senhora na da pelo 4º Comando Aéreo Regio- parte da chamada “Cidade Velha”.
Assembléia Legislativa de Belém do Pará

30
CURITIBA: MISSÃO MARIANA LUPIANÓPOLIS (PR): MARIA
Entre os dias 22 e 26 outubro os OPERA CONVERSÕES
Arautos do Evangelho realizaram uma A imagem peregrina do Imaculado
Missão Mariana no bairro de Pilar- Coração de Maria foi recebida festi-
zinho, percorrendo um a um os lares vamente com uma carreata na cidade
e estabelecimentos comerciais para de Lupianópolis (PR) e logo condu-
transmitir uma mensagem de fé, amor zida à Matriz para uma solene Cele-
e devoção à Virgem Mãe de Deus. A bração eucarística da qual participa-
Missão encerrou-se com grandiosa ram mais de duas mil pessoas. Depois Acima, a
Missa na Igreja de São Marcos, cele- ela foi levada pelos Arautos do Evan- Governadora
brada pelo pároco, Pe. Francisco Pan- gelho a residências, escolas e hospi- Benedita da
zera SDP. tais da cidade. A Virgem Mãe de Deus Silva na casa
tocou tão a fundo as almas nessa oca- dos Arautos,
RIO DE JANEIRO: sião que, segundo informação do Pá-
no Rio; ao
lado, o
VISITA DA GOVERNADORA roco, Frei Tadeu Luis Fernandes, trin- cartunista
No dia 7 de novembro, a governa- ta protestantes vieram pedir para re- Ziraldo
dora do Estado do Rio, Benedita da tornar à Igreja Católica.
Silva, fez uma visita aos Arautos do
Evangelho, cuja casa é vizinha do Pa- RECIFE: COM OS MAIS JOVENS
lácio Laranjeiras. Em um ambiente E COM OS NECESSITADOS
cordial, a ilustre visitante assistiu a
Os Arautos recifenses levaram uma
uma improvisada apresentação de
mensagem de conforto e esperança
música de câmara, conversou des-
às crianças do Hospital IMIP, e pro-
contraidamente com os jovens pre-
porcionaram aos alunos do Colégio
sentes e pronunciou um pequeno dis-
Motivo uma visita da imagem pere-
curso.
grina do Imaculado Coração de Maria.
NA FEIRA DA PROVIDÊNCIA
BRASÍLIA: CRECHE E
Ainda no mês de novembro, os
HOSPITAIS
Arautos do Evangelho cariocas par-
ticiparam da popular Feira da Provi- Os Arautos do Evangelho visita- Em Lupianópolis, Missa com a
imagem do Imaculado Coração de Maria
dência, organizada anualmente pela ram, com a imagem peregrina de Nos-
Arquidiocese. Lá estava também o sa Senhora de Fátima, os hospitais
conhecido cartunista Ziraldo, o qual, HRAS e Sara Kubischek, da Capital
com grande emoção, coroou a ima- federal. E a creche Medalha Mila-
gem do Imaculado Coração de Ma- grosa, mantida pelas irmãs vicentinas Em Recife,
ria. para acolher crianças carentes. junto às
crianças do
hospital
IMIP e com
os alunos
do Colégio
Motivo

Em Brasília, no hospital Sara Kubischek (à esquerda)


e na creche Medalha Milagrosa (à direita)

31
PORTUGAL
No dia 19 de outubro, na Basílica dos Mártires, no
centro de Lisboa, realizou-se uma Celebração eucarís-
tica em ação de graças pelos 24 anos de Pontificado do
Papa João Paulo II. Foi presidida pelo Pe. Giovanni
D’Ercole, Assistente Espiritual dos Arautos do Evan-
gelho.
Acima: na inauguração No dia 27 de outubro, os Arautos do Evangelho
da Paróquia de São tiveram participação ativa na cerimônia de inaugu-
Francisco de Assis, ração da igreja paroquial de São Francisco de Assis,
em Lisboa. Ao lado: em Lisboa, presidida pelo Cardeal-Patriarca, Dom
o cortejo de entrada José Policarpo. E tiveram a honra de receber em sua
para a Missa na
casa a visita do Núncio Apostólico, Dom Edoardo Ro-
Basílica dos
Mártires, também vida.
em Lisboa

ALEMANHA
E
LESTE EUROPEU
Procurando atender os desejos
do Santo Padre, missionários dos
Arautos do Evangelho passaram
por Frankfurt, Alemanha (foto à es-
querda), pela Eslovênia e encon- team (acima), consagrou solene-
tram-se agora em intensa atividade mente sua diocese ao Imaculado
apostólica na região norte da Ro- Coração de Maria, em uma belíssi-
mênia. Na Diocese de Maramures ma cerimônia enriquecida pelo es-
o Bispo-eparca Dom Ioan Sises- plendor do rito bizantino.

ITÁLIA
MISSÕES MARIANAS E ORATÓRIOS ção de Maria que vão levar aos lares
A recitação dos Mistérios Lumino- romanos a mensagem de esperança
sos do Rosário — recentemente ins- transmitida pela Virgem de Fátima.
tituídos pelo Papa João Paulo II — BISPOS BRASILEIROS EM ROMA
foi a nota característica da Missão
Mariana feita pelos Arautos do Evan- Muitos bispos brasileiros, por oca-
gelho em Bazzano, na Arquidiocese sião da visita “ad limina”, têm procu-
de L’Aquila (foto à esquerda, em ci- rado os Arautos em Roma. Na foto
ma). Promoveram eles uma Missão (à esquerda, embaixo), vemos Dom
Mariana também na Ilha de Sicília, Geraldo Majela de Castro, arcebis-
ao Sul do país. E em Roma, na paró- po de Montes Claros; Dom Walde-
quia de Santo Aquiles, realizaram mar Chaves de Araújo, bispo de
uma cerimônia de entrega de mais São João Del Rey; e Dom Francisco
seis Oratórios do Imaculado Cora- Barroso Filho, bispo de Oliveira.

32
Acima: os Arautos promovem a recepção do
MOÇAMBIQUE santo Batismo para vários jovens em Machava (à
esquerda), e em Mastrongo (à direita)

UMA VERDADEIRA MISSÃO

S ofrendo ainda as conseqüências de uma longa


guerra e de recentes catástrofes naturais, pou-
cos países do mundo estão em situação de ca-
rência de bens materiais como Moçambique.
Apesar disto, não faltam aos seus habitantes alegria
e confiança no auxílio da Providência. E um grande de-
sejo de realizar todos os atos da vida cristã — por exem-
plo, participação na Eucaristia, batizados, casamentos ou
procissões — com toda a pompa e beleza que lhes per-
mitem as difíceis condições de vida.
Os Arautos do Evangelho que lá se encontram em Em Namaacha, a
missão compartilham com os moçambicanos sua natu- imagem de Nossa
Senhora é conduzida em
ral alegria dentro da pobreza. De outro lado, compreen- procissão pelos Arautos
dem e procuram estimular nesse sofrido povo seu nobre (acima), após a Missa
anseio de beleza, de pompa e dos bens espirituais. celebrada pelo Núncio
Apostólico (ao lado)

Em Xai-Xai, após a Missa na Catedral (foto à esquerda) uma festiva procissão com a imagem
do Imaculado Coração de Maria percorre as ruas da cidade (foto à direita),
encerrando-se em frente à casa dos Arautos (foto do centro)
33
O CÍRIO
Nossa Senhora de
Nazaré, revestida
de um de seus
ricos mantos

DE NAZARÉ,
a maior procissão
do mundo

Antônio Queiroz

A maioria dos povos


não teria história se
não fossem os atos
lendários, transmiti-
dos de geração em
geração. O mesmo se dá com as devo-
ções. É de tradicional crença que São
José, querendo deixar à posteridade
to Agostinho. Assim, através de mãos
santas, ela chegou a um mosteiro na
Espanha, de onde foi levada para Por-
tugal por um monge de nome Ro-
mano.
Em terras lusas a devoção se espa-
lhou rapidamente, e transpôs o Atlân-
tico por obra de zelosos jesuítas. Em
pequena imagem, com seu manto de
seda brilhante, sem qualquer marca
do tempo. Surpreso e maravilhado, le-
vou-a para casa, causando ela alvoro-
ço em toda a sua gente e vizinhança.
Na manhã seguinte, para assombro
geral, a imagem havia desaparecido.
Voltara miraculosamente para o lugar
uma lembrança de sua venerável es- 1700, uma cópia dessa imagem foi en- do achado. Tornaram a levá-la para a
posa, esculpira em madeira uma ima- contrada, em Belém do Pará, por Plá- casa de Plácido, mas à noite ela re-
gem da Virgem de Nazaré, a qual foi cido José de Souza, sobrinho de Ayres tornou ao seu nicho natural. A notí-
ter nas mãos do monge grego Ciría- de Souza Chicorro, um dos primeiros cia do milagre correu célere. Por to-
co, que a entregou a São Jerônimo. capitães-gerais do Grão-Pará. Duran- dos os lados só se falava do prodígio.
Este mandou-a para seu amigo San- te uma caçada, ele deparou-se com a O burburinho chegou ao governador.

34
Este, querendo uma prova concreta res.1 A procissão do Círio é realmen- com laterais de cristal, anjos barrocos
do acontecido, mandou buscar a ima- te monumental. Numa palavra, é ama- e uma coroa no alto, imitação dos car-
gem, trancou-a no palácio, com guar- zônica! O número de romeiros só faz ros usados pelas mais distintas senho-
das a postos. Ao romper da aurora, aumentar com o tempo! ras de Berlim. Daí o nome!
abriram a prisão da santa, e a encon- À frente do imenso cortejo vai a No interior desse carro, sobre al-
traram vazia! imagem de São João Batista, evocan- mofadas de rosas, pousam os pés da
A primeira procissão deu-se em do o milagre feito por Nossa Senho- Virgem, mais virginais que as flores.
1793. Dela pouco se sabe. Em 1800, ra de Nazaré, em 1846, quando afun- Coisa que os fiéis não concebem é
na véspera da solenidade, o Governa- dou-se no Atlântico o veleiro que le- ver sua Rainha sem o manto ricamen-
dor do Grão-Pará, que já era devoto vava o nome do Precursor. Doze náu- te ornado, que lhe confere a majesta-
da Virgem de Nazaré, adoeceu. Re- fragos, agarrados a um escaler, após de por eles proclamada nas ruas. Ca-
médio melhor não encontrou que muita oração e promessas, consegui- da ano seus devotos confeccionam um
apelar para Ela, prometendo, caso ram chegar a Caiena, na Guiana manto, sempre procurando superar
melhorasse, levar a imagem ao palá- Francesa. Não cabendo dúvida de em beleza o anterior.
cio e ali mandar rezar uma Missa. Em que deviam sua salvação à Virgem Em meio ao majestoso séquito da
seguida a levaria de volta à ermida. de Nazaré, prometeram levar nas cos- Rainha da Amazônia, flutuam deze-
Tendo melhorado, como pedira, cami- tas o barco, no próximo Círio. Mas nas de estandartes coloridos, com um
nhou à frente de uma multidão de as autoridades não autorizaram. Pou- corpo de cavalaria soando clarins. O
mais de 10 mil devotos da Virgem, co tempo depois, grassou uma epide- carro dos milagres testemunha os be-
levando um grande círio aceso. As- mia de cólera-morbo em Belém. Lo- nefícios da Virgem de Nazaré. No seu
sim nasceu o Círio! Quase não se fa- go a vox populi começou a espalhar bojo leva figuras em cera, simbolizan-
la em procissão. É o Círio! Cada cida- que era em conseqüência da promes- do as mais variadas enfermidades:
de do Estado tem seu Círio na festa sa não cumprida. braços, mãos, dedos, pés, pernas, ca-
do Padroeiro. Segue-se-lhe o Anjo Custódio, que beças... provas da solicitude desta
O Círio de Nossa Senhora de Na- serviu à Virgem em Nazaré da Gali- bondosa Mãe. Nesse carro ergue-se
zaré, em Belém do Pará, é a maior léia. Ele precede um conjunto de car- um cavalo montado por D. Fuas, um
procissão religiosa do mundo. Reú- ruagens, sendo a primeira a Berlinda dos primeiríssimos miraculados. Tra-
ne, por vezes, até dois milhões de pes- de Nossa Senhora de Nazaré. É um ta-se de um irmão de D. Afonso Hen-
soas, vindas dos mais diferentes luga- carro majestoso, talhado em madeira, riques, o primeiro rei de Portugal, sal-

Fotos: Luiz Stumano

Enchendo as ruas de Belém do Pará, uma fervorosa multidão participa da maior procissão do mundo

35
Aí, bem perto dela, há uma presen-
ça sobrenatural sensível, quase palpá-
vel. Certo dia, de manhãzinha, ajoe-
lhei-me aos pés dela para rezar ape-
nas 3 Ave-Marias, mas uma força aco-
lhedora, materna, suave, nada impo-
sitiva, me reteve. Quando me dei con-
ta, já havia rezado o Rosário inteiro!
É como se naquele perímetro, em tor-
no dela, não houvesse o tempo, com
seu corre-corre, suas impaciências!
O Círio é em tudo original. Às ve-
zes se tem a impressão de que o rio
Amazonas, em sua massa imensa, in-
vadiu a Avenida Nazaré. Jornais de
1900 falam de uma verdadeira maré
humana que se condensa num aperto
aflitivo. Há de tudo. Gente ajoelhada
nas calçadas, ou no alto dos prédios
lançando papel picado, acotovelando-
se nas ruas transversais, e até trepa-
da em árvores, como Zaqueu! Tudo
se move como um imenso bloco, na-
da tendo de militar, de disciplinado.
Quem não é da terra, os chamados
juízes de fora, julgam mal, chamando

Belamente ornamentada de flores, a majestosa berlinda da Virgem de


Nazaré deixa a basílica e dá início à procissão

vo de cair num abismo ao gritar: “Mi- Quando alguém alega exagero nes-
nha Nossa Senhora!” ses números, os fiéis dizem que, em se
Em seguida vem todo o bom povo tratando da Virgem de Nazaré, se o
de Deus, cada qual a seu modo. É número de devotos humanos não é o
uma devota velhinha com um tijolo que se publica, os anjos descem do
na cabeça; um pescador com seus re- céu para completar!
mos e tarrafas; um vaqueiro com seu A imagem original, encontrada por
laço... Plácido, nunca sai do seu grandioso
Em 1947, estimou-se a procissão Palácio, a Basílica de Nazaré, onde
em 200 mil devotos; em 1987 um mi- ela passa todo o ano na Glória, nome
lhão; no ano 2000, em comemoração dado ao seu nicho alto, acima do al-
dos 300 anos do achado da imagem, tar-mor. Na véspera do Círio, numa
a estimativa arredondou os números cerimônia simples mas densa de bên-
para 2 milhões. Em 2001 voltou-se a çãos, o Arcebispo faz com que ela
falar em 1 milhão e meio. Este ano, desça da Glória, para passar todo o
uns falam em mais de um milhão, ou- tempo das festividades bem pertinho
tros em um milhão e meio de romei- dos seus filhos, no presbitério, rodea- As populações ribeirinhas também
ros. da de flores e fiéis que rezam. à Senhora de Nazaré, com

36
isto de desordem. Não é! Trata-se an-
tes de uma ordem superior. Nesse dia,
parece que Nossa Senhora de Naza-
ré harmoniza todos os corações. Tan-
to que a polícia, ali presente, está pa-
ra prestar honras à Rainha desta or-
dem, e não para reprimir desordeiros.
O Círio não se reduz apenas a uma
procissão. É uma festa popular de um
mês de duração: festa nas igrejas, nas
famílias e nas ruas; ocasião de reunir
familiares, alguns vindos de longe, em
torno de exóticos manjares regionais.
No Círio de 1885, o carro que con-
duzia a imagem, puxado por juntas de
bois, caiu em um atoleiro. Os fiéis ar-
rastaram-no com cordas. Deste então,
elas foram incorporadas ao Círio. Em
torno da Berlinda, a multidão dispu-
ta o privilégio de “puxar a corda”; tudo
num clima de cordialidade devota.
Muitos se perguntam o que leva
tanta gente, na maioria descalça, a
empreender essa romaria. Que graça
terão alcançado esses devotos para se
oferecerem de tal forma à Mãe do

À noite, coroando as celebrações do Círio, um feérico espetáculo de


fogos de artifícios em honra da Virgem de Nazaré

Céu? Só Deus, a Virgem, e os pró- Na Amazônia, onde os rios fazem


prios agraciados o sabem. Há gente parte da vida, os paraenses teriam que
que faz o percurso de joelhos! Outros, inventar um Círio fluvial. É este que
saídos de dentro das matas ou de ci- dá oportunidade às populações ribei-
dades do interior, percorrem a pé, em rinhas de louvar sua Rainha no pró-
espírito de romaria, distâncias supe- prio ambiente onde vivem o seu coti-
riores a 100 quilômetros. diano. Centenas de embarcações de
E por que descalços? Em 1854, o todos os tipos e tamanhos acompa-
Papa Pio IX concedeu indulgência nham a romaria nas águas. É uma ce-
plenária a quem acompanhasse o Cí- na que impressiona pela quantidade
rio descalço, “com o coração contrito de fiéis que, nessa ocasião, prestam
e arrependido de suas faltas, confessan- homenagem à Senhora de Nazaré,
do-se, comungando e orando segundo seja a bordo de suas canoas, seja nas
as intenções da Igreja Católica”. margens de onde a contemplam. !
Certo é que o espetáculo religioso
do Círio já ultrapassou as fronteiras
prestam sua calorosa homenagem do Pará, atraindo gente de todo o País
uma festiva "romaria nas águas" e até do Exterior. 1) Cf. “Círios de Nazaré”, nº 2.

37
Um perfume
de Natal no ar
Juliane Campos

misteriosamente à rua, voltavam car- do devagar, um ambiente de santa


regados de pacotes e os pequenos alegria pairava sobre toda a cidade.
não se davam conta de nada... ou pe- As roupas novas eram cuidadosa-

A proximando-se as lo menos sentiam gosto em parecer mente preparadas. Por volta das cin-
festas de fim de que nada percebiam! Nem sempre co ou seis horas da tarde, o movi-
ano, as casas já co- os presentes eram caros, mas dados mento das ruas começava a cair. Nas
meçam a ser ador- com todo o afeto! Dominava a tudo casas todas as lâmpadas eram acesas,
nadas com arvore- a figura do menino Jesus. as árvores de Natal coruscavam com
zinhas, quase todas artificiais, cheias suas luzinhas coloridas. A noite ia
de bolas e enfeites coloridos, as lojas O presépio chegando e as pessoas preparavam-
se preparam para vender mais, os Ao lado dos pinheirinhos, às vezes se para a Missa. Às dez horas as igre-
funcionários fazem horas extras, con- tão altos que chegavam ao teto da jas começavam a abrir-se e muita
trata-se alguém para vestir-se de Pa- casa, o presépio nunca podia faltar. gente ia chegando. As senhoras reza-
pai Noel, e todo mundo fica à espera Buscava-se musgo nos campos ou nos vam ou às vezes cochichavam entre
do “décimo terceiro” para a ceia e mercados, plantava-se arroz em pe- si, os homens bocejavam, e as crian-
para os presentes, ou para as via- quenos vasinhos no dia 8 de dezem- ças esperavam ansiosas a entrada do
gens. Todos se preparam para viver bro, festa da Imaculada, para que no Menino Jesus, que seria levado pelo
esses dias de feriado, de festas e de dia 24 estivesse bem crescidinho, tu- sacerdote para completar o belo pre-
gozo. do feito para dar o ar mais real pos- sépio, com a manjedoura ainda va-
Mas foi sempre assim, tão reduzi- sível à gruta de Belém, onde ia nas- zia.
da aos seus aspectos “materialistas”, cer o Salvador. A manjedoura vazia
a época do Natal? Lembram-se hoje só ia ser ocupada na madrugada do A bela imagem do Menino
as pessoas d’Aquele de quem cele- dia 25, quando nascesse o nosso Re- Jesus
bramos o nascimento? dentor. Os Magos, ao longo dos dias, Ouvia-se um bimbalhar de sinos,
* * * iam percorrendo o caminho, seguin- os cânticos enchiam a igreja dos sons
Tempo houve em que os dias que do a estrela que os guiava, e só che- daquela noite feliz. Nasceu o Meni-
antecediam o esperado 25 de dezem- gavam na santa gruta no dia 6 de ja- no Jesus! O Padre entrava com uma
bro traziam um perfume sobrenatu- neiro, como narram as mais antigas encantadora imagenzinha de nosso
ral no ar. Bem antes, a alegria domi- tradições. Deus feito menino e a depositava no
nava os corações. A cidade se enfei- O dia 24 de dezembro já amanhe- presépio. Vários fiéis acorriam ali
tava mais, armavam-se árvores e com- cia completamente diferente. A par para venerá-la. Começava a Missa, e
pravam-se os ingredientes para as do agradável cheiro de pão-de-mel, o Natal chegava a seu auge na hora
deliciosas ceias. Os adultos saíam de chocolate e do peru, que era assa- da Consagração e da Comunhão.

38
Terminada a Eucaristia, muitas famí-
lias compartilhavam uma deliciosa
ceia noite afora, celebrando tão ex-
celso aniversário. Outras preferiam
comemorá-lo com um suculento al-
moço no dia seguinte.
Mas o que era comum em todas as
casas era ver as crianças, já no dia 25,
brincando e desfrutando de seus no-
vos presentes, contentes por ver que
o Menino Jesus trouxe a alegria da
salvação e os premiou por seu bom
comportamento.
Muitas famílias visitavam-se para
pessoalmente cumprimentar seus
amigos e parentes, desejando-lhes os
melhores votos de um Santo Natal,
repleto das bênçãos de Deus. Era de
fato um tempo de paz em que a fé
estava presente e reinava a harmonia
entre as pessoas.
Perdeu-se este sentido verdadeiro
do Natal? O consumismo, o desejo
do gozo da vida e a preocupação
apenas com o que é terreno terão
conseguido apagar inteiramente nas
almas o espírito natalino? Continua-
rá o Natal a ser celebrado sem ter
em conta que esta é a festa do nasci-
mento do Menino Jesus, que se en-
carnou e nasceu de Maria Virgem
para nos abrir as portas do céu? Não
mais retornarão as inocentes alegrias
das festas natalinas de outrora?
Difícil é responder positivamente
a essas questões. Mas lembrando-
nos do poder da Graça divina, resta-
nos a esperança da restauração dessa
alegria sobrenatural.
Quiçá, ao celebrar o segundo Na-
tal do milênio, nosso leitor se sinta
inspirado a orar para que volte essa
atmosfera de inocência e que esse
perfume de espírito cristão impregne
novamente os lares. Não apenas o
perfume de tempos passados, mas
o de uma nova era que se apro-
xima, era do triunfo do Ima-
culado Coração de Ma-
ria, que fará desta fes-
ta uma verdadeira
Luis A. Blanco

“Noite Feliz”... 1
Carta de Papai Noel a todos
os pais do Mundo
Lamartine
de Hollanda
Pólo Norte, 1º de dezembro de 2002 Cavalcanti Neto

P rezados pais
Estou escrevendo
esta carta para pedir-
lhes um presente de Natal.
Sei que, partindo de mim, tal
pedido pode parecer estranho, mas
vou procurar explicar o que está acon-
tecendo, e tenho certeza de poder
a rugas precoces nas testas, a descon-
fianças decepcionadas.
Fico às vezes com a impressão de
que muitas delas têm uma espécie de
desilusão generalizada. Uma desilu-
são tão profunda que as leva, muitas
vezes, a nem sequer animar-se a tratar
do problema com alguém.
“Sabe, Papai Noel, tenho estado
muito triste. Só vejo mamãe à noite,
quando ela volta da faculdade, depois
de ter trabalhado o dia inteiro. Papai
tem viajado muito, e só vem em casa
de vez em quando. E mesmo assim,
quando chega, fica assistindo à tele-
visão. Será que o senhor não conse-
contar com sua compreensão. Talvez por isso tenho encontrado guiria, neste ano, que eles me dessem
É o seguinte: com essa invasão dos casos antes inimagináveis para mim: de presente um pouquinho de tempo
meios de comunicação na vida das crianças com insônia, nervosas, agres- para mim?”
crianças — uma verdadeira globaliza- sivas, várias usando drogas, outras de- Outro, que deve ser meio menino-
ção da informação — elas estão cada primidas, e algumas até falando em prodígio, me passou este e-mail (até
vez menos acreditando em mim. Ain- suicídio. eu tive de entrar na internet, para não
da bem que sou corado por natureza, Mesmo entre aquelas que ainda ficar defasado):
pois tenho passado cada vexame acreditam em mim, encontro motivo
quando elas sentam no meu colo e para preocupação. Vejam só o trecho
dizem que não passo de uma inven- de uma carta que recebi outro dia:
ção comercial! Confesso que não con-
sigo deixar de ficar vermelho...
Com isso, sinto que meu relaciona-
mento com elas já não é mais o mes-
mo; e que uma porção de coisas que
eu gostaria de dizer-lhes já não terão
a mesma repercussão que teriam an-
tes.
Mas o problema não é só esse. Es-
tá acontecendo algo mais profundo,
mais sério. Tenho notado — como di-
zê-lo... — tenho a impressão de que as
crianças estão perdendo pouco a pou-
co aquela inocência que tinham anti-
gamente.
Aquele brilho nos olhos, aquele
maravilhamento, aquela louçania en-
cantadora, tudo isso vem diminuindo
e dando lugar a olhinhos meio céticos,

40
Ilustrações: Antônio Sandro

“Olhe, Papai Noel, eu não tenho


nada para lhe pedir desta vez. Já ga-
nhei bicicleta, mini-carro, todo tipo de nita, elevada, nobre. Afinal, ele era um
jogos, “notebook” de última geração bispo, um santo, e eu não passo de
conectado a satélite... Quebrei a cabe- uma boa “ferramenta de marketing”. Falem-lhes de Jesus, de Maria e Jo-
ça procurando imaginar o que lhe pe- Mas o que tem me deixado real- sé. Dos anjos, dos Reis magos e dos
dir, mas não consegui. E, entretanto, mente perplexo foi constatar que, ao pastores. Do presépio, da manjedou-
não estou contente. Sinto uma espé- longo dos anos, minha figura tem si- ra. Dediquem tempo e coração a isso.
cie de falta de ar. Não consigo defi- do usada de modo cada vez mais des- Contem-lhes sua vida, os milagres
nir o que desejo. Acho que sinto fal- vinculado do verdadeiro espírito de que fez, os ensinamentos que nos dei-
ta do absoluto. De algo que não me Natal. Não julgo intenções, apenas re- xou. Falem-lhes da Igreja que Ele fun-
dê uma satisfação apenas passageira. gistro o fato. dou, e da civilização que, por meio de-
Será que existe algo assim, Papai Ora, todos sabemos que o espírito la, nos legou.
Noel?” de Natal não existe sozinho. Ele faz Ajudem seus filhos a compreender
Tem também este fax que uma me- parte de um mundo de concepções, de que esse tesouro que eles têm na al-
nina me enviou: “Ouvi falar que o Na- idéias, de ambientes e costumes. É um ma, chamado inocência, provém da
tal não tem nada a ver com essa histó- fruto e, ao mesmo tempo, está na ori- Inocência absoluta que nasceu para
ria de comidas, de idas ao shopping. gem de toda uma civilização: a cristã. nós naquela noite bendita.
Que, na realidade, o Natal é uma fes- Nessa civilização, as crianças apren- E que, muito mais do que um pre-
ta celebrando o nascimento de uma diam naturalmente a voltar-se para o texto para comprar brinquedos, o Na-
Pessoa que veio salvar a gente de to- maravilhoso, para o belo, para as rea- tal é a grande ocasião que nós temos
do tipo de mal. Que antigamente as lidades simbólicas e elevadas que re- de permitir que Jesus nasça no inte-
famílias se alegravam com isso, e por fletem, em última análise, a Deus. rior de nossas almas. Nasça, viva e
essa razão comemoravam. É verdade Em Deus e nos seus reflexos elas atue, de modo a nos unir cada vez
isso, Papai Noel? Se é verdade, então encontravam aquele absoluto que mais a Ele.
por que ninguém me falou disso ainda meu pequeno “internauta” deseja e Pode até ser que, com isso, algu-
lá em casa?” não sabe encontrar, aquela confiança mas crianças acabem percebendo que
Confesso que essa situação tem me que vence toda desilusão, aquela cer- o Papai Noel, de fato, não tem muito
deixado perturbado. Há muito tempo teza de ser amada por seus pais, sím- a ver com a realidade, e deixem de
que eu já sentia uma certo peso de bolos de um Pai infinitamente maior. acreditar em mim de uma vez. Mas
consciência por ter tomado o lugar de Por tudo isso, caros amigos, é que se isso acontecer, eu me sentirei fe-
São Nicolau nas festas natalinas. dessa vez sou eu que venho lhes fazer liz, pois terei conseguido trazer aos
Embora o conto de que São Nico- um pedido: ajudem-me a restaurar o homens o presente de que eles mais
lau vinha trazer dádivas todas as noi- verdadeiro espírito de Natal. necessitam: a ressurreição do verda-
tes de Natal não seja senão uma len- Como fazê-lo? É muito fácil. Bas- deiro espírito de Natal.
da — pois ele fazia isso só enquanto ta explicar para seus filhos o que sig- Muito obrigado por sua atenção,
estava vivo, e para ajudar aos necessi- nifica realmente o Natal: o nascimen- e um...
tados — era ao menos uma fábula bo- to do Redentor da humanidade. “Feliz Natal!” !

41
Bolo natalino alemão

O Natal é uma festa universal, mas, quanto


ao paladar, cada povo o degusta à sua ma-
neira. Se no Brasil as várias tradições tra-
zidas pelos imigrantes deram origem a
uma mesa eclética e abundante (onde, en-
tretanto, costuma reinar o peru), na Europa os gostos
são mais definidos: os espanhóis preferem truculentos
turrones y mantecados, os ingleses servem à mesa peru e
Pedro Henrique da Cruz Ribeiro

No fim do processo, quando o papel alumínio é retira-


pudim natalino, os italianos não passam sem saborosos do e se sente o aroma convidativo do pão, vê-se que o pe-
panetones, e os alemães se esmeram no preparo de pães queno esforço desses dias valeu a pena. Você terá em
gostosos e requintados. suas mãos um bolo completamente diferente do habitual.
A receita de hoje foi-nos ensinada por um amigo aus- Só resta servi-lo com esmero e acompanhado, neste nos-
tríaco. Não é difícil de fazer, mas requer certa dose de so Brasil tropical, por um bom sorvete, de preferência de
previsão e paciência. creme ou de baunilha.

Ingredientes Modo de preparo


1ª parte: ½ kg de farinha de trigo / 1 colher (sopa) Quarenta e oito horas antes de começar o preparo,
de fermento em pó Royal / 1 colher (sopa) de açúcar deixe as passas de molho em rum ou conhaque.
vanille / 1 pitada de sal / raspa de 5 limões e 5 laranjas Misture os ingredientes da primeira parte. Bata no
/ 1 colher (café) de cardamomo / 1 pitada de noz-mos- liqüidificador os ingredientes da segunda parte. Junte
cada. todos eles e misture bem. Acrescente com cuidado os
2ª parte: 2 ovos / 125 gr de manteiga / 250 gr de ingredientes da terceira parte.
gordura vegetal / 250 gr de ricota fresca / 6 gotas de Asse em forno pré-aquecido a 180° por uma hora,
essência de amêndoa. aproximadamente.
3ª parte: 200 gr de passas brancas / 200 gr de passas Logo após desenformar, estando o bolo ainda quen-
pretas / 100 gr de amêndoas quebradas / 100 gr de fru- te, pincele abundantemente com manteiga derretida
tas cristalizadas, cortadas em cubinhos / rum ou co- e polvilhe bastante açúcar de confeiteiro e açúcar va-
nhaque. nille misturados. Trabalhe com cuidado para o bolo
Cobertura: 100 gr de manteiga / 50 gr de açúcar de não quebrar.
confeiteiro / 50 gr de açúcar vanille. Embrulhe em papel alumínio e guar-
de em local fresco e seco, não na ge-
ladeira. Nos climas mais quentes, uma
Timothy Ring

semana será suficiente para ficar no


ponto. Nas zonas frias ou montanho-
sas, convém deixá-lo repousar quase
quinze dias.
Nota: Para dar ao bolo o sabor ca-
racterístico do Christollen germânico,
seria preciso substituir a noz-moscada
por uma colher (café) de muscatblute
(massis) e uma colher (café) de speku-
latius. Entretanto, em muitas cidades
esses ingredientes não serão fáceis de
achar. !
A mesa de Natal
reflexo de alegria
e piedade

Mariana
Arráiz de Morazzani

O arranjo da mesa natalina exige um especial


esmero e imaginação. Aproveite a ocasião
para usar cores em profusão, pois o Natal é,
por excelência, uma festa colorida.
A combinação de elementos simples pode dar
um elevado toque de esplendor: fitas vermelhas, douradas
ou verdes, pinhas e galhos de pinheiro, velas, bolas de
cristal colorido ou flores de bico de papagaio, e um pe-
queno cartão com o nome de cada pessoa no seu lugar à
mesa, cada um iluminado por uma velinha.
Fotos: Luis A. Blanco

Além da mesa, enfeite também a sala, o hall de entra-


da e outros locais. Uma boa idéia é trocar lâmpadas por ve-
las. Como? Muito simples: guarde as lâmpadas queima-
das, retire delas o globo de vidro, coloque velas nas ros-
cas metálicas e troque-as pelas lâmpadas dos lustres. (Na
hora de colocá-las é preciso tomar cuidado para evitar
choques.) Você obterá assim uma iluminação natalina to-
da original e muito apropriada para o dia.
O principal objetivo de tanto cuidado com a decora-
ção, procurando em tudo a beleza através da harmonia de
cores e adornos, deve ser criar um ambiente que ajude os
corações a se elevarem e transmita a todos essa alegria
Elementos simples e imaginação produzem especial que sentimos por sermos filhos de Deus. !
belos enfeites natalinos

43
Venha compartir conosco
a alegria do Natal !
A o se aproximar o Natal, os Arautos do Evangelho pre-
param — em catedrais, igrejas paroquiais ou nas casas
da Associação — presépios abertos à visitação pública. Alguns
som, narrando a história do Menino que acaba de nascer, estão
entre os mais concorridos, como o de Monte Alegre (SP), que ga-
nhou menção até em guias turísticos.
brilham na sua encantadora singeleza, outros se destacam pela Mas todos são montados com um mesmo objetivo: ajudar
requintada elaboração. Há aqueles que já foram premiados, co- quem os contempla a sentir no mais profundo da alma a alegria
mo o de Curitiba, classificado em primeiro lugar no concurso de do Natal.
presépios da cidade. Os que apresentam um espetáculo de luz e Não deixe de visitá-los com toda a sua família!

Atibaia - SP Horário: diariamente, das 20 Monte Alegre do Sul - SP São Carlos - SP


Local: Igreja matriz, Praça às 22 h Local: Rodovia Monte Local: Rua Bernardino de
Claudino Alves, 103 Telefone: (31) 3763-7406 Alegre-Pinhalzinho, km 4 – Campos, 483 – Vila Prado
Telefones: (11) 4411-1460 Bairro do Falcão Horário: diariamente das 17
(igreja) e 4413-6929 / 9872- Curitiba - PR Horário: diariamente, das 10 às 21 h
6590 (casa dos Arautos) Local: Rua João Batista às 17 h, a partir de 17/12 Telefone: (16) 270-8895
Dallarmi, 817 – Santo Inácio Telefone: (19) 3899-1647
Belém - PA Horário: de terça a sexta- São Paulo - SP
Local: Catedral da Sé – feira, das 18 às 21:30 horas; Montes Claros - MG (Casa Nossa Senhora da
Cidade Velha sábados e domingos, das 15 às Local: Rua Tupinambás, 227 – Saúde - foto abaixo)
Horário: diariamente, das 10 20 h Bairro Melo
Local: Rua Sena Madureira,
às 12 h e das 16 às 20 h Telefone: (41) 3027-6907 Horário: das 14 às 20 hs
129 – Vila Mariana
Telefone: (91) 266-7171 Telefone: (38) 3222-7766
Horário: de terça a sexta-
Juiz de Fora - MG
feira, das 14 às 21 h; sábados
Belo Horizonte - MG Local: Catedral, Rua Santo Ponta Grossa - PR
e domingos, das 10 às 20 h
(Casa Nossa Senhora do Bom Antônio, 1.201 Local: Igreja Catedral, Rua
Telefones: (11) 5571-2117 ou
Conselho) Horário: das 17 às 21 h, de Santana, 528 – Centro
8/12 a 6/1. 5571-4308
Local: Rua Alumínio, 26 – Horário: das 15 às 22 h, a
Telefones: (32) 3215- 8141 partir do dia 13/12 (Casa Nossa Senhora de
Serra Nazaré)
Horário: de segunda a sexta- (Catedral) e 3223-5675 (Casa Telefones: (42) 226-1881 ou
dos Arautos) 226-5911 Local: Rua Tocandira, 81 –
feira, das 15 às 21 h; sábados,
Vila Leme
domingos e feriados, das 10
Londrina - PR Salvador - BA Horário: de terça-feira a
às 21 h
Local: Rua Michigan, 505 – Local: Rua Medeiros Neto, 38 domingo, das 15 às 21 h
Telefone: (31) 3227-3087
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45
L’Osservatore Romano ACONTECEU NA IGREJA E NO MUNDO

bir os programas suscetíveis de cau-


sar dano às crianças (Le Monde).

Lei anticatólica na Bielo-


Rússia
Com as emendas aprovadas re-
centemente, a lei religiosa da Bielo-
Rússia passa a ser a mais repressiva
de toda a Europa. Proíbe ela, por
exemplo, o registro de qualquer co-
Brasil: participação popular munidade religiosa que não era re-
indica fervor religioso gularizada no tempo da ex-União
Soviética. Se o presidente Alexandr
Duas grandes comemorações re-
Lukasenko sancionar essa lei, todas
ligiosas recentes dão mostra de um
as atividades religiosas não-regis-
lento, mas seguro, reafervoramento
tradas serão proibidas.
dos católicos.
O objetivo das mencionadas
Em Aparecida, mais de 200 mil
emendas é reforçar a implantação
fiéis compareceram à basílica no
da Igreja Ortodoxa no país, como Como parte das festivi-
dia da Padroeira do Brasil, maior
número desde 1997. Isto, sem con-
reconheceu o Presidente da Comis- dades dos duzentos anos
são do Estado para assuntos reli- de fundação do Mostei-
tar as inúmeras comemorações dio-
giosos e nacionais (Rádio Rainha ro e da Igreja da Luz,
cesanas e paroquiais realizadas em
da Paz).
todo o País, todas elas também mui- uma exposição inédita
to concorridas, especialmente as de
Brasília e Campo Grande (MS). No Museu de Arte Sacra de
Em Belém, cerca de 1,8 milhão S. Paulo: iconografia de no, especialista em arte sacra do
de ardorosos fiéis participaram da Nossa Senhora Brasil.
maior procissão do mundo, o Círio Uma exposição inédita reúne, Horários: de terça-feira a sexta-
de Nazaré, acrescida pelo desfile de até 15 de janeiro de 2003, cerca de feira, das 11 às 18 horas. Sábados,
700 barcos que conduziram a ima- 130 obras dos séculos XVII a XIX, domingos e feriados das 10 às 19
gem de Nossa Senhora de Nazaré mostrando seis etapas da vida de horas. Av. Tiradentes nº 676, São
pela Baía de Guajará. Nossa Senhora: menina, jovem, na Paulo. Tel.: 3326-1373, 3326-5393,
Anunciação, como Virgem Mãe 3326-3336.
França: projeto de lei contra (com o Menino Jesus), durante a
pornografia na TV Paixão de seu Filho, e na Assunção. Beneditinos preocupados
Foi assinado por 96 deputados São obras de artistas brasileiros com a crise de fé
franceses um projeto de lei de auto- — como Aleijadinho, Frei Agosti- Os dirigentes das dezoito escolas
ria da deputada e militante católica nho de Jesus, Francisco Xavier de beneditinas do Brasil estão preocu-
Christine Boutin, visando proibir Brito —, portugueses e peruanos. pados com o que muitos religiosos
“cenas de pornografia ou violência Estará exposta também a famosa chamam de “crise de fé”, que afeta
gratuita” nos programas televisivos. imagem Nossa Senhora das Dores, a maioria das famílias de seus alu-
O presidente do Conselho Supe- do Aleijadinho, pertencente ao acer- nos. Cerca de 65% dessas famílias
rior de Audiovisual francês, Do- vo do museu. são de católicos não-praticantes, en-
minique Baudis, exortou os políti- A exposição faz parte dos feste- quanto apenas 25% seriam de fiéis
cos e o governo a impedirem os jos dos 200 anos de fundação do ativos e os outros não teriam inte-
programas pornográficos. Há um Mosteiro e da Igreja da Luz, come- resse por religião. A estimativa é de
certo tempo vem ele batalhando mora o terceiro aniversário de seu Dom Geraldo González y Lima,
para encaixar a França na lei de di- fundador, Frei Antonio Sant’Ana vice-reitor do Colégio Santo Amé-
retrizes européias, a qual visa proi- Galvão, e homenageia João Mari- rico, em São Paulo.

46
vens sacerdotes norte-americanos cumprir sua vontade em nossa vida
manifesta sua preferência pelos va- pessoal e na convivência social”. E
lores tradicionais da Igreja, inclu- que “freqüentemente nos deixamos
sive nos pontos relativos à Moral levar pela desconfiança, a incom-
Fotos: Denise Andrade / Manager C.

católica. Segundo a pesquisa, em preensão, a intolerância e o desâni-


cada dez sacerdotes com menos de mo, atitudes que paralisam toda ini-
41 anos, quatro declaram-se con- ciativa de solução dos problemas”.
servadores. Diante dessa situação, ressaltam
O resultado dessa pesquisa vale que é o momento de elevar para
como amostragem do que acontece Cristo o olhar, seguir seu exemplo
em outras regiões do mundo, visto e n’Ele colocar a esperança para
que dois terços dos sacerdotes de sair da situação de crise e estanca-
Los Angeles são originários de paí- mento atuais do país. E fazem um
ses hispânicos e asiáticos. apelo: “Demos razão de nossa espe-
rança, vivendo a compaixão, a mi-
Vaticano: prevenção contra sericórdia e o amor”.
a AIDS é a castidade Concluem os Bispos bolivianos
afirmando ser necessário que “to-
A melhor prevenção contra a dos os que conformamos a Igreja de
AIDS é a castidade, segundo decla- Deus demos um testemunho trans-
ração do presidente do Conselho parente e valente do Evangelho da
Pontifício para a Pastoral da Saúde, Esperança”; e que pondo “nossa
reúne, até 15/1/2003, cer-
Dom Javier Lozano Barragán. Dis- confiança nas pessoas e nas institui-
ca de 130 obras dos sécs. se ele que existem no mundo 40 mi- ções, sejamos partícipes ativos, co-
XVII a XIX, das quais lhões de aidéticos e 160 milhões de responsáveis e confiantes, do esforço
são exemplos as das fotos soropositivos. conjunto para sair da crise, deixando
aqui reproduzidas. Ao apresentar a XVII Conferên- de lado os partidarismos e interesses
cia Internacional promovida por seu de grupo e pensando na Bolívia co-
Conselho sobre o assunto “Iden- mo pátria e lar comum de todos”
Levantamento feito por Dom tidade das Instituições Sanitárias (NE - eclesiais.org).
Geraldo nas escolas beneditinas Católicas”, Dom Barragán acen-
brasileiras (com cerca de 13 mil tuou que nesta “sociedade panse- Entusiasmo pela Adoração
alunos) mostrou aspectos que in- xual, o objetivo do sexo não é a pro- perpétua
comodam os religiosos. Entre ou- criação, mas o prazer”. Afirmou ain-
da que a característica fundamen- Uma pequena igreja construída
tros, os seguintes: conflitos entre a
tal dos hospitais católicos é a defe- em Bangladesh por missionários
instituição e a família, provocados
sa da vida, “e jamais favorecer a portugueses, em 1677, tornou-se a
pelo aspecto formativo e religioso;
morte” (Radio Rainha da Paz). primeira a ter adoração perpétua
falta de vivência religiosa; muitos
nesse país.
alunos que são filhos de pais sepa-
A causa da crise: dizer não Graças ao padre Stephen Ra-
rados; e poucos monges e irmãos
phael, natural da Índia, um número
nas escolas. a Deus cada vez maior de católicos está des-
“Há um divórcio da cultura e da
Em mensagem divulgada por cobrindo a alegria e a paz prove-
fé, que se acentua nas últimas déca-
ocasião do término da Assembléia nientes da adoração de Nosso Se-
das. O desafio principal é como va-
plenária da Conferência Episcopal, nhor no Santíssimo Sacramento.
mos evangelizar no mundo de hoje”,
os Bispos da Bolívia pedem aos Mais de 2.000 mil fiéis participa-
diz Dom Geraldo (O Estado de S.
fiéis que coloquem a esperança em ram da Missa de entronização do
Paulo).
Deus e dêem um testemunho cris- Santíssimo nessa capela.
tão, em meio à crise que afeta o Quando foi sugerida a institui-
Jovens sacerdotes declaram- país. ção da adoração perpétua, os paro-
se conservadores Advertem eles que “as causas quianos responderam imediata e
Uma pesquisa publicada pelo dos males que sofremos são as mes- entusiasmadamente, e chegaram a
jornal “Los Angeles Times”, revela mas que no tempo de Jesus: Disse- fazer fila para poder assinar o pedi-
que um número crescente de jo- mos não a Deus, não queremos do (Fides Service).

47
Os Santos de cada
1. 1º Domingo do Advento. 4. São João Damasceno, pres-

Timothy Ring
Santo Edmundo Campion, pres- bítero e doutor da Igreja (séc.
bítero e mártir. Um dos mais bri- VII). Filho de alto funcionário do
lhantes professores da Universida- califado de Damasco, deixou a
de de Oxford, tornou-se jesuíta. corte e retirou-se para um conven-
Foi torturado e executado pelos to perto de Jerusalém. Lutou con-
protestantes em 1581. tra a heresia iconoclasta. É con-
siderado o último Padre da Igreja
2. Santa Bibiana, mártir (séc. Oriental.
IV).
5. São Sabas, abade (séc. V).
3. São Francisco Xavier, pres-
bítero (1506-1552). Espanhol de
nobre família, foi convertido por 6. São Nicolau, bispo. O mais
Santo Inácio de Loyola quando popular santo relacionado com os
ambos estudavam na Universida- festejos natalinos. Sendo bispo de
de de Paris. Pertenceu ao núcleo Mira (Lícia), foi preso e torturado Santa Luzia
inicial de jesuítas que se consagrou durante a perseguição de Diocle-
ciano, mas não chegou a ser marti- 9. São Pedro Fourier, religioso e
a Deus em 1534. Foi enviado como
rizado. Operou portentosos mila- fundador (séc. XVII).
missionário para a Índia, de onde
passou ao Japão. Sua meta era, gres (séc. IV).
10. Nossa Senhora de Loreto.
porém, a China. Embarcando para
7. Santo Ambrósio, bispo e dou- Patrona dos aviadores, pois, segun-
lá, adoeceu gravemente durante a
tor da Igreja. Funcionário do Im- do a tradição, a santa casa de Na-
viagem e morreu com 46 anos. Ha-
pério Romano. Sendo apenas ca- zaré foi transportada pelos anjos
via batizado mais de 30 mil pagãos
tecúmeno, os fiéis da diocese de até Loreto.
e realizado inúmeros milagres.
Milão o aclamaram seu bispo. Co-
11. São Dâmaso I, papa (séc.
locou a serviço da Igreja sua extra-
IV).
ordinária capacidade administrati-
va e imensa cultura. Combateu he-
12. Nossa Senhora de Guada-
resias, empenhou-se em extirpar o
lupe, padroeira da América Lati-
paganismo, defendeu a virgindade
na.
consagrada e enfrentou o Impera-
dor Teodósio. Teve papel preponde- Santa Joana Francisca de Chan-
rante na conversão de Santo Agos- tal, religiosa (1572-1641). Viúva
tinho e deixou escritos de alto va- aos 28 anos, fez voto de castidade
lor intelectual. Faleceu em 397. e retirou-se da vida social. Dedi-
cou-se à oração e educação dos 6
filhos. Em 1604 conheceu S. Fran-
8. 2º Domingo do Advento.
cisco de Sales, tomando-o por di-
Imaculada Conceição. Maria retor espiritual. Com a ajuda dele,
Santíssima foi concebida sem pe- fundou a Congregação da Visita-
cado original. Vinda dos primór- ção.
Timothy Ring

dios do Cristianismo, esta devoção


foi definida como dogma em 1854 13. Santa Luzia, virgem e már-
São Francisco Xavier por Pio IX. tir. Foi prometida como esposa a
dia  Dezembro
um jovem da nobreza romana, teve a graça de recebê-lo várias ve- 27. São João, apóstolo e evange-
mas havia consagrado sua virgin- zes em sua casa. Foi por Ele res- lista. Irmão de São Tiago Maior,
dade a Nosso Senhor. Acusada de suscitado depois de passar quatro era de temperamento vivaz e im-
inimiga do culto pagão, confessou dias na sepultura. pulsivo, recebendo do Mestre o tí-
sua fé ante o tribunal e foi morta à tulo de “Filho do Trovão”. Teve o
espada, após resistir miraculosa- 18. São Gaciano, bispo (séc. privilégio de reclinar a cabeça so-
mente a vários tipos de suplício IV). bre o Sagrado Coração de Jesus,
(séc. IV). durante a Santa Ceia. Único após-
19. Santo Urbano V, papa (séc. tolo presente no Calvário, recebeu
14. São João da Cruz, presbíte- XIV). Maria por Mãe e a Ela foi dado
ro e doutor da Igreja. Carmelita por filho. Viveu daí em diante em
espanhol, associou-se a Santa Te- 20. São Domingos de Silos, aba- companhia d’Ela.
resa na obra de reforma da Ordem de. Espanha (séc. XI).
carmelitana. Foi grande místico e

Sergio Hollmann
mestre da vida espiritual (séc. XVI). 21. São Pedro Canísio, presbíte-
ro e doutor da Igreja. Holandês,
15. 3º Domingo do Advento. levou a Contra-Reforma aos países
São Valeriano, mártir, bispo da germânicos, resgatando largas re-
África (séc. V). giões para a Igreja. Faleceu em
Friburgo, Suíça, em 1597. Pio IX
16. Santa Adelaide, Imperatriz. declarou-o Doutor da Igreja.
Santo Odilon, abade de Cluny es-
creve a seu respeito: “No seio da 22. 4º Domingo do Advento.
família mostrava soberana amabili- Santa Francisca Xavier Cabri-
dade, no trato com estranhos era de ni. Fundou a Congregação das Mis-
uma fidalguia prudente e reservada. sionárias do Sagrado Coração, to-
Mãe dos pobres, era protetora das mando como modelo São Francis-
instituições eclesiásticas e religiosas. co Xavier. Como este, desejava ser
Boa e humilde para os bons, era se- missionária na China, mas, ao sa-
vera em castigar os maus e os ím- ber que milhares de imigrantes ita-
pios. Humilde na prosperidade, era lianos nos Estados Unidos esta-
paciente e conformada na adversi- vam privados de assistência espiri-
dade. Sóbria e modesta no comer e São João Evangelista martirizado
tual, acorreu em auxílio deles (séc. no caldeirão de azeite fervente
vestir, constante na prática dos exer- XIX).
cícios de piedade, penitência e cari-
28. Santos Inocentes, mártires,
dade, era o modelo de uma perfeita 23. São João Câncio, presbíte- vítimas da perseguição de Hero-
cristã. (...) Honra, magnificência e ro. Polônia (1390-1473). des.
glória não conseguiram perturbar-
lhe a paz da alma, pois em tudo se 24. Santas Adela e Irmina, aba- 29. São Tomás Becket, bispo e
baseava sobre o fundamento de to- dessas (séc. VII ). mártir. Inglaterra, séc. XII.
da santidade: a humildade. Firme
na fé, era imperturbável sua espe- 25. NATAL de Nosso Senhor Je- 30. Santa Anísia, virgem e már-
rança”. sus Cristo. tir (séc. III).

17. São Lázaro. Irmão de Marta 26. Santo Estêvão, diácono e 31. São Silvestre I, papa (séc.
e Maria. Amigo íntimo de Jesus, protomártir (séc. I). IV).
UMA
“NETA DE DEUS”

Victor Hugo Toniolo

A o criar o Universo,
Deus quis dar ao ho-
mem a faculdade de
completar muitos as-
pectos de sua obra di-
vina. Criou Ele um mundo de seres que,
para alcançar a plenitude de sua beleza,
deveriam ser manipulados pela arte hu-
mana.
É isso o que se dá com as pedras pre-
ciosas, por exemplo. Em seu estado na-
tural, onde estão como Deus as criou,
não apresentam, nem de longe, a beleza
que têm quando lapidadas e polidas. En-
tão, sim, dão de si tudo quanto podem
dar.
Segundo a expressão de Dante, todas
essas criaturas que o homem aperfeiçoa
podem ser chamadas “netas de Deus”,
Fotos: Nivaldo Bueno / Ricardo C. Branco
pois constituem uma como que segun-
da geração, nascida da matéria que
saiu diretamente das mãos de
Deus.
Uma esplêndida obra de arte, “ne-
ta portuguesa de Deus”, é a Torre de
Belém.
* * *
Proporções equilibradas, harmonia,
beleza de concepção. Predicados
que fazem da Torre de Belém o so-
nho de qualquer arquiteto.
Muitas vezes, ao contemplá-la, so-
mos levados a esquecer que se trata
de uma fortaleza, pois a leveza de seus
ângulos e o rendilhado de seus deta-
lhes, dir-se-ia serem mais próprios a dade. Ela parece atrair aqueles que a pedras. Esse efeito irreal dá à Torre
um palácio. contemplam, sem excluir ninguém, e algo de conto de fadas.
Forte e recolhida, a Torre conside- os convida a admirar sua beleza. A Torre de Belém parece elevar a
ra com natural superioridade tudo Há também na Torre um curioso Deus uma prece, na qual agradece o
quanto está a seus pés, sumamente efeito cromático: o branco das pedras passado e pede pelo futuro. Pede lu-
cônscia de sua própria dignidade. Po- com que foi construída é de uma tal zes para o porvir de seus filhos lusi-
rém, como boa lusitana, não lhe pode- alvura que a faz parecer feita de nu- tanos e também — por que não? —
riam faltar a doçura, o mimo e a bon- vens ou de flocos de neve, e não de de seus “netos” brasileiros. !
Timothy Ring

S egundo afirma a Escritura, o Menino Jesus “crescia em sabedoria, idade e graça diante
de Deus e dos homens” (Lc 2,52). Quis Ele que, no decorrer dos séculos, o mesmo ocorresse
com sua obra, a Igreja Católica Apostólica Romana.
Neste Natal de 2002, ao celebrarem com toda a cristandade o nascimento de Jesus, os Arau-
tos do Evangelho põem-se de joelhos ante o presépio para agradecer o privilégio de pertencerem à
Santa Igreja, assim como todas as graças de santificação, expansão e realizações obtidas, no ano
que se finda, pela bondosa intercessão da Santíssima Virgem.

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