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PERSPECTIVA FILOSÓFICA
Fundada em 1992
Departamento de Filosofia
Chefe: Jesus Vazquez Torres
Coordenadores da Pós-Graduação: Alfredo Moraes de Oliveira e
Fernando Raul de Assis Neto
Departamento de Filosofia
Chefe: Gutemberg Pessoa R. Santos
Coordenadores da Pós-Graduação: Anderson D’Arc Ferreira e
Antonio Rufino Vieira
PERSPECTIVA FILOSÓFICA
Filosofia:
construindo os caminhos do ensinar
e do aprender
Organização
Prof. Dr. Junot Cornélio Matos
Editores
Tárik de Athayde Prata (UFPE)
Marcos Roberto Nunes Costa (UFPE)
Conselho Editorial
Anderson D’Arc (UFPB)
Érico Andrade (UFPE)
Jesus Vazquez Torres (UFPE)
José Gabriel Trindade Santos (UFPB)
Juan Bonaccini (UFPE)
Marconi Pequeno (UFPB)
Richard Romeiro Oliveira (UFPE)
Sandro Sena (UFPE)
Tarik Prata (UFPE)
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Vincenzo Di Matteo (UFPE)
Comitê Científico
Enéias Forlin (UNICAMP)
Fátima Évora (UNICAMP)
Fernando Magalhães (UFPE)
Fernando Rey Puente (UFMG)
Giovanni Casertano (Università degli Studi di Nápoli )
Giuseppe Tossi (UFPB)
Juvenal Salvian (UNIFESP)
Márcio Damin (UNICAMP)
Marcelo Pimenta Marques (UFMG)
Miriam Campolina Peixoto (UFMG)
Noeli Rossato (UFSM)
Rafael Ramon Guerrero (Complutense de Madrid)
Rodrigo Jungmann de Castro (UFS)
Wilson Antonio Frezzatii (UNIOESTE)
Zeljko Lopariç (UNICAMP/PUC-SP)
Eixo temático
Artigos diversos
Resumo
O presente texto trata da relação entre a Teoria do Agir Comunicativo
e os Processos de Aprendizagem na ótica do pensador alemão Jurgen
Habermas. De fato, a compreensão dos Processos de Aprendizagem
em Habermas insere-se na sua compreensão de Esfera Política Pública
dentro do Estado Democrático de Direito. Deve-se, pensar, portanto, que
a aprendizagem em habermas é fundamentalmente aprendizagem social,
ética, cívica, normativa, estética e expressiva.
Palavras-Chave: Habermas, Aprendizagem, Esfera Pública.
Abstract
This present text comes up of the relation between Theory of
Communicative Action and Learning rocesses in the vision of the
German thinker Jurgen Habermas. Surely, the comprehension of the
Learning Processes in Habermas inset in the comprehension of Political
Publish Sphere in the Democratic State of Law. Should be considerate,
so, that the Learning in Habermas is fundamentally social learning, ethic,
civic, normative, aesthetics and expressive.
Keys words: Habermas, Learning, Public Sphere.
À guisa de conclusão
Referências
Resumo
O texto apresenta alguns aspectos relevantes da discussão em torno do
ensino de filosofia no Ensino Médio enquanto elementos fundamentais
para se pensar as dinâmicas da aprendizagem para os alunos de nível médio.
Tomando como ponto de partida a definição do ensino como educação
examina a questão da prática pedagógica e da formação dos professores
de Filosofia indicando a necessidade de não dicotomizar a relação “fazer
filosofia” e “aprender a filosofar”. Neste processo, propões que a prática
do ensino de filosofia deve acontecer de forma interdisciplinar e aberta
para um diálogo com conhecimentos e perspectivas diversas. Analisando
a condição humana a partir de um modo de pensar novo, não apenas
por alternativas decorrentes de programas disciplinares, muitas vezes
emergenciais e dissociados, mas a partir de mudanças dos paradigmas
e enfoques teóricos e práticos que orientam a formação e prática dos
professores, pois, é fundamental estimular o pensar para que os alunos
aprendam a Filosofia e a filosofar.
Abstract
The paper presents some relevant aspects of the discussion on the
teaching of philosophy in high school as key elements to think about the
dynamics of learning for secondary students. Taking as starting point the
definition of education as education examines the issue of pedagogical
practice and the training of teachers of Philosophy indicating the need
not to dichotomize the relationship “doing philosophy” and “learn to
philosophize.” In this process, proposes that the practice of teaching
philosophy should happen in an interdisciplinary way and to open a
dialogue with knowledge and diverse perspectives. Analyzing the human
condition from a new way of thinking, not only due to alternative
disciplinary programs often emergency and dissociated, but from changes
in the paradigms and theoretical approaches and practical oriented training
and practice of teachers as it is essential to stimulate the thinking that
students learn philosophy and philosophizing.
1
Texto para apresentação na mesa redonda: “Fundamentos Filosóficos do Ensino de Filosofia”
no 2º Congresso Brasileiro de Professores de Filosofia – Recife (12 a 14 de dezembro de 2012).
2
Professor do Departamento de Pedagogia e do Programa de Pós-Graduação em Educação/
Mestrado da Universidade do Estado de Santa Catarina. E-mail: cjcarminati@hotmail.com
Introdução
Formação e ensino de Filosofia
3
FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia. Rio de Janeiro: Ed. Paz e Terra, 1997.
Considerações finais
4 Vale ressaltar que não é nosso objetivo discutir especificamente as temáticas e enfoques em
torno do currículo, embora seja um aspecto fundamental a ser retomado noutro momento.
Referências
Resumo
Partindo de uma definição de Filosofia relacionada ao campo da práxis,
portanto, dando à matéria a obrigação de influir na – e ser influenciada
pela – realidade contextual em que é praticada, pretende-se refletir
dialeticamente acerca das contribuições que a milenar tradição filosófica
oferece ao ato de filosofar e ao seu ensino. Tomar-se-ão, por um lado, as
relevantes contribuições que a tradição oferece ao docente, ao docente-
filósofo e ao estudante, sobretudo como ampla e peculiar fonte cultural,
imprescindível à realização da educação filosófica como paideia ou como
bildung. Em oposição dialética, serão esboçados caminhos para a práxis
filosófica que não ocorra tendo na tradição o elemento fundamental
ou mesmo marginalmente presente. Nessa segunda vertente, serão
valorizadas competências próprias ao fazer filosófico bem como caminhos
não tradicionais pelos quais tais competências podem alternativamente
ser alcançadas. Por fim, serão explicitadas as vantagens oferecidas pela
valorização da tradição como componente do ensino de Filosofia, ao
mesmo tempo em que serão apontados os riscos castradores – portanto
antifilosóficos – oferecidos pela força de sua história. Buscar-se-á, assim,
fugir do maniqueísmo fetichista no trato da questão, oferecendo aos
docentes oportunidade de reflexão e diálogo acerca de um desejável
pluralismo metodológico.
Palavras-chave: práxis, tradição, ensino, pluralismo metodológico.
Abstract
By comprehending the philosophy as praxis, we give it an obligation to
influence - and be influenced by - contextual reality in which it is held.
This paper intends to reflect dialectically about the contributions that the
1
Doutor em Educação e doutorando em Filosofia pela USP, professor na UFABC, já tendo
coordenado o Bacharelado em Filosofia e atualmente coordenando a Licenciatura em
Filosofia. Líder do grupo Perspectivas críticas da filosofia moderna e contemporânea; membro do GT
Ética e Cidadania, da ANPOF; e da Associação Latino-americana de Filosofia da Educação. Site: www.
pansarelli.org. E-mail: pansarelli@gmail.com.
take the relevant contributions that tradition offers to the teacher, to the
philosopher-teacher and to the students, particularly as large and peculiar
cultural source, indispensable to the development of a philosophical
education as paideia or as Bildung. In a dialectical opposition, we will
present ways to philosophical practice that is not effected grounded
in tradition. In this second part, will be valued philosophical skills and
nontraditional ways by which such skills could be achieved. Finally, the
advantages offered by the appreciation of the tradition will be explained
as well as the risks offered by virtue of its history.
Keywords: Praxis, traditions, teaching, methodological pluralism.
O problema da definição
Entre os filósofos brasileiros de nossos dias parece perma-
necer, como regra geral, um hábito que é objeto de crítica filosófica
há pelo menos meio século. Trata-se da ausência da reflexão acerca
do sentido próprio do filosofar. Não se trata de defender a assunção,
pelo filósofo, de uma definição única que deverá permanecer imutável
durante sua carreira, mas, antes, cobrar uma reflexão que possa orien-
tar sua atuação, práxica, filosófica, oferecendo inclusive elementos para
uma autoavaliação constante. Com efeito, como saber se a produção
que realizamos é efetivamente filosófica, uma vez que não incluímos
nela a explicitação sobre o que consideramos ser próprio do e perti-
nente ao filosofar? E há que se considerar, ainda, que a criação ou ela-
boração de uma concepção de Filosofia ou de ato de filosofar implica,
evidentemente, os rumos e os limites da Filosofia a ser desenvolvida
pelo filósofo em questão, de modo que a resposta à pergunta acerca do
que seja a Filosofia se faz necessária por esse segundo motivo: não só
oferecer um parâmetro para a (auto)avaliação acerca da existência ou
não do caráter filosófico na produção realizada, como também permitir
a compreensão prévia dos limites e potencialidades existentes em tal
produção, conforme imposição da concepção adotada.
Ao longo de toda a tradição filosófica, autores dos mais diver-
sos se impuseram a tarefa de refletir acerca da questão sobre o sentido
da Filosofia, seja um grego como Platão, que não se nega a fugir de seu
estilo mais comum para oferecer aos leitores, na Apologia2; um Sócrates
2
Principalmente em 20c-24b, mas considerando também os desdobramentos práxicos em
Daniel Pansarelli
contemporâneos, a exemplo de Heidegger (1973) ou Ortega y Gasset
(2010), ambos autores de reflexões cuja prioridade explícita era a defi-
nição de suas próprias compreensões acerca do que consideravam ser a
Filosofia. Mas a relevância das reflexões sobre o tema parece não tocar
a produção filosófica brasileira, como observa, por exemplo, Severino,
ao estudar nossa produção filosófica contemporânea e constar como
uma das
atitudes fundamentais que delineiam o estilo es-
pecífico do filosofar brasileiro [...] o fato de que o
praticante da filosofia entre nós nem sempre reve-
la uma preocupação marcante em se posicionar ex-
plicitamente quanto ao sentido da tarefa do filosofar. Parte
direto para sua atividade de análise, de reflexão e
de crítica, que ele julga como filosófica, e assim
desenvolve seu esforço, incorporando, com sua
atitude, o ditado de que nadar se aprende nadando
(SEVERINO, 1999, p. 24-5).
28a-35d.
teriormente retornar a ela, com o que deverá ser uma visão mais ampla
Daniel Pansarelli
e aprofundada da mesma realidade. Tomo, assim, aspectos não filosófi-
cos como início e fim de cada ciclo do processo, garantindo à abstração
filosófica o papel de mediadora, que terá por objetivo a ampliação dos
horizontes na significação do mundo pelo estudante.
4
A divisão, para fins didáticos, dos tipos de “objetivos do ensino” pauta-se na tipificação
dos conteúdos tal como adotada nos PCN’s de áreas diversas, realizada em consonância com
Delors (2010).
Daniel Pansarelli
serem tomadas, mas, para além destas, as grandes produções do pen-
samento como um todo: a filosofia, a literatura, a música, o teatro, etc.
O objetivo, frisemos, estaria na aquisição de conteúdos culturais – em
sentido amplo –, na ampliação do repertório pelos estudantes, com
vistas à sua formação integral.
Um problema que surge nesse campo, de consecução de ob-
jetivos conteudistas por meio da apropriação da tradição intelectual,
está na delimitação do que se poderia considerar como “grandes clás-
sicos do pensamento”. Se, por um lado, algumas dezenas de autores
nos vêm imediatamente à memória mediante a simples remissão aos
tais clássicos, não se pode deixar de considerar, por outro lado, que
Aristóteles não fora um “clássico” – e nem menos que isso – durante
a Idade Média europeia; ou que Nietzsche pouco fora lido em vida.
Haveríamos de ponderar, também, a total ausência de autores orientais
e africanos dentre os clássicos consagrados como tal. Faltam, portanto,
elementos para saber se em nossa leitura contemporânea consideramos
adequadamente os autores que tratamos por clássicos, meritórios de
figurar nos planos de ensino de Filosofia. Quanto a esse ponto, parece
prudente lembrar, com Onfray, que “a historiografia é do âmbito da
arte da guerra” (2008, p. 11), de modo que apenas as perspectivas dos
“vencedores” figuram na história por tempo suficiente para se torna-
rem “clássicos”. Nesse mesmo sentido, destaca o autor,
É espantoso que a filosofia, tão pronta a criticar os
historiadores ou os geógrafos sobre a maneira de
praticar sua arte, os cientistas sobre a de conside-
rar os usos corretos da epistemologia, caia por sua
vez na esparrela de evitar aplicar em sua paróquia
o que ensina às capelas da vizinhança! Pois não
é do meu conhecimento que a filosofia exerça as
certezas de sua seita submetendo a história de sua
disciplina ao fogo cruzado de um trabalho crítico
capaz de se dar conta da maneira pela qual é escri-
to (ONFRAY, 2008, p. 12)
Daniel Pansarelli
auxiliar os estudantes no desenvolvimento de determinadas habilidades
de pensamento, as quais levarão à construção de algo que poderíamos
chamar por “competência filosófica”. Parece ser algo similar ao que
sugere Velasco, ao afirmar que
a necessidade de uma prática docente voltada para
o desenvolvimento de habilidades de pensamen-
to (ou ferramentas intelectuais) é consenso entre
educadores e críticos da educação contemporânea.
Por conseguinte, faz-se urgente uma educação
para o pensar: o ensino-aprendizagem pautado na
investigação crítica e criativa, na reflexão e funda-
mentação de ideias, valores e ações. Trata-se, pois,
de uma educação que visa à autonomia do pensa-
mento, formando educandos que pensem por si
mesmos e desenvolvam mecanismos próprios de
deliberação – tendo autonomia também no agir
(VELASCO, 2010, p. 13).
Daniel Pansarelli
educação básica são, por definição, incapazes de compreender adequa-
damente os textos clássicos da Filosofia – ao contrário, temos nos de-
parado com experiências ricas de utilização dos textos dos próprios
filósofos na educação básica como um todo, incluso o Ensino Fun-
damental. Mas é preciso considerar que tais textos podem impor di-
ficuldades que eventualmente não existiriam caso os textos adotados
fossem menos complexos. Nessa segunda hipótese, porém, estaríamos
abdicando ainda mais da formação paidética, cultural em sentido am-
plo, apresentada anteriormente. Parece ser o caso, portanto, de dosar
adequadamente os tipos de conteúdo, sempre em função dos tipos de
objetivo que se pretende priorizar – sendo estes escolhidos, por seu
turno, em conformidade com o sentido de filosofar que o filósofo ado-
ta como orientador de sua própria prática docente.
Referências
Resumo
O homem é o único ser capaz de compreender e apreender os aspectos,
elementos, situações e acontecimentos pertinentes à sua existência.
Essas habilidades fazem do homem alguém que, existindo no mundo
e para o mundo, não pode jamais assumir uma postura de indiferença
e neutralidade. É movidos por esta busca da não indiferença que
pretendemos analisar a contribuição da abordagem hermenêutico-
fenomenológica de Otto Friedrich Bollnow para o pensar e o fazer
pedagógico do ensino de Filosofia. Nesse sentido, desejamos tratar sobre
a continuidade e descontinuidade da formação humana a partir de sua
abordagem diante dos fenômenos humanos e pedagógicos, buscando
mostrar como as formas e processos instáveis e descontínuos de educação
podem iluminar/ampliar o ensino de Filosofia e a formação do homem,
face a sua condição de sujeito inacabado. O trabalho procura problematizar
as concepções mecânico artesanal e orgânica da educação e seu eventual
impacto sobre os modos do homem conceber sua existência, formação e
relação no e com o mundo no âmbito da comunidade humana. Por fim,
o texto pretende identificar as implicações do pensamento pedagógico
de Bollnow para a vivência do ensino de Filosofia, no contexto de uma
cultura globalizada e democrática.
Palavras-chave: Teoria Educacional, Filosofia, Formação.
1
Coordenador Pedagógico da Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Caruaru – FAFICA,
onde é professor nos Cursos de Pós-Graduação e Licenciatura Plena em História e Pedagogia.
Mestre e Doutorando em Educação pela Universidade Federal de Pernambuco – UFPE.
E-mail: ezo.silva@hotmail.com
2
Doutor em Pedagogia - RWTHA Aachen University (1985). Professor Titular da Universidade
Federal de Pernambuco. E-mail: ferdinan@elogica.com.br
Introdução
4
“Vistas sob o prisma da História do Pensamento Ocidental a primeira nasceu, principalmente,
do Iluminismo; a segunda, do Romantismo” (BOLLNOW, 1971, p. 25).
5
De acordo com E. M. Arndt “Formar, uma palavra magnífica – fazer uma imagem. Seria
divino, se o conseguíssemos por meio de artifício, se pudéssemos progredir passo a passo, de
ano após ano, como faz o artista, ao trabalhar o bloco de mármore, até que a obra esteja ali na
sua frente no seu esplêndido acabamento” Mais ainda, “tal processo é, conforme Arndt, algo
irrealizável” (apud BOLLNOW, 1971, p. 25).
6
Conforme Nicola Abbagnano “Formação” – Bildung – “no sentido específico que esta
palavra assume em Filosofia e em Pedagogia, em relação com o termo alemão correspondente,
indica o processo de educação ou civilização, que se expressa nas duas significações de cultura,
entendida como educação e como sistema de valores simbólicos” (1998, p. 470).
7
“Vistas pelo prisma pedagógico, a formabilidade e a educabilidade não consistem
essencialmente na possibilidade de criar aptidões materiais, mas na disposição para aprender,
para escutar e para receber os valores [...] No sentido biológico, a formabilidade é a mutabilidade
dos caracteres inatos pelo influxo dos outros, do próprio indivíduo e do meio social” (HENZ,
1970, p. 162-163).
Considerações Finais
Referências
Teoria Educacional e Filosofia à luz da abordagem hermenêutico-fenomenológica de Otto Friedrich Bollnow
Resumo
O texto tem o objetivo de apresentar a categoria de subjetividade e seus
modos de expressão no pensamento de Levinas, como inspiração para o
ensino de Filosofia. Seu pensamento emerge nesta tendo como novidade
fundamental a alteridade, a qual marca toda sua obra. Sua crítica ao
pensamento ocidental reclama o fato de ele ter negado a significação do
outro. Levinas constatou que os esforços da razão ocidental em explicitar
as problemáticas questões do ser, os modos de conhecimentos possíveis
e as formas de agir constituíram-se na própria identidade da Filosofia. A
identificação entre pensamento e ser tornou o pensar incapaz de abrir-se
para a alteridade. Assim, o pensamento atuou como um movimento circular,
reduzindo o que era diferente à mesmidade. Ao primado da identidade do
mesmo, Levinas propõe uma transformação para o fazer filosófico, que
atinge tanto os conteúdos nucleares e os métodos da Filosofia, como a
sua perspectiva mais geral. No que concerne aos conteúdos, ele propõe
a “ética como filosofia primeira”. A dimensão ontológica centrada no ser
cede lugar ao humano como locus originário da busca da inteligibilidade e
do sentido. O humano perde o caráter de objeto de investigação teórica e
sujeito cognoscente e torna-se polo de uma relação intersubjetiva fundada
no diálogo aberto e no respeito incondicional à diferença do outro. A
subjetividade plasma-se como instância fundamentalmente ética e pode
expressar-se no desejo desinteressado pelo outro; na responsabilidade por
ele e tem como medida a desmedida do infinito; na escuta paciente de
quem reconhece no falante uma autoridade ensinante; na hospitalidade,
como aquele que se alegra pela visitação desarranjadora do visitante
inusitado; no encontro face a face com o rosto de outrem que traz uma
significação originária e originante de novos sentidos: dizer de aprendizes
e ensinantes.
Palavras-chave: Levinas, Subjetividade, Alteridade, Educação.
Abstract
The text aims to present the category of subjectivity and its modes
of expression in the thought of Levinas, as inspiration for teaching
philosophy. His thinking emerges on this as having novelty fundamental
1 Doutor em Filosofia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul, atualmente
Professor Adjunto III da Universidade Católica de Pernambuco, líder do Grupo de pesquisa
Ética e Linguagem na Filosofia Contemporânea, linha de pesquisa Éticas da alteridade.
Tem experiência na área de Antropologia, com ênfase em ética, atuando principalmente nos
seguintes temas: Levinas, ética, alteridade, relação e subjetividade. E-mail: jtadeuoli@hotmail.
com
complains that he denied the significance of the other. Levinas found that
the efforts of western reason in explaining the problematic issues of being,
the modes of possible knowledge and the ways to act constituted the
very identity of Philosophy. The identification between thought and being
became thinking incapable to open to otherness. So thought served as a
circular motion, reducing what was different to sameness. At the primacy
of identity of the same, Levinas proposes a transformation to make
philosophical, reaching both core content and methods of philosophy, as
his more general perspective. Regarding the contents, he proposes “ethics
as first philosophy.” The ontological dimension centered on the being
gives way to humans as locus originating in search of intelligibility and
sense. The human loses the character of object of theoretical research and
knowing subject and becomes the polo of a intersubjective relationship
based on open dialogue and the unconditional respect for the other’s
difference. The subjectivity plasma itself as ethical fundamentally instance
and can be expressed in the disinterested desire for another, in the
responsibility for he and has as a measure the disproportionate of infinity;
patient listening of who recognize in the speaker an authority teaching;
hospitality, as that who rejoices by visitation disarray of visitor unusual; in
meeting face to face with the face of others that brings originary meaning
and originator of new meanings: tell learners and teachers.
Keywords: Levinas, Subjectivity, Otherness, Education.
Introdução
dos notáveis princípios éticos. Talvez seja legítimo dizer que os aconte-
cimentos elaborados pela ciência e os nobres preceitos da moralidade
que defendem um humanismo só foram eficazes quando se tornaram
meios e ferramentas a serviço da cultura, que permite à política operar
como exímia fabricante de fazer vítimas, perfeitamente justificadas e
quantificadas racionalmente.
As considerações expostas acima podem ser assumidas como
razões suficientes para justificar o esforço de Levinas, em propor uma
nova orientação para o fazer teórico, a ação moral e as práticas educa-
cionais. A orientação se encaminha na perspectiva de superação e de
transformação das estruturas e formas de operações do pensamento
constituído desde os gregos na tradição ocidental.
Em primeiro lugar, Levinas propõe a transformação do pen-
samento que visa ao saber. Na pretensão de saber, o pensamento orga-
niza-se num modelo de relação bipolar. De um lado fica o sujeito que
deseja o conhecimento e de outro o objeto que pode ser conhecido.
Na dualidade sujeito-objeto, o sujeito tem um privilégio por ser o pólo
ativo, o que atua sobre o objeto. Na atuação do sujeito, toda a exterio-
ridade é reduzida à interioridade da consciência.
A relação de saber é uma forma de relação do mesmo com o
outro, em que o outro é reduzido ao mesmo, tolhido de sua condição
de outro, de alteridade. Nessa modalidade de relação, o que é compre-
endido como transcendência não passa de uma simples ilusão, uma
projeção do pensamento ou então uma realidade que sugira a experi-
ência e suas condições possíveis e, por isso, não pode ter legitimidade
para a especulação filosófica. Na relação sujeito-objeto, acontece ne-
cessariamente a objetivação do outro e sua redução ao mesmo identi-
ficador e nivelador de toda diferença. O outro é radicalmente diferente
em relação aos objetos do mundo, em relação a mim e aos outros e,
portanto, não pode ser objetificado, a não ser numa envergadura vio-
lenta. A forma de relação bipolar, sujeito-objeto, não considera o existir
humano e as relações inter-humanas com densidades impactantes em
termos práticos e éticos. A mediação entre os pólos acontece por um
estar presente, fazer frente ao outro ou, por assim dizer, a experiência
da relação que se concretiza no encontro com o outro. Esta, sim, é uma
objetividade real porque passa pela concretude temporal do acontecer.
Não é uma objetividade formal, instituída por um pensamento que cria
objetos de conteúdos lógicos e realidades que apenas existem como
formas abstratas.
O sentido ético que advém dessa nova forma de pensamento
tem a excelência de ser um sentido que brota de uma concretude expe-
riencial que se efetiva temporalmente. É uma objetividade mais objetiva
do que a objetividade pleiteada por Husserl, pois se trata de uma obje-
tividade que não é objetividade de um objeto, mas de outrem que não
se objetiva, que se oferece numa relação ilimitada.
Em terceiro lugar, ele propõe a transformação dos conceitos
da Filosofia. Aqui se coloca em evidência o método do fazer filosófico.
O tradicional método transcendental processa-se com o fim de alcan-
çar um fundamento ou encontrar uma justificativa para uma tese ou
ideia postulada, pretende-se encontrar uma condição que a torne possí-
vel, mediante um enlaçamento lógico coerente até se chegar a uma evi-
dência consequente. Nessa ação do pensamento, que vem da intuição
moderna cartesiana, privilegia-se o ordenamento do ser, a apropriação
do objeto, a compreensão como saber e a correlação de sujeito cognos-
cente e objeto cognoscível.
Nesse privilégio desaparece o espaço da alteridade. A sua des-
coberta da fenomenologia lhe permite uma nova possibilidade de de-
senvolver os conceitos, “passar de uma idéia a outra”. Isso lhe permite
enxergar fenômenos que ficam recolhidos na intimidade da consciên-
cia, e que expõem “o sentido da objetividade ou do ser”. Daí se expli-
cita a sua atenção a dimensões tão simples do existir como “o cansaço,
a vigília, o tédio e o peso do existir”. Na base dessas realidades, que
não são percebidas pelo método transcendental, ele percebe as dimen-
sões do humano que podem ser explicitadas na linguagem. O que fica
escondido em segredo é a relação entre pessoas que constituem para
ele “a textura da inteligibilidade última e a instauração do sentido do
Considerações finais
Referências
Resumo
Enrique Dussel propõe uma ética material da vida, cujo objetivo é resgatar
a vida negada às vítimas dos sistemas de opressão. Dussel desenvolve uma
Filosofia da Libertação desde a América Latina - filosofia esta que enfrenta
os enormes desafios do continente (exclusão, injustiça, analfabetismo).
Nesse âmbito, a ética da libertação constrói uma responsabilidade
ético-politica para além do modelo hegemônico da totalidade vigente.
A responsabilidade é resposta dada ao outro enquanto vítima, na sua
concretude histórica. A análise dos princípios originários da ética em
Dussel permite-nos compreender o desafio que se coloca para a efetivação
de uma práxis a serviço da reconstrução da subjetividade e de um projeto
ético-político para a humanidade. Na atual crise ética, torna-se imperativo
pensar o outro para além do Eu e pensar a responsabilidade pelo Outro
como um dos pilares de uma nova educação. Trata-se de compreender
o processo de dominação e o processo de libertação, assumindo a
responsabilidade pelo outro na construção da justiça. Nesse sentido, não
basta a denúncia de uma situação injusta; deve-se, antes de tudo, encontrar
formas de superação da realidade excludente.
Palavras-chave: Dussel, Ética, Responsabilidade, Educação.
Abstract
Enrique Dussel proposes a material ethics of life which aims at giving back
the life which was neglected to victims of the oppressive systems. Dussel
develops a philosophy of liberation in LATIN AMERICA which faces the
enormous challenges of the continent (exclusion, injustice, illiteracy). In
this sense the ethics of liberation builds an ethical-political responsibility
which goes beyond the hegemonic model of totality which prevails
nowadays. Responsibility is the answer given to the other as a victim, in
its historical concreteness. The analysis of the principles originated from
the ethic of Dussel allow us to understand the challenge which is put
to us in order to obtain the effectiveness of a praxis which serves the
reconstruction of the subjectivity and that of an ethical-political project
for humanity. In the present ethical crisis, it is imperative to think the
other beyond the self, and to think the responsibility for the other as one
1
Doutor em Filosofia pela UFPB, professor da UFAL. Atualmente é Professor do Curso de
Especialização em Filosofia da UFAL (Campus Arapiraca). E-mail: medeirosvicente@ig.com.br
tem acesso aos bens materiais e aos bens simbólicos. A ação das classes
mas que até hoje marcam o ethos da América Latina. Eduardo Galeano
afirma que a própria invasão, a expulsão e a imposição de outra cultura
têm gerado um sentimento de não pertencimento à América Latina,
a tal ponto que os nativos se sentem como se estivessem no exílio na
própria terra (1978, p. 73).
É nesse contexto que Dussel enfatiza a necessidade de elabo-
rar uma ética material da vida. Se a vida em sua materialidade, em sua
corporalidade é negada (fome, miséria, violência, etc), urge questionar
radicalmente o sistema vigente objetivando destruí-lo, pois ele é a causa
da morte de milhões de seres humanos.
Sacrificados em nome de uma civilização e de uma cultura que
se autodenomina superior, os condenados da terra clamam por liberta-
ção e justiça. Daí, a necessidade de uma fundamentação racional para
demonstrar o processo de produção de dominação desde os aspectos
históricos, econômicos, filosóficos e culturais.
Sob a perspectiva ética, afirma-se a hipótese da ética como
filosofia primeira. Se o que perpassa o momento civilizatório atual é a
crise ética, a crise do humano na sua raiz, com o aumento crescente da
irresponsabilidade frente ao outro, frente à natureza, etc, urge repensar
toda ação e toda prática humana para buscar novas respostas para o
humano. É preciso repensar todos os fundamentos.
Tradicionalmente, a ética sempre esteve ligada à vertente reli-
giosa ou sobre a perspectiva objetivadora dos gêneros que colocavam
o homem como ser capaz de modalização. Com a crise da vertente
religiosa, buscou-se o fundamento para a ética na filosofia política. A
racionalidade moderna pleiteou uma fundamentação antropológica
acatando como referências ora a convivência, ora o Estado, ora o Con-
trato Social, mas sempre polarizadas pelo Eu transcendental (PIVAT-
TO, 2001, p. 217).
Com a crise da ética racionalista moderna e também as limi-
tações da ética pós-moderna, onde ocorre a liberação absoluta, urge
repensar a ética como responsabilidade. Hoje, quando o homem se
tornou um ser altamente nocivo, incapaz de avaliar o conjunto de suas
Educação e libertação
Nesse contexto, a pedagogia dominante reproduz o mesmo
em vista da manutenção do status quo, negando à grande maioria da hu-
Perspectiva Filosófica, Recife, v. II, n. 38, ago./dez. 2012
101
Considerações finais
Referências
Resumo
Naming and Necessity é possivelmente a obra mais importante do filósofo
estadunidense Saul Kripke. Nessa obra, ele apresenta uma série de
argumentos contra a visão até então dominante sobre a semântica dos
nomes próprios, visão esta que ele chamou de ‘descritivismo’. O conjunto
desses argumentos mostra, na opinião de Kripke, que o descritivismo
é falso, seja enquanto teoria do significado, seja enquanto teoria da
referência. Em vista dessa falência do descritivismo, ele propõe então
uma nova explicação para a função referencial dos nomes próprios, uma
explicação baseada na noção de cadeia de comunicação. Este artigo examina e
detalha os argumentos antidescritivistas propostos em Naming and Necessity
e põe em relevo os pontos principais da explicação alternativa oferecida
por Kripke.
Palavras-chave: Crítica kripkiana, descritivismo, nomes próprios,
designação rígida.
Abstract
Naming and Necessity is possibly the most important work of American
philosopher Saul Kripke. In this work, he presents a series of arguments
against the hitherto dominant view about the semantics of proper names,
the vision which he called ‘descriptivism’. The set of these arguments
shows, according to Kripke, that descriptivism is false, either as a theory
of meaning or as a theory of reference. In virtue of this failure of
descriptivism, he proposes a new explanation for the referential function of
proper names, an explanation based on the notion of chain of communication.
This paper examines and details the proposed antidescriptivist arguments
in Naming and Necessity, and highlights the main points of the alternative
explanation provided by Kripke.
Keywords: Kripkian criticism, descriptivism, proper names, rigid
designation.
1
Universidade Federal do Ceará (Campus Cariri) - E-mail: cicero@lia.ufc.br
Introdução
A crítica de Kripke às teorias descritivistas de nomeação
co, são entidades abstratas e que o estado atual se distingue dos demais
A crítica de Kripke às teorias descritivistas de nomeação
que toma parte nessa situação imaginária é o indivíduo real. Se não fos-
2 As críticas de Kripke
A crítica de Kripke às teorias descritivistas de nomeação
descrições. Essa teoria de Searle será vista com mais detalhes adiante,
porém, no momento, é bastante adiantar que seu descritivismo será um
dos alvos preferenciais dos ataques de Kripke.
Pelo que se vê, as teorias descritivistas mencionadas concor-
dam em afirmar que nomes próprios têm significado (ainda que o termo
‘significado’ não seja um termo comum a todas) e que esse significado
é derivado de descrições definidas, sejam elas tomadas isoladamente
ou em grupo. Destarte, elas funcionam como teorias do significado,
mas também lhes é comum a ideia de que o significado de um nome N
pode ser utilizado na identificação da referência de N. Isso é possível
porque a descrição sinônima de N (ou a composição de descrições que
dá o significado de N) estabelece certas condições para a determinação
da referência de N. Por exemplo, se ‘Platão’ significa o mesmo que ‘o
discípulo mais famoso de Sócrates’, então a referência de ‘Platão’ é
o homem que tem a propriedade de ser o discípulo mais famoso de
Sócrates. O próprio Kripke, no início de Naming and Necessity admite
que essa parece às vezes ser uma explicação mais natural de como a
referência de um nome próprio é determinada. Diz ele:
Por exemplo, se eu uso o nome ‘Napoleão’, e al-
guém pergunta, ‘A quem você está se referindo?’,
eu responderei algo como ‘Napoleão foi impera-
dor da França na primeira metade do século deze-
nove; ele foi finalmente derrotado em Waterloo’,
dando assim uma descrição univocamente identifi-
cadora para determinar o referente do nome. Fre-
ge e Russell, então, parecem dar uma explicação
natural de como a referência é determinada aqui
[...] (KRIPKE, 1980, p. 28).
3 Kripke assinala que (C) não é uma tese da teoria, mas uma condição de satisfação das outras
teses (cf. KRIPKE, 1980: 71).
Referências
Resumo
Ao observar a natureza e o homem, o Nietzsche da maturidade, conferiu-
lhes um mesmo caráter, o qual denominou vontade de poder. No decorrer
das suas investigações, tal caráter foi ampliado de explicação do universo
orgânico, para explicação daquilo que há de mais elementar na própria
existência e que, na sua elementaridade, viria a conformar todos os
entes. Dentre as características que conformam o caráter da vontade de
poder, destacamos duas: a luta por mais poder e a conformação através
de hierarquias. O presente artigo visa a investigar as nuances referentes
à vontade de poder no seu grau mais elementar e as suas possíveis
combinações estruturais – combinações essas que são os próprios
entes. Nesse plano do mais elementar, defendemos que a diferenciação
qualitativa entre os entes se refere sobretudo ao grau de complexidade e
de coesão das estruturas hierárquicas que os compõem.
Palavras-chaves: Vontade de poder. Hierarquia. Complexidade. Coesão.
Abstract
By observing nature and man, the mature Nietzsche, gave them the
same character which he called the, will to power. In the course of
his investigations, this character was expanded from an explanation
of the organic universe, to an explanation of what is most basic in
existence. Among the characteristics that make up the character of the will
to power, we highlight two: the fight for more power and the formation of
hierarchies. This article aims to analyze the nuances regarding the will to
power at its most elemental level and their possible structural combinations
- combinations that are the beings. At the most elemental level, we argue
that the qualitative differentiation between beings mainly refers to the
degree of complexity and cohesion of the hierarchical structures which
compose themselves.
Keywords: Will to power. Hierarchy. Complexity. Cohesion.
1
Doutoranda pela Universidade Federal da Bahia. Salvador, Bahia, Brasil. E-mail: marianalins_@
hotmail.com
é porque ele foi desvencilhado com vistas a esse fim. No longo tempo
tários – que, por sua vez, em nada contribuem para a melhoria da espé-
cie: “Primeira proposição: o homem, como espécie, não está em progresso.
Tipos mais elevados certamente são atingidos, mas eles não se mantêm.
O nível da espécie não se eleva” (KSA 13, 14[133], p. 316). Ora, sendo,
para Nietzsche, o normal da natureza, a má formação – “Existe entre
os homens, como em toda espécie animal, um excedente de malogra-
dos, enfermos, degenerados, fracos e votados ao sofrimento, também
entre os homens os casos bem-sucedidos constituem exceção” (JGB
62; KSA 5, p. 81) –, temos que esses casos isolados – que podem se
configurar tanto como indivíduos singulares (por exemplo, Napoleão),
quanto como um determinado povo ou civilização (por exemplo, os
gregos e romanos) – configuram-se como raras exceções. Nesse sen-
tido, a noção de vontade de poder expressa não só o caráter da exis-
tência, mas também um ideal de perfeição, pois esses homens ou povos
que se constituem como exceções, os por Nietzsche denominados de
“acaso feliz” (Glücksfall), seriam uma espécie de expressão máxima (ou
mais própria) da vontade de poder.
Toda a formação referente ao homem não obedece a leis pre-
viamente postas e nem se dá de maneira racional, antes é fruto de um
acréscimo de poder que ora cresce para essa, ora para aquela direção.
Na compreensão nietzschiana, o homem não é o objetivo oculto da
evolução animal e tampouco a coroa da criação. Longe de ser a finali-
dade última da realidade, o homem está mais próximo a algo como um
arranjo, um “amontoado” de forças que conseguiu organizar-se, que
conseguiu permanecer. A custa de quê é o que a crítica de Nietzsche ao
ideal ascético pretende desvendar.
Se, no primeiro momento do artigo, restringimo-nos ao as-
pecto mais apolíneo da argumentação nietzschiana – ao aspecto em
que as questões relativas à formação e plasmação possuem uma maior
força – , ao discutir mais pormenorizadamente a relação de certa opo-
sição entre o crescimento e a conservação dos entes, expusemos o lado
mais trágico, mais absurdo dessas formações – o lado mais dionisíaco.
Apesar das perspectivas referentes a esses dois “lados” não se harmo-
em que esses dois elementos são indícios de uma maior força, eles se
Referências
1
MILL, John Stuart. A system of logic: raciocinative and inductive. University Press of the
Pacific: Honolulu, Havaí, 2002, reimpressão do original de 1891, Livro I, Capitulo II, Seção 5,
p. 19-25.
2
Professor do Departamento de filosofia da UFPE. E-mail: rodrigo_jungmann@yahoo.com.
br
seria alterado. Tal fato, portanto, não pode fazer parte da significação
da palavra, pois, caso contrário, quando o fato reconhecidamente dei-
xasse de ser verdadeiro, ninguém nunca mais pensaria em empregar o
nome. Os nomes próprios são afixados aos próprios objetos, e não são
dependentes da permanência de qualquer atributo do objeto.
Mas há um outro tipo de nomes, que, embora sejam nomes
individuais, ou seja, predicáveis de apenas um objeto, são realmente
conotativos. Afinal, embora possamos dar a um indivíduo um nome in-
teiramente sem significação, o qual chamamos de nome próprio - uma
palavra que atende ao propósito de mostrar de que coisa estamos falan-
do, mas sem dizer nada a seu respeito - ainda assim, um nome peculiar
a um indivíduo não necessariamente se enquadra nessa descrição. Pode
significar um atributo, ou alguma união de atributos, que não sendo
possuídos por qualquer objeto exceto um único, fixa o nome exclusiva-
mente para tal indivíduo. “O sol” é um nome que cabe nessa descrição;
“Deus”, quando empregado por um monoteísta, é outro. Esses, contu-
do, mal contam como exemplos daquilo que estamos tentando ilustrar,
sendo, quando tratados em linguagem rigorosa, nomes genéricos e não
individuais, porque, conquanto possam ser de fato predicáveis de um
único objeto, nada há no significado das próprias palavras que implique
isso, e, como decorrência, quando imaginamos em vez de afirmarmos,
podemos falar de muitos sóis, e a maior parte da humanidade acredi-
tou a ainda acredita que haja muitos deuses. Mas é fácil produzir pala-
vras que representam exemplos reais de nomes conotativos individuais.
Pode ser parte do significado do próprio nome conotativo que só possa
existir um indivíduo possuidor do atributo que o nome conota como,
por exemplo, “o único filho de John Stiles; “o primeiro imperador de
Roma”. Ou o atributo conotado pode ser uma conexão com um evento
determinado, e a conexão pode ser de uma tal natureza que um único
indivíduo poderia tê-la, ou pode ser ao menos tal que um único indi-
víduo de fato a teve, e isto pode ser implicado na forma da expressão.
“O pai de Sócrates” exemplifica o primeiro tipo (visto que Sócrates não
poderia ter tido dois pais); “o autor da Ilíada”, “o assassino de Henri
sobre uma casa uma marca com giz para que possamos reconhecê-la
novamente, a marca tem um propósito, mas não propriamente qualquer
significado. O giz não declara coisa alguma sobre a casa; não significa
“Esta é a casa de tal pessoa”, ou “Esta é a casa que contém o butim”. O
propósito da marca é meramente o de distinguir. Digo a mim mesmo:
“Todas essas casas são tão semelhantes que, se eu as perder de vista,
não serei capaz de distinguir novamente aquela para a qual estou olhan-
do agora de qualquer uma das outras”; devo, portanto, dar um jeito de
fazer com que a aparência dessa casa em particular seja distinta da apa-
rência de qualquer uma das outras, para que doravante eu saiba ao ver a
marca – em verdade nenhum dos atributos da casa – mas simplesmente
que é a mesma casa para a qual agora estou olhando. Morgiana marcou
com giz todas as outras casas de maneira semelhante, e frustrou o ardil,
como? Simplesmente obliterando a diferença de aparência que havia
entre aquela casa e as outras. O giz ainda estava lá, mas não mais serviu
ao propósito de uma marca distintiva.
Quando colocamos um nome próprio, realizamos uma opera-
ção em algum grau análoga àquela que o ladrão pretendeu ao marcar a
casa com giz. Pomos uma marca, que não é na verdade sobre o objeto
em si, mas, por assim dizer, sobre a ideia do objeto. Um nome próprio
nada mais é que uma marca sem significado que associamos em nossas
mentes com a ideia do objeto, de tal forma que, sempre que a marca
apareça aos nossos olhos ou ocorra em nossos pensamentos, possamos
pensar naquele objeto individual. Não sendo associado à coisa em si
mesma, o nome, assim como o giz, não nos torna capazes de distin-
guir o objeto quando o vemos, mas nos torna capazes de distingui-lo
quando dele se fala, seja nos registros de nossa própria experiência,
seja no discurso dos outros; torna-nos capazes de saber que aquilo que
encontramos asseverado em qualquer proposição da qual é o sujeito é
asseverado daquela coisa em particular, com a qual nos havíamos fami-
liarizado previamente.
Quando predicamos de qualquer coisa seu nome próprio,
quando dizemos, apontando para um homem, que este é Brown ou
Smith, ou apontando para uma cidade, que essa é York, o mero fato de
idoso, homem honesto, homem bravo. Todos esses termos são, ou po-
A distinção entre nomes próprios conotativos e não conotativos
E-mail: perspectivafilosofica@gmail.com
Revistas Permutadas
1. Aisthe: Revista de Estética
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Rio de Janeiro, RJ, Brasil
2. Análise & Síntese
Faculdade São Bento da Bahia
Salvador, BA, Brasil
3. Analytica: Revista de Filosofia
Universidade Federal do Rio de Janeiro
Rio de Janeiro, RJ, Brasil
4. Ágora Filosófica
Universidade Católica de Pernambuco
Recife, PE, Brasil
5. ARCHAI: Revista de Estudos sobre as Origens do Pensa-
mento Ocidental
Universidade de Brasília
Brasília, DF, Brasil
6. Argumentos: Revista de Filosofia
Universidade Federal do Ceará
Fortaleza, CE, Brasil
7. ARTEFILOSOFIA
Universidade Federal de Ouro Preto
Ouro Preto, MG, Brasil
8. Cadernos de Ética e Filosofia Política
Universidade de São Paulo
São Paulo, SP, Brasil
9. Cadernos de História e Filosofia da Ciência
Universidade Estadual de Campinas
Campinas, SP, Brasil
10. Cadernos Espinosanos: Estudos sobre o século XVII
Universidade de São Paulo
São Paulo, SP, Brasil
Perspectiva Filosófica, Recife, v. II, n. 38, ago./dez. 2012
164
22. Kriterion
Universidade Federal de Minas Gerais
Belo Horizonte, MG, Brasil
23. Manuscrito
Universidade Estadual de Campinas
Campinas, SP, Brasil
24. Natureza Humana
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
São Paulo, SP, Brasil
25. O que nos faz pensar
Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro
Rio de Janeiro, RJ, Brasil
26. Philosophica
Universidade Federal de Sergipe
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27. Princípios
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Natal, RN, Brasil
28. Aurora: Revista de Filosofia
Pontifícia Universidade Católica do Paraná
Curitiba, PR, Brasil
29. Ethica
Universidade Gama Filho
Rio de Janeiro, RJ, Brasil
30. Scientiae Studia
Universidade de São Paulo
São Paulo, SP, Brasil
31. Scintilla
Instituto de Filosofia São Boaventura
Curitiba, PR, Brasil
32. Síntese
Faculdade Jesuíta de Filosofia e Teologia
Belo Horizonte, MG, Brasil
33. Stromata
Facultades de Filosofia y Teologia de San Miguel
San Miguel, Argentina
34. Theophilos
Universidade Luterana do Brasil
Canoas, RS, Brasil
35. Tempo da Ciência
Universidade Estadual do Oeste do Paraná
Toledo, PR, Brasil
36. Trans/Form/Ação
Universidade Estadual Paulista
Marília, SP, Brasil
37. Veritas
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Porto Alegre, RS, Brasil
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TIPOLOGIA Castle
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