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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

CÁLCULO II - PROJETO NEWTON


AULA 10

Assuntos: Continuidade de funções e limite


Palavras-chaves: continuidade, funções contínuas, limite

Bola Aberta
Sejam p ∈ Rn e r ∈ R com r > 0. A bola aberta de centro em p e raio r é o conjunto:

Br (p) = {x ∈ Rn ; ||x − p|| < r}

No R2 , a bola aberta de centro em p = (x0 , y0 ) é constituída por todos os pontos (x, y) que são internos a
circunferência de centro em p e raio r.

No R3 a bola aberta de centro em p = (x0 , y0 , z0 ) é formada por todos os pontos (x, y, z) que são internos
a esfera de centro em p e raio r.
Continuidade de funções
Exemplo: f : R2 −→ R denida por:
(
1, se x2 + y 2 > 1
f (x, y) =
2, se x2 + y 2 ≤ 1

Todos os pontos da circunferência de centro na origem e raio 1 e os pontos internos dessa circunferência
são levados no 2 pela função f . Dos pontos externos a essa circunferência são levados por f no 1.

Gráco de f :

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Consideremos um ponto p0 = (x0 , y0 ) que esteja sobre a circunferência de centro na origem e raio 1.

Sejam agora um intervalo I de "centro"em 2 e "raio"menor que 1. Temos que toda bola aberta de centro
em p0 sempre conterá um ponto p tal que f (p) não pertence ao intervalo I . Isso sempre acontecerá por menor
que seja o intervalo I .

Portanto, em se tratando dos valores de f , a função apresenta um salto em p0 . Isso é nitidamente observado
no gráco da função.

Dizemos então que a função f não é contínua em p0 ou que ela é descontínua em p0 .

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Diremos que uma função f : A ⊂ R2 −→ R é contínua em p0 ∈ Df se ela não apresentar um salto em seus
valores tal como a função do exemplo anterior.

Essa noção de continuidade é estendida para funções de mais de duas variáveis.

Uma função f : A ⊂ Rn −→ R é contínua em p0 ∈ Df se, para todo  > 0, existe δ > 0 tal que:

x ∈ Df ; ||x − p0 || < δ ⇒ |f (x) − f (p0 )| < 

Diremos que uma função f é contínua em B ⊂ Df se f é contínua em todos os pontos de B . Se uma função
f é contínua em Df , diremos, simplesmente, que f é contínua.É fácil ver que toda função constante é contínua.

O gráco de uma função contínua, referente as componentes conexas do domínio da função, não apresenta
saltos. Outra função contínua é a função f (x, y) = x. De fato, mostremos que f é contínua em p0 = (x0 , y0 ).
Dado  > 0, consideremos δ = . Assim, para todo x = (x, y) tal que ||x − p0 || < δ , temos:

|f (x) − f (p0 )| = |f (x, y) − f (x0 , y0 )| = |x − x0 |


≤ ||(x − x0 , y − y0 )|| = ||(x, y) − (x0 , y0 )||
= ||x − p0 || < δ = 

Analogamente,a função g(x, y) = y é contínua. Também de maneira análoga,a função h : Rn −→ R


denida por h(x1 , x2 , ..., xn ) = xi , para algum i ∈ 1, ..., n é contínua. O teorema a seguir fornece uma maneira
de vericar se muitas funções são contínuas.

Teorema 1 Sejam k uma constante e f, g : A ⊂ Rn −→ R funções. Se f e g são contínuas em p0 ∈ A então


f
kf, f + g, f − g, f g são contínuas em p0 . Além disso, se g(p0 ) 6= 0, então é contínua em p0 .
g
Para dar uma idéia de como seria a demonstração desse teorema, mostraremos que f + g é contínua. Seja
p0 ∈ A. Dado  > 0, consideremos o número 2 . Como f e g são contínuas em p0 , para esse número existem
δ1 > 0 e δ2 > 0 tais que:

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||x − p0 || < δ1 ⇒ |f (x) − f (p0 )| <
2

||x − p0 || < δ2 ⇒ |g(x) − g(p0 )| <
2

para x ∈ A. Seja δ = min{δ1 , δ2 }. Tomemos x ∈ A com ||x−p0 || < δ . Logo ||x−p0 || < δ1 , e ||x−p0 || < δ2 .
Assim, temos:

|(f + g)(x) − (f + g)(p0 )| = |f (x) + g(x) − f (p0 ) − g(p0 )|


= |f (x) − f (p0 ) + g(x) − g(p0 )|
 
≤ |f (x) − f (p0 )| + |g(x) − g(p0 )| < + =
2 2

∴ f + g é contínua em p0 .

Vamos utilizar o teorema anterior para mostrar que a função:

2xy
h(x, y) =
x2+5

é contínua. Com efeito, a função xy é contínua, pois é o produto das funções f (x, y) = x e g(x, y) = y ,
que são contínuas.
A função 2xy é contínua, pois é o produto de uma constante por uma função contínua.
A função x2 é contínua, pois é o produto da função f (x, y) = x por ela mesma.
A função x2 + 5 é contínua, pois é a soma da função x2 coma função constante, que são contínuas.
2xy
Finalmente, a função é contínua, pois é o quociente de duas funções contínuas, coma função do
x2 + 5
denominador sempre não nula.
Procedendo desse mesmo modo, podemos mostrar que todas as funções a seguir são contínuas. Por exemplo:

• f (x, y) = x2 + y 2
1
• f (x, y) =
x2 + y2
• f (x, y, z) = 2xy 2 − x2 z − z 3

• f (x1 , x2 , x3 , x4 ) = 5x1 x2 x3 − 2x54 + 7

O próximo teorema aumenta a nossa capacidade de reconhecer se uma dada função é contínua.

Teorema 2 Sejam f : A ⊂ Rn −→ R e ϕ : B ⊂ R −→ R funções tais que Imf ⊂ Df . Se f é contínua em


p0 ∈ Df e ϕ é contínua em f (p0 ) então ϕof é contínua em p0 .

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Demonstração: Dado  > 0, como ϕ é contínua em f (p0 ), existe δ1 > 0 tal que:

t ∈ Dϕ , |t − f (p0 )| < δ1 ⇒ |ϕ(t) − ϕ(f (p0 ))| < 

Agora, como f é contínua em p0 , existe δ > 0 tal que:

x ∈ Df , |x − p0 | < δ ⇒ |f (x) − f (p0 )| < δ1

Logo, segue dessa última expressão que:

|ϕ(f (x)) − ϕ(f (p0 ))| < 

Portanto, ϕof é contínua em p0


Concluímos, a partir desse teorema, que se tivermos uma função ϕ(t) de uma variável e uma função
f (x1 , x2 , ..., xn ) de várias variáveis, ambas contínuas, então a função composta ϕ(f (x1 , x2 , ..., xn )) é contínua.
Por exemplo, a função

g(x, y) = cos(5xy 2 − x3 )

w contínua, pois ϕ(t) = cos(t) e f (x, y) = 5xy 2 − x3 são funções contínuas.


Segue desses dois teoremas que as funções a seguir são todas contínuas. Por exemplo:

• f (x, y) = ln(x2 + y 2 + 1)

• f (x, y) = ex arctan( xy )

|z|
• f (x, y, z) = p
x2 + y4 + 1

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Limite
Sejam A ⊂ Rn e p0 ∈ R dizemos que p0 é um ponto de acumulação de A se toda bola aberta de centro em
p0 contém um ponto de A diferente de p0

Intuitivamente, se p0 é um ponto de acumulação de A, então existem innitos pontos de A, diferentes de


p0 e que estão arbitrariamente próximos de p0 . Por exemplo, consideremos o conjunto

A = (x, y) ∈ R2 ; 1 ≤ y < 3


e os pontos p1 = (1, 1), p2 = (1, 2), p3 = (1, 3), p4 = (1, 4).

p1 , p2 e p3 são pontos de acumulação de A. Porém, p4 não é ponto de acumulação de A. Observemos que


p1 , p2 ∈ A, mas p3 6∈ A.

Sejam f : A ⊂ Rn −→ R uma função, p0 um ponto de acumulação de Df e L ∈ R. De maneira intuitiva,


diremos que L é o limite de f quando x tende para p0 , e escreveremos:

lim f (x) = L,
x→p0

se, para "todo"x "próximo"de p0 , o valor de f (x) está "próximo"de L. Quando isto não acontece, diremos
que o limite lim f (x) não existe. Por exemplo, consideremos a função
x→p0

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2xy
f (x, y) =
x2 + y 2

onde Df = R2 − {(0, 0)}.


∴ (0, 0) é ponto de acumulação de Df

Desejamos saber se o limite

lim f (x, y)
(x,y)→(0,0)

existe ou não. Se tomarmos pontos próximos de (0, 0), mas que estão sobre o eixo x, isto é, pontos da
forma (x, 0), temos que

2x.0 0
f (x, 0) = = 2 =0
x2 + 0 2 x

Agora se tomarmos pontos próximos de (0, 0), mas que estejam sobre a bissetriz do primeiro quadrante, ou
seja, pontos da forma (x, x), temos:

2xx 2x2
f (x, x) = = =1
x2 + x2 2x2
2xy
Portanto, o limite lim não existe, pois para certos pontos do R2 próximos de (0, 0) o valor
(x,y)→(0,0) x2
+ y2
desses pontos estão "próximos"(na verdade são iguais) de zero e para outros pontos do R2 próximos da origem,
o valor de f está próximo (na verdade são iguais) de 1.

O que garante a existência e a unicidade do limite é a condição dada na seguinte denição:

Denição 1 Sejam f : A ⊂ Rn −→ R, p0 um ponto de acumulação de Df e L ∈ R. O número L é o limite


de f quando x tende para p0 se, dado  > 0, existe δ > 0 tal que:

x ∈ Df , 0 < ||x − p0 || < δ ⇒ |f (x) − L| < 

Segue dessa denição e da denição de função contínua que

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 lim f (x) existe e
x→p0
f é contínua em p0 ⇔
 lim f (x) = f (p0 )
x→p0

Temos então que:

xy 2 + 8
lim =2
(x,y)→(−2,1) x2 − y 3

xy 2 + 8
pois f (x, y) = é uma função contínua, logo
x2 − y 3

−2.12 + 8 6
lim f (x, y) = f (−2, 1) = 2 3
= =2
(x,y)→(−2,1) (−2) − 1 3

Tal como este, podemos calcular os seguintes limites:

1. lim ex (x2 + xy − 1) = e0 (02 + 0.1 − 1) = −1


(x,y)→(0,1)

x cos(x − y) 2 cos(2 − 2) 2 1
2. lim = = =
(x,y)→(2,2) x2 + y 2 22 + 22 8 4

3.
p p
lim 2x + y 2 + 5z = 2.1 + (−2)2 + 5.2 = 16 = 4
(x,y,z)→(1,−2,2)

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