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AVALIAÇÃO

PSICOPEDAGÓGICA

Drª Jacqueline Iglesias


Ms Márcia Guimarães
QUEM SOMOS?

Drª Jacqueline Iglesias


Psicopedagoga Clínica, professora do Ensino Superior e membro efe vo da Associação
Brasileira de Psicopedagogia – Seção Goiás.
Doutora (2018) e Mestra (2014) em Educação pela Faculdade de Educação da
Universidade Estadual de Campinas – UNICAMP. Especialista (2013) em Psicopedagogia
Clínica e Ins tucional pelo Ins tuto Adven sta de São Paulo – IASP, Graduada
(licenciatura plena) em Ciências Biológicas (2009) e Pedagogia (2017),
respec vamente, pela Universidade Estadual de Goiás – UEG e Faculdade Alfa.

Ms Márcia Guimarães
Psicopedagoga Clínica, professora do Ensino Superior, Coordenadora Pedagógica de
Cursos de Especialização da UNIUBE (Universidade de Uberaba).
Mestre em Educação pela Universidade de Uberaba – UNIUBE (2013); Especialista em
Docência Universitária pela – UNIUBE (2009); Especialista em Psicopedagogia
Ins tucional – FEU/CESUBE (2005); Graduada em Pedagogia pela FEU/CESUBE (2002)
com habilitação em: magistério nas séries iniciais do Ensino Fundamental, Supervisão
Escolar e Administração Escolar.
SUMÁRIO
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INTRODUÇÃO
No momento em que a vida social torna-se cada vez mais complexa, impulsionada
pelo avanço das tecnologias de comunicação, as dificuldades de aprendizagem e o
fracasso escolar estão cada vez mais presentes em nossa educação. Esse fato nos é
revelado pelas avaliações externas, e a ampla divulgação de seus resultados nos mais
diversos meios de comunicação.

Se a aprendizagem ocorre na interação social e é resultante de um processo histórico


conforme Vygotsky (2007), é necessário encaramos a dificuldade de aprendizagem
como sintoma e não mais, como causa do fracasso escolar. Atualmente, o
Psicopedagogo é o profissional capacitado para inves gar tais causas e ajudar esses
sujeitos que passam por esse momento di cil da aprendizagem.

Pensando nisso, é que esse e-book foi planejado e estruturado, para melhor auxiliar
os profissionais na avaliação psicopedagógica que realizam, tornando-a mais
organizada e sistema zada. No decorrer da leitura, você irá observar que algumas
vertentes teóricas foram escolhidas. Isso é parte essencial do nosso trabalho, ou seja,
ar cular teoria e prá ca.

Esse material se des na para uma avaliação de crianças a par r dos 6 anos de idade
quando inicia a alfabe zação. Anterior a essa fase, podemos sim realizar uma avaliação
psicopedagógica, contudo, nesse e-book, você não encontrará instrumentos para
validar esse processo.
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O primeiro contato

O primeiro contato da família se faz pelo telefone (diretamente com você ou com a
secretária). Hoje, é comum o uso do aplica vo WhatsApp para realizar esse primeiro
contato.

É importante frisar que as famílias podem estar abaladas emocionalmente e com


grandes expecta vas, por isso, querem o máximo de informações possíveis já nesse
primeiro contato.

Durante a conversa telefônica, é necessário que sejamos acolhedores e


direcionemos a conversa para marcarmos um encontro presencial. Assim, poderemos
compreender melhor a queixa e explicar detalhadamente como ocorre a Avaliação
Psicopedagógica.

Relembrando um caso bem significa vo


A mãe da criança entrou em contato conosco, trocamos algumas informações
rela vas ao paciente, tais como: nome, idade, escolaridade, escola em que estuda,
quem indicou-nos para a avaliação. Logo de início, ela já quis saber sobre os valores da
avaliação e das consultas. Contudo, não temos o hábito de passar valores por telefone,
mas ela insis u e nós decidimos, então, revelar o valor da avaliação completa.
Imediatamente, ela falou que iria conversar com o esposo, mas, já se adiantando,
afirmou que o valor da avaliação estava muito caro.

Passados dois dias, entramos em contato com aquela mãe que havia nos procurado
anteriormente para saber se ainda havia interesse em nosso trabalho psicopedagógico,
mas, não ob vemos a resposta, nem mesmo pelo Whatssap. Após três semanas deste
episódio, a mãe marcou o primeiro encontro presencial e a avaliação ocorreu de forma
habitual.

Uma conversa pelo WhatsApp não subs tui uma entrevista presencial, pois nossas
expressões faciais, corporais, o tom de voz, dizem muito sobre a situação que a família
vivencia. Tais expressões não são percebidas por intermédio de uma conversa por
aplica vo.

É importante conquistar a aceitação da família a par r na nossa recep vidade no


momento em que ela é recebida no consultório, afinal precisamos conhecer suas razões
para buscar uma avaliação psicopedagógica. Conhecer as razões familiares não é tão
simples assim, pois há uma carga emocional muito grande envolvendo todo esse
processo. Por isso, temos que nos mostrar seguros e acolhedores no trabalho
psicopedagógico a ser realizado.
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Entrevista inicial

A entrevista inicial é o primeiro contato do Psicopedagogo com a família. Deve ser


um momento acolhedor, afinal, estão todos muito ansiosos e preocupados com a nova
situação que estão enfrentando. É necessário pensarmos que não é habitual que a
família procure um atendimento psicopedagógico e que, muitas vezes, quando
chegam a esse estágio, é porque percebem que realmente há algo que não está dentro
da “normalidade” com o integrante da família (criança ou adolescente) e que ele
precisa de ajuda especializada.

É extremamente importante fazer uma boa entrevista inicial, pois é através dela que
levantaremos as primeiras hipóteses sobre os problemas de aprendizagem a serem
avaliados na criança/adolescente. É a par r das hipóteses que selecionamos os
instrumentos mais apropriados para a realização da avaliação. Vale destacar que
nenhuma avaliação é igual à outra, uma vez que nenhum paciente é igual ao outro.

Durante a entrevista inicial, também são feitos os combinados e contratos rela vos à
avaliação. Assim, todos ficam resguardados quanto às responsabilidades e
compromissos assumidos neste dia.

Podemos observar que as dificuldades de aprendizagem podem ter diferentes


olhares: da escola, da família e é claro, do paciente. Por isso, é preciso analisar todas as
variantes envolvidas.

Relembrando algumas queixas das famílias:

1) “Ele esquece o que aprende.”

2) “Não saber ler, só copia as a vidades, não faz tarefas sem mim.”

3) “É igual ao pai, nunca lembra de nada.”

4) “Nunca gostou de estudar, mas agora precisa aprender a ler, pelo menos.”
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Entrevista Operatória Centrada na Aprendizagem – EOCA

- Jorge Visca (2010)


É o primeiro contato com o paciente. Ela permite levantar as primeiras hipóteses e
escolher os instrumentos que serão u lizados no decorrer da avaliação. Por meio da
EOCA, é possível observar os vínculos que o paciente possuiu com os objetos escolares
e com os conteúdos da aprendizagem.
Temos três níveis de observação no primeiro sistema de hipóteses: a temá ca, a
dinâmica e o produto. Devemos observar a dimensão afe va e a dimensão cogni va do
sujeito.

Sugestões de materiais para colocar na caixa da EOCA


- Menores de 5 anos
- folhas diversas e coloridas (almaço e sulfite);
- borracha;
- varetas;
- caneta;
- lápis grafite sem ponta;
- apontador;
- cane nhas coloridas;
- lápis de cor e giz de cera;
- outros materiais.
(Observação: coloque tudo sempre dentro das embalagens.)

- Maiores de 5 anos
- massa de modelar;
- cubos;
- jogos de encaixe;
- livro e revistas;
- caderno com folhas pautas;
- cola branca e/ou colorida;
- nta guache;
- toalha;
- pincel;
- borracha;
- tesoura;
- cartões de 15cm x 15cm;
- diversos pos de papel;
- jogos (Soletrando);
- quebra-cabeça (fácil);
- outros materiais.
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Provas Operatórias
- Jean Piaget (2002)

Jean William Fritz Piaget, psicólogo, biólogo e filosofo, nasceu em Neuchâtel, Suíça,
em 9 de agosto de 1896. É mundialmente conhecido por seu trabalho sobre a
inteligência e o desenvolvimento infan l, sendo base para inúmeros estudos em
psicologia e pedagogia até os dias atuais. Na maior parte de sua carreira, Piaget
interagiu com crianças, observando e estudando os processos de desenvolvimento na
infância, fundando, assim, a Epistemologia Gené ca e a Teoria do Conhecimento.

As aplicações das provas operatórias criadas por Piaget contribuem para rastrear na
criança noções como: tempo, espaço, conservação, causalidade, número, etc. É
possível detectar o nível de pensamento alcançado pela criança ou, o que seria o
mesmo, o nível de estrutura cogni va com que o sujeito é capaz de operar na situação
presente.

As provas operatórias são divididas em: conservação, classificação e seriação. Elas


podem ser aplicadas em crianças de 6 a 12 anos em diante.
As fases de desenvolvimento, segundo Piaget (2002) são: pré-operatório,
operatório-concreto e operatório-formal.

Provas Proje vas

As provas proje vas buscam explicar as variáveis emocionais que podem


condicionar posi vamente ou nega vamente o processo de aprendizagem. O interesse
é compreender os vínculos que o sujeito tem com os professores, colegas, com os
adultos/familiares que fazem parte do contexto em que ele está inserido, e também
consigo mesmo.

Alguns aspectos podem ser observados nos desenhos, dentre eles: o tamanho, a
posição, a disposição dos lugares, caracterís cas corporais, inclusão ou exclusão de
alguma personagem, entre outros.

Provas de avaliação pedagógica


É importante entender que não devemos limitar nossa avaliação aos aspectos
escolares, pois estes estão atrelados ao funcionamento cogni vo e emocional do
sujeito. Grandes partes das queixas escolares estão focadas na leitura, escrita e
matemá ca, em diferentes anos escolares e idades.
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Leitura e Escrita
Iden ficar em que nível de escrita o sujeito está: nível pré-silábico, silábico, silábico-
alfabé co ou alfabé co.

O DSM – 5 aborda questões de escrita e leitura. De acordo com ele, a escrita pode
incluir déficits de precisão na ortografia, na gramá ca e na pontuação, e/ou na clareza
ou organização da expressão escrita.

Já sobre a leitura, o DSM – 5 auxilia o profissional a iden ficar em que nível de leitura
esse sujeito se encontra: logográfica, alfabé ca ou ortográfica. Se é capaz de
compreender e interpretar diferentes situações relacionadas à leitura e escrita, visto
que a leitura é uma habilidade complexa que depende da integração de diversas outras
habilidades, como a linguagem oral, memória, pensamento, inteligência e percepção.

Após conhecer os níveis de leitura e escrita do sujeito, o psicopedagogo obtém pistas


para compreender se o paciente tem apenas uma dificuldade de aprendizagem
ocasionada por uma defasagem pedagógica ou se serão necessárias mais avaliações
para inves gar uma possível dislexia.

Matemá ca
É preciso realizarmos uma avaliação para compreender se o sujeito possuiu noções
do processamento numérico (se ele compreende que o nosso sistema numérico possui
base decimal) e o cálculo, envolvendo as quatro operações.

O processamento numérico envolve o senso numérico como contagem, noções de


cordialidade e de ordenação de maior-menor; conhecimento de número, quan dade e
sequência; es ma va como tamanho do grupo. A parte relacionada ao cálculo é para
compreender se o sujeito realiza operações com os símbolos.

Avaliação das demais habilidades


Neste momento fazemos referência a uma série de habilidades que devem ser
observadas e avaliadas nos sujeitos. Esta avaliação pode ocorrer de uma maneira
pontual, por meio de testes específicos ou de uma maneira con nua, no decorrer das
sessões, por meio de observações direcionadas.

Devemos observar, então, diferentes habilidades como: atenção, memória, funções


execu vas, linguagem, comportamento, entre outras que se fazem necessárias, de
acordo com cada paciente e suas par cularidades.
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Visita escolar
É importante e diferencial em seu atendimento fazer uma visita escolar, agendada
previamente com a coordenação, e, de preferência em um horário que a professora
também possa par cipar.

Caso o paciente tenha vários professores, tente conversar com os professores das
disciplinas de Português e/ou Matemá ca, pois são os que possuem maior carga
horária no currículo escolar.

Se não conseguir marcar a reunião individual, peça para fazer a visita na hora do
intervalo, assim, você encontra boa parte dos professores em um só momento e depois
prossegue a reunião com a coordenadora.

Importante! Tenha uma ficha para acompanhar a reunião para não correr o risco de
esquecer que alguma pergunta seja proferida.

Devolu va e encaminhamentos
Este é um momento muito esperado pela família e você irá apresentar seu “Parecer
Psicopedagógico”. Não é um apenas comunicado verbal. É necessário ter por escrito um
breve documento que deixe registrado a forma como organizou a avaliação. Procure
organizar os dados em áreas como, por exemplo: pedagógica, cogni va e afe va-social.

Junto com toda a explicação, é importante que a família compreenda que é parte
fundamental de todo o processo que irá seguir. Há situações em que a devolu va é feita
junto com o paciente, quando ele é adolescente, mas isso não é comum de ocorrer.

Faça os apontamentos e, se for necessário, os encaminhamentos para outros


profissionais.

Devolu va para a escola


É comum entregarmos para a escola um “Parecer Psicopedagógico” diferente do
que entregamos à família. Nele, colocamos o que realmente é de fundamental
importância para escola, quais pontos poderemos juntos trabalhar para melhorar as
condições acadêmicas do paciente.
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Essas diferentes habilidades podem ser observadas tanto por teste específicos
quanto por jogos, tais como: jogo da memória, quebra-cabeça, UNO, pega-varetas.

Avaliação das Habilidades Motoras - Psicomotoras


Nesta parte da avaliação, devemos observar aspectos relacionados à coordenação
motora global, coordenação motora fina, equilíbrio dinâmico e está co, esquema
corporal, lateralidade, dissociação, predominância lateral, orientação espacial, entre
outros.

Exemplos de observações durante as a vidades motoras-psicomotoras

- Coordenação global: correr.


- Equilíbrio dinâmico: colocar uma fita colorida no chão e pedir para a criança andar
em linha reta.
- Equilíbrio está co: ficar de um pé só por 10 segundos e repe r o mesmo
movimento com outro pé.

Anamnese
É um importante momento da avaliação, é a hora de conhecer a história de vida do
paciente. Compreender a visão da família para a vida do paciente, compreender
informações de gerações passadas que estão depositadas neste sujeito.

Para a realização da anamnese, temos que observar com quem faremos a entrevista,
se é com a mãe, mãe e pai, a, avó. Isso pode ser uma importante informação a ser
refle da para compreender o caso do paciente. A dinâmica familiar, o nível de relações,
os papéis que cada um exerce, entre outros aspectos podem influenciar na avaliação
psicopedagógica.

Alguns pontos que devemos observar:


- pais separados;
- por quem esse paciente é criado;
- fatores gestacionais;
- fatores do desenvolvimento biológico e motor;
- fatores relacionados ao desempenho escolar.

Essas e outras informações devem ser buscadas na anamnese.

Importante! Seja um bom ouvinte, tenha uma escuta a va para cada informação
que chegar até você. Não julgue, apenas ouça.
REFERÊNCIAS

OLIVEIRA, V. B.; BOSSA, N. A. (org). Avaliação Psicopedagógica da criança de sete a


onze anos. 20. Ed. Petrópolis: Vozes, 2013.

PAIN, SARA. Diagnós co e tratamento dos problemas de aprendizagem. 4. ed. Porto


Alegre: Artmed, 1985.

PIAGET J. Epistemologia gené ca. 2. ed. São Paulo: Mar ns Fontes; 2002.

VYGOTSKY, LS. A formação social da mente: o desenvolvimento dos processos


psicológicos superiores. 7. ed. São Paulo: Mar ns Fontes; 2007.

VISCA, Jorge. Clínica Psicopedagógica. Epistemologia Convergente. 2. ed. Tradução


Laura Monte Serrat Barbosa – São José dos Campos: Pulso Editorial, 2010.

WEISS, Maria Lúcia L. Psicopedagogia clínica: uma visão diagnós ca dos problemas
de aprendizagem escolar. 14. ed. Rio de Janeiro: Lamparina, 2009.
@psicopedagogajacqueiglesias

@psicopedagoga_marciaguimaraes

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