PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO
NA GESTÃO PÚBLICA
Ana Claudia Moreira Miguel Philippini
1ª edição
Londrina
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
2019
2
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ISBN 978-85-522-1624-7
2019
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PLANEJAMENTO ESTRATÉGICO NA GESTÃO PÚBLICA
SUMÁRIO
Apresentação da disciplina 5
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Apresentação da disciplina
Administrar uma organização dentro do atual contexto político-
econômico, em que os conceitos de globalização e interdependência e de
competividade e produtividade ao mesmo tempo em que se entrelaçam,
se chocam, não é uma tarefa fácil. No entanto, muito mais complexo é
administrar uma organização como o Estado, principalmente quando
o governo não é capaz de estabelecer estratégias e políticas claras. Por
essa razão, o mercado de trabalho passou a exigir cada vez mais de
seus profissionais conhecimentos e atitudes mais dinâmicas e menos
burocráticas, de modo a adequar a essa nova realidade um modelo
gerencial de administração pública e viabilizar à gestão pública algumas
das técnicas antes aplicadas somente ao setor privado. Esse é, portanto, o
objetivo da disciplina Planejamento Estratégico na Gestão Pública.
Espero contribuir para que esta disciplina amplie sua visão como gestor,
de maneira a expandir seus horizontes e para que você se torne um
profissional globalizado e atento às novas exigências do mercado.
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Construção do Estado
e da sociedade
Autora: Ana Cláudia Moreira Miguel Philippini
Objetivos
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1. Desenvolvimento do Estado e da sociedade
Para formar um bom profissional em gestão, é preciso ter em
mente que, antes de entrar no estudo das matérias fins do curso, o
aluno necessita adquirir conhecimento em matérias introdutórias,
preparatórias aos conhecimentos que serão adquiridos na sequência.
Entre essas disciplinas estão a Teoria Geral do Estado, o Direito
Constitucional e o Direito Administrativo.
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PARA SABER MAIS
Quem revolucionou o conceito de Estado foi Maquiavel,
ao ignorar os valores humanos, incluindo os de cunho
moral e religioso, e construir a concepção de que somente
a criação de uma autoridade forte é capaz de instituir a
ordem e a paz. Sua obra O Príncipe (MAQUIAVEL, 1997),
escrita em 1513, é um tratado político sobre a estrutura
do Estado moderno, em que aborda a maneira como o
soberano deve agir para manter seu reino, bem como
alerta o povo sobre tais mecanismos utilizados pelo
príncipe para se manter no poder.
Por conseguinte, Estado nada mais é do que uma concepção criada pelo
homem e desenvolvida por diversas teorias que tentam equacionar
sua origem sob o ponto de vista histórico-sociológico e sob o
prisma racional.
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humanidade, uma vez que, segundo o autor, a forma originária de se
retratar o ser humano era pela imagem feminina. Uma das esculturas
analisadas pelo autor foi a denominada Vênus de Willendorf, uma
estatueta esculpida entre 28.000 e 25.000 anos antes de Cristo:
Fonte: jgaunion/iStock.com.
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A teoria patriarcal, por sua vez, tem sua origem na Bíblia, sendo
reafirmada pelos doutrinadores gregos e pelo direito romano.
Segundo Maluf (2013, p. 62-63):
Por fim, há a teoria da força, segundo a qual o Estado nada mais é do que
resultado do poder de dominação dos mais fortes sobre os mais fracos.
Assim sendo, o poder público surgiu como forma de regular a relação
entre os indivíduos e eliminar as lutas travadas entre estes, de forma a
evitar a dominação dos vencedores sobre os vencidos. Entre os teóricos
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que fundamentam essa teoria encontra-se Hobbes (1979), que explica a
origem do Estado como resultado do contrato existente entre os homens
para evitar o estado de natureza, ou seja, a guerra de todos contra todos.
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racionalistas é a teoria do jusnaturalismo, que tem como expoente
Grócio. Trata-se das primeiras noções de direito desvinculadas do
aspecto religioso em que se procura um fundamento eminentemente
humano para o Estado. Grócio (1625) separou o direito em direito
natural e direito voluntário, considerando aquele como não baseado na
vontade divina e com valor próprio. Conceitua, ainda, o Estado como
uma organização perfeita formada por homens livres e que tem como
finalidade regular o direito e alcançar o bem-estar coletivo.
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destacada pela amplitude da formação dos Estados. Para Rousseau
(2004), o Estado resulta da vontade geral, que é uma soma da vontade
manifestada pela maioria dos indivíduos. Assim sendo, o governo
é instituído para promover o bem comum. Observa-se, no entanto,
que embora o contrato social criado por Rousseau (2004) tenha sido
inspirado em ideias democráticas, ele guarda consigo influência do
absolutismo de Hobbes.
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vez, é eminentemente panteísta. Para a escola orgânica, o Estado é um
organismo natural, semelhante aos organismos dos seres vivos e sujeito
às mesmas leis biológicas. Por fim, a terceira teoria é o neopanteísmo,
que deu nova orientação ao organicismo da escola panteísta ao
abandonar o paralelismo do Estado como organismos biológicos para
compará-lo com os organismos psicológicos ou éticos (MALUF, 2013).
Há, ainda, como forma de justificação do Estado, as teorias socialistas.
A primeira delas é a teoria da supremacia de classes, coordenada por
Gumplowicz e Oppenheimer. Nela são reunidos os princípios da força
e do interesse patrimonial como justificativa do Estado (MALUF, 2013).
Trata-se, portanto, do Estado como organização suprema da classe
dominante. A segunda teoria é a do fundamento doutrinário do Estado
bolchevista, no qual se destacam Marx e Engels (2014). Para eles, o
Estado é tido como um instrumento de dominação da classe operária.
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Em contrapartida, pela teoria atomista, os indivíduos são considerados
anteriores ao Estado, de modo a criá-lo mediante contrato estabelecido
por aqueles que o compõem. Segundo essa teoria, o Estado nada mais
é do que uma obra humana, de modo que todos os seus caracteres
são conferidos pelos indivíduos que o produziram. Essa teoria pode ser
analisada por meio do contratualismo clássico, defendido por Hobbes
(1979), Locke (2004) e Rousseau (2004), ou pelo neocontratualismo,
inspirado na tese de Bobbio (2000) e Rawls (2000).
Para que um Estado exista, é preciso que ele seja composto por pessoas
e que estas mantenham com ele um vínculo jurídico-político, pelo qual
se tornam parte integrante. A este elemento dá-se o nome de povo.
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Ao contrário do que se entende por povo, que é um conceito qualitativo,
o conceito de população é quantitativo, pois engloba não só os nacionais
como os estrangeiros residentes. De acordo com Rezek (1998, p. 178),
população é “o conjunto das pessoas instaladas em caráter permanente
sobre seu território”.
ASSIMILE
Nacionais são os indivíduos submetidos à autoridade
direta de um Estado, aos quais este reconhece direitos,
poderes e proteção que ultrapassam, inclusive, as
fronteiras do Estado. Por outro lado, nacionalidade é
a qualidade inerente a essas pessoas, isso é, o vínculo
político entre o Estado e o indivíduo, que lhe permite ser
localizado e identificado na coletividade.
Por território entende-se não só seu espaço terrestre como também seu
espaço marítimo e aéreo. Em outras palavras, território abrange não só
a área delimitada entre as fronteiras do Estado como também seu mar
territorial, espaço aéreo sobrejacente, bem como seu leito e subsolo
(PINHO, 2011).
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PARA SABER MAIS
De acordo com o art. 1º da Lei nº 8.617/93, mar territorial é
“uma faixa de doze milhas marítima de largura, medidas a
partir da linha de baixa-mar do litoral continental e insular,
tal como indicada nas cartas náuticas de grande escala,
reconhecidas oficialmente no Brasil”.
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1.2 Estado brasileiro
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ASSIMILE
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Embora não conste do art. 1º da Constituição Federal, quanto ao
grau de relacionamento entre os Poderes, o Brasil adota o sistema de
governo presidencialista, o que significa dizer que os Poderes Executivo,
Legislativo e Judiciário são independentes, sendo a chefia de Estado
(representação) e a chefia de Governo (administração) atribuídas a uma
mesma pessoa, ou seja, ao Presidente da República, com mandato certo
para exercer a chefia do poder.
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governante exerce o poder sem respeitar a democracia, ou seja, governa
de acordo com suas vontades ou com as do grupo político ao qual
pertence (BONAVIDES, 2000).
ASSIMILE
Tanto o plebiscito como o referendo são formas de
consulta ao povo para decidir sobre matéria relevante
para o Estado. No entanto, diferenciam-se na medida que,
no plebiscito, a consulta é realizada antes da criação da
lei ou do ato administrativo (pergunta-se primeiro para
depois fazer o ato), enquanto no referendo, a consulta é
posterior, podendo o povo ratificar ou rejeitar a lei ou o ato
administrativo (pergunta-se depois de elaborar o ato).
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Embora a Constituição Federal mencione a palavra “poderes”, cumpre
esclarecer que o que se divide não é o poder, mas as funções estatais
básicas, que são atribuídas a órgãos independentes e especializados, ou
seja, a função executiva, a função legislativa e a função judiciária.
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Nesse mesmo sentido, em que pese a função típica do Poder Legislativo
seja legislar, ele pode atipicamente administrar, como, por exemplo, no
caso de concessão de férias aos seus servidores, ou julgar, como, por
exemplo, no caso de crimes de responsabilidade praticados pelos chefes
do Poder Executivo.
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TEORIA EM PRÁTICA
De acordo com o art. 2° da Constituição Federal, são
Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o
Legislativo, o Executivo e o Judiciário. O que se denomina
Poderes são, na verdade, os três órgãos investidos das três
funções básicas do Estado: administrar, legislar e julgar.
Cada um desses órgãos públicos possui funções chamadas
de típicas e de atípicas. Considerando que a função de
administrar compete tipicamente ao Poder Executivo,
reflita sobre a atuação do gestor dentro desse órgão
público. Tendo conhecimento que os outros dois Poderes
(Legislativo e Judiciário) também exercem atipicamente
a função de administrar, analise a importância de esses
órgãos possuírem profissionais técnicos na área de gestão.
VERIFICAÇÃO DE LEITURA
1. Como uma criação humana, o conceito de Estado foi
estruturado levando em conta diversas óticas e teorias
que tentam, basicamente, equacionar a sua origem sob
dois pontos de vista: um histórico-sociológico, outro
racional. Com base nisso, assinale a alternativa que
apresenta corretamente uma das teorias histórico-
sociológica e outra racional:
a. Teoria matriarcal e teoria patriarcal.
b. Teoria atomista e teoria organicista.
c. Teoria patrimonial e teoria formalista.
d. Teoria patrimonial e teoria da força.
e. Teoria atomista e teoria formalista.
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2. São três os elementos constitutivos do Estado. Assinale
a alternativa que apresenta corretamente o elemento
formal do Estado:
a. Povo.
b. População.
c. Nação.
d. Território.
e. Governo.
Referências bibliográficas
25
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REZEK, J. F. Direito internacional público: curso elementar. 7. ed. São Paulo:
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26
26
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SILVA, J. A. da. Curso de direito constitucional positivo. 25. ed. São Paulo:
Malheiros, 2005.
Gabarito
Questão 1 – Resposta C
As teorias que justificam a origem pela ótica histórico-sociológica
são: teoria familiar, que se divide em matriarcal e patriarcal,
teoria patrimonial e teoria da força. Já pela ótica racional, têm-se
as teorias organicista, atomista e formalista. Portanto, a única
alternativa que possui as duas concepções é a alternativa C.
As alternativas A e D dizem respeito à ótica histórico-sociológica,
e as alternativas B e E, ao prisma racional.
Questão 2 – Resposta E
O elemento formal do Estado é o governo. Povo é o elemento
humano enquanto território, o elemento físico. População e nação
não são elementos do Estado.
Questão 3 – Resposta A
São formas de Estado: o Estado Unitário e o Estado Federado
(federação). São formas de governo: a república e a monarquia.
São sistemas de governo: o presidencialismo e o parlamentarismo.
São regimes de governo: a democracia, o totalitarismo e o
autoritarismo. Como o art. 1º da Constituição Federal estabelece
que o Brasil é uma República Federativa, têm-se, respectivamente,
uma forma de governo e uma forma de Estado. Portanto, a
alternativa correta é a letra A.
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Administração pública brasileira
Autora: Ana Cláudia Moreira Miguel Philippini
Objetivos
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1. Administração pública
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Importante observar que é da noção de Estado de Direito que decorrem
as noções de Governo e Administração Pública. Se, por um lado, a
noção de Estado em sua acepção moderna pressupõe a estruturação
do poder politico e dos poderes constituídos por este, por outro,
necessita delinear sua estruturação legal, de modo a englobar os órgãos
e agentes administrativos como também a atividade exercida por eles.
Por conseguinte, enquanto a organização do Estado é tratada como
matéria pertencente ao direito constitucional, ao direito administrativo
compete a análise da atividade jurídica do Estado, ou seja, o modo pelo
qual o Estado é administrado ou governado (DI PIETRO, 2019).
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trabalhem na consecução dos objetivos. A estes, dá-se o nome de
Governo (ALEXANDRINO; PAULO, 2019). Trata-se do elemento formal do
Estado, responsável pelo controle, pela fixação de metas e comando, em
outras palavras, pela tomada das decisões em prol da coletividade.
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A instituição constitucional dos três Poderes compõe o Governo e
desempenha atividade essencialmente política. De acordo com Di Pietro
(2019), a função de governo, que é uma função política, implica uma
atividade de ordem superior à direção-geral do Estado, entendido este
em seu conjunto (União Federal) e em suas unidades (Estados-membros,
Distrito Federal e Municípios), com o objetivo de estabelecer os fins da
ação do Estado, a assinalar as diretrizes para as outras funções e buscar
a unidade da soberania estatal. Segundo a autora, a função política
compreende as atividades de direção e as atividades colegislativas, o que
significa dizer que, no direito brasileiro, elas se repartem entre Executivo
e Legislativo, com predominância do primeiro.
ASSIMILE
A forma como é grafada a palavra Administração Pública
é importante para se determinar o sentido. Administração
Pública com letra maiúscula significa o conjunto de órgãos,
entidades e agentes que exercem a função administrativa.
Já administração pública com letras minúsculas significa a
própria função ou atividade administrativa por eles.
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Meirelles (1998, p. 65) conceitua Administração Pública da
seguinte forma:
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Deste modo, são considerados sujeitos da Administração Pública as
pessoas jurídicas políticas (entes da Federação: União Federal, Estados-
membros, Distrito Federal e Municípios) e de pessoas jurídicas que
executam a atividade administrativa.
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Por polícia administrativa, entende-se a atividade de execução das
denominadas limitações administrativas, que são as restrições impostas
por lei ao exercício do direito individual em prol do interesse publico,
como, por exemplo, no caso das licenças, autorização e sanções.
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Figura 2 – Regime público e regime privado
Fonte: OliverleMoal/iStock.com.
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De acordo com Mello (2006), esse regime de prerrogativas e sujeições
para a Administração Pública está fundamentado na supremacia
do interesse público em relação ao interesse particular e na
indisponibilidade do interesse público pela Administração.
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legalidade traduz o sentido de que a Administração Pública somente
pode fazer o que a lei manda ou permite, bem como somente pode
proibir o que a lei expressamente proíbe (CARVALHO FILHO, 2019).
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administrador, ao praticar um determinado ato administrativo, faz uso
do poder discricionário de que é detentor com o objetivo de atingir
fim diverso daquele previsto em lei. A finalidade desse princípio foi
fixar limites à atuação discricionária da Administração, evitando a
atuação do administrador por excesso de poder ou desvio de finalidade
(CARVALHO FILHO, 2019).
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Segundo Alexandrino e Paulo (2019), o controle administrativo tem o
escopo de limitar arbítrios da Administração, de forma a proteger os
direitos individuais. Seu fundamento encontra-se na própria separação
dos poderes em Executivo, Legislativo e Judiciário. Como cada um
deles possui funções típicas e atípicas, cada um passa a desempenhar
atividades de controle das atuações dos demais. Trata-se da prerrogativa
de estabelecer freios e contrabalancear os atos praticados pelos outros
poderes, que se denomina teoria dos freios e contrapesos.
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Há, ainda, o critério que considera o aspecto a ser controlado, dividindo
o controle em de legalidade e de mérito. A primeira modalidade de
controle decorre do princípio da legalidade e objetiva verificar se o ato
administrativo está em conformidade com a lei. Esse tipo de controle é
exercido pelos três Poderes. Na segunda modalidade, analisa-se o mérito
administrativo, ou seja, sua conveniência e oportunidade. Importante
frisar que compete à Administração o controle de mérito de seus atos; ao
Legislativo, é possível, com algumas limitações, porém, para Alexandrino e
Paulo (2019), não há controle de mérito pelo Poder Judiciário.
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Desse modo, entende-se por revogação a eliminação de um ato
administrativo perfeito pela Administração Pública por ser esse
inconveniente ou inoportuno. Trata-se do controle de mérito pela
Administração. Meirelles (1989, p. 154) ensina que:
(...) a avaliação (valoração) da conveniência e oportunidade relativas ao
objeto e ao motivo, na prática do ato discricionário, ou seja, aquele em
que a lei permite ao agente público proceder a uma avaliação de conduta
(motivo e objeto), ponderando os aspectos relativos à conveniência e à
oportunidade da prática do ato.
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Por fim, o controle judicial, que também é exceção à separação dos
Poderes, advém do artigo 5º, XXXV da Constituição Federal, que
assim dispõe: “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário
lesão ou ameaça a direito”. Verifica-se, portanto, que todos os atos
da Administração Pública que causem prejuízo a terceiros e a própria
Administração Pública estão sujeitos ao exame pelo Poder Judiciário.
Os meios postos à disposição do cidadão no exercício desse controle,
entre os quais se destacam as seguintes ações constitucionais: mandado
de segurança individual, mandado de segurança coletivo, ação popular,
ação civil pública, mandado de injunção, habeas corpus, habeas data,
ações de inconstitucionalidade, entre outros (MAZZA, 2019).
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O sistema do contencioso administrativo caracteriza-se pela
composição de tribunais organizados com o escopo de apreciar os atos
administrativos ou conhecer os litígios advindos deste. De acordo com
Sawen Filho (2009, p. 75):
A essa jurisdição, formada por juízes administrativos aos quais se
reconhece parcela do poder jurisdicional do Estado, é dado, assim,
conhecer e julgar a validade dos atos administrativos e as questões
decorrentes de sua prática irregular.
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O Poder Judiciário tem a função de assegurar a coexistência harmônica
dos três Poderes. Todavia, em que pese o fato de ser o detentor da
última palavra no pertinente à aplicação de normas e princípios do
ordenamento jurídico, ele também se submete à lei e mantém-se no
mesmo nível hierárquico dos Poderes Executivo e Legislativo. Assim
sendo, o sistema do controle jurisdicional único da legalidade consiste
na análise e no conhecimento dos atos por parte do Poder Judiciário,
visando apurar sua validade.
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PARA SABER MAIS
Outros atos do Poder Legislativo que são inatingíveis pelo
controle externo são: decisões emanadas das Mesas da
Câmara e do Senado para regular escolha das Comissões,
eleições de membros das respectivas Mesas do Congresso
Nacional, atos que concedem licença ou estabelecem
regimentos internos, etc.
TEORIA EM PRÁTICA
O controle administrativo é o meio de controle mais amplo.
Nele é possível realizar tanto o juízo de oportunidade e
conveniência (controle do mérito administrativo) como o
controle da legalidade do ato. Esse controle é realizado
tipicamente pelo Poder Executivo e atipicamente pelos
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Poderes Executivo e Judiciário e, por essa razão, pode ser
desempenhado pelos gestores públicos nos três Poderes.
Por essa razão, reflita sobre a atuação do gestor quando
da tomada de decisão entre a revogação e a anulação do
ato administrativo. Há um prazo para que essa decisão
seja tomada?
VERIFICAÇÃO DE LEITURA
1. Analise a assertiva e assinale a alternativa que preenche
corretamente a lacuna. Com relação ao ,a
Administração Pública divide-se em direta e indireta,
sendo um exemplo desta .
a. Objeto; fomento.
b. Sujeito; fomento.
c. Objeto; autarquia.
d. Sujeito; autarquia.
e. Sujeito; intervenção.
b. Impessoalidade.
c. Motivação.
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d. Publicidade.
e. Eficiência.
Referências bibliográficas
48
48
BRASIL. Lei nº 10.406 de 10 de janeiro de 2002. Institui o Código Civil. Brasília, DF.
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DI PIETRO, M. S. Z. Direito administrativo. 32. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2019.
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GONÇALVES, C. R. Direito civil brasileiro. v. 1. 14. ed. São Paulo: Saraiva, 2016.
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MEIRELLES, H. L. Direito administrativo brasileiro. 23. ed. São Paulo:
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MONTESQUIEU, C. S. O espírito das leis. São Paulo: Martins Fontes, 1996.
SAWEN FILHO, J. F. Curso de direito em administração pública: a
responsabilidade civil do Estado e o controle da administração pública. Rio de
Janeiro: Fundação Trompowsky, 2009.
Gabarito
Questão 1 – Resposta D
Quanto ao sujeito, a Administração pode ser Direta ou Indireta.
A primeira é composta pelos entes políticos, enquanto a segunda
é composta pelas autarquias, fundações públicas, sociedades de
economia mista e empresas públicas. Por outro lado, quanto ao
objeto, a atividade administrativa pode ser de fomento, de polícia
administrativa, de serviços públicos e de intervenção.
Questão 2 – Resposta B
Trata-se do Princípio da Impessoalidade, segundo o qual busca
a igualdade. A Administração age com neutralidade, ou seja,
impessoalidade sob dois aspectos: do administrador quando da
prática do ato e a impessoalidade do próprio administrado como
destinatário desse mesmo ato. Portanto, alternativa correta, letra B.
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Questão 3 – Resposta A
Quanto ao momento em que é realizado o controle, ele se
divide em prévio, concomitante e posterior. Quanto ao aspecto
controlado, pode ser de mérito ou de legalidade. Portanto,
alternativa correta, letra A.
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Planejamento e processo de
tomada de decisão
Autora: Ana Cláudia Moreira Miguel Philippini
Objetivos
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1. Planejamento
52
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que competia ao administrador o planejamento e a supervisão das
atividades desempenhadas pelos trabalhadores. Como consequência,
elaborou um conjunto de regras técnicas fundamentadas em princípios
chamados por ele de “administração por tarefa ou científica”. Tratava-se
de uma forma de reformular os métodos de direção para tornar mais
eficaz o poder de comando das chefias nas fábricas. Para Taylor (1989,
p. 115), existia a necessidade de o administrador “passar a maior parte
do seu tempo na seção de planejamento” para uma melhor direção e
organização do trabalho.
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de uma doutrina da Administração. Para Fayol (1960), os princípios da
administração são universais e, como consequência, aplicados a todas
as organizações, seja Estado, seja pequena ou grande empresa. Para
tanto, estabeleceu os seis grupos de atividades em que toda organização
poderia ser subdividida. A primeira é a atividade técnica, relacionada às
transformações e produção de bens. A segunda é a atividade comercial,
que englobava as transações de compra, venda e permuta. A terceira é
a atividade financeira, voltada à captação e ao uso do capital. A quarta
é a atividade de segurança, relacionada à preservação e proteção das
pessoas e dos bens. A quinta é a atividade contábil, voltada ao controle e
registro das despesas organizacionais, tais como investimentos, balanços,
custos e estatísticas. Por fim, a que considerava a principal de todas as
atividades: a atividade administrativa, relacionada à integração de todas
as operações da organização, aquela que coordena e sincroniza todas as
demais atividades e, portanto, que interfere e influencia todas as demais.
54
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De acordo com Chiavenato (2014), a Teoria Clássica da Administração
impactou as cinco primeiras décadas do século XX, porém, por volta
de 1947, os escritos do sociólogo alemão Max Weber provocaram o
surgimento da denominada Teoria da Burocracia na Administração.
Com traços mais voltados para a área da sociologia do que da
administração, a teoria partia da premissa de que a burocracia é a
organização mais apta a conseguir eficiência, por explicar nos mínimos
detalhes como as coisas devem ser feitas.
55
Além da Teoria da Burocracia, outra teoria que se opôs à Teoria Clássica
de Administração foi a Teoria das Relações Humanas, desenvolvida na
década de 1930 e com o objetivo de alterar o foco da administração. Se
a Teoria Clássica enfatizava a organização industrial e possuía orientação
normativa e prescritiva, enquanto a Teoria da Burocracia dava ênfase à
organização burocrática e à orientação descritiva e explicativa, a Teoria
das Relações Humanas passou a focalizar o papel das pessoas e as
relações humanas (CHIAVENATO, 2014).
56
56
conflitos nas organizações. Por outro lado, a Teoria Neoclássica
aproveita todas as contribuições anteriores para se focar em resultados.
Trata-se de melhorar a eficácia das organizações, transformando o
processo administrativo em um meio e não fim (CHIAVENATO, 2014).
57
Em que pese não ter sido estabelecido uma posição única acerca das
funções administrativas, é possível observar que os autores neoclássicos
utilizaram o critério da continuidade para estabelecer os quatro ciclos do
processo administrativo: planejamento, organização, direção e controle.
Portanto, é com o planejamento que se inicia o processo administrativo.
Nesse sentido, ensina Chiavenato (2014, p. 185):
As organizações não operam na base da improvisação. E nem funcionam
ao acaso. Nada é deixado ao sabor dos ventos. Elas requerem
planejamento para todas as suas operações e atividades. Principalmente
quando operam em ambientes dinâmicos, complexos e competitivos.
O planejamento é um importante componente da vida organizacional, por
ser capaz de dar-lhe condições de rumo e continuidade em sua trajetória
rumo ao sucesso. O planejamento constitui a primeira das funções
administrativas, vindo antes da organização, direção e controle. Planejar
significa interpretar a missão organizacional e estabelecer os meios
necessários para seu alcance com o máximo de eficiência e eficácia.
ASSIMILE
Eficiência está relacionada ao modo como determinada
atividade é realizada. Sua ênfase encontra-se nos meios, ou
seja, em fazer corretamente a ação, em cumprir as tarefas
e obrigações, em resolver o problema. Em contrapartida,
eficácia está relacionada ao resultado de uma atividade, é o
fim e não o meio. Consiste em atingir o objetivo proposto.
58
58
Figura 3 – Planejamento como primeira função administrativa
59
planejamento, uma visão estática do planejamento, uma decisão
em que a relação custos versus benefícios deve ser observada.
(Original com negrito)
60
60
ênfase é conservar as práticas atualmente vigentes, de modo a sanar
deficiências e problemas internos. Assim sendo, sua base é tida como
retrospectiva, visto que se aproveita da experiência passada para
projetá-la para o futuro. A filosofia da satisfação é geralmente utilizada
pelas empresas cuja preocupação com a sobrevivência é maior do que
com o crescimento e o desenvolvimento (ACKOFF, 1976).
61
Figura 4 – Etapas do planejamento
Fonte: Chinga11/iStock.com.
62
62
Considerando que a primeira etapa tem a função de identificar os
resultados que a empresa pretende realizar, o segundo passo do
planejamento é verificar a situação atual da empresa em relação aos
objetivos desejados, pois de nada adianta definir o caminho que a
empresa irá seguir se não se sabe onde está e o que precisa ser feito
(CHIAVENATO, 2014).
63
Para Maximiano (2006), o monitoramento consiste no acompanhamento
e na avaliação da estratégia.
64
64
o trabalho, entre outros. As modificações nos sistemas referem-se às
alterações nas responsabilidades estabelecidas, nos níveis de autoridade,
descentralização, procedimentos, entre outros.
ASSIMILE
Eficiência é a medida individual dos componentes por
envolver fazer adequadamente as coisas, enquanto a
eficácia é a medida global do rendimento da empresa por
tratar de fazer as coisas certas. Efetividade, por sua vez,
também é a medida do rendimento global e que consolida
pela manutenção da empresa no mercado e por apresentar
resultados (globais) positivos ao longo do tempo.
65
Em contrapartida, Ackoff (1976) considera que o princípio do
planejamento coordenado está relacionado à visão sistêmica da
organização. Trata-se do fato de que nenhum aspecto da organização
é planejado eficientemente de forma independente dos demais. Assim
sendo, planejamento coordenado nada mais é do que traçar as ações de
forma interdependente.
66
66
as cinco partes do planejamento. A primeira parte é o planejamento
dos fins, referindo-se à especificação do futuro desejado. Trata-se da
especificação da visão, missão, dos propósitos, objetivos, desafios e
metas da organização.
67
de modo a focalizar o futuro e o destino, o planejamento envolve ações
globais de mapeamento ambiental, avaliação das forças e limitação da
organização. Em nível organizacional intermediário, o planejamento
envolve cada departamento da organização, sendo direcionado a médio
prazo. Este nível focaliza o mediato com ações de tradução e interpretação
das decisões traçadas em nível institucional, em planos concretos e ações
departamentais. Em nível operacional, o planejamento envolve todas as
tarefas e atividades, direcionando-se a curto prazo. Trata-se de ações que
focalizam o imediato com o desdobramento dos planos fixados em nível
intermediário de cada departamento em ações específicas.
68
68
Assim, o planejamento tático é o planejamento de médio prazo que
enfatiza as atividades correntes das várias partes ou unidades da
organização. O médio prazo é definido como o período de tempo que se
estende pelo horizonte de um ano. O administrador utiliza o planejamento
tático para delinear o que as várias partes da organização – como
departamentos ou divisões – devem fazer para que a organização alcance
sucesso no decorrer do período de um ano de seu exercício.
Os planos táticos geralmente são desenvolvidos para as áreas de
produção, marketing, pessoal, finanças e contabilidade.
TEORIA EM PRÁTICA
O planejamento é uma das funções administrativas que
deve observar o gestor dentro do processo administrativo
de cada organização. Partindo do princípio que a cada
nível operacional decorre um tipo de planejamento
distinto, reflita sobre as diferenças básicas entre os três
tipos de planejamento: estratégico, tático e operacional,
levando em consideração o prazo, a amplitude, os riscos,
as atividades e a flexibilidade.
69
VERIFICAÇÃO DE LEITURA
1. Assinale corretamente a alternativa que aponta a função
administrativa competente por traçar os objetivos e
definir os recursos e tarefas necessárias dentro do
processo administrativo:
a. Planejamento.
b. Organização.
c. Direção.
d. Controle.
e. Comunicação.
70
70
a. Estratégico, nível organizacional intermediário.
Referências bibliográficas
71
STEINER, G. A. Top management planning. New York: Macmillan, 1969.
TAYLOR, F. W. Princípios de administração científica. 7. ed. São Paulo: Atlas, 1989.
WEBER, M. Ensaios de sociologia. 5. ed. Rio de Janeiro: LTC, 1982.
Gabarito
Questão 1 – Resposta A
O planejamento é a primeira função do processo administrativo,
cujo escopo é definir o objetivo e decidir o caminho que se
pretende seguir. Trata-se do assunto do presente tema.
Questão 2 – Resposta B
O princípio que se refere à hierarquização dos objetivos em busca
de alcançá-los em sua totalidade é o princípio da contribuição aos
objetivos.
Questão 3 – Resposta E
No nível institucional, desenvolve-se o planejamento estratégico;
no nível intermediário, o planejamento tático; e no nível
operacional, o planejamento operacional.
72
72
Planejamento estratégico
e seus precedentes históricos
Autora: Ana Cláudia Moreira Miguel Philippini
Objetivos
73
1. Planejamento e estratégia
Figura 5 – Estratégia
Fonte: carlofornitano/iStock.com.
74
74
A palavra estratégia sempre foi bastante utilizada no decorrer da história
da humanidade. Inicialmente, encontrava-se atrelada à área militar,
dizendo respeito às táticas utilizadas nas batalhas militares. Com o
decorrer dos anos, adquiriu novos contextos e passou a ser empregada
de diferentes formas. Com Péricles, na Grécia Antiga, adquiriu sentido
de habilidade administrativa, passando a ser utilizada para significar
habilidades gerenciais, como, por exemplo, liderança e oratória. Mais
tarde, com Alexandre III, o termo estratégia passou a ser utilizado como
habilidade para vencer um oponente e estabelecer um sistema unificado
de governabilidade geral (MINTZBERG; QUINN, 2001).
75
A segunda tem relação com o fato de ser desenvolvida de forma
consciente e deliberada. Por essa razão, a estratégia é sempre formulada
antes da ação à qual se aplica, visto ser algo intencional e planejado, por
meio da qual se busca atingir os objetivos predeterminados.
76
76
Ao lado da estratégia como plano e da estratégia como padrão,
encontra-se a estratégia como posição. Trata-se de uma maneira de
localizar a organização no seu meio ambiente, ou seja, de definir o local
em que a organização irá concentrar seus recursos para manter ou
melhorar sua posição competitiva, bem como de localizar determinado
produto em certo mercado. Assim, a estratégia como posição busca
estabelecer um posicionamento na área em que atua que lhe permita
se sustentar ou defender sua posição. São exemplos de posicionamento
da organização a empresa que apresenta facilidade tecnológica ou
facilidades legais, ou, ainda, um produto ou serviço diferenciado para
atuação no mercado (MINTZBERG, 2007).
77
a confundir, iludir ou passar uma mensagem falsa (ou não) aos
concorrentes. Trata-se de uma manobra utilizada como um instrumento
para fazer frente à competição entre as organizações. São exemplos
os casos em que a organização finge desordem para depois atacar o
concorrente ou finge ser inferior para que o concorrente crie a ilusão
sobre suas potencialidades (MINTZBERG, 2007).
78
78
Para Maximiano (2006), trata-se do processo de desenvolver a estratégia,
de modo a compreender a tomada de decisão sobre os produtos e
serviços que a organização pretende oferecer, bem como os mercados e
clientes que pretende atingir.
79
Da terceira característica decorre a quarta: o planejamento estratégico
é um processo de construção de consenso. Considerando a diversidade
dos interesses e necessidades dos envolvidos, o planejamento deve
buscar uma forma de atender a todos (CHIAVENATO, 2014).
80
80
O sentido etimológico da palavra estratégia deriva do grego antigo
στατηγια, que significa “qualidade e habilidade do general” (SERRA;
TORRES; TORRES, 2014). Por essa razão, o conceito militar de estratégia
influenciou fortemente os estudos de estratégia.
No século XX, tem início a produção em massa com Ford (1954), instituindo
uma nova forma de organização da produção baseada na simplificação dos
processos de produção com a padronização das condutas.
81
e mercados em que a empresa competiria e as políticas-chaves que
definiam como ela competiria. A estratégia não era necessariamente
uma decisão única ou uma ação primordial, mas uma coleção de
decisões relacionadas, reforçadoras e de alocação de recursos e ações de
implementação. (Tradução da autora)1
1
Texto original: “A new metaphor was introduced in the 1960s, that of ‘strategy’. Strategy was seen as more
than just coordination or integration of functions — it embodied the joint selection of the product-market are-
nas in which the firm would compete, and the key policies defining how it would compete. Strategy was not
necessarily a single decision or a primal action, but was a collection of related, reinforcing, resource-allocating
decisions and implementing actions.”
82
82
Os novos modelos de gestão surgidos nos anos 1980, por exemplo,
a administração por objetivos, a produção enxuta, as organizações
virtuais, entre outros, fizeram com que o planejamento estratégico
entrasse em declínio. De acordo com Montgomery e Porter (1998), a
década de 1990 caracterizou-se pelo caos conceitual do planejamento
estratégico. Os novos modelos de gestão fizeram com que as
organizações deixassem de lado as análises mais aprofundadas para
que o objetivo fosse atingido em longo prazo.
ASSIMILE
Planejamento estratégico não se confunde com
administração estratégica. O planejamento é um
processo, um meio para gerar as estratégias da
organização e desdobrá-las em ações para o seu alcance.
A administração estratégica é a administração do futuro,
é a atuação interativa da organização devido aos fatores
ambientais em constante mutação.
83
A administração estratégica tem como objetivo conservar os benefícios
propiciados pelo planejamento estratégico e ao mesmo tempo combater
suas imperfeições. De acordo com Mintzberg, Ahlstrand e Lampel
(2000, p. 24):
84
84
1.2 Processo de planejamento estratégico
Fonte: mangpor_2004/iStock.com.
85
Considerando o grande número de metodologias, o processo de
planejamento estratégico será sintetizado em cinco metodologias
propostas por autores da área de estratégia empresarial: Oliveira
(2012), Fischmann e Almeida (1991), Certo et al. (2010), Bethlem (1998) e
Thompson Jr. e Strickland III (2000).
Com relação às cinco etapas trazidas por Oliveira (2012), a primeira busca
a formulação das estratégias empresariais. Ela envolve um alto nível de
criatividade por parte dos administradores e é voltada para três aspectos:
a empresa, o ambiente e a integração entre a empresa e o ambiente.
A segunda etapa tem como base a análise ambiental e os objetivos
da organização e diz respeito à formulação e escolha de estratégias
empresariais alternativas. Na terceira etapa, é realizada a seleção das
estratégias empresariais a serem implementadas. Na quarta etapa, ocorre
a implementação das estratégias empresariais escolhidas, e na quinta, o
controle e a avaliação das estratégias empresariais implementadas.
86
86
Dentro dessa metodologia apresentada por Fischmann e Almeida
(1991), o primeiro estágio configura o próprio planejamento estratégico
e é composto por cinco etapas. A primeira etapa do processo de
planejamento é a análise do ambiente organizacional. Essa análise pode
ser interna ou externa. Internamente, são verificados os pontos fortes
da organização (suas potencialidades), bem como os pontos fracos
(suas vulnerabilidades). Externamente, são analisadas as oportunidades
e ameaças ambientais que, de alguma forma, favorecerão ou
dificultarão o processo. Como o processo não é estático no tempo, os
autores ressaltam a necessidade de considerar a perspectiva temporal
dos diagnósticos. A segunda etapa do processo é a definição dos
objetivos e metas que irão balizar os resultados. A terceira refere-se à
formulação de estratégias alternativas que melhor se enquadrem no
contexto organizacional. Na quarta etapa, são estabelecidos os critérios,
de forma homogênea e mensurável, que deverão ser aplicados às
alternativas estratégicas, como, por exemplo, os efeitos sobre a
imagem da organização e a redução de sazonabilidade. A última etapa
do primeiro estágio é a seleção de estratégia. Nela são escolhidas as
estratégias que deverão ser operacionalizadas, em conformidade com
os critérios estabelecidos.
87
Outra metodologia que se destaca é a proposta por Certo (2010). Para o
autor, o processo de planejamento estratégico consiste em uma série de
fases cíclicas e contínuas, com o escopo de assegurar que a organização,
como um todo, integre-se ao seu ambiente. Segundo essa metodologia,
são cinco as etapas que compõem o processo. A primeira consiste na
análise do ambiente organizacional com vistas a identificar os riscos e
as oportunidades, quer presentes quer futuras. Essa análise engloba
três níveis distintos do ambiente: o ambiente geral, que se refere aos
componentes de amplo escopo, como o econômico, o social, o político, o
tecnológico e o legal; o ambiente operacional, que diz respeito ao nível do
ambiente externo à empresa; e o ambiente interno, ou seja, o ambiente
que está dentro da organização, como o aspecto pessoal, de marketing,
de produção e financeiros. A segunda etapa do processo consiste no
estabelecimento das diretrizes organizacionais. Ela subdivide-se em três:
reflexão dos resultados da análise do ambiente, estabelecimento da
missão da organização e estabelecimento dos objetivos organizacionais.
Na terceira etapa, busca-se a formulação da estratégia de acordo com
os dados obtidos pela análise do ambiente, para levantamento e estudo
de questões críticas, dos pontos fortes e dos pontos fracos, bem como
das oportunidades e dos riscos. A quarta etapa é a implementação da
estratégia, e a quinta e última etapa se refere ao controle estratégico, ou
seja, em fazer com que a estratégia se desenvolva da maneira planejada.
De modo geral, esse controle é realizado por meio da medição do
desempenho da organização, da comparação do resultado atual com os
objetivos traçados e da tomada de atitudes.
88
88
exercício é a elaboração do plano estratégico inicial para a organização.
Esse plano deve definir a organização no momento em que o plano é
estabelecido e onde ela quer estar em momento futuro. Por fim, o terceiro
exercício proposto por Bethlem (1998) consiste na execução e implantação
das atividades práticas e concretas.
TEORIA EM PRÁTICA
O planejamento estratégico deve ser compreendido como
um processo que serve para orientar a gestão estratégica
das organizações e a tomada de decisão dos seus gestores.
Considerando as diversas metodologias do processo de
planejamento estratégico apresentadas no presente tema,
na qualidade de gestor, analise qual delas melhor se adéqua
às suas características ou apresente outra metodologia.
89
VERIFICAÇÃO DE LEITURA
1. Assinale a alternativa que completa corretamente a
frase À estipulação desse trajeto para se alcançar o
resultado pretendido dá-se o nome de :
a. Planejamento.
b. Organização.
c. Direção.
d. Controle.
e. Estratégia.
90
90
a. No início do século XX.
b. Na década de 1950.
c. Na década de 1960.
d. Na década de 1970.
e. Na década de 1980.
Referências bibliográficas
91
MINTZBERG, H.; QUINN, J. B. O processo da estratégia. 3. ed. Porto Alegre:
Bookman, 2001.
MINTZBERG, H. et al. O processo da estratégia: conceitos, contextos e casos
selecionados. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2007.
MONTGOMERY, C. A.; PORTER, M. E. Estratégia: a busca da vantagem competitiva.
Rio de Janeiro: Campus, 1998.
OLIVEIRA, D. P. R. de. Planejamento estratégico: conceitos, metodologia, práticas.
30. ed. São Paulo: Atlas, 2012.
RUMELT, R. P.; SCHENDEL, D.; TEECE, D. J. Strategic management and economics.
Strategic Management Journal. New York, p. 5-29. dez. 1991. Disponível em:
https://www.academia.edu/28437566/Strategic_management_and_economics.
Acesso em: 5 out. 2019.
SERRA, F.; TORRES, M. C.; TORRES, A. P. Administração estratégica: conceitos,
roteiro prático, casos. Rio de Janeiro: Reichmann e autores, 2014.
THOMPSON JR., A. A.; STRICKLAND III, A. J. Planejamento estratégico: elaboração,
implementação e execução. São Paulo: Pioneira, 2000.
TZU, S. A arte da guerra. São Paulo: L&PM Pocket, 2011.
Gabarito
Questão 1 – Resposta E
Questão 2 – Resposta B
Questão 3 – Resposta D
92
92
Planejamento estratégico
no setor público
Autora: Ana Cláudia Moreira Miguel Philippini
Objetivos
93
1. Planejamento estratégico e
administração pública
94
94
dois contextos totalmente diferentes: nas economias socialistas e nas
economias capitalistas. Para as economias socialistas, foi adotado um
modelo centralizado de planejamento, enquanto as economias capitalistas
adotaram um modelo de Estado menos liberal e mais interventor.
95
Esse movimento foi denominado internacionalmente de New Public
Management1 (NPM) e teve como objetivo adaptar e transferir os
conhecimentos gerenciais desenvolvidos pelas organizações privadas
para as organizações públicas.
Fonte: Astockphoto/iStock.com.
1
Em português: Nova Gestão Pública
96
96
Pereira (2002) ensina que o movimento New Public Management
foi uma resposta ao fenômeno da globalização, haja vista que a
competição capitalista havia atingindo o contexto global. Nesse
ambiente globalizado, surge um cenário de crescentes incertezas devido
às oscilações de mercado, às mudanças no ambiente, à promoção
da democracia participativa e à diversificação das demandas e lutas
sociais. Aliado a isso, há o acirramento da concorrência e a instabilidade
econômica que impuseram à Administração a necessidade de
implementar a capacidade de gestão estratégica.
ASSIMILE
O movimento New Public Management (NPM) não se
confunde com o movimento de governança. O NPM teve
como escopo fazer com que a Administração operasse
como uma empresa privada. Governança, por sua vez, é
uma contrapartida ao conceito tradicional de Administração
Pública e se refere ao movimento que relaciona Governo,
sociedade civil e setor privado e do qual ocasionou a
reforma da Administração Pública na década de 1990.
97
• Mudança de postura: a Administração Pública passa a ser vista
como provedora do serviço público e os cidadãos como clientes.
98
98
não apenas a aplicação de técnicas de gestão de forma eficiente, mas
por exigir que os tomadores de decisões entendam os problemas
que permeiam o cotidiano da organização. Assim sendo, torna-se
imprescindível traçar as diferenças entre o planejamento no setor
público e no setor privado.
Fonte: ogichobanov/iStock.com.
99
De acordo com Ansoff e Macdowell (1993), o planejamento
desenvolvido no setor privado corresponde às regras e diretrizes que
orientam a decisão do processo de desenvolvimento da organização.
Trata-se do processo empregado para definir e traçar os objetivos
organizacionais. Esse planejamento é também conhecido como
planejamento corporativo.
100
100
Consequentemente, o processo de planejamento no setor público é
regido por trâmites legais e conduzido por agentes governamentais,
ao passo que o processo de planejamento no setor privado tem a
metodologia escolhida pela própria organização.
101
Boyner (2002) complementa traçando outras diferenças. Para o autor, a
prestação de contas (accountability) no setor privado não é de interesse
público e não se sujeita a influência política. Além disso, no setor
privado, os administradores possuem objetivos claramente definidos
e voltados a maximizar a receita, já no setor público, tais objetivos são
menos tangíveis, podendo ser, inclusive, conflitantes. Afirma, ainda,
que como as organizações públicas tendem a ter o monopólio da
atividade desempenhada, a ausência de competitividade restringe o
incentivo a buscar eficiência. Destaca que as organizações públicas
sofrem influências internas e externas, além de serem mais burocráticas
que as privadas. Por fim, destaca que os gestores públicos são menos
inclinados a melhorarem seus desempenhos por não estarem sujeitos
às recompensas materiais.
102
102
Por outro lado, Motta (1979) destaca o ambiente competitivo das
organizações privadas, fundamentada em constante conquista e
manutenção do mercado, como diferencial da organização pública,
que tem como estratégia a necessidade de ampliação do seu escopo
de atuação para concretização dos objetivos sociais propostos. Para o
autor, a sobrevivência da empresa encontra-se diretamente relacionada
à capacidade de análise discricionária das oportunidades e ameaças
por parte do gestor, enquanto no setor público, por serem os recursos
oriundos da arrecadação e do repasse de impostos, a capacidade
de análise de ambiente por parte dos gestores não influencia na
sobrevivência da organização.
103
Com isso, a partir da década de 1970, o planejamento estratégico
passou a ser adotado no setor privado e, na década de 1980, começou
a ser adotado no setor público em razão das mudanças nas tendências
políticas, alterações demográficas, demanda por novos padrões
urbanos, inovações tecnológicas e fatores econômicos.
104
104
Como resultado dos ideais de industrialização e de modernização,
aliado às novas demandas de melhor organização dos recursos, foi
instituído no Brasil o Plano Especial de Obras Públicas e Aparelhamento
da Defesa Nacional, por meio do Decreto nº 1.058, de 19 de janeiro
de 1939. Trata-se do marco inicial do planejamento no Brasil, por ter
sido a primeira tentativa de se alocarem recursos com o escopo de
atingimento de fins específicos. O objetivo do plano era criar indústrias
de base, executar obras públicas e prover o aparelhamento da defesa
nacional nos cinco anos seguintes à edição do plano (BRASIL, 1939).
105
transporte e energia. Além disso, o plano inseriu uma formulação
indicativa para o setor privado, com linhas especiais de crédito, de modo
a criar o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico2 (BRASIL, 1950).
106
106
A LDO, por sua vez, é o instrumento que define as metas e prio¬ridades
da Administração Pública municipal. É a LDO que orienta a elaboração
da LOA, que dispõe sobre as alterações na legislação tributária no
município, sobre a política de pessoal e encargos sociais, bem como
estabelece a política de aplicação das agências financeiras oficiais de
fomento (ANDRADE et al., 2005).
TEORIA EM PRÁTICA
O planejamento estratégico no setor público é uma
atividade complexa, que demanda a análise de diversos
fatores. O primeiro passo do gestor no processo de
planejamento governamental é traçar as prioridades em
conformidade com os anseios da população. Com base
nesse ponto, reflita: como estabelecer planos adequados
para atendar às mais variadas reivindicações da população?
VERIFICAÇÃO DE LEITURA
1. O planejamento estratégico foi elaborado para ser
aplicado no setor , haja vista que, no setor
, o modelo era um óbice à sua
implementação.
107
Assinale a alternativa que contenha os termos corretos
para as lacunas:
c. Plano Salte.
108
108
Referências bibliográficas
109
GIACOBBO, M. O desafio da implementação do planejamento estratégico nas
organizações públicas. Revista do Tribunal de Contas da União, Brasília, v. 28,
n. 74, 1997.
GIACOMONI, J.; PAGNUSSAT, J. L. (Org.) Planejamento e orçamento
governamental. Brasília: ENAP, 2006.
KETTEL, D. F. The Global Public Management Revolution. Washington:
Brookings, 2000.
LOPES, C. T. G. Planejamento, Estado e crescimento. São Paulo: Livraria
Pioneira,1990.
MINTZBERG, H. et al. O processo da estratégia: conceitos, contextos e casos
selecionados. 4. ed. Porto Alegre: Artmed, 2007.
MOTTA, P. R. Planejamento estratégico em organizações sem fins lucrativos:
considerações sobre dificuldades gerenciais. Revista de Administração Pública,
Rio de Janeiro, n. 13, p. 7-21, 1979.
NUTT, P. C. Comparing public and private sector decision-making practices.
Oxônia: Oxford University Press, 2005.
PEREIRA, L. C. B. Uma resposta estratégica aos desafios do capitalismo global
e da democracia. In: Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão. 2002,
Brasília: Seminário Balanço da Reforma do Estado no Brasil: A Nova Gestão
Pública,de 06 a 08 de agosto de 2002, p. 29-35. Disponível em: http://www.
bresserpereira.org.br/papers/2002/02.Desafios_do_capitalismo_Global.pdf.
Acesso em 10 out. 2019.
POISTER, T. H.; STREIB, G. D. Elements of strategic planning and management in
municipal government: status after two decades. Public Administration Review, n.
65, p. 45-56, 2005.
TROTTMANN, P.; CORRÊA, V. Planejamento estratégico orientado ao setor
público. São Paulo: Editora Senac, 2019.
Gabarito
Questão 1 – Resposta B
110
110
Questão 2 – Resposta D
As alternativas A, B, C e E referem-se ao planejamento desenvolvido
no setor privado. Só a alternativa D refere-se ao planejamento do
setor público.
Questão 3 – Resposta A
O Plano Especial de Obras Públicas e Aparelhamento da Defesa
Nacional, instituído pelo Decreto nº 1.058, de 19 de janeiro de
1939, é considerado o marco do planejamento no Brasil, por ter
sido a primeira tentativa de se alocarem recursos com o escopo
de atingimento de fins específicos. Todos os demais planos são de
períodos posteriores. Portanto, alternativa correta, letra A.
111
Reforma administrativa e
gestão pública
Autora: Ana Cláudia Moreira Miguel Philippini
Objetivos
112
112
1. Modelos de administração pública
As transformações ocorridas a partir da segunda metade do século XX
foram determinantes não só para se alterar o modo de administrar mas
também para modificar o modelo de Administração Pública vigente.
ASSIMILE
Políticas de governo não se confundem com políticas de
Estado. Enquanto as políticas de governo se referem aos
objetivos traçados nos planos de governo, as políticas
113
de Estado são estabelecidas por lei, caracterizando um
processo mais estável por envolver Poderes Legislativo e
Executivo (LOURENÇO, 2016).
114
114
Observa-se, portanto, no modelo de Administração Pública
patrimonialista, além da confusão patrimonial, o favorecimento de
determinadas pessoas em detrimento do interesse da sociedade.
Tratava-se do modelo de gestão empregado no período pré-capitalismo,
em que o soberano exercia o domínio sobre todos os bens (públicos e
particulares) e não necessitava prestar contas à sociedade.
115
PARA SABER MAIS
Osborne e Gaebler (1992, p. 13) conceituam o termo
burocracia como “método de organização racional e
eficiente, para substituir o exercício arbitrário do poder
pelos regimes autoritários” (tradução da autora1).
1
Texto original: “connected a rational, efficient method of organization something to take the place of the ar-
bitrary exercise of power by authoritarian regimes”.
116
116
Constituem princípios orientadores do seu desenvolvimento a
profissionalização, a ideia de carreira, a hierarquia funcional, a
impessoalidade, o formalismo, em síntese, o poder racional-legal.
Os controles administrativos visando evitar corrupção e o nepotismo são
sempre a priori. Parte-se de uma desconfiança prévia nos administradores
públicos e nos cidadãos que a eles dirigem demandas. Por isso são
sempre necessários controles rígidos dos processos, como por exemplo
na admissão de pessoal, nas compras e no atendimento a demandas.
Por outro lado, o controle – a garantia do poder do Estado – transforma-se
na própria razão de ser do funcionário. Em consequência, o Estado volta-
se para si mesmo, perdendo a noção de sua missão básica, que é servir à
sociedade. A qualidade fundamental da administração pública burocrática
é a efetividade no controle dos abusos; seu defeito, a ineficiência, a auto-
referência, a incapacidade de voltar-se para o serviço aos cidadãos vistos
como clientes. Este defeito, entretanto, não se revelou determinante na
época do surgimento da administração pública burocrática porque os
serviços do Estado eram muito reduzidos. O Estado limitava-se a manter a
ordem e administrar a justiça, a garantir os contratos e a propriedade.
• A profissionalização.
• A ideia de carreira.
• A hierarquia funcional.
• A função orçamentária.
117
• O acesso ao serviço público por mérito.
• O poder racional-legal.
118
118
seus déficits. O terceiro fator decorreu da ingovernabilidade, uma vez
que os Estados não conseguiam resolver os problemas sociais que
apresentavam. O quarto e último fator foi a globalização, que introduziu
uma nova lógica ao setor produtivo.
119
total; (5) controle por resultados, a posteriori, ao invés do controle rígido,
passo a passo, dos processos administrativos; e (6) administração voltada
para o atendimento do cidadão, ao invés de auto-referida.
120
120
à participação social, bem como a priorização das dimensões estruturais
da gestão em detrimento das sociais e políticas geraram descompassos
entre o discurso gerencial e a prática, em especial, em relação à
participação popular e o controle social democrático.
Fonte: Drypsiak/iStock.com.
121
O modelo de Administração Pública patrimonialista vigorou no Brasil do
período colonial até a década de 1930. Nesse período, a Administração
era utilizada como uma espécie de fonte de privilégios pessoais.
Segundo Souza (1994), o serviço público era uma das principais bases
da oligarquia rural. Seu controle proporcionava a distribuição de cargos
de acordo com os interesses políticos e, ao mesmo tempo, o domínio
eleitoral para a elite que os controlava.
122
122
Como resultado das comissões adveio a primeira reforma administrativa
de pessoal do Brasil com a edição da Lei nº 284, de 28 de outubro de
1936, que reajustou os quadros e os vencimentos do funcionalismo
público civil da União e criou o Conselho Federal do Serviço Público
(CFSPC) (BRASIL, 1936).
123
A Constituição de 1967 trouxe uma parte referente ao Orçamento e à
Fiscalização financeira e orçamentária. Segundo o texto constitucional, o
controle externo das contas do Presidente da República, o desempenho
das funções de auditoria financeira e orçamentária, e o julgamento das
contas dos administradores e demais responsáveis por bens e valores
públicos competia ao Congresso Nacional, com o auxílio do Tribunal
de Contas, enquanto o controle interno caberia ao Poder Executivo
(BRASIL, 1967).
ASSIMILE
124
124
Segundo o Plano Diretor da Reforma do Aparelhamento do Estado
(1995, p. 19):
125
É fato que a redemocratização do Estado brasileiro por meio da
Constituição Federal de 1988 representou uma retomada ao modelo
burocrático, com a adoção de regras burocráticas rígidas, como, por
exemplo, com as regras estabelecidas no art. 37 (BRASIL, 1988).
126
126
O grau de profundidade das alterações fica evidente a partir da simples
leitura de seu conteúdo. Em sua Exposição de Motivos, justifica-as o
Ministro da Administração Federal a partir da crise do aparelho do
Estado, cuja capacidade administrativa se deteriorou ao mesmo tempo
em que prevalecia um “enfoque equivocado que levou ao desmonte do
aparelho estadual e ao desprestígio de sua burocracia”. Assim, a reforma
estaria justificada por ser um “componente indissociável do conjunto
de mudanças” necessárias à reestruturação do Estado e redefinição
do seu papel e forma de atuação. A reforma seria capaz, então, de
promover o “revigoramento da capacidade de gestão, de formulação e de
implementação de políticas nos aparatos estatais”, necessário à retomada
do desenvolvimento e do atendimento das demandas da cidadania
por um serviço público melhor, assim como para a superação da crise
do Estado. A revisão de dispositivos constitucionais e demais medidas
estariam direcionadas para o “delineamento de condições propícias à
implantação de novos formatos organizacionais e institucionais, à revisão
de rotinas e procedimentos e à substituição dos controles formais pela
avaliação permanente de resultados”.
Toda a base para a reforma foi desenvolvida por meio do Plano Diretor
da Reforma do Aparelhamento do Estado, inspirado em reformas
realizadas em outros países, em especial, a do Reino Unido, baseada
na New Public Management. De acordo com Bresser-Pereira (1997),
a proposta parte de quatro setores dentro do Estado. O primeiro
é o núcleo estratégico do Estado, no qual são definidas as leis e
políticas públicas. Trata-se de um pequeno setor formado, em âmbito
federal, pelo Presidente da República e seus ministros de Estado e
cúpula dos ministérios, responsáveis pelas políticas públicas, pelos
Tribunais Federais, sob o comando do Supremo Tribunal Federal,
e pelo Ministério Público. Já em âmbito estadual e municipal, pelos
chefes do Poder Executivo e seus auxiliares e pelos membros do Poder
Judiciário, correspondente ao núcleo estratégico federal. O segundo
são as atividades exclusivas de Estado, ou seja, aquelas em que se
exerce o poder de Estado. Refere-se ao poder de legislar e tributar, à
127
segurança pública, às Forças Armadas, aos órgãos de fiscalização e de
regulamentação e aos órgãos responsáveis pelas transferências de
recursos, como, por exemplo, o Sistema Único de Saúde. O terceiro
engloba os serviços não exclusivos ou competitivos, que são aqueles
realizados ou subsidiados pelo Estado, embora não envolvam poder
de Estado. Trata-se de atividades consideradas pelo Estado como
relevantes porque envolvem economias externas, de modo a não ser
adequadamente recompensados no mercado por meio da cobrança dos
serviços. Por fim, o quarto diz respeito à produção de bens e serviços
para o mercado, envolvendo as atividades realizadas pelo Estado por
intermédio das empresas de economia mista.
128
128
TEORIA EM PRÁTICA
O modelo de Administração Pública patrimonialista,
burocrática e gerencial, de certo ponto, coexistem no
atual sistema existente no Estado brasileiro apesar de
todo o processo de transição. Com base nisso, reflita: é
possível implementar totalmente um modelo gerencial de
Administração Pública no Brasil?
VERIFICAÇÃO DE LEITURA
a. Patrimonialista; rígidos.
b. Burocrático; flexíveis.
c. Gerencial; rígidos.
d. Burocrático; rígidos.
e. Gerencial; flexível.
129
a. Crise na saúde.
c. Crise fiscal.
e. Crise demográfica.
Referências bibliográficas
130
130
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Gabarito
Questão 1 – Resposta D
Questão 2 – Resposta C
132
132
Questão 3 – Resposta B
As alternativas A e E referem-se à primeira reforma administrativa
ocorrida na década de 1930. As alternativas C e D referem-se à
terceira reforma administrativa. Portanto, somente a alternativa B
tem relação com a reforma ocorrida na década de 1960. Portanto,
alternativa correta, letra B.
133
Planejamento estratégico na
gestão pública
Autora: Ana Cláudia Moreira Miguel Philippini
Objetivos
134
134
1. Gestão pública
Figura 10 – Gestão
Fonte: NicoElNino/iStock.com.
135
Inicialmente, faz-se necessário traçar o paralelo entre os conceitos de
administração e gestão. De acordo com Maximiano e Nohara (2017), a
palavra administração deriva do latim administrativo, administrationis,
que significa cuidar, assistir, gerir, dirigir e ajudar. Nesse sentido,
“administrador tem a mesma raiz e significa aquele que administra.
Também: rerum curatio – cuidar ou tomar conta das coisas, dos recursos,
do patrimônio” (MAXIMIANO; NOHARA, 2017, p. 4).
136
136
Com isso, o conceito entre administrar o público e o privado muda
de cenário: Administração Pública é mais amplo, por abranger tanto
o conjunto de órgãos para a consecução dos objetivos do Governo
como o conjunto das funções desempenhadas por esses órgãos
(MEIRELLES, 1998).
137
Chiavenato (2014) ensina que o gestor atua em um determinado nível
da administração. Conforme o autor, enquanto o administrador atua
no nível operacional, quer como supervisor, quer como gerente, quer
como diretor ou presidente de uma organização, assumindo, assim,
responsabilidades e exercendo atividades diferentes, não em termo de
natureza, mas de intensidade, o gestor atua no nível intermediário ou
tático, de modo a proceder à articulação interna da organização, dos
recursos básicos e das competências funcionais.
É fato que a gestão tem como escopo gerenciar pessoas, processos e/ou
recursos, tendo em vista as políticas administrativas e organizacionais
da empresa. Além disso, a gestão pode ser pública ou privada. Bresser-
Pereira (1997) ensina que a função gerencial foi desenvolvida para
as empresas privadas, de modo que sua introdução no setor público
não pode ser a simples importação dos métodos empresariais. Para o
autor, é preciso garantir a devida adequação com o sistema público.
Por conseguinte, pode-se conceituar gestão pública como o meio de se
utilizar na administração do setor público práticas desenvolvidas para o
setor privado, mesmo que com adaptações.
138
138
Riani (2018) observa, no entanto, que foi a partir do revés que o Estado
brasileiro sofreu nas décadas de 1980 e, principalmente, 1990, em que
o Estado do bem-estar social foi substituído pelo paradigma neoliberal,
é que se desenvolveu o que se denomina de gestão pública. Nesse
período, formou-se o pensamento em torno da ideia de diminuição
da atuação estatal direta e, como consequência, as novas funções do
Estado passaram a estar restritas à gestão e à regulação, abrindo-se,
assim, um grande espaço para a atuação privada.
139
No entanto, pondera Riani (2018) que o movimento de enxugamento
do Estado, e consequente alargamento da esfera privada, engendrou
mudanças significativas no regime jurídico da Administração Pública.
Aponta, inclusive, a crise do princípio da legalidade e o processo de
deslegalização, de modo a colocar em dúvida a supremacia do interesse
público primário sobre interesses pessoais, particulares.
140
140
práticas de gestão até então restritas ao setor privado e da revisão
da forma de atuação do Governo. Para tanto, o Estado, no lugar de se
incumbir diretamente de todos os serviços públicos, deveria delegar a
execução de alguns desses serviços a entidades não estatais, passando a
atuar como regulamentador e fiscalizador por meio de suas agências.
ASSIMILE
A consequência dessa concepção foi o repasse da
responsabilidade de prestação de serviços públicos a
entidades privadas, com crescimento significativo nas
últimas duas décadas de organizações não governamentais
no Brasil (FERREIRA, 2018).
141
consegue comprovar, por exemplo, do pressuposto de que a gestão
empresarial é superior à gestão pública e de que o papel dos cidadãos pode
se reduzir ao de mero consumidor. Não fosse só, se por um lado defende
a descentralização e o desaparecimento de escalões intermediários,
por outro, destaca a necessidade do controle financeiro e coordenação
orçamental, o que, por si só, é capaz de gerar incoerências e contradições
no processo de decisão e implementação de políticas públicas.
Fonte: z_wey/iStock.com.
142
142
Conforme mencionado, é preciso adequar os métodos empresariais ao
setor público para garantir a devida adequação com o sistema (BRESSER-
PEREIRA, 1997). Nesse sentido, faz-se necessário compreender os
instrumentos de planejamento público existentes no Estado brasileiro.
143
período de quatro anos. Essas exigências visam, sobretudo, garantir o
bom funcionamento da máquina pública, ao alinhar as ações a partir de
uma estratégia baseada no que deve ser feito e em quanto tempo isso
ocorrerá. O alinhamento dos objetivos e o recorte temporal possuem um
propósito e visam, justamente, estabelecer uma melhor harmonia entre
todo o ciclo de políticas públicas.
144
144
De acordo com David e Ramires (2018), a Lei de Diretrizes Orçamentárias
(LDO) compreende as metas e as prioridades da Administração Pública,
de modo a orientar a elaboração da Lei Orçamentária Anual (LOA).
Seu principal objetivo é a compatibilização orçamentária anual com o
planejamento de médio prazo definido no PPA, com vistas a orientar a
elaboração da LOA.
145
Trottmann e Corrêa (2019) acrescentam, ainda, que compete à LOA
realizar o planejamento de alocação de recursos, tendo como base
aquilo que o Governo espera arrecadar por meio dos tributos, para que
haja um equilíbrio entre as receitas e as despesas.
146
146
metas de resultados entre receitas e despesas e a obediência a limites e
condições no que tange a renúncia de receita, geração de despesas com
pessoal, da seguridade social e outras, dívidas consolidada e mobiliária,
operações de crédito, inclusive por antecipação de receita, concessão de
garantia e inscrição em Restos a Pagar. (Original sem grifo)
147
De acordo com Matus (1996), a complexidade dos problemas reais
conduz a falhas do planejamento tradicional. Para tanto, o PES considera
uma estratégia situacional, de modo que o planejamento possa ser
adaptado ou reformulado conforme as variáveis das situações.
148
148
mudança para uma situação esperada. No segundo vértice encontra-se a
capacidade de governo, que é determinada pela competência técnica e
pelos recursos financeiros. Ela envolve a aptidão de conduzir, manobrar
e superar as dificuldades da mudança proposta. O terceiro e último
vértice é a governabilidade do sistema, que consiste na relação entre
as variáveis controladas ou não. Refere-se ao potencial de articulação
com os agentes envolvidos, quer no âmbito interno, quer no externo.
149
O segundo é o momento normativo: nele se estabelece o que deve ser
e são definidas as operações que, em diferentes cenários, levariam a
mudança da situação inicial à situação ideal. Trata-se de analisar o que
aconteceria com o plano se as condições fossem as ideais (LACERDA;
BOTELHO; COLUSSI, 2019).
TEORIA EM PRÁTICA
Entender o planejamento estratégico na gestão pública
leva a compreender o porquê de determinados projetos
de governo não atingirem o sucesso desejado, mesmo
que com estratégia, objetivos e metas bem definidos.
Considerando o Triângulo de Governo, reflita sobre a
150
150
seguinte situação hipotética: Tício foi eleito presidente com
ampla maioria de votos. Ele possuía um plano de governo
com estratégia bem definida e, por ter o apoio da maioria
do Congresso Nacional, tinha a governabilidade assegurada.
No entanto, no decorrer de sua gestão, seu projeto foi um
fracasso. Como isso foi possível?
VERIFICAÇÃO DE LEITURA
a. Burocrático; público.
b. Gerencial; privada.
c. Burocrático; privada.
d. Gerencial; público.
e. Patrimonialista; privada.
151
a. Plano Plurianual.
d. Plano Diretor.
e. Plano de Ensino.
a. Um.
b. Dois.
c. Três.
d. Quatro.
e. Cinco.
Referências bibliográficas
152
152
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Gabarito
Questão 1 – Resposta C
A APG é uma opção ao modelo burocrático de gestão pública,
que tem como objetivo dar agilidade e eficiência ao Estado, por
incorporar ao setor público práticas de gestão até então restritas ao
setor privado. Portanto, alternativa correta C.
Questão 2 – Resposta A
É o Plano Plurianual que estabelece as diretrizes, os objetivos e
as metas da Administração Pública para as despesas de capital
e outras dela decorrentes e para as relativas aos programas de
duração continuada, tendo como prazo quatro anos. Portanto,
alternativa correta é a A.
Questão 3 – Resposta D
O PES é estruturado em quatro momentos: momento explicativo,
momento normativo, momento estratégico e momento tático
operacional. Portanto, a alternativa C está correta.
154
154
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