Explorar E-books
Categorias
Explorar Audiolivros
Categorias
Explorar Revistas
Categorias
Explorar Documentos
Categorias
A cidade de São Luís do Maranhão cresceu de forma acelerada e com pouca preocupação com o
meio ambiente. A Laguna da Jansen logo foi um exemplo do descaso público. Com a urbanização
das novas áreas de expansão na década de 1970, o Igarapé da Jansen, sendo hoje transformada em
laguna por origem antrópica, foi ponto de habitação de centenas de palafitas em meio a vários bairros
de classe média / alta. Diversas foram às tentativas para melhorar a região que se tornou um grande
ponto de esgoto a céu aberto. Apenas em 2000 foi feita uma grande reforma urbanizando toda a
região do igarapé, configurando-se em um novo ponto turístico e área de interesse para a elite.
Apesar da grande especulação imobiliária que se formou no entorno da laguna, o esgoto continua um
descaso, sendo ainda jogado in natura. Os palafitados que ali viviam, parte foram remanejados para
um bairro próximo e os restantes se mantiveram próximos da laguna, porém na área menos
privilegiada. Em parte não se pode afirmar que não houve benefícios para os moradores, no entanto,
prevalece a “maquiagem urbana”, ou seja, a estética acima de um adequado planejamento urbano.
Cerca de 40% da população mundial vivem num raio de 100 km das linhas das costas.
Associada à ocupação desses terrenos, encontra-se uma crescente necessidade de infra-estrutura
[...] (SERRA,2003). Na década de 1970 São Luís vivia a euforia de tornar-se o futuro pólo
Minerometalúrgico, passando a ser cotada para a chegada de grandes empresas que levariam a
cidade ao esperado desenvolvimento urbano levando-a a ser um destaque no país. A adoção de uma
política de infra-estrutura associada à economia da cidade foi o necessário para a expansão desta
para além das margens do Rio Anil, região esta formada apenas por pescadores e com moradias
humildes de adobe, madeiras de mangue.
A expansão era necessária, pois se tratava de uma cidade que foi fundada em 1612 e
que até então vivia ainda no mesmo local onde os franceses, holandeses e portugueses construíram
a urbe, hoje chamada de “cidade histórica”.
Em meados das décadas de 1940 e 1950, o centro histórico já estava muito adensado
necessitando de novas áreas para ampliação. Uma das questões que impossibilitava o crescimento
às margens do Rio Anil era a travessia feita apenas de carro, que durava até dias, ou de barco. A
comunicação com a outra margem do rio só foi possível na década 1970, com a construção da ponte
São Francisco, também conhecida como Governador José Sarney.
Fig. 01 - São Luís no início da década de Fig.02 - Cartão postal de São Luís em 2002
1970 Fonte: Acessado em <http://martinha-
Fonte: Foto de Madalena Schwartz no livro cards.blogspot.com/2007_11_01_archive.html>
Geografia Ilustrada, 198?. disponível em 10 de abr. de 2008.
A formação de São Luís nos seus primeiros séculos foi uma prévia de como a cidade
posteriormente iria se desenvolver. Os impactos do mau manejo da natureza foram sentidos pouco a
pouco no século passado. Período este em que o ritmo de crescimento atinge taxas de 4,3% ao ano,
porém, ainda baixa, comparada aos Estados vizinhos, que já atingiam 7,0% ao ano. (ALVES, 1987).
Diversas foram as agressões à natureza e falta de planejamento na cidade; entre os casos está o que
aconteceu com o Igarapé da Jansen, local onde é hoje uma laguna de origem antrópica.
Somente nas décadas de 1980 e 1990, entre os bairros de classe média /alta – São
Francisco, Renascença I, Renascença II, Ponta do Farol – que a Laguna da Jansen em estudo,
conhecida como “Lagoa da Jansen”, ganhou destaque para o grande descaso de poluição e o grande
adensamento de palafitas que ganharam as suas margens. Importante salientar que o nome “lagoa” é
usado erradamente. No conceito de lagoa, esta não entra em contato com o mar, e esse não é o caso
da referida área.
2 OBJETIVO E METODOLOGIA
3 LOCALIZAÇÃO
Ponta do
Farol
Ponta
D’ areia LAGUNA Renascença II
Renascença I
Conexão São Francisco
com o
mar
A origem da laguna se deu com o igarapé, denominação esta dada aos pequenos rios
(GUERRA, Antônio. 1993). Até meados da década de 1970, o Igarapé da Jansen apresentava o seu
ecossistema praticamente natural e com apenas poucas moradias em suas mediações.
De acordo com o Laboratório de Hidrologia – LABOHIDRO, em 1985, “Levantamento e
Monitoramento Ecológico da Lagoa da Jansen em São Luís, Maranhão”, a constituição original do
igarapé era:
Em 1967, foram identificados nove tipos de unidade de paisagem. Este material tem
grande importância por mostrar a morfologia do igarapé e como era a disposição e denominação de
seus ecossistemas. A grande predominância da região é o mangue, que circunda toda a extensão do
igarapé. A faixa vermelha, que indica a urbanização já estava se aproximando, “a pressão urbana
sobre os manguezais era mínima [...].Importante lembrar que a Ponte do São Francisco ainda não
havia sido inaugurada.
Para facilitar o acesso para a praia da Ponta d’Areia que até então, era
efetuado apenas por via marítima, foram feitos estudos para a construção
de uma via de acesso sobre o Igarapé da Jansen. Os estudos de
engenharia indicaram a construção de uma ponte, entretanto, a Prefeitura
não dispunha de recursos e como o prefeito da época, não desejava
contrair débitos para os seus sucessores, optou por construir apenas um
bueiro, o que ocasionou o represamento daquele importante corpo d’água e,
conseqüentemente, deu-se a criação de uma laguna em área antes
inundada apenas nas preamares. Assim, surgiu a Lagoa da Jansen,
segundo o Secretário de Urbanismo e Planejamento da Prefeitura de São
Luís, daquela época, Dr. Adolfo Radon. (VIÉGAS, Maria do Carmo. 1996).
Fig. 05 – Vista do Igarapé da Jansen. A rodovia com tubulação à esquerda é a Avenida João Maestro
Nunes e a rodovia à direita é a Avenida Colares Moreira.
Fonte: Alteração feita pela autora a partir do mapa do LABOHIDRO,1985
As primeiras manchas da urbanização estavam cada vez mais se expandido e
influenciando a laguna. Após 10 anos da construção da ponte, na década de 1980, a Companhia
Vale do Rio Doce – C.V.R.D (hoje sendo conhecida como VALE) e a Alumínio do Maranhão –
ALUMAR, chegaram em São Luís, como já anunciava o Plano Diretor de 1977, da necessidade de
expansão para suportar o desenvolvimento da cidade. O bairro do São Francisco cresceu em pouco
tempo. Com ele surgiram os bairros do Renascença I, Renascença II, Ponta do Farol, Ponta D’Areia e
Calhau. Estes bairros foram pensados como “exclusivamente residenciais para a classe média/alta,
face aos seus planejamentos em conjuntos habitacionais financiados pelo Sistema Habitacional”, mas
começou a sair do controle com o “acelerado crescimento do comércio e dos setores de serviços
nesses bairros”. (VIÉGAS, 1996)
De acordo com Viégas em 1996, o Plano de Urbanização de 1974 pecou em
desconsiderar a cultura do maranhense, na qual a moradia fica próxima ao trabalho. Dessa forma,
quando a classe média/alta se mudou para a parte nova da cidade esqueceu-se dos trabalhadores de
baixa renda que não tinham condições acessíveis para a sua fixação na região. Com isso
propiciaram-se a invasão nas periferias destes novos bairros, às margens do Igarapé da Jansen.
A poluição da laguna estava com o odor muito desagradável. O aterramento feito por
moradores, que viviam na margem do igarapé, foi outra contribuição para sua degradação.
Enfim, em 1988, a Laguna da Jansen teve o projeto aprovado que a tornou um Parque
Ecológico. Ser um Parque Ecológico, antes de tudo, é uma Unidade de Conservação.
Ser uma Unidade de Conservação significa minimizar os impactos ambientais causados
pela ocupação desordenada em áreas naturais e também tem o objetivo de difundir na sociedade a
importância da conservação e preservação. Apesar do novo título, a laguna continuou a sofrer com
maus tratos.
Em 1991, o Estado, por meio da Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Turismo do
Maranhão – SEMATUR propôs, junto com a CAEMA, Prefeitura Municipal de São Luís, Sociedade de
Melhoramento e Urbanização da Capital (SURCAP), entre outros, um estudo em que buscaria a
solução dos principais problemas da Laguna da Jansen, entre eles estavam os problemas
socioambientais e o crescimento das palafitas.
Através da SURCAP, em 1991 foi feito um cadastro que indicou que 428 famílias viviam
em palafitas e outras 149 famílias estavam vivendo em áreas aterradas nas margens da laguna.
Dentre os relatórios da SURCAP, eram 577 famílias que necessitavam serem remanejadas. Para
resolver o problema parcialmente foi elaborado o plano de construir 500 casas populares com lotes
de 96m² destinado a cada família. As casas teriam duas tipologias. O primeiro tipo de casa teria
37,35m² podendo expandir 50,18m². O segundo tipo de casa seria 21,00m², podendo crescer para
51,03m².
Fig. 09 – Retirada das palafitas. Fig. 10 – Casas populares, no bairro Ana Jansen,
Fonte: MENDES,2003 para abrigar uma parte dos ex-palafitados.
Fonte: MENDES,2003
Apesar de a SUCARP ter previsto a construção de 500 casas, esta não dispunha de
área suficientemente extensa para todas as moradias. A solução foi dividir em três áreas diferentes:
Ilhinha – 57.787m² (296 lotes), Ferradura – 16.178,63m² (96 lotes) e Sítio Campinas – 20.925m² (142
lotes). Destas, apenas a Ilhinha foi parcialmente loteada com casas geminadas de 30,02m².
(VIÉGAS,1996)
PALAFITAS
LAGUNA DA IGARAPÉ DA
JANSEN JANSEN
Fig. 16 – Residências do bairro Ana Jansen Fig. 17 – Residências do bairro Ana Jansen
Fonte: Adriana Sekeff, 2008. Fonte: Adriana Sekeff, 2008.
Atualmente as casas habitacionais do bairro Ana Jansen, local onde parte dos
moradores das palafitas foi remanejada, já estão bem alteradas, muitas já não possuem mais suas
feições originais. O crescimento do bairro já se encontra sem nenhum tipo de regulamento, inclusive,
sua expansão foi tanta que novamente foram formados mais palafitas próximas à foz do igarapé.
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este projeto visou transformar a região em um ponto turístico, porém não teve a
preocupação para com seu meio ambiente, a laguna continua com odor desagradável, restando muito
pouco da sua vegetação original.
Como lado positivo, além de um novo cartão postal para a cidade e uma nova área de
lazer, a reforma elevou a auto-estima das pessoas que permaneceram na região. Como pode ser
visto anteriormente, as casas estão sendo reformadas a fim de se adequar às mudanças de seu
entorno.
Infelizmente, o lixo que vira luxo não possui os mesmos protagonistas, ou seja, as
pessoas que teoricamente deveriam ser beneficiadas foram novamente afastadas para fins políticos.
Políticas públicas a fim de melhorar a infra-estrutura para classes menos favorecidas
devem ainda ser desenvolvidas. Hoje, boa parte dessas famílias está na Ilhinha, bairro periférico, que
é responsável pela elevação do índice de violência nos bairros adjacentes – Ponta D’Areia, São
Francisco, Ponta do Farol e Renascença I e II – os mesmos bairros que antes os circundavam.
Este artigo mostra o que ocorre constantemente nas cidades em desenvolvimento: a
exclusão social e a degradação do meio ambiente.
REFERÊNCIAS
ARAUJO FILHO, Erivaldo Antonio de. Uma Ánalise Acerca do Lazer Noturno Oferecido ao
Público em Geral na Área da Lagoa da Jansen. São Luís: UFMA, 2006. Monografia de Graduação
de Bacharel em Turismo.
Caderno – O Jornal O Estado do Maranhão. Neiva e Haroldo debatem com empresários futuro de
São Luís. 12 de dez. de 1973.
GOVERNO DO ESTADO MARANHÃO. Turismo – São Luís – Lagoa da Jansen. Disponível em: <
http://www.turismo.ma.gov.br/pt/polos/sao_luis/lagoa_jansen.htm>.
Acessado em: 13 de fev. 2007.
LABOHIDRO. Relatório Parcial - Diagnóstico Ambiental da Lagoa da Jansen. São Luís, 1998.
LABOHIDRO. Relatório Final – Diagnóstico Ambiental da Lagoa da Jansen. São Luís, 2002.
PRADO, Barbara Irene Wasinski Prado. A Função Social da Arquitetura Paisagística Insular: uma
síntese entre a ilheidade e a modelação da paisagem na Ilha de São Luís. Projeto de Tese de
Doutorado em Urbanismo apresentada a Universidade Federal do Rio de Janeiro – UFRJ em
convênio com a Universidade Estadual do Maranhão –UEMA. São Luis: Julho de 2005.
SILVA, Flávio Augusto Lobato da. Adensamento Populacional do Município de São Luís (MA) a
partir da Década de 70 e suas Principais Implicações Sócio-Ambientais. São Luís: UFMA, 2006.
Monografia de Graduação de Bacharel em Geografia.
VIÉGAS, Maria do Carmo Pinto. Políticas Públicas e o Ecossistema Manguezal: O Caso da Lagoa
da Jansen. São Luís: UFMA, 1996. Dissertação para a obtenção do título de Mestre em Políticas
Públicas.