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Número 11 - Novembro 2002

Mistérios
Luminosos
O reinado de Jesus
Cristo se afir-
ma neste mun-
do através da
verdade nos cora-
ções humanos. Por es-
te reino, Ele anunciou
onde Deus “enxugará toda lá-
grima” (Ap 7, 16), porque
será “tudo em todos”
(1Cor 15, 28).
Unidos a Maria
Santíssima, elevemos
ao Coração de seu Di-
o Evangelho e operou vino Filho esta súplica:
grandes milagres. Por este “Coração de Jesus, Rei e
reino imolou a sua vida na centro de todos os corações,
Cruz e o confirmou com sua tende piedade de nós.”
Ressurreição. Reunidos n’Ele,
por meio da verdade, aproxima- João Paulo II,
mo-nos do Reino (celestial) Ângelus de 25/8/1985

Imagem de Cristo Rei


(Igreja do Sagrado
Coração de Jesus,
Valladolid-Espanha
Sergio Hollmann
Revista mensal dos

ARAUTOS DO
EVANGELHO
Associação privada internacional de
fiéis de direito pontifício
Ano I, nº 11, Novembro 2002

SumáriO
Diretor Responsável:
André Ribeiro Dantas

Conselho de Redação:
Guy Gabriel de Ridder, Humberto
Luís Goedert, Juliane Vasconcelos
A. Campos, Luis Alberto Blanco
Cortés, Mariana Morazzani Arráiz

Publicada por:
Associação Arautos do Evangelho
do Brasil - CNPJ: 03.988.329/0001-09

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Gonzalo Raymundo

Montagem:
Equipe de artes gráficas dos
Arautos do Evangelho

Impressão e acabamento:
Takano Editora Gráfica Ltda.
Os Arautos do Evangelho participam da procissão em honra a
Av. Dr. Silva Melo, 45 - 04675-010 - SP
Nossa Senhora dos Remédios, em Lamego, Portugal (p. 29)
Os artigos desta revista poderão ser reproduzidos,
desde que se indique a fonte e se envie cópia à
Redação. O conteúdo das matérias assinadas Escrevem os leitores ........................................................................................................ 4
é da responsabilidade dos respectivos autores.
Um facho de luz cintila no horizonte sombrio (Editorial) .............................. 5
Assinatura Anual:
O prêmio e o castigo ........................................................................................................ 6
Comum .............. R$ 49,00
Colaborador ...... R$ 72,00 Amor e confiança na Mãe de Deus ............................................................................ 12
Benfeitor ............ R$ 99,00
Adoração a Deus: o sacrifício ..................................................................................... 16
Patrocinador ...... R$ 150,00
Exemplar avulso R$ 4,90 Uma heroína adolescente ............................................................................................. 18
Mensagem da morte... para que tenhas vida ........................................................... 21
Uma luz de esperança que bate às portas ............................................................... 22
Na capa, Arautos no Mundo ........................................................................................................ 26
imagem de
Nossa Senhora Ecos do amor a Deus ...................................................................................................... 34
do Rosário, Através da Eucaristia, a presença de Nosso Senhor entre os homens ............... 37
no mosteiro Um passado que encanta e atrai rumo ao futuro ................................................... 38
de Santo
Bolo de queijo ................................................................................................................. 41
Domingo
de Guzmán O irmão chaveiro ........................................................................................................... 42
(Madri) Aconteceu na Igreja e no mundo ................................................................................. 44
(foto: S. Hollmann) Os santos de cada dia .................................................................................................. 46
Santiago de Compostela ............................................................................................... 49
ESCREVEM OS LEITORES

Leitura que fortalece Material para pregação Qual é seu telefone? Quero levar
meu filho para ver vocês, certo?
A todos os componentes da re- Com muita alegria parabenizo
Que a Mãe do Céu lhes pague por
vista ARAUTOS DO EVANGE- todos vocês por esta excelente ini-
tudo.
LHO, meu muito obrigada! A re- ciativa. Esta revista é um grande
Conceição F. de Souza (Goiâ-
vista nº 9 é linda, e como sempre meio de evangelização, e nós que
nia, GO)
me fortaleço ao lê-la. Me emo- trabalhamos com rádio (Rádio
ciono, me entusiasmo, e fico len- São José FM) já usamos de alguns
do-a direto, me certificando do artigos para evangelizar. É um
Minha residência está
grandioso poder de Deus. Tenho material muito bom para pre- mais abençoada
sempre a agradecer a Nossa Se- gação. Perdi alguns números e Fiquei muito feliz com a sur-
nhora de Fátima. Recebi várias gostaria de os obter (nºs 1, 2, 3 e presa, em minha residência, no
graças que lhe pedi em Oração. 5) para ter a coleção completa. dia 28/09/2002, quando recebi a
Obrigada Santa Mãe. Despeço- Fiquem na paz, estou orando por visita dos Arautos, com a imagem
me saudando a Virgem Maria em vocês, para que esta revista cresça de Nossa Senhora de Fatima. Sur-
nome do seu Divino Filho Ama- cada vez mais na graça de Deus e preso ficou igualmente o grupo
do, Jesus, da Virgem Maria. Amém! quando soube, na entrada, que eu
Cecília P. Santos (S. Paulo, SP) Taís de M. R. Alves (S. José do pertenço à Associação Cultural
Rio Preto, SP) Nossa Senhora de Fátima. Tenho
Dar a César, ou dar a certeza de que o destino, que Ela
Deus? Feliz transformação rege, fez assim a minha alegria.
Agora sinto que minha residência
Venho parabenizá-los pela qua- Queria partilhar com vocês mi-
se encontra muito mais abençoa-
lidade e diversidade de matérias nha felicidade com a transfor-
da. Obrigada.
publicadas todo mês. Considero mação do meu filho de 16 anos,
Sueli Aparecida Cerqueira
um tesouro, e aqui em casa é um por causa da ARAUTOS DO
(Taubaté, SP)
dos poucos assuntos que conse- EVANGELHO. No começo do
guem unanimidade... E os “eleito- mês ele nem chega da escola e já
res” são muitos, pois temos 5 fi- pergunta se o carteiro veio. Quan- Histórias encantadoras
lhos. O único problema que con- do vê a revista, logo a pega, até Solicito a gentileza de enviar-
tinua difícil de resolver é quem antes de mim. Fico toda feliz re- me ARAUTOS DO EVANGE-
vai ler primeiro. Sempre conver- zando por ele e esperando a mi- LHO nº 1 janeiro/02 e nº 3 mar-
samos sobre algum artigo, princi- nha vez. Devido aos maus cole- ço/02, que até a presente data não
palmente com as matérias assi- gas, ele estava se afastando de recebi. Levando-se em considera-
nadas por João Scognamiglio Clá mim, com muita dificuldade no ção a importância dessa revista,
Dias. Até agora, o artigo “Dar a estudo e começando a ficar en- gostaria de formar a coleção com-
César, ou dar a Deus?” foi o que volvido com viciados. Foi muito pleta, visto que em cada uma de-
causou aqui, no nosso senado fa- sofrimento, e só pela força da las encontro fatos desconhecidos
miliar, os maiores debates. Mas Virgem Maria suportei. Foi assim por mim, por exemplo a do “San-
no fim o resultado é sempre o até o dia bendito no qual ele viu a to Cinto de Nossa Senhora”, e
mesmo: sentimos que aprende- revista, pegou, começou a ler e histórias encantadoras como:
mos algo novo, aprofundamos não parou mais. Agora se interes- “Uma estrela brasileira no céu da
nossa fé, e nossa família fica mais sa pela religião, e está indo do- Santa Igreja”, “Orações de uma
unida. Meu marido também é ad- mingo comigo à igreja. Li na últi- mãe”, “Jesus, Maria e a pureza do
mirador de vocês. ma edição que vocês estão em coração” e “A Chave de Ouro”.
Graça V. Scomparin (Uberlân- Goiânia, e uma luz acendeu para Maria Alice B. C. F. da Costa
dia, MG) mim. Só pode ser coisa de Deus! (João Pessoa, PB)

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Editorial

S ubmersos numa crise familiar, moral e de outras índo-


les, que vai assolando o mundo, vemos cintilar de repen-
te no horizonte um radioso clarão. Brilha ante nosso olhar
uma mensagem: rezem o Rosário e tenham confiança!
Por meio dessa oração, todos terão forças para se conver-
ter, aproximando-se da Mãe de Deus e, por meio d’Ela, de Nosso
Senhor Jesus Cristo. No Rosário, a humanidade inteira encontra-
rá consolo, alívio e fortaleza!
Assim poderia ser resumida a mensagem daquele 16 de outu-
bro de 2002, fixado para sempre nos céus da História. Nessa data
— na qual festejava o início do vigésimo quinto ano de seu Pon-
tificado — quis o Papa João Paulo II apontar à humanidade a so-
lução infalível para o caos e o alívio seguro para os sofrimentos de
hoje. Durante a audiência matutina, com palavras emocionadas
proclamou o ano que vai daquela data até 16 de outubro de 2003
como o “Ano do Rosário”, e presenteou os fiéis com a Carta Apos-
tólica “Rosarium Virginis Mariae” (O Rosário da Virgem Maria),
na qual louva e incentiva essa prática de piedade.

UM FACHO * * *
Como que a projetar um facho de luz sobre o obscurecido mun-
do contemporâneo, o Papa acrescentou mais cinco mistérios ao Ro-
DE LUZ sário, dando-lhes o nome de “luminosos”, destinados a abarcar os
episódios da vida pública de Jesus.
Já São Luís Grignion de Montfort, o grande doutor marial do
CINTILA NO século XVII, via a necessidade de contemplá-los no Rosário. Por
isso, no seu famoso escrito “Rosário Meditado”, sugeria que eles
fossem considerados no último dos Mistérios Gozosos. Esse exem-
HORIZONTE plo reforça ainda mais o caráter sapiencial da iniciativa do Santo
Padre, ao colocar explícito aquilo que, no Rosário, encontrava-se
subentendido. Com isso ele nos ajuda a mais nos unirmos a Jesus,
SOMBRIO por meio de Maria.
No tocante aos Arautos do Evangelho, o ato do Papa reveste-se
de extrema importância. Com efeito, a recitação do Rosário é, pa-
ra eles, uma das principais devoções, não apenas como grande au-
xílio na espiritualidade pessoal, mas também como meio podero-
so de multiplicar suas atividades de evangelização.
Razões a mais para, aqui, manifestando seu regozijo por esse
inestimável dom, exprimir seu profundo agradecimento ao Pai de
todos os cristãos.

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COMENTÁRIO AO EVANGELHO DO 34º DOMINGO DO TEMPO COMUM

O PRÊMIO E O CASTIGO

João Scognamiglio Clá Dias


N osso Senhor descreve os últimos
momentos da história do mundo,
quando estaremos todos reuni-
Presidente Geral
dos Arautos do Evangelho dos para o Juízo Final

Q
“ uando o Filho do Homem
voltar na sua glória e to-
dos os anjos com ele, sen-
tar-se-á no seu trono glorioso. To-
das as nações se reunirão diante
dele e ele separará uns dos outros,
como o pastor separa as ovelhas
dos cabritos. Colocará as ovelhas
à sua direita e os cabritos à sua
esquerda. Então o Rei dirá aos
que estão à direita: — Vinde,
benditos de meu Pai, tomai posse
do Reino que vos está preparado
desde a criação do mundo (...).
Voltar-se-á em seguida para os da
sua esquerda e lhes dirá: — Reti-
rai-vos de mim, malditos! Ide
para o fogo eterno destinado ao
demônio e aos seus anjos. (...) E
estes irão para o castigo eterno, e
os justos, para a vida eterna”
(Mt 25,31-46).

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P or razão de brevida-
de, focalizaremos ape-
nas os trechos acima,
do Evangelho do 34º do-
mingo do tempo comum.
Nas leituras dos dias anteriores,
Jesus insiste na necessidade de estar-
mos preparados para o momento de
dos talentos, que vem logo a seguir.
Ambas ilustram o discurso escatoló-
gico iniciado no capítulo 24 do mes-
mo evangelista, quando nosso Reden-
tor adverte para os acontecimentos
que marcarão o fim do mundo: “Co-
mo o relâmpago parte do oriente e ilu-
mina até o ocidente, assim será a volta
Assim Nosso Senhor inicia a des-
crição dos instantes finais dos ho-
mens nesta terra. Meditemos sobre
isso, seguindo o categórico conselho
do Eclesiástico: “Em todas as tuas
obras, medita nos teus novíssimos e
não pecarás eternamente” (7,40). “No-
víssimo” é um termo vindo do latim
comparecer ante o tribunal divino. do Filho do Homem...”. novus, e quer dizer também “último”.
Nesse sentido é a parábola das vir- Era natural que, na seqüência des- É com esse significado que a Escritu-
gens tolas e das prudentes, com a qual ses ensinamentos, Ele passasse à des- ra o utiliza, para indicar os últimos
se inicia o capítulo 25 de São Ma- crição do último ato da história da hu- acontecimentos de nossa vida: mor-
teus. O mesmo se diga da parábola manidade: o Juízo Final. te, juízo, Céu ou Inferno.
De início, reparemos na linguagem
A segunda vinda de Jesus empregada agora pelo Divino Mes-
“Quando o Filho do Homem voltar tre. Não se exprime mais por compa-
na sua glória e todos os anjos com ele, ração nem metáfora (“O reino dos
sentar-se-á no seu trono glorioso. To- céus é semelhante..”), mas fala direta-
das as nações se reunirão diante mente: “Quando o Filho do Homem
d’Ele...”. voltar na sua glória...”.
Não nos deixa dúvida quanto à
realização do Juízo Universal, verda-
de, aliás, anunciada outras vezes por
Ele mesmo: “Ai de ti, Corozaim! Ai de
ti, Betsaida! (...) No dia do juízo, ha-
verá menos rigor para Tiro e para Si-

“O Juízo Final”, por Fra Angélico

Fotos: Photo Scala, Firenze

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dônia que para vós!” (Mt 11,21-22). co-juízes, “varões perfeitos”, julgarão
“No dia do juízo, os ninivitas se levan- por comparação com si mesmos, por-
tarão contra esta raça e a condenarão, Como atestam que “trazem gravados em si os decre-
porque fizeram penitência à voz de Jo- tos da justiça divina” (Suplem. 89,1).
nas. Ora, aqui está quem é mais do que diversas passagens
Jonas” (Mt 12,41). do Evangelho, Separação dos julgados: o
fim dos relativismos
O tribunal Nosso Senhor não
Voltemos às palavras do Senhor no
“Todas as nações se reunirão dian- deixa dúvida quanto à Evangelho:
te dele”, diz o Senhor. Quer dizer, ne- “... e ele separará uns dos outros,
nhum homem, por mais poderoso que
realização do Juízo como o pastor separa as ovelhas dos
tiver sido, poderá subtrair-se a essa Universal, do qual cabritos. Colocará as ovelhas à sua di-
convocação. Não haverá espaço para reita e os cabritos à sua esquerda”.
exceções, tergiversações, adiamentos.
nenhum homem Na vida nesta terra, a alma huma-
A ordem é peremptória. estará isento. na, por uma espécie de instinto espi-
Também os anjos deverão compa- ritual, procura incessantemente a ver-
recer, afirma Jesus: “...e todos os an- dade, o bem e o belo. Mesmo quando
jos com ele”. Ora, se os homens é que nos abismos tenebrosos do inferno on- comete pecado, esses instintos espi-
serão julgados, qual a razão dessa pre- de os reserva para o julgamento” (2 Pe rituais continuam a atuar. Além dis-
sença angélica? 2,4). Os anjos de Deus terão um prê- so, todo homem tem como que estam-
Segundo explica a Suma Teológi- mio, que será a grande alegria em vis- pados na alma os Dez Mandamentos.
ca, o Juízo Final “relaciona-se de al- ta da salvação de seus protegidos, en- Por tudo isso, ninguém consegue
gum modo com os anjos, na medida quanto os demônios terão um acrés- praticar o mal pelo mal, professar o
em que eles interferiram nos atos dos cimo de tormento, ao “multiplicar-se erro pelo erro, admirar o horrendo
homens”. Assim, o principal papel das a ruína dos maus que por eles foram pelo horrendo.
criaturas angélicas será o de servir de induzidos ao pecado” (Suma, Suplem. Assim, se os pensamentos, desejos
testemunhas. 89,8). e atos de um indivíduo começam a fu-
Mas, de alguma maneira, os anjos Ainda no concernente à constitui- gir habitualmente das leis de Deus,
serão também julgados: “Não sabeis ção do tribunal, certos homens terão sente ele a necessidade imperiosa de
que julgaremos os anjos?”, pergunta um papel importante: serão co-juízes os justificar, racionalizando-os, isto é,
São Paulo (1 Cor 6,3). E São Pedro com Nosso Senhor. Isto é afirmado, buscando para eles explicações racio-
afirma o mesmo a respeito dos de- entre outros, por São Paulo: “Não sa- nais, por mais absurdas que estas se-
mônios: “Pois se Deus não poupou os beis que os santos julgarão o mundo?” jam. E a saída consiste geralmente em
anjos que pecaram, mas os precipitou (1 Cor. 6,2). Segundo a Suma, esses procurar uma conciliação entre a ver-

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dade e o erro, o bem e o mal, o belo e cetuam-se aqueles que estiverem vi- dos, ocultos aos outros homens. Para
o horrendo. vos, quando chegar a hora do fim do a plena glorificação da justiça divina
Tudo aquilo que antes era para mundo), por que, então, passar de no- é indispensável que haja um outro juí-
ele de uma luminosidade cristalina, vo por um juízo? zo, público e universal, no qual fiquem
torna-se de uma indefinição nebulo- A Suma Teológica (Suppl 88, I ad patentes aos olhos de todos a inocên-
sa e pardacenta. E ele afunda no re- 1), bem como o Catecismo Romano, cia dos bons e a torpeza dos maus.
lativismo, funesto defeito moral, tão fazem compreender melhor a razão Nenhum ato de virtude e nenhu-
comum ao longo da história, causa de desses dois tribunais. De fato, no Juí- ma falta, por menores que sejam, se-
tantos erros doutrinários que afasta- zo particular, cada homem é julgado rão omitidos. Assegura São Paulo que
ram da Igreja Católica e do caminho privadamente por Deus, permane- em Deus “vivemos, e nos movemos, e
da virtude milhões e milhões de al- cendo o seu foro íntimo, bem como existimos” (At 17, 28), portanto nada
mas. todas as conseqüências de seus peca- pode escapar a seu divino conheci-
No Evangelho aqui comentado de- mento e a seu absoluto julgamento.
saparece todo capricho e devaneio a Assim, no dia do Juízo “Deus fará pres-
respeito da conciliação entre esses tar contas de tudo o que está oculto,
valores irreconciliáveis. “Non datur todo ato, seja ele bom ou mau” (Ecl
tertius” — não há uma terceira solu-
No seu tribunal, 12,14).
ção possível no dia do Juízo. Nosso o Divino Juiz A este propósito assevera São
destino será o Céu ou o Inferno. Se- Paulo: “Porque teremos de compare-
rá a mais fulgurante e universal ma-
separará os bons dos cer diante do tribunal de Cristo. Ali
nifestação do Absoluto na ordem da maus, sem apelação cada um receberá o que mereceu, con-
criação. forme o bem ou o mal que tiver feito
possível: nosso enquanto estava no corpo” (2 Cor
O julgamento destino será 5,10). “Por isso” — diz ainda São
Uma interrogação que pode ter Paulo — “não julgueis antes do tem-
passado pelo espírito de vários leito- o Céu ou o Inferno. po; esperai que venha o Senhor. Ele
res: a maior parte dos homens já terá porá às claras o que se acha escondi-
sido julgada logo após sua morte (ex- do nas trevas. Ele manifestará as in-

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tenções dos corações. Então por vossos dons, e não se per-
cada um receberá de Deus o ca na vaidade de seus próprios
louvor que merece” (1 Cor pensamentos.”
4,5). Dessa forma, todos os Assim, após a morte, livre
nossos pensamentos virão à de tudo aquilo que a cercava
tona. Igualmente não es- na terra, a alma tem uma avi-
tarão isentas de prêmio ou dez veemente de voar para
castigo nossas palavras: “Eu Deus, a fim de contemplá-lo
vos digo: no dia do juízo os ho- face a face, conforme escre-
mens prestarão contas de toda ve o mesmo santo: “Fizestes-
palavra vã que tiverem pro- nos, Senhor, para Vós, e o
ferido” (Mt 12,36). nosso coração está inquieto
O Redentor nos atribuirá até que repouse em Vós” (Con-
méritos ou penas por nossas fissões, 1.1).
obras: “Retribuirá a cada um Além da visão de Deus, os
segundo as suas obras” (Rm bem-aventurados receberão
2,6). Também pedirá contas no Céu outros prêmios, infi-
por nossas omissões: “Aquele nitamente menores, mas mes-
que souber fazer o bem, e não mo assim valiosíssimos e in-
o faz, peca” (Tg 4,17). comparáveis com as coisas
Nossa consciência, portan- da terra.
to, por um auxílio divino po- Em primeiro lugar, terão
deroso, far-nos-á relembrar corpos gloriosos. Lemos na
com claríssima memória to- primeira Epístola aos Corín-
das as nossas ações, boas e tios: “Semeado na corrupção,
más, e até as que deviam ter sido pra- um espelho, confusamente; mas então o corpo ressuscita incorruptível; se-
ticadas e não o foram por nossa cul- veremos face a face. Hoje conheço em meado no desprezo, ressuscita glorio-
pa. Da mesma forma, nos recordará parte; mas então conhecerei total- so; semeado na fraqueza, ressuscita vi-
nossos pensamentos e desejos. Não mente, como eu sou conhecido” (1 goroso; semeado corpo animal, ressus-
somente, pois, os pecados graves, mas Cor 13,12). cita corpo espiritual” (1 Cor 15,42-44).
também os leves e até as imperfeições. Por nossa natureza, temos uma Ademais terão a inimaginável ale-
Essa tão exata e minuciosa recorda- sede insaciável de felicidade, de um gria de poderem contemplar Nosso
ção já de si constituirá uma sentença amor sem medida que nenhuma cria- Senhor Jesus Cristo, Nossa Senhora
inapelável. tura conseguirá aplacar e só pode ser e os Santos, bem como as maravilhas
Nesta terra, quando queremos per- atendida pelo próprio Deus. O fa- do mundo já então renovado. Sim,
manecer no mau caminho, abafamos moso teólogo Réginald Garrigou- pois o universo passará por uma in-
nossa consciência. Porém, no dia do Lagrange, O.P., na obra La vie éter- teira renovação, pela qual conserva-
Juízo, ela se imporá às nossas velei- nelle et la profondeur de l’âme, expli- rá apenas aquilo de mais belo que
dades. ca: “A profundidade de nossa vontade contiver, e será livre de toda matéria
é tal, que só Deus pode preenchê-la e corruptível ou vulgar.
O prêmio dos bem- atraí-la irresistivelmente.” Como se não bastasse, os bem-
aventurados A este propósito, exclama Santo aventurados terão como morada o
“Então o Rei dirá aos que estão à Agostinho: “Infeliz quem conhece to- Céu empíreo, a respeito do qual es-
direita: — Vinde, benditos de meu Pai, das essas coisas [terrenas] e não Vos creve Garrigou-Lagrange:
tomai posse do Reino que vos está pre- conhece, ó meu Deus! Feliz quem Vos “O Céu é o lugar e, melhor ainda, o
parado desde a criação do mundo”. conhece, embora ignore todo o resto. estado da suprema bem-aventurança.
A essência do prêmio será a visão Quanto a quem Vos conhece e conhe- Se Deus não tivesse criado nenhum
beatífica, quer dizer, a contemplação ce também as coisas terrenas, não é corpo, mas apenas puros espíritos, o
de Deus face a face. Pela força da mais feliz por conhecê-las, mas é uni- Céu não seria um lugar, porém tão-só
graça nos será possível contemplar a camente o conhecimento que tem de o estado dos anjos que gozam da pos-
própria essência de Deus, em vez de Vós que o faz feliz, contanto que, conhe- se de Deus. Mas o Céu é também um
apenas discerni-Lo por seu reflexo cendo-Vos como Deus, glorifique-Vos lugar, no qual estão a Humanidade de
nas criaturas: “Hoje vemos como por também como Deus e Vos dê graças Jesus, a Bem-Aventurada Virgem Ma-

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ria, os anjos e as almas dos amor contrariado, despreza-
Santos. Embora não possamos do, transformado em fúria,
dizer com certeza onde se en- posto continuamente num ex-
contra esse lugar em relação ao tremo de ódio e desespero.
conjunto do Universo, a Reve- “Ide para o fogo eterno, que
lação não permite duvidar de foi preparado para o demônio
sua existência.” e para os seus anjos!”.
Grandes teólogos católi- Comparada com o horror
cos afirmam ser o Céu empí- da pena de dano, a pena dos
reo um lugar concreto, entre sentidos pode até parecer
eles o célebre jesuíta flamen- suave... Contudo, por si só é
go Cornélio a Lapide. Para tremenda.
este, o Céu é constituído de O agente desse castigo é o
materiais nobres, com “palá- fogo: “Qual de vós poderá
cios construídos de pérolas e habitar em um fogo devora-
pedras preciosas, como tam- dor?” — pergunta com pavor
bém prados, jardins e bos- o profeta Isaías (33,14). O
ques ameníssimos”. Levado Inferno é um abismo de fo-
uma vez até ali, São Paulo go, um “tanque ardente de
viu algo tão esplendoroso fogo e enxofre” (Ap 21,8). E
que não encontrou palavras não nos iludamos, pensan-
para o descrever, limitando- do que a expressão “fogo do
se a exclamar: “O que os Inferno” seja apenas uma
olhos não viram, os ouvidos metáfora, uma imagem para
não ouviram, e o coração do se referir ao remorso da cons-
homem não percebeu, isso Deus pre- a família, e está cercado de parentes, ciência.
parou para aqueles que o amam” (1 amigos, enfim, de tudo o que consti- É doutrina universalmente acei-
Cor 2,9). tui seu mundo. ta na Igreja, baseada na Sagrada
Mas quando a alma se separa do Escritura e no consenso dos Padres,
O castigo dos condenados corpo, todo esse ruído cessa de re- que se trata de um fogo real, eterno
pente, todos os interesses que a pren- e inextinguível, que tortura os espíri-
Lancemos, agora, nosso olhar pa- dem na terra perdem seu valor. Ela tos e queimará os corpos sem os des-
ra aquela porção da humanidade que se vê completamente só, e então aí... truir.
deverá ouvir a terrível sentença: “toma consciência de sua profundi-
“Afastai-vos de mim, malditos!”. dade sem medida, que só Deus, visto Uma resolução inadiável
O próprio Criador rejeita, para face a face, pode satisfazer; e vê tam-
sempre, seres que Ele criou. Que bém que esse vazio jamais será preen- Ao nos revelar esse mistério, Je-
castigo espantoso! Trata-se da cha- chido... [Se tiver morrido em peca- sus demonstra sua infinita bondade
mada pena de “dano”, palavra deri- do] ela se vê na noite do vazio, expul- para conosco. Seu objetivo, ao nos
vada do latim damnum, “perda”, pois sa, repudiada, maldita” (Garrigou- alertar de modo tão veemente, é evi-
esse tormento consiste na perda da Lagrange). tar para nós a desgraça eterna, e le-
posse de Deus, nosso fim último. Por ser infinitamente verdadeiro, var-nos para junto d’Ele, na felicida-
Enquanto está na vida presente, a bom e belo, Deus é infinitamente de do Paraíso.
alma não consegue avaliar a imensi- atraente. Os condenados, por sua na- Profundamente gratos, tomemos
dão dessa perda. Os bens sensíveis tureza, são atraídos por essa Beleza sem demora a firme resolução de Lhe
não param de lhe atrair a atenção; a suprema, única capaz de satisfazer rogar as graças necessárias para re-
todo momento recebe notícias do- sua necessidade insaciável de amor. primirmos nossas más paixões, evitar
mésticas ou profissionais, ou dos fa- Mas Deus os repele por completo, e o pecado e praticar a virtude. De tal
tos nacionais e internacionais; tem eles, em delírios de furor infernal, não modo que possamos ouvir de seus lá-
preocupações e necessidades de ali- fazem senão detestá-Lo, maldizê-Lo, bios adoráveis este celestial convite:
mentação, asseio, saúde, lazer; en- blasfemar contra Ele. É o tormento “Vinde, benditos de meu Pai, tomai
trega-se a prazeres; acaricia ambi- de um coração apaixonado e roído posse do Reino que vos está preparado
ções e projetos para a carreira e para de ódio. É o sofrimento atroz do desde a criação do mundo”. !

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A VOZ DO PAPA

Franco Origlia/Getty Images


Marcando o 24º ano de seu Pontificado, o Papa João Paulo II institui os Mistérios Luminosos do Santo Rosário

AUDIÊNCIA DE 16 DE OUTUBRO DE 2002

Amor e confiança na Mãe de Deus

A o anunciar a publicação da Carta Apostólica “Rosarium Virginis Mariae”, o Papa João Paulo II
proclamou também o Ano do Rosário, e, com fervor filial, confiou sua vida, seu pontificado, a
Santa Igreja e a humanidade inteira aos cuidados da Mãe de Deus.

D urante minha recente


viagem à Polônia, diri-
gi-me a Nossa Senhora
com as seguintes pala-
vras: “Mãe Santíssima, (...) obtende
também para mim as forças do corpo
e do espírito, a fim de que eu possa
cumprir até o fim a missão que Cristo
Ressurrecto me confiou. A Vós entrego
todos os frutos de minha vida e de
meu ministério; a Vós confio o destino
da Igreja; (...) em Vós confio e a Vós
declaro outra vez: Totus tuus, Maria!
Totus tuus! Amém.” Repito hoje es-
sas palavras, dando graças a Deus

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pelos vinte e quatro anos de meu ser- de toda a nossa existência. Por isso, o “Ano do Rosário”. Faço-o não so-
viço à Igreja na Sé de Pedro. Neste dirigindo à Igreja inteira, na Carta mente porque esse ano é o vigésimo
dia especial, confio novamente às Apostólica Novo millennio ineunte, a quinto do meu pontificado, mas tam-
mãos da Mãe de Deus a vida da Igre- exortação de Cristo, de “fazer-se ao bém porque ocorre o centésimo vi-
ja e a vida tão atormentada da hu- largo”, acrescentei que “acompanha- gésimo aniversário da Encíclica Su-
manidade. A Vós confio também o nos nesse caminho a Santíssima Vir- premi apostolatus officio, com a qual,
meu futuro. Deposito tudo em vos- gem, a quem (...), junto com tantos em 1 de setembro de 1883, meu ve-
sas mãos, a fim de que com amor de Bispos (...), confiei o terceiro milênio.” nerando predecessor, o Papa Leão
Mãe o apresenteis a vosso Filho, “pa- E convidando os fiéis a contemplar o XIII, deu início à publicação de uma
ra servirmos de louvor à sua glória” rosto de Cristo, desejei tanto que, série de documentos dedicados exa-
(Ef 1, 12). em tal contemplação, Maria, sua Mãe, tamente ao Rosário. Há ainda outra
O centro de nossa fé é Cristo, Re- fosse a mestra de todos. razão: na história dos Grandes Jubi-
dentor do homem. Maria não O ofus- Hoje desejo exprimir esse anelo leus manteve-se o bom costume de,
ca, nem ofusca sua obra salvífica. Le- com maior clareza por meio de dois após o Ano Jubilar dedicado a Cristo
vada para o céu em corpo e alma, a gestos simbólicos. Assinarei daqui a e à obra da Redenção, incluir-se ou-
Virgem, a primeira pessoa a se bene- pouco a Carta Apostólica Rosarium tro em honra a Maria, suplicando o
ficiar dos frutos da Paixão e da Res- Virginis Mariae. Além disso, junto com auxílio d’Ela para fazer frutificar as
surreição de seu Filho, é Aquela que esse documento, dedicado à oração graças recebidas.
de modo mais seguro nos conduz a do Rosário, proclamo o ano que vai Para o exigente, mas extraordina-
Cristo, o fim último de nosso agir e de outubro de 2002 a outubro de 2003 riamente rico, dever de contemplar

Mistérios da luz
A rdoroso cântico de exaltação do Rosário, a Carta Apostólica “Rosarium Virginis Mariae” (O
Rosário da Virgem Maria) acrescenta à famosa oração marial cinco novas dezenas, às quais o
Papa deu o sugestivo nome de mistérios luminosos. Ele assim os explica nesse documento:

T odo o mistério de Cristo é luz. Ele é a “luz


do mundo” (Jo 8, 12). Mas essa dimen-
são emerge particularmente nos anos da
vida pública, quando Ele anuncia o evangelho do
mencionam apenas alguma presença ocasional
d’Ela no tempo da pregação de Jesus (cf. Mc 3,
31-35; Jo 2, 12) e nada dizem de uma eventual
presença no Cenáculo durante a instituição da
Reino. Querendo indicar à comunidade cristã Eucaristia. Mas a função que desempenha em
cinco momentos significativos — mistérios lumi- Caná acompanha, de algum modo, todo o cami-
nosos — dessa fase da vida de Cristo, considero nho de Cristo. A revelação, que no Batismo do
que se podem justamente individuar: 1º) no seu Jordão é oferecida diretamente pelo Pai e confir-
Batismo no Jordão, 2º) na sua auto-revelação nas mada pelo Batista, está na sua boca em Caná, e
bodas de Caná, 3º) no seu anúncio do Reino de torna-se a grande advertência materna que Ela
Deus com o convite à conversão, 4º) na sua Trans- dirige à Igreja de todos os tempos: “Fazei o que Ele
figuração e, enfim, 5º) na instituição da Eucaris- vos disser” (Jo 2, 5). Advertência esta que intro-
tia, expressão sacramental do mistério pascal. (...) duz bem as palavras e os sinais de Cristo durante
Nesses mistérios, à exceção de Caná, a presença a vida pública, constituindo o fundo mariano de
de Maria fica em segundo plano. Os Evangelhos todos os “mistérios da luz”.

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o rosto de Cristo junto com Maria,
há, por acaso, melhor instrumento
que o Rosário? Devemos, porém, re-
Zelar pela boa
descobrir a profundidade mística en-
cerrada na simplicidade dessa oração,
cara à tradição popular. Essa oração
mariana, em sua estrutura, é com efei-
to sobretudo meditação dos mistérios
E m sucessivos encontros com
Bispos brasileiros, entre 31
de agosto e 28 de setembro, João
entrega incondicionada e plena. É neces-
sário lembrar-lhes que o celibato não é um
elemento extrínseco e inútil — uma su-
perestrutura — ao seu sacerdócio, mas
da vida e da obra de Cristo. Repe- Paulo II demonstrou um profundo uma conveniência íntima à participa-
tindo a invocação da “Ave-Maria”, conhecimento da situação da Igreja ção na dignidade de Cristo e no serviço
podemos aprofundar os eventos es- da nova humanidade que n’Ele e por Ele
em nosso País e colocou especial
senciais da missão do Filho de Deus tem origem, e que conduz à plenitude.
sobre a terra, que nos foram trans- ênfase na necessidade de uma
mitidos pelo Evangelho e pela Tra- cuidadosa seleção e de uma boa
Seleção de professores e
dição. Para que tal síntese do Evan- formação dos candidatos ao candidatos
gelho seja mais completa e ofereça Sacerdócio.
maior inspiração, na Carta Apostóli- É meu dever, portanto, encarecer uma
Essa preocupação do Santo renovada atenção na seleção das vocações
ca Rosarium Virginis Mariae propo-
nho que sejam acrescentados cinco Padre pode ser notada sobretudo para o Seminário, pondo todos os meios à
mistérios àqueles atualmente contem- no trecho central de seu discurso disposição para um adequado conheci-
plados no Rosário, e os chamei de aos Bispos da Regional Nordeste 2, mento dos candidatos, mormente sob o
“mistérios da luz”. Abarcam a vida ponto de vista moral e afetivo. Que ne-
em 5 de setembro, que transcreve-
pública do Salvador, do Batismo no nhum Bispo se sinta excluído desse dever
mos a seguir. de consciência, do qual deverá prestar
Jordão até o início da Paixão. Essa
sugestão tem a finalidade de ampliar contas diretamente a Deus; seria lamen-
o horizonte do Rosário, a fim de ser Situação das vocações tável que, por uma tolerância mal-enten-
possível, — para quem o recitar com sacerdotais dida, chegassem a ser ordenados jovens
devoção e não mecanicamente —, imaturos, ou com evidentes sinais de des-
Cabe, porém, fixar um olhar de fé so-
penetrar ainda mais a fundo no con- vios afetivos, que, como é tristemente co-
bre a situação das vocações sacerdotais.
teúdo da Boa Nova e conformar sem- nhecido, poderiam causar graves anoma-
Por um lado, nos encontramos perante a
pre mais sua própria existência à de lias nas consciências do povo fiel, com evi-
confortadora realidade do aumento, em
Cristo. dente dano para toda a Igreja.
número e qualidade, de vocações sacerdo-
Agradeço aos que estão aqui pre- A existência, em algumas escolas teo-
tais. (...)
sentes, e àqueles que nesse dia em lógicas ou até seminários, de professores
Mas, por outro lado, o impacto que o
particular uniram-se a mim espiri- pouco preparados, inclusive vivendo em
mundo moderno, com sua tendência secu-
tualmente. Obrigado pela estima, e desacordo com a Igreja, causa profunda
larista e hedonista, exerce sobre os cris-
especialmente pelo oferecimento do tristeza e preocupação. Confiamos na mi-
tãos, mormente sobre os jovens, deverá ser
constante apoio da oração. Confio sericórdia de Deus que dirige as consciên-
enfrentado com maior decisão para evo-
este documento sobre o Santo Ro- cias dos jovens generosos, mas não é possí-
car e cultivar nos vocacionados o profun-
sário aos Pastores e aos fiéis de todo vel concordar que os formandos sejam ex-
do amor a Cristo e ao seu Reino. É fun-
o mundo. O Ano do Santo Rosário, postos a desvios de formadores e professo-
damental uma sólida formação para a
que viveremos juntos, produzirá cer- res sem explícita comunhão eclesial, e sem
vida de oração e para a Liturgia pela
tamente benéficos frutos nos cora- um testemunho claro de busca da santi-
qual, desde já, a Igreja participa da Li-
ções de todos, renovará e intensifi- dade. (...)
turgia na Glória do Céu.
cará a ação da graça no Grande Ju- Neste sentido, a fidelidade à doutrina
bileu do Ano 2000 e será manancial sobre o celibato sacerdotal pelo Reino dos
Evitar uma visão mutilada
de paz para o mundo. Céus deve ser encarada “com grande es- da Igreja
Maria, Rainha do Santo Rosário, tima pela Igreja, especialmente na vida Nunca é demais repetir aqui que atra-
que vemos aqui exposta na bela ima- sacerdotal” (cf. Presbyterorum ordinis, vés da “teologia, o futuro sacerdote adere
gem venerada em Pompéia, conduza 16), quando se trata de discernir nos can- à palavra de Deus, cresce na vida espiri-
os filhos da Igreja à plenitude da didatos ao Sacerdócio a chamada a uma tual e dispõe-se a desempenhar o seu mi-
união com Cristo na sua glória! !

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formação nos seminários
nistério sacerdotal” (PDV, 51). Daí a im- Finalidade pastoral da fessores, fielmente obedientes à autorida-
portância de que haja um acompanha- de do Bispo, se dêem à consecução deste
formação teológica
mento atento e vigilante de toda a vida fim, numa ação diligente e concorde”
do seminarista, mas especialmente dos es- Isto não impede de confirmar a finali- (ib., 4). (...)
tudos teológicos, pois cabe ao Bispo zelar dade pastoral dos estudos teológicos, a fim A adequada formação nos seminários
pela boa doutrina proporcionada no Se- de que “todos os aspectos da formação es- será de grande benefício para a Igreja,
minário. (...) piritual, intelectual e disciplinar, sejam or- tanto para a ação evangelizadora, como
Os esforços, certamente legítimos e ne- denados de forma harmônica para este para uma autêntica promoção huma-
cessários, de unir a mensagem cristã à fim pastoral, e todos os Superiores e pro- na. !
mentalidade e à sensibilidade do homem
moderno, e de expor a verdade da fé com
instrumentos extraídos da filosofia moder-
na, das ciências positivas, ou partindo da
situação do homem e da sociedade con-
temporânea, podem, se não forem devida-
mente controlados, comprometer a pró-
pria natureza da teologia, e até mesmo
o conteúdo da fé. É necessário que a ra-
zão, movida pela Palavra de Deus e pelo
seu maior conhecimento, seja conduzida
a fim de evitar “percursos que poderiam
conduzi-la fora da Verdade revelada”

L’Osservatore Romano
(Carta enc. Fides et Ratio, 73).
Em algumas partes do mundo, e pare-
ce também no Brasil, em algumas Facul-
dades ou Institutos de Teologia foi defen-
dida uma visão mutilada da Igreja, se-
gundo determinadas ideologias reinan-
tes, esquecendo-se o essencial: que a Igre-
ja é participação no mistério de Cristo en-
carnado. Eis porque urge insistir na ne-
cessidade de a teologia conservar, na Igre-
ja, a própria identidade.
Assumiu, portanto, verdadeiro profe-
tismo o princípio alcançado na Assem-
bléia conciliar segundo o qual o mistério
de Cristo e a história da salvação devem
constituir o centro de convergência das
várias disciplinas teológicas (cf. Decr. Op-
tatam totius, 16). O tema da Igreja, co-
mo mistério divino, não é apenas o primei-
ro capítulo da “Lumen gentium”, mas é o
que permeia todo o documento. Cabe aos
Bispos uma atitude de vigilância, para
que as aulas de teologia não se reduzam
a uma visão humana da Igreja no meio
dos homens.
ADORAÇÃO A DEUS: O SACRIFÍCIO

A partir do momento em que Jesus


morreu crucificado, os holocaustos
oferecidos a Deus foram substituídos pela
Pedro Paulo de Figueiredo
renovação, na Missa, do sacrifício do Cal-
Conselheiro Geral e Presidente vário. É o que o autor mostra no primeiro
da Região São Bento
artigo de uma série sobre a Missa.

C Os primeiros sacrifícios
onforme estudamos na doutrina da Santa
Igreja, é nossa obrigação adorar a Deus, re-
Os primeiros sacrifícios de que temos notícia foram os
conhecer seu supremo domínio sobre nós
de Caim e Abel. Caim apresentava a Deus frutos da terra
e nossa absoluta dependência d’Ele. Tudo
e Abel, cordeiros do seu rebanho. Deus, para quem os co-
quanto temos: vida, saúde, sentimentos, ale-
rações e as intenções de todas as oferendas nunca ficam
grias, tudo depende do seu amor. Por isso,
ocultos, aceitou as de Abel e recusou as de Caim. Este, cer-
devemos todos os dias recitar um ato de adoração, como
tamente, escolhia com indiferença os dons a serem oferta-
por exemplo: “Meu Deus, eu sou Vosso! Vós sois meu
dos ao Senhor, e seu coração não era puro e justo. Abel,
Senhor e eu sou vosso servo!”
com grande retidão e sinceridade, ia ao seu rebanho e se-
lecionava os cordeiros mais formosos.
O sacrifício como ato de adoração Outro notável exemplo de sacrifício foi o oferecido por
A noção do sacrifício devido a Deus é inerente à na- Noé quando secaram-se as águas do Dilúvio. Tomando al-
tureza humana. Desde a mais remota antiguidade nota- gumas reses, imolou-as em ação de graças ao Senhor por
se isso na religiosidade de todos os povos, como demons- tê-lo salvo do tremendo castigo. Suas orações tocaram de
tram os historiadores. tal forma a Deus que Ele prometeu nunca mais enviar ou-
Já os primeiros homens tomavam os objetos de maior va- tro dilúvio. “Doravante não mais amaldiçoarei a Terra por
lor, mais belos e perfeitos, e ofereciam-nos ao Criador. Quei- causa do homem, apesar de os pensamentos de seu coração
mavam os frutos e imolavam os animais para significar que, serem maus desde a sua mocidade, e não mais destruirei
em presença de Deus, não eram nada, e que tudo vinha todos os seres vivos como agora fiz. Enquanto durar a Terra,
d’Ele. Cruzavam simbolicamente as mãos sobre esses sacri- não mais cessarão a sementeira e a colheita, o frio e o calor,
fícios, para significar que a oferta era uma com eles e os o verão e o inverno, o dia e a noite” (Gn 8,21-22). E aben-
representava no altar. Não ofereciam animais selvagens, fe- çoou Noé e sua família.
rozes ou repugnantes, mas sim, cordeiros mansos, pombas Em toda a história do Antigo Testamento, dia após dia,
imaculadas, frutas, ouro, prata, perfumes, incenso, pedras de manhã e à noite, em nome do povo e pelo povo, eram
preciosas, etc. O sangue era geralmente usado, e podemos apresentados ao Senhor três tipos de sacrifícios: os de ho-
ver nele uma prefigura do sangue depois derramado pelo locausto, de pura adoração a Deus, como o de Abel; os
Filho de Deus no sublime Sacrifício do Calvário. de ação de graças, como o que Noé ofereceu ao sair da

16
Photo Scala, Firenze
Exemplo notável de sacrifício na história do Antigo Testamento foi o oferecido por Noé,
ao sair da arca, em ação de graças a Deus por tê-lo salvo das águas do Dilúvio

arca; os de penitência, suplicando o perdão dos pecados Os dinamarqueses pagãos sacrificavam o rei por ocasião
e a cessação dos castigos. das calamidades públicas; na Suécia e na Noruega, os reis
sacrificavam os seus próprios filhos.
Sacrifícios pagãos Se passarmos à América, aí encontraremos o mesmo
Afastados do verdadeiro Deus, os homens caem nas pio- bárbaro costume, levado a proporções inimagináveis. Os
res aberrações e muitas vezes nas mais horríveis cruelda- sacerdotes astecas, no México, por exemplo, exigiam
des, inclusive quando se trata do culto religioso. 20.000 vítimas humanas por ano. Abriam-lhes o peito e
Os babilônios e os persas, por exemplo, ofereciam sacri- arrancavam o coração ainda palpitante, para o apertarem
fícios humanos aos seus deuses. Um dos seus costumes sobre os lábios do ídolo.
era tirar da prisão um condenado à morte, sentá-lo no tro- Mas, à medida que a civilização ocidental, nascida do
no do rei, vestir-lhe as insígnias reais, não lhe recusar na- cristianismo e impregnada dele, estendeu os seus benefí-
da, obedecer durante alguns dias a todas as suas vontades, cios pelo mundo bárbaro, os sacrifícios humanos e de ani-
em seguida despojá-lo de tudo, açoitá-lo com varas e o mais foram abolidos.
enforcar. Para nós, católicos, desde que Nosso Senhor morreu
Entre os fenícios, nos perigos iminentes, os príncipes na Cruz, os sacrifícios oferecidos a Deus foram substituí-
das nações ou das cidades imolavam o filho predileto pa- dos pela renovação do Sacrifício supremo do Calvário,
ra apaziguar a cólera dos deuses. Esse sacrifício monstru- na Santa Missa, o meio mais eficaz para obtermos de Deus
oso era feito ao deus Moloch, representado por uma es- todos os favores. !
tátua de bronze, com cabeça de touro. Aqueciam a está-
tua até torná-la incandescente e depois colocavam-lhe a
criança nos braços. Continua no próximo número.

17
UMA HEROÍNA ADOLESCENTE

Brasileira de 12 anos, mártir da castidade

Vasco de Sá Guimarães

C astidade Heróica: A Serva de Deus Albertina Berkenbrock,


livro de Aury Azélio Brunetti, vem conquistando notoriedade,
e já ganhou espaço nas páginas de “L’Osservatore Romano”.
O autor, diácono permanente da Arquidiocese de São Paulo,
retrata a breve existência da menina que vem sendo chamada de
“Santa Maria Goretti brasileira”.
Em 15 de junho de 1931, com apenas 12 anos de idade, Albertina
foi agarrada no meio de uma mata por um homem que julgava poder Arautos do Evangelho: Já antes de
abusar da debilidade dela. Não imaginava ele que a fé e o amor à vir- seu martírio, Albertina era uma
tude davam à jovenzinha uma força insuspeitada. Enfurecido pela menina virtuosa?
heróica resistência encontrada, desferiu nela um profundo golpe de fa- Diácono Aury Brunetti: Desde
ca na garganta, logo seguido de outros, até prostrá-la ao solo, ensan- muito criança. Sua família era piedo-
güentada e morta... mas virgem e pura! sa, e com firmes raízes católicas, que
vinham do tempo de seus antepassa-
A revista Arautos do Evangelho entrevistou o Diácono Aury, desejo-
dos alemães. E os pais de Albertina
sa de obter mais informações sobre essa jovem heroína brasileira. lhe deram uma boa formação moral
e espiritual. Ela sempre foi discreta,
gostava de ficar recolhida e era assí-
dua nas orações. Tomava muito a sé-
rio a vida de piedade. Era também
caridosa e de um trato afável. No
curso de catecismo foi excelente alu-
na. Seus caderninhos de anotações
demonstram como vivia e se movia
em função da fé. Aliás, o seu profes-
sor na escolinha testemunhou que
ela revelava uma situação religiosa e
moral superior às crianças da sua ida-
de. E sua virtude da fortaleza ficou
demonstrada no seu martírio.

AE: As circunstâncias de sua


Fotos: Sérgio Miyazaki

morte foram esclarecidas?


DAB: Sim, em todos os pormeno-
res, que foram narrados pelo próprio
assassino no depoimento do proces-
so criminal. Condenado a 30 anos de
O Diácono Aury Brunetti falando à "Arautos do Evangelho" sobre a jovem prisão, faleceu quando tinha cumpri-
heroína, chamada de Santa Maria Goretti brasileira do apenas 18.

18
Vilarejo de
São Luís, onde
Albertina
nasceu e
viveu seus
12 anos de
existência

Entrada do local
onde Albertina foi
assassinada,
distante do
vilarejo de São
Luís cerca de
500 metros
Na capa do livro do Diácono Brunetti, a
impressionante fisionomia da jovem que
defendeu sua pureza com a própria vida

AE: E a reação popular foi Aliás, a perseverança do povo nu- atual Bispo de Tubarão (diocese na
imediata, no sentido de reconhecer ma devoção, o constante afluxo de qual fica hoje a terra de Albertina),
o heroísmo dela? fiéis à sepultura de alguém que pra- retomou a causa da beatificação, e
ticou verdadeiramente a virtude, em- está trabalhando com o novo postu-
DAB: Desde o começo. Não de- bora não seja um dado decisivo, é lador, frei Paulo Lombardo, francis-
morou muito para se espalhar a fa- um dos indícios da santidade daque- cano residente em Roma. Parece que
ma de santidade de Albertina, a pe- la pessoa, que a Igreja leva em conta agora a causa está colocada entre as
quena mártir da castidade, e as pere- para beatificar e canonizar. Vox po- prioritárias. No momento essas cau-
grinações ao seu túmulo aumentaram puli, vox Dei, como se diz, que no fim sas prioritárias são três mil! número
a cada dia. se torna vox Ecclesiae, vox Dei. até consolador... Mas como Alberti-
na é proposta como mártir, seu pro-
AE: Há relatos de graças recebidas AE: Sobre a situação do cesso deve ser mais rápido, mais su-
por intercessão dela? processo de beatificação de mário, pois ela já deu a prova maior
Albertina, em Roma, como de heroicidade.
DAB: Muitos! Junto ao túmulo, os
ex-votos começam a surgir. A sobri-
está ele hoje?
AE: Relatando esse heroísmo de
nha dela, Norma Berkenbrock, está DAB: Até 1952, quando o processo uma pessoa tão jovem, seu livro é
escrevendo um livrinho para falar dis- dela começou em Florianópolis, as
um valioso apoio para a
so tudo. Na boca do povo, Albertina iniciativas haviam sido muito moro-
é chamada de “santa”. É muito im-
evangelização, no sentido de
sas. Em 1960, quando estive em Tu-
portante dar conhecimento dessas barão pela primeira vez, fiquei sa- resgatar a juventude para a Igreja.
graças, inclusive para acelerar o pro- bendo que a causa continuava demo- DAB: Com toda a certeza! O tema
cesso de beatificação. rada. Mas Dom Hilário Moser, o é atual e de uma importância funda-

19
jovem brasileira é colaborar com o
apelo do Papa em seu zelo de pastor,
conclamando a juventude à virtude
da castidade, hoje em dia tão ironi-
zada e combatida pela publicidade
escrita, visual, etc.
“Sempre digo que
este meu livro quer AE: O livro tem encontrado
ser um chamado, um alguma oposição?
convite à juventude DAB: No âmbito católico não re-
para a restauração, cebeu diretamente nenhuma contra-
a reabilitação da dição. Até aí, nada de novo, pois se
trata de um livro escrito dentro da
castidade”. Igreja, publicado por uma editora ca-
tólica, a Ave-Maria. Quanto aos
Abaixo: o túmulo agentes da publicidade, esses, natu-
da Serva de Deus ralmente, não estarão muito afina-
Albertina Berkenbrock dos conosco... Pode ser até que eles
zombem. Mas é curioso notar o se-
guinte: no fundo, eles têm recebido
esse livro com um certo respeito, até
com uma certa nostalgia. Na verda-
humanos. Nós, católicos, de, há um reconhecimento. O livro
adotamos a prática da casti- desperta manifestações de admira-
dade — cada qual segundo ção que nos deixam surpreendidos!
seu estado de vida — aci-
ma de tudo por motivo de AE: Uma mensagem para
fé, por amor a Deus, e terminarmos...
por causa daquela bem-aven-
DAB: Agradecendo essa oportu-
turança proclamada por Jesus: “Bem-
nidade de falar aos leitores da revis-
aventurados os puros de coração,
ta “Arautos do Evangelho” sobre um
porque eles verão a Deus”. Mas nós
tema tão bonito e importante como
não somos os únicos beneficiados.
mental. Na recente Jornada Mundial é o da castidade, gostaria de mani-
Dessa prática decorrem também bons
da Juventude, no Canadá, o próprio festar uma palavra de admiração pe-
frutos para a saúde da grande famí-
Papa insistiu com os jovens sobre a lo trabalho que vocês fazem. No fun-
lia que é a humanidade.
necessidade da pureza. Isto porque a do, é a graça de Deus que está traba-
esperança da sociedade e da Igreja lhando, permitindo a vocês reunirem
AE: Seu livro tem o sentido de
está nos jovens. O Papa quer uma ju- esses jovens todos, conseguir deles
ventude casta, uma juventude pura. uma conclamação? essa disciplina, essa vivência religio-
E a Igreja é a portadora da palavra DAB: Exatamente. Sempre digo sa. E digo isto como professor que
capaz de iluminar a mente dos jovens, que este meu livro quer ser um cha- fui. E gostaria de estimular esses jo-
persuadindo-os a respeito do paraíso mado, um convite à juventude para a vens a manterem uma vida de ora-
que é a castidade. O próprio Homem- restauração, para a reabilitação da ção fervorosa, a procurar incessante-
Deus foi quem apontou para os efei- castidade, cuja prática encontra hoje mente a santidade, e a se firmarem
tos benéficos da castidade: “Os pu- muita dificuldade, em razão da ba- nos três pilares da espiritualidade dos
ros verão a Deus”. nalização do sexo e de tudo quanto é Arautos do Evangelho, que, aliás,
Aliás, você já terá observado que, oferecido pela atual sociedade, mui- coincidem com aqueles três grandes
em vários países, muita gente con- to relativista e hedonista. Os meios amores de Santo Antônio Maria Cla-
ceituada está propondo o retorno à de comunicação deturpam, desquali- ret (sou ex-aluno claretiano, e conti-
prática da castidade, inclusive como ficam muito a grande e sublime te- nuo sendo claretiano de coração):
antídoto contra a epidemia da AIDS, mática do Amor, com “A” maiúsculo. amor à Eucaristia, a Maria e ao Pa-
que vem matando milhões de seres Acho que divulgar o martírio dessa pa. !

20
Mensagem da morte...para
que tenhas vida
vida, agiriam melhor, com sabedoria, pois teriam sempre
diante de si a perspectiva de poderem estar, dentro em
Edwaldo Marques pouco, diante do Supremo Juiz.
Deixa-me lembrar-te outra grande verdade: não há
prova maior de amor ao próximo — diz a Escritura (Jo
15,13) — do que dar a vida por ele. Deus ama com amor
infinito cada um dos homens, individualmente. Para de-

S
monstrar esse amor, a Segunda Pessoa da Santíssima Trin-
ei que o tema não agrada. Poucos, muito pou- dade quis encarnar-se e morrer por vós numa cruz. Dessa
cos gostam de pensar a meu respeito, porém forma, quis Ele também passar por mim, para manifestar
peço-te que me dês um momento de aten- de modo concreto quanto é imenso esse amor que Ele
ção. Não vás virando logo a página, e passan- dedica a cada um.
do para outro artigo desta bela revista. Dá- Maria Santíssima quis também imitar o seu Divino Fi-
me uma oportunidade! Deixa-me fazer a mi- lho. Confesso-te que, quando chegou a hora d’Ela, tremi.
nha defesa... Como poderia eu envolver com minha sombra Aquela que
Sou, como sabes, conseqüência do pecado de Adão. Foi é a mais excelsa, a mais nobre, a mais elevada de todas as
por causa da culpa original que entrei no mundo. Desde meras criaturas? Ela, imaculada e sem mancha alguma de
a morte de Abel, acompanho a vida dos homens, e todos pecado, não necessitava passar pela morte. Mas Ela o quis
deverão passar por mim. e obteve de Deus permissão para tal. Cá entre nós, faço-
Rogo-te que continues a ler o que escrevo, só um pou- te uma confidência: fui para Ela de uma suavidade sua-
co mais. Sei que tenho um aspecto terrível, mas, se come- víssima, a tal ponto que sua morte é chamada pela Santa
cei a existir como um castigo para a humanidade, posso Igreja de “dormição”. Ela mais adormeceu do que morreu.
também ser instrumento de santificação. Estás surpreso? Permite-me terminar estas linhas com um conselho:
Então pára e reflete: se to- pensa com freqüência em
dos os homens pensassem mim, mas sempre com mui-
com freqüência na minha ta calma, tranqüilidade e
presença ao lado de cada confiança em Deus. Se fi-
um, como a história da hu- zeres isso, quando chegar
manidade seria diferente! a tua hora, estarás prepara-
Realmente, se todos os clé- do para bem morrer, pro-
rigos, se todos os governan- tegido por Nosso Senhor,
tes, se todos os políticos, Maria e São José. Eu te
se todos os pais, se todos os entregarei ao teu Anjo da
filhos, se todos os mestres, Guarda, que te encaminha-
se todos os alunos, se todos rá a São Miguel Arcanjo, e
os patrões, se todos os em- este, por sua vez, entregar-
pregados, enfim, se todos te-á nas mãos da Mãe de
os homens, desde os mais Deus. E Ela mesma te apre-
altamente colocados até os sentará a Jesus, Nosso Se-
mais humildes, antes de fa- nhor. Por toda a eternida-
zerem qualquer coisa, con- de bendirás a hora em que
siderassem que aquele ato resolveste seguir meu con-
poderá ser o último da sua selho. !
“A morte do justo”

21
MISSÃO MARIANA:
UMA LUZ DE ESPERANÇA QUE
BATE ÀS PORTAS

outros, ou se trará algum novo dra- Nossa Senhora e Ela quer lhe fazer
ma. uma visita!
Com esse panorama ante os olhos Estupefacta, Dona Aparecida tem
Luiz Zaghi
e com o subconsciente posto na de- sua fisionomia iluminada e imediata-
fensiva, Dona Aparecida vai atender mente lágrimas brotam de seus olhos
à porta de sua residência, porque ou- escuros, que antes pareciam tão

O
viu tocar a campainha. Fisionomia apreensivos. Com a voz embargada
s meios de comuni- contraída, e acostumada a sempre di- pela emoção, abre o portão, dizendo:
cação nos trazem, a zer “hoje não...” ou “volte depois...”, — Mas claro! Entrem... meu Deus!
cada dia, ameaças de para quem quer que seja, pergunta Eu não imaginava receber esta visita
guerra, insegurança e “quem é?” com uma voz pouco amis- hoje... mas como estou precisando
violência, com ima- tosa. d’Ela!
gens ao vivo e em co- Com espanto, ela ouve a seguinte Esta sofrida senhora reza com fer-
res. Prognósticos sobre uma econo- resposta: vor, aproxima-se da imagem com o co-
mia espartana angustiam quem vive — É Nossa Senhora! Somos os ração cheio da esperança de que, do
de seu trabalho quotidiano para man- Arautos do Evangelho e estamos fa- Céu, Nossa Senhora esteja derraman-
ter a família. Desperta-se sem saber zendo uma Missão Mariana em seu do sobre ela e sua família as graças
se aquele será um dia como todos os bairro. Estamos com a imagem de de que tanto necessitam. Dona Apa-
ing
othy R Tim
Fotos:

22
recida, que andava muito afas- nhora está próxima. O tempo é
tada da Igreja Católica, enten- curto, pois são muitas residên-
de que este é um convite de cias a visitar.
Maria Santíssima para vol- Cantando hinos religiosos
tar a freqüentar os sacra- populares, surge então o gru-
mentos e faz o firme propó- po que conduz a Imagem
sito de atender a essa boa Peregrina ao interior do
Mãe. lar, onde ela é colocada em
local de honra. Reza-se uma
Como se faz uma breve oração. A emoção é
Missão Mariana uma nota comum em todas
as visitas. As almas estão se-
A casa de Dona Aparecida
dentas de uma palavra de es-
era uma no roteiro dos Arautos
perança, de um olhar de bonda-
do Evangelho. Muitas outras vão
de, de uma indicação de rumo em
se abrindo ao longo do caminho. É
suas vidas. E é a própria Virgem Ma-
uma nova Missão Mariana que está
ria quem as visita, por meio de sua
se realizando, percorrendo as ruas
bela imagem, trazendo graças sen-
da cidade. É um dos modos de aten- Por todo o Brasil e síveis, irradiando muita misericórdia
der ao apelo que o Papa João Paulo
II lhes fez na audiência de 28 de pelo mundo afora, e paz.
fevereiro de 2001: “Sede mensageiros os mais variados tipos de Emoção e conversão
do Evangelho, pela intercessão do Ima-
culado Coração de Maria.” residências e casas — Eu sonhei com a Senhora, eu
sonhei que a Senhora ia bater à mi-
Um carro de som percorre o bair- comerciais abrem suas nha porta, minha Mãe... e agora a
ro, anunciando a chegada da Ima-
gem Peregrina do Imaculado Cora- portas para a Senhora entra aqui! — reza emocio-
ção de Maria, que visitará os lares nada em voz alta dona Lúcia, ao re-
com uma mensagem de esperança e
Imagem do Imaculado ceber a visita da Imagem.
paz. Coração de Maria, que — Hoje eu posso dizer que tive
Revestidos de seu característico tudo na vida, porque Nossa Senhora
hábito, os Arautos realizam a missão
sorri com sua entrou na minha casa! — exclama,
divididos em grupos. O “desbrava- maternal mensagem de banhada em lágrimas, Dona Teresa.
dor” vai adiante, avisando de casa É bastante comum que até ho-
em casa que a imagem de Nossa Se-
paz e esperança. mens já calejados pela vida, há mui-

23
África do Sul:
Conduzida pelos
Arautos, a ima-
PERCORRENDO O
gem de Nossa
Senhora per-

A s Missões Marianas re-


corre casas de
comércio de
Johanesburg. alizadas pelos Arautos
do Evangelho, vêm alcançan-

Chile: Llay-llay
(na foto), San Felipe, Los Espanha: A região montanhosa das Astúrias,
Andes, Curimón e muitas outras cidades cheia de aldeias dedicadas à agricultura e criação de
foram visitadas pela Missão Mariana. gado, recebeu a imagem com grande alegria .

tos anos afastados da Igreja, cedam jovem que levara a imagem da Vir- método evangelizador desenvolvido
ao apelo à conversão, que Nossa Se- gem à sua casa. Tanta alegria tinha sua pelos Arautos do Evangelho. Mas de-
nhora lhes faz. razão: em dez anos, esta era a primei- poimentos mais abalizados não po-
Ao final de cada visita, a família é ra vez que ela ia à igreja! deríamos colher senão dos próprios
convidada para uma solene Missa na párocos.
paróquia, animada pelo coro dos Testemunhos dos sacerdotes “Eu estou muito contente com esta
Arautos, onde Nossa Senhora será Somente no Estado de São Paulo atuação de vocês. Já fiz os cálculos: se
coroada como Rainha daquele bair- já foram percorridos cerca de 50 mil eu quisesse visitar todas as casas da
ro e de todos os corações. E não é lares, através das Missões Marianas. paróquia, ainda que fossem duas por
pequeno o número de pessoas que Se fôssemos contar todas as visitas dia, levaria pelo menos dois anos para
voltam neste dia à comunidade, de- realizadas em outras regiões do Bra- completar o trabalho. E vocês em um
pois de longo afastamento. sil, bem como no Exterior, alcança- ou dois dias de Missão Mariana, fize-
— Está vendo, eu não disse que ríamos a casa de centenas de milha- ram esse trabalho maravilhoso”, decla-
viria?! — exclamou Dona Ângela ao res! rou o Pe. Francisco Freitas Lima, da
entrar na igreja paróquial para a Mis- Inúmeros são os testemunhos ou- Paróquia de Santa Luzia, no bairro
sa vespertina solene, dirigindo-se ao vidos cada dia acerca desse novo do Mandaqui, em São Paulo.

24
MUNDO INTEIRO

do sucesso em toda parte,


qualquer que seja o país ou
a área cultural. Romênia: A evan-
gelização do Leste
europeu é um dos
mais ardentes de-
sejos do Santo
Padre. Na foto,
percorrendo as
casas de Aiton,
acompanhados
pelo pároco.

Equador: Os Arautos do
Evangelho nunca se
esquecem dos mais
necessitados. Na
foto, vemo-los
Colômbia: Cooperadores dos conduzindo a
Arautos do Evangelho de Medellín levam imagem no po-
a imagem de Nossa Senhora voado de Du-
a conjuntos habitacionais. rán.

O Pe. Vicente Abreu, pároco da sica, seja pelo hábito que usam, ou por tempo inteiro em que sou pároco des-
Igreja de Santa Cândida, no bairro tudo o que transmitem de espirituali- ta Comunidade, nunca vi a capela tão
do Ipiranga, também em São Paulo, dade.” repleta de fiéis! Nem mesmo em dia
disse a respeito da Missão Mariana “Eu vejo a presença dos Arautos” de festa!”
realizada no dia da padroeira, 4 de — afirmou o Pe. Jorge Guimarães
setembro passado: “De fato, em re- de Oliveira, da Paróquia São Gon- Celestial evangelizadora
lação aos sete anos que estou aqui, foi çalo, da cidade de Campos (RJ) —
muito grande o número de pessoas que “como uma resposta de Deus ao tem- De fato, a grande evangelizadora
compareceram à Missa da padroeira. po em que vivemos, o novo milênio, da História da Igreja é Maria Santís-
Percebemos aqui pessoas que não vi- esta transição histórica, e uma respos- sima, que trouxe em seu seio o Evan-
nham à igreja, e que moram por per- ta que também faz a Igreja repensar gelho vivo, Jesus Cristo Nosso Senhor.
to; pessoas que conhecemos apenas sua própria caminhada”. E concluiu: E hoje ainda, como em todos os tem-
de vista estavam hoje conosco, parti- “Nossa Senhora obtém, através dos pos, é Ela que continua sua trajetó-
cipando atentamente da Missa, em vir- Arautos, coisas que, humanamente fa- ria de evangelização, batendo às por-
tude do trabalho de vocês. O povo gos- lando, não conseguimos. Posso dizer, tas e acendendo nos corações uma
tou da presença de vocês, seja pela mú- com toda a convicção, que durante o luz de esperança e de fé. !

25
A R A U TO S N

LANÇADA NO CHILE A REVISTA


“HERALDOS DEL EVANGELIO ”
Veio a lume o primeiro número da revista
“Heraldos del Evangelio”, editada no Chile pa-
ra difusão na Colômbia, Costa Rica, Equador,
México, Paraguai, Honduras, República Domi-
nicana, Bolivia, Guatemala, Peru e nas comuni-
dades de língua hispânica dos Estados Unidos.
Os Arautos do Evangelho da Colômbia promo-
veram uma solene sessão de lançamento no co-
légio São Viator, de Bogotá.

Bispos
do Eva
BOLÍVIA: ENCONTRO
DE BISPOS CASTRENSES
Entre os dias 23 e 27 de setembro, realizou-se

P
em Cochabamba (Bolívia), um encontro de Bis-
pos castrenses, com a participação de Bispos de ara grande alegria dos Arautos de todo o mun-
treze países da América e um representante da do, esta Associação Privada Internacional de
Santa Sé. A pedido do Bispo castrense da Bolívia, Fiéis de Direito Pontifício conta agora, em suas
Dom Gonzalo del Castillo, os Arautos do Evan- fileiras, com a participação de dois ilustres membros do
gelho ficaram encarregados da secretaria desse Episcopado colombiano.
evento, o que lhes deu oportunidade de manter Em solene cerimônia realizada no dia 13 de setembro
um filial convívio com esses altos prelados.
Na foto, os Arautos fazem guarda de honra
último, com a Catedral repleta de fiéis, Dom Orlando An-
à imagem de Nossa Senhora do Carmo que foi tonio Corrales García, Bispo de Palmira, e dois párocos
condecorada como “Oficial General do Exérci- dessa Diocese receberam a capa de Cooperador dos Arau-
to” boliviano durante uma Missa solene na tos do Evangelho (fotos à direita). Na homilia, Dom Or-
Catedral de Cochabamba. lando afirmou que é tarefa de todos, a começar pelos sacer-

26
NO MUNDO

ANIMANDO A LITURGIA EM
NOVA ORLEANS, EUA
A pedido do pároco, Pe. Stanley Klores, os
Arautos do Evangelho dão um toque de sole-
nidade à liturgia dominical da igreja de Saint
Patrick, uma das mais belas e importantes de
Nova Orleans.

Arautos
ngelho
dotes, pregar o Evangelho. Falou sobre o amor que os católi-
cos devem ter ao Santo Padre o Papa, a necessidade de
união com ele, e recomendou de modo insistente a devoção COSTA RICA: MÚSICA E TEATRO A SERVIÇO
a Nossa Senhora, à qual está consagrada sua Diocese. DA EVANGELIZAÇÃO
No dia seguinte, por ocasião de solene Celebração Eu- Dando continuidade à atuação que há tempo vêm
carística na paróquia de San Fernando Rey, recebeu realizando em várias paróquias, os Arautos costar-
também a capa de Cooperador Mons. José Soleibe Arbe- riquenses dedicam especial empenho na colabora-
laez, Bispo Auxiliar da Arquidiocese de Cali (fotos à es- ção com a liturgia dominical, em São José da Costa
Rica. Na foto, pode-se vê-los em ação numa Cele-
querda). Em sua prédica, realçou a necessidade de con-
bração eucarística na igreja de São Rafael de Heré-
versão, e de que todos sejam testemunhas vivas do Evan- dia.
gelho, como o são os Arautos.

27
BRASIL
CINQÜENTENÁRIO DO COLÉGIO
SANTA CRUZ

O Colégio Santa Cruz, um dos mais prestigiosos de


São Paulo, completou no mês de outubro meio sé-
culo de existência. Para comemorar a data, reuniram-
se professores, alunos, ex-alunos e familiares — cerca de três
mil pessoas — numa solene Eucaristia presidida por Dom
Cláudio Hummes e animada pelos Arautos do Evangelho.
O Cardeal salientou na homilia que “a educação cristã não
pode restringir-se a um ensino de doutrina. Muitas vezes somos
tentados em simplesmente ensinar, quando na verdade o pro-
cesso educativo é muito mais amplo. Se nós não conseguirmos
levar as pessoas a encontrar Jesus Cristo, a nossa doutrinação
não irá longe, porque, repito, a gente não morre por uma doutri-
na, a gente morre por uma pessoa com quem a gente se envolveu
e pela qual a gente faz qualquer coisa.”

RIO DE JANEIRO: VIZINHOS DA GOVERNADORA


Em solenidade no Salão Nobre do Palácio Guanabara, foi apre-
sentado à Governadora Benedita da Silva o primeiro grupo de guias-
mirim de turismo.
Convidados para a cerimônia, os Arautos do Evangelho com-
pareceram e, no final, foram cumprimentar a Governadora. Como
sua nova sede está localizada muito próximo do Palácio, um deles lhe
disse: “A senhora sabe que somos vizinhos?” Ao que a Governadora
respondeu: “Então são vocês que ficam cantando aí!? Eu os escuto
sempre! Que venham nos visitar no Palácio”.

MISSA E PROCISSÃO
EM TAUBATÉ
A pedido de Dom Car-
mo João Rhoden, bispo de
Taubaté (SP), e da Prefei-
tura Municipal, os Arau-
tos do Evangelho partici-
param na Eucaristia e pro-
cissão em honra de São
Francisco das Chagas, pa-
droeiro da cidade.

28
1

PORTUGAL
GRANDE ROMARIA DE LAMEGO

R
ealizou-se nos dias 6 a 8 de setembro a 2
Grande Romaria de Lamego em honra de
Nossa Senhora dos Remédios, a festa reli-
giosa que reúne maior quantidade de fiéis em Por-
tugal.
Como nos anos anteriores, contou ela com ativa
participação dos Arautos do Evangelho, os quais
animaram com seus cânticos a Missa do dia 8, na
Catedral (foto 1), formaram a escolta de honra da
imagem na tradicional “Procissão do Triunfo”(foto 2)
e encerraram o dia com uma apresentação musical,
realizada na Catedral.
Por intermédio de seu secretário, Dom Jacinto,
Bispo de Lamego, agradeceu vivamente a colabora-
ção dos Arautos do Evangelho e manifestou o de-
sejo de que eles continuem a atuar em sua Diocese.

DA ALEMANHA, RUMO À ESLOVÊNIA E À CROÁCIA


1
3

P artindo de Frankfurt, após


percorrer Stuttgart e diversas
outras cidades da Floresta
Negra alemã, chegou à Eslovênia um
grupo de quatro Arautos do Evange-
lho. Em Ljubljiana, capital desse país,
foram recebidos pelo Vigário Geral
da Diocese, Mons. Bozidar Meteljko
(foto 1). Iniciaram suas atividades
apostólicas levando a imagem do Ima-
2 culado Coração de Maria em pere-
grinação pelas residências da cidade,
e depois em diversos povoados ru-
rais (fotos 2 e 4). Em Dole pri Litiji,
encontraram-se com Dom Franc Ro-
de, Arcebispo de Ljubljiana (foto 3),
que os estimulou a se aplicarem com
afinco na evangelização, desejando-
lhes “um êxito total e decisivo” em
tudo o que fizerem.
4

29
ESPANHA
EM MADRI, CERIMÔNIA DE
RECEPÇÃO DE HÁBITOS

E m cerimônia realizada no
dia 11 de outubro na Igre-
ja de “San Ginés”, uma
das mais antigas de Madri, 24 jovens
Arautos do Evangelho da Espanha e
Portugal receberam o hábito das mãos
do Presidente Geral da Associação,
João S. Clá Dias.
A Missa foi presidida pelo Pe. Fe-
liciano Villa Ribera, assistente espi-
ritual dos Arautos do Evangelho em
Madri, tendo como concelebrantes o
Pe. Antonio Fajardo Ruiz, assistente
espiritual dos Arautos do Evangelho
em Guadix, e o Pe. Javier Barrero,
diretor de “Misión Marial”.
Associados, Cooperadores e ami-
gos dos Arautos do Evangelho, pro-
venientes de várias cidades da Es-
panha, como Sevilha, Saragoça, Bil-
bao e Valência, lotaram o templo
(fotos à esquerda).

LOUVOR A SANTA TERESINHA


De passagem por Madri, alguns componen-
tes do principal coro dos Arautos do Evangelho
juntaram-se a seus irmãos espanhóis para uma
Celebração Eucarística em louvor a Santa Te-
resinha, seguida de esplendorosa cerimônia de
adoração ao Santíssimo Sacramento, na igreja
matriz de São João de Ribeira. Por concessão
do Papa João Paulo II, os Arautos do Evange-
lho recebem indulgência plenária no dia da fes-
ta de Santa Terezinha, 1º de outubro.

30
“Confiamos
no triunfo da
Igreja!”
Palavras do Presidente Geral na
cerimônia de 11 de outubro, na ireja de
São Ginés, em Madri

P ela promessa de Nosso Senhor Jesus Cristo,


sabemos que a Igreja é imortal. Mas não
imaginemos essa imortalidade num sentido
humano. Quer dizer, não devemos pensar que seu itine-
rário neste mundo é parecido com o dos homens, que
mas de que ela não se torna enferma. Ela é feita para
crescer e chegar ao triunfo.
Hoje, pois, nesta terra de Espanha, nesta igreja tão
histórica de Madri, os Arautos do Evangelho têm a
alegria de receber em seus quadros 24 novos membros,
nascem, crescem, chegam à juventude, e encetam o ca- que assumem o compromisso de tender à perfeição, de per-
minho para a velhice, a senectude, e a morte. tencer à Santíssima Virgem, de entregar-se à vocação.
Não é assim no caso da Igreja! Para ela, a imortali- Nosso olhar se volta, neste momento, para Maria
dade não implica atingir uma tal velhice que chegue a Santíssima, medianeira de todas as graças; e, através
perder suas forças, e ainda assim, alquebrada, continue d’Ela, para Deus nosso Senhor; e, por fim, para o Papa.
a viver. Com os olhos postos neles, renovamos nosso ato de confi-
Quando Nosso Senhor disse a Pedro: “Tu és Pedro, e ança absoluta na imortalidade da Igreja. Ela há de
sobre esta pedra edificarei a minha Igreja, e as portas triunfar sobre o mal. Lembremos da exortação que
do inferno não prevalecerão contra ela”, não afirmava Nosso Senhor Jesus Cristo nos fez: “Confiança! confi-
apenas que a Igreja, seu Corpo Místico, seria imortal, ança! Eu venci o mundo!” (Jo 6,33).
mas também que sempre cresceria em santidade, gra- No momento em que uma grande ameaça se avolu-
ça, beleza e verdade. ma sobre a terra, temos aqui, nesta tarde de 11 de ou-
E hoje vemos aqui uma manifestação da imortali- tubro de 2002, uma prova sensível do triunfo próximo
dade e triunfo da Igreja. da Igreja. Firmamos nossa confiança de que um dia o
Havendo dado as costas a Deus e se armado para Reino de Cristo, por meio de Maria, será pleno, atenden-
proclamar que Ele não existe, nosso conturbado mundo do ao pedido que há dois milênios fazem todos os fiéis:
está mergulhado numa tremenda crise moral e amea- “venha a nós o vosso Reino, seja feita a vossa vontade
çado por uma terceira guerra mundial. Dir-se-ia que assim na terra como no céu”. Um dia, após havermos
a Igreja não tem mais condições de permanecer viva. atravessado essa crise, veremos a Igreja triunfante e
Entretanto, no meio dessa grave situação, 24 jovens mais bela do que foi em todas as épocas da História.
resolvem levar uma vida de seriedade, disciplina e Confiemos, portanto, nesse triunfo, pondo nossa es-
cumprimento de uma regra de costumes séria e intran- perança nessa juventude que abraça a via da santi-
sigente. E ficam emocionados ao receber um hábito dade. E nós mesmos rumemos nessa direção, como tanto
que, no meio da depravação de hoje, é pedra de escân- quer nosso Santo Padre. Na Carta Apostólica “Novo
dalo. Todos eles, um a um, pediram-me um conselho: millenio ineunte”, diz ele que todos fomos chamados
como fazer para caminhar firme rumo à santidade? para a santidade, e ela é possível mesmo neste mundo
Assim, no momento mesmo em que parece triunfar o atormentado no qual vivemos.
pecado, o apelo à santidade surge com vigorosa força! E Aqui podemos comprovar como o Papa tem razão!
— inspirado pelo Espírito Santo — colhe as almas des- Basta que sejam criadas condições para o florescimento
ses jovens e os empurra rumo à prática da virtude he- da santidade, e logo surgem jovens desejosos de trilhar
róica. Prova não apenas da imortalidade da Igreja, seus caminhos. !

31
Ao lado: o coro dos
Arautos do
Evangelho no altar
de Nossa Senhora
"Salus Populi
Romani", ao lado dos
celebrantes e dos
novos cooperadores
recebidos na
ocasião. Abaixo: eles
cantam junto às
relíquias da
Manjedoura do
Menino Jesus; e
durante a celebração
eucarística

CANTANDO NA EUROPA
Um grupo de cantores do coro principal dos Arautos
do Evangelho, conduzido pelo Presidente Geral da Asso-
ciação, João S. Clá Dias, realizou, no mês de outubro,
uma viagem de 14 dias pela Itália, Espanha e Portugal.

ROMA
No dia 10, na multissecular Basíli-
ca de Santa Maria Maior, eles se en-
carregaram dos cânticos de duas Eu-
caristias. Na primeira celebração, de
caráter solene, feita no altar de Nos-
sa Senhora “Salus Populi Romani”
(protetora de Roma), o Pe. Manuel
Cepeda — colaborador de vários di-
castérios romanos — e alguns leigos
foram recebidos na categoria de Co-
operadores dos Arautos do Evange-
lho, sendo revestidos da capa corres-
pondente.
Presidiu a Eucaristia Dom Víctor
Hugo Palma Paúl, bispo auxiliar de
Escuintla e Secretário da Conferên-
cia dos Bispos da Guatemala. Além
do Pe. Cepeda, concelebraram com

32
ele os Padres Giovanni D’Ercole, As- Clá Dias, referendado pelo Bispo
sistente Internacional dos AE; Ale- Diocesano de L’Aquila, Dom Giu-
jandro Gallardo, da Diocese de San seppe Molinari, na qual dizia:
Isidro, Buenos Aires; Gustavo Pala- “Tive a graça de receber, em minhas
cios, coadjutor da paróquia de San duas paróquias [São Felice D’Ocre e
Clemente, de Roma; e Amalio Valcár- São Giacomo], uma missão dos Arau-
cel, O.P., penitenciário de Santa Ma- tos do Evangelo que, durante alguns
ria Maior. Mons. Adriano Paccanelli, dias de agosto, propagou com exemplar
cerimoniário da Basílica, coordenou dedicação a devoção ao Coração Ima-
o rito solene. culado de Maria. Com imensa grati-
A segunda Missa foi presidida por dão a Deus Nosso Senhor, comprovei
Mons. Michal Jagosz, camerlengo da a eficiente evangelização realizada pe-
Basílica. los arautos, que tanto bem fez às nos-
O prior do colégio apostólico dos sas almas. Parabéns!
penitenciários de Santa Maria Maior, Tudo isso me leva a lhe pedir a cari-
Frei Rafaelle De Brabandere, O.P., dade de me aceitar como Cooperador
fez questão fotografar de vários ân- dos Arautos do Evangelho. Informo-
gulos e entrevistar os Arautos do Evan- lhe que já tive oportunidade de ler o
gelho, para uma matéria a ser publi- ‘Ordo de costumes’ dos Cooperadores
cada no jornal da Basílica. e posso, portanto, começar a pôr em
prática suas normas, segundo a ‘Fór- NA AUDIÊNCIA GERAL
Pedido de admissão do Pe. Cepeda mula de Compromisso’. COM O SANTO PADRE
À espera de sua gentil resposta, en-
No dia 9, os Arautos do Evan-
A fim de solicitar sua integração no vio-lhe calorosas saudações e minha
gelho compareceram à audiên-
quadro de Cooperadores dos Arau- bênção para o senhor, os Arautos e o
cia com o Papa João Paulo II.
tos do Evangelho, o Pe. Manuel Ce- destacado serviço à Igreja que realizam
Na foto acima, o grupo de can-
peda enviou uma carta ao Sr. João S. nos cinco continentes.”
tores atravessa o Pátio de São
Dâmaso, a caminho da Praça
de São Pedro.

gem foi transportada por anjos da Albânia


para a pequena e pitoresca cidade de Ge-
nazzano, onde lhe foi construído um es-
plêndido santuário que logo se tornou mui-
to popular, devido aos numerosos milagres
ali operados e às graças maravilhosas por
Ela concedidas aos seus devotos.

GENAZZANO
Em Genazzano (Itália), os Arautos do Evangelho
cumprem uma promessa diante do célebre afresco da
Mãe do Bom Conselho. De modo particular, recorrem
eles à Santíssima Virgem sob essa invoação, à qual têm
especial apreço. Há cinco séculos, essa miraculosa ima-

33
Imagem de
Santa Cecília
venerada na

ECOS DO
igreja de seu
nome, em
São Paulo

AMOR A DEUS

Fotos: Timothy Ring


Juliane Campos

D Uma alma contemplativa


ificilmente se encontra alguém insensível
à música. Exerce ela uma poderosa influên-
cia sobre nós, exprimindo muitas vezes o Desde muito menina, Cecília via as belezas do univer-
que nos vai na alma. Referindo-se ao po- so como símbolo da grandeza de Deus. Alma contempla-
der dessa arte tão antiga e sempre nova, tiva, vendo o nascer ou o pôr-do-sol, as estrelas ou mes-
o Papa João Paulo II chegou a afirmar: “A mo as variações das estações, mantinha o espírito voltado
música desempenha, entre as manifestações do espírito hu- para Deus e exclamava: “Oh! Quão grande e bom é o Se-
mano, uma função elevada, única e insubstituível. Quando nhor! Quero amá-Lo sempre. Quero amá-Lo, muito!...”
ela é realmente bela e inspirada, nos fala, inclusive mais que Pertencia a uma das mais nobres e ilustres famílias ro-
as demais artes, da bondade, da virtude, da paz, das coisas san- manas do século III, a “Gens Cecília”, cuja linhagem vinha
tas e divinas” (ao coro “Harmonici cantores”, 23/12/88). dos tempos da República. Apesar de serem desconheci-
Ao se falar em música, é justo reportar-se a Santa Cecí- dos os nomes de seus pais, julga-se terem sido cristãos,
lia, protetora dessa arte, cuja festa a Igreja celebra no pró- pois a menina foi entregue aos cuidados de uma aia cris-
ximo dia 22. Mártir dos primeiros tempos do cristianismo, tã, que conhecia bem as Escrituras. Cecília ouvia da boa
sua história nos chega com detalhes de difícil comprova- senhora a História Sagrada, contada com todos os encan-
ção, tornando complicado distinguir o que foi acrescentado tos que atraem as almas inocentes. Apreciava sobretudo
ao longo dos séculos, embora o relato de seu martírio cons- as narrações que tratavam da vinda do Salvador. Encan-
te já em documentos do século IV. Para nossa edificação, o tava-lhe saber que Jesus amava as criancinhas. Ao ouvir a
mais indicado é apresentar sua biografia tal como nos é descrição de sua Paixão, chorava de dor. Decidiu, então,
transmitida por uma tradição firmemente estabelecida. em sua inocência, dar-se inteiramente a Nosso Senhor,
Santa Cecília enfrentou os duros tempos de perseguição entregando-Lhe seu coração para sempre por meio do
aos cristãos, sempre tocando sua harpa ou cítara para acom- voto de virgindade.
panhar suas melodiosas canções. Era este seu modo de Seu amor a Jesus Sacramentado era tão grande que,
expressar aquele amor de Deus que abrasava sua alma pu- quando O recebeu pela primeira vez das mãos do Papa Ur-
ra e virginal. bano I, na Catacumba de São Calixto, renovou a consagra-

34
ção de sua pureza e virgindade a seu Divino Esposo. Al-
gum tempo depois, oficializou seu voto nas mãos do Pon-
tífice, que relutou em aceitar tal oferecimento, por perten-
cer a jovem donzela a família tão importante e ser filha
única.

Mudanças na vida da menina


Com a morte de seus pais, Cecília, ainda menor de ida-
de, ficou sob a tutela de parentes pagãos. Estes procura-
vam minimizar seu sofrimento distraindo-a, levando-a aos
divertimentos públicos e forçando o seu convívio com ou-
tros parentes e amigos. Temendo que tais ambientes ma-
culassem sua alma inocente e amante a Deus, Cecília se
refugiava na solidão de seu coração e cantava a Deus seu
amor. Além de usar um apertado cilício que lhe castigava
o corpo, carregava sobre o peito os Santos Evangelhos, pa-
ra proteger-se dos ataques do demônio, do mundo e da
carne.
Prometida por seus tutores a Valeriano, um dos jovens
mais elegantes da nobreza de Roma, Cecília buscou o San-
to Padre, dizendo-lhe que teria de se declarar cristã di-
ante de todos, para poder cumprir sua promessa de casti-
dade e virgindade. O Papa, iluminado por Deus e com a
sabedoria de Vigário de Cristo, deu-lhe o conselho de ter
prudência e encomendar-se à Santíssima Virgem. O Anjo da guarda de Santa Cecília aparece
a Valeriano, sendo visto também pelo irmão dele,
Tibúrcio, que logo depois se converte

No dia da celebração do matrimônio, a jovem passou


todo o tempo em oração. No momento da festa, enquan-
to tocavam os concertos profanos de suas núpcias, Cecí-
lia cantava um hino de amor a Jesus em seu coração e pe-
dia a divina proteção para ser fiel à entrega que fizera a
Nosso Senhor.

A conversão de Valeriano
Estando a sós com seu esposo, Cecília revelou-lhe seu
segredo: havia se entregado a Jesus Cristo como esposa
e, se ele quisesse tocá-la, seu Anjo, que a acompanhava
dia e noite, a defenderia. A princípio Valeriano não deu
crédito a tal revelação e julgou que sua jovem e bela mu-
lher o havia traído. Mas era tal a inocência e sinceridade
dela que, movido pela graça, começou a crer em suas pala-
vras. Cecília lhe disse que, se ele fosse tocado pelas san-
tas águas do Batismo, poderia ver o Anjo da Guarda dela,
e deu-lhe todas as indicações para procurar o Papa Ur-
bano, nas catacumbas.
Valeriano saiu e encontrou-se com os cristãos que Ce-
cília lhe indicara. Ela permaneceu no palácio rezando, can-
Após ser convertido pela esposa, Valeriano tando e tocando a cítara, pedindo a Deus a graça da con-
é batizado pelo Papa Urbano I (pinturas versão de seu nobre esposo. De fato, ele se converteu e
de Benedito Calixto, Igreja de Santa Cecília, São Paulo) se fez batizar. Quando regressou, encontrou sua esposa

35
em oração, tendo junto de um recinto hermeticamen-
si um belo Anjo, que tra- te fechado, foi ela encon-
zia nas mãos duas coroas trada viva, cantando e sor-
de rosas e lírios perfuma- rindo, em meio a um ar
dos. O Anjo depositou as fresco.
coroas nas cabeças do ca- Decidiu-se, então, que
sal, dizendo: “Conservai es- devia morrer decapitada.
sas coroas com a pureza de Mas o carrasco, ao ver
vossos corações e santida- aquela jovem que, com a
de de vossos corpos; elas vie- fortaleza de um guerreiro
ram do céu e nunca perde- que entra no campo de ba-
rão sua frescura. Ficarão talha, oferecia o pescoço
sempre perfumadas como com tanto desejo de mor-
agora, mas nenhum mortal rer, vacilou... deu-lhe um
poderá vê-las nem admirar golpe, mas não a matou.
suas belezas, senão depois Depois um segundo e um
de ter, como vós, merecido terceiro golpe, sofrendo
os favores do Altíssimo com Cecília feridas tremendas.
a virtude da castidade.” E, A santa caiu, mas a cabe-
por ter respeitado Cecília ça continuou prodigiosa-
como esposa de Nosso Se- mente unida ao corpo. A
nhor, o Anjo disse que Va- lei romana proibia dar um
leriano poderia lhe pedir quarto golpe e o carrasco,
um favor que Deus lhe cheio de espanto, fugiu.
concederia. Ele pediu, en- Três dias passou Cecí-
O martírio de Santa Cecília
tão, a conversão de seu ir- lia entre a vida e a morte,
mão Tibúrcio. sendo afinal encontrada
Com efeito, Tibúrcio se converteu, à semelhança de Va- pelos cristãos, que se apressaram em chamar o Sumo
leriano, recebendo também do Anjo uma coroa de rosas Pontífice. Este ainda teve tempo de ministrar-lhe os últi-
e lírios celestiais, e a nobre casa dos Valérios passou a ser mos sacramentos. Para manifestar sua fé na Unidade e
uma santa casa cristã, na qual sempre reinou a caridade Trindade de Deus, Santa Cecília mostrava àqueles que a
para com os pobres e necessitados. Naqueles salões tan- assistiam o polegar de uma mão e três dedos de outra.
tas vezes profanados por cantos pagãos, passaram a res- Depois inclinando a cabeça, expirou.
soar hinos e louvores ao Deus verdadeiro, acompanha- Seu palácio é hoje a bela Igreja de Santa Cecília, no
dos do delicado som da lira, tangida pelos dedos ágeis de Trastévere, em Roma. Seu corpo foi encontrado em 821,
Cecília. pelo Papa São Pascoal, junto dos despojos de Valeriano,
Tibúrcio, Máximo e Urbano I. Estava ela tal qual fora
A perseguição contra os cristãos sepultada pelo Papa, com sua bela túnica tecida de ouro
Passou-se o tempo e, com a ausência do Imperador ro- e trazendo o cilício que nunca abandonara.
mano, no ano 232, o prefeito que governava em seu lugar
começou uma terrível perseguição contra os cristãos. Re- Melodia celestial
conhecidos como tais os dois irmãos, Valeriano e Tibúrcio, Continua Santa Cecília ao longo dos séculos a cantar,
que se dedicavam a recolher os restos de seus companhei- nos céus, a melodia de seu amor a Deus, cujos ecos res-
ros martirizados, receberam também eles a palma do mar- soam na Terra, atraindo ao Criador as almas dos músicos,
tírio, mas não sem antes conseguir a conversão dos seus seus protegidos, bem como as de todos os seus devotos.
perseguidores mais diretos: Máximo e seus soldados. Santa Teresinha do Menino Jesus, virgem como Cecília,
Cecília, avisada, previu que seria ela a próxima vítima soube bem compreendê-la. A seu respeito deixou-nos o
da cruel perseguição. Distribuiu todos os seus bens e en- seguinte comentário: “Santa Cecília se assemelha à Espo-
tregou seu palácio ao Papa, para ser transformado numa sa dos Cantares; sua vida foi apenas um canto melodioso,
igreja. Capturada, deixou seu perseguidor furioso com suas mesmo em meio das maiores provações, e isso se compre-
sábias respostas cheias de fé e de amor a Deus, e foi con- ende, porque o Evangelho descansava sobre seu peito, e den-
denada a morrer sufocada pelos vapores das caldeiras do tro de seu coração repousava o Esposo das Virgens, o aman-
próprio palácio. Depois de um dia e uma noite dentro de te por excelência.” !

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Através da Eucaristia, a presença de
Nosso Senhor entre os homens
exemplo, a Basílica de São Marcos, de ram-na com água e colocaram-na so-
Veneza. Jóia incrustada numa das mais bre o altar-mor, não sabendo o que
belas cidade do mundo, ponto para havia acontecido com o precioso con-
onde convergem todos os olhares dos teúdo.
que visitam a antiga República Sere- Abrindo a caixa, depararam-se com
Carmela níssima, fazendo sair do fundo de nos- os corporais totalmente convertidos
Werner Ferreira sas almas a espontânea exclamação: em cinza, aparecendo, entretanto, in-
“Oh! Ali está Ele em Corpo, Sangue, tactas e sem a menor queimadura, as
Alma e Divindade. Que magnífico!” três partículas consagradas. Oh mila-
É acerca do Santíssimo Sacramen- gre admirável! Oh resplendoroso po-

U
to que se deu o episódio seguinte, num der do Criador do céu e da terra!
m dos pontos essenci- mosteiro beneditino espanhol. Os pie- Imagine-se o espanto dos monges ao
ais de nossa espiritu- dosos monges se prepararam com mui- verificarem esse milagre que tinham
alidade é a devoção à to fervor para uma festa litúrgica e o diante dos olhos! Ao saber do fato, o
Eucaristia. Ao longo sacristão, ao arrumar na noite ante- Sumo Pontífice recomendou-lhes que
dos séculos, o “Divino rior os ornamentos necessários, esque- mantivessem com grande entusiasmo
Prisioneiro” — amorosa designação ceu-se de um círio aceso dentro de e alegria as partículas, a fim de que
dada a Jesus Sacramentado por gran- um armário. “os devotos se confirmem em sua de-
des santos em alusão à sua permanen- Não é difícil imaginar o susto dos voção, e os que não o são sejam excita-
te presença no sacrário — tem derra- monges ao chegarem pela manhã na dos sinceramente à devoção e à firme-
mado incontáveis graças sobre todos capela e encontrarem o armário quei- za da Fé” (Antonio Corredor Garcia,
os que d’Ele se aproximam, consolan- mado, derretidos os cálices de pra- O.F.M, Prodigios Eucarísticos, Apos-
do os corações, fortificando os ânimos ta e uma cruz de bronze que estavam tolado Mariano, Sevilla). !
e dulcificando os amargos sofrimen- nele depositados. Removendo as cin-
tos inseparáveis de nossa vida neste va- zas, encontraram, ainda incandescen-
le de lágrimas. Cumprem-se de manei- te, uma caixa de prata que servia de
ra admirável e maravilhosa as pala- sacrário, na qual haviam sido guarda-
vras do Senhor: “Eis que estarei con- das três partículas consagradas. Esfria-
vosco, todos os dias, até o fim do mun-
do” (Mt 28, 20). Qual não deve ser a
nossa correspondência e fidelidade pa-
ra com um Deus que, chegando a ex-
tremos de amor, deixa-se como alimen-
to para as almas e faz-se presente em
todos os tabernáculos?
E que presença maravilhosa! En-
canta nossas vidas, como quando vi-
sitamos a igrejinha de pacato vilarejo
e vemos ajoelharem-se ante o altar
Na Catalunha, Espanha,
as pessoas do lugar. Ou nos faz sentir ruínas do mosteiro
tomados de enorme respeito e inun-
er

beneditino em que se
Xavier Gimferr

dados de sacralidade, ao contemplar- deu o milagre com


mos Nosso Senhor Sacramentado as partículas consagradas
num templo esplendoroso, como, por

37
Fotos: Guy de Ridder, office de tourísme (Provins)
Um passado que
encanta e atrai rumo Acima: fachada da igreja gótica
de Santo Ayoul; abaixo: uma das
típicas residências burguesas de

ao futuro Provins e a igreja de São Quiriace

Juan Carlos Casté


de Paris

N ão é à toa que os
aeroportos da ve-
lha Europa estão
abarrotados duran-
te o ano todo. Tu-
ristas chegam aos milhares, e dos lu-
gares mais distantes do mundo: Aus-
trália, Japão, Estados Unidos, Amé-
Acredite! É precisamente isso!
A fim de que também nossos lei-
tores possam compartilhar as mara-
vilhas da civilização cristã, proponho-
lhes hoje uma rápida visita à Europa,
não para olhar uma catedral, palácio
ou museu, mas para participar de um
outro tipo de viagem. Sim, uma via-
rica Latina. gem a um passado que encanta e
Espanha, Itália e França recebem, atrai homens e mulheres do presen-
cada uma, mais de 50 milhões de visi- te. Vamos conhecer uma aldeia me-
tantes anualmente. Só a legendária dieval que todo verão se esquece do
Abadia do Mont Saint Michel, na século XXI e volta aos costumes, há-
França, nos confins da Normandia bitos, diversões e piedade que tinham
com a Bretanha, todos os anos é visi- seus antepassados nos séculos XI,
tada por mais de 5 milhões de pes- XII, XIII. critórios e dos congestionamentos do
soas. O mesmo se dá com Veneza, Que tipo de pessoas costuma visi- tráfico das cidades modernas; são
Orvieto, Sevilha e tantos outros lu- tar essa aldeia, situada a 80 quilôme- banqueiros, empresários, engenhei-
gares do Velho Continente, repletos tros de Paris? Serão estudiosos, ar- ros, estudantes universitários.
de milhares e milhares de visitantes queólogos, sisudos investigadores ou É gente que busca mais o descan-
todos os dias. velhos professores munidos de lupas so da alma que o do corpo, procuran-
O que vêm eles procurar aqui? e pergaminhos empoeirados debaixo do algo de belo, de sublime.
Sem dúvida, o maravilhoso, o belo, do braço? Não! São jovens cheios de Provins, situada na região da
algo que os eleve e atenda às ape- vida, famílias com filhos, crianças, Champagne (que deu o nome ao cé-
tências mais profundas de suas al- executivos cansados dos telefones ce- lebre e inigualável vinho espumante),
mas. lulares, da vida trepidante de seus es- cujas origens remontam a um passa-

38
FRANÇA

Provins, a 80 kms de Paris, revive um


passado que ainda hoje atrai multidões
sequiosas do belo e do sublime

Acima, a Torre César, e um


dos cenários das festas e
torneios medievais. À
esquerda, interior da igreja
de São Quiriace

dos da frieza e do estresse das cida-


des de hoje.
O homem do século XXI aprecia
passear pelas maravilhosas alamedas
do que se perde na noite dos tempos, os cruzados em 1209. São verdadeiras de cedros centenários, ou pelos legen-
era uma cidade importante já na épo- obras-primas da arquitetura ogival, dários caminhos de ronda, com suas
ca de Carlos Magno. Hoje conta com em cujo interior sempre encontramos, muralhas e ameias que evocam um
doze mil habitantes. Está rodeada de acolhedora, amável e bondosa, uma passado de fé e de esforço.
muralhas, possui castelos e igrejas imagem de Maria Santíssima. A cada verão, Provins recebe mais
góticas, com elegantes e altaneiras Mas não há apenas castelos e igre- de 500 mil visitantes, encantados com
torres que apontam para o céu. jas. Ali podemos ver também casas suas festas nas ruas e praças públi-
Entre essas igrejas, destacamos a burguesas e camponesas, cômodas, cas, que ocorrem durante toda a es-
de Santo Ayoul, construída no sécu- acolhedoras, confortáveis, resistentes tação. Eles emocionam-se com as
lo XI, que evoca as mais belas pági- e encantadoras, de cujas janelas, no competições e torneios: “Aplauda a
nas da arte medieval; ou ainda a Co- verão, pendem todo tipo de flores, das coragem cavalheiresca. Thibaud, Con-
legialle de São Quiriace, construída mais variadas cores, que parecem dar de de Champanhe, está sendo assedia-
em meados do século XII, que recebeu as boas-vindas aos visitantes cansa- do por Filipe de Hurepel, Conde da Pi-

39
Os que visitam Provins no
verão, encantam-se com as feiras onde os vendedores se
apresentam com trajes típicos da Idade Média (à esquerda e à direita), bem
como se entusiasmam com as competições e torneios (ao centro) que recordam
a bravura e destreza dos cavaleiros medievais.

cardia. ... O que está em jogo é nada músicas e diálogos magistralmente re- nevadas freqüentes — recorda a Na-
menos do que o destino de Provins.” presentados. Quem serão os artistas? tividade do Senhor: “Venha reencon-
Entusiasmam-se com o vôo das águias “Certamente famosos atores da Co- trar Maria e José reunidos junto ao
que os adestradores soltam por cima médie Française”, dirá algum enten- Menino Jesus, compartindo assim des-
das muralhas, juntamente com fal- dido. Não! São aprazíveis habitantes te maravilhoso momento de fim de ano.
cões e outras aves de rapina: “Venha de Provins. Na vida real, um é padei- No próprio coro da igreja Colegial cin-
reviver a arte da falcoaria medieval. ro, outro é veterinário, mais adiante qüenta personagens e mais alguns ani-
Tendo como fundo de quadro históri- encontramos um açougueiro, uma mais presentes na gruta darão mostra
co as muralhas de Provins, um balé modista, um vendedor de frutas, um de uma apresentação realista do nas-
mágico se desenrolará acima de sua advogado, um contador... Chegada a cimento de Cristo e da visita dos Reis
cabeça: águias, falcões, gaviões o en- noite, todos revivem, com arte e maes- Magos, montados em camelos, ao som
treterão num espetáculo maravilhoso. tria, a vida de seus antepassados. de trompetes e de cânticos natalinos”.
Trajes, músicas, narrações, assim como Também para as crianças existem * * *
a beleza do vôo das aves, lhe causarão programas especiais. Há aulas de De onde vem o encanto de Pro-
emoções inesquecíveis...” É assim que aprendizagem para fazer vitrais, ilu- vins? Será o mero atrativo estético
os folhetos turísticos de Provins anun- minuras em livros, brasões e outras ou o desejo de “relaxar”, abstraindo-
ciam seus atrativos. artes, que se realizam numa suntuo- se por alguns dias das tensões con-
Mas não é tudo. Os visitantes se sa casa de comerciantes do século temporâneas?
encantam com as feiras, onde os ven- XIII. Ogivas, muros de pedra, vitrais Ou será algo mais profundo, a
dedores vestem lindíssimas roupas do nas janelas favorecem a inspiração idéia de encontrar uma civilização
século XII ou XIII; também os repre- dos jovens aprendizes. que começava a ser construída pela
sentantes de cada ofício de arte usam Para os adolescentes e adultos, ação evangelizadora da Santa Igreja
a roupa que distingue sua profissão; existem as “festas medievais”, que se e que, a partir de certo momento, o
deliciosos vinhos ou queijos regio- realizam ininterruptamente há 18 anos, egoísmo e os pecados dos homens
nais podem ser degustados, junta- nas quais todos os personagens se começaram a desviar, até nos condu-
mente com a admirável culinária da vestem com roupas medievais multi- zir às loucuras do mundo de hoje?
Champanhe. coloridas. Aparecem cavaleiros, tem- Quiçá, em algumas almas tocadas
Ao cair do sol, os conventos, pra- plários, cruzados, peregrinos, mendi- pela graça, nasça a seguinte interro-
ças, igrejas e castelos se revestem de gos, trovadores, que se reúnem, re- gação: Esse encanto, esse atrativo, se-
suas melhores galas. zam, cantam, bailam, narram histórias rá apenas uma recordação saudosis-
Vejamos, por exemplo, um espe- e animam as grandes feiras da Cham- ta de um passado que se foi, ou vago
táculo de Son et Lumière — som e lu- panhe, desde o século XI. pressentimento de um mais belo fu-
zes — no convento dos franciscanos, Provins também sabe rezar e can- turo que virá, com o triunfo do Ima-
que evoca as festas realizadas outro- tar para Nosso Senhor. Durante o in- culado Coração de Maria prometido
ra pelo Conde de Champanhe, com verno — estação muito fria e com em Fátima? !

40
Bolo de queijo

D
e Belo Horizonte nos chega, enviada por
uma leitora, uma saborosa receita de bo-
lo, contendo um ingrediente pouco ha-
bitual: queijo ralado.
Achamo-la original e decidimos pre-
pará-la. O resultado foi bastante com-
pensador... demonstrando que não é preciso recorrer
Pedro Henrique da Cruz Ribeiro
sempre à cozinha internacional para encontrar delícias
que amenizem nosso dia-a-dia.
A leitora não especifica qual o tipo de queijo a ser usa-
do. Utilizamos o parmesão e recomendamos que se em-
pregue o de melhor qualidade possível. Entretanto, se os italiana, pode ser substituída sem desvantagem por quei-
seus convivas não apreciam o gosto forte desta iguaria jo mineiro semi-curado.

A RECEITA Ingredientes
4 colheres de sopa de mantei-
ga / 2 xícaras de açúcar / 4 ovos / 1
lata de creme de leite com soro /
2 xícaras de queijo ralado / 1 colher
de sopa de casca de limão ralada
/ 2 xícaras de farinha de trigo / 1
colher de sopa de fermento em pó
/ 100 gramas de passas de corinto.

Modo de preparo
Bata a manteiga e o açúcar.
Junte os ovos, a farinha, o fer-
mento e as passas. Acrescente de-
pois a casca do limão e o queijo.
Adicione o creme de leite à
massa e misture suavemente.
Deposite a massa numa forma
untada com manteiga e asse em
Timothy Ring

forno moderado (180 ºC).

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HISTÓRIA PARA CRIANÇAS... OU PARA ADULTOS CHEIOS DE F É?

O IRMÃO CHAVEIRO

N as noites frias de inverno, junto ao


agradável fogo das lareiras, ainda ho-
je, em recantos da velha Europa, os
avós contam a seus netos esta lendária
história...
Há muito tempo morava numa simpática aldeia um
menino chamado Lucas. Sonhava todos os dias em viver
como monge no antigo e imponente mosteiro que erguia-
Ricardo Basso

se no alto da colina, fora dos muros da cidade.


Os anos se passaram até que, um dia, Lucas teve seu Com muita freqüência, o viam de joelhos na capela,
sonho realizado. Foi recebido como noviço. Profunda- em fervorosa oração, oferecendo a Deus com alegria, por
mente devoto de Nosso Senhor Jesus Cristo, demonstrou intermédio da Santíssima Virgem, sua radiante juven-
grande piedade em sua vida religiosa. tude.
O abade e todos os monges do mosteiro tinham por
ele grande admiração, tal eram sua bondade e diligência,
e o nomearam para o cargo de “irmão chaveiro”, função
que ele passou a desempenhar com grande zelo. Todas as
noites era o último a se recolher: não podia dormir sem
antes fechar todas a portas; e, pela manhã, era o primei-
ro a despertar: tinha de deixar tudo pronto para quando
o abade e seus irmãos de hábito acordassem para mais um
dia de oração e trabalho.
Certo dia, porém, estando Lucas em meditação no
claustro junto ao muro do mosteiro, ouviu alguém, de fo-
ra, chamá-lo:
— Lucas! Lucas!
Surpreso, aproximou-se da sacada e, vendo um vulto
negro, perguntou:
— Quem é você?
— Lucas, não está me reconhecendo? Sou Walfrido,
seu amigo. Não se lembra mais de mim?
Lucas reconheceu naquele homem um antigo colega
que estudara com ele na escola da aldeia, quando ainda
eram meninos. Walfrido entabulou uma conversa com
Lucas, recordando-lhe as aventuras do passado, e tentou
Ilustrações: Antônio Sandro

convencê-lo a abandonar a santa vida que levava, fugin-


do do mosteiro.
Lucas a princípio resistiu com firmeza, argumentando
contra Walfrido. Mas aos poucos começou a sentir sau-
dades das “liberdades” de outrora e foi cedendo aos em-
bates daquela forte tentação. Após longo diálogo, aca-
bou ouvindo a voz do mau conselheiro e, naquela mesma
noite, enquanto todos no mosteiro dormiam, pegou umas
poucas roupas e preparou-se para fugir. Porém, antes de
realizar a terrível apostasia, ajoelhou-se ante uma bela — Vai muito bem — respondeu o velho monge — tão
imagem de Nosso Senhor, que ocupava lugar de honra santo e devoto como sempre, desempenhando maravilho-
junto à porta principal do mosteiro, e lhe disse: samente seu ofício de irmão chaveiro. Todos os religiosos
— Soberano Senhor, eu, que te servi honestamente o querem muito, e já está no convento há vinte e seis anos,
até hoje, dia em que não posso conter esta força que me demonstrando grande piedade. Certamente queres falar
arrasta para longe de ti, encomendo-te as chaves deste com ele? Espera aqui que vou chamá-lo.
mosteiro. Lucas ficou estupefato com essas palavras. Não con-
E depositando-as sobre as mãos da imagem do Divino seguia compreender o que acabava de ouvir. Permane-
Redentor, partiu. ceu imóvel, esperando pelo momento do encontro com o
Transcorreu pouco tempo e, não somente Walfrido, tal irmão chaveiro quando viu, ao longe, vindo em sua di-
mas também outros falsos amigos que Lucas reencontrou, reção, um monge trazendo aquelas mesmas chaves que
abandonaram-no por completo. Sua alma caiu em gran- há quinze anos ele, Lucas, havia deixado sobre as mãos
de confusão, não tendo ele coragem de voltar ao conven- da imagem do Salvador. Não podia crer no que seus
to. Transformou-se num andarilho, levando vida ímpia e olhos viam: o monge tinha a fisionomia do próprio Cris-
vergonhosa durante quinze anos! Ele que, quando era to, O qual, aproximando-se, lhe disse:
bom monge, fazia vigílias noturnas diante do Santíssimo — Lucas, meu filho, durante quinze anos, com tua fi-
Sacramento, agora passava as noites em tavernas, como sonomia, Eu desempenho o ofício de monge chaveiro e,
escravo de seus vícios. portanto, os demais monges ao me olharem, pensam ver
Torturado pelos remorsos de sua consciência, e conser- a tua face. Volta e continua servindo-Me como se nunca
vando ainda uma vaga esperança de perdão, passou certo tivesses fugido, porque nada sabem de teus erros, crendo
dia próximo ao mosteiro em que habitara e sentiu o de- que continuas em teu posto. Faze penitência para alcan-
sejo de parar e perguntar pelo “irmão chaveiro”, a algum çar o perdão de tuas numerosas faltas e não tornes a pe-
monge que encontrasse, para saber o que os religiosos car.
comentavam a seu respeito. A fim de não ser reconheci- Tendo dito isto, lançou um último olhar de misericór-
do, cobriu-se com seu manto de modo que não lhe vissem dia àquele filho pródigo e desapareceu.
toda a face. Dirigiu-se ao porteiro de sua antiga casa reli- Lucas, profundamente arrependido e maravilhado por
giosa e perguntou: esse grandioso milagre, pegou as chaves, vestiu novamen-
— Dize-me, irmão, o que me contas de Lucas, o mon- te seu hábito de religioso e retomou o ofício de irmão
ge chaveiro? chaveiro, que exerceu até o dia de sua santa morte. !
L’Osservatore Romano ACONTECEU NA IGREJA E NO MUNDO

Papa à Suécia. O centro das soleni- leixo no pensamento”, comenta Da-


dades será o mosteiro medieval de vid Lewis, funcionário da Holland
Vadstena, fundado pela santa, junto & Sherry, uma loja chique de teci-
ao qual situa-se a abadia nova, habi- dos em Londres (The Wall Street
tada pelas monjas católicas da Or- Journal).
dem de Santa Brígida.
Outro ramo dessa ordem, com Católicos do Uzbequistão
sede em Roma — restaurado no sé- celebram 100 anos de
culo XX pela convertida sueca Bea- evangelização
ta Elisabeth Hesselblad —, acaba
Os católicos dessa ex-república
de promover no Vaticano um sim-
Estudantes universitários pósio sobre a contribuição de Santa
soviética, da Ásia central, estão se
interessados em Teologia preparando para comemorar o cen-
Brígida à cultura, com destaque pa-
tenário da chegada do primeiro sa-
O Secretariado de Pastoral Uni- ra a música. O lema desses dias de
cerdote católico ao país. Ali a Igre-
versitária da Diocese de Málaga, Es- estudo foi “A via da beleza na nova
ja Católica acaba de ser reconheci-
panha, informou aos alunos das fa- Europa”, sublinhando-se o papel do
da. Atualmente os católicos são 3000,
culdades locais a possibilidade de belo — importante elemento da es-
numa nação majoritariamente mu-
cursar disciplinas de conteúdo reli- piritualidade brigidina — na evan-
çulmana. A primeira Missa foi cele-
gioso, válidas para a obtenção de gelização. Assim, os escandinavos
brada no dia 12 de outubro de 1902,
créditos de livre formatura. Em poderão mais facilmente reencon-
e em 1912 deu-se início à construção
1999, a Universidade e a Diocese trar a unidade eclesial com Roma,
da primeira igreja, que ficou parali-
assinaram um convênio, pelo qual infelizmente perdida no século XVI.
sada durante mais de 70 anos pelo
se incluíram, entre as matérias op- (Mais informações em www.brigidi-
governo comunista. Com a derro-
tativas, cadeiras como Teologia Fun- ne.org e www.catholic.se/birgittasys-
cada do regime soviético, em 1991,
damental e Introdução às Sagradas trarna/eng/index.htm).
foi proclamada a independência do
Escrituras, ensinadas no Instituto Uzbequistão e puderam-se cons-
Superior de Ciências Religiosas, do Desleixo no vestuário reflete truir duas igrejas (Noticias Eclesia-
Bispado. desleixo no pensamento les).
O êxito da iniciativa foi espeta-
Nos Estados Unidos, o 11 de se-
cular. Mais de 440 alunos solicita-
tembro selou a morte dos trajes des- Mártires do século XX: o
ram a matrícula no primeiro ano, rosto esquecido da história
contraídos e a volta dos estilos sé-
embora houvesse apenas 100 vagas.
rios, sóbrios, adequados, tanto no “Nos livros de história e nos meios
No segundo ano dobrou-se o nú-
trabalho como no lazer. de comunicação, o rio de sangue cris-
mero de vagas, mas se esgotaram
Ao propor ternos e saias clássi- tão que banha todo o século passado
no primeiro dia de inscrição (Vida
cos, a indústria da moda espera cap- mal encontra uma breve nota ou
Nueva, 5/10/02).
tar o ar dos tempos. Neste outono, uma recordação. Essa falta de von-
as lojas confiam no desejo dos con- tade de recordar tem como razão um
Nos 700 anos de Santa sumidores em querer parecer-se — fato preciso: os mártires do século
Brígida finalmente —com adultos: as saias XX são vítimas das ideologias esta-
Em 2003 será comemorado na cobrem os joelhos e os ternos são tistas, imanentistas, racistas.” Com
Suécia o 700º? aniversário de nasci- cinzas, azul-marinho ou listados. essas palavras no prefácio, Bernar-
mento de Santa Brígida, uma das pa- Também os bancários vestem-se do Cervellera, ex-diretor da Agên-
droeiras da Europa. Nos preparati- mais. Depois do Lehman Brothers, o cia Fides, do Vaticano, elogia o li-
vos estão engajados também órgãos Deutsche Bank anunciou que pas- vro de Robert Royal Os mártires do
governamentais e entidades parti- sará a exigir de seus funcionários tra- século XX, recentemente publicado
culares, o que vem permitindo aos jes estritos, de segunda a quinta-fei- pela editora Ancora.
luteranos conhecerem melhor, e li- ra, embora autorize alguma descon- Royal mostra que o século XX
vres de preconceitos, a fé católica. tração às sextas-feiras. foi “o período com o maior número
Como um dos pontos culminantes “Afinal demo-nos conta de que o de mártires cristãos, e também o pe-
dos festejos, está prevista a visita do desleixo no vestuário reflete um des- ríodo no qual se procurou ignorar ou

44
ocultar a experiência do martírio”. demais obras de arte totalmente re- “Miss América” declara-se
As cifras conhecidas giram em tor- cuperados. a favor da castidade pré-
no de 45 milhões de mortos, cerca Dez mil fiéis assistiram à Missa
matrimonial
de dois terços do número total de de reabertura, presidida por Dom
martírios desde o início do cristia- Cláudio Hummes e concelebrada Erika Harold, de 22 anos, vence-
nismo. O século XX foi, portanto, o pelos Cardeais Dom Geraldo Ma- dora do concurso “Miss América”
de maior holocausto cristão da his- gela Agnelo e Dom Paulo Evaristo 2003, disse ontem que certos diri-
tória. Arns, pelo Núncio Apostólico Dom gentes desse concurso lhe haviam
O autor cita o Padre Pro, no Mé- Álfio Rapisarda, por dezenove ou- ordenado que não falasse publica-
xico, Edith Stein e Maximiliano tros Bispos e cerca de 80 padres. mente a respeito da abstinência se-
Kolbe sob o nazismo, e Charles de Na homilia, Dom Cláudio anunciou xual, uma causa que ela defendeu
Foucauld, na África; trata da perse- que a Catedral “poderá reiniciar des- com jovenzinhas adolescentes de
guição contra a Igreja na Espanha de já sua missão e vocação de templo Illinois. “Falando francamente, e não
(o “holocausto espanhol”), China, principal da cidade”. vou ser explícita, há pressões vindas
Vietnã, Coréia do Norte, Rússia, O Papa João Paulo II enviou uma de certo setor para que a abstinência
Bulgária, etc. O livro procura elimi- mensagem, exprimindo seus votos sexual não seja promovida”, decla-
nar a idéia de que o martírio é algo de que “o Deus invisível, presente no rou Erika.
do passado, sem relação com a fé Santíssimo Sacramento da Eucaris-
Na sua primeira visita a Washing-
vivida hoje em dia (Eclesiales.org). tia, continue sendo louvado e adora-
ton, desde que venceu o concurso
do por toda a família cristã que, nes-
Reaberta a Catedral te lugar, peregrina para a Pátria celes-
no dia 21 de setembro, Erika resis-
paulistana tiu às pressões dos mencionados di-
tial”.
rigentes, e não silenciou suas opi-
Fechada para uma reforma total Após a Celebração, o público pre-
niões pró-vida. Há muitos anos que
em julho de 1999, a Catedral de São sente foi brindado com um concer-
ela defende a castidade pré-matri-
Paulo foi reaberta ao culto no 29 de to de carrilhão, pelo artista holan-
monial (ABC, 6/10/02).
setembro último, com seus vitrais e dês Gerard Waarard.

Na Índia, crianças
sacrificadas em honra à
deusa Kali
Dhenkanal (Índia). Um homem
foi detido numa aldeia do leste da
Índia por haver decapitado e es-
quartejado uma criança de 7 anos,
em ritual dentro do templo da deu-
sa Kali, informou a polícia.
Os policiais encontraram vários
pedaços do corpo do garoto, espa-
lhados pelo recinto do templo
Arta Sahu, o criminoso, confes-
sou haver seqüestrado e assassina-
Luis Maria B. V.

do com um machado a pequena ví-


tima, Stakanta Behera, “para agra-
dar a deusa Kali”. Declarou ainda o
assassino ter tido um sonho no qual
Depois de três anos fechada para uma a deusa lhe ordenava que sacrifi-
completa reforma, a Catredral de São casse uma criança, a fim de encon-
Paulo foi solenemente reaberta ao culto, trar a felicidade. No mês de junho,
no último dia 29 de setembro uma menina de apenas dois anos
havia sido sacrificada à menciona-
(Nas fotos, vista do exterior e da nave da deusa Kali, na mesma região
central da igreja restaurada) (Rediff.com).

45
Os Santos de cada
1. Todos os Santos. Festa dedi- 7. São Clemente, bispo, séc. VIII.
cada à Igreja Triunfante, isto é, a to-
dos os santos e bem-aventurados 8. São Godofredo, bispo e con-
que gozam da visão direta de Deus, fessor, séc. XII

Mário Shinoda
no Céu.
São Viliado, bispo, séc. VIII.
2. Finados. Mãe amorosa, a Igre-
9. Dedicação da Basílica de La-
ja dedica este dia para rezar pelas
trão. A Basílica do Santíssimo Sal-
almas que foram salvas, mas ainda
vador, ou de São João de Latrão,
estão se purificando no Purgatório.
em Roma, foi fundada pelo Papa
Melquíades, no início do século IV, Santa Gertrudes
3. 31º Domingo do Tempo Co-
no palácio doado pelo Imperador
mum. 12. São Josafá, bispo e mártir.
Constantino. Surgiu, assim, a igre-
São Martinho de Porres, religio- Foi cruelmente assassinado em 1623
ja-mãe de todas as igrejas de Ro-
so. Nascido em Lima, Peru, em 1579, na cidade de Vitebsk, Belarus, pe-
ma e do mundo.
era de raça negra. Entrou na Or- los greco-cismáticos, por ter aderi-
dem dominicana como irmão leigo do à Igreja Católica e ao Papado.
10. 32º Domingo do Tempo Co-
e tomou para si as funções mais hu-
mum.
mildes e repugnantes. Foi dotado 13. São Diogo, religioso, 1400-
de extraordinários dons místicos co- São Leão Magno, Papa e Doutor 1463.
mo profecias, êxtases e bilocações. da Igreja. De grande força moral,
Faleceu em 1639. enfrentou o terrível Átila e conse- 14. Beato Estêvão Cuenot, bis-
guiu deter a invasão dos hunos que po, séc. XIX.
4. São Carlos Borromeu, bispo. ameaçavam Roma. Em seu longo
Nascido em 1538, de nobre família pontificado, lutou contra as here- 15. Santo Alberto Magno, bispo
italiana. Com apenas 21 anos, foi sias do eutiquianismo e donatismo, e Doutor, 1206-1280. Dominicano
sagrado Bispo de Milão, e elevado conseguiu a unidade de toda a Igre- e famoso mestre de filosofia, teo-
a cardeal por seu tio, o Papa Pio ja e, no IV Concílio de Calcedônia, logia e ciências naturais, teve por
IV. Deu extraordinários exemplos definiu a verdade sobre a dualida- aluno São Tomás de Aquino. Ensi-
de virtude e foi modelo perfeito de de de naturezas na única Pessoa de nou nas escolas mais famosas da
pastor de almas. Aplicou as refor- Jesus Cristo. Morreu em 461. Europa, foi bispo de Ratisbona e
mas do Concílio de Trento e fale- superior dos dominicanos na Ale-
ceu aos 46 anos. 11. São Martinho de Tours, bis- manha.
po. Filho de um oficial romano,
5. São Zacarias e Santa Isabel. nasceu em 315. Quando ainda era 16. Santa Margarida da Escócia.
Pais de São João Batista, “eram militar, já convertido à Fé católica, Nasceu em 1046. Filha dos reis da
justos diante de Deus e observavam deu-se o famoso episódio no qual, Inglaterra, casou-se com o rei da Es-
irrepreensivelmente todos os Man- encontrando um pobre que morria cócia, subindo ao trono aos 24 anos.
damentos e preceitos do Senhor” de frio, cortou sua manta e deu a Teve 8 filhos, que educou cristãmen-
(Lc. 1, 6). Como para Deus nada é metade a ele. Dois anos depois da te, e cuidou da instrução religiosa e
impossível, após longa esterilidade, conversão, retirou-se para a vida civil do seu povo. Morreu em 1093.
Isabel concebeu e deu à luz aquele eremítica, seguindo Santo Hilário. Santa Gertrudes, virgem. Nas-
que seria o Precursor do Messias. Eleito bispo de Tours, exerceu am- cida em 1256, foi confiada quando
pla atividade evangelizadora no cen- menina ao mosteiro cisterciense de
6. São Félix, mártir, séc. VI. tro da França. Morreu em 397. Helfta, na Turíngia, Alemanha, on-
dia  Novembro
de recebeu sólida formação reli- 18. Dedicação das Basílicas de 25. Santa Catarina de Alexan-
giosa. Ardente devota do Sagrado São Pedro e São Paulo. Os primei- dria, virgem e mártir. Após ter con-
Coração de Jesus e da Eucaristia, ros edifícios foram construídos res- vertido 50 sábios pagãos que discu-
teve inúmeras visões e experiências pectivamente pelos Papas Silvestre tiam com ela e ter sobrevivido mi-
místicas. Faleceu em 1301. (314-335) e Siríaco (384-399). raculosamente indene à roda com
pontas de ferro que ia triturá-la,
19. Santos Roque González, Afon- foi decapitada no Egito, em 305.
17. 33º Domingo do Tempo Co- so Rodríguez e João del Castillo,
mum. presbíteros e mártires, jesuítas. Pa- 26. São João Berchmans, jesuí-
raguaio, o primeiro, os outros, espa- ta, séc. XVII.
Santa Isabel da Hungria, viúva.
nhóis, dedicados à fundação de “re-
Filha do rei da Hungria, foi casada 27. São Máximo, bispo, séc. V.
duções” para os indígenas conver-
com o Duque da Turíngia. Teve três São Virgílio, abade e bispo, séc.
tidos, inclusive no território do atual
filhos e aos 20 anos perdeu o piedo- VIII.
Rio Grande do Sul. Foram cruel-
so marido, morto em uma Cruzada.
mente martirizados por índios, em
Depois disso, foi cruelmente mal- 28. São Tiago de Marca, pres-
1628.
tratada pelos parentes de seu mari- bítero, 1394-1476.
Santa Matilde, séc.XIII.
do, separada dos filhos e abando-
Santo Odon, séc. IX-X, abade de 29. São Saturnino, bispo e már-
nada na miséria. Sofreu toda espé-
Cluny. tir, séc. III.
cie de humilhações com admirável
paciência e entrou para a Ordem 20. São Bernardo, bispo e con-
terceira franciscana. Faleceu aos fessor, séc. XI.
24 anos, em 1231.
21. Apresentação de Nossa Se-
nhora. Conforme promessa feita
por seus piedosos pais, Nossa Se-
nhora foi conduzida ao Templo
aos três anos de idade.

22. Santa Cecília, virgem e már-


tir. (Ver sua história nas pp. 34-36).

23. São Clemente I, Papa e már-


Sergio Hollmann

tir. Terceiro sucessor de São Pe-


dro, sofreu o martírio sob o impé-
rio de Domiciano, em 97.
São Columbano, abade, séc. VI-
VII. 30. Santo André, Apóstolo e már-
tir. Irmão de São Pedro, foi o pri-
24. 34º Domingo do Tempo Co- meiro discípulo a encontrar o Mes-
mum. sias, chamando em seguida seu ir-
Sergio Hollmann

Festa de Nosso Senhor Jesus mão: Foi ele então logo à procura de
Cristo, Rei do Universo. seu irmão e lhe disse: “Achamos o
São Crisógono, séc. V. Messias” (Jo. 1, 41). Segundo a Tra-
Santo Alberto de Lovaina, séc. dição, sofreu o martírio numa cruz
Santa Catarina XII. em forma de xis.
Para meditar diante do Santíssimo Sacramento
“Enquanto o nosso amor a Nosso nea de escritos desse grande apósto-
Senhor no Santíssimo Sacramento não lo da Eucaristia, com o objetivo de pôr
for um amor apaixonado, nada lhe te- à disposição dos fiéis leituras e refle-
remos dado. Ele certamente ama-nos xões que os estimulem na devoção a
apaixonadamente e, alheio a Si mes- Nosso Senhor Sacramentado.
mo, dedica-se a nós todo inteiro. Urge Com seus cinco volumes, a obra
retribuir-lhe com o mesmo amor.” constitui um inesgotável tesouro para
Esta afirmação é de São Pedro Ju- momentos de recolhimento e medita-
lião Eymard, sacerdote francês do sé- ção diante do Santíssimo Sacramen-
culo XIX, que marcou a história da to. A linguagem do santo é simples,
Igreja com o fogo de sua devoção eu- direta e muito viva. E a esmerada tra-
carística. dução de Mariana Nabuco colabora
Movidas pelo zelo eucarístico her- bem para tornar leve sua leitura.

Timothy Ring
dado de seu santo Fundador, as frei-
ras sacramentinas de Taubaté (SP) pro-
moveram a reedição de uma coletâ-

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48
PEREGRINANDO PELA CRISTANDADE

O cabo Finisterre, situado no


litoral da Galiza, era o lugar
no qual, para os antigos, terminava
a terra conhecida e começava o mis-

Fotos: Mariana Morazzani - Rafael Leal


terioso e insondável Oceano Atlânti-
co. Muito perto dali, encontra-se um
dos centros de peregrinação mais
visitados da Cristandade.

Fachada do Santuário de Compostela

desde que no Campus Stellae (Cam- fogoso. Talvez por isso lhe correspon-
po da Estrela), como é chamado o dera evangelizar a Península Ibérica,
local, foi encontrado milagrosamen- uma das regiões mais remotas do
Mariana Arráiz te o sepulcro do Apóstolo São Tiago. mundo daquele tempo.
de Morazzani A vida do santo, uma das mais be- Após conturbada travessia maríti-
las da hagiografia cristã, seria sufi- ma, o apóstolo desembarcou na Ria
ciente para explicar por si mesma a de Arousa e passou sete anos levan-
imensa atração que suas relíquias têm do a palavra do Divino Mestre àque-

S
exercido sobre o mundo católico. las regiões. No ano 44, voltou a Jeru-
antiago de Compostela é Segundo a tradição, depois de salém, onde foi preso por ordem de
um dos raros exemplos Pentecostes os primeiros discípulos Herodes, que mandou matá-lo à es-
de cidade que nasceu se dispersaram para pregar o Evan- pada, tornando-se assim o primeiro
graças à devoção de de- gelho. São Tiago o Maior, primo de mártir entre os apóstolos. Assim o
zenas de milhões de pe- Nosso Senhor e irmão de São João, narra o capítulo 12 dos Atos.
regrinos. De fato, sua história con- era chamado por Jesus de o “filho do Logo após o glorioso martírio, o
funde-se com a das peregrinações, trovão”, devido a seu temperamento corpo do santo foi levado para a Es-

49
Torre de Dona
Berenguela
(ou do Relógio)
dezas, convencido do cará- espiritual, sob a proteção do insigne
ter sobrenatural do fenô- Apóstolo.
meno, informou o bispo A fama de São Tiago transpôs os
Teodomiro acerca do estra- Pirineus no momento em que as na-
nho acontecimento. Este ções da Europa rumavam para uma
dirigiu-se ao local com to- profunda unidade religiosa e cultural.
dos os seus fiéis e, seguin- A partir do século XI, devido espe-
do o caminho indicado pe- cialmente ao incentivo dos Papas e
la estrela, achou o sepulcro ao apostolado dos monges de Cluny,
de mármore com os restos as peregrinações a Compostela pas-
do Apóstolo. Sobre esse saram a atrair cada vez mais as popu-
precioso tesouro, Afonso lações da Península Ibérica e de ou-
II o Casto, rei das Astúrias, tros países.
edificou uma igreja e um No início do século XII, o Papa
mosteiro. A partir de en- Calixto II concedeu ao lugar um sin-
tão, a devoção ao santo e gular privilégio, confirmado em 1179
o culto a suas relíquias se por Alejandro III na bula Regis aeter-
propagou pelo país. ni: todos os anos em que o dia 25 de
Porém, foi necessário julho, festa do Apóstolo, coincidir em
outro acontecimento mila- domingo, podem-se ganhar nessa
groso para que o Apóstolo igreja todas as graças do Jubileu.
panha e colocado em um túmulo de se transformasse em padroeiro de to- Nascia assim o Caminho de São Tia-
mármore, no qual foi venerado até o da a Espanha. go ou “rota jacobéia”.1 A Cristandade
século III. Posteriormente, com as in- Conta a tradição que durante a ba- ganhava, ao lado de Jerusalém e de
vasões dos bárbaros no século IV, se- talha de Clavijo, em 844, o rei de Roma, um novo centro de devoção.
guidas pelas dos árabes no século Leão, Ramiro I, à frente de um pu- Partia-se em peregrinação para
VIII, os habitantes do lugar acabaram nhado de cristãos, mantinha um com- cumprir um voto, pedir uma graça,
perdendo a noção de onde se encon- bate desesperado contra 70 mil mu- implorar uma cura ou obter o perdão
trava o sepulcro do Apóstolo. çulmanos. De repente, apareceu um das próprias faltas. Era uma empresa
Por volta de 820, ocorreu um fato cavaleiro montado num cavalo bran- cheia de riscos: as feras, os bandidos,
milagroso que marcou o reinício da co, portando um estandarte com uma o longo caminho a percorrer, o can-
história que São Tiago continuaria a cruz vermelha e, misturando-se aos saço. Os peregrinos agrupavam-se em
escrever da Eternidade. Nessa épo- combatentes, arrasou o inimigo. To- enormes colunas para se protegerem
ca, uma misteriosa estrela começou a dos o reconheceram. A partir dai, mutuamente. No decorrer do tempo,
aparecer acima de um campo por vá- “São Tiago!” passou a ser o brado de foram estabelecidas quatro vias prin-
rias noites consecutivas. Um ermitão guerra na grande luta da Reconquis- cipais, com hospedarias, hospitais,
de nome Pelayo, habitante das redon- ta, a qual recebeu um novo ímpeto pontes, calçadas, cruzes e igrejas es-

Compostela
Atlântico
paçosas — tudo quanto era necessá-
rio para o cuidado dos corpos e das
almas durante as peregrinações. Ca-
da ponto do percurso dava ao pere-
grino a oportunidade não só de des-
cansar, mas de venerar uma relíquia,
rezar diante de uma imagem, conhe-
cer o relato de algum milagre, antes
de ser acolhido por São Tiago, em
Compostela.
Naquela época, a Igreja, ao esten-
der sua mão pacificadora e cheia de
doçura no Caminho de São Tiago,
povoou a Europa de maravilhas, eri-
gindo edifícios com as belezas auste-
ras da arte românica e a luminosida-
Acima: a urna com as relíquias de São
de radiante do gótico. O fervor reli- Jacques, o espanhol Jaime Tiago. Abaixo: fachada do Hostal de los
gioso, servindo de ponto de contato e o catalão Jaume. Mas, Reyes Católicos, antigo hospital real e
espiritual entre os povos europeus, na parte ocidental da albergue para peregrinos
Península, Jacomus deu
fez com que todos se sentissem soli-
origem a Yago ou Yagüe,
dários na mesma Fé. de onde nasceria, posteri-
Hoje, transcorridos vários séculos, ormente, o nome espa-
peregrinos do mundo inteiro enchem nhol Santiago. O vocábu-
cada verão as rotas jacobéias. E, che- lo que hoje usamos em
gados à imponente Basílica, acorrem português para nos
logo a rezar ante as relíquias do San- referirmos ao santo tem
origem num falso corte da
to e a dar o tradicional “abraço” à expressão medieval San-
imagem que se venera no altar- t’Yago , que ficou conver-
mor. ! tida em São Tiago.

1) O nome do Apóstolo em hebraico é


Ya’akov (Jacob). Na Idade Média, a
forma latina Iacobus transformou-se
em Jacomus. Desse vocábulo surgi-
ram o italiano Giacomo, o francês
Ilustrações: Geraldo Maragno Jr.

Roncesvalles
Na placa acima se vêem diferentes itinerários do
"Caminho de Santiago", ao longo do qual o peregrino
atravessa históricos povoados, como o de
Roncesvalles, na fronteira da Espanha com a França

51
O santo afresco da Mãe
do Bom Conselho que,
de Scútari (Albânia),
foi conduzido miraculosamente
a Genazzano no ano de 1467,
Cláudio Alves

constitui um dos principais al-


vos de peregrinação dos Arau-
tos do Evangelho. Aos pés de
Maria Santíssima, imploram
sua proteção, auxílio e sabedo-
ria, e também junto a Ela cum-
prem promessas.

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