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Universidade de Brasília - UnB

Instituto de Ciências Humanas – ICH

Departamento de Filosofia – FIL


Introdução à Filosofia (137553 / turma D)
Discente: Matheus Soares | 190035307
Professora: Letícia O. M. S. Botelho

Fichamento dos trechos II e IX do “Segundo Tratado do Governo” de John Locke

Esta obra, retrata o desenvolvimento do homem da questão do Estado de Natureza, estado este
com leis da natureza dominantes, onde homens possuem poder próprio e o utilizam para
conservação própria e de outrem para o movimento de formação do homem à uma sociedade
unificada e política, com poder concedido ao legislativo em prol da sociedade em geral, onde
as leis da sociedade predominam.

Inicialmente, no capítulo II desta obra, o autor apresenta o Estado de Natureza e alguns pontos
pré-estabelecidos em relação ao conhecimento a respeito do poder político. O homem, é
apresentado, assim, como ser dotado, naturalmente, de um estado de liberdade e igualdade,
onde o mesmo tem liberdade de agir por vontade e permissão independentes e onde o tal goze
de igualdade entre os demais, ou seja, que não se subordine tampouco se sujeite à outro
homem, a não ser que, por meio de uma “declaração manifesta da sua vontade”, assim fosse
feito. Ao mesmo tempo que, tal estado de liberdade, também contribui com a construção da
noção dever uns para com os outros na sociedade, estabelecendo, assim, a ideia de caridade e
justiça.

“Para Hooker esta igualdade natural entre os homens é tão evidente e tão incontestável, que
sabiamente a adopta para alicerçar a obrigação de amor mútuo entre os homens, a partir da qual
constrói os deveres que têm uns para com os outros, e ergue os seus grandes princípios de
justiça e de caridade.” (LOCKE, J. 2001, p. 35)
Logo a frente, em contraponto à ideia principal de liberdade, destaca-se o ponto de que o
estado de liberdade, não consiste em um estado de licenciosidade, ou seja, apesar do homem
ser possuidor de liberdade, o mesmo não deve usá-la para danar (em todos os sentidos do
termo) nenhum outro de seus “semelhantes”, uma vez que, todos são “iguais”, e, sob o crivo
da moral cristã, foram criados em igualdade por um mesmo deus.

A lei da natureza, como é dita, deve ser respeitada no sentido de preservar uns aos outros (a
humanidade), lei esta, que deve ser executada pelo homem. Nessa “mediação”, também
caberia ao homem o papel de proteger os inocentes e de refrear os "malfeitores”, sendo assim
feito não de forma a possuir o poder absoluto ou arbitrário, mas para oferecer reparação em
justa medida em relação aos danos executados pelo indivíduo em questão (o castigo).
Portanto, apenas a aplicar um castigo (justo e em perfeita medida) um homem pode danar
outro, uma vez que, este outro, não estaria mais vivendo sob a “lei da razão e equidade”,
sendo considerado perigoso para a humanidade, pois, estaria cometendo um atendado à paz e
à lei da natureza. Pois, sendo assim, o castigo aplicado (que pode ser aplicado por qualquer
homem, executando a “lei da natureza”), deve ser assim feito de forma a provocar
arrependimento e mudança de comportamento no transgressor, para que, outros também não
venham a cometer tal atentado.

Mais à frente, há uma crítica à ação de castigo (ou sentença de morte) de Estados ou Príncipes
sob forasteiros, que, de acordo com Locke, não têm dever algum de respeitar as respetivas leis
deste país.

“Afinal, as autoridades públicas de um país de modo algum poderão possuir sobre um


estrangeiro mais poder do que aquele que todos os homens naturalmente possuem uns sobre
os outros.” (LOCKE, J. 2001, p. 39)

Ainda sobre os danos causados pelo transgressor (considerado nocivo à humanidade), a


vítima, ainda tem o direito de exigir reparação do mesmo pelos danos causados. Podendo
receber ajuda de outrem, para que recupere o que foi danado, assegurando assim, uma
indenização pelos danos sofridos. Qualquer homem, portanto, pode punir, porém somente a
vítima pode pedir esta indenização pelos danos sofridos, e, ainda mais, somente a própria
vítima pode oferecer perdão pela injúria executada (e somente do “magistrado” - como é
colocado por Locke – pode perdoar os castigos).

No Estado de Natureza, o homem pode punir ou matar um transgressor (se necessário) para
que os outros sejam dissuadidos à prática deste crime. Cada pena respectiva à tais
transgressões, por fim, são definidas de forma suficiente para que o delinquente seja
dissuadido a praticá-las novamente e para provocar terror na possível prática deste por
outrem.

Locke também critica o absolutismo dos reis, colocando o governo civil como um “remédio”,
uma vez que, no absolutismo o povo seria comandado por um único ser humano, um rei, que
seja por ódio ou paixões próprias, é “juiz em causa própria” e comanda sem quaisquer
possibilidades de questionamento ou intervenção. Portanto, o governo civil seria o remédio
para esses males, uma vez que os homens não se encontram sob a disposição injusta de um
outro. Portanto, constituindo assim, um corpo político entre si, estabelecendo também
comunidade e criando liberdade entre os homens e suas relações.

Começando, assim, o capítulo IX fala do seguinte desenvolvimento ao Estado de Natureza,


que, segundo Locke, estaria cercado de perigos, uma vez que os homens passaram a possuir
propriedade. Esses perigos, seriam caracterizados pela falta de um sistema estabelecido de
direito, sistema esse, que seria uma “medida comum” a todos os problemas que surgiriam
entre os homens em detrimento aos seus interesses próprios; em segunda questão, no Estado
de Natureza não haveria um juiz conhecido e imparcial, pois cada homem interpreta e executa
as leis da natureza, levando essas leis à causa própria, tendo desinteresse e negligenciando,
assim, a causa do outro; em terceira parte, no Estado de Natureza, não existe um poder que
ampare e execute de forma própria sentenças justas, por fim resultando em perigos graves e à
vida na execução do castigo.

Em detrimento à esses problemas e buscando a preservação da propriedade, os homens se


unem em sociedade, abdicando do seu poder - que antes seria individual – de forma
voluntária, para assim, eleger um indivíduo - entre todos – para exercer este poder, o mesmo,
regulado por regras estabelecidas pela comunidade ou por um eleito para tal função.

“Aqui temos o direito originário e o surgimento inicial dos poderes legislativo e executivo,
bem como dos próprios governos e das sociedades.” (LOCKE J. 2001, p. 145)

No Estado de Natureza, o homem, dentro das leis da natureza, tem o poder de fazer tudo o que
julgar como favorável à sua preservação e a do outro, tal ponto, muda quando o homem passa
a viver unificado em sociedade, pois, esse poder é cedido para que seja regulamentado pelas
leis adotadas por tal sociedade, de forma a garantir a preservação do indivíduo e de todos, ou
seja, leis da sociedade com menos liberdade do que as leis da natureza.

No mesmo passado estado, o homem teria liberdade para punir os crimes cometidos contra a
lei da natureza, porém ao passar a ser sociedade, o homem cede este poder, com o fim de dar
suporte ao poder executivo da sociedade e suas leis.

“O homem encontra-se agora numa nova situação, em que usufrui de muitas comodidades
provenientes do trabalho, da assistência e da sociedade que estabeleceu com os outros numa
só comunidade, bem como da protecção que lhe é oferecida pela força conjunta de toda a
colectividade.” (LOCKE, J. 2001, p. 146)

O capítulo, então se finaliza afirmando que de forma, justa e igual, então, todos cedem este
poder executivo (que possuíam no estado de natureza) ao legislativo, pelo bem e favor da
sociedade como um todo, garantindo a propriedade do indivíduo e combatendo os problemas
do estado de natureza.

“E assim, quem possuir o poder legislativo, poder supremo de qualquer comunidade política,
tem a obrigação de governar segundo leis vigentes estabelecidas, promulgadas e conhecidas
pelo povo, e não por decretos improvisados. De dotar a comunidade de juízes rectos e
imparciais, que deverão dirimir todas as controvérsias à luz daquelas leis. E, bem assim, de
utilizar a força da comunidade, no âmbito interno, exclusivamente para a execução daquelas
mesmas leis, e, no âmbito externo, para a prevenção ou para a reparação de injúrias
provenientes do estrangeiro, bem como para garantir a segurança da comunidade perante as
incursões e as invasões de que vier a ser alvo. E tudo isto jamais poderá ser encaminhado para
outra finalidade que não seja a paz, a segurança e o bem público do povo.” (LOCKE, J. 2001,
p. 147)
Bibliografia

LOCKE, J. Sobre o Estado de Natureza In: LOCKE, John. Segundo Tratado Sobre o
Governo Civil e outros escritos: Ensaios sobre a origem, os limites e os fins verdadeiros do
governo civil. Introdução de J. W. Gough; Tradução de Magda Lopes e Marisa Lobo da
Costa. 3a Edição. Petrópolis: Editora Vozes, 2001. p. 35 – 44

LOCKE, J. Dos Fins da Sociedade Política e do Governo In: LOCKE, John. Segundo
Tratado Sobre o Governo Civil e outros escritos: Ensaios sobre a origem, os limites e os fins
verdadeiros do governo civil. Introdução de J. W. Gough; Tradução de Magda Lopes e Marisa
Lobo da Costa. 3a Edição. Petrópolis: Editora Vozes, 2001. p. 143 - 147

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