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2 CONTEXTO GERAL DA PASSAGEM

O autor desta epístola se identifica como sendo Judas, servo de Jesus Cristo e irmão de

Tiago. O nome Judas (hebraico Judá) era comum entre judeus do século I, e pelo menos oito

pessoas com esse nome são mencionadas no Novo Testamento, incluindo dois dos discípulos de

Jesus. O autor não pode, então, ser identificado como base exclusiva em seu nome (BÍBLIA

SHEDD,1990, p.4279)

De acordo com SHEDD (1990) a melhor pista para sabermos a sua identidade é a

descrição irmão de Tiago (v.1). O único Tiago conhecido na igreja primitiva a ponto de poder ser

mencionado desta maneira incondicional é Tiago, o destacado líder da igreja, o autor da epístola

que tem o seu nome e meio-irmão de Jesus (Mt 13:55), que, assim como os seus outros irmãos,

não creram em Jesus, senão após a ressurreição1.

SHEDD ainda afirma, que Judas pode ter sido uma daquelas pessoas mencionadas em

outro lugar no Novo Testamento, na referência de Paulo ao ministério ambulante dos irmãos do

Senhor e de suas esposas ( 1Co 9:5). “Provavelmente seja a humildade de Judas que explica

porque ele não mencionou que era parente de Jesus”2.

Várias oposições à autenticidade de Judas têm sido levantadas, mas todas se baseiam em

suposições questionáveis. A maioria está relacionada com a proposta de uma data que é muito

posterior ao período de existência possível para Judas (COMENTÁRIO RITCHIE DO NT, 1996,

p.158).

1
Bíblia Shedd,1990 , p. 1755
2
Bíbliia de Estudo Genebra, 1999, p. 1520
5

Green (1996) afirma que se Judas, irmão do Senhor, escreveu esta carta, então não pode

ser datada posteriormente a 70 D.C. Provavelmente Judas não viveu mais que isso. Se esse Judas

não a escreveu, então supomos que foi escrita no começo do século II D. C., como um tratado

contra o gnosticismo da época. Visto que é mencionado no cânon muratoriano, da última porção

do século II D. C., o livro não pode ter sido escrito muito depois da metade daquele século. Já

que II Pedro incorpora grande parte do mesmo; então sua data deve ter precedido tal escrito. Se II

Pedro pertence genuinamente a Pedro, então Judas deve ter sido escrito realmente cedo. Em caso

contrário, então o começo de século II D. C. é uma boa suposição acerca da data de Judas, tão

boa quanto qualquer outra teoria.3.

Green (1996) ainda afirma que os detalhes fornecidos por Judas são surpreendentes, e nos

concede informações sobre eventos ocorridos no VT que as escrituras não narram, como por

exemplo o relato que houve disputa sobre o corpo de Moisés, e que dois dos maiores poderes

espirituais estavam envolvidos no conflito; também, que Enoque profetizou e falou do juízo

vindouro4.

Há divergências quanto a argumentação a favor e contra a idéia de ter sido Judas, o

apóstolo, e irmão do Senhor, o autor deste livro. A qualidade do grego usado nesta epístola é

superior ao que geralmente um galileu instrumentaria. Entretanto, no século I a Galiléia era

bilíngüe (grego e aramaico), e sabe-se muito pouco sobre o grego de Judas para se concluir que

ele não poderia ter escrito esta carta. Pode-se aceitar que o autor é Judas, o irmão de Jesus, filho

de Maria e José, nascido depois de Cristo. Judas, era o mais novo, ou o segundo mais novo, da

família (COMENTÁRIO RITCHIE DO NOVO TESTAMENTO, 1983, p.184).

3
Comentário Richie do Novo Testamento,1996, p.166
4
id. 1996, p.193
6

Champlin (1991) afirma que a confirmação antiga naturalmente tem uma relação direta

com a questão da autoria. “Poder-se-ia crer”, indagam alguns, que se Judas, um apóstolo e irmão

autêntico do Senhor, tivesse escrito algo, que a igreja dos primeiros séculos teria ignorado ou

duvidado de sua autenticidade? Mas o testemunho antigo é que as coisas não foram realmente

assim, pelo que teríamos à frente uma pseudepígrafe, isto é, um livro cujo autor não é aquele

declarado na introdução. Isso surpreende os leitores modernos, porque imediatamente pensam em

obra forjada, fraude e desonestidade. No entanto, isso é ignorar o fato que os antigos aceitavam

tais escritos com naturalidade, pois eram freqüentemente produzido em honra a algum mestre,

como tributo prestado a algum bem conhecido professor, com propósito de fomentar seu prestígio

e suas doutrinas5.

Muitos escritores anônimos, que ligavam o nome de alguns mestres a seus escritos,

provavelmente faziam-no em atitude de humildade, e com nobres propósitos. Os antigos

simplesmente não viam a questão do modo como a vemos. O advento de Cristo produziu grande

atitude literária, que trazem nomes de famosos cristãos primitivos, como apóstolos e outros,

quando não foram realmente escritos pelos tais. Não se deve estranhar, pois, se o cânon final do

N.T., que precisou de alguns séculos para atingir seu apogeu, tenha incluído um ou mais desses

escritos pseudepígrafes. Além disso, a investigação no campo da autoria dentro dos estudos

neotestamentários, é algo plenamente justificado. Se afirmarmos que um ou mais livros do N.T.

não foram escritos pelos autores cujos nomes aparecem na introdução dos mesmos, não

afirmamos mais do que o fizeram quase todos os pais mais antigos da igreja, cuja fé estava acima

de reprimenda, e que estavam em melhor posição para julgar essas coisas que nós, os modernos

(O NOVO TESTAMENTO INTERPRETADO, 1991, p. 326).

5
O Novo Testamento Interpretado, 1991, p. 326
7

De acordo com Champlin (1991) vários eruditos, não aceitando que Judas, o apóstolo, ou

Judas, irmão do Senhor, escreveu o livro, mas não querendo dar-lhe o título de pseudepígrafe,

tem procurado vinculá-lo a certo bispo de Jerusalém se lê em Eusébio; e alguns têm o autor

sagrado. Todas essas conjecturas, porém, não têm qualquer possibilidade de prova, e quando

muito, são tentativas precárias. Outros, esperando preservar o título Judas, conjecturam que as

palavras irmão de Tiago são uma interpolação antiga, que visa a identificar o livro com o círculo

apostólico. Nesse caso então, algum Judas desconhecido escreveu o livro, e isso explicaria por

que a igreja primitiva essencialmente o ignorou, até ao século IV D.C. Porém, não há qualquer

evidência textual em favor dessa idéia, e ela não se recomenda a nós como válida6.

Segundo Champlin (1991) quanto ao testemunho antigo, percebe-se que essa epístola fora

recebida no cânon das escrituras no século IV D. C. Jerônimo reconhece seu caráter genuíno, mas

observa que em conseqüência de citar do livro de Enoque, era repelida pela maioria tal rejeição,

pois, não tinha bases objetivas e históricas. Eusébio a classifica entre as antilegômena,e adiciona

que embora muitos dos antigos não a tenham mencionado, era publicamente usada pela maioria

das igrejas. Orígenes alude a ela respeitosamente, citando-a repetidamente, e só em um lugar

duvida de sua genuinidade. É mencionada no antigo fragmento muratoriano cerca de 170 D. C.

Clemente de Alexandria teceu comentários a seu respeito, atribuindo-a expressadamente ao

apostolo Judas; e Orígenes também chama-o de apóstolo em dois lugares. Vimos que realmente

esta epístola foi escrita por Judas e é totalmente espirado por Deus7.

Pode-se dividir esta epístola em três seções principais:

6
O Novo Testamento Interpretado, 1991, p. 324
7
id. 1991, p.325
8

I . Introdução; do 1-4 Judas se apresenta aos seus leitores dando o seu nome, seu

relacionamento com seu irmão Tiago, e seu relacionamento com Cristo. Ele começa usando as

seguintes afirmações:

 Endereço e saudação

 O propósito da Epístola

 A razão em escrever

II. Advertência e acusação 5-19

 Exemplo do juízo de Deus

 A aplicação destes exemplos

 Uma descrição tripla dos maus obreiros

III. Exortação 20-25

 O desenvolvimento da vida espiritual

 O tratamento dos infratores e como distinguir entres eles

 Doxologia final (COMENTÁRIO RITCHIE DO NT, 19896, p. 163).

Judas enfrenta uma ameaça semelhante à que é combatida em 2Pedro: falsos mestres que

estavam usando a liberdade cristã e a livre graça de Deus como licença para a imoralidade. A

maior parte da epistola (vs. 4-19) se dedica à severa denuncia dos falsos mestres com a finalidade

de impressionar os leitores com a seriedade desta ameaça. Mas a estratégia de Judas é mais do

que somente uma oposição negativa. Ele exorta aos leitores para que cresçam no conhecimento

da verdade cristã (v. 20), para que tenham um testemunho firme pela verdade (V. 3) e para que

procurem resgatar aqueles cuja fé estava hesitante (s. 22-23). Esta receita para confrontar erros

espirituais é tão eficaz hoje quanto o era quanto foi escrita (BÍBLIA SHEDD,1998, p.1756).
9

3 ENOQUE, O SÉTIMO DEPOIS DE ADÃO

Judas cita Enoque como sendo o sétimo depois de Adão (Vrs 14), este é um personagem

histórico, foi o sétimo dos patriarcas pré-histórico, conforme se vê no quinto capítulo do livro de

Gênesis. O registro bíblico mostra-nos que ele viveu por trezentos e sessenta e cinco anos, tendo

sido homem especialmente piedoso, porquanto andava com Deus, até que finalmente foi

arrebatado, sem ter experimentado a morte física. Foi apenas natural, portanto, que alguns livros

místicos tivessem sido escritos acerca das contemplações de tal personagem (O NOVO

TESTAMENTO INTERPRETADO, 1991, p.340).

Champlin (1991) afirma que em referência ao número sete, para muitos tinha

significações místicas, por seu significado perfeito e término de ciclos. Portanto, Enoque era

estimadíssimo, a piedade foi aperfeiçoada nele, tendo sido também profeta de acontecimentos

apocalípticos e escatológicos, sobre o fim de um ciclo terreno e sobre o começo de estado eterno.

O sétimo mundo é o reino de Deus, e Enoque foi o profeta especial a esse respeito8.

Nos escritos rabinos encontra-se as seguintes palavras: “O número sete é o número mais

sagrado de todos. Enoque foi sétimo depois de Adão e andou com Deus; Moisés foi o sétimo

depois de Abraão; Finéias foi o sétimo depois de Jacó, nosso progenitor, tal como Enoque foi o

sétimo depois de Adão. Eles correspondem ao sétimo dia, que é o sábado, o dia de descanso.

Cada sétimo era a mais importante” (O NOVO TESTAMENTO INTERPRETADO, 1991, p.

341)9.

8
O Novo Testamento Interpretado, 1983, p.340.
9
Ap. Wetstein, (SD) p. 737
10

De acordo com Champlin (1991) Enoque viveu tantos anos quantos são os dias do ano

solar, a saber, trezentos e sessenta e cinco; e então foi arrebatado, pelo que até mesmo os seus

anos de vida nesta terra falam do término de um ciclo. O sétimo depois de Adão, Enoque,

agradou a Deus e foi arrebatado, tal como haverá um sétimo dia de descanso, em que todos serão

arrebatados, os quais, durante o sexto dia da história do mundo foram novamente criados pela

Palavra encarnada10.

Enoque foi o filho mais velho de Caim ( Gn 4:17), que deu nome à cidade assim

conhecida. Filho de Jarede e pai de Matusalém ( Gn 5:18,21), um membro da linhagem de

descendência por intermédio de Sete, através da qual o conhecimento de Deus foi preservado.

Enoque é o personagem simbólico dos crentes arrebatados, pois ele foi retirado desta cena ímpia,

tendo assim escapado da morte, entrado na glória, nos lugares celestiais (NOVO DICIONÁRIO

DA BÍBLIA, 2001, p 504).

Segundo Douglas (2001) Enoque foi um dos dois homens do Antigo Testamento que

foram arrebatados corporalmente para a presença de Deus, sem experimentar a morte (2 Rs:1:1-

11). Enoque aparece em (Lc 3:37) e a epístola aos Hebreus atribui sua translação à sua fé notável

(Hb 11:5); e por último, é citado por Judas como tendo profetizado acerca da “vinda do Senhor

com miríades de seus Santos” ( Jd 14) 11.

Visto que Enoque foi arrebatado vivo para o céu, seu nome se tornou, no judaísmo

posterior, o centro de uma grande tradição apocalíptica, onde ele estaria relatando os segredos

dos céus e do futuro que vira nas visões e viagens através dos céus. Três livros trazem o nome de

Enoque, como autor, um dos quais recua até os dois primeiros séculos A.C., e que é de grande

10
O Novo Testamento Interpretado, 1983, p.341(Ap. Agostinho, em resposta a Fausto, o Maniqueu, XII.XIV).
11
Novo Dicionário da Bíblia, 2001, p. 504
11

importância para que se entenda melhor o pano de fundo do Novo Testamento (O NOVO

TESTAMENTO INTERPRETADO,19991, p 340)

A citação feita por Judas, aparece em Enoque 1:19.O livro de Enoque trata-se de uma

obra, na qual suas várias porções foram compostas em ocasiões diferentes durante os dois últimos

séculos A.C. As seções mais antigas pertencem ao período dos macabeus (COMENTÁRIO

RITCHIE DO NOVO TESTAMENTO, 1983, p.148-184).

Existem cinco divisões principais no livro chamado de Enoque conforme ele existe

atualmente. A primeira descreve uma visão dada a Enoque sobre o juízo futuro, especialmente

dos anjos caídos. A segunda, conhecimento as similitudes de Enoque, consiste de três paralelos

que tratam primeiramente do tema do julgamento contra o mundo, mas com a certeza de

segurança dada aos justos por intermédio da esperança messiânica. A terceira porção é um livro

de astronomia. A quarta porção consiste de duas visões, uma acerca do mundo até à época

messiânica. A quinta porção é uma coleção miscelânea de exortações e outros materiais, dentro o

que o mais importante é o Apocalipse das Semanas, que divide a história do mundo em dez

semanas,as três últimas das quais são apocalípticas. Esse livro se reverte de grande importância

para os estudos do período inter-testamentário da teologia pré-cristã. também se reveste de

interesse por haver sido citado na epístola neo-testamentária de Judas (NOVO DICIONÁRIO DA

BÍBLIA, 2001, p.504).


12

4 A CITAÇÃO EM JUDAS

“Quanto a este foi que também profetizou Enoque”... (Judas 14).

Hagee (2001), afirma que O propósito de Judas (vs.1-4); é dirigir sua epístola aos crentes

que são chamados “ amados” e “ guardados” e deseja a eles ação tripla da misericórdia, paz e

amor (vs.1-2). Notícias desagradáveis a respeito do abuso dos falsos mestres nas igrejas

impeliram Judas a deixar de lado seus comentários sobre a salvação para escrever esta palavra

oportuna de alerta (vs. 3 e 4), por causa dos apóstatas que “transformam em libertinagem a graça

de nosso Deus” e negam a Cristo, é crucial que os crentes batalhem, “diligentemente, pela fé”12.

Judas inicia sua extensa exposição ilustrando o juízo final deles com três exemplos de

julgamento divino tirado do Pentatêuco (vs. 5-7). Como animais irracionais, os falsos apóstolos

são dominados pelo abuso e destruídos pelas coisas que praticam (vs. 8-9). Até mesmo o arcanjo

Miguel é mais cuidadoso quando lida com os poderes sobre-humanos do que esses homens

arrogantes. Eles compara esses homens aos três rebeldes espirituais de Gênesis (Caim) em

Números (Balaão) e (Coré), que incorreram na condenação de Deus (v. 11) (BÍBLIA DE

ESTUDOS DAS PROFECIAS, 2001, p.1464).

Sproul (2001) ao referir-se a profecia de Enoque citada por Judas, não confirma nem

tampouco nega a atribuição popular desse texto apócrifo ao Enoque bíblico. A citação extraída de

1Enoque, concorda com uma hoste de profecias do Antigo Testamento ( Dn 7.9-10; Zc 14.3-5),

ensinando que Deus virá com seus exércitos celestiais para julgar os ímpios, estando Judas, dessa

forma, justificado por aplicar essa idéia bíblica à sua situação específica13.

12
Bíblia de Estudo das Profecias, 2001, p.1464.
13
Bíblia de Estudo Genebra 1998, p. 1522.
13

A citação atribuída a “Enoque” depois de “Adão” (comp.Gn 5 :19-24; Hb. 11:5-6) é

semelhante ao livro de Enoque (1:9) que não pertence ao cânon, escrito por uma pessoa

desconhecida que usou o nome de Enoque como título do livro. A confusão dos dois Enoques

pode ser explicada de duas maneiras: 1)A profecia original do Enoque bíblico talvez fosse

apropriada pelo autor do livro de Enoque sem lhe dar o devido crédito . 2) Considerando que os

mais antigos manuscritos existentes são mais recentes do que a Epístola de Judas, também é

possível que a citação encontrada em Judas fosse inserida no livro de Enoque por algum escritor

posterior. A profecia do piedoso Enoque é a revelação mais antiga registrada sobre a segunda

vinda de Cristo. BÍBLIA COM ANOTAÇÕES DE SCOFIELD, 1993, p.1280).

Teria Judas razão em afirmar que Enoque teria profetizado acerca da vinda do Senhor?

SHEDD (1998) afirma que não se deve duvidar da veracidade profética pronunciada por Enoque

a despeito da segunda vinda de Cristo, apesar de a profecia ser registrada fora da Bíblia, no livro

apócrifo Enoque 1:9. A inclusão de tais citações no cânon inspirado, como ilustração ou como

um apelo à sabedoria popular, não significa que os documentos apócrifos ou extrabíblicos em si

fossem inspirados, nem que tudo o que está contido neles é aprovado pela Bíblia. É o uso da

citação específica que é inspirado, e não a fonte dessa citação14.

Não pode haver dúvida de que Judas conhecia e fez uso de pelo menos dois escritos

apócrifos, a Assunção de Moisés e o livro de Enoque, e provavelmente doutros também, tais

como o Testamento de Naftali no v.6, e o Testamento de Aser no v.8. Judas agora confirma esta

análise final dos seus oponentes com uma profecia de julgamento inescapável, o julgamento que

acompanhará a volta de Jesus Cristo. Ele Cita o Livro de Enoque para enfatizar seu argumento.

(INTRODUÇÃO E COMENTÁRIO DE PEDRO E JUDAS, 1983, p.169).

14
Bíblia Vida Nova, 1999, p.290
14

De acordo com Green (1983) Judas cita Enoque 1.9 no v. 15, quase palavra por palavra.

No v. 14 chama Enoque “o sétimo depois de Adão,” descrição esta que ocorre em Enoque 40:8,

e há muita coisa em Enoque que é usada na descrição que Judas fez dos anjos caídos nos vv.6 e

1315.

Green (1983) ainda afirma que tanto a assunção quanto Enoque eram altamente estimados

na igreja primitiva, mas não temos meios de saber se Judas considerava canônicos estes livros.

Cita-os como sendo relevantes para a situação para a qual escreve, e bem conhecidos tanto a ele

quanto a seus leitores16.

Green (1983) prosseguindo em sua exposição concernente o uso de matéria apócrifa em

por Judas, afirma que, de início, alguns deste escritos foram aceitos porque levavam o carimbo da

aprovação de Judas. Destarte, Clemente de Alexandria escreveu: “com estas palavras ele

corrobora o profeta” ( i. e., Enoque), e, outra vez: “aqui confirma a Assunção de Moisés” , e tanto

Tertuliano quanto Barnabé consideravam estes livros como sendo Escritura. Mais tarde, porém

mudou-se o clima, e ficou sendo aparente quanto perigo havia no uso irrestrito da matéria

apócrifa. Os apócrifos e suas “fábulas blasfemas” foram atacados por Agostinho e Crisóstomo.

Não somente era insuficiente a autoridade de Judas para Salvar os escritos apócrifos, como

também o próprio Judas foi sujeitado a suspeita, e descobrimos, conforme que Dídimo de

Alexandria tinha de pedir que a citação por Judas de livros apócrifos não fosse contada contra

ele17.

Para evitar a realidade das ameaças de juizo que ele fez contra estes homens, Judas cita

uma das mais antigas profecias existentes, pronunciada antes do dilúvio. As palavras de Enoque,

15
INTRODUÇÃO E COMENTÁRIO DE PEDRO E JUDAS, 1983, p.47
16
ibid. p. 47
17
id. p. 48
15

o sétimo depois de Adão, mostram claramente que mesmo naqueles dias distante Deus estava

avisando os ímpios do destino que receberiam, e da ocasião quando seria executado

(INTRODUÇÃO E COMENTÁRIO DE PEDRO E JUDAS, 1983, p.169).

De acordo Green (1983) há quem afirme que Enoque proferiu estas palavras e, agora que

estão incluídas nesta epístola, fazem parte da palavra inspirada de Deus. Talvez, além de deixar

que Enoque não era o descendente de Caim com o mesmo nome, há uma razão especial pela qual

ele recebe o título “sétimo depois de Adão”. Sente, que significa algo completo, talvez sugeriu a

Judas que estas palavras foram proferidos num tempo quando o pecado era praticamente

universal18.

Enoque foi contemporâneo de Adão por mais de trezentos anos, portanto, a corrupção que

resultava no dilúvio desenvolveu-se muito rápido, até mesmo durante a vida dos nossos primeiros

pais. Enquanto o cumprimento desta profecia é ainda futuro, no entanto foi pregada, sem dúvida,

como um aviso aos ante-diluvianos, e foi cumprida, em menor escala (COMENTÁRIO RITCHIE

DO NT, 19896, p.194).

18
ibid. p. 48
16

4 CONCLUSÃO

Conclui-se que, o livro de Judas é realmente um livro de confiança e que não devemos

desconfiar da veracidade deste livro tão rico e importante para todos. Faz-se necessário uma

compreensão devida acerca da situação em que Judas está escrevendo, bem como de seus

leitores. O uso do evento narrado, corresponde à uma contextualização a seus ouvintes; posto os

mesmos serem conhecedores desse livro apócrifo.

Judas aplicou o que eles conheciam ao evento posto em pauta na epístola, que era a

questão da apostasia. A citação do livro apócrifo em Judas, não diminui a autenticidade desse

livro, nem tampouco afirma a inspiração do livro de Enoque, mas que ele “profetizou”. O

pseudepígrafe, bem poderia conhecer esta profecia e incluí-la em seus escritos.

O que realmente deveria ser levado em conta é a realidade da apostasia vigente no

contexto de Judas, e tomado por aplicação a vida dos leitores.


17

BIBLIOGRAFIA

CHAMPLIN, Russell Norman. O Novo Testamento Interpretado.


Sociedade Religiosa Edições Vida Nova. São Paulo-SP, 1980, 670 p.

DOUGLAS, J. D. M. A. B. D., S. T. M., O Novo Dicionário da Bíblia. Ed. Vida


Nova. São Paulo- SP,1995, 1680p.

GREEN, Michael. Introdução e Comentário de II Pedro e Judas. Sociedade


Religiosa Vida Nova e Associação Milenium Distribuidora Cultural Ltda. São
Paulo- SP, 1991, 184p.

HAGEE, John C. Bíblia de Estudo das Profecias. Editora Atos, Belo Horizonte-
MG. Sociedade Bíblica do Brasil, Barueri- São Paulo 1998, 1524p.

MCSHANE, A. Comentário Ritchie do Novo Testamento. Edições Cristãs –


Editora LTDA. Ourinhos – SP, 1996, 223p.

SCOFIELD, C. I. Bíblia Sagrada com Anotações de Scofield. Ed. Publicações


Espanholas, S.A. 6411 W. Wisconsin Ave. Milwaukee,WI 53213 USA. 1322p.

SHEDD, Russell P. Bíblia Shedd. Edições Vida Nova. São Paulo-SP. 1938p.

SHEDD, Russell P. Bíblia Vida Nova. Edições Vida Nova. São Paulo-SP, 1980,
1296p.

SPROUL, R. C. Bíblia de Estudo de Genebra. Editora Cultura Cristã, São Paulo-


SP, 1999, 1710p.
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1. INTRODUÇÃO

A epístola de Judas foi alvo de muitas discussões sobre sua inclusão ou não no Cânon do

NT. Isto por conter em seu corpo uma passagem de um livro apócrifo. Esta citação fez com que

muitos duvidassem da inspiração, e a inerrância dessa epístola. Contudo esta pesquisa não se

propõe a provar a inspiração dessa epístola, pois se tem crido na veracidade de sua inspiração.

Diante deste assunto tão polêmico, esta pesquisa propõe uma análise do assunto de modo

resumido, tendo em vista uma confirmação da inerrância bíblica. O campo de estudo será

limitado apenas ao livro de Judas, onde um versículo será enfocado: Judas 14.

Um estudo sobre este assunto é de relevância considerável para todo o cristão. É lamentável

o fato de muitos não compreenderem o porque desta passagem ser citada no livro de Juadas.

Muitos pensadores falam sobre esse assunto, argüindo sobre qual seria o motivo de já que fora

citado em um livro canônico, porque não incluí-lo no cânon?

Com o fim de um melhor conhecimento sobre esse assunto, esse material se propõe

apresentar de formar panorâmica e objetiva o por que desta citação por Judas. Os objetivos

primários são apresentar uma descrição do assunto através de análise textual, explicitá-lo por

meios de argumentos lógicos e bíblicos.

A metodologia é a pesquisa bibliográfica. Através da consulta de obras que alicerçarão os

apontamentos aqui destacados sobre o relato bíblico. Mais especificamente o estudo do texo em

Judas 14, pois será um caminho para o entendimento desse assunto tão questionado.
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