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Diversos modos de se enunciar e demonstrar proposições em

Matemática

Raimundo do Nascimento Velozo Neto1

Esclareçamos um pouco a linguagem usada na formulação de sentenças matemáticas e, também, a relação


desta linguagem com a lógica subjacente.
Existem, em Matemática, dois tipos básicos de afirmações ou proposições:

“Se P, então Q.”


“Se P, então Q e reciprocamente.”

Examinemos, pois, cada uma delas.


Quando dizemos “se m e n forem inteiros pares, então mn será par”, temos uma proposição do tipo
“se P, então Q”. Esta proposição pode ser formulada de muitas maneiras, como se vê na lista abaixo:

• Se P for verdadeiro, então Q será verdadeiro.

• P implica (ou acarreta) Q, e escrevemos P ⇒ Q.

• P é uma condição suficiente para Q.

• Q é uma condição necessária para P.

• P somente se Q.

Assim, podemos dizer: “m e n serem inteiros pares implica mn ser par”, “m e n serem inteiros pares é
condição suficiente para mn ser par” ou, finalmente, “mn ser par é condição necessária para m e n serem
inteiros pares”.
A implicação Q ⇒ P chama-se a recı́proca de P ⇒ Q. Evidentemente, a recı́proca de uma proposição
verdadeira pode ser falsa. No exemplo acima, a recı́proca é falsa: o fato de o produto de dois inteiros ser
um inteiro par não acarreta o fato de os dois fatores serem ambos pares (como sabemos, basta que um
deles o seja).
Quando são verdadeiras ambas as implicações P ⇒ Q e Q ⇒ P , escreve-se P ⇔ Q e lê-se “P se, e
somente se, Q”, “P é equivalente a Q” ou “P é condição necessária e suficiente par Q”. Isto significa que
o conjunto dos elementos que gozam da propriedade P coincide com o conjunto dos elementos que gozam
de Q.
Por exemplo, sejam P a propriedade de um triângulo, cujos lados medem a > b ≥ c, ser retângulo e
Q a propriedade de valer
a2 = b2 + c2 .

Então P ⇔ Q.
Dado um conjunto A (de um determinado conjunto-universo U ), chama-se complementar de A (em
relação ao universo do discurso) ao conjunto A{ formado pelos objetos de U que não pertencem a A.
1
Mestre em Matemática (UFMA). Professor Assistente I da UEMA, campus Bacabal..
2

O fato de que, para todo x ∈ U , não existe uma outra alternativa além de x ∈ A ou x ∈
/ A, é conhecido
em Lógica como o princı́pio do terceiro excluı́do, e o de que as opções x ∈ A e x ∈/ A não podem ser
verdadeiras ao mesmo tempo chama-se o princı́pio da não-contradição.
Além disso, decorre destes dois princı́pios lógicos a seguinte equivalência:

A ⊂ B ⇔ B { ⊂ A{ .

Sendo P e Q as propriedades que definem os conjuntos A e B, respectivamente, então as propriedades


que definem os conjuntos A{ e B { são P 0 , a negação de P , e Q0 , a negação de Q, respectivamente.
Com esta convenção, a relação A ⊂ B ⇔ B { ⊂ A{ se lê do seguinte modo:

P ⇒ Q se, e somente se, Q0 ⇒ P 0 .

Noutras palavras, dizer que P implica Q é o mesmo que dizer que Q0 implica P 0 .
A implicação Q0 ⇒ P 0 é chamada a contrapositiva da implicação P ⇒ Q.
É de muita utilidade, a quem se ocupa de Matemática, ter em mente que uma implicação e sua forma
contrapositiva dizem exatamente a mesma coisa, a fim de tornar mais manejável uma afirmação que não
o é a priori.
A equivalência entre uma implicação e sua contrapositiva é a base das demonstrações por redução ao
absurdo2 .

Referências

[1] LIMA, E. L., et al. A Matemática do Ensino Médio, Vol. 1. Rio de Janeiro: Sociedade Brasileira
de Matemática, 2012. (Coleção do Professor de Matemática.)

[2] NIVEN, I. Números Racionais e Irracionais. Rio de Janeiro: Sociedade Brasileira de Matemática,
1984. (Coleção Fundamentos da Matemática Elementar.)

[3] IEZZI, G.; DOMINGUES, H. H. Álgebra Moderna. 4a edição. São Paulo: Editora Atual, 2006.

(R. Neto) Departamento de Ciências Exatas e Naturais, Universidade Estadual do Maranhão, Brasil
E-mail address: rnvneto@bol.com.br

2
Euclides de Alexandria, em seu Os Elementos, usou este método, alguns séculos antes de Cristo, para provar que há
infinitos números primos.

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