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MIGUEL TEIXEIRA DE SOUSA

CPC ONLINE

CPC: art. 1.º a 58.º

Versão de 2021.02
MTS, CPC ONLINE
CPC - LIVRO I

Código de Processo Civil


LIVRO I
Da ação, das partes e do tribunal

Título I
Das disposições e dos princípios fundamentais

Artigo 1.º
Proibição de autodefesa

A ninguém é lícito o recurso à força com o fim de realizar ou assegurar o próprio direito, salvo
nos casos e dentro dos limites declarados na lei.

1 (a) O artigo enuncia o princípio da proibição da autotutela e consagra a imposição da heterotutela


através do recurso aos tribunais como forma de tutela de direitos e interesses (art. 20.º, n.º 1, CRP;
art. 26.º, n.º 1, LOSJ). O mesmo vale, através da consagração constitucional de um direito de acção
popular (art. 52.º, n.º 3, CRP), para a tutela de interesses difusos. (b) A proibição da autotutela
decorre do monopólio do Estado no uso da coerção para a tutela de situações subjectivas.
2 Excepcionalmente, a lei admite a autotutela através de institutos como a acção directa (art. 336.º,
1277.º, 1314.º e 1315.º CC), a legítima defesa (art. 337.º CC), o estado de necessidade (art. 336.º
CC) e o direito de retenção (art. 754.º e 755.º CC).

Artigo 2.º
Garantia de acesso aos tribunais

1 - A proteção jurídica através dos tribunais implica o direito de obter, em prazo razoável,
uma decisão judicial que aprecie, com força de caso julgado, a pretensão regularmente
deduzida em juízo, bem como a possibilidade de a fazer executar.
2 - A todo o direito, exceto quando a lei determine o contrário, corresponde a ação adequada
a fazê-lo reconhecer em juízo, a prevenir ou reparar a violação dele e a realizá-lo
coercivamente, bem como os procedimentos necessários para acautelar o efeito útil da ação.

1 O n.º 1 atribui um direito à acção (ou à execução), isto é, um direito dos particulares à prestação
jurisdicional do Estado. O n.º 2 consagra um direito de acção (ou de execução) de um particular
(autor, exequente) contra um outro particular (réu, executado).
2 (a) O direito à acção consagrado no n.º 1 implica o direito de acesso aos tribunais, que é uma
contrapartida necessária da proibição da autotutela e da imposição da heterotutela (art. 1.º) e
constitui uma consequência do princípio do Estado de direito democrático (art. 2.º CRP). O direito
de acesso aos tribunais encontra-se consagrado, de forma implícita, no art. 6.º, n.º 1, CEDH, no art.
10.º DUDH, no art. 47.º CDF e no art. 14.º, n.º 1, PIDCP. (b) O direito de acesso aos tribunais destina-
se a facultar a tutela em juízo quer de direitos e interesses legalmente protegidos (art. 20.º, n.º 1,
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CRP; art. 26.º, n.º 1, LOSJ), quer de interesses difusos (art. 52.º, n.º 3, CRP). (c) No âmbito do
processo civil, o direito de acesso aos tribunais vale tanto para os processos declarativos (art. 10.º,
n.º 1, 2 e 3), como para os processos executivos (art. 10.º, n.º 1, 4, 5 e 6). O processo executivo
constitui uma garantia da efectividade das decisões dos tribunais (TEDH 18357/91). (d) A denegação
de justiça por violação do direito de acesso aos tribunais é susceptível de constituir o Estado em
responsabilidade civil (art. 12.º RRCE) e de justificar a condenação do Estado português numa
“reparação razoável” a prestar ao prejudicado (art. 6.º, n.º 1, 34.º e 41.º CEDH).
3 (a) O direito à acção e o correspondente direito de acesso aos tribunais têm como complemento a
garantia do processo equitativo (art. 20.º, n.º 4, CRP; art. 6.º CEDH; art. 10.º DUDH; art. 47.º CDF;
art. 14.º, n.º 1, PIDCP; art. 26.º, n.º 3, LOSJ). Esta garantia, além da obtenção de uma decisão ou
de uma execução em prazo razoável (art. 20.º, n.º 4, CRP; art. 6.º, n.º 1, CEDH; art. 47.º CDF; art.
26.º, n.º 3, LOSJ; TC 259/2000; TC 298/2005), implica, nomeadamente, a independência e a
imparcialidade do tribunal (art. 6.º, n.º 1, CEDH; art. 10.º DUDH; art. 47.º CDF; art. 14.º, n.º 1, PIDCP),
a igualdade das partes (art. 4.º), a publicidade do processo (art. 6.º, n.º 1, CEDH; art. 10.º DUDH;
art. 14.º, n.º 1, PIDCP) e a previsibilidade e fundamentação da decisão (art. 3.º, n.º 3; art. 205.º CRP;
art. 24.º, n.º 1, LOSJ). (b) A garantia do juiz natural – isto é, do juiz competente que seja determinado
através de uma lei abstracta e geral em vigor no momento da propositura da acção – constitui
igualmente um corolário da garantia do acesso aos tribunais (art. 6.º, n.º 1, CEDH; no âmbito do
processo penal, art. 32.º, n.º 9, CRP). (c) No domínio do processo executivo, o processo equitativo
exige um equilíbrio entre os direitos e os interesses conflituantes do exequente e do executado de
que são expressão a proporcionalidade da penhora (art. 735.º, n.º 3), a penhorabilidade apenas
parcial de certos bens (art. 738.º) e a protecção da habitação do executado (art. 704.º, n.º 4, 733.º,
n.º 5, 785.º, n.º 4, 861.º, n.º 6, 863.º, n.º 1 e 3, e 864.º, n.º 1). (c) As garantias processuais das partes
são violadas pelo legislador ou pelo aplicador do direito se o forem de modo desproporcionado e
intolerável (TC 266/93). (d) A violação das garantias do processo equitativo num processo é
susceptível de originar responsabilidade civil do Estado (art. 12.º RRCE) e de constituir fundamento
para condenar o Estado português a indemnizar a parte prejudicada numa “reparação razoável” (art.
6.º, n.º 1, 34.º e 41.º CEDH).
4 (a) O n.º 2 estabelece a correspondência entre o direito subjectivo (substantivo) (ius) e a acção
(processual) (actio). Com um âmbito um pouco mais limitado, mas estabelecendo a mesma
correspondência entre o direito e a acção, o art. 817.º CC dispõe que, se a obrigação não for
cumprida, o credor tem o direito de exigir judicialmente o seu cumprimento e de executar o património
do devedor. Ambos os preceitos legais atribuem ao interessado um direito de acção ou de execução.
(b) A correspondência entre o direito e a acção mostra a função instrumental do processo civil: a
acção é um meio de tutela daquele direito. A acção processual pode ser declarativa (art. 10.º, n.º 1,
2 e 3) ou executiva (art. 10.º, n.º 1, 4, 5 e 6).
5 O n.º 2 assegura uma correspondência entre o direito subjectivo e os procedimentos necessários
para acautelar o efeito útil da acção. Estes procedimentos são os procedimentos cautelares (art.
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362.º a 409.º). Os procedimentos cautelares, ao assegurarem a utilidade da tutela definitiva,


constituem um dos meios de garantia da efectividade do processo.
6 (a) O n.º 2 admite, excepcionalmente, a falta de correspondência entre o direito subjectivo e o direito
de acção. A exclusão legal da accionabilidade do direito verifica-se, p. ex., nas obrigações prescritas
(art. 304.º, n.º 1 e 2, CC) e nas obrigações naturais (art. 402.º CC). (b) É inválido o pactum de non
petendo, ou seja, o acordo pelas quais as partes excluem, total ou parcialmente e temporária ou
permanentemente, a accionabilidade de um direito, tanto no plano da acção declarativa, como no da
acção executiva.

Artigo 3.º
Necessidade do pedido e da contradição

1 - O tribunal não pode resolver o conflito de interesses que a ação pressupõe sem que a
resolução lhe seja pedida por uma das partes e a outra seja devidamente chamada para
deduzir oposição.
2 - Só nos casos excecionais previstos na lei se podem tomar providências contra
determinada pessoa sem que esta seja previamente ouvida.
3 - O juiz deve observar e fazer cumprir, ao longo de todo o processo, o princípio do
contraditório, não lhe sendo lícito, salvo caso de manifesta desnecessidade, decidir questões
de direito ou de facto, mesmo que de conhecimento oficioso, sem que as partes tenham tido
a possibilidade de sobre elas se pronunciarem.
4 - Às exceções deduzidas no último articulado admissível pode a parte contrária responder
na audiência prévia ou, não havendo lugar a ela, no início da audiência final.

1 O artigo consagra o ónus do impulso inicial do demandante, exequente ou requerente (n.º 1), o
princípio do contraditório (n.º 1, 2 e 4) e a proibição das decisões-surpresa (n.º 3).
2 (a) Em processo civil, o tribunal não toma a iniciativa de promover a resolução do litígio entre os
interessados (nemo iudex sine actore; ne iudex procedat ex officio). Para que o litígio possa ser
resolvido pelo tribunal, é necessário que um desses interessados, fazendo uso do seu direito à acção
(art. 2.º, n.º 1; art. 20.º, n.º 1, e 52.º, n.º 3, CRP; art. 26.º, n.º 1, LOSJ), promova a propositura da
acção. Ao interessado é imposto um ónus de impulso inicial: sem o cumprimento deste ónus, o
tribunal não pode resolver o litígio entre os interessados. (b) O princípio do impulso é, a par da
definição pelas partes do objecto do processo (art. 5.º, n.º 1, 552.º, n.º 1, al. d) e e), e 572.º, al. c)),
uma das vertentes da disponibilidade das partes sobre o processo. (c) É inexistente qualquer
processo que não tenha sido instaurado por uma parte; do mesmo vício padecem quaisquer
decisões que nele sejam proferidas.
3 (a) Para que o tribunal possa resolver um conflito de interesses, é necessário que a parte que propõe
a acção formule um pedido, ou seja, requeira uma forma de tutela jurisdicional para um alegado
direito ou interesse (art. 552.º, n.º 1, al. e)). (b) Em princípio, o tribunal só pode apreciar o pedido
formulado pela parte (art. 609.º, n.º 1; Ac. STJ 13/96, de 26/11; Ac. STJ 9/2015, de 24/6). No entanto,
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quando o tribunal conhecer oficiosamente da nulidade de um negócio jurídico invocado no


pressuposto da sua validade e quando na acção tiverem sido fixados os necessários factos, a parte
deve ser condenada, ex officio, na restituição do recebido em cumprimento desse negócio, com
fundamento no disposto no art. 289.º, n.º 1, CC (Ass. STJ 4/95, de 17/5).
4 (a) O princípio do contraditório é um dos corolários do processo equitativo (art. 20.º, n.º 4, e, no
âmbito do processo penal, 32.º, n.º 5, CRP; art. 26.º, n.º 3, LOSJ; TC 1193/96; TC 358/98; TC
259/2000; TC 298/2005). (b) A garantia do contraditório exprime dois direitos fundamentais: (i) um
direito de resposta de uma parte perante a outra parte, dado que qualquer das partes tem o direito
a pronunciar-se sobre as alegações da parte contrária (n.º 1 in fine); (ii) um direito à audição prévia
da parte perante o tribunal, dado que, antes de decidir, o tribunal deve ouvir sempre ambas as partes
(audiatur et altera pars; rechtliches Gehör: n.º 3 1.ª parte; no âmbito da prova, art. 415.º). Este direito
à audição prévia implica a proibição da indefesa, ou seja, a proibição do proferimento de uma decisão
contra quem antes não teve a possibilidade de se pronunciar sobre a matéria (TC 298/2005). (c)
Atendendo à importância do princípio do contraditório, só em casos excepcionais é possível proferir
uma decisão contra alguém sem a sua auscultação prévia. É o que sucede, atendendo à
necessidade da produção de um efeito-surpresa, no âmbito dos procedimentos cautelares (art. 366.º,
n.º 1, 378.º e 393.º), embora, naturalmente, esteja garantido um contraditório diferido (art. 366.º, n.º
6, 372.º, n.º 1, e 376.º, n.º 1).
5 (a) O exercício do contraditório não pode ser condicionado por limitações impostas pela tramitação
da causa, pelo que o n.º 4 determina que, se uma excepção for deduzida no último articulado que,
no caso concreto, é admissível, a resposta da parte contrária pode ser apresentada na audiência
prévia (art. 591.º) ou no início da audiência final (art. 604.º). O exercício do contraditório também
pode ser realizado de forma oral. (b) A possibilidade do exercício do contraditório pela parte exige
que esta tenha conhecimento da propositura da acção ou das alegações da outra parte. O
contraditório da parte exige, por isso, o cumprimento de um dever de informação quer pelo tribunal
(nomeadamente, através da citação ou das notificações: art. 219.º, n.º 1 e 2), quer pela outra parte
(art. 221.º, n.º 1).
6 (a) Se o juiz conhecer de uma matéria de facto ou de direito alegada por uma das partes sem
previamente ter sido concedida à parte contrária a possibilidade de exercer o contraditório, a decisão
é nula por excesso de pronúncia (art. 615.º, n.º 1, al. d), 666.º, n.º 1, e 685.º), porque o juiz decide
essa questão de facto ou de direito quando não estão reunidas as condições para se poder
pronunciar sobre ela. (b) Se o juiz, através de uma decisão, entender que o exercício do contraditório
pela parte se encontra precludido ou que a parte não tem direito ao contraditório, a decisão é
impugnável nos termos gerais.
7 (a) O n.º 3 consagra a proibição das decisões-surpresa. (b) Ao juiz é concedida a faculdade de
conhecer oficiosamente de matéria de direito e a liberdade de qualificação jurídica (art. 5.º, n.º 3) e
pode ser atribuída a faculdade de conhecer ex officio de matéria de facto. Isto não implica que o juiz
possa aplicar essa matéria ou essa qualificação numa decisão sem que antes disso as partes
tenham tido a possibilidade de se pronunciarem sobre a questão (TC 510/2015). P. ex.: o tribunal
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pode conhecer da nulidade de qualquer acto jurídico (art. 286.º e 295.º CC); no entanto, se a nulidade
do acto não tiver sido suscitada por nenhuma das partes e se não for exigível que essa nulidade
tivesse sido discutida no processo, o tribunal deve ouvir previamente as partes sobre essa
invalidade. (c) A auscultação prévia é dispensada quando teria sido exigível que as partes tivessem
discutido a questão de direito ou de facto ou antecipado a alteração da qualificação jurídica, bem
como em caso de manifesta desnecessidade (n.º 3). É o que se verifica, p. ex., quando o tribunal
profere um despacho de mero expediente (art. 152.º, n.º 4 1.ª parte) ou convida uma das partes a
aperfeiçoar o seu articulado deficiente (art. 590.º, n.º 2, al. b), e 4).
8 A violação da proibição da decisão-surpresa implica um vício da própria decisão-surpresa. A
decisão-surpresa é, em si mesma, um vício processual que nada tem a ver com a tramitação
processual e, por isso, com as nulidades processuais. A decisão-surpresa é uma decisão nula por
excesso de pronúncia (art. 615.º, n.º 1, al. d), 666.º, n.º 1, e 685.º), porque o tribunal conhece de
matéria que, nas condições em que o fez, não podia conhecer (RP 2/3/2015 (39/13); STJ 23/6/2016
(1937/15); RG 19/3/2020 (6760/19)).

Artigo 4.º
Igualdade das partes

O tribunal deve assegurar, ao longo de todo o processo, um estatuto de igualdade


substancial das partes, designadamente no exercício de faculdades, no uso de meios de
defesa e na aplicação de cominações ou de sanções processuais.

1 (a) O princípio da igualdade das partes é uma consequência do princípio da igualdade perante a lei
(art. 13.º CRP) e constitui uma das dimensões do processo equitativo (art. 20.º, n.º 4, CRP; art. 26.º,
n.º 3, LOSJ; TC 147/92; TC 516/93; TC 676/2005). (b) O princípio impõe-se tanto ao legislador – que
não deve consagrar regimes legais que não garantam a igualdade das partes –, como ao juiz – que
deve salvaguardar e observar o princípio da igualdade das partes em qualquer acção pendente.
Ambos estão vinculados a assegurar a igualdade das partes perante o juiz.
2 O princípio da igualdade impõe-se ao legislador, como se encontra concretizado no art. 144.º, n.º 7
(forma de realização dos actos quando a parte não se encontra patrocinada por advogado) e no art.
569.º, n.º 5 (prorrogação do prazo de contestação). O princípio não é observado no art. 560.º quando
a parte se encontra representada por advogado, pelo que não pode deixar de se entender que se
trata de uma norma inconstitucional por violação do estabelecido no art. 13.º CRP.
3 (a) O artigo regula apenas a função do juiz como destinatário do princípio da igualdade das partes,
embora tenha a preocupação de o fazer pela óptica de uma igualdade substancial, ou seja, de uma
igualdade material (ou não formal) e, por isso, de uma igualdade em função das partes concretas e
do caso concreto. (b) Para o juiz, o princípio da igualdade das partes impõe dois deveres: (i) o dever
de tratamento igual das partes; (ii) o dever de correcção de desigualdades entre as partes.
4 (a) O dever de tratamento igual impõe que o juiz trate de forma igual o que é igual e de forma desigual
o que é desigual. P. ex.: o juiz deve conceder a ambas as partes os mesmos prazos para a realização
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de actos idênticos, mas, atendendo à carência económica de uma das partes, pode determinar a
redução ou a dispensa da multa devida pela realização do acto fora de prazo (art. 139.º, n.º 8). O
princípio do contraditório consagrado no art. 3.º constitui um corolário do princípio da igualdade das
partes (TC 516/93; TC 676/2005), pelo que o disposto no artigo impõe que o juiz observe e faça
observar o contraditório no processo. (b) O dever de correcção de desigualdades impõe que o juiz,
através do exercício da sua função auxiliar, corrija situações de desigualdade entre as partes. É este
dever que justifica o dever de o juiz convidar qualquer das partes a aperfeiçoar o seu articulado
deficiente (art. 590.º, n.º 2, al. b), e 4).
5 O respeito do princípio da igualdade das partes impõe-se para outros órgãos, como a secretaria do
tribunal ou o agente de execução.

Artigo 5.º
Ónus de alegação das partes e poderes de cognição do tribunal

1 - Às partes cabe alegar os factos essenciais que constituem a causa de pedir e aqueles em
que se baseiam as exceções invocadas.
2 - Além dos factos articulados pelas partes, são ainda considerados pelo juiz:
a) Os factos instrumentais que resultem da instrução da causa;
b) Os factos que sejam complemento ou concretização dos que as partes hajam alegado e
resultem da instrução da causa, desde que sobre eles tenham tido a possibilidade de se
pronunciar;
c) Os factos notórios e aqueles de que o tribunal tem conhecimento por virtude do exercício
das suas funções.
3 - O juiz não está sujeito às alegações das partes no tocante à indagação, interpretação e
aplicação das regras de direito.

1 O artigo trata da repartição de poderes entre as partes e o tribunal quer quanto à matéria de facto
(n.º 1 e 2), quer quanto à matéria de direito (n.º 3).
2 Relativamente à matéria de facto, o regime é o seguinte: (i) as partes têm o ónus de alegação da
causa de pedir e do fundamento das excepções (n.º 1); (ii) sem prejuízo da sua alegação pelas
partes, podem ser considerados pelo tribunal quer os factos complementares e os factos probatórios
(ou instrumentais) que sejam apurados durante a instrução da causa (n.º 2, al. a) e b)), quer ainda
os factos notórios e os factos de conhecimento funcional (n.º 2, al. c)).
3 (a) O disposto no n.º 1 e 2 mostra a medida da definição pelas partes dos factos que o tribunal pode
considerar. Como se pode concluir, apenas os factos que integram a causa de pedir ou o fundamento
da excepção estão na completa disponibilidade das partes, isto é, não podem ser conhecidos pelo
tribunal se não forem alegados pelas partes. (b) O conhecimento pelo tribunal de factos não
alegados pelas partes pressupõe a atribuição a esse órgão de poderes inquisitórios, como sucede
nos processos de jurisdição voluntária (art. 986.º, n.º 2). O princípio é o de que o tribunal possui
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poderes inquisitórios sobre a matéria de facto nos processos em que é relevante o interesse público
na busca da verdade.
4 (a) Os factos que integram a causa de pedir são (apenas) aqueles que são necessários para
individualizar o direito ou interesse que a parte pretende tutelar em juízo. No campo obrigacional, a
causa de pedir é a fonte da obrigação alegada pela parte e, na área dos direitos reais, a causa de
pedir é o título de aquisição do direito real invocado pela parte (art. 581.º, n.º 4). Num plano mais
geral, pode dizer-se que a causa de pedir é o título constitutivo do direito ou do interesse que a parte
pretende tutelar em juízo. (b) O fundamento da excepção (peremptória: art. 576.º, n.º 1 e 3) é o facto
necessário para individualizar a excepção invocada pela parte, ou seja, é o facto impeditivo,
modificativo ou extintivo que fundamenta essa excepção. P. ex.: o pagamento da dívida é o facto
extintivo da obrigação que fundamenta a correspondente excepção. (c) O tribunal está vinculado a
apreciar a acção com base na causa de pedir e no fundamento da excepção invocados pela parte,
pelo que, sob pena de nulidade da sua decisão, não pode nem desconsiderar esses factos (omissão
de pronúncia), nem considerar outros factos (excesso de pronúncia) (art. 615.º, n.º 1, al. d), 666.º,
n.º 1, e 685.º).
5 Os factos complementares (ou concretizadores) são os factos que, não integrando a causa de pedir
(porque não são necessários para individualizar o direito ou o interesse alegado pela parte),
pertencem ao Tatbestand da regra que atribui esse direito ou interesse ou são circunstanciais em
relação ao facto constitutivo desse direito ou interesse. P. ex.: (i) o senhorio pode denunciar o
contrato de arrendamento para habitação de duração indeterminada com fundamento na
necessidade de habitação pelo próprio ou pelos seus descendentes em 1.º grau (art. 1101.º, al. a),
CC); qualquer facto que demonstre esta relação de parentesco é um facto complementar; (ii) o credor
pode pedir a condenação do devedor no pagamento de uma dívida vencida; qualquer facto relativo
ao vencimento da dívida – como o decurso do prazo de vencimento – constitui um facto
complementar.
6 (a) Os factos complementares não integram a causa de pedir por, pelo menos, duas razões. Antes
do mais, a não alegação pela parte do facto complementar não implica a ineptidão da petição inicial
por falta de causa de pedir (art. 186.º, n.º 2, al. a)). Se, p. ex., o senhorio, na sua petição inicial de
denúncia do contrato de arrendamento, não invocar os factos que comprovam a relação de
parentesco com o filho, a consequência não é o indeferimento da petição inicial por falta de causa
de pedir (art. 186.º, n.º 2, al. a), e 590.º, n.º 1), mas antes o convite ao aperfeiçoamento da petição
inicial (art. 590.º, n.º 2, al. b), e 4). (b) Acresce que a modificação do facto complementar não implica
nenhuma alteração da causa de pedir. Se, p. ex., o autor alegar que a dívida se encontra vencida
porque se completou o prazo para o vencimento e se verificar que, afinal, a dívida está vencida
porque se verificou a condição suspensiva da qual dependia esse vencimento, não ocorre nenhuma
alteração da causa de pedir. (c) Em suma: ao contrário do que defendia a antiquada teoria da
substanciação, não há que identificar os factos que são essenciais para a procedência da causa
com os factos que integram a causa de pedir (dif. LF I (2018), n.º 2 e 13; GPS I (2020), n.º 2).
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7 (a) A consagração do convite ao aperfeiçoamento dos articulados (art. 590.º, n.º 2, al. b), e 4) e da
consideração pelo tribunal de factos complementares não alegados pelas partes (n.º 2, al. b)) mostra
que a causa de pedir é mais restrita do que os factos que podem ser necessários para que a acção
seja julgada procedente. (b) Esta orientação compatibiliza-se, sem problemas, com o disposto no
art. 581.º, n.º 4. P. ex.: segundo aquele preceito, nas acções reais, a causa de pedir é o facto jurídico
de que deriva o direito real, ou seja, é um dos títulos de aquisição enumerados no art. 1316.º CC;
tome-se como exemplo o contrato: a celebração do contrato integra a causa de pedir; a data de
celebração do contrato (que pode ter a maior relevância para se apurar se se está perante a
alienação de uma coisa alheia e, portanto, se a acção deve ser julgada procedente ou improcedente)
é um facto complementar que não integra aquela causa petendi.
8 (a) Os factos complementares adquiridos durante a instrução da causa só podem ser considerados
se as partes tiverem tido a oportunidade de se pronunciarem sobre eles, ou seja, se as partes tiverem
podido exercer o contraditório quanto a factos que lhes podem ser opostos. Em princípio, esta
condição está preenchida, dado que, por natureza, a produção da prova está submetida ao
contraditório (art. 415.º). (b) O princípio da aquisição processual impõe que não se exija qualquer
concordância das partes quanto à utilização do facto complementar (RC 16/2/2016 (12/14); RE
3/11/2016 (232/10); dif. LF I (2018), n.º 5).
9 Além de factos complementares da causa de pedir também são pensáveis factos complementares
do facto impeditivo, modificativo ou extintivo que fundamenta a excepção. P. ex.: o facto respeitante
ao modo como a obrigação foi cumprida constitui um facto complementar do facto extintivo que é o
cumprimento dessa obrigação. O referido a propósito dos factos complementares da causa de pedir
vale, mutatis mutandis, para os factos complementares do fundamento da excepção.
10 Com a alegação dos factos essenciais e complementares prendem-se dois aspectos essenciais: (i)
a observância dos deveres de verdade e de completude; (ii) a medida da substanciação das
alegações de autores e réus.
11 (a) A parte deve respeitar os deveres de verdade e de completude, sob pena de ser considerada
como litigante de má fé (art. 542.º, n.º 2, al. b)). (b) Isto não impede que a parte alegue factos de
que não tem a certeza que sejam verdadeiros, como é demonstrado pela admissibilidade da
formulação de pedidos subsidiários (art. 554.º, n.º 1) ou pela subsidiariedade da defesa por
impugnação perante a defesa por excepção. No entanto, o dever de verdade obsta a que a parte
alegue factos “a ver se pega” ou factos que sabe que não são verdadeiros e o dever de completude
obsta a que a parte omita factos relevantes que sabe que são verdadeiros.
12 (a) A medida de substanciação da alegação que é exigida à parte é a que decorrer do dever de
conhecimento do facto pela parte. (b) Ambas as partes – autor e réu – só têm o ónus de alegar factos
que tenham a obrigação de conhecer, pelo que não podem sofrer nenhuma desvantagem da
omissão da alegação de factos que não devam conhecer. Um afloramento desta solução encontra-
se no disposto no art. 574.º, n.º 3, quanto às consequências das declarações evasivas, dado que
estas têm um carácter impugnatório quanto a factos que o réu não tem a obrigação de conhecer e
um carácter confessório quanto a factos que o réu não pode deixar de conhecer. (c) A aplicação da
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regra é especialmente importante nos casos em que se verifique uma assimetria nas informações
das partes, ou seja, nos quais uma delas conhece o que a outra não tem a obrigação de conhecer
(RL 14/7/2020 (18383/17)). Aquela regra justifica, em conjunto, as seguintes soluções: (i) o autor de
uma acção de responsabilidade civil médica não tem o ónus de alegar factos que não tem a
obrigação de conhecer (como, p. ex., a violação das leges artis); (ii) o réu tem o ónus de alegar
factos que conhece e que o autor não tem a obrigação de conhecer (p. ex., a observância das leges
artis).
13 (a) Os factos notórios são aqueles que são do conhecimento geral, aqueles que são do
conhecimento regional ou local ou ainda aqueles que qualquer pessoa pode conhecer através de
meios de informação comuns (como, p. ex., a correspondência entre uma data e um dia da semana).
(b) Os factos de conhecimento funcional são os factos de que o tribunal tem conhecimento no
exercício das suas funções (como, p. ex., o falecimento de uma das partes, comunicado e provado
numa outra acção).
14 Os factos probatórios (ou instrumentais) são os factos que constituem a base de uma presunção
legal (art. 349.º e 350.º CC) ou judicial (art. 349.º e 351.º CC). As presunções judiciais (ou naturais)
permitem, com base em máximas de experiência, inferir o facto probando de um facto probatório. P.
ex.: são factos probatórios aqueles que, perante a alegação da aquisição da propriedade através de
usucapião, demostram a posse da coisa.
15 (a) O n.º 5 estabelece, no âmbito da matéria de direito, a liberdade de qualificação do tribunal da
matéria de facto alegada pelas partes ou adquirida no processo. Trata-se de um aspecto do princípio
iura novit curia, dado que este princípio estabelece, além da liberdade de aplicação do direito em
concordância com a qualificação fornecida pelas partes, também a liberdade de qualificação pelo
tribunal dos factos alegados pelas partes (Ac. STJ 3/2001, de 9/2). (b) O princípio iura novit curia
expressa a repartição de funções entre as partes (que têm o ónus de alegar os factos) e o tribunal
(que tem a liberdade de qualificar esses factos) e que se expressa no antigo brocardo da mihi facta,
dabo tibi ius. (c) A liberdade de qualificação vale indistintamente para o direito interno, o direito
europeu e o direito internacional aplicado pelo tribunal na apreciação do mérito da causa.

Artigo 6.º
Dever de gestão processual

1 - Cumpre ao juiz, sem prejuízo do ónus de impulso especialmente imposto pela lei às partes,
dirigir ativamente o processo e providenciar pelo seu andamento célere, promovendo
oficiosamente as diligências necessárias ao normal prosseguimento da ação, recusando o
que for impertinente ou meramente dilatório e, ouvidas as partes, adotando mecanismos de
simplificação e agilização processual que garantam a justa composição do litígio em prazo
razoável.
2 - O juiz providencia oficiosamente pelo suprimento da falta de pressupostos processuais
suscetíveis de sanação, determinando a realização dos atos necessários à regularização da
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instância ou, quando a sanação dependa de ato que deva ser praticado pelas partes,
convidando estas a praticá-lo.

1 (a) A epígrafe do artigo refere-se ao dever de gestão processual, mas o artigo consagra realmente
os deveres de direcção e de gestão processual do juiz (n.º 1) e o dever de sanação da falta de
pressupostos processuais pelo juiz (n.º 2). (b) Num sentido amplo, o dever de gestão processual do
juiz comporta os deveres de direcção do processo, de gestão processual em sentido estrito e de
sanação dos vícios processuais.
2 (a) O dever de direcção do processo desdobra-se num dever de promoção e num dever de controlo.
(b) Conforme decorre do disposto no n.º 1, o impulso processual reparte-se entre as partes – sobre
as quais recai um ónus de impulso processual – e o tribunal – sobre o qual incide um dever de
impulso processual. Esta repartição não é, no entanto, simétrica, dado que, em regra, o impulso
processual compete às partes: é assim quer quanto ao impulso inicial que é necessário para que
acção se considere proposta ou pendente (art. 3.º, n.º 1), quer quanto ao impulso subsequente que
é indispensável para que a acção corra os seus termos (como, aliás, decorre do disposto no art.
281.º, n.º 1 a 3, quanto à deserção da instância). (c) Em tudo o que não depende do impulso das
partes, cabe ao juiz promover a prática dos actos necessários para o andamento célere do processo
(n.º 1). É o que vale, p. ex., para citações e notificações e para a marcação de audiências.
3 O dever de direcção do processo também implica um dever de controlo sobre os pedidos formulados
pelas partes, cabendo ao juiz recusar o que for impertinente (por ser irrelevante para a decisão da
causa) ou dilatório (por ter apenas uma finalidade protelatória da decisão do processo) (n.º 1). Este
controlo pode conduzir à condenação da parte como litigante de má fé (art. 542.º, n.º 2, al. d)).
4 (a) O dever de gestão processual em sentido estrito (case management) destina-se a permitir a
adequação dos actos processuais e da tramitação da causa às especificidades do seu objecto, de
modo a possibilitar a justa composição do litígio em prazo razoável (n.º 1). (b) O objecto da causa
pode exigir quer actos diversos dos estabelecidos na lei, quer uma tramitação diversa daquela que
se encontra fixada na lei, tanto porque, em relação a esta, pode requerer uma tramitação mais ligeira
e abreviada (correspondente a uma simplificação processual), como porque pode exigir uma
tramitação mais complexa ou com diferentes fases processuais (correspondente a uma agilização
processual). P. ex.: antes de apreciar se houve responsabilidade contratual do demandado, pode
ser conveniente apreciar, com instrução e julgamento próprios, a validade do contrato alegado pelo
demandante, de molde a evitar uma desnecessária instrução e um dispensável julgamento sobre os
danos decorrentes do incumprimento.
5 (a) O instrumento para a simplificação ou agilização processual é o poder de adequação formal
estabelecido no art. 547.º, no qual se determina que o juiz deve adoptar a tramitação processual
adequada às especificidades da causa e adaptar o conteúdo e a forma dos actos processuais ao fim
que visam atingir. A simplificação ou agilização processual exige a audição prévia das partes (n.º 1),
deve respeitar os princípios do processo equitativo (art. 547.º) e, mais em concreto, observar os
princípios da igualdade e do contraditório e não contender com a aquisição processual de factos e
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com a admissibilidade de meios probatórios (art. 630.º, n.º 2). (b) As decisões de simplificação ou
de agilização processual não são recorríveis, salvo se violarem os princípios da igualdade ou do
contraditório ou se desrespeitarem a aquisição processual de factos ou a admissibilidade de meios
probatórios (art. 630.º, n.º 2). (c) O resultado da simplificação ou agilização processual é vinculativa
para o tribunal e para as partes, pelo que, nos termos do art. 195.º, n.º 1, é em relação a esse
resultado que se aferem as nulidades processuais pela omissão de actos obrigatórios ou pela prática
de actos não previstos.
6 (a) O juiz deve providenciar pelo suprimento da falta de pressupostos processuais sanáveis (n.º 2;
art. 590.º, n.º 2, al. a)), isto é, pelo suprimento das excepções dilatórias que sejam sanáveis (art.
576.º, n.º 2, e 577.º; TC 179/2007). (b) A sanação de excepções dilatórias pode ser feita pelo próprio
juiz, se este puder sanar o vício (como acontece, p. ex., quando sana a incapacidade judiciária do
autor através da citação do representante de maior acompanhado (art. 27.º, n.º 1) ou quando sana
a incapacidade de facto do réu através da designação de um curador provisório (art. 17.º, n.º 1)), ou
pela parte a convite do juiz, se este não puder sanar o vício (como sucede, p. ex., na sanação da
ilegitimidade da parte por preterição de litisconsórcio necessário (art. 261.º, n.º 1)). (c) A omissão do
cumprimento do dever de sanação ou de convite à sanação implica que, se o juiz decidir com base
na falta de um pressuposto processual sanável, a decisão é nula por excesso de pronúncia (art.
615.º, n.º 1, al. d), 666.º, n.º 1, e 685.º), porque o tribunal não pode apreciar essa falta sem antes ter
sanado ou ter dado a oportunidade de a parte sanar essa falta.
7 (a) Apesar de o regime só se referir à falta de pressupostos processuais (e, portanto, às excepções
dilatórias), o mesmo vale para a falta de pressupostos de actos processuais (como, p. ex., a falta de
mandatário judicial do réu (art. 41.º) e para as nulidades processuais sanáveis que sejam de
conhecimento oficioso (como é o caso, p. ex., da falta de citação do réu (art. 187.º, al. a), 188.º e
196.º)). (b) O regime justifica o dever de convolação do juiz, sempre que a parte tenha utilizado um
meio processual inadequado e este esteja em condições de ser convolado para o meio adequado
(nomeadamente, em termos de prazo para a prática do acto pela parte) (Ac. STJ 2/2010, de 22/2).

Artigo 7.º
Princípio da cooperação

1 - Na condução e intervenção no processo, devem os magistrados, os mandatários judiciais


e as próprias partes cooperar entre si, concorrendo para se obter, com brevidade e eficácia,
a justa composição do litígio.
2 - O juiz pode, em qualquer altura do processo, ouvir as partes, seus representantes ou
mandatários judiciais, convidando-os a fornecer os esclarecimentos sobre a matéria de facto
ou de direito que se afigurem pertinentes e dando-se conhecimento à outra parte dos
resultados da diligência.
3 - As pessoas referidas no número anterior são obrigadas a comparecer sempre que para
isso forem notificadas e a prestar os esclarecimentos que lhes forem pedidos, sem prejuízo
do disposto no n.º 3 do artigo 417.º.
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4 - Sempre que alguma das partes alegue justificadamente dificuldade séria em obter
documento ou informação que condicione o eficaz exercício de faculdade ou o cumprimento
de ónus ou dever processual, deve o juiz, sempre que possível, providenciar pela remoção
do obstáculo.

1 (a) O artigo consagra o dever de cooperação entre o tribunal e as partes e entre estas e o tribunal
(n.º 1). O tribunal tem o direito à cooperação das partes (n.º 3; art. 8.º e 151.º, n.º 2) e as partes têm
direito à cooperação do tribunal (n.º 4; art. 151.º, n.º 1). (b) A cooperação entre os sujeitos
processuais destina-se a permitir a obtenção, com brevidade e eficácia, da justa composição do
litígio (n.º 1). (c) Em matéria probatória, as partes (bem como, aliás, terceiros) têm o dever de
cooperação para a descoberta da verdade (art. 417.º, n.º 1) e o tribunal tem um dever de auxílio (art.
418.º, n.º 1, e 436.º, n.º 1)
2 (a) O dever de cooperação do tribunal perante as partes concretiza-se nos seguintes deveres: (i)
dever de prevenção ou de advertência (quanto à falta de pressupostos processuais sanáveis, art.
6.º, n.º 2, e, quanto às irregularidades ou deficiências das peças ou alegações das partes, art. 590.º,
n.º 2, al. b), 591.º, n.º 1, al. c), 639.º, n.º 3, e 652.º, n.º 1, al. a)); (ii) dever de esclarecimento (n.º 2);
(iii) dever de consulta (art. 3.º, n.º 3); dever de auxílio (n.º 4; art. 418.º, n.º 1, e 436.º, n.º 1; RC
20/4/2016 (89/13)). (b) Em comparação com o dever de direcção estabelecido no art. 6.º, n.º 1 – que
se refere apenas à realização dos actos respeitantes à tramitação da causa e que, por isso, pode
ser designado por dever de direcção formal –, o dever de cooperação do tribunal consagrado no n.º
1 toma como referência a justa composição do litígio e corresponde, por isso, a um dever de direcção
material do processo. (c) A decisão que seja proferida sem antes o juiz ter cumprido um dos deveres
inerentes ao dever de cooperação implica a nulidade da decisão por excesso de pronúncia (art.
615.º, n.º 1, al. d), 666.º, n.º 1, e 685.º), porque o tribunal não pode apreciar a causa (e menos ainda
indeferir ou considerar improcedente um pedido) sem antes ter cumprido esse dever.
3 Ao dever de esclarecimento do tribunal corresponde um dever de as partes esclarecem o tribunal.
Assim, sempre que não haja violação da integridade física ou moral das pessoas, intromissão na
vida privada ou familiar, no domicílio, na correspondência ou nas telecomunicações ou violação do
sigilo profissional ou do segredo de Estado, as partes são obrigadas a comparecer e a prestar os
devidos esclarecimentos (n.º 3).
4 Como resulta do disposto nos n.º 1 e 2, o que vale para as partes – tanto em termos de direitos à
cooperação, como de deveres de cooperação – vale igualmente para os seus mandatários judiciais
e representantes.

Artigo 8.º
Dever de boa-fé processual

As partes devem agir de boa-fé e observar os deveres de cooperação resultantes do


preceituado no artigo anterior.
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1 (a) O artigo estabelece o dever de as partes agirem em juízo de boa fé. (b) Mais do que impor a
actuação de boa fé, o que o CPC faz é sancionar a litigância de má fé (art. 542.º). É, aliás, por isso
que a omissão dos deveres de cooperação das partes perante o tribunal só é sancionada se essa
omissão tiver sido grave e, além disso, tiver sido praticada com dolo ou com negligência grave (art.
542.º, n.º 2, al. c)). Ressalva-se a hipótese de a lei estabelecer outras consequências para a violação
desses deveres das partes (art. 417.º, n.º 2).
2 (a) A actuação de boa fé também é exigida ao tribunal. Assim, sempre que a conduta do tribunal crie
na parte a convicção de que esse órgão aplica um determinado regime legal, não é exigível que a
parte aplique um outro regime legal, mesmo que este seja aquele que realmente devia ser aplicado.
(b) Uma aparência que não é contrariada por nenhuma realidade justifica que as partes façam o
correspondente investimento de confiança nessa aparência e que o seu comportamento deva ser
aferido por esse investimento e pela protecção que ele merece. Não é exigível que as partes se
comportem em contradição com o investimento de confiança que justificadamente realizaram em
função de uma aparência que não tinham motivos para duvidar que não correspondia à realidade
(Ac. STJ 9/2009, de 19/5; STJ 30/1/2013 (113/09); STJ 9/7/2014 (2577/05)).

Artigo 9.º
Dever de recíproca correção

1 - Todos os intervenientes no processo devem agir em conformidade com um dever de


recíproca correção, pautando-se as relações entre advogados e magistrados por um especial
dever de urbanidade.
2 - Nenhuma das partes deve usar, nos seus escritos ou alegações orais, expressões
desnecessária ou injustificadamente ofensivas da honra ou do bom nome da outra, ou do
respeito devido às instituições.

1 O n.º 1 estabelece um dever de correcção e um dever de urbanidade dos intervenientes processuais.


Estes deveres encontram-se expressamente consagrados para os advogados (art. 95.º e 110.º EOA)
e para os solicitadores e os agentes de execução (art. 121.º, n.º 3, 124.º, n.º 2, al. a), e 130.º, n.º 2,
al. a), EOSAE).
2 (a) O n.º 2 proíbe o uso pelas partes de expressões que sejam desnecessárias ou injustificadamente
ofensivas da honra ou do bom nome da outra parte ou do respeito devido às instituições. Nunca
pode ser considerado ilícito o uso de expressões ou a realização de imputações que sejam
indispensáveis à defesa da causa (art. 150.º, n.º 2). (b) Para além do poder que é concedido ao juiz
para assegurar a ordem nos actos processuais (art. 150.º, n.º 1) e das eventuais consequências
disciplinares ou penais (art. 150.º, n.º 1 e 4), a ofensa da honra ou do bom nome da outra parte e o
desrespeito às instituições é susceptível de originar responsabilidade civil da parte (art. 483.º, n.º 1,
CC).
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Artigo 9.º-A
Princípio da utilização de linguagem simples e clara

O tribunal deve, em todos os seus atos, e em particular nas citações, notificações e outras
comunicações dirigidas diretamente às partes e a outras pessoas singulares e coletivas,
utilizar preferencialmente linguagem simples e clara.

1 O artigo impõe ao tribunal um dever de inteligibilidade dos seus actos.


2 O cumprimento do dever de inteligibilidade não dispensa a necessária linguagem técnica (uma
linguagem não técnica nunca é uma linguagem correcta), mas impõe ao tribunal, principalmente nas
comunicações dirigidas às partes e a terceiros, um dever de esclarecimento sobre o que se comunica
e, se for o caso, um dever de advertência sobre as consequências da omissão de qualquer reacção
da parte ou do terceiro.

Título II
Das espécies de ações

Artigo 10.º
Espécies de ações, consoante o seu fim

1 - As ações são declarativas ou executivas.


2 - As ações declarativas podem ser de simples apreciação, de condenação ou constitutivas.
3 - As ações referidas no número anterior têm por fim:
a) As de simples apreciação, obter unicamente a declaração da existência ou inexistência de
um direito ou de um facto;
b) As de condenação, exigir a prestação de uma coisa ou de um facto, pressupondo ou
prevendo a violação de um direito;
c) As constitutivas, autorizar uma mudança na ordem jurídica existente.
4 - Dizem-se «ações executivas» aquelas em que o credor requer as providências adequadas
à realização coativa de uma obrigação que lhe é devida.
5 - Toda a execução tem por base um título, pelo qual se determinam o fim e os limites da
ação executiva.
6 - O fim da execução, para o efeito do processo aplicável, pode consistir no pagamento de
quantia certa, na entrega de coisa certa ou na prestação de um facto, quer positivo quer
negativo.

1 (a) O n.º 1 estabelece que, quanto ao fim (isto é, quanto à tutela pretendida pelo demandante), as
acções processuais civis podem ser acções declarativas ou executivas. A distinção traça-se, grosso
modo, da seguinte forma: as acções declarativas são acções nas quais se reconhece um direito; as
acções executivas são acções nas quais se assegura a satisfação de um direito. (b) Segundo o
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disposto no n.º 2, as acções declarativas podem ser acções de simples apreciação, acções de
condenação e acções constitutivas.
2 (a) As acções de condenação são aquelas nas quais o demandante exige a prestação de uma coisa
ou de um facto, pressupondo ou prevendo a violação de um direito (n.º 3, al. b)). (b) O objecto de
uma acção condenatória pode ser um dare (p. ex., o pedido de condenação no pagamento de um
preço ou na entrega de uma coisa), um facere (p. ex., o pedido de condenação na construção de
uma obra ou na reparação de um automóvel), um non facere (p. ex., o pedido de condenação na
não produção de certos barulhos ou na não publicação de uma notícia) ou um pati (p. ex., o pedido
de condenação a tolerar a instalação de um andaime no prédio).
3 (a) Em regra, a acção condenatória só é admissível depois da violação do direito (ou seja,
pressupondo esta violação), mas em certos casos, é admissível uma acção condenatória in futurum,
ou seja, uma acção condenatória em que o demandante, prevendo a violação do seu direito, pede
a condenação in futurum do demandado. (b) A condenação in futurum é admissível quanto a
prestações vincendas (art. 557.º, n.º 1) e, mais genericamente, quando a falta de título executivo no
momento do vencimento da obrigação possa causar grave prejuízo ao credor (art. 557.º, n.º 2). A
verificação de qualquer destas circunstâncias assegura o interesse processual na acção de
condenação in futurum.
4 (a) A acção condenatória que tem por objecto uma obrigação de non facere chama-se acção
inibitória. (b) A acção inibitória pode ser proposta com uma finalidade preventiva, antes da violação
da obrigação de non facere (acção inibitória preventiva), ou já depois da violação dessa obrigação
(acção inibitória pura). No primeiro caso, requer-se um grave prejuízo para o autor se não houver
uma condenação in futurum (art. 557.º, n.º 2) e, no segundo, exige-se um risco de repetição da
violação da obrigação de non facere. Ambos estes elementos são apreciados no âmbito do interesse
processual.
5 (a) As acções constitutivas visam autorizar uma mudança na ordem jurídica existente (n.º 3, al. c)).
(b) As acções constitutivas baseiam-se, em geral, num direito potestativo (como, p. ex., o direito à
anulação de um acto jurídico, o direito à impugnação pauliana, o direito à dissolução do casamento
por divórcio ou o direito à constituição de uma servidão de passagem), mas também são acções
constitutivas os embargos de executado (art. 728.º, n.º 1, 856.º, n.º 1, 860.º, n.º 1, e 868.º, n.º 2) e a
oposição à penhora (art. 784.º, n.º 1, e 856.º, n.º 1). Comum a qualquer acção constitutiva é a
produção de uma alteração jurídica, ou seja, a constituição, modificação ou extinção de uma relação
ou situação jurídica. (c) Atendendo ao seu efeito temporal, as decisões proferidas nas acções
constitutivas podem produzir um efeito ex tunc (como sucede, p. ex., quanto a uma decisão de
anulação de um negócio jurídico (art. 289.º, n.º 1, CC)) ou um efeito ex nunc (como acontece, p. ex.,
quanto a uma decisão que decreta a dissolução do casamento por divórcio).
6 (a) As acções de simples apreciação visam obter unicamente a declaração da existência ou da
inexistência de um direito ou de um facto (n.º 3, al. a)). As acções de simples apreciação podem ser
positivas (se visam a declaração da existência de um direito ou de facto) ou negativas (se se
destinam à declaração da inexistência de um direito ou de um facto). (b) As acções de simples
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apreciação são admissíveis se houver uma incerteza objectiva sobre o direito ou o facto: nas acções
de simples apreciação positiva, a incerteza é criada pela negação pelo demandado do direito ou do
facto; nas acções de apreciação negativa, a incerteza é originada pela afirmação pelo demandado
do direito ou do facto.
7 (a) O art. 343.º, n.º 1, CC regula a distribuição do ónus da prova nas acções de simples apreciação
negativa, impondo ao réu a prova dos factos constitutivos do direito que se arroga. Estes factos
constitutivos só podem surgir em processo através de um pedido reconvencional do réu (art. 266.º,
n.º 1), já que, para contestar os factos impeditivos ou extintivos alegados pelo autor, basta a
impugnação (isto é, a negação) destes factos pelo réu (art. 574.º, n.º 1). (b) O art. 343.º, n.º 1, CC
segue a regra geral de que a prova dos factos constitutivos compete à parte que os invoca (art. 342.º,
n.º 1, CC) (RL 29/4/2008 (867/2008); Ac. STA 4/2016, de 30/9: "na ação administrativa de oposição
à aquisição de nacionalidade portuguesa, a propor ao abrigo do disposto nos artigos 9.º, alínea a),
e 10.º da Lei n.º 37/81, de 3 de outubro [Lei da Nacionalidade] […], cabe ao Ministério Público o ónus
de prova dos fundamentos da inexistência de ligação efetiva à comunidade nacional”; dif.,
entendendo que o autor só tem de alegar e provar que o réu se arroga do direito negado por aquela
parte e os factos que demonstram o seu interesse em agir e que ao réu cabe a alegação e prova
dos factos constitutivos do direito de que se arroga, Ac. STJ 1/2008, de 31/3 (equivocado quanto à
qualificação da acção de impugnação de justificação notarial como uma acção de apreciação
negativa); RC 22/3/2011 (158/09); RC 16/10/2012 (50/09); RL 4/7/2013 (563/12); RC 19/1/2010
(422/08); RL 3/12/2015 (11243/1); RG 18/2/2016 (207/13).
8 Da improcedência de uma acção de apreciação negativa de um direito só pode decorrer o
reconhecimento da existência deste direito se o réu tiver alegado e feito prova dos factos
constitutivos desse mesmo direito, ou seja, se o réu tiver deduzido o pedido reconvencional de
declaração desse direito. A mera improcedência da acção pela não prova dos factos impeditivos,
modificativos ou extintivos alegados pelo autor significa apenas que não ficou demonstrada a não
existência do direito.
9 (a) As acções executivas são aquelas em que o credor requer as providências adequadas à
realização coactiva de uma obrigação que lhe é devida (n.º 4). Perante o incumprimento da
obrigação, o credor tem o direito de executar o património do devedor (art. 817.º CC) (ou, em certos
casos, de um terceiro: art. 818.º CC), pelo que os actos típicos das acções executivas são a penhora
de bens do executado (art. 735.º, n.º 1) e a venda executiva desses mesmos bens (art. 811.º). (b) A
acção executiva exige um título executivo, pelo qual se determinam o fim e os limites da acção (n.º
5). O título executivo pode ser uma sentença condenatória ou um documento que incorpora um dever
de prestar (art. 703.º, n.º 1).
10 (a) O fim da acção executiva pode ser a obtenção de uma quantia, a entrega de uma coisa ou a
realização de um facto positivo ou negativo (n.º 6). (b) O fim da execução releva para a determinação
do processo aplicável (n.º 6), dado que os actos de execução que são necessários para a realização
de cada uma daquelas obrigações são naturalmente distintos. É isso que justifica que, dentro da
forma comum do processo executivo, o CPC regule a execução para pagamento de quantia (art.
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724.º a 858.º), a execução para entrega de coisa (art. 859.º a 867.º) e a execução para prestação
de facto (art. 868.º a 877.º).

Título III
Das partes

Capítulo I
Personalidade e capacidade judiciária

Artigo 11.º
Conceito e medida da personalidade judiciária

1 - A personalidade judiciária consiste na suscetibilidade de ser parte.


2 - Quem tiver personalidade jurídica tem igualmente personalidade judiciária.

1 (a) O n.º 1 define a personalidade judiciária como a susceptibilidade de ser parte, ou seja, como a
possibilidade de ser autor, requerente ou exequente ou de ser réu, requerido ou executado. (b) A
personalidade judiciária opera quer como pressuposto processual (sendo por isso que a sua falta
constitui uma excepção dilatória: art. 577.º, al. c)), quer como pressuposto de actos processuais,
porque também constitui condição da prática do acto (como, p. ex., a confissão do pedido ou a
transacção). (c) Uma entidade inexistente (como, p. ex., uma pessoa falecida ou uma pessoa
colectiva liquidada) não deve ser tratada como uma não parte, mas antes como uma entidade sem
personalidade judiciária.
2 (a) O n.º 2 atribui a personalidade judiciária a quem tem personalidade jurídica: é o chamado critério
da coincidência. Deste critério decorre que qualquer pessoa jurídica tem personalidade judiciária,
seja ela singular ou colectiva, seja esta de direito privado ou público ou de direito interno, europeu
(como a societas europaea) ou estrangeiro. Qualquer pessoa jurídica pode demandar e ser
demandada. (b) As sociedades comerciais consideram-se extintas pelo registo do encerramento da
sua liquidação (art. 160.º, n.º 2, CSC), embora sem prejuízo do regime aplicável às acções
pendentes no momento desse registo (art. 162.º CSC) e ao passivo e activo superveniente (art. 163.º
e 164.º CSC).
3 Se for citada uma pessoa distinta daquela que é indicada pelo autor como sendo o réu, verifica-se a
falta de citação tanto do verdadeiro, como do falso réu (art. 188.º, n.º 1, al. b)), dado que aquele não
foi citado e este não podia ter sido citado.

Artigo 12.º
Extensão da personalidade judiciária

Têm ainda personalidade judiciária:


a) A herança jacente e os patrimónios autónomos semelhantes cujo titular não estiver
determinado;
b) As associações sem personalidade jurídica e as comissões especiais;
c) As sociedades civis;
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d) As sociedades comerciais, até à data do registo definitivo do contrato pelo qual se


constituem, nos termos do artigo 5.º do Código das Sociedades Comerciais;
e) O condomínio resultante da propriedade horizontal, relativamente às ações que se inserem
no âmbito dos poderes do administrador;
f) Os navios, nos casos previstos em legislação especial.

1 O artigo atribui, segundo um critério de diferenciação patrimonial, personalidade judiciária a


entidades que não possuem personalidade jurídica de acordo com o critério da coincidência
enunciado no art. 11.º, n.º 2.
2 (a) A herança jacente – que é a herança aberta, mas ainda não aceite (por nenhum sucessível) nem
declarada vaga a favor do Estado (art. 2046.º CC) – tem personalidade judiciária (al. a)).
Diferentemente, uma herança já aceite, embora ainda indivisa e, portanto, em situação de comunhão
hereditária, não tem personalidade judiciária. (b) Possuem igualmente personalidade judiciária os
patrimónios sem titular determinado – como, p. ex., as doações ou deixas testamentárias a
nascituros (art. 952.º, n.º 1, e 2033.º, n.º 2, al. a), CC). Porque, apesar de ter titulares determinados,
os mesmos são dificilmente determináveis, um fundo de investimento mobiliário também tem
personalidade judiciária (STJ 6/3/2008 (08B402); RE 2/5/2019 (2921/17)).
3 (a) O condomínio resultante da propriedade horizontal tem personalidade judiciária quanto a acções
que se inserem no âmbito dos poderes do administrador (al. e)). Trata-se de uma personalidade
judiciária que é atribuída em função do objecto da causa, que, como resulta do preceito, só pode ser
uma acção proposta pelo condomínio contra o administrador por motivos relacionados com o
exercício ou o não exercício dos seus poderes ou do administrador contra o condomínio com
fundamento no exercício desses mesmos poderes. (b) Nos casos referidos no art. 1437.º, n.º 1, CC,
o administrador do condomínio age, na qualidade de demandante, como substituto processual
(voluntário) do condomínio contra um condómino ou terceiro e, nas hipóteses previstas no art.
1437.º, n.º 2 e 3, CC, o administrador demandado, numa acção relativa às partes comuns do edifício,
actua como substituto processual do condomínio. (c) O mesmo pode ser dito quanto ao processo
executivo que, nos termos do estabelecido no art. 6.º, n.º 2, DL 268/94, de 25/10, o administrador
deve instaurar para cobrança de dívidas dos condóminos ao condomínio.
4 Também têm personalidade judiciária as associações sem personalidade jurídica (al. b); art. 195.º a
198.º CC), as comissões especiais (al. b); art. 199.º a 201.º CC), as sociedades civis (al. c)), as
sociedades comerciais até à data do seu registo (al. d)), isto é, até ao momento da aquisição de
personalidade jurídica (art. 5.º CSC), e, em certos casos, os navios (al f); art. 7.º DL 201/98, de 10/7;
art. 28.º DL 352/86, de 21/10).

Artigo 13.º
Personalidade judiciária das sucursais

1 - As sucursais, agências, filiais, delegações ou representações podem demandar ou ser


demandadas quando a ação proceda de facto por elas praticado.
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2 - Se a administração principal tiver a sede ou o domicílio em país estrangeiro, as sucursais,


agências, filiais, delegações ou representações estabelecidas em Portugal podem demandar
e ser demandadas, ainda que a ação derive de facto praticado por aquela, quando a obrigação
tenha sido contraída com um português ou com um estrangeiro domiciliado em Portugal.

1 O artigo atribui personalidade judiciária às sucursais (ou equivalente) de pessoas colectivas


portuguesas (n.º 1) ou estrangeiras (n.º 2).
(a) As sucursais de sociedades portuguesas podem demandar ou ser demandadas quando a acção
proceda de facto praticado por elas próprias (e não pela administração principal da pessoa colectiva)
(n.º 1). (b) A personalidade judiciária da sucursal não obsta a que a administração da pessoa
colectiva promova a intervenção desta em substituição da sucursal (RL 28/3/2019 (6564/17)).
2 (a) As sucursais portuguesas de pessoas colectivas estrangeiras podem demandar ou ser
demandadas não só quando a acção decorra de facto por elas praticado, mas também, ainda que a
acção derive de facto praticado pela administração principal, quando a obrigação tenha sido
contraída com um português ou com um estrangeiro domiciliado em Portugal (n.º 2). (b) O preceito
tem, na prática, uma aplicação residual, dado que cede perante o disposto no art. 7.º, n.º 5, Reg.
1215/2012, que, no âmbito de aplicação deste acto normativo europeu, exige, para a aferição da
competência internacional, que o litígio respeite à exploração da sucursal. Assim, se, no caso
concreto for aplicável o Reg. 1215/2012, para a aferição da competência internacional é irrelevante
que a obrigação tenha sido contraída com um português ou com um estrangeiro domiciliado em
Portugal.
Artigo 14.º
Sanação da falta de personalidade judiciária

A falta de personalidade judiciária das sucursais, agências, filiais, delegações ou


representações pode ser sanada mediante a intervenção da administração principal e a
ratificação ou repetição do processado.

1 (a) Se, segundo o disposto no art. 13.º, a sucursal (ou equivalente) não tiver personalidade judiciária,
o vício é sanável mediante a intervenção da administração principal e a ratificação ou repetição do
processado. Dado que é o autor que tem de assegurar os pressupostos processuais de ambas as
partes (isto é, relativos a ele próprio e à parte demandada), é este autor que, ainda que seja a
sucursal demandante desprovida de personalidade judiciária, tem o ónus de promover a intervenção
da administração principal. (b) A exigência de ratificação ou de repetição do processado só vale para
a hipótese de a falta de personalidade judiciária respeitar ao autor, porque não pode ficar na
dependência da vontade da administração principal interveniente a sanação da falta de
personalidade judiciária da parte demandada. (c) O art. 351.º, n.º 2, contém um regime especial de
falta de personalidade judiciária.
2 (a) Diferente da sanação do vício da falta de personalidade judiciária é a correcção da parte
demandante ou demandada, que pode suceder, p. ex., quando a acção é proposta contra a câmara
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municipal, em vez de ser contra o município, ou pela herança indivisa representada pelo cabeça-de-
casal, em vez de ser pelo cabeça-de-casal em representação dessa herança (RC 24/2/2015
(1530/12); RC 24/9/2019 (348/18); RP 4/11/2019 (1136/18)). (b) No caso de correcção da parte
demandada, a citação terá sempre de vir a ser efectuada nesta parte. De outra forma, há falta de
citação desta parte (art. 188.º, n.º 1, al. b)).

Artigo 15.º
Conceito e medida da capacidade judiciária

1 - A capacidade judiciária consiste na suscetibilidade de estar, por si, em juízo.


2 - A capacidade judiciária tem por base e por medida a capacidade do exercício de direitos.

1 O n.º 1 define a capacidade judiciária (ou legitimidade ad processum) como a susceptibilidade de


estar, por si, em juízo. A capacidade judiciária é a susceptibilidade de a parte estar em juízo pessoal
e livremente ou, dito de outro modo, é a susceptibilidade de a parte estar em juízo sem qualquer
representação ou assistência.
2 (a) A capacidade judiciária pode operar como um pressuposto de actos processuais, ou seja, como
um pressuposto que é necessário para a prática de um acto processual (como, p. ex., a réplica, a
desistência do pedido ou a transacção), ou como um pressuposto processual, isto é, como um
pressuposto da admissibilidade do processo in toto. (b) Quando a incapacidade judiciária é um
pressuposto de actos processuais, a sua falta implica a invalidade ou a inadmissibilidade do acto
praticado (como, p. ex., a contestação do réu (art. 29.º, n.º 2) ou a réplica do autor). (c) A capacidade
judiciária é um pressuposto processual quando o processo não pode subsistir sem o acto inválido
ou inadmissível (como acontece com a petição inicial do autor). A falta de capacidade judiciária como
pressuposto processual constitui uma excepção dilatória (art. 577.º, al. c)).
3 (a) Dado que incumbe ao autor assegurar o preenchimento dos pressupostos processuais, cabe-lhe
garantir a sua própria capacidade judiciária (se necessário, através da sua representação legal ou
orgânica: art. 16.º, n.º 1 e 2, e 25.º) e a capacidade judiciária do réu (se necessário, através da
indicação do seu representante legal ou orgânico: art. 16.º, n.º 1 e 3, e 25.º). (b) A capacidade
judiciária não obsta à obrigatoriedade de a parte estar representada por mandatário judicial (art. 40.º,
n.º 1, e 58.º), porque esta representação não supre nenhuma incapacidade de exercício da parte e
destina-se a dar à parte uma orientação em aspectos técnico-jurídicos.
4 (a) O n.º 2 estabelece que a capacidade judiciária tem por base e por medida a capacidade de
exercício de direitos, o que significa que quem não tiver capacidade de exercício (como, p. ex., os
menores e os maiores acompanhados) não tem capacidade judiciária. (b) Como qualquer acção
pode ser julgada, em termos de decisão de mérito, procedente ou improcedente, a capacidade
judiciária só está preenchida se a parte tiver capacidade de exercício para praticar o acto equivalente
tanto à procedência, como à improcedência da causa (isto é, p. ex., tanto à aquisição da coisa
litigiosa, como à alienação dessa coisa).
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Artigo 16.º
Suprimento da incapacidade

1 - Os menores e os maiores acompanhados sujeitos a representação só podem estar em


juízo por intermédio dos seus representantes, exceto quanto aos atos que possam exercer
pessoal e livremente.
2 - Os menores cujo exercício das responsabilidades parentais compete a ambos os pais são
por estes representados em juízo, sendo necessário o acordo de ambos para a propositura
de ações.
3 - Quando seja réu um menor sujeito ao exercício das responsabilidades parentais dos pais,
devem ambos ser citados para a ação.

1 (a) Os menores (art. 123.º CC) e os maiores acompanhados sujeitos a representação ou à


administração de bens (art. 145.º, n.º 2, al. b) e c), CC) não têm capacidade de exercício (ou têm
uma capacidade de exercício limitada), pelo que, como não possuem capacidade judiciária (art. 15.º,
n.º 2), têm de ser representados em juízo. Os menores são normalmente representados pelos
progenitores (art. 124.º e 1877.º CC) e os maiores acompanhados são representados pelo
acompanhante (art. 143.º, n.º 1, CC) (n.º 1). (b) Segundo a excepção estabelecida no n.º 1, a
necessidade de representação não existe quanto aos actos que os menores possam praticar pessoal
e livremente (art. 127.º CC) e, em relação aos maiores acompanhados, quanto aos actos que não
estejam abrangidos pela representação geral ou específica definida pelo tribunal (art. 145.º, n.º 2, al.
b), CC) ou pela administração total ou parcial de bens (art. 145.º, n.º 2, al. c), CC).
2 (a) O disposto no art. 1901.º, n.º 1, CC quanto ao exercício das responsabilidades parentais por
ambos os progenitores – e, portanto, a igualdade destes progenitores no exercício daquelas
responsabilidades – justifica o estabelecido no n.º 2 (quanto à propositura de acções em
representação do menor) e no n.º 3 (quanto às acções propostas contra o menor): no primeiro caso,
a representação do filho menor compete a ambos os progenitores e ambos devem estar de acordo
quanto à propositura da acção (n.º 2; art. 18.º); no segundo, ambos os progenitores devem ser
citados (como representantes do filho) para a acção (proposta contra o filho) (n.º 3). (b) A falta de
citação de qualquer destes progenitores constitui uma nulidade processual (art. 188.º, n.º 1, al. a)).

Artigo 17.º
Representação por curador especial ou provisório

1 - Se o incapaz não tiver representante geral deve requerer-se a nomeação dele ao tribunal
competente, sem prejuízo da imediata designação de um curador provisório pelo juiz da
causa, em caso de urgência.
2 - Tanto no decurso do processo como na execução da sentença, pode o curador provisório
praticar os mesmos atos que competiriam ao representante geral, cessando as suas funções
logo que o representante nomeado ocupe o lugar dele no processo.
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3 - Quando o incapaz deva ser representado por curador especial, a nomeação dele incumbe
igualmente ao juiz da causa, aplicando-se o disposto na primeira parte do número anterior.
4 - A nomeação incidental de curador deve ser promovida pelo Ministério Público, podendo
ser requerida por qualquer parente sucessível, quando o incapaz haja de ser autor, devendo
sê-lo pelo autor, quando o incapaz figure como réu.
5 - O Ministério Público é ouvido, sempre que não seja o requerente da nomeação.

1 (a) O preceito refere-se à designação de um curador especial, provisório ou ad litem para representar
o incapaz em cinco situações: (i) quando o incapaz não tiver representante legal e a propositura da
acção for urgente (n.º 1); (ii) quando a lei impuser a nomeação de um curador especial fora de
qualquer acção pendente (n.º 1; art. 1891.º, n.º 1, CC); (iii) quando estiverem em conflito os
interesses do incapaz com os do seu representante legal (n.º 3); (iv) quando estiverem em conflito
os interesses de vários incapazes representados pelo mesmo representante legal (n.º 3); (v) quando
a lei determinar a nomeação de um curador especial num processo pendente e não houver regime
legal especial para essa nomeação (n.º 3; art. 1086.º; art. 1846.º, n.º 1 1.ª parte, e 3, 1870.º e 1891.º,
n.º 2, CC). (b) Os art. 20.º, n.º 1, e 234.º, n.º 1 a 3, contêm um regime especial de representação por
curador ad litem.
2 (a) Se o incapaz não tiver representante legal, a nomeação do curador provisório compete ao próprio
tribunal da causa (n.º 1). (b) O curador provisório tem os mesmos poderes de um representante legal
do incapaz e exerce funções no processo até ser substituído pelo representante entretanto nomeado
pelo tribunal competente (n.º 2). Por isso mesmo, é qualificado como curador provisório no n.º 1.
3 (a) Se houver conflito de interesses entre o incapaz e o representante legal ou entre vários incapazes
representados pelo mesmo representante legal ou se a lei determinar a nomeação de curador
especial numa acção pendente, esta nomeação incumbe ao juiz da causa (n.º 3). (b) A nomeação
depende de requerimento do MP ou de qualquer sucessível, quando o incapaz seja autor, ou do
próprio autor, quando o incapaz seja réu (n.º 4). O MP deve ser ouvido sempre que não tenha
requerido a nomeação do curador especial (n.º 5). (c) O curador especial tem os mesmos poderes
de um representante legal do incapaz (n.º 3).

Artigo 18.º
Desacordo entre os pais na representação do menor

1 - Se, sendo o menor representado por ambos os pais, houver desacordo entre estes acerca
da conveniência de intentar a ação, pode qualquer deles requerer ao tribunal competente
para a causa a resolução do conflito.
2 - Se o desacordo apenas surgir no decurso do processo, acerca da orientação deste, pode
qualquer dos pais, no prazo de realização do primeiro ato processual afetado pelo desacordo,
requerer ao juiz da causa que providencie sobre a forma de o incapaz ser nela representado,
suspendendo-se entretanto a instância.
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3 - Ouvido o outro progenitor, quando só um deles tenha requerido, bem como o Ministério
Público, o juiz decide de acordo com o interesse do menor, podendo atribuir a representação
a só um dos pais, designar curador especial ou conferir a representação ao Ministério
Público, cabendo recurso da decisão.
4 - A contagem do prazo suspenso reinicia-se com a notificação da decisão ao representante
designado.
5 - Se houver necessidade de fazer intervir um menor em causa pendente, não havendo
acordo entre os pais para o efeito, pode qualquer deles requerer a suspensão da instância
até resolução do desacordo pelo tribunal da causa, que decide no prazo de 30 dias.

1 (a) Na sequência do disposto no art. 16.º, n.º 2 e 3 (que concretiza o princípio de que, cabendo o
exercício das responsabilidades parentais a ambos os progenitores, ambos devem representar o
filho menor em juízo), o artigo regula o modo de resolução de divergências entre esses progenitores.
(b) O artigo tem a seguinte estrutura: (i) n.º 1 trata da resolução da divergência antes da propositura
da acção; (ii) os n.º 2 a 4 regulam a resolução da divergência durante a pendência da causa; (iii) o
n.º 5 trata da resolução da divergência quanto à intervenção do filho menor numa acção pendente.
2 Se o desacordo entre os progenitores surgir antes da propositura da acção, qualquer deles pode
requerer a resolução do diferendo (n.º 1). O tribunal competente é o tribunal de família (art. 123.º,
n.º 1, al. d), LOSJ).
3 (a) Se o desacordo dos progenitores surgir durante a pendência da causa, qualquer deles pode pedir
ao tribunal da própria causa que resolva o diferendo e que indique quem deve representar o filho
menor na acção (n.º 2). O pedido deve ser formulado no prazo que o filho tem para praticar o acto
processual afectado pelo desacordo e suspende a instância até o tribunal decidir quem deve
representar o filho (n.º 2). (b) O tribunal da causa – que vê estendida a sua competência para
apreciar o incidente –, depois de assegurar a possibilidade do contraditório do outro progenitor e de
ouvir o MP, pode, de acordo com o superior interesse do menor, atribuir a representação a só um
dos progenitores, nomear um curador especial ou conferir a representação ao MP (n.º 3). No caso
de a representação ser atribuída ao MP, este intervém como parte principal (art. 9.º, n.º 1, al. c),
EMP). (c) Apesar de a decisão ser proferida com base num critério de discricionariedade, dela cabe
recurso (n.º 3), embora nos termos gerais. (d) A contagem do prazo suspenso reinicia-se com a
notificação da decisão ao representante designado (n.º 4). Nesta notificação observam-se as
disposições relativas à realização da citação pessoal (art. 250.º).
4 (a) Se houver desacordo dos progenitores quanto à intervenção do filho num processo pendente
(através de uma das formas de intervenção de terceiros reguladas nos art. 311.º a 350.º), qualquer
dos progenitores pode requerer a suspensão da instância até à resolução da divergência pelo próprio
tribunal da causa (n.º 5). (b) O tribunal decide de acordo com o superior interesse do filho. Por
analogia com o disposto no n.º 3, da decisão do tribunal cabe recurso nos termos gerais.
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Artigo 19.º
Capacidade judiciária dos maiores acompanhados

1 - Os maiores acompanhados que não estejam sujeitos a representação podem intervir em


todas as ações em que sejam partes e devem ser citados quando tiverem a posição de réus,
sob pena de se verificar a nulidade correspondente à falta de citação, ainda que tenha sido
citado o acompanhante.
2 - A intervenção do maior acompanhado quanto a atos sujeitos a autorização fica
subordinada à orientação do acompanhante, que prevalece em caso de divergência.

1 (a) Os maiores acompanhados não ficam necessariamente sujeitos a representação: o tribunal pode
decretar a autorização prévia para a prática de determinados actos ou categorias de actos pelo maior
acompanhado (art. 145.º, n.º 2, al. d), CC). Nesta hipótese, os maiores acompanhados podem intervir
em qualquer acção em que sejam autores, ou seja, podem estar pessoalmente em juízo, e devem
ser citados nas acções em que sejam demandados (n.º 1). (b) A falta de citação do maior
acompanhado constitui uma nulidade processual (art. 188.º, n.º 1, al. a)).
2 Em caso de divergência entre o acompanhado e o acompanhante quanto à prática ou não prática
de algum acto processual ou quanto ao conteúdo do mesmo, prevalece a orientação daquele último
(n.º 2).

Artigo 20.º
Representação das pessoas impossibilitadas de receber a citação

1 - As pessoas que, por anomalia psíquica ou outro motivo grave, estejam impossibilitadas
de receber a citação para a causa são representadas nela por um curador especial.
2 - A representação do curador especial cessa quando for julgada desnecessária, ou quando
se juntar documento que mostre ter sido concedido o benefício de acompanhamento e
nomeado representante ao acompanhado.
3 - (Revogado.)
4 - O representante nomeado no processo de proteção através de acompanhamento é citado
para o processo.

1 (a) Os incapazes de facto que, quando sejam citados por agente de execução ou funcionário judicial
(art. 225.º, n.º 2, al. c)), se verifique que, notoriamente, não estão em condições de receber a citação
são representados por um curador especial (n.º 1; art. 234.º, n.º 1 e 3). O regime pressupõe que o
incapaz não tem representante legal designado e que é não conhecida a sua incapacidade, porque,
de outro modo, a citação devia ocorrer na pessoa desse representante (art. 16.º, n.º 1 e 3) e o autor
tinha o ónus de requerer a nomeação de um curador especial (art. 18.º, n.º 4). (b) À nomeação do
curador especial que vai representar o incapaz de facto aplica-se o disposto no art. 234.º, n.º 2 e 3.
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2 (a) A representação pelo curador especial cessa quando se tornar desnecessária (nomeadamente,
pela cessação da incapacidade de facto do réu) ou quando estiver provada no processo a nomeação
do acompanhante dessa parte (n.º 2). (b) O acompanhante nomeado deve ser citado para o
processo (n.º 4), dado que é ele que vai representar o réu em juízo.

Artigo 21.º
Defesa do ausente e do incapaz pelo Ministério Público

1 - Se o ausente ou o incapaz, ou os seus representantes, não deduzirem oposição, ou se o


ausente não comparecer a tempo de a deduzir, incumbe ao Ministério Público a defesa deles,
para o que é citado, preferencialmente por transmissão eletrónica de dados, nos termos
definidos na portaria prevista no n.º 1 do artigo 132.º, correndo novamente o prazo para a
contestação.
2 - Quando o Ministério Público represente o autor, é nomeado defensor oficioso.
3 - Cessa a representação do Ministério Público ou do defensor oficioso logo que o ausente
ou o seu procurador compareça ou logo que seja constituído mandatário judicial do ausente
ou do incapaz.

1 O artigo consagra a chamada sub-representação do ausente ou do incapaz demandado e decorre


da competência do MP para a defesa dos interesses dos ausentes e dos incapazes (art. 4.º, n.º 1,
al. b), EMP).
2 (a) Se o ausente não deduzir oposição ou não a deduzir a tempo ou se o representante do ausente
ou do incapaz não apresentar oposição, incumbe ao MP a defesa do ausente ou do incapaz na
causa pendente (n.º 1). (b) O MP deve ser citado como parte principal para a acção (art. 9.º, n.º 1,
al. c), EMP) e, dado que o prazo para a contestação já se esgotou, este prazo corre novamente (n.º
1). Cabe ao MP decidir, em função dos dados do caso concreto, se apresenta contestação em nome
do ausente ou incapaz. (c) Se o MP já representar o autor, é nomeado, pelo próprio tribunal da
causa, um defensor oficioso, ou seja, um advogado, ao ausente ou incapaz (n.º 2). Tal como o MP
(n.º 1), o defensor oficioso, além de nomeado, deve ser citado para deduzir oposição.
3 (a) A representação do MP ou do defensor oficioso cessa logo que o ausente ou o seu representante
compareça ou logo que seja constituído mandatário judicial do ausente ou do incapaz (n.º 3). O MP
pode continuar a ter intervenção acessória na causa (art. 10.º, n.º 1, al. a), EMP). (b) O regime
mostra que a sub-representação do ausente ou do incapaz pelo MP nunca ocorre quando o ausente
ou incapaz tiver constituído mandatário judicial, o que, atendendo à falta de contestação e à situação
de revelia do ausente ou incapaz, não deixa de ser discutível.
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Artigo 22.º
Representação dos incertos

1 - Quando a ação seja proposta contra incertos, por não ter o autor possibilidade de
identificar os interessados diretos em contradizer, são aqueles representados pelo Ministério
Público.
2 - Quando o Ministério Público represente o autor, é nomeado defensor oficioso aos
incertos.
3 - A representação do Ministério Público ou do defensor oficioso só cessa quando os citados
como incertos se apresentem para intervir como réus e a sua legitimidade se encontre
devidamente reconhecida.

1 (a) Se a acção for proposta contra incertos (ainda que não apenas contra incertos), a representação
destes incumbe ao MP (n.º 1; art. 4.º, n.º 1, al. b), EMP). O MP deve ser citado como representante
dos incertos, intervindo na acção como parte principal (art. 9.º, n.º 1, al. c), EMP). (b) Se o MP já for
o representante do autor, o tribunal da causa deve nomear um defensor oficioso para representar os
incertos (n.º 2).
2 (a) A representação pelo MP ou pelo defensor oficioso cessa quando todos os incertos se
apresentarem em juízo para assumir a posição de réus e quando a legitimidade de todos eles estiver
reconhecida pelo tribunal (n.º 2). Resta saber, em todo o caso, como se pode determinar se todos
os incertos se apresentaram em juízo. (b) O MP pode continuar a ter intervenção acessória no
processo (art. 10.º, n.º 1, al. a), EMP).
3 Se a acção for proposta contra réus determinados e contra réus incertos ou se apenas alguns dos
réus incertos se apresentarem em juízo, aplica-se o disposto no artigo apenas à representação dos
réus que sejam ou que permaneçam incertos.

Artigo 23.º
Representação de incapazes e ausentes pelo Ministério Público

1 - Incumbe ao Ministério Público, em representação de incapazes e ausentes, intentar em


juízo quaisquer ações que se mostrem necessárias à tutela dos seus direitos e interesses.
2 - A representação cessa logo que seja constituído mandatário judicial do incapaz ou
ausente, ou quando, deduzindo o respetivo representante legal oposição à intervenção
principal do Ministério Público, o juiz, ponderado o interesse do representado, a considere
procedente.

1 (a) Compete o MP a representação dos incapazes e ausentes (art. 4.º, n.º 1, al. b), EMP). Esta
competência justifica o estabelecido no n.º 1. (b) O MP tem intervenção principal quando representa
incapazes e incertos (art. 9.º, n.º 1, al. c), EMP). A representação pode verificar-se tanto em acções
sobre o estado pessoal, como em acções de carácter patrimonial.
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2 (a) A representação do MP cessa quando seja constituído mandatário judicial do incapaz ou ausente
(n.º 2). O MP pode continuar a ter intervenção acessória no processo (art. 10.º, n.º 1, al. a), EMP).
(b) A representação também cessa quando o representante legal do incapaz ou do ausente deduzir
oposição à intervenção principal do MP e o juiz, considerado o interesse do incapaz ou do ausente,
a considere procedente (n.º 2).

Artigo 24.º
Representação do Estado

1 - O Estado é representado pelo Ministério Público, sem prejuízo dos casos em que a lei
especialmente permita o patrocínio por mandatário judicial próprio, cessando a intervenção
principal do Ministério Público logo que este esteja constituído.
2 - Se a causa tiver por objeto bens ou direitos do Estado, mas que estejam na administração
ou fruição de entidades autónomas, podem estas constituir advogado que intervenha no
processo juntamente com o Ministério Público, para o que são citadas quando o Estado seja
réu; havendo divergência entre o Ministério Público e o advogado, prevalece a orientação
daquele.

1 (a) Dado que ao MP incumbe, em geral, a representação do Estado (art. 4.º, n.º 1, al. b), EMP), a
representação em juízo do Estado também compete ao MP (n.º 1). Para este efeito, considera-se
Estado a pessoa colectiva de direito público. (b) O Estado é representado pelo MP não só enquanto
titular da função legislativa ou jurisdicional, mas também enquanto titular da função executiva, ou
melhor, enquanto titular da chamada administração directa (a que pertence, p. ex., um Ministério).
Se ambas as partes deverem ser representadas pelo MP, observa-se o disposto no art. 93.º, n.º 1 e
e 2, EMP. (c) Não são representadas pelo MP as entidades que pertencem à administração indirecta
(como, p. ex., os institutos públicos) ou à administração autónoma do Estado (como, p. ex., as
universidades).
2 (a) A representação do MP pode cessar nos termos do n.º 1 e pode não ser a única na situação
regulada no n.º 2. (b) A lei pode estabelecer que entidades pertencentes à administração directa do
Estado possam constituir mandatário judicial próprio (n.º 1). Neste caso, a intervenção principal do
MP cessa logo que esse mandatário se encontre constituído no processo (n.º 1). (c) Se a causa tiver
por objecto bens ou direitos do Estado que estejam na administração ou fruição de entidades
autónomas, estas entidades, apesar da sua representação pelo MP, também podem constituir
advogado e, se o Estado for réu, também devem ser citadas para a acção (n.º 2). Se houver
divergência entre o advogado e o MP, é a orientação deste que prevalece (n.º 2).

Artigo 25.º
Representação das outras pessoas coletivas e das sociedades

1 - As demais pessoas coletivas e as sociedades são representadas por quem a lei, os


estatutos ou o pacto social designarem.
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2 - Sendo demandada pessoa coletiva ou sociedade que não tenha quem a represente, ou
ocorrendo conflito de interesses entre a ré e o seu representante, o juiz da causa designa
representante especial, salvo se a lei estabelecer outra forma de assegurar a respetiva
representação em juízo.
3 - As funções do representante a que se refere o número anterior cessam logo que a
representação seja assumida por quem deva, nos termos da lei, assegurá-la.

1 (a) O n.º 1 contém uma norma remissiva, dado que é pelo que se estabelece na lei, nos estatutos
ou no pacto social que se determina a quem cabe a representação em juízo da pessoa colectiva ou
da sociedade. (b) P. ex.: as associações e as sociedades civis são representadas, em regra, pela
administração (art. 163.º, n.º 1, e 996.º, n.º 1, CC), as sociedades em nome colectivo e por quotas
pelos gerentes (art. 192.º, n.º 1, e 252.º, n.º 1, CSC) e as sociedades anónimas pelo conselho de
administração (art. 405.º, n.º 2, e 408.º, n.º 1, CSC).
2 (a) Se a pessoa colectiva ou a sociedade não tiver representante, cabe ao juiz da causa a
designação de um representante especial (n.º 2). As funções do representante especial cessam
quando a pessoa colectiva ou a sociedade tiver o seu representante de acordo com a lei (n.º 3). (b)
A designação de um representante especial também ocorre se houver um conflito de interesses
entre a pessoa colectiva ou a sociedade e o seu representante: dado que o demandante não pode
ser, ao mesmo tempo, o representante da demandada, também neste caso o juiz deve designar um
representante especial para esta demandada (n.º 2). (c) Na hipótese de conflito entre a pessoa
colectiva ou a sociedade e o seu representante, a lei, bem como – tem de entender-se – os estatutos
e o pacto social, podem determinar a quem compete a designação da pessoa colectiva ou a
sociedade (n.º 2).
3 (a) O representante demandado pela pessoa colectiva ou sociedade não pode representar esta
demandante. Neste caso, compete à pessoa colectiva ou à sociedade, através dos meios e dos
órgãos próprios, designar, antes da propositura da acção, um representante para a representar nesta
acção. (b) Se tal se mostrar impossível – designadamente, porque a representação da pessoa
colectiva ou da sociedade demandante compete a dois representantes e a acção é proposta pela
pessoa colectiva ou sociedade contra um desses representantes –, cabe igualmente, por analogia
com o estabelecido no n.º 2, a designação pelo juiz da causa de um representante especial para
essa demandante (RC 14/10/2014 (653/10)).

Artigo 26.º
Representação das entidades que careçam de personalidade jurídica

Salvo disposição especial em contrário, os patrimónios autónomos são representados pelos


seus administradores e as sociedades e associações que careçam de personalidade jurídica,
bem como as sucursais, agências, filiais ou delegações, são representadas pelas pessoas
que ajam como diretores, gerentes ou administradores.
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1 O artigo estabelece as regras para a representação das pessoas meramente judiciárias, ou seja,
daquelas às quais o art. 12.º atribui personalidade judiciária.
2 (a) A representação dos patrimónios autónomos cabe aos seus administradores ou equivalente
(quanto à herança jacente, art. 2047.º, 2048.º e 2079.º CC; quanto ao navio, art. 28.º, n.º 2, DL
352/86, de 21/10). (b) As sociedades e as associações que careçam de personalidade jurídica, bem
como as sucursais, agências, filiais ou delegações, são representadas pelas pessoas que ajam como
directores, gerentes ou administradores (quanto às sociedades comerciais não registadas, art. 38.º
a 40.º CSC; quanto às sociedades civis, art. 996.º CC; quanto às associações sem personalidade
jurídica, art. 195.º, n.º 1, 163.º, n.º 1, CC (no entanto, art. 198.º, n.º 3, CC).

Artigo 27.º
Suprimento da incapacidade judiciária e da irregularidade de representação

1 - A incapacidade judiciária e a irregularidade de representação são sanadas mediante a


intervenção ou a citação do representante legítimo do incapaz.
2 - Se estes ratificarem os atos anteriormente praticados, o processo segue como se o vício
não existisse; no caso contrário, fica sem efeito todo o processado posterior ao momento
em que a falta se deu ou a irregularidade foi cometida, correndo novamente os prazos para a
prática dos atos não ratificados, que podem ser renovados.
3 - Se a irregularidade verificada consistir na preterição de algum dos pais, tem-se como
ratificado o processado anterior, quando o preterido, devidamente notificado, nada disser
dentro do prazo fixado; havendo desacordo dos pais acerca da repetição da ação ou da
renovação dos atos, é aplicável o disposto no artigo 18.º.
4 - Sendo o incapaz autor e tendo o processo sido anulado desde o início, se o prazo de
prescrição ou caducidade tiver entretanto terminado ou terminar nos dois meses imediatos
à anulação, não se considera completada a prescrição ou caducidade antes de findarem
estes dois meses.

1 (a) A incapacidade judiciária l. s. comporta três modalidades: (i) a incapacidade judiciária s. s.


(quando o autor incapaz não está representado ou quando o autor não indica o representante do réu
incapaz); (ii) a irregularidade de representação (quando o representante do autor ou do incapaz não
é aquele que devia ser ou não o devia ser sozinho); (iii) a falta de autorização ou consentimento
(quando o representante não obteve uma prévia autorização ou consentimento que devia obter). (b)
As duas primeiras modalidades da incapacidade judiciária l. s. encontram-se reguladas neste artigo
e no art. 28.º; a falta de autorização ou consentimento, no art. 29.º.
2 (a) A incapacidade judiciária s. s. e a irregularidade de representação são sanadas mediante a
intervenção, por iniciativa própria, ou a citação do representante legítimo do incapaz (n.º 1). (b) O
representante do incapaz pode ratificar ou não ratificar os actos praticados pelo incapaz ou pelo
representante irregular.
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3 (a) Se o representante ratificar os actos anteriormente praticados (como, p. ex., a contestação


apresentada pelo réu), o processo segue como se o vício não existisse (n.º 2 1.ª parte). (b) Se o
representante não ratificar os actos praticados, fica sem efeito todo o processado posterior ao
momento em que se verificou a falta ou a irregularidade de representação, correndo novamente os
prazos para a prática dos actos não ratificados, que podem ser renovados pelo representante da
parte (n.º 2 2.ª parte).
4 (a) Se o representante do autor nada fizer (isto é, não ratificar, nem renovar os actos praticados),
ficam sem efeito os actos anteriormente praticados pelo incapaz ou pelo representante irregular. (b)
Perante isto, são possíveis duas situações: (i) todos os actos, incluindo a petição inicial, ficam sem
efeito; nesta hipótese, como o processo não pode subsistir sem a petição inicial do autor, a não
sanação do vicio constitui a falta de um pressuposto processual e, portanto, uma excepção dilatória
(art. 577.º, al. c)); (ii) apenas actos posteriores à petição inicial ficam sem efeito; nesta situação, a
não sanação do vício afecta apenas estes actos, ou seja, falta apenas um pressuposto desse actos
processuais, pelo que o processo continua, embora sem aqueles actos. (b) Se o representante do
réu não ratificar, nem renovar os actos praticados pelo incapaz ou pelo representante irregular, falta
apenas um pressuposto de actos processuais, pelo que ficam sem efeito os actos praticados pelo
réu, mas o processo mantém-se pendente. Se entre esses actos constar a contestação, o réu fica
em situação de revelia (art. 566.º e 567.º, n.º 1), embora, em algumas situações, esta revelia possa
ser inoperante (art. 568.º).
5 (a) A irregularidade da representação pode consistir, por violação do disposto no art. 16.º, n.º 2, na
representação do menor por apenas um dos progenitores. Nesta hipótese, procede-se à notificação
do progenitor preterido, que pode ratificar ou renovar os actos praticados pelo outro progenitor.
Considera-se ratificado o praticado por este progenitor quando o progenitor notificado nada disser
no prazo fixado pelo tribunal (n.º 3 1.ª parte). Se o progenitor notificado não ratificar, ainda que
tacitamente, os actos praticados pelo outro progenitor, pode renovar esses actos, necessitando,
naturalmente, da concordância do outro progenitor (art. 16.º, n.º 2). (b) Se houver desacordo dos
progenitores acerca da repetição da acção ou da renovação dos actos, observa-se o regime definido
para a resolução do desacordo entre os progenitores na representação do menor (n.º 3 2.ª parte;
art. 18.º). (c) A notificação do progenitor deve observar as regras próprias da citação pessoal (art.
250.º).
6 (a) Se o incapaz for autor, se, por ter ficado sem efeito a petição inicial, o réu tiver sido absolvido da
instância e ainda se o prazo de prescrição ou de caducidade tiver entretanto terminado ou terminar
nos dois meses imediatos depois dessa absolvição, não se considera completada a prescrição ou
caducidade antes de findarem esses dois meses após o trânsito em julgado dessa absolvição (n.º
4). (b) O regime coincide, quanto à estatuição da regra, com aquele que se encontra estabelecido
nos art. 327.º, n.º 3, e 332.º, n.º 1, CC, mas tem uma justificação própria. Enquanto a previsão destes
preceitos exige que a absolvição da instância tenha decorrido de motivo processual não imputável
ao autor, o disposto no n.º 4 omite compreensivelmente esta exigência, dado que a absolvição da
instância decorrente da inércia do representante do autor incapaz nunca pode ser imputada a esta
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parte. Compreensivelmente, os actos do incapaz não o podem prejudicar a ele próprio e,


excepcionalmente, os actos do representante não se repercutem na esfera jurídica do incapaz
representado. (c) O regime não afasta a aplicação do disposto no art. 320.º, n.º 1, CC quanto à
suspensão da prescrição a favor de menores e de maiores acompanhados.

Artigo 28.º
Iniciativa do juiz no suprimento

1 - Logo que se aperceba de algum dos vícios a que se refere o artigo anterior, deve o juiz,
oficiosamente e a todo o tempo, providenciar pela regularização da instância.
2 - Incumbe ao juiz ordenar a citação do réu em quem o deva representar, ou, se a falta ou
irregularidade respeitar ao autor, determinar a notificação de quem o deva representar na
causa para, no prazo fixado, ratificar, querendo, no todo ou em parte, o processado anterior,
suspendendo-se entretanto a instância.

1 Cabe ao juiz promover oficiosamente e a todo o tempo a sanação da incapacidade s. s. e da


irregularidade da representação (n.º 1). Trata-se de uma concretização do suprimento oficioso da
falta de pressupostos processuais (e de pressupostos de actos processuais) estabelecida no art. 6.º,
n.º 2.
2 (a) A sanação depende do vício em concreto. (b) Se o autor não tiver indicado o representante do
réu ou tiver indicado um falso representante, o juiz ordena a citação do réu em que o deva
representar (n.º 1). (c) Se o autor não tiver representante ou estiver irregularmente representado, o
juiz determina a notificação de quem o deva representar na causa para, no prazo fixado, ratificar, no
todo ou em parte, o processado anterior, suspendendo-se, entretanto, a instância (n.º 2). (d) A
notificação do representante deve observar as regras da citação pessoal (art. 250.º).

Artigo 29.º
Falta de autorização ou de deliberação

1 - Se a parte estiver devidamente representada, mas faltar alguma autorização ou


deliberação exigida por lei, é designado o prazo dentro do qual o representante deve obter a
respetiva autorização ou deliberação, suspendendo-se entretanto os termos da causa.
2 - Não sendo a falta sanada dentro do prazo, o réu é absolvido da instância, quando a
autorização ou deliberação devesse ser obtida pelo representante do autor; se era ao
representante do réu que incumbia prover, o processo segue como se o réu não deduzisse
oposição.

1 (a) Em certos casos, o representante necessita de uma prévia autorização ou deliberação. (b) P.
ex.: os progenitores carecem de autorização judicial para a acção de divisão de coisa comum ou
para requerer a liquidação e partilha de patrimónios sociais (art. 1889.º, n.º 1, al. n), CC); o tutor
(enquanto representante), o acompanhante de maior e o administrador de bens carecem, em
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princípio, de autorização judicial para a propositura de acções (art. 1938.º, n.º 1, al. e), 145.º, n.º 3 e
4, e 1971.º, n.º 1, CC); o gerente da sociedade por quotas necessita da deliberação dos sócios para
propor acções contra outros gerentes, sócios ou membros do órgão de fiscalização da sociedade
(art. 246.º, n.º 1, al. g), CSC).
2 A não sanação do vício, decorrente da falta da obtenção da autorização ou consentimento, implica
consequências distintas consoante o mesmo afecte a parte activa ou a parte passiva.
3 (a) Se o vício respeitar à parte activa, a falta de sanação do vício implica a falta de um pressuposto
processual e, por isso, a absolvição do réu da instância (art. 29.º, n. 2 1.ª parte; art. 577.º, al. d), e
278.º, n.º 1, al. c)). (b) Existe um regime especial para a falta de autorização pelo tutor. Nesta
hipótese, apesar de faltar um pressuposto processual, o tribunal deve ordenar oficiosamente a
suspensão da instância, depois da citação, até que seja concedida a autorização necessária ao tutor
(art. 1940.º, n.º 3, CC). O regime é aplicável ao acompanhante de maior (art. 145.º, n.º 3 e 4, CC) e
ao administrador de bens (art. 1971.º, n.º 1, CC).
4 Se o vício afectar a parte passiva, falta um pressuposto de actos processuais, pelo que ficam sem
efeito os actos praticados pelo representante. Como entre estes actos se inclui a contestação,
verifica-se a revelia do réu (art. 29.º, n.º 2 2.ª parte; art. 566.º e 567.º, n.º 1), que, em certas situações,
pode ser inoperante (art. 568.º).
5 O regime é aplicável, por analogia, quando é a própria parte que necessita de autorização para a
prática do acto em juízo. Pode ser o caso do maior acompanhado (art. 145.º, n.º 2, al. d), CC; art.
19.º, n.º 2).

Capítulo II
Legitimidade das partes

NP (art. 30.º a 39.º)

1 A legitimidade processual pode ser singular (art. 30.º), quando é reconhecida a um autor ou a um
réu, popular (art. 31.º), quando é atribuída para a tutela de interesses difusos, ou plural (art. 32.º a
39.º), quando é reconhecida a vários autores ou a vários réus.
2 (a) A legitimidade singular pode ser directa, quando o autor ou o réu é o alegado titular do direito, ou
indirecta, quando o autor ou o réu substitui o alegado titular do direito. (b) A legitimidade indirecta é
vulgarmente conhecida sob a designação de substituição processual. Esta substituição pode ser
legal, se resultar da lei, ou voluntária, se decorrer de uma convenção entre as partes (parte
substituída e substituto processual). (c) A parte substituta é parte processual (autor ou réu).
Enquanto na representação o representante age em nome da parte que representa, na substituição
processual a parte age em nome próprio sobre um direito alheio.
3 (a) A legitimidade plural pode constituir um litisconsórcio (art. 32.º a 35.º e 39.º) ou uma coligação
(art. 36.º a 39.º). (B) O litisconsórcio verifica-se quando: (i) um autor formula um ou vários pedidos
contra vários réus; (ii) vários autores formulam um ou vários pedidos contra um réu; (iii) vários
autores formulam um ou vários pedidos contra vários réus. (c) A coligação pressupõe que, além de
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uma pluralidade de partes activas ou passivas, é formulado um pedido distinto por cada um dos
autores ou é formulado um pedido distinto contra cada um dos réus.
4 A legitimidade processual não se confunde com o interesse processual, que é a vantagem que o
autor adquire (e, correlativamente, a desvantagem que o réu sofre) com a obtenção da tutela
jurisdicional.

Artigo 30.º
Conceito de legitimidade

1 - O autor é parte legítima quando tem interesse direto em demandar; o réu é parte legítima
quando tem interesse direto em contradizer.
2 - O interesse em demandar exprime-se pela utilidade derivada da procedência da ação e o
interesse em contradizer pelo prejuízo que dessa procedência advenha.
3 - Na falta de indicação da lei em contrário, são considerados titulares do interesse relevante
para o efeito da legitimidade os sujeitos da relação controvertida, tal como é configurada pelo
autor.

1 (a) A legitimidade processual (ou ad causam) pressupõe, em regra, uma relação da parte com o
objecto da acção. Esta legitimidade destina-se a determinar quem é a parte que pode litigar em juízo
quanto a um certo direito ou interesse. (b) O preceito procura definir a legitimidade singular – isto é,
a legitimidade do autor ou do réu – através de um critério principal e de um critério auxiliar: o critério
principal é do interesse em demandar e em contradizer (n.º 1 e 2); o critério auxiliar é o da titularidade
da relação material controvertida e das respectivas excepções (n.º 3).
2 O n.º 1 afere a legitimidade do autor pelo interesse em demandar e a legitimidade do réu pelo
interesse em contradizer. Trata-se de um critério hoje ultrapassado, dado que actualmente é clara a
distinção entre a legitimidade processual (que define quem é que pode ser autor e réu em função do
objecto do processo) e o interesse na tutela (que é aferido pela vantagem que pode resultar da acção
para o autor e, consequentemente, pela desvantagem que dela pode decorrer para o réu).
3 O n.º 2 define o interesse em demandar e em contradizer pelo qual se afere, nos termos do n.º 1, a
legitimidade do autor e a legitimidade do réu. As definições padecem, no entanto, de um duplo
equívoco.
4 (a) O primeiro dos referidos equívocos respeita à definição do interesse em contradizer do réu como
o interesse em evitar o prejuízo que provenha da procedência da causa. De acordo com esta
definição, não se descortina qual seja o réu que, demandado numa acção condenatória, não deva
ser considerado parte legítima, porque não se vislumbra qual o réu que, mesmo que não tenha
nenhuma relação com o objecto da causa, não tenha interesse em evitar a sua procedência e a sua
condenação. P. ex.: mesmo que o autor afirme que não foi o réu que contraiu a dívida, ainda assim
é claro que o réu que foi demandado tem interesse em evitar a sua condenação no pagamento de
uma dívida alheia. (b) Em suma: pelo critério do interesse em contradizer definido através do
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interesse em evitar o prejuízo decorrente da procedência de uma acção condenatória não há


demandado que não tenha de ser considerado parte legítima.
5 (a) O segundo equívoco de que padecem as definições que constam do n.º 2 resulta da circunstância
de o interesse em demandar do autor e do interesse em contradizer do réu serem definidos um em
função do outro: o interesse em demandar é aferido pela utilidade derivada da procedência da acção
e o interesse em contradizer pelo prejuízo produzido por essa procedência. Como facilmente se
compreende, a utilidade da procedência da causa para o autor é correlativa do prejuízo da
procedência da acção para o réu, dado que a procedência da causa se traduz necessariamente num
benefício para o autor e numa desvantagem para o réu. (b) O problema desta correlatividade entre
o interesse em demandar e o interesse em contradizer reside em que ela é incompatível com a
aferição da legitimidade processual, pela simples razão de que a legitimidade do autor não é
correlativa da legitimidade do réu (e vice-versa). A legitimidade é aferida, com total autonomia
perante a legitimidade da outra parte, em relação a cada uma das partes, pelo que nem a
legitimidade de uma das partes determina a legitimidade da outra, nem a ilegitimidade de uma delas
implica a ilegitimidade da outra.
6 (a) Do disposto decorre a impossibilidade de utilizar os critérios do interesse em demandar e em
contradizer para aferir a legitimidade das partes. (b) O único sentido útil que é possível atribuir ao
disposto nos n.º 1 e 2 é referir o interesse em demandar e o interesse em contradizer ao interesse
processual ou interesse em agir, dado que este interesse é efectivamente apreciado em simultâneo
para o autor e para o réu: o autor tem interesse em recorrer aos tribunais quando adquire uma
vantagem com a tutela judicia que neles requer; naturalmente, a vantagem adquirida pelo autor
representa uma desvantagem para o réu, pois que o autor adquire uma vantagem perante o réu e,
por isso, o que aquele ganha é o que este perde (e vice-versa). Isto demonstra que não há interesse
processual do autor sem interesse processual do réu, e vice-versa.
7 (a) O estabelecido no n.º 3 comporta uma regra e duas excepções. (b) A regra é a de que os titulares
do interesse em demandar e em contradizer coincidem com os titulares da relação material
controvertida tal como é definida pelo autor. (c) As excepções são a de que a lei pode atribuir o
referido interesse em demandar e em contradizer a quem não é titular da relação material
controvertida e a de que a lei pode atribuir legitimidade por critérios distintos do interesse em
demandar e em contradizer. Deixando de lado os problemas relativos à referência da legitimidade
àqueles interesses, importa analisar a referida regra e as suas duas excepções.
8 (a) Em princípio, são partes legítimas o titular activo e o titular passivo da relação material
controvertida. Esta regra só é aplicável a situações subjectivas relativas, isto é, a situações
subjectivas em que se verifica uma correlatividade entre um direito e um dever. P. ex.: aquele que é
o credor e aquele que é o devedor num contrato de mútuo são partes legítimas na acção em que o
credor pretende obter a condenação do devedor na restituição da quantia mutuada e respectivos
juros. (b) No n.º 3 esclarece-se que a legitimidade das partes é aferida pela relação material
controvertida, tal como é configurada pelo demandante. O esclarecimento não é indispensável: como
qualquer pressuposto processual, a legitimidade processual só pode ser aferida em função do
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objecto do processo delimitado pelo autor. Determinar se a relação material controvertida é tal como
o autor a descreve e se a mesma tem como titulares as partes do processo, isso é matéria
respeitante ao mérito da causa. A legitimidade como pressuposto processual não pode ser
confundida com a titularidade do direito ou do interesse que é discutido em juízo.
9 Uma das excepções constantes do n.º 3 refere-se aos casos em que não existe uma relação material
controvertida, ou seja, em que a situação jurídica alegada em juízo não comporta um titular activo e
um titular passivo. Isso sucede quando a situação apreciada em juízo não pode ser reconduzida a
um direito ou quando essa situação respeita a um direito absoluto. P. ex.: (i) a declaração de nulidade
de um acto jurídico pode ser requerida por qualquer interessado (art. 286.º CC) (e deve ser
instaurada contra um interessado na não declaração dessa nulidade); (ii) a acção de reivindicação
deve ser instaurada pelo proprietário contra o possuidor ou detentor da coisa (art. 1311, n.º 1, CC).
10 A outra hipótese a que se refere a excepção referida no n.º 3 respeita à substituição processual, ou
seja, à situação na qual, segundo a lei, a legitimidade é atribuída a uma parte que não é o titular da
relação material controvertida.
11 (a) Na maior parte dos casos, é a própria lei que determina a substituição processual: fala-se então
de substituição processual legal. (b) São inúmeras as situações em que a lei atribui legitimidade
processual a um terceiro em substituição do titular do direito. No âmbito da administração de
patrimónios alheios, actua como substituto processual o administrador de insolvência (em
substituição do devedor insolvente: art. 85.º, n.º 3, CIRE) e o cabeça de casal (em substituição dos
herdeiros: art. 2088.º e 2089.º CC). Fora desse âmbito há que referir, p. ex., a substituição que é
assumida pelo transmitente ou cedente do direito litigioso (art. 263.º, n.º 1), pelo cônjuge sobrevivo,
parente ou herdeiro na tutela dos direitos de personalidade ou do bom nome do falecido (art. 71.º,
n.º 2 e 3, e 73.º CC), pelo credor ou devedor solidário na acção respeitante ao crédito ou à dívida
(art. 512.º, n.º 1, CC), pelo comproprietário na acção de reivindicação da coisa comum (art. 1405.º,
n.º 2, CC) ou ainda pelo cônjuge ou descendente do filho na acção de reconhecimento da
maternidade ou paternidade (art. 1818.º e 1873.º CC).
12 (a) A lei também permite que seja o titular do direito a atribuir, em sua substituição, legitimidade a
um outro sujeito: trata-se então de uma substituição processual voluntária. (b) P. ex.: (i) nas acções
que devem ser propostas por ou contra ambos os cônjuges, um deles pode atribuir o seu
consentimento para que o outro o substitua em juízo (art. 34.º, n.º 1 e 3); (ii) o administrador do
condomínio pode ser autorizado pela assembleia de condóminos a agir em juízo quer contra
qualquer destes, quer contra um terceiro (art. 1437.º, n.º 1, CC). (c) A necessidade de proteger os
interesses da contraparte – a quem não deve ser imposta a litigância com um terceiro estranho ao
direito em litígio – obsta a que se admita, fora dos casos estabelecidos na lei, a substituição
processual voluntária.
13 A parte pode preencher os critérios de atribuição de legitimidade estabelecidos no n.º 3 e, ainda
assim, não ser parte legítima. Isso sucede quando a lei impõe um litisconsórcio necessário (art. 33.º
e 34.º) e, por essa razão, obsta a que a parte possa estar em juízo desacompanhada de outros
interessados.
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14 (a) A falta de legitimidade singular não é sanável. (b) A falta de legitimidade constitui uma excepção
dilatória (art. 577.º, al. e)). (c) Se houver dúvidas sobre a legitimidade do réu, mas for certo que a
acção deve improceder, nada impede que o tribunal profira uma decisão de absolvição do pedido
(art. 278.º, n.º 3 2.ª parte).

Artigo 31.º
Ações para a tutela de interesses difusos

Têm legitimidade para propor e intervir nas ações e procedimentos cautelares destinados,
designadamente, à defesa da saúde pública, do ambiente, da qualidade de vida, do
património cultural e do domínio público, bem como à proteção do consumo de bens e
serviços, qualquer cidadão no gozo dos seus direitos civis e políticos, as associações e
fundações defensoras dos interesses em causa, as autarquias locais e o Ministério Público,
nos termos previstos na lei.

1 (a) O artigo refere-se à legitimidade para as acções relativas a interesses difusos, ou seja, a
interesses que pertencem a todos e a cada um dos membros de um grupo ou de uma classe, sem
que, contudo, esses interesses sejam susceptíveis de ser individualmente apropriados por algum ou
algum desses membros. (b) À semelhança do disposto no art. 52.º, n.º 3, CRP e no art. 2.º LPPAP,
o artigo atribui uma legitimidade concorrente a cada um dos titulares do interesse difuso e, em sua
substituição, a associações, a fundações, a autarquias locais e ao MP (art. 4.º, n.º 1, EMP).
2 (a) São vários os meios processuais possíveis para a tutela de interesses difusos. (b) Podem ser
referidos os seguintes meios: (i) a acção popular (art. 52.º, n.º 3, CRP; art. 1.º LPPAP), que pode ser
instaurada por cidadãos, associações, fundações e autarquias locais (art. 2.º LPPAP; também art.
13.º, al. a) e b), LDC; art. 31.º CVM; art. 19.º L 23/2018, de 5/6); (ii) a acção pública que é instaurada
pelo MP no exercício das suas funções (art. 3.º, n.º 1, al. e), EMP; art. 13.º, al. c), LDC; quanto à
acção inibitória do uso ou recomendação de cláusulas contratuais gerais, art. 26.º, n.º 1, al. c),
LCCG); (iii) a acção privada, como é o caso da acção inibitória do uso ou recomendação de cláusulas
contratuais gerais proposta por uma associação (art. 26.º, n.º 1, al. a) e b), LCCG).
3 A aplicação privada (private enforcement) é a tutela de direitos ou interesses individuais que,
reflexamente, também tutela interesses difusos. Esta aplicação encontra-se consagrada, na área do
direito da concorrência, no art. 3.º, n.º 1, L 23/2018 (mais explícito: art. 1.º, n.º 1, Diret. 2014/104/EU,
de 26/11/2014), mas também pode ser reconduzida a essa aplicação a acção destinada a obter a
omissão da emissão de fumo, fuligem, vapores, cheiros, calor ou ruídos de um prédio vizinho (art.
1346.º CC), dado que pode vir a beneficiar dessa omissão um número indeterminado de pessoas.

Artigo 32.º
Litisconsórcio voluntário

1 - Se a relação material controvertida respeitar a várias pessoas, a ação respetiva pode ser
proposta por todos ou contra todos os interessados; mas, se a lei ou o negócio for omisso,
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a ação pode também ser proposta por um só ou contra um só dos interessados, devendo o
tribunal, nesse caso, conhecer apenas da respetiva quota-parte do interesse ou da
responsabilidade, ainda que o pedido abranja a totalidade.
2 - Se a lei ou o negócio permitir que o direito seja exercido por um só ou que a obrigação
comum seja exigida de um só dos interessados, basta que um deles intervenha para
assegurar a legitimidade.

1 (a) O litisconsórcio é a pluralidade de partes principais. (b) Em função do objecto do processo, o


litisconsórcio pode ser voluntário (art. 32.º) ou necessário (art. 33.º e 34.º).
2 (a) O litisconsórcio voluntário é aquele em que, havendo uma pluralidade de interessados, nem todos
eles têm de demandar ou ser demandados. Assim, se todos os interessados demandarem ou forem
demandados, é voluntário o litisconsórcio por eles constituído (n.º 1 1.ª parte). (b) O litisconsórcio
voluntário é sempre admissível, ou seja, é sempre possível a presença de todos os interessados em
juízo. Precisamente por isso, o litisconsórcio voluntário pressupõe algo comum entre os
litisconsortes. Este elemento é, no caso do n.º 1, uma obrigação conjunta ou parciária e, na hipótese
do n.º 2, uma situação substantiva que atribui a cada um dos titulares uma legitimidade concorrente.
(c) O litisconsórcio voluntário também pode ter outras bases legais, como, p. ex., aquele que ocorre
entre o devedor e o fiador (art. 641.º, n.º 1, CC) ou aquele que, por morte da investigada ou do
investigado, se verifica na acção de investigação da maternidade ou da paternidade entre os
herdeiros e legatários cujos direitos sejam atingidos pela procedência da acção (art. 1819.º, n.º 2, e
1873.º CC).
3 (a) Se nem a lei, nem o negócio celebrado entre as partes exigir a presença de todos os interessados
como demandantes ou demandados, a acção pode ser proposta por ou contra apenas alguns desses
interessados (n.º 1 2.ª parte). (b) Neste caso, o tribunal só pode conhecer da respectiva quota-parte
pertencente aos demandantes ou aos demandados (n.º 1 2.ª parte). É o que sucede nas obrigações
conjuntas ou parciárias. P. ex.: A empresta a B e C € 25.000, nada se tendo estipulado no contrato
quanto à exigência conjunta da restituição da quantia mutuada a ambos os devedores; nesta
hipótese, A pode propor a acção destinada a obter essa restituição apenas contra B, embora só
possa obter a condenação deste na restituição da quota-parte pela qual o demandado é responsável
(na situação mais comum, € 12.500).
4 O n.º 2 refere-se às hipóteses nas quais, apesar de haver uma pluralidade de titulares do direito ou
interesse, a acção pode ser proposta apenas por um ou alguns desses titulares e pode ser instaurada
apenas contra um ou alguns desses titulares. Isto sucede nas situações de legitimidade concorrente,
ou seja, nas situações de substituição processual em que a lei ou o contrato permitem que um dos
titulares substitua todos os demais titulares do direito ou interesse.
5 (a) Uma das situações de legitimidade concorrente verifica-se nas obrigações solidárias, que são
aquelas em que cada um dos credores tem a faculdade de exigir, por si só, a prestação integral
(solidariedade activa) ou em que cada um dos devedores responde pela prestação integral
(solidariedade passiva (art. 512.º, n.º 1, CC). Segundo o disposto no n.º 2, a acção pode ser proposta
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por um único dos credores solidários ou contra um único dos devedores solidários, apesar de ser
pedida a totalidade do crédito. (b) A propositura da acção por um contra um dos titulares da
obrigação solidária é uma faculdade que é reconhecida a esses titulares. Como resulta do disposto
no n.º 1 e especificamente do disposto no art. 517.º CC, nada impede que a acção seja proposta por
vários ou todos os credores ou contra vários ou todos os devedores: nesta hipótese, constitui-se um
litisconsórcio voluntário. (c) No caso de a acção ser proposta por um ou alguns credores ou contra
um ou vários devedores, as condições que determinam a extensão do caso julgado aos credores ou
aos devedores que não participaram da acção é regulada, respectivamente, pelo disposto nos art.
531.º e 522.º CC.
6 (a) A legitimidade concorrente também é atribuída a cada um dos credores de uma obrigação
indivisível (art. 538.º, n.º 1 1.ª parte, CC). (b) O caso julgado favorável a um dos credores aproveita
aos outros, se o devedor não tiver, contra eles, meios especiais de defesa (art. 538.º, n.º 2, CC).
7 (a) A legitimidade concorrente é ainda reconhecida a cada consorte de uma coisa comum, dado que
pode reivindicar de terceiro a coisa comum, sem que este possa opor-lhe que lhe não pertence por
inteiro (art. 1405.º, n.º 2, CC). (b) O mesmo vale, com as necessárias adaptações, para a comunhão
de quaisquer outros direitos, sem prejuízo do disposto especialmente para cada um deles (art. 1404.º
CC; quanto à posse, art. 1286.º, n.º 1, CC e, quanto à petição da herança, art. 2078.º, n.º 1, CC).
8 (a) A legitimidade concorrente é ainda atribuída a qualquer sócio de uma sociedade comercial para
a propositura de uma acção de declaração de nulidade ou de anulação de uma deliberação social
(art. 57.º, n.º 1 e 2, e 59.º, n.º 1, CSC). (b) A sentença que declarar nula ou anular a deliberação é
eficaz contra e a favor de todos os sócios e órgãos da sociedade (art. 61.º. n.º 1, CSC).
9 (a) Uma das modalidades do litisconsórcio voluntário l. s. é o chamado litisconsórcio conveniente,
que é o que se verifica quando o autor perde um efeito se não constituir o litisconsórcio. P. ex.: a
acção de investigação da maternidade e da paternidade deve ser proposta, por morte da investigada
ou do investigado, contra os herdeiros e legatários cujos direitos sejam atingidos pela procedência
da acção, dado que, se tal não suceder, os efeitos da procedência da acção não lhes são oponíveis
(art. 1819.º, n.º 2, e 1873.º CC). (b) O litisconsórcio conveniente não deve ser confundido com o
litisconsórcio voluntário s. s.: naquele perde-se um efeito que não mais pode ser obtido; neste não
se obtém um efeito que pode obtido noutra acção.
10 (a) No caso do litisconsórcio voluntário nunca é pensável uma situação de ilegitimidade pela falta de
algum interessado, mas é pensável uma situação de ilegitimidade quando algum dos autores ou dos
réus não tiver qualquer relação com o objecto do processo. Suponha-se, p. ex., que A e B demandam
C, sendo certo que apenas A é credor de C; B é parte ilegítima. (b) A consequência desta hipótese
é a ilegitimidade de um dos autores (na hipótese de litisconsórcio activo) ou de um dos réus (na de
litisconsórcio passivo) e a constituição da respectiva excepção dilatória (art. 577.º, al. e)). O
correspondente indeferimento liminar ou a consequente absolvição da instância (art. 590.º, n.º 1, e
278.º, n.º 1, al. d)) implica a extinção da instância quanto ao autor, no caso de ser este a parte
ilegítima, ou quanto ao réu, na hipótese de ser este a parte ilegítima.
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Artigo 33.º
Litisconsórcio necessário

1 - Se, porém, a lei ou o negócio exigir a intervenção dos vários interessados na relação
controvertida, a falta de qualquer deles é motivo de ilegitimidade.
2 - É igualmente necessária a intervenção de todos os interessados quando, pela própria
natureza da relação jurídica, ela seja necessária para que a decisão a obter produza o seu
efeito útil normal.
3 - A decisão produz o seu efeito útil normal sempre que, não vinculando embora os restantes
interessados, possa regular definitivamente a situação concreta das partes relativamente ao
pedido formulado.

1 (a) O litisconsórcio necessário é aquele em que todos os interessados têm de estar em juízo e, por
isso, devem demandar ou ser demandados, sob pena de ilegitimidade dos demandantes ou dos
demandados presentes na acção. Isto significa que os vários interessados têm o ónus de propor a
acção conjuntamente (ou, se algum ou alguns deles não o quiser fazer, de promover a intervenção
dos restantes interessados: art. 316.º, n.º 1) ou que o autor tem o ónus de propor a acção contra
todos os interessados. (b) O litisconsórcio nunca é necessário quando a ausência de algum
interessado tiver qualquer outra consequência que não seja a ilegitimidade das partes presentes em
juízo. (c) O litisconsórcio necessário pode ser legal (n.º 1), convencional (n.º 1) ou natural (n.º 2 e 3).
2 O litisconsórcio necessário legal encontra-se consagrado designadamente: (i) nos art. 34.º, 354.º,
n.º 2, 922.º, n.º 1, 953.º, n.º 1, e 954.º CPC; nos art. 419.º, n.º 1, 496.º, n.º 2, 535.º, n.º 1, 608.º,
1822.º, n.º 2, 1846.º, n.º 1 e 2091.º, n.º 1 (RE 14/10/2004 (267/04), CC; (iii) no art. 64.º, n.º 1, al. b),
DL 291/2007, de 21/8, no âmbito das acções destinadas à efectivação da responsabilidade civil
decorrente de acidente de viação.
3 (a) O litisconsórcio necessário convencional é aquele em que, como consequência da convenção
celebrada entre as partes, todos os interessados devem estar em juízo. (b) P. ex.: A empresta €
10.000 a B e C e convencionam que o pagamento da dívida deve ser exigido a ambos os devedores;
perante a falta de restituição da quantia mutuada, qualquer acção destinada a cobrar a dívida tem
de ser proposta contra B e C.
4 (a) O litisconsórcio necessário natural é aquele em que, pela natureza da relação material
controvertida, é necessária a intervenção de todos os interessados para que a decisão do tribunal
produza o seu efeito útil normal (n.º 2). (b) Procurando concretizar o conceito indeterminado de
produção do efeito útil normal, o n.º 3 define que a decisão produz este efeito quando, não vinculando
embora os restantes interessados, possa regular definitivamente a situação concreta das partes
relativamente ao pedido formulado. O critério é, no fundo, o seguinte: o litisconsórcio é natural
quando a decisão proferida em relação a apenas alguns dos interessados não possa ser uma
decisão definitiva por poder ser contrariada por uma decisão obtida pelos interessados que não
foram partes na causa (RL 15/3/2006 (11920/2005)).
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5 (a) Segundo o critério resultante do disposto no n.º 3, o litisconsórcio necessário natural verifica-se
nas seguintes situações: (i) na acção de divisão de coisa comum entre mais do que dois proprietários
(art. 1412.º, n.º 1, e 1413.º, n.º 1, CC; art. 925.º a 930.º); (ii) na acção de simulação de um contrato
contra todos os que o celebraram (STJ 27/11/2012 (752/2001)); (iii) na acção de preferência por
todos os comproprietários que são titulares do respectivo direito (STJ 16/1/2015 (1010/06); (iv) na
acção de resolução de um contrato-promessa por todos os promitentes-compradores (RL 16/1/2007
(8121/2006); RP 25/1/2007 (JTRP00040011); STJ 22/10/2015 (2394/11); (v) na acção de alteração
da pensão de alimentos devida por um dos progenitores (Ass. STJ 6/95, de 10/10); (vi) na acção em
que um ex-cônjuge pretende obter o reconhecimento do direito à pensão de alimentos que recebia
do seu ex-cônjuge, dado que a acção tem de ser proposta não só contra os organismos oficiais
responsáveis pelo pagamento da pensão, mas também contra a viúva do falecido (STJ 19/5/2016
(611/13)). (b) Segundo o mesmo critério, o litisconsórcio necessário natural não ocorre numa acção
de anulação de um negócio de compra e venda com vários vendedores ou vários compradores, se
o fundamento da anulação não for comum a todos estes interessados. (c) O litisconsórcio necessário
natural é um litisconsórcio unitário, porque a decisão do tribunal tem de ser a mesma para todos os
litisconsortes.
6 (a) A preterição de litisconsórcio necessário – isto é, a ausência de algum dos interessados que
devesse ser parte – origina a ilegitimidade das partes presentes na acção (n.º 1 in fine; art. 577.º, al.
e)). (b) A preterição do litisconsórcio necessário é sanável através da intervenção na acção do
interessado ausente (art. 311.º e 316.º, n.º 1), mesmo depois do proferimento da decisão de
absolvição da instância (art. 261.º, n.º 1). (c) Se o tribunal concluir pela improcedência da causa,
pode ficar em aberto se há preterição de litisconsórcio necessário passivo (art. 278.º, n.º 3 2.ª parte).

Artigo 34.º
Ações que têm de ser propostas por ambos ou contra ambos os cônjuges

1 - Devem ser propostas por ambos os cônjuges, ou por um deles com consentimento do
outro, as ações de que possa resultar a perda ou a oneração de bens que só por ambos
possam ser alienados ou a perda de direitos que só por ambos possam ser exercidos,
incluindo as ações que tenham por objeto, direta ou indiretamente, a casa de morada de
família.
2 - Na falta de acordo, o tribunal decide sobre o suprimento do consentimento, tendo em
consideração o interesse da família, aplicando-se, com as necessárias adaptações, o
disposto no artigo 29.º.
3 - Devem ser propostas contra ambos os cônjuges as ações emergentes de facto praticado
por ambos os cônjuges, as ações emergentes de facto praticado por um deles, mas em que
pretenda obter-se decisão suscetível de ser executada sobre bens próprios do outro, e ainda
as ações compreendidas no n.º 1.

1 O preceito refere-se ao litisconsórcio necessário conjugal activo (n.º 1 e 2) e passivo (n.º 3).
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2 (a) A aplicação do preceito exige a consideração de ambos os resultados possíveis de uma acção:
a procedência (efeito favorável) e a improcedência (efeito desfavorável). (b) O disposto no artigo tem
de ser visto em estreita conexão com o regime substantivo, nomeadamente quanto à disposição de
bens pelos cônjuges (art. 1682.º a 1683.º CC) e à responsabilidade pelas dívidas dos cônjuges (art.
1695.º e 1696.º CC). A função instrumental do processo civil obsta a que o processo possa ser
utilizado como forma de modificar o regime substantivo.
3 (a) O n.º 1 admite duas soluções: (i) a substituição processual voluntária do cônjuge demandante
quanto ao outro cônjuge; (ii) a propositura da acção conjuntamente por ambos os cônjuges. (b) O
n.º 1 permite que, no regime de substituição processual voluntária, um dos cônjuges dê o
consentimento ao outro para o substituir na acção. Não se trata de uma situação de representação,
porque, em juízo, a representação só pode ser de uma parte, ou seja, de alguém que é autor ou réu
(e não de um terceiro perante a acção) (dif. LF I (2018), n.º 3). (c) O n.º 2 permite o suprimento do
consentimento do cônjuge pelo próprio tribunal da causa (dif. GPS I (2020), n.º 2). A remissão do n.º
2 in fine para o art. 29.º respeita à sanação da ilegitimidade do cônjuge presente na acção sem o
consentimento do outro.
4 (a) O litisconsórcio conjugal activo é necessário sempre que o objecto do processo respeite a bens
comuns ou a bens próprios de um dos cônjuges que, apesar disso, ele não possa dispor sozinho
(art. 1682.º e 1682.º-A CC). O litisconsórcio também é necessário quando o objecto seja relativo a
algum dos actos respeitantes ao arrendamento da casa de morada de família que se encontram
enumerados no art. 1682.º-B CC ou a repúdio de herança ou legado que só possa ser feito com o
consentimento de ambos os cônjuges (art. 1683.º, n.º 2, CC). (b) Generalizando, pode dizer-se que
o litisconsórcio conjugal activo é necessário sempre que o objecto respeite a bens ou direitos que só
possam ser alienados por ambos os cônjuges.
5 (a) O n.º 3 respeita ao litisconsórcio conjugal passivo, prevendo-se nele três situações: (i) aquela em
que o facto (como, p. ex., a contracção de uma dívida) foi praticado por ambos os cônjuges; (ii)
aquela em que o facto foi praticado por um dos cônjuges, mas em que se pretende obter decisão
susceptível de ser executada sobre bens próprios do outro, isto é, aquela em que foi contraída uma
dívida comunicável; (iii) aquela em que, nos casos abrangidos pelo disposto no n.º 1, os cônjuges,
em vez de demandantes, são demandados. (b) No que se refere às dívidas dos cônjuges o regime
processual tem de ser articulado com o regime substantivo constante dos art. 1695.º e 1696.º CC.
Dado que este regime é injuntivo, não há nenhuma possibilidade de o credor demandante conformar
a acção de forma diferente do que resulta daquele regime substantivo, ou seja, demandando ambos
os cônjuges nas hipóteses em que aquele regime impõe a demanda de apenas um deles ou
demandando apenas um dos cônjuges nos casos em que aquele regime impõe a demanda de
ambos os cônjuges (dif. LF I (2018), n.º 4).
6 (a) Se a dívida for própria de um dos cônjuges, respondem os bens enumerados no art. 1696.º CC
e a acção só pode ser proposta contra o cônjuge devedor. O cônjuge não devedor é parte ilegítima.
(b) O cônjuge não devedor deve ser citado no processo executivo para requerer a separação de
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bens, se nele forem penhorados bens comuns, por não se conhecerem bens próprios suficientes do
cônjuge executado (art. 740.º, n.º 1; art. 1696.º, n.º 1, CC).
7 (a) Se a dívida for comum ou comunicável, a acção tem de ser proposta contra ambos os cônjuges,
dado que, na falta ou insuficiência dos bens comuns, respondem, solidariamente, os bens próprios
de qualquer dos cônjuges (art. 1695.º, n.º 1, CC). (b) A solidariedade estabelecida no art. 1695.º, n.º
1, CC não é uma solidariedade entre os cônjuges devedores, mas antes uma solidariedade entre os
patrimónios dos cônjuges devedores, pois que, na falta ou insuficiência de bens comuns, respondem
os bens próprios de qualquer dos cônjuges. É, aliás, por isso que o art. 1695.º, n.º 2, CC estabelece
que, no regime de separação de bens, a responsabilidade não é solidária: nesta hipótese,
respondem, em primeiro lugar, os bens próprios do cônjuge que contraiu a dívida e, só depois, os
bens do outro cônjuge. Em qualquer outro regime de bens respondem, indistintamente, os bens de
qualquer dos cônjuges demandados (e não os bens do cônjuge que, indistintamente, tenha sido
demandado). (c) O disposto no art. 1695.º, n.º 1, CC não pode ser lido como dispensando a demanda
de ambos os cônjuges com o argumento de que, na falta ou insuficiência de bens comuns, pode
responder, no regime característico das obrigações solidárias, apenas o cônjuge demandado. Não
é possível falar neste contexto de um litisconsórcio conveniente entre os cônjuges, dado que, por
uma dívida comum ou comunicável nunca pode ser demandado apenas um dos cônjuges (dif. GPS
I (2020), n.º 3).
8 O afirmado quanto às dívidas dos cônjuges no âmbito do processo declarativo vale também para o
processo executivo (dif., mas equivocado, STJ 22/5/2018 (2299/10)). É, aliás, por isso que os art.
741.º, n.º 1, e 742.º, n.º 1, permitem a invocação da comunicabilidade da dívida no processo
executivo quer pelo credor exequente, quer pelo cônjuge executado.

Artigo 35.º
O litisconsórcio e a ação

No caso de litisconsórcio necessário, há uma única ação com pluralidade de sujeitos; no


litisconsórcio voluntário, há uma simples acumulação de ações, conservando cada litigante
uma posição de independência em relação aos seus compartes.

1 O preceito distingue o litisconsórcio necessário e o litisconsórcio voluntário em função da unidade


ou pluralidade de acções.
2 (a) O sentido prático do preceito é reduzido e, além disso, algo equivocado, porque o preceito parte
do princípio de que o litisconsórcio necessário (e apenas este) é um litisconsórcio unitário, ou seja,
um litisconsórcio em que a decisão tem de ser a mesma para todos os litisconsortes. Para
demonstrar que não é assim basta considerar a situação em que, por força do contrato, a acção tem
de ser proposta contra ambos os devedores; se um destes já tiver pagado a sua parte da dívida, ele
vai ser absolvido do pedido e o outro vai ser condenado no pedido. Em situações como esta não é
evidente que se possa falar de uma única acção com pluralidade de sujeitos. (b) Sucede ainda que
o litisconsórcio pode ser voluntário e unitário, hipótese na qual se poderia dizer, com alguma razão,
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que há uma única acção com pluralidade de sujeitos. P. ex.: se, nos termos do disposto nos art.
1819.º, n.º 2, e 1873.º CC, for proposta uma acção de investigação da maternidade ou da
paternidade contra os herdeiros ou legatários, a decisão proferida na acção não pode deixar de ser
unitária para todos os demandados, apesar de estes constituírem um litisconsórcio voluntário. (c)
Em suma: enquanto, na generalidade das ordens jurídicas, o litisconsórcio é unitário e, por isso, é
necessário, na ordem jurídica portuguesa partiu-se equivocadamente dos princípios de que o
litisconsórcio é necessário é sempre unitário e de que o litisconsórcio voluntário nunca pode ser
unitário.
3 (a) O equívoco subjacente ao preceito estende-se ao disposto nos art. 288.º, n.º 2, 634.º, n.º 1, e
635.º, n.º 1, bem como ao estabelecido no art. 353.º, n.º 2, CC. Não é pelo facto de o litisconsórcio
ser necessário – mas antes pelo facto de o mesmo, independentemente de ser necessário ou
voluntário, ser unitário – que a confissão do pedido feita por um dos litisconsortes só releva para
custas, que o recurso interposto por um dos litisconsortes vencidos aproveita aos demais e que a
confissão de factos por um dos litisconsortes não é eficaz se o litisconsórcio for necessário. (b) Uma
das poucas consequências compreensíveis do preceito é a que se encontra regulada no art. 190.º
quanto à falta de citação no caso de pluralidade de réus.

Artigo 36.º
Coligação de autores e de réus

1 - É permitida a coligação de autores contra um ou vários réus e é permitido a um autor


demandar conjuntamente vários réus, por pedidos diferentes, quando a causa de pedir seja
a mesma e única ou quando os pedidos estejam entre si numa relação de prejudicialidade ou
de dependência.
2 - É igualmente lícita a coligação quando, sendo embora diferente a causa de pedir, a
procedência dos pedidos principais dependa essencialmente da apreciação dos mesmos
factos ou da interpretação e aplicação das mesmas regras de direito ou de cláusulas de
contratos perfeitamente análogas.
3 - É admitida a coligação quando os pedidos deduzidos contra os vários réus se baseiam na
invocação da obrigação cartular, quanto a uns, e da respetiva relação subjacente, quanto a
outros.

1 (a) Uma acção pode conter uma cumulação objectiva e uma cumulação subjectiva. P. ex.: A formula
contra C e D um pedido de reivindicação e um pedido de indemnização. Neste caso, trata-se de um
litisconsórcio (passivo). (b) Como decorre do n.º 1, a coligação é um instituto processual que, além
de conjugar uma cumulação objectiva com uma cumulação subjectiva, apresenta a particularidade
de os vários pedidos formulados se encontrarem distribuídos pelos vários autores ou pelos vários
réus. P. ex.: E formula um pedido de anulação contra F e um pedido de indemnização contra G.
Nesta hipótese, trata-se de uma coligação (passiva).
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2 (a) Em termos subjectivos, a coligação pode ser activa, passiva ou mista. (b) A cumulação objectiva
que se contém na coligação pode ser simples (art. 555.º), alternativa (art. 553.º) ou subsidiária (art.
554.º), pelo que a coligação também pode ser simples, alternativa ou subsidiária. Isto implica que
são aplicáveis à coligação os pressupostos daquelas modalidades de cumulação objectiva.
3 A coligação exige conexão objectiva entre os vários pedidos e, além disso, compatibilidade
processual entre todos os pedidos: o artigo regula aquela conexão e os art. 37.º e 38.º regulam
aquela compatibilidade. Se a coligação contiver uma cumulação simples, a mesma exige ainda a
compatibilidade substantiva entre os pedidos (→art. 555.º, n.º 1); se a cumulação for alternativa, tem
de se verificar uma alternatividade substantiva entre os pedidos (→art. 553.º, n.º 1).
4 (a) O n.º 1 admite a coligação em dois casos. (b) A coligação é admissível quando a causa de pedir
é a mesma e única para todos os pedidos. P. ex.: formulação do pedido de anulação de um contrato
contra um dos réus e do pedido de indemnização contra o outro réu, por este ser o responsável pelo
motivo de invalidade. (c) A coligação também é admissível quando os pedidos estejam entre si numa
relação de prejudicialidade ou de dependência. P. ex.: (i) formulação do pedido de anulação de um
negócio contra uma das partes do negócio e do pedido de restituição da coisa contra o terceiro para
o qual essa parte tinha transmitido a coisa; (ii) formulação do pedido de impugnação da paternidade
contra um réu e do pedido de reconhecimento da paternidade contra outro réu (RP 15/2/2016
(8135/14)).
5 (a) O n.º 2 admite a coligação em várias situações. (b) A coligação é admissível quando implica a
apreciação dos mesmos factos (p. ex.: apreciação da incapacidade de facto de uma das partes na
celebração de vários contratos). (c) A coligação é admissível quando pressupõe a interpretação e
aplicação das mesmas regras de direito ou de cláusulas de contratos perfeitamente análogas. P.
ex.: (i) vários lesados num acidente de viação instauram uma acção para obterem a reparação dos
danos que cada um deles sofreu; (ii) vários arrendatários instauram uma acção contra o mesmo
senhorio opondo-se à denúncia dos respectivos contratos por motivo de obras de remodelação; (iii)
vários autores formulam pedidos de declaração de nulidade de uma cláusula contratual geral
constante dos contratos que cada um deles celebrou com o réu; (iv) o administrador propõe contra
vários condóminos uma acção destinada a obter a condenação no pagamento das prestações em
atraso. (d) A conexão baseada na interpretação e aplicação das mesmas regras de direito tem de
ser considerada cum grano salis, porque, de outro modo, a coligação seria admissível sempre que
vários autores pudessem invocar a aplicação da mesma regra jurídica contra vários réus. O mais
comum é que, neste caso, a coligação seja admissível como coligação activa ou como coligação
mista, mas não o seja como coligação mista, de molde a evitar que vários autores, sem nada em
comum, possam demandar vários réus, também sem nada em comum. P. ex.: no âmbito da
investigação da maternidade ou paternidade, é admissível a coligação de vários investigantes contra
o mesmo progenitor (art. 1820.º e 1872.º CC), mas, como é óbvio, não é admissível que vários
(quaisquer) investigantes possam formular, numa única acção, os respectivos pedidos de
investigação contra vários investigados.
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6 O n.º 3 admite a coligação quando contra um dos réus é formulado um pedido baseado na relação
cartular (que resultou da emissão de uma letra ou livrança ou de um cheque) e contra um outro réu
um pedido baseado na relação subjacente.
7 (a) Em regra, a coligação activa ou passiva é voluntária. (b) A coligação torna-se necessária quando
exista um montante fixo que deva ser distribuído por vários interessados, ou seja, quando deva
existir um concurso de credores. É o que se verifica quando o segurado deva responder perante
vários lesados e o valor total das indemnizações ultrapasse o capital seguro (art. 508.º CC), porque,
neste caso, as pretensões daqueles lesados são proporcionalmente reduzidas até à concorrência
desse capital (art. 142.º, n.º 1, RJCS).
8 O valor da causa na qual se verifica a coligação determina-se em função da modalidade de
cumulação objectiva que nela se contém (art. 297.º, n.º 2 e 3). Se a coligação contiver uma
cumulação simples, o que conta, para efeitos de admissibilidade do recurso ordinário (art. 629.º, n.º
1), é o valor de cada um dos pedidos.
9 A falta de conexão objectiva é sanável nos termos do art. 38.º e, quando não sanada. constitui uma
excepção dilatória (art. 577.º, al. f)).

Artigo 37.º
Obstáculos à coligação

1 - A coligação não é admissível quando aos pedidos correspondam formas de processo


diferentes ou a cumulação possa ofender regras de competência internacional ou em razão
da matéria ou da hierarquia.
2 - Quando aos pedidos correspondam formas de processo que, embora diversas, não sigam
uma tramitação manifestamente incompatível, pode o juiz autorizar a cumulação, sempre que
nela haja interesse relevante ou quando a apreciação conjunta das pretensões seja
indispensável para a justa composição do litígio.
3 - Incumbe ao juiz, na situação prevista no número anterior, adaptar o processado à
cumulação autorizada.
4 - Se o tribunal, oficiosamente ou a requerimento de algum dos réus, entender que, não
obstante a verificação dos requisitos da coligação, há inconveniente grave em que as causas
sejam instruídas, discutidas e julgadas conjuntamente, determina, em despacho
fundamentado, a notificação do autor para indicar, no prazo fixado, qual o pedido ou os
pedidos que continuam a ser apreciados no processo, sob cominação de, não o fazendo, ser
o réu absolvido da instância quanto a todos eles, aplicando-se o disposto nos n.os 2 e 3 do
artigo seguinte.
5 - No caso previsto no número anterior, se as novas ações forem propostas dentro de 30
dias a contar do trânsito em julgado do despacho que ordenou a separação, os efeitos civis
da propositura da ação e da citação do réu retrotraem-se à data em que estes factos se
produziram no primeiro processo.
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1 O artigo trata da compatibilidade processual entre os pedidos formulados na coligação (n.º 1 a 3) e


da separação dos vários pedidos formulados por várias acções (n.º 4 e 5).
2 (a) A coligação exige a competência absoluta para todos os pedidos (n.º 1). (b) A coligação requer
a identidade de formas de processo para os vários pedidos (n.º 1). No entanto, nas condições
referidas no n.º 2 o juiz pode aceitar a cumulação dos pedidos numa única acção. Neste caso,
incumbe ao juiz, fazendo uso dos seus poderes de gestão processual e de adequação formal (art.
6.º, n.º 1, e 547.º), adaptar o processado à cumulação de pedidos.
3 (a) A incompetência absoluta do tribunal para um ou alguns dos pedidos cumulados constitui uma
excepção dilatória (art. 577.º, al. a)) que impede o conhecimento do mérito desse ou desses pedidos
(b) A inadequação da forma do processo para um ou algum dos pedidos constitui uma excepção
dilatória inominada (art. 576.º, n.º 2) que obsta ao conhecimento do mérito desse ou desses pedidos
4 (a) O juiz pode entender, mesmo oficiosamente, que há inconveniente grave na cumulação de
pedidos. Nesta hipótese, o juiz deve mandar notificar o autor para indicar o pedido ou os pedidos
que pretende que continuem a ser apreciados no processo, sob a cominação de que, não o
indicando, os réus serão absolvidos da instância quanto a todos eles (n.º 4). (b) Da remissão
realizada pelo n.º 4 in fine para os n.º 2 e 3 do art. 38.º resulta que: (i) se houver vários autores,
todos devem ser citados e a comunicação ao tribunal deve ser realizada por acordo entre todos; (ii)
depois da comunicação realizada pelo autor ou autores, os réus demandados pelos pedidos que
não subsistam são absolvidos da instância (art. 278.º, n.º 1, al. e); solução muito discutível).
5 (a) Os poderes atribuídos ao juiz pelos n.º 2 e 4 são poderes discricionários, pelo que, se forem
legalmente utilizados, as respectivas decisões não são recorríveis (art. 630.º, n.º 1). (b) A adequação
formal realizada segundo o disposto no n.º 3 é susceptível de recurso nos termos do disposto no art.
630.º, n.º 2.
6 (a) Após a separação das acções, os efeitos civis decorrentes da propositura e da citação do réu na
primeira acção mantêm-se se a nova acção for proposta no prazo de 30 dias a contar do trânsito em
julgado do despacho de separação (n.º 5). (b) A absolvição da instância decretada segundo o n.º 4
produz os efeitos gerais estabelecidos no art. 289.º, n.º 2.

Artigo 38.º
Suprimento da coligação ilegal

1 - Ocorrendo coligação sem que entre os pedidos exista a conexão exigida pelo artigo 36.º,
o juiz notifica o autor para, no prazo fixado, indicar qual o pedido que pretende ver apreciado
no processo, sob cominação de, não o fazendo, o réu ser absolvido da instância quanto a
todos eles.
2 - Havendo pluralidade de autores, são todos notificados, nos termos do número anterior,
para, por acordo, esclarecerem quais os pedidos que pretendem ver apreciados no processo.
3 - Feita a indicação a que aludem os números anteriores, o juiz absolve o réu da instância
relativamente aos outros pedidos.
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1 O artigo estabelece o regime da sanação da falta de conexão objectiva que é exigida pelo art. 36.º
para a coligação.
2 O tribunal deve notificar o autor para indicar o pedido ou pedidos que pretende ver apreciados no
processo (n.º 1). Se houver pluralidade de autores, todos devem ser notificados para, em conjunto,
realizarem a indicação (n.º 2).
3 (a) Na falta de resposta do autor (ou autores), o réu é absolvido da instância quanto a todos os
pedidos formulados (n.º 1; art. 278.º, n.º 1, al. e), e 577.º, al. f)). (b) Se o autor (ou autores) tiver (ou
tiverem) escolhido o pedido, o réu é absolvido da instância quanto aos demais pedidos (ou um ou
vários réus são absolvidos da instância quanto aos outros pedidos que tiverem sido formulados
contra eles) (n.º 3).

Artigo 39.º
Pluralidade subjetiva subsidiária

É admitida a dedução subsidiária do mesmo pedido, ou a dedução de pedido subsidiário, por


autor ou contra réu diverso do que demanda ou é demandado a título principal, no caso de
dúvida fundamentada sobre o sujeito da relação controvertida.

1 O artigo permite quer o litisconsórcio subsidiário, quer a coligação subsidiária (dif. GPS I (2020), n.º
5, apesar da proposta de aplicação do art. 37.º). A consagração legal deste litisconsórcio e desta
coligação é, sob um ponto de vista doutrinário, muito discutível, porque é questionável que possam
existir partes sob condição.
2 (a) Verifica-se um litisconsórcio subsidiário quando A pede x a B e C pede, a título subsidiário, o
mesmo x a B ou quando D pede y a E e, a título subsidiário, o mesmo y a F. Ocorre uma coligação
subsidiária quando G pede x a H e, a título subsidiário, I pede y contra o mesmo H ou quando J pede
x a K e, a título subsidiário, o mesmo J pede y a L. (b) O litisconsórcio subsidiário passivo pode ser
superveniente (art. 316.º, n.º 2).
3 (a) O litisconsórcio e a coligação subsidiária só são admissíveis se houver dúvida fundamentada
sobre o sujeito (activo ou passivo) da relação controvertida. É o que sucede se houver dúvidas sobre
quem é responsável pela indemnização devida por um acidente de caça (RE 7/6/2018 (2279/15)).
(b) A coligação subsidiária exige os requisitos da coligação (→art. 36.º e 37.º).
4 Por aplicação analógica com base num argumento a maiori ad minus, o mesmo regime deve valer
para a hipótese de um litisconsórcio ou de uma coligação alternativa. O litisconsórcio ou a coligação
alternativa é bastante menos problemática que o litisconsórcio ou a coligação subsidiária.
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Capítulo III
Patrocínio judiciário

Artigo 40.º
Constituição obrigatória de advogado

1 - É obrigatória a constituição de advogado:


a) Nas causas de competência de tribunais com alçada, em que seja admissível recurso
ordinário;
b) Nas causas em que seja sempre admissível recurso, independentemente do valor;
c) Nos recursos e nas causas propostas nos tribunais superiores.
2 - Ainda que seja obrigatória a constituição de advogado, os advogados estagiários, os
solicitadores e as próprias partes podem fazer requerimentos em que se não levantem
questões de direito.
3 - Nas causas em que, não sendo obrigatória a constituição de advogado, as partes não
tenham constituído mandatário judicial, a inquirição das testemunhas é efetuada pelo juiz,
cabendo ainda a este adequar a tramitação processual às especificidades da situação.

1 (a) O n.º 1 estabelece as situações em que o patrocínio judiciário é obrigatório no processo


declarativo, ou seja, em que a parte (autor ou réu) deve estar representada por advogado. Quanto
ao processo executivo rege o art. 58.º. (b) O patrocínio judiciário obrigatório constitui um pressuposto
processual quanto à petição inicial e à dedução de reconvenção (e, portanto, a sua falta constitui
uma excepção dilatória: art. 577.º, al. h)) e um pressuposto de actos processuais quanto a todos os
demais actos do autor ou do réu (o que determina a invalidade ou a inadmissibilidade do acto da
parte). A dualidade está subjacente ao disposto nos art. 41.º e 577.º, al. h).
2 (a) O patrocínio é obrigatório nas causas em que seja sempre admissível recurso,
independentemente do valor (n.º 1, al. b)), ou seja, nas causas enumeradas no art. 629.º, n.º 3, al.
a). (b) O patrocínio judiciário também é obrigatório nas causas de competência de tribunais com
alçada, em que seja admissível recurso ordinário, ou seja, nas causas, propostas nos tribunais de
1.ª instância, cujo valor exceda a alçada desses tribunais (n.º 1, al. a)) (€ 5.000: art. 44.º, n.º 1,
LOSJ). Se o valor da causa aumentar durante a sua pendência (p. ex.: art. 299.º, n.º 1), o patrocínio
judiciário pode passar de facultativo a obrigatório. (c) O patrocínio judiciário é sempre obrigatório
nos recursos e nas causas propostas nos tribunais superiores (n.º 1, al. c); sobre estas causas, art.
55.º, al. c), e 73.º, al. b) e e), LOSJ).
3 Mesmo que o patrocínio seja obrigatório (como pressuposto processual ou como pressuposto de
actos processuais), os advogados estagiários, os solicitadores e as próprias partes podem fazer
requerimentos em que não se levantem questões de direito (n.º 2).
4 O disposto n.º 3 quanto à inquirição de testemunhas pelo juiz é consequência da regra de que as
testemunhas são inquiridas pelos advogados das partes (art. 516.º, n.º 2).
5 Os magistrados judiciais e do MP podem advogar em causa própria, do seu cônjuge ou de
descendente (art. 21.º, n.º 1, EMJ; art. 93.º EMP).
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Artigo 41.º
Falta de constituição de advogado

Se a parte não constituir advogado, sendo obrigatória a constituição, o juiz, oficiosamente


ou a requerimento da parte contrária, determina a sua notificação para o constituir dentro de
prazo certo, sob pena de o réu ser absolvido da instância, de não ter seguimento o recurso
ou de ficar sem efeito a defesa.

1 O artigo regula a sanação da falta de patrocínio judiciário quando o mesmo seja obrigatório.
2 (a) Concretizando o disposto no art. 6.º, n.º 2, o juiz, mesmo oficiosamente, deve mandar notificar a
parte para constituir mandatário judicial. (b) Se a parte não constituir mandatário judicial, há que
distinguir: (i) o patrocínio judiciário obrigatório é um pressuposto processual e a sua falta constitui
uma excepção dilatória (art. 577.º, al. h)); (ii) o patrocínio judiciário obrigatório é um pressuposto de
actos processuais: nesta situação, a sua falta torna inválido ou inadmissível o acto praticado pelo
autor ou pelo réu (nomeadamente, a contestação ou a interposição de recurso).

Artigo 42.º
Representação nas causas
em que não é obrigatória a constituição de advogado

Nas causas em que não seja obrigatória a constituição de advogado podem as próprias
partes pleitear por si ou ser representadas por advogados estagiários ou por solicitadores.

1 (a) A importância do preceito reside em determinar que, ainda que o patrocínio judiciário não seja
obrigatório (→art. 40.º, n.º 1), a parte não tem plena liberdade de escolher o seu representante em
juízo: este tem de ser, pelo menos, um advogado estagiário ou um solicitador. (b) Nada impede que
a parte, mesmo nas acções em que o patrocínio judiciário não seja obrigatório, escolha estar
representada por advogado.
2 Na hipótese regulada no preceito nunca se pode verificar a falta de constituição de mandatário (→art.
41.º), mas pode ocorrer a falta, insuficiência ou irregularidade do mandato (→art. 48.º).

Artigo 43.º
Como se confere o mandato judicial

O mandato judicial pode ser conferido:


a) Por instrumento público ou por documento particular, nos termos do Código do Notariado
e da legislação especial;
b) Por declaração verbal da parte no auto de qualquer diligência que se pratique no processo.

1 (a) O artigo trata das várias formas pelas quais o mandato judicial pode ser conferido. Na realidade,
o preceito só trata da forma da procuração pela qual se atribui o mandato. (b) O mandato pode ser
conferido a uma sociedade de advogados. (c) Sobre a aceitação do mandato, →art. 44.º, n.º 3.
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2 O mandato judicial pode ser conferido: (i) por instrumento público avulso (al. a); art. 116.º, n.º 1, CN);
(ii) por documento particular (al. a); art. único DL 342/91, de 14/9; art. único, n.º 1, DL 267/92, de
28/11); (iii) por declaração verbal da parte no auto de qualquer diligência que se pratique no processo
(al. b)), ou seja, por declaração ditada para a acta.

Artigo 44.º
Conteúdo e alcance do mandato

1 - O mandato atribui poderes ao mandatário para representar a parte em todos os atos e


termos do processo principal e respetivos incidentes, mesmo perante os tribunais
superiores, sem prejuízo das disposições que exijam a outorga de poderes especiais por
parte do mandante.
2 - Nos poderes que a lei presume conferidos ao mandatário está incluído o de substabelecer
o mandato.
3 - O substabelecimento sem reserva implica a exclusão do anterior mandatário.
4 - A eficácia do mandato depende de aceitação, que pode ser manifestada no próprio
instrumento público ou em documento particular, ou resultar de comportamento concludente
do mandatário.

1 O n.º 1 define o âmbito do mandato judicial: esse âmbito abrange a representação da parte em
qualquer acto processual, tanto no processo principal, como em qualquer dos seus incidentes, e
tanto em 1.ª instância, como nos tribunais superiores.
2 (a) O n.º 2 inclui entre os poderes conferidos ao mandatário o de substabelecer, ou seja, o de o
mandatário (substabelecido) atribuir o mandato a outro mandatário (substituinte). O
substabelecimento deve ser efectuado por uma das formas de conferir o mandato judicial (art. 116.º,
n.º 3, CN). (b) O substabelecimento sem reserva determina a exclusão do anterior mandatário (n.º
3), pelo que apenas o novo mandatário pode representar a parte. No caso de substabelecimento
com reserva, a parte fica representada pelos dois advogados, podendo as notificações ser
efectuadas indistintamente a cada um deles (STJ 6/10/2016 (318/11)).
3 A parte final do n.º 1 ressalva as situações em que a lei exige a concessão de poderes especiais
para a prática do acto processual (→art. 45.º, n.º 2).
4 O mandato é um contrato (art. 1157.º CC), pelo que necessita da aceitação do mandatário. O n.º 4
regula esta aceitação, sendo, na prática, o comportamento concludente a forma mais frequente
dessa aceitação.

Artigo 45.º
Poderes gerais e especiais dos mandatários judiciais

1 - Quando a parte declare na procuração que concede poderes forenses ou para ser
representada em qualquer ação, o mandato tem a extensão definida no artigo anterior.
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2 - Os mandatários judiciais só podem confessar a ação, transigir sobre o seu objeto e


desistir do pedido ou da instância quando estejam munidos de procuração que os autorize
expressamente a praticar qualquer desses atos.

1 O n.º 1 determina que o âmbito do mandato judicial definido pelo art. 44.º, n.º 1, é o âmbito supletivo
desse mandato.
2 O n.º 2 exige a concessão de poderes especiais para a confissão (do pedido), a desistência (da
instância ou do pedido) ou a transacção (→art. 291.º, n.º 3). A exigência de poderes especiais
decorre da circunstância de esses actos serem especialmente relevantes para os interesses das
partes.

Artigo 46.º
Confissão de factos feita pelo mandatário

As afirmações e confissões expressas de factos, feitas pelo mandatário nos articulados,


vinculam a parte, salvo se forem retificadas ou retiradas enquanto a parte contrária as não
tiver aceitado especificadamente.

1 (a) O artigo trata da rectificação e retratação das afirmações (ou alegações) de factos e das
confissões expressas de factos realizadas pelo mandatário nos articulados. Na parte relativa à
confissão, o artigo repete o que se determina no art. 465.º, n.º 2. (b) A confissão expressa de factos
realizada pelo mandatário nos articulados não necessita da concessão de quaisquer poderes
especiais (art. 356.º, n.º 1, CC), ou seja, é válida mesmo sem a concessão desses poderes.
2 O disposto no artigo não é aplicável à confissão de factos decorrente da revelia operante (art. 567.º,
n.º 1) e, por identidade de razões, também não o é à admissão por acordo resultante do
incumprimento do ónus de impugnação (art. 574.º, n.º 2). Atendendo à identidade dos efeitos
daquela confissão e desta admissão com os de uma confissão expressa, foram certamente razões
pragmáticas que ditaram o âmbito restrito do artigo.
3 (a) Mesmo que o patrocínio judiciário seja obrigatório, a parte pode rectificar uma afirmação de facto
e pode retratar uma confissão expressa de factos realizada pelo seu mandatário num articulado
(→art. 147.º, n.º 1). O artigo salvaguarda os interesses da parte perante qualquer lapso do seu
mandatário. (b) Em princípio, dado que a afirmação ou a confissão de um facto é um acto processual,
a rectificação ou a retratação só poderia ocorrer até ao recebimento do articulado pela contraparte,
ou seja, até ao conhecimento da afirmação ou da confissão pela contraparte. O artigo estabelece
um regime excepcional: essa rectificação ou retratação pode verificar-se até a parte contrária ter
aceitado especificamente a afirmação ou a confissão (e tê-la comunicado à outra parte). Trata-se de
um corolário da finalidade de protecção da parte que é prosseguida pela norma constante do artigo.
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Artigo 47.º
Revogação e renúncia do mandato

1 - A revogação e a renúncia do mandato devem ter lugar no próprio processo e são


notificadas tanto ao mandatário ou ao mandante, como à parte contrária.
2 - Os efeitos da revogação e da renúncia produzem-se a partir da notificação, sem prejuízo
do disposto nos números seguintes; a renúncia é pessoalmente notificada ao mandante, com
a advertência dos efeitos previstos no número seguinte.
3 - Nos casos em que seja obrigatória a constituição de advogado, se a parte, depois de
notificada da renúncia, não constituir novo mandatário no prazo de 20 dias:
a) Suspende-se a instância, se a falta for do autor ou do exequente;
b) O processo segue os seus termos, se a falta for do réu, do executado ou do requerido,
aproveitando-se os atos anteriormente praticados;
c) Extingue-se o procedimento ou o incidente inserido na tramitação de qualquer ação, se a
falta for do requerente, opoente ou embargante.
4 - Sendo o patrocínio obrigatório, se o réu, o reconvindo, o executado ou o requerido não
puderem ser notificados, é nomeado oficiosamente mandatário, nos termos do n.º 3 do artigo
51.º.
5 - O advogado nomeado nos termos do número anterior tem direito a exame do processo,
pelo prazo de 10 dias.
6 - Se o réu tiver deduzido reconvenção, esta fica sem efeito quando for dele a falta a que se
refere o n.º 3; sendo a falta do autor, segue só o pedido reconvencional, decorridos que sejam
10 dias sobre a suspensão da ação.

1 O artigo trata, de uma forma não totalmente clara, da revogação do mandato (pela parte) e da
renúncia ao mandato (pelo mandatário). O art. 1170.º, n.º 1, CC refere-se genericamente à
revogação do mandato por qualquer das partes; o art. 1179.º CC determina que a revogação e a
renúncia implicam a revogação do mandato.
2 (a) A revogação deve ser notificada ao mandatário e à parte contrária e a renúncia ao mandante e
também à parte contrária (n.º 1). A revogação e a renúncia operam quando, respectivamente, o
mandatário e o mandante tiverem sido notificados (n.º 2 1.ª parte; RC 24/1/2017 (412/09)). Se o
patrocínio for obrigatório, a notificação da renúncia deve ser acompanhada da advertência quanto
aos efeitos da não constituição de novo mandatário (n.º 2 2.ª parte). A notificação pode ser realizada
por carta registada com aviso de recepção. (b) O modus operandi da revogação e da renúncia é o
mesmo quer o patrocínio judiciário seja obrigatório, quer seja facultativo.
3 Se o patrocínio for facultativo, nada mais há a observar no processo, dado que a parte passa a
pleitear por si. A solução é distinta se o patrocínio judiciário for obrigatório.
4 (a) Os n.º 3 a 6 referem-se à hipótese em que o mandatário renunciou ao mandato e em que o
patrocínio é obrigatório. (b) A parte tem 20 dias para constituir novo mandatário (n.º 3 pr.) (TC
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671/2017). As consequências da não constituição de novo mandatário são, naturalmente, distintas


nos casos em que a falta é da parte activa (n.º 3, al. a) e c)) ou da parte passiva (n.º 3, al. b)). O
disposto no n.º 3, al. c), tem uma aplicação residual perante o estabelecido no n.º 3, al. a) e b), ou
seja, só é aplicável a quem não seja nem autor, nem réu (como o é o opoente e o pode ser o
embargante).
5 O n.º 6 estende as consequências da falta de constituição de novo mandatário à situação em que o
réu tenha deduzido um pedido reconvencional. A subsistência do pedido reconvencional quando a
falta de constituição de mandatário afectar o autor reconvindo só é possível se a reconvenção tiver
autonomia perante o pedido do autor, ou seja, se não for dependente da procedência ou
improcedência do pedido desta parte.
6 Os n.º 4 e 5 referem-se à situação em que o mandatário renunciante não consegue notificar o seu
mandante e em que este é parte passiva.
7 O preceito nada estabelece quanto às consequências da revogação do mandato e da não
constituição de novo mandatário nas situações em que o patrocínio seja obrigatório. A esta hipótese
deve aplicar-se o disposto no art. 41.º.

Artigo 48.º
Falta, insuficiência e irregularidade do mandato

1 - A falta de procuração e a sua insuficiência ou irregularidade podem, em qualquer altura,


ser arguidas pela parte contrária e suscitadas oficiosamente pelo tribunal.
2 - O juiz fixa o prazo dentro do qual deve ser suprida a falta ou corrigido o vício e ratificado
o processado, findo o qual, sem que esteja regularizada a situação, fica sem efeito tudo o
que tiver sido praticado pelo mandatário, devendo este ser condenado nas custas respetivas
e, se tiver agido culposamente, na indemnização dos prejuízos a que tenha dado causa.
3 - Sempre que o vício resulte de excesso de mandato, o tribunal participa a ocorrência ao
respetivo conselho distrital da Ordem dos Advogados.

1 (a) O artigo estabelece o regime aplicável à falta, insuficiência ou irregularidade da procuração (e do


mandato). O regime é aplicável ao patrocínio obrigatório e ao patrocínio facultativo, dado que o que
releva é que um mandatário tenha praticado actos em processo. (b) O artigo distingue-se do disposto
no art. 41.º, que se refere à falta do mandato.
2 A falta, insuficiência ou irregularidade do mandato pode ser arguida pela parte contrária e ser
conhecida oficiosamente pelo tribunal em qualquer momento (n.º 1).
3 (a) O vício é sanável através do convite ao mandatário para suprir a falta ou corrigir o vício e ao
mandante para ratificar o que aquele mandatário tenha realizado no processo (n.º 2). (b) Após os
convites dirigidos ao mandatário e à parte, são possíveis duas situações: (i) o vício é sanado; (ii) o
vício não é sanado. (c) Se o vício for sanado, mantém-se todos os actos praticados pelo mandatário
em juízo. (d) Se o vício não for sanado, importa distinguir consoante o vício respeitar à parte activa
ou à parte passiva.
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4 (a) Se o vício não sanado respeitar à parte activa, verifica-se a falta de um pressuposto processual,
dado que a própria petição inicial é admissível, e, portanto, ocorre uma excepção dilatória (art. 577.º,
al. h)). (b) Se o vício afectar a parte passiva, ocorre a falta de um pressuposto de actos processuais,
pelo que fica sem efeito tudo o que o mandatário tenha praticado em juízo. A causa permanece, no
entanto, pendente, porque um vício que respeita à parte passiva não pode afectar a possibilidade
de a parte activa prosseguir a defesa dos seus interesses em juízo.
5 Se a instância se extinguir pela absolvição do réu da instância, o mandatário do autor deve ser
condenado nas custas respectivas e, se tiver agido culposamente, na indemnização dos prejuízos a
que tenha causado tanto ao autor, como ao réu (n.º 2).
6 Verifica-se o excesso de mandato quando o mandatário tenha excedido os limites do mandato ou
desrespeitado as instruções do mandante (art. 1161.º, al. a), e 1163.º CC). O tribunal deve comunicar
esse exercício excessivo ao conselho de deontologia do respectivo conselho regional da OA (n.º 3).

Artigo 49.º
Patrocínio a título de gestão de negócios

1 - Em casos de urgência, o patrocínio judiciário pode ser exercido como gestão de negócios.
2 - Porém, se a parte não ratificar a gestão dentro do prazo fixado pelo juiz, o gestor é
condenado nas custas que provocou e na indemnização do dano causado à parte contrária
ou à parte cuja gestão assumiu.
3 - O despacho que fixar o prazo para a ratificação é notificado pessoalmente à parte cujo
patrocínio o gestor assumiu.

1 (a) O n.º 1 autoriza que o patrocínio judiciário, facultativo ou obrigatório, seja exercido como gestão
de negócios (art. 464.º CC). Para isso, é necessário que ocorra uma situação de urgência, ou seja,
que haja urgência na prática do acto (nomeadamente, a propositura ou a contestação de uma acção)
e que o mandatário não tenha possibilidade de obter a procuração da parte (porque, p. ex., esta se
encontra hospitalizada). (b) À gestão exercida pelo mandatário aplica-se o regime geral da gestão
de negócios (art. 464.º ss. CC).
2 (a) A situação regulada no preceito é um caso especial da falta de procuração que está regulada no
art. 48.º. (b) O mandatário deve ser notificado para juntar a procuração e a parte deve ser convidada
a ratificar a gestão de negócios (n.º 3; art. 469.º CC). Sobre o regime da ratificação importa ter
presente o disposto no art. 471.º 1.ª parte CC e, em especial, o estabelecido no art. 268.º, n.º 2 e 3,
CC. (c) Só a junção da procuração e a ratificação do processado sana o vício, excepto se a
procuração tiver sido passada antes da prática do acto em juízo (STJ 31/3/2009 (08B3886)).
3 Se o mandatário não juntar a procuração ou a parte não ratificar a gestão de negócios, aplica-se,
como é indiciado pelo regime paralelo estabelecido no n.º 2, aquele que vale para a falta de
procuração (art. 48.º, n.º 2, e 577.º, al. h)).
4 Se ocorrer a extinção da instância, o mandatário é responsável pelas custas e pela indemnização
(n.º 2), nos mesmos termos do estabelecido no art. 48.º, n.º 2.
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Artigo 50.º
Assistência técnica aos advogados

1 - Quando no processo se suscitem questões de natureza técnica para as quais não tenha a
necessária preparação, pode o advogado fazer-se assistir, durante a produção da prova e a
discussão da causa, de pessoa dotada de competência especial para se ocupar das questões
suscitadas.
2 - Até 10 dias antes da audiência final, o advogado indica no processo a pessoa que escolheu
e as questões para que reputa conveniente a sua assistência, dando-se logo conhecimento
do facto ao advogado da parte contrária, que pode usar de igual direito.
3 - A intervenção pode ser recusada quando se julgue desnecessária.
4 - Em relação às questões para que tenha sido designado, o técnico tem os mesmos direitos
e deveres que o advogado, mas deve prestar o seu concurso sob a direção deste e não pode
produzir alegações orais.

1 À semelhança do disposto para o juiz (art. 492.º, n.º 1, e 601.º, n.º 1), o advogado pode fazer-se
assistir, na audiência final, por um assistente técnico (n.º 1).
2 (a) O advogado deve indicar a pessoa escolhida e as questões para as quais pretende a assistência
técnica (n.º 2). Se a opção não tiver sido anunciada num articulado da parte, o advogado que
pretende a assistência técnica deve notificar o advogado da parte contrária dessa sua opção (n.º 2;
art. 255.º). Quanto a essas mesmas questões, o advogado notificado pode usar de igual faculdade
(n.º 2). (b) A faculdade de assistência não é potestativa, pois que pode ser recusada pelo juiz quando
a julgue desnecessária (n.º 3). Esta decisão do juiz não é um despacho discricionário.
3 O assistente técnico tem os poderes referidos no n.º 3.

Artigo 51.º
Nomeação oficiosa de advogado

1 - Se a parte não encontrar na circunscrição judicial quem aceite voluntariamente o seu


patrocínio, pode dirigir-se ao presidente do conselho distrital da Ordem dos Advogados ou à
respetiva delegação para que lhe nomeiem advogado.
2 - A nomeação será feita sem demora e notificada ao nomeado, que pode alegar escusa
dentro de cinco dias; na falta de escusa ou quando esta não seja julgada legítima por quem
fez a nomeação, deve o advogado exercer o patrocínio, sob pena de procedimento
disciplinar.
3 - À nomeação de advogado nos casos de urgência aplica-se, com as necessárias
adaptações, o disposto para as nomeações urgentes em processo penal.
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1 O artigo trata da nomeação de advogado em duas situações: (i) quando a parte não encontre na
circunscrição judicial do tribunal quem aceite representá-la em juízo (n.º 1 e 2); (ii) quando a
nomeação de advogado seja urgente (n.º 3).
2 (a) Na hipótese de a parte não encontrar advogado que a represente, o advogado é nomeado pelo
respectivo conselho regional (n.º 1; art. 54.º, n.º 1, al. o), EOA); (b) No caso de a nomeação de
advogado ser urgente, aplica-se, segundo o disposto no n.º 3, o estabelecido no art. 3.º, n.º 1,
RLADT.
3 O estatuído no artigo não se confunde com (mas também não afasta) a nomeação de advogado no
âmbito do regime do acesso ao direito e aos tribunais (art. 16.º, n.º 1, al. b) e e), 30.º, n.º 1, e 31.º,
n.º 1 e 2, LADT).

Artigo 52.º
Nomeação oficiosa de solicitador

Sendo necessária a nomeação de solicitador, é aplicável, com as necessárias adaptações, o


disposto no artigo anterior.

1 A previsão da norma que consta do preceito não é incensurável, dado que não existem casos em
que a nomeação de solicitador seja necessária. O que existe é a hipótese de a nomeação de
solicitador ser suficiente (art. 42.º).
2 Se, no caso de o patrocínio judiciário não ser obrigatório, a parte escolher ser representada por um
solicitador e se, na respectiva circunscrição territorial, não encontrar um solicitador que a represente,
aplica-se, com as devidas adaptações, o disposto no art. 51.º, n.º 1 e 2. Uma destas adaptações é
a substituição da OA pela OSAE.

Capítulo IV
Disposições especiais sobre execuções

Artigo 53.º
Legitimidade do exequente e do executado

1 - A execução tem de ser promovida pela pessoa que no título executivo figure como credor
e deve ser instaurada contra a pessoa que no título tenha a posição de devedor.
2 - Se o título for ao portador, será a execução promovida pelo portador do título.

1 (a) A legitimidade processual executiva é, em regra, formal: só podem ser partes na execução
aqueles que, no título executivo, constem como credor e como devedor (n.º 1). (b) O disposto no
preceito não afasta a aplicação do estabelecido nos art. 33.º e 34.º quanto ao litisconsórcio
necessário. A única consequência a extrair do preceito é a de que os litisconsortes devem constar
do título executivo.
2 Se o título executivo for uma sentença condenatória (art. 703.º, n.º 1, al. a)), é parte legítima o
substituto processual que tenha sido parte na acção declarativa. P. ex.: o comproprietário que tenha
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proposto uma acção de reivindicação em substituição de todos os demais comproprietários (art.


1405.º, n.º 2, CC) tem legitimidade para propor a execução para entrega da coisa reivindicada.
3 (a) Se apenas um dos cônjuges constar da sentença condenatória como devedor, só ele pode ser
demandado na execução para pagamento. Atendendo à qualidade do título, a alegação do eventual
carácter comum ou comunicável da dívida encontra-se precludida. (b) Se o título executivo for uma
sentença condenatória de ambos os cônjuges por uma dívida comum ou comunicável, ambos têm
de ser demandados no processo executivo (art. 34.º, n.º 3; dif. STJ 22/5/2018 (2299/10)). Só assim
se respeita a responsabilidade patrimonial pelas dívidas comuns (art. 1695.º CC). (c) Se o título
executivo for extrajudicial e se deste constar apenas um dos cônjuges como devedor, nada impede
que o carácter comum ou comunicável da dívida seja invocado quer pelo exequente (art. 741.º, n.º
1), quer pelo cônjuge executado (art. 742.º, n.º 1).
4 O n.º 2 estabelece uma legitimidade aberta. Se o título executivo for um título ao portador, é parte
legítima o portador do título.

Artigo 54.º
Desvios à regra geral da determinação da legitimidade

1 - Tendo havido sucessão no direito ou na obrigação, deve a execução correr entre os


sucessores das pessoas que no título figuram como credor ou devedor da obrigação
exequenda; no próprio requerimento para a execução o exequente deduz os factos
constitutivos da sucessão.
2 - A execução por dívida provida de garantia real sobre bens de terceiro segue diretamente
contra este se o exequente pretender fazer valer a garantia, sem prejuízo de poder desde logo
ser também demandado o devedor.
3 - Quando a execução tenha sido movida apenas contra o terceiro e se reconheça a
insuficiência dos bens onerados com a garantia real, pode o exequente requerer, no mesmo
processo, o prosseguimento da ação executiva contra o devedor, que é demandado para
completa satisfação do crédito exequendo.
4 - Pertencendo os bens onerados ao devedor, mas estando eles na posse de terceiro, pode
este ser desde logo demandado juntamente com o devedor.

1 O preceito regula algumas excepções ao critério formal sobre a legitimidade executiva que se
encontra estabelecido no art. 53.º, n.º 1.
2 (a) Se, depois da constituição do título executivo, se verificar uma sucessão, mortis causa ou inter
vivos, no direito ou na obrigação, a execução deve correr entre os sucessores do credor ou do
devedor que consta do título (n.º 1 1.ª parte). (b) Os factos constitutivos da sucessão devem ser
deduzidos no requerimento executivo (n.º 1 2.ª parte). Estes factos não devem ser provados pelo
exequente, porque só se tornam controvertidos se o executado deduzir oposição à execução (dif.
LF I (2018), n.º 3).
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3 Se a sucessão se verificar na pendência da execução, há que aplicar o regime da habilitação (art.


351.º ss.). Na execução não se aplica o regime de substituição processual que consta do art. 263.º,
n.º 1, pelo que o transmitente ou cedente não tem legitimidade para continuar como parte na
execução.
4 (a) A dívida exequenda pode encontrar-se garantida por uma garantia real sobre bens de um terceiro
– isto é, sobre bens que não pertencem ao devedor –, quer quando essa garantia tenha sido
constituída originariamente sobre esses bens, quer quando o terceiro tenha adquirido os bens do
devedor onerados com essa garantia. (b) Em qualquer dos casos, esses bens respondem pela dívida
exequenda (art. 818.º CC), pelo que a execução tem de ser instaurada contra o terceiro, se o
exequente pretender penhorar os bens que integram a garantia (n.º 2; art. 735.º, n.º 2). De outra
forma, se estes bens vierem a ser penhorados na execução, o terceiro pode embargar de terceiro
(art. 342.º, n.º 1) ou reivindicar o bem (art. 1311.º, n.º 1, e 1315.º CC). (c) Se o exequente só tiver
conhecimento da aquisição por terceiro dos bens onerados durante a execução, cabe promover a
intervenção do adquirente ou cessionário através do incidente de habilitação (art. 356.º).
5 (a) Ao credor exequente é concedida a opção de, em regime de litisconsórcio voluntário, demandar
o terceiro e o devedor (n.º 2). Ainda assim, a penhora deve iniciar-se pelos bens que constituem a
garantia real (art. 752.º, n.º 1, anal.). (b) Segundo o disposto no n.º 2, o terceiro proprietário deve ser
sempre demandado, pelo que o exequente não tem qualquer liberdade na escolha do executado e
só pode cumular a (necessária) demanda do terceiro proprietário com a (eventual) demanda do
devedor. Apesar da presença de ambos constituir um litisconsórcio voluntário, a ausência do terceiro
proprietário da acção origina a ilegitimidade do devedor. (c) Se a execução tiver sido proposta contra
o devedor e se nesta não tiverem sido penhorados os bens do terceiro que se encontram onerados
com a garantia real, o exequente pode promover a intervenção provocada do terceiro (art. 316.º, n.º
2).
6 Se a execução tiver sido instaurada contra o terceiro e a garantia se mostrar insuficiente, o
exequente pode promover a intervenção do devedor na execução (n.º 3; art. 316.º, n.º 2).
7 (a) Se os bens do devedor estiverem onerados com uma garantia real, mas se encontrarem na posse
de um terceiro, este terceiro pode ser demandado em conjunto com o devedor (n.º 4). (b) A
admissibilidade do litisconsórcio destina-se a evitar que o terceiro possuidor, se para tal tiver
fundamento, possa deduzir embargos de terceiro (art. 342.º, n.º 1) ou propor uma acção de
reivindicação (art. 1311.º, n.º 1, e 1315.º CC). Isto permite concluir que o critério para determinar se
o terceiro possuidor deve ser demandado na execução é o seguinte: tem legitimidade para ser
demandado na execução o terceiro possuidor que, se não for demandado, pode embargar de
terceiro.
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Artigo 55.º
Exequibilidade da sentença contra terceiros

A execução fundada em sentença condenatória pode ser promovida, não só contra o


devedor, mas ainda contra as pessoas em relação às quais a sentença tenha força de caso
julgado.

1 A garantia do contraditório determina que são excepcionais as situações nas quais o caso julgado é
vinculativo para terceiros. Para efeitos de aplicação do preceito, terceiros são aqueles que, apesar
de terem legitimidade para ser parte na acção, nesta não chegaram a intervir.
2 (a) Uma das hipóteses nas quais um terceiro fica vinculado ao caso julgado é a que se encontra
regulada no art. 261.º, n.º 3. Tendo havido uma transmissão ou cessão do direito litigioso durante a
pendência da acção, o transmitente ou cedente assume a posição de substituto processual do
adquirente ou cessionário (art. 263.º, n.º 1). Ainda que não chegue a intervir na acção (art. 263.º, n.º
1 e 2), o adquirente ou cessionário fica vinculado ao caso julgado que se constitua nessa acção (art.
263.º, n.º 3). (b) Uma outra hipótese em que o caso julgado é oponível a um terceiro encontra-se
regulada no art. 320.º. Se um terceiro tiver sido chamado a intervir como parte principal (art. 316.º),
a sentença deve apreciar a titularidade do direito ou dever desse chamado, pelo que essa sentença
constitui caso julgado quanto ao terceiro (art. 320.º). Assim é mesmo que o terceiro não tenha
praticado nenhum acto em processo e, por isso, tenha permanecido terceiro perante a acção.

Artigo 56.º
Coligação

1 - Quando não se verifiquem as circunstâncias impeditivas previstas no n.º 1 do artigo 709.º,


é permitido:
a) A vários credores coligados demandar o mesmo devedor ou vários devedores
litisconsortes;
b) A um ou vários credores litisconsortes, ou a vários credores coligados, demandar vários
devedores coligados desde que obrigados no mesmo título;
c) A um ou vários credores litisconsortes, ou a vários credores coligados, demandar vários
devedores coligados, titulares de quinhões no mesmo património autónomo ou de direitos
relativos ao mesmo bem indiviso sobre os quais se faça incidir a penhora.
2 - Não obsta à cumulação a circunstância de ser ilíquida alguma das quantias, desde que a
liquidação dependa unicamente de operações aritméticas.
3 - É aplicável à coligação o disposto nos n.ºs 2 a 5 do artigo 709.º para a cumulação de
execuções.
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1 (a) O artigo trata da coligação no processo executivo. (b) A coligação executiva tem a mesma
configuração da coligação no processo declarativo: conjuga uma cumulação subjectiva com uma
cumulação objectiva distribuída por exequentes ou por executados (→art. 36.º).
2 A coligação executiva exige compatibilidade processual (n.º 1; art. 709.º, n.º 1, al. a), e c)),
compatibilidade procedimental (n.º 1; art. 709.º, n.º 1, al. d)) e conexão teleológica (n.º 1; art. 709.º,
n.º 1, al. b)).
3 (a) A falta de compatibilidade processual por incompetência absoluta constitui uma excepção
dilatória (art. 577.º, al. a)) que obsta à subsistência da execução para a qual o tribunal não seja
competente. O mesmo sucede se houver incompatibilidade quanto à forma de processo
relativamente a alguma das execuções cumuladas e não for possível obter a adequação formal
prevista no art. 37.º, n.º 2 e 3. (b) A falta de compatibilidade procedimental constitui uma excepção
dilatória inominada (art. 576.º, n.º 2) que obsta à pendência da execução que não deva correr nos
autos da outra execução. (d) À falta de conexão teleológica aplica-se, por analogia, o disposto no
art. 38.º.
4 (a) Se a coligação respeitar a execuções para pagamento de quantia, esta quantia deve ser líquida
ou, pelo menos, liquidável através de cálculo aritmético (n.º 2). (b) A violação desta regra constitui
uma excepção dilatória inominada (art. 576.º, n.º 2).
5 (a) A coligação executiva pode ser activa (n.º 1, al. a)), passiva (n.º 1, al. b)) ou mista (n.º 1, al. b) e
c)). (b) Além dos requisitos gerais (n.º 1), a coligação passiva e a coligação mista exigem ainda uma
conexão subjectiva entre os executados (título executivo comum) (n.º 1, al. b)) ou uma conexão
objectiva entre as execuções (n.º 1, al. c)) (penhora de quinhões de um património autónomo ou de
direitos sobre um bem indiviso). (c) À falta desta conexão aplica-se, por analogia, o estabelecido no
art. 38.º.
6 O n.º 3 estabelece a aplicação à coligação executiva das regras que, na cumulação de execuções,
regulam a extensão da competência (art. 709.º, n.º 2 a 4) e a forma do processo (art. 709.º, n.º 5).

Artigo 57.º
Legitimidade do Ministério Público como exequente

[O artigo foi revogado pela L 27/2019, de 28/3]

Artigo 58.º
Patrocínio judiciário obrigatório

1 - As partes têm de se fazer representar por advogado nas execuções de valor superior à
alçada da Relação e nas de valor igual ou inferior a esta quantia, mas superior à alçada do
tribunal de 1.ª instância, quando tenha lugar algum procedimento que siga os termos do
processo declarativo.
2 - No apenso de verificação de créditos, o patrocínio de advogado só é necessário quando
seja reclamado algum crédito de valor superior à alçada do tribunal de 1.ª instância e apenas
para apreciação dele.
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3 - As partes têm de se fazer representar por advogado, advogado estagiário ou solicitador


nas execuções de valor superior à alçada do tribunal de 1.ª instância não abrangidas pelos
números anteriores.

1 O artigo regula a obrigatoriedade do patrocínio judiciário no processo executivo, incluindo os


procedimentos declarativos que corram por apenso e o incidente de verificação de créditos.
2 (a) Nas execuções de valor superior à alçada da Relação, o patrocínio judiciário é sempre obrigatório
(n.º 1 1.ª parte). (b) Nas execuções de valor igual ou inferior à alçada da Relação, mas superior à
alçada do tribunal de 1.ª instância, o patrocínio é obrigatório se nelas for enxertado algum
procedimento declarativo (n.º 1 2.ª parte), como, p. ex., a oposição à execução (art. 732.º, n.º 2) e
os embargos de terceiro (art. 348.º, n.º 1). Se nestas execuções não for enxertado nenhum
procedimento declarativo, as partes podem ser representadas não só por advogado, mas também
por advogado estagiário ou solicitador (n.º 3).
3 (a) Nos incidentes declarativos do processo executivo – como, p. ex., a oposição à penhora (art.
784.º e 785.º, n.º 2) –, a obrigatoriedade do patrocínio é aferida nos termos gerais (art. 40.º, n.º 1, al.
a)). (b) O n.º 2 estabelece um regime especial para o apenso de verificação de créditos (art. 788.º a
792.º): o patrocínio judiciário só é obrigatório quando seja reclamado algum crédito de valor superior
à alçada do tribunal de 1.ª instância e apenas no caso de o crédito vir a ser impugnado.
4 O artigo contém um regime especial para o processo executivo, pelo que se mantém aplicável o
regime geral estabelecido no art. 40.º, n.º 1, al. b) e c).

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