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ra
do Brasil na
r
França nos s
anos 30:
reportagens
de Blaise
MARIA TERESA DE FREITAS Cendrars
e
página do jornal: “Paris-Soir commence
aujourd’hui un nouveau reportage de
Cn
r
BLAISE CENDRARS – PENITENCIERS
POUR NOIRS”.
Segue-se uma foto de Cendrars, com os
dizeres:
terroga, dizer-lhe: “Vous qui écrivez dans “Pas dans ceux d’ici, dans ceux de Paris”. 27 Cf. Miriam Cendrars, Blaise
Cendrars, op. cit., p. 468.
les journaux…”. Além do mais, viu-se aci- No texto “En Transatlantique dans la Forêt
28 Mantenho aqui o termo de
ma, em 1927 Cendrars publica efetivamente Vierge”, o sujeito da enunciação assume Victor Segalen, em Essai sur
um artigo num jornal do Rio (edição come- a posição de observador do alto e de fora: l’Exotisme (Paris, Fata
Morgana, 1978), expressivo
morativa ao bicentenário do café). E, em se o autor mantém certa distância em re- e de difícil tradução.
mito da grandeza territorial, que está na DO ESPÍRITO” (34) Comparée, Paris, janv-mars/
1927, 1, pp. 111-28; M. C.
Moraes Pinto, “A Magnólia e
origem de um certo sentimento de orgulho a Jandaia: de Chateaubriand
em relação ao país; mito da exuberância e Comecemos por observar que as “re- a Alencar”, in Boletim Biblio-
gráfico, v. 47, no 1/4, São
da fertilidade da natureza, que, ao orgulho, portagens” brasileiras de Cendrars jamais Paulo, Secretaria Municipal de
vinha acrescentar a esperança em um gran- se referem à atualidade factual imediata, Cultura, 1986.
de futuro econômico; mito da igualdade de mas, ao contrário, discorrem sobre temas 32 A própria reação da colônia
brasileira de Paris por ocasião
todos os brasileiros, independentemente de de atualidade geral. Trata-se sempre de da publicação da “reporta-
gem” sobre Febrônio constitui
sua origem, que dava a pressupor uma iden- “reportagens intemporais”, relacionadas um excelente exemplo da per-
tidade intrínseca mais rica; mito da hospi- não aos acontecimentos recentes, mas à vida manência desse espírito nacio-
nalista dos brasileiros. Alexan-
talidade e da grandeza de caráter dos brasi- quotidiana, às preocupações constantes do dre Eulálio define essa atitude
leiros, que se traduzia num modelo huma- leitor. A distância geográfica e cronológi- como “a exaltação patriótica
ingênua da alta classe média
nitário de comportamento; mito da evolu- ca do tema em relação ao leitor francês vê- brasileira instalada em Paris,
ofendida no seu orgulho de
ção cultural, de um povo que, em cinqüenta se assim compensada por outras formas de cidadãos de um país civiliza-
anos, pretendia ter ultrapassado três sécu- proximidade: existencial, antes de tudo, do”, op. cit., p. 31).
los de colonialismo; mito, enfim, da famo- pelas reflexões sobre algumas das grandes 33 Op. cit., p. 436.
sa “paz otaviana” brasileira, perante uma questões humanas que esses textos contêm; 34 A expressão é do próprio
Cendrars, no texto intitulado
independência conquistada sem derrama- psicológica, a seguir, nas referências aos “Importance Primordiale de
mento de sangue – considerada a fortiori instintos primitivos do homem (sexo, vio- l’Actualité” (in Hollywood,
Oeuvres Complètes, vol. IV,
excepcional num mundo como o da Velha lência e morte – sobretudo em “Pénitenciers Paris, Denoël, p. 413).