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UNIVERSIDADE ESTADUAL DO PARANÁ

EDILSON SILVÉRIO JÚNIOR

OFICINA DE VIOLINO: AULAS DE MÚSICA EM PROJETOS DA


EDUCAÇÃO INFANTIL NO MUNICÍPIO DE PINHAIS PR

CURITIBA
2015
EDILSON SILVÉRIO JÚNIOR

OFICINA DE VIOLINO: AULAS DE MÚSICA EM PROJETOS DA


EDUCAÇÃO INFANTIL NO MUNICÍPIO DE PINHAIS PR

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado


ao Curso de Licenciatura em Música da
UNESPAR, campus Curitiba I – Escola de
Música e Belas Artes do Paraná, como
requisito à obtenção do grau de Licenciado em
Música.

Orientador: Prof. Carlos Alberto Assis

CURITIBA
2015
AGRADECIMENTOS

A Deus, pois sem ele não teria forças para essa longa jornada.
A Graziele, minha esposa pela compreensão e paciência, com alegria e amor.
Aos meus pais Edilson Silverio e Vanilda Silverio pela criação educação e amor que
me deram.
A minha avó Cleuza Aparecida Nogueira pelo amor e carinho recebidos.
Às minhas referências como pessoas, Ari Langrafe Junior e Valdevino Cordeiro
Magalhães.
À Escola de música e Belas Artes do Paraná, que me proporcionou ampliar meus
conhecimentos e horizontes.
À Secretária Municipal de Educação da Prefeitura de Pinhais, Srª Andrea
Franceschini, pela disponibilidade em me conceder entrevista e pelas valiosas
informações concedidas a respeito do projeto desenvolvido pela Prefeitura de Pinhais.
A todos os professores que me ajudaram na minha caminhada da construção do
conhecimento
Ao meu professor de violino Walter Hoener pela paciência e dedicação em me ensinar.
Ao meu professor orientador Carlos Assis pela paciência, dedicação e
comprometimento em me orientar.
A todos os meus colegas que fizeram parte e contribuíram em minha vida, na qual
levarei para sempre com muito carinho.
RESUMO

Este trabalho é um relato de minha experiência pessoal de trabalho com a Oficina de


Violino, parte integrante do projeto desenvolvido pela Prefeitura Municipal de
Pinhais/PR, Aulas de Música em Projetos da Educação Infantil. As atividades
realizadas seguiram um modelo de aulas intercaladas entre o canto e o violino
fundamentados nas abordagens de Suzuki (1983) e Swanwick (2003), com objetivo
de construção do conhecimento musical através de Apreciação e Audição, Imitação,
Repetição, Performance e Composição. As aulas, com duração de uma hora, eram
ministradas semanalmente no período diurno aos alunos da educação infantil. Nesse
panorama as aulas seguiam com os objetivos de alcançar a produção artística e o
desenvolvimento musical dos alunos. Foi possível perceber que a modalidade de
trabalho musical proposta, possibilitou aos alunos o desenvolvimento de suas
habilidades musicais, colaborando para seu desenvolvimento artístico, social, pessoal
e escolar.

Palavras chave: Musicalização infantil; Oficina de Violino; construção do


conhecimento.
ABSTRACT

This work is a report of my personal experience working with the Violin Workshop, part
of the project developed by the city of Pinhais / PR, Music Lessons in Child Education
Project. The activities followed a model of lessons intercalated between singing and
violin based on Suzuki (1983) and Swanwick (2003) approaches, with the purpose of
construction of musical knowledge through assessment and Hearing, Imitation,
Repetition, Performance and Composition. The classes, lasting an hour, were held
weekly to students of early childhood education. In this scenario, classes aimed to
achieve the artistic production and the musical development of students. It could be
observed that the proposed musical work mode, enabled students to develop their
musical skills, contributing to their artistic, social, personal and educational
development.

Keywords: Musicalization for children; violin workshop; construction of knowledge.


SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO.................................................................................................. 1
2 CARACTERIZAÇÃO DO PROJETO .............................................................. 3
2.1 APRESENTAÇÃO ........................................................................................ 3
2.2 JUSTIFICATIVA ............................................................................................ 4
2.3 OBJETIVO GERAL ....................................................................................... 5
2.4 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ......................................................................... 5
2.5 AÇÕES DESENVOLVIDAS .......................................................................... 6
3 A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO MUSICAL NO AMBIENTE ESCOLAR .. 8
3.1 CONSTRUINDO O CONHECIMENTO MUSICAL ATRAVÉS DO
INSTRUMENTO E DO CANTO ................................................................... 11
3.2 AS AULAS COLETIVAS ............................................................................... 15
3.3 CONSTRUINDO UM REPERTÓRIO ............................................................ 17
4 CONSIDERAÇÕES FINAIS ............................................................................ 19
REFERÊNCIAS .................................................................................................. 22
ANEXOS ............................................................................................................. 24
1

1 INTRODUÇÃO

Aulas de Música em Projetos da Educação Infantil é um projeto extracurricular


de todas as escolas do município de Pinhais-PR que tem como foco a produção
artística através da oficina de violino, o que permite a inserção da música no ambiente
escolar e a realização de um trabalho de educação musical e educação infantil.
Meu envolvimento com o projeto aconteceu através de cursos de capacitação
musical que realizei no período de formação acadêmica, que me possibilitaram maior
conhecimento profissional, habilitando-me para desempenhar certas disciplinas e
possibilitando uma maior capacitação nas áreas musicais, tornando-me mais versátil
e preparado para atuação como educador musical. Dessa forma tomei contato com
pessoas da área da música e da educação musical nesses cursos que me indicaram
para a execução deste projeto.
A oportunidade de lecionar nesse projeto se direcionava a uma pessoa que
tocasse violino e fosse um educador musical formado ou em formação, e que tivesse
experiência com crianças da faixa etária de 6 a 7 anos de idade. Esses foram os
únicos pré-requisitos exigidos para a atuação como professor no projeto oficina de
violino.
O objetivo deste trabalho é relatar minha experiência pessoal de trabalho com
a Oficina de Violino, parte integrante do projeto desenvolvido pela Prefeitura Municipal
de Pinhais/PR, Aulas de Música em Projetos da Educação Infantil, cujos objetivos
consistiam em desenvolver aspectos musicais relacionados a atividades de
percepção, execução vocal e instrumental relacionadas à oficina de violino e ligadas
à produção artística.
As atividades realizadas durante as oficinas seguiram um modelo de aulas
intercaladas entre o canto e o violino fundamentados nas abordagens de Suzuki
(1983) e Swanwick (2003), com objetivo de construção do conhecimento musical
através de Apreciação e Audição, Imitação, Repetição, Performance e Composição.
As aulas, com duração de uma hora, eram ministradas semanalmente no período
diurno aos alunos da educação infantil. Nesse panorama as aulas seguiam com os
objetivos de alcançar a produção artística e o desenvolvimento musical dos alunos.
Foi possível perceber que a modalidade de trabalho musical proposta, possibilitou aos
2

alunos o desenvolvimento de suas habilidades musicais, colaborando para seu


desenvolvimento artístico, social, pessoal e escolar.
No contexto da Educação Musical, a oficina de violino surgiu como resposta à
questão de como trabalhar a musicalização de crianças em fase de alfabetização, que
poderia ser uma ferramenta mais produtiva do que a mera produção artística,
contribuindo para a musicalização e para a formação musical do aluno possibilitando
o desenvolvimento de suas potencialidades e auxiliando-o na sua formação escolar.
Em decorrência disso, entre os objetivos específicos deste trabalho, esperava-
se proporcionar aos alunos atividades que explorem suas possibilidades criativas
visando à sensibilidade, expressão, compreensão e orientação na utilização de
diferentes sonoridades através da exploração sonora do violino; aproximar os alunos
de diferentes gêneros musicais e promover a socialização através do ensino coletivo
de instrumento focada no estudo do violino.
O que se considera mais importante no projeto é o processo de educação
musical e não somente resultados de produção artística, o que deve contribuir para o
desenvolvimento, compreensão e satisfação no fazer musical tornando o aluno um
importante agente na execução e realização da música.
Sendo assim, torna-se importante descrever este processo de educação
musical que leva o aluno à compreensão da música que está sendo feita. O
desenvolvimento das aulas se deu através de aulas coletivas utilizando o instrumento
como principal ferramenta para o fazer musical e para a musicalização dos
participantes, valendo-se também de brincadeiras, pinturas, danças, histórias e
atividades lúdicas para a compreensão do conteúdo musical colocado em pauta.
O presente trabalho estrutura-se com a caracterização do projeto, a importância
da educação musical no ambiente escolar, a construção do conhecimento musical a
partir do canto e do violino como ferramenta para conhecer e compreender conteúdos
musicais, o processo de realização das aulas e a construção de um repertório
adequado para as atividades de fazer musical propostas nas aulas de música.
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2 CARACTERIZAÇÃO DO PROJETO1

2.1 APRESENTAÇÃO.

A música é um fenômeno universal, que está presente na história de todos os


povos e civilizações, em todo o globo, desde a pré-história. E, desde os primórdios, a
música faz parte do dia-a-dia das comunidades, se manifestando de diferentes
maneiras, em ritos, festas e celebrações as mais diversas.
Na verdade, é praticamente impossível encontrar uma pessoa que não goste
de ouvir, cantar e dançar. Desde a mais tenra idade vivenciamos muitas experiências
ouvindo e cantando em casa e em tantos outros lugares, com os mais diversos fins.
Assim, é patente em todas as esferas de nossa sociedade que a música tem um papel
primordial como forma de lazer e na socialização das pessoas, pois ela cria e reforça
laços sociais e vínculos afetivos. Além disso, a música exerce um relevante papel na
formação cultural das pessoas, por meio do compartilhamento de experiências,
informações e conceitos, servindo para o aprimoramento do aprendizado.
Baseando-se nesse enorme conhecimento do papel que a música possui em
nossa sociedade, diversas escolas têm incluído essa prática no cotidiano dos
trabalhos escolares com o objetivo de melhorar o aprendizado, aproximando-a mais
ainda da vida dos alunos.
Sabendo que na rede de ensino a música, em suas diferentes formas de
expressão, faz parte do cotidiano de nossos alunos e é vista como uma atividade
prazerosa, senti-me motivado a elaborar uma proposta de trabalho diferenciado
através do projeto Oficina de Violino, desenvolvido pela Prefeitura Municipal de
Pinhais, por meio da Secretaria Municipal de Educação.
Esse projeto vem reforçar outros trabalhos e ações já em andamento no
município, e tem demonstrado que a prática musical contribui para a criação de
relacionamento sócio-cultural dos estudantes e bom relacionamento entre
comunidade e escola. Acredita-se que com a inserção da música no dia-a-dia da

1
As informações do projeto foram gentilmente concedidas em entrevista com a Secretária Municipal de
Educação da Prefeitura de Pinhais, Srª Andrea Franceschini.
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escola e no cotidiano da comunidade possa contribuir para a formação integral dos


discentes.
O presente projeto é de iniciativa da Secretaria de Educação do Município de
Pinhais-PR, órgão público que se baseia em processo licitatório para a contratação
de empresas para a execução do projeto. Todo este processo é intermediado pela
Secretaria Municipal de Administração, que torna público a realização do
procedimento licitatório para a contratação de empresas para execução do curso
através da modalidade pregão presencial, sistema de registro de preços do tipo menor
preço.
Após o processo licitatório a empresa contratada passa a ficar responsável pela
execução do projeto fornecendo todos os subsídios necessários para a execução do
projeto e cumprindo com os deveres e obrigações conforme o anexo (Edital Pregão
p.16).
Entre outras obrigações, a empresa contratada fica responsável pela
contratação do profissional qualificado para execução do projeto, fornecendo ao
profissional todo o suporte técnico e pedagógico conforme Edital Pregão (p.18),
respaldando e se responsabilizando pelo mesmo. Sendo assim o profissional
responsável por lecionar o projeto oficina de violino, não mantém nenhum vínculo
empregatício com a escola demandada e a Secretaria de Educação do Município de
Pinhais-PR.

2.2 JUSTIFICATIVA

O projeto oficina de violino surgiu da necessidade de oferecer às crianças e


jovens uma atividade que vá além do currículo e do âmbito da escola, pois é certo que
a música, a dança e as demais formas de arte fazem parte do cotidiano dos alunos,
independente de sua classe socioeconômica.
Não se pode pensar na educação com a simples visão reducionista de ensinar
a ler, escrever e tão somente como vislumbre da formação profissional. Mais que isso,
a escola precisa se comprometer com a cidadania, formando seres humanos plenos
e pensantes, que certamente terão maiores oportunidades na vida dos tempos
modernos.
Nessa visão de educação que busca a formação plena do aluno há uma gama
de possibilidades de ações e trabalhos que podem ser realizados com foco na criação
5

de oportunidades. Isso deve ser feito sempre por meio do incentivo à criatividade e
conhecimento de boas experiências realizadas em outras localidades que certamente
podem ser adaptadas ao contexto local de cada município.
É de amplo conhecimento que a vivência musical da escola possibilita o
trabalho das emoções, o desenvolvimento da sensibilidade, a percepção auditiva, a
sociabilidade, entre outras habilidades. Por meio da educação musical há a
possibilidade de se proporcionar aos educandos a vivência com outros contextos
sócio-culturais. Destaca-se ainda a oportunidade de ampliação da bagagem cultural
com o aprendizado de música em outras línguas.
Esse projeto também se propõe a desenvolver a autoestima, a valorizar os
talentos apresentados para música e contribuir fortemente para melhoria da disciplina
das crianças e adolescentes. Pelos resultados de outros trabalhos em diferentes
cidades e estados, sabe-se que a prática da música torna o aluno mais disciplinado,
concentrado, motivado e responsável em sala de aula e também fora da escola.
Com tudo isso, por intermédio do projeto oficina de violino espera-se
que o amor e apreço pela música em especial ao violino irradiem de
nossas escolas para dentro das casas de cada aluno e para o
cotidiano de nossa comunidade de modo geral, visando entre outras
coisas à diminuição do tempo ocioso, e contribuindo para não inserção
do aluno na marginalização, na violência ou em qualquer outra
ocupação negativa para sua formação (Srª Andrea Franceschini,
Secretária Municipal de Educação – Prefeitura de Pinhais).

2.3 OBJETIVO GERAL DO PROJETO

Promover a escola pública como espaço de educação integral da comunidade


onde faz parte, em prol do desenvolvimento da sensibilidade e criatividade humana
por meio do contato com a linguagem artístico-musical, visando à formação do
cidadão, capaz de contribuir ativamente com as mudanças socioculturais necessárias
para a construção de uma sociedade mais ética e digna. (FUNDAÇÃO CARLOS
GOMES, 2009)

2.4 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Desenvolver a percepção auditiva e a memória musical.


Possibilitar que os alunos aprendam a utilizar e cuidar da voz como meio de
expressão e comunicação musical.
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Estimular a pesquisa, exploração, composição e interpretação de sons através


do uso do violino.
Conhecer, apreciar e adotar atitudes de respeito diante da variedade de
manifestações musicais do Brasil e do mundo.
Criar oportunidade de cultura e lazer para os alunos, diminuindo seu tempo
ocioso.
Criar vínculo entre a música produzida na escola e os gêneros veiculados pela
mídia.

2.5 AÇÕES DESENVOLVIDAS

O projeto oficina de violino é desenvolvido em todas as escolas da rede pública


de ensino municipal que se apresentam e vinte e duas escolas conforme o Anexo 01,
por meio de projeto específico com enfoque em atividades práticas e lúdicas, e
também por meio de trabalhos extraclasse. Minha atuação restringiu-se a oito escolas,
todas do Ensino Fundamental:
Escola Municipal Antonio Alceu Zielonka (rua Tiburcio Gomes de Oliveira, 35),
Escola Municipal Antonio Andrade (rua João Mendes Batista,430), Escola Municipal
Dona Maria Chalcoski (rua América do Sul, 209), Escola Municipal Felipe Zeni (rua
Corbélia, 329), Escola Municipal João Leopoldo Jacomel (rua Rio Paraná, 518),
Escola Municipal Maria Cappellari (rua Augusto Trevisan, 176), Escola Municipal
Marins de Souza Santos (Avenida Juriti, 168), Escola Municipal Odile Charlotte Bruinje
(rua Luiz Vasselai, 224)
As escolas acima foram selecionadas pela falta de projetos destinada para
cada localidade escolar, proporcionando a cada escola o aumento do nível de
desenvolvimento dos alunos através do projeto e o aumento do próprio nível da escola
em educação.
Outro fator que contribui para a demanda das escolas selecionadas foi a falta
de profissional qualificado que deveria ser formado na área de música ou estar em
formação e cuja especificidade ou instrumento principal fosse o violino para ministrar
a oficina de violino.
O desenvolvimento do projeto consiste em oferecer aulas de violino para
grupos de 10 a 30 crianças, com duração de 1hora/aula, sendo uma aula por semana,
compreendendo 25 horas semanais, totalizando, no calendário escolar, 1000 horas.
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Preferencialmente destinada aos alunos do PRÉ II, a oficina de violino busca


entre outros fatores estabelecer o primeiro contato das crianças com a música no
ambiente escolar. Assim, a oficina de violino trará os primeiros conhecimentos
musicais e será o primeiro embasamento para o desenvolvimento musical, tendo em
vista que as mesmas crianças no decorrer da formação primária (ensino fundamental)
irão manter contanto com outros projetos que envolvam a música, como por exemplo:
projetos flauta doce, fanfarra e coral.
A seleção das músicas é feita pelo instrutor da oficina de violino em conjunto
com a equipe pedagógica responsável pelo desenvolvimento do projeto, levando em
consideração os interesses do grupo de alunos, e com enfoque nos temas
transversais incluídas no currículo escolar. A essa equipe cabe também a criação de
material didático próprio para o desenvolvimento das atividades da oficina e a
programação de datas para as eventuais apresentações das atividades desenvolvidas
no projeto.
A oficina de violino tem como outros objetivos tornar-se um instrumento para
musicalizar o aluno, oferecendo conteúdos básicos da música e conteúdos teóricos e
técnicos do instrumento, promovendo a formação musical do mesmo e desenvolvendo
suas potencialidades musicais.
Este projeto pretende também proporcionar o acesso a novos horizontes
culturais, outros estilos musicais e formas de expressão sonora, possibilitando o futuro
engajamento profissional do aluno no violino.
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3 A IMPORTÂNCIA DA EDUCAÇÃO MUSICAL NO AMBIENTE ESCOLAR

O papel da educação musical na educação infantil não objetiva unicamente a


formação de artistas, virtuoses, compositores ou críticos musicais, e muito menos
desenvolver somente fatores extramusicais, mas fazer com que a criança possa
compreender a música e desfruta-la para si, para seu crescimento e para o seu
desenvolvimento completo.
Torna-se importante saber a importância da música na vida da criança como
indivíduo e sua justificativa no ambiente escolar, um dos principais lugares para a
construção e formação do conhecimento.
De acordo com Kodály, “a música pertence a todos, e uma correta educação
musical oferece meios para apreciá-la e desfrutar dela” (SZONYI, 1976). Neste
sentido, toda criança pode ter acesso a música e aprende-la sem colocarmos em
pauta questões pertinentes a talento.
Existe assim uma grande importância da música na vida da criança, do jovem
e do adulto, pois “o estudo da música pode cooperar para o desenvolvimento de
habilidades diversas e fornecer a base para uma cultura artística que capacita o jovem
a participar socialmente de modo mais ativo. Um adulto musicalmente alfabetizado
torna-se um ouvinte e/ou executante mais crítico e consciente”. (SILVA, 1993, p.59)

O propósito da música não é, simplesmente, criar produtos para a


sociedade. É uma experiência de vida em si mesma, que devemos
tornar compreensível e agradável. É uma experiência do presente.
Essas crianças estão vivendo hoje, e não aprendendo a viver para o
amanhã. Devemos ajudar cada criança a vivenciar a música agora.
(SWANWICK, 2003, p.72).

Independentemente de seu papel e/ou importância, a música exerce sobre os


seres humanos grande atração. Dessa forma a criança quando brinca interagindo com
o universo sonoro, acaba descobrindo diferentes formas de se fazer música. De
acordo com Joly:

A criança, por meio da brincadeira, relaciona-se com o mundo que


descobre a cada dia e é dessa forma que faz música: brincando.
Sempre receptiva e curiosa, ela pesquisa materiais sonoros, inventa
melodias e ouve com prazer a música de diferentes povos e lugares.
(JOLY, 2003, p.116).
Gordon ressalta que:
9

Através da música, as crianças aprendem a conhecer-se a si próprias,


aos outros e à vida. E, o que é mais importante, através da música as
crianças são mais capazes de desenvolver e sustentar a sua
imaginação e criatividade ousada. Dado que não se passa um dia sem
que, duma forma ou doutra, as crianças não ouçam ou participem em
[sic] música, é-lhes vantajoso que a compreendam. Apenas então
poderão aprender a apreciar, ouvir e participar na música que acham
ser boa, e é através dessa percepção que a vida ganha mais sentido.
(GORDON, 2000, p.6).

Assim podemos argumentar que se a música é acessível a todos e que ela tem
uma grande importância na vida da criança cooperando para o desenvolvimento de
habilidades diversas e também fornecendo base para uma cultura solida, podemos
afirmar que a música deve estar no ambiente escolar, como afirma Kodály, citado por
Silva, “a música é uma experiência que a escola deve proporcionar” (SILVA, 1993).
Para Hentschke, a inserção da Educação Musical na escola se justifica por:
“Proporcionar o desenvolvimento das sensibilidades estéticas e artísticas, da
imaginação e do potencial criativo, o sentido histórico da nossa herança cultural,
meios de transcender o universo musical de seu meio social e cultural,
desenvolvimento cognitivo, afetivo e psicomotor, e o desenvolvimento da
comunicação não verbal” (HENTSCHKE, 2003, p.30).
Para atingir a maior parte da população e para auxiliar na formação do
indivíduo, é necessário que as aulas de música aconteçam na escola. Sendo assim
Ilari afirma que:
A música tem valor próprio e há muitas razões que justificam sua
inserção na escola. Em primeiro lugar, a música constitui uma
importante forma de comunicação e expressão humana. (…) Em
segundo lugar, a música carrega traços da história, cultura e
identidade social, que são transmitidos e desenvolvidos através da
educação musical. Em terceiro lugar, o fazer musical da aula de
música envolve diversas formas de aprendizagem contidas em
atividades como audição, canto, representação, reprodução, criação,
composição, improvisação, movimento, dança e execução
instrumental entre outras (ILARI, 2005, p.60).

A escola pode realizar um ensino de música acessível a todos, tornando-se um


espaço de construção e reconstrução do conhecimento, proporcionando uma
educação musical de qualidade ativa e equilibrada, e possibilitando avançar
pedagogicamente por caminhos mais cativantes, democratizando o acesso à arte e
especificamente à música, podendo levar o aluno a se aproximar da música,
ensinando-o a gostar de ouvi-la, aprecia-la e compreende-la.
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Sendo a escola um ambiente de aquisição do conhecimento e sendo a música


um conhecimento estruturante para vida do ser humano e para o desenvolvimento da
criança, a escola deve oferecer o ensino de música, pois a escola tem a função de
educar. Dessa forma, Tourinho afirma que:

As instituições de ensino têm a função de educar, ampliar e refinar o


acesso aos bens culturais, fazendo desse acesso o que chamamos de
“opção alcançada”. Têm também a responsabilidade por aquilo que
selecionam e legitimam, no caso da música, como repertório de estudo
(TOURINHO, 1993, p.21).
E continua argumentando que:

“Um determinado repertório se legitima na escola ou não a partir do


tratamento que a escola/professor desenvolve como forma de acesso
entre o aluno e a música” (Id., p.22).
A escola possui papel importante na vida da criança, tendo em vista que é
nesse ambiente que ela constrói e reconstrói seu conhecimento. Além disso, o que
acontece na escola em relação à música interfere na forma como as crianças pensam
e lidam com a música fora dela.
O ensino de música nas escolas pode contribuir não só para a formação
musical dos alunos, mas principalmente como uma ferramenta para a transformação
social, onde o ambiente de ensino e aprendizagem pode proporcionar o respeito, a
amizade, a cooperação e a reflexão tão importantes e necessárias para a formação
humana. Na escola, o ensino musical não tem a intenção de formar o músico
profissional, assim como o ensino das ciências não visa à formação de cientistas. Para
as educadoras musicais Hentschke e Del Ben (2003), as funções da música no
contexto escolar são:
[...] auxiliar crianças, adolescentes e jovens no processo de
apropriação, transmissão e criação de práticas músico-culturais como
parte da construção de sua cidadania. O objetivo primeiro da
educação musical é facilitar o acesso à multiplicidade de
manifestações musicais da nossa cultura, bem como possibilitar a
compreensão de manifestações musicais de culturas mais distantes.
Além disso, o trabalho com música envolve a construção de
identidades culturais de nossas crianças, adolescentes e jovens e o
desenvolvimento de habilidades interpessoais. Nesse sentido, é
importante que a educação musical escolar, seja ela ministrada pelo
professor unidocente ou pelo professor de artes e/ou música, tenha
como propósito expandir o universo musical do aluno, isto é,
proporcionar-lhe a vivência de manifestações musicais de diversos
grupos sociais e culturais e de diferentes gêneros musicais dentro da
nossa própria cultura. (HENTSCHKE e DEL BEN, p.181).
11

Vemos, portanto, que a escola pode realizar um ensino de música de qualidade


e acessível a todos, apresentando fatores imprescindíveis e relevantes para o
desenvolvimento na vida das crianças e que a música como parte da educação geral
tem muito mais importância dentro da escola que fora dela.
A aprovação da lei 11.769 (BRASIL, 2008), que alterou o artigo 26 da lei de
Diretrizes e Bases da Educação Nacional LDB (BRASIL, 1996) instituindo a música
na escola como conteúdo obrigatório, mas não exclusivo, nos currículos do ensino
básico, certamente trouxe novas expectativas para a educação musical e para uma
nova reaproximação da música na escola.
Não obstante aproximar à música da escola, um dos objetivos da lei é de fato
aproximar à educação musical da escola, permitindo considerar a educação musical
como uma instância de construção e exercício da autonomia pessoal do aluno e de
sua participação ativa na sociedade.

3.1 CONSTRUINDO O CONHECIMENTO MUSICAL ATRAVÉS DO INSTRUMENTO


E DO CANTO

Para o desenvolvimento do trabalho musical foi utilizado inicialmente à


abordagem da PPC (Proposta Pedagógica Curricular) para a educação infantil, do
Município de Pinhais, que norteia toda a educação infantil para um primeiro
embasamento. A seguir foram utilizadas também as abordagens de Schafer (2009),
por meio das atividades de percepção sonora, de Swanwick (2002; 2003), utilizando
alguns critérios para apoiar os processos de planejamento com estratégias apontadas
para Técnica, Execução, Composição, de seu modelo – C(L)A(S)P.
No modelo C(L)A(S)P, Swanwick enfatiza a centralidade da
experiência musical ativa através das atividades de composição - C -,
apreciação - A -,e performance - P -, ao lado de atividades de “suporte”
agrupadas sob as expressões aquisição de habilidades (skill
acquisition) - (S) – e estudos acadêmicos (literature studies) - (L). Os
parentes indicam atividades subordinadas ou periféricas - (L) e (S) –
que podem contribuir para uma realização mais consistente dos
aspectos centrais - C, A e P (FRANÇA; SWANWICK, 2002, p.17).

No que se refere ao estudo específico do instrumento o material utilizado foi


inspirado em SUZUKI (1978; 2007) para as atividades teórico-práticas com o violino.
O repertório construído para as atividades procurou atender aos pré-requisitos para
12

faixa etária dos alunos para poder contribuir tanto para o desenvolvimento da
musicalização como para o desenvolvimento da alfabetização, gerando um maior
interesse e despertando a realização pessoal dos alunos ao cantarem e tocarem as
músicas propostas numa coletânea organizada em forma de apostila, que possui
partitura, letra e um desenho ou símbolo que remete ao tema da canção.
Juntamente com as canções, a apostila também oferecia aos alunos algumas
informações teóricas do violino, como por exemplo as partes do violino e a família das
cordas. Na família do violino são abordadas informações que dizem respeito à divisão
do instrumento na orquestra e a qual grupo ele pertence, podendo destacar não só a
família das cordas, mas também a família das madeiras, metais e percussão,
identificando cada instrumento e em qual grupo ele pertence possibilitando o aluno ter
uma informação relevante do contexto do violino e também proporcionando o contato
rápido ao conhecer outros instrumentos que constituem uma orquestra.
Nas partes do violino são abordados os nomes de cada parte do instrumento,
informações que permite uma compreensão maior por parte do aluno ao manusear o
instrumento para as atividades técnicas e para o próprio conhecimento do corpo do
instrumento. Julgou-se necessário não apresentar muitas informações teóricas para
não enfadar os alunos, tendo em vista que a maioria iniciava naquele momento o
processo de alfabetização, fator importante e sempre presente na elaboração do
material utilizado para as aulas.
Antes de iniciar as atividades técnicas com instrumentos e canto, foram
aplicadas, em uma primeira fase, atividades que envolviam elementos formais da
música, como altura, duração, intensidade, timbre e densidade, o que possibilitaria
embasamento ao aluno e preparo para as atividades posteriores.
Após a fase de embasamento musical, iniciou-se a fase da apropriação
musical, em que o aluno se apropriava do conteúdo musical e técnica instrumental
através do contato e experiência ativa com o canto, que seguia os seguintes passos,
adaptado e sintetizado de Swanwick (2002-2003) e Suzuki (1978-2007):
 Apreciação (Swanwick) Audição (Suzuki)
 Imitação (Suzuki)
 Repetição (Suzuki) Performance (Swanwick)
 Composição (Swanwick)
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A Apreciação ou Audição compreende a escuta livre e direcionada; na escuta


livre procura-se a maior fidelidade possível às informações identificadas pelos alunos,
tendo em vista suas próprias experiências ativas no ato da escuta. Na escuta
direcionada, o professor destaca as informações mais relevantes da canção, podendo
assim o aluno perceber a informação mencionada pelo professor.

Sendo a música um fenômeno sonoro, a forma mais fundamental de


abordá-la é através do ouvir (Leonhard e House 1972, p.256), que
pode ser considerado “a razão central para a experiência da música e
um objetivo constante na educação musical” (1979, p.43). O ouvir
permeia toda experiência musical ativa sendo um meio essencial para
o desenvolvimento musical. (FRANÇA; SWANWICK, 2002, p.12)
A audição torna-se fundamental, por conta de outra característica importante
para a fase de apropriação e aquisição do conhecimento musical, o aprendizado por
imitação. Segundo Suzuki (1983 [1969]), as crianças aprendem na seguinte ordem:
ouvir, olhar e tocar. Assim, antes de executar uma canção ou uma performance ao
instrumento, o aluno intuitivamente passa pelo segundo passo, a imitação.
Para Suzuki (1983), as crianças são muito mais inteligentes do que
costumamos pensar, apesar de nem sempre conseguirem expressar-se verbalmente
de forma correta, mas elas conseguem compreender muitas coisas que são
ensinadas. Esse passo da imitação reflete o momento em que o aluno se torna mais
consciente de seus movimentos e sons.
Por se tratar de uma aprendizagem por imitação, a memória se desenvolve de
maneira automática, pois o ouvido e memória caminham juntos dando suporte e
tornando possível a execução. Por isso, é imprescindível realizar uma apreciação e
audição de qualidade para que se influencie positivamente os passos seguintes,
quando o aluno irá se apropriar do conhecimento musical para o fazer musical.
A repetição é considerada de muito valor para a apropriação do conhecimento
musical, quando o aluno utiliza os passos anteriores e usa da repetição para alicerçar
sua nova aquisição. É importante conscientizar a repetição como ferramenta para o
fazer musical e não a repetição aleatória e sem significado. Quando a repetição é
usada de maneira adequada se transforma em um hábito de reflexão e dedicação,
produzindo habilidade e segurança na execução da canção ou performance
instrumental.
A performance musical na apropriação do conhecimento musical promove um
fazer musical ativo e criativo e não prioriza um alto nível de destreza técnica, que pode
14

levar o aluno a uma performance mecânica comprometendo o seu desenvolvimento,


mas pode estimulá-lo a ter a experiência da performance utilizando a expressão, a
imaginação e a originalidade.

Portanto na educação musical abrangente, é preciso ampliar o


conceito de performance além do paradigma do instrumentista
virtuose. Performance musical abrange todo e qualquer
comportamento observável, desde o acompanhar de uma canção com
palmas à apresentação formal de uma obra musical para uma platéia
(FRANÇA e SWANWICK, 2002, p.14).

A Composição/Criação é o momento em que o aluno fica livre para externar o


conhecimento musical adquirido. Nessa fase o aluno cria, brinca, explora, descobre
possibilidades expressivas, utilizando o canto e o instrumento para o ato de criar.
Isso possibilita um ambiente estimulante tanto para o professor que leciona, ao
acompanhar o processo de criação do aluno, como para o aluno que se sente
importante e valorizado na aula como participante ativo. A composição e criação são
características importantes para desenvolver o improviso musical, que consiste de
uma composição instantânea de padrões musicais pré-estabelecidos pelo indivíduo.
Os benefícios proporcionados pela improvisação consistem em entender o que se
passa musicalmente no ato da execução, desenvolver a prontidão de ideias e a
facilidade em compor, fornecendo ferramentas e recursos de acesso imediato,
permitindo a expressão de sua própria identidade nas músicas
O que se espera ao desenvolver o improviso é fortificar mais ainda o processo
criativo no aluno, que permitirá mais consciência e qualidade no ato de usar o
conhecimento adquirido. Assim, desenvolver esse hábito nas aulas e na vida musical
torna-se primordial para o desenvolvimento musical do aluno.

É crucial que as crianças tenham um ambiente estimulante onde


possam experimentar com confiança e liberdade instrumentos e
objetos, bem como suas próprias vozes. A educação musical deve
preservar o instinto de curiosidade, exploração e fantasia com o qual
as crianças vão para a aula. (FRANÇA; SWANWICK, 2002, p.10)

Nessa perspectiva, o processo de construção do conhecimento propõe


atividades musicais explorando a Apreciação e Audição, Imitação, Repetição,
Performance e Composição, como síntese das abordagens de Suzuki (1983) e
Swanwick (2003).
15

O que se espera da elaboração do processo de construção do conhecimento é


a maneira de como o ensino da música pode impulsionar o desenvolvimento das
competências cognitivas mediante a formação de conceitos e desenvolvimento do
pensamento teórico e por quais meios os alunos podem melhorar e potencializar sua
aprendizagem, ou seja, saber o que e como fazer para estimular as capacidades
ajudando os alunos a desenvolver suas competências e habilidades mentais e
“procurar descobrir todo o potencial criativo das crianças, para que possam fazer
música por si mesmas”. (SCHAFER, 2009, p.272)

3.2 AS AULAS COLETIVAS

As aulas com duração de uma hora ocorreram uma vez por semana e
compreendiam atividades de canto e violino. Inicialmente, o canto foi utilizado como
recurso para apropriação do conteúdo musical com todos os alunos. Após o contato
inicial, era realizada, nos primeiros dez minutos de aula, uma atividade de
alongamento e relaxamento. O conteúdo musical era abordado então através de
breves indagações sobre o conhecimento prévio dos alunos, o que permitia ao
professor um diagnóstico rápido de como realizar o desenvolvimento e direcionamento
das atividades subsequentes. A seguir, eram realizadas atividades de apropriação
musical baseadas em apreciação, audição, imitação, execução (performance) e
composição.
Somente após essa fase era introduzida a parte instrumental. O grupo dos
alunos era dividido em dois e o tempo de aula era reduzido para 30 minutos com cada
grupo. As atividades eram realizadas com as crianças distribuídas em um círculo e o
trabalho era voltado para a prática em conjunto. Nessa fase, dava-se continuidade do
conteúdo aprendido no canto.

Pode-se argumentar em favor do ensino coletivo que o aprendizado


se dá pela observação, e interação com outras pessoas, a exemplo de
como se aprende a falar, andar, a comer. Desenvolvem-se hábitos e
comportamentos que são influenciados pelo entorno social, modelos
ídolos (TOURINHO, 2007, p.2).

As aulas eram sempre intercaladas com atividades de canto e de instrumento.


As aulas de canto se propunham a um primeiro contato com a canção proposta, sendo
abordados conteúdos, dinâmicas, brincadeiras, atividades lúdicas e a letra da canção.
16

A seguir, a aula de violino se destinava a consolidar os conhecimentos aprendidos e


introduzir conteúdos técnicos do instrumento como postura, exploração sonora do
instrumento, manejo do arco, postura e utilização da mão esquerda, a fim de realizar
a canção no instrumento. Dessa forma era oferecido ao aluno uma aula com recursos
para a aquisição dos conteúdos musicais e outra para a aplicação dos mesmos
conteúdos no instrumento.
Ao se trabalhar a canção Miguel (ANEXO 02), por exemplo, o professor partiu
da apresentação inicial do tema, permitindo uma interação inicial entre o aluno e a
canção proposta, através de uma apreciação de livre escuta e uma audição
direcionada, abordando a letra da música e a melodia (reconhecimento dos sons
agudos e graves), do ritmo (andamento rápido ou lento) e dinâmica (sons fortes e
fracos). Em seguida era recitada a letra da canção para reforçar o ato de escuta e da
imitação, a fim de memoriza-la.
Após a apresentação era proposta uma composição em forma de improviso,
utilizando a velocidade, dinâmica e expressividade. Em algumas canções eram
propostas também atividades musicais, brincadeiras, pinturas e jogos para tornar a
aula mais atrativa e possibilitar o aluno a uma experiência musical mais ativa.
Após esse primeiro contato com a canção através do canto, seguem-se as
aulas com o instrumento. O aluno, já familiarizado com a canção e com as atividades
desenvolvidas, pode ser introduzido o instrumento de maneira mais eficaz e facilitada.
A aula de instrumento é iniciada com um breve relaxamento corporal, e a seguir os
violinos são afinados e colocados em posição de tocar pelas crianças.
Em seguida é feita uma apreciação da canção no violino, executada pelo
professor e são ensinados e executados alguns exercícios referentes à técnica
violinística básica, como posição de dedos, afinação e coordenação entre mão direita
e mão esquerda. A seguir, demonstra-se a execução da canção, no caso de Miguel
as notas sol e si executadas pela mão esquerda com os dedos 3 e 1 (anular e
indicador, respectivamente), com arcadas longas. Conforme os alunos adquirem
habilidade na execução da canção, são trabalhados aspectos rítmicos de pulsação e
andamento e afinação, estimulando-se sempre a alegria e o prazer de tocar.
Em seguida a canção é executada com todo o grupo de alunos, e em seguida
metade cantando e a outra metade tocando o violino. O professor orienta a correção
de eventuais erros, estimulando a percepção dos alunos. O processo de aprendizado
de uma canção varia de três a quatro aulas, para fixação e amadurecimento do
17

conhecimento e do desenvolvimento das habilidades de execução. Após a finalização


de uma canção, realiza-se uma pequena apresentação informal, em sala de aula para
os colegas da classe ou outros de outras turmas, como forma de avaliação e como
estímulo para a exposição e apresentação dos resultados obtidos.

3.3 CONSTRUINDO UM REPERTÓRIO

Desde os primeiros contatos com o projeto oficina de violino, coube ao


professor instrutor a montagem da estruturação do plano curso e dos planos de aula
a partir das informações sobre o projeto e monitoramento de seus orientadores, sendo
seu dever também a criação de um repertório adequado para as aulas. Assim, o
questionamento inicial foi quais músicas trabalhar na oficina de violino.
Para a construção de um repertório de trabalho durante a oficina de violino,
tomaram-se como base alguns aspectos importantes inerentes ao projeto, pois o
público era formado por crianças entre 6 e 7 anos de idade, na pré-escola, em fase
de alfabetização e que deveriam aprender elementos básicos da música. Assim,
procurou-se estabelecer um repertório que fosse estimulante aos alunos e que os
ajudasse no processo de alfabetização.
As canções escolhidas deveriam ser utilizadas como elementos que pudessem
trabalhar vários aspectos didáticos e sua aplicabilidade no canto, através de melodias
acessíveis, no ensino do violino, como introdução a aspectos técnicos básicos e nas
atividades de musicalização, através de conteúdos musicais básicos para introdução
à musicalização. Por esses motivos, foram priorizadas músicas e canções infantis, do
folclore brasileiro e canções temáticas coletadas em métodos de diversos
instrumentos como flauta-doce (MAHLE, 1959) e violino (SUZUKI, 1978, 2007), livros
de Educação Musical e coletâneas de canções musicais.
Todas as músicas trabalhadas no projeto foram reunidas em uma apostila que
possuía elementos característicos de cada canção, como símbolo ou desenho, letra
da canção e partitura, possibilitando ao aluno relacionar os elementos visuais que
remetem à melodia da canção. O desenho ou símbolo foi utilizado para facilitar a
compreensão do aluno, reforçando a conexão com a memória visual e auditiva através
de atividades lúdicas como recorte e pintura.
O uso da letra se propôs a apoiar o processo de alfabetização, ao proporcionar
contato com a leitura e treino da linguagem escrita. A partitura foi utilizada somente
18

como estímulo de contato inicial com a escrita musical, preparando o aluno para uma
futura inserção de elementos gráficos musicais.
Outros critérios também foram levados em consideração na elaboração do
repertório como o contexto sociocultural, os objetivos do grupo, as condições e
possibilidades técnicas das crianças, as expectativas pedagógicas e o calendário
letivo escolar.

As crianças e adolescentes aprendem a gostar daquilo que mostramos


a eles no dia a dia, seja através de conversas, de aulas específicas,
de programas de rádio e TV ou CDs que ouvimos na companhia deles
e até mesmo de comentários que fazemos quando achamos que eles
não estão prestando atenção (lembre-se de que, conforme sugeriu
Small (1998), eles são como esponjinhas que sugam informação,
através de ouvidos e mente superatentos!). Tudo isso, além das
experiências musicais vividas dentro e fora de casa, terá um papel
fundamental na formação do gosto musical futuro de seu filho ou aluno
(ILARI, 2009, p.59).
19

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS

O projeto Oficina de Violino é uma iniciativa da Secretaria de Educação do


Município de Pinhais-PR, e procura agregar o ensino da música à educação infantil
na rede pública de ensino, oferecendo através do ensino da música, com foco no
violino, a possibilidade de desenvolver aspectos musicais e a ampliação dos bens
culturais.
O projeto foi desenvolvido nas instituições de ensino da rede pública do
município, através de aulas coletivas, dialogando sempre com aulas teóricas e
práticas, visando à produção artística e ao desenvolvimento musical da criança.
A grande expectativa por parte de todos os envolvidos, alunos, professores,
pais e escola, gerou uma grande aceitação, que contribuiu para a realização e o bom
desenvolvimento do projeto. Outro fator positivo foi a liberdade permitida no
desenvolvimento da metodologia de trabalho para a oficina, concedida pela Secretaria
de Educação, para a montagem e estruturação do curso, respeitando o foco na
produção artística e na construção do conhecimento musical.
Outro ponto positivo foi a construção de um material pedagógico compilado
exclusivamente para o projeto oficina de violino, atendendo às necessidades e
demandas dos alunos, possibilitando ampliar os resultados a serem alcançados.
Dificuldades surgiram em relação ao atraso em licitações para compra e
entrega de instrumentos e a limitação no seu número, mas foram contornadas durante
o processo e o desenrolar das atividades. O número elevado de alunos por turma e a
dificuldades de espaço físico adequado em algumas escolas também se constituíram
fatores que contribuíram para afetar o andamento do projeto e o resultado final.
Entretanto, apesar das dificuldades enfrentadas, pude observar que os
resultados foram satisfatoriamente alcançados e os objetivos principais do projeto
foram atingidos, principalmente em relação ao desenvolvimento musical, ao
desenvolvimento escolar geral, ao desenvolvimento pessoal, além dos resultados de
produção artística e o envolvimento e engajamento com o ambiente escolar.
Em relação ao desenvolvimento musical, o resultado mais expressivo foi a
aquisição do conhecimento musical no processo de construção do conhecimento
musical, que proporcionou às crianças o desenvolvimento de habilidades para cantar
e tocar violino, se expressando através do fazer musical. Nesse panorama, os alunos
20

puderam ter experiências na maior parte das vezes inéditas em suas vidas mostrando-
se mais estimulados e confiantes. A avaliação do processo educativo foi realizada
sempre, e o que se observou foi que os alunos tiveram grandes avanços quanto à
técnica de tocar o instrumento, um dos focos do projeto para alcançar o objetivo da
produção artística e o desenvolvimento musical.
No desenvolvimento escolar, os resultados obtidos através da oficina de violino
foram observados no processo de alfabetização, que pelo material pedagógico
construído apoiou este processo, contribuindo com a aquisição da leitura. Outro
resultado alcançado foi o convívio social que através das aulas coletivas ressaltou o
valor e a importância da participação em grupo e a importância do indivíduo no
coletivo. Percebeu-se também a mudança de comportamento em sala de aula, com
crianças mais respeitosas, mais receptivas ao conhecimento e envolvidas com a aula
em geral.
No desenvolvimento pessoal, os resultados alcançados foram representados
pelo desenvolvimento da comunicação verbal das crianças em sala de aula e fora
dela, através dos relatos dos pais, que notaram a melhoria na comunicação de seus
filhos, resultado esse que foi atingido através das atividades do canto, com canções
temáticas e de musicalização apoiando o processo de comunicação verbal. Outro fator
positivo foi o desenvolvimento da expressão corporal das crianças, que estimuladas
nas atividades lúdicas e de musicalização conseguiram desenvolver-se, contribuindo
para a desinibição e o ganho de confiança.
Os resultados de produção artística foram alcançados através das
apresentações na escola e nas performances dento da sala de aula, sendo que no
decorrer da oficina as crianças desenvolveram o potencial criativo e o aumento da
imaginação que contribuíram para os resultados de produção artística.
A oficina de violino proporcionou também o envolvimento precioso entre alunos,
escola e pais, conjunção essencial na formação educacional da criança como um
todo. Esse envolvimento possibilitou à escola divulgar seus alunos e seu potencial,
que através do compromisso, envolvimento e engajamento em fazer acontecer a
oficina de violino, pode também divulgar a qualidade do ensino da instituição local.
Sendo a oficina de violino um projeto inédito na rede de Ensino de Educação
do Município de Pinhais-PR, e sendo um projeto incipiente, precisa passar por um
processo de amadurecimento para alcançar melhores resultados.
21

Vale ressaltar ainda que em uma possível reestruturação do projeto, a


Secretaria de Educação do Município de Pinhas poderia contar com o apoio da
extensão universitária das instituições de ensino de Música, sendo o papel da
extensão universitária o de articular o diálogo entre universidade e comunidade local,
fornecendo subsídios para a realização de projetos musicais. Assim, a extensão
estará contribuindo para a formação de um cidadão critico, ético e comprometido,
envolvidos nessa formação tanto acadêmicos e professores da universidade, com os
sujeitos atendidos pelos projetos.
A Escola de Música e Belas Artes do Paraná desenvolve parcerias, através da
extensão universitária, com projetos comunitários, comprometendo-se a compartilhar
os benefícios da atmosfera universitária com a sociedade. A parceria da extensão
universitária em projetos da educação infantil pode contribuir para o bom desempenho
dos projetos e para alcançar resultados positivos por parte dos órgãos incentivadores
e criadores de tais projetos, e por parte da extensão universitária das instituições de
música, em que os projetos servem de campo para a aplicação dos conhecimentos
adquiridos na universidade, aplicando a teoria e a prática e fornecendo ao docente a
experiência para atuação no campo de trabalho.
Por fim, acreditando que um dos objetivos da educação é a formação do
cidadão critico, entende-se que esse projeto oportunizou práticas e reflexões com
essa finalidade, buscando também o desenvolvimento artístico e social, além do
desenvolvimento musical da criança.
22

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ANEXOS

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