Despacho e parecer administrativo processo em processo que trata de livro roubado por
um meliante durante assalto a aluno da Escola
Trata-se de processo administrativo oriundo da Coordenadoria de Biblioteca de
nosso Campus solicitando orientações e procedimentos decorrentes de roubo de livro sofrido por aluno matriculado em nossa Instituição. O fato ocorreu no dia 16/11/2016, conforme boletim unificado de ocorrência policial registrado e foi decorrente de roubo sofrido pela estudante Maritildes Governança Hiopólita Gervária, aluna do Curso Técnico em Química, matrícula, nascida em 32/07/2000, filha de Joana Garfácia e Joãozinho febre alta. Reside na Rua Sem Esperança,71 – bairro das panelas – Vila dos Remédios - RS. É portadora do cpf 000000000-00 e RG 0101010101010101014 SSP/TF. Ingressou por meio da ação afirmativa 2 (outras etnias), que de acordo com informação da Coordenadoria de Registro acadêmico, não leva em consideração a renda familiar, considera apenas a origem do aluno, conforme e-mail consultivo juntado na página de n.º 06. A aluna nasceu em 15/07/2000, portanto era menor na época dos fatos e ainda permanece. Conforme parecer da Coordenadoria de Assistência Multidisciplinar da lavra da Assistente Social Juracildáciana do palmito amarelo juntada as fls. 07, sua família preenche os requisitos jurídicos utilizados para qualificar seu enquadramento no que se nomeia estado de miserabilidade, isto é, aquele incapaz de prover a sua manutenção por possuir renda mensal per capita inferior a ¼ do salário mínimo vigente, sendo que esta interpretação não deve-se vincular somente a análise matemática deste critério para analisar a condição social do requerente na finalidade de se conceder os benefícios previstos em lei.
Em análise ao regimento interno de nossa Instituição encontramos aquilo que é
ressonante nas mais diversas que pesquisamos, ou seja, a Biblioteca que tem a carga do bem, por ocasião do empréstimo do material bibliográfico, transmite ao aluno a responsabilidade pelo uso e guarda do bem, ficando esse responsável por qualquer avaria que venha a ocorrer, bem como responsável por restituir a obra – em caso de dano, perda furto e/ou roubo - ou em sua ausência, outra similar indicada pela Biblioteca. Está estatuído em regulamento de nossa Biblioteca, artigos 13º, que são deveres do usuário: (…) “IV – zelar pela conservação da estrutura física, dos equipamentos da Biblioteca e do acervo;” e 14º que são deveres do usuário que utiliza o empréstimo: I – obedecer aos prazos estipulados; II – assumir a responsabilidade pelo extravio ou dano do material que estiver em seu poder, substituindo por outro igual. Parágrafo único. Em caso de extravio ou dano de obra indisponível no mercado para reposição, o usuário deverá se apresentar à Chefia da Biblioteca e poderá doar material similar com a intenção de quitar seu débito com a Biblioteca, desde que estejam em ótimas condições de uso e uma vez comprovada sua utilidade no acervo. (grifos nossos) A situação do usuário em questão só será regularizada quando for efetivada a reposição.” Objetivando tornar a responsabilidade ainda mais clara para o usuário, a biblioteca divulga folder onde entre outras informações consta o seguinte texto: “EXTRAVIO DE MATERIAIS – O usuário é responsável pelo material retirado da biblioteca. Toda obra perdida ou danificada, ainda que involuntariamente, deverá ser substituída por um novo exemplar”. No próprio recibo de empréstimo do livro retirado pelo usuário está impresso: “A não devolução do material implica ressarcimento do mesmo”. Ainda, como dissemos, essa normatização de nossa biblioteca e respectiva divulgação aos usuários é a mesma que encontramos nos manuais de patrimônio mais consagrados em nosso país, como por exemplo Manual de patrimônio da UFMG e Manual de Patrimônio da USP. Além, todos os manuais de patrimônio consultados, bem como todos os regulamentos quanto a responsabilidade dos usuários, tratam o tema da mesma maneira. Logo, essa linha de tratamento do tema é majoritária entre todas as bibliotecas brasileiras. Então, se o tema é tão pacificado, do ponto de vista legal e da regulamentação vigente, onde entraria uma possível controvérsia? Não se trata de controvérsia, e sim, de princípios constitucionais e administrativos vinculados a política social educação pública, a qual a escola tem como escopo. Nossa Carta Maior estatui em seu artigo 205 que “a educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida e incentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento da pessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. E ainda ex vi do artigo 206 que “o ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola (...)” Na mesma balada, a Lei nº 8.069, de 13 de julho de 1990, que dispõe sobre o Estatuto da Criança e do Adolescente e dá outras providências dispõe em seu artigo 2º que “Considera-se criança, para os efeitos desta Lei, a pessoa até doze anos de idade incompletos, e adolescente aquela entre doze e dezoito anos de idade.” Prossegue o legislador ordinário no artigo 3º e 4º, estatuindo que:
“A criança e o adolescente gozam de todos os direitos fundamentais inerentes à
pessoa humana, sem prejuízo da proteção integral de que trata esta Lei, assegurando-se lhes, por lei ou por outros meios, todas as oportunidades e facilidades, a fim de lhes facultar o desenvolvimento físico, mental, moral, espiritual e social, em condições de liberdade e de dignidade. Parágrafo único. Os direitos enunciados nesta Lei aplicam-se a todas as crianças e adolescentes, sem discriminação de nascimento, situação familiar, idade, sexo, raça, etnia ou cor, religião ou crença, deficiência, condição pessoal de desenvolvimento e aprendizagem, condição econômica, ambiente social, região e local de moradia ou outra condição que diferencie as pessoas, as famílias ou a comunidade em que vivem.(incluído pela Lei nº 13.257, de 2016) Art. 4º É dever da família, da comunidade, da sociedade em geral e do poder público assegurar, com absoluta prioridade, a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. Parágrafo único. A garantia de prioridade compreende: a) primazia de receber proteção e socorro em quaisquer circunstâncias; b) precedência de atendimento nos serviços públicos ou de relevância pública; c) preferência na formulação e na execução das políticas sociais públicas; d) destinação privilegiada de recursos públicos nas áreas relacionadas com a proteção à infância e à juventude. Art. 5º Nenhuma criança ou adolescente será objeto de qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência, crueldade e opressão, punido na forma da lei qualquer atentado, por ação ou omissão, aos seus direitos fundamentais. Art. 6º Na interpretação desta Lei levar-se-ão em conta os fins sociais a que ela se dirige, as exigências do bem comum, os direitos e deveres individuais e coletivos, e a condição peculiar da criança e do adolescente como pessoas em desenvolvimento.”
Ainda crava o artigo 53 da mesma lei: “A criança e o adolescente têm direito à
educação, visando ao pleno desenvolvimento de sua pessoa, preparo para o exercício da cidadania e qualificação para o trabalho, assegurando-se lhes: I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola(...)”(grifos nossos) Além dessa legislação específica, na qual está inserida a aluna Rita de Cássia, vítima de roubo, conforme boletim de ocorrência trazemos a consideração a própria LBD que fará coro a nossa Carta Magna e ao ECA anteriormente citados. Em seu artigo segundo está decretado: “A educação, dever da família e do Estado, inspirada nos princípios de liberdade e nos ideais de solidariedade humana, tem por finalidade o pleno desenvolvimento do educando, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho. Art. 3º O ensino será ministrado com base nos seguintes princípios: I - igualdade de condições para o acesso e permanência na escola; (...) XI - vinculação entre a educação escolar, o trabalho e as práticas sociais.” (grifos nossos)
Considerando as informações relativas aos fatos, a identificação e qualificação da
aluna Rita de Cássia Tiradentes Garcia, de como da identificação social de sua família; Considerando que a aluna foi vítima de roubo de livro tombado patrimonialmente, que de acordo com a legislação vigente passa a ser responsabilidade do usuário no momento em que é retirado da Biblioteca como empréstimo, Considerando a legislação Constitucional e infraconstitucional de proteção ao adolescente que se encontra em situação de vulnerabilidade social, esta Coordenadoria de Patrimônio, Materiais e suprimentos encaminha ao Diretor Geral o presente processo com as seguintes orientações: 01) - Que a aluna qualificada na exordial, seja eximida de indenização ao erário por ter sido vítima de roubo de obra tombada neste Campus sob o nº 4070000000000125 no valor de R$ 31,31(trinta e um reais e trinta e um centavos) e que o processo seja devolvido ao patrimônio com autorização expressa de baixa patrimonial; 02) – Que a Biblioteca do Campus seja orientada a escusar a estudante de quaisquer multas e penalidades quanto a essa obra e que seu status seja de “nada consta” É o parecer. S.m.j. Respeitosamente, Coordenadoria de Patrimônio, Materiais e Suprimentos
A Inconstitucionalidade Do Estatuto Da Criança e Do Adolescente Por Insuficiência Protetiva Face Aos Atos Infracionais de Tráfico de Drogas Quando Cometidos Sem Violência Ou Grave Ameaça