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O Jogo de Palavras
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Seu primeiro defensor e estudioso a gastar energias nela foi Robert Lowth, que em 1753 publicou sua obra
em latim: LOWTH, Robert. De Sacra Poesi Hebraeorum: praelectiones academicae. 1753. Disponível em
<https://books.google.com.br/books?id=lDNBAAAAcAAJ&printsec=frontcover&hl=pt-
BR&source=gbs_ge_summary_r&cad=0#v=onepage&q&f=false>. Acesso em 25 de setembro de 2016. Caso
haja interesse, há um resumo de sua primeira palestra em <http://fair-use.org/robert-lowth/lectures-on-the-
sacred-poetry-of-the-hebrews/>. Não sei sobre a veracidade total de seu conteúdo, mas é, pelo menos,
interessante ler as ideias ali contidas.
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Primeira estrofe de uma poesia que escrevi para homenagear as mães de minha igreja, em 2010 e que ainda
não foi publicada. Além das rimas, ao final de cada frase, o ideal é que cada um de seu verso, também respeite
a quantidade de sílabas (tanto os versos métricos quanto os silábicos), para que na hora da leitura, possa soar
bem aos ouvidos.
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perde na tradução do texto. Por exemplo: para nossa língua as palavras ‘brancos’,3
‘tornar-se-ão’ e ‘devorados’, usadas pelo profeta Isaias, não tem nenhuma
aproximação possível ou imaginável. Todavia, suas correspondentes em hebraico,
usadas no verso 18b, 18c e 20b, do primeiro capítulo de Isaias, teriam sido
reorganizadas, segundo Malanga, afim de dar uma entonação sonora à frase dita
pelo profeta.4
Outro uso deste tipo pode ser vislumbrado em Isaias 5,7 quando o profeta
diz que “Deus esperava juízo e obteve derramamento e em lugar de justiça, houve
clamor”. Em português não há nenhuma correspondência, a não ser, meramente
semântica. Mas em hebraico juízo e derramamento de sangue possuem uma
pronúncia bem parecida (respectivamente, Mishpat e Mispah). De igual modo os
vocábulos hebraicos traduzidos por justiça e clamor por socorro tem uma sonoridade
bem semelhante (respectivamente, Tsedaqah e Tse‘aqah).
A Antífona
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As citações diretas relacionadas à Bíblia, serão realizadas à partir da versão BÍBLIA SAGRADA: Tradução
Brasileira. Barueri: SBB, 2010. Salvo outra indicação em contrário.
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MALANGA, Eliana Branco. A bíblia Hebraica como obra aberta: uma proposta interdisciplinar para uma
semiologia bíblica. São Paulo: Humanitas, FAPESP e FFLCH USP. 2005, p. 49.
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O Estribilho
De igual modo, não se trata de algo tão comum no texto bíblico. Mas, nem
por isso deveríamos descarta-lo. Os Salmos 42 e 43 pertencem a uma única
Unidade literária, isto é, originalmente eram um único cântico. Sua temática fica
muito melhor entendida, quando levamos em consideração o seu “coro”: “Por que
estás abatida oh minh’alma? Por que estás assim tão perturbada dentro de mim?
Coloque sua confiança em Deus. Ainda o louvarei. Ele é o meu Salvador e o meu
Deus.” (Salmos 42,5e11; 43.5). Outro texto, que certamente está ligado em torno de
seu estribilho é Isaias 9,7 a 10,4. Os versos 9,11.16.20 e 10,4 repetem a seguinte
expressão: “Apesar disso tudo, a ira divina não se desviou; sua mão continua
erguida”. Certamente um estribilho, ignorado em grande parte de nossas leituras.5
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A diferenças destes cânticos para os Salmos 107,; 118 e 136, considerados como Antífonas, é que lá o “coro”
seria cantado pela congregação, como se fosse uma resposta ao dirigente, enquanto que aqui, ao que parece,
todos cantam o cântico todo.
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O “Acróstico”
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Nome da primeira letra do alfabeto hebraico.
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Nome da segunda letra do alfabeto hebraico.
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Há teóricos que especulam que este capítulo estaria inacabado. Ou seja, primeiramente o profeta teria escrito
a mensagem e só num segundo momento teria se preocupado em organizá-la na forma acróstica. O que faz
sentido. Mas, a única certeza que temos é que lamentações de 1 a 4 estão em acróstico e o 5 não.
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correspondência com a nossa língua e, para dificultar um pouquinho mais, ele não
tem vogais.
O Paralelismo e o Quiasmo
Assim como seu nome sugere, é dado à estrutura onde a primeira parte
(frase ou palavra) tem a intenção de transmitir o mesmo significado que a sua
correspondente em paralelo. Ou seja, paralelismo sinônimo é quando as sentenças
(duas ou mais partes) possuem o mesmo significado. Uma frase não serve para
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VV. AA. Sabedoria e Poesia do Povo de Deus. São Paulo: Loyola, 1993, p. 67.
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explicar a outra, apenas repete o conceito com outras palavras. Nesta forma de
paralelismo a interpretação é simples, as sentenças devem ser lidas juntas tendo em
mente que a intenção do da poesia é enfatizar uma única verdade, usando palavras
diferentes. Por exemplo:
b) Paralelismo Sintético
c) Paralelismo Antitético
Acredito que sua mensagem seja de fácil compreensão. Nela, o poeta usa
de sentenças antônimas: a mulher sábia e a mulher insensata; uma edifica sua casa,
a outra a derruba. Também há uma escala de valor entre as duas frases e pode
ocorrer certo julgamento de valor. Assim, ao juntarmos as duas partes, poderemos
extrair uma valiosa lição. Outras situações em que isto acontece:
d) Paralelismo Climático
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Nossa intenção aqui, não é criar nada novo. Ainda que não tenhamos lido ninguém que faça esta junção. Só
pretendemos levantar a atenção para o fato de que em alguns momentos não é tão simples de se fazer as
devidas distinções. Não sabemos se era algo intencional do poeta e própria da poesia, ou, se à semelhança dos
dias de hoje, formalmente há regras para a poesia, mas vez por outra encontramos certos versos um pouco
destoante das normas poéticas pré-estabelecida. Mas, nem por isso, deixamos de chamar de poesia.
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Infelizmente as versões bíblicas traduziram literalmente
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(Salmo 93.3 e 4)
e) Paralelismo Analítico
Embora alguns autores não mencionem este tipo, há quem o descreva como
o poema a segunda sentença de um verso traz uma consequência relacionada à
primeira. Por exemplo:
Neste caso a segunda frase não apenas completa ou explica a primeira, mas
é consequência direta. Neste belo salmo o poeta demonstra que ela não sentirá falta
de nada porque Deus é o seu pastor. O conceito que o salmo transmite é que a
consequência de ter Deus à frente de sua vida fará o fiel sentir-se completo. Outros
modelos deste paralelismo:
f) Paralelismo Emblemático
Nesta estrutura, a primeira frase serve de emblema para a segunda, isto é, a
partir de uma metáfora bem conhecida e aceita, passa a descrever seu
ensinamento. Repare o que o sábio disse:
O Uso do Quiasmo
A - Compadeça-se Deus de nós, e nos abençoe, e sobre nós faça resplandecer o seu rosto; (v.1)
B - para que seja, na terra, conhecido o seu caminho, entre todas as nações a sua salvação.
(v.2)
C - Deem-te graças, ó Deus, os povos; deem-te graças os povos todos. (v.3)
D- Alegrem-se e cantem de júbilo as nações, pois julgarás os povos com
equidade e governarás as nações sobre a terra. (v.4)
C’ - Deem-te graças, ó Deus, os povos; deem-te graças os povos todos. (v.5)
B’ - A terra tem produzido o seu fruto. Deus, o nosso Deus, nos abençoará,
A’ -Deus nos abençoará, e todos os confins da terra o temerão.
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Resumindo: