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BARBARA CONCEIÇÃO AZEVEDO DE FREITAS

A INFLUÊNCIA DA PSICOMOTRICIDADE NA

DISGRAFIA

Rio de Janeiro

2004
2

UNIVERSIDADE CANDIDO MENDES

PÓS-GRADUAÇÃO “LATO SENSU”

PROJETO VEZ DO MESTRE

A INFLUÊNCIA DA PSICOMOTRICIDADE NA

DISGRAFIA

Monografia apresentada à banca examinadora da


Universidade Candido Mendes, como condição prévia
para a conclusão do Curso de Pós-graduação “Lato
Sensu” em Psicomotricidade.

Profa. Orientadora: Mary Sue

Rio de Janeiro

2004
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AGRADECIMENTOS

A Deus, meu amigo e eterno


companheiro em todos os momentos da
minha vida.

A minha família e, em especial, às


Professoras Fátima Alves e a minha
Orientadora, Profa. Mary Sue, por toda
dedicação que foi imprescindível à
conclusão desta pesquisa.
4

DEDICATÓRIA

Em especial à Izaura, minha querida

avó e madrinha, pela sua valiosa

ajuda, carinho e incentivo.

Aos meus pais, Edmar e Luci, que

sempre me apoiaram e estimularam

a prosseguir e a superior os

desafios.
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RESUMO

Esta monografia tem como objetivo principal entender de que forma e


porque meio a Psicomotricidade pode influenciar na disgrafia. E ainda
pesquisar sobre as conseqüências deste distúrbio e sobre a deficiência de
um trabalho psicomotor nesse caso. Para tanto, foi feito um esboço
bibliográfico das teorias sobre o assunto, selecionando os dados que tinham
estrita relevância para a investigação. Tem, com isso, a intenção de
evidenciar algumas características a respeito da alteração motora,
evidenciando as causas e ligando a problemas perceptivo-motores.
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METODOLOGIA

A metodologia utilizada para pesquisa, coleta e seleção dos dados pautou-


se em consultas bibliográficas, em material extenso sobre o tema escolhido
para estudo. A pesquisa teve fins descritivo e exploratório, com propósito de
esclarecer a influência da psicomotricidade na disgrafia. A abordagem ao
tema foi feita de forma monográfica.
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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I 9
A PSICOMOTRICIDADE

CAPÍTULO II 24
PROBLEMAS COM DISGRAFIA

CAPÍTULO III 31
A IMPORTÂNCIA DA PSICOMOTRICIDADE EM CASOS DE DISGRAFIA

CONCLUSÃO 36
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 38
ATIVIDADES CULTURAIS 39
ÍNDICE 40
8

INTRODUÇÃO

Para Vítor da Fonseca, "Psicomotricidade é a evolução das relações


recíprocas, incessantes e permanentes dos fatores neurofisiológicos,
psicológicos e sociais que intervêm na integração, elaboração e realização
do movimento humano". Existem outros teóricos da área, que falam da
importância do desenvolvimento motor como precursor de todas as demais
áreas. Porém, a partir da orientação em uma pré-escola é que se pode
constatar a abrangência do significado de todas as definições e de toda a
teoria na prática.
A ausência de espaço e a privação de movimento é uma verdadeira
talidomida da atual sociedade, continuando na família e na escola. A total
não-aceitação da necessidade de movimento e da experiência corporal da
criança põe em causa as atividades instrumentais que organizam o cérebro.

A psicomotricidade do indivíduo desenvolve-se com sua maturação


biológica, seguindo esquemas já conhecidos e definidos por médicos,
biólogos, fisioterapeutas. Os estudos sobre o desenvolvimento humano
parecem seguir esquemas, descrevendo o desenvolvimento normal para que
se possa compreender o diferente.

A psicomotricidade não foge a esta regra quando define os padrões


considerados normais para o desenvolvimento psicomotor desenvolvendo
pontos de referência escalonados a partir dos quais poder-se-ão construir
todos os testes infantis e as escalas de quociente de desenvolvimento; e,
por conseguinte, avaliar e diagnosticar o atraso atual, assim como o
desenvolvimento futuro.

Isto posto, o objetivo desta pesquisa é evidenciar como a


Psicomotricidade pode influenciar no tratamento da disgrafia, apresentando
seus fatores determinantes, indicadores e as principais características
encontradas em crianças disgráficas.
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CAPÍTULO I

A PSICOMOTRICIDADE

1.1 Os movimentos e o conhecimento

Para Piaget (in Goulart, 1991, p. 36) o crescimento individual se dá na


interação com o meio e ocorre por intermédio de dois processos
complementares: a incorporação dos objetos e informações às estruturas
mentais já existentes, e a acomodação que significa uma transformação
adquirida com as informações obtidas através dessas mesmas estruturas
mentais.

O crescimento e o desenvolvimento da inteligência não se esgotam


nesses dois aspectos. Existe também uma relação com a psicomotricidade.
A criança, ao movimentar-se, vai estabelecendo estruturas mentais que lhe
transmitem informações sobre o que está acontecendo em seu espaço
físico, o corpo e o ambiente no qual se encontra.

Segundo Rappaport (1981), a criança está ampliando e


desenvolvendo suas funções intelectuais, quando interage com o meio,
quando age sobre o mundo e sobre os objetos. Essas funções serão
desenvolvidas gradativamente de acordo com sua idade e sua atividade
motora. Pois todo e qualquer movimento que a criança faça e desenvolva é
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registrado pelo cérebro e estes registros desencadeiam conhecimentos que


serão úteis para a futura aquisição de conhecimentos cognitivos.

O ambiente físico e social coloca continuamente a criança diante


de questões que rompem o estado de equilíbrio do organismo e
eliciam a busca de comportamentos mais adaptativos. No caso do
funcionamento mental, as questões podem ser propostas pelo
próprio sujeito do conhecimento. E neste ponto podemos dizer que
Piaget valoriza a curiosidade intelectual e a criatividade, sugerindo
que o ato de conhecer é prazeroso e gratificante tanto para a
criança quanto para o adolescente e o adulto, e se constitui numa
força motivadora para seu próprio desenvolvimento.
(RAPPAPORT, 1981, p. 56)

Isto porque a curiosidade, que é inerente ao ser humano, faz com que
este, ao se interessar por algo, estimule física e mentalmente seu corpo em
direção ao objeto gerador de interesse. Assim serão desencadeadas
estruturas corporais e mensais que, segundo Piaget (in Rappaport, 1981, p.
50), assimilarão e acomodarão o conhecimento necessário para a aquisição
do alvo do que se quer obter ou alcançar. Quando este objetivo é alcançado
gera sensações de prazer ao corpo. Prazer este alcançado com a
visualização e a sensação de algo que foi conseguido com esforço, gerando
também a sensação de alívio e poder de domínio, ou seja, a ultrapassagem
de um obstáculo, a conquista de uma vitória.

Logo, esses esquemas desenvolvem-se continuamente, permitindo


assim, ao indivíduo, uma adaptação à realidade que oferece formas de
comportamento e de pensamento cada vez mais evoluídos.

O que fazer, então, quando ocorrer algum distúrbio que poderá ser
um obstáculo à aprendizagem? Como trabalhar, por exemplo, a
psicomotricidade em caso de disgrafia?

Ao nascer, o ser humano apresenta algumas estruturas já prontas,


definidas, como, por exemplo, a cor dos olhos, dos cabelos, o sexo.
Outras ainda estão por desenvolver. Neste último caso, encontra-
se a parte do sistema nervoso que precisa de condições favoráveis
para o pleno funcionamento e desenvolvimento (OLIVEIRA, 1997,
p. 8)
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E são estas condições favoráveis para o pleno funcionamento e


desenvolvimento do sistema nervoso que os movimentos e as ações da
criança na fase pré-escolar podem ser estimulados por professores,
pedagogos ou profissionais interessados em que a criança tendo um
desenvolvimento psicomotor satisfatório, tenha também, e por conta disso,
um desenvolvimento cognitivo adequado.

No caso da disgrafia, quando estas condições são propiciada fica


mais fácil para se enfrentar o problema.

Conforme coloca Oliveira:

a psicomotricidade, pois, se caracteriza por uma educação que se


utiliza do movimento para atingir outras aquisições mais
elaboradas como as intelectuais. (OLIVEIRA, 1997, p. 9)

As ações, o movimento, a expressão corporal, tudo isso integrado ao


meio ambiente está na dependência de um sistema nervoso. E este sistema
coordena e controla todas as atividades do organismo transmitindo “à
consciência”, que registra tudo o que acontece ao seu redor.

Uma das funções do sistema nervoso é registrar, selecionando as


informações e direcionando-as para as regiões responsáveis que, a partir
daí, emitirão respostas adequadas. Essas respostas serão dadas de acordo
com as experiências de vida de cada criança separadamente. As
experiências nada mais são do que a construção do conhecimento. E este é
individual, ou seja, cada criança construirá o seu. No meio desse processo,
porém, podem haver alguns desajustes como é o que ocorre para causar a
disgrafia.

Ao longo da vida, o corpo registra informações que darão ao indivíduo


uma visão da direção que sua vida irá ter e como esta poderá ser
desenvolvida.

No livro Teorias do Desenvolvimento de Rappaport, pode-se constatar


os estágios sensório-motor e o pré-operacional, à luz da psicologia e toda
sua gênese cognitiva. A interação da criança com o meio social, familiar,
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escolar etc, que a auxiliará na construção do seu mundo. Isso nos dá uma
visão clara da formação psicológica desses estágios.

Cada passo que a criança dá, está impregnado de interesse sobre os


objetos, sobre as coisas e sobre as situações que ela assimila facilmente.
Sua aviosidade está aguçada e atuante em tudo que ela faz e em tudo ao
seu redor. Ela quer conhecer tudo e perguntar sobre tudo. Quer saber
sobre os objetos que alcança, as pessoas que vê, os sons que ouve, as
coisas que sente, que cheira, que come, enfim, nada lhe passa
despercebido.

Ao mesmo tempo, apresenta maior interesse, e ocupa-se mais com


as coisas e com as pessoas que lhe são agradáveis ou com aquilo que lhe
faça bem, que lhe dê prazer, que lhe faça sorrir e brincar.

O reconhecimento dos movimentos corporais vivenciados e


experimentados nas atividades lúdicas, por exemplo, que lhe dão prazer,
serão automaticamente assimilados pelo seu corpo e registrados em seu
cérebro. Isto fará com que a criança fique estimulada a outras atividades
similares ou a repetição dessa mesma brincadeira.

1.2 Origem da Psicomotricidade

“La Psycomotricité est le désir de faire,


du voloir faire, le savoir faire et le
pouvoir faire”

De Fontaine

O termo Psicomotricidade apareceu pela primeira vez com Dupré, em


1920, significando um entrelaçamento entre o movimento e o pensamento.
Desde 1909, ele já chamava a atenção de seus alunos sobre o desequilíbrio
motor, denominado o quadro de debilidade motriz. Verificou que existia uma
estreita relação entre as anomalias motrizes o que levou a formular o termo
psicomotricidade.
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Aristóteles (in Oliveira, 1997, p. 29) já anunciava um primórdio de


pensamento psicomotor quando analisou a função da ginástica para um
melhor desenvolvimento do espírito. Afirmava que o homem era constituído
de corpo e alma, esta última exercendo o comando sobre a primeira.

O pensador grego valorizava bastante a ginástica, pois par ele, ela


servia para “dar graça, vigor e educar o corpo”. A ginástica, para ele, devia
ser desenvolvida até o período da adolescência com exercícios não muito
cansativos, para não prejudicar o desenvolvimento do espírito.

Aristóteles coloca:

É a ginástica que cabe determinar que espécie de exercício é útil a


este ou aquele temperamento, qual o melhor dos exercícios (este
deve ser obrigatoriamente o conveniente ao corpo melhor formado
e que se tenha desenvolvido de maneira mais ampla, mais
completa, e, por fim, o que melhor convém a maior parte dos
indivíduos e que apenas por si seria conveniente a todos, pois nisso
está a função adequada à ginástica. O próprio homem que não
tivesse inveja nem do vigor físico nem da ciência que dá a vitória,
nos jogos atléticos, precisaria ainda do pedotriba e da ginasta para
atingir até o grau da mediocridade com a qual ficaria satisfeito”.
(OLIVEIRA, 1997, p. 29)

Hoje em dia, o homem continua procurando habilidades, exercícios,


ginástica, enfim, atividades que lhe dêem o equilíbrio do qual necessita para
se adaptar às exigências do dia-a-dia. E isso funciona como mecanismos
corporais. O homem, hoje, é exigido mais competitivamente em todos os
setores da vida. E para que essa dinâmica se mantenha equilibrada, ele
busca meios de relaxar e canalizar essa pressão. Mas, para que isto
aconteça, é necessário, preparar, educar o corpo e a mente para exigências
cada vez maiores e diversificadas que a vida apresenta a todo momento. E
o homem adulto, assim como a criança na faixa pré-escolar, adapta-se ao
meio e atua neste através de assimilações e acomodações constantes.
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1.3 Estrutura psicomotora

A criança desde o seu nascimento assimila e acomoda informações


que adquire e absorve do meio em que está exposta. Essas informações
transformam-se em esquemas motores. E, a partir desses hábitos, seus
costumes, seus comportamentos, vão sendo construídos. Cada criança,
desse modo, constrói sua inteligência de acordo com sua maneira de
assimilar e acomodar a realidade. Seu corpo registra, interioriza e
exterioriza, expressando-se através dos seus movimentos.

A psicomotricidade se estrutura e se caracteriza por uma habilidade


que faz uso do movimento para atingir outras aquisições, como a
inteligência. Os movimentos têm e mantém relações diretas com a
inteligência. E essa relação faz com que o indivíduo cresça mais seguro e
mais equilibrado, em harmonia, em sintonia.

O tempo todo estamos expostos a ambientes e situações que


estimulam ou inibem o nosso comportamento. Isso são respostas que o
nosso corpo dá às coisas que o atingem. Ao nascer o ser humano
apresenta algumas estruturas já prontas, outras precisam de condições
favoráveis para seu pleno funcionamento e desenvolvimento. E, uma
dessas estruturas é o sistema nervoso. A criança desenvolve-se
gradativamente em função de sua maturação neurológica. Seus
movimentos corporais em relação a essa maturação neurológica, abrangem
três sistemas: a) piramidal; b) extrapiramidal; c) cerebeloso.

O primeiro deles, o piramidal, é o responsável pelos movimentos


voluntários. Relacionando as idéias às ações (imagens motoras),
capacitando a criança para a abstração.

O segundo, o extrapiramidal, é o controlador dos movimentos


automáticos. Se for afetado, poderá levar a criança a uma ausência de
espontaneidade gestual.
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O terceiro, o cerebeloso, responsabiliza-se pelos movimentos


reflexos. Também regulariza a harmonia o equilíbrio interno do movimento,
mantendo o feedback que irá permitir o reajuste permanente do movimento.

Os três juntos formam o conjunto da gênese do desenvolvimento


corporal, a psicomotricidade. Trabalhando estes três sistemas é possível
desconstruir problemas como a disgrafia.

1.3.1 Desenvolvimento psicomotor

A função motora é a soma das atividades de três sistemas: o sistema


piramidal (que efetua os movimentos voluntários), o sistema extra-piramidal
(que assume a motricidade automática) e o sistema cerebelar (que regula a
harmonia do equilíbrio interno do movimento).

No entanto, o ato motor não pode se restringir ao funcionamento de


sistemas neurológicos justapostos. O indivíduo nasce somente com as
condições anátomo-fisiológicas de seus reflexos. Para que estes reflexos se
tornem atos é preciso que haja a intervenção do meio, sob a forma de
estímulos diversos provenientes do exterior.

O desenvolvimento psicomotor se efetua sob um esquema de leis


determinadas, sendo por isso possível estabelecer-se princípios, tais como:
a aquisição de uma função depende da elaboração de estruturas anatômicas
que lhes são indispensáveis; por isso, a mielinização progressiva do sistema
piramidal é paralela à evolução da motricidade; - o desenvolvimento
psicomotor se faz segundo uma marcha ascendente, conduzindo a
atividades cada vez mais complexas, elaboradas e aperfeiçoadas. No
entanto, esta elaboração não se faz por superposições sucessivas, ao
contrário, cada nova aquisição se integra ao conjunto num processo de
assimilação recíproca; esta evolução se faz no sentido de um
aperfeiçoamento progressivo, de uma maturação, isto é, de alterações e
modificações no organismo que favorecem as condições de
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desenvolvimento, e que vão englobando, paulatinamente, as funções


psíquicas e motoras como um todo.

Mas, o ritmo não é uniforme e contínuo. Como mostrou Wallon, é


possível admitir a existência de uma “lei de variabilidades”, onde é possível
haver progressões rápidas depois de estagnações, e mesmo de verdadeiras
regressões, precedendo uma brusca transformação de todo o conjunto.
Assim reconhece-se nesta progressão mais ou menos contínua, bruscas
mutações, fases capitais, onde uma transformação funcional parece
subitamente surgir. Wallon observou que esta emergência súbita de novas
aquisições parece necessitar de um certo desequilíbrio de todo o conjunto,
antes de poder se integrar. A isto, ele deu o nome de “crises de
desenvolvimento”; - há uma constância marcada quanto à ordem de
sucessão que preside a esta maturação progressiva e à eclosão de novas
funções; - o desenvolvimento se dá sob a dependência de condições
exteriores, ou seja, necessita dos estímulos do meio externo para se realizar
plenamente.

É importante inserir no assunto referente à necessidade desses


estímulos externos, e discutir as relações entre o inato e o adquirido.

Sabe-se que a ausência de estímulos auditivos sensoriais vai


provocar a mudez na criança surda. Igualmente a pobreza de expressão
mímica da criança cega é devida à impossibilidade de imitar expressões
mímicas não percebidas. Em ambos os casos, a criança é capaz de emitir
os mesmos sons e ter as mesmas expressões mímicas emocionais que um
recém-inato normal, porém, a privação dos estímulos sensoriais impede um
desenvolvimento normal.

Também é sabida a importância do meio educativo e cultural no


desenvolvimento da inteligência. É conhecido o caso do “Selvagem
D’Aveyran”, descrito por Itard, que o educou, e cujos trabalhos servem até
hoje como base para a reeducação psicomotora de psicóticos. Casos como
este mostram a importância do meio no desenvolvimento psicomotor.

No entanto, o inato tem também importância fundamental no


desenvolvimento psicomotor, estando na dependência direta de estruturas
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nervosas e do processo de maturação. Há transmissão de potenciais de


conduta que fazem parte da herança filogenética, e que se desenvolvem
com a ajuda do meio ambiente. Assim sendo, a evolução do comportamento
deve ser considerada como uma conseqüência da redução, da
desintegração de comportamentos inatos, de modo que toda a função
adquirida é calçada sobre um comportamento fixo,inato, o qual é modificado
no sentido de uma adaptação ao meio.

1.3.1.1 Etapas evolutivas do Desenvolvimento Psicomotor

Considera-se que não se pode compreender o desenvolvimento da


atividade motriz se somente tivermos em conta o papel dos sistemas
piramidal e extrapiramidal. Hess admite que existem dois tipos de sistemas
relacionados: o sistema teleocinético encarregado de mobilizar as forças que
dirigem os olhos, a cabeça e o corpo para um ponto determinado, e o
sistema ereismático cujo papel é o de preparar a posição de partida e
compensar as forças que podem opor-se à perfeita execução dos
movimentos dirigidos para um fim. Só se pode compreender a ação, se
levarmos em consideração o ponto de partida, o desenvolvimento e o fim
que se pretende conseguir.

O desenvolvimento motor passa esquematicamente por várias fases:


a organização tônica de fundo, a organização proprioceptiva e o
desaparecimento das reações primitivas. Esta etapa não é simplesmente
reflexo; o ser humano nasce somente com as condições anátomo-
fisiológicas de seus reflexos. Para passar a atos, o homem precisa sentir a
resistência do meio em forma de estímulos procedentes do exterior, que vêm
romper seu equilíbrio organizacional. É possível dizer que os atos
engendram reflexos condicionados, que por sua vez os facilitam.

A segunda fase é a da organização do plano motor, em que se passa


da integração sucessiva à integração simultânea. Caracteriza-se por uma
mobilidade espaço-temporal que se aperfeiçoa progressivamente.
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A terceira fase corresponde à automatização do adquirido. Nesta, o


tono e a mobilidade não estão separados. Esta se enriquece mediante
condicionamentos e inibições próprios ou relacionados ao sistema. O
aspecto psicomotor dependerá da forma de maturação motora (no sentido
neurológico), mas também da forma de desenvolver-se, o que podemos
denominar de referências, a saber: o plano construtivo espacial (originado
pela sensoriomotricidade e que, por sua vez, configura a psicomotricidade,
evolução dos planos perceptivo, intelectual e corporal).

Não é possível dissociar a evolução infantil da evolução


sensoriomotora. Difusa e indiferenciada, com a reatividade global inicial, a
motricidade adquire posteriormente sucessivos valores como formas de
contato e expressão, de exploração e utilização. A criança descobre o
mundo dos objetos mediante o movimento e a visão; porém seu
descobrimento dos objetos só será eficaz quando tiver adquirido o conceito
de distância entre ele e o objeto manipulado, e quando este já não tome
parte de sua simples e indiferenciada atividade corporal.

Nos primeiros meses a capacidade motora é muito limitada pela


hipertonia e falta de maturação, que dificultam a dissociação de movimentos.
A evolução motora é proporcional às possibilidades de maturação, ou seja,
força, rapidez e precisão dependerão do grau de maturação, da regulação
do movimento e do progressivo desenvolvimento das capacidades.

Antes que o ato adquira sua total perfeição, se desenvolve já


espacialmente em um terreno livre e não organizado. Nos primeiros
movimentos, a criança é “impulsionada” para um campo cujos limites lhe
são impostos; se formará seu próprio campo por sua própria atuação, e ela o
organizará.

A referência ao corpo unicamente existe na medida em que o possui,


já que o esquema corporal não é um dado, senão uma prática que evolui
com a exploração e a imitação. Mas uma coisa é a ação espacial, e outra é
a representação no espaço, e o mesmo espaço, com seus possíveis objetos
a investigar. Entre a execução de um ato completo e sua representação há
todo um período de transição, que vai desde a simples imitação à operação.
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Para Piaget, os aspectos progressivos do pensamento derivam da


imitação, que assegura a passagem do sensório-motor ao pensamento
representativo. A representação gestual difere da representação
imaginativa. Para esta última, é necessário a atividade simbólica. Sem
dúvida, para Piaget, o pensamento representativo envolve dois aspectos
diferentes: o figurativo e o operativo.

Clinicamente o estudo genético da motilidade se compreende


unicamente segundo sua linha de evolução de movimentos incoordenados a
outras coordenados, e com um objetivo, cujos gestos implicam em um
aspecto figurativo ou operativo.

Em última análise, é um erro estudar a psicomotricidade tão somente


em seu plano motor, empenhando-se no estudo de um “homem puramente
motor”. Isto nos levaria a considerar a motricidade como uma simples
função instrumental puramente realizadora e dependente de forças que lhe
são estranhas.

1.3.2 Estudo analítico do Desenvolvimento Psicomotor

Ao nascer, e durante todo o período neonatal (até a sexta semana de


vida), o recém-nascido apresenta características bastante particulares de
sua psicomotricidade.

Apresenta uma hipertonia geral do tipo fisiológico, que se opõe a uma


hipotonia axial. Tem uma resistência especial, qualquer excitação cria uma
resposta de hipertonia global (cede aos arrancos quando se tenta esticar os
membros que estão geralmente fixos em flexão). A semiologia do tônus do
recém-nascido se baseia na extensibilidade muscular, que, segundo André
Thomás, constitui o maior comprimento que podemos dar ao músculo,
alongando-o de suas inserções.

Apesar de o neonato já apresentar todas as fibras musculares que


terá pelo resto da vida, estas são pequenas em relação ao tamanho. Há um
crescimento contínuo do comprimento, largura e espessura musculares. Os
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músculos corporais estriados ou esqueléticos (voluntários) não se encontram


sob o controle do recém-nascido. No estágio inicial de desenvolvimento, o
recém-nascido não apresenta controle dos músculos ao redor do pescoço e
da cabeça (a cabeça balança seja com o peso ou com os movimentos de
inclinação do tronco), e à medida que, em ritmos variados, diferentes grupos
musculares vão crescendo, há uma tendência geral desses músculos
desenvolverem-se mais cedo do que o dos membros inferiores
(desenvolvimento céfalo-caudal). É o desenvolvimento das forças piramidal
e a mielinização das fibras nervosas que permitem essa evolução.

Os movimentos espontâneos do recém-nato são difusos, anárquicos e


inadaptados. Apresentam-se bilaterais, mas sem simetria, do tipo
“coreiforme”. Predominam ao nível do tronco e das raízes dos membros,
são ativos, com extensões e flexões sucessivas.

A bagagem comportamental do neonato está marcadamente bem


desenvolvida. Ela pode exibir uma variedade de reflexos, alguns
necessários à sua sobrevivência e outros bastante complexos. De modo
geral, são muito importantes para caracterizar a psicomotricidade normal do
recém-nascido. Pode-se distinguir no conjunto desses reflexos, segundo
Zazzo, três tipos de reações adaptação do tono postural, ou realização das
formas elementares de locomoção, e reflexos de orientação no sentido do
estímulo.

1. Reflexo cutâneo plantar – se faz em extensão até o sexto mês.


Nada tem a ver com o sinal de Babinsky; muitas vezes não se
percebe a extensão por causa do movimento constante dos
artelhos.

2. Reflexos osteotendinosos – são constantes, vivos e difusos.


Apesar do recém-nascido não ter reflexos de perseguição ocular,
tem, em compensação, o reflexo fotomotor normal e o de defesa
corneana (a uma excitação mesmo ligeira da córnea, tem-se o
clique palpebral).
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3. Reflexos arcaicos – são também denominados reações de


automatismos primários. Eles permitem a constituição de uma
série de testes de avaliação do estado neurológico do recém-
nascido, pois são capazes de caracterizar um equilíbrio normal
quanto à psicomotricidade primitiva.

No entanto, o aparecimento desses elementos do desenvolvimento


não basta. É preciso que tais reações desapareçam num certo prazo, pis
sua persistência além de uma certa idade, também assinala um atraso no
amadurecimento da criança, já que a aquisição de novas reações só é
possível com o desaparecimento desses reflexos primitivos, no decorrer dos
primeiros meses.

Os mais importantes são:

Reflexo de Moro: constitui uma resposta estereotipada de extensão


bilateral dos meios superiores, com abdução dos braços, seguida de um
movimento de abraçar, de um retorno dos braços à linha mediana. É
desencadeado por estimulações bruscas.

Reflexo tônico dos flexores ou “grasping reflex”: ao nível da mão,


é obtido por estimulação da palma ou da face palmar dos dedos e provoca o
fechamento da mão, numa verdadeira apreensão, que faz com que o recém-
inato segura muito solidariamente o objeto que serviu de estímulo; ao nível
do pé, é menos intenso e obtém-se estimulando-se a face plantar dos
artelhos. Essa apreensão dos dedos dos pés pode, contudo, se misturar ao
cutâneo plantar, que, no entanto, dá uma resposta contrária, em extensão.

Reflexos labiais de sucção e de deglutição: a introdução de um


objeto na boca provoca logo um movimento de verdadeira sinergia funcional
entre os movimentos dos lábios e da língua. Quando os lábios se fecham, é
o reflexo de sucção propriamente dito; quanto ao reflexo de deglutição, este
produz-se ao contato dos alimentos.

Reflexo de marcha ou de empertigamento: é a marcha automática


do recém-nascido quando sustentado pelas axilas, estando em posição
vertical e as plantas dos pés bem apoiadas no chão. Se o corpo é inclinado
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para frente, simultaneamente observa-se movimentos de flexão e de


extensão dos membros inferiores, que propulsionam o corpo neste sentido.
Este esboço de marcha é puramente automático, monótono e não corrigido
pela visão, nem pelo labirinto.

Reflexo de galant ou reflexo de encurvamento do tronco: quando


a criança está em suspensão ventral, o estímulo de uma zona cutânea da
região dorso-lombar provoca uma concentração dos músculos para-
vertebrais correspondentes, se traduzindo por um encurvamento do tronco
em arco de círculo. Este reflexo é considerado nociceptivo, uma reação que
permite evitar uma sensação desagradável.

Reflexos nocioceptivos, o alongamento cruzado: excitando-se a


planta do pé da criança, estando a sua perna estendida, a outra perna
dobra-se e o pé desloca-se na direção da zona excitada. Esse reflexo
aperfeiçoa-se no decurso do desenvolvimento da criança, e paralelamente à
integração do esquema corporal.

Reflexo de transposição: mantendo-se a criança em posição vertical


e o peito de um de seus pés em contato com a borda da mesa, ocorre que
eu pé se eleva, colocando-se por cima da mesa.

Reflexo de passagem do braço: investiga-se esse reflexo


colocando-se a criança de barriga para baixo e o rosto apoiado contra a
mesa. Num primeiro momento, a criança volta a cabeça; num segundo
tempo, ela flete o brço correspondente à orientação de seu rosto e coloca a
mão de frente da boca. Na maioria das vezes, a ausência desse reflexo
denuncia uma deficiência neurológica, mas também é possível que esteja
apenas vinculada a distúrbios periféricos relacionados ao tono muscular.

Reflexo de “fossar” ou “rooting reflex”: é considerado um reflexo


de orientação do bebê procurando o seio materno. Spitz foi quem deu a
este reflexo o nome de reflexo de “fossar”, que se manifesta na criança
alimentada ao pleito, pela resposta de “tomar o mamilo na boca”. Pode-se
designar sob esta classificação, na verdade, dois reflexos: -a estimulação
da pele em redor da boca, a criança volta-a diversas vezes, primeiro para o
lado estimulado, depois para o outro, até que para do lado estimulado; -
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quando é limitada a zona de estimulação, obtém-se uma lenta rotação da


cabeça do lado estimulado.

Reflexos dos “olhos de boneca”: fazendo-se com que a cabeça do


recém-nascido descreva uma rotação, conservando os olhos abertos,
observa-se que seus globos oculares deslocam-se lateralmente, no sentido
inverso ao da rotação, e depois retornam à sua posição inicial. Esse reflexo
dificilmente é obtido porque o recém-inato não mantém os olhos abertos por
muito tempo ou fecha-os ao menor contato. O reflexo de olhos de boneca
constitui o único dos acima relacionados que não parece entrar na
classificação de Zazzo, quanto aos três tipos de reações possíveis no reflexo
já citado anteriormente. No entanto, ele pode ser considerado, como os
demais, um critério de maturação, pois a persistência de reflexos arcaicos
para além de uma certa idade é, como vimos, de ordem patológica.

Todos esses reflexos arcaicos vão se atenuando até o fim da quarta


semana, e desaparecem totalmente antes da décima segunda semana.
Representam uma psicomotricidade primitiva, ponto de partida do
desenvolvimento psicomotor, à medida em que constituem uma
manifestação o tono de fundo, o qual será, sem dúvida, determinante para a
aquisição das aprendizagens.
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CAPÍTULO II

PROBLEMAS COM DISGRAFIA

2.1 Relação entre fala, leitura e escrita, como parte do mesmo


sistema

A fala, a leitura e a escrita não podem ser consideradas com funções


autônomas e isoladas, mas sim como manifestações de um mesmo sistema,
que é o sistema funcional da linguagem.

A aprendizagem da fala e, conseqüentemente, da leitura e da escrita é


um processo progressivo, no qual a criança vai internalizando experiências
auditivas, verbais e visuais, diferenciando sons e símbolos, uns dos outros,
atribuindo-lhes significados e armazenando-os na memória.

A escrita é uma das formas mais elevadas da linguagem, que vai além
da decodificação gráfica, tarefa por si só extremamente complexa. Implica na
compreensão de que conjuntos de traços visuais possuem valores simbólicos.
Discorrer sobre suas alterações, talvez seja a tarefa mais árdua no campo da
fonoaudiologia, considerando as controvérsias e os diferentes princípios das
linhas de tratamento.
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Em relação ao aprendizado da leitura e da escrita, a necessidade de um


processo diagnóstico é determinada pela existência de sintomas e sinais de
alterações que comprometam, num sentido estrito, a forma e, num sentido
amplo, a funcionalidade da comunicação gráfica.

O tratamento dos distúrbios do aprendizado, da leitura e escrita implica


num grande desafio.

Através de experiências constatou-se que o sucesso da criança na


aprendizagem da leitura e da escrita depende do seu amadurecimento
fisiológico, emocional, neurológico, intelectual e social.

A criança aprende a falar naturalmente do grupo em que vive. À escola


cabe desenvolver a linguagem oral que o aluno traz, através da atividade
pedagógica, que deve garantir a aprendizagem da leitura e da escrita.

A decisão do que denomina distúrbio do aprendizado da leitura e da


escrita, deveria partir do conhecimento real das condições individuais de
aprendizagem.

Para que a criança adquira os símbolos gráficos, precisa ter uma perfeita
integridade sensorial e que seja capaz de integrar experiências não-verbais,
isto é, diferenciando um símbolo do outro, atribuindo-lhe significado e retendo-
o.

Existe uma grande necessidade em resgatar, em nossas escolas, a


prática da leitura por prazer, sem cobranças e exigências. Para isso, torna-se
necessário o manuseio de livros em sala de aula, para que sejam
desenvolvidos os aspectos sensoriais, emocionais e intelectuais da leitura, de
maneira racional e dinâmica, pois as cópias de palavras ou frases exaustivas
não acrescentam em nada. A criança aprende a ler lendo.

A escrita é uma das formas superiores de linguagem; requer que a


pessoa seja capaz de conservar a idéia que tem em mente, ordenando-a numa
determinada seqüência e relação.

Escrever significa relacionar o signo verbal, que já é um significado, a


um signo gráfico. É planejar e esquematizar a colocação correta de palavras
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ou idéias no papel. O ato de escrever envolve, portanto, um duplo aspecto: o


mecanismo e a expressão do conteúdo ideativo.

Quando a criança já tem o significado do objeto interiorizado, seu


processo de escrita fica mais fácil. Como existe sempre relação entre a palavra
impressa e o som, a criança precisa primeiro aprender a ler para depois
escrever.

A escrita como representação da linguagem oral passa por diferentes


estágios de desenvolvimento, que acabam sendo caracterizados pela atividade
gráfica. Sendo assim, a evolução gráfica da criança é resultado de uma
tendência natural, expressiva, representativa, que revela o seu mundo
particular.

Encontramos basicamente três tipos de distúrbios na escrita: disgrafias,


disortografias e erros de formulação e sintaxe.

2.2 Disgrafia – o que é?

A escrita é a mais complexa forma de expressão da linguagem. Para


sua aquisição são necessários vários requisitos, entre eles destaca-se a boa
integridade da linguagem auditiva, da memória, da coordenação motora em
geral e óculo-manual em particular. O aprendizado da linguagem escrita exige
que a criança seja capaz de memorizar e ordenar em seqüência determinada
idéia, deve também, estar apta a planejar e esquematizar a colocação das
palavras em um espaço demarcado, a selecionar e usar formas aceitáveis para
as letras. Estas habilidades estão em um grau de maturação satisfatória,
geralmente, por volta dos seis anos de idade, época ideal para se iniciar o
processo de aquisição da linguagem escrita.

Devido à sua complexidade, a escrita é a última forma de linguagem


aprendida. Sendo assim, qualquer desordem nas demais manifestações de
comportamento verbal, afetam-na diretamente. Há entretanto, distúrbios que
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só ocorrem no processo de aquisição da escrita. Entre eles destacam-se as


chamadas disgrafias.

A disgrafia é uma perturbação resultante de um distúrbio na integração


visual motora. Isto não significa que haja uma alteração no sistema visual ou
motor. O que existe ë a incapacidade de transmitir informação de um sistema
para o outro. Portanto, a criança vê os símbolos, mas não consegue transpô-
los para o plano motor. Ela é incapaz, inclusive de fazer cópias, esta é a
principal característica que a diferencia da criança disléxica.

A disgrafia pode afetar o desempenho na aritmética, onde a dificuldade


pode se refletir na escrita dos números ou em seu alinhamento no papel, na
compreensão de conceitos de espaço, distância e tempo. Existe, entretanto,
caos de bom rendimento em aritmética, principalmente quando as questões
podem ser respondidas de forma oral.

Em casos de disgrafia mais severos a criança não consegue, nem


mesmo segurar o lápis de forma correta. Em outros casos as crianças são
capazes de fazer desenhos simples, mas não sabem como fazer cópias.
Quando os disgráficos conseguem reproduzir uma palavra de maneira legível,
é comum que ocorra distorções nas seqüências de movimentos enquanto
escrevem.

Para desenvolver um trabalho educacional com disgráficos, é


necessário, primeiramente, observar cuidadosamente o que a criança
consegue fazer, como é seu processo de aprendizagem e onde estão suas
maiores dificuldades. Algumas destas dificuldades podem ser extremamente
simples, como segurar inadequadamente o lápis, posicionar o papel de forma
incorreta, ou até, ter uma má postura na carteira. Só através da observação
sistemática de como a criança desempenha uma tarefa, é que se obterá um
diagnóstico confiável, além disso, esse método fornece informações valiosas
sobre quais os canais sensoriais serão mais úteis no decorrer do tratamento.

Disgrafia é quando a criança encontra dificuldade em passar para a


escrita o estímulo visual da palavra impressa. Escreve lentamente o
geralmente ilegível.
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A criança disgráfica não apresenta problema visual, motor, nem qualquer


comprometimento intelectual ou neurológico, mas não idealiza no plano motor
o que captou no plano visual.

São diversos os níveis de disgrafia, desde a incapacidade de segurar um


lápis ou de traçar uma linha até a apresentada por crianças que são capazes
de fazer desenhos simples, mas não de copiar figuras ou palavras mais
complexas.

As crianças mais velhas reproduzem uma palavra, mas conseguem


distorcer os movimentos quando escrevem.

Entre os principais tipos de disgrafia apresentadas, estão:

- Margens mal feitas ou inexistentes;

- Espaço irregular entre palavras, linhas e entre linhas;

- Traçado de má qualidade;

- Distorção da forma das letras o e a;

- Substituição de curvas por ângulos;

- Movimentos contrários o da escrita convencional;

- Separações inadequadas das letras;

- Ligações defeituosas de letras na palavra;

- Irregularidade no espaçamento das letras na palavra;

- Direção da escrita oscilando para cima ou para baixo;

- Dificuldade na escrita e no alinhamento dos números na página.

O professor pode ajudar seu(s) aluno(s) com problema de escrita, se


fizer um trabalho paciente e constante que envolva três itens: a observação, o
contato com os pais e suas próprias atitudes frente ao distúrbio detectado.

A observação permite o levantamento do problema. É preciso que seja


constante e o professor deve estar atento, não somente aos aspectos de
linguagem, mas também às características físicas, ao comportamento e à
atitude da criança. Ele deverá observar a emissão dos fonemas, o grau de
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expressão do aluno, o vocabulário que possui e, o desenvolvimento motor, a


capacidade de atenção e a maneira como a criança se relaciona socialmente.

O contato com os pais fornecerá dados sobre o modo de vida da


criança, que oportunidades ela tem de desenvolver seu vocabulário juntamente
com os familiares, se a disciplina é rígida a ponto de não permitir a livre
expressão de sua linguagem, se existem outras pessoas com defeito de fala e
escrita na família, se há irmãos menores e a relação do aluno com eles.

Esse contato muitas vezes revela fatores de origem da deficiência e, ao


mesmo tempo, oferece ao professor a oportunidade de orientar os pais a
respeito.

As atitudes do professor podem minimizar o problema ou agravá-lo. Seu


papel é muito importante na integração do aluno, porque a criança com defeitos
de fala e da escrita é mais suscetível a conflitos emocionais.

As crianças canhotas ou até mesmo aquelas que não apresentam


dominação lateral definida estão sujeitas à disgrafia. Para isso deverão ser
orientadas sobre a postura do corpo, a posição do papel e a apreensão do
lápis.

Existe, também, a chamada Distortografia que é quando a criança não


consegue transcrever corretamente a linguagem oral, troca a ortografia,
confundi-las letras mas não altera a qualidade do traçado das letras.

Durante a 1a e 2a séries a troca ortográfica é normal porque a relação


entre a palavra impressa e os sons não está totalmente dominada.

A criança com disortografia apresenta confusão de letras (f/v), (na/a),


confusão de sílabas com tonicidade semelhante (cantarão/cantaram) e
confusão de letras simétricas (b/d) e (p/q) ou semelhantes: e/a, b/h, t/f,
confusão de palavras com configurações semelhantes: pato/pelo e uso de
palavras com um mesmo som para várias letras: casa/caza, exame/ezame.

Além dessas trocas podem surgir dificuldades em recordar a seqüência


dos sons das palavras que são elaboradas mentalmente, surgindo então
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omissões, adições, inversões, fragmentações, junções e contaminações, na


palavra de uma letra por outra próxima.

Podemos estimular a criança disortográfrica através de quadros com o


alfabeto, números ou famílias silábicas para que ela possa utilizá-los no
decorrer do seu trabalho escrito.
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CAPÍTULO III

A IMPORTÂNCIA DA PSICOMOTRICIDADE EM CASOS


DE DISGRAFIA

A psicomotricidade, como visto é uma forma de trabalho pedagógico que


privilegia o movimento no estabelecimento de novas aquisições mais
complexas.

Portanto, ela é importante em um trabalho educacional no caso de


disgrafia. A psicomotricidade pode então ser utilizada como trabalho
pedagógico, enfocando desenvolvimento psicomotor da criança, e sua com a
desconstrução da disgrafia. Pode-se perceber que o desenvolvimento
psicomotor da criança, e as dificuldades de aprendizagem estão intimamente
ligadas. Em seu trabalho, Gomes (1998) apresenta uma série de questões
sobre as causas da dificuldade na aprendizagem de alguns alunos, sendo que
muitas vezes, essas decorrem de dificuldades relacionadas ao
desenvolvimento cognitivo e psicomotor, como é o caso da disgrafia. Os
professores, por sua vez, procuram desenvolver nas crianças habilidades
psicomotoras como lateralidade, esquema corporal e estruturação espaço-
temporal? Como eles são preparados pra isso?

Le Boulch (1998) enfatiza

a necessidade da educação psicomotora baseada no movimento,


pois acredita ser esta preventiva, assegurando que muitos dos
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problemas de alunos, detectados posteriormente e tratados pela


reeducação, não ocorreriam se a escola desse atenção à
educação psicomotora, juntamente com a leitura, a escrita e a
aritimética. O autor considera a psicomotricidade um importante
elemento educativo, como um instrumento indispensável para
aguçar a percepção, desenvolver formas de estimular a atenção e
estimular processos mentais. (LE BOULCH apud GOMES,
1998 p. 16)

Sendo assim, como podem os professores prevenir futuros


problemas de aprendizagem, como o propiciado pela disgrafia, trabalhando
com a psicomotricidade?

Segundo Lapierre e Le Boulch (OLIVEIRA, 1992) a


psicomotricidade deve ser uma formação de base indispensável para toda
criança, pois oferece uma melhor capacitação ao aluno para uma maior
assimilação das aprendizagens escolares. Um bom desenvolvimento
psicomotor proporciona ao aluno algumas capacidades básicas para um bom
desempenho escolar.

A atenção voltada a um trabalho de psicomotricidade pode


verificar um problema como a disgrafia, em tempo hábil, sendo capaz de
possibilitar a capacidade de aprendizagem prejudicada por este problema.

Como vimos disgrafia é a dificuldade (parcial), porém não na


impossibilidade para a aprendizagem da escrita de uma língua.

Assim, de acordo com a divisão tradicional, a disgrafia se subdivide em:

a) disgrafia específica - não estabelece uma relação entre o sistema


simbólico e as grafias que representam os sons, as palavras e as
frases. A isto denomina-se simplesmente disgrafia.

b) disgrafia motora - ocorre quando a motricidade está particularmente


em jogo, mas o sistema simbólico não. A isto denomina-se
discaligrafia, entendendo-a não somente como o resultado de uma
alteração motora, mas também de fatores emocionais (restrição do
eu etc.), o que altera a forma da letra.
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Os indicadores que se consideram para a disgrafia recebem os mesmos


nomes que os indicadores de dislexia, apenas observa-se que na primeira
estes ocorrem na escrita (inversão, substituição, traslação, omissão, agregado
etc.) e, na segunda, na leitura.

Alguns indicadores de disgrafia são:

- inversão de letras

- inversão de sílabas

- inversão de números

- substituição de letras

- substituição de sílabas

- substituição de palavras

- substituição de números

- omissão de letras

- omissão de sílabas

- omissão de números

- dissociação de palavras

- contaminação de letras

- contaminação de sílabas

- contaminação de palavras

O termo disgrafia motora (discaligrafia) consiste na dificuldade de


escrever em forma legível. Os indicadores mais comuns da discaligrafia são:

- micrografia

- macrografia

- ambas combinadas

- distorções ou deformações

- dificuldades nos enlaces


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- traçados reforçados, filiformes, tremidos

- inclinação inadequada

- aglomerações

Nesse caso, a criança consegue falar e ler e as dificuldades ocorrem na


execução de padrões motores para escrever letras, números ou palavras.

Pode ocorrer defeito motor ou apenas a nível de integração (neste caso


a criança vê a figura mas não sabe fazer os movimentos para escrever as
letras).

Os casos em que ocorre um distúrbio importante da integração visuo-


espacial e motricidade representam disfunção a nível do lobo parietal e frontal.
Quando há dificuldade apenas na produção de uma letra proporcional e legível,
a disfunção ocorre predominantemente no lobo frontal ou no cerebelo. Alguns
autores chamam este último quadro de discaligrafia ou disgrafia motora.

Um trabalho psicomotor preventivo pode diminuir a incidência dos


problemas de aprendizagem causados pela disgrafia.

Principais características encontradas em crianças disgráficas:

a) Má organização da página: este aspecto está intimamente ligado à


orientação espacial. A crianças com dificuldades em organizar
adequadamente sua escrita numa folha de papel, apresenta um
distúrbio de orientação espacial. Sua escrita caracteriza-se pela
apresentação desordenada do texto com margens mal feitas ou
inexistentes, espaços entre palavras e entre linhas irregulares e,
escrita ascendente ou descendente.

b) Má organização das letras: a característica principal deste aspecto é


a incapacidade da criança em submeter-se às regras caligráficas. O
traçado apresenta-se de má qualidade, as hastes das letras são
deformadas, os anéis empelotados, letras são retocadas, irregulares
em suas dimensões e atrofiadas.
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c) Erros de formas e proporções: refere-se ao grau de limpeza do


traçado das letras, sua dimensão (demasiado pequena ou
demasiado grande), desorganização das formas e, escrita alongada
ou comprida.

Como vimos, a disgrafia é uma alteração da escrita normalmente ligada


a problemas perceptivo-motores. Portanto, um trabalho pedagógico que leve
em consideração a psicomotricidade é importante para a desconstrução da
disgrafia, pois evidenciará um trabalho com movimentos, os quais auxiliarão na
construção ou reconstrução de processos cognitivos perturbador por alguns
fatores.
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CONCLUSÃO

De acordo com o que foi estudado, verificou-se que, através do


movimento, a criança faz conexões mentais, as quais lhe proporcionam
informações sobre o espaço que ocupa e sobre o seu próprio corpo. Logo,
depreende-se desse fato, que ao receber tais informações, a criança está
sofrendo algum tipo de desenvolvimento. Portanto, a psicomotricidade é fator
também determinante para o amadurecimento da inteligência e do crescimento
individual.

Ocorre, como visto, que ao movimentar-se a criança interage com o


meio e os movimentos realizados são registrados no cérebro, propiciando o
desenvolvimento de conhecimentos úteis para novos processos cognitivos.

A psicomotricidade, então, pode ser utilizada para que, por meio da


realização de movimentos, a criança consiga atingir outros desenvolvimentos,
como é ocaso da cognição.

Todos os movimentos corporais serão, desse modo, registrados pelo


sistema nervoso do indivíduo, de forma individual, contribuindo para a
construção do conhecimento.

Contudo, por um motivo ou por outro, a criança, ao longo do seu


desenvolvimento, pode apresentar algum desajuste, com várias causas, como
ocorre no caso da presença de disgrafia.

A disgrafia é, problema apresentado por algumas crianças, que se define


por ser uma incapacidade de se transmitir informações do sistema visual para o
motor, que afeta a escrita.
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O tratamento desse tipo de problema pode ser realizado com a


interferência das bases da psicomotricidade, em que se privilegie os
movimentos para a correção e aquisição de outros conhecimentos.
Através de um trabalho que utilize a realização de movimentos, as
deficiências na escrita ocorrentes em casos de indivíduos acometidos de
disgrafia podem diminuir e, até mesmo, se corrigir por completo.
Nesse caso, estará sendo dada importância à relação dos processos
motores na aquisição de processos cognitivos.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Psicomotricidade e Educação. Trad.: Marcia Lewis; Porto Alegre: Artes
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39

NASCIMENTO, L. S. e MACHADO, M. T. C.- Psicomotricidade e


Aprendizagem. Rio de Janeiro: Enelivros: 1986.

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pesicopedagógico. Petrópolis: Editora Vozes, 1997.

RAPPAPORT, C R. Psicologia do Desenvolvimento - A Infância Inicial: O


Bebê e Sua Mãe. São Paulo: EPU, 1981.

SOUZA, I, S. Psicologia – aprendizagem e seus problemas. São Paulo:


José Olympio, 1972.

TEBEROSKY, A. Psicopedagogia da linguagem escrita. Petrópolis: Vozes,


1993.
40

ATIVIDADES CULTURAIS
41

ÍNDICE

FOLHA DE ROSTO 2
AGRADECIMENTO 3
DEDICATÓRIA 4
RESUMO 5
METODOLOGIA 6
SUMÁRIO 7
INTRODUÇÃO 8

CAPÍTULO I
A PSICOMOTRICIDADE 9

1.1 Os movimentos e o conhecimento 9


1.2 Origem da Psicomotricidade 12
1.3 Estrutura Psicomotricidade 14

1.3.1 Desenvolvimento Psicomotor 15

1.3.1.1 Etapas evolutivas do desenvolvimento psicomotor 17


1.3.1.2 Estudo analítico do desenvolvimento psicomotor 19

CAPÍTULO II
PROBLEMAS COM DISGRAFIA 24

2.1 Relação entre fala, leitura e escrita, como parte do mesmo sistema 24
2.2 Disgrafia – O que é? 26

CAPÍTULO III
A IMPORTÂNCIA DA PSICOMOTRICIDADE EM CASOS DE DISGRAFIA 31

CONCLUSÃO 36
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 38
ATIVIDADES CULTURAIS 39
ÍNDICE 40
FOLHA DE AVALIAÇÀO 41
42

FOLHA DE AVALIAÇÃO

Nome da Instituição: Universidade Candido Mendes

Projeto: A Vez do Mestre

Pós-Graduação “Lato Sensu”

Título da Monografia: A Influência da Psicomotricidade na Disgrafia

Orientadora: Professora Mary Sue

Autor: Barbara Conceição Azevedo de Freitas

Data da entrega: Julho/2004

Avaliado por: ___________________________________ Conceito: _______

Conceito Final: _______________

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