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DIA 04 MAIO - A TURMA | página 3
DESTINATÁRIOS: Alunos dos cursos de formação de professores.
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AO NORTE – ASSOCIAÇÃO DE PRODUÇÃO E ANIMAÇÃO AUDIOVISUAL
Praça D. Maria II, 113 R/C | 4900-489 Viana do Castelo | PORTUGAL
OBSERVAÇÕES:
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DIA 04 MAIO - A TURMA
Sinopse:
"A Turma" galardoado com a Palma de Ouro no Festival de Cannes, segue um ano de um
professor e da sua turma numa escola de um bairro problemático de Paris, microcosmos da
multietnicidade da população francesa, espelho dos contrastes multiculturais dos grandes
centros urbanos de todo o mundo.
O professor François e os seus colegas, preparam-se para um novo ano escolar. Cheios de
boas intenções, estão decididos a não deixarem que o desencorajamento os impeça de tentar
dar a melhor educação aos seus alunos.
Ficha técnica:
Realização: Laurent Cantet
Produção: Caroline Benjo, Carole Scotta;
Cinematografia: Pierre Milon;
Edição: Robin Campillo;
Interpretação: François Bégaudeau, Nassim Amrabt, Laura Baquela, Cherif Bounaïdja
Rachedi, Juliette Demaille, Dalla Doucoure.
(Entre les Murs, França, 2008, 128’, M/12)
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Problemáticas presentes:
Áreas dos cursos de formação de professores em que podem ser tratados estes temas:
Correntes Pedagógicas
Didáctica da Língua Materna
Didáctica da Língua Estrangeira
Sociologia da Educação
Actividades propostas:
Correntes Pedagógicas –
Sociologia da Educação –
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Resumo
O filme narra o quotidiano de uma turma de Francês do 8ºano durante um ano
lectivo em Paris. François Marin, o professor, tem não só de ensinar mas de gerir as
diferenças e as tensões entre os alunos. Com a passagem do tempo, algumas dessas
tensões agudizam-se: Esmeralda e Khoumba, duas amigas, acham que o professor
está sempre a gozar com os alunos, Souleymane mostra pouca vontade de trabalhar e
agride verbalmente os colegas. Rapidamente, o espaço da sala de aula torna-se um
espaço de confrontos entre, por um lado, François e alguns alunos (Esmeralda,
Khoumba, Souleymane, Boubacar, etc.) e, por outro, entre os próprios alunos.
Souleymane, oriundo de um contexto familiar difícil (a mãe não fala francês, o pai não
está muito presente), parece cada vez mais afastado da escola, os seus resultados em
várias disciplinas são maus, a sua irritação e o seu irrequietismo aumentam. Em
determinada altura, a tensão transforma-se em briga e Souleymane abandona a sala
depois de ter insultado o professor. Um conselho de disciplina reúne-se e decide a
expulsão do aluno. Porém, nem todos oferecem a mesma resistência à pedagogia do
professor. É o caso de Wei, de origem chinesa que não fala bem francês, mas que se
esforça bastante, ou ainda de Burak, de origem turca, que manifesta uma clara
apetência pelo estudo.
François cruza-se também com os colegas na sala dos professores onde
trocam impressões, eliminam a tensão acumulada, etc. Aqui também François se
depara com atitudes diferentes da sua, com estratégias e projectos pedagógicos
distintos. Assim, no início do filme, o professor de História propõe a François
estabelecerem uma ponte entre as duas matérias: os alunos poderiam ler uma obra na
disciplina de Francês que se enquadrasse no programa de História, neste caso um
conto de Voltaire. François recusa alegando a fraqueza dos alunos. Contudo, mais
tarde descobre-se que deu a ler o Diário de Anne Frank, que aparentemente não se
adaptava ao nível nem aos interesses dos alunos.
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Crítica
O título original (Entre as Paredes) remete claramente mais para o lugar do que
a adaptação portuguesa (A Turma) ou espanhola (La Clase). Pois o lugar neste filme
determina em grande parte a qualidade da relação dos alunos entre si assim como dos
alunos com os professores. Desde o início, o cenário é o de um espaço sem abertura,
um espaço rodeado de paredes, janelas e portas fechadas, um espaço onde até o céu
é invisível. Os poucos planos de conjunto, no recreio principalmente, mostram alunos
cercados, quase que esmagados por paredes. Veja-se por exemplo o plano de
conjunto de Souleymane e a mãe filmados em picado, o que os reduz ainda mais, a
deixar a escola depois da decisão do conselho de disciplina: ambos parecem quase
que pormenores num universo de natureza carcerário. Neste contexto, a própria sala
de aula reproduz em miniatura o dispositivo geral: espaço exíguo onde vinte e quatro
alunos e o professor têm de conviver e de gerir as tensões. Ou seja, por si só, o
espaço neste filme é um importante gerador de problemas diversos; ainda que não
explique a origem das tensões, favorece-as sem dúvida. Cantet duplicou a sensação
de enclausuramento através da escala de planos: escolheu filmar as personagens em
planos aproximados à cintura ou em grande plano não só para analisar as suas
reacções (voltarei mais à frente a este ponto fulcral) como para as encerrar no espaço
do quadro. Para dizê-lo ainda por outras palavras, corpos e personagens são aqui
vítimas de uma dupla pressão: a do cenário e a do quadro, os ângulos e os lados
deste remetendo metaforicamente para os ângulos e os lados das paredes da sala.
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que não quer ou não consegue compartilhar com a outra parte. Não seria exagerado
dizer que este dispositivo até põe em relevo o carácter duro, quase violento, da
relação entre François e a turma: acantonados no seu apertado espaço, não
comunicam a não ser no modo do antagonismo, distribuindo golpes e defesas.
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Talvez a explicação para tal comportamento por parte do professor se encontre
logo na curta sequência inicial: François Marin está num bar filmado em plano peito,
com ar triste ou pensativo. Olha no vazio, indiferente ao que o rodeia. Subitamente,
bebe o seu café e sai do bar como se tivesse tomado uma decisão. O que a
brusquidão do gesto assim como o olhar revelam é um homem pouco seguro,
hesitante, reservado, em plena contradição com o professor da turma. Esta cena (a
única fora da escola) talvez nos dê uma chave para interpretar melhor o cinismo de
François: não será este uma maneira para ele se proteger e se esconder?
Poder-se-á então ler o filme de Cantet como um espelho onde cada um,
professor e aluno, reconhecerá em parte o seu reflexo, mas um espelho que se dirige
também à sociedade no seu geral (parentes, políticos…): pois aquela escola é
também reflexo da complexidade e da heterogeneidade das sociedades ocidentais
contemporâneas.
Fabrice Schurmans
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DIA 05 MAIO – GOMORRA
Sinopse:
Baseado no livro de Roberto Saviano e realizado por Matteo Garrone, "Gomorra" foi um dos
acontecimentos do último Festival de Cannes, onde conquistou o Prémio Especial do Júri. É
um mergulho brutal e violento nos meandros dos círculos infernais da Camorra napolitana, com
uma crua e incrível precisão. Poder, dinheiro e sangue são os "valores" com que os habitantes
de Nápoles se confrontam diariamente. A única linguagem é a das armas e o sangue o vício
maior. Viver uma vida normal não é possível para estes habitantes. Neste cenário de guerra de
clãs e tráficos de toda a espécie, cruzam-se cinco histórias em redor das vidas de Toto,
Pasquale, Don Ciro e Maria, Franco e Roberto, Marco e Ciro. Uma Camorra ficcionada mas
profundamente enraizada na realidade italiana.
Ficha técnica:
Realização: Matteo Garrone
Argumento a partir da obra de: Roberto Saviano;
Produção: Laura Paolucci, Domenico Procacci;
Cinematografia: Marco Onorato;
Edição: Marco Spoletini;
Interpretação: Salvatore Abruzzese, Simone Sacchettino, Salvatore Ruocco, Vincenzo
Fabricino, Vincenzo Altamura, Italo Renda. Género: Drama
(Gomorra, Itália, 2008, 137’, M/16)
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Problemáticas presentes:
A degradação do tecido urbano das grandes cidades numa perspectiva arquitectónica e social;
A falta de perspectivas alternativas num meio dominado pelas actividades ilícitas;
O lucro fácil obtido à custa da exploração, da dignidade e da vida humanas.
Sociologia (12ºano)
Filosofia (11º ano)
Português (10º, 11º e 12º anos)
Economia (11º ano)
Geografia (11º ano)
Actividades propostas:
Sociologia –
A indefinição e reconversão dos papéis sociais em espaços de risco social:
• pesquisa sobre o conceito de papel na sociologia;
• análise de alguns papéis subvertidos no filme (os jovens em idade escolar que são
iniciados no mundo do crime, a ausência de figuras parentais que se assumam como
modelos positivos).
Filosofia –
Os valores numa sociedade precária:
• pesquisa sobre a ideia de valores universais consignada na Declaração Universal dos
Direitos do Homem;
• estudo dos valores do homem enquanto indivíduo e enquanto elemento da sociedade;
• debates sobre “a exploração da mão de obra barata numa sociedade de direitos
laborais”.
Português –
O discurso argumentativo:
• apresentação de argumentos e contra – argumentos;
• construção da refutação ;
• elaboração do texto expositivo-argumentativo.
Economia –
O mercado de trabalho, os direitos laborais e a deslocalização:
• pesquisa sobre os actuais fluxos mundiais de recursos materiais e humanos;
• análise das razões que levam ao encerramento e deslocalização de empresas;
• comparação de tabelas salariais europeias e asiáticas;
• detecção, no filme, situações que configurem cumplicidade do primeiro mundo com a
miséria do terceiro mundo.
Geografia –
O espaço urbano degradado e as zonas sociais de risco:
• detecção de algumas das principais zonas urbanas mundiais de conflitualidade;
• análise das condições arquitectónicas e de salubridade dessas zonas;
• identificação, no filme, de algumas dessas condições.
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Resumo
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Crítica
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Entre a personagem de Tony Montana e o espectador interpõe-se a figura conhecida
de Al Pacino: estamos à espera de ver este actor fazer de mafioso, lembramo-nos dos
seus outros papéis, ouvimo-lo emprestar a sua voz rouca a mais um descendente de
italianos. Em Gomorra, pelo contrário, os actores, amadores em grande parte, não
constituem nenhuma barreira, deixam fluir as emoções de tal maneira que o
espectador segue as trajectórias de Dom Ciro, Totó, Marcos e dos outros e não de um
afamado actor a fazer de criminoso histérico.
Fabrice Schurmans
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DIA 06 MAIO - TROPA DE ELITE
Sinopse:
Urso de Ouro em Berlim, "Tropa de Elite" retrata o violento quotidiano de um batalhão da
polícia do Rio de Janeiro. Em 1997, Nascimento, capitão da Tropa de Elite, é nomeado chefe
de uma das equipas que tem como missão apaziguar o Morro do Turano. Apesar de considerar
insensatos os motivos da operação, Nascimento tem de cumprir ordens, mesmo quando a
mulher grávida lhe implora que deixe a linha de frente do batalhão. Mas, para isso Nascimento,
tem de encontrar alguém para o seu lugar. Depois de uma operação de resgate. Neto e Matias
juntam-se ao curso de formação do batalhão. O primeiro destaca-se pela coragem e o segundo
pela inteligência. Se Nascimento conseguisse reunir essas duas qualidades num só homem
estaria encontrado o seu substituto perfeito.
Ficha técnica:
Realização: José Padilha
Argumento: André Batista, Bráulio Mantovani;
Musica Original: Pedro Bromfman;
Cinematografia: Lula Carvalho;
Edição: Daniel Rezende
Interpretação: Wagner Moura, Caio Junqueira, André Ramiro, Maria Ribeiro, Fernanda
Machado, Fernanda de Freitas.
(Tropa de Elite, Brasil, 2007, 117’, M/16).
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Problemáticas presentes:
Confronto entre dois poderes não institucionais: o das máfias da droga do Rio de Janeiro e o
da força militarizada BOPE;
Representações da população em geral e dos estudantes em particular em relação aos
habitantes das favelas;
A favela como espaço de coexistência de interesses económicos e sociais do primeiro e do
terceiro mundo.
Sociologia (12ºano)
Filosofia (11º ano)
Português (10º, 11º e 12º anos)
Actividades propostas:
Sociologia –
A indefinição e reconversão dos papéis sociais em espaços de risco social:
• pesquisa sobre o conceito de papel na sociologia;
• análise de alguns papéis subvertidos no filme (o estudante que é passador, o polícia
que executa);
• reflexão sobre a ambiguidade do papel dos estudantes que recusam a sociedade de
classes e usufruem do estatuto dado pela sua classe social;
Filosofia –
Os valores numa sociedade precária:
• pesquisa sobre a ideia de valores universais consignada na Declaração Universal dos
Direitos do Homem;
• estudo dos valores do homem enquanto indivíduo e enquanto elemento da sociedade;
• debates sobre ” a execução extrajudiciária e a tortura”.
Português –
O discurso argumentativo e os processos narrativos:
• apresentação de argumentos e contra – argumentos;
• construção da refutação ;
• elaboração do texto expositivo-argumentativo;
• as narrativas encaixadas e encadeadas;
• a analepse.
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Resumo
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Crítica
No que tem a ver com a mensagem, acho que de facto o filme tem alguma
ambiguidade. É certo que Nascimento nos é apresentado como um ser frágil,
perturbado, mas não deixa de ser um apologista da violência como modo de resolução
dos conflitos. Interpreta a criminalidade das favelas como sendo uma guerra
impiedosa onda são poucos os prisioneiros, desculpa as execuções extrajudiciárias,
utiliza a tortura para extorquir informações. O próprio Matias que no início do filme
recusa tais métodos dá-se por vencido com a morte do amigo e adopta os métodos do
BOPE (executa o Baiano, ferido, imobilizado, em vez de o prender).
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Na mesma cena, é nítido o desconforto de Matias, pois a imagem da polícia
veiculada entre os estudantes é muito negativa: corruptos, violentos, agridem tanto o
rico como o pobre. Uma das principais ambiguidades do filme de Padilha é-nos
revelada nesta precisa cena: como o filme defende o ponto de vista de Matias (veja-se
como ele consegue calar os colegas remetendo as suas opiniões para uma falta de
informação), Neto e Nascimento, estas críticas, pertinentes no contexto social
brasileiro, perdem pertinência no contexto fílmico. Ou seja, o próprio filme acaba por
defender o BOPE como última protecção contra a corrupção, a violência que atinge a
própria classe média, alta. O preço a pagar para que esta classe poder possa gozar
uma certa paz social é a existência nas margens do Estado de um corpo cujas
técnicas (tortura, execuções extrajudiciárias, entre outras) o assemelham a uma milícia
paramilitar.
Fabrice Schurmans
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DIA 07 MAIO - A NUVEM
Sinopse:
Um acidente numa central nuclear perto de Frankfurt lança o pânico no país. Uma gigantesca
nuvem radioactiva avança em direcção à cidade de Schlitz. A população que vive nos
arredores da central fica imediatamente contaminada e morrem cerca de 38 mil pessoas. Os
que vivem mais afastados tentam fugir. Entre eles, Hannah, uma rapariga de 16 anos, e o
namorado Elmar. Mas enquanto ele consegue escapar à última hora, Hannah fica para trás e
sofre a contaminação letal. No entanto, o seu amor é tão forte, que mesmo sabendo os riscos
que corre, Elmar volta para trás.
Ficha técnica:
Realização: Gregor Schnitzler
Argumento: Marco Kreuzpaintner;
Produção: Markus Zimmer;
Música Original: Max Berghaus, Stefan Hansen, Dirk Reichardt;
Cinematografia: Michael Mieke;
Edição: Alexander Dittner
Interpretação: Paula Kalenberg, Franz Dinda, Hans-Laurin Beyerling, Carina N. Wiese,
Jennifer Ulrich, Claire Oelkers, Tom Wlaschiha. Género: Drama, Thriller
(Die Wolke, Alemanha, 2006, 105’, M/12)
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Problemáticas presentes:
Actividades propostas:
Ciências –
O equilíbrio entre o progresso científico e a sustentabilidade ambiental:
• pesquisas sobre as várias tendências;
• apresentação de um painel de discussão;
• convite a especialistas das diversas posições para defenderem os vários pontos de
vista;
• debates em sala de aula ou na escola.
Biologia –
As mutações genéticas provocadas pela radioactividade:
• estudo das causas das mutações genéticas;
• apresentação de casos conhecidos de efeitos da radioactividade;
• análise da capacidade de resposta da sociedade ocidental actual face a catástrofes
como a apresentada;
• debates em sala de aula ou na escola.
Filosofia –
Poderes e riscos da ciência:
• pesquisa de situações que mostrem a ciência como sinal de progresso ou como
ameaça à liberdade do homem;
• estudo dos valores do homem enquanto indivíduo e enquanto elemento da sociedade;
• reflexão sobre a adolescência e a descoberta do amor;
• debates sobre o “que é ser jovem, hoje” em sala de aula ou na escola.
Português –
O discurso argumentativo:
• apresentação de argumentos e contra – argumentos;
• construção da refutação ;
• elaboração do texto expositivo-argumentativo;
• o discurso político;
• o manifesto.
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Resumo
O filme abre com Hannah, uma adolescente que vive com a mãe (Paula) e com
o irmão (Uli) numa pequena cidade alemã (Schiltz). Paula vai ter de se ausentar por
causa do trabalho e confia em Hannah para tratar do irmão. Na escola sente-se
atraída por Elmar, um adolescente diferente, um pouco reservado, tímido, mas
desembaraçado. Ambos têm um relacionamento difícil com os pais: a mãe de Elmar
está num estado depressivo com o qual o pai não consegue lidar, enquanto Paula não
tem muito tempo para os filhos por causa do trabalho e parece não poder contar com
um pai ausente.
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Crítica
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o envolvimento amoroso entre ambos assemelha o filme a qualquer outra produção do
género, mas a sua transformação em seres doentes, titubeando entre a vida (Hannah)
e a morte (Elmer), evidenciando no corpo a evolução dos efeitos da irradiação (perda
de cabelos, manchas no corpo, vómitos) afasta-os dos modelos promovidos num certo
cinema popular norte-americano.
Por fim, destaco uma última particularidade de A Nuvem: a sua recusa de uma
dramatização excessiva pelo acréscimo de peripécias secundárias, sem grande
interesse relativamente ao eixo narrativo principal. O guionista não acrescentou
qualquer cena de pilhagem ou de agressões, existência de grupos de ladrões,
confrontos violentos com a polícia, etc. Além disso, são poucas os planos de conjunto
que evocam o pânico e a fuga desorganizada. Compare-se agora com o filme de
Petersen, que acrescentou um segmento narrativo inútil (os lobos que fogem do jardim
zoológico e parecem programados para caçar o protagonista) com a suposta intenção
de gerir mais efeito de tensão. No seu filme, pelo contrário, Schnitzler privilegiou uma
visão realista, e plausível, não da catástrofe (não há nenhuma cena do epicentro da
explosão), mas dos seus efeitos. Daí com certeza a presença, no campo ou em off, da
rádio e da televisão, que a intervalos regulares dão notícias sobre o macro evento, o
que permite ao filme dedicar mais atenção aos efeitos micro do mesmo evento.
Remete desta maneira os mortos em massa, os corpos amontoados, gravemente
queimados, para o fora de campo, evita a espectacularização do sofrimento colectivo
para melhor focar as duas personagens principais (Elmar e Hannah).
Fabrice Schurmans
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DIA 08 MAIO - AOS DOZE E TANTOS
Sinopse:
"Aos Doze e Tantos" explora a complexidade da perda da inocência das crianças quando
entram na adolescência e da luta dos adultos para os orientarem nessa passagem. Num
subúrbio da América, três amigos de 12 anos - o introvertido Jacob, a precoce Malee e o
vulnerável Leonard - iniciam o caminho da auto-descoberta e começam a distinguir as suas
próprias opiniões das dos seus pais. Depois da trágica morte do irmão gémeo de Jacob, o trio
une-se enquanto luta com sentimentos de vingança, o fardo da dor e a inesquecível
experiência de crescer.
Ficha técnica:
Realização: Michael Cuesta
Música Original: Pierre Földes;
Cinematografia: Romeo Tirone;
Edição: Eric Carlson, Kane Platt;
Interpretação: Conor Donovan, Jesse Camacho, Zoe Weizenbaum, Jeremy Renner, Annabella
Sciorra, Jayne Atkinson.
(Twelve and Holding, EUA, 2006, 90’, M/12).
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Problemáticas presentes:
O despertar da sexualidade: a menina (Malee) que se apaixona pelo homem adulto (Gus) e
tenta desempenhar o papel da mulher tradicional (limpa a casa, prepara a refeição, espera-o
submissa)
Tipos de famílias: tradicionais, monoparentais, filhos adoptados e sua relação com os naturais.
Actividades propostas:
Filosofia –
Os modelos necessários ao crescimento: os pais , os irmãos, os amigos:
• pesquisa sobre os diversos tipos de família e as representações de família;
• reflexão sobre a importância dos conflitos de gerações para a autonomia do indivíduo;
• debate sobre “a dor , a perda e o luto”.
Psicologia –
A adolescência, fase crucial do crescimento:
• pesquisa de várias teorias e autores explicativos do crescimento e da adolescência;
• debate sobre “o eu e a sua relação com os outros”
Sociologia –
Os papéis e os hábitos:
• pesquisa sobre a importância dos papéis na vida em sociedade;
• reflexão sobre a função dos hábitos na vida social;
• debate sobre “a importância da desconstrução das representações e dos estereótipos
na vida social”. ~
Educação Física –
A alimentação e a prática do exercício físico –
• pesquisa sobre a relação alimentação/exercício físico/condição física;
• reflexão sobre as implicações psicológicas de uma má auto-imagem;
DOSSIÊ FILMES FALADOS’09 25
IX ENCONTROS DE VIANA – CINEMA E VÍDEO
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• proposta de dietas alimentares saudáveis.
Português –
A casa como metáfora e como símbolo:
• a importância literária do estudo do espaço (comparar com as casas d’Os Maias e de
Frei Luís de Sousa);
• analisar os múltiplos valores das”várias” casas no filme.
Resumo
O filme gira em torno de seis jovens adolescentes que vivem numa pacata
cidade de província dos Estados Unidos: ruas tranquilas, bandeiras americanas em
cada fachada, encontros entre vizinhos. O drama irrompe quando uma noite, para se
vingarem de uma briga, Kenny e Jeff deitam fogo à cabana ocupada por Leonard
Fisher e Rudy Carges, dois amigos de infância. Leonard consegue escapar ao
desastre, se bem que ferido, mas Rudy morre queimado vivo. O assassínio é
involuntário pois Kenny e Jeff julgavam a cabana vazia quando atiraram para lá com
bombas incendiárias. O desaparecimento de Rudy destabiliza a vida dos amigos, mas
cada um esconde igualmente outros problemas. Os pais destroçados de Rudy vão ter
de se recompor/reconstruir à volta do outro filho, Jacob Carges, irmão gémeo de Rudy.
Até à morte de Rudy, Jacob era uma criança reservada, que escondia uma marca de
nascença, e um mal-estar, por detrás de uma máscara. No entanto, com a morte do
irmão, deita a máscara fora e procura vingar-se da morte de Rudy. Assim começa a
visitar Kenny e Jeff no centro de detenção e a ameaçá-los. Leonard, que cresce no
seio de uma família onde todos são obesos, toma aos poucos consciência do estilo de
vida errado que leva. O seu professor de ginástica até o convence a comer de outra
maneira e a começar a fazer algum desporto, o que os pais não entendem. Quando
percebe que a obesidade coloca em risco a própria vida da mãe, decide ajudá-la a
mudar de estilo de vida. Por fim, Malee Chuang, amiga de Jacob, Rudy e Leonard,
vive com a mãe, psicóloga. Tem aparentemente alguma dificuldade em gerir a
separação dos pais e tenta seduzir Gus, homem mais velho que trabalha numa
urbanização em construção, mesmo no lugar onde a cabana tinha sido destruída. Gus
também parece ter uma ferida íntima que tenta analisar e curar junto da mãe de
Malee.
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Crítica
A meu ver, a casa acaba por se tornar a outra grande personagem do filme: a
casa construída, a casa destruída, a casa em construção. A casa construída não
aparece neste filme como o lugar da felicidade: como o disse há pouco, todas
escondem segredos ou problemas. Vejam o caso da casa da família Fisher: tudo gira
à volta da comida ingerida em grande quantia, uma comida que ocupa todo o espaço
disponível (a sequência da ceia de Natal foca os pratos e as bocas a ingerir alimentos
de maneira brusca e nervosa) e que, literalmente, impede a fala. Ou ainda a casa de
Malee e da mãe: mãe e filha comunicam dificilmente e o pai está ausente. No que tem
a ver com a casa destruída, o paradigma é claramente o da cabana destruída pelo
fogo: lugar de infância, a cabana erguida na árvore simboliza ao mesmo tempo a
felicidade (ter uma cabana onde se juntar com os amigos) e a fragilidade (não só pela
precariedade dos materiais de construção como pela sua rápida destruição). Neste
contexto, a construção das casas aparece sem dúvida como metáfora da construção e
reconstrução das vidas em volta. Apesar dos dramas (aqui a morte de Rudy), os seres
humanos, um tempo destroçados, voltam a erguer-se, a tentar viver ou sobreviver.
Vejam o caso de Gus que participa na construção da urbanização e, ao mesmo tempo,
empreende um longo percurso de reconstrução do seu ser dilacerado por causa da
morte de uma criança noutro incêndio. A cena da conversa entre Gus e Malee nas
caves da casa em construção parece-me reveladora da tentativa do realizador de
estabelecer uma ligação metafórica entre ambas as construções (a real, da casa, e a
psicológica, de Gus). Malee revela a Gus que o rapaz que foi morto era um dos seus
DOSSIÊ FILMES FALADOS’09 27
IX ENCONTROS DE VIANA – CINEMA E VÍDEO
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melhores amigos. Malee diz então: «Imaginas o que é matar alguém assim? É preciso
ser muito mau, não é?» Gus não reponde e fica parado um longo tempo a olhar
fixamente no vazio, ou antes a olhar para dentro de si, das suas lembranças. Por
causa da sua juventude, Malee não consegue interpretar este silêncio, mas o que o
espectador entende naquele momento é a associação íntima, forte, entre o lugar (as
caves, o que suporta e aguenta o peso de uma casa) e a personalidade fracturada de
Gus (terá de se reconstruir tomando apoio na tragédia que viveu alguns anos antes).
Aqui a palavra fundação remeteria tanto para a construção da casa como para o
processo de reconstrução de um indivíduo em parte destruído. Se, no caso de Gus, a
fundação é claramente encarada de maneira positiva, assim como o é para o pai de
Jacob e Rudy (é ele que vende o terreno onde se erguia a cabana para a construção
da urbanização), é encarada como um regresso no caso de Jacob. De facto, este ao
esconder o corpo de Kenny, que acaba de matar a tiro, nos alicerces/na fundação de
uma das casas da urbanização, está a encovar no seu ser mais íntimo a fonte de
problemas futuros. Para dizê-lo noutras palavras, casa e personagem repousam em
fundações frágeis, e a morte, em vez de libertar Jacob talvez o enclausure ainda mais
(talvez seja um dos sentidos do betão a tapar a lente da câmara numa das cenas
finais). É o que nós, espectadores, podemos entender quando na cena final, a mãe de
Rudy e Jacob olha para este e interpreta mal o comportamento do filho porque sabe
menos do que nós. Os olhares não se cruzam e, pormenor importante, existe um
cortinado entre ambos, ou seja, antevemos um futuro onde entre mãe e filho existirá
sempre uma distância, uma separação, uma espécie de fachada que nos remete para
as fachadas das casas construídas do início do filme.
Fabrice Schurmans
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