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História para

vestibular medicina
5ª edição • São Paulo
2019

C H
1
CIÊNCIAS HUMANAS
HISTÓRIA
e suas tecnologias
Eduardo Antônio Dimas e Tiago Rozante
© Hexag Sistema de Ensino, 2018
Direitos desta edição: Hexag Sistema de Ensino, São Paulo, 2019
Todos os direitos reservados.

Autores
Eduardo Antônio Dimas
Tiago Rozante

Diretor geral
Herlan Fellini

Coordenador geral
Raphael de Souza Motta
Responsabilidade editorial, programação visual, revisão e pesquisa iconográfica
Hexag Sistema de Ensino

Diretor editorial
Pedro Tadeu Batista

Editoração eletrônica
Arthur Tahan Miguel Torres
Claudio Guilherme da Silva Souza
Eder Carlos Bastos de Lima
Fernando Cruz Botelho de Souza
Matheus Franco da Silveira
Raphael de Souza Motta
Raphael Campos Silva

Projeto gráfico e capa


Raphael Campos Silva

Foto da capa
pixabay (http://pixabay.com)

Impressão e acabamento
Meta Solutions

ISBN: 978-85-9542-129-5

Todas as citações de textos contidas neste livro didático estão de acordo com a legislação, tendo por fim único e exclusivo o
ensino. Caso exista algum texto, a respeito do qual seja necessária a inclusão de informação adicional, ficamos à disposição
para o contato pertinente. Do mesmo modo, fizemos todos os esforços para identificar e localizar os titulares dos direitos sobre
as imagens publicadas e estamos à disposição para suprir eventual omissão de crédito em futuras edições.
O material de publicidade e propaganda reproduzido nesta obra é usado apenas para fins didáticos, não representando qual-
quer tipo de recomendação de produtos ou empresas por parte do(s) autor(es) e da editora.

2019
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CARO ALUNO

O Hexag Medicina é referência em preparação pré-vestibular de candidatos à carreira de Medicina. Desde 2010, são centenas de aprovações nos
principais vestibulares de Medicina no Estado de São Paulo, Rio de Janeiro e em todo Brasil. O material didático foi, mais uma vez, aperfeiçoado e seu conteúdo
enriquecido, inclusive com questões recentes dos relevantes vestibulares de 2019.
Esteticamente, houve uma melhora em seu layout, na definição das imagens, criação de novas seções e também na utilização de cores.
No total, são 103 livros, 24 cadernos de Estudo Orientado e 6 cadernos de aula.
O conteúdo dos livros foi organizado por aulas. Cada assunto contém uma rica teoria, que contempla de forma objetiva e clara o que o aluno
realmente necessita assimilar para o seu êxito nos principais vestibulares do Brasil e Enem, dispensando qualquer tipo de material alternativo complementar.
Todo livro é iniciado por um infográfico. Esta seção, de forma simples, resumida e dinâmica, foi desenvolvida para indicação dos assuntos mais abordados nos
principais vestibulares, voltados para o curso de medicina em todo território nacional.
O conteúdo das aulas está dividido da seguinte forma:
TEORIA
Todo o desenvolvimento dos conteúdos teóricos, de cada coleção, tem como principal objetivo apoiar o estudante na resolução de questões propos-
tas. Os textos dos livros são de fácil compreensão, completos e organizados. Além disso, contam com imagens ilustrativas que complementam as explicações
dadas em sala de aula. Quadros, mapas e organogramas, em cores nítidas, também são usados, e compõem um conjunto abrangente de informações para o
estudante, que vai dedicar-se à rotina intensa de estudos.
TEORIA NA PRÁTICA (EXEMPLOS)
Desenvolvida pensando nas disciplinas que fazem parte das Ciências da Natureza e suas Tecnologias e Matemática e suas Tecnologias. Nesses
compilados nos deparamos com modelos de exercícios resolvidos e comentados, aquilo que parece abstrato e de difícil compreensão torna-se mais acessível
e de bom entendimento aos olhos do estudante.
Através dessas resoluções é possível rever a qualquer momento as explicações dadas em sala de aula.
INTERATIVIDADE
Trata-se do complemento às aulas abordadas. É desenvolvida uma seção que oferece uma cuidadosa seleção de conteúdos para complementar o
repertório do estudante. É dividido em boxes para facilitar a compreensão, com indicação de vídeos, sites, filmes, músicas e livros para o aprendizado do aluno.
Tudo isso é encontrado em subcategorias que facilitam o aprofundamento nos temas estudados. Há obras de arte, poemas, imagens, artigos e até sugestões
de aplicativos que facilitam os estudos, sendo conteúdos essenciais para ampliar as habilidades de análise e reflexão crítica. Tudo é selecionado com finos
critérios para apurar ainda mais o conhecimento do nosso estudante.
INTERDISCIPLINARIDADE
Atento às constantes mudanças dos grandes vestibulares, é elaborada, a cada aula, a seção interdisciplinaridade. As questões dos vestibulares de
hoje não exigem mais dos candidatos apenas o puro conhecimento dos conteúdos de cada área, de cada matéria.
Atualmente há muitas perguntas interdisciplinares que abrangem conteúdos de diferentes áreas em uma mesma questão, como biologia e química,
história e geografia, biologia e matemática, entre outros. Neste espaço, o estudante inicia o contato com essa realidade por meio de explicações que relacio-
nam a aula do dia com aulas de outras disciplinas e conteúdos de outros livros, sempre utilizando temas da atualidade. Assim, o estudante consegue entender
que cada disciplina não existe de forma isolada, mas sim, fazendo parte de uma grande engrenagem no mundo em que ele vive.
APLICAÇÃO NO COTIDIANO
Um dos grandes problemas do conhecimento acadêmico é o seu distanciamento da realidade cotidiana no desenvolver do dia a dia, dificultando o
contato daqueles que tentam apreender determinados conceitos e aprofundamento dos assuntos, para além da superficial memorização ou “decorebas” de
fórmulas ou regras. Para evitar bloqueios de aprendizagem com os conteúdos, foi desenvolvida a seção “Aplicação no Cotidiano”. Como o próprio nome já
aponta, há uma preocupação em levar aos nossos estudantes a clareza das relações entre aquilo que eles aprendem e aquilo que eles têm contato em seu
dia a dia.
CONSTRUÇÃO DE HABILIDADES
Elaborada pensando no Enem, e sabendo que a prova tem o objetivo de avaliar o desempenho ao fim da escolaridade básica, o estudante deve
conhecer as diversas habilidades e competências abordadas nas provas. Os livros da “Coleção vestibulares de Medicina” contêm, a cada aula, algumas dessas
habilidades. No compilado “Construção de Habilidades”, há o modelo de exercício que não é apenas resolvido, mas sim feito uma análise expositiva, descre-
vendo passo a passo e analisado à luz das habilidades estudadas no dia. Esse recurso constrói para o estudante um roteiro para ajudá-lo a apurá-las na sua
prática, identificá-las na prova e resolver cada questão com tranquilidade.
ESTRUTURA CONCEITUAL
Cada pessoa tem sua própria forma de aprendizado. Geramos aos estudantes o máximo de recursos para orientá-los em suas trajetórias. Um deles
é a estrutura conceitual, para aqueles que aprendem visualmente a entender os conteúdos e processos por meio de esquemas cognitivos, mapas mentais e
fluxogramas. Além disso, esse compilado é um resumo de todo o conteúdo da aula. Por meio dele, pode-se fazer uma rápida consulta aos principais conteúdos
ensinados no dia, o que facilita sua organização de estudos e até a resolução dos exercícios.
A edição 2019 foi elaborada com muito empenho e dedicação, oferecendo ao aluno um material moderno e completo, um grande aliado para o seu
sucesso nos vestibulares mais concorridos de Medicina.

Herlan Fellini
SUMÁRIO
HISTÓRIA
HISTÓRIA GERAL
Aulas 1 e 2: Antiguidade oriental 7
Aulas 3 e 4: Grécia 29
Aulas 5 e 6: Roma: monarquia e república 51
Aulas 7 e 8: Roma: crise da república e império 67
Aulas 9 e 10: Império Bizantino e civilização muçulmana 81

HISTÓRIA DO BRASIL
Aulas 1 e 2: Formação de Portugal e navegações ultramarinas 95
Aulas 3 e 4: América pré-colombiana, mercantilismo e administração espanhola na América 113
Aulas 5 e 6: Período pré-colonial, administração colonial e invasões francesas 129
Aulas 7 e 8: Economia colonial, sociedade e invasões holandesas 147
Aulas 9 e 10: Bandeirismo, mineração e tratados de limites 167
Abordagem de ANTIGUIDADES ORIENTAL E CLÁSSICA
nos principais vestibulares.

FUVEST
Determina conhecimento profundo dos temas estudados. Os temas da antiguidade clássica são
muito cobrados pelo vestibular. É necessário atribuir correlações entre as realidades econômica
e política de cada período. A concepção de história é voltada para a compreensão de processos
históricos e dificilmente sobre ações individuais isoladas. Como em outros vestibulares, atente-se
aos principais temas da atualidade.

LD
ADE DE ME
D
UNESP
U

IC
FAC

INA

BO
1963
T U C AT U Cobra a associação de fatos e conceitos políticos, econômicos e sociais com textos científicos e
mapas. O candidato deve ser hábil ao interpretar o material dado na questão, além de dominar os
temas estudados. Os temas da antiguidade clássica são recorrentes e o candidato deve dominar,
principalmente, a vida econômica e política dos períodos em destaque.

UNICAMP
As questões tendem a ser discursivas, o que força o candidato a dominar o assunto cobrado. O caráter das
questões é de âmbito reflexivo, trazendo temas históricos para o debate de temas contemporâneos. Cabe
ao candidato ficar atento aos aspectos sociológicos, políticos e econômicos dos temas, preocupando-se
menos com ações individuais dos agentes, e aos temas da atualidade para obter sucesso.

ENEM/UFMG/UFRJ
A proposta do Enem é interpretativa. Na maioria das questões, o candidato deve ler os textos
propostos atentamente, pois as soluções quase sempre estarão contidas neles.

UERJ
Este vestibular não contempla com frequência temas das antiguidades clássica e oriental. No
entanto, pelo caráter da prova, cabe ao candidato preparar-se para questões que envolvam
conhecimento das condições políticas, sociais e econômicas dos períodos descritos.
1
0 20 Antiguidade oriental

Competências Habilidades
1, 2, 3, 4, 5 e 6 1, 4, 5, 7, 8, 9, 11,
14, 15, 16, 18, 19,
© Foto011/Shutterstock

22, 23, 27 e 29

C H
HISTÓRIA
Competência 1 – Compreender os elementos culturais que constituem as identidades.
H1 Interpretar historicamente e/ou geograficamente fontes documentais acerca de aspectos da cultura.
H2 Analisar a produção da memória pelas sociedades humanas.
H3 Associar as manifestações culturais do presente aos seus processos históricos
H4 Comparar pontos de vista expressos em diferentes fontes sobre determinado aspecto da cultura.
H5 Identificar as manifestações ou representações da diversidade do patrimônio cultural e artístico em diferentes sociedades.
Competência 2 – Compreender as transformações dos espaços geográficos como produto das relações socioeconômicas e culturais de
poder.
H6 Interpretar diferentes representações gráficas e cartográficas dos espaços geográficos.
H7 Identificar os significados histórico-geográficos das relações de poder entre as nações.
H8 Analisar a ação dos estados nacionais no que se refere à dinâmica dos fluxos populacionais e no enfrentamento de problemas de ordem econômico-social.
H9 Comparar o significado histórico-geográfico das organizações políticas e socioeconômicas em escala local, regional ou mundial
Reconhecer a dinâmica da organização dos movimentos sociais e a importância da participação da coletividade na transformação da realidade
H10
histórico-geográfica.
Competência 3 – Compreender a produção e o papel histórico das instituições sociais, políticas e econômicas, associando-as aos diferentes
grupos, conflitos e movimentos sociais.
H11 Identificar registros de práticas de grupos sociais no tempo e no espaço.
H12 Analisar o papel da justiça como instituição na organização das sociedades.
H13 Analisar a atuação dos movimentos sociais que contribuíram para mudanças ou rupturas em processos de disputa pelo poder.
Comparar diferentes pontos de vista, presentes em textos analíticos e interpretativos, sobre situação ou fatos de natureza histórico-geográfica acerca
H14
das instituições sociais, políticas e econômicas.
H15 Avaliar criticamente conflitos culturais, sociais, políticos, econômicos ou ambientais ao longo da história.
Competência 4 – Entender as transformações técnicas e tecnológicas e seu impacto nos processos de produção, no desenvolvimento do
conhecimento e na vida social.
H16 Identificar registros sobre o papel das técnicas e tecnologias na organização do trabalho e/ou da vida social.
H17 Analisar fatores que explicam o impacto das novas tecnologias no processo de territorialização da produção.
H18 Analisar diferentes processos de produção ou circulação de riquezas e suas implicações sócio-espaciais.
H19 Reconhecer as transformações técnicas e tecnológicas que determinam as várias formas de uso e apropriação dos espaços rural e urbano.
H20 Selecionar argumentos favoráveis ou contrários às modificações impostas pelas novas tecnologias à vida social e ao mundo do trabalho.
Competência 5 – Utilizar os conhecimentos históricos para compreender e valorizar os fundamentos da cidadania e da democracia, favo-
recendo uma atuação consciente do indivíduo na sociedade.
H21 Identificar o papel dos meios de comunicação na construção da vida social.
H22 Analisar as lutas sociais e conquistas obtidas no que se refere às mudanças nas legislações ou nas políticas públicas.
H23 Analisar a importância dos valores éticos na estruturação política das sociedades.
H24 Relacionar cidadania e democracia na organização das sociedades.
H25 Identificar estratégias que promovam formas de inclusão social.
Competência 6 – Compreender a sociedade e a natureza, reconhecendo suas interações no espaço em diferentes contextos históricos e
geográficos.
H26 Identificar em fontes diversas o processo de ocupação dos meios físicos e as relações da vida humana com a paisagem.
H27 Analisar de maneira crítica as interações da sociedade com o meio físico, levando em consideração aspectos históricos e (ou) geográficos.
H28 Relacionar o uso das tecnologias com os impactos sócio-ambientais em diferentes contextos histórico-geográficos.
H29 Reconhecer a função dos recursos naturais na produção do espaço geográfico, relacionando-os com as mudanças provocadas pelas ações humanas.
H30 Avaliar as relações entre preservação e degradação da vida no planeta nas diferentes escalas.
Egito
Aspectos geográficos e povoamento
Antigo Egito
A passagem da Pré-História para a História en-
volveu uma série de elementos, como o surgimento do Mar Mediterrâneo
Estado, a organização da religião como instrumento de Baixo Egito

to
Mar Mor
poder, o desenvolvimento da escrita e a realização de
grandes obras de irrigação e drenagem do solo para NW
N

NE
Wadi El Natrun
Delta do Nilo
permitir a agricultura. Uma dessas primeiras civilizações,
W E

SW SE
Grande Lago
S Amargo

0 (km) 100 Pirâmides


Mênfis
0

ou seja, os primeiros povos que ultrapassaram o estágio


(mi) 60

s
Moeri

Deserto
Lago

pré-histórico, foi a civilização egípcia.


Líbio Deserto

qaba
A civilização egípcia desenvolveu-se no nordeste Arábico

Nilo

de A
Go
Rio

lfo
Oásis de Bahariya

Golfo
do
da África, numa região caracterizada pela existência de

ueS
z
desertos e pela vasta planície banhada pelo rio Nilo. Na
região, caem abundantes chuvas de junho a setembro, Mar
Vermelho
provocando enchentes. Quando voltam ao normal, as
Rio Nilo

águas deixam nas terras um limo, ou húmus, muito fértil.


Quseir
Oásis de Kharga mat
Hamma
Wadi

Tebas
Oásis de Dakhla

A venda girava em torno do ciclo de cheias e Alto


Egito
vazamento do Nilo, que os egípcios consideravam um
deus: a ele dirigiam preces e cânticos. Primeira Catarata

O rio Nilo divide o Egito em duas partes bem Oásis de Dunqul

distintas: o Alto e o Baixo Egito. O Alto Egito é a região


do interior do território, com cerca de 10 quilômetros
de largura e que chega até a primeira catarata. O Baixo
Adaptado de: pt.wikipedia.org. Acesso em: 03 dez. 2014
Egito é a região do delta, cheia de alagadiços e que se Segunda Catarata

alarga à medida que se aproxima do Mediterrâneo.


Uma das características da civilização egípcia foi seu isolamento, graças à localização do território, cercado
de desertos. O isolamento permitiu o desenvolvimento de traços culturais razoavelmente homogêneos. Jaroslav Moravcik/Shutterstock

9
Amenófis IV, casado com a rainha Nefertiti,
Evolução política
empreendeu uma revolução religiosa monoteísta. O fa-
raó, provavelmente para anular o poder e a autoridade
Antigo Império (3200-2200 a.C.) da camada sacerdotal, instituiu o culto monoteísta ao
deus Áton, simbolizado pelo disco solar, chegando a
A história do Egito começa quando as populações
mudar seu nome para Akhenaton (“aquele que agra-
que viviam às margens do Nilo tornam-se sedentárias,
da a Aton”).
formando comunidades dedicadas mais à agricultura que
Seu sucessor, Tutancáton, restaurou o deus
à caça ou à pesca. No quarto milênio antes de Cristo,
Amon e pôs fim à revolução. Mudou, inclusive, o próprio
esses aglomerados evoluem para pequenas unidades po-
nome para Tutancámon.
líticas, chamadas nomos. Formaram-se dois reinos, um ao Os faraós da dinastia de Ramsés II (1320-1232
norte e outro ao sul. Por volta de 3200 a.C., o faraó Me- a.C.) enfrentaram novos obstáculos, como a invasão
nés (ou Narmer) unificou um dos reinos, com capital em dos hititas, vindos da Ásia Menor. O Império entrava em
Tínis, daí o período chamar-se tinita. Durou até 2800 a.C. declínio. Em 525 a.C., o rei persa Cambises derrota o
Os sucessores de Menés organizaram uma mo- faraó Psamético III. A independência acabou. Nos sécu-
narquia poderosa, atribuindo-lhe origem divina. Foi a los seguintes, os povos do Nilo seriam dominados pelos
fase de maior prosperidade do Antigo Império. Entre gregos e, finalmente, cairiam nas mãos do imperialismo
2700 e 2600 a.C., foram construídas as célebres pirâ- romano, em 30 a.C.
mides de Gizé, atribuídas aos faraós Quéops, Quéfren e
Miquerinos, da terceira dinastia, fundada por Djoser em
cerca de 2850 a.C. A nova capital era Mênfis. Economia e sociedade
O Nilo movia a economia e garantia unidade à
Médio Império (2000-1750 a.C.) civilização egípcia. Assim, podemos considerá-la uma
civilização mais agrária que mercantil.
Depois de uma crise de autoridade, com a ascensão
A agricultura de regadio constitui-se na prin-
dos nomarcas, apoiados pela nobreza, os faraós reconquis-
cipal atividade econômica no Egito Antigo. Estava di-
taram o poder. Permitiram o ingresso de elementos das
retamente ligada às águas e às obras hidráulicas que
camadas inferiores no exército e, com isso, submeteram
tornavam possível o controle sobre essas águas.
a Palestina, onde descobriram minas de cobre, e a Núbia,
O sistema econômico era do tipo dirigido. O fa-
onde encontraram ouro. Os metais fortaleceram o Estado.
raó encarregava-se de fornecer alimentos a todos. Os
Entre 1800 e 1700 a.C., chegam os hebreus, mas
agricultores consideravam a terra como propriedade do
são os hicsos, vindos da Ásia, que vão criar as maiores
faraó e a si mesmos como funcionários do Estado. Fica-
dificuldades. Usam o cavalo e carros de combate, que
vam com uma parte muito pequena da produção.
os egípcios desconhecem. Dominaram a região e insta-
O dirigismo era consequência natural da geogra-
laram-se no delta de 1750 a 1580 a.C.
fia; o Estado precisava intervir para regularizar o uso
das águas do Nilo.
Novo Império (1580-1085 a.C.) Pode-se enquadrar a economia egípcia no modo
de produção asiático, em que coexistiam comunida-
A expulsão dos hicsos marca a nova fase, de des caracterizadas pela propriedade coletiva do solo, e
enorme desenvolvimento militar, a ponto de transfor- organizadas sobre as relações de parentesco, e por um
mar o Egito em potência imperialista. O Novo Império poder estatal que representava a unidade verdadeira ou
marca o apogeu da civilização egípcia. aparente dessas comunidades.
Durante o reinado de Tutmés III (1480-1448 A organização das atividades produtivas era
a.C.), o império atingiu sua maior expansão territorial, uma atribuição do Estado, detentor das terras. Por meio
ampliando-se até o rio Eufrates, na Mesopotâmia. de uma rígida estrutura repressiva, a população cam-

10
ponesa era subjugada ao poder do faraó, pagando impostos, em produto ou em trabalho, sob uma estrutura a
qual chamamos de servidão coletiva. Esses tributos permitiam ao Estado apropriar-se do excedente de produção
e contar com uma mão de obra numerosa e gratuita para a construção de grandes obras públicas, templos ou
depósitos para estocagem. Em épocas de cheia do Nilo, quando a agricultura tornava-se impossível, era comum o
Estado requerer camponeses das comunidades de aldeia para o trabalho em obras como diques, palácios, canais
de irrigação e templos. O controle sobre o excedente da produção e sobre o trabalho era realizado por uma ampla
burocracia estatal, diretamente controlada pela nobreza e pela casta sacerdotal.

http://portaldoprofessor.mec.gov.br
Isolados geograficamente, os egípcios cria- Os sacerdotes exerciam considerável influência
ram uma civilização original. A sociedade, inten- política e, no período do Novo Império, muitos deles
samente marcada pela religião, era estratificada e tentaram tomar o poder.
rígida em termos de mobilidade. O faraó era consi- Os escribas formavam-se nas escolas do palácio
derado filho de Amon-Rá, o deus Sol, e encarnação e aprendiam a traçar os complicados caracteres da es-
de Hórus, simbolizado pelo falcão. Por isso, o gover- crita, os hieróglifos.
no do Egito antigo é chamado teocrático. Os egíp- Os soldados não eram muito estimados pela
cios julgavam que toda a felicidade dependia do população. Viviam dos produtos recebidos como paga-
faraó, diante de quem se prostravam em frequen- mento e dos saques realizados durante as conquistas.
tes cerimônias. Ele comandava o exército, distribuía A camada inferior da sociedade era composta
justiça e organizava as atividades econômicas. Usa- de camponeses e artesãos. Deles dependia a pros-
va dupla coroa, símbolo do Alto e Baixo Egito, e peridade do país. Recebiam míseros pagamentos em
um cetro. Tinha várias mulheres, mas só a primeira forma de produtos, moravam em cabanas, vestiam-se
podia usar o título de rainha. pobremente e comiam pouco. Aquilo que poupavam,
Parentes do faraó, altos funcionários do palácio, guardavam para o funeral, para garantir uma vida me-
oficiais do exército, chefes administrativos e sacerdotes lhor após a morte.
formavam a nobreza. Os escravos eram, em geral, bem tratados. Mais
A dignidade sacerdotal passava de pai para fi- tolerantes que outros povos da mesma época, os egíp-
lho. Os sacerdotes, membros da mais elevada camada cios ofereciam certa segurança a seus escravos, nume-
social, administravam os bens oferecidos aos deuses. rosos em tempo de guerra.
Recebiam do Estado grandes propriedades. O mais im-
portante de todos era o Profeta de Amon.

11
Religião e cultura: os deuses e a crença na imortalidade
Os egípcios eram politeístas, isto é, adoravam vários deuses. Os deuses eram antropozoomórficos: apresen-
tavam forma de homem e animal. Tinham como principais divindades Osíris, Amon-Rá, Isis, Hórus, Ápis e Anúbis. A
dependência das cheias do rio Nilo explica a deificação da natureza.
Para explicar a origem de seus deuses, os egípcios contavam que, nos primeiros tempos do Egito, Set (o
vento quente do deserto) assassinou Osíris (o sol poente, o Nilo, deus das sementes) e lançou o corpo ao rio. Ísis
(deusa da vegetação) conseguiu encontrar o corpo, mas Set voltou a atacar Osíris e dividiu-lhe o corpo em 14 pe-
daços, que espalhou pelo Egito. Ísis, pronunciando palavras mágicas, uniu os pedaços com a ajuda de Hórus (deus
do céu, o sol levante).

Para os egípcios, a morte apenas separava o cor- As grandes manifestações da arquitetura egípcia
po da alma. A vida poderia durar eternamente, desde foram os templos, as pirâmides, as mastabas e os hipo-
que a alma encontrasse no túmulo o corpo destinado a geus, túmulos subterrâneos cavados nas barrancas do
servir-lhe de moradia. Por isso, era preciso conservar o Nilo, como no Vale dos Reis.
corpo. Com esta finalidade, os egípcios desenvolveram A escultura também era predominantemente re-
técnicas de mumificação. ligiosa, e atingiu o auge com os sarcófagos, de pedra
Eles extraíam as vísceras e imergiam o corpo numa ou madeira.
mistura de água e carbonato de sódio. Dentro do corpo, Os estudos de Matemática e Geometria tinham
punham substâncias aromáticas que evitavam a deterio- finalidade prática: a construção civil. Os egípcios conhe-
ração, como mirra e canela. Envolviam o corpo em faixas ciam a raiz quadrada e as frações e chegaram a calcular
de pano sobre as quais passavam uma cola especial para a área do círculo e a do trapézio.
impedir o contato com o ar, e o colocavam num sarcófa- A preocupação com as cheias e vazantes do Nilo
go, para levá-lo a um túmulo. Os faraós tinham lugares e com a natureza estimulou-os a estudar Astronomia.
reservados numa câmara secreta dentro das pirâmides. Localizaram alguns planetas e constelações. Construí-
ram um relógio de água e organizaram um calendário
Artes e ciência solar. Dividiram o dia em 24 horas e a hora em minutos,
segundos e terços de segundos. Tinham semana de dez
No campo das ciências, eles se destacaram na dias e mês de três semanas. O ano de 365 dias dividiu-
Matemática, Astronomia e Medicina. -se em estações agrárias: cheia, inverno e verão.

12
Mesopotâmia
Aspectos geográficos e povoamento
Crescente fértil e Mesopotâmia

Pirâmides de Quéops, Quefren e Miquerinos

Em geral, os escritores se inspiravam em temas


morais, poéticos ou religiosos, como o Texto das Pirâmi-
des e o Livro dos Mortos.
O Egito desenvolveu três tipos de escrita. Uma
sagrada, encontrada nos túmulos e templos, a hieroglí-
fica; uma versão simplificada da primeira, a hierática,
utilizada em documentos administrativos; e a demóti-
ca, de caráter mais popular e simplificado. A decifração
da escrita egípcia foi obra de Champollion, orientalista
francês que foi o primeiro a decifrar os hieróglifos egíp-
cios, a partir de uma lápide encontrada por um soldado
de Napoleão Bonaparte na região de Rosetta (no delta), Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Crescente_F%C3%A9rtil>.
Acesso em: 22 dez. 2015.
em 1799. Na lápide, conhecida como Pedra da Roseta,
estava gravado o mesmo texto em três idiomas: grego, Mesopotâmia é uma palavra de origem grega
hieroglífico e demócrito. que significa “terra entre rios”. Essa região (atual Ira-
que), onde viveram sumérios, acádios e assírios, ficava
entre os rios Tigre e Eufrates, que nasciam nas mon-
tanhas da Armênia e desaguavam no golfo Pérsico. A
neve dos montes da Armênia, quando derretia, provo-
cava na Mesopotâmia inundações anuais semelhantes
às que ocorriam no Egito, e o húmus depositado no
solo dava à terra grande fertilidade. Essa área fazia
parte de uma extensa faixa de terra conhecida como
Crescente Fértil.
A intensa fertilidade da região em meio a deser-
tos e a uma natureza essencialmente inóspita atraiu e
fixou comunidades humanas desde muito cedo. Estima-
-se que a sedentarização das primeiras comunidades
humanas na Mesopotâmia tenha ocorrido por volta de
10 000 a.C.; sendo que vários historiadores e arqueólo-
gos acreditam terem sido essas as primeiras formas de
civilização humana existentes.
Pedra de Roseta, British Museum

13
Evolução política Primeiro Império Babilônico (1800-1600 a.C.)
Segundo a tradição suméria, Quish foi a primeira O enfraquecimento sumério criou condições
cidade da primeira civilização mesopotâmica. Depois, sur- para a ascensão dos semitas, concentrados em torno
giram Ur, Uruk, Lagash, Eridu e Nipur. Eram cidades-Estado, da Babilônia. Um dos primeiros reis babilônicos foi
com autonomia religiosa, política e econômica. Cada cida- Hamurábi (1728-1686 a.C.). Ele ampliou o Império,
de era governada por um sacerdote, ajudado por um con- mas foi sobretudo um legislador, responsável pelo
selho de anciãos, estrutura que evoluiu para uma espécie primeiro código de leis que se conhece: o Código de
de autocracia, isto é, um governo pessoal, despótico. Hamurábi. Transformou a língua acádia em língua
Enquanto Lagash e Ur combatiam, os semitas oficial e Marduck, deus babilônico, em primeiro deus
instalavam-se na Mesopotâmia. Sua cidade mais famosa supremo da Mesopotâmia. O reino foi arruinado pro-
foi Acad, que deu origem ao termo acádios. O rei semita vavelmente no século XVI a.C., com as invasões de
Sargão unificou as cidades sumérias por volta de 2330 hititas e cassitas.
a.C., criando o Primeiro Império Mesopotâmico. Os acá-
O império Babilônico
dios estabeleceram uma organização centralizada em seu
Nínive
Império, afastando a influência dos sacerdotes. Domínio da Mesopotâmia pelos sumérios
e acádios (3500 - 2000 a.C.)
Primeiro Império Babilônico em sua maior
extensão no tempo de Hamurábi
Assur (1792 - 1750 a.C.)

Economia e sociedade

Tig
Mari

As várias civilizações mesopotâmicas inseriram-

re
E
uf

-se no chamado modo de produção asiático, marcado


ra
te

Echnuna
pela agricultura de regadio e pela servidão coletiva. Da
s

mesma forma, terras e meios de produção, bem como Sipar


Malgium?
as grandes obras hidráulicas, eram diretamente con- Babilônia

Susa
0 100 200
Kish
trolados pelo Estado, seja em um plano mais local, na Nipur
Isin
cidade-Estado, seja no nível dos grandes impérios.
Larsa
A estrutura social mesopotâmica assemelhava-se Lagash

Ur
à egípcia, tendo no topo uma elite composta por reis, no- Eridu
bres e sacerdotes e, em ordem decrescente, militares e al-
tos funcionários; comerciantes e artesãos; camponeses e, Adaptado de: <https://pt.wikipedia.org/wiki/>. Acesso em: 25 dez. 2015.
finalmente, escravos, via de regra prisioneiros de guerra.

O império Assírio
Ilírios
Peônios Trácios Mar Negro Sinope
Tieu Cólquida Cítas
Bizâncio Calcedônia
Macedônia Tasos
Trapezo

Épiro Abidos
Cízico Astaco Reino Cimérios
Reino de Urartu
Górdio
Ancira
(antes de 712 .a.C.) Mar Cáspio
Mar
Egeu Reino
Atenas
Sardis Frígio Karum
Corinto Lídio Celenas
Mileto
Esparta Marqash

Tarso Samal Nísibis


Carquemis Harrã Musasir
Faselis Guzana
Til Barsip Dur Charrukin
Rodes Arpade Nínive Arbela
Calach

Creta Qarqar Assur Arrapaca


Salamis
Chipre Hamate Ecbátana
Pafos Arados
Tadmor
Mar Mediterrâneo Biblos
Anato

Sídon Damasco Ópis


Cirene Tiro
Sipar
Cuta
Babilônia Kish
Borsipa Nipur Susa
Samaria
Elteque Jerusalém
Líbios Asquelom
Erech
Saís Tânis
Ráfia
Pelúsio
Judá Ur
Bubástis
Sela
On
Mênfis
Adumatu
Amônio
Heracleópolis
Península
Egito do Sinai
(antes de 671 a.C.)
Golfo
Aquetaton
Pérsico
Império Assírio - 824 a.C.
Siut
Império Assírio - 671 a.C.
Mar
Abidos
Tebas Vermelho

Disponível em: <https: https://pt.wikipedia.org/wiki/Assíria> Acesso em: 25 Dez. 2015.

14
Império Assírio (1875-612 a.C.)
Originado por volta de 1800 a.C., o Império Assírio
encontrou seu período de maior expansão entre 883 e 612
a.C., quando conquistou a Síria e o Egito.
Dispondo de carros de combate e catapultas, o
exército assírio impunha sua dominação pelo terror, saque-
ando os territórios conquistados e massacrando as popu-

© Kamira/Shutterstock
lações vencidas.
O apogeu dessa civilização ocorreu durante os
reinados de Sargão II, Senaqueribe e, principalmente, As-
Relevo assírio de Nimrud, a partir de 728 a.C.
surbanipal, que conquistou o Egito. Em 612 a.C., o Impé-
rio Assírio chegou ao fim com a invasão e o domínio dos Os mesopotâmicos desenvolveram a escrita
Medos. cuneiforme (em forma de cunha), feita com um estilete
para gravar em tabuletas de argilas traços verticais, hori-
Segundo Império Babilônico ou zontais e oblíquos. Na literatura, as principais obras foram
o Poema da Criação e a Epopeia de Gilgamesh.
Novo Império (612-539 a.C.) O homem da Mesopotâmia também fez avanços
na Matemática, criando tábuas de multiplicação e divi-
O domínio babilônico voltou a impor-se com os
são, inclusive de raízes cúbicas. Na astronomia, os Me-
caldeus, um dos povos que haviam se aliado aos medos
para combater os assírios. sopotâmicos desenvolveram um calendário baseado nos
Nabopolassar fundou a nova dinastia, que teve ciclos da Lua.
como principal soberano seu filho Nabucodonosor A arquitetura da Mesopotâmia se destacou pela
(605 a 563 a.C.), que tomou Jerusalém em 587 a.C., construção de palácios e zigurates, torres de vários an-
levou numerosos israelitas cativos para a Babilônia (epi- dares sobre as quais havia uma capela, usada para ob-
sódio conhecido como “Cativeiro da Babilônia”), con- servar o céu. Na escultura, destaque para as figuras em
quistou a Síria, a Fenícia e construiu grandiosas obras, baixo-relevo que ornamentavam as paredes dos palácios,
como os Jardins Suspensos da Babilônia e a Torre de Ba- geralmente retratando a guerra e a caça.
bel, com 215 metros de altura. Não deixou sucessores O Código de Hamurábi foi o maior legado me-
capazes, e o Segundo Império Babilônico foi tomado sopotâmico, uma vez que é o primeiro código escrito do
pelos persas, liderados por Ciro I, em 539 a.C. qual se tem conhecimento na história do Oriente Antigo.
O código tinha como princípio a “Lei de Talião” resumida
na expressão “olho por olho, dente por dente”, ou seja, a
Religião e cultura punição deveria ser equivalente ao crime cometido. Além
disso, a aplicação da lei se dava de acordo com o esta-
mento do indivíduo.

Hebreus
© Everett Historical/Shutterstock

Aspectos geográficos e povoamento


Zigurate
Localizada no Oriente Próximo, a Palestina era
A religião mesopotâmica tinha caráter politeísta
um território formado pelo vale do rio Jordão, pelas ári-
e estava ligada ao Estado teocrático. Destacam-se entre
das terras da Judeia e pela planície costeira, delimitado
os deuses Anu (rei do céu), Enlil (rei da terra), Shamash
a nordeste pela Síria, ao norte pela Fenícia, a sudeste pelo
(deus Sol) e Marduk, deus de Babilônia, que tornou-se a
deserto da Arábia e a oeste pelo mar Mediterrâneo.
principal divindade da Mesopotâmia.
15
Habitada, inicialmente, por vários povos (cana- Segundo a Bíblia, os israelitas atravessaram o mar Verme-
neus, filisteus e arameus), a Palestina foi povoada por vol- lho, atingiram a península do Sinai e vagaram quarenta
ta de 2000 a.C. pelos hebreus1, povo de origem semita2. anos pelo deserto antes de chegar à Palestina.
No deserto, Deus se revelou através de Moisés.
Os hebreus No alto do Monte Sinai, ele recebeu as Tábuas da Lei,
Fenicios
Tiro Arameus que apresentou ao povo. Apesar da crença no único
Deus, Iavé (Aquele que é), os hebreus se desviaram do
MAR MEDITERRÂNEO
Reino de
monoteísmo várias vezes, como quando adoraram um
Israel
Jafa
bezerro de ouro. Moisés morreu antes de ver seu povo
Amonitas
Gaza
Jerusálem
DESERTO ARÁBIA
DESERTO DA ARABIA entrar na Terra Prometida.
Reino de
Judá Moabitas

Filisteus
EGITO
Amalequitas
Territórios progressivamente ocupados
Período dos juízes (1200-1010 a.C.)
pelas tribos de Israel ao fim do II milênio
Edomitas
Territórios mantidos como tributários
pelo rei Davi e perdidos depois por Salomão Logo após a morte de Moisés, os hebreus chegaram
Disponível em: <http://www.historianet.com.br/conteudo/default. à Palestina (Terra Prometida) e, sob a liderança de Josué,
aspx?codigo=85>. deram início a intensas lutas contra os antigos habitantes
(Adaptado). Acesso em: 25 dez. 2015. da região (cananeus e filisteus). A partir daí, as necessida-
des bélicas impuseram uma maior unidade às tribos he-
braicas, que passaram a ser lideradas por chefes guerreiros,
que recebiam o título de juízes. Segundo a Bíblia, os mais
Evolução política importantes foram Josué, que tomou a cidade de Jericó;
Gedeão; Sansão, que lutou contra os filisteus, e Samuel,
Período dos patriarcas (2000-1200 a.C.) que foi o articulador da centralização política.

No Primeiro Império Babilônico, os hebreus vi-


Período dos reis (1010-587 a.C.)
viam perto de Ur. Organizavam-se em grupos familiares
patriarcais, seminômades, sob a liderança de chefes de- Reino dividido
nominados patriarcas. Nessa fase não havia unidade po-
lítica e os hebreus estavam divididos em tribos. Segundo
a Bíblia, Abraão foi o primeiro patriarca, tendo conduzido
seu povo à terra prometida por Deus, Canaã, ou Palesti-
na. De seu neto, Jacó, originaram-se as 12 tribos de Israel.
Cerca de 1800 a.C. as secas obrigaram os he-
breus a emigrarem para o Egito. Talvez tenham sido afu-
gentados pelos hicsos.
Depois da expulsão dos hicsos (1580 a.C.), a vida
tornou-se difícil e os hebreus, perseguidos, deixaram o
Egito por volta de 1250 a.C. Foi o Êxodo, ou fuga, sob
a liderança de Moisés. Ele tinha sido criado pela filha de
um faraó, que o encontrou boiando em uma cesta no rio.

1. A palavra hebreu significa, de maneira literal, “povo do outro lado do rio”,


referindo-se ao rio Eufrates, uma vez que a base de seu povoado deu-se após
realizarem a travessia do rio e fixarem-se na chamada “terra de Canaã”.
2. Semita (do hebraico sem, nome do filho de Noé); nome dado aos mem-
bros de um grupo de povos do Oriente Próximo, que falam atualmente, ou Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Reino_de_Judá>.
que falaram na antiguidade, línguas originárias do norte da África e da Ásia
Acesso em: 25 dez 2015.
Médio-Oriental.

16
A unificação das tribos hebraicas durante a luta A partir daí, os judeus foram dominados por vá-
pela reconquista da Palestina desencadeara um proces- rios povos em expansão. Ao domínio persa sucedeu o
so de centralização política cujo desfecho foi a funda- jugo dos macedônios (332 a.C.); e a este a dominação
ção do reino de Israel. de Antíoco, filho de Seleuco, general que ficou com a
O primeiro rei dos hebreus foi Saul, que coman- Ásia por ocasião da partilha do Império de Alexandre.
dou uma ofensiva contra os filisteus, mas acabou derro- Em 63 a.C., a Palestina foi conquistada por Pompeu e
tado. Seu sucessor, Davi, derrotou os inimigos e ampliou transformada em província do Império Romano. Com o
os territórios sob seu domínio conquistando Jerusalém,
estabelecimento da figura do imperador como divino,
onde estabeleceu a capital do reino.
no ano 70 d.C., os judeus se recusaram a reconhecer
Com a morte de Davi, o trono foi ocupado por
o imperador dos romanos como um verdadeiro deus,
seu filho Salomão. O reinado de Salomão ficou mar-
rebelando-se contra o domínio romano. Em resposta, as
cado por realizações em várias áreas. Na área religiosa,
autoridades romanas, lideradas pelo general Tito, des-
mandou construir o Templo de Jerusalém, onde foi de-
positada a Arca da Aliança, urna que continha as Tábuas truíram Jerusalém, inclusive o Templo, e expulsaram os
da Lei, onde estão gravados os Dez Mandamentos. No judeus da Palestina, que dispersaram-se pelo mundo.
campo da economia, o comércio dos hebreus atingiu Esse acontecimento ficou conhecido como Diáspora.
seu apogeu. As relações comerciais com a Fenícia foram O retorno dos judeus à Palestina só voltou a ocorrer
intensificadas com destaque para o comércio de madei- a partir de 1918 e culminou com a fundação do atual
ras, óleos e tecidos. O reinado de Salomão foi marcado Estado de Israel, em 1948.
pela ostentação e pela abundância de palácios luxuosos

Francesco Hayez/Wikipedia
que exigiram o constante aumento dos impostos, empo-
brecendo cada vez mais o trabalhador do campo, para
sustentar o luxo de seu reinado, criando um clima de
insatisfação entre o povo hebreu.
Quando da morte de Salomão, em 933 a.C.,
ocorreu uma crise política conhecida como o Cisma
hebraico, resultando na divisão do reino em duas par-
tes: o Reino de Judá (duas tribos), situado ao sul e com
capital em Jerusalém, e o Reino de Israel (dez tribos),
localizado no norte e com capital em Samaria. Em 722
a.C., o Reino de Israel foi conquistado por Sargão II e
Destruição do Templo de Jerusalém (1867), por Francesco Hayez
transformado em província do Império Assírio. O Reino
de Judá foi conquistado por Nabucodonosor em 587
a.C. O Templo de Jerusalém foi destruído e os hebreus Economia e sociedade
foram levados como escravos para a Babilônia (Cati-
veiro da Babilônia). A economia hebraica foi predominantemente
agropastoril, desenvolvida nas terras férteis do vale do
rio Jordão. Os hebreus também estabeleceram intensas
Diáspora (70 a.C.) relações comerciais com o Egito, a Fenícia, a Síria, a Ásia
Menor, a Mesopotâmia, a Arábia e o reino de Sabá (atu-
O Cativeiro da Babilônia terminou em 539 a.C., al Etiópia). Os principais gêneros agrícolas eram a oliva,
com a derrota do Império Babilônico diante das forças a uva e diversos cereais.
de Ciro, rei dos persas. Os hebreus puderam retornar à A estrutura tribal de posse da terra foi substi-
Palestina, onde reconstruíram o Templo de Jerusalém e tuída pela propriedade privada durante o Período dos
tornaram-se parte integrante do Império Persa. Como Reis. A terra passou a estar concentrada nas mãos de
ficava situado nos territórios da antiga tribo de Judá, uma aristocracia ligada ao Estado. Camponeses, pas-
os habitantes dessa região passaram a ser chamados, a tores e uma pequena parcela de escravos estavam
partir de então, de judeus. subordinados a essa aristocracia por meio de vários

17
impostos, incluindo a exigência de parte da produção,
Aspectos geográficos e povoamento
a sujeição ao trabalho compulsório e a obrigatorieda-
de do serviço militar. Os fenícios habitavam a região do atual Líbano,
Uma rica camada de comerciantes surgiu duran- numa faixa de 200 quilômetros de comprimento, entre as
te o reinado de Salomão. Esses comerciantes possuíam montanhas e o mar Mediterrâneo. Essa estreita faixa de
a mesma condição social que a camada de funcionários terra localizada ao sul da Palestina começou a ser ocu-
reais. Acima desses, havia uma elite de aristocratas, os pada por povos de origem semita, originários das costas
sacerdotes (rabinos) e a família real. setentrionais do mar Vermelho, por volta de 3000 a.C.

Religião e cultura
Economia e sociedade
Os hebreus não se destacaram nas ciências ou
nas artes (seu Deus não podia ser representado por es- O solo pobre aliado à configuração geográfica
tátuas ou pinturas). No Direito, produziram o Código da região determinaram a ligação dos fenícios com o
Deuteronômio e sua literatura está contida no Antigo mar. Na Fenícia, a agricultura cedeu lugar ao comércio, à
Testamento, onde destacam-se os Salmos de Davi, os pesca e a um rico artesanato, voltado para a comerciali-
Cânticos e Provérbios de Salomão e o Livro de Jó. zação com os povos vizinhos. Aproveitando a existência
de vastas florestas de cedros (madeira excelente para a
Quanto à religião, os hebreus constituíram a
construção naval) e os bons portos naturais, os fenícios
única civilização monoteísta da antiguidade oriental.
voltaram-se para a atividade marítimo-comercial, des-
Essa religião ensinava que Deus fez uma aliança com
tacando-se na comercialização de vinho, azeite, objetos
o povo de Israel. De acordo com essa aliança, o povo
de cerâmica, metal, vidro colorido e, especialmente, o
receberia a proteção divina em troca da obediência aos
corante de púrpura, obtido de molusco chamado múri-
Dez Mandamentos (Decálogo), gravados nas Tábuas da
ce, que permitia o tingimento de tecidos.
Lei, depositadas numa urna (Arca da Aliança) guardada
A intensa atividade fenícia fez deles os principais
no templo. A Bíblia contém todos os ensinamentos que
navegantes e comerciantes da antiguidade, desenvol-
o povo deveria seguir. Vale dizer que o monoteísmo
vendo técnicas navais e conhecimentos geográficos que
judaico exerceu grande influência sobre o cristianismo
só foram recuperados no início dos tempos modernos.
e o islamismo.
A sociedade era de castas e constituída por sacerdotes,
aristocratas, comerciantes, homens livres e escravos.
Fenícios
Os fenícios Organização política
Diferentemente dos demais povos da antiguidade
oriental, durante toda sua história, a Fenícia não teve uma
unidade política, ou seja, não constituíram um Estado uni-
ficado com um governo centralizado. Os fenícios agrupa-
vam-se em cidades-Estado, cada uma com um governo
autônomo e soberano. Entre essas cidades-Estado desta-
caram-se Ugarit, Aradus, Trípoli, Biblos, Sídon e Tiro todas
elas importantes centros manufatureiros e comerciais.
Nessas cidades, um rei exercia o poder, assistido
por um conselho escolhido entre os grandes comercian-
Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Fenícia>. tes e proprietários agrícolas. Assim, a oligarquia de co-
Acesso em: 22 dez. 2015.
merciantes e proprietários controlava o governo.

18
Para ampliar os benefícios de seu comércio marítimo, os fenícios fundaram feitorias, pontos de apoio loca-
lizados no litoral das regiões com as quais comerciavam, para facilitar o escoamento das mercadorias vindas do
interior. Uma dessas feitorias deu origem à cidade de Cartago, no litoral da atual Tunísia, que se transformou no
mais sério rival de Roma pelo controle do Mediterrâneo ocidental no século III a. C.

Religião e cultura
A religião fenícia era politeísta, com divindades associadas às forças da natureza, como Baal, o deus do sol,
ou que garantiam a fecundidade da terra, como Astarte, representada pela lua.
A principal contribuição dos fenícios para a História da civilização foi a invenção do alfabeto fonético.
Para facilitar as transações comerciais com os povos da região, os fenícios criaram 22 sinais para representar os
sons das palavras, alfabeto adotado por arameus e judeus. Completado pelas vogais, tornou-se o alfabeto grego.

Império Persa
© Anton Gutsunaev/Wikimedia Commons

Aspectos geográficos e povoamento


A região hoje conhecida como Planalto Iraniano está situada a leste do Crescente Fértil, entre a Mesopo-
tâmia e a Índia, e compreende áreas montanhosas e desérticas.
A partir de 2000 a.C., essa região foi povoada por tribos nômade-pastoris de origem indo-europeia, os arianos. Dois
grupos arianos ocuparam o Irã: os medos e os persas. Os primeiros fixaram-se ao sul do mar Cáspio; os persas instalaram-
-se a leste do golfo Pérsico. No século VIII a.C., essas tribos se organizaram em pequenos reinos rivais. Entre esses Estados
monárquicos, o Reino da Média, ou dos medos, organizou-se antes do Reino dos Persas, e exerceu sua hegemonia na região
estendendo seus domínios pela Mesopotâmia e participando da destruição do Império Assírio. Entretanto, declinaram no
século VI a.C., quando Ciro I, rei dos persas, conquistou o Reino da Média, provocando a unificação política dos povos do
Planalto Iraniano, em 550 a.C.

19
Organização política A elite da sociedade persa era composta pelo
imperador e sua família e por altos burocratas, coman-
Com Ciro I (559-529 a.C.), houve um rápido expan- dantes militares e sacerdotes. A massa da população do
sionismo territorial com a construção de um enorme impé- império estava sujeita ao trabalho compulsório nos sis-
temas de regadio e/ou nas obras públicas, e ainda tinha
rio. Quando de sua morte, o Império Persa se estendia dos
que pagar uma pesada tributação.
atuais Paquistão e Afeganistão, a leste, até o litoral dos ma-
res Negro e Mediterrâneo, a oeste. Em 525 a.C., Cambises,
filho de Ciro, conquistou o Egito e estendeu seus domínios
até a Líbia. O auge do império ocorreu no reinado de Dario I
Religião e cultura
(512-484 a.C.), a quem coube organizar a administração Os persas desenvolveram a escultura, sobressain-
desse vasto território. Dario manteve a tradição de Ciro de do-se os baixos-relevos, e a arquitetura monumental,
integrar a elite dos povos submetidos e de respeitar as di- cujos melhores exemplos são os palácios reais de Susa e
ferenças religiosas e culturais locais. O império foi dividido Persépolis. No entanto, o maior legado da civilização per-
em províncias denominadas satrápias, dirigidas por go- sa foi no plano religioso. Os persas tinham uma religião
vernadores que recebiam o título de sátrapas. Esses eram dualista, em que o deus do bem, Ahura-Mazda (ou Or-
vigiados e fiscalizados por funcionários reais, os “olhos e muz), opunha-se ao deus do mal, Arimã. O dualismo re-
ouvidos do rei”. A integração econômica das regiões e dos ligioso persa fundamentava-se na crença do Juízo Final,
povos do império foi facilitada pela criação de uma moe- quando, ao cabo de 12 mil anos de existência da terra,
da-padrão, o dárico, cunhada em ouro e prata. Durante o o bem triunfaria sobre o mal. Os fundamentos dessa
reinado de Dario, os grandes centros do império – Susa, crença estavam no livro sagrado Zend Avesta, escrito
Sardes, Persépolis, Ecbátana e Babilônia – foram integra- pelo lendário Zoroastro ou Zaratustra, que deu à reli-
dos por uma ampla rede de estradas e por um eficiente gião dos persas a denominação de zoroastrismo (ou
sistema de correios. mazdeísmo, em alusão à divindade Ahura-Mazda).
Sob o governo de Dario inicia-se a tentativa de Os princípios religiosos da religião persa exer-
submeter completamente as cidades gregas da Ásia ceram grande influência sobre o judaísmo e, por meio
Menor (litoral da atual Turquia) – origem das Guerras desse, sobre o cristianismo e o islamismo.
Médicas (490-479 a.C.) que se opôs às cidades-Estado
gregas – ao Império Persa. Em 480 a.C., Xerxes, suces-
Herança cultural do Oriente Médio
sor de Dario, foi derrotado na Segunda Guerra Médica,
na Batalha Naval de Salamina. Com a derrota, houve o Na época em que floresceram as civilizações do
enfraquecimento e a progressiva desintegração do Im- Oriente Médio, os homens aprenderam a depender me-
pério Persa, facilitando a total conquista greco-macedô- nos da natureza e a usar melhor os instrumentos e a
nica de Alexandre Magno, em 330 a.C. técnica para dominá-la. Introduziram o arado, canais de
irrigação, domesticação de animais para tração e cons-
trução de silos para armazenar produtos. A indústria
Economia e sociedade evoluiu com a técnica artesanal. Passou-se a fabricar
tijolos e a usar planos inclinados para elevar blocos de
A unificação política facilitou o comércio dentro
pedra ao alto das construções. Os homens tornaram-se
do Império ao reduzir os obstáculos e oferecer maior
sedentários e aprimoraram as técnicas de construção,
segurança às viagens dos mercadores. A construção de
com o uso de metalurgia, a cerâmica e o preparo dos
uma rede de estradas reais, a instituição de uma moeda-
papiros e placas de barro para a escrita. Os frígios in-
-padrão cunhada com uma liga metálica de ouro e prata
ventaram a moeda.
(o dárico) e a padronização dos pesos e medidas possi-
No campo da cultura, uma das maiores contri-
bilitaram o desenvolvimento das atividades comerciais.
buições foi a invenção da escrita, assinalando a passa-

20
gem da Pré-História para a História. Os fenícios criaram o alfabeto fonético. Surgiram o cálculo matemático, a geo-
metria, as unidades de peso e medida, o calendário lunar e o solar, os estudos de Astronomia, Medicina e Farmácia.
Apareceram as primeiras obras de literatura, como a Epopeia de Gilgamesh. Os grandes códigos religiosos e morais,
como os de Moisés e Hamurabi. As ideias de organização burocráticas do Estado. Houve notáveis progressos na
arte da guerra, em que se destacaram os assírios.
No domínio moral e religioso, é preciso destacar a tolerância religiosa dos persas e a ideia de um único Deus
dos hebreus.

21
INTERATIVI
A DADE

ASSISTIR

Vídeo Já entendi - História - Mesopotâmia

Fonte: Youtube

Vídeo Se liga nessa História - Egito Antigo

Fonte: Youtube

Vídeo Hebreus - Mundo História - ENEM

Fonte: Youtube

22
ASSISTIR

Filme Cleópatra (1963)

Uma fantástica história de poder e traição, com a lendária Cleópatra,


rainha do Nilo, que conquistou Júlio César e Marco Antônio, dois dos
maiores soldados de Roma, e mudou o curso da História.

Filme Os dez mandamentos (1956)

A vida de Moisés (Charlton Heston) é retratada neste longa desde de


seu nascimento, quando é colocado em um cesto nas águas do rio Nilo,
até quando a princesa egípcia Bithiah o encontra e resolve criá-lo como
príncipe. Quando Moisés descobre tudo sobre sua origem, ele dedicará
sua vida a libertar escravos e conduzí-los à Terra Prometida.

23
INTERATIVI
A DADE

LER

tt
Livros

A epopeia de Gilgamesh (séc. XX a.C.)

A epopeia de Gilgamesh, ou épico de Gilgamesh, é um antigo


poema épico da Mesopotâmia (atual Iraque), uma das primeiras
obras conhecidas da literatura mundial. Acredita-se que sua origem
sejam diversas lendas e poemas sumérios sobre o mitológico deus-
-herói Gilgamesh, que foram reunidos e compilados no século VII
a.C. pelo rei Assurbanípal.

Os persas (séc. V a.C.)

Encenada em 472 a.C., Os persas, de Ésquilo (525-455 a.C.), é a


peça mais antiga que se conhece. Representada para os vencedores,
a ação se desenrola em Susa, capital da Pérsia, e coloca em cena a
angústia da rainha Atossa e a derrocada de seu filho, o grande rei
Xerxes, responsável pela invasão à Grécia.

OUVIR
Músicas
- Faraó, divindade do Egito – Margareth Menezes
- Vovó e o rei da Saturnália na corte egipciana – Samba-
-enredo da Beija Flor (1977)

24
INTERDISCIPLINARIDADE

Vê-se que tanto as civilizações mesopotâmicas quanto a egípcia se assentaram em torno de grandes rios
– o Tigre e o Eufrates, no caso dos primeiros, e o Nilo, no caso dos egípcios. A explicação para isso é evidente: a
escassez de água no norte da África e no Oriente Médio, mesmo até os dias atuais, é um empecilho muito grande
ao sedentarismo. Tais povos só conseguiram desenvolver a agricultura a partir do uso da água desses rios.
Com isso, há uma densidade demográfica muito maior nas regiões adjacentes às suas margens.
A imagem abaixo, do Iraque atual, mostra que as principais cidades do país, ainda hoje, concentram-se na
região mesopotâmica.

25
CONSTRUÇÃO DE HABILIDADES

Habilidade 11 - Identificar registros de práticas de grupos sociais no tempo e no espaço

Todas as sociedades registram suas práticas por meio de documentos escritos, pela arte
ou pela arquitetura. A habilidade 11 impõe ao aluno a compreensão de como as institui-
ções sociais, políticas e econômicas regem a criação de tais registros.
O aluno deve interpretar as informações passadas, por meio de imagens e textos, junta-
mente com seus conhecimentos teóricos, relacionando-os conforme a exigência de cada
exercício em particular.

Modelo
(Enem) O Egito é visitado anualmente por milhões de turistas de todos os quadrantes do planeta, de-
sejosos de ver com os próprios olhos a grandiosidade do poder esculpida em pedra há milênios: as pi-
râmides de Gizeh, as tumbas do Vale dos Reis e os numerosos templos construídos ao longo do Nilo.
O que hoje se transformou em atração turística era, no passado, interpretado de forma muito dife-
rente, pois:
a) significava, entre outros aspectos, o poder que os faraós tinham para escravizar grandes contingentes
populacionais que trabalhavam nesses monumentos.
b) representava para as populações do alto Egito a possibilidade de migrar para o sul e encontrar trabalho
nos canteiros faraônicos.
c) significava a solução para os problemas econômicos, uma vez que os faraós sacrificavam aos deuses suas
riquezas, construindo templos.
d) representava a possibilidade de o faraó ordenar a sociedade, obrigando os desocupados a trabalharem em
obras públicas, que engrandeceram o próprio Egito.
e) significava um peso para a população egípcia, que condenava o luxo faraônico e a religião baseada em
crenças e superstições.

Análise Expositiva

Habilidade 11

O poder teocrático do faraó era representado pela arquitetura e pelas pirâmides e templos. A
alternativa A é a correta, embora diga que houvesse escravidão de grandes contingentes no
Egito antigo. Na realidade, muitas das obras públicas eram realizadas pela servidão coletiva.

Alternativa A

26
Estrutura Conceitual
Transição:
Antiguidade Oriental
Pré-história -> História

1 Egito

Estado → Nordeste da África → Desertos / Rio Nilo


Religião → Modo de produção asiático
Escrita → Teocrática → Faraó (Deus) / Nobreza / Comerciantes
Grandes obras camponeses / escravos
→ Politeísmo / Mumificação

2 Mesopotâmia 3 Hebreus

→ Região fértil entre os rios Tigres e Eufrates → Atual Israel / Palestina


→ Modo de produção asiático → Agropastoril e Comercial
→ Teocrática → Reis / Nobreza / Comerciantes → Estrutura tribal → Propriedade Privada →
camponeses / escravos Nobreza / Comerciantes
→ Politeísmo / Código Hamurabi camponeses / escravos
Escrita Cuneiforme → Monoteísmo

4 Fenícios 5 Império Persa

→ Atual Líbano → Entre a Mesopotâmia e a Índia → Desertos


→ Marítimo-Comercial Montanhas
→ Cidade → Estado → Rei
Conselheiros comerciantes → Comércio / Modo de produção asiático
→ Politeísmo / Alfabeto fonético → Império → Nobreza → Burocratas
Militares / Sacerdotes
→ Religião Dualista / Arquitetura Moderna

— Geografia — Economia — Sociedade — Religião

27
3
0 40 Grécia

Competências Habilidades
1, 2, 3, 4, 5 e 6 1, 4, 5, 9, 11, 14,
18, 19, 22, 23,
© Haris vythoulkas/Shutterstock

24, 27 e 29

C H
HISTÓRIA
Competência 1 – Compreender os elementos culturais que constituem as identidades.
H1 Interpretar historicamente e/ou geograficamente fontes documentais acerca de aspectos da cultura.
H2 Analisar a produção da memória pelas sociedades humanas.
H3 Associar as manifestações culturais do presente aos seus processos históricos
H4 Comparar pontos de vista expressos em diferentes fontes sobre determinado aspecto da cultura.
H5 Identificar as manifestações ou representações da diversidade do patrimônio cultural e artístico em diferentes sociedades.
Competência 2 – Compreender as transformações dos espaços geográficos como produto das relações socioeconômicas e culturais de
poder.
H6 Interpretar diferentes representações gráficas e cartográficas dos espaços geográficos.
H7 Identificar os significados histórico-geográficos das relações de poder entre as nações.
H8 Analisar a ação dos estados nacionais no que se refere à dinâmica dos fluxos populacionais e no enfrentamento de problemas de ordem econômico-social.
H9 Comparar o significado histórico-geográfico das organizações políticas e socioeconômicas em escala local, regional ou mundial
Reconhecer a dinâmica da organização dos movimentos sociais e a importância da participação da coletividade na transformação da realidade
H10
histórico-geográfica.
Competência 3 – Compreender a produção e o papel histórico das instituições sociais, políticas e econômicas, associando-as aos diferentes
grupos, conflitos e movimentos sociais.
H11 Identificar registros de práticas de grupos sociais no tempo e no espaço.
H12 Analisar o papel da justiça como instituição na organização das sociedades.
H13 Analisar a atuação dos movimentos sociais que contribuíram para mudanças ou rupturas em processos de disputa pelo poder.
Comparar diferentes pontos de vista, presentes em textos analíticos e interpretativos, sobre situação ou fatos de natureza histórico-geográfica acerca
H14
das instituições sociais, políticas e econômicas.
H15 Avaliar criticamente conflitos culturais, sociais, políticos, econômicos ou ambientais ao longo da história.
Competência 4 – Entender as transformações técnicas e tecnológicas e seu impacto nos processos de produção, no desenvolvimento do
conhecimento e na vida social.
H16 Identificar registros sobre o papel das técnicas e tecnologias na organização do trabalho e/ou da vida social.
H17 Analisar fatores que explicam o impacto das novas tecnologias no processo de territorialização da produção.
H18 Analisar diferentes processos de produção ou circulação de riquezas e suas implicações sócio-espaciais.
H19 Reconhecer as transformações técnicas e tecnológicas que determinam as várias formas de uso e apropriação dos espaços rural e urbano.
H20 Selecionar argumentos favoráveis ou contrários às modificações impostas pelas novas tecnologias à vida social e ao mundo do trabalho.
Competência 5 – Utilizar os conhecimentos históricos para compreender e valorizar os fundamentos da cidadania e da democracia, favo-
recendo uma atuação consciente do indivíduo na sociedade.
H21 Identificar o papel dos meios de comunicação na construção da vida social.
H22 Analisar as lutas sociais e conquistas obtidas no que se refere às mudanças nas legislações ou nas políticas públicas.
H23 Analisar a importância dos valores éticos na estruturação política das sociedades.
H24 Relacionar cidadania e democracia na organização das sociedades.
H25 Identificar estratégias que promovam formas de inclusão social.
Competência 6 – Compreender a sociedade e a natureza, reconhecendo suas interações no espaço em diferentes contextos históricos e
geográficos.
H26 Identificar em fontes diversas o processo de ocupação dos meios físicos e as relações da vida humana com a paisagem.
H27 Analisar de maneira crítica as interações da sociedade com o meio físico, levando em consideração aspectos históricos e (ou) geográficos.
H28 Relacionar o uso das tecnologias com os impactos sócio-ambientais em diferentes contextos histórico-geográficos.
H29 Reconhecer a função dos recursos naturais na produção do espaço geográfico, relacionando-os com as mudanças provocadas pelas ações humanas.
H30 Avaliar as relações entre preservação e degradação da vida no planeta nas diferentes escalas.
Aspectos geográficos
A Grécia antiga ocupava o sul da península Balcânica, as ilhas do mar Egeu e a costa da Ásia Menor. Com a
expansão colonial, ela ocupou também a costa egeia da Ásia Menor e o sul da península Itálica. O território grego era
composto por duas regiões distintas: a parte continental, ao sul da península dos Balcãs, e a Grécia insular, que ocupava
as ilhas do mar Egeu.
Banhada pelos mares Jônico e Egeu, a Grécia era, por sua posição geográfica, um elo entre a Europa e o Oriente
Próximo. Seu relevo montanhoso e seu solo árido e rochoso dificultavam as comunicações terrestres. Seu litoral, no entan-
to, com excelentes portos e salpicado de ilhas, facilitava as comunicações marítimas. A dificuldade de contatos internos
contribuiu para impedir a unidade política da Grécia Antiga e, ao mesmo tempo, favoreceu a formação de cidades-Estado.

A Grécia antiga

Disponível em: <https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Mapa_Grecia_Antigua.svg>. Acesso em: 05 jun. 2018.

Periodização
Período Pré-homérico (2000-1200 a.C.)
Os gregos ou helenos, de Hélade, nome primitivo da Grécia, são de origem indo-europeia – os indo-euro-
peus ou arianos chegaram à Grécia em cerca de 2000 a.C.
Antes deles que chegaram os aqueus, povo pastoril, e ocuparam as melhores terras. Tornaram-se sedentários
e assimilaram povos mais antigos, como os pelágios ou pelasgos, provavelmente de origem mediterrânea, do Período
Neolítico. Foram obra dos aqueus a formação dos núcleos urbanos de Micenas, Tirinto e Argos. Os habitantes de Mi-
cenas, por sua vez, em contato com a Ilha de Creta, cuja civilização era bastante avançada – povo marítimo-comercial
que dominava as rotas do Mediterrâneo Oriental (talassocracia1) – integraram sua cultura à dos cretenses, o que
deu origem à civilização creto-micênica.

1. Talassocracia = poderio econômico de um Estado baseado no domínio de rotas marítimas comerciais.

31
Por volta de 1700 a.C., os núcleos arianos instala- A Ilíada narra a tomada de Troia pelos gregos.
dos na Grécia foram fortalecidos com a chegada de novos O autor concentra-se na figura do herói Aquiles, des-
grupos indo-europeus, os jônios e os eólios. Integraram- crevendo sua cólera contra Agamenon, que lhe roubou
-se pacificamente com os já habitantes da Grécia, en- a escrava Briseida. A princípio, Aquiles nega-se a parti-
quanto a civilização creto-micênica chegava ao seu auge. cipar dos combates. No entanto, a morte de seu amigo
Outra importante civilização pré-helênica desenvolveu-se Pátroclo o leva ao engajamento. Parte importante da
ao norte da Anatólia – os troianos. Erguida por volta de Ilíada descreve o cavalo de madeira com o qual os gre-
1900 a.C., Troia tinha uma população aparentada com os gos “presenteiam” os troianos para tomar sua cidade.
primeiros gregos. Sua prosperidade econômica baseava- A Odisseia descreve o retorno do guerreiro Ulis-
ses, Odisseus, ao Reino de Ítaca. A obra ocupa-se de três
-se na exploração de terras ricas e na pecuária.
temas fundamentais: a viagem de Telêmaco, as viagens
No início do século XII a.C., os gregos destruíram
de Ulisses e o massacre dos pretendentes de sua mu-
Troia (Ílion, em grego), cidade que ocupava posição estra-
lher, Penélope. Após o século XII a.C., a célula básica
tégica nos estreitos entre os mares Egeu e Negro, o que
da sociedade grega era o genos (comunidade gentílica),
lhe conferiu o controle do tráfego marítimo na região.
uma grande família. Os descendentes de um mesmo an-
Enquanto a civilização micênica se expandia
tepassado viviam no mesmo lar. Cada membro (gens)
em direção à Ásia, chegaram os dórios, último grupo
dependia da unidade da família cujo chefe era o páter-
de povos arianos a penetrar na Grécia. Mais aguerri-
-famílias – o mais velho dos membros do genos, um
dos, nômades ainda e conhecedores de armas de ferro, líder de clã, que era juiz, comandante militar e chefe
os dórios arrasaram as cidades gregas. As populações religioso. Seu poder era passado para o filho mais velho.
fugiram para o interior ou para o exterior. Numerosas
colônias gregas formaram-se na costa da Ásia Menor
e nas ilhas do mar Egeu. Foi a Primeira Diáspora
(dispersão) Grega.

Primeira Diáspora Grega

Tróia
Tróia

ÁSIA MENOR
MAR
Atenas EGEU

MAR Tanto os meios de produção, terras, sementes,


JÔNICO Esparta
implementos, como o resultado da produção, alimentos,
utensílios, pertenciam a todos os indivíduos da comu-
Jônios e aqueus
Eólion
nidade, inexistindo a propriedade privada. A sociedade
Creta
Dórios 0 120 km
era igualitária e caracteristicamente sem classes sociais.
Adaptado de: <http://slideplayer.com.br/slide/1758745/>. Economicamente coletivista e socialmente igua-
Acesso em: 22 dez. 2015.
litário, o genos não deixava de levar em conta diferen-
ças individuais, uma vez que o status pessoal na família
Período Homérico (séc. XII-VIII a.C.) dependia do parentesco com o páter-famílias. No plano
político, o poder patriarcal baseava-se no monopólio de
O nome Homérico deve-se ao estudo desse pe- fórmulas secretas, que permitiam ao chefe o contato
ríodo baseado em dois poemas épicos atribuídos a Ho- com os deuses protetores da família.
mero: a Ilíada e a Odisseia.

32
No fim do Período Homérico, a falta de terras férteis associada ao crescimento demográfico levou as comu-
nidades gentílicas a um quadro de profunda tensão e lutas internas que acabaram por conduzi-las à desagregação.
As consequências da desintegração do sistema gentílico foram complexas. A luta entre os membros
do genos por um pedaço de terra que lhe garantisse a subsistência fez com que aquela civilização passasse
do sistema de propriedade coletiva para o de propriedade privada. A terra, o bem econômico mais precioso
daquele período, foi dividida de forma desigual entre os membros da comunidade, o que deu origem a diver-
sas categorias sociais. As áreas mais férteis ficaram com os parentes mais próximos do pater, os eupátridas;
as restantes foram para seus parentes mais distantes, os georgóis (agricultores). Os que ficaram sem terra
foram denominados thetas (marginais). Uma parte desses despossuídos (demiurgos) passou a se dedicar ao
comércio e ao artesanato. Os demais deixaram a Grécia e fundaram numerosas colônias nos mares Negro e
Mediterrâneo, processo conhecido como Segunda Diáspora Grega (século VIII a.C.). Nas proximidades do
mar Negro, destacaram-se as colônias gregas de Bizâncio e Abidos. No Mediterrâneo Ocidental, mais precisa-
mente ao sul da península Itálica, foi criada a Magna Grécia, cujos núcleos mais importantes foram Tarento,
Siracusa e Nápoles. A colonização grega teve um caráter marcadamente agrário, o que não a impediu de
desenvolver as atividades industriais e comerciais. Nessas condições, o mundo grego apresentava dimensões
quase mediterrâneas.

Colonização grega
Tanais
Olbia

Marselha

Alalia
TRÁCIA Bizâncio Sinopa
Cumas Calcedônia Trebizonda
Nápoles
Eritreia Foceia
Denia Corinto JÔNIA
Agrigento Catânia
Mileto
Atenas
Mainake Siracusa Esparta
Creta

Cirene
Náucratis

Grécia Regiões colonizadas pelos gregos Cidades gregas Colônias gregas

Adaptado de: <http://disciplina-de-historia.blogspot.com.br/2011_11_01_archive.htm>. Acesso em: 25 dez 2015.

A desintegração política gerou a passagem do poder do páter-famílias para os parentes mais próximos, os
eupátridas, os bem-nascidos. Eles monopolizavam os equipamentos de guerra, a justiça, o poder religioso, todo o
poder político. Graças a essas camadas originou-se a aristocracia grega, cujo poder resultava da posse da riqueza
fundamental: a terra.
Os aristocratas uniam-se em irmandades, as frantrias que, por sua vez, em tribos. Da reunião de várias tribos
e da aglutinação de seus vilarejos (cinesismo), surgiu a organização política da antiga Grécia: a cidade-Estado
(pólis). Para alcançar esse estágio de civilização, foi fundamental o rompimento da unidade do genos, uma vez
que, até então, as cidades não passavam de associações políticas temporárias.
Marcadas pela autonomia política, as pólis constituíram a base da sociedade grega e seu elemento de
união, cuja organização apresentava necessariamente estas características: a Acrópole – templo construído sobre
uma elevação; a Ágora – praça central onde ocorriam debates e decisões políticas; e o astil – mercado de trocas.
A economia passou de gentílica à urbana, se bem que ainda impregnada de elementos da economia familiar, bem
como gestando sinais da futura economia internacional grega.

33
Período Arcaico (séc. VIII-VI a.C.)
O Período Arcaico grego foi marcado pela evolução e consolidação das cidades-Estado. Isoladas geografi-
camente, bem como povoadas de forma bastante particular, a evolução daquelas cidades deu-se também de modo
muito particular e diferenciado, gerando modelos por vezes antagônicos e rivais: divisão social, conflitos internos,
expansionismo marcaram a maioria das cidades-Estado gregas. Lembre-se de que essa evolução foi resultado
direto do processo de desagregação das comunidades gentílicas.

Esparta: a cidade-Estado militarista


ESTINFALO

A R C A D I A ARGOS
EPIDAURO

MANTINEA
OLIMPIA

TEGEA

Alfeo
MEGALÓPOLIS Tirea
Oion
P
FIGALIA
A
Neda
R Tiro
Belemina N
Aulón Ó
Pelana
Selasia
N Brasias
M E S E N IA

Esparta
Pamiso

Ciparisia
Mte Itome Gerontras
Turia Terapne
A

Cifanta
IG

Mesene
Eurotas
Amiclas
E

Faras
T

Zárax
Corone
O

Pilos
Cardamile Helos
Epidauro Limera
Acrias

Talamas Gitio Asopo


Las
Motone Asine

Étilo

Beas
Territórioda
Territorio daLacônia
Lacônia
Teutrone
Cidade soberana CABO ACRITAS
Periecos CABO MALEA
Fronteira daLacônia
Frontera da Lacônia
Límites hipotéticos Ténaro
do territorio de Esparta
CABO TÉNARO

Disponível em: < https://es.wikipedia.org/wiki/Esparta> Acessado em: 22 Dez. 2015.

Aspectos geográficos e povoamento

Fundada no século IX a.C. pelos invasores dórios, Esparta foi uma das primeiras cidades-Estado gregas,
localizada na fértil planície da Lacônia, às margens do rio Eurotas, na península do Peloponeso. Os aqueus,
antigos habitantes da região ou aliaram-se aos invasores, ou foram escravizados, ou fugiram. Isolada pelas mon-
tanhas e sem saída para o mar, Esparta era uma cidade-estado fechada sobre si mesma e avessa a influências
externas.

34
Sociedade e economia cios e escolhidos por aclamação na Assembleia, tinham
papel decisivo em assuntos de política externa. A Ápela
A sociedade espartana apresentava três ca- virou órgão apenas consultivo cujos votos eram mani-
madas básicas: os espartanos ou esparciatas, os festados por aplauso.
periecos e os hilotas. Os esparciatas formavam a O Poder Executivo passou a ser exercido pelos
camada dominante uma vez descendentes dos con- Éforos, cinco magistrados escolhidos pela Gerúsia en-
quistadores dórios. Gozavam de direitos políticos e carregados de zelar pelo respeito às leis, pela educação
dedicavam-se às atividades militares. Os periecos, das crianças e pela fiscalização da vida pública dos ci-
descendentes das populações originárias da Lacô- dadãos e da conduta dos reis.
nia que aceitaram pacificamente a dominação dória, Daquele governo oligárquico só participava uma
formavam uma camada de agricultores livres. Culti- minoria de cidadãos, os esparciatas, os homoioi (iguais).
vavam as terras periféricas menos férteis, ou dedi- O objetivo fundamental do regime político de Esparta
cavam-se ao artesanato e ao comércio. Os hilotas, era conservar o status quo, a situação vigente de privi-
descendentes dos povos submetidos durante a inva- légios da aristocracia e de dominação sobre os escravos.
são dória, constituíam a camada mais baixa da socie- Com as mudanças estruturais do século VII a.C.,
dade espartana. Eram servos pertencentes ao Estado Esparta regrediu culturalmente. O governo passou a
à disposição dos esparciatas para o cultivo da terra. estimular o laconismo, a xenofobia e a xenelasia. Por
Presos à terra, não podiam ser vendidos. laconismo, entende-se falar tudo em poucas palavras,
o que limita a capacidade de raciocínio e o espírito
Organização política crítico dos falantes. A xenofobia e a xenelasia – aver-
são e expulsão de estrangeiros – impediam o contato
Dois reis (diarquia), um conselho e uma as- dos espartanos com ideias inovadoras, consideradas
sembleia exerciam o poder, segundo a constituição de subversivas para o sistema.
Esparta, A Grande Retra – código de leis atribuído ao A educação rigidamente militarista dos espar-
lendário Licurgo cujo caráter sagrado, portanto imutá-
ciatas contribuía significativamente para a manutenção
vel, assegurava privilégios aos cidadãos esparciatas.
dessa estrutura política e social fechada. As crianças sãs
A instituição política mais importante era a Ge-
ficavam com suas famílias até os sete anos de idade,
rúsia, o Conselho dos Anciãos, composto por 28 cida-
quando os meninos eram entregues aos cuidados do
dãos maiores de 60 anos e cargo vitalício. Seu papel
Estado para que tivessem uma rígida educação militar.
preponderante era conduzir a política externa, atividade
Dos dezoito aos sessenta anos serviam no exército. Ca-
fundamental num estado militarista.
samento, só depois dos trinta anos, quando então rece-
A Diarquia exercia o poder executivo em tempo
biam seu lote de terra e passavam a ser cidadãos.
de guerra e oficiava as cerimônias religiosas que prece-
Aos cidadãos cabia viver para o Estado, guerrear
diam os combates.
e procriar para fortalecer o exército.
A Ápela, Assembleia dos Cidadãos, contava
O Estado espartano adotou o tipo de organiza-
com a participação de todos os espartanos adultos, se
ção adequado a fim de evitar mudanças radicais e de
bem que tivesse papel secundário na organização polí-
garantir o domínio da minoria dória sobre a maioria es-
tica de Esparta.
crava. Esparta permaneceu nesse sistema até o século
O regime político sofreu transformações propor-
IV a.C.
cionais às mudanças na estrutura econômica e social.
Economia e sociedade caminharam para o imobilismo,
o que explica o governo espartano mais conservador,
menos progressista.
Com o tempo, o poder supremo passou a ser
monopolizado pela Gerúsia e pelos dois reis, que pau-
latinamente foram perdendo poder. Os gerontes, vitalí-

35
seus produtos. Em épocas de colheitas ruins, toma-
Atenas: a cidade-Estado democrática
vam empréstimos aos eupátridas, dando a própria
terra como penhor. Resultado: muitos perdiam as
Aspectos geográficos e povoamento
propriedades e tornavam-se rendeiros. Se tivessem
empenhado o próprio corpo, tornavam-se escravos e
podiam ser vendidos ao exterior. Outros iam para as
cidades engrossar a camada dos marginalizados, os
thetas (os que recebiam menos de 200 medimnos
por ano).
Os artesãos (demiurgos) eram trabalhadores
livres cujas atividades concentravam-se na região litorâ-
nea. A classe dos metecos, cerca de 100 mil, era forma-
da por estrangeiros residentes em Atenas. Dedicavam-
-se geralmente ao artesanato e ao comércio. Pagavam
impostos, prestavam serviço militar e eram privados de
direitos políticos.
Os escravos constituíam a maioria da popula-
ção de Atenas, mão de obra básica e responsável pela
Atenas foi fundada na Ática, uma península
economia ateniense. Desempenhavam todas as ativi-
do mar Egeu, numa planície, a poucos quilômetros do
dades manuais, dos serviços domésticos ao trabalho
mar e protegida de invasores por colinas, como sem-
na agricultura.
pre foi, notadamente dos dórios. Povoaram-na aqueus,
eólios e jônios, de quem os atenienses se considera-
Evolução política
vam originários.
De acordo com a lenda, a fundação de Atenas foi
Da monarquia à oligarquia
atribuída ao mitológico Teseu, que lutou contra o mons-
tro Minotauro, na ilha de Creta, libertando-a do jugo do A monarquia ou realeza foi a primeira forma
monstro. Na realidade, a formação da cidade-Estado foi de governo de Atenas, exercida por um rei (basileus).
consequência da desagregação da comunidade gentíli- Durante o período Arcaico, a nobreza eupátrida for-
ca (genos) e da fusão de tribos que habitavam a penín- taleceu-se e progressivamente, limitou o poder do
sula da Ática. basileus. Esse processo, culminou no século VII a. C.
com a substituição da realeza pelo arcontado, órgão
Sociedade e economia de caráter executivo. O governo passou a ser exercido
por nove arcontes eleitos anualmente pelo areópago
No século VIII a.C., a economia de Atenas era – conselho eupátrida que detinha o poder legislativo.
ainda essencialmente rural. Mas atividades artesanais e Com o arcontado, o regime de governo passou de mo-
comerciais já ultrapassavam os limites da Ática. A pro- nárquico para oligárquico.
ximidade de Atenas do mar Egeu abriu-a a influências
externas, facilitou sua participação no movimento de Os legisladores
colonização e transformou-a numa pólis de navegado-
res e comerciantes. A colonização resultante da Primeira Diáspo-
A camada social dominante era constituída pe- ra havia ampliado os horizontes do mundo grego.
los eupátridas, bem-nascidos, grandes proprietários Comerciantes e artesãos tornaram-se cada vez mais
de terras férteis cultivadas por escravos, rendeiros e as- numerosos e ascendiam na escala social. Passaram
salariados. a fazer oposição à oligarquia dos eupátridas que a
Os georgois (agricultores) possuíam terras atacava em dois flancos: pelos comerciantes enrique-
pouco férteis junto das montanhas. Ficaram em si- cidos ávidos pela participação do governo e pelos
tuação difícil com o desenvolvimento comercial, pois pobres que reivindicavam a abolição da escravidão
as importações de cereais faziam concorrência com por dívida e a repartição das grandes propriedades.

36
Os séculos VII e VI a.C. mostravam uma Atenas em Os tiranos
constante ebulição social. Parte da aristocracia eu-
pátrida, temerosa de perder seus privilégios, propôs As tiranias em Atenas não tinham, necessa-
uma reforma social planejada por dois eminentes le- riamente como hoje, um sentido de governo opres-
gisladores: Drácon e Sólon. sivo, mas foram caracterizadas por governadores
Em 621 a.C., Drácon foi encarregado de pre-
enriquecidos pela expansão econômica. Apesar de
parar uma legislação escrita em substituição à oral. A
grandes proprietários, não tinham participação polí-
severidade de suas leis previa pena de morte para a
maioria dos crimes. Em razão disso, 27 séculos depois, tica no governo da aristocracia eupátrida. Graças ao
draconiano continua sendo um adjetivo sinônimo de apoio das massas pobres descontentes, tornaram-se
rigoroso, cruel. Contudo, tal legislação teve a importân- líderes políticos e derrubaram aquela secular forma
cia de passar a administração da justiça das mãos dos de governo.
eupátridas para o Estado, que se fortaleceu. No plano Psístrato, primeiro tirano ateniense, fez uma
político, no entanto, nada mudou. Os eupátridas manti- reforma agrária e enfraqueceu os eupátridas. Sucedido
veram o monopólio do poder, uma vez apoiados agora pelos filhos Hiparco e Hípias, os resultados não foram os
na lei escrita. mesmos, uma vez que eles não prosseguiram as refor-
Como a legislação de Drácon não resolveu a cri-
mas pelo pai e perderam o apoio popular.
se, em 594 a.C. foi indicado um novo legislador: Sólon,
Em 510 a.C., Hípias foi deposto e o poder foi
aristocrata de nascimento e comerciante de profissão.
Suas reformas abrangeram os três aspectos fundamen- conquistado por Iságoras, um tirano impopular que con-
tais da vida ateniense. tava com o apoio dos eupátridas. A reação eupátrida
§§ Economia: a nova legislação estimulou o de- chegou ao fim quando uma nova insurreição do partido
senvolvimento comercial e industrial; promoveu popular (demos), em 507 a.C., resultou na ascensão de
a vinda de artesãos estrangeiros (metecos); do- Clístenes ao governo de Atenas.
tou Atenas de um padrão monetário fixo; im-
pulsionou a exploração das minas de prata de A democracia ateniense
Laurion; estabeleceu um sistema de pesos e me-
didas; e proibiu a exportação de cereais. Apesar de origem aristocrática, Clístenes não
§§ Sociedade: a nova legislação concedeu anistia pretendeu restabelecer a velha ordem da nobreza. Tra-
geral; limitou os excessos da legislação de Drá- çou um projeto que estabelecesse sim um governo ba-
con; regulamentou a lei de herança, restringindo
seado na isonomia, isto é, baseado na igualdade dos
os direitos dos primogênitos; e, o mais impor-
cidadãos perante a lei.
tante, decretou a seisachteia, que consistia na
A primeira medida tomada por Clístenes foi a di-
proibição da escravidão por dívida.
§§ Política: foi abolido o monopólio do poder pela visão da população da Ática em três zonas, para evitar
aristocracia eupátrida e instituído um sistema de as alianças entre as tradicionais famílias eupátridas: o
participação baseado na riqueza dos cidadãos litoral (parália), o interior (mesógia) e a cidade (ásty).
(regime censitário). Cada uma dessas zonas, por sua vez, foi dividida em dez
O objetivo principal da nova legislação foi es- unidades. Da reunião das unidades de cada zona – do
tabelecer uma justiça correta para todos, isto é, uma litoral, da cidade e do interior – formou-se uma tribo,
justiça baseada na igualdade de todos perante a lei. As que totalizou dez tribos na Ática. Essas dez tribos, a me-
reformas de Sólon lançaram os fundamentos do futuro
nor unidade de divisão criada por Clístenes, eram for-
regime democrático de Atenas implantado por Clíste-
madas pelos demos. O demos foi a base desse sistema
nes, em 507 a.C.
de governo, razão pela qual a reforma de Clístenes ficou
As reformas de Sólon não foram inteiramente
aplicadas devido às rivalidades políticas entre os par- conhecida pelo nome de democracia. O governo passou
tidos. Ao fim e ao cabo, essas agitações criaram condi- a ser exercido por três poderes: legislativo (assembleias
ções para a liderança de homens que viriam a tomar o da Bulé e da Eclésia); judiciário (tribunais da Heliae); e
poder à força, os tiranos. executivo (estrátegos eleitos pela Eclésia).

37
As guerras médicas (490-479 a.C.)

© Giovanni Dall’Orto / Wikimedia Commons


As Guerras Médicas, ou pérsicas, foram
resultado do conflito entre o mundo grego, em ex-
pansão, e o mundo bárbaro persa – assim chamados
pelos gregos, uma vez destituídos da cultura helênica
(estrangeiros). Depois que Ciro conquistou o Orien-
te Médio, o Império Persa continuou a crescer com
Cambises e sua organização foi aperfeiçoada por
Dário I. O primeiro choque com os gregos começou
Óstraco ateniense com o nome de Mégacles, na Ásia.
condenado ao ostracismo em 486/7 a.C.
No início, os persas respeitaram a autonomia das
Os princípios básicos da reforma de Clístenes cidades gregas, no entanto, passaram a exigir impostos
rezavam: direitos políticos para todos os cidadãos; par- e contribuíram para que tiranos tomassem o poder. Na
ticipação direta dos cidadãos no governo por compare- região da Jônia, Mileto rebelou-se com apoio de Ate-
cimento à assembleia ou por sorteio, caso se tratasse nas, o que desencadeou imediatamente a guerra entre
da escolha do ocupante de algum cargo. No entanto, gregos e persas.
despossuídos de cidadania, os estrangeiros (metecos), Mileto foi arrasada e seus habitantes deportados
as mulheres e os escravos foram proibidos de participar para a Mesopotâmia. Em 492 a.C., Dário exigiu rendi-
do regime democrático. ção grega incondicional. Atenas e Esparta recusaram-se.
Instituiu-se o ostracismo, a suspensão de direi- Os atenienses venceram o primeiro choque e correram
tos políticos de cidadãos considerados nocivos ao Esta- para salvar Esparta numa segunda vitória. Os esparta-
do. Uma vez por ano, oferecia-se aos cidadãos atenien- nos chegaram depois da batalha: retardaram sua en-
ses a oportunidade de denunciar num caco de barro
trada na guerra por motivos religiosos. Com a vitória,
(ostrakon) o nome de quem ameaçasse a democracia.
cresceu o prestígio de Atenas entre os gregos, uma vez
Com um número suficiente de votos, este era ostraci-
salvadora da Grécia da dominação persa.
zado, isto é, forçado a deixar Atenas por dez anos. A
votação do ostracismo se dava na Assembleia. Perdida a batalha, mas não a guerra, os persas,
A reforma de Clístenes trouxe um período de liderados por Xerxes, sucessor de Dario, em 486 a.C.,
estabilidade a Atenas e permitiu a formação de um sis- fez acordo com Cartago, no norte africano, pelo qual os
tema coeso, capaz de enfrentar com sucesso um longo cartagineses atacariam os gregos do sul da Itália.
período de perturbações externas, como as guerras
pérsicas, que auxiliaram a consolidação das institui-
ções atenienses.
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Período Clássico (séc. V e IV a.C.)


O período Clássico foi o das hegemonias e im-
perialismo no mundo grego (séculos V e IV a.C.). A Representação do militarismo espartano
primeira potência dominante foi Atenas, seguida por
Esparta e Tebas. As guerras médicas ou pérsicas pro- Os persas vieram por terra e mar. A infantaria
jetaram a hegemonia ateniense até a Guerra do Pelo- cruzou os dois quilômetros do Helesponto, hoje Estreito
poneso. Depois das hegemonias espartana e tebana, de Dardanelos, entre a Ásia e a Europa, sobre uma pon-
o mundo grego foi anexado por Filipe II ao Reino da te de barcos. Caminhando perto do litoral, essas forças
Macedônia e, na fase seguinte, ao Império Helênico de chegariam pelo norte, com suprimentos fornecidos pela
Alexandre Magno. esquadra, que navegava junto à costa. Comandados

38
pelo rei Leônidas, 6 mil espartanos tentaram barrar os Externamente, a política era imperialista porque
persas no Desfiladeiro das Termópilas. procurava estender o domínio de Atenas sobre as de-
Mas o inimigo descobriu outra passagem no alto mais cidades-Estado gregas.
das montanhas. A fim de permitir a retirada de suas tro- Atenas foi embelezada e o desemprego foi com-
pas, Leônidas resistiu com 300 homens no desfiladeiro, batido por meio da realização de grandes obras públicas,
que foram massacrados. Os persas encontraram Atenas como a construção do Partenon. A “escola da Hélade”
vazia, uma vez que havia sido retirada pela esquadra tornou-se o centro artístico, literário, científico e filosófico
grega. A cidade foi incendiada. do mundo grego. Por ser considerada a época de ouro da
No mar, os gregos atraíram os persas para o es- cultura e da civilização gregas, o século V a.C. passou a
treito do Canal de Salamina. Os pesados barcos persas ser conhecido como o “Século de Péricles”.
furavam os cascos nas pedras e os remos se entrela-

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çavam em grande confusão. Sem apoio da esquadra,
Xerxes voltou à Ásia.
Considerando afastado o perigo persa, os es-
partanos voltaram ao isolamento. Mas outros Estados
gregos trataram de se precaver, formando, sob a lide-
rança de Atenas, a Confederação de Delos (nome da
sede da liga). A ofensiva contra os persas na Ásia come-
çou com expedições que percorriam o Egeu arrasando
as posições inimigas e libertando as colônias gregas.
Partenon
Sob o comando de Címon, filho de Milcíades, os gre-
gos derrotaram os persas definitivamente na foz do rio
Eurimedonte, em 468 a.C. No Tratado de Susa ou Paz A Guerra do Peloponeso (431-404 a.C.)
de Kallias, em 448 a.C., os persas reconheceram a he-
gemonia dos gregos no Egeu e prometeram não atacar Entre os anos 431 e 404 a.C., a Grécia foi asso-
mais a Grécia ou suas colônias asiáticas. lada por uma terrível guerra, que ficou conhecida como
Guerra do Peloponeso, envolvendo todas as cidades-Es-
A hegemonia de Atenas (443-429 a.C.) tado gregas. Mas a disputa era entre a Liga do Pelopo-
neso, liderada por Esparta, e a Confederação de Delos,
O sucesso de Atenas valeu-lhe a rivalidade de por Atenas.
Esparta, Corinto, Megara, Tebas. Entre si, os atenienses O controle de Atenas sobre a Confederação de
não chegavam a um acordo. Címon, que insistia nos Delos assustava os espartanos e seus aliados da Liga
persas como perigo, queria paz com Esparta. Acabou do Peloponeso. Esparta e as cidades-Estado do Pelo-
exilado. poneso decidiram-se pela guerra porque sentiam sua
Sob o governo de Péricles, Atenas alcançou seu independência ameaçada pela dinâmica imperialista de
apogeu. O comando da Confederação de Delos, o con- Atenas. Para Atenas, estava em jogo sua hegemonia na
trole do mar Egeu e a prosperidade econômica contri- Confederação de Delos, que lhe concedia poder político
buíram para o fortalecimento do partido democrático e contribuía para a sua prosperidade econômica. Nem
formado pelos ricos comerciantes e armadores. Sob a Atenas nem Esparta previram as consequências catas-
direção desse partido, Atenas desenvolveu, ao mesmo tróficas que a guerra traria para a civilização grega.
tempo, uma política democrática – que ampliava a par- Bastou um incidente para transformar a riva-
ticipação dos cidadãos no governo da cidade – e impe- lidade das outras cidades-Estado em guerra: Atenas
rialista. Para que os cidadãos pobres participassem das apoiou a colônia de Córcira, rebelada contra Corin-
instituições políticas, foi estabelecida uma remuneração to, cidade aliada de Esparta na Liga do Peloponeso.
(mistoforia) pela participação nas assembleias. A primeira parte da guerra durou dez anos. Os es-

39
partanos invadiram a Península da Ática, enquanto como submeteu a Tessália, a Trácia e a Macedônia. Mas,
os defensores de Atenas, comandados por Péricles, ao organizar uma marinha de guerra, atraiu a oposição
abrigavam-se ao longo dos muros e a frota atacava de Atenas. Em 362 a.C., atenienses e espartanos, ago-
na costa do Peloponeso. ra reconciliados, derrotaram os tebanos na Batalha de
Orientados agora por Alcebíades, os espartanos Mantineia, em que morreu Epaminondas.
mantiveram seu exército na Ática e ampliaram sua frota Com o mundo grego enfraquecido pelas guer-
a fim de libertar as cidades dominadas por Atenas. Em ras, estavam criadas as condições para a intervenção
404 a.C., em Egos-Pótamos, Lisandro derrotou defini- de Filipe da Macedônia. Em 338 a.C., as tropas mace-
tivamente os atenienses. Era o fim da hegemonia de dônicas venceram as cidades-Estado gregas na batalha
Atenas que passou à condição de satélite de Esparta. de Queroneia, assinalando o início da supremacia da
Macedônia sobre a Grécia.

A hegemonia de Esparta
Período Helenístico (séc. IV-I a.C.)
Tal como Atenas, Esparta adotou uma políti-
ca imperialista, o que a obrigou a sair do imobilismo. Filipe II organiza a Macedônia
Com o desenvolvimento econômico, seus cidadãos
apegaram-se ao gosto pelo luxo. O número de escra- Filipe tinha vivido em Tebas em razão de uma
vos aumentou perigosamente e os libertos que haviam promessa macedônia de ajuda militar aos tebanos,
participado da Guerra do Peloponeso exigiam melhores quando aquela cidade grega viveu seu curto período
condições sociais. de hegemonia. Na Grécia, Filipe observou suas cidades-
A dominação de Esparta sobre os Estados gre- -Estado enfraquecidas pelas guerras fratricidas e fami-
gos foi mais opressora que a de Atenas. Na Ásia, co- liarizou-se com a organização do exército tebano e com
mandados por Agesilau, os espartanos iniciaram nova o uso das longas lanças de madeira introduzidas por
ofensiva contra os persas. Mas sem poder, ao mesmo Epaminondas.
tempo, combater no exterior e dominar seus inimigos
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internos, fizeram a paz com os persas em 387 a.C., pelo


Tratado de Antálcidas.
Esse tratado garantia aos persas o domínio da
costa da Ásia de tal maneira que os antigos inimigos pas-
savam a influenciar a política interna da Grécia, uma vez
que as cidades gregas estavam proibidas de coligar-se.

A hegemonia de Tebas
Esparta não conseguiu evitar que Atenas or-
ganizasse uma segunda liga marítima e reconstruísse
seus muros. Aliando-se a Atenas, Tebas atacou a guar-
nição local dos espartanos. Em 371 a.C., na batalha
de Leuctras, os escravos revoltaram-se em Esparta e
Tetradeacma de prata de Felipe II da Macedônia
os espartanos desistiram de sua política imperialista.
Tebas venceu também graças à falange, corpo de in-
Filipe usava de habilidades diplomáticas. Procu-
fantaria disposto em formação cerrada organizado por
rava instigar nos gregos o ódio aos persas, contando
Pelópidas e Epaminondas.
com a colaboração de Isócrates, que pregava uma cru-
Nessa nova fase imperialista, Tebas ajudou os
zada contra os antigos inimigos.
messênios a se libertarem do domínio de Esparta, bem

40
Em 338 a.C., na Batalha de Queroneia, as forças macedônias derrotaram atenienses e tebanos e, em
seguida, Filipe apoderou-se da Grécia. Com astúcia política, conhecedor do individualismo das cidades-Estado,
respeitou-lhes a autonomia. Assim, podia reivindicar o direito de chefiar uma liga contra os persas, a Liga de
Corinto, da qual foi proclamado hegemon (líder).
Sob comando de Parmênion, uma força da Liga já havia estabelecido uma cabeça de ponte na Ásia, quando
um aristocrata assassinou Filipe II, em 336 a.C.

Alexandre Magno
Alexandre Magno, filho de Filipe II, tinha um caráter complexo. Considerava-se descendente de Aquiles por
parte de mãe e de Hércules por parte de pai: um deus em potencial. Alexandre recebeu poderosa influência de
Aristóteles, escolhido por Filipe para seu preceptor. O filósofo incutiu-lhe o gosto pela cultura grega, pela Ilíada e
a Odisseia, por Ésquilo e Eurípedes; e aversão pelos persas – Aristóteles os vira torturar um amigo até a morte, na
Ásia Menor.
Alexandre assumiu o trono com uma Macedônia organizada e bem armada pelo exército. Restavam dois
problemas: a revolta das cidades gregas após a morte de Filipe e os numerosos herdeiros deixados pelo pai. Ale-
xandre usou de violência. Arrasou as cidades gregas, exceto Atenas.
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Alexandre (à esquerda) ouve os conselhos e orientação de seu tutor, Aristóteles.

Precedido por Parmênion, que havia partido antes de Filipe morrer, Alexandre rumou para a Ásia com 40 mil
homens, 12 mil dos quais na infantaria, o forte de seu exército. Como líder supremo do helenismo, deveria libertar
as cidades da Ásia e levar os gregos à vingança contra os persas.
Recusando o acordo de paz oferecido por Dario III, derrotou-o em pleno centro do Império Persa em
331 a.C. Proclamado imperador persa, avançou para a Índia, percorreu a região do rio Indo e só não chegou
ao Ganges porque os soldados recusaram-se a segui-lo.
Morreu na Babilônia aos 33 anos, em 323 a.C., deixando um dos mais vastos impérios já criados até então,
ao qual imprimiu um caráter universal, de acordo com a concepção divina que tinha de si, contra o que egípcios e
persas não se opuseram, uma vez que também encaravam o poder político como divino.
Alexandre abriu o caminho para a integração cultural do mundo persa e egípcio. Como resultado da polí-
tica de integração cultural, criou-se a cultura helenística, fruto da fusão da cultura grega (helênica) com a cultura
oriental (egípcia e da persa).
Com a morte de Alexandre, o império desmoronou e foi dividido (reinos helenísticos) entre seus principais
generais. Em 31 a.C., os reinos helenísticos foram conquistados pelos romanos.

41
O império de Alexandre

Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Rome:_Total_War:_Alexander> Acesso em: 22 dez. 2015.

Religião e cultura

© C Yutthaphong/Shutterstock
A religião grega não tinha dogmas, isto é, os fiéis
não se obrigavam a crer em verdades definitivas; era po-
liteísta: havia grandes deuses, que habitavam o Olimpo
e os heróis, homens que praticaram ações extraordiná-
rias e se igualavam aos deuses. No culto aos deuses, os
gregos pediam proteção para a família, a tribo ou a ci-
dade, não a salvação da alma. Cada um podia imaginar
a vida depois da morte como bem entendesse.
As lendas que contam as aventuras dos deuses e
heróis são chamadas mitos; o conjunto dos mitos forma ,

a mitologia.
Outra característica da religião grega era o an-
tropomorfismo, isto é, os deuses tinham forma, virtudes
Estátua de Poseidon - o deus dos mares - em Hua Hin, Tailândia.
e defeitos humanos. Poseidon (deus dos mares) e Hades
(deus dos infernos) não habitavam o Olimpo.
Os grandes jogos homenageavam os deuses
Os heróis mais conhecidos foram Perseu – ma-
tou a Górgone, monstro de dentes afiados e cabeça dos santuários. Os mais famosos eram os jogos olím-
cheia de serpentes; Jasão – com seus companheiros picos, realizados em Olímpia em homenagem a Zeus.
argonautas conquistou o Tosão de Ouro, pele de car- Depois de 776 a.C., passaram a realizá-los de quatro
neiro voadora guardada por um dragão; Teseu – ma- em quatro anos.
tou o Minotauro, monstro que habitava o labirinto de A preocupação com a vida após a morte explica
Creta; Édipo – matou a Esfinge devoradora de viajan- a difusão do orfismo e dos mistérios. Orfismo vem de
tes que não respondessem a suas enigmáticas pergun- Orfeu, poeta que atraía até animais selvagens, segundo
tas; e Hércules – o maior de todos os heróis, realizou a lenda. Ele ensinava que a alma, liberta do corpo de-
doze trabalhos para escapar à fúria de Hera (mulher pois da morte, alcançaria a suprema felicidade depois
de Zeus). de purificar-se mediante reencarnações sucessivas.

42
Culturalmente, nenhuma cidade grega superou A arquitetura grega desenvolveu três estilos: o
Atenas. Nela viveram alguns dos maiores pensadores e dórico, o jônico e o coríntio. O dórico, mais antigo,
artistas que a humanidade conheceu. era simples e despojado; o jônico, leve e flexível; o co-
A filosofia grega divide-se em antes e depois de ríntio, mais recente, era complexo e rebuscado.
Sócrates. Foram pré-socráticos: Tales de Mileto (fim do Os gregos esmeraram-se na Acrópole, um de
século VII-início do século VI a.C.); Pitágoras (582-497 seus monumentos mais belos. A contribuição dos gre-
gos para a humanidade compreende todos os setores
a.C.); Demócrito (460-370 a.C.); Heráclito (535-475
da vida humana. Fundaram a filosofia. As reflexões
a.C.); e Parmênides (540-? a.C.). No tempo de Sócrates,
de Sócrates sobre a natureza e o homem e os siste-
predominava a escola dos sofistas, que se serviam da
mas criados por Platão e Aristóteles tornaram imortal o
reflexão para atingir fins imediatos, ainda que por falsos
pensamento grego. Seu teatro chegou até nós, cheio de
argumentos. O maior dos sofistas foi Protágoras. vida. Demóstenes foi mestre da oratória. O esplendor
da arte grega ainda pode ser admirado nas ruínas do
Partenon e na Acrópole de Atenas.
Na ciência, a Matemática de Euclides e os te-
oremas de Tales e Arquimedes foram incorporados ao
patrimônio cultural da humanidade. Hipócrates, o mais
ilustre médico da Antiguidade, impulsionou o conheci-
mento do corpo humano.
O regime democrático de Atenas serviu de exem-
plo para todos os povos. Os gregos alimentaram tam-
bém o ideal cívico, o amor à pátria, ao regime político e
à família; e deixaram-no, ainda, o ideal esportivo.

Disponível em: <https://coisasdaarquitetura.files.wordpress.


com/2011/01/capiteis-gregos.jpg>. Acesso em: 22 dez. 2015.

§§ Sócrates (470-399 a.C.) – fundou a filosofia


humanista.
§§ Platão (427-347 a.C.) – principal discípulo de
Sócrates, fundou a Academia de Atenas.
§§ Aristóteles (384-322 a.C) – considerado por
muitos o maior filósofo de todos os tempos,
compreendeu todos os conhecimentos de seu
tempo: Lógica, Física, Metafísica, Moral, Política,
Retórica e Poética.
A arte grega era religiosa e manifestada em tem-
plos e esculturas representando deuses e passagens mi-
tológicas. Suas marcas eram a harmonia, a simplicidade,
o equilíbrio e uma decoração perfeitamente adaptada
ao conjunto.
43
INTERATIVI
A DADE

ASSISTIR

Vídeo Se liga nessa História - Grécia Antiga (FORMAÇÃO) #1

Fonte: Youtube

Filme Troia (2004)

Em 1193 a.C., Paris (Orlando Bloom) é um príncipe que provoca uma


guerra da Messência contra Troia, ao afastar Helena (Diane Kruger)
de seu marido, Menelaus (Brendan Gleeson). Tem início então uma
sangrenta batalha que dura por mais de uma década. A esperança do
Priam (Peter O’Toole), rei de Troia, em vencer a guerra está nas mãos
de seu filho Heitor (Eric Bana) e de Aquiles (Brad Pitt), o maior herói da
Grécia.

44
LER

tt
Livros
Odisseia (séc. VIII a.C.)
O poema relata o regresso de Odisseu, (ou Ulisses, como era chamado
no mito romano), herói da Guerra de Troia e protagonista que dá nome à
obra.

Os trabalhos e os Dias (séc. VIII a. C.)

Também conhecido como As obras e os dias, é um poema épico de


Hesíodo, um dos primeiros autores conhecidos da Grécia Antiga.

OUVIR
Músicas
- Da Mitologia Grega à Passarela do
Samba – Os deuses Gregos no Carnaval Brasileiro
- Samba-enredo da Unidos do Cruzeiro (2014)
- Mulheres de Atenas – Chico Buarque

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INTERDISCIPLINARIDADE

A Grécia Antiga, como se sabe, não se constituía como uma nação. Havia, sim, inúmeras cidades-Estado,
cada a qual com sua representação política. Dentre os diversos fatores que não permitiram a reunião das cidades-
-Estado em apenas um grande país, tem-se a geografia local.
O mundo grego se concentrava majoritariamente na península Balcânica, região de montanhas escarpadas
que dificultavam o trânsito terrestre de pessoas e, mercadorias. As pequenas cidades, portanto, comunicavam-se
sobremaneira, por via naval, dificultando um contato mais estreito e permanente entre elas.

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CONSTRUÇÃO DE HABILIDADES

Habilidade 9 - Comparar o significado histórico-geográfico das organizações políticas e socio-


econômicas em escala local, regional ou mundial.

A habilidade 9 exige a capacidade de comparação entre diversas formações sociais e


econômicas durante o tempo e o espaço. O candidato deverá ser capaz de encontrar si-
milaridades e diferenças entre os diversos modos de produção na economia, além de ver
seus reflexos nas organizações da vida política e social.
As questões enquadradas nessa habilidade tendem a ter caráter interdisciplinar, exigindo
dos alunos conhecimentos para além de um tema em específico. É fundamental, além
do conhecimento prévio do assunto, apegar-se aos textos ou imagens que compõem os
enunciados para encontrar a alternativa correta.

Modelo
(Enem) No período 750-338 a.C., a Grécia antiga era composta por cidades-Estados, como por
exemplo Atenas, Esparta, Tebas, que eram independentes umas das outras, mas partilhavam al-
gumas características culturais, como a língua grega. No centro da Grécia, Delfos era um lugar de
culto religioso frequentado por habitantes de todas as cidades-Estado.
No período 1200-1600 d.C., na parte da Amazônia brasileira onde hoje está o Parque Nacional do
Xingu, há vestígios de quinze cidades que eram cercadas por muros de madeira e que tinham até
dois mil e quinhentos habitantes cada uma. Essas cidades eram ligadas por estradas a centros
cerimoniais com grandes praças. Em torno delas havia roças, pomares e tanques para a criação de
tartarugas. Aparentemente, epidemias dizimaram grande parte da população que lá vivia.
Folha de S. Paulo, ago. 2008 (adaptado).

Apesar das diferenças históricas e geográficas existentes entre as duas civilizações elas são seme-
lhantes pois:
a) as ruínas das cidades mencionadas atestam que grandes epidemias dizimaram suas populações.
b) as cidades do Xingu desenvolveram a democracia, tal como foi concebida em Tebas.
c) as duas civilizações tinham cidades autônomas e independentes entre si.
d) os povos do Xingu falavam uma mesma língua, tal como nas cidades-Estados da Grécia.
e) as cidades do Xingu dedicavam-se à arte e à filosofia tal como na Grécia.

47
Análise Expositiva

Habilidade 9
A questão enfatiza a organização política de duas sociedades situadas em épocas e luga-
res distintos, mas organizadas politicamente de maneira similar. Em ambas, há uma ampla
descentralização política, sendo cada cidade politicamente autônoma em relação às demais.
Vê-se, também, pelo texto, que havia ampla comunicação e relações econômicas entre as
cidades do Parque Nacional do Xingu, algo muito similar às antigas cidades-Estados gregas.
Alternativa C

48
Estrutura Conceitual
GRÉCIA

— Sul da Península Balcânica; — Dificuldade de


Ilhas do mar Egeu e Costa do Ásia Menor unidade política
GEOGRAFIA — Solo Árido e Rochoso SOCIEDADE — Divisão por
—Litoral com excelentes portos CIDADES-ESTADOS

PERIODIZAÇÃO

Período Pré-Homérico Período Homérico


1 (2000 - 1200 a.C.) 2 (sec. XII - séc. VIII a.C.)

povos Indo-europeus 1°momento: Genos


-poder patriarcal (Paterdomilios)
-propriedade coletiva

integração conflito 2° momento: Crescimento demográfico


+ secas → disputa por terras
desintegração surgimento da
Período Arcaico
3 (séc. VIII - VI a.C.)
dos genos propriedade privada

Segunda Diáspora para Grécia


Consolidação das CIDADES-ESTADOS
Atenas cidade-Estado Esparta cidade-Estado 3° momento: Surgimento CIDADES-ESTADO
democrática militarizada

→Próximo ao mar Egeu →Isolamento geográfico


— Geografia
→Economia agrária e →Economia agrária — Economia
comercial
→Diárquica
→Monarquia (séc. VIII a.C.) — Sociedade
Oligarquia (séc. VII a.C.)
Democracia (501 a.C.) — Religião

Período Clássico Período Helenístico


4 (séc. V a IV a.C.) 5 (séc. IV - I a.C.)

Imperialismo e disputa 1ª fase: Filipe II →


Império Macedônico
2ª fase: Alexandre Magno →
Guerras Médicas (490 - 479 a.C.) Império Helenístico

Atenas X Império Persa

Guerras do Peloponeso (431 - 404 a.C.)

Confederação de Delos Liga do Peloponeso


(Atenas) (Esparta)

Colapso do Mundo Grego

49
5
0 60 Roma: monarquia
e república

Competências Habilidades
1, 2, 3, 4, 5 e 6 1, 4, 5, 7, 8, 9,
14, 16, 18, 19,
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22, 23 e 27

C H
HISTÓRIA
Competência 1 – Compreender os elementos culturais que constituem as identidades.
H1 Interpretar historicamente e/ou geograficamente fontes documentais acerca de aspectos da cultura.
H2 Analisar a produção da memória pelas sociedades humanas.
H3 Associar as manifestações culturais do presente aos seus processos históricos
H4 Comparar pontos de vista expressos em diferentes fontes sobre determinado aspecto da cultura.
H5 Identificar as manifestações ou representações da diversidade do patrimônio cultural e artístico em diferentes sociedades.
Competência 2 – Compreender as transformações dos espaços geográficos como produto das relações socioeconômicas e culturais de
poder.
H6 Interpretar diferentes representações gráficas e cartográficas dos espaços geográficos.
H7 Identificar os significados histórico-geográficos das relações de poder entre as nações.
H8 Analisar a ação dos estados nacionais no que se refere à dinâmica dos fluxos populacionais e no enfrentamento de problemas de ordem econômico-social.
H9 Comparar o significado histórico-geográfico das organizações políticas e socioeconômicas em escala local, regional ou mundial
Reconhecer a dinâmica da organização dos movimentos sociais e a importância da participação da coletividade na transformação da realidade
H10
histórico-geográfica.
Competência 3 – Compreender a produção e o papel histórico das instituições sociais, políticas e econômicas, associando-as aos diferentes
grupos, conflitos e movimentos sociais.
H11 Identificar registros de práticas de grupos sociais no tempo e no espaço.
H12 Analisar o papel da justiça como instituição na organização das sociedades.
H13 Analisar a atuação dos movimentos sociais que contribuíram para mudanças ou rupturas em processos de disputa pelo poder.
Comparar diferentes pontos de vista, presentes em textos analíticos e interpretativos, sobre situação ou fatos de natureza histórico-geográfica acerca
H14
das instituições sociais, políticas e econômicas.
H15 Avaliar criticamente conflitos culturais, sociais, políticos, econômicos ou ambientais ao longo da história.
Competência 4 – Entender as transformações técnicas e tecnológicas e seu impacto nos processos de produção, no desenvolvimento do
conhecimento e na vida social.
H16 Identificar registros sobre o papel das técnicas e tecnologias na organização do trabalho e/ou da vida social.
H17 Analisar fatores que explicam o impacto das novas tecnologias no processo de territorialização da produção.
H18 Analisar diferentes processos de produção ou circulação de riquezas e suas implicações sócio-espaciais.
H19 Reconhecer as transformações técnicas e tecnológicas que determinam as várias formas de uso e apropriação dos espaços rural e urbano.
H20 Selecionar argumentos favoráveis ou contrários às modificações impostas pelas novas tecnologias à vida social e ao mundo do trabalho.
Competência 5 – Utilizar os conhecimentos históricos para compreender e valorizar os fundamentos da cidadania e da democracia, favo-
recendo uma atuação consciente do indivíduo na sociedade.
H21 Identificar o papel dos meios de comunicação na construção da vida social.
H22 Analisar as lutas sociais e conquistas obtidas no que se refere às mudanças nas legislações ou nas políticas públicas.
H23 Analisar a importância dos valores éticos na estruturação política das sociedades.
H24 Relacionar cidadania e democracia na organização das sociedades.
H25 Identificar estratégias que promovam formas de inclusão social.
Competência 6 – Compreender a sociedade e a natureza, reconhecendo suas interações no espaço em diferentes contextos históricos e
geográficos.
H26 Identificar em fontes diversas o processo de ocupação dos meios físicos e as relações da vida humana com a paisagem.
H27 Analisar de maneira crítica as interações da sociedade com o meio físico, levando em consideração aspectos históricos e (ou) geográficos.
H28 Relacionar o uso das tecnologias com os impactos sócio-ambientais em diferentes contextos histórico-geográficos.
H29 Reconhecer a função dos recursos naturais na produção do espaço geográfico, relacionando-os com as mudanças provocadas pelas ações humanas.
H30 Avaliar as relações entre preservação e degradação da vida no planeta nas diferentes escalas.
Aspectos geográficos e povoamento
Povos pré-romanos na península península Itálica; os latinos, o Lácio, no curso inferior do
Itálica (séc. X-VII a.C.)
rio Tibre, em região de fácil acesso para o mar, em cons-
tante conflito com os volscos, mais a sudeste. O extremo
sul da península e a ilha da Sicília foram ocupados por
várias colônias gregas – Síbaris, Crotona, Tarento, Ná-
poles, Catânia, Agrigento e Siracusa –, chamados Mag-
na Grécia, com intensa relação com os etruscos.

Mar Adriático
Origem de Roma e a Eneida

Vosco
Roma nascera de um pequeno povoado na pe-
nínsula Itálica e fora influenciada por diversos povos
que ocupavam a região. Acredita-se que a cidade tenha
sido fundada por latinos em fuga das invasões etruscas.
Mar Tirreno
Na Eneida, o poeta Virgílio leva-nos a crer na
mítica sobre a fundação de Roma, segundo a qual se
Mar Jônico
atribui a Rômulo e Remo, descendentes do guerreiro
Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/His- troiano Enéas, a fundação da cidade.
tória_da_Itália>.Acesso em: 22 dez. 2015.
Diz a lenda que a origem de Roma é divina. Enéas,
A Itália primitiva era constituída por uma penín- herói da guerra de Troia, escapou vivo da luta com os
sula estreita e alongada, em forma de bota, projetada gregos, empreendeu uma longa viagem e acabou se fi-
para o Mediterrâneo, a península Itálica. Próximas à xando na foz do rio Tibre com seus companheiros. Enéas
península existem três grandes ilhas: Sicília, Sardenha era filho da deusa Vênus, portanto, de origem divina. Na
e Córsega. A península é cortada no sentido norte-sul região, Enéas fundou duas cidades: Alba Longa e Lavínio,
pela cadeia montanhosa dos Apeninos e regada por onde deu início a uma longa dinastia. A princesa Rea Sil-
três rios caudalosos: o Pó, o Arno e o Tibre. Ao norte, via, descendente de Eneas, teve dois filhos gêmeos, Rô-
limita-se com a cordilheira dos Alpes; a oeste, com o mulo e Remo, do deus Marte, destinados a assumirem o
mar Tirreno; a leste, com o mar Adriático e, ao sul, com trono de Alba Longa. Um usurpador, no entanto, com vis-
o mar Jônico. Comparado com a costa da Grécia, o li- tas a tomar o poder da cidade, mandou atirar os gêmeos
toral italiano nunca teve bons portos, menos favorável, no rio Tibre. Os gêmeos foram salvos e amamentados por
portanto, à navegação. Em contrapartida, o solo italiano uma loba, e, posteriormente, recolhidos e criados por um
sempre foi mais fértil e o relevo menos acidentado que casal de pastores. Rômulo e Remo cresceram e tomaram
o grego, o que favorecia o desenvolvimento da agricul- conhecimento de sua origem. Retornaram a Alba Longa,
tura e facilitava as comunicações terrestres. tomaram o poder e receberam a incumbência divina de
Os romanos descendiam de uma fusão de vários
fundar uma nova cidade.
povos. A princípio, a Itália foi habitada por lígures e ibe-
A fundação da cidade deu-se sob violenta luta
ros; posteriormente foi invadida pelos indo-europeus e
entre os irmãos. Remo, invejoso da preferência dos deu-
outros diferentes povos. O norte do rio Pó foi habitado
ses por Rômulo, ultrapassou a primeira marca de terra
por tribos gaulesas; a região entre os rios Arno e Tibre,
que representava os futuros muros da cidade. Furioso,
a Toscana, pelos etruscos, donos de uma complexa ci-
Rômulo matou o irmão pelo crime cometido, que seria
vilização. Ao sul e a leste da região etrusca instalaram-
causador da invasão da cidade recém-fundada.
-se tribos dos italiotas. Os samnitas ocuparam o sul da
53
Em regime de governo monárquico, o rei (rex)

© Jastrow/Wikimedia Commons
tinha função de chefe supremo, sumo sacerdote e juiz
supremo, poderes esses de origem divina. A realeza
apoiava-se no Imperium (comando supremo) e no Aus-
picium (conhecimento da vontade divina). O Conselho
de Anciãos e o Senado, compostos pelos chefes das
principais famílias patrícias, assessoravam o rei.
De acordo com a tradição lendária, durante o
período da monarquia Roma teve sete reis, dos quais os
quatro primeiros foram latinos e os três últimos, etrus-
A loba capitolina representa a loba das narrativas romanas cos. Durante o período de reinado etrusco, houve uma
sobre a fundação de Roma.
série de tentativas dos reis de limitarem o poder patrício
ao se aliarem a setores populares. Tarquínio, o Antigo

Organizações (616-578 a.C.), iniciou a construção de grandes obras


públicas. Sérvio Túlio (578-534 a.C.) edificou a primeira
econômica e social muralha de Roma e estabeleceu um regime censitário,
dividindo a população em cinco categorias sociais de
Roma baseou sua economia em atividades agro-
acordo com sua renda.
pastoris, em razão de sua terra de melhor riqueza e gra-
Finalmente, o terceiro rei etrusco, Tarquínio, o
ças ao caráter aristocrático de sua sociedade. Grandes
proprietários rurais, patrícios, formavam a camada so- Soberbo, edificou o Templo de Júpiter e construiu a

cial dominante. Os não proprietários, clientes, presta- Cloaca Máxima (sistema de esgoto de Roma). Gover-
vam serviços e beneficiavam-se da proteção de famílias nou com o apoio dos plebeus e latinos inimigos dos
patrícias. Os plebeus não pertenciam a um clã. Esse ex- patrícios. Dessa forma, manteve os patrícios pratica-
trato era formado por estrangeiros, artesãos, pastores, mente fora do poder político decisório das cidades.
comerciantes e donos de pequenos lotes pouco férteis. Em razão disso, os patrícios conspiraram e derrubaram
Pouco numerosos, os escravos não possuíam, Tarquínio por meio de um golpe de Estado, no ano 509
ainda, grande peso na sociedade e na economia ro- a.C. De acordo com lenda da casta Lucrécia, Tarquínio
manas. O número e a importância dos escravos so- foi deposto porque atentou contra a moral de uma rica
freram um aumento gigantesco em consequência das patrícia de nome Lucrécia.
guerras de expansão, quando as conquistas externas
transformaram a economia romana num sistema de
produção escravista.
República (séc. VI-I a.C.)
Monarquia (séc. VIII-VI a.C.) Instituições políticas
Os povos mais importantes da península Itálica A queda da monarquia foi um ato reacionário
eram os etruscos, distribuídos em doze cidades unidas dos patrícios, que afastaram a realeza comprometida
em uma confederação. Seus domínios estendiam-se do com as camadas inferiores. As reais causas que levaram
Lácio e da Campânia em direção ao norte. Desenvolve- à instituição da República transpareceriam nas institui-
ram atividade comercial intensa em concorrência com ções republicanas. O monopólio do poder passou ao pa-
os gregos, aliados aos fenícios de Cartago e voltados
triciado e a plebe ficou à margem. Os patrícios evitaram
para Roma à época da monarquia.
a concentração do poder nas mãos de uma só pessoa.

54
em leis orais, os devedores acabavam escravizados por

© Cesare Maccari/Wikimedia Commons


dívida. Entre 494 e 287 a.C., há notícias de cinco revol-
tas levadas a cabo pelos plebeus.
§§ Primeira revolta (494 a.C.) – tratou-se de fato
da primeira greve de caráter social da História, em
razão da qual os patrícios tiveram de conceder a
criação dos tribunos da plebe, magistrados que
atuavam em defesa dos direitos e interesses da
plebe no Senado. Na Assembleia Centuriata, os
tribunos da plebe passaram a vetar toda lei con-
trária aos interesses da classe desde que o veto
Cícero acusando Catilina no senado (afresco de Cesare Maccari, século XIX) fosse manifesto unanimemente pelos dez tribunos
O Senado foi, sem dúvida, uma das mais im- da plebe, escolhidos pela Assembleia Centuriata,
portantes instituições da República, que praticamente composta na sua maioria por patrícios. Em 471
detinha o poder apesar das demais instituições. Era a.C., os plebeus constituíram a Assembleia da
composto por 300 senadores de origem patrícia. Entre Plebe para eleger seus tribunos, o que aumentou
outras tarefas, cabia-lhes eleger os magistrados, zelar seu poder de veto e de ação.
pela tradição e pela religião, supervisionar as finanças §§ Segunda revolta (450 a.C.) – em 454 a.C., os
públicas, conduzir a política externa, administrar as pro- patrícios enviaram representantes a Atenas para
víncias, dar seu parecer sobre a escolha de um ditador e estudar as leis com a promessa de resolver os
autorizar ou não a concessão das honras do triunfo aos problemas da plebe, obrigada a responder por
generais vencedores. leis orais apenas, não escritas. O resultado, em
450 a.C., foi a criação do primeiro código de di-
Com o passar do tempo, a decisão dos senado-
reito escrito em Roma, a Lei das Doze Tábuas.
res, senatus consultus, passou a ter força da lei.
A plebe conseguiu que as leis votadas em sua
As magistraturas exerciam o Poder Executivo,
Assembleia tivessem validade, se bem tenha sido
do qual os mais altos magistrados eram os cônsules,
uma vitória de alcance limitado, uma vez que de-
responsáveis pelo comando do exército e pelo controle pendiam da aprovação do cônsul ou do Senado.
da administração. Também participavam das reuniões §§ Terceira revolta (445 a.C.) – a Lei das Doze
do Senado e propunham leis. Abaixo dos cônsules es- Tábuas manteve a proibição de casamento en-
tavam os pretores, encarregados da justiça; os ques- tre patrícios e plebeus, o que levou estes a revol-
tores, fiscais das finanças do Estado e da arrecadação tarem-se pelo fim da proibição, conscientes de
de impostos; os edis, responsáveis pela conservação que os casamentos mistos quebrariam a tradição
da cidade; e os censores, responsáveis pelo recense- patrícia de exercer o poder com exclusividade. A
amento da população e pela vigilância dos costumes. reivindicação foi atendida com a Lei Canuleia,
A Assembleia Centuriata reunia todos os cida- mais uma vez de efeito limitado, uma vez que
dãos militarmente aptos, patrícios ou plebeus, embora a proibição foi relaxada apenas para os plebeus
tenha sido sempre dominada pelos patrícios. Seu papel que tinham mais posses.
§§ Quarta revolta (367-366 a.C.) – a pressão
na República passou a ser o de ratificar meramente as
da plebe resultou na Lei Licínia Sextia, “foi
decisões do Senado.
uma lei, promulgada pelo senado romano, que
obrigava que, a cada ano, um dos dois cônsules
Lutas sociais (494-286 a.C.) fosse um plebeu. Mais tarde, em 326 a.C., foi
Os plebeus eram seriamente discriminados: rece- abolida a escravidão por dívidas por meio da Lei
biam sempre a menor parte dos espólios de guerra que Papiria Poetelia.”
eram distribuídos em função do equipamento; se preci- §§ Quinta revolta (287-286 a.C.) – os plebeus
sassem contrair empréstimos, não conseguiriam pagar conseguiram impor aos patrícios a validade das
os juros; julgados por magistrados patrícios e com base leis votadas na Assembleia da Plebe para todo o
Estado: era a decisão da plebe ou plebiscito.
55
As conquistas da plebe foram lentas, mas, na última revolta, notavam-se grandes progressos em relação à
primeira, dois séculos antes. O regime republicano romano caracterizava-se por um equilíbrio de poderes entre as
classes em luta. Equilíbrio esse que, no fundo, escondia a existência de um Estado patrício e um Estado plebeu.
Apesar das conquistas plebeias, Roma ainda era governada por patrícios e plebeus influentes. Pela prática do su-
borno, a oligarquia governante mantinha o controle sobre a Assembleia Centuriata, e o Senado continuava sendo
o baluarte do poder aristocrático.
O Estado estava acima de tudo. Duas instituições regulavam a vida do cidadão: a lei pública e a lei privada.
A preocupação com as leis levou os romanos a desenvolver minuciosamente o seu Direito. O Direito Romano,
adotado por outros povos europeus, conserva sua importância até hoje.

Expansão romana: as conquistas


A primeira fase das conquistas romanas consistiu na dominação da península Itálica. Inicialmente, os ro-
manos, dominaram as tribos latinas próximas de Roma. A conquista da Campânia, em 290 a.C., região ameaçada
pelos samnitas, abriu as portas para a conquista das cidades gregas do sul da Itália. Posteriormente, Roma subju-
gou o norte (Etrúria), cujos domínios compreendiam a Itália central e parte da Itália setentrional. Ao estender seu
domínio sobre a península Itálica, os romanos demonstraram um talento notável para converter antigos inimigos
em aliados e finalmente cidadãos romanos.

As guerras púnicas

Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Guerras_Púnicas>. Acesso em: 22 Dez. 2015.

56
Logo após afirmar sua supremacia na Itália, Roma travou longa guerra contra Cartago, outra grande potên-
cia do Mediterrâneo ocidental. Fundada em 800 a.C. pelos fenícios, a cidade norte-africana de Cartago tornara-se
um próspero entreposto comercial. Os cartagineses conquistaram um império que abrangia a África do Norte, as
regiões do litoral meridional da Espanha, a Sardenha, a Córsega e a Sicília ocidental. Eles eram chamados pelos
romanos de “púnicos”, termo com que designavam os fenícios.
O confronto romano-cartaginês acabou se transformando numa disputa pela hegemonia marítimo-comer-
cial no Mediterrâneo ocidental e desdobrou-se em três guerras púnicas.
§§ Primeira guerra púnica (264-241 a.C.) – vencida pelos romanos, Cartago pagou pesada indenização de
guerra e entregou a Sicília, a Córsega e a Sardenha.
§§ Segunda guerra púnica (218-202 a.C.) – os cartagineses aumentaram a produção das minas da Espa-
nha, preparando a desforra. Os romanos tentaram convencer os cartagineses a limitar sua influência ao
norte da Espanha, mas a missão diplomática enviada a Cartago não teve êxito. Aníbal partiu de Cartagena
com elefantes, 50 mil soldados e 10 mil cavaleiros. Tomou Sagunto, cidade espanhola aliada de Roma e,
à frente de um grande exército, transpôs a cordilheira dos Pirineus, marchou pelo território da Gália, atra-
vessou os Alpes e invadiu o norte da Itália. Venceu as legiões romanas nas batalhas de Trébia, Trasímeno
e Canas. Impossibilitado de conquistar Roma, marchou para o sul da Itália. Os romanos contra-atacaram,
conquistando a Espanha e, logo depois, desembarcaram no norte da África. Aníbal precisou voltar a Cartago,
cercada pelas forças de Cipião, o Africano, general romano, e, em 202 a.C., foi vencido em Zama. A paz cus-
tou caro a Cartago, que foi obrigada a entregar a esquadra, comprometeu-se a pagar pesada indenização
em cinquenta anos e a não hostilizar a Numídia, reino ao norte da África que havia ajudado os romanos.
§§ Terceira guerra púnica (150-146 a.C.) – Cartago voltou-se para o cultivo de suas ricas terras, mas não
tardou a enfrentar problemas com seus produtos, que passaram a concorrer com os italianos dentro da
própria Itália. Instigado pelos proprietários de terras, o Senado romano procurava um pretexto para destruir
Cartago. E encontrou quando os cartagineses reagiram à investida da Numídia em suas terras, atitude
considerada como violação do tratado de paz. Os proprietários de Roma ocuparam as terras, e Cartago foi
reduzida a uma província romana, a província da África.
Em seguida, os romanos ocuparam a Espanha e a Gália do sul, constituindo a província da Gália. A con-
quista da região do Mediterrâneo Oriental foi completada por uma rápida sucessão de campanhas militares. Foram
conquistados os reinos do Ponto, Bitínia, Síria, Egito, Macedônia e Grécia. No fim do século I a.C., o Mediterrâneo
havia se transformado num “lago romano” (mare nostrum = nosso mar).

As consequências da expansão romana


As riquezas geradas pela expansão praticamente aniquilaram a pequena agricultura plebeia, voltada uni-
camente para a produção de gêneros de consumo interno. Ao mesmo tempo, o vasto comércio que se desenvolvia
ocupava o lugar antes pertencente à atividade agrícola. A ampla camada de pequenos proprietários tendeu a de-
saparecer em razão da concorrência dos gêneros advindos das províncias e do latifúndio patrício, cujo crescimento
dependia da mão de obra escrava.
O próprio crescimento da escravidão, um efeito direto da expansão, esteve ligado à miséria da plebe, visto que
grande parte dos escravos provinha dos prisioneiros de guerra. Mesmo abolida a escravidão por dívida, ao plebeu en-
dividado só restava entregar a terra ao patrício em troca da dívida. Paulatinamente, Roma entrou em um processo de
concentração fundiária, com as grandes propriedades patrícias transformadas em latifúndios voltados para a produção
extensiva de exportação, à qual o trabalho escravo adaptava-se muito bem.

57
A miséria da plebe sem terra e sem trabalho no campo conduziu a um processo de êxodo rural, concen-
trando em Roma uma massa miserável, aumentando a tensão social e política. O Estado fornecia pão, vinho e
espetáculos aos plebeus (política do pão e circo) com a finalidade de alienar essa multidão cuja potencialidade
revolucionária era evidente.
Expansão romana
Oceano Ibérnico Albis Saxões Lemóvicos
Camuloduno Prisos Caucos Lombardos Galindas
Visurgis Helveones Golones
Batavos Vístula
Londínio
Bructeros Queruscos Semnones Venedas
Aliso Suevos Burgúndios
Vetera
Mar Britânico Vândalos
Atuatuca Sugambros
GERMÂNIA
Colônia
BÉLGICA Catos Albis Silingas
Augusta Trev. Lúgios Amadocos
Moeno
Durocortoro Vladua Sarmátia
Mogontíaco Hermunduros
LUGDUNENSE Hípanis
Lutécia Marcomanos Bastarnas
Liger Agêndico Reno Varistos Borístenes
Quadros Buros
Argentoratas Tiras Alanos
Costóbocos Tanais
Mar Cantábrico Avárico Alésia Carnunto
Bibracte Augusta
Lauríaco
GÁLIA Vindelicoro Juvano Anartes Tísia Hieroso Roxolanos Ólbia Meotas
Udon
Aunedónaco
Matisco RÉCIA NÓRICA Aquinco Jaziges
Lugduno Noreia
Viruno PANÔNIA Panticapeu
Burdígala Dacos Hípanis
Porto Vitória Gergóvia Petóvio
Artúrica Celeia Tiras Alônia
Luco Augusto
Augusta Juliobrigênsio AQUITÂNIA Peninos
Mediolano Aquileia Siraces
Galécia Julióbriga Patávio
Brácara Lância Emona Síscia
Cócios Quersoneso
Augusta Velica Sarmizegetusa Troesmis Cáucaso
Tolosa Aráusio Gênua
Petavônio Íbero Marítimos Bonônia Singiduno Táurica
Segisamo NARBONENSE Águas Ravena Getas Dioscúrias Albânia
Dúrio Clúnia Sêxtias Sirmio
Narbo Florência Arímino Jaziges Tômis Ibéria
LUSITÂNIA Numância Pisas Salona Danúbio Liro
Emínio
HISPÂNIA
Márcio Massília PONTO EUXINO Lichnitis
César Augusta Ilerda Arécio
Mar da Ligúria Ancona Naisso Nicópolis
Sinope
Olisipo Tago Emérita Narona Amisos Trapezo ARMÊNIA
TARRACONENSE
Augusta Tarraco Filipópolis Carana Artaxata Araxes
Aléria Armavira
Anas
Córsega Mar Adriático Escupi PONTO
Roma TRÁCIA Heracleia
Estobi Paflagônia Armênico MÉDIA
BÉTICA Sagunto Bizâncio Amásia
Filipos Nicomédia Polemão
Baleares Sardenha Cápua Dirráquio Anfípolis Tóspitis
Córduba Benevento Lisimáquia
Bétis Pitiúsas MACEDÔNIA GALÁCIA Matiano
Neápolis Brundísio Niceia
Híspalis Ancira
Tessalônica
Munda
Mar Baleárico Mar Tirreno Tarento Apolônia Frígia Menor Péssimo Cesareia Melitene SOFENA
Tigranocerta Gázaca
Gades ARTOPATENE
ÉPIRO Mar Egeu CAPADÓCIA Amida
Tingis Nova Cartago Caralis Farsalos Pérgamo ÁSIA IMPÉRIO
Zilis
MAR Nicópolis Frígia Licônia Tiana
Comagena
Samósata
Mar Ibérico Sardes Nísibis Ecbátana
Lixo Lídia Icônio Edessa Arbela
Baba Cartena Iol Cesareia Panormo Messana Mar Jônico Delfos
Esmirna Singara
Sala Banasa Igilgili Régio Cirro Carras PARTA
Rusadir Siga Hipo Diárrito Éfeso Pisídia Portas de
Útica Sicília Corinto Nicéforo
Volubilis Cilemate Agrigento Catana Atenas Cária PANFÍLIA Tarso Antioquia Zagros
Argos Halicarnasso CILÍCIA MESOPOTÂMIA
Cirta Hipona Siracusa Selêucia Tápsaco Circeso ASSÍRIA
MAURITÂNIA Lambésis Sica
Cartago Esparta Lícia
Ataleia
Piéria
Apameia
Zama
Mar Sículo PALMIRENE Ctesifonte
Régia
Hadrumeto Rodes Eufrates Tigre
Amedara ACAIA Chipre Salamis SÍRIA
Malua Teveste Palmira Selêucia
Tapso Melisa CRETA Trípoli
ÁFRICA Fapo Babilônia
INTERNO Berito Damasco
NUMÍDIA Sirtes Menor Gortina
Tiro
Girba
Gétulos NOSSO Cesareia
ARÁBIA
Mar Líbico Gerasa
Oea PALESTINA
Sabrata JUDEIA Jerusalém
Léptis Magna
Gaza
Cirene Catabátmo
PROCONSULAR Sirtes Maior Maior Alexandria
Cidamo
Império Romano: 31 a.C. - 6 d.C. Paretônio
Nicópolis
Sais Pelúsio Nabateus
Catabátmo Petra
Boreu
Menor Mênfis Arábia Elana
Heliópolis
Território romano até 31 a.C. Aras CIRENAICA Babilônia
Filenoro
Conquistas de Augusto:
Amônio Hermópolis
De 31 a 19 a.C. Augila
Magna

De 19 a 9 a.C. EGITO Miosormo


Oásis
De 9 a.C. a 6 d.C. Garamantes Menor Ptolemaida Hérmia
Tebas
Reinos e povos clientes
Oásis Maior Apolinópolis
Fortalezas legionárias Maior Siene
Berenice

Dode Cascoeno
Hierasicâmico

Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Crise_da_República_Romana>. Acesso em: 22 dez. 2015.

A conquista do Mediterrâneo abriu novos mercados à economia romana, criando condições para um grande
desenvolvimento da manufatura e do comércio. A consequência dessa prosperidade econômica foi a formação de
uma nova classe de comerciantes e militares que se enriqueceram com as guerras: os homens novos ou cava-
leiros. Ao mesmo tempo em que sua condição plebeia impunha-lhes uma situação de marginalização política, sua
riqueza tornava-os naturalmente adversários da oligarquia patrícia, fato que também representou um elemento a
mais a conspirar contra a ordem republicana.
A expansão trouxe ainda um forte componente militar. No rastro das conquistas romanas e da necessidade
de uma força militar mais eficiente, o exército romano passou por um processo de profissionalização, uma força
permanente cujos guerreiros recebiam o soldo para combater (origem do termo soldado). Isso tudo alimentou as
ambições políticas dos generais e fez do Exército uma força à margem da estrutura republicana.
Essas transformações desencadearam em Roma um período de novas lutas sociais que assinalaram a crise
da República.

58
INTERATIVI
A DADE

ASSISTIR

Vídeo Roma - Parte 1 (Monarquia e República) - Mundo...

Fonte: Youtube

Filmes Ben-Hur (2016)

É a história épica de Judah Ben-Hur, um príncipe falsamente acusado de


traição por seu irmão adotivo Messala, um oficial do exército romano.
Destituído de seu título, afastado de sua família e da mulher amada,
Judah é forçado à escravidão. Depois de muitos anos no mar, Judah
retorna à sua pátria em busca de vingança, mas encontra a redenção.

Filmes Satyricon (1969)

Satyricon (ou Satiricon) é um filme italiano de 1969, dirigido por Federico


Fellini, baseado no livro homônimo escrito pelo autor romano Petrônio
no século I. A história narra as aventuras e desventuras de Encolpio e
Ascilto, pelo afeto de Gitão (Gitone), que após ser vendido a um ator de
teatro, é resgatado por Encolpio, mas escolhe ficar com Ascilto.

60
60
LER

tt
Livros

Eneida (séc. I a.C.) - Virgílio

Escrito por Virgílio, conta a saga de Eneias, um troiano que é salvo


dos gregos em Troia, viaja errante pelo Mediterrâneo até chegar
à península Itálica. Seu destino era ser o ancestral de todos os
romanos.

61
61
INTERDISCIPLINARIDADE

Roma se notabilizou por um sofisticado planejamento urbano. Com o veloz crescimento populacional, era
quase impossível encontrar uma fonte de água potável na cidade, forçando os habitantes a desenvolverem projetos
para eliminar seus dejetos sem grandes riscos.
Destaca-se o aqueduto Aqua Apia, com cerca de 17 km de extensão, construído em 312 a.C. Roma foi a
primeira civilização a cuidar especificamente do saneamento, criando diversos outros grandes aquedutos, reserva-
tórios, grandes termas, banheiros públicos, chafarizes e nomeando Sextus Julius Frontinus como superintendente
de águas de Roma.
A imagem abaixo demonstra o interior de um aqueduto romano.

62
CONSTRUÇÃO DE HABILIDADES

Habilidade 12 - Analisar o papel da justiça como instituição na organização das sociedades.

Compreender como a estrutura jurídica de uma sociedade condiciona sua realidade social,
política e econômica é a exigência da habilidade 12. Entram em questão a extensão da
cidadania, o direito à participação em cargos públicos, a posse das riquezas econômicas e
diversas outras práticas culturais.
O candidato deverá relacionar tais mudanças jurídicas aos conflitos sociais que as engen-
draram, enxergando o papel da mudança nas diversas classes sociais em jogo. Ainda, alguns
exercícios costumam estabelecer comparação entre leis criadas por sociedades em diferentes
espaços e tempos. O aluno deverá utilizar todo seu arcabouço teórico e conceitual para, por
meio do suporte de textos e imagens dados pelo exercício, escolher a alternativa correta.

Modelo
(Enem)

TEXTO I
Sólon é o primeiro nome grego que nos vem à mente quando terra e dívida são mencionadas jun-
tas. Logo depois de 600 a.C., ele foi designado “legislador” em Atenas, com poderes sem prece-
dentes, porque a exigência de redistribuição de terras e o cancelamento das dívidas não podiam
continuar bloqueados pela oligarquia dos proprietários de terra por meio da força ou de pequenas
concessões.
FINLEY, M. Economia e sociedade na Grécia antiga. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2013 (adaptado).

TEXTO II
A “Lei das Doze Tábuas” se tornou um dos textos fundamentais do direito romano, uma das prin-
cipais heranças romanas que chegaram até nós. A publicação dessas leis, por volta de 450 a.C.,
foi importante pois o conhecimento das “regras do jogo” da vida em sociedade é um instrumento
favorável ao homem comum e potencialmente limitador da hegemonia e arbítrio dos poderosos.
FUNARI, P. P. Grécia e Roma. São Paulo: Contexto, 2011 (adaptado).

O ponto de convergência entre as realidades sociopolíticas indicadas nos textos consiste na ideia
de que a
a) discussão de preceitos formais estabeleceu a democracia.
b) invenção de códigos jurídicos desarticulou as aristocracias
c) formulação de regulamentos oficiais instituiu as sociedades.
d) definição de princípios morais encerrou os conflitos de interesses.
e) criação de normas coletivas diminuiu as desigualdades de tratamento.

63
Análise Expositiva

Habilidade 12
A similaridade buscada pela questão não se estabelece por completo, uma vez que a elimina-
ção das desigualdades se fez mais presente na aplicação da Lei das XII Tábuas, em Roma, do
que na Reforma Jurídica de Sólon, na Grécia.
No entanto, os textos procuram destacar a importância da implantação das leis escritas na
criação de sociedades com menores discrepâncias entre as elites e as camadas populares.

Alternativa E

64
Estrutura Conceitual

ROMA: MONARQUIA E REPÚBLICA

GEOGRAFIA ECONOMIA SOCIEDADE

— Península Itálica — Baseada em atividades — Patrícios (proprietários)


— Pequeno Povoado agropecuárias — Clientes (não proprietários/
da Península Itálica ligados aos patriarcas)
— Plebeus (classe diversa)
— Escravos

Monarquia Romana República Romana


1 (Séc. VIII - VI a.C. ) 2 (Séc. VI - I a.C. )

Rei Senado (300 patrícios)

Conselho Senado Eleger — Zelar pela tradição


de anciões (patrícios) Magistrados — Finanças públicas
(patrícios) — Parecer sobre
um ditador
Queda da monarquia → Golpe político — Política externa

Lutas Sociais — Cônsules (exército)


3 (494 - 286 a.C.) — Pretores (justiça)
— Questões (financeiro)
Plebeus desfavorecidos — Edes (Conservação de Cidades)
— Censores (incriminação e vigilância)
Longas revoltas
Assembleia Centuriata → Patrícios e plebeus

Conquistas

4 Expansão Romana

Tribunas Assembleia
1º momento: Dominação da Península Itálica
da plebe da plebe

2º momento: Guerras Púnicas


Lei das Abolição escravidão -Roma x Cartago → Torna-se uma província
12 tábuas por dívidas Romana (146 a.C.)

Validação decisões 3º momento: Ocupação da Gália e do


da plebe Mediterrâneo oriental

Consequência da
5 expansão romana

Concentração fundiária patrícia miséria dos plebeus


Crescimento da escravidão
Expansão
Crescimento do comércio Comerciantes
territorial
Profissionalização do exército Cavalaria
65
7
0 80 Roma: crise da república e
império

Competências Habilidades
1, 2, 3, 4, 5 e 6 1, 4, 5, 7, 8, 9,
14, 16, 18, 19,
© Haris vythoulkas/Shutterstock

22, 23, 24 e 27

C H
HISTÓRIA

67
Competência 1 – Compreender os elementos culturais que constituem as identidades.
H1 Interpretar historicamente e/ou geograficamente fontes documentais acerca de aspectos da cultura.
H2 Analisar a produção da memória pelas sociedades humanas.
H3 Associar as manifestações culturais do presente aos seus processos históricos
H4 Comparar pontos de vista expressos em diferentes fontes sobre determinado aspecto da cultura.
H5 Identificar as manifestações ou representações da diversidade do patrimônio cultural e artístico em diferentes sociedades.
Competência 2 – Compreender as transformações dos espaços geográficos como produto das relações socioeconômicas e culturais de
poder.
H6 Interpretar diferentes representações gráficas e cartográficas dos espaços geográficos.
H7 Identificar os significados histórico-geográficos das relações de poder entre as nações.
H8 Analisar a ação dos estados nacionais no que se refere à dinâmica dos fluxos populacionais e no enfrentamento de problemas de ordem econômico-social.
H9 Comparar o significado histórico-geográfico das organizações políticas e socioeconômicas em escala local, regional ou mundial
Reconhecer a dinâmica da organização dos movimentos sociais e a importância da participação da coletividade na transformação da realidade
H10
histórico-geográfica.
Competência 3 – Compreender a produção e o papel histórico das instituições sociais, políticas e econômicas, associando-as aos diferentes
grupos, conflitos e movimentos sociais.
H11 Identificar registros de práticas de grupos sociais no tempo e no espaço.
H12 Analisar o papel da justiça como instituição na organização das sociedades.
H13 Analisar a atuação dos movimentos sociais que contribuíram para mudanças ou rupturas em processos de disputa pelo poder.
Comparar diferentes pontos de vista, presentes em textos analíticos e interpretativos, sobre situação ou fatos de natureza histórico-geográfica acerca
H14
das instituições sociais, políticas e econômicas.
H15 Avaliar criticamente conflitos culturais, sociais, políticos, econômicos ou ambientais ao longo da história.
Competência 4 – Entender as transformações técnicas e tecnológicas e seu impacto nos processos de produção, no desenvolvimento do
conhecimento e na vida social.
H16 Identificar registros sobre o papel das técnicas e tecnologias na organização do trabalho e/ou da vida social.
H17 Analisar fatores que explicam o impacto das novas tecnologias no processo de territorialização da produção.
H18 Analisar diferentes processos de produção ou circulação de riquezas e suas implicações sócio-espaciais.
H19 Reconhecer as transformações técnicas e tecnológicas que determinam as várias formas de uso e apropriação dos espaços rural e urbano.
H20 Selecionar argumentos favoráveis ou contrários às modificações impostas pelas novas tecnologias à vida social e ao mundo do trabalho.
Competência 5 – Utilizar os conhecimentos históricos para compreender e valorizar os fundamentos da cidadania e da democracia, favo-
recendo uma atuação consciente do indivíduo na sociedade.
H21 Identificar o papel dos meios de comunicação na construção da vida social.
H22 Analisar as lutas sociais e conquistas obtidas no que se refere às mudanças nas legislações ou nas políticas públicas.
H23 Analisar a importância dos valores éticos na estruturação política das sociedades.
H24 Relacionar cidadania e democracia na organização das sociedades.
H25 Identificar estratégias que promovam formas de inclusão social.
Competência 6 – Compreender a sociedade e a natureza, reconhecendo suas interações no espaço em diferentes contextos históricos e
geográficos.
H26 Identificar em fontes diversas o processo de ocupação dos meios físicos e as relações da vida humana com a paisagem.
H27 Analisar de maneira crítica as interações da sociedade com o meio físico, levando em consideração aspectos históricos e (ou) geográficos.
H28 Relacionar o uso das tecnologias com os impactos sócio-ambientais em diferentes contextos histórico-geográficos.
H29 Reconhecer a função dos recursos naturais na produção do espaço geográfico, relacionando-os com as mudanças provocadas pelas ações humanas.
H30 Avaliar as relações entre preservação e degradação da vida no planeta nas diferentes escalas.
A crise da república (133-27 a.C.)
A tentativa de reforma dos Graco (133-121 a.C.)
Depois das transformações resultantes da conquista do Mediterrâneo, alguns senadores concluíram que a
estrutura do Estado precisava de reformas. Uma das primeiras medidas, a votação secreta nas assembleias, permitiu
a eleição de magistrados bem-intencionados, os irmãos Tibério e Caio Graco.
Em 133 a.C., Tibério Graco foi eleito tribuno da plebe e conseguiu a aprovação de uma lei agrária que limi-
tava a extensão dos latifúndios da aristocracia patrícia e autorizava a distribuição de terras para os desempregados.
Os grandes proprietários rurais opuseram-se à aplicação da lei agrária e, em 132 a.C., Tibério Graco e mais de 300
partidários seus foram assassinados e lançados ao rio Tibre.
A causa da reforma agrária foi outra vez retomada por Caio Graco, irmão mais novo de Tibério, eleito tribuno
da plebe em 123 a.C. Aplicou a lei de reforma agrária em Cápua e Tarento; permitiu aos cavaleiros o acesso aos
tribunais que julgavam as finanças provinciais; prometeu a cidadania romana aos aliados itálicos e decretou a Lei
Frumentária, que determinava a venda de trigo a preços baixos aos plebeus. Reeleito em 122 a.C., mas derrotado
no ano seguinte, Caio tentou um golpe de Estado, que resultou no massacre de seus seguidores. No final, Caio
ordenou que um escravo o matasse.

As ditaduras de Mario e Sila (107-79 a.C.)


O fracasso das reformas propostas pelos irmãos Graco agravou ainda mais a crise da República e mergu-
lhou Roma numa sangrenta guerra civil, abrindo caminho para as ditaduras militares dos generais Mario e Sila. De
origem plebeia, Mario era o homem mais rico de Roma, um homem novo que, graças à sua riqueza, foi galgando
postos dentro do exército romano, no qual chegou a general. Conquistou a Numídia, em 106 a.C. Derrotou também
povos germânicos que ameaçavam os domínios romanos. Com grande prestígio entre as camadas populares, Mario
foi eleito para o cargo de cônsul.
Reformou o exército e transformou os soldados romanos em militares profissionais, que lutavam mediante
remuneração. Os cidadãos mais pobres e os desempregados entraram em massa no exército e, como soldados,
eram mais devotados aos comandantes que os pagavam do que à própria República. Com o apoio do exército, Ma-
rio implantou uma ditadura em Roma e, violando as leis, reelegeu-se seis vezes para o consulado. Em seu governo,
reduziu a autoridade do Senado e aumentou o poder dos cavaleiros.
Com a morte de Mario, em 86 a.C., o general Sila, aristocrata apoiado pelos patrícios e pelo Senado, as-
sumiu o poder e proclamou-se ditador perpétuo de Roma. Líder da reação do partido aristocrático, Sila realizou
uma violenta repressão contra os cavaleiros e as camadas populares, restabelecendo os privilégios da aristocracia
patrícia e restaurando a autoridade do Senado. A ditadura de Sila, que morreu em 79 a.C., contribuiu para agravar
ainda mais a crise da República.

A rebelião de Espártaco (73-71 a.C.)


Em 73 a.C., o gladiador Espártaco rebelou-se na cidade de Cápua, ao sul da Itália. À frente de um pequeno
grupo de gladiadores, Espártaco promoveu uma insurreição dos escravos e formou um exército que chegou a ter
mais de 100 mil combatentes. Em dois anos de luta, a rebelião de Espártaco derrotou cinco exércitos romanos,
dominou quase todo o sul da Itália e abalou as estruturas da República escravista. Essa insurreição foi vencida
em 71 a.C. por Crasso, cônsul romano que mandou crucificar, ao longo da via Ápia, mais de seis mil escravos.

69
O primeiro triunvirato (60-48 a.C.) A ditadura de César (48-44 a.C.)
O Senado, entretanto, não conseguiu impor efeti- César, já Pontífice Máximo, passou a acumular
vamente a autoridade que lhe fora restituída. A República títulos concedidos pelo Senado: ditador perpétuo, que
estava ainda ameaçada por comandantes militares que lhe permitia reformar a Constituição; censor vitalício,
se serviam das tropas em seu próprio interesse político. que lhe dava direito de fazer a lista de senadores; côn-
Em 60 a.C., um triunvirato composto por Julio César, um sul vitalício, mediante o qual podia exercer o Imperium
político, Pompeu, um general, e Crasso, um abastado (comando do exército) em Roma e nas províncias.
banqueiro, conspirou para tomar o poder em Roma. César usou tais poderes para iniciar numero-
Júlio César subiu depressa: Pontífice Máximo, sas reformas. Acabou com a guerra civil. Começou a
questor eleito pela assembleia do povo e cônsul. Pom- construção de obras públicas, que proporcionaram
peu havia voltado do Oriente e o Senado desaprovara empregos e embelezaram a cidade, e pôs as finanças
seu trabalho de reorganizar as províncias orientais. O em ordem. Reformou o calendário, dando seu nome ao
ambicioso Crasso fez uma aliança secreta com César sétimo mês (julho) e introduzindo um ano bissexto a
e Pompeu a fim de tomar o poder do Senado: nascia o cada quatro anos.
primeiro triunvirato em 60 a.C. César procurou também unificar o mundo ro-
mano. Chegou a guindar gauleses ao Senado. Nome-
ava pessoalmente os governadores e mantinha-os sob
controle, para evitar que espoliassem as províncias.
Para se tornar rei, título que era sinônimo de
traição depois que o Senado abolira a monarquia, Cé-
sar procurou ajuda de um amigo, o general Marco An-
tônio, que instigou a plebe contra o Senado.
Primeiro triunvirato: (da esquerda para a direita)
Pompeu, Julio César e Crasso
Sofrendo forte oposição do Senado, que via nele
Adaptado de: <http://brenohistoriador.blogspot.com.br/2015/03/
uma clara ameaça graças a sua ambição de instaurar
historia-do-imperio-romano.html>. Acesso em: 22 dez. 2015. uma monarquia hereditária, em 44 a.C., um grupo de
aristocratas, liderados por Cássio e Bruto, conspirou
Em 55 a.C., o triunvirato reorganizou-se. Pom- com o Senado e assassinou Julio César.
peu ficou com a Espanha; Crasso, com as províncias
no Oriente; e César, com a Gália (França atual). Em 53
a.C., Crasso morreu combatendo os partas na Síria,
O segundo triunvirato (43-30 a.C.)
povo que reconstruiu o Império Persa. Sobreveio uma
Os assassinos de César não tomariam o poder.
crise agravada pela ação de bandos armados que es-
Marco Antônio sublevou o povo contra eles.
palhavam o terror em Roma. O Senado nomeou Pom-
A conselho de Cícero, o Senado entregou o po-
peu cônsul único, com a missão de restabelecer a or-
der ao sobrinho de César e seu herdeiro, Caio Otávio,
dem. Em 49 a.C., o Senado confiou a Pompeu a defesa
que parecia não ter ambições políticas. Os senadores
da República contra as ambições políticas de César.
tinham-no como um instrumento em suas mãos. Otávio
Pronunciando a famosa frase Alea jacta est,
atacou Antônio em Módena para, em seguida, aliar-se a
(A sorte está lançada), Julio César entrou em Roma
ele e a Lépido, banqueiro que havia fornecido dinheiro
à frente de seus exércitos, configurando um inegável
para a guerra contra os assassinos de César. Estava
golpe de Estado. Abalado com o prestígio popular de
formado o Segundo Triunvirato.
César, Pompeu fugiu para a Grécia, onde foi derrotado
Em 40 a.C., os triúnviros dividiram novamente
em 48 a.C.
o Império pelo Acordo de Brindisi. Antônio ficou com o
Oriente; Lépido, com a África; e Otávio, com o Ocidente.
A Itália foi considerada neutra.

70
No ano 36 a.C., Otávio conseguiu eliminar Lépi-
do do triunvirato, aumentando suas posses com a África. O Império Romano
(27 a.C.-476 d.C.)
O Alto Império (27 a.C.-235 d.C.)
Segundo triunvirato: (da esquerda para a direita) A vitória de Otávio sobre Marco Antônio na ba-
Marco Emílio Lépido, Marco Antônio e Octavio Augusto
talha de Ácio, em 31 a.C., representou a passagem da
Adaptado de: <http://gabinetedehistoria.blo-
gspot.com.br/2015/05/mundo-romano-parte-
República para o Império Romano, cuja evolução histó-
-ii.html>. Acesso em: 25 dez. 2015. rica se dividiu em duas fases: o Alto Império e o Baixo
Império. A primeira fase assinalou o apogeu do Impé-
Otávio tinha arranjado o casamento da irmã, rio Romano. A segunda marcou o declínio do Império
Otávia, com Antônio, para garantir a fidelidade dele. Romano e sua destruição pelas invasões germânicas.
Antônio, porém, separou-se de Otávia em 36 a.C. para Durante o Alto Império, a cidade de Roma chegou a
se casar com Cleópatra. Deixou sua herança para ela, possuir uma população de 1,2 milhão de habitantes e o
nomeada também regente do filho que tivera com Cé- império abrangia uma área de 5 milhões de km2.
sar, Cesarion, a quem Antônio considerava igualmente
herdeiro.
Revoltado, Otávio partiu para combater Antô-
O governo de Augusto (27-14 a.C.)
nio. Em Ácio, perto da Grécia, foi derrotado e fugiu com
Durante seu governo, Otávio Augusto assumiu
Cleópatra para o Egito. Otávio os seguiu até Alexandria,
o controle das principais magistraturas, concentran-
que conquistaria, enquanto Antônio e Cleópatra se sui-
do mais poderes ainda em suas mãos. Foi reconheci-
cidaram.
do como Princeps Senatus, ou seja, o líder do Senado
Otávio considerou o Egito sua conquista pessoal. (razão pela qual seu governo também ficou conhecido
Apoderou-se do tesouro dos faraós, acumulado durante como principado). Como imperador, assumiu o coman-
milênios, e com essa fortuna organizou 70 legiões, o do supremo do exército, cujo efetivo era de 360 mil sol-
que o tornou indestrutível. Otávio voltou à Roma triun- dados, e criou a guarda pretoriana encarregada de sua
fante, recebido como um deus; mas, ao atribuir tanto proteção pessoal. Como tribuno da plebe, era sacros-
poder a Otávio, a República romana estava a um passo santo (qualquer atentado contra sua pessoa era passí-
de se transformar em Império. vel de pena de morte) e detinha o poder de veto sobre
A conquista do Egito deu a Otávio o controle das as decisões do Senado.
duas maiores fontes de poder: o exército e a plebe ro- A sociedade foi dividida, segundo o critério da
mana. Surgia uma nova forma de governo exercido pelo riqueza (censitário), em duas ordens: a ordem senato-
comandante do exército, o imperator. rial, formada pelos cidadãos com renda superior a um
Em 27 a.C., Otávio recebeu o título de Augusto milhão de sestércios (moeda romana), com plenos privi-
(escolhido dos deuses). Só os deuses mereciam tal títu- légios políticos; e a equestre, composta pelos cidadãos
lo até então. Esse fato marcou o fim da República e o com renda de até 400 mil sestércios, que lhes permitiam
início do principado, inaugurando o culto ao imperador. acesso aos cargos públicos. Com isso, Otávio ganhava
o apoio dos comerciantes ricos. Paralelamente, como
forma de compensar a perda do poder do Senado, ele
contemplava os senadores com regalias que os torna-
vam dependentes do poder imperial.

71
Augusto apaziguou a plebe romana com a céle- timo Severo, Caracala, Heliogábalo e Severo Alexandre)
bre política do “pão e circo”, que consistia na distri- assinalou a transição do Alto para o Baixo Império. Em
buição gratuita de alimentos e na realização de monu- 212, Caracala promulgou um edito concedendo a cida-
mentais espetáculos públicos para a plebe romana. Essa dania romana para todos os homens livres do império
política contribuiu para pôr fim às agitações sociais que (Edito de Caracala).
marcaram a fase final da República.

O cristianismo

© Neddyseagoon/Wikimedia Commons
O cristianismo nasceu na Palestina, região sob
controle romano desde 64 a.C., como uma dissidência
do judaísmo.
Baseou-se nas pregações de Jesus, ou Cristo
(tradução latina da palavra grega sagrado), que se dizia
o Messias, isto é, o Filho de Deus, e que, segundo os
Detalhe do mosaico Gladiator (c. 320 a.C.):
o símbolo Ø marca um gladiador morto em combate. profetas, estabeleceria o domínio do povo judeu sobre a
Terra. A crença na existência de um só Deus, que enviou
Para o exército, Augusto também adotou medi- à Terra seu filho para redimir os homens, era o princípio
das importantes. Para os combatentes veteranos distri- fundamental do cristianismo. A nova religião pregava
buiu lotes de terras e estabeleceu uma espécie de apo- também a igualdade entre os homens, o amor ao próxi-
sentadoria em dinheiro. mo, o perdão às ofensas e a humildade de coração, cuja
O período de Otávio Augusto inaugurou o que recompensa seria a conquista da vida eterna.
os romanos chamavam de pax romana, período esse A expansão do cristianismo foi obra dos discí-
em que as províncias romanas foram pacificadas (as tro- pulos de Jesus, os apóstolos, que, graças às suas pre-
pas imperiais impediam as guerras civis), estradas foram gações, difundiram essa nova religião pelo mundo ro-
construídas, portos foram reformados e pântanos foram mano. Na fase inicial de sua expansão, o cristianismo
drenados. Os aquedutos levavam água fresca para difundiu-se principalmente entre os escravos, plebeus e
grandes parcelas da população romana e o sistema de camadas populares do Império Romano.
esgoto eficaz melhorou a qualidade de vida. Na políti-
ca externa, as guerras de conquista foram substituídas Fatores das perseguições
pela política de consolidação das fronteiras.
Quando Otávio morreu, em 14 d.C., recebeu a A repressão ao cristianismo começou ainda no
apoteose, isto é, o direito de ter um lugar entre os deu- século I da Era Cristã, durante a Dinastia Júlio-Claudia-
ses. na. No ano de 64, o imperador Nero desencadeou a
Morto Augusto, sucederam-se dinastias que go- primeira delas, responsabilizando-os pelo incêndio de
vernaram Roma durante o Alto Império. A Dinastia Ju- Roma.
lio-Claudiana (Tibério, Calígula, Cláudio e Nero) estava As perseguições foram causadas por razões po-
ligada à aristocracia patrícia romana. A Dinastia Flávia líticas. Primeiro, os cristãos, crentes na existência de
(Vespasiano, Tito e Domiciano) ascendeu ao poder pelo um único Deus, recusavam-se a reconhecer os deuses
exército e estava associada aos grandes comerciantes oficiais do politeísmo romano e negavam-se a prestar
da Itália central. A Dinastia Antonina (Nerva, Trajano, culto ao imperador. Segundo, graças a sua mensagem
Adriano, Antonino Pio, Marco Aurélio e Cômodo) ligava- redentora, o cristianismo obteve enorme sucesso entre
-se às famílias italianas estabelecidas na Espanha e na os excluídos da sociedade romana (mulheres, pobres e
Gália. Seus soberanos ficaram conhecidos como impera- especialmente escravos), o que lhe rendeu um caráter
dores provinciais, e o governo dessa dinastia marcou o subversivo. As perseguições acabaram por fortalecer o
apogeu do Império Romano. A Dinastia Severa (Sé- cristianismo. Seus adeptos uniram-se, aceitando o mar-

72
tírio sem hesitação, uma vez que criam na salvação, e a gastar as riquezas acumuladas nas guerras de con-
seu exemplo fez novos e numerosos adeptos, especial- quista, pagando pelos produtos que importava, como
mente em uma época de crise e de falência dos poderes cereais, armas e joias. Os proprietários começaram a
públicos. arrendar partes das suas terras a trabalhadores livres
denominados colonos – elementos da plebe urbana,
ex-escravos ou camponeses empobrecidos que busca-
O Baixo Império (284-476) vam a proteção dos senhores das grandes propriedades
rurais, denominadas vilas. A partir do momento em que
Poucos imperadores mereceram destaque nesse
os colonos ganhavam o direito de cultivar a terra, eram
período. Diocleciano (284-305) proibiu os camponeses
obrigados a ceder parte de sua colheita para o senhor e
de abandonar a terra, tornando o colonato uma institui-
a trabalhar, gratuitamente, alguns dias da semana nas
ção. Tentou tabelar os preços dos alimentos, decretando
plantações do senhorio. Esse novo sistema de trabalho
o Edito do Máximo, e dividiu o Império em quatro foi denominado colonato. A crise do escravismo e o
partes, governado simultaneamente por quatro impera- advento do colonato resultaram na diminuição da pro-
dores (tetrarquia): dois augustos e dois césares. dução e no declínio do comércio.
Constantino (313-337) tornou-se soberano A crise financeira foi consequência do de-
único e restabeleceu a unidade política do Império. sequilíbrio entre a arrecadação fiscal do Estado e sua
Em 313, promulgou o Edito de Milão, concedendo despesa com a manutenção do aparelho administrati-
liberdade religiosa aos cristãos. Em 330, fundou uma vo e militar. Para cobrir os gastos governamentais, os
nova capital, Constantinopla, no local da antiga colônia imperadores desvalorizavam constantemente a moeda,
grega de Bizâncio. provocando, no século III, um aumento de 300% nos
Em 391, Teodósio (379-395) transformou o Cris- preços e desencadeando um enorme surto inflacionário.
tianismo em religião oficial do Império Romano pelo A crise do escravismo, a falta de gêneros ali-
Edito de Tessalônica. Em 395, dividiu o império em duas mentícios e a inflação provocaram o êxodo urbano e o
unidades político-administrativas: o Império Romano do despovoamento das cidades.
Ocidente e o Império Romano do Oriente. A crise provocada pela intervenção do exér-
Ao longo do século V, os invasores bárbaros esfa- cito nas lutas sucessórias enfraqueceu o poder im-
celaram o Império do Ocidente. Os visigodos saquearam perial e destruiu a coesão político-militar do Império.
Roma em 410, os vândalos, em 455, e, em 476, os héru- De 235 a 285, grassaram os motins militares e guerras
los depuseram o último imperador, Rômulo Augústulo. civis, e muitos imperadores foram assassinados. O exér-
cito negligenciava seu dever de defender as fronteiras e
perturbava a vida interna do Império.
Fatores da crise do Império Romano
Ao mesmo tempo em que desmoronavam os pi-
lares internos do império, nas fronteiras do Reno, do
Foi a partir do século III que o Império Romano
Danúbio e do Eufrates, as contínuas pressões externas
começou a declinar de modo acentuado. Entre inúme-
provocadas pelas invasões bárbaras abriam novas
ras razões, destaca-se a crise do escravismo. Sabe-se
brechas no dispositivo de defesa militar.
que o trabalho escravo era um dos pilares da riqueza de
Roma, que a maioria dos escravos eram prisioneiros de
guerra. Ocorre, no entanto, que, desde o final do século As invasões bárbaras
II, as guerras de conquista praticamente cessaram, fato
que diminuiu muito o número de escravos à venda. Com O termo “bárbaro” tinha um significado pejora-
isso, o preço deles foi ficando cada vez mais alto. Essa tivo na cultura romana. Eram todos os povos que, resis-
crise afetou duramente a agricultura e o artesanato, se- tindo às tentativas de conquista, não haviam caído sob
tores que dependiam dessa mão de obra para produzir o domínio do Império, não haviam sido “romanizados”
grandes quantidades para exportação. Roma passou nem falavam latim.

73
Os povos bárbaros germânicos, descendentes dos indo-europeus ou arianos, habitavam os terri-
tórios da Europa Centro-Oriental, a leste do Reno e do Danúbio. Nômades e pastores com uma organização
social comunitária, esses povos estavam agrupados em federações guerreiras entre as quais se destacavam
os visigodos, os ostrogodos, os borgúndios, os alamanos, os francos, os vândalos, os hérulos, os
jutos, os anglos e os saxões. Desde o século III, as tribos germânicas haviam iniciado uma invasão pacífica das
áreas fronteiriças com o Império, e Roma consentira na ocupação de inúmeros territórios, transformando-os em
aliados e federados. A segurança do Império passou cada vez mais a depender dos aliados bárbaros, instalados
como federados nas fronteiras e substitutos dos cidadãos romanos nas legiões.
No século V, a invasão da Europa Oriental pelos hunos, tribos nômades originárias da Mongólia, precipitou
a invasão germânica do Império Romano nas fronteiras do Danúbio. Sob a forte pressão dos hunos, as tribos ger-
mânicas desencadearam a invasão mais violenta do Império. Enfraquecido por uma crise mais aguda, o Império
Romano do Ocidente foi destruído pelas invasões germânicas. Sob o impacto delas, esse Império fragmentou-se e
seus territórios foram ocupados por diferentes povos germânicos, que neles fundaram os Reinos Bárbaros da Idade
Média. Na Itália, surgiu o reino dos ostrogodos; na Gália, o reino dos francos; na Espanha, o reino dos visigodos;
na Inglaterra, os reinos anglo-saxões, e, no norte da África, o reino dos vândalos.

O império e as invasões bárbaras no século V

Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/ Migrações_dos_povos_bárbaros>. Acesso em: 22 dez. 2015.

A cultura romana
A cultura desenvolvida pelos romanos foi significativamente influenciada pela cultura grega. Na religião po-
liteísta, os deuses romanos tinham por modelo os deuses gregos: Júpiter, deus dos deuses, correspondia ao deus
grego Zeus; Marte, deus da guerra, equivalia ao deus grego Ares. Foram grandes vultos da literatura romana:
Cícero, Virgílio (Eneida), Horácio, Ovídio, Tito Lívio e Plutarco. Cícero e Quintiliano destacaram-se pela retórica. As
grandes obras da arquitetura romana foram o Panteon e o Coliseu. Os maiores historiadores romanos foram Júlio
César, Salústio e Tácito. Na filosofia, o epicurismo de Lucrécio e o estoicismo de Sêneca, Epiteto e Marco Aurélio
deixaram legado. O Direito Romano, originado da Lei das Doze Tábuas, dividia-se em três ramos: o jus civile (direito
civil), o jus gentium (direito das gentes) e o jus naturale (direito natural). Os maiores jurisconsultos romanos foram
Gaio, Ulpiano e Paulo.

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Um dos legados culturais mais importantes que os etruscos deixaram para os romanos foi o uso do arco
e da abóbada (teto côncavo) nas construções. Esses dois elementos arquitetônicos – desconhecidos na Grécia
– permitiram aos romanos criar amplos espaços internos, livre do excesso de colunas, próprio dos templos gregos.
Assim, nos edifícios destinados à apresentação de espetáculos – os anfiteatros – os construtores romanos, usan-
do filas sobrepostas de arcos, obtiveram apoio para construir o local destinado ao público. Isso pode ser observado
no Coliseu, certamente o mais belo dos anfiteatros romanos.

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Coliseu

O legado romano
Roma legou ao Ocidente uma valiosa herança que perdurou por séculos. Nos séculos que se seguiram ao
colapso de Roma, os povos continuaram a ser atraídos pela ideia de um Estado mundial unificado e pacífico. Ao
preservar e ampliar a filosofia, a literatura, a ciência e a arte da Grécia antiga, Roma fortaleceu os fundamentos da
tradição cultural do Ocidente. O latim, idioma romano, sobreviveu por muito tempo mesmo depois da extinção do
Império. Os padres da Igreja do Ocidente escreviam em latim e, durante a Idade Média, essa foi a língua dos eru-
ditos, escritores e juristas. Do latim derivaram o italiano, o francês, o espanhol, o português e o romeno. O direito
clássico, a mais pura expressão do gênio romano, influenciou o direito canônico e constituiu a base dos códigos de
lei da maioria dos Estados europeus. Por fim, o cristianismo, a principal religião do Ocidente, floresceu no Império
Romano e foi significativamente influenciado pela cultura e organização romanas.

75
INTERATIVI
A DADE

ASSISTIR

Vídeo Construindo um Império - ROMA

Fonte: Youtube

Filme Spartacus (1960)

Spartacus é um homem que nasceu escravo, labuta para o Império


Romano enquanto sonha com o fim da escravidão. Ele, por sua vez,
não tem muito com o que sonhar, pois foi condenado à morte por
morder um guarda em uma mina na Líbia. Mas seu destino foi mudado
por Batiatus, um lanista (negociante e treinador de gladiadores), que
o comprou para ser treinado nas artes de combate e se tornar um
gladiador.

Filme Gladiador (2000)

Gladiador (no original em inglês Gladiator) é um filme estadunidense


dirigido por Ridley Scott. Russell Crowe interpreta o leal general
Máximus Décimus Meridius, que é traído quando o ambicioso filho
do imperador, Cómodo, mata seu pai e toma o trono. Reduzido a um
escravo, Máximus ascende através das lutas de gladiadores para vingar
a morte de sua família e do antigo imperador.

Filme Nero (2004)

Filme baseado na vida do famoso imperador que entrou para a História


por ter ateado fogo em Roma.

76
LER

tt
Livros

ASTERIX E OBELIX (1959)


Uma série de histórias em quadrinhos criada na França por Albert
Uderzo e René Goscinny no ano de 1959, baseado na história
do povo gaulês, em grande parte no tempo do seu grande chefe
guerreiro Vercingetorix e seus conflitos com o Império Romano.

77
77
INTERDISCIPLINARIDADE

Fluxos populacionais não significam simplesmente uma alteração na composição de uma sociedade. Trata-
-se, ademais, de uma troca profunda de experiências e culturas, que tendem a ser mais ou menos conflituosa.
O Império Romano, ao longo de sua vasta história, entrou em contato com diversas outras sociedades, as quais
experimentavam valores e práticas distintas das que o império central pregava.
Muitos historiadores defendem que tamanha heterogeneidade cultural tenha sido um dos fatores para a
derrocada da porção ocidental de Roma. No entanto, é curioso notar certas semelhanças entre tais fluxos culturais
e populacionais da Roma antiga com as crises atuais de refugiados no continente europeu. Aos Estados, não é
trivial decidir o que fazer em tais circunstâncias.

78
CONSTRUÇÃO DE HABILIDADES

Habilidade 11 - Identificar registros de práticas de grupos sociais no tempo e no espaço.

É por meio de diversos registros escritos e artísticos que os historiadores estudam as so-
ciedades antigas, reconstruindo uma complexa rede de relações políticas, econômicas e
culturais. O Enem lança mão desses registros para que os alunos possam interpretá-los à luz
de seus conhecimentos teóricos.
A Habilidade 11 exige tal nível de interpretação dos concorrentes. O fundamental é atentar-
-se aos registros passados, ao enunciado e aos possíveis títulos transmitidos pelas obras.
Compreender como os diversos aspectos das pretéritas sociedades foram retratados por
seus contemporâneos é a chave para descobrirmos como a realidade era vista por eles.

Modelo
(Enem) A figura apresentada é de um mosaico, produzido por volta do ano
300 d.C., encontrado na cidade de Lod, atual Estado de Israel. Nela, encon-
tram-se elementos que representam uma característica política dos roma-
nos no período, indicada em:
a) Cruzadismo — conquista da terra santa.
b) Patriotismo — exaltação da cultura local.
c) Helenismo — apropriação da estética grega.
d) Imperialismo — selvageria dos povos dominados.
e) Expansionismo — diversidade dos territórios conquistados.

Análise Expositiva

Habilidade 11
O final da República e o início do Império de Roma tiveram como um de seus pilares a ex-
pansão territorial e o domínio de outros povos. Tal prática permitia o aprisionamento de
escravos, além da tomada de riquezas. A imagem acima demonstra uma variedade de animais
vistos em diversos biomas conquistados por Roma. Diante disso, a alternativa E é a correta,
pois descreve seu processo de expansionismo.

Alternativa E

79
Estrutura Conceitual

ROMA: CRISE DA REPÚBLICA E IMPÉRIO

GEOGRAFIA ECONOMIA SOCIEDADE

— Península Itálica — Baseada em atividades — Patrícios (proprietários)


— Pequeno Povoado agropecuárias — Clientes (não proprietários/
da Península Itálica ligados aos patriarcas)
— Plebeus (classe diversa)
— Escravos

Crise da República Ditaduras Mario e Sila


1 (133 - 27 a.C.) 2 (107 - 79 a.C.)

Instabilidade Política MARIO (107 a.C.)

Diversos Tentativas de Reduz a autoridade Privilégia militares


setores Reforma do Senado e plebeus
descontentes
Tibério e Graco SILA (86 a.C.)
- Escravos (133 - 121 a.C.)
(Rebelião de
Espártaco
73 - 71 a.C.) - Reforma Restaura autoridade
Agrária Privilegia patrícios do senado
- Militares - Trigo a preço baixo
- Plebeus - Direitos Políticos Governo instável agrava Crise Romana
dos cavaleiros

O primeiro Triunvirato e O segundo Triunvirato


3 Ditadura de César (60 - 44 a.C.)
4 (43 - 30 a.C.)

2º Triunvirato
Triunvirato - Divide Roma em 3

Otávio Antônio Lépido


J. César Pompeu Crasso

Conquistas dos Imperador


- Reformas
Instaura outros territórios Otávio Augusto
uma ditadura - Obras públicas
- Unificação do
mundo romano Baixo Império Romano
6 (284 -476)

Império de Otávio Augusto Cristianismo


5 e Alto Império Romano (27 a.C. - 476 d.C.) Édito de Milão → (liberdade religiosa 313 d.C.)
Édito de Tessalônica → (Religião oficial 391 d.C.)
Apogeu do Império Romano Crise e queda do Império Romano
- Crise do escravismo
Obras públicas → Estradas, portos e aquedutos - Divisão do Império Romano (ocidente e oriente)
Divisão social censitária - Enfraquecimento do poder imperial
Perseguição do crescimento - Crise financeira
Pax Romana - Rebeliões militares
Política pão e circo
- Invasões bárbaras e queda do império romano
Controle das fronteiras
80 do ocidente (476 d.C.)
9
0 01 Império Bizantino e
civilização muçulmana

Competências Habilidades
1, 2, 3, 4, 5 e 6 1, 4, 5, 7, 8, 9,
14, 16, 18, 22,
© CristinaMuraca/Shutterstock

23, 24 e 27

C H
HISTÓRIA
Competência 1 – Compreender os elementos culturais que constituem as identidades.
H1 Interpretar historicamente e/ou geograficamente fontes documentais acerca de aspectos da cultura.
H2 Analisar a produção da memória pelas sociedades humanas.
H3 Associar as manifestações culturais do presente aos seus processos históricos
H4 Comparar pontos de vista expressos em diferentes fontes sobre determinado aspecto da cultura.
H5 Identificar as manifestações ou representações da diversidade do patrimônio cultural e artístico em diferentes sociedades.
Competência 2 – Compreender as transformações dos espaços geográficos como produto das relações socioeconômicas e culturais de
poder.
H6 Interpretar diferentes representações gráficas e cartográficas dos espaços geográficos.
H7 Identificar os significados histórico-geográficos das relações de poder entre as nações.
H8 Analisar a ação dos estados nacionais no que se refere à dinâmica dos fluxos populacionais e no enfrentamento de problemas de ordem econômico-social.
H9 Comparar o significado histórico-geográfico das organizações políticas e socioeconômicas em escala local, regional ou mundial
Reconhecer a dinâmica da organização dos movimentos sociais e a importância da participação da coletividade na transformação da realidade
H10
histórico-geográfica.
Competência 3 – Compreender a produção e o papel histórico das instituições sociais, políticas e econômicas, associando-as aos diferentes
grupos, conflitos e movimentos sociais.
H11 Identificar registros de práticas de grupos sociais no tempo e no espaço.
H12 Analisar o papel da justiça como instituição na organização das sociedades.
H13 Analisar a atuação dos movimentos sociais que contribuíram para mudanças ou rupturas em processos de disputa pelo poder.
Comparar diferentes pontos de vista, presentes em textos analíticos e interpretativos, sobre situação ou fatos de natureza histórico-geográfica acerca
H14
das instituições sociais, políticas e econômicas.
H15 Avaliar criticamente conflitos culturais, sociais, políticos, econômicos ou ambientais ao longo da história.
Competência 4 – Entender as transformações técnicas e tecnológicas e seu impacto nos processos de produção, no desenvolvimento do
conhecimento e na vida social.
H16 Identificar registros sobre o papel das técnicas e tecnologias na organização do trabalho e/ou da vida social.
H17 Analisar fatores que explicam o impacto das novas tecnologias no processo de territorialização da produção.
H18 Analisar diferentes processos de produção ou circulação de riquezas e suas implicações sócio-espaciais.
H19 Reconhecer as transformações técnicas e tecnológicas que determinam as várias formas de uso e apropriação dos espaços rural e urbano.
H20 Selecionar argumentos favoráveis ou contrários às modificações impostas pelas novas tecnologias à vida social e ao mundo do trabalho.
Competência 5 – Utilizar os conhecimentos históricos para compreender e valorizar os fundamentos da cidadania e da democracia, favo-
recendo uma atuação consciente do indivíduo na sociedade.
H21 Identificar o papel dos meios de comunicação na construção da vida social.
H22 Analisar as lutas sociais e conquistas obtidas no que se refere às mudanças nas legislações ou nas políticas públicas.
H23 Analisar a importância dos valores éticos na estruturação política das sociedades.
H24 Relacionar cidadania e democracia na organização das sociedades.
H25 Identificar estratégias que promovam formas de inclusão social.
Competência 6 – Compreender a sociedade e a natureza, reconhecendo suas interações no espaço em diferentes contextos históricos e
geográficos.
H26 Identificar em fontes diversas o processo de ocupação dos meios físicos e as relações da vida humana com a paisagem.
H27 Analisar de maneira crítica as interações da sociedade com o meio físico, levando em consideração aspectos históricos e (ou) geográficos.
H28 Relacionar o uso das tecnologias com os impactos sócio-ambientais em diferentes contextos histórico-geográficos.
H29 Reconhecer a função dos recursos naturais na produção do espaço geográfico, relacionando-os com as mudanças provocadas pelas ações humanas.
H30 Avaliar as relações entre preservação e degradação da vida no planeta nas diferentes escalas.
Império Bizantino

Origens
O Império Romano no ano 395 d.C.

Fonte:
Fonte: DUBY,
DUBY, Georges.
Georges. Atlas historique.
Atlas historique. Paris:
Paris: Larousse, 1987, p. 34.
Larousse, 1987. p. 34.

A morte do imperador Teodósio, em 395 d.C., determinou o fim da unidade do Império Romano que foi
dividido entre os seus filhos em duas partes: o Império Romano do Ocidente, com capital em Milão e depois em
Ravena, e o Império Romano do Oriente, com sede em Constantinopla. Essa cidade chamava-se anteriormente Bi-
zâncio, uma antiga colônia grega que apresentava grande desenvolvimento econômico e comercial, especialmente
em virtude de sua privilegiada e estratégica localização, entre os mares Egeu e Negro.
Após a separação, os orientais continuaram chamando-a de Bizâncio – o antigo nome grego –, assim, o
Império Romano do Oriente passou a ser chamado Império Bizantino.

Economia e sociedade
A crise que abalou o Império Romano, a partir do século III, não atingiu igualmente o Ocidente e o Oriente.
A queda da produção agrícola, o declínio do comércio e a intensa pressão inflacionária foram fatores característicos
da parte ocidental do império. O poder imperial, enfraquecido pela sistemática intervenção do exército, tendeu à
fragmentação e à descentralização. Por outro lado, a região oriental, dotada de estrutura econômica, política e
administrativa mais sólida, recebeu o impacto da crise com mais capacidade de absorvê-la. Sua agricultura sofreu
um pequeno declínio, mas a manufatura e o comércio mantiveram-se articulados. Não sofreu o êxodo urbano e não
passou pela ruralização, que marcaram o Ocidente. As levas bárbaras do Oriente, especialmente os hunos e eslavos,
chegaram a ocupar algumas províncias do Império Bizantino, apesar disso, Constantinopla conseguiu manter sua
autoridade sobre um conjunto unificado de territórios e povos capazes de sustentar sua riqueza.
O imperialismo e sua localização privilegiada como ponto de cruzamento entre dois continentes possibilitaram à
Constantinopla usufruir das vantagens da sua posição de vital importância comercial, cultural e diplomática, permitindo-
-lhe o controle das rotas que ligavam a Ásia à Europa assim como a passagem do mar Mediterrâneo para o mar Negro.

83
O comércio proporcionou o crescimento da im- servos, proibidos de saírem das terras onde nasceram.
portância e o grande enriquecimento de Bizâncio, que Os escravos realizavam trabalhos domésticos.
se tornou a maior metrópole do Oriente. Centro de im- A sociedade bizantina preservou parte das ins-
portantes rotas comerciais, a cidade passou a controlar tituições ocidentais, como o uso eventual do latim,
o intercâmbio de produtos entre o mar Mediterrâneo e estruturas administrativas e alguns costumes sociais.
o mar Negro e, especialmente, entre o mar Negro e o Todavia, houve ali predominância de aspectos culturais
estreito de Bósforo. gregos e orientais, como a oficialização da língua grega
No setor agrícola, predominavam os latifúndios. no século VII.
Raros eram os pequenos lavradores independentes.
Rendeiros e servos formavam o grosso da população
agrícola. A Igreja concentrava em suas mãos ampla por- Política
centagem da riqueza agrária, tornando os mosteiros as
entidades mais ricas no império. O Estado beneficiou-se do enriquecimento pro-
A sociedade era urbanizada. Constantinopla, por porcionado pelo comércio, possibilitando seu fortaleci-
exemplo, abrigava um milhão de habitantes. Banquei- mento como uma monarquia centralizada, despótica,
ros, mercadores, manufatureiros e grandes proprietários teocrática e hereditária. O imperador possuía grandes
de terras constituíam uma elite extremamente enrique- poderes políticos, além de ser o chefe do Exército e da
cida. Vestimentas de lã e seda, entrelaçadas com fios Igreja, com direito de intervir nos assuntos eclesiásticos
de ouro e prata, dão a medida do grau de ostentação (cesaropapismo).
exibido pela opulenta elite bizantina. Nas camadas in- A organização estatal era burocrática, possuindo
termediárias estavam os trabalhadores urbanos do co- os imperadores bizantinos um grande número de minis-
mércio e das manufaturas. No campo, predominavam os tros, funcionários e auxiliares.

O auge do império: Justiniano (527-565 d.C.)


Império Bizantino, em 565 d.C.
Mediolano

Ravena Sírmio Ávaros


Viminácio Quérson
Pisa Ancona Salona Silistra
Naísso Nicópolis Odessos Mar Negro
Córsega Roma Escupi Sozópolis Sínope
Dirráquio Adrianópolis
Bari Constantinopla Heracleia
Visigodos Tessalônica Trebizonda
Cízico Nicomédia
Sardenha Nápoles Tarento
Lárissa Coloneia
Baleares Abidos Prusa Cesareia
Crotona Ancara
Pérgamo
Córdoba Esmirna
Panormo Messina Tebas Amida
Atenas Amório Germanícia
Patras Antioquia
Cartagena Sicília
Cartago Siracusa Mileto Icônico Alepo
Antioquia Edessa
Tingi Adália
Selêucia Laodiceia
Sufetula
Mar Mediterrâneo Creta Chipre Trípoli Império
Berito Sassânida
Damasco
Trípoli
Nazaré
Jafa Jerusalém
Alexandria

Império Bizantino em 565 Mênfis


Árabes

Império antes do reinado de Justiniano

Conquistas de Justiniano Qift

0 200 400 600 800 1000 km

Fonte: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Império_Bizantino#/media/File:The_Byzantine_State_under_Justinian_l-pt.svg>.

O principal imperador bizantino foi Justiniano (527-565). Durante seu governo, o poder imperial atingiu seu
auge, sendo conferidos poderes ilimitados ao imperador, que, por sua vez, ampliou os privilégios do clero e da no-
breza. Ampliou as conquistas territoriais, estendendo as fronteiras às penínsulas Itálica e Ibérica, além da conquista
e dominação de territórios no norte da África.

84
Os gastos militares forçaram a elevação dos im- de Deus como iluminador das almas e dos espíritos,
postos a níveis insuportáveis. A cobrança dos impostos seus arquitetos projetaram um aspecto sóbrio na face
dependia da eficiência dos funcionários, odiados pela externa e, de forma contrastante, decoraram o interior
população de Constantinopla. As pressões da arrecada- com mosaicos ricamente coloridos, detalhes folheados
ção desencadearam, em 532, um violento levante co- a ouro, colunas de mármore de cores variadas e pe-
nhecido por Revolta Nika. Os membros dos dois prin- daços de vidro colorido que refletiam os raios solares
cipais partidos políticos, o Verde e o Azul, costumavam cintilando como pedras preciosas. A igreja passou a
frequentar o hipódromo da cidade. Aristocratas legiti- ser o palco da maioria das cerimônias de coroação dos
mistas, que negavam o direito de Justiniano ao trono, imperadores bizantinos.
instigaram os partidos à rebelião fazendo numerosas A publicação do Corpus Juris Civilis ou Có-
exigências. A princípio, o imperador os atendeu. Mas, digo de Justiniano, que serviu de referência para
esgotados os meios pacíficos para o atendimento das códigos civis de diversas nações, foi a grande realiza-
partes, o conflito se tornou violento. Orientado por sua
ção de Justiniano no campo jurídico. O código resul-
esposa Teodora e respaldado pelos exércitos comanda-
tou de uma compilação do Direito Romano e tinha a
dos pelo general Belisário, Justiniano cercou o hipódro-
seguinte subdivisão:
mo, centro de reunião dos rebelados, massacrando 30
mil pessoas e pondo fim ao movimento contestador. §§ Código – conjunto de leis romanas (síntese de
No governo de Justiniano foi construída a Igre- quase dois mil anos de jurisprudência romana);
ja de Santa Sofia, considerada a mais importante §§ Digesto – comentários dos grandes juristas so-
obra da arquitetura bizantina, cuja suntuosidade ex- bre essas leis;
primia a força do poder do Estado personificado pelo §§ Institutas – princípios fundamentais do Direito
Imperador. Com o objetivo de expressar as tendências Romano (manual para uso dos estudantes); e
introspectivas e espirituais da religião cristã e o poder §§ Novelas – novas leis do período de Justiniano.

Vista parcial do interior da basílica de Santa Sofia Mosaico com imagem de Justiniano, Basílica de Santa Sofia, em Istambul
na basílica de São Vital, em Ravena

A Igreja bizantina
Em 380 d.C., antes mesmo da divisão do Império em Ocidente e Oriente, o imperador Teodósio havia decretado
o Edito de Tessalônica, que estabelecia a oficialização do cristianismo como religião de Estado do Império Romano.
No Oriente, o cristianismo foi integrado à cultura local, incorporando aspectos da realidade bizantina, in-
teiramente diversos da realidade ocidental. Assim, o cristianismo oriental passou a ter características próprias,
diferenciando-se cada vez mais do ocidental, com grande ênfase na valorização da espiritualidade. O efeito dessas
diferenças foi o surgimento, no Oriente, das divergências doutrinárias: as heresias, o monofisismo e a iconoclastia.
Os monofisistas defendiam a natureza unicamente divina de Cristo, negando sua natureza humana, enquanto os
iconoclastas pregavam a destruição das imagens e a sua proibição nos templos.

85
Os cristãos orientais denominavam de ícones lebrado em grego, e não em latim. O Estado bizantino
quaisquer imagens tridimensionais de Cristo ou santos controlava a Igreja (cesaropapismo) e algumas crenças
incorporadas às cerimônias religiosas. Dentre os princi- e costumes eram rejeitados pela Igreja oriental, como,
pais produtores de ícones encontravam-se os monges, por exemplo, a existência do purgatório ou a decoração
que auferiam grandes lucros nesse ramo comercial. dos templos com imagens tridimensionais de Cristo e
Isentos de tributação, proprietários de grandes proprie- de santos.
dades, exercendo grande influência na sociedade, repre- As inúmeras divergências levaram à separação
sentavam uma ameaça ao poder central. entre as igrejas orientais e ocidentais, em 1054. O cha-
A corriqueira utilização de ícones nos templos e mado Cisma do Oriente levou à formação de duas igre-
mesmo nas casas era vista por muitos como uma prática jas distintas: a Igreja Católica Apostólica Romana,
idólatra, ou seja, de adoração de ídolos. dirigida pelo Papa, e a Igreja Cristã Ortodoxa, lidera-
Visando enfraquecer o poder dos monges, o da pelo Patriarca de Constantinopla.
imperador Leão III, em 725, proibiu o uso de imagens
tridimensionais nos templos, determinando sua destrui-
ção ou iconoclastia. O papa manifestou-se declaran- Decadência do Império Bizantino
do herética a proibição de imagens, aprofundando os
desentendimentos com o imperador e igreja bizantinos. Além do fortalecimento do poder dos grandes
proprietários rurais, do enfraquecimento do poder do
O Cisma do Oriente (1054) imperador e das disputas religiosas, contribuíram para
o declínio do Império Bizantino os constantes ataques
que Bizâncio passou a sofrer, especialmente das cida-
des italianas, a partir do século XIII, e das investidas de
bárbaros e árabes. Sua posição e riqueza despertavam a
cobiça de impérios que surgiram e se fortaleciam.
Pouco depois da morte de Justiniano (565),
os lombardos, povo germânico que até então havia
sido mantido no solo onde hoje é a Hungria, toma-
ram dos bizantinos o ducado de Ravena e marcha-
ram sobre Roma.
Ainda nos séculos VII e VIII, os árabes muçulma-
nos tomaram do Império Bizantino as regiões do norte
da África e sul da península Ibérica. Anexaram, também,
o Egito, a Palestina, a Síria e a Mesopotâmia, reduzindo
a civilização bizantina a um território sensivelmente me-
nor ao período anterior a Justiniano.
A entrada de Maomé II em Constantinopla, Depois de um longo cerco, em 1453, os turcos
de Jean-Joseph-Benjamin Constant
otomanos, comandados pelo sultão Maomé II, conquis-
O patriarca de Constantinopla era a figura ecle- taram a cidade de Constantinopla, ou Bizâncio, des-
siástica de maior poder no Oriente. Com a conversão truindo o Império Bizantino. Constantinopla tornou-se
dos eslavos ao cristianismo e a prosperidade do império, a capital de outro Estado poderoso, o Império Otomano,
fortalecia-se sua autoridade. Ele recusava a supremacia passando a se chamar Istambul e permanecendo, até os
do papa sobre sua Igreja, considerando-se o supremo dias atuais, como a maior e mais importante cidade da
mandatário do povo cristão. República da Turquia.
Foram várias as características diferenciadoras A tomada de Constantinopla foi utilizada como
desenvolvidas pelo patriarca no Oriente. O ritual era ce- marco da transição da Idade Média para a Idade Moderna.

86
um cubo, que era bastante venerada, pois se acreditava
Civilização muçulmana ter sido trazida do céu pelo anjo Gabriel.
O santuário ajudou a transformar Meca no cen-

Arábia pré-islâmica tro religioso e comercial dos árabes, já que a cidade era
o ponto de encontro de pessoas e de mercadorias de
diversas regiões.
Antióquia

Origens do islamismo
Mar Mediterrâneo Damasco Pérsia
Alexandria Jerusalém Bagdá

Gaza Basra
Fustal
(Cairo)
Go O responsável pela unidade política e religiosa
lfo

Medina

rs
ic
da península Arábica foi Maomé, criador e divulgador
o
Egito da religião muçulmana.
Mar

Meca PENÍNSULA Maomé (Muhammad) nasceu em 570, na ci-


Ver

ARÁBICA
dade de Meca. Seus pais pertenciam a um dos mais
mel
ho

pobres clãs da tribo dos coraixitas, os haxemitas. O


Oceâno Índico
pai morreu cedo e o menino ficou aos cuidados do
avô, que o levou para viver no meio de uma tribo no
Fonte: <www.img.mat.br/homepage/ deserto. Lá, Maomé assimilou as necessidades mate-
www.img.mat.br/homepage/joao_afonso/J.A/Aula18.html
joao_afonso/J.A/Aula18.html>. riais e espirituais da população do deserto. Regressou

a Meca aos 15 anos de idade e logo entrou para o


A Arábia é uma península árida localizada no
comércio de caravanas, orientado pelo tio Abu Taleb.
Oriente Médio. Ao sul, é banhada pelo oceano Índico, a As expedições com caravanas eram muito perigosas,
oeste, pelo mar Vermelho e a leste, pelas águas do golfo pois podiam ser atacadas a qualquer momento. Por
Pérsico. Ao norte, a Arábia pré-islâmica limitava-se com isso, exigiam de seus condutores habilidade militar.
a Palestina. Maomé destacou-se como grande caravaneiro. Aos 20
Até o século VII, os árabes estavam divididos: anos empregou-se como caravaneiro de Khadidja, rica
de um lado, as tribos beduínas, habitando a “Arábia viúva, pelo menos 10 anos mais velha que ele e com
Desértica”, nômades que se dedicavam ao pastoreio e quem se casou.
frequentavam os oásis – poços de água em meio aos Nas suas viagens, Maomé entrou em contato
desertos; de outro, os habitantes da “Arábia Feliz”, com povos e religiões diferentes. Esteve várias vezes
ou Hedjaz, – faixa costeira e fértil ao longo do mar no Egito, Palestina, Pérsia, regiões onde fervilhava o
Vermelho. Viviam da agricultura e do comércio. Existia espírito religioso. Conheceu principalmente o cristia-
ali uma localidade importante, Áden, que funcionava nismo e o judaísmo, sofrendo profunda influência des-
como entreposto de produtos orientais: especiarias, sas crenças religiosas.
sedas e joias.
© Wikimedia Commons

Os diversos povos da Arábia estavam divididos


em várias tribos; portanto, não formavam um Estado
com unidade política. Mas tinham elementos culturais
comuns, como o idioma árabe e certas crenças religiosas.
A principal cidade árabe era Meca, onde havia
um santuário religioso, Caaba (casa de Deus), que reu-
nia as principais divindades de toda a Arábia (mais de
300 ídolos pertencentes às tribos do deserto). Ali estava
a Pedra Negra, provavelmente um pedaço de meteori-
to protegido por uma tenda de seda preta, na forma de Caaba

87
Por volta de 610, já com quase 40 anos, Maomé do a cidade que passou a ser chamada de Medina al
teve sua primeira visão do anjo Gabriel, que lhe teria Nabi – a Cidade do Profeta.
ordenado “recitar o nome do Senhor” e que “havia um A jihad ocupa um lugar importante no islamismo,
só deus, Alá, e um só profeta, Maomé”. Transformado ela era pregada por Maomé como o “esforço” ou a “luta”
por essa visão, Maomé convenceu-se de que fora es- que cada pessoa tem de empreender internamente na
colhido para servir como profeta. Depois de converter busca da fé perfeita. O Ocidente traduziu erradamente a
os parentes, Maomé começou a falar aos coraixitas. No palavra jihad como “guerra santa”, ou seja, como cami-
início, todos ficaram impressionados com sua pregação. nho para a conversão, estabelecendo que o paraíso seria
Mas depois passaram a desprezá-lo e, finalmente, a per- o prêmio para aqueles que morressem em nome de Alá,
seguir Maomé e seus seguidores. enquanto os sobreviventes poderiam se deleitar das ri-
No entanto, as pregações de Maomé foram bem quezas materiais obtidas através dos saques e pilhagens;
recebidas pelos beduínos, pois prometia-lhes o paraíso no entanto, tal interpretação não está no Alcorão.
com muita água, alimentos em abundância, mulheres Após a conquista de Iatreb, o alvo principal
e a presença de Alá. Assim, os beduínos começaram a passou a ser a cidade de Meca. O crescente número
seguir Maomé, enquanto os coraixitas o proibiram de de seguidores possibilitou a formação de um exército
pregar a fé em Alá e o monoteísmo na cidade de Meca. numeroso, que cercou a cidade, preservando apenas
No ano de 622, Maomé teria realizado um mi- a Caaba. Em seguida, Maomé fez um acordo com os
lagre para provar que era profeta de Alá: “quebrou” a coraixitas, estabelecendo a peregrinação a Meca como
Lua. Provavelmente tratava-se de um eclipse e talvez uma das obrigações da religião muçulmana. A domi-
Maomé conhecesse informações sobre o fato, até por- nação de Meca representou a implantação da unidade
que manteve muitos contatos com o Oriente, onde a política e religiosa da região sustentada pelo islamismo.
astronomia era altamente desenvolvida. Meca transformou-se no centro religioso da crença mo-
Perseguido pelos coraixitas, que mandaram as- noteísta islâmica.
sassiná-lo, Maomé fugiu para Iatreb (Yathrib), cidade Em 632, Maomé morreu, deixando difundida sua
rival de Meca, onde já possuía seguidores. Esse evento doutrina religiosa. Ao mesmo tempo, a península Arábi-
ficou conhecido como Hégira, e é utilizado como mar- ca, que era um aglomerado de tribos e clãs dispersos,
co inicial do calendário muçulmano. Em latreb, Maomé teve sua unificação política realizada através da unifica-
conquistou rapidamente prestígio e poder, controlan- ção religiosa.

ExpansãoREINO
islâmica
DOS FRANCOS
Politiers

ITÁLIA Mar Negro


Ma
rC

Roma
ás

ESPANHA ARMÊNIA ÍNDIA


pio

IMPÉRIO BIZANTINO

Oceano
Atlântico SÍRIA
Mar Mediterrâneo
PÉRCIA
PALESTINA
MAGREB TRIPOLITÂNIA LÍBIA
Go

Expansão até à morte de Maomé, 622-632 EGITO


lfo

rsi
Ma

Medina
co

Expansão até à morte de Maomé, 622-632


rV

ARÁBIA
erm

Expansão durante o Califado Rashidun, 632-661


Meca
elh

Expansão durante o Califado Omíada, 661-750


o

Limite máximo de penetração árabe na França, 732

Oceano Índico

Fonte: <https://almanaque.abril.com.br/mapas/história%20Geral>.

88
A partir do século VII, em virtude da religião mu- Em 750, a dinastia Omíada chegou ao fim, sendo
çulmana e da jihad, enquanto busca da difusão da fé derrotada por uma conspiração interna que inaugurou a
islâmica, os árabes muçulmanos expandiram-se, domi- dinastia Abássida (750-1258). A capital passou de Damas-
nando vasta extensão territorial que se estendia da Ásia co para Bagdá, mudança essa que provocou a primeira
à Europa, passando pelo Norte da África. Essa expansão divisão do mundo islâmico. Abder Rhaman, pertencente à
teve origem na unidade política e religiosa implantada dinastia Omíada, refugiou-se na Espanha, onde fundou o
por Maomé, no início do século VII, quando foi criado
Emirado de Córdova, no ano 756. Surgia, assim, o primeiro
um estado teocrático islâmico. Os fatores que explicam
Estado independente dentro do Império Muçulmano.
a expansão islâmica são:
No Marrocos, os idríssidas tomaram o poder e
§§ o crescimento demográfico, graças à poligamia,
separaram-se do Islã, em 788. Os fatímidas1 fizeram o
e a escassez de terras férteis na Arábia;
§§ a atração que os saques e pilhagens exerciam mesmo no Egito, em 909. Em 1055, Togul Beg, chefe
sobre os árabes; dos turcos seldjúcidas, foi coroado califa em Bagdá. Fi-
§§ a decadência dos Impérios Bizantino e Império nalmente, em 1258, os mongóis, vindos de regiões dis-
Persa; e tantes da Ásia, destruíram a cidade de Bagdá.
§§ o fracionamento da Europa em Reinos Bárbaros A divisão do Império Islâmico foi uma consequ-
frágeis que sucederam o Império Romano. ência de sua enorme expansão, obtida em um período
muito curto de tempo. As seitas religiosas sunita e xiita
contribuíram para esse fenômeno.
Fases da expansão
A morte de Maomé deixou um grande vazio de
A religião muçulmana
liderança que, por um curto período, chegou a ameaçar
a sobrevivência do Islão. A doutrina islâmica, muçulmana ou maometana
Para fazer frente a essa situação, os membros é marcada pelo sincretismo religioso. Possui ele-
mais influentes dos conselhos municipais das cidades mentos do cristianismo e do judaísmo, de onde provêm
de Meca e Medina decidiram apontar um califa, isto é, suas bases fundamentais. O principal fundamento da
um sucessor de Maomé, que deveria concentrar em suas religião é o monoteísmo, a crença no Deus único Alá
mãos o poder político, militar e religioso. O primeiro califa e em seu profeta Maomé.
foi Abu Bekr, sogro de Maomé, e os outros três que o su- Os fundamentos da religião estão no livro sagra-
cederam foram também apontados entre seus familiares. do – Alcorão ou Corão –, que determina a total sub-
As conquistas tiveram início com esses califas de missão do homem à vontade de Alá (Islão) e estabelece
Meca. Sucessivamente, a partir de 634, a Síria, a Pales- cinco obrigações para os fiéis:
tina, a Ásia Menor, a Mesopotâmia, a Pérsia, o Egito e a
§§ crer em Alá, único Deus, e no profeta Maomé;
Tunísia caíram sob o domínio muçulmano.
§§ ajudar os pobres e necessitados (zakat);
Alguns anos após estas conquistas, o novo impé-
§§ praticar o jejum durante o Ramadã;
rio foi abalado por lutas internas, e o controle do califa-
§§ realizar cinco orações por dia, com a face volta-
do passou para as mãos de outra família, os Omíadas,
da para Meca (salat); e
que transferiram a capital para Damasco, na Síria. Sob
§§ peregrinar a Meca no mínimo uma vez na vida –
a liderança dos Omíadas (660-750), os árabes retoma-
dispensados os pobres, doentes e viúvas.
ram o processo de expansão conquistando territórios na
Ásia central (Índia), Norte da África e península Ibéri-
ca. Os muçulmanos só foram contidos na Europa pelos 1. Fatímidas ou fatimitas são uma das designações dadas aos xiitas is-
maelitas. Esse nome advém do fato de atribuírem a sucessão legítima de
francos, liderados por Carlos Martel, da dinastia caro- Maomé a Ali, primo de Maomé, casado com Fátima, sua filha; portanto,
genro dele também.
língia, em 732, na Batalha de Poitiers. O domínio árabe
sobre a costa do Mediterrâneo contribuiu para a crise
do comércio e a feudalização europeia.

89
Um aspecto importante da religião islâmica são as interpretações e os significados que foram sendo agre-
gados à Jihad, que passou cada vez mais a ser interpretada como Guerra Santa e vinculada ao expansionismo.
Foi graças à concepção do jihadismo como “esforço” de difusão da fé no islamismo que a expansão territorial foi
estimulada e as conquistas de vários territórios pelos árabes muçulmanos foram consumadas.
Outra característica importante do islamismo é o sectarismo, com a formação de seitas rivais desde a morte de
Maomé, quando ocorreram sérias divergências em relação à liderança religiosa e política dos muçulmanos. As princi-
pais seitas são xiitas e sunitas. Os primeiros aceitam somente o Corão como fonte de verdade, bem como um chefe
político religioso descendente de Maomé. Os sunitas admitem, além do Alcorão, os ensinamentos contidos no Suna,
livro de relatos de seguidores próximos de Maomé, bem como admitem que o chefe possa ser escolhido entre os fiéis
que reúnam as virtudes necessárias, segundo a antiga tradição beduína de escolha dos chefes tribais.
Os povos que aceitavam a dominação dos muçulmanos e realizavam comércio com eles poderiam preservar
suas crenças religiosas e culturais desde que pagassem impostos, menores, aliás, do que os cobrados por outros
povos, como os persas.

Argooya/Wikimedia Commons
A mesquita dos omíadas, mesquita de Umayyadou, Grande Mesquita de Damasco, capital da Síria,
é considerada o quarto lugar mais sagrado para os muçulmanos, faz parte do Patrimônio Mundial da Unesco.

A cultura árabe
Os árabes foram os responsáveis pela difusão, no Ocidente, dos conhecimentos adquiridos dos impérios
bizantino e persa, pelo grande florescimento intelectual e artístico e pelo contato com os chineses, que facilitaram
a difusão cultural ensinando técnicas da utilização do papel.
Na Astronomia, os muçulmanos traduziram a obra de Ptolomeu, que passou a ser conhecida pelo nome
de Almagesto. Na Matemática, desenvolveram a álgebra e a trigonometria, além dos conhecimentos deixados
pelos gregos. Propagaram o sistema numérico arábico, cuja invenção provém dos hindus. Na Química, descobriram
substâncias como o álcool, o ácido sulfúrico e o salitre. Foram os primeiros a descrever os processos químicos de
destilação, filtração e sublimação.
Na Medicina, fizeram importantes descobertas, como o contágio proveniente da água e do solo e o diagnós-
tico de doenças como a varíola e o sarampo. O mais famoso médico muçulmano foi Avicena, cuja obra Canon foi
o manual médico na Europa até o século XVII. Na Literatura, destacam-se os poemas épicos e de amor e contos de
aventura, tais como a coletânea As mil e uma noites e Rubaiat, de Omar Khayan. Nome célebre é o de Aver-
róis, filósofo de Córdova, que traduziu as obras de Aristóteles para a língua árabe e introduziu-as no Ocidente.
A arte muçulmana não tinha muita originalidade. Merece destaque, entretanto, a arquitetura de palácios e
mesquitas. Graças à dominação da península Ibérica, o árabe influenciou a formação da língua portuguesa: arma-
zém, sorvete, alcaçuz, azeite etc.

90
CONSTRUÇÃO DE HABILIDADES

Habilidade 1 – Interpretar historicamente e/ou geograficamente fontes documentais acerca


de aspectos da cultura.

A produção de fontes documentais – documentos escritos, calendários, obras de arte, arqui-


tetura, etc. – é o papel de quem se debruça sobre as ciências humanas. No caso da História,
as fontes documentais nos apresentam as linhas gerais da cultura de uma população, sejam
elas de âmbito político, social ou econômico. A habilidade 1 requer a capacidade do estu-
dante de interpretar essas fontes documentais sob a luz das práticas culturais de determi-
nado povo ou grupo. Ela exige a conexão lógica e conceitual entre documentos e imagens
apresentadas e os seus respectivos significados culturais. Muitas dessas questões podem
apresentar caráter interdisciplinar entre História, Geografia, Sociologia e Filosofia.

Modelo
(Enem) O ano muçulmano é composto de 12 meses, dentre eles o Ra-
madã, mês sagrado para os muçulmanos que, em 2001, teve início no
mês de novembro do Calendário Cristão, conforme a figura que segue.
Considerando as características do Calendário Muçulmano, é possível
afirmar que, em 2001, o mês Ramadã teve início, para o Ocidente, em
a) 01 de novembro.
b) 08 de novembro.
c) 16 de novembro.
d) 20 de novembro.
e) 28 de novembro.

Análise Expositiva

Habilidade 1
O calendário muçulmano tem seu início no primeiro dia após a lua crescente. Das datas indica-
das a única que coincide com esse início é o dia 16 de Novembro. O enunciado não apresenta
informações que permitam tirar alguma conclusão a respeito. Os valores fornecidos no enun-
ciado não permitem calcular tal data. Para a resposta é necessário o conhecimento da informa-
ção sobre o primeiro dia do mês Ramadã ou então a respeito de informações que foram forneci-
das por rádio, TV e jornal. Alunos ligados ao povo muçulmano levam vantagem sobre os demais.
Alternativa C

91
Estrutura Conceitual
Império Bizantino e Civilização Muçulmana

1 IMPÉRIO BIZANTINO

Império Romano Ponto de Cruzamento


ORIGENS GEOGRAFIA
do Oriente e ligação da Ásia para Europa

ECONOMIA SOCIEDADE Urbanização


Propriedade de latifúndio
- Agricultura
- Manufatura
- Comércio banqueiros, mercadores
trabalhadores urbanos,
Imperador → Exército servos e escravos
Estado
Igreja
POLÍTICA Monarquia
Centralizada RELIGIÃO Cristianismo
Oriental
Imperador mais notável
→ Justiniano (527 - 562)
Cisma do Oriente
(1054)
DECADÊNCIA Ataques Igreja Cristã
Ortodoxa
Cidades italianas
Bárbaros
Árabes - Tomada de Constantinopla
Turcos - Reino Império Turco-Otomano
- Destruição do Império Bizantino (1453)

2 CIVILIZAÇÃO MUÇULMANA

Judaísmo
Sincretismo
ORIGENS Islamismo Cristianismo
Monoteísmo
Península Corão
Arábica
Alá Sunitas Xiitas
jihad
Maomé Expansão Islâmica Fragmentação divide
(570 d.C.) a rápida expansão
e seitas
Criação de estado Teocrático

92
Abordagem de FORMAÇÃO DE PORTUGAL, de BRASIL PRÉ-COLONIAL
E COLONIAL e de COLONIZAÇÃO nos principais vestibulares.

FUVEST
Aborda aspectos da exploração do Brasil Colônia (extração/produção de riquezas) e assuntos
correlacionados a isso, como a construção de uma sociedade ruralista e patriarcal. Utiliza
inúmeras fontes para elaborar suas questões, entre as quais textos introdutórios, mapas, charges,
fotografias, tabelas e gráficos.

LD
ADE DE ME
D
UNESP
U

IC
FAC

INA

BO
1963
T U C AT U Aborda aspectos sociais como o choque cultural entre europeus e nativos e os aspectos da
escravidão negra. Também faz uma abordagem aos ciclos econômicos brasileiros e os métodos
utilizados na produção/extração de riquezas. Normalmente, elabora questões com uso de textos
médios/grandes como auxílio para a pergunta, propondo como respostas alternativas concisas.

UNICAMP
Aborda temas referentes à exploração econômica da Colônia dentro do sistema mercantilista e a
formação da sociedade brasileira. Utiliza textos breves ou pequenas introduções, além de algumas
imagens na elaboração de suas questões, e coloca alternativas relativamente longas.

ENEM/UEMG/UFRJ
Utiliza uma abordagem que foca nas questões raciais presentes na composição do povo
brasileiro, destacando a exploração de negros e índios. Também aborda a exploração econômica
do Brasil na época da colônia. Utiliza textos, mapas, gráficos e imagens de forma mesclada na
elaboração de suas questões.

UERJ
Realiza abordagens históricas em suas questões, que propõem aos candidatos uma reflexão
sobre temas com pertinência contemporânea, como o preconceito e a desigualdade social.
Utiliza textos, mapas, gráficos e imagens de forma mesclada na elaboração de suas questões e
coloca alternativas relativamente longas.
1
0 20 Formação de Portugal e
navegações ultramarinas

Competências Habilidades
1, 2, 3 e 4 1, 7, 9, 15, 16 e
18

C H
HISTÓRIA
Competência 1 – Compreender os elementos culturais que constituem as identidades.
H1 Interpretar historicamente e/ou geograficamente fontes documentais acerca de aspectos da cultura.
H2 Analisar a produção da memória pelas sociedades humanas.
H3 Associar as manifestações culturais do presente aos seus processos históricos
H4 Comparar pontos de vista expressos em diferentes fontes sobre determinado aspecto da cultura.
H5 Identificar as manifestações ou representações da diversidade do patrimônio cultural e artístico em diferentes sociedades.
Competência 2 – Compreender as transformações dos espaços geográficos como produto das relações socioeconômicas e culturais de
poder.
H6 Interpretar diferentes representações gráficas e cartográficas dos espaços geográficos.
H7 Identificar os significados histórico-geográficos das relações de poder entre as nações.
H8 Analisar a ação dos estados nacionais no que se refere à dinâmica dos fluxos populacionais e no enfrentamento de problemas de ordem econômico-social.
H9 Comparar o significado histórico-geográfico das organizações políticas e socioeconômicas em escala local, regional ou mundial
Reconhecer a dinâmica da organização dos movimentos sociais e a importância da participação da coletividade na transformação da realidade
H10
histórico-geográfica.
Competência 3 – Compreender a produção e o papel histórico das instituições sociais, políticas e econômicas, associando-as aos diferentes
grupos, conflitos e movimentos sociais.
H11 Identificar registros de práticas de grupos sociais no tempo e no espaço.
H12 Analisar o papel da justiça como instituição na organização das sociedades.
H13 Analisar a atuação dos movimentos sociais que contribuíram para mudanças ou rupturas em processos de disputa pelo poder.
Comparar diferentes pontos de vista, presentes em textos analíticos e interpretativos, sobre situação ou fatos de natureza histórico-geográfica acerca
H14
das instituições sociais, políticas e econômicas.
H15 Avaliar criticamente conflitos culturais, sociais, políticos, econômicos ou ambientais ao longo da história.
Competência 4 – Entender as transformações técnicas e tecnológicas e seu impacto nos processos de produção, no desenvolvimento do
conhecimento e na vida social.
H16 Identificar registros sobre o papel das técnicas e tecnologias na organização do trabalho e/ou da vida social.
H17 Analisar fatores que explicam o impacto das novas tecnologias no processo de territorialização da produção.
H18 Analisar diferentes processos de produção ou circulação de riquezas e suas implicações sócio-espaciais.
H19 Reconhecer as transformações técnicas e tecnológicas que determinam as várias formas de uso e apropriação dos espaços rural e urbano.
H20 Selecionar argumentos favoráveis ou contrários às modificações impostas pelas novas tecnologias à vida social e ao mundo do trabalho.
Competência 5 – Utilizar os conhecimentos históricos para compreender e valorizar os fundamentos da cidadania e da democracia, favo-
recendo uma atuação consciente do indivíduo na sociedade.
H21 Identificar o papel dos meios de comunicação na construção da vida social.
H22 Analisar as lutas sociais e conquistas obtidas no que se refere às mudanças nas legislações ou nas políticas públicas.
H23 Analisar a importância dos valores éticos na estruturação política das sociedades.
H24 Relacionar cidadania e democracia na organização das sociedades.
H25 Identificar estratégias que promovam formas de inclusão social.
Competência 6 – Compreender a sociedade e a natureza, reconhecendo suas interações no espaço em diferentes contextos históricos e
geográficos.
H26 Identificar em fontes diversas o processo de ocupação dos meios físicos e as relações da vida humana com a paisagem.
H27 Analisar de maneira crítica as interações da sociedade com o meio físico, levando em consideração aspectos históricos e (ou) geográficos.
H28 Relacionar o uso das tecnologias com os impactos sócio-ambientais em diferentes contextos histórico-geográficos.
H29 Reconhecer a função dos recursos naturais na produção do espaço geográfico, relacionando-os com as mudanças provocadas pelas ações humanas.
H30 Avaliar as relações entre preservação e degradação da vida no planeta nas diferentes escalas.
Formação de Portugal
Guerra de reconquista A península Ibérica foi habitada inicialmente pe-
los celtas e iberos e, em seguida, pelos fenícios, gregos
e romanos. No século V, foi invadida pelos visigodos. Em
711, os muçulmanos invadiram e conquistaram a pe-
nínsula Ibérica, exceto a região das Astúrias, a extremo
norte. Da guerra dos cristãos contra os mouros (muçul-
manos do norte da África) nasceram os reinos de Leão,
Castela, Navarra e Aragão.
Com a união desses reinos cristãos, iniciou-se a
Território Mouro
Guerra de Reconquista, com o objetivo de expulsar os
(muçulmanos) mouros da península Ibérica.
Em virtude da sua atuação na Guerra de Recon-
quista, Henrique de Borgonha (nobre francês) recebeu
P = Condado Portucalense L = Leão do rei Afonso VI, de Leão, em 1094, o condado Portu-
C = Castela N = Navarra A = Aragão
calense e a mão de sua filha Tereza. Desse casamento,
Disponível em: <https://en.wikipedia.org/wiki/Reconquista>.
Acesso em: 22 dez. 2015. nasceria Afonso Henriques.
No ano de 1139, Afonso Henriques lutaria con-
tra a submissão do condado Portucalense a Leão, pro-
clamando sua independência e tornando-se, assim, o
primeiro rei da dinastia de Borgonha.

A relação entre cristãos e muçulmanos em Portugal

Fernando Magno, D. Afonso Henriques D. Afonso Henriques D. Sancho I D. Afonso III


de Leão (em 1147) (em 1168) (em 1189) (em 1249)
N
(em 1064)

CONDADO
PORTUCALENSE

PORTUGAL PORTUGAL PORTUGAL PORTUGAL

0 200 km
Fronteira atual de Portugal Cristãos Muçulmanos

Feudalismo português
Em razão de diversos fatores, o feudalismo em Portugal assumiu características totalmente distintas das
do restante da Europa Ocidental. Os portugueses estavam preocupados com a luta ao sul, contra os muçulmanos,
e a leste, contra as investidas dos espanhóis. Dessa forma, a população se uniu em torno da figura do rei, contra
os estrangeiros, fortalecendo a centralização da autoridade monárquica. Não houve, portanto, descentralização
política, característica do feudalismo clássico europeu.

97
As terras que o rei distribuía aos nobres não eram A dinastia de Borgonha não se mostrou capaz
dadas em caráter hereditário. Ao morrerem, elas retorna- de acompanhar as transformações sociais e econômi-
vam para o rei. Além disso, em várias ocasiões, o rei en- cas ocorridas em Portugal. Indispôs-se com a classe dos
tregava a terra sob a condição de poder reavê-la quando mercadores, que crescera bastante nesse período, e aca-
assim decidisse. Em razão disso, eram raros os senhores bou sendo substituída pela dinastia de Avis, mais ligada
que possuíam autonomia de fato sobre seus feudos. aos interesses comerciais e urbanos.
Em fins do século XIV Portugal até então pre-

© Vadim Petrakov/Shutterstock
dominantemente agrário, passou a desenvolver uma
economia mais voltada para a navegação e o comércio.
Para entender as transformações ocorridas em Portugal,
é preciso analisar o que aconteceu durante aquele sé-
culo em toda a Europa.

Crise do século XIV em Portugal


A crise do século XIV, em Portugal, diz respeito
aos três grandes flagelos que atingiram a Europa, cau-
sando uma crise que devastou o continente.
A Grande Fome (1315-1317) – em consequ-
ência do crescimento populacional, das más colheitas
e da alta dos preços dos cereais. A fome afetou princi-
palmente a população rural que migrou para a cidade.
Afonso Henriques, de Portugal A Peste Negra (1347-1350) – surto de peste
bubônica, agravado pelas precárias condições de higie-
Já os burgos (municípios) recebiam do rei as fo-
ne e alimentação da população, dizimou um terço dos
rais, cartas de autonomia, e dispensavam-nos do domí-
europeus.
nio e do controle dos senhores feudais. Ou seja, desde o
A Guerra dos Cem Anos (1337-1453) – trava-
século XII, já existiam muitos trabalhadores assalariados da entre a França e a Inglaterra, devastou a agricultura e
no campo. Essa mão de obra agrícola pouco numerosa, desarticulou o comércio no Ocidente Europeu.
no entanto, condicionou os monarcas a impulsionarem Além dessa crise, os camponeses empobre-
a libertação dos servos das terras cultiváveis: as glebas. ciam à medida que os senhores feudais intensifi-
Entretanto, persistiam algumas características cavam as exigências tributárias, o que provocou
feudais, como os tributos sobre a terra e o desfrute de grandes revoltas camponesas, conhecidas na França
alguns privilégios e da imunidade dados à nobreza. como Jacqueries, responsáveis pelo agravamento
da decadência do feudalismo.
Dinastia de Borgonha (1139-1383) Até então, o comércio europeu girava em torno de
dois polos principais: a Itália, ao sul, e Flandres, ao norte.
Foi durante o reinado dessa primeira dinastia, fun- Essas regiões eram ligadas por rotas comerciais terrestres
dada por Afonso Henriques, que se configuraram plena- que atravessavam o centro da Europa. Em virtude da crise
mente as características do feudalismo português. do século XIV, essas rotas foram abandonadas em favor do
A economia de Portugal era essencialmente agrá- trajeto marítimo, que partia do Mediterrâneo e chegava ao
ria (como o cultivo de azeite, vinho e cereais). No interior, Atlântico, com escala em Portugal, e prosseguia em direção
agricultura e pastoreio; na região litorânea, começavam ao mar do Norte. Essa rota impulsionou a economia portu-
a se desenvolver outras atividades ligadas à navegação, guesa, expandindo o comércio, desenvolvendo as cidades
pesca, artesanato e a um incipiente comércio. litorâneas e enriquecendo a burguesia mercantil.

98
Nas cidades litorâneas, a burguesia mercantil passava aos poucos a formar uma classe rica e poderosa, que
procurava desembaraçar-se dos entraves feudais. Almejava incrementar as atividades de navegação e expandir o
comércio ultramarino, uma vez que os mercados europeus já não eram seguros nem suficientes.

Revolução de Avis (1383-1385)


Em 1383, a morte de D. Fernando desencadeou uma luta pela sucessão do trono português, que serviu de
estopim para a Revolução de Avis. O rei não havia deixado um filho varão, e sua filha, D. Beatriz, era casada com D.
João I, de Castela. Se ela herdasse a coroa, o reino perderia a independência política e se tornaria domínio de Castela.
© Jean d’Wavrin/Wikimedia Commons

Batalha de Aljubarrota (1385).

A crise sucessória dividiu a sociedade portuguesa. A nobreza era partidária da união com Castela, que
era feudal e a beneficiaria. Já a burguesia, que considerava a perda da independência uma ameaça aos seus
interesses, apoiou as pretensões de D. João, mestre de Avis, irmão bastardo do rei. Quando foi aclamado rei,
Castela invadiu Portugal.
Em 1385, os partidários do mestre de Avis (a burguesia, a pequena nobreza e a população pobre), derrota-
ram os castelhanos na Batalha de Aljubarrota (Padeira), consolidando a independência portuguesa. A aliança
entre a dinastia de Avis e a burguesia fortaleceu a centralização monárquica, criou condições para a expansão
das atividades comerciais e abriu caminho para as grandes navegações.

Grandes navegações
Durante os séculos XV e XVI, os europeus, principalmente portugueses e espanhóis, lançaram-se aos oceanos
Pacífico, Índico e Atlântico com dois objetivos principais: descobrir uma nova rota marítima para as Índias e encontrar
novas terras. Esse período ficou conhecido como a Era das Grandes Navegações e Descobrimentos Marítimos.
Foi nessa época também que se deu a intensa procura de Preste João, um príncipe cristão dono de fabulosas
riquezas, cujo reino estaria localizado em algum ponto da África ou do Oriente, ou da Pérsia, China e Abissínia
(atual Etiópia). Mais tarde, a história revelou-se uma lenda.

99
nopólio este que encarecia sobremaneira as mercado-

© Brian Maudsley/Shutterstock
rias orientais. Para as monarquias nacionais europeias,
tornava-se necessário quebrar esse monopólio, desco-
brindo novas rotas para o Oriente. Essa necessidade
era agravada pelo progressivo esgotamento das velhas
minas europeias de metais preciosos usados na cunha-
gem de moedas.
O segundo fator que contribuiu para a expansão
marítima foi a aliança entre a burguesia e os reis,
mediante as monarquias nacionais. Para a realização
das grandes viagens marítimas, era necessário o dispor
de uma complexa estrutura material: navios, homens, ar-
mas, farto abastecimento. Esse tipo de empreendimento
Astrolábio só seria possível com o apoio do Estado e o capital da
A expressão Grandes Navegações é usada burguesia. Aos reis e aos burgueses interessava financiar
para compreender as várias expedições marítimas orga- a expansão marítima em troca de sua participação nos
nizadas nos séculos XV e XVI, principalmente por Por- lucros. Com isso, seriam fortalecidos os Estados nacionais
tugal e Espanha. Elas ajudaram a marcar a passagem e seria facilitada a submissão da sociedade aos reis.
da Idade Média para a Idade Moderna e resultaram na O progresso técnico e científico foi o terceiro fator
descoberta de um novo continente a ser explorado pe- que impulsionou as navegações ultramarinas. A pesqui-
los europeus, a América, e num grande impulso para o sa e a criatividade foram incentivadas, e a astronomia e
aumento do comércio da Europa com a Ásia e a África. a cartografia obtiveram grande desenvolvimento sob o
incentivo das monarquias nacionais. Construíram-se as
caravelas de três mastros e velas triangulares, que per-
Fatores das grandes navegações mitiam a navegação contra o vento. A bússola, trazida
provavelmente da China pelos muçulmanos, ainda no
Vários fatores contribuíram para as chamadas
século XII, passou a ser montada na rosa dos ventos. O
Grandes Navegações. Primeiramente, o comércio orien-
astrolábio, instrumento que determinava a latitude e
tal – de especiarias, em especial – pelo Mediterrâneo
a longitude por intermédio dos corpos celestes, foi mais
encontrava um ponto de estrangulamento no mono-
tarde substituído pelo sextante.
pólio exercido pelos italianos sobre a navegação. Mo-

Rotas das viagens marítimas portuguesas e espanholas dos séculos XV e XVI

Rotas comerciais portuguesas (em azul) de Lisboa a Nagasaki, entre 1580 e 1640.
Rota comercial espanhola (em branco) estabelecida em 1565, o chamado galeão de Manila.
Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Império_Português>. Acesso em: 22 dez. 2015.

100
Além disso, havia o estímulo religioso. Em Por-

© Lopo Pizarro/Wikimedia commons


tugal e na Espanha, o ideal missionário era bastante
disseminado, já que eram países que tinham estado em
luta direta contra os muçulmanos. No fundo, o espírito
de Cruzada e a preocupação em catequizar os índios
acabaram por servir de justificativa ideológica para a
expansão marítima.
O início dessa corrida desenfreada pelos mares
foi acelerada pela tomada da cidade de Constantinopla
pelos turcos, em 1453. “Por ali passava a maior parte
do comércio europeu com o Oriente. Quando a cidade
caiu sob controle muçulmano, foi necessário encontrar
novos caminhos para comerciar com a Ásia”, diz o his-
toriador Josh Graml, do Museu dos Navegantes, em
Newport, nos Estados Unidos.

As caravelas tiveram suas laterais elevadas e, assim, podiam navegar


Fatores do pioneirismo português em águas revoltas. Não tinham remos nem remadores e,
por isso, conseguiam carregar mais carga.

Portugal foi o pioneiro nas navegações dos


Finalmente, o que explicava o pioneirismo de
séculos XV e XVI graças a uma série de condições
Portugal era a precoce criação de um Estado nacional
encontradas nesse país ibérico. A grande experiência
associado aos interesses mercantis, bem como sua con-
em navegações, principalmente na pesca de bacalhau,
solidação graças à Revolução de Avis (1383-1385).
ajudou muito Portugal. As caravelas, principal meio
de transporte marítimo e comercial do período, eram
desenvolvidas com qualidade superior a de outras na-
Planejamento das navegações
ções. Portugal contou com uma quantidade significa-
Navegar nos séculos XV e XVI era uma tare-
tiva de investimento de capital vindo da burguesia e
fa muito arriscada, principalmente em se tratando de
da nobreza, interessadas nos lucros que esse negócio
mares desconhecidos. Era muito comum o medo do
poderia gerar. Havia, ainda, a preocupação com os es-
desconhecido e das fantasias que se faziam em torno
tudos náuticos concentrados num centro de estudos:
dele na época. Havia quem acreditasse em mares ha-
a Escola de Sagres, que também era o Instituto Car-
bitados por monstros, bem como na crença de que a
tográfico Lusitano.
Terra era plana o que poderia levar os navegantes para
Graças a sua posição geográfica favorável,
um grande abismo.
Portugal, além de ser ponto de escala comercial para
Nesse contexto, planejar a viagem era de ex-
os navios que vinham das cidades italianas pelo Me-
trema importância. Os europeus contavam com alguns
diterrâneo, rumo ao norte da Europa, tinha também
instrumentos de navegação que indicavam pontos de
fácil acesso à África pelo Atlântico. Contava com uma
referência de acordo com a localização dos astros. Tam-
vantagem política adicional: gozava de paz em suas
bém era necessário utilizar um meio de transporte rápi-
políticas externa, se comparada à de outros países eu-
do e resistente. As caravelas cumpriam essa finalidade,
ropeus, envolvidos direta ou indiretamente na Guerra
embora ocorressem naufrágios e acidentes. Transporta-
dos Cem Anos (França e Inglaterra), e interna visto que
vam grandes quantidades de mercadorias e homens:
a Guerra de Reconquista estava praticamente encerra-
marinheiros, soldados, padres, ajudantes, médicos e até
da em suas terras.
mesmo um escrivão, que anotava tudo o que acontecia
durante as viagens.

101
Disponível em: <http://www. seuhistory.com >. Acesso em: 18 jan. 2017.

O marco inicial da expansão ultramarina portu- Entre 1419 e 1445, as ilhas do Atlântico
guesa foi a conquista de Ceuta, em 1415, situada na (Açores, Madeira e Cabo Verde) foram ocupadas por
costa marroquina, no Norte da África. Ceuta simboli- Portugal. Em 1434, os portugueses chegaram ao Cabo
zava o poderio muçulmano. Dessa região, partiam as Bojador. Nessa expedição, o comandante Gil Eanes
expedições piratas árabes, razão pela qual se justificou constatou a existência de um oceano de fácil navegação
a conquista portuguesa também como uma expedição ao sul. Teve início, então, o período de exploração mais
punitiva pela cristandade ofendida. Na prática, tratava- intenso da costa africana, que foi seguido por Nuno
-se de “fincar uma lança na África”. Tristão, em 1441. Exploraram-se Senegal, Serra Leoa, e
Costa do Ouro, sempre em busca do marfim, do ouro e,
Localização geográfica da cidade de Ceuta
principalmente, dos escravos. A partir de então, o tráfico
de escravos negros para a Madeira e Açores passou a
ser o interesse maior e o fator básico de acumulação
capitalista da burguesia mercantil portuguesa, o que
também permitiu a continuidade da expansão marítima.
A região da Guiné tornou-se área estratégica
para a continuidade da expansão. Em 1482, Diogo Cão
chegou à foz do rio Congo. Mais tarde, o reconheci-
mento da região por esse navegador facilitou a viagem
de Bartolomeu Dias, que chegou a cruzar o Cabo das
Disponível em: <http://brasilescola.uol.com.br/geografia/
muros-ceuta-melilla.htm>. Acesso em: 18 jan. 2017.
Tormentas, em 1488.
Após a ascensão de D. João II ao trono, em 1481,
A aventura ultramarina portuguesa, denominada decretou-se o monopólio régio (exclusividade da Co-
périplo africano, alcançou as Índias contornando a roa) sobre a exploração colonial. Em 1488, Bartolomeu
África, no século XV. À medida em que se alcançavam Dias liderou a primeira expedição que atravessou o
novas regiões, criavam-se feitorias, pontos do litoral Cabo das Tormentas, mais tarde rebatizado de Cabo
onde se construíam fortes. Neles, ficavam alguns ho- da Boa Esperança (no extremo sul da África). O curio-
mens para negociar os produtos da região com os na- so é que Bartolomeu Dias não percebeu o feito, uma vez
tivos. O objetivo dos portugueses era obter lucros; não que passou pelo cabo durante uma forte tempestade.
intencionavam colonizar no sentido de organizar a pro- Poderia ter chegado à Índia, mas um motim da tripula-
dução local e fixar povoamento. ção obrigou-o a retornar a Portugal.

102
Vasco da Gama iniciou sua primeira viagem à Índia em 1497. No ano seguinte, cruzou o cabo da Boa Espe-
rança e alcançou seu destino. Chegar às Índias significava conseguir especiarias, pimenta e noz-moscada, artigos
tão valiosos quanto prata e ouro na Europa. Para se ter uma ideia da importância do acontecimento, os navios de
Vasco da Gama trouxeram, em apenas uma viagem, o que os venezianos traziam por terra durante um ano. Os
lucros chegaram a 6 000%. O caminho marítimo para o Oriente aberto por Vasco da Gama ajudaria Portugal a se
tornar uma potência mundial.

Viagem de Vasco da Gama e Cabral

Rota de Vasco da Gama


Rota de Pedro A. Cabral

Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Descobrimentos_portugueses>. Acesso em: 22 Dez. 2015.

Os lucros obtidos no primeiro contato com a Índia tugueses. Na volta a Portugal, quatro navios afundaram.
eram mais que animadores. Foi organizada, então, uma es- No entanto, mesmo com essas perdas e dificuldades, a
quadra maior que a anterior, contando com treze navios expedição rendeu o dobro do capital nela investido.
e 1200 homens, sob o comando de Pedro Álvares Cabral. Em razão desses acontecimentos, Portugal tor-
A nova expedição zarpou em 9 de março de 1500, com a nou-se a principal potência econômica da época.
finalidade de consolidar e ampliar as posições do comércio
português em terras asiáticas. No caminho de vinda para o De ponta a ponta, é tudo praia-palma, muito
Brasil, a caravela comandada por Vasco de Ataíde desapa- chã e muito formosa. Pelo sertão nos pareceu, vis-
receu, chegando em Porto Seguro apenas 12 navios. ta do mar, muito grande, porque, a estender olhos,
não podíamos ver senão terra com arvoredos, que
O objetivo principal era chegar às Índias na al-
nos parecia muito longa. Nela, até agora, não pu-
tura de Cabo Verde, mas a esquadra desviou-se de sua demos saber que haja ouro, nem prata, nem coisa
rota regular (contorno da África), para ocidente, e veio a alguma de metal ou ferro; nem lho vimos. Porém
“descobrir”, política e oficialmente, as terras do Brasil, a terra em si é de muito bons ares [...]. Porém o
em 22 de abril de 1500. melhor fruto que dela se pode tirar me parece que
será salvar esta gente.
Após fazer um reconhecimento da terra “des-
Trecho da carta de Pero Vaz de Caminha
coberta”, Cabral continuou o percurso em direção às
Índias, mas somente com 10 navios, já que dois navios
voltaram para contar as boas novas ao rei em Portugal.
Chegando à Índia, Cabral ordenou o bombardeio de
Calicute, cidade cujos governantes hostilizavam os por-

103
Formação da monarquia A expansão marítima espanhola
nacional espanhola Italiano de nascimento (quase todos os docu-
mentos relatam seu nascimento na cidade de Gênova),
Guerra de reconquista muito mais próximo da tradição e dos novos conheci-
mentos renascentistas, entre eles as concepções helio-
A Espanha teve seu processo expansionista tardio cêntricas de Galileu, Colombo sustentava que a Terra era
em relação a Portugal. Contrariamente à região da costa esférica. Portanto, ele acreditava que navegando na em
do Atlântico, na qual a luta contra os árabes deu origem linha reta acabar-se-ia retornando ao ponto de partida.
à precoce formação do reino centralizado de Portugal, o Assim, seria possível alcançar as Índias navegando-se
restante da península Ibérica havia se fragmentado em
em direção oposta, em direção ao Ocidente.
quatro reinos levados por interesses próprios e, por vezes,
conflitantes: Castela, Leão, Navarra e Aragão. Reinos Cristãos da península Ibérica

© CorreiaPM/Wikimedia Commons
SÉCULO XI SÉCULO XII
OCEANO OCEANO
ATLÂNTICO ATLÂNTICO

Leão o RA O
U N HA

Navarra ragã LEÃO AR Ã


LEÃO
N AV AG
A Condado
Castela Condado AR
L

Portucalense Saragoça
TA

de Barcelona
CASTELA CA
CALIFADO Barcelona
Lisboa Toledo
DE CÓRDOBA 1147 ALMORÁVIDAS
Ourique
Córdoba 1139 Córdoba
EO NEO
RÂN RÂ
DITER TER
ME M EDI
Ceuta MAR Ceuta M AR

SÉCULO XIII SÉCULO XV


OCEANO OCEANO
ATLÂNTICO ATLÂNTICO REINO DA
FRANÇA
A
RR
LEÃO VA REINO DE
NA NAVARRA
PORTUGAL ARAGÃO REINO DE
REINO DE ARAGÃO
CASTELA PORTUGAL
Lisboa Alarcos REINO DE Barcelona
1250 Valência CASTELA E LEÃO
Lisboa Valência
Algarve ALMOADAS
1250 Las Navas de Tolos Córdoba
1212 EO
GRANADA REINO DE ÂN
O E ERR
RÂN GRANADA DIT
Ceuta MAR ME DITER Ceuta R ME
MA

Os cristãos da península Ibérica lutavam para


reconquistar seus territórios perdidos para os árabes. O
Cristóvão Colombo
reino da Espanha demorou a ser formado pela prolon-
gada luta entre árabes e espanhóis (Guerra da Recon-
Colombo apresentou seu projeto ao rei de Por-
quista), o que só aconteceu depois do casamento entre
tugal, que lhe negou apoio. Foi ter, então, com os reis
os reis católicos Fernando (do reino de Aragão) e Isabel espanhóis. Depois de insistentes solicitações, conseguiu
(do reino de Leão e Castela), em 1469. o patrocínio de que precisava.
Mesmo assim, uma questão continuava concen- Partiu no início de agosto de um porto ao sul
trando prioritariamente os esforços da nova monarquia da Espanha. Navegando sempre em direção a Oeste,
espanhola: a continuidade da luta contra os árabes. Fer- em 12 de outubro de 1492 aportou na Ilha de Gua-
nando e Isabel lutaram contra os árabes e, em 1492, nahani (hoje São Salvador) onde encontrou um novo
expulsaram-nos da península Ibérica, quando o último continente para os europeus, batizado posteriormente
reduto da presença moura, a região de Granada, foi to- como América.
mado pela Espanha. A partir de então, a Espanha pôde Em 1513, Vasco Nunes Balboa atravessou por
se lançar às Grandes Navegações, financiando o projeto terra a América Central (istmo do Panamá) e descobriu
do navegador genovês Cristóvão Colombo. o Oceano Pacífico.

104
Entre 1519 e 1522, o português Fernão de Magalhães, a serviço da Espanha, iniciou a primeira viagem de
circumavegação da Terra. Partiu de Cádis, navegou pelo Atlântico Sul, cruzou ao sul do continente americano o
estreito que hoje tem seu nome e rumou para a Ásia. Chegou às Filipinas, em 1521, e morreu em combate com os
nativos. A viagem foi completada por Juan Sebastián Elcano, cuja viagem comprovou a teoria da esfericidade da Terra.
Viagens de Cristovão Colombo

Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Era_dos_Descobrimentos>. Acesso em: 23 dez. 2015

Rotas das viagens marítimas portuguesas e espanholas dos séculos XV e XVI

Divisão do “Novo Mundo”


Assim que a notícia do descobrimento da América chegou à Europa, os reis da Espanha e de Portugal
passaram a disputar entre si a posse das terras descobertas e das terras a serem descobertas.
Fazia-se necessário o estabelecimento de novos limites entre as posses espanhola e portuguesa. Em 1493,
os reis da Espanha obtinham o apoio do papa Alexandre VI, espanhol de nascimento, na edição da Bula Inter
Coetera. A Bula determinava uma divisão do mundo ultramarino, tomando-se por base um limite a 100 léguas a
oeste de Cabo Verde. As terras situadas a oeste dessa linha imaginária caberiam à Espanha; Portugal ficaria com
as terras a leste dessa linha.
105
Tratado de Tordesilhas

Ilhas
Canárias

Cabo
Verde
ilhas
Equador

Linhas de demarcação coloniais


entre Espanha e Portugal nos
séculos XV e XVI.
Linha do Papa Alexandre VI
(Bula Inter Caetera, 1493)

Tratado de Tordesilhas (1494)


Tratado de Zaragoza (1529)

Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Era_dos_Descobrimentos>. Acesso em 23 dez. 2015.

A oposição de Portugal a essa Bula, devido à in- Consequências da expansão ultramarina


significância dos territórios lusos, levou a sua revogação
e assinatura, em 1494, do Tratado de Tordesilhas. Dentre as inúmeras consequências da expansão
Pelos termos do novo Tratado, deslocava-se para 370 ultramarina, podem ser destacadas:
léguas a oeste de Cabo Verde o limite entre os domí- § mudança do eixo econômico europeu do mar
nios portugueses e espanhóis. Mediterrâneo para o oceano Atlântico;
Em 1529, os monarcas de Portugal (D. João III) e § expansão do comércio europeu;
da Espanha (Carlos I) assinaram o Tratado de Zaragoza. § implantação do sistema colonial na América;
Definiu-se uma linha imaginária a 297,5 léguas a leste § diversificação dos artigos de consumo: batata,
das Ilhas Molucas, dividindo o mundo oriental entre as tabaco, cacau e o milho oriundos da América;
nações ibéricas. § destruição das civilizações pré-colombianas as-
É importante ressalvar que algumas nações eu- tecas e incas;
ropeias não iriam respeitar a divisão territorial impos- § expansão do mercantilismo;
§ enriquecimento da burguesia mercantil euro-
ta pelo Tratado de Tordesilhas, pois julgavam injusta a
peia;
partilha do mundo entre as nações ibéricas. Os países
§ fortalecimento dos Estados absolutistas;
mais contrariados foram: a Grã-Bretanha, o Reino dos
§ adoção do trabalho escravo e consequente in-
Países Baixos e a França. Ao rei francês Francisco I foi
tensificação do tráfico negreiro;
atribuída a seguinte frase: “O Sol brilha para todos
§ implantação do trabalho compulsório indígena
e desconheço a cláusula do testamento de Adão que
na América espanhola;
dividiu o mundo entre portugueses e espanhóis”. Isso
§ afluxo de metais preciosos para o continente eu-
deixava clara a sua posição contrária as determinações
ropeu, que gerou uma enorme inflação na Euro-
impostas pelo Tratado de Tordesilhas.
pa, processo conhecido como a Revolução dos
Preços, em razão da desvalorização da moeda e
do aumento geral dos preços;
§ expansão da fé cristã;
§ europeização do mundo, ou seja, a difusão da
cultura europeia (vestimentas, língua, hábitos ali-
mentares).

106
ACESSAR

Sites Resumo sobre as grandes navegações

www.sohistoria.com.br/ef2/navegacoes/
tudodeconcursosevestibulares.blogspot.com.br/2013/10/grandes-navegacoes-e-expansoes.html

LER

tt
Livros

Eduardo Bueno – A viagem do descobrimento


Em 1500, a armada chefiada por Pedro Álvares Cabral depara-
se com mantos de ervas flutuantes balançando nas águas
translúcidas do oceano.

Douglas Tufano – A Carta de Pero Vaz de Caminha


Edição comentada e ilustrada da carta de Pero Vaz de Caminha
ao rei de Portugal por ocasião do “achamento” do Brasil. Texto
integral, reescrito em português contemporâneo.

OUVIR
Músicas
– Descobrimento do Brasil – Mussum
– Pindorama – Palavra Cantada
– O Descobrimento do Brasil – Mocidade Independente de Padre
Miguel (samba-enredo 1979)
– Por Mares Nunca Dantes Navegados – Imperatriz Leopoldinense
(samba-enredo 1976)

107
INTERATIVI
A DADE

ASSISTIR

Vídeo Novo Telecurso – Ensino Médio – História...

Fonte: Youtube

Vídeo Novo Telecurso – Ensino Médio – História – Aula 17 (2 de 2)

Fonte: Youtube

Filme 1492 – A Conquista do Paraíso

A viagem de Cristóvão Colombo, que acreditava ser possível


atingir “el levante por el poniente”, ou seja, o Oriente navegando
para o Ocidente, é o cenário épico desse filme de Ridley Scott.

Filme Cristóvão Colombo – A Aventura do Descobrimento

Totalmente convencido de que a Terra é redonda, Cristóvão Colombo


(Georges Corrafece) desejava encontrar um novo caminho marítimo
para as Índias, mas para isto precisa dobrar a resistência do inquisidor
Tomas de Torquemada (Marlon Brando).

108
INTERDISCIPLINARIDADE
A cartografia mundial foi redefinida a partir das viagens ultramarinas, ampliando-se os “limites” do mundo
até então conhecido. Isso levou os estudos geográficos a novas realizações, levando os mapas a definições menos
imaginárias e hipotéticas.
Também foi possível, com a utilização conjunta dos instrumentos náuticos (bússola, sextante, astrolábio,
etc.), a criação de um primeiro Sistema de Posicionamento Global (GPS), com precisão consideravelmente grande
à época. Lembrando que o GPS atual usa coordenadas num plano cartesiano global, o que é muito estudado na
Matemática.

Mapa-mundi de Martin Waldseemuller (1475-1522)

109
CONSTRUÇÃO DE HABILIDADES

Habilidade 15 - Avaliar criticamente conflitos culturais, sociais, políticos, econômicos ou am-


bientais ao longo da história.

A Habilidade 15 impõe aos candidatos uma avaliação crítica sobre diversos conflitos sociais no
tempo e no espaço. Entende-se “conflitos” não somente pela contenda armada ou violenta,
mas também pelos choques civilizacionais presentes na história, tanto entre colonizadores e
colonizados quanto entre dominadores e dominados em geral.
As diversas sociedades interpretam e se relacionam com o seu meio físico e cultural de dife-
rentes formas, segundo suas idiossincrasias e visões de mundo. O papel do estudante é captar
como se dão esses choques culturais e as suas resoluções – sejam estas pacíficas ou não.

Modelo
(Enem) Em geral, os nossos tupinambás ficaram admirados ao ver os franceses e os outros dos pa-
íses longínquos terem tanto trabalho para buscar o seu arabotã, isto é, pau-brasil. Houve uma vez
um ancião da tribo que me fez esta pergunta: “Por que vindes vós outros, mairs e pêros (franceses
e portugueses), buscar lenha de tão longe para vos aquecer? Não tendes madeira em vossa terra?”
LÉRY, J. Viagem à Terra do Brasil. In: FERNANDES, F. Mudanças Sociais no Brasil. São Paulo: Difel, 1974.

O viajante francês Jean de Léry (1534-1611) reproduz um diálogo travado, em 1557, com um ancião
tupinambá, o qual demonstra uma diferença entre a sociedade europeia e a indígena no sentido:
a) do destino dado ao produto do trabalho nos seus sistemas culturais.
b) da preocupação com a preservação dos recursos ambientais.
c) do interesse de ambas em uma exploração comercial mais lucrativa do pau-brasil.
d) da curiosidade, reverência e abertura cultural recíprocas.
e) da preocupação com o armazenamento de madeira para os períodos de inverno.

Análise Expositiva

Habilidade 15
Na cultura indígena, a madeira é empregada de maneira bastante específica, sendo utilizada
para acender fogueiras. Estas aqueciam os indivíduos nos períodos de frio, bem como espan-
tavam animais e serviam para cozimento de diferentes produtos. Dessa forma, o índio ancião
imaginava que os europeus atribuíam ao pau-brasil a mesma finalidade e não o seu uso na
tinturaria. Trata-se, evidentemente, de um choque cultural entre as duas populações, que
atribuíam destinos diferentes ao mesmo produto.
Alternativa A

110
Estrutura Conceitual

1 Guerra de Reconquista e Formação de Portugal

Árabes X Reinos de Leão Condado


Portucalense
Castela Independência
de Leão em 1139
Navarra
Afonso Henriques
Aragão
(Dinastia de Borgonha)

2 Feudalismo Português 3 Revolução de Avis

Características Específicas D. Beatriz e D. João de Castillo


nobreza feudal
Centralismo Monárquico X
D. João, mestre de Avis
Burgos Autônomos burguesia mercantil

Trabalhadores assalariados no campo vitória consolida

Burguesia mercantil forte na Baixa


Idade Média
Centralização Grandes
Independência
monárquica Navegações

4 Grandes Navegações 5 Pioneirismo Português

Fatores Fatores
Novas Rotas para o Oriente Experiência em navegação e pesca
Aliança entre reis e burguesia Incentivo da nobreza e burguesia
Progresso Técnico Estudos náuticos (Escola de Sagres)
Bússola
Astrolábio Paz no território
Sextante
Estímulo religioso / catequização Revolução de Avis
de indígenas

111
Guerra de Reconquista, Formação da Monarquia
6
e Expansão Marítima Espanhola

Árabes X Espanhóis Leão Unificação em 1469


Castela
vitória em 1492 Navarra
Aragão
Investimento em Navegações
Cristóvão Colombo - América (1492)

Tratados de Divisão de Domínios


7
entre Portugal e Espanha

Tratado de
Tordesilhas (1494)
Bula Inter Coetera +
(sofreu oposição portuguesa) Tratado de
Zaragoza
(1529 - Ásia)

112
3
0 40 América pré-colombiana,
mercantilismo e administração
espanhola na América
Competências Habilidades
1, 2, 3, 4 e 5 1, 2, 5, 7, 11, 15,
16, 19 e 23
© tato grasso/Wikimedia Commons

C H
HISTÓRIA
Competência 1 – Compreender os elementos culturais que constituem as identidades.
H1 Interpretar historicamente e/ou geograficamente fontes documentais acerca de aspectos da cultura.
H2 Analisar a produção da memória pelas sociedades humanas.
H3 Associar as manifestações culturais do presente aos seus processos históricos
H4 Comparar pontos de vista expressos em diferentes fontes sobre determinado aspecto da cultura.
H5 Identificar as manifestações ou representações da diversidade do patrimônio cultural e artístico em diferentes sociedades.
Competência 2 – Compreender as transformações dos espaços geográficos como produto das relações socioeconômicas e culturais de
poder.
H6 Interpretar diferentes representações gráficas e cartográficas dos espaços geográficos.
H7 Identificar os significados histórico-geográficos das relações de poder entre as nações.
H8 Analisar a ação dos estados nacionais no que se refere à dinâmica dos fluxos populacionais e no enfrentamento de problemas de ordem econômico-social.
H9 Comparar o significado histórico-geográfico das organizações políticas e socioeconômicas em escala local, regional ou mundial
Reconhecer a dinâmica da organização dos movimentos sociais e a importância da participação da coletividade na transformação da realidade
H10
histórico-geográfica.
Competência 3 – Compreender a produção e o papel histórico das instituições sociais, políticas e econômicas, associando-as aos diferentes
grupos, conflitos e movimentos sociais.
H11 Identificar registros de práticas de grupos sociais no tempo e no espaço.
H12 Analisar o papel da justiça como instituição na organização das sociedades.
H13 Analisar a atuação dos movimentos sociais que contribuíram para mudanças ou rupturas em processos de disputa pelo poder.
Comparar diferentes pontos de vista, presentes em textos analíticos e interpretativos, sobre situação ou fatos de natureza histórico-geográfica acerca
H14
das instituições sociais, políticas e econômicas.
H15 Avaliar criticamente conflitos culturais, sociais, políticos, econômicos ou ambientais ao longo da história.
Competência 4 – Entender as transformações técnicas e tecnológicas e seu impacto nos processos de produção, no desenvolvimento do
conhecimento e na vida social.
H16 Identificar registros sobre o papel das técnicas e tecnologias na organização do trabalho e/ou da vida social.
H17 Analisar fatores que explicam o impacto das novas tecnologias no processo de territorialização da produção.
H18 Analisar diferentes processos de produção ou circulação de riquezas e suas implicações sócio-espaciais.
H19 Reconhecer as transformações técnicas e tecnológicas que determinam as várias formas de uso e apropriação dos espaços rural e urbano.
H20 Selecionar argumentos favoráveis ou contrários às modificações impostas pelas novas tecnologias à vida social e ao mundo do trabalho.
Competência 5 – Utilizar os conhecimentos históricos para compreender e valorizar os fundamentos da cidadania e da democracia, favo-
recendo uma atuação consciente do indivíduo na sociedade.
H21 Identificar o papel dos meios de comunicação na construção da vida social.
H22 Analisar as lutas sociais e conquistas obtidas no que se refere às mudanças nas legislações ou nas políticas públicas.
H23 Analisar a importância dos valores éticos na estruturação política das sociedades.
H24 Relacionar cidadania e democracia na organização das sociedades.
H25 Identificar estratégias que promovam formas de inclusão social.
Competência 6 – Compreender a sociedade e a natureza, reconhecendo suas interações no espaço em diferentes contextos históricos e
geográficos.
H26 Identificar em fontes diversas o processo de ocupação dos meios físicos e as relações da vida humana com a paisagem.
H27 Analisar de maneira crítica as interações da sociedade com o meio físico, levando em consideração aspectos históricos e (ou) geográficos.
H28 Relacionar o uso das tecnologias com os impactos sócio-ambientais em diferentes contextos histórico-geográficos.
H29 Reconhecer a função dos recursos naturais na produção do espaço geográfico, relacionando-os com as mudanças provocadas pelas ações humanas.
H30 Avaliar as relações entre preservação e degradação da vida no planeta nas diferentes escalas.
América pré-colombiana
América pré-colombiana
Esquimós
Embora já se conheça razoavelmente bem a vida
econômica e sociopolítica dos astecas e incas, o mes-
Atabascos Algonquinos Esquimós

mo não acontece com os olmecas. Recentes pesquisas


Comanches
arqueológicas realizadas em San Lorenzo, um dos prin-
Sioux
cipais centros olmecas e, provavelmente, o primeiro cen-
Musgoguis
tro civilizado da Mesoamérica, dão conta da existência
Seminolas
Trópico de Câncer de colinas artificiais com desaguamentos subterrâneos
ASTECAS

MAIAS
Caraíbas OCEANO que funcionariam como sistemas para controle da água.
ATLÂNTICO
Aruaques
A costa meridional do golfo do México é uma
Aruaques
Equador
Caras
Caraíbas
área pantanosa, irrigada por numerosos rios. Nesse
Quéchuas Tupis ambiente tropical, os olmecas cultivaram milho, feijão e
OCEANO PACÍFICO INCAS
Jês abóbora, complementando a subsistência com os pro-
Aiamarás
Trópico de Capricórnio Guaranis
dutos obtidos da caça e da pesca. A procura do jade,
Tupis
uma espécie de pedra, deve ter servido de estímulo para
Araucanos
o comércio, que se fazia por numerosas rotas. Acredita-
-se que a notável influência olmeca na Mesoamérica
0 1085 km
Patagões seja em razão da extensão desse comércio.
A organização social dos olmecas era bastante
Adaptado de: <http://eroneducador.blogspot.com.br/2013/08/as-ameri-
cas-pre-colombiana.html?view=classic>.
desenvolvida. A população, espalhada pelo império,
Acesso em: 23 dez. 2015. dividia-se entre uma minoria (sacerdotes, artífices de
elite), que habitava os centros cerimoniais, e a maioria
do povo (camponeses), que vivia nas aldeias.
Olmecas
Civilização Olmeca

© Paulo Afonso/Shutterstock

Uma das quatro cabeças colossais encontradas em LaVenta,


com altura aproximada de 3 metros
Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Arte_olmeca>.
Acesso em: 23 dez. 2015.
Nos centros cerimoniais, como o de La Venta, ha-
A cultura olmeca, originada na costa sul do golfo viam construções em forma de pirâmide truncada, cons-
do México, é considerada a primeira cultura elaborada truídos sobre grandes plataformas de terra, organiza-
da Mesoamérica e matriz de todas as culturas posterio- das ao redor de plazas, segundo um plano sistemático.
res dessa área. As características marcantes do Império Esses montículos de argila eram rodeados de enormes
olmeca, que se estendeu do México ocidental a, talvez, fossas, onde foram encontradas máscaras religiosas
à Costa Rica, foram a escultura monumental e a presen- profundamente enterradas. Ao que parece, essas cons-
ça de centros cívicos religiosos a que se subordinavam truções tinham funções primordialmente funerárias.
áreas periféricas. Supõe-se a existência de chefias ou estados incipientes

115
(como em Três Zapotes), obrigados pela necessidade de homem, segundo a mitologia maia. A terra era cultivada
supervisão e planejamento, além de recrutamento de coletivamente e os camponeses eram obrigados a pagar
numerosa mão de obra para a construção das pirâmi- o imposto coletivo. A caça e a pesca eram atividades
des, plataformas e aterros. complementares, e a pecuária desconhecida.
O valor dominante religioso caracterizou a arte
Calendário maia
olmeca. A escultura era bastante desenvolvida: monu-
mentais cabeças de pedra, com rosto redondo, lábios
grossos e nariz achatado; estatuetas com formas hu-
manas; e outras apresentando uma mistura de traços
humanos e felinos. São frequentes as representações do
jaguar, a principal divindade, das quais o homem jaguar
representaria, provavelmente, o deus da chuva.

© VojtechVlk/Shutterstock
Tinham conhecimentos de astronomia – basta
observar o traçado de suas cidades, obedecendo aos
pontos cardeais e a um calendário, uma vez que foram
encontrados, em alguns monumentos, registros de datas A organização social dos maias ainda é relativa-
muito antigas. Também conheciam a escrita e sistemas mente desconhecida. Entretanto, estudos da arte maia,
matemáticos. Muitos traços e tradições dos olmecas so- sobretudo da pintura, caracterizam essa civilização
breviveram entre as diversas culturas que os sucederam, como uma sociedade rigidamente hierarquizada, em
como é o caso das culturas dos maias e astecas. que a posição social era determinada pelo nascimen-
to. Uma elite (militares e sacerdotes) constituía o grupo
dominante, de caráter hereditário, que habitava os nu-
Maias merosos centros cerimoniais circundados pelas aldeias
Civilização maia onde vivia a numerosa mão de obra de camponeses
submetidos ao regime de servidão coletiva.
Os centros maias não eram apenas onde a admi-
nistração e o culto se davam, mas também onde exer-
ciam funções comercias: trocas de produtos cultivados
e de artesanato (objetos de ouro e cobre, tecidos de
algodão, cerâmica), uma vez que o ofício de mercador
era muito importante. Havia ainda os escravos, cujas
figuras apareciam em numerosos monumentos da ci-
vilização maia.
Politicamente, acredita-se que o governo maia
fosse uma teocracia de caráter hereditário, incum-
Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Civilização_maia>.
Acesso em: 23 dez. 2015. bido da política interna e externa e do recolhimento do
imposto coletivo das aldeias.
Os maias ocuparam as planícies da península
© smej/Shutterstock

do Iucatã e constituíram povos que elaboraram uma


das mais complexas e influentes culturas da América.
Alguns historiadores, para quem a Europa é o centro
do mundo, chegaram a comparar a importância cultural
dos maias à dos gregos.
A economia agrícola desses “gregos do Novo
Mundo” era baseada na produção do milho, conside-
rado alimento sagrado e do qual teria se originado o Pirâmide de Kukulcán, em Chichén Itzá

116
Os maias nunca chegaram a constituir um Império: cada cidade com suas respectivas aldeias formava um
Estado independente (cidades-Estado).
Sob o ponto de vista religioso, os maias eram politeístas e acreditavam que o destino do homem era contro-
lado pelos deuses. Em razão disso, toda a produção cultural foi nitidamente influenciada pela religião, bem como a
arquitetura. Utilizando principalmente pedra e terra como materiais e o trabalho forçado da numerosa mão de obra
camponesa, construíram-se templos, de forma retangular, sobre pirâmides truncadas com escadarias que se esten-
diam ao redor de praças. Também edificaram palácios, provavelmente residência dos sacerdotes, cujos interiores,
geralmente longos e estreitos, eram cobertos por uma falsa abóbada, característica desse tipo de edificação. Todas
as dependências eram revestidas de elaborada decoração: esculturas, pinturas e murais representando cenas de
guerra ou cerimoniais (altos dignitários homenageados ou servidos por súditos). A escultura em terracota foi outro
exemplo notável da arte Maia, e a pintura, em cores vivas e intensas, alcançou alto grau de perfeição.
Os maias fizeram notáveis progressos na astronomia ao preverem eclipses solares, o movimento dos plane-
tas e o calendário cíclico, bem como na aquisição de avançadas noções de Matemática, como um símbolo para o
zero e o princípio do valor relativo.
Embora ainda não plenamente decifrada, já se sabe que a escrita maia, considerada sagrada, não ara base-
ada em um alfabeto. Sinais pictográficos e símbolos formam sílabas ou combinações de sons.
No que restou da produção literária, destaca-se o Popol Vuh, livro sagrado com numerosas lendas, con-
siderado um dos mais valiosos exemplos de literatura indígena.
Por volta do ano 900, a civilização Maia sofreu declínio de população, quando teria iniciado um processo
erroneamente confundido com decadência. Há estudiosos que atribuem o abandono dos centros Maias à guer-
ra, à insurreição, à revolta social, a invasões bárbaras etc. De fato, os grandes centros foram abandonados, mas
não de súbito. As hipóteses mais prováveis apontam para uma exploração intensiva de meios de subsistência
inadequados, que provocaram a exaustão do solo, ao lado dos intensos conflitos entre as cidades-Estado.
A cultura Maia posterior fundiu-se com a dos Toltecas e prolongou-se até a conquista definitiva pelos es-
panhóis.

Astecas
Civilização asteca

Disponível em: <ttps://pt.wikipedia.org/wiki/Astecas>.


Acesso em: 23 dez. 2015.

117
Também conhecidos como mexicas, os astecas Seja por suas conquistas, seja pelo domínio so-
ocuparam originalmente a região noroeste do atual bre vários povos, o imperador possuía representação re-
México. Guerreiros e expansionistas, dominaram os tol- ligiosa, militar e política, o que tornou o Império Asteca
tecas e outros povos da região. Em 1325, fundaram a um Estado militarista e teocrático.
cidade de Tenochtitlán, capital do império, onde cons- Construíram obras arquitetônicas colossais: tem-
truíram palácios, templos, mercados e canais de irriga- plos e palácios com terraços em forma piramidal, ob-
ção, comprovando grande desenvolvimento. jetos decorativos, obras de ourivesaria em prata, ouro
e pedras preciosas utilizadas na decoração de palácios
A economia era essencialmente agrária, com
e templos. Os astecas também se destacaram na As-
destaque para o cultivo do milho, do algodão, do feijão
tronomia, ao elaborarem um calendário solar que lhes
e do cacau, cuja semente era utilizada como moeda.
possibilitava planejar as épocas de plantio e colheita.
Os astecas desenvolveram as chinampas, um
A religião asteca era politeísta, com prática de
sistema de plantio baseado nos “jardins flutuantes” fei- sacrifícios humanos. Os deuses astecas exigiam oferen-
tos com junco trançado, em região pantanosa produti- das do bem mais precioso que os homens possuíam, a
va. Construíram canais de irrigação levando a água das vida, para que o mundo fosse preservado. Essa era a
chuvas e dos rios para as regiões de plantio. crença asteca.
A terra era considerada propriedade do Estado e
trabalhada pelas comunidades camponesas ao lado de Incas
atividades complementares, como a criação de animais,
o comércio e a mineração. Civilização Inca
A sociedade asteca era rigidamente hierarquiza- OCEANO
ATLÂNTICO
da. O imperador e sua família ocupavam a posição mais
elevada da pirâmide social. Em posição intermediária,
estavam os artesãos e comerciantes. Camponeses e es-
Quito
cravos ocupavam a base dessa pirâmide social. As co-
munidades camponesas conservavam pequena parcela Machu Picchu
de terra para uso familiar, mas a maior parte dela per- Cuzco

tencia aos sacerdotes e elites locais (líderes dos clãs).


© El Comandante/Wikimedia commons

OCEANO
PACÍFICO

0 1000 km

Império Inca

Disponível em: <http://historiadomundo.uol.com.br/inca/


mapa-do-imperio-inca.htm>. Acesso em: 23 dez. 2015.

A região ocupada pelos incas se estendia ao lon-


go da cordilheira dos Andes e ocupava parte dos atuais
territórios da Colômbia, Equador, Peru, Bolívia, Chile e
Argentina. Originariamente nômades, os incas faziam
parte do grupo quéchua. Entre os séculos XII e XIII, reali-
zaram várias conquistas na região andina (civilizações de
Os astecas sacrificavam prisioneiros de guerra para alimentar seus Tiahuanaco, Huari e Chimu), impondo-se militarmente e
deuses. O capturado tinha seu coração arrancado, era decapitado e tinha
seu sangue bebido pelo captor que, depois, levava o corpo para casa, formando o Império Inca, que alcançara seu apogeu na
esfolava-o, comia-o com milho e vestia sua pele. época da conquista espanhola no século XVI.

118
Entre os incas, a propriedade era divida em terras facilitar o domínio das áreas afastadas da capital Cuzco
do Estado, terras dos sacerdotes e terras comunitárias, e integrar as diversas regiões do império, os Incas cons-
das quais cada família possuía um lote para cultivo pró- truíram várias estradas que permitiam tanto o serviço
prio depois de cultivar as terras do imperador e dos sa- de correios quanto o deslocamento do exército para o
cerdotes. Havia ainda o Ayllu, organização social formada controle de áreas rebeladas.
por laços de parentesco entre os membros da comunida- A religiosidade caracterizava-se pela crença em
de e liderada pelo curaca, chefe político e administrativo vários deuses vinculados a elementos da natureza: sol
cujo poder era transmitido hereditariamente. (Inti), chuva, fertilidade; estas influenciavam suas ma-
À medida que líderes locais e sacerdotes se for- nifestações artísticas, notadamente na construção de
taleceriam, essa sociedade experimentou a formação de grandes templos. Faziam também sacrifícios humanos
classes sociais, rigidamente estratificadas, tornando-se e de lhamas.
estamental. Abaixo do imperador havia uma elite de sa- O idioma quéchua serviu de instrumento uni-
cerdotes e militares (nobreza); artífices do Estado, médi- ficador do Império Inca. Sem escrita, a cultura era
cos e contabilistas compunham o grupo intermediário; e, transmitida oralmente. Um conjunto de nós e barbantes
na base da pirâmide social, havia uma grande massa de coloridos, chamados quipus, permitiu aos Incas desen-
camponeses e escravos responsáveis pela produção de volverem um engenhoso sistema de contabilidade. Na
excedentes, que se concentravam nas mãos da elite. matemática, utilizavam o sistema numérico decimal. Na
Quanto às relações de trabalho, havia entre os In- astronomia, foram autores de um calendário.
cas uma forma de trabalho compulsório chamada mita. No altiplano Andino, os testemunhos mais im-
Tratava-se da exploração obrigatória da mão de obra portantes dessa cultura encontram-se na arquitetura
camponesa pelo Estado, empregada em obras públicas monolítica e despojada de ornamentos, que revelam
e nas minas. A principal atividade econômica incaica era
tanto uma técnica impecável como uma notável frie-
a agricultura, sendo o milho, a batata, o feijão, o algodão
za expressiva. Atribuíram também grande importância
e a pimenta os principais produtos. Também criavam ani-
à indústria metalúrgica, principalmente à fabricação de
mais, lhamas e alpacas, que forneciam leite, lã e carne
armas, ao artesanato têxtil e à cerâmica de pequenas
e serviam como meio de locomoção. Para melhor apro-
peças e estatuetas antropozoomórficas.
veitamento das terras em relevo montanhoso, os Incas
desenvolveram terraços para conter a erosão e ampliar
a área de plantio. O choque de civilizações e
a conquista espanhola
© Tomas Sykora/Shutterstock

Entre todos os povos nativos americanos, duas


civilizações foram as que mais sofreram com o contato
com os europeus, os astecas e os incas. Por se tratarem
de verdadeiros impérios, extensos a enormes áreas na
América, foram vistos pelos colonizadores espanhóis
como as principais ameaças ao projeto de exploração
do novo território.
Se os nativos contavam com maior número de
guerreiros, os espanhóis possuíam a vantagem de es-
Machu Picchu foi, aolado de Cuzco, um dos dois tarem melhor equipados para um possível confronto. O
mais importantes centros urbanos da civilização inca. fato de terem consigo armas de fogo, canhões e cavalos,
todos elementos desconhecidos na América, foi uma
Os Incas desenvolveram um império centralizado grande vantagem sobre os ameríndios, exercendo enor-
e teocrático no qual o imperador era considerado um me impacto psicológico sobre estes povos. Essa vanta-
deus (Sapa Inca), descendente direto do Sol, supremo gem bélica foi apenas um dos fatores que contribuíram
legislador e comandante do exército com poder vitalício para uma rápida conquista por parte dos europeus. Vale
e hereditário, suplantando a antiga unidade social. Para ressaltar que as doenças trazidas pelos europeus, e até

119
então inexistentes na América (ex.: gripe), além da fome tregou uma Bíblia ao imperador inca que, por viver em
que assolava os nativos após a dominação, foram ou- uma sociedade sem escrita, não entendeu a utilidade
tros grandes responsáveis pelo rápido decréscimo po- do presente. Em troca, Atahualpa entregou uma bebida
pulacional dos ameríndios. à base de milho, considerada sagrada para o espanhol,
Em 1519, os espanhóis tiveram seu primei- que teria tomado um gole e cuspido devido ao ardor
ro contato com o Império Asteca, o qual possuía um causado pela bebida. Ao ver tamanho desrespeito, o
exército estimado em torno de 500 mil homens. Sob a imperador Inca teria jogado a Bíblia no chão, o que foi
liderança de Hernán Cortez, os espanhóis foram bem utilizado pelos europeus como pretexto para o início de
recebidos pelos astecas, recebendo muitos presentes, um enfrentamento bélico.
incluindo uma jovem escrava índia chamada Malinche, Contando com o apoio de inúmeros curacas des-
que dominava algumas línguas falantes na América e contentes com a dominação inca, e prometendo a liber-
que auxiliou na conquista do México por parte dos co-
tação de seu julgo, Pizarro conquistou a capital Cuzco,
lonizadores europeus.
em 1533, após inúmeras e sangrentas batalhas.
Ao perceber o tamanho do Império Asteca, Cor-
tez percebeu que a dominação seria muito complexa.
Contudo, ele acabou contando com o apoio de povos Administração colonial espanhola
nativos subjugados pelos astecas e que se encontravam
descontentes nessa posição. Prometendo a estes povos Como a coroa espanhola não desejava gastar
a liberdade, Cortez ganhou importantes aliados na luta muitos recursos com a exploração das colônias america-
contra os astecas. Os europeus ainda contaram com a nas, pessoas que tivessem interesse em investir seus re-
falta de resistência inicial do imperador asteca, Monte- cursos particulares e explorar as novas terras eram bem
zuma. Muitos estudiosos acreditam que essa passivida- quistas. Esses indivíduos recebiam o título de adelan-
de deriva de uma lenda de que os deuses iriam voltar tados, e ganhavam uma série de prerrogativas jurídicas
em algum momento e dominar a região, o que explica- e militares, tais como o direito vitalício de fundar nú-
ria a inicial falta de resistência do imperador. cleos de ocupação, explorar o solo e erguer fortalezas.
Aproveitando-se dessa conjuntura favorável, Em troca, promoveriam a cristianização dos ameríndios
Cortez orquestrou a tomada da capital asteca, Tenochti- e entregariam um quinto de tudo que fosse explorado
tlán, que em menos de três anos já se encontrava sob o na América.
domínio dos conquistadores europeus. Para melhor controle das terras americanas, a
Coroa espanhola criou, em 1503, as Casas de Con-
tratação, órgão responsável por fiscalizar a cobrança
do quinto; garantir o monopólio e gerir os negócios
na colônia, além de ser responsável pela nomeação de
funcionários nas terras americanas, assim como regula-
mentar a administração.
Com o passar do século XVI, a Espanha foi apri-
morando seu sistema de administração colonial e foram
criadas as Audiências, instituições com competência
Desavenças internas também ajudaram os espa- jurídica instaladas nas mais importantes regiões da
nhóis na conquista do Império Inca, que ficou a cargo América hispânica. Também foi criado o Conselho das
do conquistador Francisco Pizarro, que chegou à região Índias, em 1524, que centralizou toda a administração
do Peru em 1532. Aproveitando uma crise política cau- da colônia espanhola, subordinando as Casas de Con-
sada pela disputa sucessória local, Pizarro invadiu os tratação e as Audiências ao seu domínio.
domínios incaicos e prendeu o imperador Atahualpa. Por fim, o passo final para a melhor administra-
Relatos apontam que no primeiro encontro en- ção das terras americanas, foi divisão sua em Vice-Rei-
tre Pizarro e Atahualpa ocorreu um mal entendido, pois nos (terras de maior valor econômico) e Capitanias
na troca de presentes entre os dois líderes, Pizarro en- (terras de menor representatividade econômica).

120
América espanhola no século XVIII terras e minas ou criadores de gado. Os Cabildos eram
os únicos órgãos políticos que podiam ser ocupados
pelos criollos, sendo todos os demais cargos públicos
destinados aos chapetones.
Abaixo dos chapetones e dos criollos estavam os
mestiços, filhos de espanhóis com índios ou negros, os
quais não possuíam direitos políticos e exerciam fun-
ções como artesãos, capatazes ou pequenos comercian-
tes. Abaixo deles se encontravam os índios (mão de
obra na agricultura e as minas) e os negros (utilizados
principalmente nas grandes plantações das ilhas do Ca-
ribe e Antilhas).

Trabalho compulsório
Os espanhóis adotaram o trabalho compulsório
para explorar a mão de obra dos ameríndios, já que o
número de nativos era, inicialmente, muito abundante.
Os dois métodos mais comuns utilizados pelos espa-
Fonte: DUBY, Georges. Atlas historique.
Paris: Larousse, 1987, p. 282. nhóis foram o repartimiento e a encomienda.
O repartimiento era muito similar ao trabalho
compulsório que os incas e astecas cobravam dos povos
Sociedade colonial espanhola dominados. Tal como a mita, o repartimiento era a obri-
gação que cada comunidade nativa tinha de ceder um
A sociedade que se constituiu na América hispâ- número determinado de trabalhadores para execução de
nica era bem definida em seus grupos e na importância grandes obras públicas (normalmente de infraestrutura,
dos mesmos em suas regiões. como estradas e prédios públicos) ou extração de miné-
O poder nas colônias, na prática, ficou na mão de rios nas minas. O trabalho era temporário, normalmente
altos funcionários enviados pela coroa, os quais residiam em condições insalubres e com remuneração muito baixa.
na maior parte das vezes nas capitais locais e ocupariam Já a encomienda consistia em deixar um grupo
os cargos mais importantes nas capitanias e vice-reinos de nativos aos cuidados de um colono (encomiendeiro),
(ex.: o cargo de vice-rei, ou chefe das Audiências). Esses o qual poderia utilizar a mão de obra dos nativos em
altos funcionários, chamados chapetones (indivíduos atividades variadas, assegurando, como pagamento pe-
necessariamente nascidos na Espanha) devido à grande los serviços dos ameríndios, a instrução cristã, ou seja,
dificuldade de comunicação entre os continentes, aca- a catequese.
bavam adquirindo grande autonomia em relação ao rei. Com o passar dos anos e a grande diminuição da
Essa “desobediência velada” pode ser observada na se- população nativa devido aos abusos cometidos durante
guinte sentença: “obedeço, mas não cumpro”. a utilização do trabalho compulsório, ocorreu a troca do
Para cuidar dos problemas relacionados às vilas repartimiento e da encomienda pelo trabalho livre. Essa
e cidades, foram criados os Cabildos (espécie de pre- violência e os abusos sofridos pelos índios foram dura-
feitura, ou similar às Câmaras Municipais no Brasil Co- mente criticados por parte dos padres, sendo o crítico
lônia). Esse órgão teria todo o poder local em suas mãos mais incisivo o padre Bartolomeu de Las Casas.
e era constituído por membros da camada social dos Com menor importância econômica, mas não
criollos, descendentes de espanhóis nascidos na Amé- desprezível, havia também as haciendas, o equivalen-
rica. Em geral, os criollos eram grandes proprietários de te espanhol ao sistema de plantation. Esse sistema

121
foi muito utilizado na produção de gêneros tropicais, O colonialismo, também chamado de sistema
na região das Antilhas, que seriam enviados aos mer- colonial, figura como parte integrante da política mer-
cados europeus. A produção das haciendas foi alimen- cantilista. Ele correspondia ao conjunto de relações en-
tada pela mão de obra de cativos africanos, já que as tre metrópoles e colônias, quando aquelas impuseram
populações nativas nessa região foram as primeiras a uma série de restrições à economia colonial. Conheci-
desaparecerem após o domínio espanhol. das por Pacto Colonial, as determinações metropo-
litanas às colônias baseavam-se no monopólio e na
complementaridade.
Mercantilismo
Matérias-primas – gêneros tropicais

A formação dos Estados nacionais coincidiu com


a estruturação do capitalismo comercial, ambas orga- Colônia Pacto colonial Metrópole
nizaram e impuseram uma série de práticas econômicas
visando a proporcionar o acúmulo de metais preciosos
Manufaturas – escravos
como forma de dinamizar as relações comerciais e for-
talecer as moedas nacionais. Mediante essas práticas, os
Práticas mercantilistas
Estados procuravam fortalecer suas finanças e manter
sua estrutura burocrática. Essa política econômica dos As práticas mercantilistas corresponderam a um
Estados modernos ficou conhecida por mercantilismo, conjunto de medidas econômicas aplicadas nos diver-
expressão das práticas do capitalismo comercial. sos Estados europeus sem, contudo, constituírem-se em
práticas homogêneas, que variavam de país para país
de acordo com suas peculiaridades.
Características
Na Espanha, a atuação do Estado foi no sentido
As principais bases do mercantilismo foram a in- de acumular metais preciosos explorados diretamente
tervenção do Estado na economia e o metalismo. de suas colônias americanas. Tal prática ficou conhecida
como bulionismo (derivado de bullion, que em inglês
Por metalismo entende-se a necessidade de acumular
significa barra de ouro).
metais preciosos para servir de lastro às moedas nacio-
Na Inglaterra, as práticas mercantilistas eram
nais. Quanto maior a quantidade de metais preciosos,
chamadas de comercialismo. O governo estimulava
mais forte e com mais poder de compra seriam as moe-
as trocas comerciais com o auxílio à marinha mercante.
das nacionais e mais estável a economia, com reduzidas
Incentivava a comercialização das manufaturas, espe-
taxas inflacionárias.
cialmente as do setor têxtil, mediante um rígido prote-
O comércio seria a principal forma de obtenção e
cionismo alfandegário.
acúmulo de metais, o que levou os governos a estimula-
O mercantilismo francês era denominado col-
rem as exportações e a inibirem, mediante protecionis-
bertismo em alusão a Jean Baptiste Colbert, seu mais
mo marcado por altas taxas alfandegárias, as importa-
célebre incentivador, que foi ministro das finanças do rei
ções de artigos estrangeiros, caracterizando, assim, uma
Luís XIV. Essa prática econômica consistia em incentivar
balança comercial favorável. Eram muito fortes os
a produção de artigos manufaturados, principalmente
estímulos governamentais à produção de artigos manu-
os de luxo, como tapeçaria e cristais, que, exportados,
faturados cujos preços eram bastante elevados no exte-
gerariam receitas para o Estado e uma consequente ba-
rior e nas áreas coloniais.
lança comercial favorável.
Outra característica do mercantilismo foi o mo-
nopólio. Concedido pelo rei mediante pagamento a
certas companhias privilegiadas, o monopólio era válido
para o comércio de alguns produtos, em determinadas
regiões e por tempo limitado.

122
INTERATIVI
A DADE

ASSISTIR

Filme Apocalypto

Os governantes de um Império Maia em declínio acreditavam que a


chave para a prosperidade seria construir mais templos e realizar mais
sacrifícios humanos.

ACESSAR

Sites História dos Astecas e Incas

historiadomundo.uol.com.br/asteca/
http://historiadomundo.uol.com.br/inca/

123
LER

tt
Livros
A América que os Europeus Encontraram – Enrique Y.
Peregalli

Foi construída nesta obra uma história que leva em consideração


a visão dos vencidos, e o autor busca mostrar com isso que a
América possui uma história de desenvolvimento econômico,
cultural, social e político que não precisou da tutela dos europeus.

A Conquista da América – Tzvetan Todorov

Essa pesquisa ética é, ao mesmo tempo, uma reflexão sobre os


signos, sua interpretação e sua comunicação, pois o semiótico
não pode ser pensado fora da relação com o outro.

124
124
INTERDISCIPLINARIDADE
O choque cultural ocorrido nos primeiros encontros entre europeus e nativos americanos demonstra o es-
tranhamento com relação ao que pertence a uma outra cultura e a difícil aceitação do outro como tão “civilizado”
quanto você. O processo de destruição da cultura dos ameríndios e a imposição da cultura europeia demonstra isso
com clareza.
Também podemos observar o efeito de doenças que não eram conhecidas por uma determinada população
e seu efeito nesse novo ambiente, analisando as primeiras tentativas de combater essas moléstias, as quais agora
seriam globais.

Massacre indígena retratado por ilustração de Theodore de Bry.

125
CONSTRUÇÃO DE HABILIDADES

Habilidade 7 - Identificar os significados histórico-geográficos das relações de poder entre as nações.

A Habilidade 7 impõe ao aluno a compreensão, dentro dos diversos espaços e tempos, das
relações de poder entre as nações. Inserida num eixo interdisciplinar com Geografia, Sociologia,
Filosofia e História, o candidato deverá interpretar as causas e as consequências de processos de
dominação entre os povos, além de captar seu significado econômico e político.
Conflitos de diferente natureza estão inseridos nesta habilidade, mormente os de guerras, co-
lonização e escravização entre nações. O estudante deverá relacionar registros acadêmicos,
artísticos ou relatos dos participantes para fundamentar sua resposta.

Modelo
(Enem) O canto triste dos conquistados: os últimos dias de Tenochtitlán
Nos caminhos jazem dardos quebrados;
os cabelos estão espalhados.
Destelhadas estão as casas,
Vermelhas estão as águas, os rios, como se alguém
as tivesse tingido,
Nos escudos esteve nosso resguardo,
mas os escudos não detêm a desolação…
PINSKY, J. et al. História da América através de textos. São Paulo: Contexto, 2007 (fragmento).

O texto é um registro asteca, cujo sentido está relacionado ao(à)


a) tragédia causada pela destruição da cultura desse povo.
b) tentativa frustrada de resistência a um poder considerado superior.
c) extermínio das populações indígenas pelo Exército espanhol.
d) dissolução da memória sobre os feitos de seus antepassados.
e) profetização das consequências da colonização da América.

Análise Expositiva

Habilidade 7
Quando do desembarque dos espanhóis na América no Século XVI, o Império Asteca possuía
cerca de cinco a seis milhões de habitantes. Tenochtitlán era uma das maiores cidades do impé-
rio, mas não resistiu à dominação espanhola, que contava com cavalaria e armas de fogo – uma
tecnologia de guerra muito mais desenvolvida, portanto.
Alternativa B

126
Estrutura Conceitual

1 América Pré-colombiana

Olmecas Maias
sul do Golfo do México América Central
centros cívicos religiosos servidão coletiva
sociedade hierarquizada politeístas
sacerdotes e elite teocracia de caráter hereditário
camponeses sociedade hierarquizada
elite hereditária
Incas camponeses
cordilheira dos Andes
organização familiar - curacas Astecas
trabalho compulsório - mita noroeste do México
politeístas servidão coletiva
divisão de terras economia agrária
imperador politeístas
nobreza estado militarista e teocrático
comerciantes/artesãos sociedade hierarquizada
hierarquia rígida imperador
imperador nobreza
elite militar/sacerdotes comerciantes/artesãos
médicos/burocratas camponeses
camponeses
escravos

2 Choque de civilizações e a conquista espanhola

espanhóis x civilizações pré-colombianas astecas (1519)


incas (1532)
superioridade militar
aliança com povos subjugados pelos grandes impérios

127
3 Administração colonial espanhola

Adelantados investidores Casas de fiscalização


cristianização Contratação cobrança do quinto
direito vitalício regulamentação
em núcleos de colônia administração
exploração (1/5 para nomeação de
a Coroa Espanhola) funcionários

Audiências instâncias jurídicas Divisão Vice-reino


(sec.XVI) de Terras (maior valor econômico)

Conselhos administração geral Capitania


das Índias (menor valor econômico)

4 Sociedade colonial espanhola

Chapetones espanhóis Criollos descendentes de espanhóis/


altos funcionários nascidos na América
da Coroa proprietários de
Mestiços filhos de espanhóis com terras/mina/gado
se representam nos cabildos
indígenas ou negros
(similar à Câmara Municipal)
sem direitos políticos
artesãos, capatazes e Índios mão de obra
pequenos comerciantes e Negros
repartimiento
encomienda
hacienda/plantation

5 Mercantilismo
Intervenção Estatal
Metalismo
Protecionismo
Balança comercial favorável
Colonialismo

128
5
0 60 Período pré-colonial,
administração colonial e
invasões francesas
Competências Habilidades
1, 2, 3, 4 e 5 1, 5, 7, 8, 9, 15,
16, 18 e 23

© Luis Teixeira/Wikimedia Commons

C H
HISTÓRIA
Competência 1 – Compreender os elementos culturais que constituem as identidades.
H1 Interpretar historicamente e/ou geograficamente fontes documentais acerca de aspectos da cultura.
H2 Analisar a produção da memória pelas sociedades humanas.
H3 Associar as manifestações culturais do presente aos seus processos históricos
H4 Comparar pontos de vista expressos em diferentes fontes sobre determinado aspecto da cultura.
H5 Identificar as manifestações ou representações da diversidade do patrimônio cultural e artístico em diferentes sociedades.
Competência 2 – Compreender as transformações dos espaços geográficos como produto das relações socioeconômicas e culturais de
poder.
H6 Interpretar diferentes representações gráficas e cartográficas dos espaços geográficos.
H7 Identificar os significados histórico-geográficos das relações de poder entre as nações.
H8 Analisar a ação dos estados nacionais no que se refere à dinâmica dos fluxos populacionais e no enfrentamento de problemas de ordem econômico-social.
H9 Comparar o significado histórico-geográfico das organizações políticas e socioeconômicas em escala local, regional ou mundial
Reconhecer a dinâmica da organização dos movimentos sociais e a importância da participação da coletividade na transformação da realidade
H10
histórico-geográfica.
Competência 3 – Compreender a produção e o papel histórico das instituições sociais, políticas e econômicas, associando-as aos diferentes
grupos, conflitos e movimentos sociais.
H11 Identificar registros de práticas de grupos sociais no tempo e no espaço.
H12 Analisar o papel da justiça como instituição na organização das sociedades.
H13 Analisar a atuação dos movimentos sociais que contribuíram para mudanças ou rupturas em processos de disputa pelo poder.
Comparar diferentes pontos de vista, presentes em textos analíticos e interpretativos, sobre situação ou fatos de natureza histórico-geográfica acerca
H14
das instituições sociais, políticas e econômicas.
H15 Avaliar criticamente conflitos culturais, sociais, políticos, econômicos ou ambientais ao longo da história.
Competência 4 – Entender as transformações técnicas e tecnológicas e seu impacto nos processos de produção, no desenvolvimento do
conhecimento e na vida social.
H16 Identificar registros sobre o papel das técnicas e tecnologias na organização do trabalho e/ou da vida social.
H17 Analisar fatores que explicam o impacto das novas tecnologias no processo de territorialização da produção.
H18 Analisar diferentes processos de produção ou circulação de riquezas e suas implicações sócio-espaciais.
H19 Reconhecer as transformações técnicas e tecnológicas que determinam as várias formas de uso e apropriação dos espaços rural e urbano.
H20 Selecionar argumentos favoráveis ou contrários às modificações impostas pelas novas tecnologias à vida social e ao mundo do trabalho.
Competência 5 – Utilizar os conhecimentos históricos para compreender e valorizar os fundamentos da cidadania e da democracia, favo-
recendo uma atuação consciente do indivíduo na sociedade.
H21 Identificar o papel dos meios de comunicação na construção da vida social.
H22 Analisar as lutas sociais e conquistas obtidas no que se refere às mudanças nas legislações ou nas políticas públicas.
H23 Analisar a importância dos valores éticos na estruturação política das sociedades.
H24 Relacionar cidadania e democracia na organização das sociedades.
H25 Identificar estratégias que promovam formas de inclusão social.
Competência 6 – Compreender a sociedade e a natureza, reconhecendo suas interações no espaço em diferentes contextos históricos e
geográficos.
H26 Identificar em fontes diversas o processo de ocupação dos meios físicos e as relações da vida humana com a paisagem.
H27 Analisar de maneira crítica as interações da sociedade com o meio físico, levando em consideração aspectos históricos e (ou) geográficos.
H28 Relacionar o uso das tecnologias com os impactos sócio-ambientais em diferentes contextos histórico-geográficos.
H29 Reconhecer a função dos recursos naturais na produção do espaço geográfico, relacionando-os com as mudanças provocadas pelas ações humanas.
H30 Avaliar as relações entre preservação e degradação da vida no planeta nas diferentes escalas.
Brasil: período pré-colonial (1500-1530)
Logo após o Descobrimento, o Brasil permaneceu relativamente abandonado pelos portugueses, que con-
tinuavam a buscar as riquezas do comércio com as Índias. Para Portugal, um Estado acima de tudo voltado para o
máximo desenvolvimento mercantilista, o Brasil nada ou quase nada poderia oferecer de imediato, se comparado
ao rico mercado de especiarias. Assim foi que, por não atender aos interesses imediatos do Estado nem da classe
mercantil portuguesa, de acordo com as exigências de sua prática mercantilista, conduzida ainda apenas no setor
de distribuição de mercadorias, o Brasil permaneceu ligado à sua Metrópole por umas poucas expedições ocasio-
nais, que aqui chegavam com o objetivo de reconhecer mais amplamente o litoral ou de explorar o pau-brasil, ma-
deira com possibilidade de comercialização, ou, ainda, de afugentar os franceses, atraídos pela mesma mercadoria
e contestadores da divisão da América entre Portugal e Espanha (Tratado de Tordesilhas – 1494).
Gaspar Lemos, em 1501, e Gonçalo Coelho, em 1503, comandaram respectivamente as primeiras expe-
dições de reconhecimento e exploração. Dessa última, organizada pelo comerciante Fernão de Noronha,
a quem o rei arrendara a “colônia” para a exploração do pau-brasil em troca da defesa da costa, participou
Américo Vespúcio.
A crescente presença de franceses, principalmente junto ao litoral, exigiu um esquema de policiamento mais
ostensivo. Para isso, foram enviadas duas expedições guarda-costas comandadas por Cristóvão Jacques, em
1516 e 1526, para combater os corsários franceses. Entretanto, esse recurso não chegou a ter bons resultados. O
litoral continuou ameaçado, o que exigiu muito mais esforço para garantir sua segurança. Por fim, exigiu a ocupa-
ção mesma do litoral, sua colonização, o que mudou radicalmente a política oficial do Estado português, bem como
o montante de investimentos por parte da burguesia lusitana.

Exploração do pau-brasil
O único produto brasileiro com algum valor comercial, embora inferior às mercadorias orientais, era o
vegetal do qual se extraía uma tinta muito usada em tinturaria: o pau-brasil. A extração dessa madeira ocorria
no litoral da Colônia, em uma área que ia do Rio Grande do Norte ao Rio de Janeiro. Os portugueses foram
os primeiros a explorá-la. Depois de algumas viagens, os espanhóis afastaram-se em respeito ao Tratado de
Tordesilhas. Os franceses, sem compromisso com o Tratado e sem poder comerciar diretamente com o Oriente,
lançaram-se ao contrabando.
A exploração era rudimentar e predatória destruía matas sem qualquer preocupação em repô-las. Sem
que houvesse qualquer intenção de ocupar o território, a concentração limitou-se exclusivamente à exploração
da madeira.
Os traficantes contavam com a mão de obra livre dos índios mediante escambo, que consistia na troca
de objetos de pouco valor – espelhos, miçangas, objetos de ferro – pelo corte e transporte do pau-brasil até locais
na costa.
Para viabilizar a exploração do pau-brasil e assegurar a posse do território contra os invasores, os portu-
gueses criaram as feitorias – estabelecimentos fundados no litoral da Colônia para armazenar o pau-brasil, que
deveria seguir para a Metrópole.
Como toda atividade ultramarina, a exploração do pau-brasil era monopólio do rei (Estanco Régio). Só
poderia se dedicar a ela quem tivesse uma concessão da Coroa, que cobrava por isso o quinto (20% do lucro
adquirido com o produto).
O Brasil continuou exportando o pau-brasil até o início do século XIX, mas o negócio deixou de ser rentoso
a partir de 1530, quando as matas do litoral já estavam esgotadas.

131
A forma predatória de exploração, com interesse Dessa forma, as necessidades portuguesas de ga-
imediatista e sem preocupação com o futuro, seria de- rantir a posse do território e obter uma nova fonte de
pois empregada a todos os recursos brasileiros. lucros que substituísse o decadente comércio oriental le-
varam a Coroa portuguesa à convicção de que era preciso

© Wikimedia Commons
dar início à colonização da nova terra. O rei se convenceu
de que só poderia manter a posse da terra estabelecendo
núcleos permanentes de povoamento, colonização e de-
fesa. Mas a Coroa também tinha esperança de haver aqui
riquezas minerais em proporções semelhantes às encon-
tradas pelos espanhóis em suas possessões.

Expedição colonizadora
A colonização não estava nos planos da burgue-
sia mercantil que havia impulsionado as navegações.
Detalhe da exploração do pau-brasil com mão de obra indígena. Mas o rei D. João III tinha interesse em garantir o domí-
“Terra Brasilis”, mapa do Atlas Miller, 1515-1519, de Lopo homem nio de suas terras brasileiras. A única possibilidade era
a colonização, apesar das dificuldades a enfrentar. Para

Brasil: início da colonização


dar início ao empreendimento, foi organizada a expe-
dição comandada por Martim Afonso de Souza, em
1530. Seus principais objetivos eram:
(1530-1580) 1. percorrer o litoral e, quando necessário, explorar
o interior em busca de ouro e prata;
© Benedito Calixto/Wikimedia Commons

2. expulsar os franceses encontrados;


3. organizar núcleos de povoamento e defesa; e
4. aumentar o domínio português até o Rio da Pra-
ta, abrangendo, portanto, terras que não perten-
ciam a Portugal pelo Tratado de Tordesilhas.

Obra de Benedito Calixto, “Fundação de São Vicente”, mostra a visão do Ao voltar do rio da Prata em 1532, Martin Afon-
artista sobre a chegada dos portugueses no litoral paulista. so fundou São Vicente, no litoral do atual estado de
São Paulo. Além de ser o primeiro núcleo de colonização
Razões da colonização no Brasil, São Vicente foi dotado de um engenho para
produzir açúcar.
A partir de 1530, a posição de Portugal em rela-
ção ao Brasil mudou. Os empreendimentos no Oriente
já não eram mais tão lucrativos. A distância e os custos
com a manutenção do império colonial nas Índias eram
extremamente altos e elevavam o preço das especiarias.
Além disso, havia a contestação dos tratados luso-espa-
nhóis por países excluídos da partilha colonial do Novo
Mundo. Ataques de piratas e corsários, principalmente
franceses, eram frequentes, ameaçando o próprio domí-
Reprodução

nio português sobre o território. Capitania de São Vicente

132
posse da terra de forma perpétua e hereditária ao capitão
Administração colonial donatário. No Foral estavam fixados os direitos, foros e
tributos que a população pagaria ao rei e ao donatário.
Iniciada a colonização do Brasil, restava a Por- Para estimular a colonização, os donatários
tugal montar um aparelho burocrático responsável pela distribuíam sesmarias àqueles que as requeressem. As
administração da Colônia. Constatou-se, porém, que sesmarias eram grandes porções de terra que perma-
núcleos de povoamento isolados, como São Vicente, neceriam em poder do sesmeiro e seus descendentes
não garantiriam a posse, pois o litoral era extenso e desde que eles as cultivassem.
continuaria desprotegido. Só dois donatários tiveram sucesso (em parte
Portugal manteve sua atitude em relação à ter- porque receberam muita ajuda do rei de Portugal e de
ra descoberta com o intuito de defesa. Como o co- banqueiros flamengos): Martim Afonso de Sousa, em
mércio das Índias já não era tão lucrativo, necessitava São Vicente, e Duarte Coelho, em Pernambuco. Esse
encontrar novas alternativas econômicas. Além disso, sucesso estava relacionado ao plantio de cana-de-açú-
a descoberta de metais preciosos na América Espa- car, produto muito interessante aos mercados europeus.
nhola valorizava as terras descobertas e alimentava a As razões para o fracasso do sistema de capita-
esperança portuguesa de encontrar esses metais no nias hereditárias foram várias: ataques constantes de
seu território colonial. índios hostis, falta de recursos dos donatários, a longa
distância da Metrópole, as dificuldades de comunica-
ção entre as capitanias e a descentralização político-
Capitanias hereditárias (1534) -administrativa.

A ocupação do extenso território brasileiro re- Capitanias hereditárias do Brasil


queria vultosos recursos, o Estado português tinha sé- ESPANHA PORTUGAL

rios problemas econômicos, e, assim, adotou o sistema Maranhão (2º quinhão)


Maranhão (1º quinhão)

de Capitanias Hereditárias, implantando pelo rei Ceará

Rio Grande
D.João III. Seria um sistema através do qual o Estado Itamaracá
MERIDIANO DE TORDESILHAS (1494)

transferiria os gastos com a colonização para a iniciativa Pernambuco

Baia de Todos-os-Santos
privada. Ilhéus

Apesar das regalias e dos poderes oferecidos a Porto Seguro

quem quisesse colonizar o Brasil, apenas pessoas de Espírito Santo

São Tomé
pouca expressão econômica e social apresentaram-se São Vicente (2º quinhão)
Santo Amaro
para a tarefa, pois a alta nobreza achava muito arrisca- São Vicente (1º quinhão)
Santana
da tal empreitada.
Em 1534, a costa brasileira foi dividida em quin- OCEANO
ATLÂNTICO
© Encyclopedia Britannica, Inc.
ze faixas de terra, com largura entre 200 e 650 quilô-
metros, do litoral à linha do Tratado de Tordesilhas. Cha-
mavam-se capitanias hereditárias pois passariam dos Governo-Geral (1548)
donatários a seus herdeiros. Os donatários possuíam
O fracasso do sistema de capitanias levou Por-
grandes poderes: podiam dispor das terras e distribuí-
tugal a criar um novo sistema administrativo: o Gover-
-las entre os colonos, nomear autoridades administrati-
no-Geral, que deveria corrigir as falhas das capitanias
vas e judiciárias, receber taxas e impostos, escravizar e
hereditárias e não extingui-las. O novo órgão deveria
vender meios, fundar vilas, cobrar tributos pela navega- centralizar a administração colonial, sendo o Governa-
ção dos rios etc. dor-Geral a maior autoridade da Colônia e representan-
A constituição político-administrativa tinha por te direto do rei. Os capitães-donatários perderiam parte
base jurídica a Carta de Doação e o Foral. Pela Carta de sua autoridade, o que explica certa resistência deles
de Doação o rei concedia o direito à administração e à ao novo órgão político-administrativo. O sistema de

133
Governo-Geral foi criado por D. João III (o colonizador) prietários de terras e escravos. No início eram homens
e, através do Regimento de 1548 (conhecido como Re- de “sangue puro” português, mas essa prática foi aban-
gimento do Governo-Geral), determinava as principais donado com o tempo e o aumento da mestiçagem.
funções do Governo: Como os meios de comunicação e transporte
eram precários, por vezes as Câmaras Municipais goza-
§§ Ajudar os donatários no que fosse necessário;
vam de enorme autonomia, ignorando leis impostas pela
§§ Combater índios e piratas;
§§ Fundar núcleos de povoamento; capital e apostando na ausência de qualquer punição.
§§ Estimular a catequese e defender a fé cristã;
§§ Organizar entradas em busca de metais preciosos.
Governadores-Gerais
Tomé de Sousa (1549-1553)
O primeiro Governador-Geral do Brasil che-
gou à baía de Todos os Santos, em 1549, com a incum-
bência de ali estabelecer a sede do governo. A escolha
se deveu à localização da capitania, quase no centro
das terras portuguesas, o que favoreceria a comunica-
ção com as capitanias do norte e do sul. Ainda em 1549
foi fundada a cidade de Salvador, que seria a sede do
NOVAES, Carlos Eduardo; LOBO, César. História do Brasil
para principiantes. São Paulo: África, 2003, p. 61. Governo-Geral e capital do Brasil até 1763.
Junto com Tomé de Sousa vieram os primeiros
O documento estabelecia, ainda, a criação de jesuítas, liderados pelo padre Manoel da Nóbrega, com
cargos auxiliares ao Governador-Geral, que eram: o de o objetivo de catequizar os nativos, garantindo-lhes o
ouvidor-mor, responsável pela justiça; o de capitão-mor, acesso à doutrina cristã. Esse governo foi responsável
responsável pela segurança da costa do território; e o pela criação do primeiro bispado do Brasil – o de Salva-
de provedor-mor, que cuidaria das finanças e outros as- dor, tendo sido nomeado para ocupar o cargo de bispo
suntos econômicos. D. Pero Fernandes Sardinha, que posteriormente seria
devorado por índios antropófagos da tribo Caeté.
A agricultura e a pecuária foram incentivadas,
Câmaras municipais uma vez que foram trazidas as primeiras cabeças de
gado bovino de Cabo Verde, bem como foram insta-
As vilas e cidades coloniais eram administradas
lados vários engenhos. Além disso, foram organizadas
pelas câmaras municipais, principais órgãos de po-
expedições para o reconhecimento do território.
der local. As funções das câmaras municipais eram:
O governo estimulou, ainda, a vinda de moças
§§ estabelecer impostos e taxas; órfãs de Portugal com o intuito de constituir famílias
§§ fixar o valor de moedas, salários e produtos; brancas e católicas na Colônia.
§§ decidir sobre as determinações reais; A carência de mulheres brancas era tamanha
§§ criar leis municipais; e que o padre Manoel da Nóbrega escreveu uma carta
§§ aprovar a criação de povoados. ao rei, D. João III: “se El-Rei determina povoar mais esta
As câmaras municipais eram compostas por um terra, é necessária que venham muitas mulheres órfãs e
alcaide (“espécie” de prefeito) dois juízes, um procura- de toda qualidade, até meretrizes, porque há aqui várias
dor, fiscais (almotaceis) e três vereadores. Os componen- qualidades de homens”.
tes das câmaras municipais representavam os interesses Das mulheres enviadas ao Brasil, boa parte eram
da aristocracia rural brasileira e eram denominados de órfãs abandonadas nas rodas dos conventos quando
“homens bons”. Esses eram membros da elite que ainda eram bebês.
detinham projeção social, grandes comerciantes, pro-

134
Duarte da Costa (1553-1558)
O segundo Governo-Geral desem-
barcou no Brasil acompanhado de um novo
grupo de jesuítas, dentre os quais o padre José
de Anchieta, que, juntamente com Manuel da
Nóbrega, fundou, em 1554, o colégio de São
Paulo de Piratininga, origem do povoado que
se transformaria na cidade de São Paulo.
O governo foi marcado ainda por fatos
negativos, como a briga de Duarte da Costa
com o Bispo Sardinha, provocada pelo mau
comportamento do filho do governador, que
promovia arruaças e desrespeitava as moças.
Um fato marcante desse governo foi
Divulgação

a instalação dos franceses no Rio de Janei-


ro. A invasão, em 1555, estava vinculada aos
problemas enfrentados pelos franceses na ex-
Mapa francês da baía de Guanabara, 1555
tração do pau-brasil, ao norte da costa, por
causa do maior policiamento. Além disso, pro-
blemas internos na França colaboraram para a formação de um núcleo colonial no Brasil, a França Antártica. Isso
aliviaria as tensões político-religiosas iniciadas pelo crescimento dos huguenotes (calvinistas franceses) e atenderia
aos interesses mercantilistas da Coroa francesa. Chefiados por Durand Villegaignon e protegidos militarmente por
Gaspar de Coligny, os franceses instalaram-se na baía da Guanabara, fundando o forte Coligny.

Mem de Sá (1558-1572)
Homem letrado, habilidoso e que havia recebido o título de Conselheiro do rei, o terceiro Governador-
-Geral se destacava por sua competência, o que o manteve por bem mais tempo que seus antecessores no cargo.
Mem de Sá foi responsável direto pelo crescimento da produção agrícola ao estimular a construção de
engenhos a importação de escravos africanos e, ainda, o desenvolvimento da pecuária.
A partir de 1560, iniciou a luta contra os franceses, que contavam com o apoio dos índios tamoios (Con-
federação dos Tamoios), inimigos dos tupis, aliados lusos.
Para auxiliar na luta contra os franceses da França Antártica, foi fundado pelo sobrinho do governador,
Estácio de Sá, o Forte de São Sebastião do Rio de Janeiro, que seria o núcleo inicial da cidade do Rio de Janeiro,
em 1565. Dois anos depois, os franceses foram expulsos da região e a França Antártica foi destruída, frustrando
momentaneamente o desejo francês de ter uma Colônia na América.
Nomeado como quarto Governador-Geral, D. Luís de Vasconcelos não chegou ao Brasil, pois sua esquadra
foi destroçada por corsários franceses. Também morreram nessa ocasião quarenta jesuítas que acompanhavam o
governador. Ficaram conhecidos na história como os Quarenta Mártires do Brasil.
Em 1573, o Brasil foi dividido em dois governos: o do norte, com capital em Salvador e governado por Luís
de Brito Almeida, e o do sul, com capital no Rio de Janeiro e governado por Antônio Salema.
Mais tarde, Luís de Brito Almeida ficou só no poder, mas logo foi substituído por Lourenço da Veiga. Gover-
nava Lourenço da Veiga quando, em 1580, Portugal e sua colônia passaram para o domínio espanhol, na chamada

135
União Ibérica. Entre os anos de 1621 e 1775 houve uma nova divisão: Estado do Brasil (capital Salvador até 1763
e depois Rio de Janeiro) e Estado do Maranhão/Grão-Pará (capital São Luís até 1737 e depois Belém).

Equador

Repatirção São José do Rio Negro


Belém
(Manaus)
do Norte São Luís
ESTADO DO
GRÃO-PARÁ

Salvador ESTADO DO
BRASIL
Vila Real Salvador
(Cuiabá) (capital até 1763)
Vila Boa
Porto Seguro

Sabará
Repatirção Vila Rica (Ouro Preto) Vitória
São João del Rei
do Sul São Paulo
560 km Rio de Janeiro
(capital a partir de 1763)
Curitiba São Vicente
Tratado de Tordesilhas, 1494
Rio de Janeiro 2
3
Tratado de Utrecht, 1713-15
Tratado de Madri, 1750 2 Vila do Desterro
4 Tratado de Santo Idelfonso, 1777 4
5 Tratado de Badajós, 1801
5 Porto Alegre
Área disputada por Portugal e Espanha 3
OCEANO
Áreas em litígio com os países
Vila de São Pedro
ATLÂNTICO
vizinhos no decorrer do séc. XIX
Colônia do Sacramento

Invasões francesas (séculos XVI e XVII)


A divisão do Novo Mundo entre Portugal e Espanha, a partir do Tratado de Tordesilhas, desagradou outras
nações, como França, Inglaterra e Países Baixos, que, por terem se atrasado no processo de expansão marítima,
foram marginalizadas na divisão das terras americanas.
Ainda no século XVI, corsários de origem francesa e inglesa atacavam constantemente a costa brasileira em
busca de pau-brasil e outras riquezas que viessem a ser encontradas nas novas terras recém-descobertas.

França Antártica (1555-1567)


A França tinha interesses nas Américas e não reconhecia a divi-
Divulgação

são entre Portugal e Espanha. Inicialmente, corsários franceses, com o


apoio do Estado, praticavam a pirataria na costa brasileira, praticando
escambo com os índios e explorando o pau-brasil, papagaios e algodão
nativo.
Ainda no século XVI, os franceses decidiram fundar uma colô-
nia na América, motivada por dois fatores fundamentais: o desejo de
ter uma colônia na América; e também em virtude dos conflitos po-
lítico-religiosos entre católicos e huguenotes (calvinistas franceses),
resultantes do processo da Reforma Protestante. Para os calvinistas,
essa colônia seria uma área onde poderiam viver livres das persegui-
ções movidas pelo Estado, podendo praticar seu culto com segurança
Nicolas Durand de Villegagnon
e estabilidade.
O comando da esquadra foi entregue a Nicolas Durand de Villegaignon, que a liderou pessoalmente na
ocupação da baía de Guanabara, em 1555. Dali tomaram outras ilhas, recebendo reforços da França e também dos
índios tamoios, com os quais se aliaram.

136
A luta pela expulsão dos franceses da baía de Guanabara foi conduzida por Mem de Sá, o terceiro Gover-
nador-Geral do Brasil, e por seu sobrinho, Estácio de Sá. Este fundou o Forte de São Sebastião do Rio de Janeiro
(1565), que viria a ser o núcleo inicial da cidade do Rio de Janeiro, com o intuito de servir de base na luta contra
os invasores.
Estácio de Sá contou com a ajuda de habitantes da vila de São Vicente e dos índios termininós (tupis) do
Espírito Santo, chefiados pelo cacique Arariboia. Além disso, após meses de negociação, os padres Manuel da Nó-
brega e José de Anchieta conseguiram convencer os índios tamoios a retirar seu apoio aos franceses. Dessa forma,
os franceses foram expulsos da baía de Guanabara em 1567.

França Equinocial (1612-1615)


Expulsos do Rio de Janeiro, os franceses buscaram outra área para ocupar na América do Sul. A região es-
colhida foi o território do atual Estado do Maranhão.
Daniel de La Touche invadiu a região, fundando o Forte de São Luís, em homenagem a Luís IX, patrono
da França, e ao rei francês à época, Luís XIII.
A luta contra os franceses no Maranhão foi liderada por Jerônimo de Albuquerque e Diogo de Campos, que
partiram de Pernambuco.
Sem condição de resistir na região, os franceses foram expulsos definitivamente em 1615. O Forte de São Luís
foi tomado pelos luso-espanhóis e dali se originou, mais tarde, a cidade de São Luís, capital do Maranhão.
Derrotados em 1615, os invasores se retiraram para a França, onde seu rei Luís XIII acabara de se casar
com a filha de Felipe III da Espanha, o que selava a paz entre as duas nações e encerrava a luta pela instauração
da França Equinocial.

Conselho Ultramarino
Após a restauração do trono português, em 1640, quando D. João IV se tornou rei, pondo fim a União Ibéri-
ca, foi criado o Conselho Ultramarino, regulamentado em 1642. O novo órgão nasceu subordinado à Secretaria de
Estado dos Negócios da Marinha e Domínios Ultramarinos e estava encarregado exclusivamente da administração
colonial, sendo um passo decisivo para a centralização administrativa colonial, concluindo o processo iniciado em
1548 com a instalação do Governo-Geral.
Com o Conselho Ultramarino,
os poderes dos donatários, que já ha- Rei Estado Metropolitano
viam sido limitados com a criação do
Governo-Geral, diminuíram sensivel-
mente, ficando praticamente limitados
aos direitos tributários que estabele- Governador-geral Poder Central
ciam os forais. Significativamente, os
Governadores-Gerais começaram a
Colônia

ser chamados de vice-reis, embora tal


denominação só se oficializasse poste-
Donatário Poder Regional
riormente no Brasil.

Câmara Municipal Poder Local

137
INTERATIVI
A DADE

ASSISTIR

Vídeo Colonizado

Fonte: Youtube

Vídeo Descobrimento

Fonte: Youtube

138
ASSISTIR

Filme Desmundo.

Uma órfã enfrenta inúmeras dificuldades, após ser enviada ao Novo


Mundo pela rainha de Portugal com o propósito de se casar com um
colono.

Filme Vermelho Brasil

Em meados de 1550, o francês Nicolas Durand de Villegaignon lidera


uma expedição ao sul. Chega ao Brasil determinado a exterminar os
índios, expulsar os portugueses e transformar a colônia em França
Antártica.

Filme Como era gostoso o meu francês

No Brasil de 1594, um aventureiro francês fica prisioneiro dos


tupinambás. Enquanto aguarda para ser executado, o estrangeiro
aprende os hábitos dos índios e se une a uma selvagem, que tenta
ajudá-lo a fugir.

Filme Hans Staden

Hans Staden é um imigrante alemão que naufragou no litoral de


Santa Catarina. Dois anos depois, chegou a São Vicente, concentração
da colônia portuguesa, onde trabalhou, visando juntar dinheiro para
retornar à Europa.

139
INTERATIVI
A DADE

ASSISTIR

Filme A árvore da música

Árvore típica do País, o pau-brasil é vital na fabricação de instrumentos


musicais de qualidade diferenciada. Não fosse sua madeira, Mozart
talvez não tivesse sido o prodígio que foi.

Filme Caramuru – A invenção Do Brasil

O jovem português Diogo Álvares é salvo de um naufrágio pelo


cacique Itaparica. Em terras brasileiras, ele passa a ser chamado de
Caramuru e vive um harmônico triângulo amoroso com as duas filhas
do cacique.

Filme Anchieta, José do Brasil

O padre José de Anchieta (Ney Latorraca) chega ao Brasil em


1553 e logo aprende a língua dos índios tupis. Ele elabora
uma gramática, observa os costumes e classifica a flora local,
evitando atritos com os colonos.

Vídeo A Muralha

A trama acontece por volta de 1600 e explora a saga dos


bandeirantes rumo ao interior do território brasileiro. As disputas
por novas terras e riquezas eram inevitáveis. A luta dos jesuítas,
que protegiam os índios da escravidão, também.

140
ACESSAR

Sites Brasil colonial

www.estadao.com.br/noticias/geral,pau-brasil-sem-essa-madeira-nao-se-faz-boa-
musica,455603
brasilescola.uol.com.br/historiab/invasoes-francesas-no-brasil-colonial.htm

LER

tt
Livros

Naúfragos, traficantes e degredados – Eduardo Bueno

Eduardo Bueno fez uma pesquisa minuciosa em documentos de


época, como os diários de bordo, relatos de viagem e fragmentos
de cartas, para reconstituir com precisão e vivacidade a incrível saga
enfrentada pelos primeiros homens brancos que viveram no País.

Capitães do Brasil – Eduardo Bueno

Este livro narra a surpreendente saga dos capitães do Brasil no


período de 1530 a 1550, revelando os jogos de poder, a ambição
e o projeto da Coroa portuguesa para a colônia do outro lado do
Atlântico, virtualmente abandonada desde a expedição de Cabral.

A coroa, a cruz e a espada – Eduardo Bueno

A cidade – erguida em regime de empreitada, com licitações fraudadas


e obras superfaturadas – de fato foi construída. Mas a lei e a ordem
não fixaram residência ali. Pelo contrário: a desordem e a ilegalidade se
tornaram a regra, não a exceção. Com a substituição do rígido Tomé de
Sousa pelo corrupto Duarte da Costa, o que já estava ruim ficou pior.

141
INTERATIVI
A DADE

LER

tt
Livros

Hans Staden

Novais intitulado ‘O Brasil de Hans Staden’. Este texto proporciona


uma preciosa contribuição ao conhecimento e aos olhares sobre
o primeiro século do país, enriquecendo a leitura de Staden com
importantes informações e reflexões.

A História do Brasil Em 50 Frases - Jaime Klintowitz


Quais os rostos, nomes, inspirações e histórias da nossa história? Um
ângulo surpreendente para observar o nosso país. Um passeio pela
ironia da linguagem, pela diversidade política e pelas descobertas de
nossa literatura.

OUVIR
Músicas
– Índios – Legião Urbana
– Cara de Índio – Djavan
– Todo dia era dia de Índio – Baby do Brasil
– Brasil 1500 – Manduka
– Eu sou Índio, eu Também sou Imortal –
Vila Isabel (samba-enredo 2000)

142
INTERDISCIPLINARIDADE

O extrativismo vegetal e os seus efeitos nocivos ao habitat nativo do Brasil, com a exploração de toneladas
de madeira (principalmente o pau-brasil), sem nenhum cuidado referente a sua preservação, levou a uma grande
diminuição da mata nativa da costa brasileira (Mata Atlântica), além da extinção de inúmeras espécies vegetais e
animais.

143
CONSTRUÇÃO DE HABILIDADES

Habilidade 4 - Comparar pontos de vista expressos em diferentes fontes sobre determinado


aspecto da cultura.

Cada vez mais o Enem lança mão de questões com fragmentos de textos acadêmicos ou
de relatos históricos. A Habilidade 4 se insere nessa perspectiva, exigindo a comparação
entre os textos fornecidos. O candidato deverá se preocupar em aguçar sua capacidade
de leitura e compreensão, pois, na maioria dos casos, a resposta do exercício está contida
explícita ou implicitamente nos textos fornecidos.
Para os estudantes de ciências humanas, conseguir relacionar pontos de vista, premissas
ideológicas e registros documentais criticamente é uma tarefa indispensável, exigida a
todos os candidatos no Enem.

Modelo
(Enem)
Texto I
Documentos do século XVI algumas vezes se referem aos habitantes indígenas como “os brasis”,
ou “gente brasília” e, ocasionalmente no século XVII, o termo “brasileiro” era a eles aplicado, mas
as referências ao status econômico e jurídico desses eram muito mais populares. Assim, os termos
“negro da terra” e “índios” eram utilizados com mais frequência do que qualquer outro.
SCHWARTZ, S. B. Gente da terra braziliense da nação. Pensando o Brasil: a construção de um povo. In: MOTA, C.
G. (Org.). Viagem Incompleta: a experiência brasileira (1500-2000). São Paulo: Senac, 2000 (adaptado).

Texto II
Índio é um conceito construído no processo de conquista da América pelos europeus. Desinteres-
sados pela diversidade cultural, imbuídos de forte preconceito para com o outro, o indivíduo de
outras culturas, espanhóis, portugueses, franceses e anglo-saxões terminaram por denominar da
mesma forma povos tão díspares quanto os tupinambás e os astecas.
SILVA, K. V.; SILVA, M. H. Dicionário de conceitos históricos. São Paulo: Contexto, 2005.

Ao comparar os textos, as formas de designação dos grupos nativos pelos europeus, durante o pe-
ríodo analisado, são reveladoras da
a) concepção idealizada do território, entendido como geograficamente indiferenciado.
b) percepção corrente de uma ancestralidade comum às populações ameríndias.
c) compreensão etnocêntrica acerca das populações dos territórios conquistados.
d) transposição direta das categorias originadas no imaginário medieval.
e) visão utópica configurada a partir de fantasias de riqueza.

144
Análise Expositiva

Habilidade 4
Ao desprezarem a diversidade cultural indígena, os europeus que chegaram ao continente
americano demonstram seu etnocentrismo, que se manifesta tanto na linguagem que utili-
zam, quanto nas atitudes que tomam nesses novos territórios.
Alternativa C

Estrutura Conceitual
1 Período Pré-Colonial (1500-1530)
Exploração do Pau-brasil exploração predatória
mão de obra livre
escambo
feitorias
coroa fica com 1/5 do lucro (quinto)

2 Brasil no início da colonização (1530-1580)

Expedição colonizadora de Martim Afonso de Souza


São Vicente (1532)

Administração Colonial

Capitanias Hereditárias Carta de Doação e Foral Donatários


(distribuição pelos colonos,
nomeação de autoridades, etc.)
Apenas duas Fracasso
obtiveram sucesso:
Falta de recursos
São Vicente e Pernambuco
Dificuldade de comunicação
Ataques
Descentralização política e administrativa

Governador Geral (1548) representantes do rei


centralizar a administração colonial

145
Câmaras Municipais órgãos de poder local
fixar valor de moedas
criar leis municipais
“homens bons” (elite)
estabelecer impostos
ocupantes da câmara
aprovar criação de povoados
decidir sobre determinações reais

3 Invasões Francesas (séc. XVI e XVII)

Ataques constantes à costa brasileira


em busca de pau-brasil

França Antártica França Equinocial


(1555 - 1567) (1612 - 1615)
Rio de Janeiro e arredores Maranhão

4 Conselho Ultramarino (1642)

Características e Funções Centralização da


Administração Colonial
Subjugado à Secretaria de Estado
dos Negócios da Marinha e Domínios
Ultramarinos
Limita o poder dos donatários

146
7
0 80 Economia colonial,
sociedade e invasões
holandesas
Competências Habilidades
1, 2, 3, 4 e 5 3, 5, 7, 8, 9, 13,
15, 18 e 23
Disponível em: <http://www.estudokids.com.br>

C H
HISTÓRIA
Competência 1 – Compreender os elementos culturais que constituem as identidades.
H1 Interpretar historicamente e/ou geograficamente fontes documentais acerca de aspectos da cultura.
H2 Analisar a produção da memória pelas sociedades humanas.
H3 Associar as manifestações culturais do presente aos seus processos históricos
H4 Comparar pontos de vista expressos em diferentes fontes sobre determinado aspecto da cultura.
H5 Identificar as manifestações ou representações da diversidade do patrimônio cultural e artístico em diferentes sociedades.
Competência 2 – Compreender as transformações dos espaços geográficos como produto das relações socioeconômicas e culturais de
poder.
H6 Interpretar diferentes representações gráficas e cartográficas dos espaços geográficos.
H7 Identificar os significados histórico-geográficos das relações de poder entre as nações.
H8 Analisar a ação dos estados nacionais no que se refere à dinâmica dos fluxos populacionais e no enfrentamento de problemas de ordem econômico-social.
H9 Comparar o significado histórico-geográfico das organizações políticas e socioeconômicas em escala local, regional ou mundial
Reconhecer a dinâmica da organização dos movimentos sociais e a importância da participação da coletividade na transformação da realidade
H10
histórico-geográfica.
Competência 3 – Compreender a produção e o papel histórico das instituições sociais, políticas e econômicas, associando-as aos diferentes
grupos, conflitos e movimentos sociais.
H11 Identificar registros de práticas de grupos sociais no tempo e no espaço.
H12 Analisar o papel da justiça como instituição na organização das sociedades.
H13 Analisar a atuação dos movimentos sociais que contribuíram para mudanças ou rupturas em processos de disputa pelo poder.
Comparar diferentes pontos de vista, presentes em textos analíticos e interpretativos, sobre situação ou fatos de natureza histórico-geográfica acerca
H14
das instituições sociais, políticas e econômicas.
H15 Avaliar criticamente conflitos culturais, sociais, políticos, econômicos ou ambientais ao longo da história.
Competência 4 – Entender as transformações técnicas e tecnológicas e seu impacto nos processos de produção, no desenvolvimento do
conhecimento e na vida social.
H16 Identificar registros sobre o papel das técnicas e tecnologias na organização do trabalho e/ou da vida social.
H17 Analisar fatores que explicam o impacto das novas tecnologias no processo de territorialização da produção.
H18 Analisar diferentes processos de produção ou circulação de riquezas e suas implicações sócio-espaciais.
H19 Reconhecer as transformações técnicas e tecnológicas que determinam as várias formas de uso e apropriação dos espaços rural e urbano.
H20 Selecionar argumentos favoráveis ou contrários às modificações impostas pelas novas tecnologias à vida social e ao mundo do trabalho.
Competência 5 – Utilizar os conhecimentos históricos para compreender e valorizar os fundamentos da cidadania e da democracia, favo-
recendo uma atuação consciente do indivíduo na sociedade.
H21 Identificar o papel dos meios de comunicação na construção da vida social.
H22 Analisar as lutas sociais e conquistas obtidas no que se refere às mudanças nas legislações ou nas políticas públicas.
H23 Analisar a importância dos valores éticos na estruturação política das sociedades.
H24 Relacionar cidadania e democracia na organização das sociedades.
H25 Identificar estratégias que promovam formas de inclusão social.
Competência 6 – Compreender a sociedade e a natureza, reconhecendo suas interações no espaço em diferentes contextos históricos e
geográficos.
H26 Identificar em fontes diversas o processo de ocupação dos meios físicos e as relações da vida humana com a paisagem.
H27 Analisar de maneira crítica as interações da sociedade com o meio físico, levando em consideração aspectos históricos e (ou) geográficos.
H28 Relacionar o uso das tecnologias com os impactos sócio-ambientais em diferentes contextos histórico-geográficos.
H29 Reconhecer a função dos recursos naturais na produção do espaço geográfico, relacionando-os com as mudanças provocadas pelas ações humanas.
H30 Avaliar as relações entre preservação e degradação da vida no planeta nas diferentes escalas.
Mercantilismo e economia colonial
Quando Portugal se decidiu pela colonização do Brasil, não enfrentava uma situação econômica favorável
em virtude, principalmente, da crise do comércio com o Oriente. O Brasil seria, portanto, uma alternativa de acú-
mulo de capitais para o Estado lusitano no contexto da política Mercantilista. Dessa forma, foi implantada uma
colonização de exploração, através da qual as colônias serviriam para o sustento da economia metropolitana, ser-
vindo como áreas produtoras de gêneros tropicais, fornecedoras de metais preciosos e consumidoras de produtos
manufaturados e escravos. A colonização do Brasil deveria garantir o sustento econômico de Portugal, gerando
riquezas e permitindo a ocupação e a defesa da terra, sem gastos para a Metrópole.

Povoamento ou exploração? Eis a questão:


Colônia de povoamento Colônia de exploração
Pequena propriedade familiar Latifúndio
Policultura, artesanato e manufatura Monocultura
Possibilidade ao trabalho livre Predomínio do trabalho escravo
Mercado Interno Exportação
Relativa autonomia econômica e administrativa Submissão ao pacto colonial

A economia colonial agrícola baseada na monocultura, no latifúndio e na escravidão tinha seu funcio-
namento voltado para o mercado externo, transferindo capital da Colônia para a Metrópole, que controlava a
circulação mercantil. A natureza da produção colonial ajustava-se às necessidades do mercado europeu. Assim, a
Colônia era um instrumento de acumulação de capital para os centros dinâmicos da Europa. O eixo central desse
mecanismo era o regime do monopólio colonial. Conhecido como Pacto Colonial ou exclusivo colonial, esse
regime estabelecia a exclusividade do comércio externo da Colônia em favor da Metrópole. Procurava-se sempre,
até onde fosse possível, pagar os menores preços pelos produtos da Colônia, para vendê-los com maior lucro na
Metrópole ou revendê-los para o mercado europeu. Além disso, buscava-se conseguir maiores lucros da venda de
produtos oriundos da Metrópole, sem concorrência na Colônia. Para evitar a concorrência com a Metrópole, foi
vetada a instalação de manufaturas na Colônia. A economia colonial era, portanto, complementar em relação à
economia metropolitana.

Lavoura de cana-de-açúcar (séculos XVI e XVII)


O produto escolhido para dar início à ocupação econômica do Brasil foi a cana-de-açúcar. Essa escolha
não foi por acaso, sendo respaldada por uma série de razões:
§§ O açúcar era um produto altamente lucrativo.
§§ A aceitação do produto no mercado europeu.
§§ A experiência portuguesa na produção de cana na costa africana (Cabo Verde, Madeira, São Tomé).
§§ Solo e clima favoráveis, especialmente o solo de massapé e o clima quente e úmido do Nordeste.
§§ A possibilidade de atrair investimentos externos.
A experiência de Portugal como produtor de açúcar em suas ilhas do Atlântico (Madeira e Cabo Verde) con-
tribuiu para a escolha do produto e a forma de produção: eram semelhantes as condições ecológicas do Brasil e das
ilhas, o açúcar era das especiarias mais bem pagas e apreciadas no mercado europeu. Por seu valor, o açúcar po-
deria atrair investimentos, navios holandeses poderiam colaborar no transporte, os índios poderiam ser obrigados
a trabalhar na lavoura e, se não se adaptassem, havia os africanos, muitos deles já escravizados pelos portugueses.

149
Em 1570, uma Carta Régia autorizava a escraviza-
ção de índios presos em “guerra justa”, isto é, iniciada
Natal
pelos índios ou promovida contra tribos que se negassem
Meridiano de Tordesilhas 66 Paraíba a se submeter aos colonos, ou que recusassem a cateque-
engenhos
o Olinda
cisc
Fra
n Recife se. O rei simplesmente legalizava a escravidão do índio
Porto Calvo
sob pretexto de defendê-lo. Daí por diante, para aprisio-
o

Penedo
Rio 36 Cachoeira nar índios foram organizados as chamadas bandeiras,
engenhos
Salvador
expedições que se tornaram um dos principais fatores da
4 Ilhéus atual extensão do território brasileiro, principalmente na
engenhos

Porto Seguro região mais ao sul do Brasil Colônia (atual Sudeste).


6
engenhos

3
engenhos
Vitória Engenho e organização da produção
Campo dos Goitacás
São Paulo Rio de Janeiro
São Vicente Santos
Os registros da alfândega de Lisboa de 1526
4
engenhos já acusam a entrada de açúcar vindo de Itamaracá,
em Pernambuco. Mas a grande produção só começa
Os engenhos de açúcar no Brasil oficialmente com Martim Afonso de Souza, em 1533,
em São Vicente.
A lavoura açucareira requeria vultosos investi- As principais instalações do engenho são: moen-
mentos iniciais, especialmente para a compra e mon- da, caldeira e casa de purgar. As construções principais
tagem dos equipamentos dos engenhos, para o trans- são a casa-grande, a senzala, as estrebarias e as oficinas.
porte de mudas para o Brasil e a obtenção de mão de Havia dois tipos de engenho: o real, movido por
obra escrava. Como já foi dito anteriormente, Portugal roda-d’água, e o trapiche, movido por tração animal. A
enfrentava dificuldades econômicas, e por isso se asso- unidade produtora da agromanufatura açucareira era o
ciou, em especial, ao capital holandês na montagem engenho, que se constituía basicamente de:
da agromanufatura açucareira. §§ casa-grande: residência, geralmente assobra-
A atividade açucareira no Brasil funcionava da dada, onde viviam o senhor e sua família. Nela
seguinte maneira: os portugueses ficavam responsáveis também moravam os empregados de confiança
pela produção e os holandeses financiavam a monta- (capatazes) que cuidavam de sua segurança. Era
gem dos engenhos, bem como controlavam o transpor- a central administrativa das atividades econômi-
te, o refino e a comercialização do açúcar, obtendo a cas do engenho;
maior porcentagem de lucros. §§ senzala: habitação de um único compartimen-
A primeira grande disponibilidade de terras foi fun- to, rústica e pobre, onde viviam os escravos;
damental para determinar o modelo de colonização. Esse §§ capela: local das cerimônias religiosas;
modelo ficou conhecido como plantation e baseava-se §§ casa do engenho: formada pelas instalações
em três elementos: grande propriedade (latifúndio), destinadas à produção de açúcar, como a mo-
monocultura e trabalho escravo (escravismo). enda (onde se mói a cana para extrair o caldo),
O estabelecimento da agricultura no Brasil, a fornalha (onde se purifica o caldo), a casa de
como em outras áreas tropicais, teve como principal purgar (onde se acaba de purificar o caldo) e os
objetivo cultivar um produto de grande valor comercial galpões (onde o açúcar era armazenado).
e altamente lucrativo. Era uma decorrência natural do
© Henry Koster/Wikimedia Commons

chamado Pacto Colonial, segundo o qual as colônias


só poderiam comerciar com suas metrópoles. Por isso,
todos os esforços deviam concentrar-se na cultura de
um só produto, isto é, na monocultura, sendo esta vol-
tada para exportação. Grandes extensões de terra eram
utilizadas para o plantio da cana e reduzidos espaços
eram destinados a uma agricultura de subsistência. Engenho de açúcar movido a água

150
A escravidão negra e os próprios africanos, que capturavam negros de tri-
bos rivais e trocavam-nos por aguardente, rapadura e
Na lógica mercantilista, o Pacto Colonial fumo trazido do Brasil. Ou seja, a escravidão negra era
menos trabalhosa na aquisição do escravo e muito mais
obrigava a colônia a fornecer e consumir metais
lucrativa para a Coroa.
preciosos e gêneros tropicais baratos para a metró-
pole, além de, manufaturas e escravos. Portanto, en- Durante algum tempo, sustentou-se a ideia da
quanto a escravidão indígena gerava um comércio substituição da escravidão indígena pela negra em vir-
local, a escravidão negra permitia a obtenção de tude da inabilidade do índio para a grande lavoura ou
grandes lucros por parte dos traficantes portugue- por sua incompatibilidade com a escravidão, de acordo
ses, que dominavam áreas fornecedoras de escravos com o mito da “indolência inata do indígena”. Essa
na África, como Angola, Goa, São Tomé e, posterior- justificativa é incorreta, pois tanto o indígena como qual-
mente, Moçambique. quer outro ser humano é inapto à escravidão, inclusive os
Além disso, o papado reconheceu o monopó- negros, que resistiram de várias formas, sempre lutando
lio português no tráfico negreiro, determinando que contra seus opressores.
os negros escravizados fossem batizados e, através do

Negros no fundo do porão de navio. Desenho: Johann Moritz Rugendas, 1835.


trabalho, pudessem salvar suas almas. Muitos clérigos
acreditavam que os negros eram descendentes de
Cam, filho de Nóe, condenado à danação eterna por
desrespeitar o pai. Muitos membros da Igreja Católi-
ca na Europa defendiam que a raça negra deveria ser
escravizada e trabalhar para, assim, tentar redimir sua
“alma amaldiçoada”.

Principais rotas do tráfico

Negros no porão de um navio negreiro, Rugendas, 1835.

A resistência negra podia se dar por meio de fu-


gas indivíduais, fugas coletivas e a formação de quilom-
bos. Ainda havia a prática de aborto, infanticídio, suicí-
dio e o “banzo” (caracterizando por greve de fome e
depressão por conta da privação da liberdade). Menos
comum, mas ocorrente, era o ataque à casa do senhor
e a sua família.
Em 1570, o rei português D. Sebastião proibiu a “O tráfico negreiro provocou um dos maiores
escravidão indígena, sendo a mesma permitida somente deslocamentos populacionais da história da humanida-
no caso de os índios capturados em combate contra os de. O banco de dados coordenado pelo professor David
portugueses nas chamadas “guerras justas”. Eltis, da Universidade de Emory, nos Estados Unidos,
Outro motivo que favoreceu a substituição da es- mostra que, entre os séculos XVI e XIX, mais de 12,5
cravidão negra pela indígena foi a questão da obtenção milhões de africanos foram escravizados e exportados
de peças (escravos). Os índios brasileiros eram nômades para a América, Europa e algumas ilhas do Oceano
e seminômades e, portanto, migravam constantemente. Atlântico. Desses, cerca de 10,7 milhões chegaram vivos
Além disso, a extensão do território era outro fator que ao fim da travessia.“
dificultava a captura de índios. Já os negros eram obti- A Diáspora Negra. Revista História Viva, ano VI, n. 66.

dos na África por meio de escambos entre os traficantes

151
A sociedade dos engenhos
Outras atividades econômicas
A sociedade colonial foi essencialmente:
§§ rural – porque a vida econômica baseava-se na O principal produto produzido no território bra-
agricultura. A vida urbana ainda era muito inci- sileiro e destaque na economia colonial nos séculos XVI
piente, com a quase totalidade da população ha- e XVII foi a de cana-de-açúcar. Todavia, essa não seria
bitando o campo. As vilas e cidades eram pouco suficiente para garantir a colonização e ocupação de
habitadas e eram em sua maioria litorâneas; todo o território; assim, outras atividades econômicas
§§ aristocrática – porque dominada pelos ricos surgiram e desenvolveram-se ao longo dos séculos de
proprietários de terras e de escravos. Os senhores colonização brasileira, sendo responsáveis principais
de engenho formavam uma aristocracia de ri- pela ocupação e expansão de nosso território.
queza e poder, mas não uma nobreza hereditária
como a que existia na Europa; Pecuária no Nordeste
§§ patriarcal – porque o proprietário rural e pai de
família, ao considerar-se responsável pelo provi- O gado bovino não era nativo do Brasil, tendo sido
mento material do lar, impôs a obrigação de ser introduzidas as primeiras cabeças pelo governador Tomé
respeitado e obedecido no âmbito familiar. Esse de Souza, sendo esse gado originário, principalmente, de
poder sobre a família era estendido à sociedade, Cabo Verde. Inicialmente, a criação de gado serviu de ati-
já que, como dono das riquezas materiais (terra, vidade complementar ou acessória à lavoura de cana-de-
lavoura, gado, escravos, engenho etc.), o senhor -açúcar como fonte de alimento, tração para os engenhos
considerava toda a população não proprietária de trapiche, meio de transporte e fornecedor do couro
dependente dele; utilizado na fabricação de calçados, cintos, celas, chicotes,
§§ escravista – porque a força de trabalho basea- utensílios domésticos e também para exportação.
va-se na escravidão do índio ou do negro. As re- Muito adaptada à realidade climática e pedoló-
lações escravistas não se resumiam a um vínculo gica do Nordeste, a atividade criatória se desenvolveu e
direto entre senhor e escravo. Existiam escravos cresceu, passando a ocupar um espaço economicamen-
alugados para a prestação de serviços a tercei- te mais viável do que o ocupado com a lavoura de cana.
ros (“escravos de ganho”). Quanto aos escra- Em virtude disso, a pecuária começou a ser “empurra-
vos domésticos, tinham grande participação na da” na direção do interior da região Nordeste.
vida social da Colônia, pois seu contato com os
Principal responsável pela ocupação econômica
brancos da casa grande era mais intenso. Via de
do interior nordestino, já a partir do século XVI, a pecu-
regra, eram criados de quarto, amas, mucamas,
ária se desenvolveu acompanhando o leito de grandes
cozinheiras e costureiras;
rios, caminhos naturais de penetração, especialmente o
§§ sem mobilidade social – porque não havia
rio São Francisco, conhecido como “rio dos currais”.
oportunidade para trabalhadores e escravos sa-
A pecuária nordestina era predominantemente
írem dessa condição e ascenderem socialmente;
extensiva, sendo o gado criado solto, alimentando-se
§§ inculta – pois mesmo os membros da elite só
de pastagem natural. Como o gado vivia solto, não fazia
recebiam o ensino das “letras básicas”, nor-
sentido a utilização de mão de obra escrava, pois esta
malmente adquiridos pelos ensinamentos dos
era muito cara para a realidade da pecuária.
jesuítas e que não passavam do aprender a ler,
Essa atividade utilizava mão de obra predomi-
escrever e contar de modo primário.
nantemente livre, sendo os vaqueiros, em geral, mesti-
ços e brancos pobres que normalmente não recebiam
salários, e sim um rendimento relacionado à reprodução
dos animais, através do sistema de “quartiado”, ou seja,
a cada quatro reses que nasciam, uma era do vaqueiro.

152
No século XVIII, com o desenvolvimento da região Sudeste em virtude da mineração, o Nordeste passou a
fornecer gado para a região. Inicialmente, o gado se autotransportava, o que fazia com que as reses emagrecessem
e até morressem durante a viagem. Para evitar prejuízos, os nordestinos passaram a utilizar uma técnica aprendida
com os índios, que consistia em salgar a carne e colocá-la para secar ao sol, processo conhecido como charquea-
da. A partir daí, as fazendas mais próximas do litoral passaram a se destacar em virtude da maior facilidade para
obtenção de sal e da proximidade com os portos que escoariam a produção.
Ainda no século XVIII, a técnica do charque foi levada para a região Sul, que oferecia melhores condições para
a criação de gado, e tornou-se uma grande concorrente para o charque nordestino, contribuindo para sua decadência.

Mapa econômico do Brasil (século XVIII)

Disponível em: <http://cafehistoria.ning.com/photo/mapa-historico-brasil-7?context=latest>. Acesso em: 23 dez. 2015.

Pecuária na região Sul


A ocupação da região Sul teve início com a fundação das Missões Jesuíticas de Itatim e Guairá, nas quais
índios aldeados criavam gado bovino e plantavam erva-mate.
Durante a União Ibérica (1580-1640), os holandeses ocuparam as capitais produtoras de cana no Nordeste,
com destaque para Pernambuco (1630-1654), e também áreas fornecedoras de escravos na costa africana. O re-
sultado foi a queda no tráfico negreiro para as outras regiões do Brasil, o que favoreceu a atuação de bandeirantes
que capturavam índios para vender como escravos. Os bandeirantes passaram a atacar e destruir as missões da
região Sul, o que levou o gado a ficar solto, vagando e reproduzindo-se na região.
Interessado no comércio com a região da Bacia Platina, Portugal fundou, em 1680, a Colônia do Sacramen-
to, próxima a Buenos Aires, região que, segundo o Tratado de Tordesilhas, pertencia à Espanha. Em 1682, jesuítas
espanhóis fundaram os Sete Povos das Missões, no atual Rio Grande do Sul, onde passaram a criar o gado captu-
rado pelos índios.

153
No final do século XVII, a cana-de-açúcar entrou em declínio e, no início do século XVIII, foram descobertas
as primeiras jazidas te minério na região de Minas Gerais. O aumento populacional e o desenvolvimento econômico
na região permitiram a formação de um grade mercado consumidor para o gado, que fornecia carne, leite e couro.
O clima e a vegetação favoreciam a atividade criatória e o desenvolvimento de grandes fazendas conhecidas como
estâncias, principais fornecedoras de charque para a região das minas.

Tabaco
A principal área produtora de tabaco no período colonial foi a região do Recôncavo Baiano. O fumo era
largamente consumido na Europa, e também era utilizado, juntamente com a aguardente e a rapadura, no escam-
bo com aldeias africanas, que os trocavam por escravos. O período de maior crescimento do comércio do tabaco é
o século XVII, que se apresenta como a fase de maior intensidade do tráfico negreiro em todo o período colonial.
A produção de tabaco só entrou em declínio na segunda metade do século XIX, já no Segundo Reinado
(1840-1889), em virtude da lei Eusébio de Queiros, de 1850, que proibia o tráfico internacional de escravos afri-
canos para o Brasil.

Drogas do sertão
Os vários produtos encontrados e coletados no interior, destacadamente na foz do rio Amazonas, eram co-
nhecidos como drogas do sertão. Dentre essas, podemos destacar as ervas aromáticas, e as plantas medicinais,
como boldo, cacau, canela, cravo, baunilha, castanha e guaraná, que tinham grande valor comercial na Europa, o
que provocava constantes incursões de piratas ingleses, franceses e holandeses na região.
Tais produtos só não representaram maior impacto na economia colonial devido à distância do litoral, já
que seriam comercializados com o mercado europeu, e aos embates com nativos não amistosos, que viviam na
região amazônica.

Algodão
O algodão servia como matéria-prima para a indústria têxtil inglesa, que era a maior consumidora do
produto. A principal área produtora de algodão do mundo era a região Sul das Treze Colônias inglesas na América
do Norte. Em virtude da crise da cotonicultura norte-americana, provocada pela Guerra de Independência dos EUA,
entre 1776 e 1783, a Inglaterra veio a consumir o algodão produzido no Brasil.
No século XVIII, a principal área de produção de algodão no Brasil Colonial e que teve um grande cresci-
mento na produção era a região do Maranhão. Ali se desenvolveu uma grande lavoura monocultora e escravista,
o que atraiu grande quantidade de negros para a região, motivo pelo qual se afirma que o algodão enegreceu o
Maranhão.
O algodão maranhense voltaria a ser muito importante para a Inglaterra no século XIX devido à Guerra de
Secessão (1861-1865), pois o Sul dos EUA ficara destruído, arrasando a cotonicultura local.

Invasões holandesas (século XVII)


União Ibérica (1580-1640)
Antes de estudar as invasões holandesas – as mais importantes pelo tempo de permanência em nosso terri-
tório e pela área abrangida –, é necessário examinar a União Ibérica, unificação de Portugal e Espanha no período
de 1580 a 1640. Essa unificação está intimamente ligada à vinda dos holandeses para o Brasil. Em 1578, ocupa-

154
va o trono português D. Sebastião, que viria a ser o de lutas para preservar sua liberdade diante do pode-
último monarca da Dinastia de Avis. As dificuldades rio espanhol. Visando prejudicá-los, Felipe II decretou
socioeconômicas e o espírito cruzadista levaram-no a o fechamento dos portos do Brasil, de Portugal e de
lutar contra os mouros no norte da África. qualquer domínio espanhol aos navios e comerciantes
flamengos. Os prejuízos dos holandeses foram muito
grandes, uma vez que haviam financiado a produção

© Cristóvão de Morais/Wikimedia Commons


do açúcar brasileiro, esperando distribuí-lo na Europa.

© Alonso Sánchez Coello/Wikimedia Commons


190

D. Sebastião, “o Desejado”

Durante a batalha de Alcácer-Quibir D. Se-


bastião desaparece, não deixando herdeiros. O velho
cardeal D. Henrique, único sobrevivente masculino da
linhagem de Avis, assumiu a regência enquanto não
se solucionava o problema da sucessão. Em 1580, o Felipe II
cardeal-regente morreu. Felipe II, rei da Espanha, neto
de D. Manuel, o Venturoso (o mesmo que organizara a Sendo a detentora da redistribuição desses pro-
esquadra de Pedro Álvares Cabral), achou-se no direito dutos para o norte da Europa e Mediterrâneo, a Holan-
de ocupar o trono português. da não teve outra alternativa senão lançar-se em busca
Reuniu suas tropas e invadiu Portugal, sendo daquelas mercadorias nas áreas produtoras. Assim, já
apoiado inclusive por uma parcela da classe dominante nos últimos anos do século XVI, os holandeses tinham
portuguesa, que via na união a possibilidade de esten- atingindo o Oriente pela rota do Cabo, e, em 1602, fun-
der o tráfico de escravos para a América espanhola. daram a Companhia das Índias Orientais, que rece-
Portugal ficou submetido à Espanha durante 60 beu o monopólio do comércio oriental, compreendido
anos. Consequentemente, nesse período o Brasil tam- entre o Cabo da Boa Esperança e o Estreito de Maga-
bém passou para o domínio espanhol, sofrendo altera- lhães por todo o Índico e o Pacífico. Paulatinamente, a
ções na sua estrutura interna e no seu relacionamento partir desse instante, a hegemonia holandesa se firmou
internacional. no Oriente, à custa do recuo dos portugueses que, sem
Quando da união das Coroas Ibéricas, em 1580, autonomia, dependiam de ações espanholas na região.
Portugal viu-se envolvido pelas rivalidades espanholas, A luta entre Espanha e Holanda impediu, tam-
sobretudo com relação à Holanda. Em 1581, a Holanda bém, que essa última se abastecesse de produtos ame-
proclamava sua independência do Império Espanhol. ricanos como o açúcar e o tabaco. Os holandeses fun-
daram, então, a Companhia das Índias Ocidentais,
Rebelados desde 1567 contra os altos impostos e a
também conhecida pela sigla em inglês WIC (West In-
repressão religiosa do católico Felipe II contra o calvi-
nismo, os holandeses tiveram de sustentar longos anos dian Company), monopolizando comércio no Atlântico.

155
Invasão holandesa na Bahia (1624-1625)
Para os holandeses, conquistar o Nordeste brasileiro significava assegurar o controle da produção açucarei-
ra, manter o funcionamento da economia metropolitana e opor-se com eficácia ao embargo espanhol.
A Companhia das Índias Ocidentais planejou a conquista da Bahia. Atacadas de surpresa, as forças luso-
-brasileiras, comandadas pelo bispo D. Marcos Teixeira e pelo governador Mendonça Furtado, foram forçadas a
uma rápida rendição, em maio de 1624. O bispo escapou e refugiou-se no Arraial do Espírito Santo, nos arredores
de Salvador, de onde iniciou a resistência, apoiado pelo governador de Pernambuco, Matias de Albuquerque.

Segunda invasão holandesa (1630-1654)

São Luís
PA
Fortaleza
Oceano
Atlântico

CEARÁ
Natal
MARANHÃO RIO GRANDE
DO NORTE João Pessoa
(Filipéia)
Igaraçu
PARAÍBA
PIAUÍ Olinda
Recife
PERNAMBUCO
Porto Calvo
ALAGOAS
Maceió (Alagoas)
SERGIPE Penedo
TO

São Cristóvão Oceano


Atlântico
BAHIA

0 155 310 km

GO

Territórios ocupados pelos holandeses


Disponível em: <http://www.wikiwand.com/es/Felipe_II_de_Espa%C3%B1a>. Acesso em: 23 dez. 2015.

Embora tivessem obtido com certa facilidade a rendição luso-brasileira, Jacob Willekens e Johan van Dorth, os
comandantes das forças holandesas, não conseguiram consolidar a conquista. Faltou-lhes maior apoio da Holanda
que, envolvida na Guerra dos Trinta Anos, contra a Espanha, não enviou reforços, suprimentos, armas e munições.
A ocupação holandesa ficou ameaçada e não resistiu aos frequentes ataques de grupos de guerrilheiros
sediados no Arraial do Espírito Santo. Cercados por terra pela guerrilha e atacados por mar pela esquadra luso-
-espanhola, a Jornada dos Vassalos, comandada por Fradique de Toledo Osório, fez os holandeses capitularem,
em maio de 1625, sendo expulsos da Bahia.

Invasão holandesa em Pernambuco (1630-1654)


Após o fracasso da invasão a Salvador, os holandeses atacaram novamente o território brasileiro. Dessa vez
o alvo foi a Capitania de Pernambuco, a maior produtora de cana-de-açúcar, que, além de mais próxima da Europa,
tinha uma defesa menos eficiente que a da Bahia.
Os flamengos não encontraram dificuldade para ocupar Olinda. A resistência foi organizada pelo Gover-
nador-Geral Matias de Albuquerque e, por meio de guerrilhas, dificultava a conquista definitiva da região pelos
flamengos.

156
O conflito era prejudicial para holandeses e co- judaísmo etc.) foram toleradas pelo governo de
lonos. Os primeiros gastavam grande quantidade de Nassau. Deve-se notar, entretanto, que a religião
recursos no conflito, bem como acumulavam sérios oficial era o protestantismo calvinista, sendo, por
prejuízos com a crise da lavoura açucareira, pois não isso, a mais defendida e difundida.
podiam comercializar açúcar. Já os colonos se encon- §§ Obras urbanas – remodelação da cidade do
travam em dificuldade por não poderem comercializar Recife, onde se construíram pontes e obras sani-
sua produção. tárias e criou-se a cidade de Maurícia, hoje bair-
Os invasores contaram, ainda, com o apoio de ro da capital pernambucana.
Domingos Fernandes Calabar, profundo conhecedor da §§ Vida cultural – o governo de Nassau promo-
região e que os auxiliou em várias batalhas, inclusive veu a vinda para o Brasil de artistas, médicos,
na conquista do Arraial do Bom Jesus, que consolidou a astrônomos, naturalistas. Entre os pintores, esta-
conquista holandesa na região. va Franz Post, famoso autor de diversos quadros
Vale lembrar que a invasão batava no Brasil foi inspirados nas paisagens brasileiras. No setor
realizada por uma companhia privada (uma empresa), e científico, destaca-se Jorge Marcgrave, um dos
apesar de atuar de acordo com os interesses do gover- primeiros a estudar nossa natureza, e Willen
no holandês, foi um raro caso de ataque a um Estado
Piso, médico que pesquisou a cura das doenças
por uma companha privada.
mais comuns da região.
A resistência luso-brasileira foi liquidada e a
Companhia das Índias Ocidentais passou a organizar
a administração da região conquistada. Apesar da re-
sistência, os holandeses conquistaram novas posições,
consolidando sua ocupação de uma área que ia do Rio
Grande do Norte ao Sergipe.

Frans Post. Detalhe de “Engenho”, século XVII.Óleo sobre tela, 71,5 x 91,5 cm.
Os anos de lutas tinham causado grande desor-
dem econômica. Tanto os senhores de engenho como
os holandeses queriam um ambiente de ordem e paz
para que pudessem obter lucros com a atividade açu-
careira. Para cuidar dessa tarefa, a Companhia enviou
ao Brasil o conde João Maurício de Nassau Sie-
gen, nomeado Governador-Geral do Brasil holan-
dês (Nova Holanda). Franz Post. Detalhe de Engenho, século XVII.
Óleo sobre tela, 71,5 × 91,5 cm

O habilidoso governo de Nassau


Insurreição Pernambucana
(1637-1644)
(1645-1654)
Maurício de Nassau chegou ao Brasil em 1637 e
aqui desenvolveu uma habilidosa política administrativa Em 1640, Portugal se libertou do domínio espa-
destinada a pacificar a região e diminuir a revolta dos nhol e o trono português foi restaurado com a ascensão
luso-brasileiros contra a ocupação holandesa. Dentre de D. João IV, dando início à Dinastia de Bragança.
as principais medidas adotadas em seu governo, des- Lutando contra a Espanha por sua independên-
tacam-se: cia, Portugal assinou, em 1641, uma trégua de dez anos
com a Holanda, segundo a qual nenhum dos dois países
§§ Concessão de crédito – a Companhia conce-
atacaria o outro ao longo desse período.
deu créditos aos senhores de engenho, destina- A Holanda se beneficiaria com essa trégua por
dos ao reaparelhamento dos engenhos, à recu- estar envolvida na Guerra dos Trinta Anos (1618-1648)
peração dos canaviais e à compra de escravos. contra a Espanha, enfrentando dificuldades econômi-
§§ Tolerância religiosa – as diversas religiões cas. Essas dificuldades provocaram mudanças na atitu-
da população (catolicismo, protestantismo, de da Companhia das Índias Ocidentais em relação ao

157
Brasil, elevando impostos e cobrando dívidas dos senhores de engenho, incluindo aí o confisco de bens, como
terras e escravos, dos não pagadores. Essa mudança de atitude levou ao desentendimento de Nassau com a
Companhia, levando à demissão deste, e os colonos passaram a lutar pela expulsão dos holandeses, movimento
iniciado em 1645 e conhecido como Insurreição Pernambucana.
A Insurreição foi liderada pelos senhores de engenho, os quais não haviam apoiado os holandeses na inva-
são e, por isso, não haviam recebido apoio financeiro batavo. Entre os líderes destacou-se André Vidal de Negreiros,
e contou com grande participação popular, com destaque para os negros, liderados por Henrique Dias, e os índios,
liderados por Filipe Camarão.
Portugal inicialmente deu um discreto apoio aos insurretos, passando a lutar abertamente a partir de 1651,
com o fim da trégua dos dez anos assinada em 1641. Após batalhas decisivas, como a do Monte das Tabocas
(1645) e as duas Batalhas de Guararapes (1648 e 1649), os holandeses passaram à defensiva, rendendo-se em
definitivo em 1654.

Consequências das invasões holandesas


Podemos apontar como principal consequência da expulsão dos holandeses do Brasil a decadência da la-
voura de cana-de-açúcar. Durante sua estada no Brasil, os flamengos puderam entrar em contato com a cultura
do açúcar, aprendendo e dominando as técnicas de produção de cana-de-açúcar (plantation), passando a utilizá-las
na região das Antilhas, onde se estabeleceram. Como já dominavam o refino, o transporte e a comercialização do
açúcar, puderam controlar todo o processo açucareiro, voltando a dominar completamente o mercado, mas sem
depender de Portugal e da produção brasileira, que não tinha como vencer a concorrência.
Diante da crise econômica provocada pela crise da lavoura açucareira e ameaçado externamente por Espa-
nha e Holanda, restou a Portugal se aproximar da Inglaterra, que viria a se aproveitar dessa situação para colocar
Portugal sob sua esfera de influência, gerando uma tutela econômica e política que penduraria por quase dois
séculos.
Ainda vale a ressalva de que, durante o domínio holandês no Nordeste brasileiro, o número de fugas de
escravos aumentou, devido à falta de controle dos seus senhores nesse momento conturbado. Com isso, ocorreu a
ampliação do número de quilombos e o aumento populacional dos já existentes, principalmente Palmares.

158
INTERATIVI
A DADE

ASSISTIR

Filme Doce Brasil holandês

O filme “Doce Brasil Holandês”, de Monica Schmiedt, com


classificação 14 anos, é um documentário nacional que investiga
o legado e o contorno mitológico dos 24 anos de dominação
holandesa no Nordeste do Brasil, de 1630 a 1654.

Vídeo Invasões holandesas 2

Fonte: Youtube

Vídeo Invasões holandesas 3

Fonte: Youtube

159
ASSISTIR LER

Livros Vídeo
tt Navio negreiro – Tráfico de africanos para as américas

Fonte: Youtube

Vídeo Invasões holandesas 1

Fonte: Youtube

OUVIR
Músicas
– Cana-de-Açúcar, o Doce Sabor do Prazer –
Barroca Zona Sul (samba-enredo 2007)
– Brasil Holandês, Homenagem a Maurício de Nassau –
Império Serrano (samba-enredo 1959)
– Casa-Grande e Senzala – Mangueira (samba-enredo 1962)
– Chocolate – Tim Maia
– Algodão – Luiz Gonzaga
– Brasil e Holanda – Moacyr Luz

160
ACESSAR

Sites Invasão Holandesa e Economia Colonial

educacao.uol.com.br/disciplinas/historia-brasil/invasao-holandesa-portugal-perde-
pernambuco-para-holanda.htm
www.historiadobrasil.net/brasil_colonial/engenho_colonial.htm
mundoeducacao.bol.uol.com.br/historiadobrasil/atividades-complementares-economia-
colonial.htm

LER

tt
Livros

Evaldo Cabral de Mello – O Brasil holandês

A presença do conde Maurício de Nassau no Nordeste brasileiro, no


início do século XVII, transformou Recife na cidade mais desenvolvida
do Brasil. Em poucos anos, o que era um pequeno povoado de
pescadores virou um centro cosmopolita.

Evaldo Cabral de Mello – O bagaço da cana

Depois de O Brasil holandês, em que Evaldo Cabral de Mello contextualiza


trechos dos documentos mais importantes sobre a presença batava no
Nordeste, o autor publica obra sobre os engenhos de açúcar na região,
que complementa o livro anterior e constitui um instrumento valioso
para o estudo da história socioeconômica do período.

Gilberto Freyre – Casa Grande & Senzala

Abordagens inovadoras de vida familiar, dos costumes públicos e


privados, das mentalidades e das inter-relações étnicas revelam um
painel envolvente e deliciosamente instigante da formação brasileira
no período colonial

161
161
LER

tt
Livros

Sérgio Buarque de Holanda – Raízes do Brasil

Raízes do Brasil é uma das obras fundadoras do pensamento sobre


a sociedade brasileira. No método de análise e estilo da escrita, na
sensibilidade para a escolha dos temas e erudição exposta de forma
concisa, revela-se o historiador da cultura e ensaísta crítico com
talentos de grande escritor.

Alencastro, Luiz Felipe de – O Trato dos Viventes

Nossa história colonial não se confunde com a continuidade do nosso


território colonial. Sempre se pensou o Brasil fora do Brasil, mas de
maneira incompleta: o país aparece no prolongamento da Europa.
Ora, a ideia exposta neste livro é diferente e relativamente simples:
a colonização portuguesa, fundada no escravismo, deu lugar a um
espaço econômico e social bipolar, englobando uma zona de produção
escravista situada no litoral da América do Sul e uma zona de reprodução
de escravos centrada em Angola.

162
INTERDISCIPLINARIDADE

Uma prática realizada durante o período colonial brasileiro foi a plantation, o qual, principalmente durante
o ciclo canavieiro, impôs uma agricultura monocultora e geradora de ostensivo desgaste do solo, diminuindo a
fertilidade de algumas regiões e a transformação do meio ambiente original.
Também é importante lembrar a adoção da mão de obra escrava africana pelos portugueses, o que era
extremamente lucrativo para a Coroa, mas que transformava todo um continente em mero fornecedor de “peças”
de trabalho. Esse foi um dos maiores exemplos de desumanização que já ocorreram na História, perdurando até os
anos finais do século XIX.

J.Baptiste Debret, O jantar, Viagem Pitoresca e Histórica ao Brasil, 1834-1839

163
CONSTRUÇÃO DE HABILIDADES

Habilidade 4 - Comparar pontos de vista expressos em diferentes fontes sobre determinado


aspecto da cultura.

Saber como se constroem os pontos de vista e como eles representam um determinado


grupo social é fundamental para as ciências humanas. A Habilidade 4 visa explorar essa ca-
pacidade do estudante. É necessário atentar-se, além do fenômeno histórico em específico
tratado pelo exercício, aos textos propostos e, principalmente, pelos seus autores. O candi-
dato deverá captar qual vertente ideológica cada autor representa, bem como os interesses
aos quais defende.
O Enem recorre a muitos relatos de indivíduos que registraram a sua época sob diferentes
escopos ideológicos. Para resolver a estas questões, o aluno deve estar familiarizado com
as ideais dos principais intelectuais e figuras históricas do Brasil e do mundo ocidental.

Modelo
(Enem) Em um engenho sois imitadores de Cristo crucificado porque padeceis em um modo muito
semelhante o que o mesmo Senhor padeceu na sua cruz e em toda a sua paixão. A sua cruz foi
composta de dois madeiros, e a vossa em um engenho é de três. Também ali não faltaram as canas,
porque duas vezes entraram na Paixão: uma vez servindo para o cetro de escárnio, e outra vez para
a esponja em que lhe deram o fel. A Paixão de Cristo parte foi de noite sem dormir, parte foi de
dia sem descansar, e tais são as vossas noites e os vossos dias. Cristo despido, e vós despidos; Cristo
sem comer, e vós famintos; Cristo em tudo maltratado, e vós maltratados em tudo. Os ferros, as
prisões, os açoites, as chagas, os nomes afrontosos, de tudo isto se compõe a vossa imitação, que,
se for acompanhada de paciência, também terá merecimento de martírio.
VIEIRA, A. Sermões. Tomo XI. Porto: Lello & Irmão, 1951 (adaptado).

O trecho do sermão do Padre Antônio Vieira estabelece uma relação entre a Paixão de Cristo e
a) a atividade dos comerciantes de açúcar nos portos brasileiros.
b) a função dos mestres de açúcar durante a safra de cana.
c) o sofrimento dos jesuítas na conversão dos ameríndios.
d) o papel dos senhores na administração dos engenhos.
e) o trabalho dos escravos na produção de açúcar.

164
Análise Expositiva

Habilidade 4
No texto apresentado o Padre Antônio Vieira estabelece relação entre o sofrimento de cristo
e as péssimas condições de trabalho dos escravos durante a produção do açúcar durante a
Colônia. O texto apresenta uma linguagem bastante distinta da utilizada cotidianamente, o
que pode prejudicar aos que possuem alguma dificuldade de leitura. Contudo, para aqueles
em que a leitura não é um problema, a resposta está contida no texto.
Alternativa E

Estrutura Conceitual
1 Lavoura de cana-de-açúcar (séc. XVI e XVII)

Produto Lucrativo
Brasil:
colônia de exploração Aceitação do produto no
mercado europeu
monocultura latifúndio Capital holandês
escravidão Solo e clima favoráveis Montagem
de engenhos
Atração de capitais externos Transporte
Exploração de cana-de-açúcar Experiência portuguesa na produção
(plantation)
de cana-de-açúcar

O engenho: Sociedade A escravidão


organização da produção dos engenhos negra
Rural 1570 - Proibição da
escravidão indígena
Casa grande Aristocrática
Lucros comerciais
Senzala Patriarcal
Justificativa religiosa
Escravista
Capela Instalação de uma rede de
Sem mobilidade social
Casa de engenho comércio entre portugueses
Inculta e africanos

Pecuária Tabaco
2 Outras atividades Interior do Nordeste / Sul Recôncavo Baiano
econômicas Drogas do Sertão
Interior do Brasil (Amazonas, etc.)
Algodão
Sul

165
3 Invasões Holandesas

Crise sucessória Invasões Holandesas concessão de


em Portugal Bahia (1624 - 1625) crédito
obras urbanas
Submissão ao Pernambuco
(1630 - 1654) tolerância
rei da Espanha governo de João Maurício religiosa
de Nassau (1637 - 1644) vida cultural
União Ibérica Rei da Espanha
(1580 - 1640) Holanda
e Portugal

4 Consequências das Invasões Holandesas

Perda do monopólio português Holandeses cultivam


da cana-de-açúcar cana nas Antilhas

Início da parceria
Portugal e Inglaterra

Número de fugas de Formação do Quilombo


escravos aumenta dos Palmares

166
9
0 01 Bandeirismo, mineração e
tratados de limites

Competências Habilidades
1, 2, 3, 4 e 6 1, 3, 5, 6, 8, 9,
10, 11, 13, 14,
18, 26 e 27

Disponível em: <http://warburg.chaa-unicamp.com.br>

C H
HISTÓRIA
Competência 1 – Compreender os elementos culturais que constituem as identidades.
H1 Interpretar historicamente e/ou geograficamente fontes documentais acerca de aspectos da cultura.
H2 Analisar a produção da memória pelas sociedades humanas.
H3 Associar as manifestações culturais do presente aos seus processos históricos
H4 Comparar pontos de vista expressos em diferentes fontes sobre determinado aspecto da cultura.
H5 Identificar as manifestações ou representações da diversidade do patrimônio cultural e artístico em diferentes sociedades.
Competência 2 – Compreender as transformações dos espaços geográficos como produto das relações socioeconômicas e culturais de
poder.
H6 Interpretar diferentes representações gráficas e cartográficas dos espaços geográficos.
H7 Identificar os significados histórico-geográficos das relações de poder entre as nações.
H8 Analisar a ação dos estados nacionais no que se refere à dinâmica dos fluxos populacionais e no enfrentamento de problemas de ordem econômico-social.
H9 Comparar o significado histórico-geográfico das organizações políticas e socioeconômicas em escala local, regional ou mundial
Reconhecer a dinâmica da organização dos movimentos sociais e a importância da participação da coletividade na transformação da realidade
H10
histórico-geográfica.
Competência 3 – Compreender a produção e o papel histórico das instituições sociais, políticas e econômicas, associando-as aos diferentes
grupos, conflitos e movimentos sociais.
H11 Identificar registros de práticas de grupos sociais no tempo e no espaço.
H12 Analisar o papel da justiça como instituição na organização das sociedades.
H13 Analisar a atuação dos movimentos sociais que contribuíram para mudanças ou rupturas em processos de disputa pelo poder.
Comparar diferentes pontos de vista, presentes em textos analíticos e interpretativos, sobre situação ou fatos de natureza histórico-geográfica acerca
H14
das instituições sociais, políticas e econômicas.
H15 Avaliar criticamente conflitos culturais, sociais, políticos, econômicos ou ambientais ao longo da história.
Competência 4 – Entender as transformações técnicas e tecnológicas e seu impacto nos processos de produção, no desenvolvimento do
conhecimento e na vida social.
H16 Identificar registros sobre o papel das técnicas e tecnologias na organização do trabalho e/ou da vida social.
H17 Analisar fatores que explicam o impacto das novas tecnologias no processo de territorialização da produção.
H18 Analisar diferentes processos de produção ou circulação de riquezas e suas implicações sócio-espaciais.
H19 Reconhecer as transformações técnicas e tecnológicas que determinam as várias formas de uso e apropriação dos espaços rural e urbano.
H20 Selecionar argumentos favoráveis ou contrários às modificações impostas pelas novas tecnologias à vida social e ao mundo do trabalho.
Competência 5 – Utilizar os conhecimentos históricos para compreender e valorizar os fundamentos da cidadania e da democracia, favo-
recendo uma atuação consciente do indivíduo na sociedade.
H21 Identificar o papel dos meios de comunicação na construção da vida social.
H22 Analisar as lutas sociais e conquistas obtidas no que se refere às mudanças nas legislações ou nas políticas públicas.
H23 Analisar a importância dos valores éticos na estruturação política das sociedades.
H24 Relacionar cidadania e democracia na organização das sociedades.
H25 Identificar estratégias que promovam formas de inclusão social.
Competência 6 – Compreender a sociedade e a natureza, reconhecendo suas interações no espaço em diferentes contextos históricos e
geográficos.
H26 Identificar em fontes diversas o processo de ocupação dos meios físicos e as relações da vida humana com a paisagem.
H27 Analisar de maneira crítica as interações da sociedade com o meio físico, levando em consideração aspectos históricos e (ou) geográficos.
H28 Relacionar o uso das tecnologias com os impactos sócio-ambientais em diferentes contextos histórico-geográficos.
H29 Reconhecer a função dos recursos naturais na produção do espaço geográfico, relacionando-os com as mudanças provocadas pelas ações humanas.
H30 Avaliar as relações entre preservação e degradação da vida no planeta nas diferentes escalas.
Bandeirismo e expansão territorial
Na virada do século XX, o que era sugestão virou

© Benedito Calixto/Wikimedia Commons


política pública. A partir de 1903, o governo paulista
começou a destinar verba pública para obras de arte
que apoiassem a concepção mítica dos bandeirantes –
naquele ano surgiram quadros como o de Calixto, por
exemplo. Como boa parte dos historiadores “comprou”
essa visão engrandecedora dos desbravadores, foi as-
sim que eles figuraram nos livros por muito tempo.
Nas últimas duas décadas, a análise cuidadosa
dos registros de época ajudou a contar outra versão
dos fatos. Já há consenso entre os historiadores, por
exemplo, sobre os objetivos principais das bandeiras
dos séculos XVII e XVIII. Longe de buscar consciente-
mente a ampliação do território em nome de um su-
posto nacionalismo, o que os desbravadores tinham
como meta era buscar metais preciosos e aprisionar
índios. Depois de capturados, os nativos eram vendidos
para trabalhar nos canaviais do Nordeste ou usados
como mão de obra particular dos paulistas. No seu en-
calço, os sertanistas andavam enormes distâncias mata
adentro – Raposo Tavares, por exemplo, percorreu 12
Domingos “Jorge Velho” de Benedito Calixto
mil quilômetros durante três anos.
Disponível em: <revistaescola.abril.com.br>.
Acesso em: 28 fev. 2015.

Durante o primeiro século do domínio europeu, o mapa da colônia portuguesa manteve-se, em linhas gerais,
mais ou menos o mesmo. No entanto, ao longo do início do século XVII até meados do século XVIII, a expansão da
pecuária pelo sertão nordestino possibilitou o povoamento de terras até então desconhecidas.
Aos poucos, as fronteiras foram sendo ampliadas em direção ao interior, ultrapassando o Meridiano de Torde-
silhas. O bandeirismo completou esse processo, o qual resultou no espaço continental que caracteriza o Brasil de hoje.
Em 1532, com a chegada da expedição de Martim Afonso de Sousa, teve início a colonização de São Vicente.
Instalaram-se, então, alguns engenhos na região litorânea, mas a produção açucareira local não progrediu por dois mo-
tivos: a reduzida quantidade de terras para o plantio da cana e as enormes distâncias entre a capitania e os mercados
europeus. Logo, alguns dos primeiros colonizadores optaram por abandonar o clima quente e úmido da Baixada Santista
para fixarem residência no planalto de Piratininga, onde as condições climáticas eram mais favoráveis aos europeus.
Em janeiro de 1554, os jesuítas fundaram o colégio que deu origem à vila de São Paulo de Piratininga. Se, por
um lado, a localização geográfica de São Paulo dificultava o contato com a região litorânea, por outro facilitava o
acesso ao interior, denominado de sertão, por caminhos terrestres e pelos rios, sendo o Tietê o mais importante deles,
e o acesso ao rio Paraná, à bacia do Prata e à região de Mato Grosso.
A economia da vila baseava-se em algumas plantações, na criação de gado e na extração de um pouco de
ouro de lavagem na região de Paranaguá, todas atividades de pequenas proporções. A pobreza da vila de Piratininga
revelava-se nas habitações, quase sempre de taipa e algumas com tetos de palha. A alimentação baseava-se no milho,
na mandioca e no que a floresta oferecia: caça, peixe, raízes, mel-de-pau e frutas.
Os europeus que habitavam a região eram em pequeno número e, em geral, miscigenaram-se com a popula-
ção indígena, passando a contar com um grande número de mamelucos. A língua falada era principalmente o tupi-
-guarani, pois o português era pouco útil na região.

169
A capitania apresentava, assim, uma econo-
mia sem importância para os propósitos da coloni-
Diferenças entre
zação e das necessidades do capital comercial. A bandeiras e entradas
pequena importância econômica somada ao isola-
mento geográfico resultou num reduzido controle Muito embora os estudos mais recentes não es-
administrativo por parte do governo português, o tabeleçam diferenças entre bandeiras e entradas serta-
que levou os paulistas a assumirem um forte senso nistas, nem entre bandeirantes e sertanistas, há distin-
de autonomia. Não à toa, o brasão da cidade de São ções entre ambas.
Paulo traz os dizeres latinos: “non ducor duco”, que As bandeiras eram expedições particulares,
significa: “não sou conduzido, conduzo”. que podiam, eventualmente, receber financiamento das
autoridades; partiam, geralmente, de São Vicente ou
São Paulo em direção ao interior em busca de metais
preciosos, índios e quilombos, ultrapassando o Meridia-
no de Tordesilhas.
As entradas eram expedições organizadas
pelo governo, que penetravam o interior partindo
de vários pontos do território colonial, como Olinda ou
Salvador (geralmente do nordeste), em busca de metais
preciosos, sem ultrapassar a linha de Tordesilhas.
Na Colônia, as expedições que utilizavam as vias
fluviais foram chamadas de monções, por se submete-
rem ao regime dos rios, partindo sempre na época das
cheias (março e abril), quando os rios eram facilmente
Essa situação criava condições favoráveis para navegáveis, tornando a viagem menos difícil e arriscada.
que os indivíduos perseguidos pelas autoridades portu-
guesas buscassem refúgio em São Paulo. Entradas Bandeiras
No entanto, não é correta a crença do desprezo Organizadas geralmente
Organizadas pelo governo.
por particulares.
de Portugal por essa região. Pelo contrário, desde cedo Respeitavam o Não respeitavam o Tratado
a Coroa portuguesa esteve alerta para a região que Tratado de Tordesilhas. de Tordesilhas.
mais tarde se tornaria a capitania de São Paulo, pois Partiam de vários Partiam geralmente de São
pontos do litoral. Vicente ou São Paulo.
compreendiam que sua posição geográfica privilegiada
conferia-lhe o atributo de “boca do sertão”.
© José Ferraz de Almeida Júnior/Wikimedia Commons

Desse modo, em vez de ver São Paulo à margem


do sistema colonial, hoje está claro para os estudiosos
sua participação e integração ao sistema colonial de ex-
ploração, em constante interação com outras regiões do
Brasil e com a Metrópole.
E foi em São Paulo onde, na maior parte dos ca-
sos, as bandeiras eram organizadas e partiam para o
interior. Essa prática comum na região acabou por dar a
São Paulo a alcunha futura de “terra dos bandeirantes”.
Estudo da Partida da Monção. Pintura de Almeida Júnior (1897)
De acordo com seus objetivos, as bandeiras po-
deriam ser classificadas de três formas ou ciclos: ciclo
de caça ou ouro ou sertanismo de prospecção;
sertanismo de apresamento; sertanismo de con-
trato.

170
Os ciclos do bandeirismo Bandeirismo de apresamento
“Porto dos escravos” foi como São Vicente ficou A atividade de apresamento do indígena, com o
conhecida em virtude do grande aprisionamento e es- objetivo de escravizá-lo, remonta ao início da coloniza-
cravização de índios pelos habitantes da região, que ti- ção, em meados do século XVI. Ela faz parte da lógica
ravam proveito das animosidades entre os índios locais. de exploração colonial numa região sem condições eco-
Dominavam-nos com mais facilidade e vendiam-nos nômicas de utilizar o escravo africano em virtude do seu
como escravos para o Nordeste. Esse comércio incenti- alto custo, ao mesmo tempo que era uma alternativa
vava os colonos a se embrenharam cada vez mais pelo econômica para o povoamento vicentino, dadas suas
sertão em busca de mão de obra escrava. Duas grandes dificuldades financeiras.
tribos ofereceram bastante resistência à penetração do Essa empreitada de captura dos índios pode ser
homem branco: os Tamoios e os Carijós. dividida em duas fases. A primeira vai de meados do
Os filmes americanos que tratam da conquista século XVI ao início do século XVII. Nesse período, os
do Oeste americano mostram, em geral, colonos bran- grupos de apresamento, os sertanistas, mal preparados
cos enfrentando índios, como se eles fossem bandidos. e inexperientes, saíam de São Vicente, alcançavam o po-
Da mesma forma, a historiografia oficial no Brasil cons- voado de São Paulo e, de lá, partiam para capturar os
truiu a representação dos nossos índios como ferozes, índios no interior da mata inexplorada e desconhecida.
prontos para atacar o homem branco sem nenhum mo-
Disponível em: <http://www.revistadehistoria.com.br>

tivo, e a dos brancos como civilizados que só queriam


proteger os índios. Ora, sabe-se que foram os bandei-
rantes que atacaram os índios para lhes tomar as terras
e submetê-los ao regime de trabalho escravo, com toda
a violência que envolviam essas atitudes.

Base para a formação da economia colonial, a captura e a escravização


indígena na litogravura de Jean-Baptiste Debret, do século XIX.
(Fundação Biblioteca Nacional)

No final do século XVII, essas expedições, de-


nominadas bandeiras, tornaram-se grandes negócios,
verdadeiras empresas que envolviam centenas de ho-
mens e muitos recursos. Dois fatores foram responsá-
veis por essa transformação.
O primeiro foi a organização das missões. Os
índios missionados encontravam-se aculturados e reu-
nidos em grande quantidade, o que facilitava muito o
trabalho das bandeiras, que não precisavam procurar
AA iconografia buscarepresentar
iconografia busca representar um paulista
um paulista “heroicizado”,
“heroicizado”, bem
bem vestido, os índios espalhados pelo sertão nem ter o trabalho de
com botas de couro e munido de armas, muito diferente do
vestido, com botas de couro e munido de armas de fogo, muito homem que
habitava o planaltoque
de Piratininga,
aculturá-los. Nas primeiras décadas do século XVII, vá-
diferente do homem habitava oafeito à influência
planalto indígena. afei-
de Piratininga,
Disponível em: <multirio.rj.gov.br/historia>. rias expedições saíram de São Paulo em direção ao sul
to à influência indígena. Acesso em: 8 maio 2015.
Disponível em: <multirio.rj.gov.br/historia>. Acesso em: 8 do Mato Grosso (Itatim), Paraguai (Guairá) e Rio Grande
Mai. 2015 do Sul (Tape), visando atacar as missões.
No século XVII, o movimento bandeirante ga- O segundo fator foi o controle do tráfico negreiro
nhou um novo impulso, revestindo-se de melhor organi- e dos centros de abastecimento de escravos, na África,
zação e novas características. que passou para o domínio dos holandeses, após 1637,

171
quando o apresamento dos indígenas tornou-se muito cobiçado em razão dos grandes lucros que rendia. Por isso,
os índios brasileiros passaram a ser perseguidos de forma intensa.
Nesse período, os jesuítas de São Paulo tentaram impedir a saída das expedições, despertando uma reação
imediata dos colonos paulistas. Em 1641, tentaram expulsar os jesuítas de São Paulo, fato conhecido como a bo-
tada dos padres para fora.
Percorrendo extensas regiões à procura de índios para escravizar, os bandeirantes, simultaneamente, abri-
ram caminho para a integração e ocupação do interior.
A rivalidade entre jesuítas e bandeirantes se estendeu por entre os séculos XVII e XVIII, ficando muito
violenta por vezes, levando ambos os lados a recorrerem à Coroa. A contenda entre eles só foi resolvida durante
o governo do Marquês de Pombal, o qual, por não concordar com as práticas jesuítas, expulsou-os do Brasil, mas
acabou também proibindo a escravização de índios.

Esquema geral das expedições de apresamento (1550-1720)


nas
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Rio Xingu

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Missões São Paulo Rio de Janeiro
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Sertões
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dos Patos
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Expedições de resgate
o

Laguna
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e apresamento dos Guaranis,


1550-1635 (por mar)
S
Expedições de resgate
e apresamento dos Guaranis,
1585-1641 (por terra)
Expedições de apresamento
Ri
o

de outros grupos,
da
Pr
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sobretudo pós-1640
a

Expedições de mercenários
paulistas nas Guerras do
Nordeste, 1658-1720
Rota aproximada da expedição
de Raposo Tavares, 1648-51
Rota da expedição
de Sebastião Pais de Barros,
1671-1674
Disponível em: Disponível
<revista.vestibular.uerj.br>. Acesso em: 8 Acesso
em: <revista.vestibular.uerj.br>. Mai. 2015.
em: 8 maio 2015.

172
Os holandeses foram os primeiros a tentar des-
Sertanismo de contrato
truir Palmares, atacando alguns mocambos nos anos de
O bandeirismo, ou sertanismo de contrato, era 1644 e 1645. Em face da força armada superior à dos
formado por expedições de caráter militar, contratadas quilombolas, os negros limitaram-se a mudar suas al-
por governantes, donatários e proprietários rurais para deias de lugar, embrenhando-se ainda mais pelo sertão.
capturar escravos fugidos das lavouras, arrasar quilom- Quando os brancos partiam, os mocambos – choças
bos e submeter populações indígenas hostis. que serviam de moradia para os escravos fugidos – vol-
Desse bandeirismo resultaram o aniquilamento tavam a aparecer nos lugares anteriores.
de milhares de índios, que resistiam ao avanço da pecu- Após a expulsão dos holandeses, várias expedi-
ária no sertão nordestino – Ceará, Piauí e Maranhão –, ções foram organizadas pelos governantes portugueses
e a destruição dos negros aquilombados em Palmares. contra os quilombolas, sem sucesso. Um governador de
O sertanismo de contrato assegurou aos grandes Pernambuco, desanimado com os fracassos, chegou a
proprietários de engenhos e plantações do litoral e aos propor paz aos negros, oferecendo-lhes em troca fa-
criadores de gado do sertão a posse de largas extensões zendas e engenhos. Em Lisboa, o Conselho Ultramari-
de terras, em detrimento dos despossuídos – índios ex- no não concordou com tal decisão, aconselhando que
pulsos de suas terras, negros e mestiços sobreviventes fosse tentada mais uma vez a destruição dos rebeldes,
do massacre. contratando, para isso, os bandeirantes paulistas, em
virtude da grande experiência adquirida nas andanças
pelos sertões e no apresamento dos índios.
Ataques contra Palmares
Os quilombos eram agrupamentos de escravos
fugidos que existiram em várias partes do sertão, desde

/ABr
©
o século XVI, e uma das muitas formas de rebelião dos
cativos. Palmares foi um dos quilombos mais importan-
tes, situado ao sul de Pernambuco, no atual estado de
Alagoas, numa região caracterizada pela abundância de
palmeiras, relevo acidentado e mata tropical fechada.
Sua organização data aproximadamente de 1630, du-
rou 65 anos e, segundo algumas estimativas, chegou a
agrupar 30 mil fugitivos da escravidão.
Palmares atraiu também para os seus domínios
índios e brancos pobres. Os primeiros eram atraídos A Coroa contratou, então, um grupo de sertanis-
pelo fato de não terem que aceitar a catequese; já os tas já fixados em fazendas de gados no sertão da Bahia.
segundos buscavam terras e melhores condições de Formavam um bando de quase mil homens, mamelucos
vida. Ainda vale ressalvar que Palmares se organizou e índios, liderados por Domingos Jorge Velho, cuja má
como um Estado, tendo como seu líder Zumbi, e repro- fama corria por todo o Nordeste. Eram famosos pela
duzindo a escravidão entre os próprios negros, prática violência e por roubos e crimes sem conta, mas serviram
comum na África. para a luta dos senhores de terras e do governo contra
Para os brancos, a existência de um “Estado ne- os palmarinos.
gro”, onde não havia escravidão, em meio ao sistema Os fazendeiros e o governo português firmaram
colonial escravista, era um incentivo à rebelião e à fuga, um acordo com Domingos Jorge Velho, pelo qual ele e
um exemplo de que era possível escapar da escravidão, seus homens destruiriam o quilombo em troca de ar-
por isso a urgência de fazê-lo desaparecer. O quilombo mas, munições, alimentos, escravos, terras em sesma-
era uma ameaça real à escravidão, logo, ao sistema co- rias, títulos de comendadores para os chefes, além do
lonial. perdão para todos os crimes cometidos até então.

173
Onde ficava o Quilombo dos Palmares

Após uma campanha contra os índios Janduís, rebelados no Rio Grande do Norte, em dezembro de 1692, os
sertanistas realizaram o primeiro ataque contra Palmares. Foram derrotados depois de surpreendidos por uma cerca
tríplice de 5500 metros, feita com um trançado de vegetação repleto de armadilhas com estrepes e paus afiados.
Os sertanistas organizaram nova expedição com a ajuda governamental, contando com três mil homens e artilha-
ria, e um novo ataque iniciou-se em janeiro de 1694.
Comandados por Zumbi e entricheirados na serra da Barriga, os palmarinos resistiram até a morte. Zumbi
e alguns companheiros ainda conseguiram romper o cerco e fugir, mas foram capturados e mortos algum tempo
depois. O grande chefe negro foi decapitado e sua cabeça exposta na praça principal de Recife para servir de exem-
plo. O dia 20 de novembro – data em que se comemora o Dia da Consciência Negra – relembra a morte de Zumbi
dos Palmares, que aconteceu em 1695.

obrigados a se privarem da aquisição de novos escravos,


Bandeirismo de caça ao ouro ou fossem eles africanos ou indígenas.
sertanismo de prospecção A perda do grande mercado comprador de mão
de obra indígena abrigou o bandeirismo apresador a
A expulsão dos holandeses do Nordeste abalou transferir seus esforços para outro objetivo: a procura de
profundamente a economia agrícola colonial. A partir metais preciosos. Portugal, por sua vez, necessitando de
do que haviam aprendido em Pernambuco, os holan- outra fonte de renda que compensasse a perda de mer-
deses implantaram a plantation produtora de açúcar e cado para seus produtos coloniais, e para os lucros com
de tabaco nas Antilhas, criando empreendimentos colo- o tráfico de escravos, incentivou o bandeirismo prospec-
niais de tão competitivos que Portugal não podia acom- tor, oferecendo prêmios, privilégios e honrarias àqueles
panhar seus preços no mercado externo. A concorrência que descobrissem metais preciosos. Na verdade, tanto
antilhana e a baixa competitividade dos produtores o governo metropolitano como a população colonial
coloniais portugueses levaram a economia nordestina sempre mantiveram a expectativa de encontrar riquezas
à estagnação. Enquanto esperavam uma eventual revi- minerais na América portuguesa. Como não acreditar
talização, os engenhos nordestinos sobreviviam contan- nessa possibilidade, se ali em Potosi, Alto Peru, a Espa-
do apenas com a mão de obra escrava remanescente, nha explorava toneladas de ouro e prata?

174
Já no século XVI, expedições, como as de Pero
Conquista do Sul
Lobo (1531) e de Gabriel Soares de Sousa (1592),
tinham avançado para o sertão em busca de metais Na Região Sul, a pecuária esteve diretamente
preciosos. ligada à atividade mineradora, que acabou determinan-
Deixando o tronco Tietê-Paraná, os bandeirantes do um grande fluxo populacional para a Região Centro-
desceram o rio Paraíba do Sul, alcançando a região do -Oeste e aumentando o mercado consumidor interno.
Rio das Velhas, onde, no final do século XVII, seriam Além disso, houve melhoria dos transportes, vinculada
descobertas as tão esperadas minas de ouro. Depois de ao abastecimento da região central, bem como necessi-
longa tentativa de Fernão Dias e Borba Gato, desco- dade de abrir caminhos que levassem o minério para o
briram as minas de Caeté, Sabará, Vila Rica e Ribeirão litoral, de onde seria transportado para a Europa.
do Carmo. Multiplicaram-se a seguir as expedições para O sucesso do rebanho bovino na região Sul veio
a região das “Gerais”, que se povoou rapidamente e em virtude da fertilidade do solo e das grandes pasta-
constituiu-se no mais importante centro econômico da gens. Esse gado se reproduzia naturalmente e crescia
Colônia no século XVIII. selvagem, desde a época da destruição das missões je-
A partir das Minas Gerais, anos mais tarde, a suíticas no século XVII. Havia um grande rebanho muar
penetração bandeirante encaminhou-se para o Cen- e bovino, que até o século da mineração (século XVIII)
tro-Oeste, em direção a Goiás e Mato Grosso. Lá foram não despertou quase nenhuma atenção, uma vez que
descobertas minas de ouro (menos abundantes que não tinha valor econômico algum.
em Minas Gerais) por Bartolomeu Bueno da Silva, o Quase no século XVIII, em razão da necessidade
Anhanguera. Nova corrente migratória e exploradora de alimentação e transporte, os rebanhos sulinos passa-
foi atraída de São Paulo para aquela região, consti- ram a se destacar como solução. As mulas adequavam-
-se ao transporte, e a carne dos bois, à alimentação.
tuindo pelas monções, que saíam de Porto Feliz (SP)
Os colonos criaram várias estâncias, que deram origem
pelo rio Tietê até o Mato Grosso a última grande etapa
a várias cidades (Laguna, Vacaria etc.). Surgiram novos
da penetração bandeirante.
tipos sociais na região, como os estancieiros e os peões
boiadeiros. No século XVIII, na região gaúcha, a carne

Expansão territorial: ocupação de charque passou a ter enorme importância no cenário


econômico do Rio Grande do Sul. Por isso, a conquista
do sertão e conquista do Sul do Sul, consolidou-se com além da presença dos jesuí-
tas a atividade agropecuária.
Pecuária e povoamento do sertão
A pecuária nordestina foi diretamente respon-
Formação de missões jesuíticas
sável pelo início da expansão territorial brasileira para
O Governador-Geral Tomé de Sousa trouxe para
além dos limites do Tratado de Tordesilhas. o Brasil, em 1549, o primeiro grupo de jesuítas, lide-
A criação do gado tinha dois objetivos: atender rados por Manuel da Nóbrega. O principal motivo de
as necessidades do engenho circunscritas aos seus limi- sua presença na América era promover a catequese dos
tes e fornecer alimentos e couro, utilizados na fabrica- nativos. Com esse intuito, fundaram vários aldeamentos
ção dos instrumentos de trabalho. conhecidos como missões ou reduções, onde educavam
As terras disponíveis eram destinadas com ex- e catequisavam os nativos, e deram origem a vários nú-
clusividade à indústria açucareira, para que houvesse cleos de povoamento de Norte a Sul do Brasil.
aumento da produção e, consequentemente, crescimen- Constantemente, os jesuítas entraram em atrito
to e incremento do comércio. Em razão disso, o gado com os colonos, pois não aceitavam a escravidão indí-
foi expulso do engenho para o interior, dando lugar à gena. Apesar disso, eram constantes os ataques de co-
cultura da cana-de-açúcar. lonos, especialmente bandeirantes, aos aldeados, com o

175
objetivo de capturar índios para utilizar como escravos.
O fato de os índios das missões já serem “amansados, Mineração
ou seja, aculturados, tornava-os mais cobiçados, em vir-
tude dos melhores preços que atingiam. A descoberta de metais preciosos na América
As primeiras reduções (missões) de espanhóis espanhola alimentou o desejo dos portugueses, desde
atacadas pelos bandeirantes ficavam na região do Guai- o início da colonização do Brasil, de também encontrar
rá, no atual estado do Paraná. Chefiadas por Raposo metais preciosos na porção que lhes coube do Novo
Tavares, contaram com a atuação de Manuel Preto, co- Mundo. Em razão disso, cedo os portugueses procura-
nhecido como “Herói do Guairá”. ram a tão sonhada riqueza, procura essa que se tornou
Os padres espanhóis abandonaram a região e uma das funções do Governo-Geral.
foram estabelecer-se em Tape, no centro do Rio Gran- As primeiras jazidas só foram descobertas na úl-
de do Sul, e em Itatim, no sul do Mato Grosso. Essas tima década do século XVII, por volta de 1693, por ban-
deirantes paulistas, no território do atual estado de Mi-
aldeias jesuítas também foram atacadas e destruídas
nas Gerais. Eram jazidas superficiais, e o ouro de aluvião
por Raposo Tavares. Destaque-se que os jesuítas foram
era encontrado inicialmente nas margens de rios, razão
os principais responsáveis pela educação colonial até
pela qual se esgotavam rapidamente. Depois do ouro
sua expulsão, em 1759, de Portugal e do Brasil, por
de Minas Gerais, foram realizadas descobertas menos
ordem do Marquês de Pombal, primeiro-ministro do
importantes em Mato Grosso (1718) e Goiás (1725).
rei D. José I. Dessa forma, a atividade mineradora deu impulso à
Outro famoso bandeirante foi Borba Gato ocupação do interior do Brasil.
(genro de Fernão Dias), que atuou ativamente na Multidões de pessoas foram atraídas para a re-
busca por ouro e no ataque a missões jesuíticas, es- gião atrás do sonho de enriquecimento rápido e fácil.
cravizando e matando inúmeros nativos. Daí, a razão Aventureiros em busca do eldorado cruzavam os sertões
da estátua com 10 metros de altura em sua home- e os mares em direção às Minas, que foram rapidamen-
nagem na região de Santo Amaro (zona sul de São te povoadas. Em curto período de tempo, multiplicaram-
Paulo) ser tão contestada. -se vilas e arraiais, bem como diversificaram-se as ati-
vidades: comércio, artesanato, ourivesaria, marcenaria,
Disponível em: <http://www.panoramio.com>

bares, entre outros.


A descoberta das minas, em fins do século XVII
e início do século XVIII, além de realizar o antigo sonho
lusitano, foi como a salvação para a grave crise da eco-
nomia portuguesa, estrangulada pela concorrência anti-
lhana na economia açucareira imposta pelos flamengos
(holandeses).
Naquela oportunidade, Portugal encontrava-se
ainda asfixiado pela intervenção da Inglaterra, ocorrida
depois da expulsão holandesa do Brasil. Em razão disso,
Portugal era obrigado a pagar, com ouro brasileiro, o
déficit de sua balança comercial frente aos britânicos.
Esse déficit se agravou com a assinatura do Tratado de
Methuen (1703), pelo qual Portugal vendia vinho sem
impostos aos britânicos e estes vendiam tecidos aos lu-
sos nas mesmas condições. Isso fez com que esse tra-
tado fosse conhecido popularmente como “Tratado de
Panos e Vinhos”. O problema para os cofres lusitanos
era que se consumia muito mais “panos” do que “vi-
Borba Gato nhos”, o que deixou a balança comercial portuguesa
desfavorável e enriqueceu a Grã-Bretanha.

176
As regiões mineradoras (1711-1798)

Fonte: blogdoenem.com.br/guerra-emboabas-disputa-ouro-brasil/
Fonte: <blogdoenem.com.br/guerra-emboabas-disputa-ouro-brasil>.

-menores e o escrivão. Quando uma jazida era desco-


Tipos de mina berta, o fato deveria ser imediatamente comunicado à
Intendência, que deveria organizar a exploração, divi-
Na região mineradora existiam basicamente dois dindo a mina em lotes (datas) a serem distribuídas me-
tipos de áreas de extração: lavras e faisqueiras. diante sorteio aos mineradores previamente inscritos,
As lavras eram grandes áreas de extração, onde com prioridade para os que possuíssem mais escravos.
as jazidas eram mais profundas e a produção era maior. O descobridor da jazida tinha o direito de escolher o
Nessas minas, empregava-se mão de obra escrava em primeiro lote, e o segundo era destinado à Coroa, que
grande quantidade com o intuito de evitar o contrabando. posteriormente o leiloava.
Os escravos eram obrigados a trabalhar nus ou usando Caso a descoberta de uma jazida não fosse co-
máscaras com pequenos orifícios nos olhos e nas narinas. municada às autoridades, o descobridor seria punido
As faisqueiras eram áreas menores de explo- por crime de lesa-majestade (traição), com pena de de-
ração, onde a extração era feita geralmente por ga- gredo para a África, a mais utilizada como punição aos
rimpeiros livres ou mineradores pobres, que utilizavam condenados, além, obviamente, de perder o direito de
instrumentos rudimentares, como peneiras de madeira exploração da mina descoberta.
conhecidas como bateias e pequenas escavadeiras cha-
Disponível em: <http://www.revistadehistoria.com.br>

madas almocafres.

Organização das minas


Com o objetivo de fiscalizar a extração mineral,
controlar a arrecadação de impostos e combater o con-
trabando de ouro no Brasil, o Estado português criou
a Intendência das Minas, em 1702, com a publicação
do Regime dos superintendentes, guardas-mores e ofi- Lavagem de ouro em uma mina,
gravura de Johann Moritz Rugendas (século XIX).
ciais deputados para as minas de ouro. Cada capitania
aurífera deveria ter uma intendência, cujos funcionários
eram o superintendente, os guardas-mores, os guardas-

177
Impostos fiado nas partes íntimas pelos negros que sonhavam em
acumular quantidade suficiente para comprar sua alforria.
O principal imposto cobrado na região minerado- As Casas de Fundição foram criadas por Portu-
ra era o quinto, que correspondia a 1/5 ou 20% de todo gal com o objetivo de combater o contrabando e a sone-
o ouro extraído. Merece destaque ainda a capitação, gação fiscal, determinando, ainda, que apenas o ouro nela
que correspondia a uma taxa – 17 g de ouro por cabeça fundido em barras quintadas e seladas poderia circular.
de escravo ao ano – paga pelos mineradores de acordo Aos mineradores cabia a tarefa de entregar sua produ-
com a quantidade de escravos que empregava. ção nas Casas de Fundição, onde o ouro seria fundido
O ouro arrecadado no quinto deveria ser enviado e transformado em barras, já descontado o quinto, que
para Portugal. Seu transporte, assim como todo o ouro na receberiam um selo real, antes de serem devolvidas. Os
região das “gerais”, deveria ser realizado, exclusivamen- que desobedecessem essa determinação poderiam ser
te, pela Estrada Real. Tal estrada tinha início em Diaman- punidos com o confisco de seus bens ou o degredo para
tina, cortava a região mineira, se bifurcava e chegava nos a África, ou os dois.
dois portos que tinham autorização para enviar o ouro
para Europa, os portos de Paraty e Rio de Janeiro.

Disponível em: <http://aulasonlinedehistoria.blogspot.com.


br/2015/10/inconfidencia-mineira-em-construcao-o.html>.
Acesso em: 18 jan. 2017.

Na segunda metade do século XVIII, a produção


aurífera começou a entrar em declínio, com quedas cada
vez mais acentuadas, provocando reduções na arrecada-
ção tributária da Metrópole.
Para a administração portuguesa, cujo primeiro-
-ministro do rei D. José I era o Marquês de Pombal, a
queda na arrecadação de impostos era resultado do con-
trabando e da sonegação praticados no Brasil. De fato, o
declínio era devido principalmente à superficialidade das
jazidas, bem como às técnicas de exploração ultrapassa-
das e predatórias.
A queda da produção aurífera e, consequente-
mente, da arrecadação tributária contrariavam os interes-
ses metropolitanos. Em razão disso, Portugal decretou, a
Disponível em: <http://trembaumdeminas.blogspot.com. partir de 1765, a finta, que obrigava a Colônia a enviar
br/p/estrada-real.html>. Acesso em: 18 jan. 2017. anualmente para a Metrópole a quantidade mínima de
100 arrobas (1500 kg) de ouro. Caso a meta estabele-
Como o ouro circulava em pó ou pepitas e a car-
cida não fosse cumprida, a Coroa decretaria a derrama,
ga tributária era muito alta, eram constantes a sonegação
que consistia na cobrança violenta do que faltasse, se
de impostos e o contrabando na região de minas. O ouro
necessário com invasão de domicílios e confisco de bens
era escondido em imagens de santo – que deu origem à
dos colonos para atingir a quantidade mínima exigida
expressão “santo do pau oco” –, nas roupas, em paredes
pela Coroa lusitana.
ou pisos com fundo falso e até mesmo era engolido ou en-

178
Extração de diamantes Consequências da mineração
”Frei Dom Lourenço nunca mais esqueceria da- As minas esgotaram-se no final do século XVIII
quela tarde, no ano de 1726. Estava quente e ele descan- e a atividade mineradora entrou em declínio, bem como
sava embaixo de uma árvore, onde alguns garimpeiros toda a região, uma vez que não existia uma outra ati-
jogavam cartas. O padre espremeu os olhos e custou a vidade que pudesse substituí-la. Todavia, a mineração
acreditar: ali estavam homens a pensar que aquelas pe- provocou profundas transformações e consequências
dras brilhantes, usadas como fichas, eram cristaizinhos econômicas, sociais, políticas e culturais na Colônia.
sem importância. Mas D. Lourenço tinha morado 17 anos §§ Aumento populacional, em razão da descoberta
em Goa, na Índia, um dos principais centros produtores
das minas; muita gente, de todos os cantos da co-
daquelas desprezadas “pedrinhas”. E não tinha a menor
lônia, da Europa e da África, foram para a região.
dúvida: as pedrinhas eram mesmo diamantes! É claro
§§ Urbanização, em razão da concentração popula-
que o esperto padre ficou na dele. Juntou as pedrinhas e
cional na região aurífera e depois diamantífera,
voltou para a Europa, ficando muito rico.”
SCHIMIDT, Mário Furley. Nova História crítica do Brasil: com a fundação de vilas e cidades, como Mariana,
500 anos de história mal contada. Vila Rica, São João del-Rei, Sabará e Congonhas
São Paulo: Nova Geração, 1999, p. 85-86.
do Campo, onde se desenvolveram atividades ti-
picamente urbanas de comércio, artesanato, mar-
Daí em diante, a exploração de diamantes desen-
cenaria etc.
volveu-se paralelamente à da exploração aurífera, o que
§§ Crescimento e diversificação de um segmento
levou a Colônia portuguesa a se transformar na segunda
médio na sociedade, composto por comercian-
maior produtora mundial de diamantes, atrás apenas da
tes, artesãos, profissionais liberais – médicos,
Índia. Quando se espalhou a notícia da descoberta de
professores, advogados – e ampliação da cama-
jazidas de diamantes na região do rio Jequitinhonha, pró-
da dos homens livres.
xima ao Arraial do Tijuco – atual Diamantina, em Minas
§§ Mais mobilidade social: a mineração possibilitou
Gerais –, a área de exploração passou a atrair uma quan- o enriquecimento e a melhoria na vida de mui-
tidade enorme de pessoas e ficou muito valorizada. Ime- tas pessoas, que ascendiam socialmente. Relatos
diatamente, a Coroa portuguesa declarou as terras como dão conta de que até mesmo escravos conse-
seu monopólio e passou a controlá-las com mão de ferro. guiam comprar sua alforria e sua liberdade com
Em 1729, foi criado o Distrito Diamantino a par- dinheiro acumulado do contrabando de metais e
tir de um regimento específico para os diamantes. Assim pedras preciosas.
como ocorreu com o ouro, foi criada a Intendência dos §§ Surgimento do mercado interno para abastecer
Diamantes, responsável pela fiscalização da extração dia- a região mineradora, graças ao aumento popu-
mantífera. lacional e a sua demanda, bem como desenvol-
Inicialmente, foi estabelecida no distrito a livre vimento de rotas comerciais.
extração, mediante o pagamento do quinto à Coroa. Em §§ Melhoria das estradas, com o intuito de favo-
1740, a extração de diamantes passou a ser restrita aos recer o abastecimento das minas e controlar o
controladores, homens de prestígio que tinham contra- fluxo do ouro.
tos de arrendamento com a Coroa. Um dos mais co- §§ Mudança do eixo econômico do Nordeste para
nhecidos contratadores foi João Fernandes de Oliveira, o Centro-Sul.
companheiro de Chica da Silva, a escrava que se tornou §§ Transferência da capital da Colônia de Salvador
senhora. Já em 1771, durante o governo do primeiro- para o Rio de Janeiro (1763), trazendo a admi-
-ministro Marquês de Pombal, a Coroa passou a contro- nistração mais próxima da área mineradora.
lar toda a exploração de diamantes (estanco) por meio §§ Incentivo às artes – barroco –, bem como desen-
da Intendência dos Diamantes. volvimento cultural da Colônia.
Assim como ocorreu com a extração do ouro, a §§ Conflitos, como a Guerra dos Emboabas, entre
extração de diamantes entrou em decadência no final paulistas e forasteiros pelo direito de explorar as
do século XVIII, também em razão da exploração preda- minas, sobre as quais os paulistas queriam ex-
tória e do esgotamento das minas. clusividade.

179
§§ Aumento da opressão fiscal, em razão da minera- As desavenças entre portugueses e espanhóis no
ção, que fez aumentar os impostos e acirrar a fis- Sul giravam em torno da Colônia de Sacramento, sur-
calização administrativa, burocrática e militar por gida em 1680, na margem esquerda do rio da Prata.
parte da Coroa. Os portugueses fundaram essa colônia comprometendo
§§ Revoltas, em razão da forte opressão e dos altos a segurança de Buenos Aires, prestes a se tornar vice-
impostos, como a Revolta de Vila Rica e a Inconfi- -reino espanhol. Os espanhóis atacaram Sacramento e
dência Mineira. aprisionaram todos os seus ocupantes.
Os portugueses reagiram energicamente. Para
/Wikimedia Commons

evitarem mais problemas, os espanhóis restituíram os


©

danos causados e assinaram o Tratado de Lisboa.

Os sete povos das missões

Igreja de São Francisco de Assis, em Ouro Preto, MG:


um exemplo da arquitetura barroca

Tratados de limites
Tratados de limites

Fonte: pt.slideshare.net/os-sete-povos-das-misses
Equador
Disponível em: <pt.slideshare.net/os-sete-povos-das-missoes>.
Acesso em: 19 jan. 2017.
Belém

São Luís

Colônia de Sacramento
AMÉRICA
PORTUGUESA A Colônia do Santíssimo Sacramento foi fundada
Salvador

TERRAS DA
Porto Seguro
em 1680, na margem esquerda do rio da Prata, próxima
ESPANHA
a Buenos Aires, pelo governador e capitão-mor da capi-
Vitória
tania do Rio de Janeiro, D. Manuel Lobo. O avanço portu-
São Paulo
560 km
Curitiba
Rio de Janeiro
guês em direção ao Sul, especialmente na região da Ba-
Tratado de Tordesilhas, 1494
Tratado de Madri, 1750 cia do Prata, visava garantir acesso às minas de prata de
Porto Alegre
OCEANO
Potosi, bem como ao comércio no estuário platino. Eco-
ATLÂNTICO
nomicamente, aquela região era muito estratégica para
Disponível em: <pt.slideshare.net/os-sete-povos-das-missoes>.
Acesso em: 19 jan. 2017. o intenso contrabando que se fazia no estuário do Prata
por navios portugueses e navios mercantes ingleses, bem
Posteriormente ao Tratado de Tordesilhas, de 7 como para o escoamento da prata peruana enviada para
de junho de 1494, Portugal celebrou uma série de ou- Buenos Aires e para o efervescente mercado de couros
tros tratados com países europeus, visando solucionar em que se transformara o porto de Sacramento.
problemas de fronteiras do Brasil Colonial. §§ Tratado de Lisboa (1681): a Espanha reconhe-
Em um panorama geral, a situação passou a ter ceu a Colônia de Sacramento como legítima pos-
o seguinte cenário: o Tratado de Tordesilhas foi deixado sessão portuguesa.
de lado, uma vez que os bandeirantes, as missões jesu- §§ Tratado de Utrecht (1713): assinado em 1713,
íticas e os criadores de gado não o respeitavam mais. entre Portugal e a França, estabelecia que o rio
Os espanhóis, por sua vez, reagiram contra a presença Oiapoque, ou Vicente Pinzón, seria considerado
portuguesa nas regiões meridionais (sul), onde tinham como limite entre o Brasil e a Guiana Francesa.
inúmeros interesses econômicos.
180
§§ Tratado de Utrecht (1715): assinado entre Habilidosamente, o Marquês de Pombal serviu-
Portugal e Espanha, em 1715, na cidade de Ultre- -se desse conflito para justificar a expulsão dos jesu-
ch, na Holanda, restabelecia a posse da Colônia ítas de Portugal e do Brasil, bem como aproveitou-se
de Sacramento a Portugal, que havia sido tomada da situação para não entregar a Colônia de Sacramen-
pelos espanhóis, dentro do contexto da Guerra de to à Espanha.
Sucessão Espanhola, em 1704. §§ Tratado de El-Pardo (1761): assinado entre
§§ Tratado de Madrid (1750): embora funda- Espanha e Portugal, revogou o Tratado de Ma-
da pelos portugueses, a Colônia de Sacramento drid. Em face da vigorosa resistência dos jesuítas
constituía um perigo iminente para os espanhóis, espanhóis dos Sete Povos das Missões, Portugal
já que estava localizada em seus domínios. Para teve muitas dificuldades para ocupar aquela
se defender, os espanhóis fundaram a cidade de região, recebida em troca da Colônia de Sacra-
Montevidéu, deixando Sacramento praticamente mento. Os jesuítas controlavam São Borja, Santo
sitiada pelas duas margens do rio da Prata domi- Ângelo, São Lourenço, São Luís, Santo Antônio,
nadas pelos espanhóis. São Miguel e São Nicolau, praticamente toda a
Mas além dos limites impostos pelo Tratado de região dos Sete Povos, e não estavam dispostos
Tordesilhas, havia inúmeros núcleos de colonização a aceitar o domínio português capitaneado por
portuguesa cujos interesses econômicos eram irrenun- seu adversário, o Marquês de Pombal.
ciáveis. Em vista disso, era urgente que espanhóis e por- De 1754 a 1756, as tropas portuguesas e
tugueses buscassem solucionar esses problemas, o que espanholas atacaram e venceram um grande núme-
foi feito pela assinatura do Tratado de Madrid, em 1750. ro de índios na região. Todavia, terminada a luta, o
Fernando VI, rei da Espanha, e Alexandre de Gusmão, comandante português, Gomes Freire, julgou seguro
diplomata nascido no Brasil, negociaram o Tratado de apoderar-se da área que ainda contava com muitos
Madrid, que estabelecia: índios rebelados.
1. Vigoraria o velho princípio de direito romano Comprometida a delimitação do sul, onde os
do uti possidetis, ita possideatis, ou seja, assim portugueses não devolveram Sacramento, todo o Trata-
como possuis, continuarás possuindo. Quem do de Madrid perdera sua validade, sendo anulado pelo
possui de fato deve possuir de direito. A pro- Tratado de El Pardo.
priedade da terra foi atribuída a Portugal, seu §§ Tratado de Santo Ildefonso (1777): as ques-
ocupante de fato. tões das fronteiras e a demarcação dos seus li-
2. Portugal, no entanto, aceitaria negociar a Colô- mites na América portuguesa promoveram hos-
nia de Sacramento recebendo em troca as terras tilidades entre portugueses e espanhóis durante
de colonização portuguesa além de Tordesilhas e um longo período. No reinado de D. Maria I, os
uma região denominada Sete Povos das Mis- portugueses cederam os Sete Povos das Missões
sões, localizada a noroeste do Rio Grande do Sul, à soberania espanhola, celebrando o acordo que
onde existiam aldeamentos guaranis dirigidos por transferia à Espanha o controle exclusivo sobre
jesuítas espanhóis. Portugal aceitou de imediato. o rio da Prata.
3. Ficou estabelecido também que, se porventura §§ Tratado de Badajós (1801): os conflitos tra-
as duas nações entrassem em guerra na Europa, vados em solo europeu entre Portugal e Espanha
a paz deveria continuar reinando nas colônias surtiram efeitos sobre os seus territórios na Amé-
da América. rica e resultaram na assinatura do Tratado de
Considerado o mais importante tratado de Badajós. Embora ele tenha determinado que a
fronteiras do período colonial, o Tratado de Madri es- Colônia de Sacramento passaria para a Espanha
tabeleceu um território cujas fronteiras muito se apro- e tenha se omitido em relação aos Sete Povos
ximam das atuais. Anularam-se as fronteiras estabele- das Missões, passado algum tempo, os gaúchos
cidas no Tratado de Tordesilhas, mas surgiram novos recuperaram a região de Sete Povos e incorpora-
conflitos. Os jesuítas espanhóis da região dos Sete Po- ram-na definitivamente ao Brasil, em 1804, com
vos recusaram-se a acatar o domínio português. Pas- o reconhecimento da Espanha.
saram a estimular a resistência indígena na chamada
Guerra Guaranítica (1750-1756).

181
INTERATIVI
A DADE

ASSISTIR

Vídeo Bandeirantes, Assassinos ou Heróis?

Fonte: Youtube

Vídeo O Brasil dos bandeirantes

Fonte: Youtube

Filme A Missão
O padre jesuíta Gabriel (Jeremy Irons) vai para a terra dos
guaranis, na América do Sul, com o propósito de converter
os nativos ao cristianismo. Rapidamente, ele constrói uma
missão, juntamente com Rodrigo Mendoza (Robert De Niro),
um comerciante de escravos em busca de redenção.

Filme Quilombo

Em torno de 1650, um grupo de escravos se rebela num engenho de


Pernambuco e ruma ao Quilombo dos Palmares, onde uma nação de
ex--escravos fugidos resiste ao cerco colonial.

182
ASSISTIR

Filme Xica da Silva

“Xica da Silva” é um filme brasileiro, dirigido por Carlos


Diegues, baseado no livro homônimo de João Felício dos
Santos, em 1976, com Zezé Motta e Walmor Chagas nos
papéis principais.

ACESSAR

Sites Bandeirantes

brasilescola.uol.com.br/historiab/entradas-bandeiras.htm
educacao.uol.com.br/disciplinas/historia-brasil/entradas-e-bandeiras-bandeirantes-expandiram-limites-do-brasil.htm
malucospelahistoria.blogspot.com.br/2015/07/bandeirantes-herois-ou-viloes.html

183
INTERATIVI
A DADE

LER

tt
Livros
Negros da Terra - John Manuel Monteiro
Colocando no centro do palco as populações indígenas e o
contato diferenciado que mantinham com colonos e jesuítas, o
historiador John Monteiro reinterpreta criticamente a formação
da sociedade paulista entre os séculos XVI e XVIII.

O Sequestro do Barroco na Formação da Literatura Brasileira:


o caso Gregório de Matos - Haroldo de Iluminuras Campos
Ligada ao prestígio da História no quadro das humanidades, principalmente
brasileiras, a ideia de que apresentar um autor, ou uma obra, ou toda uma
literatura, e explicitar-lhe a circunstância nada tem de inocente. Convive
com um deslizar da interpretação do fato para o próprio fato e dispensa o
observador, ele mesmo histórico, de assumir sua narrativa como narrativa.

Desclassificados do ouro - Laura de Mello e Graal Souza


Desclassificados de Ouro é uma dissertação de mestrado com
que Laura de Mello e Souza credenciou-se na confraria dos
historiadores.

Cultura e Opulência do Brasil por suas drogas e minas -


André João Antonil
Neste livro, André João Antonil apresenta um quadro das
principais riquezas do Brasil no limiar do século XVIII.

Opulência e Miséria Das Minas Gerais - Laura de Mello


e Souza
Quando a capitania das Minas Gerais conhecia o seu apogeu,
milhares de homens viviam na miséria, passavam fome, vagavam
sem destino pelos arraiais, tristes frutos deteriorados de um
sistema econômico doente e de uma estrutura de poder violenta.

184
OUVIR
Músicas
- Zumbi – Jorge Ben Jor
- Quilombo, o Eldorado Negro – Gilberto Gil
- Samba do Quilombo – Lenine
- Xica da Silva – Jorge Ben Jor

185
INTERDISCIPLINARIDADE

Durante a época das bandeiras e o ciclo minerador na região das Minas Gerais, ocorreu uma enorme corrida
populacional em direção ao interior do Brasil. Esse movimento humano pode ser visto como um dos primeiros gran-
des fluxos migratórios nacionais atrás de melhor situação econômica, podendo ser comparado a outros momentos
da História nacional, como o fluxo de nordestinos (principalmente cearenses fugindo da seca) para a região do Acre
durante o ciclo da borracha (auge: 1900 e 1915); a vinda de nordestinos para o Sudeste em busca de empregos na
indústria em ascensão durante o governo JK (1956-61); e a corrida para Serra Pelada, numa nova “febre do ouro”
(década de 1980).
Também é preciso ressaltar o florescimento da arte brasileira, que graças à opulência aurífera gerou um
ambiente propício ao surgimento de manifestações culturais, algo até então escasso no Brasil. Neste momento,
todo o destaque vai para a produção barroca, com suas igrejas, estátuas e produção literária, as quais, até hoje, são
símbolos do período áureo das Minas Gerais.

Igreja Nossa Senhora do Carmo, Ouro Preto-MG

186
CONSTRUÇÃO DE HABILIDADES

Habilidade 6 - Interpretar diferentes representações gráficas e cartográficas dos espaços geográficos.

Embora a habilidade 6 pareça ser mais sintonizada ao escopo da Geografia, a parte de


História do Enem cobra interpretações de mapas de seus candidatos. Estes devem ser
capazes de interpretar as legendas, títulos e informações disponíveis nos mapas para,
juntamente com seus conhecimentos históricos, escolher a alternativa correta.
Na história, os mapas ajudam a compreender conflitos entre nações, além de relações de
domínio e exploração de recursos naturais e humanos. O estudante deve familiarizar-se
com a interpretação deles.

Modelo
(Enem)

Rio Negro
nas Belém
mazo
Rio A
Rio Xingu

íba
s
apajó

rna
Pa
Rio T

Recife
o
Rio

c
cis
n

Rio Branco
Fra

Salvador
São

Porto Velho
Rio Paraná

Rio

Laguna Cuiabá
guai

Belo Horizonte
Vitória
Rio Uru

Rio de Janeiro
São Paulo

Laguna
0 300milhas

0 500km

Fronteira do Tratado de Tordesilhas (1494)


Território português conforme o Tratado de Tordesilhas
Território português conforme o Tratado de Madri (1750)
Fronteira do Tratado de San Ildefonso
BETHEL, L. História da América. V. I. São Paulo. Edusp, 1997.

As terras brasileiras foram divididas por meio de tratados entre Portugal e Espanha. De acordo com
esses tratados, identificados no mapa, conclui-se que
a) Portugal, pelo Tratado de Tordesilhas, detinha o controle da foz do rio Amazonas.
b) o Tratado de Tordesilhas utilizava os rios como limite físico da América portuguesa.
c) o Tratado de Madri reconheceu a expansão portuguesa além da linha de Tordesilhas.
d) Portugal, pelo Tratado de San Ildefonso, perdia territórios na América em relação ao de Tordesilhas.
e) o Tratado de Madri criou a divisão administrativa da América Portuguesa em Vice-Reinos Oriental e Ocidental.

187
Análise Expositiva

Habilidade 6
Após a chamada Restauração do trono português em 1640, surgiram conflitos entre Portugal
e Espanha quanto à definição de seus domínios na América do Sul, sobretudo a região plati-
na, pois durante a vigência da união das coroas ibéricas (1580-1640), colonos portugueses
se instalaram além da linha de Tordesilhas, uma vez que se evidenciou a nulidade do Tratado
de 1494.
O Tratado de Madri de 1750 anulava o de Tordesilhas e estabelecia fronteiras posteriormente
contestadas em outros tratados (El Pardo e Santo Ildefonso) e depois confirmadas no Tratado
de Badajós de 1801, definindo assim os domínios portugueses além da linha de Tordesilhas.
Alternativa C

Estrutura Conceitual

1 Bandeirismo e expansão territorial

Entradas Bandeiras ciclos do bandeirismo

Bandeirismo de Aprisionamento
organizadas expedições indígena (XVI - XVIII)
pelo governo particulares
Sertanismo de Contrato
(capturar escravos e arrasar populações
busca de São Paulo/ indígenas hostis e quilombos)
metal precioso São Vicente agrupamentos de
escravos fugidos
Bandeirismo de Caça ao ouro
respeitam o não respeitam Sertanismo de Prospecção
Tratado de o Tratado de
Tordesilhas Tordesilhas

2 Expansão territorial, a ocupação do sertão e a conquista do Sul

Sertão e Sul Pecuária

Missões Jesuíticas

188
3 Mineração

Regiões Minas Gerais Mato Grosso Goiás


1693 1718 1725

Tipos de Mina Faisqueiras Lavras

Organização Intendência das Fiscalização


Minas (1702)

Impostos Quinto Derrama


Capitação Finta

Casas de Fundição Extração de Diamantes


evitar o contrabando Diamantina (1729)

Consequências da Mineração

esgotamento das
minas no final do urbanização
séc. XVIII aumento crescimento e
populacional diversificação das
mais mobilidade melhoria nas classes médias
social estradas
surgimento de um novo eixo
mercado interno econômico:
transferência da surgimento do Centro-Sul
capital para o Rio barroco
de Janeiro revoltas e confli-
tos (Guerra dos opressão fiscal
Emboabas, etc.)

4 Tratados de Limites

Tratado de Tordesilhas não é respeitado


novos tratados de limite são feitos

Portugal e Espanha Portugal e França


Tratado de Lisboa (1681), Utrecht (1715) e Badajós (1801) Tratado de Utrecht (1713)
colônia de Sacramento limite do Brasil com
a Guiana Francesa
Tratado de Madri (1750)
uti possidetis, ita possideatis
colônia de Sacramento e Sete Povos das Missões
guerras entre as coroas europeias não interferem
nas colônias
Tratado de El Pardo (1761)
anula o tratado de Madri
Tratado de Santo Ildefonso (1777)
Sete Povos das Missões

189

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