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GESTÃO DE

CONTRATOS

autor do original
GEORGE WILTON TOLEDO

1ª edição
SESES
rio de janeiro  2015
Conselho editorial  durval corrêa meirelles, luiz alberto gravina belmiro,
ornella pacífico

Autor do original  george wilton toledo

Projeto editorial  roberto paes

Coordenação de produção  rodrigo azevedo de oliveira

Projeto gráfico  paulo vitor bastos

Diagramação  fabrico

Revisão linguística  aderbal torres bezerra

Imagem de capa  nome do autor  —  shutterstock

Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra pode ser reproduzida ou transmitida
por quaisquer meios (eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação) ou arquivada em
qualquer sistema ou banco de dados sem permissão escrita da Editora. Copyright seses, 2015.

Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (cip)

W755g Wilton, George


Gestão de contratos / George Wilton.
Rio de Janeiro : SESES, 2015.
112 p. : il.

isbn: 978-85-5548-005-8

1. Compromisso de compra e venda. 2. Contratos internacionais.


3. Contratos administrativos. 4. Gestão de contratos. I. SESES. II. Estácio.
cdd 338.9

Diretoria de Ensino — Fábrica de Conhecimento


Rua do Bispo, 83, bloco F, Campus João Uchôa
Rio Comprido — Rio de Janeiro — rj — cep 20261-063
Sumário

Prefácio 7

1. Conhecendo o contrato, pressupostos e


requisitos 10
Conhecendo o contrato 10
Gestão de contratos 19

2. Gestão de contratos e contratos com a


administração pública 28
Ferramentas para gestão de contratos 28
Contratos com a administração pública e sua gestão 30

3. Contratos de compra e venda e locação 48

Características, elementos essenciais e obrigações das partes 48


Contrato de locação. conceitos e características. 57

4. Contratos de doação, troca ou permuta, de


empréstimo e da prestação de serviços 66
Doação, natureza, conceito e elementos 66
Contrato de troca ou permuta 68
Do contrato de empréstimo 68
Da prestação de serviços 71
5. Contratos bancários e contratos eletrônicos 86

Contratos bancários 86
Contratos eletrônicos 88
Prefácio
Prezados(a) estudante

A disciplina Gestão de Contratos tem por objetivo abordar temáticas que são
fundamentais ao exercício da gestão, como por exemplo, a formação dos contra-
tos, seus princípios fundamentais, a função social dos contratos, sua classifica-
ção e validade.
Isso será de muita ajuda ao ambiente corporativo na medida que a gestão
dos contratos cada vez mais reclama especialização profissional para gerar bons
resultados que satisfaçam fornecedores, consumidores e refletindo na própria
lucratividade da sociedade empresarial, ou então, no sucesso na gestão de outras
instituições que não tenham por seus objetivo perquirir a lucratividade, como as
organizações não governamentais, instituições filantrópicas, etc.
Também enfocará os contratos em geral e suas formas de extinção.
Importante conhecer ainda que perfunctoriamente as espécies contratuais
mais recorrentes no dia a dia de suas atividades, tais como: contrato de compra e
venda, de troca ou permuta, doação, locação, dentre outros.
Com isso, a proposta da disciplina é iniciar estudos jurídicos referentes aos
contratos, porém, sem a pretensão de levar o assunto a exaustão.
Nunca é demais lembrar que o estudo que se propõe é de suma importância
ao gerenciamento de qualquer ramo de atividade, servindo, pois, como alicerce
para todo desenvolvimento profissional.

Bons estudos e sucesso no aprendizado!


Prof. Me. George Wilton Toledo

7
1
Conhecendo
o contrato,
pressupostos e
requisitos.
1  Conhecendo o contrato, pressupostos e
Requisitos

Neste capítulo vamos estudar a função social e econômica do contrato, bem


como os seus pressupostos e requisitos para a sua formação.
Também será dedicado as alternativas para uma gestão eficiente dos con-
tratos, resultando em grandes benefícios para as sociedades empresariais.
É importante destacar que, embora seja reconhecido as partes a livre inicia-
tiva de formalizar contratos no exercício da vida civil ou nas práticas dos atos ci-
vis, veremos que o direito também oferece balizamento para que essas práticas
não desvirtuem o bem maior – que é o interesse social.

OBJETIVOS
•  Compreender os princípios de formação dos contratos;
•  Conhecer a classificação dos contratos;
•  Estudar a formação dos contratos;
•  A importância de uma boa gestão dos contratos.

REFLEXÃO
Você se lembra como se faz um contrato? Seus princípios fundamentais? Neste capítulo,
estudaremos essas questões, bem como, a forma de gestão eficiente dos contratos.

1.1  Conhecendo o contrato

O contrato pode ser considerado um negócio jurídico bilateral, ou seja, realizado


por duas ou mais pessoas e cujo objeto pode exprimir uma obrigação de dar, fazer
ou não fazer e que altera, cria ou extingue um direito.

10 • capítulo 1
Segundo a autora Maria Helena Diniz (2006),

“contrato é o acordo entre a manifestação de duas ou mais vontades, na conformidade


da ordem jurídica, destinado a estabelecer uma regulamentação de interesses entre as
partes, com o escopo de adquirir, modificar ou extinguir relações jurídicas de natureza
patrimonial”.

O Código Civil de 2002 reservou dois títulos inteiros (V e VI), com capítulos
referentes à formação e espécies de contratos, sendo que, a partir deste capítu-
lo estudaremos os seus principais pontos.

1.1.1  Função econômica e social do contrato

O contrato também possui a sua função econômica, no sentido de ser um valio-


so instrumento para promover a circulação de riquezas, ou ainda, transmissão
de bens ou de somas.
BOKGALLERY | DREAMSTIME.COM

Fonte: http://caixafinanciamento.com

Juntamente com a sua função econômica, o contrato também possui fun-


ção social.
A função social dos contratos foi criada a partir do Novo Código Civil de
2002. Segundo o seu artigo 421, “a liberdade de contratar será exercida em ra-
zão e nos limites da função social do contrato”.
Diante disso, a liberdade de contratar, de pactuar as cláusulas contratuais,
será exercida livremente, porém, respeitando a função social dos contratos.

capítulo 1 • 11
Para maiores informações com relação à Função social dos contratos, o estudante
poderá acessar o site jus.uol.com.br, onde encontramos vários artigos relacionados ao
direito civil, em especial, aos contratos.

A liberdade contratual é reconhecida, mas seu exercício está condiciona-


do à função social do contrato e implica valores de boa-fé e probidade. Logo a
função social dos contratos diminui o alcance do princípio da autonomia da
vontade, ou liberdade contratual, quando estiverem presentes interesses, não
somente individuais, mas, de toda a sociedade (DINIZ, 2006).
Essa função envolve harmonia entre as partes, concessões mútuas, evitando
demandas futuras. A função social do contrato implica a composição de inte-
resses individuais e coletivos e a prevalência do social sobre o individual (MAR-
TINS, 2008).

1.1.2  Pressupostos e requisitos do contrato

Conforme disposto no início deste capítu-


RAPHOTOGRAPHY | DREAMSTIME.COM

lo, o contrato pode ser considerado como


um negócio jurídico, que tem por fim, criar,
modificar ou extinguir um direito. Nesse
sentido, o artigo 104 do Código Civil, dispõe
que a validade do negócio jurídico requer:
agente capaz, objeto lícito, possível, deter-
minado ou determinável e forma prescrita
ou não defesa em lei.
Assim, a validade dos contratos depen-
de de três requisitos (COTRIM, 2008).
•  Capacidade das partes: qualquer
pessoa pode celebrar contrato, des-
de que possua capacidade civil. As-
sim, o contrato eventualmente firmado por pessoa absolutamente inca-
paz, como os menores de 16 anos será considerado nulo.
•  Objeto lícito: o bem jurídico sobre o qual recai a manifestação da von-
tade dos contratantes deve ser lícito, isto é, autorizado pelas normas ju-
rídicas, pela moral e pelos bons costumes. Exemplos de contratos com

12 • capítulo 1
objetos lícitos – contrato de compra e venda de imóveis, contrato de lo-
cação residencial, contrato de trabalho, etc. Não são juridicamente váli-
dos contratos cujos objetos constituem fatos definidos como crimes ou
proibidos pela lei civil.
•  Forma prescrita ou não proibida pela lei: o contrato deve obedecer à for-
ma estabelecida pela lei (como é o caso de contrato solene, ou seja, do
testamento, do casamento, da fiança, etc.) ou não ser proibida por ela
(caso dos contratos não solenes, como a compra e venda de bem móvel).

1.1.3  Etapas para a formação dos contratos

A formação de um contrato ocorre, em primeiro lugar, a partir de uma nego-


ciação entre as partes. Em um primeiro momento, temos a fase das tratativas
ou negociações preliminares. Nessa fase as partes não se obrigam ao cumpri-
mento do contrato, devendo-se é claro, ser observada a boa-fé. A minuta é o ins-
trumento usado nesta fase, mas não tem efeito jurídico, pois não se formou o
consenso. As partes ainda estão determinando o conteúdo da vontade negocial.
Entretanto, apesar da inexistência de força obrigatória, as negociações preli-
minares podem acarretar em responsabilidade civil, quando, por exemplo, uma
das partes agindo de má-fé, causa prejuízo à parte contrária.

1.1.3.1  Proposta ou oferta


Após a fase das tratativas, temos a fase da proposta ou oferta.
Nessa fase, o proponente, nome do primeiro contratante, realiza sua decla-
ração de proposta (também chamada de oferta ou policitação), para o segundo
contratante, também chamado de aceitante, que se manifesta mediante aceita-
ção (COELHO, 2009).
IRINA MAZOVKA | DREAMSTIME.COM

capítulo 1 • 13
Na fase da proposta, poderá haver obrigação de uma das partes. Segundo o
Código Civil, em seu artigo 427, “a proposta de contrato obriga o proponente,
se o contrário não resultar dos termos dela, da natureza do negócio, ou das cir-
cunstâncias do caso”.
Deixa de ser obrigatória a proposta (art. 428, CC):
I. se, feita sem prazo a pessoa presente, não foi imediatamente aceita
(considera-se também presente a pessoa que contrata por telefone ou
por meio de comunicação semelhante);
II. se, feita sem prazo a pessoa ausente, tiver decorrido tempo sufi-
ciente para chegar a resposta ao conhecimento do proponente;
III. se, feita a pessoa ausente, não tiver sido expedida a resposta den-
tro do prazo dado;
IV. se, antes dela ou simultaneamente, chegar ao conhecimento da
outra parte a retratação do proponente.
A oferta ao público equivale à proposta quando encerra os requisitos essen-
ciais ao contrato, salvo se o contrário resultar das circunstâncias ou dos usos
(art. 429, CC). Pode revogar-se a oferta pela mesma via de sua divulgação, desde
que ressalvada esta faculdade na oferta realizada (parágrafo único, art. 429, CC).
O Código de Defesa do Consumidor, também dispõe sobre a oferta de pro-
dutos relacionados às relações de consumo.
Segundo o artigo 30 do Código de Defesa do Consumidor (Lei n. 8.078/90),
toda informação ou publicidade, suficientemente precisa, veiculada por qual-
quer forma ou meio de comunicação com relação a produtos e serviços ofereci-
dos ou apresentados, obriga o fornecedor que a fizer veicular ou dela se utilizar
e integra o contrato que vier a ser celebrado.
Da oferta de produtos, duas consequências derivam para o fornecedor: a)
passa a integrar o contrato e b) obriga ao cumprimento da obrigação subjacen-
te, porquanto a aceitação do consumidor aperfeiçoou o círculo obrigacional e a
relação de consumo (art. 30). Sem esquecer que o fornecedor é solidariamente
responsável pelos atos de seus empregados, prepostos, agentes ou represen-
tantes (art. 34) (ALMEIDA, 2009).
Se o fornecedor de produtos ou serviços recusar cumprimento à oferta,
apresentação ou publicidade, o consumidor poderá, alternativamente e à sua
livre escolha (art. 35 do CDC):
1. exigir o cumprimento forçado da obrigação, nos termos da oferta, apre-
sentação ou publicidade;

14 • capítulo 1
2. aceitar outro produto ou prestação de serviço equivalente;
3. rescindir o contrato, com direito à restituição de quantia eventualmen-
te antecipada, monetariamente atualizada, e perdas e danos.

1.1.3.2  Da aceitação
A aceitação consiste na manifestação de vontade do destinatário, concordando
com a proposta realizada pelo proponente.
O proponente pode fixar prazo para a aceitação. Porém, se a aceitação, por
circunstância imprevista, chegar tarde ao conhecimento do proponente, este
deverá comunicar imediatamente ao aceitante, sob pena de responder por per-
das e danos (art. 430, CC).
Para a conclusão do contrato, a aceitação deverá ocorrer de forma integral
à proposta e no prazo estabelecido na oferta. No entanto, a aceitação fora do
prazo, com adições, restrições ou modificações, importará nova proposta (art.
431, CC).
Em regra, a aceitação deverá ocorrer de forma expressa. Porém, se o negócio
for daqueles em que não seja costume a aceitação expressa, ou o proponente a
tiver dispensado, reputar-se-á concluído o contrato, não chegando a tempo a
recusa (art. 432, CC).
Considera-se também inexistente a aceitação, se antes dela ou com ela che-
gar ao proponente a retratação do aceitante (art. 433, CC).
Os contratos entre ausentes tornam-se perfeitos desde que a aceitação é ex-
pedida, exceto (art. 434, CC):
a) se antes dela ou com ela chegar ao proponente a retratação do aceitante;
b) se o proponente se houver comprometido a esperar resposta;
c) se ela não chegar no prazo convencionado.

1.1.3.3  Do contrato Preliminar


O contrato preliminar é forma de se vincular juridicamente, pois ambas as par-
tes se obrigam a formar o futuro contrato. É, pois, bem diferente da minuta.
O contrato preliminar deve ter todas as informações e requisitos necessários
essenciais ao contrato futuro. Gera obrigação de fazer o contrato e a obrigação
de declarar vontade.
Segundo o artigo 462 do Código Civil, o contrato preliminar, exceto quanto
à forma, deve conter todos os requisitos essenciais ao contrato a ser celebrado.

capítulo 1 • 15
Concluído o contrato preliminar e desde que dele não conste nenhuma
cláusula permitindo o arrependimento, qualquer das partes terá o direito
de exigir a celebração do definitivo, assinando prazo à outra para que o efe-
tive (art. 463, CC). Vale destacar que, o contrato preliminar deverá ser levado
ao registro competente (parágrafo único, art. 463, CC).
Se qualquer das partes deixar de cumprir o contrato preliminar no prazo
estipulado, poderá o juiz, a pedido do interessado, suprir a vontade da parte
inadimplente, conferindo caráter definitivo ao contrato preliminar, salvo se a
isto se opuser a natureza da obrigação (art. 464, CC).
Se, por outro lado, o estipulante não der execução ao contrato preliminar,
poderá a outra parte considerá-lo desfeito, e pedir perdas e danos (art. 465, CC).
Vale destacar que, se a promessa de contrato for unilateral, o credor, sob
pena de ficar a mesma sem efeito, deverá manifestar-se no prazo nela previsto,
ou, inexistindo este, no que lhe for razoavelmente assinado pelo devedor (art.
466, CC).

1.1.3.4  Arras ou Sinal


Podemos ter também, na fase preliminar do contrato a existência de arras ou
sinal.
Arras ou sinal é o adiantamento de quantia em dinheiro ou outra coisa fun-
gível (consumível) entregue por um a outro contraente, com o objetivo de asse-
gurar o cumprimento da obrigação. Pode ser considerado princípio do negócio
e de seu pagamento (MARTINS, 2008).
Se, por ocasião da conclusão do contrato, uma parte der à outra, a Título de
arras, dinheiro ou outro bem móvel, deverão as arras, em caso de execução, ser
restituídas ou computadas na prestação devida, se do mesmo gênero da princi-
pal (art. 417, CC).
Vale destacar também que, se a parte que deu as arras não executar o con-
trato, poderá a outra tê-lo por desfeito, retendo-as; se a inexecução for de quem
recebeu as arras, poderá quem as deu haver o contrato por desfeito e exigir sua
devolução mais o equivalente, com atualização monetária segundo índices ofi-
ciais regularmente estabelecidos, juros e honorários de advogado (art. 418, CC).
A parte inocente poderá, ainda, pedir indenização suplementar, se provar
maior prejuízo, valendo as arras como taxa mínima. Pode, também, a parte ino-
cente exigir a execução do contrato, com as perdas e danos, valendo as arras
como o mínimo da indenização (art. 419, CC).

16 • capítulo 1
Por fim, se no contrato for estipulado o direito de arrependimento para
qualquer das partes, as arras ou sinal terão função unicamente indenizatória.
Nesse caso, quem as deu perdê-las-á em benefício da outra parte; e quem as re-
cebeu devolvê-las-á, mais o equivalente. Em ambos os casos não haverá direito
a indenização suplementar (art. 420, CC).

1.1.4  Resilição, rescisão, distrato e cessação do contrato


KENNETH MAN | DREAMSTIME.COM

A forma natural de extinção do contrato é por meio de sua execução, ou seja,


de seu cumprimento. Incluam-se aí a consignação em pagamento, o pagamen-
to com sub-rogação, a dação, a compensação e outras formas, satisfativas ou
não, de extinção das obrigações.
Os contratos por tempo indeterminado podem se extinguir por denúncia,
forma de resilição unilateral.
Segundo o artigo 475 do Código Civil, a parte lesada pelo inadimplemento pode
pedir a resolução do contrato, se não preferir exigir-lhe o cumprimento, cabendo,
em qualquer dos casos, indenização por perdas e danos.
A resilição bilateral se dá pelo distrato, que exige acordo de vontade das par-
tes. A resilição unilateral também pode ocorrer por resgate e revogação. Esses
últimos têm exemplo no contrato de mandato.
Ainda, extinguem-se os contratos também por cessação, ou morte de uma
das partes, se a obrigação for personalíssima ou se o contrato o previr.
Nos contratos bilaterais, nenhum dos contratantes, antes de cumprida a
sua obrigação, pode exigir o implemento da do outro (art. 476, CC). É chamado
de exceção dos contratos não cumpridos.

capítulo 1 • 17
Se, depois de concluído o contrato, sobrevier a uma das partes contratan-
tes diminuição em seu patrimônio capaz de comprometer ou tornar duvidosa
a prestação pela qual se obrigou, pode a outra recusar-se à prestação que lhe
incumbe, até que aquela satisfaça a que lhe compete ou dê garantia bastante de
satisfazê-la (art. 477, CC).

1.1.5  Da resolução por onerosidade excessiva

Embora o princípio pacta sunt servanda ou da intangibilidade do contrato seja


fundamental para a segurança nos negócios e fundamental a qualquer organiza-
ção social, os negócios jurídicos podem sofrer as consequências de modificações
posteriores. Trata-se do princípio da revisão dos contratos ou da onerosidade ex-
cessiva, do qual determina que, os contratantes poderão pleitear judicialmente a
revisão de determinada cláusula contratual (GONÇALVES, 2007).
ALEXSTAR | DREAMSTIME.COM

Segundo o artigo 478 do Código Civil, nos contratos de execução continu-


ada, se a prestação de uma das partes tornar-se excessivamente onerosa, com
extrema vantagem para a outra, em virtude de acontecimentos extraordinários
e imprevisíveis, poderá o devedor pedir a resolução do contrato (art. 478, CC).
A resolução poderá ser evitada, oferecendo-se o réu a modificar equitativa-
mente as condições do contrato (art. 479, CC).
Se no contrato as obrigações couberem a apenas uma das partes, poderá ela
pleitear que a sua prestação seja reduzida, ou alterado o modo de executá-la, a
fim de evitar a onerosidade excessiva (art. 480, CC).

18 • capítulo 1
1.1.6  Do arrependimento

O arrependimento é permitido a qualquer uma das partes, quando expressa-


mente previsto no contrato. Nesse caso, há necessidade de uma declaração uni-
lateral da vontade, sujeitando-se, porém, à perda do sinal, ou à sua devolução
em dobro, sem, no entanto, pagar indenização suplementar. O direito de arre-
pendimento deve ser exercido no prazo pactuado ou antes da execução do con-
trato, se nada foi estipulado a esse respeito, pois, o cumprimento do contrato,
importará renúncia tácita àquele direito (GONÇALVES, 2007).

1.1.7  Da desistência do contrato segundo o Código de Defesa do Consumidor

A norma do art. 49 foi criada para dar maior proteção aos consumidores que
adquirem produtos ou serviços fora do estabelecimento comercial, sobretudo
(NUNES, 2009):
a) em seu domicílio, recebendo a visita do vendedor;
b) pelo telefone (vendas por telemarketing);
c) mediante correspondência (mala direta, carta resposta, etc.);
d) por meio eletrônico, como, por exemplo, pela internet;
e) assistindo à TV (e comprando pelo telefone, via correio, internet, etc.).

Vale ressaltar que, se o consumidor exercitar o direito de arrependimento


previsto neste artigo, os valores eventualmente pagos, a qualquer título, duran-
te o prazo de reflexão, serão devolvidos de imediato, monetariamente atualiza-
dos (parágrafo único, art. 49, CDC).

1.2  Gestão de contratos


MARIANMOCANU | DREAMSTIME.COM

capítulo 1 • 19
1.2.1  Por que controlar os contratos?

Os contratos são utilizados pelas empresas para consolidar suas relações em-
presariais. Para que suas relações se tornem bem sucedidas é necessário lan-
çar mão de um sistema que possa ser de auxílio para obter o controle desses
contratos, aperfeiçoando os relacionamentos que a empresa mantém com seus
fornecedores, clientes ou consumidores. Em resumo poderemos alinhar as
principais razões para se desenvolver o gerenciamento dos contratos, porém,
sem a pretensão de levar a exaustão, porque existem ainda outros motivos que
por falta tempo não poderiam ser tratados na proposta deste estudo:
a) gerenciar os contratos com clientes e fornecedores, seja qual for a moda-
lidade do contrato (compra, venda, aluguel, manutenção, prestação de
serviço e todos os documentos vinculados a esses contratos);
b) controlar a sua vigência, os seus reajustes alertando o gestor sobre possí-
veis pendencias e ocorrências;
c) controle de seus respectivos aditivos;
d) controle de sua renovação com fornecedores;
e) controle quanto ao pagamento e cumprimento do contrato;
f) controle quanto ao cumprimento dos prazos e das cláusulas avençadas.

1.2.2  Modelos de gestão de contratos

Estudiosos da área assinalam cada vez mais a necessidade de se realizar uma


gestão do contrato voltada para cada fase do seu ciclo de vida, conhecido por
CLM (Contract Lifecycle Management). Essa forma de gestão acompanha des-
de a fase de criação do contrato, a sua execução e a sua análise, porém, de forma
sistematizada com o objetivo de melhorar os atributos operacionais e financei-
ros destes contratos. (Freitas, 2009).

1.2.3  Frameworks de trabalho

Para a gestão de contratos existem práticas consolidadas em várias áreas apre-


sentando bons resultados, como por exemplo (PMBOK Project Management
Base of Knowledge), destinado à área de Gestão de Projetos e (CMMI Capability
Maturity Model Integration), direcionado para fomentar o sucesso da gestão de
Projetos no desenvolvimento de sistemas de informação .

20 • capítulo 1
Outras práticas existem e que poderão atender a especificidade exigida de
cada gestão, certamente com novas introduções nesta seara.

1.2.4  Ciclo de vida dos contratos

O contrato possui basicamente duas fases, podendo ser classificada como fase
formal e fase de execução.
A fase formal compreende o período de sua requisição até a sua assinatura
e a fase de execução que se inicia logo após a sua assinatura se estendendo até
o seu encerramento (Freitas, 2009).
Importante é que em todo o seu ciclo esse contrato receba acompanhamen-
to diferenciado pelos gestores. Para que essa gestão seja eficiente, conforme já
mencionado, importante lançar mãos de instrumentais para que promover a
efetividade desses controles.
Portanto, o efetivo controle dos contratos perpassa em várias searas, tais
como: a tramitação dos documentos entre os departamentos, fornecedores e/
ou clientes com o controle do tempo para as devolutivas necessárias. Acompa-
nhamento efetivo e preventivo quanto ao cumprimento das cláusulas avença-
das, evitando-se com isso não incorrer no erro de se aguardar até que ocorra a
inexecução total do contrato para adoção das medidas cabíveis na espécie.

Referências legislativas

LEI No 10.406, DE 10 DE JANEIRO DE 2002. – (Código Civil Brasileiro de


2002).
[...]
Art. 104. A validade do negócio jurídico requer:
I - agente capaz;
II - objeto lícito, possível, determinado ou determinável;
III - forma prescrita ou não defesa em lei.

[...]
Art. 417. Se, por ocasião da conclusão do contrato, uma parte der à outra, a
título de arras, dinheiro ou outro bem móvel, deverão as arras, em caso de exe-
cução, ser restituídas ou computadas na prestação devida, se do mesmo gênero
da principal.

capítulo 1 • 21
Art. 418. Se a parte que deu as arras não executar o contrato, poderá a outra
tê-lo por desfeito, retendo-as; se a inexecução for de quem recebeu as arras, po-
derá quem as deu haver o contrato por desfeito, e exigir sua devolução mais o
equivalente, com atualização monetária segundo índices oficiais regularmente
estabelecidos, juros e honorários de advogado.
Art. 419. A parte inocente pode pedir indenização suplementar, se provar
maior prejuízo, valendo as arras como taxa mínima. Pode, também, a parte ino-
cente exigir a execução do contrato, com as perdas e danos, valendo as arras
como o mínimo da indenização.
Art. 420. Se no contrato for estipulado o direito de arrependimento para
qualquer das partes, as arras ou sinal terão função unicamente indenizatória.
Neste caso, quem as deu perdê-las-á em benefício da outra parte; e quem as re-
cebeu devolvê-las-á, mais o equivalente. Em ambos os casos não haverá direito
a indenização suplementar.
[...]
Art. 421. A liberdade de contratar será exercida em razão e nos limites da
função social do contrato.
[...]
Art. 430. Se a aceitação, por circunstância imprevista, chegar tarde ao co-
nhecimento do proponente, este comunicá-lo-á imediatamente ao aceitante,
sob pena de responder por perdas e danos.
Art. 431. A aceitação fora do prazo, com adições, restrições, ou modifica-
ções, importará nova proposta.
Art. 432. Se o negócio for daqueles em que não seja costume a aceitação ex-
pressa, ou o proponente a tiver dispensado, reputar-se-á concluído o contrato,
não chegando a tempo a recusa.
Art. 433. Considera-se inexistente a aceitação, se antes dela ou com ela che-
gar ao proponente a retratação do aceitante.
[...]
Art. 462. O contrato preliminar, exceto quanto à forma, deve conter todos os
requisitos essenciais ao contrato a ser celebrado.
Art. 463. Concluído o contrato preliminar, com observância do disposto no
artigo antecedente, e desde que dele não conste cláusula de arrependimento,
qualquer das partes terá o direito de exigir a celebração do definitivo, assinan-
do prazo à outra para que o efetive.
Parágrafo único. O contrato preliminar deverá ser levado ao registro com-
petente.

22 • capítulo 1
Art. 464. Esgotado o prazo, poderá o juiz, a pedido do interessado, suprir a
vontade da parte inadimplente, conferindo caráter definitivo ao contrato preli-
minar, salvo se a isto se opuser a natureza da obrigação.
Art. 465. Se o estipulante não der execução ao contrato preliminar, poderá a
outra parte considerá-lo desfeito, e pedir perdas e danos.
Art. 466. Se a promessa de contrato for unilateral, o credor, sob pena de ficar
a mesma sem efeito, deverá manifestar-se no prazo nela previsto, ou, inexistin-
do este, no que lhe for razoavelmente assinado pelo devedor.

REFLEXÃO
Neste capítulo estudamos de forma especifica, o instituto dos contratos previsto no Direito
Civil. Analisamos a formação dos contratos, bem como a importância de se ter uma gestão
eficiente dos contratos. Como tudo na vida, aprendemos que o contrato tem um início, meio
e fim. É importante aos gestores permanecerem atentos para as peculiaridades que existem
em cada uma dessas fases de vida dos contratos.
Também estudamos que a ordem jurídica reconhece a liberdade de se contratar tudo
aquilo que não seja ilícito, porém, não há permissão para o abuso ou manobras que atentem
contra o interesse social – neste aspecto gostaria de fazer um convite a você querido aluno
e futuro gestor – o quanto a ética empresarial e a responsabilidade social podem servir de
balizamento e de instrumentais valiosas no exercício da boa gestão comprometida com essa
mesma ética empresarial e com a responsabilidade social.

ATIVIDADE
1. Explique a função social e econômica do contrato.

2. Por que é importante controlar os contratos?

capítulo 1 • 23
LEITURA RECOMENDADA
GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito Civil brasileiro: contratos e atos unilaterais. Editora
Saraiva, 2007.

Esta obra apresenta uma visão ampla dos contratos. Aborda, de forma didática, os temas
essenciais do direito civil, em especial, os contratos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, João Batista. A proteção jurídica do consumidor. 7ª Ed. São Paulo: Saraiva,
2009;

______________. Manual de direito do consumidor. 21ª ed. São Paulo: Saraiva, 2007;

COELHO, Fábio Ulhoa. Curso de direito civil: contratos. 3ª ed. São Paulo: Saraiva, 2009;

COTRIM, Gilberto. Direito fundamental: instituições de direito público e privado.


22ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2008.

GAGLIANO, Pablo Stolze; PAMPLONA FILHO, Rodolfo. Novo curso de direito civil: con-
tratos em espécie. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2009;

GAMA, Hélio Zaghetto. Curso de direito do consumidor. 3ª Ed. Rio de Janeiro: Forense,
2008;

GONÇALVES, Carlos Roberto. Direito civil brasileiro: contratos e atos unilaterais. São
Paulo: Saraiva, 2007;

GRINOVER, Ada Pellegrini (et al). Código brasileiro de defesa do consumidor: comen-
tado pelos autores do anteprojeto. 9ª Ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2007;

NUNES, Rizzato. Comentários ao código de defesa do consumidor. 4ª Ed. São Paulo:


Saraiva, 2009;

SILVA, José Alberto Quadros de Carvalho. Código de defesa do consumidor anotado


e legislação complementar. 6ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2008.

24 • capítulo 1
VENOSA, Sílvio de Salvo. Direito civil: contratos em espécie. 4ª. Ed. São Paulo: Atlas, 2004;

VIANA, Marco Aurélio da Silva. Curso de direito civil: contratos. Rio de Janeiro: Forense,
2008.

FREITAS, W.. Gestão de Contratos: melhores práticas voltadas aos contratos empresa-
riais. São Paulo: Editora Atlas, 2009.

COTRIM, G.. Direito Fundamental: instituições de direito público e privado. 22ª ed. São
Paulo: Saraiva, 2008.

NO PRÓXIMO CAPÍTULO
No próximo capítulo estudaremos gestão dos contratos parte II e os contratos com a Admi-
nistração Pública.

capítulo 1 • 25
2
Gestão de
contratos e
contratos com
a administração
pública
2  Gestão de contratos e contratos com a
administração pública

Neste capítulo vamos estudar a continuidade da gestão de contratos e os con-


tratos com a Administração Pública.
Também serão analisadas alternativas para uma gestão eficiente dos con-
tratos, resultando em grandes benefícios para as sociedades empresariais.
Abordaremos as principais definições e categorias ligadas aos contratos ad-
ministrativos, iniciando-se pela adequação dessa espécie contratual aos princí-
pios da teoria geral dos contratos.

OBJETIVOS
Iniciar o estudo do contrato administrativo a partir de seus elementos essenciais e das leis
que o disciplinam no âmbito do direito positivo brasileiro, bem como dar continuidade nas
formas de gestão e controle dos contratos de um modo geral.

REFLEXÃO
Já ouviu falar de que o contrato administrativo encontra suas raízes no direito privado, embora
tenha assumido individualidade própria na forma de contratação por parte do Poder Públi-
co? Pois bem, o surgimento de um instrumento especial para a contratação de atividades
pelo poder público (vale dizer, o contrato administrativo) não o afastou da necessidade de,
eventualmente, valer-se de outros contratos essencialmente privados. A questão é saber se
também a estes se aplica o direito público, em virtude da presença da Administração. Este
capítulo nos propõe este exame, além da importante análise dos fundamentos legais do
contrato administrativo.

2.1  Ferramentas para gestão de contratos

O gerenciamento eficaz dos contratos depende de ferramentas próprias e que


sejam desenvolvidas através de um trabalho de equipe envolvendo e integrando
diversos setores – principalmente os profissionais dos setor de TI. Além disso

28 • capítulo 2
primordial uma comunicação eficiente envolvendo esses setores, para desen-
volver um processo rápido, eficiente e atualizado para a melhoria dos produtos
e serviços oferecidos. Por exemplo, como cumprir a legislação no que tange ao
arquivamento de documentos (contratos, apólices, e demais papéis) de forma
segura, eficiente e para pronta consulta?
ENDOSTOCK | DREAMSTIME.COM

Parece difícil de se acreditar, mas uma prática costumeira dos gestores é


manter os contratos guardados em gavetas por longos períodos e com essa prá-
tica excluindo a possibilidade de ter um acompanhamento efetivo, inclusive,
impedindo – por exemplo – de avaliar os riscos associados na fase de execução
desses contratos (Freitas,2008).
Diante da problemática apresentada surgiram várias ferramentas para per-
mitir que os contratos recebam uma gestão efetiva. O Sistema GED – Gerencia-
mento Eletrônico de Documento disponibiliza seu acesso no formato digital.
Sistema SGC – Sistema de Gestão de Contratos possibilita o controle do contra-
to desde a sua fase de criação até o seu pagamento, porém, impondo a neces-
sidade de integração entre os sistemas da empresa com a utilização de alguns
recursos como por exemplo: catalogação, controle de atividades / eventos e
controle de acessos autorizados, etc. (Freitas, 2008).
Inegáveis os benefícios que poderão advir para a gestão eficiente funda-
mentada através de um controle rígido dos contratos: trabalho desenvolvido
com maior segurança acelerando o processo de assinatura e formação dos con-
tratos. Expandir as operações empresariais na medida em que terá maiores

capítulo 2 • 29
condições de gerenciar seus contratos sem a necessidade de contratar novos
colaboradores para desenvolverem essa matriz.
Há a repercussão também junto aos fornecedores obtendo-se melhores
prestações de serviços ou nos contratos de fornecimento – já que haverá um
acompanhamento ágil e adequado.
Também ocorrem desdobramentos na área jurídica, já que preventivamen-
te se reduz os riscos de violar dispositivos legais durante o ciclo de vida contra-
tual que repercutem na esfera econômica e financeira da sociedade empresa-
rial ou da instituição.

2.2  Contratos com a administração pública e sua gestão


PIXATTITUDE | DREAMSTIME.COM

O contrato administrativo revela-se de extrema importância aos propósitos


definidos pela Administração Pública moderna. Muito embora sua essência esteja
ligada ao direito privado, a figura do contrato tem sido cada vez mais empregada
nas relações estabelecidas pelo Estado com a iniciativa privada. Isso se justifica
pela conveniência de se permitir que a própria sociedade, por meio de seus setores
tecnicamente preparados, assuma o desenvolvimento de atividades e serviços es-
sencialmente públicos.
Com efeito, a partir da Constituição Federal de 1988, o perfil atribuído ao
poder público na área econômica não mais se ajusta ao intervencionismo esta-
tal absoluto, pelo qual o Estado socorre todas as necessidades e conveniências
sociais contando exclusivamente com seu aparelho administrativo. A própria
continuidade do serviço público e sua adequação pelos critérios de tempo e
qualidade, que se impõem à atividade estatal enquanto exigências inafastáveis,
são diretamente favorecidas pela delegação de atividades ao particular.

30 • capítulo 2
Nesse sentido, a difusão e aprimoramento do contrato administrativo pos-
sibilitam uma atuação mais eficiente do Estado no cumprimento de suas obri-
gações junto à coletividade, ao mesmo tempo em que a contempla com servi-
ços executados com maior rigor profissional e técnico.
As relações de parceria do poder público fomentam a própria expansão eco-
nômica, ao possibilitar a execução de serviços de grande extensão e a realiza-
ção de importantes obras por setores privados, impulsionando a produção e
circulação de riqueza. Isso permite identificar o contrato administrativo como
fenômeno do direito econômico, não somente enquanto instrumento do inte-
resse estatal.
Na perspectiva do contratado, o conhecimento das peculiaridades do con-
trato administrativo e de suas modalidades lhe permite estabelecer relações
contratuais adequadas a seus interesses, garantindo-lhe a lucratividade digna
de quem oferece, com qualidade e pontualidade, tarefas que incumbiriam ao
poder público assumir e executar. É por isso que a compreensão das caracterís-
ticas, mecanismos e ferramentas aplicados a essa modalidade contratual é de-
safio aos operadores jurídicos que atuam no âmbito administrativo, mas que,
sendo superado, lhes garante destaque em seu segmento profissional.
Diante disso, vamos buscar a definição do que seja contrato administrativo.
Contrato administrativo é o acordo que a Administração Pública, cumprin-
do preceitos do direito público, realiza com o particular ou mesmo com outra
entidade administrativa, para atender a certa necessidade ou conveniência de
interesse social.
O contrato administrativo se apresenta como acordo formal, uma vez que
precisa respeitar solenidades estabelecidas; consensual, por decorrer de uma
dupla manifestação de vontade, não sendo imposto pela Administração; one-
roso, ao envolver remuneração; comutativo, por estabelecer vantagens e sacrifí-
cios recíprocos; e “intuitu personae”, por exigir sua execução pessoal por quem
contratou com o poder público.
Além disso, o contrato administrativo caracteriza-se pelos seguintes as-
pectos: obediência ao rito procedimental estabelecido pela lei (licitação, re-
serva de recursos orçamentários etc.); existência de cláusulas exorbitantes,
que garantem privilégios à Administração Pública (alteração e rescisão uni-
lateral, imposição de penalidades etc.); previsão de garantias definidas pela
lei; caráter mutável do contrato, para estar ajustado de forma permanente ao
interesse público.

capítulo 2 • 31
A subordinação do contratado ao poder estatal se faz sentir também no
acompanhamento da execução contratual. Ainda que não expressamente
contemplada, a prerrogativa do Estado em supervisionar, acompanhar, fis-
calizar e intervir nesse cumprimento se considera íncita a qualquer acordo
administrativo.

CONCEITO
A Administração Pública aqui considerada refere-se tanto à direta quanto à indireta, tendo
em vista que também as entidades descentralizadas realizam acordos de conteúdo essen-
cialmente administrativo. Para simplificar a referência, passaremos a tratar o Estado-contra-
tante pela designação Administração, sem o qualificativo Pública, quando a objetividade da
exposição o justificar.

Isso possibilita que a Administração interfira em questões como execução


do projeto, cronograma de trabalho e qualidade do material empregado, poden-
do modificar solitariamente o acordo para que atenda à conveniência pública,
embora a alteração do projeto não seja possível sem a anuência do seu autor.
Não significa, por outro lado, que o poder de controle contratual elimine a
autonomia do particular no âmbito de suas atribuições e responsabilidades,
até porque a interferência estatal, nesse caso, caracterizaria um fator de deses-
tabilização do contrato. Além disso, o zelo pela adequada execução da obra ou
serviço continua sendo dever do contratado e não incumbência primária do Es-
tado, circunstância que lança sobre o particular o ônus de arcar com os danos
oriundos de sua negligência ou ineficiência.
Constatando-se paralisação ou retardamento da obra que resulte em graves
prejuízos, o poder de controle do contrato permite ao poder público intervir na
execução do serviço e assumir os trabalhos. Nessa hipótese, o Estado participa
com mão de obra e material próprios, fazendo-se substituir integralmente ao
particular enquanto não retomada a normalidade das tarefas ou até que se en-
cerre o acordo.

32 • capítulo 2
2.2.1  Conteúdo dos contratos administrativos

O edital é considerado a matriz do contrato administrativo, pois nele se encon-


tram o objeto e todas as regras fundamentais do futuro acordo entre Adminis-
tração e particular. Nesses termos, o conteúdo do contrato administrativo é
essencialmente aquele informado no edital e eventualmente alterado por pro-
postas com as quais o Estado concordou.
Embora sejam naturais alguns ajustes, não se admite que o acordo se afaste
acentuadamente dos seus termos originais, especialmente quando a alteração
possa comprometer o interesse da Administração. Por outro lado, é extrema-
mente favorável que a Administração promova modificações que tragam mais
benefícios à sociedade, ainda que com algum distanciamento de pontos funda-
mentais do edital.
O conteúdo do contrato administrativo se expressa basicamente em cláusu-
las necessárias e cláusulas acessórias. As primeiras se referem ao objeto contra-
tual e às ferramentas indispensáveis à sua realização, sem as quais o acordo se
considera nulo, ao passo que, as segundas, apenas auxiliam no correto enten-
dimento do contrato, fornecendo principalmente ferramentas interpretativas.
Embora haja naturais variações entre os contratos, constituem cláusulas
necessárias, ou essenciais, as que definam o objeto e seus elementos caracte-
rísticos; as que estabeleçam o regime de execução da obra ou do serviço ou a
modalidade de fornecimento; as que fixem preço e as condições de pagamento,
os critérios, data-base e periodicidade do reajustamento de preços; os critérios
de atualização monetária entre a data do adimplemento das obrigações e a do
efetivo pagamento; as que marquem os prazos de início de etapas de execução,
conclusão, entrega, observação e recebimento definitivo, conforme o caso; as
que indiquem o valor e os recursos para atender às despesas contratuais, com
a sua classificação funcional programática e a categoria econômica; as que dis-
criminem os direitos e obrigações das partes e fixem as penalidades e o valor
das multas; as que estabeleçam os casos de rescisão do contrato; as que pres-
crevam as condições de importação, a data e a taxa de câmbio para conversão,
quando for o caso.
Vale observar que, conforme o conteúdo peculiar do contrato e seus objeti-
vos, outras cláusulas podem ser acrescidas e reputadas como essenciais, desde
que sua falta possa comprometer o adequado cumprimento do acordo, o que
se dá principalmente quando dirigidas a seu objeto. Pode-se também apontar a

capítulo 2 • 33
existência de cláusulas implícitas, que, mesmo não constando abertamente do
acordo, podem ser consideradas presentes. São dessa natureza cláusulas exor-
bitantes como as que preveem a rescisão ou alteração unilateral do contrato
pelo poder público, a execução das atividades pela própria Administração para
assegurar a continuidade do serviço público paralisado, dentre outras.

2.2.2  Modificação dos contratos administrativos, rescisão e sanções


administrativas

A possibilidade de alteração unilateral do contrato administrativo é da essên-


cia do próprio acordo de que o Estado é parte na condição de representante do
interesse público. Entende-se que a Administração sempre dispõe de tal prer-
rogativa, ainda que não exista cláusula expressa nesse sentido.
Por essa razão, o particular não recebe o direito de imutabilidade do acordo,
como se estabelece para os acordos privados em virtude do pacta sunt servan-
da. Aplica-se aos contratos administrativos o jus variandi, direito que faculta à
Administração modificar o acordo que não mais reproduza o interesse coletivo.
O fundamento legal desse expediente é o art. 65 da Lei nº 8.666/93.
Por outro lado, não se trata de um privilégio irrestrito, uma vez que a alte-
ração unilateral só pode alcançar as chamadas cláusulas regulamentares, tam-
bém chamadas cláusulas de serviço. Essas cláusulas referem-se ao objeto do
contrato e ao modo de sua realização. Sendo assim, regulamentam o conteúdo
específico do acordo e os procedimentos necessários a seu cumprimento.
A alteração unilateral do contrato administrativo se justifica pelo fato de que novas
tecnologias de serviço e obras vão surgindo a favor da sociedade, não fazendo senti-
do que a Administração fique vinculada a instrumentos já superados em função dos
acordos que fez com a iniciativa privada. A flexibilidade na modificação das condições
contratuais referentes às atividades do contratado, por conseguinte revela-se indis-
pensável a que o Estado atenda à conveniência social na execução de obras e serviços.
Ensina a melhor doutrina que a autoridade estatal para modificar o contra-
to mesmo a contragosto do particular provém de norma de ordem pública e,
nesse sentido, sobrepõe-se ao interesse privado e ao próprio arbítrio do Estado,
que não pode renunciar a esse direito.
A modificação unilateral do contrato pela Administração não a isenta de
preservar o chamado equilíbrio financeiro do acordo. Isso implica que o parti-
cular deve ser compensado economicamente caso a alteração lhe traga prejuí-

34 • capítulo 2
zo. É obrigação do Estado manter o padrão remuneratório fixado inicialmente,
o que não se pode violar a pretexto de se atender ao interesse público.
A justificativa é que estão imunes a uma alteração unilateral as chamadas
cláusulas econômicas, que definem a remuneração e demais direitos do con-
tratado, fixando uma equação financeira a se manter durante o cumprimento
da avença. Daí porque as alterações resultantes em perdas financeiras ao parti-
cular impõem que ele seja indenizado.
Reflexo da supremacia do interesse público, de que a Administração é re-
presentante, o direito de rescisão unilateral do contrato administrativo autori-
za o rompimento do acordo e imposição de penalidades ao Estado, consequên-
cia aplicada ao particular que abandona um acordo.
Trata-se de direito regulado pelo art. 78 da Lei nº 8.666/93, I a XII, a ser exer-
cido nos termos do art. 79, I, do mesmo diploma legal. Essa prerrogativa tam-
bém se considera norma de ordem pública, justificando-se pela exigência de
continuidade do serviço público, mas sempre dependendo de uma justa causa,
uma vez que o administrador apenas pode romper o acordo com base na lei ou
nas cláusulas contratuais.
Tendo decidido pelo rompimento do acordo, cabe à Administração comu-
nicá-lo ao particular, expondo as razões dessa atitude. Também é necessário
assegurar ao contratado o direito de defesa, cujo desrespeito importa a própria
invalidação do rompimento. Mais uma vez, o particular faz jus à reparação dos
prejuízos experimentados.
Revela-se de grande importância à solidez e estabilidade das relações entre
a Administração Pública e seus contratados, o que se denomina equilíbrio eco-
nômico ou equilíbrio financeiro. Trata-se da necessária correlação entre a ati-
vidade prestada pelo particular e sua justa remuneração pelo Estado, que deve
acompanhar todo o cumprimento do acordo.
Tal equilíbrio pode se expressar em números absolutos ou na chamada
cláusula de escala móvel, que permite acompanhar as alterações de custo da
obra e determinar o ajuste do acordo à nova realidade. Cumpre salientar que a
equação financeira projetada de início deve-se manter ainda que se alterem as
cláusulas regulamentares.
Segundo dispõe a Constituição de 1988, em seu art. 37, XXI, a proteção ao
equilíbrio econômico do contrato administrativo já tem início na proposta
apresentada ao poder público, no que o texto constitucional é seguido em di-
versos momentos pela Lei de Licitações.

capítulo 2 • 35
A Carta Magna literalmente determina que sejam “mantidas as condições
efetivas da proposta”, tendo em vista que, muito embora prepondere o interes-
se público, o particular deve ter respeitado seu direito à lucratividade da forma
como se convencionou. O atendimento à equivalência das prestações torna-se
imperioso ainda que se trate de um acordo desigual na sua essência. Na rea-
lidade, o particular já ingressa no contrato em posição desprivilegiada e não
seria razoável que, por conta de alterações nos serviços a serem executados, sua
situação fosse ainda mais agravada.
Há que se reconhecer o natural interesse do contratado em lucrar com a ati-
vidade, de onde resulta sua prerrogativa em exigir a manutenção das condições
econômicas inicialmente definidas. É de se ponderar, além disso, que manter
as condições estipuladas implica não somente preservar os padrões originais
de remuneração, mas outros fatores de natureza econômica cuja modificação
possa desequilibrar a equação financeira originária.
As cláusulas referentes, por exemplo, a tempo e forma de pagamento, aos ti-
pos de material empregados e ao prazo de execução da obra podem acarretar pre-
juízos ao contratado, conforme a modificação ocasionada pelo poder público.
O art. 58, IV, da Lei de Licitações confere à Administração o direito de pu-
nir o contratado que esteja em falta com suas obrigações. Trata-se de mais um
elemento peculiar ao contrato administrativo, ausente nos acordos privados.
Nestes, ao prejudicado só resta acionar o Poder Judiciário para requerer o cum-
primento compulsório da prestação, enquanto naquele é a própria Administra-
ção Pública que impõe as penalidades cabíveis.
Entende-se que tal prerrogativa é desdobramento do poder de controle
contratual reconhecido ao Estado, pois de nada valeria a capacidade de acom-
panhar a obra ou serviço se não fosse possível punir diretamente o particular
inadimplente. Aplica-se aqui o princípio da autoexecutoriedade dos atos admi-
nistrativos, pelo qual a Administração faz cumprir seus acordos e estabelece
punições sem a intervenção do Poder Judiciário, a não ser que se trate de co-
branças não atendidas pelo contratado.

36 • capítulo 2
© KENNETH MAN | DREAMSTIME.COM

A lei prevê como punições possíveis a advertência, a multa, a rescisão unila-


teral do contrato, da qual resulta a retomada da atividade pela Administração
Pública, a suspensão provisória e a declaração de inidoneidade para licitar e
contratar com o Estado. Embora o particular seja a parte que dá ensejo a tais
medidas, a Administração deve naturalmente remunerá-lo pelos serviços pres-
tados, vinculando-se ainda a pagar as indenizações eventualmente reclamadas
em processo judicial ou administrativo.

Não se afasta ainda, a possibilidade de enquadramento criminal a depender da conduta


dos envolvidos, conforme os artigos 91 a 97 da Lei de Licitações.

2.2.3  Duração dos contratos administrativos e sua fiscalização

A lei nº 8.666/93 disciplina o tema do prazo contratual e da prorrogação do


acordo em seu art. 57, estabelecendo no § 3º que é proibida a contratação por
prazo indeterminado.
De um modo geral, o prazo do contrato administrativo equivale ao prazo
do crédito orçamentário com base no qual foi elaborado. Tendo em vista que o
crédito orçamentário corresponde a um ano, esse acaba sendo o período mais
comum de vigência do contrato administrativo. Entende a doutrina que, se o
acordo foi elaborado no último quadrimestre do ano, será válido até o final do
ano seguinte (ver art. 167, parag. 2º, da Constituição Federal).

capítulo 2 • 37
Tal regra poderá ser excepcionada, permitindo-se prazos maiores aos con-
tratos, nas seguintes hipóteses: contratos referentes a projetos cujos produtos
estejam incluídos no plano plurianual; serviços de prestação contínua (como
vigilância, limpeza etc.), cujos contratos podem ser prorrogados por iguais e su-
cessivos períodos, não se podendo ultrapassar o máximo de 60 meses, aumenta-
do de mais um ano em casos excepcionais; acordos referentes a aluguel de equi-
pamentos e ao uso de programas de informática, que podem durar até 48 meses.
A fiscalização da obra, serviço ou funcionamento constitui tarefa essencial
para que o trabalho executado corresponda fielmente ao conteúdo do contrato
administrativo. Ela envolve não somente a análise do material empregado, mas
o desenvolvimento da tarefa em todos os seus aspectos, inclusive no que se re-
fere ao cumprimento dos prazos.
O ato de fiscalizar o trabalho, contudo, não caracteriza uma assunção de
responsabilidade pela Administração, continuando o contratado vinculado so-
litariamente ao bom cumprimento de suas atribuições e a arcar com o ônus
derivado de seu trabalho. A exceção se observa caso a Administração assuma
diretamente a responsabilidade por determinações que contrariem normas
técnicas, éticas ou contratuais.

Referências legislativas

CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICA
FEDERATIVA DO BRASIL DE 1988
[...]
Art. 37. A administração pública direta e indireta de qualquer dos Poderes
da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios obedecerá aos
princípios de legalidade, impessoalidade, moralidade, publicidade e eficiência
e, também, ao seguinte:
[...]
XXI - ressalvados os casos especificados na legislação, as obras, serviços, com-
pras e alienações serão contratados mediante processo de licitação pública que
assegure igualdade de condições a todos os concorrentes, com cláusulas que
estabeleçam obrigações de pagamento, mantidas as condições efetivas da pro-
posta, nos termos da lei, o qual somente permitirá as exigências de qualificação
técnica e econômica indispensáveis à garantia do cumprimento das obrigações.

38 • capítulo 2
Art. 167. São vedados:
I - o início de programas ou projetos não incluídos na lei orçamentária anual;
II - a realização de despesas ou a assunção de obrigações diretas que exce-
dam os créditos orçamentários ou adicionais;
III - a realização de operações de créditos que excedam o montante das
despesas de capital, ressalvadas as autorizadas mediante créditos suplemen-
tares ou especiais com finalidade precisa, aprovados pelo Poder Legislativo por
maioria absoluta;
IV - a vinculação de receita de impostos a órgão, fundo ou despesa, ressal-
vadas a repartição do produto da arrecadação dos impostos a que se referem
os arts. 158 e 159, a destinação de recursos para as ações e serviços públicos
de saúde, para manutenção e desenvolvimento do ensino e para realização de
atividades da administração tributária, como determinado, respectivamente,
pelos arts. 198, § 2º, 212 e 37, XXII, e a prestação de garantias às operações de
crédito por antecipação de receita, previstas no art. 165, § 8º, bem como o dis-
posto no § 4º deste artigo;
V - a abertura de crédito suplementar ou especial sem prévia autorização
legislativa e sem indicação dos recursos correspondentes;
VI - a transposição, o remanejamento ou a transferência de recursos de uma
categoria de programação para outra ou de um órgão para outro, sem prévia
autorização legislativa;
VII - a concessão ou utilização de créditos ilimitados;
VIII - a utilização, sem autorização legislativa específica, de recursos dos or-
çamentos fiscal e da seguridade social para suprir necessidade ou cobrir déficit
de empresas, fundações e fundos, inclusive dos mencionados no art. 165, § 5º;
IX - a instituição de fundos de qualquer natureza, sem prévia autorização
legislativa.
X - a transferência voluntária de recursos e a concessão de empréstimos, in-
clusive por antecipação de receita, pelos Governos Federal e Estaduais e suas
instituições financeiras, para pagamento de despesas com pessoal ativo, inati-
vo e pensionista, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios.
XI - a utilização dos recursos provenientes das contribuições sociais de que
trata o art. 195, I, a, e II, para a realização de despesas distintas do pagamento
de benefícios do regime geral de previdência social de que trata o art. 201
§ 1º - Nenhum investimento cuja execução ultrapasse um exercício finan-
ceiro poderá ser iniciado sem prévia inclusão no plano plurianual, ou sem lei
que autorize a inclusão, sob pena de crime de responsabilidade.

capítulo 2 • 39
§ 2º - Os créditos especiais e extraordinários terão vigência no exercício fi-
nanceiro em que forem autorizados, salvo se o ato de autorização for promul-
gado nos últimos quatro meses daquele exercício, caso em que, reabertos nos
limites de seus saldos, serão incorporados ao orçamento do exercício financei-
ro subseqüente.
§ 3º - A abertura de crédito extraordinário somente será admitida para aten-
der a despesas imprevisíveis e urgentes, como as decorrentes de guerra, comoção
interna ou calamidade pública, observado o disposto no art. 62.
§ 4.º É permitida a vinculação de receitas próprias geradas pelos impostos a
que se referem os arts. 155 e 156, e dos recursos de que tratam os arts. 157, 158
e 159, I, a e b, e II, para a prestação de garantia ou contragarantia à União e para
pagamento de débitos para com esta
LEI Nº 8.666, DE 21 DE JUNHO DE 1993
[...]
Art. 57. A duração dos contratos regidos por esta Lei ficará adstrita à vigência
dos respectivos créditos orçamentários, exceto quanto aos relativos:
I - aos projetos cujos produtos estejam contemplados nas metas estabeleci-
das no Plano Plurianual, os quais poderão ser prorrogados se houver interesse
da Administração e desde que isso tenha sido previsto no ato convocatório;
II - à prestação de serviços a serem executados de forma contínua, que pode-
rão ter a sua duração prorrogada por iguais e sucessivos períodos com vistas à
obtenção de preços e condições mais vantajosas para a administração, limitada
a sessenta meses;
III - (VETADO).
IV - ao aluguel de equipamentos e à utilização de programas de informática,
podendo a duração estender-se pelo prazo de até 48 (quarenta e oito) meses
após o início da vigência do contrato.
V - às hipóteses previstas nos incisos IX, XIX, XXVIII e XXXI do art. 24, cujos
contratos poderão ter vigência por até 120 (cento e vinte) meses, caso haja inte-
resse da administração.
§ 1o Os prazos de início de etapas de execução, de conclusão e de entrega ad-
mitem prorrogação, mantidas as demais cláusulas do contrato e assegurada a ma-
nutenção de seu equilíbrio econômico-financeiro, desde que ocorra algum dos se-
guintes motivos, devidamente autuados em processo:
I - alteração do projeto ou especificações, pela Administração;
II - superveniência de fato excepcional ou imprevisível, estranho à vontade
das partes, que altere fundamentalmente as condições de execução do contrato;

40 • capítulo 2
III - interrupção da execução do contrato ou diminuição do ritmo de traba-
lho por ordem e no interesse da Administração;
IV - aumento das quantidades inicialmente previstas no contrato, nos limi-
tes permitidos por esta Lei;
V - impedimento de execução do contrato por fato ou ato de terceiro reco-
nhecido pela Administração em documento contemporâneo à sua ocorrência;
VI - omissão ou atraso de providências a cargo da Administração, inclusive
quanto aos pagamentos previstos de que resulte, diretamente, impedimento
ou retardamento na execução do contrato, sem prejuízo das sanções legais apli-
cáveis aos responsáveis.
§ 2o Toda prorrogação de prazo deverá ser justificada por escrito e previamente
autorizada pela autoridade competente para celebrar o contrato.
§ 3o É vedado o contrato com prazo de vigência indeterminado.
§ 4o Em caráter excepcional, devidamente justificado e mediante autoriza-
ção da autoridade superior, o prazo de que trata o inciso II do caput deste artigo
poderá ser prorrogado por até doze meses.
Art. 58. O regime jurídico dos contratos administrativos instituído por esta
Lei confere à Administração, em relação a eles, a prerrogativa de:
I - modificá-los, unilateralmente, para melhor adequação às finalidades de
interesse público, respeitados os direitos do contratado;
II - rescindi-los, unilateralmente, nos casos especificados no inciso I do art.
79 desta Lei;
III - fiscalizar-lhes a execução;
IV - aplicar sanções motivadas pela inexecução total ou parcial do ajuste;
V - nos casos de serviços essenciais, ocupar provisoriamente bens móveis,
imóveis, pessoal e serviços vinculados ao objeto do contrato, na hipótese da ne-
cessidade de acautelar apuração administrativa de faltas contratuais pelo con-
tratado, bem como na hipótese de rescisão do contrato administrativo.
§ 1o As cláusulas econômico-financeiras e monetárias dos contratos admi-
nistrativos não poderão ser alteradas sem prévia concordância do contratado.
§ 2o Na hipótese do inciso I deste artigo, as cláusulas econômico-financeiras
do contrato deverão ser revistas para que se mantenha o equilíbrio contratual.
[...]
Art. 65. Os contratos regidos por esta Lei poderão ser alterados, com as de-
vidas justificativas, nos seguintes casos:
I - unilateralmente pela Administração:
a) quando houver modificação do projeto ou das especificações, para me-
lhor adequação técnica aos seus objetivos;
capítulo 2 • 41
b) quando necessária a modificação do valor contratual em decorrência de
acréscimo ou diminuição quantitativa de seu objeto, nos limites permitidos
por esta Lei;
II - por acordo das partes:
a) quando conveniente a substituição da garantia de execução;
b) quando necessária a modificação do regime de execução da obra ou ser-
viço, bem como do modo de fornecimento, em face de verificação técnica da
inaplicabilidade dos termos contratuais originários;
c) quando necessária a modificação da forma de pagamento, por imposição
de circunstâncias supervenientes, mantido o valor inicial atualizado, vedada a
antecipação do pagamento, com relação ao cronograma financeiro fixado, sem
a correspondente contraprestação de fornecimento de bens ou execução de
obra ou serviço;
d) para restabelecer a relação que as partes pactuaram inicialmente entre os
encargos do contratado e a retribuição da administração para a justa remune-
ração da obra, serviço ou fornecimento, objetivando a manutenção do equilí-
brio econômico-financeiro inicial do contrato, na hipótese de sobrevirem fatos
imprevisíveis, ou previsíveis porém de conseqüências incalculáveis, retardado-
res ou impeditivos da execução do ajustado, ou, ainda, em caso de força maior,
caso fortuito ou fato do príncipe, configurando álea econômica extraordinária
e extracontratual.
§ 1o O contratado fica obrigado a aceitar, nas mesmas condições contra-
tuais, os acréscimos ou supressões que se fizerem nas obras, serviços ou com-
pras, até 25% (vinte e cinco por cento) do valor inicial atualizado do contrato,
e, no caso particular de reforma de edifício ou de equipamento, até o limite de
50% (cinqüenta por cento) para os seus acréscimos.
§ 2o Nenhum acréscimo ou supressão poderá exceder os limites estabeleci-
dos no parágrafo anterior, salvo:
I - (VETADO)
II - as supressões resultantes de acordo celebrado entre os contratantes.
§ 3o Se no contrato não houverem sido contemplados preços unitários para
obras ou serviços, esses serão fixados mediante acordo entre as partes, respei-
tados os limites estabelecidos no § 1o deste artigo.
§ 4o No caso de supressão de obras, bens ou serviços, se o contratado já
houver adquirido os materiais e posto no local dos trabalhos, estes deverão ser
pagos pela Administração pelos custos de aquisição regularmente comprova-

42 • capítulo 2
dos e monetariamente corrigidos, podendo caber indenização por outros da-
nos eventualmente decorrentes da supressão, desde que regularmente com-
provados.
§ 5o Quaisquer tributos ou encargos legais criados, alterados ou extintos,
bem como a superveniência de disposições legais, quando ocorridas após a
data da apresentação da proposta, de comprovada repercussão nos preços
contratados, implicarão a revisão destes para mais ou para menos, conforme
o caso.
§ 6o Em havendo alteração unilateral do contrato que aumente os encargos
do contratado, a Administração deverá restabelecer, por aditamento, o equilí-
brio econômico-financeiro inicial.
§ 7o (VETADO)
§ 8o A variação do valor contratual para fazer face ao reajuste de preços pre-
visto no próprio contrato, as atualizações, compensações ou penalizações fi-
nanceiras decorrentes das condições de pagamento nele previstas, bem como
o empenho de dotações orçamentárias suplementares até o limite do seu valor
corrigido, não caracterizam alteração do mesmo, podendo ser registrados por
simples apostila, dispensando a celebração de aditamento.
[...]
Art. 78. Constituem motivo para rescisão do contrato:
I - o não cumprimento de cláusulas contratuais, especificações, projetos ou
prazos;
II - o cumprimento irregular de cláusulas contratuais, especificações, pro-
jetos e prazos;
III - a lentidão do seu cumprimento, levando a Administração a comprovar
a impossibilidade da conclusão da obra, do serviço ou do fornecimento, nos
prazos estipulados;
IV - o atraso injustificado no início da obra, serviço ou fornecimento;
V - a paralisação da obra, do serviço ou do fornecimento, sem justa causa e
prévia comunicação à Administração;
VI - a subcontratação total ou parcial do seu objeto, a associação do contratado
com outrem, a cessão ou transferência, total ou parcial, bem como a fusão, cisão ou
incorporação, não admitidas no edital e no contrato;
VII - o desatendimento das determinações regulares da autoridade designada
para acompanhar e fiscalizar a sua execução, assim como as de seus superiores;
VIII - o cometimento reiterado de faltas na sua execução, anotadas na forma
do § 1o do art. 67 desta Lei;

capítulo 2 • 43
IX - a decretação de falência ou a instauração de insolvência civil;
X - a dissolução da sociedade ou o falecimento do contratado;
XI - a alteração social ou a modificação da finalidade ou da estrutura da em-
presa, que prejudique a execução do contrato;
XII - razões de interesse público, de alta relevância e amplo conhecimento,
justificadas e determinadas pela máxima autoridade da esfera administrativa
a que está subordinado o contratante e exaradas no processo administrativo a
que se refere o contrato;
XIII - a supressão, por parte da Administração, de obras, serviços ou com-
pras, acarretando modificação do valor inicial do contrato além do limite per-
mitido no § 1o do art. 65 desta Lei;
XIV - a suspensão de sua execução, por ordem escrita da Administração, por
prazo superior a 120 (cento e vinte) dias, salvo em caso de calamidade pública,
grave perturbação da ordem interna ou guerra, ou ainda por repetidas suspen-
sões que totalizem o mesmo prazo, independentemente do pagamento obriga-
tório de indenizações pelas sucessivas e contratualmente imprevistas desmo-
bilizações e mobilizações e outras previstas, assegurado ao contratado, nesses
casos, o direito de optar pela suspensão do cumprimento das obrigações assu-
midas até que seja normalizada a situação;
XV - o atraso superior a 90 (noventa) dias dos pagamentos devidos pela Ad-
ministração decorrentes de obras, serviços ou fornecimento, ou parcelas des-
tes, já recebidos ou executados, salvo em caso de calamidade pública, grave
perturbação da ordem interna ou guerra, assegurado ao contratado o direito de
optar pela suspensão do cumprimento de suas obrigações até que seja norma-
lizada a situação;
XVI - a não liberação, por parte da Administração, de área, local ou objeto
para execução de obra, serviço ou fornecimento, nos prazos contratuais, bem
como das fontes de materiais naturais especificadas no projeto;
XVII - a ocorrência de caso fortuito ou de força maior, regularmente com-
provada, impeditiva da execução do contrato.
Parágrafo único. Os casos de rescisão contratual serão formalmente moti-
vados nos autos do processo, assegurado o contraditório e a ampla defesa.
XVIII – descumprimento do disposto no inciso V do art. 27, sem prejuízo das
sanções penais cabíveis.
Art. 79. A rescisão do contrato poderá ser:
I - determinada por ato unilateral e escrito da Administração, nos casos enu-
merados nos incisos I a XII e XVII do artigo anterior;

44 • capítulo 2
II - amigável, por acordo entre as partes, reduzida a termo no processo da
licitação, desde que haja conveniência para a Administração;
III - judicial, nos termos da legislação;
IV - (VETADO)
IV - (Vetado).
§ 1o A rescisão administrativa ou amigável deverá ser precedida de autoriza-
ção escrita e fundamentada da autoridade competente.
§ 2o Quando a rescisão ocorrer com base nos incisos XII a XVII do artigo
anterior, sem que haja culpa do contratado, será este ressarcido dos prejuízos
regularmente comprovados que houver sofrido, tendo ainda direito a:
I - devolução de garantia;
II - pagamentos devidos pela execução do contrato até a data da rescisão;
III - pagamento do custo da desmobilização.
§ 3º (Vetado).
§ 4º (Vetado).
§ 5o Ocorrendo impedimento, paralisação ou sustação do contrato, o crono-
grama de execução será prorrogado automaticamente por igual tempo.

REFLEXÃO
A ênfase no desequilíbrio contratual enquanto traço marcante do contrato administrativo
causa a impressão de que, por ser instrumento essencialmente diferente, o acordo privado
sempre se respalda na igualdade das partes. A evolução do direito contratual civil, todavia,
demonstra que o pressuposto da isonomia das partes cada vez menos se observa.
De fato, poucas são as situações em que os negociantes estabelecem suas tratativas
em plena igualdade de condições, dada a prevalência dos chamados contratos de adesão
nas relações sociais de natureza econômica, em que uma parte elabora sozinha os termos
do acordo. Curiosamente, o mesmo Estado que celebra contratos fundados na desigualdade
em favor do interesse social é o que, por meio da legislação, socorre a parte mais fraca dos
contratos de adesão de natureza privada.
Não obstante a isso e as críticas que se faz a esse desequilíbrio atualmente é um bom
negócio ser fornecedor da Administração, tratando-se de uma área que merece muita aten-
ção dos futuros gestores.

capítulo 2 • 45
ATIVIDADE
1. Qual é o risco de se manter os contratos guardados em gavetas?

2. É possível a alteração unilateral do contrato administrativo?

LEITURA RECOMENDADA
GUIMARÃES, F. V.. Alteração unilateral do contrato administrativo. São Paulo: Ma-
lheiros, 2009.

MUKAI, T.. Contratos públicos – as prerrogativas da administração pública. Rio de Janeiro:


Forense, 2008.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
FREITAS, W.. Gestão de Contratos: melhores práticas voltadas aos contratos empresa-
riais. São Paulo: Editora Atlas, 2009.

COTRIM, G.. Direito Fundamental: instituições de direito público e privado. 22ª Ed. São
Paulo: Saraiva, 2008.

NO PRÓXIMO CAPÍTULO
No próximo capítulo trataremos sobre os contratos de compra e venda e de locação. O aluno
vai perceber que cada espécie de contrato possui os seus requisitos e peculiaridades que os
consagram como institutos individuais.

46 • capítulo 2
3
Contratos de compra
e venda e locação
3  Contratos de compra e venda e locação
Neste capítulo estudaremos algumas das espécies de contratos, tais como:
compra e venda e locação.

OBJETIVOS
•  Conhecer as normas referentes ao contrato de compra e venda;
•  Estudar o contrato de locação.

REFLEXÃO
É possível fazer um contrato de locação sem ser de um imóvel? Pergunta que você terá cla-
reza no decorrer deste capítulo para encontrar sua resposta.

3.1  Características, elementos essenciais e obrigações das partes

Do contrato de compra e venda


Segundo o artigo 481 do Código Civil, pelo contrato de compra e venda, um dos
contratantes se obriga a transferir o domínio de certa coisa, e o outro, a pagar-
lhe certo preço em dinheiro.
Quanto à estrutura, a compra e venda é um contrato oneroso (porque ambas
as partes obtêm vantagem econômica), translativo (porque é instrumento para
a transferência e aquisição da propriedade), bilateral ou sinalagmático (presta-
ções correspectivas porque cada parte assume respectivamente obrigações) e
geralmente comutativo (no momento de sua conclusão, as partes conhecem o
conteúdo de sua prestação) (VENOSA, 2004).
A compra e venda, quando pura, considerar-se-á obrigatória e perfeita, des-
de que as partes acordarem no objeto e no preço (art. 482, CC). Também, a com-
pra e venda pode ter por objeto coisa atual ou futura. Neste caso, ficará sem
efeito o contrato se esta não vier a existir, salvo se a intenção das partes era de
concluir contrato aleatório (art. 483, CC).

48 • capítulo 3
Venda mediante amostra
Se a venda se realizar a vista de amostras, protótipos ou modelos, entender-se-á
que o vendedor assegura ter à coisa as qualidades que a elas correspondem (art.
484, CC). Prevalece a amostra, o protótipo ou o modelo, se houver contradição
ou diferença com a maneira pela qual se descreveu a coisa no contrato (parágra-
fo único, art. 484, CC).

Da obrigação das partes


O vendedor tem a obrigação principal de transferir o domínio da coisa, bem
como arcar com as despesas de tradição (despesas relativas ao transporte da
coisa móvel, salvo, se as partes convencionarem de forma diversa) e com os
débitos que gravem a coisa, bem como responder por vícios ocultos e evicção
(COELHO, 2009).
Ao comprador, duas são as suas obrigações: a de pagar em dinheiro o preço
contratado e a de arcar com as despesas de escritura e registro (salvo se possuir
cláusula em contrário) (COELHO, 2009).
Quanto ao preço, é nulo o contrato de compra e venda, quando se deixa ao arbí-
trio exclusivo de uma das partes a fixação do preço (art. 489, CC).

Da tradição
Na compra e venda à vista, as obrigações são recíprocas e simultâneas, cabendo
ao comprador, porém, o primeiro passo, ou seja, o pagamento do valor ajusta-
do. Antes disso, o vendedor não está obrigado a entregar a coisa, podendo retê
-la ou negar-se à assinatura do contrato principal até que o comprador satisfaça
a sua parte (GONÇALVES, 2007).
Nesse sentido, segundo o artigo 491 do Código Civil, até o momento da tra-
dição, os riscos da coisa correm por conta do vendedor e os do preço por conta
do comprador. Todavia:
•  Os casos fortuitos, ocorrentes no ato de contar, marcar ou assinar coi-
sas e que já tiverem sido postas à disposição do comprador, correrão por
conta deste (parágrafo primeiro);
•  Correrão também por conta do comprador os riscos das referidas coisas,
se estiver em mora de as receber, quando postas à sua disposição no tem-
po, lugar e pelo modo ajustados (parágrafo segundo).
A tradição ocorre no lugar onde o bem se encontrava no tempo da venda,
salvo estipulação expressa em contrário (art. 493, CC). Se a coisa for expedida
para lugar diverso, por ordem do comprador, por sua conta correrão os riscos,

capítulo 3 • 49
uma vez entregue a quem haja de transportá-la, salvo se das instruções dele se
afastar o vendedor (art. 494, CC).
Vale destacar que, se a venda for a prazo, não é lícito ao vendedor condicionar
sua prestação à do outro. A entrega, imediata ou não, não dependerá do paga-
mento integral do preço. Nessa hipótese, o vendedor entrega a coisa e o compra-
dor assume a dívida, a ser paga nas datas e condições estabelecidas no contrato.

CONEXÃO
Para maiores explicações referentes ao custo da tradição de bens imóveis, o aluno poderá
acessar o site <www.receita.fazenda.gov.br>

Da insolvência do comprador
Segundo o artigo 495 do Código Civil, não obstante o prazo ajustado para o pa-
gamento, se antes da tradição o comprador cair em insolvência, poderá o ven-
dedor sobrestar na entrega da coisa até que o comprador lhe dê caução de pagar
no tempo ajustado.

Contratos de compra e venda de móveis ou imóveis a prazo, segundo o CDC


Nos contratos de compra e venda de móveis ou imóveis mediante pagamento
em prestações, bem como nas alienações fiduciárias em garantia, consideram-
se nulas de pleno direito as cláusulas que estabeleçam a perda total das presta-
ções pagas em benefício do credor que, em razão do inadimplemento, pleitear
a resolução do contrato e a retomada do produto alienado (art. 53, CDC).
Vale ressaltar, porém, que nos contratos do sistema de consórcio de produ-
tos duráveis, a compensação ou a restituição das parcelas quitadas, na forma
deste artigo, terá descontado, além da vantagem econômica auferida com a
fruição, os prejuízos que o desistente ou inadimplente causar ao grupo (pará-
grafo 2º, art. 53, CDC).

50 • capítulo 3
Venda a descendente

Segundo o artigo 496 do Código Civil, é anulável a venda de ascendente a descenden-


te, salvo se os outros descendentes e o cônjuge do alienante expressamente houverem
consentido. Em ambos os casos, dispensa-se o consentimento do cônjuge se o regime
de bens for o da separação obrigatória (parágrafo único).

Importante destacar também que, sob pena de nulidade, não podem ser
comprados, ainda que em hasta pública (art. 497, CC):
•  Pelos tutores, curadores, testamenteiros e administradores, os bens con-
fiados à sua guarda ou administração;
•  Pelos servidores públicos, em geral, os bens ou direitos da pessoa jurídica
a que servirem, ou que estejam sob sua administração direta ou indireta;
•  Pelos juízes, secretários de tribunais, arbitradores, peritos e outros ser-
ventuários ou auxiliares da justiça, os bens ou direitos sobre que se liti-
gar em tribunal, juízo ou conselho, no lugar onde servirem, ou a que se
estender a sua autoridade;
•  Pelos leiloeiros e seus prepostos, os bens de cuja venda estejam encar-
regados.
KISSUCHKA | DREAMSTIME.COM

A proibição contida no inciso III do artigo antecedente, não compreende os


casos de compra e venda ou cessão entre coerdeiros, ou em pagamento de dívi-
da, ou para garantia de bens já pertencentes a pessoas designadas no referido
inciso (art. 498, CC).
É lícita, porém, a compra e venda entre cônjuges, com relação a bens exclu-

capítulo 3 • 51
ídos da comunhão (art. 499, CC).
O Código Civil também traz restrições, no que tange à venda entre condômi-
nos. Segundo o artigo 504 do Código Civil, não pode um condômino em coisa
indivisível vender a sua parte a estranhos, se outro consorte a quiser, tanto por
tanto. O condômino, a quem não se der conhecimento da venda, poderá, depo-
sitando o preço, haver para si a parte vendida a estranhos se o requerer no prazo
de cento e oitenta dias, sob pena de decadência.
A venda da parte indivisa a estranho somente se viabilizará, portanto, quan-
do: a) for comunicado previamente aos demais condôminos; b) for dada prefe-
rência aos demais condôminos para aquisição da parte ideal, pelo mesmo valor
que o estranho ofereceu; c) os demais condôminos não exercerem a preferência
dentro do prazo legal (GONÇALVES, 2007).

3.1.1  Modalidades

3.1.1.1  Venda Ad Corpus e Venda Ad Mensuram


Venda ad mensuram, ocorre quando o negócio visa a aquisição de uma área
determinada de terreno. O que prepondera é a dimensão da área. Ex: Compra
de 10.000 (dez mil) metros quadrados de terreno, ou uma fazenda de 300 (tre-
zentos) hectares. Na veda ad corpus, a alienação envolve o imóvel como corpo
certo e determinado. A dimensão não tem preponderância, sendo a referência
à medida, meramente enunciativa. Como exemplo, temos a compra que tem
por objeto a “Fazenda Campo Belo”, onde prevalece a venda de corpo certo e
determinado (VIANA, 2008).
MAXYM022 | DREAMSTIME.COM

52 • capítulo 3
A venda Ad mensuram bem como a Ad Corpus, encontram-se regulamenta-
das no artigo 500, parágrafo 1º, 2º e 3º do Código Civil.
Nesse sentido, segundo o artigo 500 do Código Civil, se, na venda de um
imóvel, se estipular o preço por medida de extensão ou se determinar a respec-
tiva área e esta não corresponder, em qualquer dos casos, às dimensões dadas
(venda ad mensuram), o comprador terá o direito de exigir o complemento da
área e, não sendo isso possível, o de reclamar a resolução do contrato ou abati-
mento proporcional ao preço.
Presume-se que a referência às dimensões foi simplesmente enunciativa,
quando a diferença encontrada não exceder de um vigésimo da área total enun-
ciada, ressalvado ao comprador o direito de provar que, em tais circunstâncias,
não teria realizado o negócio (parágrafo primeiro).
Se em vez de falta houver excesso, e o vendedor provar que tinha motivos
para ignorar a medida exata da área vendida, caberá ao comprador, à sua esco-
lha, completar o valor correspondente ao preço ou devolver o excesso (parágra-
fo segundo).
Não haverá complemento de área, nem devolução de excesso se o imóvel
for vendido como coisa certa e discriminada, tendo sido apenas enunciativa a
referência às suas dimensões, ainda que não conste de modo expresso, ter sido
a venda ad corpus (parágrafo terceiro).
Diante disso, se a venda é ad mensuram, fica assegurado ao comprador: a)
pedir a complementação da área, ajuizando ação ordinária; b) se não for possí-
vel o pedido de complementação, abre-se alternativa entre a rescisão do contra-
to ou o abatimento do preço, lembrando que, o prazo para propor estas ações é
de um ano, a contar do registro do título. Na venda ad corpus, nada pode recla-
mar (VIANA, 2008).

3.1.1.2  Da retrovenda
A cláusula de retrovenda é um pacto adjeto ou acessório ao contrato de com-
pra e venda pelo qual, o vendedor estipula o direito de reaver do comprador, o
imóvel que vendeu, em certo prazo máximo de três anos, restituindo o preço
somado às despesas feitas pelo comprador (VIANA, 2008).
Importante ressaltar que, o direito de retrato, que é cessível e transmissível
a herdeiros e legatários, poderá ser exercido contra o terceiro adquirente (art.
507, do CC).

capítulo 3 • 53
3.1.1.3  Da venda a contento ou da sujeita à prova
Denomina-se venda a contento o pacto adjeto ao contrato de compra e ven-
da em que se estipula que esta se fará, ou será desfeita, se o comprador não gos-
tar do produto adquirido. Abrange, em regra, produtos alimentícios, bebidas e
vestuários em geral (VIANA, 2008).
R. GINO SANTA MARIA | DREAMSTIME.COM

Segundo o artigo 509 do Código Civil, a venda feita a contento do comprador


entende-se realizada sob condição suspensiva, ainda que a coisa lhe tenha sido
entregue; não se reputará perfeita enquanto o adquirente não manifestar seu
agrado.
A venda se concretiza após o comprador se manifestar sobre o produto ad-
quirido. O vendedor deverá estipular um prazo para esta manifestação.
Na venda sujeita à prova, também temos uma condição suspensiva. A venda
se aperfeiçoa se as qualidades da coisa vendida, que foram asseguradas pelo
vendedor, realmente existam ou que ela seja idônea ao fim a que se destina.
Não se confunde com a venda a contento, onde depende do agrado ou gosto do
comprador. Na venda sujeita à prova, o que move o negócio são as qualidades
que o vendedor assegurou que o produto possuía ou sua idoneidade ao fim a
que se destina (VIANA, 2008).
O referido conceito encontra-se no artigo 510 do Código Civil, do qual dis-
põe que, a venda sujeita a prova presume-se feita sob a condição suspensiva de
que a coisa tenha as qualidades asseguradas pelo vendedor e seja idônea para
o fim a que se destina.

54 • capítulo 3
Em ambos os casos, as obrigações do comprador que recebeu, sob condição
suspensiva, a coisa comprada, são as de mero comodatário, enquanto não ma-
nifeste aceitá-la (art. 511 do CC).
Não havendo prazo estipulado para a declaração do comprador, o vendedor
terá direito de intimá-lo, judicial ou extrajudicialmente, para que o faça em pra-
zo improrrogável (artigo 512 do CC).

3.1.1.4  Da preempção ou preferência


Preempção ou preferência consiste em um pacto adjeto ao contrato de com-
pra e venda, do qual dispõe uma obrigação ao comprador de oferecer ao vende-
dor, o bem que aquele vai vender ou dar em pagamento, para que este use de
seu direito de prelação na compra (VIANA, 2008).
Segundo o artigo 513 do Código Civil, a preempção ou preferência, impõe
ao comprador a obrigação de oferecer ao vendedor a coisa que aquele vai ven-
der ou dar em pagamento, para que este use de seu direito de prelação na com-
pra, tanto por tanto.
Esse direito de preferência não se pode ceder, nem ser repassado aos her-
deiros (art. 520, CC).
O prazo para exercer o direito de preferência não poderá exceder a cento e
oitenta dias, se a coisa for móvel, ou a dois anos, se imóvel (parágrafo único, art.
513, CC).
Vale destacar também que responderá por perdas e danos o comprador, se
este alienar a coisa sem ter dado ao vendedor ciência do preço e das vantagens
que por ela lhe oferecem. Responderá solidariamente o adquirente, se tiver
procedido de má-fé (art. 518, CC).

3.1.1.5  Da venda com reserva de domínio


A reserva de domínio é um pacto adjeto à compra e venda pelo qual o ven-
dedor reserva para si a propriedade da coisa alienada até o momento em que
for integralizado o pagamento (pago por completo), investindo o adquirente na
sua posse (VIANA, 2008).
Segundo o artigo 521 do Código Civil, na venda de coisa móvel, pode o ven-
dedor reservar para si a propriedade até que o preço esteja integralmente pago.
Essa cláusula deverá ser estipulada por escrito e dependerá de registro no do-
micílio do comprador para valer contra terceiros (art. 522, CC).

capítulo 3 • 55
HELDER ALMEIDA | DREAMSTIME.COM

A transferência de propriedade ao comprador dá-se no momento em que


o preço esteja integralmente pago. Todavia, pelos riscos da coisa responde o
comprador, a partir de quando lhe foi entregue (art. 524, CC).
O vendedor, após a transferência do bem, não poderá dispor da coisa. Seu
único direito, além da cobrança das parcelas, consiste na recuperação do bem,
em caso de inadimplemento, através de reintegração de posse. O comprador,
somente deixará de ser o dono se não pagar o preço (VENOSA, 2004).
Além disso, o vendedor somente poderá executar a cláusula de reserva de
domínio após constituir o comprador em mora, mediante protesto do título ou
interpelação judicial (art. 525, CC).
Verificada a mora do comprador, poderá o vendedor mover contra ele a
competente ação de cobrança das prestações vencidas e vincendas e o mais que
lhe for devido; ou poderá recuperar a posse da coisa vendida (art. 526, CC). Nes-
sa segunda hipótese, é facultado ao vendedor reter as prestações pagas até o
necessário para cobrir a depreciação da coisa, as despesas feitas e o mais que
de direito lhe for devido. O excedente será devolvido ao comprador; o que faltar
lhe será cobrado, tudo na forma da lei processual (art. 527, CC).
Importante destacar que, a cláusula de reserva de domínio deve ser estipu-
lada por escrito nos contratos de compra e venda, em especial, quanto a bens
móveis, sendo que, há controvérsias doutrinárias e jurisprudenciais, quanto à
utilização desta cláusula, em se tratando de bens imóveis.

56 • capítulo 3
3.1.1.6  Da Venda sobre documentos
Segundo o artigo 529 do Código Civil, na venda sobre documentos, a tradição
da coisa é substituída pela entrega do seu título representativo e dos outros docu-
mentos exigidos pelo contrato ou, no silêncio deste, pelos usos.
Achando-se a documentação em ordem, não pode o comprador recusar
o pagamento a pretexto de defeito de qualidade ou do estado da coisa vendi-
da, salvo se o defeito já houver sido comprovado (parágrafo único).
O vendedor, entregando os documentos, libera-se da obrigação e tem direito ao
preço, sendo que, o comprador na posse justificada de referido documento, pode
exigir do transportador ou depositário a entrega da mercadoria. A entrega física da
coisa pode não ser feita, sendo suficiente que esteja à disposição do comprador.
Ocorre com frequência na venda de mercadoria que está depositada em armazém,
em transporte ou dependente de liberação na alfandega. O vendedor entrega ao
comprador o título, warrant ou outro documento que permite o recebimento ou
levantamento da mercadoria (GONÇALVES, 2007).
Não havendo estipulação em contrário, o pagamento deve ser efetuado na data
e no lugar da entrega dos documentos (art. 530, CC).
Se entre os documentos entregues ao comprador figurar apólice de seguro
que cubra os riscos do transporte, correm estes à conta do comprador, salvo se,
ao ser concluído o contrato, tivesse o vendedor ciência da perda ou avaria da
coisa (art. 531, CC).
Vale destacar que, estipulado o pagamento por intermédio de estabeleci-
mento bancário, caberá a este efetuá-lo contra a entrega dos documentos, sem
obrigação de verificar a coisa vendida, pela qual não responde (art. 532, CC).

3.2  Contrato de locação. conceitos e características.

No contrato de locação, uma das partes se obriga a ceder à outra, por tempo
determinado ou não, o uso e gozo de coisa não fungível, mediante certa retri-
buição. O contrato de locação está previsto no artigo 565 e seguintes, do Código
Civil Brasileiro.
Importante destacar que, a locação de bens imóveis urbanos, é regida pela
chamada Lei no Inquilinato (Lei n. 8.245/91). Porém, devido ao tema da nossa
disciplina, focaremos este estudo, tão somente nas normas referentes à loca-
ção, previstas no Código Civil.

capítulo 3 • 57
3.2.1  Das obrigações do locador e do locatário

3.2.1.1  Das obrigações do locador


Segundo o artigo 566 do Código Civil, são obrigações do locador:
• entregar ao locatário a coisa alugada, com suas pertenças, em estado
de servir ao uso a que se destina e a mantê-la nesse estado, pelo tempo
do contrato, salvo cláusula expressa em contrário;
• garantir-lhe, durante o tempo do contrato, o uso pacífico da coisa.

Se, durante a locação, se deteriorar a coisa alugada, sem culpa do locatário, a


este caberá pedir redução proporcional do aluguel ou resolver o contrato, caso já
não sirva a coisa para o fim a que se destinava (art. 567, CC).
O locador resguardará o locatário dos embaraços e turbações de terceiros,
que tenham ou pretendam ter direitos sobre a coisa alugada e responderá pelos
seus vícios, ou defeitos, anteriores à locação (art. 568, CC).

3.2.1.2  Das obrigações do locatário


Segundo o artigo 569 do Código Civil, são obrigações do locatário:
a) servir-se da coisa alugada para os usos convencionados ou presu-
midos, conforme a natureza dela e as circunstâncias, bem como
tratá-la com o mesmo cuidado como se sua fosse;
b) pagar pontualmente o aluguel nos prazos ajustados e, em falta de
ajuste, segundo o costume do lugar;
c) levar ao conhecimento do locador as turbações de terceiros, que se
pretendam fundadas em direito;
d) restituir a coisa, finda a locação, no estado em que a recebeu, sal-
vas as deteriorações naturais ao uso regular.
JAKUB JIRSÁK | DREAMSTIME.COM

58 • capítulo 3
O Código Civil traz uma série de normas, referentes ao contrato de locação.
Diante disso, é importante destacarmos algumas delas.
•  Se o locatário empregar a coisa em uso diverso do ajustado, ou do uso a
que se destina, ou se ela se danificar por abuso do locatário, poderá o lo-
cador, além de rescindir o contrato, exigir perdas e danos (art. 570, CC).
•  Havendo prazo estipulado à duração do contrato, antes do vencimento
não poderá o locador reaver a coisa alugada, senão ressarcindo ao locatá-
rio as perdas e danos resultantes, nem o locatário devolvê-la ao locador,
senão pagando, proporcionalmente, a multa prevista no contrato (art.
571, CC).
•  A locação por tempo determinado acaba, respectivamente, com o fim do
prazo estipulado no contrato, independentemente de notificação ou aviso.
•  Se, findo o prazo, o locatário continuar na posse da coisa alugada, sem
oposição do locador, presumir-se-á prorrogada a locação pelo mesmo
aluguel, mas sem prazo determinado (art. 574, CC).
•  Se, notificado o locatário, não restituir a coisa, pagará, enquanto a tiver
em seu poder, o aluguel que o locador arbitrar, e responderá pelo dano
que ela venha a sofrer, embora proveniente de caso fortuito (art. 575, CC).
•  Salvo disposição em contrário, o locatário goza do direito de retenção, no
caso de benfeitorias necessárias, ou no de benfeitorias úteis, se estas hou-
verem sido feitas com expresso consentimento do locador (art. 578, CC).
Previsão importante e que os gestores precisam se apoderar é aquela de que
trata o artigo 51 da Lei 8245/91, ao instituir nas locações destinadas ao comér-
cio - o direito do locatário ver renovado o contrato de locação por mais uma vez
e por igual prazo embora essa não seja a vontade do locador. Trata-se de uma
intervenção estatal na vontade das partes neste tipo de negócio jurídico, dado o
interesse social e econômico refletido nesses contratos. Entrementes, é neces-
sário atender três requisitos legais por parte do locatário. O primeiro desses
requisitos é que o contrato tenha sido celebrado por escrito e por prazo deter-
minado. O segundo é que o prazo mínimo do contrato a renovar tenha cinco
anos, podendo ser computado a somatória anterior desde que ininterrupta.
Por último, é que o locatário esteja explorando o mesmo ramo de atividade pelo
prazo mínimo de três anos e também sem sofrer qualquer interrupção nestes
três anos. Atendendo essas exigências ele terá a garantia legal de requerer a re-
novação desse contrato por mais uma vez (chamada ação renovatória). É a con-
clusão que se trai do texto legal:

capítulo 3 • 59
Art. 51. Nas locações de imóveis destinados ao comércio, o locatário terá di-
reito a renovação do contrato, por igual prazo, desde que, cumulativamente: I -
o contrato a renovar tenha sido celebrado por escrito e com prazo determinado;
II - o prazo mínimo do contrato a renovar ou a soma dos prazos ininterruptos
dos contratos escritos seja de cinco anos; III - o locatário esteja explorando seu
comércio, no mesmo ramo, pelo prazo mínimo e ininterrupto de três anos.

Referências legislativas

LEI No 10.406, DE 10 DE JANEIRO DE 2002 – Código Civil Brasileiro de 2002.


[...]
COMPRA E VENDA
Art. 481. Pelo contrato de compra e venda, um dos contratantes se obriga
a transferir o domínio de certa coisa, e o outro, a pagar-lhe certo preço em di-
nheiro.
Art. 482. A compra e venda, quando pura, considerar-se-á obrigatória e per-
feita, desde que as partes acordarem no objeto e no preço.
Art. 483. A compra e venda pode ter por objeto coisa atual ou futura. Neste
caso, ficará sem efeito o contrato se esta não vier a existir, salvo se a intenção
das partes era de concluir contrato aleatório.
[...]
LOCAÇÃO DE COISAS
Art. 565. Na locação de coisas, uma das partes se obriga a ceder à outra, por
tempo determinado ou não, o uso e gozo de coisa não fungível, mediante certa
retribuição.
Art. 566. O locador é obrigado:
I - a entregar ao locatário a coisa alugada, com suas pertenças, em estado de
servir ao uso a que se destina, e a mantê-la nesse estado, pelo tempo do contra-
to, salvo cláusula expressa em contrário;
II - a garantir-lhe, durante o tempo do contrato, o uso pacífico da coisa.
Art. 567. Se, durante a locação, se deteriorar a coisa alugada, sem culpa do
locatário, a este caberá pedir redução proporcional do aluguel, ou resolver o
contrato, caso já não sirva a coisa para o fim a que se destinava.
Art. 568. O locador resguardará o locatário dos embaraços e turbações de
terceiros, que tenham ou pretendam ter direitos sobre a coisa alugada, e res-
ponderá pelos seus vícios, ou defeitos, anteriores à locação.

60 • capítulo 3
Art. 569. O locatário é obrigado:
I - a servir-se da coisa alugada para os usos convencionados ou presumidos,
conforme a natureza dela e as circunstâncias, bem como tratá-la com o mesmo
cuidado como se sua fosse;
II - a pagar pontualmente o aluguel nos prazos ajustados, e, em falta de ajus-
te, segundo o costume do lugar;
III - a levar ao conhecimento do locador as turbações de terceiros, que se
pretendam fundadas em direito;
IV - a restituir a coisa, finda a locação, no estado em que a recebeu, salvas as
deteriorações naturais ao uso regular.
Art. 570. Se o locatário empregar a coisa em uso diverso do ajustado, ou do a
que se destina, ou se ela se danificar por abuso do locatário, poderá o locador,
além de rescindir o contrato, exigir perdas e danos.
Art. 571. Havendo prazo estipulado à duração do contrato, antes do venci-
mento não poderá o locador reaver a coisa alugada, senão ressarcindo ao lo-
catário as perdas e danos resultantes, nem o locatário devolvê-la ao locador,
senão pagando, proporcionalmente, a multa prevista no contrato.
Parágrafo único. O locatário gozará do direito de retenção, enquanto não
for ressarcido.
Art. 572. Se a obrigação de pagar o aluguel pelo tempo que faltar constituir
indenização excessiva, será facultado ao juiz fixá-la em bases razoáveis.
Art. 573. A locação por tempo determinado cessa de pleno direito findo o
prazo estipulado, independentemente de notificação ou aviso.
Art. 574. Se, findo o prazo, o locatário continuar na posse da coisa alugada,
sem oposição do locador, presumir-se-á prorrogada a locação pelo mesmo alu-
guel, mas sem prazo determinado.
Art. 575. Se, notificado o locatário, não restituir a coisa, pagará, enquanto a
tiver em seu poder, o aluguel que o locador arbitrar, e responderá pelo dano que
ela venha a sofrer, embora proveniente de caso fortuito.
Parágrafo único. Se o aluguel arbitrado for manifestamente excessivo, po-
derá o juiz reduzi-lo, mas tendo sempre em conta o seu caráter de penalidade.
Art. 576. Se a coisa for alienada durante a locação, o adquirente não ficará
obrigado a respeitar o contrato, se nele não for consignada a cláusula da sua
vigência no caso de alienação, e não constar de registro.

capítulo 3 • 61
§ 1o O registro a que se refere este artigo será o de Títulos e Documentos do
domicílio do locador, quando a coisa for móvel; e será o Registro de Imóveis da
respectiva circunscrição, quando imóvel.
§ 2o Em se tratando de imóvel, e ainda no caso em que o locador não esteja
obrigado a respeitar o contrato, não poderá ele despedir o locatário, senão ob-
servado o prazo de noventa dias após a notificação.
Art. 577. Morrendo o locador ou o locatário, transfere-se aos seus herdeiros
a locação por tempo determinado.
Art. 578. Salvo disposição em contrário, o locatário goza do direito de retenção,
no caso de benfeitorias necessárias, ou no de benfeitorias úteis, se estas houverem
sido feitas com expresso consentimento do locador.

REFLEXÃO
Como ponto de reflexão convidamos o acadêmico a ter a clareza de que a locação de imó-
veis vem regulamentada através de um corpo legislativo próprio – ou seja – Lei 8.245/91,
cujos dispositivos já foram comentando neste capítulo. Também é interessante saber que o
contrato de compra e venda pode ser ajustado sobre coisas que ainda não existem, mas que
poderão existir no futuro, a exemplo da contratação de determinada colheita que o produtor
ainda iniciará a sua colheita sem saber qual será o seu resultado efetivo. Trata-se de um
mundo fascinante cujo direito contratual precisa criar comandos que regulamentem a nossa
vida em sociedade, tão dinâmica e tão inovadora nos dias atuais.

ATIVIDADE
1. Explique a cláusula da retrovenda prevista nos contratos de compra e venda.

LEITURA RECOMENDADA
VIANA, Marco Aurélio da Silva. Curso de Direito Civil: Contratos. Editora Forense, 2009.

Esta obra apresenta de forma completa, as principais espécies de contratos. Analisa o con-
trato de compra e venda e locação, além de outras espécies contratuais.

62 • capítulo 3
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, J. B.. A Proteção Jurídica do Consumidor. 7ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2009;

_______. Manual de Direito do Consumidor. 21 ed. São Paulo: Saraiva, 2007;

COELHO, F. U.. Curso de Direito Civil: contratos. 3ª ed. São Paulo: Saraiva, 2009;

COTRIM, G.. Direito Fundamental: instituições de direito público e privado. 22ª Ed. São
Paulo: Saraiva, 2008.

GAGLIANO, P. S.; PAMPLONA FILHO, R.. Novo Curso de Direito Civil: contratos em
espécie. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2009;

GAMA, H. Z.. Curso de Direito do Consumidor. 3ª Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2008;

GONÇALVES, C. R.. Direito Civil Brasileiro: contratos e atos unilaterais. São Paulo: Sa-
raiva, 2007;

GRINOVER, A. P. (et al). Código Brasileiro de Defesa do Consumidor: comentado


pelos autores do anteprojeto. 9ª Ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2007;

NUNES, R.. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor. 4ª Ed. São Paulo:


Saraiva, 2009;

SILVA, J.A. Q. de C.. Código de Defesa do Consumidor Anotado e legislação com-


plementar. 6ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2008.

VENOSA, S. de S.. Direito Civil: contratos em espécie. 4ª. Ed. São Paulo: Atlas, 2004;

VIANA, M. A. da S.. Curso de Direito Civil: contratos. Rio de Janeiro: Forense, 2008.

NO PRÓXIMO CAPÍTULO
No próximo capítulo serão estudados os contratos de doação, troca ou permuta, emprés-
timos ou prestação de serviços. O aluno irá perceber que essas espécies possuem dire-
cionamento jurídico próprio que lhes tornam inconfundíveis. Mesmo a doação não significa

capítulo 3 • 63
concluir que apenas concede vantagens aos donatários, mas poderá trazer também encar-
gos que inviabilizam a sua aceitação. É por isso que o direito exige o consentimento de quem
receberá a doação antes de aperfeiçoá-la.

64 • capítulo 3
4
Contratos de doação,
troca ou permuta, de
empréstimo e da
prestação de
serviços
4  Contratos de doação, troca ou permuta, de
empréstimo e da prestação de serviços

Este capítulo será dedicado a outras quatro espécies de contratos: doação, tro-
ca ou permuta, empréstimos e prestação de serviços .

OBJETIVOS
•  Conhecer as normas referentes a doação;
•  Estudar o contrato de troca ou permuta;.
•  Empréstimos;
•  Prestação de serviço;
•  As especificidades de cada uma dessas modalidades contratuais.

REFLEXÃO
Você conhece um contrato de doação? E o que dizer do contrato de troca ou permuta? Já viu
alguém formalizar um contrato com o objetivo de fazer uma doação? Certamente são situações
presentes em nosso cotidiano.

4.1  Doação, natureza, conceito e elementos

Considera-se doação o contrato em que uma pessoa, por liberalidade, transfere


do seu patrimônio bens ou vantagens para o de outra (art. 538, CC). Trata-se da
forma pura e simples de doação.
Vale destacar que, nossa doutrina, elenca outras modalidades de doação,
sendo as principais:
a) Doação contemplativa: trata-se de uma modalidade de doação, onde o
doador enuncia claramente o motivo da liberalidade (VENOSA, 2004).
Está prevista no artigo 540 do Código Civil, do qual dispõe que, “a doação
feita em contemplação do merecimento do donatário não perde o caráter
de liberalidade, como não o perde a doação remuneratória ou a gravada,
no excedente ao valor dos serviços remunerados ou ao encargo imposto”.

66 • capítulo 4
b) Doação modal, onerosa ou com encargo: trata-se de uma modalidade de
doação, na qual a liberalidade vem acompanhada de incumbência atri-
buída ao donatário, em favor do doador ou de terceiro, ou no interesse
geral (VENOSA, 2004). Está prevista no artigo 533 do Código Civil, do
qual dispõe que, “o donatário é obrigado a cumprir os encargos da doa-
ção, caso forem a benefício do doador, de terceiro, ou do interesse geral”.
Vale destacar que, se desta última espécie for o encargo, o Ministério Pú-
blico poderá exigir sua execução, depois da morte do doador se este não
tiver feito (parágrafo único).
c) Doação remuneratória: consiste na doação realizada em retribuição a
serviços prestados, cujo pagamento não pode ser exigido pelo donatário.
Temos como exemplo, aquela doação realizada a quem salvou a vida do
doador (GONÇALVES, 2007).
VKRASKOUSKI | DREAMSTIME.COM

A doação deve ser realizada através de uma escritura pública ou particular (art.
541, CC). A doação verbal também será válida, se, versando sobre bens móveis e
de pequeno valor, lhe seguir a tradição do bem (parágrafo único, art. 541, CC).
A doação feita ao nascituro valerá, sendo aceita pelo seu representante legal
(art. 542, CC). A doação de ascendentes a descendentes, ou de um cônjuge a
outro, importa adiantamento do que lhes cabe por herança (art. 544, CC).
O doador pode estipular que os bens doados voltem ao seu patrimônio, se
sobreviver ao donatário (art. 547, CC). Não há possibilidade de cláusula nesse
sentido, a favor de terceiro (parágrafo único, art. 547, CC).

4.1.1  Revogação da doação

capítulo 4 • 67
Segundo o artigo 555 do Código Civil, a doação pode ser revogada por ingrati-
dão do donatário, ou por inexecução do encargo.
Também podem ser revogadas por ingratidão as doações (art. 557, CC):
•  I. se o donatário atentou contra a vida do doador ou cometeu crime de
homicídio doloso contra ele;
•  II. se cometeu contra ele ofensa física;
•  III. se o injuriou gravemente ou o caluniou;
•  IV. se, podendo ministrá-los, recusou ao doador os alimentos de que este
necessitava.
A revogação por qualquer desses motivos deverá ser pleiteada dentro de um
ano, a contar de quando chegue ao conhecimento do doador o fato que a auto-
rizar, e de ter sido o donatário o seu autor (art. 559).
O direito de revogar a doação não se transmite aos herdeiros do doador,
nem prejudica os do donatário. Mas aqueles podem prosseguir na ação inicia-
da pelo doador, continuando-a contra os herdeiros do donatário, se este falecer
depois de ajuizada a lide (art. 560, CC).

4.2  Contrato de troca ou permuta

Aplicam-se à troca, as mesmas disposições referentes à compra e venda, com


algumas modificações (art. 533, CC):
•  Salvo disposição em contrário, cada um dos contratantes pagará por me-
tade as despesas com o instrumento da troca;
•  É anulável a troca de valores desiguais entre ascendentes e descendentes,
sem consentimento dos outros descendentes e do cônjuge do alienante.

4.3  Do contrato de empréstimo

O nosso ordenamento jurídico, dispõe sobre duas modalidades de emprés-


timo: comodato e o mútuo.

68 • capítulo 4
4.3.1  Do comodato

Segundo o artigo 579 do Código Civil, comodato é o empréstimo gratuito de


coisas não fungíveis. Perfaz-se com a tradição do objeto.
O empréstimo é para uso temporário, sendo que, se for pactuado de forma
perpétua, transforma-se em doação. Celebrado o contrato por prazo determi-
nado, exige-se que seja respeitado referido prazo. Diante disso, deve o como-
dante, abster-se de pedir a restituição da coisa emprestada, antes de expirado o
prazo convencional ou presumido pelo uso, salvo se demonstrar em juízo a sua
necessidade, que deverá ser urgente e imprevista (GONÇALVES, 2007).
O comodatário é obrigado a conservar, como se sua própria fora, a coisa em-
prestada, não podendo usá-la senão de acordo com o contrato ou a natureza
dela, sob pena de responder por perdas e danos. O comodatário constituído em
mora, além de por ela responder, pagará, até restituí-la, o aluguel da coisa que
for arbitrado pelo comodante (art. 582, CC).

4.3.1.1  Extinção do comodato


Extingue-se o comodato das seguintes formas (GONÇALVES, 2007):
a) Pelo advento do termo convencionado ou pela utilização da coisa de
acordo com a finalidade para que foi emprestada;
b) Pela resolução, por iniciativa do comodante, em caso de descumprimen-
to, pelo comodatário, de suas obrigações;
c) Por sentença, a pedido do comodante, provada a necessidade imprevista
e urgente;
d) Pela morte do comodatário, se o contrato foi celebrado intuitu personae;
e) Pela resilição unilateral nos contratos de duração indeterminada sem
destinação ou finalidade específica;
f) Pelo perecimento do objeto do contrato

4.3.2  Do mútuo

Segundo o artigo 586 do Código Civil, o mútuo é o empréstimo de coisas fungíveis.


Trata-se de um empréstimo para o consumo, pois, o mutuário não é obrigado a devolver
o mesmo bem, do qual se torna dono, mas sim, coisa da mesma espécie, qualidade e
quantidade (GONÇALVES, 2007).

capítulo 4 • 69
Esse empréstimo transfere o domínio da coisa emprestada ao mutuário, por
cuja conta correm todos os riscos dela desde a tradição (art. 587, CC).
RUI VALE DE SOUSA | DREAMSTIME.COM

4.3.2.1  Características
No que tange às características do contrato de mútuo, temos que se trata de
um contrato (GONÇALVES, 2007):
a) Real – aperfeiçoa-se com a entrega da coisa emprestada;
b) Gratuito – tradicionalmente, embora o empréstimo de dinheiro seja, em
regra, oneroso (mútuo feneratício);
c) Unilateral – após a entrega do bem emprestado, nada mais cabe ao mu-
tuante, recaindo as obrigações, somente ao mutuário;
d) Não solene – para a sua celebração, não se exige maiores formalidades;
e) Temporário – prazo determinado.

4.3.2.2  Obrigação das partes


O mutuante tem a obrigação de entregar ao mutuário, o bem fungível a ser
emprestado, em regra, de forma gratuita. Ao mutuário, cabe a devolução, no
prazo estabelecido, do bem, podendo o mesmo, ser outro, mas, do mesmo gê-
nero, qualidade e quantidade.

70 • capítulo 4
4.3.2.3  Prazo
Não se tendo convencionado expressamente, o prazo do mútuo será (art.
592, CC):
• até a próxima colheita, se o mútuo for de produtos agrícolas, assim
para o consumo, como para semeadura;
• de trinta dias, pelo menos, se for de dinheiro;
• do espaço de tempo que declarar o mutuante, se for de qualquer
outra coisa fungível.

4.4  Da prestação de serviços

A prestação de serviços pode ser conceituada como o contrato que envolve


obrigações recíprocas, onde uma das partes, denominada prestador, obriga-se
a prestar serviços á outra, denominada dono do serviço, mediante remunera-
ção (VENOSA, 2004).
Toda espécie de serviço ou trabalho lícito, material ou imaterial, pode ser
contratada mediante retribuição (art. 594, CC). A prestação de serviço não po-
derá ser convencionada por prazo superior a quatro anos (art. 598).
KURHAN | DREAMSTIME.COM

O prestador dos serviços assume os riscos de sua atividade, que é desenvol-


vida com autonomia. Trata-se de um pacto de atividade. Não interessa o resul-
tado do trabalho, mas o próprio serviço prestado (MARTINS, 2005).

capítulo 4 • 71
Segundo o artigo 599, não havendo prazo estipulado, nem se podendo in-
ferir da natureza do contrato, ou do costume do lugar, qualquer das partes, a
seu arbítrio, mediante aviso prévio, poderá resolver o contrato. Diante disso,
ocorrerá o aviso (parágrafo único):
•  Com antecedência de oito dias, se o salário se houver fixado por tempo
de um mês, ou mais;
•  Com antecipação de quatro dias, se o salário tiver se ajustado por sema-
na, ou quinzena;
•  De véspera, quando se tenha contratado por menos de sete dias.

4.4.1  Da responsabilidade do prestador do serviço segundo o CDC

Segundo o Código de Defesa do Consumidor, o fornecedor de serviços, respon-


de independentemente da existência de culpa, pela reparação dos danos cau-
sados aos consumidores por defeitos relativos à prestação dos serviços, bem
como por informações insuficientes ou inadequadas sobre sua fruição e riscos
(art. 14, do CDC).
O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumidor
dele pode esperar, levando-se em consideração as circunstâncias relevantes,
entre as quais (parágrafo 1º, art. 14, CDC):
a) O modo de seu fornecimento;
b) O resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam;
c) A época em que foi fornecido.

A responsabilidade por danos do prestador de serviços não envolve somente


as empresas ligadas à iniciativa privada. O art. 22 do CDC estende essa responsa-
bilidade aos órgãos públicos, vale dizer, aos entes administrativos centralizados
ou descentralizados. Além da União, Estados, Municípios e Distrito Federal, estão
envolvidas as respectivas autarquias, fundações, sociedades de economia mista,
empresas públicas, inclusive as concessionárias ou permissionárias de serviços
públicos (GRINOVER, 2007).
Todas essas entidades são obrigadas a fornecer serviços adequados, eficien-
tes, seguros e, quanto aos essenciais, contínuos. Por todo exposto, o ente públi-
co não se furtará de reparar os danos causados aos administrados quando incor-
rer nas práticas, tão frequentes, como as que decorrerem da (GRINOVER, 2007):

72 • capítulo 4
•  Paralisação dos serviços de transporte coletivo;
•  Suspensão dos serviços de comunicação;
•  Interrupção do fornecimento de energia elétrica ou
•  Corte no fornecimento de água à população.

Não obstante, o fornecedor de serviços, só não será responsabilizado quan-


do provar (parágrafo 3º, art. 14, CDC):
•  que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste;
•  a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.

Com relação aos profissionais liberais, a responsabilidade dos mesmos


será apurada conforme a verificação da culpa (parágrafo 4º, art. 14, CDC), ou
seja, conforme reste comprovado que o profissional agiu com negligência, im-
prudência ou imperícia.

4.4.1.1  Responsabilidade pelo vício do serviço


Segundo o artigo 20 do Código de Defesa do Consumidor (Lei n. 8078/90),
o fornecedor de serviços responde pelos vícios de qualidade que os tornem im-
próprios ao consumo ou lhes diminuam o valor, assim como por aqueles de-
correntes da disparidade com as indicações constantes da oferta ou mensagem
publicitária, podendo o consumidor exigir, alternativamente:
•  I. a reexecução dos serviços, sem custo adicional e quando cabível;
•  II. a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada,
sem prejuízo de eventuais perdas e danos;
•  III. o abatimento proporcional do preço.

CONEXÃO
Alguns juristas também defendem o posicionamento de que, quanto aos serviços públicos
remunerados com o pagamento de tributos não cabe a aplicação do Código de Defesa do
Consumidor. Ao nosso ver “uma pena”!

São impróprios os serviços que se mostrem inadequados para os fins que razo-
avelmente deles se esperam, bem como aqueles que não atendam as normas regu-
lamentares de prestabilidade (parágrafo 2º, do art. 20, do CDC).

capítulo 4 • 73
Seguramente, o índice de defectibilidade dos serviços prestados na sociedade
de consumo é muito mais elevado que o dos produtos fornecidos. Somente para
destacar os aspectos multifacetários da prestação de serviços em economia de
mercado, podemos lembrar, dentre outros: os serviços profissionais, de todo gê-
nero; os serviços da construção civil; agenciamento; transporte, armazenamento
e restauração de quaisquer bens móveis; decoração de ambientes; diversões pú-
blicas; serviços de seguros; bancários, de créditos, etc. (GRINOVER, 2007).

Referências legislativas

LEI No 10.406, DE 10 DE JANEIRO DE 2002.


[...]
CAPÍTULO IV
Da Doação
Seção I
Disposições Gerais
Art. 538. Considera-se doação o contrato em que uma pessoa, por liberalida-
de, transfere do seu patrimônio bens ou vantagens para o de outra.
Art. 539. O doador pode fixar prazo ao donatário, para declarar se aceita ou
não a liberalidade. Desde que o donatário, ciente do prazo, não faça, dentro dele,
a declaração, entender-se-á que aceitou, se a doação não for sujeita a encargo.
Art. 540. A doação feita em contemplação do merecimento do donatário não
perde o caráter de liberalidade, como não o perde a doação remuneratória, ou a
gravada, no excedente ao valor dos serviços remunerados ou ao encargo imposto.
Art. 541. A doação far-se-á por escritura pública ou instrumento particular.
Parágrafo único. A doação verbal será válida, se, versando sobre bens mó-
veis e de pequeno valor, se lhe seguir incontinenti a tradição.
Art. 542. A doação feita ao nascituro valerá, sendo aceita pelo seu represen-
tante legal.
Art. 543. Se o donatário for absolutamente incapaz, dispensa-se a aceitação,
desde que se trate de doação pura.
Art. 544. A doação de ascendentes a descendentes, ou de um cônjuge a ou-
tro, importa adiantamento do que lhes cabe por herança.
Art. 545. A doação em forma de subvenção periódica ao beneficiado extin-
gue-se morrendo o doador, salvo se este outra coisa dispuser, mas não poderá
ultrapassar a vida do donatário.

74 • capítulo 4
Art. 546. A doação feita em contemplação de casamento futuro com certa e
determinada pessoa, quer pelos nubentes entre si, quer por terceiro a um deles, a
ambos, ou aos filhos que, de futuro, houverem um do outro, não pode ser impug-
nada por falta de aceitação, e só ficará sem efeito se o casamento não se realizar.
Art. 547. O doador pode estipular que os bens doados voltem ao seu patri-
mônio, se sobreviver ao donatário.
Parágrafo único. Não prevalece cláusula de reversão em favor de terceiro.
Art. 548. É nula a doação de todos os bens sem reserva de parte, ou renda
suficiente para a subsistência do doador.
Art. 549. Nula é também a doação quanto à parte que exceder à de que o do-
ador, no momento da liberalidade, poderia dispor em testamento.
Art. 550. A doação do cônjuge adúltero ao seu cúmplice pode ser anulada
pelo outro cônjuge, ou por seus herdeiros necessários, até dois anos depois de
dissolvida a sociedade conjugal.
Art. 551. Salvo declaração em contrário, a doação em comum a mais de uma
pessoa entende-se distribuída entre elas por igual.
Parágrafo único. Se os donatários, em tal caso, forem marido e mulher, sub-
sistirá na totalidade a doação para o cônjuge sobrevivo.
Art. 552. O doador não é obrigado a pagar juros moratórios, nem é sujeito às
conseqüências da evicção ou do vício redibitório. Nas doações para casamento
com certa e determinada pessoa, o doador ficará sujeito à evicção, salvo con-
venção em contrário.
Art. 553. O donatário é obrigado a cumprir os encargos da doação, caso fo-
rem a benefício do doador, de terceiro, ou do interesse geral.
Parágrafo único. Se desta última espécie for o encargo, o Ministério Público
poderá exigir sua execução, depois da morte do doador, se este não tiver feito.
Art. 554. A doação a entidade futura caducará se, em dois anos, esta não es-
tiver constituída regularmente.
Seção II
Da Revogação da Doação
Art. 555. A doação pode ser revogada por ingratidão do donatário, ou por
inexecução do encargo.
Art. 556. Não se pode renunciar antecipadamente o direito de revogar a libe-
ralidade por ingratidão do donatário.
Art. 557. Podem ser revogadas por ingratidão as doações:
I - se o donatário atentou contra a vida do doador ou cometeu crime de ho-
micídio doloso contra ele;

capítulo 4 • 75
II - se cometeu contra ele ofensa física;
III - se o injuriou gravemente ou o caluniou;
IV - se, podendo ministrá-los, recusou ao doador os alimentos de que este
necessitava.
Art. 558. Pode ocorrer também a revogação quando o ofendido, nos casos
do artigo anterior, for o cônjuge, ascendente, descendente, ainda que adotivo,
ou irmão do doador.
Art. 559. A revogação por qualquer desses motivos deverá ser pleiteada den-
tro de um ano, a contar de quando chegue ao conhecimento do doador o fato
que a autorizar, e de ter sido o donatário o seu autor.
Art. 560. O direito de revogar a doação não se transmite aos herdeiros do
doador, nem prejudica os do donatário. Mas aqueles podem prosseguir na ação
iniciada pelo doador, continuando-a contra os herdeiros do donatário, se este
falecer depois de ajuizada a lide.
Art. 561. No caso de homicídio doloso do doador, a ação caberá aos seus
herdeiros, exceto se aquele houver perdoado.
Art. 562. A doação onerosa pode ser revogada por inexecução do encargo, se
o donatário incorrer em mora. Não havendo prazo para o cumprimento, o do-
ador poderá notificar judicialmente o donatário, assinando-lhe prazo razoável
para que cumpra a obrigação assumida.
Art. 563. A revogação por ingratidão não prejudica os direitos adquiridos
por terceiros, nem obriga o donatário a restituir os frutos percebidos antes da
citação válida; mas sujeita-o a pagar os posteriores, e, quando não possa resti-
tuir em espécie as coisas doadas, a indenizá-la pelo meio termo do seu valor.
Art. 564. Não se revogam por ingratidão:
I - as doações puramente remuneratórias;
II - as oneradas com encargo já cumprido;
III - as que se fizerem em cumprimento de obrigação natural;
IV - as feitas para determinado casamento.
[...]
CAPÍTULO II
Da Troca ou Permuta
Art. 533. Aplicam-se à troca as disposições referentes à compra e venda, com
as seguintes modificações:
I - salvo disposição em contrário, cada um dos contratantes pagará por me-
tade as despesas com o instrumento da troca;

76 • capítulo 4
II - é anulável a troca de valores desiguais entre ascendentes e descendentes,
sem consentimento dos outros descendentes e do cônjuge do alienante.
CAPÍTULO VI
Do Empréstimo
Seção I
Do Comodato
Art. 579. O comodato é o empréstimo gratuito de coisas não fungíveis. Per-
faz-se com a tradição do objeto.
Art. 580. Os tutores, curadores e em geral todos os administradores de bens
alheios não poderão dar em comodato, sem autorização especial, os bens con-
fiados à sua guarda.
Art. 581. Se o comodato não tiver prazo convencional, presumir-se-lhe-á o
necessário para o uso concedido; não podendo o comodante, salvo necessidade
imprevista e urgente, reconhecida pelo juiz, suspender o uso e gozo da coisa
emprestada, antes de findo o prazo convencional, ou o que se determine pelo
uso outorgado.
Art. 582. O comodatário é obrigado a conservar, como se sua própria fora,
a coisa emprestada, não podendo usá-la senão de acordo com o contrato ou a
natureza dela, sob pena de responder por perdas e danos. O comodatário cons-
tituído em mora, além de por ela responder, pagará, até restituí-la, o aluguel da
coisa que for arbitrado pelo comodante.
Art. 583. Se, correndo risco o objeto do comodato juntamente com outros
do comodatário, antepuser este a salvação dos seus abandonando o do como-
dante, responderá pelo dano ocorrido, ainda que se possa atribuir a caso fortui-
to, ou força maior.
Art. 584. O comodatário não poderá jamais recobrar do comodante as des-
pesas feitas com o uso e gozo da coisa emprestada.
Art. 585. Se duas ou mais pessoas forem simultaneamente comodatárias de
uma coisa, ficarão solidariamente responsáveis para com o comodante.
Seção II
Do Mútuo
Art. 586. O mútuo é o empréstimo de coisas fungíveis. O mutuário é obri-
gado a restituir ao mutuante o que dele recebeu em coisa do mesmo gênero,
qualidade e quantidade.
Art. 587. Este empréstimo transfere o domínio da coisa emprestada ao mu-
tuário, por cuja conta correm todos os riscos dela desde a tradição.

capítulo 4 • 77
Art. 588. O mútuo feito a pessoa menor, sem prévia autorização daquele sob
cuja guarda estiver, não pode ser reavido nem do mutuário, nem de seus fiadores.
Art. 589. Cessa a disposição do artigo antecedente:
I - se a pessoa, de cuja autorização necessitava o mutuário para contrair o
empréstimo, o ratificar posteriormente;
II - se o menor, estando ausente essa pessoa, se viu obrigado a contrair o
empréstimo para os seus alimentos habituais;
III - se o menor tiver bens ganhos com o seu trabalho. Mas, em tal caso, a
execução do credor não lhes poderá ultrapassar as forças;
IV - se o empréstimo reverteu em benefício do menor;
V - se o menor obteve o empréstimo maliciosamente.
Art. 590. O mutuante pode exigir garantia da restituição, se antes do vencimen-
to o mutuário sofrer notória mudança em sua situação econômica.
Art. 591. Destinando-se o mútuo a fins econômicos, presumem-se devidos
juros, os quais, sob pena de redução, não poderão exceder a taxa a que se refere
o art. 406, permitida a capitalização anual.
Art. 592. Não se tendo convencionado expressamente, o prazo do mútuo será:
I - até a próxima colheita, se o mútuo for de produtos agrícolas, assim para o
consumo, como para semeadura;
II - de trinta dias, pelo menos, se for de dinheiro;
III - do espaço de tempo que declarar o mutuante, se for de qualquer outra
coisa fungível.
CAPÍTULO VII
Da Prestação de Serviço
Art. 593. A prestação de serviço, que não estiver sujeita às leis trabalhistas ou
a lei especial, reger-se-á pelas disposições deste Capítulo.
Art. 594. Toda a espécie de serviço ou trabalho lícito, material ou imaterial,
pode ser contratada mediante retribuição.
Art. 595. No contrato de prestação de serviço, quando qualquer das partes
não souber ler, nem escrever, o instrumento poderá ser assinado a rogo e subs-
crito por duas testemunhas.
Art. 596. Não se tendo estipulado, nem chegado a acordo as partes, fixar-
se-á por arbitramento a retribuição, segundo o costume do lugar, o tempo de
serviço e sua qualidade.
Art. 597. A retribuição pagar-se-á depois de prestado o serviço, se, por con-
venção, ou costume, não houver de ser adiantada, ou paga em prestações.

78 • capítulo 4
Art. 598. A prestação de serviço não se poderá convencionar por mais de
quatro anos, embora o contrato tenha por causa o pagamento de dívida de
quem o presta, ou se destine à execução de certa e determinada obra. Neste
caso, decorridos quatro anos, dar-se-á por findo o contrato, ainda que não con-
cluída a obra.
Art. 599. Não havendo prazo estipulado, nem se podendo inferir da natureza
do contrato, ou do costume do lugar, qualquer das partes, a seu arbítrio, me-
diante prévio aviso, pode resolver o contrato.
Parágrafo único. Dar-se-á o aviso:
I - com antecedência de oito dias, se o salário se houver fixado por tempo de
um mês, ou mais;
II - com antecipação de quatro dias, se o salário se tiver ajustado por sema-
na, ou quinzena;
III - de véspera, quando se tenha contratado por menos de sete dias.
Art. 600. Não se conta no prazo do contrato o tempo em que o prestador de
serviço, por culpa sua, deixou de servir.
Art. 601. Não sendo o prestador de serviço contratado para certo e determi-
nado trabalho, entender-se-á que se obrigou a todo e qualquer serviço compatí-
vel com as suas forças e condições.
Art. 602. O prestador de serviço contratado por tempo certo, ou por obra de-
terminada, não se pode ausentar, ou despedir, sem justa causa, antes de preen-
chido o tempo, ou concluída a obra.
Parágrafo único. Se se despedir sem justa causa, terá direito à retribuição
vencida, mas responderá por perdas e danos. O mesmo dar-se-á, se despedido
por justa causa.
Art. 603. Se o prestador de serviço for despedido sem justa causa, a outra
parte será obrigada a pagar-lhe por inteiro a retribuição vencida, e por metade
a que lhe tocaria de então ao termo legal do contrato.
Art. 604. Findo o contrato, o prestador de serviço tem direito a exigir da ou-
tra parte a declaração de que o contrato está findo. Igual direito lhe cabe, se for
despedido sem justa causa, ou se tiver havido motivo justo para deixar o serviço.
Art. 605. Nem aquele a quem os serviços são prestados, poderá transferir a
outrem o direito aos serviços ajustados, nem o prestador de serviços, sem apra-
zimento da outra parte, dar substituto que os preste.
Art. 606. Se o serviço for prestado por quem não possua título de habilitação,
ou não satisfaça requisitos outros estabelecidos em lei, não poderá quem os

capítulo 4 • 79
prestou cobrar a retribuição normalmente correspondente ao trabalho execu-
tado. Mas se deste resultar benefício para a outra parte, o juiz atribuirá a quem
o prestou uma compensação razoável, desde que tenha agido com boa-fé.
Parágrafo único. Não se aplica a segunda parte deste artigo, quando a proi-
bição da prestação de serviço resultar de lei de ordem pública.
Art. 607. O contrato de prestação de serviço acaba com a morte de qualquer
das partes. Termina, ainda, pelo escoamento do prazo, pela conclusão da obra,
pela rescisão do contrato mediante aviso prévio, por inadimplemento de qual-
quer das partes ou pela impossibilidade da continuação do contrato, motivada
por força maior.
Art. 608. Aquele que aliciar pessoas obrigadas em contrato escrito a prestar
serviço a outrem pagará a este a importância que ao prestador de serviço, pelo
ajuste desfeito, houvesse de caber durante dois anos.
Art. 609. A alienação do prédio agrícola, onde a prestação dos serviços se
opera, não importa a rescisão do contrato, salvo ao prestador opção entre con-
tinuá-lo com o adquirente da propriedade ou com o primitivo contratante.

LEI Nº 8.078, DE 11 DE SETEMBRO DE 1990.

Código de Defesa do Consumidor


[...]
Art. 14. O fornecedor de serviços responde, independentemente da existên-
cia de culpa, pela reparação dos danos causados aos consumidores por defeitos
relativos à prestação dos serviços, bem como por informações insuficientes ou
inadequadas sobre sua fruição e riscos.
§ 1° O serviço é defeituoso quando não fornece a segurança que o consumi-
dor dele pode esperar, levando-se em consideração as circunstâncias relevan-
tes, entre as quais:
I - o modo de seu fornecimento;
II - o resultado e os riscos que razoavelmente dele se esperam;
III - a época em que foi fornecido.
§ 2º O serviço não é considerado defeituoso pela adoção de novas técnicas.
§ 3° O fornecedor de serviços só não será responsabilizado quando provar:
I - que, tendo prestado o serviço, o defeito inexiste;
II - a culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro.
§ 4° A responsabilidade pessoal dos profissionais liberais será apurada me-
diante a verificação de culpa.

80 • capítulo 4
Art. 15. (Vetado).
Art. 16. (Vetado).
Art. 17. Para os efeitos desta Seção, equiparam-se aos consumidores todas
as vítimas do evento.
[...]
Art. 20. O fornecedor de serviços responde pelos vícios de qualidade que
os tornem impróprios ao consumo ou lhes diminuam o valor, assim como por
aqueles decorrentes da disparidade com as indicações constantes da oferta ou
mensagem publicitária, podendo o consumidor exigir, alternativamente e à
sua escolha:
I - a reexecução dos serviços, sem custo adicional e quando cabível;
II - a restituição imediata da quantia paga, monetariamente atualizada, sem
prejuízo de eventuais perdas e danos;
III - o abatimento proporcional do preço.
§ 1° A reexecução dos serviços poderá ser confiada a terceiros devidamente
capacitados, por conta e risco do fornecedor.
§ 2° São impróprios os serviços que se mostrem inadequados para os fins
que razoavelmente deles se esperam, bem como aqueles que não atendam as
normas regulamentares de prestabilidade.
Art. 21. No fornecimento de serviços que tenham por objetivo a repara-
ção de qualquer produto considerar-se-á implícita a obrigação do fornecedor
de empregar componentes de reposição originais adequados e novos, ou que
mantenham as especificações técnicas do fabricante, salvo, quanto a estes últi-
mos, autorização em contrário do consumidor.
Art. 22. Os órgãos públicos, por si ou suas empresas, concessionárias, per-
missionárias ou sob qualquer outra forma de empreendimento, são obrigados
a fornecer serviços adequados, eficientes, seguros e, quanto aos essenciais,
contínuos.
Parágrafo único. Nos casos de descumprimento, total ou parcial, das obri-
gações referidas neste artigo, serão as pessoas jurídicas compelidas a cumpri
-las e a reparar os danos causados, na forma prevista neste código.
Art. 23. A ignorância do fornecedor sobre os vícios de qualidade por inade-
quação dos produtos e serviços não o exime de responsabilidade.
Art. 24. A garantia legal de adequação do produto ou serviço independe de
termo expresso, vedada a exoneração contratual do fornecedor.
Art. 25. É vedada a estipulação contratual de cláusula que impossibilite, exo-
nere ou atenue a obrigação de indenizar prevista nesta e nas seções anteriores.

capítulo 4 • 81
§ 1° Havendo mais de um responsável pela causação do dano, todos respon-
derão solidariamente pela reparação prevista nesta e nas seções anteriores.
§ 2° Sendo o dano causado por componente ou peça incorporada ao produ-
to ou serviço, são responsáveis solidários seu fabricante, construtor ou impor-
tador e o que realizou a incorporação.

REFLEXÃO
Neste capítulo, estudamos as espécies de contratos previstas no Direito Civil. Analisamos
as normas referentes aos contratos de doação e troca ou permuta. Certamente, o conhe-
cimento teórico sobre esses institutos foi fundamental para compreendemos os principais
mecanismos jurídicos que os regem e que são tão presentes na vivência profissional dos
gestores. Particularmente, vimos que a doação poderá ser revogada se atendidos alguns
requisitos, como por exemplo o descumprimento dos encargos assumidos e até mesmo por
ingratidão. Características infelizmente tão presentes na personalidade do ser humano e
que precisa ser combatida. Também vimos a prestação de serviços e os desdobramentos
decorrentes sob a ótica do Código de Defesa do Consumidor. Importante aos futuros ges-
tores se familiarizarem pois as maiores reclamações nos órgãos de defesa do consumidor
se referem a prestação de serviços.

ATIVIDADE
1. Quais são as hipóteses previstas junto ao Código Civil e que autorizam a revogação da
doação?

LEITURA RECOMENDADA
VIANA, Marco Aurélio da Silva. Curso de Direito Civil: Contratos. Editora Forense, 2009.

Esta obra apresenta de forma completa, as principais espécies de contratos. Analisa os con-
tratos de doação, troca ou permuta, além de outras espécies contratuais.

82 • capítulo 4
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ALMEIDA, J. B.. A Proteção Jurídica do Consumidor. 7ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2009;

______________. Manual de Direito do Consumidor. 21 ed. São Paulo: Saraiva, 2007;

COELHO, F. U.. Curso de Direito Civil: contratos. 3ª ed. São Paulo: Saraiva, 2009;

COTRIM, G.. Direito Fundamental: instituições de direito público e privado. 22ª Ed.
São Paulo: Saraiva, 2008.

GAGLIANO, P. S.; PAMPLONA FILHO, R.. Novo Curso de Direito Civil: contratos em
espécie. 2ª ed. São Paulo: Saraiva, 2009;

GAMA, H. Z.. Curso de Direito do Consumidor. 3ª Ed. Rio de Janeiro: Forense, 2008;

GONÇALVES, C. R.. Direito Civil Brasileiro: contratos e atos unilaterais. São Paulo: Sa-
raiva, 2007;

GRINOVER, A. P. (et al). Código Brasileiro de Defesa do Consumidor: comentado


pelos autores do anteprojeto. 9ª Ed. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2007;

NUNES, R.. Comentários ao Código de Defesa do Consumidor. 4ª Ed. São Paulo:


Saraiva, 2009;

SILVA, J. A. Q. de C.. Código de Defesa do Consumidor Anotado e legislação com-


plementar. 6ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2008.

VENOSA, S. de S.. Direito Civil: contratos em espécie. 4ª. Ed. São Paulo: Atlas, 2004;

VIANA, M. A. da S.. Curso de Direito Civil: contratos. Rio de Janeiro: Forense, 2008.

NO PRÓXIMO CAPÍTULO
No próximo capítulo iremos tratar sobre os contratos bancários e eletrônicos. O aluno poderá
perceber o esforço que o Direito vem fazendo para acompanhar a evolução tecnológica de
nossa época ao disciplinar principalmente a modalidade dos contratos eletrônicos.

capítulo 4 • 83
5
Contratos bancários
e contratos
eletrônicos
5  Contratos bancários e contratos
eletrônicos

Neste capítulo iremos tratar das perplexidades e inovações no mundo dos con-
tratos, advindas do nascimento e banalização do universo virtual do comércio ele-
trônico, além das particularidades que estão envolvidas nos contratos bancários.

OBJETIVOS
Conhecer a teoria e saber utilizar as normas concernentes ao direito dos contratos, com sua
aplicação no comércio eletrônico e nas relações bancárias.

REFLEXÃO
Você se lembra de quando efetuou compras de objetos pela Internet, ou ainda, abriu uma
conta corrente num banco? Todos estes atos aparentemente corriqueiros da vida são regidos
pelo direito contratual, que você agora conhecerá melhor.

5.1  Contratos bancários

Em linhas gerais a doutrina os tem definido como aquele tipo de contrato que
tem por escopo à intermediação do crédito através de operações que pode-
mos denominá-las por típicas abrangendo aqueles que disponibilizam dinhei-
ro(Banco) por meio de empréstimo ou financiamento, e aqueles que, por sua
vez, o tomam emprestado(pessoa física ou jurídica).
São as suas principais espécies: depósito bancário; redesconto; emprésti-
mo; desconto; antecipação; abertura de crédito; cartas de crédito; operações de
crédito; conta corrente e financiamento.
O jurista Ruy Rosado de Aguiar Junior (2003) fez algumas considerações in-
teressantes sobre as espécies de contratos bancários mais presentes em nosso
dia a dia através de seu artigo: “ Os contratos Bancários e a Jurisprudência do
Superior Tribunal de Justiça”. Dentre as várias espécies de contratos bancários
citados pelo autor, merecem destaques: a) contrato de depósito; b) contrato de

86 • capítulo 5
conta corrente; c) contrato de aplicação financeira; d) contrato de empréstimo
bancário que são os mais presentes em nosso cotidiano.

5.1.1  Contrato de depósito

[...] O contrato de depósito é o mais comum e consiste na entrega de valores


mobiliários a um banco, que se obriga a restituir quando solicitado, pagando
juros (ou interesses). É um contrato próprio, típico, e guarda similitude com o
depósito irregular, mas com este não se confunde: “o depósito irregular tem
por objeto coisas fungíveis e o depositário se obriga a restituir um bem do mes-
mo gênero, qualidade e quantidade do custodiado (como acontece nos arma-
zéns gerais, regulados pelo Dec. nº 1102, de 21.11.1903). Esses elementos, por
evidente, podem verificar-se na relação entre o depositante de recursos mone-
tários e o banco, mas a instituição financeira, a partir do contrato de depósi-
to bancário, passa a titularizar a propriedade dos valores depositados e não a
exercer a simples custódia, como ocorre em relação ao depositário no depósito
irregular. A relação entre o cliente e o banco, nesse contrato, é de verdadeira
fidúcia” (Fábio Ulhoa Coelho, “Manual de Direito Comercial”, p. 431) [...]

5.1.2  Contrato de conta corrente

[...] O contrato de conta corrente é o contrato pelo qual o banco recebe nume-
rário do correntista ou de terceiros e se obriga a efetuar pagamentos por ordem
do cliente, pela utilização daqueles recursos, com ou sem limite de crédito. Ao
contrário do contrato de depósito, que é real, o contrato de conta corrente, que
se estabelece mediante o simples acordo de vontade, é contrato consensual.[...]

5.1.3  Contrato de aplicação financeira

[...] O contrato de aplicação financeira consiste na autorização dada ao banco


para que os recursos nele depositados sejam aplicados no mercado de capitais
(compra de ações, de títulos da dívida pública, etc.), o que é feito de acordo com
a escolha do banco, no que se distingue do mandato ou da corretagem. Contra-
tos comuns de aplicação financeira são os feitos para a aquisição de CDB ou de
RDB (certificados ou recibos de depósito bancário), com o direito de o aplica-
dor receber do banco certa remuneração, pré ou pós-fixada. [...]

capítulo 5 • 87
5.1.4  Contrato de empréstimo bancário

[...] Há várias modalidades de empréstimos bancários. Os pessoais, concedi-


dos em função do crédito ao cliente, normalmente para fim de consumo; os
comerciais, concedidos para a atividade de intermediação da empresa e ordi-
nariamente para a formação do seu capital de giro; os industriais, para o fim
de investimento ou aquisição de matéria prima ou outras despesas próprias da
atividade industrial; os agrícolas, para a atividade agropecuária. [...]

5.2  Contratos eletrônicos

Cumpre agora incluirmos, no âmbito do estudo dos contratos, aquela que foi
talvez a mais relevante das alterações econômicas trazidas pela tecnologia da
informação: o advento do comércio eletrônico, ou o “e-commerce”.
Como ponto de partido de nossa reflexão sobre esse fenômeno, vamos nos
abster de tentar trazer números e cifras indicando a grandeza que o tráfego de
bens e serviços via internet já alcançou em nossos dias. A questão é notória,
e praticamente todas as classes sociais não excluídas da dinâmica econômica
são usuárias desse instrumento de comércio.
E as razões pelas quais o comércio realizado através de meios eletrônicos
cresceu tão vertiginosamente são de fácil compreensão, e dentre elas podemos
mencionar:
•  o conforto da realização da pesquisa e da compra no conforto e seguran-
ça do lar ou mesmo no ambiente de trabalho;
•  a redução de custos proporcionada pelo ‘e-commerce’, com reflexos disso
para o consumidor final;
•  a redução da cadeia de distribuição de produtos, com a eliminação de
intermediários (de novo, redução de custos);
•  o “funcionamento” dos estabelecimentos virtuais em período integral,
viabilizando a compra e venda nos períodos de maior conveniência ao
consumidor;
•  a eliminação das tradicionais barreiras nacionais, viabilizando a aquisi-
ção de produtos disponíveis em todo o mundo, diretamente nas páginas
de seus respectivos comerciantes. (LORENZETTI, Ricardo, 2005, p. 470)
Mas não se iludam: toda essa dinâmica atividade econômica que ocorre no
mundo virtual não deixa de estar regida por aquele que é um dos mais antigos

88 • capítulo 5
e tradicionais institutos do direito: o contrato. E contrato que é, no tudo e por
tudo, regido pelos mesmos institutos já aqui estudados, apesar de marcado,
por certo, por algumas peculiaridades que lhe são próprias. Mas ainda assim, a
compra e venda de algum bem de consumo realizada pela internet ainda é, em
essência, a compra e venda regida pelo Código Civil ou pelo Código de Defesa
do Consumidor.
Essa é a lição de Newton de Lucca (QUATIER LATIN, 2005, p. 72):

Não deixa de ser curioso observar que as relações jurídicas celebradas no âmbito da in-
tenet são e estarão sendo concluídas em virtude de um tradicional instrumento jurídico
denominado contrato. Nada de novo haveria, pois – não fosse a forma desse contrato,
que no mundo digital, passa por profunda transformação -, se continuássemos a pensar
a tradicional forma de documentação inteiramente calcada no papel.

Não se trata, portanto, quando estudamos estas relações comerciais realiza-


das no mundo virtual, de admitirmos que o advento do comércio eletrônico criou
algum novo tipo de interação econômica, com o consequente nascimento de ins-
titutos jurídicos absolutamente novos, cuja substância seria inédita tanto para a
ciência da economia quanto para a ciência do direito.
Ainda que sob pena de nos tornarmos repetitivos, o que de ordinário ocorre
no mundo virtual continua a ser a compra e venda de bens e serviços, a locação
do automóvel, o mútuo bancário, etc. A novidade é que, se antes tais relações
decorriam de contato pessoal direto com o estabelecimento comercial, com
a agência de locação de veículos ou com a agência bancária, sendo documen-
tados numa base física de papel, eles passaram a ser intermediados pela via
digital, com o abandono da documentação física, via papel. Essa é a lição dos
estudiosos (DE LUCCA, 2005, p. 63):

não se pretende, com ela (expressão contratos eletrônicos) – parece-nos que seria
escusado esclarecer – imaginar um novo tipo de contrato no âmbito da teoria geral
dos contratos. O contrato será sempre uma compra e venda, ou de uma prestação
de serviço, ou de uma locação de coisa, ou de um escambo e assim por diante. Mas
será celebrado por um ‘meio eletrônico’. Não nos parece haver diferença ontológica de
relevo entre dizer-se contrato ‘eletrônico’ ou contrato celebrado por ‘meio eletrônico’,
assim como não haveria em dizer-se ‘contrato informático’ ou contrato celebrado por
‘meio informático’.

capítulo 5 • 89
Relembremos que no estudo dos princípios gerais que regem o direito con-
tratual, já falamos a respeito da liberdade de forma. Assim, como norma geral
e salvo situações específicas especificadas em lei, os contratos não têm uma
forma pré-determinada, um modo sacramental de ser. Já dissemos, inclusive,
que mesmo a forma verbal é admitida como válida, apesar das evidentes difi-
culdades em sua prova.
Mas em que pese a liberdade forma já consignada, as exigências de segurança
e estabilidade das relações sociais e econômicas fez com que uma forma docu-
mental ganhasse relevo muito especial: o contrato escrito num suporte de papel.
Aliás, cabe aqui uma investigação a respeito do conceito de documento, gê-
nero do qual o contrato escrito é espécie. O verbete é assim definido pelos nos-
sos dicionários jurídicos (SILVA, De Plácido, 1990):

DOCUMENTO. Do latim ‘documentum’, de ‘docere’ (mostrar, indicar, instruir), na técnica


jurídica entende-se o papel escrito, em que se mostra ou se indica a existência de um
ato, de um fato, ou de algum negócio.
Dessa maneira, numa acepção geral de ‘papel escrito’ ou mesmo ‘fotografia’, em que
se mostra a existência de alguma coisa, o documento toma, na terminologia jurídica,
uma infinidade de denominações, segundo a forma por que se apresenta, ou relativa à
espécie, em que se constitui.
Em sentido próprio à linguagem forense, documento se diz a ‘prova escrita’oferecida em
juízo para demonstração do fato ou do direito alegado.
Nesta razão, para a prova que consta de documentos, diz-se ‘prova documental’, em
oposição à prova testemunhal.

Documento e prova são, portanto, institutos umbilicalmente ligados. Do-


cumenta-se algo para registrá-lo, gerando com isso segurança quanto à ocor-
rência do ato e seu conteúdo. Com a documentação por escrito, que historica-
mente ocorre num suporte de papel, perpetua-se tanto a materialidade do ato
jurídico, quanto seu teor, permitindo assim inclusive a prática de atos nego-
ciais a distância, como pela via postal.
A importância que o papel adquiriu em nossa sociedade, ao longo do século
XX foi tamanha, que Michel Vasseur, citado por De Lucca, chegou a referi-lo
como “O Século do Papel”. Mas o volume deste substrato físico atingiu tama-
nha magnitude, que preocupações de cunho registral e ambiental surgiram em
alguns segmentos sociais:

90 • capítulo 5
Houve certa tendência para basear-se a noção de documento no papel, como suporte
da materialidade do fato, tanto assim que o século XX já foi chamado, por Michel Vas-
seur, de ‘O Século do Papel”.
Embora não se tenha efetuado um levantamento exato do volume de papel acumulado
no mundo, foi feito um estudo na Espanha, décadas atrás, sobre o número de títulos
existentes nos bancos e nas casas de poupança. Chegou-se à conclusão de que existi-
riam aproximadamente 2 milhões de títulos, com peso estimado em 20.000 toneladas,
guardados em 400 quilômetros de estantes. Colocados um atrás do outro, e tendo em
conta o seu tamanho médio, formar-se-ia uma gigantesca cinta de mais de 1.000.000
quilômetros, capaz de dar a volta ao mundo 25 vezes!. (DE LUCCA, 1995, p. 72)

E o primeiro dos desafios trazidos pelo advento do ambiente virtual, com


a atividade social e econômica lá realizada, está exatamente na substituição
deste “documento” com base física, pelo documento virtual, digitalizado, sem
nenhum suporte físico. Esta foi, nos primeiros tempos do “e-commerce”, talvez
a maior das perplexidades trazidas a debate.
DAWN HUDSON | DREAMSTIME.COM

Paulatinamente, porém, e até mesmo em decorrência da inexorável pressão


da realidade do comércio virtual, os estudiosos passaram a construir uma teoria
voltada ao estudo do chamado documento virtual, ou documento eletrônico:

Os documentos eletrônicos são informações puras, convertidas de uma origem ana-


lógica ou mesmo criadas diretamente em mídia eletrônica, isto é, são codificadas e
decodificadas matematicamente por um equipamento informático, e tanto podem ser
gravadas em um meio de armazenamento de dados como existir temporariamente em
uma mídia de processamento e transmissão.

capítulo 5 • 91
Em suma, são “representações da realidade, desprovidas de suporte físico, produzidas
e/ou armazenadas em equipamento eletrônico” e os quais precisam ser convertidas em
formato físico compatível com os sentidos humanos.
Por serem em essência uma sequência numérica, representada eletronicamente por
estados discretos de informação, suas características mais notórias são a reprodução
e a transmissão sem perdas, a volatilidade (pois sua existência não depende de um
substrato físico específico, mas sim de qualquer coisa com a capacidade de conter nú-
meros), bem como a necessidade de uso de um computador devidamente configurado
para a tradução desses sinais eletrônicos em sinais os quais possam ser perceptíveis
pelos seres humanos. Qualidades essas todas em oposição à existência física de um
documento tradicional, fatos os quais trazem problemas para verificar se o documento
eletrônico foi alterado em relação ao original.
Além disso, por serem gerados em computadores e dispositivos similares, eles ampliam
sobremaneira o conceito de documento, pois o registro deixa de ser estático para se
tornar dinâmico: além da inclusão de imagens em movimento e sons, os quais já eram
possíveis de serem registrados em mídias analógicas, os documentos agora podem ser
vinculados a um documento mestre, e a mudança de um documento subordinado se
reflete no principal (VINHA BITTAR, 2011).
Texto cita outros autores, necessário o uso do APUD

Vencidas as resistências iniciais, e firmada a ideia de existência e validade


do documento eletrônico, passamos a atribuir-lhes, respeitadas as suas pecu-
liaridades que serão adiante esmiuçadas, a mesma validade que os documen-
tos tradicionais. Isso tanto é verdade que, hoje, alguns dos mais renomados es-
tudiosos fazem questão de frisar a naturalidade com que trazem o documento
eletrônico para o mundo do direito:

Pode-se concluir, em princípio – sem embargo das considerações que serão feitas mais
adiante, como se disse, a propósito desse tema – que não existe, na verdade, diferen-
ça ontológica entre a noção tradicional de documento e a nova noção de documento
eletrônico. Este último, com efeito, também será o ‘meio real de representação de um
fato’, não sendo, porém, de forma ‘gráfica’. A diferença residirá, portanto, tão somente no
suporte do ‘meio real’ utilizado, não mais representado pelo papel e sim por disquetes,
disco rígido, fitas ou discos magnéticos, etc. (DE LUCCA, Newton, 1995, p. 73)

92 • capítulo 5
Relevante, também, foi a edição da Lei no. 12.682/2012, que dispôs sobre
a elaboração e o arquivamento de documentos em meios eletromagnéticos.
Embora o texto legal seja, em verdade, lacônico e lacunoso, ainda assim temos
hoje um ato regulamentar que, ao final das contas, atribui validade jurídica aos
documentos vertidos para a forma digital.
Destaque-se, ainda, que para tal validade, o diploma legal em questão exi-
ge que a digitalização do documento ocorra com o uso da Infraestrutura de
Chaves Públicas Brasileira - ICP – Brasil.

CONEXÃO
Para conhecer o texto integral da Lei no. 12.682/2012, acesse: <http://www.planalto.gov.
br/CCIVIL_03/_Ato2011-2014/2012/Lei/L12682.htm>

5.2.1  Origens e bases históricas do contrato eletrônico: o contrato a distância

A noção relativa à contratação entre pessoas físicas ou jurídicas que não se


encontram, fisicamente, na mesma localidade, já existe em nosso Direito Civil
há algum tempo.
Mesmo antes do advento da informática e mesmo da eletricidade, atos de
comércio eram realizados entre pessoas que se situavam em locais diversos, às
vezes mesmo em continentes separados.
Naquela época, o mecanismo básico de negociação, o instrumento empre-
gado para a construção da conjugação de vontades necessárias ao contrato, era
a correspondência escrita, normalmente lançada numa base física de barro,
papiro, linho, couro e, finalmente, o papel como o conhecemos em tempos
mais modernos.
Essa correspondência escrita, de base física, é chamada de correspondência
epistolar. Ela era transportada por serviços específicos que, com o tempo, ad-
quiriram elevado grau de organização e complexidade, fazendo com que apesar
das distâncias elevadas, e das limitações tecnológicas da antiguidade, a comu-
nicação entre distantes rincões ocorre dentro de um tempo razoável, a ponto de
permitir a negociação e a prática de atos de comércio entre povos distantes. E
onde há atos de comércio, o instituto do contrato também está presente.
A correspondência epistolar foi, desde o advento do comércio entre civili-
zações distintas, o instrumento básico através do qual, pessoas localizadas em

capítulo 5 • 93
locais distantes negociavam e construíam aquela conjugação de vontades que
culminava no contrato.
Assim, o Direito Civil já de longa data, vem tratando da questão dos contratos
formados à distância, ou seja, entre pessoas que não mantém contato próximo,
que não se comunicam diretamente pelo meio da fala oral.
A esse respeito é, por exemplo, o art. 434 do nosso Código Civil, assim redigido:

Art. 434. Os contratos entre ausentes tornam-se perfeitos desde que a aceitação é
expedida, exceto:
I - no caso do artigo antecedente;
II - se o proponente se houver comprometido a esperar resposta;
III - se ela não chegar no prazo convencionado.

Mas por mais organizados e eficientes que os serviços postais da antigui-


dade fossem, e mesmo nos tempos modernos, com o advento da rapidez dos
transportes e das comunicações, ocorridos com a eletricidade, com o motor a
vapor e de combustão interna, do avião, etc., ainda assim, havia nos contratos
entre ausentes uma característica básica: a existência de um intervalo de tempo
entre as mensagens trocadas pelos contrantes.
E foi nesse ponto que o advento da informática e das redes de computado-
res também impactaram fortemente, pois mesmo entre ausentes, a comuni-
cação e, por conseguinte, a contratação, ganharam um ar de imediatidade, de
instantaneidade.
Mas não é só: a banalização da instantaneidade, tão característica das rela-
ções havidas no ambiente virtual, trouxe consigo a destruição da própria noção
de distância.
Tempo e distância não são mais, hoje, tão relevantes como foram no passa-
do. E reflexos disso são fortemente sentidos nas interações sociais, e na dinâ-
mica da economia. É a lição dos estudiosos:

Existe uma nova temporalidade que é caracterizada pela simultaneidade, o ‘tempo vir-
tual’ e a dissolução da distância na interação imediata. Isso coloca problemas legais,
como por exemplo, estabelecer se se trata de contratos entre presentes ou ausentes,
ou compras e vendas à distância (telemarketing). (LORENZETTI, Ricardo, 2005, p. 467)

94 • capítulo 5
5.2.2  Classificação dos contratos eletrônicos

Com a evolução e consolidação das relações sociais e, logo depois, econô-


micas no ambiente virtual, três modalidades básicas de relações contratuais
foram identificadas como aquelas mais recorrentes: os contratos eletrônicos
interativos, os contratos interpessoais e os contratos intersistêmicos.
O professor Adbo Dias da Silva Neto1, em seu artigo publicado, assim nos
apresenta as características de cada uma destas modalidades de avenças:

5.2.2.1  Contratos Eletrônicos Interativos


A principal característica dos contratos eletrônicos interativos está na in-
teração entre o homem e a máquina. Seu principal exemplo são as páginas de
“e-commerce”, onde no site do vendedor existe a oferta do produto ou serviço,
normalmente com uma breve descrição do mesmo, algumas imagens, o res-
pectivo preço e condições de pagamento.
Note que a partir do momento em que a página do site de vendas está mon-
tada e em funcionamento, existe uma oferta pública de produtos ou serviços.
Essa oferta permanece à disposição do público consumidor; embora o vende-
dor necessariamente não permaneça o tempo todo consciente das contrata-
ções ali realizadas.
A aceitação da oferta, pelo adquirente, ocorre no momento em que ele clica
no ícone específico, indicando sua vontade de realizar a compra do bem ofertado.
Esse é o ato que marca a concretização do acordo de vontades.
Trata-se da modalidade de contrato via internet mais comum atualmente, gra-
ças ao imenso sucesso das páginas de “e-commerce”, ai incluindo aquelas de leilão.

Essa é a lição da doutrina (SILVA NETO, 2008):

Os contratos eletrônicos Interativos são utilizados em maior números no campo virtual,


fazendo com que seja o mais peculiar. Sua forma é a mais típica, se encaixando ple-
namente no que foi exposto até o momento. Trata-se de uma interatividade entre um
internauta e um sistema munido de informações específicas acessíveis, criado e colo-
cado à disposição por uma empresa ou mesmo por outra pessoa que pode nem estar
conectada, tendo ciência da contratação posteriormente.

1 “http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=5365”

capítulo 5 • 95
Esses contratos acontecem milhões de vezes por dia em todo o mundo, em uma sim-
ples interação pessoa/programa onde se demonstra o interesse de contratação.
Ressalva-se que o sistema aplicativo com o qual a comunicação acontece nada mais é
do que um programa de computador com a função de acessar um banco de dados es-
pecífico. Tal programa normalmente é dotado de funcionalidades capazes de direcionar
o internauta a serviços, bens de consumos, produtos, formulários e etc.

5.2.2.2  Contratos Eletrônicos Intersistêmicos


Nos contratos eletrônicos intersistêmicos a vontade das partes contratan-
tes já está formada num momento prévio. Ocorreram tratativas e negociações
comerciais prévias, nas quais os termos do acordo de vontades foram bem es-
tabelecidas.
Depois de superada essa fase de construção das cláusulas contratuais, a for-
malização do negócio ocorre pela via eletrônica, mediante sistemas computa-
cionais previamente programados. Logo, no momento em que a comunicação
eletrônica ocorre, a vontade humana não está presente, pois já fora anterior-
mente consolidada.
Tal modalidade de contratação normalmente ocorre entre as grandes in-
dústrias ou grandes importadores de um lado; e do outro, as grandes redes dis-
tribuidoras ou varejistas. Entre eles, a relação comercial tende a ser rotineira e
institucionalizada (reiterada, frequente, burocratizada), de tal maneira que as
repetidas aquisições de produtos são desencadeadas pela via eletrônica.

Veja que aqui, o computador apenas transmite uma vontade humana já


adredemente ajustada (SILVA NETO, 2008):

Esses são caracterizados quando se utiliza o computador como ponto convergente de


vontades preexistentes, ou seja, as partes direcionam sinteticamente as vontades resul-
tantes de negociação prévia, sem que o equipamento intervenha no campo da vontade,
visto que já era pré-existente.
Assim sendo, observa-se que o computador é apenas serve uma ferramenta que pos-
sibilita às partes exporem suas vontades na realização de um negócio jurídico válido.

96 • capítulo 5
Como há de se notar, no presente caso a vontade nasceu quando os sistemas foram
“pré-destinados”, pois ali a manifestação volitiva das partes abrangidas nas contrata-
ções intersistêmicas, ocorreu no momento em que os sistemas foram programados
para a consumação de cada uma das comunicações eletrônicas.
Tecnicamente, nessa modalidade de contratação eletrônica destaca-se a utilização do
Electronic Data Interchange (EDI), que admite o diálogo eletrônico entre sistemas apli-
cativos distintos, mediante utilização de “documentos padrões” ou “padrões de EDF”.
Na verdade essa forma de contratação se caracteriza por realizar-se entre pessoas
jurídicas, e é notadamente voltada a relações comerciais de atacado.

5.2.2.3  Contratos Eletrônicos Interpessoais


Aqui, estamos falando de um tipo de contratação que pode ser tido como
uma atualização tecnológica do antigo contrato por correspondência. Ele ocor-
re por intermédio de sistemas de correspondência eletrônica (email e outros
assemelhados), através dos quais as partes emitem suas respectivas vontades
uma para a outra.
Sua característica é, portanto, a existência de uma conduta humana tanto
da emissão da primeira mensagem que concretiza a oferta; quanto na mensa-
gem resposta, que concretiza a aceitação.
Como já dito, no tudo e por tudo, as coisas se passam quase da mesma ma-
neira que no antigo contrato por correspondência, que existe desde a antigui-
dade. O grande diferencial reside na inexistência de um suporte físico (papel)
onde são lançadas as manifestações de vontade, que aqui permanecem no
campo do virtual. Essa é a lição dos estudiosos (SILVA NETO, 2008):

Os contratos solenizados por computador quando este é utilizado como meio direto de
comunicação entre as partes, ou seja, existe a vontade simultânea de ambas as partes
naquele exato momento. A interação não se faz por qualquer programa ou sistema
computacional, uma vez que aqui não a vontade não é pré-estabelecida. A interação
humana se faz a grande característica dessa forma contratual, sendo o computador
apenas a ferramenta de comunicação.

A grande dificuldade que esse tipo de contratação tem apresentado no pla-


no jurídico diz respeito à checagem da autenticidade das manifestações de von-

capítulo 5 • 97
tade. A negociação e contratação válidas pressupõem que ambas as partes acre-
ditam estar lidando com mensagens eletrônicas autênticas, isto é, emanadas
da pessoa que se identifica como autor.
A solução ideal para atribuir maior segurança a estes contratos reside na
adoção generalizada da assinatura digital, fazendo com que ambos os contra-
tantes sejam identificados por uma autoridade certificadora. Atualmente, po-
rém, o uso desta ferramenta ocorre num número muito pequeno de transações.

5.2.3  A questão da autenticidade e da autoria nos documentos e contratos


eletrônicos: a assinatura digital

Historicamente falando, desde tempos imemoriáveis desenvolveram-se nas


mais variadas culturas a humanas necessidade de se criar algum mecanismo
ou artifício capaz de ligar, de forma indelével e segura, os documentos, contra-
tos e mesmo obras de arte, aos seus respectivos autores e/ou responsáveis.
Tal necessidade se intensificou com o recrudescimento do comércio à dis-
tância (ou entre ausentes), fenômeno que, conforme já abordado acima, existiu
desde a antiguidade.
CAMMERAYDAVE | DREAMSTIME.COM

Assim, a aposição de sinais distintivos e personalíssimos, nas mensagens,


cartas epistolares, títulos de crédito e obras de arte, passou a ser um hábito ge-
neralizado. Com tal sinal, marcava-se o objeto ou mensagem, para identificá-lo
como de autoria ou, pelo menos, responsabilidade de alguma pessoa em espe-
cial, fosse ela um governante, um comerciante ou artista.

98 • capítulo 5
De início, quando o domínio da escrita era uma arte reservada a pouquíssi-
mos privilegiados, sendo raro mesmo entre os governantes e membros das clas-
ses sociais mais elevadas, adotava-se como sinal de autenticidade os selos ou
estampas. Estes eram sinais visuais não escritos, normalmente derivados da he-
ráldica, que vinham estampados em matrizes portáteis (carimbos), e marcados
mediante tintas ou mesmo em vela (cera) derretida.
Mais tarde, já na “Era do Papel”, generalizou-se como mecanismo de auten-
ticidade documental o instituto da assinatura ou firma. A assinatura é assim
conceituada no Dicionário De Plácido e Silva:

ASSINATURA: Na terminologia jurídica, seja comercial ou civil, representa a ação de


apor a pessoa o seu nome, com todos os apelidos e cognomes e com todas as letras
com que ele se escreve, em papel ou documento, de que resulte, ou não, obrigação, sem
o que não ficará obrigado nele, quando este for o seu fim.
A assinatura se entende do próprio punho do assinante, o que significa que ele próprio
é quem a escreve (SILVA, 1990, p. 37).

Normalmente associamos a assinatura com o nome por extenso do autor do


documento, nele aposto, com a finalidade de atribuir-lhe autenticidade e origi-
nalidade. Porém, mais do que isto, a assinatura é o lançamento de um sinal, de
cunho personalíssimo, criada por cada um de nós.
A atribuição de validade jurídica à esse sinal desenvolveu-se a tal ponto,
que chegamos ao momento onde um oficial operando algum órgão de regis-
tro público (cartório), pode manter arquivos de assinaturas de várias pessoas.
Assim, em confronto com alguma firma lançada em sua presença, ou por mera
semelhança com aquela existente em algum documento a ele apresentado,
pode este oficial público atestar, com força probante a autenticidade do sinal
identificador.
Esta foi, durante boa parte da fase de maior expansão do desenvolvimento
econômico do mundo ocidental (período pós revolução industrial), a praxe em-
pregada para a certificação da origem e autenticidade de documentos da mais
variada ordem, ai incluindo os contratos.
Fácil verificar, porém, que o nascimento da era digital colocou este sistema
em cheque. Se de um lado os atrativos dessa nova ferramenta social e econômi-
ca eram evidentes, de outro lado, a necessidade de um novo sistema de autenti-
cação de documentos se fez sentir de imediato.

capítulo 5 • 99
Essa perplexidade é assim comentada pelos estudiosos do tema:

A decodificação decimonônica está ligada à era da imprensa, do papel escrito e da


firma. Em períodos anteriores à imprensa, outras modalidades eram utilizadas, as quais
foram superadas pela evolução tecnológica, o que revela que o documento escrito e a
firma holográfica não constituem uma regra ontológica, mas historicamente contingen-
te. A regra legal absorve essas mudanças mediante o processo de saturação do conte-
údo: as práticas sociais e os conceitos de documento e firma começam a expandir-se
até abranger tantas hipóteses que é necessário elaborar uma nova categoria.
Na contratação por meios eletrônicos surge um problema de recognoscibilidade: em
quais condições existe um documento e quando é atribuível ao seu autor?
[...]
A noção de documento escrito que leva a firma (assinatura) do autor como único meio
de atribuição da declaração de vontade passou por uma contínua ampliação, admitin-
do-se progressivamente diversos outros modos. (LORENZETTI, Ricardo, 2005, p. 471)

Urgia, então, a criação de uma “assinatura eletrônica”, uma marca persona-


líssima, indelével e de difícil contrafação, apta a atribuir aos documentos digi-
tais, com razoável segurança, uma origem, uma autoria.

Segurança, enfim.
E dessa segurança é que adviria, como consequência, a relevância jurídica
de tais documentos. Este desiderato foi alcançado com a criação de sistemas de
assinatura ou, mais acertadamente, certificação digitais, que são assim descri-
tos pelo prof. João Paulo Vinha Bittar:

Estudamos que a assinatura formal é uma marca personalíssima, gravada de forma


idêntica em todos os documentos produzidos por seu autor. Porém, a assinatura digital
tem origem em um processo automatizado, sob o controle de terceiros (por isso chama-
se mais comumente de certificação digital), no qual serão produzidos para cada docu-
mento eletrônico, o qual é em essência uma sequência numérica, uma outra sequência
de algarismos (também chamada de hash criptográfico), derivada da primeira e criada
com o uso de uma função matemática de criptografia, a qual pode ser simétrica ou
assimétrica. Mas, para a certificação digital, importa apenas a criptografia com chaves
assimétricas, também chamada de criptografia com chave pública.

100 • capítulo 5
A criptografia com chave pública usa duas chaves:
1) A chave privada, de conhecimento exclusivo do subscritor, possui a função de co-
dificar os documentos eletrônicos e identificar o seu autor, além de decodificar os que
forem criptografados com a chave pública;
2) A chave pública, derivada da anterior e de forma que a descoberta da primeira a
partir da segunda seja difícil em termos práticos, serve para decodificar os documentos
codificados pela primeira, bem como criptografar de forma que somente o proprietário
da chave privada que a originou possa descriptografá-los. (VINHA BITTAR, 2011).

Também o prof. Ricardo Luis Lorenzetti se debruça sobre o tema:

A assinatura ‘digital’ não é constituída por traços oriundos da mão do autor; mas por
signos, chaves que a ele pertencem de maneira indubitável e que não podem ser falsifi-
cadas nem utilizadas por terceiros. O fundamento técnico para que isso seja possível é
a criptologia, a qual estuda a ocultação, a dissimulação ou cifrgem da informação e os
sistemas que a permitem.
A firma ou assinatura é a transformação de uma mensagem empregando um sistema
de cifragem assimétrica, de maneira que a pessoa que possua a mensagem inicial e a
chave pública do assinante possa determinar de forma confiável se tal transformação
se fez empregando a chave privada correspondente à chave pública do assinante e se
a mensagem foi alterada desde o momento em que se realizou a transformação.
[...]
A chave pública conta com o respaldo de uma autoridade que certifica sua autoria, a
chave privada é somente atribuível ao possuidor e, portanto, é assimilável a uma assina-
tura no sentido de que é um método confiável para atribuir a autoria de um documento.
(LORENZETTI, 2005, p. 474)

Este sistema de encriptação passou a ter um reconhecimento quase univer-


sal, como sendo a resposta à indagação de como se alcançar e segurança quan-
to à autenticidade dos documentos eletrônicos.
E em nosso País, vem ele disciplinado pela Medida Provisória no. 2.200-2,
de 24 de agosto de 2001, e cuja ementa diz que ela:

Institui a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP-Brasil, transforma o Institu-


to Nacional de Tecnologia da Informação em autarquia, e dá outras providências.

capítulo 5 • 101
CONEXÃO
Para acessar o inteiro teor da Medida Provisória no. 2.200-2/2001, visite:
<http://www.planalto.gov.br/Ccivil_03/MPV/Antigas_2001/2200-2.htm>

5.2.4  Da Exigibilidade dos Contratos Eletrônicos

E se, em face de contratação pela via eletrônica, uma das partes acabar por
não cumprir com a avença realizada?
Dizendo noutro giro, em caso de inadimplência, qual a exequibilidade do
contrato realizado por meio digital?
Aqui, duas situações distintas se apresentam.
Figuremos, inicialmente, a hipótese de contrato realizado sem a aposição
de assinatura, ou certificação, digital. Essa situação é, por certo, aquela que co-
loca do credor em situação de maior fragilidade. Porém, tenhamos em mente
que mesmo fora do mundo virtual, não é incomum a prática de atos de comér-
cio dispensando a formalização de instrumento em papel escrito e assinado.
Especialmente nas relações de consumo mais corriqueiras, envolvendo valores
negociais não muito altos, é comum a celebração de atos jurídicos de manei-
ra informal, tal como ocorre quando abastecemos nosso veículo num posto de
gasolina, quando vamos a supermercado, frequentamos bares, restaurantes e
similares, etc.
Em situações como essas, apesar da informalidade que as cerca, acaso seja
necessária a cobrança judicial da obrigação, para além do documento eletrôni-
co (que poderá ser ofertado em mídia digital, ou impresso numa base de papel),
seremos obrigados a lançar mão de outros elementos de prova complementa-
res, aptos a auxiliar na corroboração da realização do negócio em questão.
Tais meios de provas poderão ser a oitiva de testemunhas ou mesmo da par-
te contrária no processo, a apresentação de outros documentos correlatos ao
fato que se pretende demonstrar, como por exemplo, extratos de movimenta-
ção bancária e/ou cartão de crédito, onde estejam estampados os lançamentos
pertinentes à contratação em questão. Em casos extremos, até mesmo o exame
técnico pericial dos equipamentos de informática poderá ser realizado, para
que se comprove a transação sob debate.

102 • capítulo 5
Já nas situações onde houver o uso de certificação digital com validade le-
galmente assegurada, a segurança dos contratantes é muito maior. Aqui, tal
como nos contratos em papel, o instrumento contratual eletrônico gozará de
presunção de veracidade, dispensando ao credor a produção de outras provas
de seu direito. Essa é a letra do art. 10 da MP 2.200-2/2001, sobre o assunto:

Art. 10. Consideram-se documentos públicos ou particulares,


para todos os fins legais, os documentos eletrônicos de que trata
esta Medida Provisória.
§ 1o As declarações constantes dos documentos em forma ele-
trônica produzidos com a utilização de processo de certificação
disponibilizado pela ICP-Brasil presumem-se verdadeiros em re-
lação aos signatários, na forma do art. 131 da Lei no 3.071, de 1o
de janeiro de 1916 - Código Civil.
§ 2o O disposto nesta Medida Provisória não obsta a utilização
de outro meio de comprovação da autoria e integridade de do-
cumentos em forma eletrônica, inclusive os que utilizem certi-
ficados não emitidos pela ICP-Brasil, desde que admitido pelas
partes como válido ou aceito pela pessoa a quem for oposto o do-
cumento.

Essa situação, ou seja, o emprego de mecanismos legalmente reconhecidos


de certificação, ou assinatura digital, será aquela cada vez mais encontradiça
nas relações contratuais de maior relevância.
É somente nessa situação, onde houver o emprego de algum destes meca-
nismos de autenticação reconhecidos por lei, que estaremos diante de um con-
trato propriamente dito, cujo instrumento será prova cabal e exigível do negó-
cio realizado.
Nas demais situações, a prova do negócio jurídico precisará ser comple-
mentada por outros elementos de convicção a ele relativos.

capítulo 5 • 103
Referências legislativas

No que tange a formação dos contratos pelo Código Civil Brasileiro, com des-
taque a estipulação entre pessoas ausentes, previsto no artigo 434 do Código Civil:
Art. 427. A proposta de contrato obriga o proponente, se o contrário não re-
sultar dos termos dela, da natureza do negócio, ou das circunstâncias do caso.
Art. 428. Deixa de ser obrigatória a proposta:
I - se, feita sem prazo a pessoa presente, não foi imediatamente aceita. Con-
sidera-se também presente a pessoa que contrata por telefone ou por meio de
comunicação semelhante;
II - se, feita sem prazo a pessoa ausente, tiver decorrido tempo suficiente
para chegar a resposta ao conhecimento do proponente;
III - se, feita a pessoa ausente, não tiver sido expedida a resposta dentro do
prazo dado;
IV - se, antes dela, ou simultaneamente, chegar ao conhecimento da outra
parte a retratação do proponente.
Art. 429. A oferta ao público equivale a proposta quando encerra os requi-
sitos essenciais ao contrato, salvo se o contrário resultar das circunstâncias ou
dos usos.
Parágrafo único. Pode revogar-se a oferta pela mesma via de sua divulgação,
desde que ressalvada esta faculdade na oferta realizada.
Art. 430. Se a aceitação, por circunstância imprevista, chegar tarde ao co-
nhecimento do proponente, este comunicá-lo-á imediatamente ao aceitante,
sob pena de responder por perdas e danos.
Art. 431. A aceitação fora do prazo, com adições, restrições, ou modifica-
ções, importará nova proposta.
Art. 432. Se o negócio for daqueles em que não seja costume a aceitação ex-
pressa, ou o proponente a tiver dispensado, reputar-se-á concluído o contrato,
não chegando a tempo a recusa.
Art. 433. Considera-se inexistente a aceitação, se antes dela ou com ela che-
gar ao proponente a retratação do aceitante.
Art. 434. Os contratos entre ausentes tornam-se perfeitos desde que a acei-
tação é expedida, exceto:
I - no caso do artigo antecedente;
II - se o proponente se houver comprometido a esperar resposta;
III - se ela não chegar no prazo convencionado.
Art. 435. Reputar-se-á celebrado o contrato no lugar em que foi proposto.

104 • capítulo 5
Referências legislativas

Importante destacar a Medida Provisória que institui a infraestrutura de


chaves públicas brasileiras, pondo em destaque o artigo 12 da citada Medida
Provisória, equiparando-os, conforme o caso, em documentos públicos ou par-
ticulares gozando da mesma prerrogativa que o documento físico.
Art. 1o Fica instituída a Infra-Estrutura de Chaves Públicas Brasileira - ICP
-Brasil, para garantir a autenticidade, a integridade e a validade jurídica de
documentos em forma eletrônica, das aplicações de suporte e das aplicações
habilitadas que utilizem certificados digitais, bem como a realização de transa-
ções eletrônicas seguras.
Art. 2o A ICP-Brasil, cuja organização será definida em regulamento, será
composta por uma autoridade gestora de políticas e pela cadeia de autoridades
certificadoras composta pela Autoridade Certificadora Raiz - AC Raiz, pelas Au-
toridades Certificadoras - AC e pelas Autoridades de Registro - AR.
Art. 3o A função de autoridade gestora de políticas será exercida pelo Co-
mitê Gestor da ICP-Brasil, vinculado à Casa Civil da Presidência da República e
composto por onze membros, sendo quatro representantes da sociedade civil,
integrantes de setores interessados, designados pelo Presidente da República,
e sete representantes dos seguintes órgãos, indicados por seus titulares:
I - Casa Civil da Presidência da República;
II - Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República;
III - Ministério da Justiça;
IV - Ministério da Fazenda;
V - Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior;
VI - Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão;
VII - Ministério da Ciência e Tecnologia.
§ 1o A coordenação do Comitê Gestor da ICP-Brasil será exercida pelo repre-
sentante da Casa Civil da Presidência da República.
§ 2o Os representantes da sociedade civil serão designados para períodos
de dois anos, permitida a recondução.
§ 3o A participação no Comitê Gestor da ICP-Brasil é de relevante interesse
público e não será remunerada.
§ 4o O Comitê Gestor da ICP-Brasil terá uma Secretaria-Executiva, na forma
do regulamento.

capítulo 5 • 105
Art. 4o O Comitê Gestor da ICP-Brasil será assessorado e receberá apoio
técnico do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento para a Segurança das Comu-
nicações - CEPESC.
Art. 5o Compete ao Comitê Gestor da ICP-Brasil:
I - adotar as medidas necessárias e coordenar a implantação e o funciona-
mento da ICP-Brasil;
II - estabelecer a política, os critérios e as normas para licenciamento das
AC, das AR e dos demais prestadores de serviços de suporte à ICP-Brasil, em
todos os níveis da cadeia de certificação;
III - estabelecer a política de certificação e as regras operacionais da AC Raiz;
IV - homologar, auditar e fiscalizar a AC Raiz e os seus prestadores de servi-
ço;
V - estabelecer diretrizes e normas para a formulação de políticas de cer-
tificados e regras operacionais das AC e das AR e definir níveis da cadeia de
certificação;
VI - aprovar políticas de certificados e regras operacionais, licenciar e auto-
rizar o funcionamento das AC e das AR, bem como autorizar a AC Raiz a emitir
o correspondente certificado;
VII - identificar e avaliar as políticas de ICP externas, quando for o caso,
certificar sua compatibilidade com a ICP-Brasil, negociar e aprovar acordos de
certificação bilateral, de certificação cruzada, regras de interoperabilidade e
outras formas de cooperação internacional;
VIII - atualizar, ajustar e revisar os procedimentos e as práticas estabeleci-
das para a ICP-Brasil, garantir sua compatibilidade e promover a atualização
tecnológica do sistema e a sua conformidade com as políticas de segurança.
Art. 6o À AC Raiz, primeira autoridade da cadeia de certificação, executora
das Políticas de Certificados e normas técnicas e operacionais aprovadas pelo
Comitê Gestor da ICP-Brasil, compete emitir, manter e cancelar os certificados
das AC de nível imediatamente subsequente ao seu, gerenciar a lista de certifi-
cados emitidos, cancelados e vencidos, e executar atividades de fiscalização e
auditoria das AC e das AR e dos prestadores de serviço habilitados na ICP, em
conformidade com as diretrizes estabelecidas pelo Comitê Gestor da ICP-Brasil.
Parágrafo único. É vedado à AC Raiz emitir certificados para o usuário final.
Art. 7o O Instituto Nacional de Tecnologia da Informação do Ministério da
Ciência e Tecnologia é a AC Raiz da ICP-Brasil.

106 • capítulo 5
Parágrafo único. Para a consecução de seus objetivos, o Instituto Nacional de
Tecnologia da Informação poderá, na forma da lei, contratar serviços de terceiros.
Art. 8o Às AC, entidades autorizadas a emitir certificados digitais vinculando
determinado código criptográfico ao respectivo titular, compete emitir, expedir,
distribuir, revogar e gerenciar os certificados e as correspondentes chaves crip-
tográficas, colocar à disposição dos usuários listas de certificados revogados e
outras informações pertinentes e manter registro de suas operações.
Art. 9o Às AR, entidades operacionalmente vinculadas a determinada AC,
compete identificar e cadastrar usuários, encaminhar solicitações de certifica-
dos às AC e manter registros de suas operações.
Art. 10. Observados os critérios a serem estabelecidos pelo Comitê Gestor
da ICP-Brasil, poderão ser licenciados como AC e AR os órgãos e as entidades
públicos e as pessoas jurídicas de direito privado.
Art. 11. É vedada a certificação de nível diverso do imediatamente subse-
quente ao da autoridade certificadora, exceto nos casos de acordos de certifica-
ção lateral ou cruzada previamente aprovados pelo Comitê Gestor da ICP-Bra-
sil.
Art. 12. Consideram-se documentos públicos ou particulares, para todos
os fins legais, os documentos eletrônicos de que trata esta Medida Provisória.
Art. 13. A todos é assegurado o direito de se comunicar com os órgãos públi-
cos por meio eletrônico.
Art. 14. A utilização de documento eletrônico para fins tributários atenderá,
ainda, ao disposto no art. 100 da Lei no 5.172, de 25 de outubro de 1966 - Código
Tributário Nacional.
Art. 15. Esta Medida Provisória entra em vigor na data de sua publicação.

REFLEXÃO
Neste último capítulo estudamos as duas espécies de contratos: os contratos bancários e
eletrônicos. A reflexão que se faz em relação aos contratos eletrônicos é que - a nossa le-
gislação sempre esteve preparada e preocupada em disciplinar as contratações a distância,
como foi no caso do artigo 434 do Código Civil Brasileiro. Talvez seja por isso que o legislador
se antecipou em criar referido comando normativo. Também merece reflexão o avanço da
legislação equiparando os documentos eletrônicos como detentores das mesmas prerroga-
tivas que os documentos físicos (Artigo 12). Sem dúvida a era eletrônica veio para ficar e o
meio ambiente agradece!

capítulo 5 • 107
ATIVIDADE
1. Para que servem os contratos bancários?

2. O que são documentos eletrônicos?

LEITURA RECOMENDADA
VINHA BITTAR, J. P.. Assinaturas e contratos digitais: uma breve abordagem sobre as
novas questões trazidas pelos avanços da informática no campo do direito contratual, mais
especificamente sobre a validade das assinaturas digitais. In: Âmbito Jurídico, Rio Grande, XIV, n.
93, out 2011. Disponível em: <http://www.ambitojuridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_
artigos_leitura&artigo_id=10239&revista_caderno=17>. Acesso em setembro 2014.

Este artigo apresenta questões referentes a validade das assinaturas digitais.

AGUIAR JUNIOR, R. R.. “Os contratos Bancários e a Jurisprudência do Superior Tribunal de


Justiça”, publicado no Centro de Estudos Judiciários – CJE do CJF, série Pesquisas do CEJ
nº 11, e da Revista dos Tribunais, ano 92, maio de 2003, vol. 811, pp. 99-141.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
SILVA NETO, A. D. da. Contratos eletrônicos e a aplicação da legislação moderna. In: Âmbito
Jurídico, Rio Grande, XI, n. 60, dez 2008. Disponível em: <http://www.ambito- juridico.com.
br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=5365>. Acesso em nov 2012.

LUCCA, N. De e SIMÃO FILHO, A. (coordenadores), LORENZETTI, R. L. e outros. Direito &


Internet – aspectos jurídicos relevantes. São Paulo: Quartier Latin, 2ª ed., 2005.

JORGE JÚNIOR, A. G.. Aspectos da formação e interpretação dos contratos eletrônicos.


Revista do Advogado, São Paulo, ano XXXII, no. 115, p. 07-17, abril de 2012.

108 • capítulo 5
EXERCÍCIO RESOLVIDO
Capítulo 1

1. Explique a função social e econômica do contrato.


O contrato também possui a sua função econômica, no sentido de ser um valioso instru-
mento para promover a circulação de riquezas, ou ainda, transmissão de bens ou de somas.
A liberdade contratual é reconhecida, mas seu exercício está condicionado à função so-
cial do contrato e implica valores de boa-fé e probidade. Logo a função social dos contra-
tos diminui o alcance do princípio da autonomia da vontade, ou liberdade contratual, quan-
do estiverem presentes interesses, não somente individuais, mas, de toda a sociedade.

2. Por que é importante controlar os contratos?


Os contratos são utilizados pelas empresas para consolidar suas relações empresariais.
Para que suas relações se tornem bem sucedidas é necessário lançar mão de um sis-
tema que possa ser de auxilio para obter o controle desses contratos, aperfeiçoando
os relacionamentos que a empresa mantém com seus fornecedores, clientes ou con-
sumidores.

Capítulo 2

1. Qual é o risco de se manter os contratos guardados em gavetas?


Nega-se a possibilidade de ter um acompanhamento efetivo gerando, com isto, obstá-
culos que impedem por exemplo de avaliar os riscos associados na fase de execução
destes contratos.

2. É possível a alteração unilateral do contrato administrativo?


A possibilidade de alteração unilateral do contrato administrativo é da essência do próprio
acordo de que o Estado é parte na condição de representante do interesse público. En-
tende-se que a Administração sempre dispõe de tal prerrogativa, ainda que não exista
cláusula expressa nesse sentido.

capítulo 5 • 109
Capítulo 3

1. Explique a cláusula da retrovenda prevista nos contratos de compra e venda.


A cláusula de retrovenda é um pacto adjeto ou acessório ao contrato de compra e
venda pelo qual, o vendedor estipula o direito de reaver do comprador, o imóvel que
vendeu, em certo prazo máximo de três anos, restituindo o preço somado às despesas
feitas pelo comprador.

Capítulo 4

1. Quais são as hipóteses previstas junto ao Código Civil e que autorizam a revo-
gação da doação?
Segundo o artigo 555 do Código Civil, a doação pode ser revogada por ingratidão do
donatário, ou por inexecução do encargo.
Também podem ser revogadas por ingratidão as doações (art. 557, CC):
I – se o donatário atentou contra a vida do doador ou cometeu crime de homicídio
doloso contra ele;
II – se cometeu contra ele ofensa física;
III – se o injuriou gravemente ou o caluniou;
IV – se, podendo ministrá-los, recusou ao doador os alimentos de que este necessitava.

Capítulo 5

1. Para que servem os contratos bancários?


Em linhas gerais tais contratos tem por escopo à intermediação do crédito através de
operações que podemos denominá-las por típicas abrangendo aqueles que disponibili-
zam dinheiro(Banco) por meio de empréstimo ou financiamento, e aqueles que, por sua
vez, o tomam emprestado(pessoa física ou jurídica).

1. O que são documentos eletrônicos?


Em suma, são “representações da realidade, desprovidas de suporte físico, produzidas
e/ou armazenadas em equipamento eletrônico” e os quais precisam ser convertidas em
formato físico compatível com os sentidos humanos.

110 • capítulo 5

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