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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

CÁLCULO II - PROJETO NEWTON

AULA 23

Assunto: Máximos e mínimos

Palavras-chaves: máximos e mínimos, valores máximos e valores mínimos

Máximos e mínimos (continuação)

Sejam f (x, y) uma função de classe C 2 em um aberto A e (x0 , y0 ) um ponto crítico de f .

Nosso objetivo agora é estabelecer condições sucientes sobre as derivadas parciais de 2◦ ordem de f para
que (x0 , y0 ) seja ou um ponto de mínimo local de f , ou um ponto de máximo local de f ou um ponto de sela de f .

Já sabemos que (x0 , y0 ) é um ponto crítico de f , assim o plano tangente ao gráco de f em (x0 , y0 , f (x0 , y0 ))
é paralelo ao plano xy .

Para todo vetor →



v = (h, k) 6= (0, 0) consideremos a função

g→
v (t) = (x0 + ht, y0 kt)

Observemos que g→−v (0) = (x0 , y0 ) e observemostambém que o gráco de g→


v pode ser visto como sendo a

intersecção do gráco de f (x, y) com o plano perpendicular ao plano xy e que contem a reta

(x, y) = (x0 , y0 ) + t(h, k)

Como (x0 , y0 ) ∈ A e A é aberto, a função g→


−v está denida em um intervalo aberto I com 0 ∈ I . Além
disso, g→

v possui derivadas de até 2◦
ordem contínuas em I , pois, pela regra da cadeia, temos:

0 ∂f ∂f
g→
−v (t) = (x0 + ht, y0 + kt)h + (x0 + ht, y0 + kt)k
∂x ∂y

e
∂2f ∂2f
 2
∂2f
  
00 ∂ f
g→
−v (t) = (x 0 + ht, y0 + kt)h + (x 0 + ht, y0 + kt)k h+ (x 0 + ht, y0 + kt)h + (x 0 + ht, y0 + kt)k k
∂x2 ∂y∂x ∂x∂y ∂y 2

Agora, usando o teorema de Schwarz, obtemos:

00 ∂2f 2 ∂2f ∂2f


g→
−v (t) = (x 0 + ht, y0 + kt)h + 2 (x 0 + ht, y0 + kt)hk + (x0 + ht, y0 + kt)k 2
∂x2 ∂y∂x ∂y 2

∂2f ∂2f ∂2f


Como as funções , e são contínuas e a curva α(t) = (x0 + ht, y0 + kt) é contínua, temos que
∂x2 ∂y∂x ∂y 2
00
g→
−v
(t) é contínua em I .

Uma condição suciente para que (x0 , y0 ) seja um ponto de mínimo local de f (x, y) é que t = 0 seja um


ponto de mínimo local de g→
00
−v
, para todo vetor →
−v 6= 0 . E uma condição suciente para que isso aconteça é
que



0
g→
−v (0) = 0 e 00
g→
−v (0) > 0 (∀→

v 6= 0 )

Como (x0 , y0 ) é ponto crítico de f e

0 ∂f ∂f
g→
−v (0) = (x0 , y0 )h + (x0 , y0 )k
∂x ∂y

temos que g→
0
−v
(0) = 0.Portanto, apenas a condição



00
g→
−v (0) > 0 (∀→

v 6= 0 )

é suciente para que o ponto crítico (x0 , y0 ) seja um ponto de mínimo local de f .

Gracamente isso também pode ser interpretado como segue. Como g→ −


00
v
é contínua, pelo teorema da con-
servação do sinal, existe um intervalo aberto J para o qual g→ 00
−v
(t) > 0, para todo t ∈ J , logo a concavidade de
00
g→
− é para cima, para todo vetor não nulo →

v e , assim, o gráco de f (x, y) está acima do plano tangente a
v
esse gráco no ponto (x0 , y0 , f (x0 , y0 )). Portanto, (x0 , y0 ) é ponto de mínimo de f .

De modo análogo, uma condição suciente para (x0 , y0 ) ser um ponto de máximo local de f (x, y) é que



00
g→
−v (0) < 0 (∀→

v 6= 0 )

Uma condição suciente para (x0 , y0 ) ser um ponto de sela de f é que existam vetores não nulos →

v1 e→

v2
tais que

g→
v1 < 0
− e g→
v 2 > 0,

2
pois assim g→
v 1 terá concavidade para baixo e g→
− −v 2 terá concavidade para cima, de modo que o gráco de
f , em toda vizinhança do ponto (x0 , y0 , f (x0 , y0 )) terá pontos acima e pontos abaixo do plano tangente a esse
gráco e, portanto, (x0 , y0 ) não será nem ponto de máximo local e nem de mínimo local de f .

Temos que

00 ∂2f 2 ∂2f ∂2f


g→
−v (0) = (x 0 , y0 )h + 2 (x 0 , y0 )hk + (x0 , y0 )k 2
∂x2 ∂y∂x ∂y 2

Para facilitar a escrita, escrevamos

∂2f ∂2f ∂2f


a= (x 0 , y0 ) , b = (x 0 , y0 ) e c = (x0 , y0 )
∂x2 ∂y∂x ∂y 2

Assim,

00 2 2
g→
−v (0) = ah + 2bhk + ck

Supondo que a 6= 0, temos:

 
00 2 b c 2
g→
−v (0) = a h + 2h k + k
a a
"    2  2 #
b b b c
= a h2 + 2h k + k − k + k2
a a a a
" 2 #
b c b2
= a h + k + k2 − 2 k2
a a a
" 2   #
b c b2
= a h+ k + − k2
a a a2
" 2 #
b ac − b2 2
= a h+ k + k
a a2

Observemos que o número ac − b2 pode ser escrito na forma de um determinante de uma matriz 2 × 2

a b
ac − b2 =


b c

a b
Vamos usar a notação H =

.

b c

Portanto,

" 2 #  2
00 b H 2 00 b H
g→
−v (0) =a h+ k + 2 k ⇒ g→
−v (0) = a h + k + k2
a a a a

3
Portanto, se H > 0 e a > 0, então g→
00
−v
(0) > 0. E se H > 0 e a < 0, então g→
00
−v
(0) < 0. Temos então que

• H > 0 e a > 0 ⇒ (x0 , y0 ) é ponto de mínimo local de f

• H > 0 e a < 0 ⇒ (x0 , y0 ) é ponto de máximo local de f .

Suponhamos agora que H < 0. Consideremos os vetores →



v 1 = (1, 0) e →

v 2 = (−b, a). Temos

00
g→
−v 1 (0) = a e 00
g→
−v 2 (0) = Ha

Logo g→
00
−v1
(0) e g→
00
−v2
(0) tem sinais contrários e, portanto, (x0 , y0 ) é ponto de sela de f . Assim,

• H < 0 ⇒ (x0 , y0 ) é ponto de sela de f

Lembremos que

∂f 2 ∂f 2


∂x2 (x, y) (x, y)

∂2f ∂y∂x
e

a= (x0 , y0 ) H =
∂x2 ∂f 2

∂f 2
∂y∂x (x, y) (x, y)

∂y 2

A função H(x, y) denida em A por

∂f 2 ∂f 2


∂x2 (x, y) (x, y)

∂y∂x

H(x, y) =

∂f 2 ∂f 2
∂y∂x (x, y) (x, y)

∂y 2

é chamada de hessiano de f .

Temos então o seguinte teorema que fornece condições sucientes para que (x0 , y0 ) seja extremante local
ou ponto de sela de f (x, y).

Teorema 1 Sejam f (x, y) uma função de classe C 2 em um aberto A e (x0 , y0 ) ∈ A um ponto crítico de
f (x, y).

∂f 2
(a) Se H(x0 , y0 ) > 0 e (x0 , y0 ) > 0, então (x0 , y0 ) é um ponto de mínimo local de f (x, y)
∂x2
∂f 2
(b) Se H(x0 , y0 ) > 0 e (x0 , y0 ) < 0, então (x0 , y0 ) é um ponto de máximo local de f (x, y)
∂x2
(c) Se H(x0 , y0 ) < 0 então (x0 , y0 ) é um ponto de sela de f (x, y).

Exemplo 1 Encontre os pontos críticos da função f (x, y) = (−x3 + 3x)(y 2 − 1) e classique-os como máximo
local, mínimo local ou ponto de sela.

4
Resolução:

Temos que:

∂f
(x, y) = (−3x2 + 3)(y 2 − 1) = −3(x2 − 1)(y 2 − 1)
∂x

∂f
(x, y) = (−x3 + 3x)2y = −2xy(x2 − 3)
∂y

De
( (
−3(x2 − 1)(y 2 − 1) = 0 (x2 − 1)(y 2 − 1) = 0

−2xy(x 2 − 3) = 0 xy(x2 − 3) = 0,

teremos que

(x2 − 1)(y 2 − 1) = 0 ⇒ x = −1, y = 1, y = −1 ⇒, y = 1

Assim, quando:

x = −1 ⇒ −y(−2) = 0 ⇒ 2y = 0 ⇒ y = 0 (1)
x = 1 ⇒ y(−2) = 0 ⇒ −2y = 0 ⇒ y = 0 (2)
√ √
2
y = −1 ⇒ −x(x − 3) = 0 ⇒ x = 0, x = − 3, x = 3 (3)
√ √
y = 1 ⇒ x(x2 − 3) = 0 ⇒ x = 0, x = − 3, x = 3 (4)

De (1) concluímos que (−1, 0) é ponto crítico de f . De (2), (1, 0) é ponto crítico de f . De (3), (0, −1), (− 3, −1)
√ √ √
e ( 3, −1) são pontos críticos de f e de (4), (0, 1), (− 3, 1) e ( 3, 1) são pontos críticos de f .

Portanto, os pontos críticos de f são:

√ √ √ √
(−1, 0) , (1, 0) , (0, −1) , (− 3, −1) , ( 3, −1) , (0, 1) , (− 3, 1) e ( 3, 1)

O hessiano será da forma:

∂2f
(x, y) = −3.2x(y 2 − 1) = −6x(y 2 − 1)
∂x2

∂2f
(x, y) = −3(x2 − 1)2y = −6y(x2 − 1)
∂y∂x

∂2f
(x, y) = −2x(x2 − 3)
∂y 2

5
∂f 2 ∂f 2


∂x2 (x, y) (x, y)

∂y∂x

−6x(y 2 − 1) −6y(x2 − 1)

= 12x2 (x2 −3)(y 2 −1)−36y 2 (x2 −1)2

H(x, y) = =
−6y(x2 − 1) −2x(x2 − 3)
∂f 2 ∂f 2
∂y∂x (x, y) (x, y)

∂y 2

• Para o ponto (−1, 0) teremos:

H(−1, 0) = 12.1.(−2)(−1) = 24 > 0


∂f 2
(−1, 0) = −6.(−1)(−1) = −6 < 0
∂x2

Portanto, (−1, 0) é ponto de máximo local de f .

• Para o ponto (1, 0) teremos:

H(1, 0) = 12.1.(−2)(−1) = 24 > 0


∂f 2
(1, 0) = −6.1.(−1) = 6 > 0
∂x2

• Portanto, (1, 0) é ponto de mínimo local de f .

Para o ponto (0, −1) teremos:

H(0, −1) = −36.1.1 = −36 < 0

Portanto, (0, −1) é ponto de sela de f .

√ √ √ √
De modo análogo, temos que (− 3, −1), ( 3, 1), (0, 1), (− 3, 1) e ( 3, 1) são pontos de sela de f .

Observando o gráco da função f (x, y) = (−x3 + 3x)(y 2 − 1) constatamos que realmente f possui um ponto
de máximo local, um ponto de mínimo local e seis pontos de sela.

Exemplo 2 Determine os extremantes locais e os pontos de sela da função

f (x, y) = x3 + 2xy + y 2 − 5x

Resolução:

Temos que:

6
∂f
(x, y) = 3x2 + 2y − 5
∂x

∂f
(x, y) = 2x + 2y
∂y

Para encontrar os pontos críticos de f devemos resolver o sistema


(
3x2 + 2y − 5 = 0
2x + 2y = 0

Segue da segunda equação que

y = −x

Substituindo essa igualdade na primeira equação, obtemos:

3x2 − 2x − 5 = 0

Portanto,

p √
2± 4 − 4.3.(−5) 2 ± 4 + 60
x = =
2.3 6

2+8 10 5



 = =
2 ± 64 2±8

 6 6 3
= = =
6 6
 2 − 8 = −6 = −1



6 6

Quando


5 5
 x = ⇒y=−
3 3
 x = −1 ⇒ y = 1

 
5 5
Logo, ,− e (−1, 1) são pontos críticos de f .
3 3

Determinemos o hessiano de f

7
∂2f
(x, y) = 6x
∂x2

∂2f
(x, y) = 2
∂y∂x

∂2f
(x, y) = 2
∂y 2

∂f 2 ∂f 2


∂x2 (x, y) (x, y)

∂y∂x
6x 2
H(x, y) = = = 12x − 4

2 2
∂f 2 ∂f 2
∂y∂x (x, y) (x, y)

∂y 2

 
5 5
Analisaremos o ponto ,−
3 3

 
5 5 5
H ,− = 12. − 4 = 20 − 4 = 16 > 0
3 3 3
∂f 2 5 5
 
5
,− = 6. = 10 > 0
∂x2 3 3 3
 
5 5
Concluímos que ,− é um ponto de mínim o local de f .
3 3

Quanto ao ponto (−1, 1), temos

H(−1, 1) = 12.(−1) − 4 = −12 − 4 = −16 < 0

Portanto, (−1, 1) é um ponto de sela de f .

Observando o gráco da função f (x, y) = x3 + 2xy + y 2 − 5x nas duas posições mostradas abaixo, ca claro
que f tem um ponto de mínimo local e um ponto de sela.

Método dos Multiplicadores de Lagrange

Estamos interessados agora em determinar os extremantes locais de uma função diferenciável f (x, y) em
um conjunto A da forma A = {(x, y) ∈ Df ; g(x, y) = 0}, em que g é uma função de classe C 1 com ∇g(x, y) 6= 0
em A. Pelo teorema da funções implícitas os pontos de A constituem uma curva. Em termos geométricos
temos a situação a seguir na qual estão desenhadas a curva g(x, y) = 0 e curvas de nível de f correspondentes
aos níveis c1 , c2 , c3 , c4 com c1 < c2 < c3 < c4 .
Se (x0 , y0 ) é extremante local de f em A, então a reta tangente à curva de nível de f nesse ponto coincide
com a reta tangente à curva g(x, y) = 0 nesse ponto. Logo os vetores gradientes ∇f (x0 , y0 ) e ∇g(x0 , y0 ) são
paralelos. Assim, (x0 , y0 ) satisfazem o sistema

8
(
∇g(x, y) = λ∇f (x, y)
g(x, y) = 0

De fato, a esse respeito, temos o seguinte teorema

Teorema 2 Seja f (x, y) diferenciável em um aberto B e seja A = {(x, y) ∈ B; g(x, y) = 0} em que g é de


classe C e ∇g(x, y) 6= (0, 0) em A. Se (x0 , y0 ) é um extremante local de f em A, então existe λ ∈ R tal que
1

∇g(x0 , y0 ) = λ∇f (x0 , y0 )

y2
Exemplo 3 Determine os extremante locais de f (x, y) = x2 + y 2 sujeita a restrição x2 + = 1.
4

Resolução:

 Neste caso, queremos2


determinar os pontos de máximo2
e os de mínimos locais de f no conjunto A =
y y
(x, y) ∈ R2 ; x2 + = 1 . Escrevamos g(x, y) = x2 + = 1. Temos que
4 4

y
∇g(x, y) = (2x, )
2
Portanto ∇g(x, y) 6= (0, 0), para todo (x, y) em A. Devemos resolver o sistema

  y
 ∇g(x, y) = λ∇f (x, y)  (2x, ) = λ(2x, 2y)
2 ⇒ 22
 x2 + y = 1  2
x +
y
= 1
4 4
Portanto
  

 2x = λ2x  λx − x = 0  x(λ − 1) = 0

 y 
 

= λ2y ⇒ 4λy − y = 0 ⇒ y(4λ − 1) = 0
22 2 2
 y 
 x2 + y  x2 + y

x2 + = 1 = 1
  
= 1


4 4 4

Segue da primeira equação que x = 0 ou λ = 1. Fazendo x = 0 na terceira equação obtemos y ± 2. Assim,


(0, 2) e (0, −2) são candidatos a extremantes.

Fazendo λ = 1 na segunda equação, obtemos y = 0 e, segue daí que x ± 1. Portanto, (1, 0) e (−1, 0) são
também candidatos a extremantes de f .

Como f (0, 2) = f (0, −2) = 4 e f (1, 0) = f (−1, 0) = 1, temos que (0, 2) e (0, −2) são pontos de máximo
local de f e (1, 0) e (−1, 0) são pontos de mínimo local de f .

As guras a seguir descrevem a situação estudada neste exemplo em termos do gráco da f e de suas
curvas de nível.

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