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A EVASÃO E SUAS CAUSAS NO ÂMBITO DA UNIVERSIDADE

FEDERAL DO CARIRI - UFCA

Maria Tereza Escariolano Santos 1


Cícera Edilânia Araújo Januário2
Denise Gomes de Sá 3
Fernanda Isméria Ferreira Maia 4
Ana Carmita Bezerra de Souza 5

INTRODUÇÃO

Os estudos sobre a evasão escolar têm se tornado muito frequentes nas pesquisas
educacionais (TINTO, 1975; MOEHLECKE, 2007; LOBO, 2012; FRITSCH & VITELLI,
2016). A palavra evasão, oriunda do Latim evasio, foi utilizada em meados do século XV,
para designar a ação de abandonar algo, desistência. As nomenclaturas utilizadas para
referenciar esse termo, variam de acordo com cada estudioso, embora sempre direcionadas ao
fato da não finalização de um curso, treinamento ou qualquer modalidade educacional que
conduza o alunado a um determinado conhecimento específico. (FIALHO, 2014). Seguindo
este mesmo sentido, para a Comissão Especial de Evasão do Ministério da Educação (1996),
o aluno evadido é aquele que deixou o curso em qualquer fase, sem concluí-lo.
Não é de hoje que a evasão tem sido uma preocupação nas escolas e universidades
públicas e privadas do país. Suas causas e consequências vêm sendo debatidas pela Secretaria
de Educação Superior do Ministério da Educação e Cultura SESU/MEC desde fevereiro de
1995, por ocasião do “Seminário sobre evasão nas universidades brasileiras” que culminou
com a formação da supracitada comissão. Somando-se a esta preocupação, esta é uma
pesquisa sobre evasão no ensino superior na Universidade Federal do Cariri (UFCA), que tem
como objetivo investigar as causas ou motivos de tal fenômeno com estudantes que evadiram
durante o primeiro ano do curso, ou, nos dois semestres iniciais. Com isso, pretende-se
construir um banco de informações sobre os estudantes evadidos entre os anos de 2019 e
2020, mapeando as causas do abandono a partir de suas falas; traçando o perfil social dos
estudantes que evadem. As informações obtidas com a pesquisa de campo, permitirá
identificar e analisar com cautela a realidade de permanência na universidade e propor
intervenções mais eficientes em curto, médio e longo prazos, que se baseiam em reflexões de

1
Graduanda do Curso de Letras Libras da Universidade Federal do Cariri- UFCA, escariolanomt@gmail.com;
2
Especialista(em andamento) da Universidade Regional do Cariri - URCA, edilaniaaraujo2001@gmail.com;
3
Graduada pelo Curso de Pedagogia pela Universidade Federal do Piauí - UFPI, denigomessa@gmail.com;
4
;Graduanda do Curso de Engenharia Civil da Universidade Federal do Cariri – UFCA,
fernandaifmaia@gmail.com
5
Professor orientador: doutora, Universidade Federal do Ceará - UFC, ana-carmita.souza@ufca.edu.br. .

Trata-se de um projeto de pesquisa pertencente ao Programa de Iniciação Científica da Universidade


Federal do Cariri (UFCA) e pelo Grupo de Pesquisa Interdisciplinar em Ciências da Natureza,
Tecnologia e Educação (INCINATE) vinculado à mesma Instituição. identificar e analisar com cautela
a realidade de permanência na universidade e propor intervenções mais eficientes em curto, médio e
longo prazos, que se baseiam em reflexões de cunho político, sociológico, psicológico e pedagógico
sobre as causas da evasão na Universidade
cunho político, sociológico, psicológico e pedagógico sobre as causas da evasão na
Universidade.

METODOLOGIA

Esta é uma pesquisa de cunho qualitativo, que reúne dados apresentados de forma
numérica, apontando preferências, comportamentos ou outras ações do indivíduo de
determinado grupo da sociedade. A pesquisa será feita através de um Estudo de caso, que para
Yin (2005), é uma investigação empírica que investiga um fenômeno contemporâneo dentro
de seu contexto na realidade, pois possibilita penetrar numa realidade social, em que não seria
conseguida plenamente por um levantamento amostral e avaliação exclusivamente
quantitativa.
Os sujeitos da pesquisa serão os estudantes que ingressaram em 2019.1, e evadiram
nos dois semestres subsequentes. A partir de dados estatísticos sobre evasão por cursos,
obtidos junto a Pró-reitora de Graduação - PROGRAD, buscar-se-á o contato telefônico e
eletrônico destes sujeitos para que respondam a um questionário sobre os motivos da sua
saída.
O trabalho terá como foco inicial, pesquisar o número de evadidos nos cursos da
UFCA durante o primeiro ano de graduação. Questiona-se o que motiva o estudante a desistir
do curso nos semestres iniciais, quando ainda está conhecendo a instituição? Em um segundo
momento, buscaremos conhecer as razões que conduziram o aluno a abdicar desses estudos, a
partir da Praxiologia, oriunda dos estudos de Pierre Bourdieu (1996), que analisa as ações,
causas e normas que conduzem os seres humanos. Os instrumentos de coletas de informações
para realização das análises, serão: a) Análise da variação numérica de matrículas semestrais
disponibilizados pela PROGRAD; e b) Aplicação de questionários semiabertos com
estudantes evadidos, no período de 2019 a 2020, que será intermediado por informações
obtidas com a mesma Pró-Reitoria.

DESENVOLVIMENTO

Embora o sistema educacional brasileiro atualmente conte com políticas públicas que
oferecem alimentação, monitorias e atividades de cunho social para estudantes de escolas
públicas da educação básica, em 2017, a taxa de alunos evadidos com faixa etária escolar
chegou a 1,3 milhões, causando assim um desperdício de R$124 bilhões. Esses dados são
preocupantes e exigem análises acuradas, não apenas pelo valor financeiro desperdiçado, mas,
porque, pessoas mais escolarizadas se dão melhor no mercado de trabalho, envolvem-se
menos com crime, têm saúde mais robusta, desenvolvem famílias mais estáveis e planejadas e
engajam-se mais nos assuntos públicos (BARROS, 2019).
Stearns e Glennie (2006) apud Figueiredo e Salles (2017), determinaram alguns
motivos que levam a evasão a partir das diferenças de idade, série, gênero e etnia, por meio de
teorias que distinguem dois tipos de fatores de evasão: os pull-out (puxar) e os push-out
(empurrar). Em primeiro lugar, os pull-out representam o grupo de fatores de evasão externos
às escolas, assim como família e oportunidades de emprego. De acordo com esses estudos,
afirmam que estudantes do sexo feminino e/ou aqueles não pertencentes à raça branca têm
maior tendência a deixar a escola por responsabilidades familiares, ao passo que estudantes do
sexo masculino, em especial os mais velhos, tendem a abandonar os estudos por razões de
emprego. Já os fatores push-out, trazem à tona elementos escolares que desestimulam os
alunos a prosseguirem com seus estudos, problemas envolvendo infraestrutura e Política
Pedagógica da escola.
Em relação aos fatores internos à escola como determinantes da evasão escolar,
Bourdieu & Passeron (1975) dialogam sob a perspectiva de que a escola seria a responsável
pelo sucesso ou insucesso dos alunos, já que avaliam esta instituição como aparelho
ideológico de Estado e seu caráter reprodutor, que desconsidera o capital cultural dos
estudantes envolvidos. Por outro lado, a falta de engajamento com as aulas, a precariedade no
serviço público educacional, professores que não se sentem valorizados ou não qualificados
para envolverem uma turma onde há carência, desestímulo familiar ou financeiro, são alguns
dos inúmeros fatores que podem também contribuir para a evasão escolar. Para Araújo &
Santos (2012) somam-se a outros fatores internos o fato da escola não-atrativa:
de currículos desatualizados, da falta de apresentação do perfil do curso e de sua
importância para o mercado, da falta de apresentação da demanda em
empregabilidade na área do aluno, da falta de ações pedagógicas em disciplinas com
altas taxas de retenção, da falta de apresentação coerente dos critérios e do sistema
de avaliação do desempenho do aluno, da falta de formação didático pedagógica dos
professores, de professor desmotivado, de poucas visitas técnicas, de pouca ou
nenhuma aula prática, de pouca divulgação de vagas de estágio, da falta de parcerias
e convênios com empresas para o estímulo da aprendizagem contextualizada, da
falta de estágios e empregos aos alunos, da falta de adequação de plano de carreira
do professor, da falta de estrutura na escola, da falta de laboratórios, de
equipamentos de informática, de recursos humanos para apoio aos alunos, como
psicólogos, assistentes sociais, orientadores educacionais, além de apoio e reforço
para os alunos com dificuldades. (ARAÚJO & SANTOS, 2012, p. 8).

Em outra perspectiva, Machado et. al (2005) complementa que o primeiro ano do


curso é a etapa determinante do processo de evasão e que as medidas para deter a desistência
devem ser tomadas nos dois primeiros semestres. Nessa sequência, Brissac (2009) em sua
dissertação apresenta pesquisas sobre o nível escolar dos pais do indivíduo. Quando estes são
graduados, os alunos são menos propensos a evadir, pois têm apoio e segurança familiar em
todo período letivo. Ainda assim, deve-se haver preocupação em relação aos filhos não
atenderem às expectativas familiares, sendo frequentemente pressionados a aceitarem o curso
ou a instituição que lhe é imposta desde a infância, adquirindo problemas como depressão
e/ou ansiedade. Sabe-se que as doenças psicológicas estão acometendo maior parte do público
jovem do século XXI, e são pré-existentes mesmo antes do ingresso na universidade, e nesse
caso a ideia defendida por Tinto (1975) em seus estudos, é que as características psicológicas
do estudante, o apoio familiar e a vivência escolar são aspectos que cooperam para a
permanência do universitário.
Em 2017, na Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), os dados obtidos pela Lei
de Acesso à Informação denunciaram 22 tentativas de suicídio nos últimos 5 anos, somado a
isso outras informações coletadas na Universidade Federal do ABC Paulista (UFABC)
mostraram que 11% dos seus alunos trancaram a matrícula por problemas psicológicos.
Estudantes com carga horária excedente, professores incompreensivos, desmotivadores,
preocupação em tirar notas boas e o medo do que lhe espera após a graduação, são as
principais causas dessas patologias nos universitários, e tornou-se atualmente a raiz da evasão
em várias IES públicas e privadas do país. Na UFCA, a Pró-Reitoria de Assuntos Estudantis
(PRAE) informa que a procura por tratamento psicológico, ou psicopedagógico tem crescido
nos últimos anos, pois a vida universitária tem um ar mais sobrecarregado do que o ensino
médio.
Diante do exposto, torna-se evidente a necessidade de intervenções que assegurem a
permanência do aluno no Ensino Superior. Dessa forma devido à grande taxa de evasão na
instituição envolvida na pesquisa, cabe então, às seguintes indagações: Será que realmente
houve prejuízo para os jovens ou adultos que abandonaram a faculdade nos primeiros
semestres do curso? Por que, mesmo com tantas universidades públicas e privadas, ainda há
tanta desistência? Será por questões de afinidade; por causas pessoais ou familiares;
problemas de cunho social; de algum tipo preconceito com o indivíduo e/ou devido à falta de
verba ao estudante para manter-se os 4 ou 5 anos no curso de graduação?
CONSIDERAÇÕES FINAIS

Em suma, ao buscarmos compreender quais as possíveis causas que provocam


a evasão escolar no ensino superior, percebemos diversos fatores internos e/ou externos
voltados às instituições de ensino. No caso da UFCA ao investigarmos e trazermos em
falas/relatos dos alunos sobre as possíveis causas, seja fatores de gênero, raça, cultura,
economia, afinidade para com o curso escolhido, dificuldade de locomoção, questões
familiares, gravidez indesejada, problemas de saúde, ou até discussões e falta de interação
social dentro do ambiente da instituição, poderemos discutir sobre as consequências da evasão
tanto para os estudantes como para a referida IES.
Diante ao que foi exposto, consideramos a necessidade de projetos de apoio ao
discente como já acontece na UFCA. Porém, ao que parece, os alunos não conhecem ou
mesmo que conheçam, não os buscam. Por exemplo, a Pró- Reitoria de Assistência Estudantil
concede Bolsa permanência a alunos quilombolas, indígenas e em situação de vulnerabilidade
socioeconômica. O recurso é pago diretamente aos estudantes de graduação por meio de um
cartão de benefício. Atualmente o valor é de R$ 900,00 para estudantes indígenas e
quilombolas e R$ 400,00 para os demais. O programa é do Governo Federal e auxilia os
estudantes a fim de diminuírem problemas de evasão por conta de raça, etnia ou economia das
classes populares. Diante disso, é possível perceber que precisa existir outros projetos e/ou
estratégias que favoreçam à permanência do aluno dentro da universidade.
Dessa forma, espera-se que esta pesquisa possibilite a avaliação da aplicação de
políticas públicas de permanência nas universidades, com ênfase na UFCA, garantindo a
reflexão e a busca por mudanças que possam prevenir e/ou diminuir os índices de evadidos
nos anos iniciais da graduação. Esperamos consequentemente, que esse trabalho possa
ampliar as discussões sobre a evasão no ensino superior e incentivar mais pesquisas sobre esta
temática

REFERÊNCIAS

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