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Cultura do cancelamento: mito ou realidade?


É desta que leio isto Acho que vais gostar disto Mundo Novo

MadreMedia

5 fev 2021 17:46

A opinião de
 

Agir
Muito se tem falado em cancel culture. É um dos chavões destes tempos em que vivemos, nos quais o
linchamento cibernético é praticamente constante e não parece cessar. Mas será que existe mesmo?

Bem, antes de lá chegarmos, é preciso perceber esta estrutura, relativamente recente, em que nos
relacionamos uns com os outros designada de redes sociais. Trata-se de um antro de pessoas que pinta
a falsa ideia de que nos conhecemos perfeitamente, de que somos íntimos e, pior, de que a opinião de
todos interessa. Repare-se que não digo que não devamos todos ter direito à nossa opinião, mas daí a
ela ser relevante é que pode ir uma grande distância.

Sempre me disseram que se não tens nada de interessante para dizer, fica calado. Pois bem, tal como o
nosso traseiro ou os nossos gostos, cada qual tem os seus, por isso, todos temos o direito a proferir o
nosso parecer sobre tudo e sobre nada na esperança de que agrade a alguém. E o mais provável é
SAPO
alguém gostar 24 o que nos dá uma sensação de empoderamento e de importância para os quais
mesmo,
Notícias
o nosso ego pode não estar preparado.
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No fundo, somos alguém, temos voz. O que, per si, não tem mal nenhum e até pode ser positivo se
tivermos em conta que torna a opinião mais democrática. Mas, a meu ver, com todos os direitos deve
haver, obrigatoriamente, mais responsabilidade. Devemos fundamentar as nossas apreciações, alicerçar
as nossas críticas e reflectir os nossos juízos.

E é aqui, no reflectir os nossos juízos, que podemos começar a debater o que é isto da cultura do
cancelamento, se existe mesmo, se efectivamente “cancela” alguém na vida real, fora do Twitter e afins,
se não lhe damos demasiado destaque. São tudo dúvidas que me foram aparecendo, quando me
debrucei sobre o assunto.

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Com o aparecimento da Internet, mais precisamente das redes sociais, surgiu também uma nova
maneira de promover profissões com exposição pública. Apareceram, mesmo, novas profissões que
vivem, única e exclusivamente, das redes sociais e da percepção que o público tem de quem as executa.
Parece-me que o problema pode estar justamente aqui. Todos os ofícios com uma vida “mais pública”
sempre tiveram propensão para criar “escândalos”, mesmo antes do Instagram ou do Facebook, e é claro
que essas celeumas mediáticas tinham/têm influência na respectiva carreira. Não é novidade.

Quando o core da nossa ocupação profissional é algo tão frágil como o baralho de cartas das redes
sociais, acho que 24
SAPO temos rapidamente de repensar a nossa profissão e de ponderar se a queremos assim
tão dependente
Notíciasdo que os comentários alheios proferem acerca de nós. E atenção, todo o trabalho que
vive de ter público, vive automaticamente da aprovação do mesmo até certo ponto, mas não pode ser
sustentado apenas por isso. O que deve prevalecer é a obra do profissional em questão (seja ela no
âmbito da literatura, da música, do cinema ou da pintura) e não o que possam achar da pessoa em si.
Quando deixamos que a nossa vida dependa tão-somente daquilo que os outros (que não nos
conhecem pessoalmente) acham da nossa pessoa e não da nossa obra, a cancel culture acontece.

Porque as noticias não escolhem hora.


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Sejamos realistas, a cancel culture é como o bullying. Quando é num exagero constante de milhares
contra um, é condenável e repudiante. Mas quando é esporádico e relativo a um assunto concreto que
uma ou mais pessoas protagonizaram, por mais agressivas que sejam as palavras e enquanto forem só
palavras, também temos de ter "arcaboiço" para levar com elas e para perceber se se extrapolam da
Internet para a vida real.

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No fundo, a cancel culture são as pessoas a usar a sua liberdade de expressão e o seu direito à
indignação (possivelmente descabida) sem razão de ser e, por vezes, com uma agressividade que nos
pode ferir. Claro que haverá quem perca o emprego com a avalanche de revolta que recebe, mas será
assim tanta gente? Seria preferível proibir as pessoas de demonstrarem essa revolta? Qual seria o
critério?

Mais uma vez, mesmo sabendo que é sempre um cheque em branco, terá de ser o bom senso de cada
um e a capacidade de nos pormos na pele do outro a ditar a nossa conduta, porque, afinal, “quem
nunca errou que atire a primeira pedra.”

 
 
 

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