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A importância de conhecer a História da Educação dos Surdos

Nesta unidade de estudo você terá a oportunidade de entender a importância da Educação dos Surdos,
como eram encaradas pela sociedade, quais as transfor-mações que passaram até os dias de hoje,
quem são eles e como a comunidade surda surgiu.

Você já teve a curiosidade de saber sobre a história dos surdos?

A história dos surdos lhe dará prazer.

Estudar história em geral é importante, pois através desta conhecemos o pas-sado de uma sociedade,
como os homens se organizam e se relacionam, no caso, estudar a história dos surdos nos dará a
oportunidade de conhecer o povo surdo, quais as transformações que enfrentaram e o surgimento das
comunidades surdas.

A educação do surdo só pode ser compreendida a partir de uma perspectiva mais ampla que abranja a
sua história e que mostre quais as fundamentações teó-ricas, filosóficas, políticas e ideológicas que a
embasaram desde o seu início. Você é convidado a partir de agora a viajar nas raízes da história dos
surdos.

A História dos Surdos na Idade Antiga

Na história dos surdos, vários povos como os gregos, os egípcios, chineses e romanos os viam com
um olhar diferente um dos outros. Vamos elencar cada um deles com suas respectivas visões:

Os gregos viam os surdos como animais, pois para eles o pensamento se dava mediante a fala. Sem a
audição eles na época ficavam fora dos ensinamentos e com isso, não adquiriam o conhecimento, por
isso eram lançados do alto dos rochedos.

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No Egito eram vistos como deuses, pois serviam de mediadores entre os deu-ses e os Faraós, sendo
temidos e respeitados pela população. Mas essa admiração e respeito se limitavam apenas ao Egito,
na cultura dos chineses eles deviam ser lançados ao mar. O conjunto de populações celtas que viviam
na Gália lançava os surdos ao mar em sacrifício aos deuses Teutates.

Os Romanos privavam os surdos de direitos legais, eles não se casavam, não herdavam os bens da
família eram vistos como imperfeitos, sem direito de pertencer à sociedade e diante da religião, a
igreja católica considerava os surdos sem salva-ção, ou seja, não iriam para o reino de Deus após a
morte.

Na Roma, o surdo, as pessoas com déficit intelectual e os cegos exerciam tare-fas a serviço da corte,
tais tarefas eram praticamente iguais, eram serviçais e bobos da corte que eram mantidos nas vilas ou
nas propriedades das famílias patrícias como protegidos do pater, que vem do Latim e significa “pai
da família”, termo este que se refere a um território ou jurisdição governada por um patriarca.
Pode-se dizer que a condição do sujeito surdo era a mais miserável de todas, pois a sociedade os
considerava como imbecis, anormais, incompetentes.

Você pode perceber que a sociedade pregava o homem como um ser forte, sa-dio e que não cedia à
pressão, por tal razão, agia dessa forma, pois acreditavam não ser bom nem para a criança e nem para
a República que ela vivesse, já que desde o parto mostrava-se fraca e má constituída e essa seria
assim por toda a sua vida. Con-forme Carus, poeta e filósofo latino que viveu no século I a.C., era
comum lançarem as crianças surdas ao rio Tibre, para serem cuidadas pelas Ninfas, deusas-espíritos
naturais femininos, em especial as crianças pobres.

Alguns dos grandes filósofos da Antiguidade também estavam em sintonia com estes procedimentos,
em Atenas. Segundo Platão (428 - 348 a.C.), afirma que os que recebiam um corpo com qualquer
deformidade eram levados a um paradeiro desconhecido. (PLATÃO apud SILVA 1986, p.124).

Aristóteles (384 - 322 a.C.), dizia que “quanto, a saber, quais as crianças que se deve abandonar ou
educar, deve haver uma lei que proíba alimentar toda criança disforme”. (ARISTÓTELES apud
SILVA, 1986, p.124).

Pessoas cegas, surdas, deficientes intelectuais, deficientes físicos e outros tipos de pessoas nascidas
com “má formação,” às vezes, também, eram ligadas a casas comerciais como as tavernas, bordéis,
desenvolvendo atividades em circos romanos,

em alguns casos serviços simples e em outros humilhantes. Esse costume foi adota-do por muitos
séculos na História da Humanidade.

Na Idade Média

A Igreja Católica na Idade Média era a principal organização política e econô-mica da época, a qual
mantinha muitas instituições como asilos, hospitais, hospícios, entre outros. Algumas dessas
instituições também eram mantidas por ricos senho-res, ambos mantinham nos aposentos das
instituições pessoas idosas, doentes que não foram agraciados com boas condições de vida, algumas
pessoas deficientes eram retiradas do convívio social e também eram mantidas nesses estabelecimen-
tos, passando a viver junto a doentes e moribundos.

Acreditava-se que a pessoa com deficiência tinha que ser conservada e cuida-da, transformando a
rejeição numa duvidosa proteção discriminatória que estava dividida entre a caridade e o castigo. Para
a organização social e cultural, o castigo vinha com o desconforto das algemas, da promiscuidade, a
caridade era dizer a estes, que no asilo que estavam, tinha direito a um teto, a uma alimentação. Para
os cristãos o castigo é a caridade, pois o melhor meio de salvar a alma de um cristão das garras do
demônio era livrando a sociedade de suas condutas indecorosas ou antissocial que o “monstruoso”
apresentava.

Santo Agostinho (354-430 D.c) foi um filósofo, escritor, teólogo, responsável pela filosofia patrística
e pelo pensamento cristão medieval. Aderiu o pensamento maniqueísta que pregava o bem e o mal.
A ideia defendida por Santo Agostinho era de que os pais de filhos surdos es-tavam a pagar por algum
pecado que haviam cometido. A Igreja Católica, até mea-dos da Idade Média, acreditava que os
surdos não possuíam uma alma imortal, uma vez que eram incapazes de proferir os sacramentos.
Conforme Silva, (2008: 19), “na Antiguidade, passando pelos gregos, pelos romanos e pela igreja, de
Santo Agosti-no até a Idade Média, os surdos eram considerados seres inferiores e, portanto, não
tinham chance de salvação”.

Durante um longo período, no mundo todo, as pessoas deficientes estavam situadas à margem da
educação. Estudantes com deficiência eram atendidos sepa-radamente ou exclusos do processo
educacional, pois esses não se enquadravam nos padrões de normalidade.

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Na história encontramos uma situação que é pouco citada em obras publica-das sobre a história do
processo educativo dos surdos. Trata-se de um fato ocorrido antes do Século XVI. Assim como
muitas metodologias e técnicas de ensino apren-dizagem foram sucumbidas, com o tempo as
estratégias educacionais utilizadas pelo Bispo John of Bervely em meados de 700 a 637 d.C., ficaram
desconhecidas. Ele conseguiu fazer um surdo falar de forma clara e a igreja considera esse feito como
um milagre tomando para si a autoria do fato.

A Idade Moderna

A mudança dessa situação só começou a ser remediada a partir do século XVI, pois nobres que
tinham filhos surdos passaram a querer que estes recebessem suas heranças, a nobreza então passou a
se preocupar em educá-los para que quando morressem não fosse negado aos seus próprios filhos, o
que a eles pertenciam. Surgiu, nessa época, vários educadores como o Monge Beneditino Pedro
Ponce de Léon e o Abade Charles Michael de L’Epée .

Dentre os demais educadores e pesquisadores da surdez se destacam o espa-nhol Juan Pablo Bonet
(1579-1629), o alemão Samuel Heinicke (1727- 1790), fundador da primeira escola oral de surdos na
Alemanha, o francês Sicard (1742-1822), suces-sor de L’Epée, na direção do Instituto Nacional de
Surdos-Mudos, o médico cirurgião francês Jean Marc Itard (1774-1838), o americano Thomas
Gallaudet (1787-1851), que juntamente com o professor surdo francês, Laurent Clerc (1785 – 1869),
fundaram a primeira escola pública para surdos em Hartford, o escocês Alexander Graham Bell
(1847-1922), criador do telefone que casou-se com Mabel, surda oralizada.

No Século XVI, na Espanha, foi registrado um fato realizado por um monge beneditino Pedro Ponce
de Leon (1520-1584), que dedicou a sua vida a ensinar surdos dos filhos de nobres para que pudessem
ter acesso aos bens familiares e a herança continuar no seio da família. Ensinou a falar diversas
línguas como grego, latim e italiano, além de conceitos de Física e Astronomia, desenvolvendo
métodos para a educação de pessoas surdas, incluindo a datilologia (representação manual das letras
do alfabeto), a escrita e a oralização, criando uma escola de professores surdos, com atendimento
individualizado e particular.

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No período de 1620, na Espanha, Juan Pablo Bonet, segue os passos de Leon e escreve sobre a
deficiência auditiva e os problemas de comunicação e em seu livro Reduction de Las Letras y Arte
para Ensenar a Hablarlos Mudos, condena os mé-todos brutais utilizados para o ensino de surdos e
apresenta o alfabeto manual, pela primeira vez. Em seu trabalho com surdos proibia os gestos e
optava pelo método oral.

No século XVIII, surgiram as primeiras iniciativas de educação coletiva para surdos e os primeiros
educadores: o abade francês, Charles Michel de L’Epée, o ale-mão, Samuel Heinicke, e o inglês,
Thomas Braidwood, que por intermédio de suas pesquisas, desenvolveram métodos para que a
educação de surdos acontecesse. No ano de 1750, na França, o Abade L’Epée se destacou bastante na
educação de sur-dos, ensinou e apoiou os surdos, criando uma escola pública, o Instituto Nacional de
Jovens Surdos-Mudos, em Paris, educando os surdos através do método combinado ou sinais
metódicos.

Além disso, proporcionou a passagem da educação individual para a educação coletiva. Aprendeu a
Língua Gestual utilizada pelos surdos parisienses, à chamada “Antiga Língua Gestual Francesa” e
utilizava-a nas aulas adicionando outros gestos que inventou e que lhe permitiram “cunhar” conceitos
do francês escrito para os quais, aparentemente, não existiam equivalentes em Língua Gestual. Esta
situação deve destacar-se porque durante muito tempo, em todo mundo e mesmo na França, a
comunidade surda atribuía a L’Épée a criação da “Langue dês Signes Françaises”.

Nascido por volta de 1712, Charles Michel de L’Epée, ensinava os surdos, por motivos religiosos,
através do método manualista ou gestualista, reconhecendo que a Língua de Sinais realmente existia e
que ela se desenvolvia, embora não a consi-derasse uma língua com aspectos gramaticais.

A História Educacional de Surdos mostra que nas ruas da cidade de Paris, perambulavam surdos, foi
então que L’Epée se aproximou dos surdos e com eles aprendeu a Língua de Sinais, criando os “sinais
metódicos”, uma combinação de Língua de Sinais com gramática francesa. Com o imenso sucesso na
educação de surdos, o Abade transformou sua casa em escola pública, que de 1771 a 1785 pas-sou a
atender 75 estudantes, número bastante elevado na época.

Charles de L’Epée acreditava que os surdos, independentemente de seu nível social, deveriam ter
direito a educação de qualidade e que a mesma deveria ser

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gratuita. Pensamento que também foi adotado por Roch-Ambroise Cucurron Sicard foi um abade
francês, seguidor dos pensamentos de Abade L’Épée, ficou conhecido pelo seu trabalho em educar
surdos, fundando a escola de surdos de Bordéus, no ano de 1782, e depois sucedeu L’Epée em seu
instituto, como diretor.

Também no período de 1750, Samuel Heinicke, na Alemanha, através de suas pesquisas deu os
primeiros passos da Filosofia Educacional Oralista, que tem como objetivo principal o ensino de
língua oral sem auxílio da língua de sinais, sendo ele precursor e fundador de escolas de orientação
oralista que em sua maioria conta-vam com pequenas quantidades de estudantes (de 9 a 10).
Na Idade Contemporânea

O século XVIII é considerado por muitos estudiosos na área da surdez como o período mais fértil da
educação dos surdos. Este século foi marcado pelo grande impulso, no sentido de quantidade, com o
aumento de escolas para surdos, e quali-dade, já que através de sinais, surdos podiam aprender e
dominar diversos assuntos e exercer várias profissões. A educação de surdos ficou mais vista pela
sociedade, a partir de ações do Abade e seus seguidores que lutavam para o progresso da edu-cação
dessa comunidade, surgindo novas perspectivas educacionais para surdos.

Por outro lado, o Abade era considerado como bom educador, pois conseguia educar com qualidade
os surdos, sendo a sua escola escolhida pelo governo para poder receber subsídios e então poder
expandir-se em outras fontes, foi responsá-vel por ocasionar o sucesso de numerosos professores
educadores de surdos. Antes de sua morte em 1789, Abade já havia fundado 21 escolas para pessoas
surdas na França e em outros lugares da Europa.

No ano de 1815, Thomas Hopkins Gallaudet (1787 – 1851), professor ameri-cano interessado em
obter informações sobre a educação de surdos, seguiu para Inglaterra e encontrou-se com a família
Braidwood. Eles utilizavam apenas a língua oral na educação de pessoas surdas, sendo que a
informação dessa técnica foi ne-gada, fazendo com que fosse então buscar esses subsídios nas escolas
gestualistas, que passou a conhecer a língua dos surdos franceses e os métodos de trabalho da escola.

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Conhecendo Laurent Clerc, um surdo, professor de surdos, decidiu viajar aos Estados Unidos com
Gallaudet, para ajudá-lo em seu projeto. Ao acompanhar Tho-mas Hopkins Gallaudet aos EUA,
Laurent Clerc abriu uma escola para surdos em abril de 1817, a Escola de Hartford. Gallaudet
instituiu a Língua Gestual Americana que, ainda, passou a ser usado o inglês escrito e o alfabeto
manual. A partir de me-ados de 1821, as escolas americanas nortearam suas ações com direção a
American Sign Languagem – ASL, sendo que neste período houve uma elevação no grau de
escolarização dos surdos que podiam aprender com facilidade as disciplinas minis-tradas em língua
de sinais.

Todavia, como os avanços tecnológicos facilitaram a aprendizagem da fala, isso fez com que em 1860
o enfoque oralista se difundisse ganhando forças, motivando os profissionais a tentarem investir na
oralização de surdos, sendo o oralismo um método que, ainda hoje em dia, alguns profissionais
defendem, sustentando a ideia de que a língua de sinais é prejudicial para aprendizagem de um
estudante surdo.

A filosofia oralista se difundiu proclamando a importância da língua oral e a não importância da


língua de sinais. A abolição dos sinais na educação de surdos pela filosofia oralista, baseava-se na
concepção de língua, pela maioria dos linguís-tas, como sendo exclusivamente a língua oral,
reconhecendo os sinais como meras “mímicas”, sem qualquer valor linguístico, e precisam ser
evitados a todo custo, a fim de que o aprendizado da língua oral, por parte do surdo, não fosse
estorvado.
A abordagem oral dominou os educadores por muitos anos. Esse era o mé-todo mais natural para os
ouvintes e como os professores geralmente faziam parte desse grupo usava a fala em sala de aula não
conhecendo e nem adotando a com-petência dos sinais.

Decadência na Educação dos Surdos

Em 1880 no Congresso de Milão representou um momento obscuro na história dos surdos, uma vez
que lá um grupo de ouvintes tomou a decisão de excluir a língua gestual do ensino de surdos,
substituindo-a pelo oralismo (método de ensino para surdos, no qual se defende que a maneira mais
eficaz de ensinar o surdo é através da língua oral, ou falada). Em consequência disso, o oralismo foi a
técnica preferida na educação dos surdos durante fins do século XIX e grande parte do século XX.

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Essa decisão causou um retrocesso, pois se esses estudantes utilizassem a língua gestual eram
punidos. Essas punições consistiam em amarrar as mãos, trancá-los em porões, armários e até mesmo
serem castigados fisicamente ou ridicularizados em público.

Contudo, o problema estava bem mais além das severas punições e da distância de familiares, que por
consequência da falta de comunicação se afastavam desses estudantes. A privação da língua nos
surdos na infância levou a níveis bastante altos de doenças mentais na faixa etária de 30 e poucos
anos.

A partir da morte de Laurent Clerc, forte defensor da Língua de Sinais, o Oralismo ganhou forças,
através de Alexander Graham Bell (inventor do telefone e do audiômetro), um dos maiores defensores
do Oralismo. Graham Bell era casado com uma surda que se chamava Mabel, ele acreditava que os
surdos não deveriam casar entre si, pois se acomodariam e não iriam aprender a língua oral. Ele
caracterizava a Língua de Sinais inferior a fala e que só deveria ser usada como um apoio.

No início do século XX todas as escolas deixaram de utilizar a língua de sinais passando a oralizar
todos os estudantes surdos, pois o aprendizado da língua oral passa a ser o grande objetivo dos
educadores de surdos. Acreditavam que poderiam desenvolver-se como os ouvintes no aprendizado
da fala.

Mesmo com o Congresso de Milão proibindo, por muito tempo, as pessoas surdas de usarem a língua
de sinais, ela resistiu devido à obstinação de seu povo. Dentro das escolas de surdos, muitas crianças
praticavam às escondidas entre si, de forma que não fossem percebidos. A atriz francesa Emmanuelle
Laboritt (com surdez profunda e congênita recebeu o prêmio Moliéri do teatro).

Em sua obra autobiográfica diz que: “Quando o professor se virava para escrever no quadro-negro,
tínhamos hábito de trocar informações na língua de sinais, persuadidos de que ele não nos escutava, já
que não nos via. Ora, no começo, ele se voltava todas às vezes, era estranho, não compreendíamos
imediatamente por quê. Com o passar do tempo, dei-me conta de que, ao falar com as mãos, sem
saber, emitimos ruídos com a boca. A partir daí cuidamos de não mais emitir nenhum som e, desde
aquele dia, trocamos nossas lições o mais tranquilamente possível” (LABORITT, 1994:84).
O ensino das disciplinas como História, Geografia, Matemática, entre outras, foi deixado em segundo
plano ocorrendo então uma queda nos aperfeiçoamentos desses surdos. Ficando resistente até 1970, o
oralismo dominou todo o ensino do mundo, até que William Stokoe publicou o artigo “Sign Language
Structure: Na Out

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line of the visual Comunication System of the American Deaf,” demonstrando que American Sign
Language (língua de sinais americana) é uma língua com características iguais às das línguas orais.

William C. Stokoe Jr. (1919 - 2000), foi um estudioso que em seus estudos pesquisou extensivamente
a Língua de Sinais Americana – ASL, enquanto trabalhava na Universidade Gallaudet, como
professor e chefe do departamento de Inglês, em meados de 1955 a 1970. Dentre suas obras podemos
citar a publicação da Estrutura da Língua Gestual e a coautoria do Dicionário de Língua Gestual
Americana, que ao abordar seus princípios linguísticos, dava prestígio a ASL nos círculos acadêmicos
e pedagógicos.

A publicação de suas obras foi fundamental na mudança da percepção da ASL, que partiu de uma
versão simplificada ou incompleta do Inglês para uma complexa e próspera língua natural, com
fonética, fonologia, morfologia e sintaxe independente como qualquer língua falada no mundo.

Logo em seguida apareceram diversas pesquisas baseadas na publicação de Stokoe, a qual mostrava a
língua de sinais e a sua aplicação na educação e vida de pessoas surdas.

Dorothy Schifflet, professora e mãe de surdos, começou a utilizar e divulgar um método onde a língua
de sinais e a língua oral, leitura labial, alfabeto manual (datilologia), treino auditivo estavam presentes
na educação de pessoas surdas, fazendo surgir e denominando assim, o seu trabalho de Total
Approach, ou seja, abordagem total.

Ainda na década de 60, Ray Hoolean adotou o método de ensino total “approach”, mudando seu
nome para “total comunication”, originando a filosofia Comunicação Total. Uma filosofia que utiliza
variadas formas possíveis de comunicação para que ocorra sucesso na educação de surdos, acredita
nas totais formas de comunicação possíveis na educação escolar do surdo, acreditando que a
Comunicação Total não é língua e sim uma Filosofia Educacional.

Já utilizando o inglês sinalizado, a Universidade Gallaudet adotou a Comunicação Total, tornando-se


o maior centro de pesquisa da área. Na década de 1970, alguns países tais como Inglaterra e Suécia,
perceberam que a Língua de Sinais deveria ser utilizada independentemente de uma língua oral, onde
em algumas ocasiões, a língua oral deveria ser utilizada e em outros momentos a Língua de Sinais, e
não as duas em igual momento como já estavam sendo desenvolvidas em algumas entidades.

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Em meados de 1980 a 1990, surge então a filosofia Bilíngue, afirmando que o surdo deve adquirir sua
língua materna, a Língua de Sinais. Essa filosofia a cada dia vem ganhando mais adeptos em todos os
lugares do mundo.
Hoje em dia os estudos sobre as Línguas de Sinais, possibilitam que crianças surdas tenham acesso a
esta língua como a primeira, o mais cedo possível, tendo como a língua oral de seus pais, a segunda,
ou seja, uma abordagem bilíngue para a educação de surdos.

Oralismo

A modalidade oralista baseia-se na crença de que é a única forma desejável de comunicação para o
sujeito surdo, e a Língua de Sinais deve ser evitada a todo custo porque atrapalha o desenvolvimento
da oralização. Essa técnica de leitura labial: ”ler” a posição dos lábios e captar os movimentos dos
lábios de alguém que está falando é só útil quando o interlocutor formula as palavras de frente com
clareza e devagar.

Quando médicos, professores e um grupo de ouvintes tomaram a decisão de excluir a língua gestual
do ensino de surdos, o oralismo ganhou força e desse modo foi a técnica preferida na educação dos
surdos durante fins do século XIX e grande parte do século XX. Ao abolir a Língua de Sinais na
Educação de Surdos, se deu a concepção de que os sinais não tinham valores linguísticos, não
passavam de mímicas, e que essa necessitava ser evitada, estabelecendo então, que todas as
disciplinas escolares fossem repassadas através da Língua Oral.

Para o Oralismo, surdez é uma deficiência que necessita ser minimizada, visando que o surdo viva e
seja igual ao ouvinte. A fim de atingir sua meta os oralistas trabalham com um conjunto de
especialistas médicos e terapêuticos, tais como neurologistas, fonoaudiólogos, psicólogos e
otorrinolaringologistas, aproveitando resíduos auditivos caso existam (por meio do aparelho).

O Método Oralista tornou-se dominante e, consequentemente, a Educação Oral apoderou-se,


expulsando do meio educacional os professores surdos e banindo a Língua de Sinais que fora
considerada uma ameaça para a oralização. Essa metodologia busca o ensino de palavras respaldadas
na afirmação de que o surdo tem dificuldade de abstração. O aprendizado da fala se torna mais
importante que a aquisição da leitura e da escrita considerando o surdo como um deficiente que
precisa ser curado, corrigido, recupera

Repercutindo a valorização do Método Oral, as línguas de sinais eram consideradas como método
tradicional e essa visão acomodou o surdo, o desmotivou a falar, passando a viver numa “subcultura
”. Os surdos eram vistos unicamente como deficientes, e não como um povo, com cultura própria.
Com a ênfase dessa filosofia, os surdos eram rotulados como: “surdos-mudos”. Entretanto, a
Educação de Surdos com o Método Oral não obteve bons resultados.

Pesquisas revelam resultados esmagadores no requisito da vida acadêmica desses estudantes, foi
observado um rebaixamento significativo no desempenho cognitivo dos surdos. Uma pesquisa
realizada pelo colégio Gallaudetno no ano de 1972 mostra que o nível de leitura entre os graduados de
dezoito anos nas escolas secundárias nos EUA equivalia ao quarto ano do Ensino Fundamental.

O psicólogo R. Conrado, em suas pesquisas evidencia que na Inglaterra o nível dos estudantes surdos
de graduação liam a nível de crianças de nove anos de idade. Foi observado, também, que estudantes
surdos de 15 a 16 anos que participavam do ensino oral, apenas 25% (vinte e cinco por cento)
conseguiam articular a fala de modo compreensível. No quesito leitura e escrita menos de 10% (dez
por cento) apresentava um nível de leitura apropriado para a sua idade e 30% (trinta por cento) eram
analfabetos. As habilidades de leitura labial eram insatisfatórias.

O processo educacional de surdos norteados pela filosofia oralista não era suficiente para o bom
aprendizado da leitura e da escrita de estudantes surdos. Conforme a trajetória educacional dos surdos
a língua oral não deu conta das necessidades da comunidade surda e muitos aspectos importantes para
o desenvolvimento foram deixados de lado. Quando as línguas de sinais passaram a ser disseminadas,
as pessoas surdas puderam se desenvolver intelectualmente, profissionalmente e socialmente.

O Método Oral enfatizou a escrita de forma mecânica, onde o estudante era condicionado à repetição
sucessiva de textos, o ensino de surdos através desse método não deu conta da demanda de
necessidades por eles apresentadas, formando discentes com baixa compreensão na leitura e na
escrita, devido ao vocabulário reduzido, a maioria teve um processo de fala ilegível.

Uma criança só pode construir uma língua se participar inteiramente de uma sociedade,
compartilhando seus conceitos, não apenas da aprendizagem imposta da língua oral, que é proposta
pelo Oralismo. Essa aprendizagem não pode ser comparada a aquisição espontânea, pois não garante
a formação de um sistema que alcance níveis abstratos, já que a aprendizagem da língua oral pela
criança surda ocorre de forma sistemática.

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Raríssimo são os surdos, que apenas, oralizados conseguem ter bom desempenho em Língua
Portuguesa, a não ser aqueles que adquiriram a surdez quando já haviam iniciado o processo de
aquisição do Português ou que apresentam surdez leve. Mas mesmo esses apresentam dificuldade na
produção de um texto escrito, entretanto no Brasil, assim como em outros países, foram evidenciados
no sujeito surdo oralizado dificuldades na aquisição e desenvolvimentos da linguagem e da escrita,
assim como um vocabulário limitado.

O surdo sofre atraso na linguagem e sem contato com uma língua natural, não tem condições de
adquirir pelo ensino formal, conceitos científicos. O oralismo parece ignorar essas dificuldades que o
atraso da linguagem proporciona e continua a posicionar a necessidade do surdo em ser oralizado.

Mesmo alcançando sua meta, o oralismo é insuficiente, pois parte de uma noção de língua e
linguagem, que provoca nos surdos um atraso de linguagem e suas consequências, não considera os
aspectos cognitivos determinados pela linguagem e pela cultura, prendendo-se ao canal auditivo para
a transmissão de conteúdos. Os surdos que não obtêm o sucesso determinado são considerados
fracassados, incapazes e perdedores.

Surdos, oralizados ou não, sentem a necessidade de conviver com outros surdos. Essa necessidade de
se integrar é uma razão de extrema importância para que a LIBRAS lhes seja oferecida desde cedo.
Ao conhecermos a comunidade surda percebemos que muitos, mesmo na idade adulta, sentem a
necessidade de aprender LIBRAS e fazer parte da comunidade surda, gerando uma mudança nas
atitudes de surdos e educadores perante a Língua de Sinais e suas condições particulares diante a
linguística.

Comunicação Total

Nos anos Setenta e Oitenta, a Comunicação Total foi utilizada por muitos países. Utilizando de vários
artifícios, essa Filosofia Educacional, tem como objetivo integrar o surdo na sociedade ouvinte,
acreditando que ele terá uma boa comunicação seja atra-vés da fala, sinais ou escrita. E quando
comparada ao Oralismo, por meio de estudos e avaliações, chegaram à conclusão de que os surdos
obtiveram melhor desempenho na compreensão e comunicação, apesar das dificuldades em expressar
os sentimentos e ideias.

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Acredita-se que para o surdo obter uma leitura e uma escrita satisfatória, neces-sitará de diversos
artifícios para chegar a uma boa comunicação na língua de seu país. Preocupada com a comunicação
de surdos com surdos, surdos com ouvintes e com a aprendizagem da língua oral, que é considerada
por esta Filosofia, de grande rele-vância para o desenvolvimento dos aspectos sociais, cognitivos e
emocionais, defende também, a utilização de recursos viso manuais.

Essa visão postula a valorização de abordagens alternativas que permitam ao sur-do trocar ideias,
sentimentos e informações com ouvintes. A Comunicação Total possui objetivos básicos, o de
facilitar a integração do surdo com o meio, e fornecer condições adequadas para o bom
desenvolvimento psicolinguístico. Seja pela linguagem oral, por meio dos sinais, datilologia ou pela
combinação de todos os métodos, a Comunicação Total permite uma aproximação entre as pessoas
envolvidas na educação dos surdos.

Na Comunicação Total se utiliza muito o alfabeto manual para chegar a uma co-municação com os
ouvintes, também conhecido como datilologia. A sua difusão gera, entre muitos ouvintes, a
pressuposição de que o alfabeto é a própria Língua de Sinais, mas esse é apenas um suplemento dessa
língua, sua função é a soletração de nomes, siglas, aqui no Brasil, este possui 27 (vinte e sete)
configurações, incluindo as letras k, w, y, e também o ç.

O Alfabeto Manual é um sistema gestual e cada letra do alfabeto escrita corresponde a uma
configuração específica da mão, é um sistema de escrita no espaço. Ao fazermos a datilologia de um
nome, a mão realiza diversas configurações e cada uma representa uma letra da sequência do nome.

Os seguidores dessa filosofia vêem o surdo de forma diferente do oralismo, não como um portador de
uma patologia de ordem médica que deveria ser eliminada e sim como uma pessoa normal, permitido
assim a aquisição e o desenvolvimento normais da linguagem, afirmando que tudo e qualquer meio
que façam o surdo aprender é de suma importância, inclusive, os sinais. Essa filosofia relata que o uso
de todos os meios que possam facilitar a comunicação é necessário, desde a fala, passando por todos
os sistemas artificiais, até a Língua de Sinais, abrindo canais para comunicações diversas.
A Comunicação Total trabalha simultaneamente com a língua oral e a sinalizada, denominando essa
forma comunicativa de bimodalismo , um dos recursos utilizados por essa filosofia no processo de
aquisição da linguagem pela criança e na facilitação da comunicação entre surdos e ouvintes.
Acredita-se que essa forma de ensino permitirá o estudante surdo decodificar as regras da língua
falada na escrita, que deverá aprender por intermédio da língua de sinais. Embora a comunicação
entre surdos e ouvintes estivesse melhorando, foi observado que as habilidades de escrita e leitura
ainda continuavam abaixo do esperado.

O surdo enfrenta dificuldades em aprender significados, quando ouvintes se comunicam com ele por
meio do bimodalismo, uso dos sinais e da fala de forma simultânea. A visão do surdo se sobrecarrega
ao tentar ler os lábios do interlocutor, a fim de perceber palavras, e ao mesmo tempo, olhar os
formatos das configurações das mãos.

Essa combinação de língua oral com língua de sinais impede o surdo de perceber e distinguir a
estrutura sintática da língua oral e de sinais. Por esse motivo, o aprendizado da leitura e da escrita fica
prejudicado, consequentemente, os surdos não sabem ler, nem mesmo textos breves e simples e ao
escreverem na língua oral de seu país transportam para essa língua a estrutura sintática da Língua de
Sinais.

É interessante observar que, mesmo utilizando a Língua de Sinais, a Comunicação Total continuou
apresentando dificuldades de aprendizagem no quesito leitura e escrita. Pode-se então, concluir que
isso aconteça em virtude de que, a Língua de Sinais, ao ser usado nas práticas dessa filosofia, suas
características linguísticas não tenham sido respeitadas como uma verdadeira língua, sendo então
utilizada apenas

Libras36

como um subsídio para aprendizagem e não como um elemento principal para o acontecimento da
aprendizagem.

Procurando descobrir se o ensino oral e sinalizado estava acontecendo, com efeito, na produção da
leitura e escrita, os pesquisadores decidiram filmar os professores no ato da ministração da sua aula,
percebendo que a educação não acontecia de forma perfeita.

Com essa filosofia, os surdos despertaram para a valorização da Língua de Sinais, pois o ensino com
sinalização não era de forma plena como era para ser, logo emergiu a posição em que a Filosofia da
Comunicação Total deveria ser substituída pelo bilinguismo para surdos, o qual afirma que a Língua
de Sinais e a língua falada podem viver lado a lado, mas não simultaneamente.

Foi então a partir dessa prática, que a língua de sinais passou a ocupar certo destaque como meio de
comunicação efetivo nas Comunidades Surdas. Em alguns países como Suécia e Inglaterra,
perceberam que essa língua deveria ser utilizada independentemente da língua oral, e não as duas em
momentos iguais, como eram utilizadas. Surge então, a Filosofia Bilíngue, que, ao contrário do
Oralismo e da Comunicação Total, defende o respeito e o valor que deve ser dado à Língua de
Sinais.

A Comunicação Total admitia na escola o uso dos sinais, não como uma língua de direito do surdo,
mas para auxiliar a aquisição da língua oral escrita e falada, mas com o passar do tempo, a língua
falada não parecia mais suprir as necessidades da comunidade surda, professores ouvintes de surdos
começaram a abrir os olhos para a riqueza das línguas de sinais. As experiências práticas forneceram
questionamentos metodológicos para considerar uma nova metodologia, o bilinguismo para surdos.

A combinação Língua Oral e Língua de Sinais foi um obstáculo para o surdo discernir as estruturas de
uma língua para a outra, tendo como consequência o aprendizado da leitura e da escrita prejudicado,
tornando o surdo um leitor não competente e um escritor limitado a textos pequenos.

A Comunicação Total tem aspectos positivos e negativos, ela ampliou a visão do surdo e da surdez,
deslocando a necessidade do surdo ser oralizado e ajudou o processo da utilização dos sinais, mas não
a viabilizou suficientemente. Essa filosofia considerou o surdo uma pessoa capaz e a surdez
repercutiu nas relações sociais e no desenvolvimento afetivo e cognitivo do surdo.

Libras 37

Bilinguismo para Surdos

Na Comunicação Total ocorre a utilização simultânea da linguagem oral e gestual, empregando todas
as formas possíveis de comunicação, usando a fala, leitura labial, língua oral sinalizada, alfabeto
manual, audição residual, e outros, diferenciando-se do bilinguismo que aborda as duas línguas, de
forma que, elas sejam usadas sem que uma interfira ou prejudique no aprendizado da outra.

Portanto, as línguas seriam usadas em momentos diferentes.

O bilinguismo percebe o surdo de forma diferente do Oralismo e da Comunicação Total, pois nessa
filosofia o surdo não necessita almejar uma vida igual a do ouvinte, podendo assumir sua surdez
formando uma comunidade, com cultura e língua.

A origem do bilinguismo se dá pela insatisfação de surdos com a proibição da Língua de Sinais e a


mobilização de diversas comunidades em prol do uso dessa língua, aliado aos estudos linguísticos,
comprovando o status dessa língua. Utilizando, neste viés, a surdez para denominar um grupo
linguístico e cultural, e para denominar um grupo por condição física e falta de audição. O
bilinguismo tem como foco principal os surdos atendendo-os em sua língua, cultura e aceitando sua
forma de agir e pensar.

Quando se fala de bilinguismo no campo da educação de surdos, relata-se à existência de duas línguas
nesse ambiente, ou seja, a Língua Oral dos ouvintes, no caso do Brasil, o Português Brasileiro e a
Língua de Sinais no caso dos surdos do Brasil, a LIBRAS.

A escrita da língua oral pode ser adquirida de forma plena pela pessoa surda, a metodologia para a
aquisição da escrita precisa ser visual, evidenciando a LIBRAS sem focar a relação letra-som, sendo
similares às abordadas no ensino de segunda língua. A fala apresenta um papel fundamental na
aquisição da escrita, no que se refere aos conceitos e ideias, podendo ser substituído pelos sinais que é
a “fala” das línguas de sinais, língua de modalidade gestual visual.

Essa tendência traz como objetivo uma educação que permite aos indivíduos um acesso completo a
uma língua natural, que seria a língua de sinais. Após a aquisição desta, seria introduzido a eles a
língua escrita de seu país, e seria viabilizada por intermédio da língua de sinais. Na educação de
crianças surdas essa abordagem

Libras38

exige um profissional ouvinte, conhecedor da língua de sinais e participante da comunidade surda,


que se torna responsável pela transmissão da língua oral e um profissional surdo responsável pela
transmissão da língua de sinais.

Esse novo olhar para a Educação de Surdos vem superando muitas dificuldades provenientes dos
antigos planos educacionais, sendo apoiado por sua comunidade que pressupõe o reconhecimento de
expressão da língua de sinais como ponto central para o desenvolvimento educacional.

Considerando a língua de sinais como a primeira língua dos surdos e a língua da sociedade em que
está inserida sua segunda língua, a leitura e a escrita da segunda língua seria uma forma de integração
de surdos com ouvintes e essa como já falada será repassada pela Língua de Sinais.

Ao adquirir a língua de sinais, essa língua assume um papel fundamental na aquisição da segunda, a
língua oral, possibilitando a construção do conhecimento de mundo, compreendendo o significado da
leitura e da escrita, deixando de ser apenas decodificador da escrita que pode ser totalmente acessível
à visão, considerada necessária para a construção das habilidades de língua.

O bilinguismo relata que se o surdo não adquirir logo nos primeiros anos de vida a língua de sinais,
eles sofrerão consequências como a perda da oportunidade de usar a linguagem. Como o surdo não
pode fazer uma leitura do mundo pela fala, então é imprescindível que a outra forma de se comunicar
com o mundo seja pela Língua de Sinais. Assim, ele ficará inteirado do mundo. A Língua de Sinais,
para os surdos, assim como a língua oral, para os ouvintes, fornece um aparato linguístico cognitivo.

A aquisição de uma primeira língua deve ser assegurada a uma criança, sendo ela surda ou ouvinte, se
ela não puder ter uma participação ativa em sua situação comunicativa não poderá contar com um
desenvolvimento normal dessa primeira língua, que deverá ser de fácil acesso.

O passo mais importante para concretizar o bilinguismo foi dado na Suécia, o primeiro país a
reconhecer, politicamente, o sujeito surdo como uma minoria linguística, com seus direitos políticos
assegurando a educação na língua de sinais e na língua falada.

O bilinguismo foi constatado com sucesso na Dinamarca, onde pesquisadores acompanharam durante
oito anos, nove crianças surdas, de seis aos quatorze anos de idade, obtendo bons resultados na leitura
e escrita. O primeiro ano foi dedicado,

Libras 39
exclusivamente, ao desenvolvimento da Língua de Sinais usando inicialmente descrições de desenhos
animados. Depois de dois anos constataram que sete das nove já se comunicavam fluentemente em
sinais, mostrando um vocábulo elevado correspondente a sua idade.

A partir do segundo ano de pesquisa, a língua dinamarquesa falada e escrita foi introduzida como
primeira língua estrangeira, alguns já tinham grandes habilidades devido os programas de leitura
precoce. Neste ensino de leitura e escrita foram usados vários recursos entre esses, está à sinalização,
a língua falada e os textos escritos.

Houve uma expansão excelente, aos doze anos de idade, cinco das nove tinham nível de leitura
conforme o das crianças ouvintes, sendo que ao chegarem aos quatorze anos de idade, nove das
crianças conseguiam ler com certa fluência. Foi através desse programa que o bilinguismo, hoje em
dia, tem grande aceitação na Dinamarca, por todas as escolas e comunidades em geral.

Como esse é um exemplo do resultado mais eficaz no ensino de pessoas surdas, é necessário colocar
essa proposta educacional para os surdos o mais cedo possível, pois, em contato com a língua de
sinais, o estudante aparecerá com um desenvolvimento rico e pleno da linguagem, assim logo após a
linguagem oficial de seu país será ensinada com base nos conhecimentos adquiridos por intermédio
da língua de sinais.

Cultura e Identidade do Povo Surdo

Você sabe o que é cultura? A definição de cultura no sentido amplo são com-portamentos de um
grupo que vivenciam os mesmos valores, regras comportamen-tais, tradições e uma língua,
compartilhando metas, responsabilidades e ideais.

Podemos definir cultura surda como a forma de entender o mundo, e torná-lo apto a viver em
sociedade com identidades ajustadas à sua cultura e também a uma língua diferente dos demais que
vivem no mesmo ambiente social.

As releituras do sentido constituído de identidade surda envolvem a língua, ideias, crenças, hábitos e
costumes do povo surdo. “A cultura surda é então a di-ferença que contém a prática social dos surdos
e que comunica um significado” (PERLIN, 2004, p. 77).

Segundo Perlin, as identidades surdas adotam as definições a seguir:

As releituras do sentido constituído de identidade surda envolvem a lín-gua, ideias, crenças, hábitos e
costumes do povo surdo. “A cultura surda é então a diferença que contém a prática social dos surdos e
que comunica um significado” (PERLIN, 2004, p. 77).

As identidades surdas dentro dos aspectos da cultura surda se adaptam de acor-do com a
receptividade cultural. E através de tal receptividade protegem-se contra a inclusão entre os
deficientes, e a sensação de serem recebidos como inválidos.

A comunidade surda é formada por surdos membros da família, tradu-tora intérprete, professores,
amigos e demais que compartilham suas
ideias. A surdez ultrapassa a condição médica, ser surdo é pertencer a uma cultura, a uma língua
gestual, ao seu idioma natural.

Libras44

Os surdos, aglutinados em um mesmo espaço escolar têm possibilidades de trocar ideias,


experiências. A partir dessa convivência podem ser criados novos valores dentro de um grupo
linguístico comum.

A luta pela conscientização

Você conhece algum surdo? Como a família, a sociedade e a escola, o vê?

Conforme visto em nossos estudos, na antiguidade os surdos eram discriminados, e somente após o
reconhecimento das línguas de sinais, o povo surdo começou a se destacar e lutar por seus direitos
políticos e culturais, através das línguas de sinais o surdo pode construir sua identidade.

Segundo Perlin, o adulto surdo em contato com outro surdo adotam as definições a seguir:

O grupo onde entram os surdos que fazem uso com experiência visual propriamente dita. O adulto
Surdo, em contato com outros Surdos, vai construir sua identidade fortemente centrada no ser Surdo
(a Cultura Surda), “a identidade política surda”. É a consciência de ser definitivamente diferente e de
necessitar de implicações e recursos completamente visuais.

(PERLIN, 2004, p. 77-78).

Muitos surdos, no Brasil, usam e desenvolvem a LIBRAS, alguns vivem isolados ou em locais onde
não existe ou não se conhece a comunidade surda, e se comunicam através de mímicas ou gestos
soltos que se fazem compreendidos por aqueles que vivem ao seu redor. A construção da identidade
da pessoa surda ocorre inicialmente através de sua aceitação, reconhecimento do seu “eu” como
surdo, esse processo

LEITURA OBRIGATÓRIA

STROBEL, Karin Lilian. As imagens do outro sobre a Cultura Surda.Florianópolis:Editora da UFSC,


2008.

Libras 45

ocorre de forma gradativa, muitas vezes na infância ou na fase adulta, com contato com surdos e
participação na comunidade surda.

Muitos fatores podem contribuir para o andamento desse processo, dentre estes, podemos destacar a
família, que dependendo de sua formação e envolvimento, poderá ajudá-lo a se encontrar como
sujeito surdo, pois geralmente quando uma família descobre que tem um filho com surdez essa entra
em estado de choque e mistura emoções, tristeza, culpa, surpresa, dúvidas, dentre outros fatores.
Essa reação inicial é comum, pois a maioria dos ouvintes não conhece as possibilidades de
desenvolvimento do surdo e acredita que em sua família possui um deficiente e não um sujeito
diferente, com língua diferente, mas com a mesma capacidade intelectual de qualquer outra pessoa
dita “normal”. Muitas famílias superprotegem seus filhos não os deixando ser independentes ou não
acreditando que são capazes de levar uma vida comum, sem a presença de outra pessoa para
acompanhá-lo à escola, trabalho, associações, lazeres...

Podemos destacar outro ponto importante para nossa discussão que é a forma como é repassada essa
informação para a família pelos profissionais da saúde, pois muitos dizem que o surdo precisa urgente
de treinamento de voz, para que esse se ajuste a sociedade através da correção da fala, dos exercícios
terapêuticos, leitura labial. É preciso que os profissionais da área da saúde estejam também
conscientes da cultura surda, em orientar a família de forma adequada e não criando mitos como: a
LIBRAS prejudica a capacidade intelectual, cognitiva da pessoa surda e a desestimula a falar.

O sujeito surdo pode perfeitamente fazer treinamento auditivo, impostação de voz e usar LIBRAS
como sua língua natural, mas se este for o seu desejo e de sua família, pois a língua de sinais não
impede o desenvolvimento da fala do surdo.

Mas existem fatores que podem dificultar o desenvolvimento do surdo, podemos citar:

• Período em que a surdez é descoberta;

• Encaminhamentos equivocados;

• Filosofias, pensamentos educacionais equivocadas;

• O envolvimento da família com a educação do filho;

• Metodologia educacional escolhida, entre outros.

Libras46

O processo de conscientização e esclarecimento é demorado, mas precisamos trabalhar para fazer a


diferença na vida de pessoas surdas, pois muitas vezes a própria família acha ‘feia’ a LIBRAS e é
nesse momento que a Cultura Surda faz a diferença juntamente com os ouvintes da família do surdo,
amigos, até mesmo a sociedade, somente a partir desses elementos envolvidos a Educação dos Surdos
pode avançar.

Conhecendo a Surdez e suas Causas

Estima-se que pelo menos uma em cada mil crianças nasce profundamente surda. Muitas pessoas
desenvolvem problemas auditivos ao longo da vida, por causa de acidentes ou doenças.

Existem dois tipos principais de problemas auditivos. O primeiro afeta o ouvido externo ou médio e
provoca dificuldades auditivas “condutivas” (também denominadas de “transmissão”), normalmente
tratáveis e curáveis. O outro tipo envolve o ouvido interno ou o nervo auditivo. Chama-se surdez
neurossensorial.

Surdez: Graus e Perdas

Em média noventa por cento das pessoas com surdez nascem de famílias ouvintes, ou seja, que
ouvem, sem restrições auditivas e noventa por cento das pessoas surdas tem filhos ouvintes, por isso
devemos realçar o papel fundamental das escolas, que atendem crianças surdas, a transmissão da
língua e da cultura da comunidade surda.

Caros estudantes, para começarmos nossa unidade que aborda assuntos relacionados à cultura,
linguagem, o significado e a importância da LIBRAS para a comunidade surda é preciso conhecer e
entender os tipos de surdez, sabendo que para a educação de pessoas surdas, o enfoque central é a
LIBRAS, independente de seu grau de perda auditiva, ela visa socializar e integrar o surdo à
sociedade.

Libras 47

Veja o quadro, a seguir, e conheça a Surdez Condutiva, Sensório-Neural, Mista e Central:

Surdez Condutiva Interferência na transmissão do som desde o conduto auditivo externo à orelha
interna, conhecida como cóclea. A cóclea possui sua capacidade funcional normal, mas não é
estimulada pela vibração sonora, que poderá ocorrer com o aumento da intensidade do estímulo
sonoro.

Surdez Sensório-Neural Impossibilidade de recepção do som por lesão das células ciliadas da cóclea
ou nervo auditivo.

Surdez Mista Ocorrida pela alteração na condução do som até o órgão terminal sensorial associado à
lesão do órgão sensorial ou do nervo auditivo.

Surdez Central Esse tipo de surdez não, necessariamente, acompanha uma diminuição da
sensitividade auditiva, mas se manifesta por graus diversos de dificuldade de compreensão de
informações sonoras devido às alterações nos mecanismos de processamento da informação sonora no
sistema nervoso central.

Surdez e perdas auditivas:

• Surdez leve: perda auditiva entre 25db e 40db;

• Surdez moderada: perda auditiva entre 41db e 55db;

• Surdez acentuada: perda auditiva entre 56db e 70db;

• Surdez severa: perda auditiva entre 71db e 90db;


• Surdez profunda: perda auditiva acima de 91db.

Podemos definir essa classificação, basicamente assim:

• Surdez Leve: Distinção da linguagem falada;

• Surdez Média: Distingue barulhos;

• Surdez Profunda: Não percebe nem os grandes ruídos.

Libras48

Linguagem e Surdez

Conforme a teoria de Vygotsky a linguagem surge inicialmente como um meio de comunicação entre
a criança e as pessoas em seu ambiente. Sabe-se que essa linguagem está presente no comportamento
dos homens. A linguagem é o meio de comunicação dos homens, sendo o modo de se comunicar
natural ou artificial.

A criança surda não nasce muda, nasce chorando como qualquer outra, por isso não podemos dizer
que existem surdos-mudos. Assim como uma criança ouvinte, a surda possui suas cordas vocais em
perfeito estado. Ao nascer, a criança busca imitar todas as ações do adulto, inclusive a fala, mas se
essa não recebe estímulo auditivo, logo não conseguirá imitar, produzir a fala igual a dos adultos
ouvintes, enquanto a criança ouvinte automaticamente, sem esforços, reproduzirá.

As crianças surdas passam por um período inicial que se assemelham ao balbucio das crianças
ouvintes. É nessa fase que produz sequências que, fonologicamente, assemelham-se a sinais do
mesmo modo de desenvolvimento. Período apresentado desde o nascimento, até por volta dos
quatorze meses de idade. O balbucio é fruto da capacidade inata da linguagem, manifestada não só
através de sons, mas também por sinais, bebês surdos possuem balbucios manuais: silábicos e
gesticulação. Os silábicos apresentam combinações fonéticas das LS, enquanto que as gesticulações
não apresentam organizações internas.

O surdo aprende a nomear e unir o sinal ao objeto, produzindo suas primeiras “palavras”. Assim
como a criança ouvinte não pronuncia corretamente as palavras nesta fase, as crianças surdas também
fazem os sinais com erros nos parâmetros, alterando a configuração das mãos, o ponto de articulação
ou o movimento, mas o adulto surdo, assim como o ouvinte, compreende o que está sendo falado.

Em torno dos dois anos e meio, a criança começa a produzir frases de dois sinais, essa fase continua
até os cinco anos quando já produz frases maiores e mais complexas. Pode-se perceber que o processo
de aquisição da língua de sinais é semelhante ao da língua oral-auditiva e quanto mais cedo ela entrar
nesse processo, mais “natural” será. A leitura e a escrita da Língua Portuguesa para o surdo deve ser
ensinada como uma segunda língua e o estudante necessita ter domínio de sua língua “natural” para
que este processo ocorra de forma eficaz.

Libras 49
O processo aquisitivo da língua de sinais é igual ao da língua oral-auditiva. À medida que a criança se
desenvolve e interage de forma contextualizada e “natural” com os usuários da língua, ela vai se
apropriando e desenvolvendo a compreensão e expressão desse sistema.

A criança ouvinte percebe através da audição o que está acontecendo ao seu redor e vai
desenvolvendo sua personalidade conforme as experiências vividas. Mas a linguagem não se
desenvolve unicamente através da audição, mas sim da oportunidade de comunicação. O uso das LS
não nega o surdo o direito de integração na sociedade, pelo contrário, quanto mais cedo o seu uso,
mais rápido se desenvolverá cognitivamente e emocionalmente.

Bilinguismo, Linguagem, Língua de Sinais e Educação

Podemos definir língua comzo uma linguagem, sistema abstrato e repleto de regras e conceitos
indicando uma estrutura em diversos planos. Para que isso ocorra, ela deve ser acessível, eficaz e
praticável. A língua de sinais é estruturada pelo o processo visual do cérebro que processa estímulos
eficientes. Através dessa língua o surdo pode comunicar-se livremente, pois, novas informações são
processadas e compreendidas, sendo capaz de receber e decodificar significados. Essas estruturas e
significados tornam a língua possível.

Portanto, a língua é uma forma de linguagem, pois, está dentre os diversos meios de comunicação.
Como a língua oral, a Língua de Sinais Brasileira possui gramática própria, sua estrutura é
diferenciada da Língua Portuguesa Brasileira, sendo enfatizada como natural, ou seja, não artificial,
por possuir equivalência a qualquer outra língua natural conhecida.

Como não existe apenas uma língua oral no mundo, também não há uma só Língua de Sinais, mas
existem várias comunidades linguísticas, conforme a língua oral. Muitas pessoas pensam que a
Língua de Sinais é o Português nas mãos, no qual os sinais substituem as palavras, crendo que é
limitada, expressando apenas situações concretas, não sendo capaz de transmitir ideias abstratas.

A língua de sinais não é uma decodificação da língua oral, pelo contrário, tem a sua própria estrutura
gramatical que deve ser aprendida igual a todas as outras línguas, diferencia-se da língua oral, pois,
seu canal comunicativo é a visão e não a audição como na língua oral utilizada por ouvintes.

Libras50

Ao aprender a língua de sinais, a criança surda desenvolve de forma mais rápida a língua oral na
modalidade escrita, além de compreender o mundo em que está inserido. A escola deve proporcionar
oportunidades na qual a criança possa desenvolver também sua identidade pessoal.

A imensa quantidade de surdos que não tem direito de se educar com qualidade ou até mesmo de não
se educar, no sentido literal, vem revelando um quadro apavorante. A esses surdos são privadas a
possibilidade de exercerem sua cidadania e identidade como uma pessoa normal. De acordo com
dados oferecidos pela Comissão de Direitos Humanos da Federação Mundial dos Surdos (World
Federation of the Deaf, WFD), no ano de 1995,

aproximadamente 80% das pessoas surdas do terceiro mundo não recebem nenhuma educaç
COMISSÃO DE DIREITOS HUMANOS DA CONFEDERAÇÃO MUNDIAL DOS SURDOS : A
Federação Mundial dos Surdos (FMS), os seus membros e os 2.100 participantes de 125 países no
Mundial XVI Congresso da Federação Mundial de Surdos em Durban, África do Sul, 18-24 Julho de
2011.

Recordando a Declaração do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos na Cerimônia de


Abertura do Congresso Mundial“, a participação é um princípio fundamental dos direitos humanos.
No entanto, sem acesso adequado à interpretação em língua de sinais, educação bilíngue e o
reconhecimento da língua de sinais como língua, há importantes barreiras para o pleno exercício por
pessoas surdas de seus direitos humanos. Reafirmando a importância da Convenção das Nações
Unidas sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência e seu Protocolo Facultativo, especificamente:

Artigo 3: o respeito pela diferença e pela aceitação das pessoas surdas como parte da diversidade
humana e da humanidade;

Artigo 9: possibilitar às pessoas com deficiência participar plenamente em todos os aspectos da vida,
incluindo acesso à informação e comunicação, incluindo fornecimento de intérpretes profissionais de
língua de sinais;

Artigo 21: reconhecer e promover o uso de línguas de sinais;

Artigo 24: garantir que a educação de crianças surdas seja ministrada nas línguas mais adequada para
o indivíduo e no ambiente que maximiza o desenvolvimento acadêmico e social e empregando
professores que são qualificados em língua de sinais;

Artigo 25: garantir às pessoas surdas o direito ao gozo do mais alto nível possível de saúde sem
discriminação;

Artigo 30: reconhecer o direito das pessoas surdas a participar em pé de igualdade com os outros na
vida cultural, incluindo o reconhecimento e apoio de línguas de sinais e cultura; surda,

Lembrando também que as mulheres surdas e as meninas são frequentemente vítimas de


discriminações múltiplas e enfatizando a necessidade de incorporar uma perspectiva de gênero em
todos os esforços para promover o pleno gozo dos direitos humanos e liberdades fundamentais pelas
pessoas com deficiência.

Leia mais em: http://www.inclusive.org.br/?p=20850

O bilinguismo defende que a língua de sinais e a língua oral sejam utilizadas pelos surdos sem que
uma prejudique a outra, tendo como objetivo principal do enfoque bilíngue, que o surdo aprenda
comunicar-se pelas duas línguas. Acredita-se que, por intermédio da língua materna do surdo (língua
de sinais), este possa desenvolver-se linguisticamente e cognitivamente sem enfrentar tantas
dificuldades. Essa ideologia é de postura política, cultural, social e educacional, não se resumindo
apenas à aquisição de duas línguas.
É necessário que os profissionais percebam a importância da Língua de Sinais para o
desenvolvimento do surdo. Pois, essa é a língua que pode ser adquirida de forma espontânea através
das relações sociais e diálogos do cotidiano. O bilinguismo é simples e eficaz, pois o surdo adquire a
Língua de Sinais na mesma rapidez que o ouvinte adquire a língua oral. Sua origem se dá pela
insatisfação dos surdos com a proibição da língua de sinais e através das mobilizações em busca das
conquistas de direitos linguísticos.

A proposta bilíngue para surdos é definida como uma oposição às práticas características da educação
e da escolarização dos surdos nas últimas décadas. Todos os que compõem o estabelecimento de
ensino necessitam preparar-se melhor para atender esses estudantes. Esses profissionais devem
utilizar-se da língua de sinais para que o discente possa melhor aprender, percebendo que essa língua
é visual, podendo desenvolver através do ver, tocar, descobrir o mundo a sua volta, trazendo o meio
social em que ele está inserido para as práticas de ensino.

Como um estabelecimento de ensino, a escola deve estar preparada para atender os estudantes surdos,
disponibilizando professores, administradores e profissionais preparados e capacitados para adequar-
se a essa realidade.

A escola tem que estar preparada para o repasse de conteúdos, incentivando os familiares a
compartilharem da vida escolar de seus filhos, participando também no processo de ensino de
LIBRAS, (no caso de pais ouvintes não conhecedores da Língua de Sinais) e conhecer mais da
Cultura Surda para haver uma melhor interação na comunicação familiar. Este incentivo e estímulo
são um grande apoio por parte da família para com esses estudantes.

O grupo de educadores de surdos, por sua vez, deve repassar aos familiares a importância da língua
de sinais para o estudante surdo, explicando que este poderá aprender a língua oral, assim como o
estudante ouvinte, pois existe uma comunicação visual (a língua de sinais), que ao ser utilizada pelo
surdo permite o desenvolvimento da linguagem, podendo descobrir o mundo de diversos sentidos que
está ao seu redor.

Libras 53

A escola tem um papel importante para o estudante surdo e seus familiares; o de propagar que uma
pessoa surda não tem um mundo de tragédias pela frente, pelo fato desta não se comunicar como a
pessoa ouvinte, mas sim com um mundo de possibilidades, pois estão à frente de uma forma diferente
de comunicação que envolve uma cultura e uma língua visual-espacial.

Nessa proposta de ensino, a língua oral deve ser baseada em técnicas de aprendizagem de segunda
língua, enfatizando a leitura e a escrita como modalidades de acesso a língua majoritária (em oposição
ao acesso através da metodologia oral).

A língua oral deve ser ensinada em momentos específicos das aulas e os estudantes deverão saber que
estão trabalhando com o objetivo de desenvolvê-la, trabalhando a leitura e a escrita.
A proposta bilíngue concebe o seu desenvolvimento, baseando-se em técnicas de ensino de segunda
língua, ou seja, o ensino da língua oral deverá ser ministrado enfatizando a escrita, considerando que
o canal de aprendizagem do estudante surdo é o visual, podendo este ter acesso ao processo de
aprendizagem e do desenvolvimento linguístico e cognitivo. Essa técnica parte das habilidades
interativas e cognitivas já adquiridas pela criança ao longo de suas experiências naturais com a língua
de sinais, que é considerada como primeira língua. A língua de seu país será considerada como
segunda língua.

A escola precisa atender o surdo como um membro pertencente a sua comunidade cultural, social e
linguística, ou seja, precisa haver interação entre a criança surda e a escola, um surdo adulto ou um
Intérprete/Tradutor de Língua de Sinais. Essa presença terá grande valor no desenvolvimento do
estudante, possibilitando que ele construa sua própria identidade e consequentemente desenvolva a
sua língua natural.

Por meio da interação, adulto / criança ou criança / criança, o sujeito reage, constrói e organiza seu
conhecimento. Ao transmitir seus conhecimentos para as crianças, o adulto acaba por interferir no
desenvolvimento da cognição e propicia o desenvolvimento linguístico da mesma. Na situação de
interação com o outro, a linguagem é construída em conjunto, e, por intermédio de alguns processos
dialógicos, a criança se torna um ser na linguagem.

O principal propósito de uma língua é a transferência de informações entre duas ou mais pessoas.
Através da interação, a criança aprende com o adulto a sua língua. Na vida das crianças surdas é
crucial esse entrosamento entre o adulto e a

Libras54

criança para obter a aprendizagem dessa língua de modalidade gesto visual, que traz movimentos
expressivos que, por sua vez, são interpretados pela visão.

Para que o estudante possa desenvolver a linguagem e o seu pensamento, a escola deve proporcionar
a ele um ambiente favorável que o levará ao ensino da segunda língua, esse ensino deve ser
específico, sempre mostrando o que está sendo trabalhado e sua finalidade, tendo como objetivo
principal desenvolver a língua oral. A língua de sinais é capaz de fazer com que o surdo possa
perceber um mundo repleto de aprendizagens que por ele pode ser conquistado.

Observa-se que a maioria dos surdos é exposta à língua oral e não à língua de sinais e, por eles não
dominarem a língua oral e nem terem experiências linguísticas ricas na língua de sinais, acabam por
adquirir a escrita de maneira insatisfatória, trazendo para esta última alguns aspectos característicos
da LS, além das indequações linguísticas vivenciadas na língua oral

A Língua de Sinais é a única língua na qual um surdo tem condições para poder aprender e garantir
um desenvolvimento sem atraso. A LS é indispensável à apropriação da linguagem pela criança surda.
Somente a língua de sinais permite que seja estabelecida, para a criança surda, as condições naturais
de apropriação da linguagem devendo, portanto, ser a linguagem materna de todos os indivíduos
surdos.
A Escola e o ensino de LIBRAS

Educação Bilíngue para surdos deve se manifestar nos espaços escolares, nas descrições formais e
metodológicas situadas dentro e fora da proposta pedagógica. As Escolas de Surdos possuem
naturalmente responsabilidades extras no desenvolvimento da primeira língua de seus estudantes, já
que a maioria não possui a língua de sinais como sua língua materna no sentido mais exato.

Atualmente na Educação de Surdos, é comum professores não acreditarem que o surdo possa ser
dispensado do processo tradicional de aprender a língua oral. LIBRAS, por sua vez, sendo abordada
como primeira língua em casa e na escola, originam grandes benefícios para surdos brasileiros.
Podemos mencionar, neste caso específico, o fato de as informações poderem ser facilmente
assimiladas, sem esforços, fazendo com que as crianças surdas desenvolvam a língua de sinais da
mesma forma que as crianças ouvintes desenvolvem a língua oral.

Libras 55

Entende-se que o professor tem um papel importante nessa proposta, como também se acredita que
um professor não é formado por uma única pessoa e sim por uma equipe de docentes que procura
partir de um trabalho constante de investigação e revisão de sua própria prática em confronto com as
percepções dos outros membros da equipe procurando o melhor método de ensinar.

O componente metodológico tem uma função essencial, a visão bilíngue de aprendizagem envolve
tanto o conhecimento de línguas quanto a capacidade de usá-la em qualquer contexto social. Ao
estudante precisa ser apresentado, em sala de aula, diversas situações de construção de significados
para que ele possa desenvolver suas habilidades, ativar seu conhecimento de língua e fazer sentido a
leitura e o texto que produzir.

O objetivo final dessa proposta é levar o estudante a continuar a aprender por si mesmo, fora da
escola e fora da sala de aula. Com essa proposta, bem fundamentada, é possível reverter o quadro de
apatia e fracasso em que parece estar mergulhada a educação de nossos surdos.

Gramática da Língua de Sinais

A língua de sinais para o surdo pode ser adquirida espontaneamente. Ela é composta de uma
gramática construída de fonética, fonologia, morfologia, sintaxe, semântica que apresentam
especificidades e princípios básicos, possibilitando a produção de uma infinidade de construções a
partir de um número finito de regras.

Libras56

Nas Línguas de Sinais podemos encontrar os seguintes parâmetros

A configuração das mãos é a forma que as mãos assumem ao sinalizar movimento, orientação
direcional, ponto de articulação, localização do sinal no eixo corporal e as expressões faciais. Um
simples movimento de sobrancelha, duração do olhar, pode expressar ideias totalmente diferentes,
assim como os ouvintes mudam a entonação de voz indicando na frase pronunciada elogio, desprezo,
alegria ou até mesmo tristeza, o surdo também pode através do olhar, expressar o mesmo.

A comunicação pode ocorrer de diversas maneiras, nem sempre recorremos à linguagem falada ou
sinalizada para nos expressarmos. Quando duas pessoas não falam a mesma língua elas buscam meios
que facilitem a sua comunicação seja apontando, desenhando ou até mesmo fazendo gestos e mímicas
para expressar suas ideias.

As expressões faciais e corporais fazem parte da comunicação humana, através destas, podemos
revelar emoções, sentimentos e nossas intenções para o receptor da imagem. No caso da língua de
sinais essas desempenham um papel de suma importância e são chamadas de marcadores não
manuais.

Em LIBRAS os marcadores não manuais, ou expressões faciais podem ser separados em dois grupos:

Assim como as línguas orais auditivas apresentam um sistema de estrutura, formação das palavras e
divisão em classes, a língua de sinais, também, apresenta essa estrutura como morfologia que seria o
espaço central, a forma semântica que seria as expressões corporais e a sintática, as configurações de
mãos. Nomes são situados em pontos arbitrários em frente ao corpo do sinalizador e a referência
subsequente é expressa pelo movimento de apontar o lugar previamente estabelecido no espaço.

As classes de palavras (substantivos, adjetivos, verbos e advérbios) são determinadas pelo contexto
linguístico, alguns verbos são flexionados, marcando o sujeito e o objeto, pela direção, ponto inicial e
final do movimento do sinal. Os graus aumentativos e diminutivos podem ser obtidos por expressões
faciais acompanhadas

Expressões Afetivas Usadas para expressão de sentimentos como alegria, tristeza, raiva, angústia,
entre outros, podendo ou não ocorrer simultaneamente com um ou mais item lexical.

Expressões

Gramaticais

Relacionam-se com estruturas específicas, tanto na morfológica quanto na sintaxe. São obrigatórias
nas línguas de sinais em contextos específicos.

por sinais, a direcionalidade estabelece as relações características das preposições e conjunções.

Fazendo parte do conjunto dos marcadores não manuais as expressões faciais são acompanhadas de
determinadas estruturas. Quando falamos sobre o nível morfológico, algumas marcações não manuais
são relacionadas ao grau, apresentando estrutura padrão nos sinais que estão sendo produzidos.

Podendo assumir a função de adjetivo, as expressões faciais, podem incorporar o substantivo


independentemente da produção de um adjetivo, incorporando o grau de tamanho, nos substantivos. A
marcação de grau apresenta um padrão, uma variação gradual de intensidade ou de tamanho.
• Podemos citar como exemplo de intensidade: amor, amorzinho e amorzão.

• Podemos citar como exemplo de tamanho: carro, carrinho e carrão.

As marcações não manuais são graduais, isto é, não são fixas, são produzidas com diferentes
intensidades, demonstrando tamanhos diversos, ou seja, pode modificar a produção do sinal, quanto
ao grau ou tamanho. Como exemplo, podemos citar as modificações na configuração da mão.

Quanto à sintaxe, essas são responsáveis pela indicação das construções das sentenças:

• Sentenças Afirmativas;

• Sentenças Negativas;

• Sentenças Interrogativas;

• Sentenças de Condição;

• Sentença de Relação, entre outras.

Dentro dessas expressões podemos citar os movimentos:

Movimentos da cabeça quando a sentença é afirmativa ou negativa, elevação ou abaixamento da


cabeça, franzir da testa, elevação de sobrancelha, direção do olhar, piscar de olhos, movimentação dos
lábios diferenciando os tipos de interrogativas, entre outros movimentos.

Libras 59

Caros estudantes, dentro de uma sentença em LIBRAS é possível ter mais de uma marcação não
manual e sua ausência a deixa agramatical. Cada expressão associa-se a uma estrutura sintática
apresentando uma meta definida. Em relação à sentença negativa esta pode apresentar-se de duas
formas:

• Movimento de cabeça – apresenta uma distribuição mais ampla das expressões faciais realizando
apenas o “não” junto ao verbo, a sentença completa ou se estende para além do último sinal da
sentença;

• Modificações no contorno da boca – abaixamento dos cantos da boca ou arredondamento dos lábios,
que está associado ao abaixamento das sobrancelhas com um leve abaixamento da cabeça.

A sintaxe é o movimento de uma localização a outra, indicando a relação sujeito-objeto, produzindo o


movimento no sentindo locutor-interlocutor. A combinação dos sinais apresenta suas próprias regras,
que caracteriza a língua de sinais como língua. A sintaxe estuda as inter-relações dos elementos
estruturais da frase e das regras que regem a combinação das sentenças.
A condição simétrica da sintaxe na língua de sinais estabelece o movimento das duas mãos na
produção do sinal, ambas com a mesma configuração, simetria e movimento simultâneo ou alternado.
No caso da configuração de mãos serem diferentes, apenas uma das mãos se move, sendo esta
considerada ativa, pois a outra servirá de apoio.

Determinados em qualquer língua, quanto ao seu uso pelo contexto, os traços semânticos, todas essas
relações contribuem e interferem na relação da significação e do uso, características que ocorrem
naturalmente nas línguas de sinais, podendo aparecer através das expressões faciais, manuais (caso o
sinal seja feito lento, rápido, suave...) ou corporais.

Abordaremos agora a fonologia que é um sistema de unidades distintivas que constituem os sinais. O
nível fonológico apresenta regras e combinações, entre parâmetros de configuração de mão,
movimento, localização e orientação das palmas das mãos na formação dos sinais. Os sinais de
pontuação como vírgulas, ponto final, de exclamação, interrogação, são realizados através das
expressões faciais. Preposições e outras classes de palavras são inseridas na sinalização por meio dos
movimentos.

Libras60

O eixo linearidade e a simultaneidade fazem parte da fonética, fonologia das línguas de sinais.
Linearidade são sequências de suspensões e movimentos. Suspensões ocorrem quando os sinais são
realizados com a(s) mão(s) parada(s) e os movimentos ocorrem quando os sinais são realizados com
a(s) mão(s) em movimento.

Conforme as pesquisas sobre a gramática das línguas de sinais, alguns estudos revelam que na
morfologia desta também são encontrados os sufixos e os prefixos, outro exemplo de derivação
morfológica é a incorporação do numeral na sentença, como podemos verificar em: UMA-SEMANA,
DUAS-HORAS. Um processo morfológico que ocorre na língua oral e, também, ocorre nas línguas
de sinais é a reduplicação, ou seja, a repetição do sinal para dar significado a uma expressão, como
podemos perceber em: TODO-DIA. Temos ainda, na morfologia, o sinal composto como no sinal de
escola: CASA+ESTUDAR=ESCOLA.

Podemos dizer que morfema é o menor signo linguístico, ou seja, a função que une um significante a
um significado. Uma palavra pode ser dividida em unidades menores e cada unidade corresponde a
um significante e um significado, esses ajudam a formar uma nova palavra com um novo significado.

A área que estuda a sentença e sua estrutura chama-se sintaxe, seus estudos estão centrados na ordem
das palavras. Nas Línguas de Sinais, as sentenças que mostram alterações da ordem Sujeito-V

Sujeito-Verbo-Objeto – SVO geralmente estão acompanhadas de uma marcação não manual. A


estrutura SVO pode ser alterada na LS, a ordem mais comum diante essa alteração é a OSV. Podemos
citar como exemplo a sentença: CASA, MARIA, IR.

As línguas de sinais apresentam várias acepções como o uso de expressões idiomáticas, metafóricas,
figurativas, estilísticos e contextualizações que aceitam a pressuposição e implícitos, que dá as LS o
status de língua natural, em seu aspecto gramatical e nas manifestações do simbólico. Como qualquer
outra língua, a Língua de Sinais vem aumentando o seu vocabulário para acompanhar o mundo atual,
mudanças culturais, tecnológicas, entre outras.

Ao aprender uma língua, adquirimos também os hábitos que fazem parte daquela cultura, na cultura
surda existem alguns elementos que são importantes, por isso vamos destacá-los e comentá-l

O Tradutor Intérprete de Língua de Sinais

Tradução, uma das atividades mais antigas do mundo, a origem desta palavra deriva do latim
traducere e, segundo o dicionário Aurélio, seu significado expressa “conduzir além”, “transferir”. As
discussões sobre o intérprete, enquanto profissional, são relativamente recentes. No Congresso da
Federação Mundial de Surdos, realiza-do na Finlândia em 1987, houve a recomendação para que a
formação de intérpre-tes de língua de sinais contasse com as mesmas exigências daquelas vinculadas
aos intérpretes das línguas estrangeiras orais.

No período de 1995, em uma conferência ocorrida na Áustria, organizada pela mesma Federação, foi
estabelecida uma Comissão de Interpretação, o que demonstrou um avanço nas discussões da
comunidade surda mundial.

Com a Lei nº 10.436 de 24 de abril de 2002 e do Decreto nº L de 22 de dezembro de 2005,


regularizaram a Língua Brasileira de Sinais como a primeira língua oficial do surdo, o
tradutor/intérprete vem conquistando cada dia mais espaço no cenário educacional brasileiro.

É através desse decreto, que considera como tradutor e intérprete da língua de sinais e da língua
portuguesa, aquele que interpreta de uma língua fonte para uma língua alvo. Segundo tal decreto, a
formação desse intérprete deve efetivar-se por meio de curso superior de Tradução e Interpretação,
com habilitação em LIBRAS/ língua portuguesa. Essa formação permite que o intérprete em LIBRAS
atue na educação infantil, na educação fundamental, ensino médio e na universidade.

Esse decreto evidenciou o papel do profissional intérprete de LIBRAS como meio legal de garantir as
propostas de inclusão do surdo previstas nas leis, neste contexto de inclusão socioeducacional, a
atuação desse profissional é de suma influência para a pessoa surda e para a sociedade de modo geral.

Assim, a atuação do TILS (Tradutor intérprete de língua de sinais), é citada no Decreto lei 5.296, de 2
de dezembro de 2004, que regulamenta a Lei 10.048, de 8 de novembro de 2000, que prioriza o
atendimento às pessoas com necessidade de mobilidade, idosos, gestantes, e 10.098, de 19 de
Dezembro de 2000, idem, expressa no seu artigo Art. 6º, capítulo III - serviços de atendimento para
pessoas com deficiência auditiva, prestado por intérpretes ou pessoas capacitadas em Língua
Brasileira de Sinais - LIBRAS e no trato com aquelas que não se comuniquem em LIBRAS, e para
pessoas surdas-cegas, prestado por guias-intérpretes ou pessoas capacitadas neste tipo de
atendimento.

DECRETO Nº 5.296 DE 2 DE DEZEMBRO DE 2004.

O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art.


84, inciso IV, da Constituição, e tendo em vista o disposto nas Leis nos 10.048, de 8 de novembro de
2000, e 10.098, de 19 de dezembro de 2000.

§ 1o Considera-se, para os efeitos deste Decreto:

I - pessoa portadora de deficiência, além daquelas previstas na Lei no 10.690, de 16 de junho de 2003,
a que possui limitação ou incapacidade para o desempenho de atividade e se enquadra nas seguintes
categorias:

a) deficiência física: alteração completa ou parcial de um ou mais segmentos

do corpo humano, acarretando o comprometimento da função física, apresentando-se sob a forma de


paraplegia, paraparesia, monoplegia, monoparesia, tetraplegia, tetraparesia, triplegia, triparesia,
hemiplegia, hemiparesia, ostomia, amputação ou ausência de membro, paralisia cerebral, nanismo,
membros com deformidade congênita ou adquirida, exceto as deformidades estéticas e as que não
produzam dificuldades para o desempenho de funções;

b) deficiência auditiva: perda bilateral, parcial ou total, de quarenta e um decibéis (dB) ou mais,
aferida por audiograma nas frequências de 500Hz, 1.000Hz,

2.000Hz e 3.000Hz;

c) deficiência visual: cegueira, na qual a acuidade visual é igual ou menor que 0,05 no melhor olho,
com a melhor correção óptica; a baixa visão, que significa acuidade visual entre 0,3 e 0,05 no melhor
olho, com a melhor correção óptica; os casos nos quais a somatória da medida do campo visual em
ambos os olhos for igual ou menor que 60o; ou a ocorrência simultânea de quaisquer das condições
anteriores;

d) deficiência mental: funcionamento intelectual significativamente inferior à média, com


manifestação antes dos dezoito anos e limitações associadas a duas ou mais áreas de habilidades
adaptativas, tais como: comunicação; cuidado pessoal; habilidades sociais, utilização dos recursos da
comunidade, saúde e segurança, habilidades acadêmicas, lazer; trabalho;

e) deficiência múltipla - associação de duas ou mais deficiências; e

II - pessoa com mobilidade reduzida, aquela que, não se enquadrando no conceito de pessoa portadora
de deficiência, tenha, por qualquer motivo, dificuldade de movimentar-se, permanente ou
temporariamente, gerando redução efetiva da mobilidade, flexibilidade, coordenação motora e
percepção.

O intérprete de língua de sinais precisa se familiarizar nos discursos das duas línguas em questão,
neste caso, a LIBRAS e a Língua Portuguesa, buscando conhecimento do vocabulário de palavras ou
signos que ainda não possuem sinais com significados equivalentes pelo fato de ser novo e
desconhecido para uma determinada comunidade surda, em decorrência do não acesso às
informações.
Geralmente o não acesso a determinados vocabulários ocorre pelo fato deste não fazer parte do
convívio social e cultural, ou devido aos próprios fenômenos linguísticos naturais em todas as línguas
orais e de sinais, tornando-se assim, de pouco interesse. Com a aparição de novos signos em virtude
da evolução ou surgimento de novas necessidades, sejam de cunho científico, de mercado de trabalho
ou tecnológico, o intérprete precisa estar capacitado para poder atender a essa demanda, por isso este
deve procurar uma formação.

O profissional tradutor é muito mais do que um especialista competente em duas ou mais línguas,
pois a tradução envolve uma aproximação ao texto de partida com conhecimento de causa e
sensibilidade, bem como uma percepção do lugar que a tradução pretende ocupar no sistema da língua
de chegada.

Quem desconhece o processo de tradução, possivelmente pode vir a tratar o profissional tradutor
como mero conhecedor de dois ou mais idiomas, mas traduzir é bem mais complexo, pois além de
envolver dois idiomas, as áreas ou tipos de textos traduzidos são variados e nem sempre um bom
tradutor de um determinado tema será bom em outro.

Podemos definir tradução/interpretação como uma “transposição de significados” entre textos e falas
e/ou sinais de um idioma para outro. Um dos primeiros escritores a desenvolver uma teoria que
explicasse as funções, princípios de um tradutor e o que seria a tradução, foi o humanista francês
Etienne Dolet (1509-1546), este afirma que tradução é “a maneira de bem traduzir de uma língua para
outra”.

Libras64

Etienne Dolet

Pequeno tratado de Dolet é muito curto, pouco mais de 1.000 palavras. Goza a honra de ser o
primeiro geral tratado teórico sobre tradução escrita em vernáculo da Europa Ocidental. Há textos
anteriores em latim, e há também textos ocasionais, como prefácios, dedicatórias e críticas, em várias
línguas vernáculas, mas esta é a primeira reflexão geral sobre a tradução em um vernáculo europeu.

Ele apareceu num momento em que a tradução para as línguas vernáculas estava entrando em um
período de aumento espetacular na Europa, parte das momentosas mudanças sociais, econômicas,
tecnológicas, intelectuais e outros marcando a transição do medieval ao início dos tempos modernos.
Este foi também o período em que os Estados-nação estavam sendo formadas. (Na Inglaterra, França
e Espanha, por exemplo). Entre eles, esses dois processos nos fornecer um general contexto e uma
causa imediata para nos ajudar a apreciar o tratado de Dolet como pouco mais do que um general
declaração sobre a tradução.

Vamos começar com uma leitura rápida, superficial. O que o documento diz? Um resumo

Parece muito fácil, especialmente porque o tratado é muito bem estruturado e sinalizado. O tradutor
deve:

1.compreender o objeto do original;


2 estar familiarizado com as duas línguas envolvidas;

3 não traduzir palavra por palavra; 4 Siga uso comum, tanto quanto possível;

5 usar um estilo agradável.

Leia mais em: http://translate.google.com.br/translate?hl=ptBR&s-


l=en&u=http://www.ucl.ac.uk/translation-studies/translation-in-history/
documents/Hermans_pdf&prev=/search%3Fq%3Dbiografia%2Bde-

%2BEtienne%2BDolet%26newwindow%3D1

Libras 65

Algumas funções e atribuições do Tradutor:

• Deve compreender o sentido e a matéria do que está sendo traduzido;

• Deve conhecer a língua fonte e a língua alvo;

• O tradutor não deve fazer a tradução de palavra por palavra;

• Deve fazer uso de palavras usuais;

• Deve observar a harmonia do discurso.

Entre as funções deste profissional, está à elaboração de versões escritas em livros, documentos e
textos em geral, de uma língua para outra. A tradução sempre foi uma atividade humana e esta
também pode ser entendida como o ato de mape-ar um texto, compreendê-lo e transportá-lo de um
domínio a outro.

Tradução é uma atividade que abrange a interpretação do significado de um texto em uma língua, o
texto fonte, e a produção de um novo texto em outra língua, mas que manifeste, na língua de destino,
o mesmo sentido do texto original e da forma mais exata possível. O texto resultante desse processo,
também é denomina-do tradução.

Já a interpretação é uma ação que consiste em estabelecer, simultânea ou con-secutivamente,


comunicação verbal ou não verbal entre duas comunidades que não usam o mesmo código linguístico.
É um termo que pode ter mais de um sentido, tanto podendo referir-se ao processo quanto ao seu
resultado.

Portanto, a interpretação consiste na descoberta do sentido e significado de algo geralmente fruto da


ação humana. Intérprete é aquela pessoa que interpreta, isto é, que estabelece, simultânea ou
consecutivamente, comunicação verbal entre duas ou mais pessoas que não falam ou sinalizam a
mesma língua. O intérprete da Língua de Sinais, pode traduzir um discurso tanto oralmente como de
forma sinalizada podendo traduzir palestras, discursos, reuniões, videoconferências, entre outras
atividades que exija a sua presença.

Para isso, esse especialista precisa dominar o vocabulário, a gramática, as gírias e as expressões
coloquiais da língua oral e da língua de sinais oficial de seu país. Também é necessário que este
conheça os costumes, as tradições, história e a cul-tura dos povos surdos assim como a linguística,
gramática e compreensão de textos escritos, oralizados ou sinalizados.

Libras66

Entre todas essas questões teóricas está também, uma questão imprescindível, a prática, dispondo de
habilidade metodológica para realizar escolhas lexicais, estruturais e semânticas apropriadas às duas
línguas, possibilitando tanto ao emissor quanto ao receptor compreender e ser compreendido nas
línguas envolvidas.

No mercado de trabalho a demanda por tradutores/intérpretes de Língua de Sinais cresce a cada dia.
Este profissional pode, além de ser tradutor, especializar-se em diversos temas e áreas, como
Pedagogia, Fonoaudiologia, Psicopedagogia, Língua Portuguesa, Direito, Medicina, entre outras áreas
em que possa desenvolver junto ao sujeito surdo um trabalho de excelência, lidando com a linguagem
e os termos próprios dos vários campos de atuação suprindo a necessidade em várias áreas de atuação:
seja em instituições educacionais, jurídica, de saúde, comerciais, científicas ou até mesmo
tecnológicas, dentre outras.

Os artigos 2º e 3º da Lei nº 10436, de 24 de Abril de 2002, reconhecida pelo decreto de nº 5626 de 22


de dezembro de 2005, garante o direito à efetivação da comunicação do surdo: “Deve ser garantido,
por parte do poder público em geral e empresas concessionárias de serviços públicos, formas
institucionalizadas de apoiar o uso e difusão da Língua Brasileira de Sinais - LIBRAS como meio de
comunicação objetiva e de utilização corrente das comunidades surdas do Brasil [...]”. As instituições
públicas e empresas concessionárias de serviços públicos de assistência à saúde devem garantir
atendimento e tratamento adequado aos portadores de deficiência auditiva, de acordo com as normas
legais em vigor.

A presença deste profissional nas instituições de ensino, principalmente nas salas de aulas, é de suma
importância para o aprendizado dos estudantes surdos que têm como primeira língua a Língua de
Sinais a utilizam como mediadora do acesso aos conteúdos estudados em sala de aula. O intermédio
entre língua de sinais e língua oral contribui para o desenvolvimento e a melhor compreensão dos
conteúdos além de atender e respeitar à diversidade linguística e sociocultural desses estudantes.

O conhecimento e o desenvolvimento deste profissional se dá, muitas vezes, através de trabalhos


voluntários, ou seja, no acompanhamento do surdo em seu dia a dia.

A legislação é a representação e concretização de uma etapa fundamental na longa estrada pelo


processo de reconhecimento e formação do profissional intérprete/tradutor de língua de sinais, assim
como, da sua inserção oficial no mercado de trabalho.
Libras 67

Mas mesmo antes de ser respaldado de forma legal, ou seja, do reconhecimento da lei, o
intérprete/tradutor já se fazia presente na comunidade surda estabelecendo interação, comunicação e
divulgação da língua de sinais, buscando a efetivação da comunicação do surdo entre a língua oral e a
língua de sinais.

Esse profissional está diante das pessoas surdas como um representante visual e sonoro
compartilhando, muitas vezes, o mesmo espaço e abrindo as cortinas do mundo incógnito. De acordo
com Quadros e Stumpf (2008), o intérprete de Língua de Sinais, quando em meio aos surdos deixa de
ser vidente para ser visível. Sendo assim percebido tanto pelas pessoas surdas, como pelas não surdas.

As Línguas de Sinais por possuírem uma modalidade visual espacial, torna-se ainda mais complexa a
sua interpretação. A interpretação/tradução implica em um processo mental de compreensão e
apropriação da mensagem no discurso, além de contar com a agilidade técnica e motora.

O intérprete do idioma oral é reconhecido como profissional proficiente em uma língua estrangeira,
ou seja, um profissional realmente capacitado para a realização de um trabalho que exige
competência, agilidade, memória e raciocínio rápido, assim como o tradutor de línguas de sinais,
sendo que este, ainda, para uma determinada parte da sociedade, não tem sua função firmada, pois
este é definido como apoio didático e recurso estratégico de comunicação com o surdo, este que, em
muitas situações e por muitas instituições, ainda é rotulado como um portador de uma patologia ou
deficiência.

Iremos a partir de agora visualizar a LIBRAS na prática!

Vamos aprender? O alfabeto, saudações, semana, meses, números de 0 a 9, verbos na LIBRAS,


família, boas maneiras (por favor, obrigada, licença), adjetivos, alimentos, frutas e estados.

Vamos iniciar essa unidade de ensino falando da importância da datilologia, pois significa: soletração
de uma palavra usando o alfabeto manual de LIBRAS. É realizado por diferentes formatos das mãos
que representam as letras do alfabeto e é utilizado para escrever no ar, soletrar no espaço neutro
palavras que não possuem sinal

O movimento envolve uma alargada rede de formas e direções, envolvendo os movimentos internos
da mão, os movimentos do pulso, os movimentos direcionais no espaço e os conjuntos de
movimentos no mesmo sinal. O movimento que as mãos descrevem no espaço ou sobre o corpo pode
acontecer em linhas retas, cur-vas sinuosas ou circulares em várias direções e posições (FERREIRA
BRITO, 1995).

Libras74

No que diz respeito à direcionalidade os movimentos durante a realização de um sinal, podem ser:

• Unidirecional: movimento em uma direção no espaço;


• Bidirecional: movimento realizado por uma ou ambas as mãos, em duas direções diferentes;

• Multidirecional: movimentos que exploram várias direções no espaço.

Observe agora as saudações

Vimos nessa unidade de ensino que na história dos surdos eles eram vistos com olhares diferentes,
pois eram rotulados como uma aberração, inatos, isolados, não casavam, não herdavam a herança da
família e a igreja os considerava sem sal-vação.

No Egito eram vistos como mediadores entre os deuses e os Faraós, os ro-manos privavam dos
direitos legais, os gregos os lançavam do alto dos rochedos. Alguns filósofos antigos como Platão e
Aristóteles estavam também em sintonia com eles. Santo Agostinho tinha a ideia de que os pais dos
surdos haviam cometido algum pecado e estavam pagando por isso.

Ao longo do período da história, os estudantes eram exclusos da educação. A partir do século XVI, os
nobres que tinham filhos surdos passaram a se preocupar com a educação, pois tinham receio de que
quando morressem seus filhos não her-dassem o direito dos seus bens.

A partir daí, surgiram vários educadores e pesquisadores da surdez que se destacaram. Podemos citar
Pedro Ponce de Leon que se dedicou a ensinar os surdos filhos dos nobres, ensinando-os a falar
diversas línguas inclusive a datilologia.

Abade L’Epée se destacou bastante na educação de surdos, ensinou e os apoiou , criando uma escola
pública, o Instituto Nacional de Jovens Surdos-Mudos, em Paris, educando os surdos através do
método combinado ou sinais metódicos.

Ele aprendeu a língua gestual pelos franceses e utilizava em suas aulas acres-centando gestos que ele
mesmo criava. Acreditava na Língua de Sinais, embora não considerasse a língua com aspectos
gramaticais. Ele se aproximou dos surdos crian-do sinais metódicos, uma mistura da Língua de Sinais
com a gramática francesa.

O século XVIII foi um período que houve um grande aumento nas escolas de surdos, e através de
sinais podiam se comunicar e se integrar a sociedade dominan-do diversos assuntos e exercer várias
profissões.

Na Alemanha, por volta de 1750 Samuel Heinicke inseriu a Filosofia Educacio-nal Oralista, que tinha
como objetivo a sua utilização sem o uso da Língua de Sinais.

Com os avanços tecnológicos, a oralização ganhou força motivando profissio-nais a investir neste
método, pois muitos achavam e ainda acham que a Língua de Sinais é prejudicial ao estudante surdo.

Libras100
A Oralização dominou por muito tempo, mas foi a partir de 1880 no Congres-so em Milão que um
grupo de ouvintes decidiu excluir a Língua de Sinais a adotar somente a Oralização. Os estudantes
que eram vistos utilizando a Língua de Sinais eram castigados.

O método da oralização rebaixou o nível acadêmico desses estudantes, pois essa língua não era o
suficiente para o aprendizado da escrita e da leitura devido ao vocabulário reduzido.

O ensino das outras disciplinas foi deixado de lado e houve uma queda no aproveitamento dos
estudantes surdos. William C. Stokoe Jr. pesquisador da Língua de Sinais enfatizou que essa é uma
língua com características iguais às das línguas orais.

Na década de 60, Ray Hoolean adotou a Comunicação Total, na qual eram uti-lizadas várias formas
de comunicação. Alguns países perceberam que a Língua de Sinais não deveria ser utilizada junto
com a língua oral.

A Comunicação Total possui objetivos básicos, o de facilitar a integração do surdo com o meio, e
fornecer condições adequadas para o bom desenvolvimento psicolinguístico. Seja pela linguagem
oral, por meio dos sinais, datilologia ou pela combinação de todos os métodos, a Comunicação Total
permite uma aproximação entre as pessoas envolvidas na educação dos surdos.

Em meados de 1980 a 1990 surge a Filosofia Bilingue, em que os surdos te-nham como sua primeira
língua a Língua de Sinais e tendo a língua oral como a segunda língua de seus pais.

Foi percebido que mesmo utilizando a Língua de Sinais a Comunicação Total apresentou dificuldades
no quesito escrita e leitura, foi constatado que a utilização das duas línguas, tanto a oral e a Língua de
Sinais podiam andar juntas, mas não simultaneamente.

Nesta unidade de estudo podemos conhecer um pouco sobre a aquisição da linguagem pelas pessoas
surdas, a estrutura gramatical das línguas de sinais e um pouco sobre a cultura e identidade do povo
surdo.

Em nossos estudos percebemos que é importante que seja visto na surdez primeiramente a pessoa
surda, ou seja, ver o surdo como pessoa e não como um “deficiente”, ver que este é um sujeito que
usa uma comunicação diferente, mas que esta forma diferente de comunicação não o priva de se
relacionar, pensar e agir. A comunicação humana faz com que o ser humano se relacione no meio em
que vive

e com mundo, seja esta comunicação realizada através da fala, mímicas, gestos, de-senhos, tanto na
área da educação, como nas demais esferas de atividade humana.

Dentre as várias possibilidades de comunicação, destacamos os textos escritos e neste ponto, a leitura
destes textos é um dos meios pelo qual se obtém conheci-mento das mais diversas áreas, facilitando
então a argumentação e o vocabulário para uma posterior produção de um texto escrito.

A obra Diretrizes Nacionais Para a Educação Especial na Educação Básica. Se-cretaria de Educação
Especial, (2001) reflete que a educação é o principal alicerce da vida social. Ela conduz amplia a
cultura estende a cidadania, constrói saberes para o trabalho. Mais do que isso, ela é capaz de ampliar
as margens da liberdade humana, à medida que a relação pedagógica adote como compromisso e
horizonte ético político, a solidariedade e a emancipação.

O aprendizado e a aquisição da linguagem são necessários à vida daquele que busca o conhecimento,
através destes, é possível formar um pensamento crítico, ter opinião própria e ter argumentação para
se defender nas mais diversas situações impostas pela vida, e no caso da pessoa surda, não são
diferentes.

E a escola tem grande parcela de responsabilidade para com o incentivo à lei-tura, pois promove este
hábito nas crianças, estas irão crescer sabendo que a leitura enriquece o conhecimento e exerce
fundamental relevância na vida do ser humano, o mesmo acontece com o surdo que aprende a
LIBRAS.

É por meio da linguagem que o homem dimensiona o seu mundo interior, o mundo ao seu redor, o
mundo pelo qual sonha, criando valores, relações sociais, aspirações de justiça e liberdade, ou seja, a
linguagem afirma a pessoa e a humani-dade como sujeitos de seu próprio destino. A linguagem
permite ir além dos limites individuais saindo do mundo pessoal expressando as individualidades,
acolhendo diferenças, descobrindo através das interações, construindo e compartilhando um mundo
melhor.

Os estudantes surdos estão inseridos nas instituições de ensino, sejam estas especiais,
regulares/inclusivas, na Educação Infantil, Ensino Fundamental, Médio e Superior e a partir de sua
inserção na escola, surgem propostas metodologias, adaptações e mudanças, pois estes possuem
direito a apoio tecnológico e humano, no último, caso encontra-se o tradutor/interprete.

A presença, o trabalho e a função do Intérprete/Tradutor de Língua de Sinais ainda não são bastante
conhecidos e reconhecidos no âmbito institucional. No Bra-sil, ainda há poucos estudos que
respaldam esse profissional, assim como profis-sionais capacitados para atuarem em diversas áreas
que precise de sua atuação, exercer essa função vai além da busca de solucionar as lacunas da
comunicação.

Na busca de solucionar as dificuldades de comunicação e de ensino aprendi-zagem apresentadas por


seus estudantes surdos, as instituições escolares precisam ir em busca de desenvolver novas propostas
de apoio específico, de forma perma-nente ou temporária, para alcançar as metas educacionais
propostas por ela, e uma

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delas é a presença do TILS, já que participa ativamente da realidade educacional dessa instituição de
ensino há vários anos, na construção do processo de ensino aprendizagem de seus estudantes surdos.

Segundo o artigo 205 da Constituição Federal de 1988, os objetivos da edu-cação é levar o indivíduo
ao pleno desenvolvimento pessoal e o seu preparo para o exercício da cidadania, além de sua
qualificação para o trabalho, e por isso a gestão desse conhecimento deve ser entendida como um
processo de construção e auto-nomia de todo indivíduo.

A escola deve promover essa construção para que estudantes, professores e gestores possam executar
os objetivos da educação, apresentados em lei pela Cons-tituição Federal.

1. Você sabe o que significa a sigla LIBRAS?

2. Por que as expressões faciais e corporais são tão importantes para os surdos e sua comunidade?

3. Quais as características principais da comunidade surda?

4. Caros estudantes, aprendemos que a grande maioria das crianças surdas que chegam às escolas são
filhas de pais ouvintes não conhecedores da língua de sinais e que não possuem contato com surdos e
não sabem o que fazer para se comunicar com seus filhos.

• Como esse surdo conseguirá aprender sua língua?

• Como poderá este obter um ensino eficaz da língua oral?

5. Uma grande realidade são os obstáculos para o ensino da língua oral e a questão do
desenvolvimento psicossocial da criança surda, essas dificul-dades podem gerar consequências
negativas que poderão ser irreversí-veis em seu desenvolvimento, se não for oferecido o adequado
acesso à aquisição de uma língua de forma natural.

A ausência de qualquer modalidade de linguagem interfere de modo significa-tivo no


desenvolvimento do indivíduo, podendo provocar modificações comportamentais com consequências
sérias em relação à formação de identidade do surdo... Com referência aos surdos filhos de pais
ouvintes, existe uma situação de comunicação muito difícil. Em geral, há defasa-gem e falta de
motivação da criança surda para se comunicar, causando uma situação de frustração, prejudicando e
interferindo no desenvolvi-mento de sua linguagem. Vamos refletir?

• O que deve ser feito para reverter esse quadro?

• Como a escola deve se posicionar diante desse problema?

6. Leia com atenção o depoimento desta surda que iremos chamá-la de F e teça seus comentários:

“Vou dizer-te o que entendo sobre a integração do surdo em nosso Estado. É provável que a educação
especial, no sentido como estava sendo efetua-do, com uma presença marcante de fonos, médicos,
psicólogos, assistên-cia social, assim sendo, o surdo tinha uma assistência totalmente voltada

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para a oralização: aprendizagem da fala, leitura labial, treinamento auditi-vo, aprendizagem de


português escrito, uso de prótese para captar restos auditivos... Todos os profissionais citados tiveram
seu tempo na educação do surdo. E este método educacional era dispendioso. Uma outra opção é a
das APAES que possuem atendimento coletivo aos deficientes em suas instituições. Os surdos que
saem desta instituição são marcados pelos sinais exteriores que captam no cego, no deficiente mental.
Eles parecem não aprender”.

Feito isso, se conseguiu ver o surdo como uma pessoa que aprende normal-mente e sem gastos
maiores ele poderia muito bem estar junto a pessoas consideradas “normais”.

Nós da FENEIS, consideramos que a educação do surdo está muito pobre. Nós intuímos que a
educação do surdo não deve ser bimodal ou bilingual (bilingue), deve ter por base a língua de sinais,
mesmo que seja para toda e qualquer transmissão de conhecimentos tem de ser na língua de sinais.

Queremos uma educação do surdo dentro da língua de sinais, como língua de base para a
aprendizagem, com professor surdo. “O governo, não desce até nós, não lhe interessa nossa proposta
(F.).”

7. Quais as vantagens e desvantagens na inclusão dos surdos em escolas comuns e a educação de


surdos em escolas de surdos?

8. O ensino bilíngue para surdos realmente ocorre nas escolas regulares?

9. Como podemos definir a educação de surdos na atualidade?

10. Quais os movimentos surdos da atualidade?

11. Quais as marcas do oralismo na educação de surdos hoje?

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