Você está na página 1de 72

Sumário

Capa......................................................................................................................................................................................1
Sumário........................................................................................................................................................................... 2

1. Sexualidade humana: educação para a castidade - por: Meyr Andrade......................................................................5


2. Sexualidade, forte expressão do amor de Deus...........................................................................................................7
2.1. Homem e mulher se complementam....................................................................................................................7
2.2. Sexualidade e Genitalidade..................................................................................................................................8
3. O mistério da sexualidade humana - por: Revista Shalom Maná................................................................................9
4. Sexualidade e afetividade na vida presbiteral «aspectos»............................................................................................12
4.1. Introdução............................................................................................................................................................12
4.2. Delimitando o campo e fazendo algumas pontualizações....................................................................................12
4.2.1. Importa proclamar o evangelho da sexualidade e da afetividade.................................................................12
4.2.2. Sexualidade e afetividade: condutos privilegiados para o amor...................................................................13
4.2.3. Similaridade e diferenças.............................................................................................................................13
4.3. Sinalizando áreas que requerem maior atenção..................................................................................................13
4.3.1. O choque de fatos escandalosos.................................................................................................................14
4.3.2. O que se esconde, mas pode nos comprometer..........................................................................................14
4.3.3. Algumas manifestações mais subtis de problemas sexuais e afetivos.........................................................15
4.4. Sugerindo algumas pistas....................................................................................................................................15
4.4.1. Atenção ao contexto....................................................................................................................................15
4.4.2. Mística, ascese e estudo: três âncoras para a realização............................................................................16
4.4.3. Algumas conclusões....................................................................................................................................17
5. Sexualidade, significado cristão...................................................................................................................................17
5.1. Significado............................................................................................................................................................17
5.2. Situação Atual......................................................................................................................................................18
5.3. Visão Cristã..........................................................................................................................................................19
6. Sexualidade e Matrimônio............................................................................................................................................21
6.1. Explicando Melhor................................................................................................................................................21
6.2. Causas do genitalismo:........................................................................................................................................22
6.3. Com o genitalismo se comete pecados graves contra.........................................................................................22
6.3.1. O PRIMEIRO MANDAMENTO....................................................................................................................22
6.3.2. A CASTIDADE.............................................................................................................................................22
6.4. Ofensas contra a castidade..................................................................................................................................22
6.4.1. LUXÚRIA.....................................................................................................................................................22
6.4.2. MASTURBAÇÃO.........................................................................................................................................23
6.4.3. FORNICAÇÃO.............................................................................................................................................23

2
6.4.4. PORNOGRAFIA..........................................................................................................................................23
6.4.5. PROSTITUIÇÃO..........................................................................................................................................23
6.4.6. ESTUPRO...................................................................................................................................................23
6.4.7. HOMOSEXUALISMO..................................................................................................................................23
7. Deus tem um plano para sua sexualidade...................................................................................................................24
7.1. A sexualidade concorda com o plano de Deus quando respeita seus dois fins....................................................24
7.1.1. UNITIVO E PROCRIADOR..........................................................................................................................24
8. A sexualidade deve influenciar positivamente no crescimento espiritual......................................................................25
8.1. Que faces do amor estão distorcidas hoje?..........................................................................................................25
8.2. Então, essa face do amor tem de ser descoberta?..............................................................................................25
8.3. Como encontrar o equilíbrio entre a sexualidade e a procriação atualmente?..................................................26
8.4. Podemos então dizer que esse conceito de sexualidade se encontra um pouco distorcido entre a sociedade?
26
8.5. Que tipo de enfoque deve ser dado à sexualidade na educação dos filhos?....................................................26
8.6. Isso ajuda a criança a se orientar nesse mundo permissivista?........................................................................27
8.7. Que palavra nós podemos dizer aos jovens sobre a ideia do sexo livre?.........................................................27
8.8. Sexualidade é um componente da identidade. Como ligar isso ao problema do homossexualismo?..............27
8.9. Sexualidade e religião. Qual é a importância desse tema na catequese da criança e, especialmente, na de
jovens e adultos?...............................................................................................................................................................28
8.10. O que o senhor tem a dizer sobre as mulheres solteiras que têm interesse em ter o que chamam de
“produção independente”?..............................................................................................................................................28
8.11. O que falta realmente é a educação para formar a família................................................................................29
8.12. Então nós, pais, educadores, professores, catequistas, evangelizadores temos obrigação de nos informar
lendo bons livros para podermos orientar melhor as pessoas sobre o amor verdadeiro que vem de Deus..................29
8.13. Os meios de comunicação ocidentais deturpam e deformam os valores da família, do amor e da sexualidade?
29
9. Homossexualidade não é uma fatalidade por Maria Fernanda Barroca.......................................................................29
10. Sexualidade e castidade..........................................................................................................................................31
10.1. Como se poderá afirmar que a fé católica vê o sexo como algo mau, impuro ou pecaminoso?...........................32
10.2. Finalidades procriadora e unitiva........................................................................................................................32
10.3. Pecados contra a castidade................................................................................................................................33
10.4. Castidade no matrimônio....................................................................................................................................34
10.5. Luta pela castidade.............................................................................................................................................35
11. O que a Igreja pensa sobre homossexualidade por Isabela Maria de Sales.............................................................37
12. A sexualidade humana e a vocação do corpo..........................................................................................................38
12.1. Em poucas palavras: O corpo revela o homem....................................................................................................39
13. Vamos brincar de namorar? Por Breno Gomes Furtado Alves.................................................................................40

3
14. Para vencer os pensamentos impuros por Mary Beth Bonacci................................................................................41
14.1. Sexualmente atraentes........................................................................................................................................42
14.2. A coragem de ser casto.......................................................................................................................................42
14.3. Vidas em ordem...................................................................................................................................................43
14.4. Felicidade duradoura............................................................................................................................................43
15. A castidade: um belo desafio para o jovem por Veritatis Splendor...........................................................................44
16. Cruz, escola de castidade!.......................................................................................................................................46
17. Santificai Cristo em vossos corações.......................................................................................................................48
18. O namoro cristão e suas exigências por Pe. Marcos Chagas..................................................................................50
19. As faces do amor.....................................................................................................................................................54
20. O que entendemos por vontade de Deus? por Padre Emmanuel Sj........................................................................57
20.1. Discernimento: optar e comprometer-se..............................................................................................................57
20.2. O Que significa vontade particular de Deus para mim?........................................................................................58
20.2.1 Imagens de Deus e vontade de Deus..........................................................................................................58
20.2.2. Compreendendo o conceito Criação............................................................................................................61
20.2.3. Por que uma tradução em comum ?............................................................................................................62
20.2.4. Para o bem do Corpo...................................................................................................................................62
20.2.5. O que é então à vontade de Deus...............................................................................................................62
20.3. Alguns critérios para avaliar se os apelos que sinto são Vontade de Deus para mim..........................................62
21. As marcas da Vocação Shalom por Assessoria Vocacional.....................................................................................64
22. 7 pontos sobre a Espiritualidade Shalom.................................................................................................................65
22.1. Compromisso com o espírito da Renovação Carismática Católica (R.C.C.) e uso dos carismas do Espírito
Santo para a edificação da Igreja.........................................................................................................................................66
22.2. Amor esponsal e incondicional a Jesus Cristo, segundo o modelo de vida de São Francisco de Assis e o
caminho de oração de Santa Teresa D’Ávila........................................................................................................................66
22.3. Amor filial por Nossa Senhora como Mãe e Rainha da Paz..............................................................................66
22.4. Forte chamado à oração profunda e à união da vida contemplativa com a vida ativa......................................66
22.5. Exercício do amor fraterno segundo o modelo de unidade e caridade da Trindade.........................................67
22.6. Amor sincero pela Igreja e desejo de servi-la através da obra e da vida missionária.......................................67
22.7. Opção radical pelo Evangelho mediante uma consagração de vida.....................................................................67
23. Fontes Bibliográficas................................................................................................................................................67

4
1. Sexualidade humana: educação para a castidade - por: Meyr Andrade

O tema da sexualidade humana atravessou diversas fases históricas, do mistério ao tabu, do confuso
entendimento de suas particularidades às levianas manifestações de suas propriedades, enfim, foi e continua
sendo objeto de muita discussão e, talvez, de pouca e correta apreciação. Nos propomos aqui a lançar um olhar
tranquilo, quase contemplativo sobre umas das maiores forças e beleza da pessoa humana e não poderemos
partir de um outro ponto que não seja “a importância e o sentido da diferença dos sexos como realidade
profundamente inscrita no homem e na mulher: ‘a sexualidade caracteriza o homem e a mulher não apenas no
plano físico, mas também no psicológico e espiritual, marcando todas as suas expressões’. Não se pode reduzi-
la a puro e insignificante dado biológico, mas é ‘um componente fundamental da personalidade, uma sua
maneira de ser, de se manifestar, de comunicar com os outros, de sentir exprimir e viver o amor humano’. Esse é
o pressuposto de uma correta educação para a castidade.

Talvez um dos maiores problemas seja exatamente a estreiteza com a qual se entende a sexualidade.
Gasta-se tempo com superficialidades porque não nos ocupamos da sua verdadeira origem que implica
exatamente na ampla manifestação do particular gênero com o qual fomos pensados e chamados à existência
pelo Criador: homem e mulher, o que faz da “sexualidade um dos mais belos dons que recebemos de Deus. Ela
se expressa, em todas as áreas do nosso ser: nosso corpo, nossos pensamentos, nossos sentimentos, nossa
forma de nos relacionarmos com o mundo (nossa afetividade) e nos foi dada para a complementaridade”, daí
pensar a sexualidade focada apenas nos genitais reduziria a órgãos a imensa riqueza do que somos na
totalidade do nosso ser perante Deus, nós mesmos e perante os homens.

Pensemos então na sexualidade como o conjunto dos sinais que manifestam a nossa particular feição
de filho de Deus, com aquelas características que recordam a grandeza de onde viemos e o que valemos: a
sexualidade é, portanto, por natureza, uma sublime linguagem, tão nobre quanto qualquer outro gesto, uma vez
que apresenta o próprio mistério da vida divina, seu modo de manifestar-se e de doar-se. Pela sexualidade nos
expressamos, mas o que expressamos? Se não for a presença do Criador, a sexualidade não cumpre o seu
papel, não atinge a sua finalidade, não plenifica aquele que a possui, não gera a ordem interior desejada e
perseguida mesmo por aqueles que a tratam de forma leviana: “Como se vê a confusão de entendimento por
vezes existente entre sexualidade (característica da personalidade masculina ou feminina como um todo) e
exercício da genitalidade (relacionamento sexual) é profundamente limitante do conceito mais amplo do que seja
sexualidade. Está nos foi dada para a comunhão interpessoal, para o ‘ser para o outro’, como as três Pessoas
da Trindade”. Temos aqui o ponto de partida para tratarmos a dignidade da sexualidade de forma orientada e
responsável, e somente nessa perspectiva podemos falar de uma autentica educação para a castidade.

Educar vem do latim educere e significa e – fora + ducere – conduzir, o que nos indica a exigente tarefa
de evocar o que está ainda escondido, em desenvolvimento a partir de dentro, até à sua plena manifestação.
Educar para a castidade, então, nada mais é que evocar de dentro do homem o que ele traz de mais legitimo na
sua semelhança e relação com o Criador, a saber, a doação livre e incondicional de si mesmo. E a correta
formação da sexualidade torna-se imprescindível, uma vez que ela “tem um papel fundamental em tudo o que
somos, pensamos, fazemos e na maneira como existimos, pensamos, sentimos e agimos. Em nossa história da
salvação pessoal, a nível de autoconhecimento e de auto identificação, é imprescindível que tenhamos uma
identidade sexual coerente e bem definida, pois é como homem ou como mulher que nos relacionamos com a
criação, com os outros, conosco mesmos e com Deus”.

Educar para a castidade será levar a pleno desenvolvimento a particular identidade – masculina ou
feminina – a assemelhar-se ao Criador, sobretudo na doação ininterrupta de si mesmo, através daqueles traços
do gênero depositados na nossa natureza, sempre com fim de serviço, nunca por motivações egoístas ou
centralizadoras o que contrariaria enormemente nossa Origem. Castidade é guardar-se para viver este fim de
servir generosamente aos projetos ordenados do Criador, sua santidade e vontade, pois “a capacidade de amar
[inscrita na diferença entre a sexualidade masculina e feminina] é inseparável da teológica. A criatura humana,
na sua unidade de alma e corpo, é desde o princípio qualificada pela relação com o outro-de-si. .

Com esse horizonte ampliamos nosso entendimento de castidade e podemos caminhar mais
objetivamente na sua assimilação como valor e experiência, e poderemos nos render – nós, educadores e
educandos – às exigências de uma educação para a castidade. Entender os prejuízos do egoísmo abertamente
defendido nos dias de hoje, numa vivencia exacerbada e sem limites da sexualidade mal interpretada na sua
dinâmica e finalidade, sob o pretexto de uma liberdade que não serve à generosidade, mas à desordem de amar
a si mesmo até o desprezo de Deus com a ilusão de satisfazer-se, fere profundamente o desenvolvimento e
funcionamento sadio do homem e da mulher, uma vez que é a castidade a “forma suprema do dom de si que
constitui o sentido próprio da sexualidade humana” . Por isso, educar para a castidade é obedecer à finalidade
mais profunda do homem e deveria plasmar toda iniciativa de formação da pessoa nas suas diversas fases, nos
seus diversos ambientes e atividades e, embora trate-se de uma graça, a castidade é mais natural ao homem do
que suas tendências imperiosas de egoísmo. Identifica mais o homem a ordem, a gratuidade e a liberdade do
que todas os vícios gerados pelos seus desvios na virtude.

Faz parte desse processo um caminho de disciplina que tem por princípio o valor da pessoa, o que torna
inadmissível o uso obstinado dos dons e forças naturais para fins indignos da sua origem. Daí, ser a castidade “a
energia espiritual que liberta o amor do egoísmo e da agressividade. Na medida em que, no ser humano, a
castidade enfraquece, nessa mesma o seu amor se torna progressivamente egoísta, isto é, a satisfação de um
desejo de prazer e já não é dom de si” e o autodomínio, portanto, torna-se uma postura interior de resposta e
obediência à própria dignidade e finalidade. A partir desse horizonte compreende-se a seriedade e a positiva
rigidez na defesa da castidade como antídoto contra toda ameaça ao valor intrínseco da sexualidade humana,
originada e destinada à doação de si, sempre pelos ordenados caminhos da caridade de Cristo que vê o homem
na totalidade da sua dignidade e não sob o véu utilitarista disfarçado de liberdade, olhar superficial tão
característico do nosso raio contemporâneo.

2. Sexualidade, forte expressão do amor de Deus

O amor autêntico, numa humanidade marcada pela inclinação ao egoísmo, ao hedonismo e às


satisfações desmedidas do ego, frutos do pecado original, precisa ser aprendido e alimentado na sua Fonte.

A vivência desse amor vai amadurecendo a pessoa e tornando-a capaz de doar-se inteiramente por
amor e, assim, encontrar a verdadeira alegria, sendo também instrumento de paz nas relações familiares e
sociais.

“Deus contemplou toda a sua obra e viu que tudo era muito bom! ” Ao criar a diversidade, Deus cria para
a relação, como é a sua essência de amor. Relacionar-se envolve todo o ser da pessoa, inclusive e,
especialmente, sua sexualidade.

A sexualidade faz parte da identidade mais profunda do ser humano: “É um componente fundamental da
personalidade, um modo de ser, de se manifestar, de se comunicar com os outros, de sentir, de expressar e de
viver o amor humano”.

Essa é a concepção cristã da sexualidade. Assim, como modo de se relacionar e se abrir aos outros, a
sexualidade tem como fim intrínseco o amor. Mais precisamente o amor como doação e acolhimento, como dar
e receber. A sexualidade está na identidade da pessoa, mulher ou homem. Cada pessoa se relaciona com o
mundo como mulher ou homem, conforme sua sexualidade.

2.1. Homem e mulher se complementam

Homem e mulher são diferentes e chamados à complementaridade. O casal, para ser um, como nos
orienta a Palavra, não pode ser similar. Ao querer amar só o que é similar, manifesta-se o desejo de
homogeneidade, ou seja, de querer prevalecer. Isto seria egocentrismo. Claro que não se excluem alguns
aspectos que convergem entre sina convivência do casal e outros que serão construídos tendo sempre como
alicerce o amor ágape.

Aceitar as diferenças é amor, e viver esta unidade na diversidade é obra da graça de Deus e da vontade
humana por ela fortalecida. É o Espírito que faz a unidade entre os dois.

Numa visão cristã e natural, a similaridade impede a relação de amor, porque é gostar de si mesmo no
outro, impedindo a fecundidade e a riqueza da diversidade.

“A sexualidade deve ser orientada, elevada e integrada pelo amor, que é o único a torná-la
verdadeiramente humana”. (João Paulo II)
A busca exclusiva e excludente da similaridade expressa em si uma certa incapacidade de viver as
diferenças e, com elas, situações de conflito inerentes a quaisquer relações maduras.

2.2. Sexualidade e Genitalidade

A genitalidade é concebida aqui como referência ao aparelho reprodutor (órgãos sexuais). Ela faz com
que os animais e seres humanos se reproduzam.

Compreender a sexualidade como genitalidade é reduzir a pessoa humana a uma vivência meramente
instintiva do prazer sexual, o que subestima sua capacidade e necessidade essencial de amor recíproco.

Atualmente, sensualismo e genitalismo são instrumentos da busca do prazer pelo prazer e sugere a
redução da sexualidade humana à animalidade.

A busca do prazer pelo prazer reduz as relações à predominância do Eros, e se este for o único
motivador do relacionamento, certamente, em pouco tempo se esvazia e, não evoluindo, a relação é frustrada,
pois se torna individualista, dominadora, manipuladora e fechada em si.

Ao contrário, sendo destinado ao amor pleno, o ser humano precisa evoluir ao amor maduro e autêntico
para que alcance sua realização e alegria autênticas. Para isso, é necessário que, desde muito cedo, a criança
seja conduzida a este amor autêntico, primeiro, pelo exemplo dos pais, e depois, pelo exercício das virtudes no
seio familiar. Assim, a sexualidade humana poderá ser construída em direção à buscada sua maturidade,
favorecendo a construção de relações humanas saudáveis e felizes.

O desenvolvimento da sexualidade saudável, que pode ou não abarcar a genitalidade (no caso do
matrimônio), supõe o autodomínio, a capacidade do dom de si, e um certo espírito de renúncia em favor do bem
do outro:

“Ou o homem comanda suas paixões e obtém a paz, ou se deixa subjugar por elas e se torna infeliz” (cf.
CIC -2339). Assim, o domínio de si mesmo é um trabalho a longo prazo e não definitivamente adquirido (cf. CIC -
2342). O ambiente familiar, onde o casal vive o dom de si e caminha nessa direção em relação à educação dos
filhos, é o terreno fértil que dará frutos de alegria, caridade, solidariedade, justiça e paz, transbordando
progressivamente para a sociedade.

Portanto, o lar, é a primeira escola da vida cristã – lugar privilegiado do exercício das virtudes – onde se
aprende a tolerância, o respeito às diferenças, a paciência, a alegria do trabalho, o amor fraterno, o perdão
generoso e a oferta da própria vida no serviço aos mais pequenos, aos doentes, aos idosos e no serviço
recíproco de todos os dias, partilhando os bens, alegrias e sofrimentos:

O espaço da casa é espaço sagrado, onde ocorre a eucaristia doméstica da oferta da vida por amor:
“Onde dois ou mais estão reunidos em Meu nome, Eu estou no meio deles”.
É nesse contexto familiar que as crianças aprenderão a exercer sua sexualidade até à maturidade,
tendo como referências fundamentais a mãe e o pai, que, em harmonia, buscam a unidade nesta
complementariedade que enlaça as diferenças no dom mútuo de si.

Os papéis sociais exercidos pelo homem e a mulher no contexto familiar e social são importantes e
devem corresponder à missão de cada um, concebida pelo Pai em seu plano de amor e felicidade para a
humanidade.

Pretendendo favorecer a compreensão da realidade relacional entre homem e mulher na busca da


complementariedade, trataremos na próxima edição das características mais gerais de cada um, que se definem
a partir das influências hormonais, orgânicas, psicológicas, da história de vida individual, da leitura pessoal
dessa história e do contexto sociocultural em que estão inseridos os indivíduos.

3. O mistério da sexualidade humana - por: Revista Shalom Maná

Durante a adolescência e a juventude, acontece à busca da própria identidade em todos os aspectos,


especialmente na sexualidade. Isso se deve às grandes e rápidas transformações físicas e emocionais,
ocorridas, sobretudo na adolescência, momento em que a pessoa percebe que possui um corpo, masculino ou
feminino, e passa a senti-lo de modo bem definido.

Convém lembrar que a sexualidade humana não é feita apenas de corpo, e não se situa exatamente nos
genitais. O jovem e a jovem podem e devem estar atentos ao fato de que todo o seu ser dá sinais da própria
sexualidade. Uma vez que a sexualidade é parte importante na sua identidade, é preciso que o jovem e a jovem
conheçam exatamente o que a compõe, descubram sua sexualidade como um belíssimo dom de Deus,
orientado para a doação de si mesmo na Caridade, e não como um objeto de consumo ou mero prazer.

A palavra “sexo” é particípio passado do verbo latino “secerno”, isto é, “seccionado”, “dividido”. Deus
criou o ser humano, homem ou mulher, “sexuado” em todo o seu ser: no cabelo, na voz, na maneira de pensar e
agir etc. Cada fibra do seu ser, o seu “eu” pessoal traz o caráter masculino ou feminino. Não são os órgãos
genitais que definem a sexualidade. Esta é definida, na sua parte física, por glândulas de secreção interna – a
hipófise, o hipotálamo, a glândula pituitária, tiroide, supra renal etc. –, pelo espírito e pela personalidade.

Mas tudo isso vai além do corpo: é definido por Deus no momento da criação de cada pessoa, e de
modo definitivo, irrevogável. A sexualidade está dentro do plano único de Deus para a vida de cada pessoa. É
algo que passa pelo corpo e o atinge, mas é mais do que o corpo, é a realidade total da pessoa.

A sexualidade foi e é muito confundida com a genitalidade, por isso é preciso compreender bem o que
seja esta. A genitalidade é definida pelos órgãos genitais da pessoa, que existem porque Deus quis associar o
ser humano ao mistério da multiplicação dessa espécie na terra – assim, todo ser humano é criado por Deus,
através da paternidade e da maternidade humana –. Os órgãos genitais, portanto, são para geração de novas
criaturas;
não são meros instrumentos de prazer, nem seu uso é indispensável para comprovar a sexualidade da pessoa.
Alguém que nunca praticou um ato genital não deixa de ser homem ou mulher, no verdadeiro sentido da palavra.

A genitalidade é apenas um aspecto da sexualidade da pessoa. Quando Deus cria cada pessoa, lhe dá
órgãos genitais adequados para a sua sexualidade. Assim, não adianta tentar mudar a sexualidade através da
mutilação dos órgãos, pois a sexualidade está definida, em todo o ser da pessoa, desde a sua criação. É por
isso que, mesmo sem o uso da genitalidade, não se perde a sexualidade masculina ou feminina, pois esta
jamais acaba.

A Palavra de Deus em Mc 12,18-27(leia) se refere ao exercício da genitalidade. No Céu não existe a


necessidade de procriação, nem a necessidade de complementação sexual, porque Deus nos completará em
tudo. Porém, cada um entrará na Vida Eterna como homens e mulheres, conforme Deus definiu na sua criação.
Jesus e os santos são homens e estão no Céu como homens. Nossa Senhora e as santas estão no Céu como
mulheres que são, e isso para sempre.

Quando a pessoa acredita que sua sexualidade depende exclusivamente do uso dos genitais, ela pode,
para tentar afirmar sua sexualidade perante os outros, desordenar totalmente o uso dos seus órgãos sexuais,
acabando por se tornar um escravo da própria genitalidade, sem jamais conseguir preencher suas verdadeiras
necessidades, que certamente são outras. Ela pode se tornar uma pessoa doente, emocional e espiritualmente,
pelo uso inadequado e fora de tempo da sua genitalidade. Isso se chama genitalismo.

A mulher é mulher em todo o seu ser: no corpo e na alma. O homem da mesma forma. Se um homem e
uma mulher dizem que se amam, mas seu relacionamento consiste numa busca genitalista, isso não é amor,
mas compara-se ao mero comportamento de animais. Daí é que nascem as grandes decepções, vazios e até
desesperos.

O exercício da genitalidade foi ordenado por Deus para acontecer dentro do matrimônio. No matrimônio,
há uma união total e exclusiva de duas pessoas. Elas uniram perante a Igreja não só seus corpos, mas seus
espíritos. Suas vidas inteiras, com todos os aspectos do ser de cada um, estão definitivamente unidas perante
Deus nesta vida. Há um pacto de doação mútua e uma disposição madura ao crescimento nesta doação. Assim,
o exercício da genitalidade pode ser seguramente um dom e sinal do amor. Dentro do matrimônio, um cônjuge
representa para o outro o sinal e instrumento do amor de cada um por Deus, que deve ser crescente, fiel e
definitivo.

A outra forma de realizar esse amor crescente, fiel e definitivo por Deus é a opção pelo celibato. O
celibato dispensa totalmente a prática da genitalidade, uma vez que não há uma opção exclusiva por uma
esposa ou esposo. Mas não anula a sexualidade da pessoa que opta por ele. Jesus nunca se casou, entretanto,
mesmo
sendo Deus, é verdadeiro homem. Ele realizou plenamente sua sexualidade amando a Deus em todas as
criaturas e todas as criaturas em Deus. Foi virgem e inteiramente casto, perfeitamente masculino, modelo de
todo homem.

O uso sadio da sexualidade envolve todo o comportamento da pessoa. A educação sexual instrui sobre
o correto comportamento masculino e feminino desde a infância. Apresenta a psicologia do homem e da mulher
dentro dos padrões que a perfeição da natureza define. O ser humano jamais terá uma personalidade realizada
sem a vivência correta da sua sexualidade, ou seja, comportando-se como mulher, quando é mulher, e como
homem, quando é homem. Não como “macho”, nem como “fêmea”, porque não são animais; mas como homens
e mulheres, pessoas.

A maneira mais sadia de viver a própria sexualidade é conhecê-la e aceitá-la. Muitos não aceitam a
própria sexualidade talvez porque tenham-lhe sido passadas imagens deturpadas do que é ser homem ou
mulher. Nesse sentido, o comportamento do pai ou da mãe é muito marcante. Mas mesmo que isso tenha
acontecido, é preciso que o jovem supere, compreendendo que ele é outra pessoa, com história diferente. É
preciso buscar em Deus a verdade sobre a própria sexualidade e vivê-la de modo casto, decente.

Assim como o genitalismo é a forma doentia de viver a própria genitalidade, o sensualismo é a forma
doentia de viver a própria sexualidade. Ele consiste no uso despudorado do próprio corpo com o intuito
desordenado de afirmar a própria sexualidade por esses meios. Hoje em dia, muitos homens e mulheres
inventam mil maneiras de exibir seu corpo como mercadorias oferecidas em vitrines. Muitos fazem questão de
ressaltar os genitais e as partes que mais despertam o desejo sexual. Isso denota falta de conhecimento de si
mesmo e às vezes de segurança nos próprios valores interiores.

Primeiramente, é preciso conhecer que o nosso corpo nos foi dado por Deus para o exercício da
caridade, única forma de alcançar realização plena e felicidade completa. Especialmente as partes mais íntimas,
têm como função primeira a doação de si. Na mulher, as partes mais íntimas são ordenadas primeiramente à
geração e à amamentação. Não são meras carnes e por isso devem ser respeitadas. No homem também. Os
genitais devem ser cobertos de modo decente não porque sejam sujos ou desonestos, mas porque pertencem à
intimidade pessoal. Eles participam do mistério pessoal do ser humano, do mistério da doação de si.

Maria é para toda mulher o perfeito exemplo de feminilidade, pudor, equilíbrio e realização plena na
sexualidade. Na sua castidade, é a mulher mais feminina que a terra já conheceu. Perfeitamente casta na
doação de si mesma, nunca necessitou dos artifícios que o sensualismo apregoa, iludindo e desvalorizando a
figura feminina na sua expressão mais profunda.

Por fim, quanto à segurança nos próprios valores internos, esta vem do relacionamento com Deus,
nosso Criador, único que nos conhece por dentro, nos ama e nos aceita incondicionalmente. Ele vê nossos
valores mais profundos – tanto os que já aparecem quanto os que Ele colocou como semente em nós e ainda
não
desabrocharam –. Ele nos dá a segurança de nós mesmos e o senso de valor e importância que nós tanto
necessitamos para viver com alegria.

Quem pergunta a Deus o que Ele acha da sua pessoa, encontra grande alegria e é capaz de se achar
mais belo e desejado do que qualquer criatura pode imaginar contemplar ou desejar. E aí não precisa se mostrar
ou tentar se afirmar por meios passageiros, inúteis ou humilhantes.

“Melhor que tudo que alguém possa ter ou saber, é poder ser um filho de Deus” (Ronaldo Pereira).

4. Sexualidade e afetividade na vida presbiteral «aspectos»


4.1. Introdução

A experiência de cada um, bem como os estudos levados a efeito por ocasião dos encontros nacionais
de presbíteros nestes últimos 20 anos, oferece material rico e abundante. Com isto são reforçadas certas
convicções, mas, com certeza, também surgem algumas novas interrogações. Este é o quadro de fundo
pressuposto na fala de cada um dos convidados para recolocarem questões há muito presente se refletidas, na
vida da nossa Igreja, e é também o quadro dentro do qual devo movimentar–me para trazer à tona aspectos
relativos à sexualidade e à afetividade na vida presbiteral. A fluidez dos conceitos, e muito mais os meandros da
vida a sua concretude, nos convidam a fazermos, antes de mais nada, algumas pontualizações. Uma vez
projetada alguma luz sobre estas realidades cheias de meio tons e de contornos indefinidos, poderemos dar um
segundo passo, sinalizando alguns aspectos mais sensíveis, que exigem maior atenção. Com isto, num terceiro
momento, poderemos sugerir algumas prioridades a serem trabalhadas em vista de um clima mais propício para
a realização dos que se consagram à vida sacerdotal e vista de um ministério evangelicamente mais frutuoso.

4.2. Delimitando o campo e fazendo algumas pontualizações


4.2.1. Importa proclamar o evangelho da sexualidade e da afetividade

É interessante observar de início como, por vezes, algumas palavras referentes a realidades em si
positivas, em ambientes de Igreja assumem uma conotação um tanto negativa. Isto ocorre sobretudo quando se
trata de sexualidade e afetividade. Estas tendem a ser conjugados com desvios, abusos e más condutas, ou ao
menos com sinais de imaturidade. Daí a importância de se fazer um primeiro ressalto, de grande valor
pedagógico, pastoral e mesmo teológico: sexualidade e afetividade, se colocam entre os dons mais preciosos
que o Criador confiou aos seres humanos. A rigor não importa, ao menos não em primeira instância, a condição
de vida, conjugal ou celibatária. Iniciar um discurso que projeta um raio de luz com uma tonalidade de boa
notícia evangélica, não é uma espécie de “captatio benevolentiae”, mas a condição para acolher e traduzir, em
termos positivos, um pouco do imenso potencial que estas energias comportam. Mais do que carregadas de
ameaças, elas são portadoras de ricas promessas para casados e celibatários. Mais do que ocasião de pecado,
elas são caminhos privilegiados para a atuação da graça de Deus.
4.2.2. Sexualidade e afetividade: condutos privilegiados para o amor

Com efeito, a sexualidade, com suas múltiplas dimensões, se constitui não apenas numa das mais
poderosas energias humanas, como também numa das manifestações mais claras da vocação fundamental e
irrenunciável dos seres humanos para o amor. Para lembrar uma expressão cara ao Papa João Paulo II, “a
Revelação nossas segura que Deus é Amor e nos fez por amor e para o amor ( Familiaris Consortio,11; Mulieris
Dignitatem 7 e 18). À luz desta vocação é que entendemos que a sexualidade se transforma numa espécie de
conduto privilegiado, através do qual o amor com sua face humana pode assumir traços sacramentais e divinos.
Ademais, para utilizar uma imagem da informática, a sexualidade “ configura” ou então “ desfigura” o ser
humano. E como observa o Conselho Pontifício para a Família (1996,16), isto ocorre “não somente no plano
físico, como também no psicológico e espiritual”. A conhecida ambivalência que caracteriza a sexualidade, como
caracteriza qualquer outra realidade humana, em nada depõe contra ela: apenas ressalta a necessidade de um
trabalho profundo e incessante para integrar uma energia, que, na sua raiz comporta impulsos contraditórios, e
por isto mesmo, desnorteantes. Da mesma forma, entender a afetividade como núcleo gerador de emoções e
sentimentos que podem oferecer um sabor todo especial à vida, mais do que ser fonte de eventuais problemas e
desvios, é assumir um ponto de partida decisivo para trabalhar, com segurança na perspectiva de bons frutos,
na realização humana em todos os seus aspectos.

4.2.3. Similaridade e diferenças

Para que estas afirmações possam ser melhor entendidas, convém lembrar que sexualidade e
afetividade não se confundem, mas se articulam dialética e continuamente. Enquanto pela primeira somos como
que empurrados para fora de nós mesmos, obrigando-nos a nos deparar com o diferente representado por
coisas e pessoas, pela segunda recolhemos as impressões oriundas desta interação. Enquanto a sexualidade
lembra mais a alteridade, a afetividade aponta mais para a intimidade. Enquanto a sexualidade é mais ativa, a
afetividade é, ao menos aparentemente, mais passiva. Contudo, a afetividade não é uma espécie de túmulo das
emoções. Ela é receptáculo de impressões e emoções vivas, que aninhadas no inconsciente, vão fermentando,
podendo, em certos momentos, irromper de maneira inesperada e surpreendente. E isto não apenas na
juventude, mas em qualquer etapa da vida, inclusive na melhor idade. Ainda que por vezes a afetividade possa
lembrar uma música desafinada que ressoa nas profundezas do nosso ser, é pela afetividade que podemos
saborear os encantos da amizade, do amor, da espiritualidade e até mesmo da mística. Como bem sugere o
termo latino “affectio”, ser capaz de sentir-se atraído e tocado por alguém ou por alguma coisa, mais do que
tentação, é condição primeira para ser capaz de captar os toques de Deus e vibrar com ele.

4.3. Sinalizando áreas que requerem maior atenção


As próprias complexidades conceptuais e existenciais fazem com que estas realidades se transformem
em campos propícios para uma série de equívocos e despistamentos, tanto na percepção dos problemas,
quanto na condução do trabalho pedagógico e pastoral.

4.3.1. O choque de fatos escandalosos

O impacto causado pelas denúncias de pedofilia nas fileiras do clero serve para ilustrar o que estamos
querendo sugerir. As poucas palavras pronunciadas pelo Santo Padre no dia 23 de abril do ano passado dizem
tudo quanto à realidade: estamos diante de “crimes e pecados” de “ irmãos nossos que atraiçoaram a graça
recebida na ordenação, chegando às piores manifestações do mistério do mal que atua no mundo (Carta aos
sacerdotes da Quinta Feira Santa de 2002 eL´Osservatore Romano, n. 18, 4-5, 2002, 3). Com isto já fica
evidenciado que, apesar de nosso clero brasileiro não haver estado no centro das atenções, Igreja de nenhum
lugar do mundo pode proceder como se nada houvesse acontecido ou pudesse vir a acontecer. A pedofilia e
outros desvios lançam sombras sobre toda a Igreja e interrogações para toda a Igreja. Entretanto, o destaque
dado pelos meios de comunicação social, além de desfocar e generalizar fatos relativamente isolados, pode
induzir a erros de interpretação. Talvez os problemas mais graves e mais significativos não estejam exatamente
naquilo que causa maior impacto e maior escândalo. Pois o que causa impacto escandaloso também costuma
causar rejeição espontânea e colocar todos em estado de alerta. Assim, de alguma forma, estes desvios são
mais facilmente detectados e enfrentados.

4.3.2. O que se esconde, mas pode nos comprometer

Com efeito, há outras posturas e condutas, estas ligadas a pessoas que se sentem afetivamente presas
a pessoas do mesmo sexo e que vão se alastrando de maneira crescente na sociedade, e que podem emergir
até dentro de seminários, e, consequentemente, podem acabar chegando até ao presbitério. É claro que ao
apontarmos para pessoas homossexuais como aquelas que requerem maior atenção, tanto na seleção, quanto
no acompanhamento vocacional, não o fazemos com o objetivo de criar fantasmas ou levantar suspeitas
generalizadas. Estamos apenas sinalizando a presença de certos movimentos que, embora até o presente não
tenham sido tão claramente denunciados pela imprensa, poderão vir à tona a qualquer momento, e sobretudo já
estão causando alguns estragos na nossa seara. A sinalização vale sobretudo para certas correntes que além
de assumirem comportamentos de natureza homossexual, assumem também uma espécie de militância
combativa destinada a defender e a propagar o que julgam ser uma causa nobre. É certo que nós nos
encontramos diante de uma problemática complexa, envolta em penumbra, cheia de meandros e graduações,
onde se torna difícil distinguir entre atuações conscientes e inconscientes, pecados e fraquezas, entre
manifestações patológicas, tendências mais ou menos superficiais. Por isto mesmo tanto o diagnóstico quanto
os encaminhamentos requerem competência e equilíbrio, para discernir o que se constitui em mera fase
ocasional ou até evolutiva, e verdadeiro problema, tanto de um ponto de vista ético quanto psicológico.
Não é que faltem documentos oficiais para orientar tanto no diagnóstico quanto nos encaminhamentos.
Mas talvez falte uma ação mais bem articulada para levar os documentos à prática. Ademais justamente nesta
área, com alguma frequência, nos deparamos com uma espécie de jogo duplo, com posturas corretas assumidas
oficialmente e outras, inconfessadas, que se manifestam na calada da noite. A aparente honestidade, e até de
um certo rigorismo moralizante em relação à problemática, aliás também notado em casos de pedofilia, faz parte
do jogo, para quem não apenas tenta enganar os outros, mas até a si próprio, no mais profundo do seu ser. O
jogo duplo manifesta a incapacidade de assumir uma eventual face sombria sua realidade.

4.3.3. Algumas manifestações mais subtis de problemas sexuais e afetivos

Há ainda uma série de outras manifestações, mais subtis, mas nem por isto menos significativas. São
estados de espírito que à primeira vista nada têm a ver com as questões até aqui levantadas, e que no entanto
são reveladoras de desequilíbrios mais ou menos preocupantes de um ponto de vista psicológico e quase
sempre danosas deum ponto de vista pastoral. Assim como podemos detectar sinais de integração, podemos
também detectar sinais de desintegração. Como manifestações típicas de integração temos a alegria, a paz, a
serenidade, a generosidade, desprendimento. Como manifestações de não-integração podemos assinalar a
inveja, o desejo desmesurado de mando, o carreirismo, o egoísmo, a rispidez, o mau humor constante, a
indiferença, a agressividade, a inflexibilidade, a rigidez, o autoritarismo e o sectarismo. A lista poderá ser muito
mais ampliada. Mas só estes poucos acenos já são suficientes para nos alertar sobrea amplitude e a
profundidade dos problemas relacionados com a sexualidade e a afetividade. Como também estes termos
apontam para as virtudes que deverão ser cultivadas com maior empenho para que os ministros oficiais do
Reino possam ser verdadeiramente testemunhas boa nova do Evangelho.

4.4. Sugerindo algumas pistas


4.4.1. Atenção ao contexto

Depois de havermos acenado para alguns aspectos e sinalizado algumas questões que se localizam nos
campos da afetividade e da sexualidade, cabe-nos ainda a tarefa de apresentar algumas sugestões que possam
favorecer a busca da maturidade afetivo – sexual, indispensável para a realização humana e para um frutuoso
exercício da missão sacerdotal. Se, logo na introdução já sugerimos ser necessário “ buscar um clima mais
propício”, é porque pressupomos que não estejamos podendo contar muito com este clima. Claro que a
rigor problemas situados nestas áreas não são de hoje. A luta entre luzes e sombras sempre foi um componente
da trajetória humana, e portanto também dentro do quadro dos que trilham o sacerdócio. Contudo, por mais que
pretendamos acentuar as inegáveis conquistas fundadas numa compreensão mais profunda que as várias
ciências nos oferecem, e até mesmo fundadas na superação de contextos repressivos, é difícil de não se
perceber que hoje, mais do que nunca, nos defrontamos com desafios que se apresentam com tonalidades
novas. Estes desafios provêm de uma sociedade erotizada, que rompeu todas as barreiras éticas. E como já
notava a Encíclica
Splendor Veritatis no seu número 4, o mais preocupante é que não apenas nos encontramos diante de violações
das normas morais, mas diante de uma verdadeira contestação global das mesmas; não apenas vivemos num
clima de “pornéia”, no sentido bíblico do termo, mas num contexto de anomia. E é claro que tudo isto influi tanto
na compreensão, quanto nos comportamentos de nossos seminaristas e de nossos presbíteros. Por mais que se
deva reconhecer a vantagem de hoje contarmos com vocações denominadas de adultas, porque assumidas
numa faixa etária mais próxima da presumível maturidade, não podemos deixar de perceber a contrapartida:
muitos vocacionados trazem igualmente consigo as marcas de experiências afetivas e sexuais anteriores nem
sempre enriquecedoras.

Este contexto nos leva a percebermos, logo de saída, a necessidade de retomarmos como prioritários
alguns valores que costumavam fazer parte da lista das virtudes em outros tempos e hoje podem estar um tanto
esquecidos, e de qualquer forma devem assumir flexões diferentes: a mística, a ascese e o amor ao estudo.

4.4.2. Mística, ascese e estudo: três âncoras para a realização

Todos temos muito presente que a mística é uma força espiritual que está na raiz de todos os grandes
movimentos de renovação e mesmo da realização de grandes personalidades. É assim que se explica a força de
tantas pessoas e de tantos movimentos que marcaram a história da Igreja. Mesmo se nos localizarmos no
campo dos projetos denominados humanos, só vingaram aqueles que foram alimentados por uma grande
mística. Esta foi, com certeza uma das marcas das grandes utopias que mobilizaram o século XX. Ainda que se
devam reconhecer evidentes exagero sem vários delas, não se pode negar que estas utopias deram sentido de
vida e força para multidões. Acontece que nos últimos decênios as utopias foram desmoronando, e com elas não
apenas vão rareando as grandes personalidades, mas vão igualmente esmorecendo os grandes ideais. É
evidente que este clima de marasmo, onde praticamente todas as mediações políticas e sociais foram perdendo
força, também repercute sobre nossos vocacionados. E é impossível esperar grandes realizações, mesmo a
nível pessoal, de quem não acalenta grandes sonhos.

Ao par desta acomodação generalizada o que vai ganhando força em todos os campos é o bem
conhecido lema de como vencer na vida sem fazer força. O empenho continua evidentemente existindo em
largos setores da sociedade, mas é mais no sentido de sobrevivência, ou então, para uns poucos privilegiados,
no sentido de projetar-se social e politicamente. Aqui novamente é fácil fazer a ilação para quem busca o
sacerdócio. As motivações podem até ser legítimas, na linha dos sentimentos, mas desde que não impliquem em
grande empenho. A ascese, no sentido mais profundo da palavra, não apenas se tornou uma palavra meio rara,
mas sobretudo deixou de ser uma postura corrente.
Ainda na mesma linha dois pontos acima assinalados, da falta de mística e de espírito de luta para
conseguir um ideal almejado, encontra-se uma certa falta de motivação para os estudos. Se em tempos não
muito remotos até o mais simples pároco de aldeia dominava várias línguas, e ao lado dos seus breviários
sempre carregava algum livro de leitura, hoje um simples violão e algumas palavras leves parecem suficientes
para o exercício do ministério sacerdotal. Parece que tanto em termos de leitura, quanto de pesquisas já tivemos
conhecemos tempos mais fecundos, mormente no que diz respeito à teologia. Claro que, sobretudo nas
homilias, os efeitos não deixam de ser notados pelos fiéis mais cultos, particularmente pelos que frequentam
cursos de teologia para leigos. Talvez seja esta a mesma razão pela qual ministros de outras igrejas se religiões
se sintam mais seguros do que nós diante das câmaras de TV, ao menos quando se trata de programas e
debates mais consistentes. Também é fácil de se deduzir o que isto tudo representa em termos de autoestima,
quando ao menos um certo número de presbíteros deixa de ser referência naquilo que deveria seu apanágio:
vida espiritual e intelectual.

4.4.3. Algumas conclusões

A história da Igreja sempre conheceu momentos de maior e de menor sintonia entre o ideal evangélico
do celibato e um estilo de vida sacerdotal. Poderíamos recordar aqui o antigo ditado de que nada existe de novo
de baixo do sol. Contudo, há fatos mais ou menos chocantes, comportamentos mais ou menos observáveis, e
sobretudo há sinais de um certo mal-estar no campo da realização humana, com incidência nos campos da
sexualidade e da afetividade. A premência e a complexidade das questões recomendam um empenho maior no
cultivo destas áreas, seja a nível de discernimento vocacional, seja a nível de acompanhamento dos que vão
encontrando maiores dificuldades no caminho. Ainda que a simples busca de especialistas para ajudarem nestas
tarefas não seja uma espécie de solução mágica, não há dúvida de que a contribuição de pessoas competentes
e afinadas com o espírito da Igreja, se torna quase imprescindível. Não que elas substituam outros expedientes
comprovados por uma larga experiência que brota, do diálogo profundo com Deus e da direção espiritual de um
mestre sábio, no sentido evangélico do termo. Mas, sem dúvida o momento histórico que vivemos exige
investimentos mais significativos nesta área, não apenas para fugir de eventuais escândalos, mas sobretudo
para podermos contar com pessoas sempre mais entusiasmadas, preparadas e amadurecidas para serem
testemunhas qualificadas do Evangelho.

5. Sexualidade, significado cristão


5.1. Significado

A sexualidade é um componente fundamental da personalidade, um modo de ser, de se manifestar, de


comunicar com os outros, de sentir, de expressar e de viver o amor humano. Portanto ela é parte integrante do
desenvolvimento da personalidade e do seu processo educativo: « Do sexo, de fato, derivam na pessoa humana
as características que, no plano biológico e espiritual, a tornam homem ou mulher, condicionando assim e
normalmente o caminho do seu desenvolvimento em ordem à maturidade e à sua inserção na sociedade ».

A sexualidade caracteriza o homem e a mulher não somente no plano físico, como também no
psicológico e espiritual marcando toda a sua expressão. Esta diversidade que tem como fim a
complementaridade dos dois sexos, permite responder plenamente ao desígnio de Deus conforme a vocação à
qual cada um é chamado.

A genitalidade orientada para a procriação é a expressão máxima, no plano físico, da comunhão de


amor dos cônjuges. Fora deste contexto de dom recíproco – realidade que o cristão vive sustentado e
enriquecido de maneira particular pela graça de Deus – ela perde o seu sentido, dá lugar ao egoísmo e é uma
desordem moral.

A sexualidade deve ser orientada, elevada e integrada pelo amor que é o único a torná-la
verdadeiramente humana. Preparada pelo desenvolvimento biológico e psíquico, cresce harmonicamente e
realiza-se em sentido pleno somente com a conquista da maturidade afetiva, que se manifesta no amor
desinteressado e no total dom de si.

5.2. Situação Atual

Podem-se observar atualmente, mesmo entre os cristãos, notáveis divergências quanto à educação
sexual. No clima atual de desorientação moral constituem um perigo, seja o conformismo nocivo, sejam os
preconceitos que tendem a falsificar a íntima natureza do ser humano, que saiu íntegra das mãos do Criador.

Para reagir a esta situação, é desejada por muitos uma oportuna educação sexual. Se, porém, a
convicção da sua necessidade no âmbito teórico é muito difundida, na prática permanecem incertezas e
divergências notáveis seja quanto às pessoas e instituições que deveriam assumir a responsabilidade
educacional como também em relação ao conteúdo e à metodologia.

Os educadores e os próprios pais frequentemente reconhecem não terem a preparação suficiente para
realizar uma adequada educação sexual. A escola, nem sempre está à altura de oferecer uma visão integral do
assunto. Uma educação sexual completa não pode ficar só na informação científica.

As dificuldades para uma educação sexual são maiores nos países onde a urgência do problema ainda
não se fez sentir e se pensa que ele se resolve por si sem necessidade de uma educação específica.

Em geral é preciso reconhecer que se trata de uma tarefa difícil pela complexidade dos diferentes
elementos (fisiológicos, psicológicos, pedagógicos, socioculturais, jurídicos, morais e religiosos) que intervêm na
ação educativa.

Alguns organismos católicos em diferentes lugares, – com a aprovação e o estímulo do Episcopado local
– começaram a desenvolver uma positiva atividade de educação sexual; esta tem por finalidade não somente
ajudar as crianças e os adolescentes no caminho rumo à maturidade psicológica e espiritual, como também, e
sobretudo, precavê-los contra os perigos da ignorância e degradação do ambiente.

É também louvável o esforço de todos aqueles que, com seriedade científica, se dedicaram a estudar o
problema, a partir das ciências humanas e integrando os resultados de tais pesquisas numa proposta de solução
conforme as exigências da dignidade humana como emerge no Evangelho.

5.3. Visão Cristã

Na visão cristã do homem, reconhece-se ao corpo uma particular função, porque contribui a revelar o
sentido da vida e da vocação humana. A corporeidade é, de facto, o modo específico de existir e de operar
próprio do espírito humano. Este significado é, antes de mais, de natureza antropológica: o corpo revela o
homem,
«exprime a pessoa» e é por isso a primeira mensagem de Deus ao próprio homem, quase uma espécie de
«primordial sacramento, entendido como sinal que transmite eficazmente no mundo visível o mistério invisível
escondido em Deus desde a eternidade»

Há um segundo significado de natureza teologal: o corpo contribui a revelar Deus e o seu amor criador,
enquanto manifesta a “criaturalidade” do homem, a sua dependência de um dom fundamental, que é o dom de
amor. «Isto é o corpo: testemunha da criação como de um dom fundamental, portanto testemunha do amor
como fonte donde nasceu este mesmo doar »

O corpo enquanto sexuado, exprime a vocação do homem à reciprocidade, isto é, ao amor e ao mútuo
dom de si. O corpo, enfim, reclama o homem e a mulher à sua constitutiva vocação à fecundidade, como um dos
significados fundamentais do seu ser sexuado.

A distinção sexual, que aparece como uma determinação do ser humano, é diversidade, mas na
igualdade da natureza e da dignidade.

A pessoa humana, pela sua natureza íntima, exige uma relação de alteridade que implica uma
reciprocidade de amor. Os sexos são complementares: semelhantes e dissemelhantes ao mesmo tempo; não
idênticos mas sim iguais quanto à dignidade da pessoa; semelhantes para se compreenderem, diferentes para
se completarem.

O homem e a mulher constituem dois modos segundo os quais a criatura humana realiza uma
determinada participação do Ser divino foram criados à «imagem e semelhança de Deus» e realizam
completamente tal vocação não só como pessoas singulares, mas também como casal, qual comunidade de
amor. Orientados para a união e a fecundidade, o homem e a mulher casados participam do amor criador de
Deus, vivendo a comunhão com Ele através do outro.
A presença do pecado obscurece a inocência original, torna menos fácil ao homem a percepção destas
mensagens: a sua decifração tornou-se assim uma tarefa ética, objeto duma difícil obrigação, confiada ao
homem:
«O homem e a mulher depois do pecado original perderam a graça da inocência original. A descoberta do
significado esponsal do corpo deixará de ser para eles uma simples realidade da revelação e da graça. Todavia
tal significado permanecerá como obrigação dada ao homem pelo ethos do dom, inscrito no profundo do coração
humano, como longínquo eco da inocência original ».

Frente a esta capacidade do corpo de ser ao mesmo tempo sinal e instrumento de uma vocação ética,
pode-se descobrir uma analogia entre o mesmo corpo e a economia sacramental, que é a via concreta através
da qual a graça e a salvação chegam ao homem.

A inclinação do homem « histórico » a reduzir a sexualidade unicamente à experiência genital, explica a


existência de reações tendentes a desvalorizar o sexo, como se por sua natureza fosse indigno do homem. As
presentes orientações entendem opor-se a tal desvalorização.

«Somente no Mistério do Verbo Encarnado encontra verdadeira luz o mistério do homem » e a


existência humana adquire o seu pleno significado na vocação a vida divina. Só seguindo Cristo, o homem
responde a esta vocação e se torna plenamente homem, crescendo até atingir « o homem perfeito, na medida
em que convém à plena maturidade de Cristo ».

À luz do mistério de Cristo, a sexualidade aparece-nos como vocação a realizar aquela caridade que o
Espírito Santo infunde no coração dos redimidos. Jesus Cristo sublimou tal vocação com o Sacramento do
matrimônio.

Jesus indicou, além de mais, com o exemplo e a palavra, a vocação à virgindade por causa do reino dos
céus. A virgindade é vocação ao amor: torna o coração mais livre para amar Deus. O coração virgem não está
condicionado pelos compromissos requeridos pelo amor nupcial, pode, portanto, ser mais disponível para o amor
gratuito dos irmãos.

A virgindade pelo reino dos céus, por consequência, exprime melhor a doação de Cristo ao Pai pelos
irmãos e melhor prefigura a realidade da vida eterna, toda substanciada de caridade.

A virgindade implica certamente renúncia à forma de amor típica do matrimônio. Assume, porém, a nível
mais profundo, o dinamismo; inerente à sexualidade, de abertura oblativa aos outros, potenciado e transfigurado
pela presença do Espírito que nos ensina a amar o Pai e os irmãos como o fez o Senhor Jesus.

Em síntese a sexualidade é chamada a exprimir valores diversos a que correspondem exigências morais
específicas: orientada para o diálogo interpessoal contribui para a maturidade integral do homem abrindo-o ao
dom de si no amor; ligada, além de mais, na ordem da criação, à fecundidade e à transmissão da vida, é
chamada a ser fiel também a esta sua interna finalidade. Amor e fecundidade são todavia significados e
valores da
sexualidade que se incluem e reclamam mutuamente e não podem portanto ser considerados nem alternativos
nem opostos.

A vida afetiva, própria de cada sexo, exprime-se de modo característico nos diversos estados de vida: a
união dos cônjuges, o celibato consagrado escolhido pelo Reino, a condição do cristão que não atingiu ainda o
momento do compromisso matrimonial ou porque permaneceu solteiro, ou porque escolheu permanecer assim.
Em todos os casos esta vida afetiva deve ser acolhida e integrada na pessoa humana.

6. Sexualidade e Matrimônio

Vamos abrir o livro do Gênesis e observar que em toda a sua criação, Deus cria em virtude sua palavra:
Faça-se! (Gen. 1,3 ; Gen. 1,6). Porém é significativo que esta palavra de Deus, no caso da criação do homem
seja completada pôr: "Façamos o homem à nossa imagem e semelhança"(Gn1,26). O Criador como que reentra
em si mesmo para procurar o modelo e a inspiração no mistério do seu ser, que já aqui se manifesta como o
"Nós" divino (Pai, Filho e Espírito Santo).

Este Nós divino constitui o modelo eterno do nós humanos. O ser humano é criado desde o princípio
como homem e mulher, e suas vidas estão marcadas por esta dualidade primordial. Dela derivam a
masculinidade e a feminilidade. "Ele os criou homem e mulher", esta é também a primeira afirmação da
igualdade do homem e da mulher, seu caráter de comunhão e complementariedade.

A sexualidade é antes de tudo um grande dom de Deus, dado ao homem para sua alegria. O homem é
um ser totalmente sexuado, é metade, incompleto, seccionado. A sexualidade é como que um dinamismo difuso
e o perante em todo o ser do humano, impregna todas as faculdades e atividades pessoais e caracteriza o eu
como indivíduo singular.

Só em Deus, como o supremo outro, se aquieta a dinâmica da nossa sexualidade. Deus sendo total e
único em suas três pessoas, chama o homem a abertura e doação de si mesmo. A Santíssima Trindade é o
perfeito modelo de abertura.

Numa deturpação e inversão do significado da sexualidade, mistura-se com o termo genitalismo. O


genitalismo é a doença pela qual a sexualidade é reduzida ao exercício dos órgãos genitais. Para o genitalista,
sexo é uma dimensão apenas carnal, restrita aos órgãos genitais, ele não pratica sexo, apenas usa os órgãos
genitais.

6.1. Explicando Melhor:

Órgãos genitais – servem a procriação, são exócrinos: pênis, testículos, ovários, útero, mamas.

Órgãos sexuais – são glândulas de secreção interna (endócrina): hipófise, pituitária, hipotálamo, tireoide,
etc. servem para a produção de hormônios que regem a sexualidade.
Este tipo de desvio leva o homem a problemas graves, gerando feridas que afetam a sua afetividade,
dignidade e relação com Deus.

6.2. Causas do genitalismo:


 Puritanismo – A pessoa passa a ver tudo como errado, não compreende e não percebe a
beleza do seu corpo e de como usá-lo para a glória de Deus.
 Tabus – Os órgãos genitais tornam-se partes misteriosas, secretas, pecaminosas e proibidas.
O tabu excita a curiosidade e castiga os curiosos.
 Mentes sujas – Daí surgem a pornografia e a prostituição, os raptos e os estupros, as orgias,
abortos criminosos e fornicações sem fim.
 Má educação – Gera o machismo, a desvalorização da mulher; o desconhecimento do que
seja sexo e genitália ou o falso conhecimento dele.
 Secularismo – É um sistema ético que respeita toda forma de fé e devoção religiosas e aceita
como diretrizes apenas fatos e influências derivados da vida presente.
6.3. Com o genitalismo se comete pecados graves contra:
6.3.1. O PRIMEIRO MANDAMENTO

"Amar a Deus sobre todas as coisas e ao próximo como a ti mesmo"- São Paulo "vê no
desconhecimento de Deus o princípio e a explicação de todos os desvios morais". Cat.2087. "A idolatria é uma
tentação constante a fé, existe quando o homem presta honra e veneração a uma criatura em lugar do Criador,
quer se trate de deuses, poder, prazer…"Cat. 2113.

6.3.2. A CASTIDADE

"A castidade supõe o respeito pelos direitos da pessoa, particularmente ode receber uma informação e
uma educação que respeitem as dimensões morais e espirituais da vida humana”. Cat. 2344. "A castidade não
proíbe a expressão física do amor. Pelo contrário, defende a honra em que esta expressão, de tão pura e tão
harmoniosa força, torna-se motivo de êxtase interno para o homem e glória para Deus".

6.4. Ofensas contra a castidade:


6.4.1. LUXÚRIA

"É um desejo desordenado ou um gozo desregrado do prazer venéreo. O prazer sexual é moralmente
desordenado quando é buscado pôr si mesmo, isolado das finalidades de procriação e união." (Cat.2351)
6.4.2. MASTURBAÇÃO

"… se deve entender a excitação voluntária dos órgãos genitais, a fim de conseguir um prazer venéreo,
um ato gravemente desordenado". (Cat. 2352) Para que haja um desenvolvimento equilibrado de toda a
personalidade e para que a vivência da sexualidade não se feche num uso inadequado da genitália, mas se abra
para a vivência verdadeira do amor e da fraternidade, é necessário que haja uma abstenção de práticas
masturbatórias, não pôr medo, mas pôr convicção, na certeza de que essas práticas levam o indivíduo a um
fechamento em si, ao amor e ao Dom de si ao outro.

6.4.3. FORNICAÇÃO

"É a união carnal fora do casamento entre um homem e uma mulher livres. É gravemente contrária a
dignidade das pessoas e da sexualidade humana, naturalmente ordenada para o bem dos esposos, bem como
para a geração e a educação dos filhos." (Cat. 2353 )

6.4.4. PORNOGRAFIA

"Consiste em retirar dos atos sexuais, reais ou simulados, da intimidade dos parceiros para exibi-los a
terceiros de maneira deliberada. Ela ofende a castidade porque desfigura o ato conjugal, doação íntima dos
esposos entre si. Atenta gravemente contra a dignidade daqueles que a praticam (atores, comerciantes, público),
porque cada um se torna para o outro objeto de um prazer rudimentar e de um proveito ilícito, mergulha uns e
outros na ilusão deum mundo artificial. É uma falta grave. As autoridades civis devem impedir a produção e
distribuição de materiais pornográficos."(Cat. 2354)

6.4.5. PROSTITUIÇÃO

"Vai contra a dignidade da pessoa que se prostitui, reduzida assim ao prazer venéreo que dela se
obtém. Aquele que paga peca gravemente contra si mesmo, viola a castidade à qual se comprometeu no seu
batismo e mancha seu corpo, templo do Espírito Santo. A prostituição é um flagelo social."(Cat.2355)

6.4.6. ESTUPRO

"Designa a penetração à força, com violência, na intimidade sexual de uma pessoa. Fere a justiça e a
caridade. O estupro lesa profundamente o direito de cada um ao respeito, à liberdade, à integridade física e
moral…" (Cat.2356)

6.4.7. HOMOSEXUALISMO

"A homossexualidade designa as relações entre homens e mulheres que sentem atração sexual,
exclusiva ou predominante pôr pessoas do mesmo sexo… A sua gênese psíquica continua amplamente
inesplicada. …a tradição sempre declarou que "os atos de homossexualidade são intrinsecamente
desordenados. "São contrários
à lei natural, fecham o ato sexual ao Dom da vida."…"As pessoas homossexuais são chamadas à castidade
pelas virtudes do autodomínio, educadoras da liberdade interior, as vezes pelo apoio de uma amizade
desinteressada, pela oração e pela graça sacramental, podem e devem se aproximar, gradual e resolutamente
da perfeição cristã".

7. Deus tem um plano para sua sexualidade

Ao longo da história, o homem tem se perguntado sobre o sentido e o fim último da vida, da existência,
do tempo, do amor, do bem e do mal e, também, da sexualidade. Sobretudo, parece que ultimamente, mais do
que questionar outras coisas, se questiona sobre a sexualidade. Basta ver os outdoors nas avenidas, os
comerciais na televisão, abrir qualquer revista, para encontrar alguma coisa sobre a sexualidade. Infelizmente,
não procuramos informações sobre a sexualidade com o Criador da mesma, mas com outros aprendizes que só
têm “meias verdades”, para não dizer “mentiras completas”, que inclusive nos fazem pensar que Deus não tem
nada a ver com a sexualidade e acreditamos que “outros” podem ter uma melhor explicação sobre este tema.

Porém não é assim, podemos observar atualmente duas posturas extremistas e equivocadas sobre a
sexualidade:

1. Em um extremo, encontra-se a postura hedonista e utilitarista, na qual o único objetivo é satisfazer os


impulsos e os sentidos, o mais importante é o prazer e a gratificação física, que EU me sinta bem. O mais grave
desta postura é reduzir as pessoas a simples objetos sexuais e meios para atingir o bem-estar.

2. No outro extremo, encontramo-nos com a postura que vê a sexualidade como um tabu, como algo
que causa vergonha, que é sujo e indigno, que somente se pode tolerar para a procriação, alguma coisa
parecida com “um mal necessário”.

Ambas as posturas são erradas, já que a concepção CORRETA DA SEXUALIDADE (por assim dizer) é
a que dá a este aspecto da vida seu justo valor como um dom de Deus, ofertado ao homem para fazê-lo
coparticipante da criação por meio da fecundidade que surge da entrega de amor esponsal entre o homem e a
mulher.

7.1. A sexualidade concorda com o plano de Deus quando respeita seus dois fins:
7.1.1. UNITIVO E PROCRIADOR.
7.1.1.1. UNITIVO: isto é, quando a sexualidade é um meio para expressar amor.

Por exemplo, os esposos "quando exercem sua sexualidade" realizam um ato de entrega e, portanto, é
bom e lícito que gozem do prazer que a relação sexual implica. De fato, este prazer físico também é uma
capacidade que Deus dá ao ser humano e que tem como finalidade a união dos esposos.

7.1.1.2. PROCRIADOR: ou seja, que está aberto à vida. Ter a consciência de que o amor em si mesmo
é fecundo.
Neste sentido, a sexualidade em si não pode ser considerada como alguma coisa “má”, ao contrário,
desde sua origem provém de Deus e, por natureza, é BOA; inclusive, por estar unida à fecundidade, poderíamos
chamá- la “sagrada”. No entanto, não devemos esquecer o fato de que, devido à natureza decaída do homem e
como consequência do pecado original, a sexualidade, enquanto não for corretamente entendida e não estiver
dirigida e integrada ao amor, pode chegar a ser uma ocasião de pecado, isto é, pode prejudicar a relação de
amor entre Deus e o ser humano. Vale a pena lembrar que embora “a carne seja fraca”, todo homem possui a
faculdade da liberdade, a vontade e a inteligência que lhe permitem viver a sexualidade conforme o desígnio de
Deus.

Se tivermos alguma dúvida sobre o desígnio de Deus para a sexualidade, podemos aceitar como guia o
sexto e o nono mandamento da Lei de Deus, para que desta maneira descubramos que a sexualidade faz parte
de nossa natureza, sendo uma forma de ser pessoa, e que o ato sexual, exclusivo do matrimônio, é um presente
de Deus para o amor. E, como se fosse pouco, leva implícito o dom da fecundidade. Portanto, a sexualidade é
BOA porque nos faz semelhantes a nosso Criador, nos faz ser realmente imagem de um Deus que AMA e que
dá VIDA.

8. A sexualidade deve influenciar positivamente no crescimento espiritual

Médico italiano e membro da Secretaria Internacional do Movimento Famílias Novas, do Focolares,


Raimondo Scotto é autor do livro O Amor Tem Mil Faces, no qual trata da importância do amor na vida a dois de
forma a criar um ambiente favorável à educação dos filhos. Para ele, o conceito de amor não deve ser distorcido
e a sexualidade deve influenciar positivamente no crescimento espiritual do indivíduo.

Numa entrevista informal, Raimondo Scotto faz comentários sobre a importância da presença dos pais
na vida de seus filhos para que eles possam desenvolver sua própria sexualidade. Além disso, ele nos mostra o
quanto deve-se dar valor à fertilidade e à vida conjugal.

8.1. Que faces do amor estão distorcidas hoje?

Raimondo Scotto: Não são as faces do amor que estão distorcidas. O que está distorcido é o conceito de
amor. Isso porque muitas vezes confunde-se amor com sentimento. Ambos são importantes, mas o amor tem
algo a mais que compreende o sentimento, o qual é uma coisa variável pois depende de como a gente se sente.
Um dia nós queremos bem a uma pessoa, noutro dia não, isso porque a saúde pode não estar boa. O amor é
querer o bem do outro, porque, quando não há mais sentimento, é a vontade de amar que deve entrar em
movimento, de forma a recuperar o sentimento, que se torna mais forte do que antes.

8.2. Então, essa face do amor tem de ser descoberta?

Sim, pois, quando nos referimos a um casal que parte de uma paixão gratuita, imagina-se que ela vai
continuar para o resto da vida, e isso é um erro. O amor é diferente, porque só através dele duas pessoas
deixam suas famílias de origem para viverem juntas. Na paixão, o que existe é uma imagem idealizada e não
concreta do
outro. Descobrir o outro faz com que você aprenda a querer o seu bem, no momento em que a paixão, o
sentimento, não seja mais tão forte como no início.

8.3. Como encontrar o equilíbrio entre a sexualidade e a procriação atualmente?

Há anos, a sexualidade estava ligada apenas à procriação, hoje em dia há um outro entendimento, mais
amplo.

Antigamente, a sexualidade era vista somente em função da procriação, mas, hoje em dia, ela é vista
positivamente como dom de Deus. No Antigo Testamento, Deus não fala só em crescer e multiplicar-nos, mas
diz haver homem e mulher para que sejam uma só carne, correspondendo à dimensão unitiva da relação sexual.
É preciso acrescentar que, depois do Concílio Vaticano II, a dimensão relacional, ou seja, a capacidade que a
relação sexual tem de ajudar o casal a construir a unidade, foi redescoberta. Portanto, a existência da
necessidade do amor é anterior à vinda de um filho na vida do casal, pois, por mais que ele seja importante
nessa união, se o casal não consegue tê-lo, o amor deve estar presente numa relação sexual. Essa é sempre
fecunda, embora possa não ser fértil, pois ajuda o casal a crescer, agindo de forma positiva em toda a
sociedade. Como é que se encontra o equilíbrio? Entendo que, em primeiro lugar, vem o amor. Sem amor, ainda
que um filho tenha valor positivo independente da maneira como ele venha a nascer, a relação sexual se torna
eticamente negativa.

8.4. Podemos então dizer que esse conceito de sexualidade se encontra um pouco distorcido entre
a sociedade?

Sim, porque a sociedade, que desenvolveu bastante o aspecto individualista, criou a mentalidade de que
qualquer necessidade deva ser imediatamente satisfeita. Sendo assim, não existe mais a conexão entre a
sociedade e o amor, pois ela não faz mais a distinção entre a sexualidade e a genitalidade. Isso porque, quando
falamos em genitalidade, estamos reduzindo o valor da sexualidade, a qual é componente fundamental que
entra em toda nossa afetividade. Portanto, se um casal não conseguisse mais ter relações sexuais genitais, mas
continuasse a ter uma relação afetiva, de ternura, a sexualidade se expressaria da mesma forma plenamente.
Hoje em dia, os meios de comunicação dão uma atenção exagerada à questão do orgasmo. Entretanto,
devemos sempre colocar a nossa atenção no amor, porque casais idosos que não conseguem mais ter relações
sexuais, por exemplo, mas que, por meio de outras manifestações afetivas, se sentem como o “tu” privilegiado
do outro, experimentam um outro tipo de orgasmo: o do coração.

8.5. Que tipo de enfoque deve ser dado à sexualidade na educação dos filhos?

É preciso que os pais saibam transmitir um conceito positivo da sexualidade. Eles devem se convencer
de que, antes das palavras, existe o testemunho da própria vida. O valor de entender o seu corpo, a sua
sexualidade, passa através de uma série de atitudes que o filho capta da nossa maneira de considerar esses
pontos. Os pais precisam reconhecer o momento e a maneira de falar sobre o assunto na educação dos filhos,
fato que só pode ocorrer de forma correta se existir o amor na vida do casal.

8.6. Isso ajuda a criança a se orientar nesse mundo permissivista?

Sim. Ajuda muito, porque, se em casa a criança experimenta o amor verdadeiro, ela entenderá que ele
requer a renúncia. No momento em que ela percebe que nem todas as suas atividades podem ser gratificadas,
adquire a capacidade de autocontrole. Vale a pena atentarmos para o fato de que a educação sexual começa
quando os pais ensinam a criança a comer com a colher e não mais com as mãos, recebendo proibições que
devem ter seus motivos explícitos para a criança. Além disso, deve sempre haver diálogo entre os pais, e
também entre eles e os filhos, de forma positiva, pois, num ambiente desse tipo, a criança será mais capaz de
administrar seus impulsos sexuais que ainda aparecerão. Se a criança, desde pequena, aprendeu, por exemplo,
a administrar ouso da televisão e dos meios de comunicação em geral, terá maior facilidade em fazer suas
próprias escolhas e saberá lidar com os fracassos.

8.7. Que palavra nós podemos dizer aos jovens sobre a ideia do sexo livre?

Os próprios jovens sabem que, no fundo, esse sexo livre não os deixa satisfeitos, porque muitas vezes
passam de uma experiência sexual a outra em busca de uma gratificação que nunca chega. Então, eu os
convidaria sempre a ligar o sexo ao verdadeiro amor. Essa é a possibilidade que a sexualidade tem de gratificar
as pessoas em todos os seus limites, não só físicos, mas também psicológicos e espirituais. Então, eu os
impulsionaria sempre a ligarem o sexo ao amor, e amor exige renúncia. Vale a pena ressaltar que, apesar de
toda a liberalização sexual, nós não estamos diante de jovens felizes.

8.8. Sexualidade é um componente da identidade. Como ligar isso ao problema do


homossexualismo?

Do meu ponto de vista, a homossexualidade é um distúrbio de identidade, devido a vários fatores


concomitantes que podem ser tanto genéticos quanto aqueles ligados à educação e a fatores sociais. A família é
muito importante para que a criança tenha um crescimento contínuo, de modo a favorecer o desenvolvimento de
uma identidade de forma mais segura. E, se em alguns momentos ela possa vir a ter dúvida sobre a sua
sexualidade, é preciso que os pais tenham a coragem de procurar bons especialistas que possam lhes dar
conselhos sobre como devem se comportar. Logicamente, depois que a sexualidade passa por uma série de
experiências, ela se torna característica de um indivíduo adulto. É por isso que, mesmo quando alguém quer
reorientar seus impulsos sexuais depois de adulto, isso é muito difícil de se conseguir, embora não seja
impossível. O ideal sempre é orientar a criança e ao adolescente, impedindo que o problema se estenda à idade
adulta. Essa é a grande responsabilidade dos pais e da família, bem como dos educadores e evangelizadores.
8.9. Sexualidade e religião. Qual é a importância desse tema na catequese da criança e,
especialmente, na de jovens e adultos?

É muito grande, mesmo porque, em geral, o povo não conhece o pensamento da Igreja sobre a
sexualidade. Eu gostaria de saber quantas pessoas, sejam elas catequistas ou até mesmo sacerdotes, tiveram a
possibilidade de conhecer os discursos que João Paulo II fez sobre o corpo, que são maravilhosos. Com esse
conhecimento, ambos teriam a tarefa de torná-los compreensíveis a todos. Só assim, então, se entenderia o
valor positivo que a Igreja dá à sexualidade, o que também está na primeira encíclica de Bento XVI. Seria
necessário que todos os catequistas e evangelizadores se aprofundas sem para ver que consequências têm
esses discursos. Devemos, cada vez mais, nos convencer de que a sexualidade é um grande dom de Deus. Não
que a Deus interesse o fato de os jovens terem ou não relações pré-matrimoniais; a Ele interessa que tenhamos
uma sexualidade que seja gratificante do ponto de vista humano, o que só acontece com o matrimônio. O lado
negativo das relações pré-matrimoniais não está na relação sexual em si. No entanto, o risco que existe nas
relações pré- matrimoniais é aquela de impedir a experiência de uma sexualidade ainda mais bela e madura
depois do casamento. Então o “não” que édito, a renúncia à qual se é impelido, é para participarmos de uma
experiência ainda mais bonita e de um bem maior. Não que isso signifique a perfeição, mesmo porque pode-se
errar muitas vezes. O importante é ter presente aonde queremos chegar e recomeçar sempre.

8.10. O que o senhor tem a dizer sobre as mulheres solteiras que têm interesse em ter o que
chamam de “produção independente”?

Eu diria: querer conseguir um filho a qualquer custo é reduzi-lo a um objeto. Sendo assim, faz-se derivar
do filho o próprio bem-estar da mãe. Colocar uma criança no mundo parece ser algo relativamente fácil, só que
educar o filho é muito mais difícil. Isto é passar da fertilidade à fecundidade. Quando as crianças começam a
crescer, elas começam a se contraporá os pais, aí começa a dificuldade. Essa experiência também acontece
com os homossexuais que querem ter um filho, e com a mãe solteira que quer tê-lo como escolha livre. O
problema é que, quando falta a figura paterna, podem ocorrer muitos distúrbios do ponto de vista educacional e a
identidade dessa criança pode ficar prejudicada. A família é a primeira responsável pela educação dos filhos, e a
educação sexual a ninguém pode ser delegada. Todas as outras entidades podem ajudar a família, mas nunca
substituí-la. Além disso, deve-se educar a criança a receber manifestações afetivas dos pais, para que, na fase
adulta, ela seja capaz de ter relações afetivas positivas com seu cônjuge. Uma outra responsabilidade dos pais é
a de responder às primeiras perguntas com relação à sexualidade, nunca com explicações longas demais, mas
de maneira que as crianças sejam capazes de entender na idade delas. É importante que a mãe não prevaleça
sobre o pai e vice- versa, pois a criança deve ter uma avaliação positiva de ambos os sexos. E um efeito positivo
é amar a criança realmente, mostrando a importância dos papéis de cada um na família.
8.11. O que falta realmente é a educação para formar a família…

Sim, mas em todo o caso não é preciso que se façam grandes coisas. Se os pais se amam, já
transmitem uma experiência positiva da sexualidade, logo, eles tendo uma visão positiva de sexualidade e
entendendo que isso é a vontade de Deus, farão com que as próprias crianças entendam que isso faz parte do
projeto de Deus. Isso não exclui o fato de que a família precisa se informar um pouco e pedir conselhos a outras
famílias, a especialistas, mas depois são sempre o pai e a mãe que devem decidir como fazer.

8.12. Então nós, pais, educadores, professores, catequistas, evangelizadores temos obrigação de
nos informar lendo bons livros para podermos orientar melhor as pessoas sobre o amor verdadeiro que vem de
Deus…

Sim, é muito importante que a família se atualize. O meu livro, por exemplo, quer ser justamente uma
ajuda para a família e também para todas as pessoas que queiram saber o sentido positivo da sexualidade. Mas
em primeiro lugar, os documentos dos papas são muito importantes. É bom ressaltar que nós temos a tarefa de
mediá-los, porque, às vezes, possuem um tipo de linguagem que não dá para entender facilmente pelas pessoas
comuns. Então, nossa tarefa é fazer com que os evangelizadores traduzam essas mensagens em termos
compreensíveis para o lugar onde estão. Todos nós devemos fazer isso, todos nós temos responsabilidade no
campo da educação e devemos fazer a mediação entre aquilo que diz a Igreja e aquilo que o povo é capaz de
acolher.

8.13. Os meios de comunicação ocidentais deturpam e deformam os valores da família, do amor e


da sexualidade?

Eles deformam muito o conceito de sexualidade, porque, para vender um produto, procuram estimular
uma das necessidades mais fortes do ser humano que é a necessidade sexual. Isso implica a necessidade de
sermos críticos com relação aos meios de comunicação. Certamente, parece uma luta desigual entre a realidade
que a família gostaria de propor e aquilo que é proposto pelos meios de comunicação. Mas quando são lançadas
sementes dentro da família, a longo prazo elas produzem frutos no interior da pessoa.

9. Homossexualidade não é uma fatalidade por Maria Fernanda Barroca

Afirma o psicólogo holandês, Gerard van Aardweg, que a homossexualidade pode ser tratada e
ultrapassada, apoiando as suas afirmações em estudos clínicos. Afirmar que o homossexual não pode mudar é
assumir uma atitude fatalista e desencorajadora, produto da falta de investigação séria sobre esta matéria.

Van der Aardweg, num artigo publicado na Studi Cattolici dá conta de experiências bem sucedidas e
portanto animadoras, mas silenciadas.
Não é só o cidadão comum que olha para a homossexualidade com preconceitos; infelizmente muitos
profissionais afinam pelo mesmo diapasão. Impera neste campo muita ignorância e a culpa é a falta de pessoas
competentes que se debrucem a estudar, com seriedade e empenhamento, este assunto.

Essa ignorância tem sido aproveitada para a emancipação dos homossexuais assumidos que
pretendem impor coisas como: “a homossexualidade não é mais do que um aspecto normal da sexualidade
humana”, ou “o pior problema é a discriminação social que vitima o homossexual”, ou “o homossexual nasce
assim”. Esta última afirmação leva à conclusão falsa de que o homossexual não pode nem mudar nem curar.
Esta afirmação neutraliza muitas tentativas de mudança e leva a que se inculque cada vez mais nas
mentalidades que «o que não tem remédio, remediado está», fazendo aumentar, em flecha os comportamentos
anómalos.

As tentativas para descobrir a origem psíquica da homossexualidade já vêm do século passado e foi a
psicanálise de Freud que aportou alguns progressos, que não se ficaram a dever às teorias de Freud, mas à
convicção de que é nos anos da juventude que devem procurar-se as causas, bem como nas formas de
relacionamento do indivíduo com os pais. Já nessa altura se considerava que no homossexual está, na maioria
dos casos, implícita uma pessoa bloqueada, com uma sexualidade imatura e desfasada na idade. Se Freud deu
uma primeira achega para a compreensão do problema, foram os seus discípulos que foram mais longe. Um
deles, Adler, foi o primeiro a estabelecer uma relação entre a homossexualidade e os complexos de
inferioridade, face ao próprio sexo e que se manifestam como complexos de falta de virilidade. Estudos
posteriores vieram dar razão a Adler, ainda que com algumas divergências. Onde há unanimidade é em
considerar a homossexualidade como uma falta de identificação com o próprio sexo, ou seja, como “um
problema de identidade sexual”.

As conclusões de Adler levaram a terapias para estimular, no caso do homem a confiança viril em si
mesmo, lutando contra a tendência de se alhear das atividades e interesses masculinos. Uma primeira terapia
da homossexualidade deve ser procurar que um jovem se identifique, se é rapaz, com o pai, se é rapariga com a
mãe, sem adoptar para com o outro: mãe ou pai, respectivamente, uma atitude infantil e pouco amadurecida. O
homossexual masculino ou feminino é uma pessoa que não viveu na juventude integrada em grupos do mesmo
sexo. Essas pessoas ao sentirem-se inferiorizadas ou excluídas em atividades normais, buscam o afeto de
pessoas do mesmo sexo. Está dado o primeiro passo e assim há quem afirme: “dentro do homossexual vive
uma pobre criança que se absorve em desejos insatisfeitos”.

As terapias são algo de complexo. O tratamento deve ir ao fundo porque a afetividade desordenada é
apenas um aspecto. No homossexual há muita coisa que não chegou a amadurecer e ficou na fase do
infantilismo: o egocentrismo, os receios infundados, os sentimentos de inferioridade, as manifestações egoístas
na amizade e nas relações sociais, a procura de compensações infantis, a autocompaixão, o procurar ser vítima
e dar à sua vida uma cor de tragédia e sofrimento, etc. Só nos tornamos adultos, homem ou mulher, quando
cresce em nós a confiança, quando nos sentimos capazes de assumir responsabilidades. Nesta situação quer
o homem, quer a
mulher, estão em condições de sentir de modo consciente a atração pelo outro sexo. Estas tendências que
podemos designar por heterossexuais também existem no homossexual, mas são bloqueadas pelos seus
complexos. É aí, na luta contra estes complexos, que muitos homossexuais começam a ter desejos de se libertar
e pouco a pouco as suas obsessões homossexuais diminuem ou desaparecem e nasce neles a alegria de viver
ao mesmo tempo que sentem um bem-estar até aí não experimentado. Uns vão gradualmente e
esporadicamente têm comportamentos homossexuais; outros tornam-se completamente heterossexuais,
enamoram-se por uma pessoa do outro sexo e constituem uma família normal.

Os homossexuais não precisam, nem querem compaixão, mas compreensão; não querem ser “os
coitadinhos” da sociedade. Muitas vezes devem ser confrontados com a fragilidade da sua vontade e uma
atitude radical pode ser benéfica. Uma mulher lésbica curou-se radicalmente quando entendeu com clareza o
que alguém lhe disse em tom firme: “Continuas a ser uma criança! ”. Demorou anos a sua recuperação total,
mas o seu processo de cura começou com aquelas palavras. Por razões como esta, a compaixão por eles deve
ser banida, como banido deve ser o reconhecimento de que a sua situação é “normal”. Levar um homossexual a
resignar-se com a sua situação é o pior que se lhe pode fazer se se quer a sua recuperação.

O caminho da verdadeira recuperação é difícil e por vezes não vai além da abstenção de relações
sexuais e consequente melhoria na estabilidade comportamental, mas isso também acontece com outros
tratamentos onde não se chega à cura completa, sobretudo nos casos de fobias, neuroses, obsessões, etc. A
falta de sucesso total não deve levar à desistência por parte do médico. Há muitas outras situações em que a
cura não é completa e nem por isso o médico abandona o paciente – estou a pensar em tantas e tantas
doenças chamadas crónicas. Pactuar com a homossexualidade leva a uma progressiva insatisfação, a uma
vida profundamente miserável e infeliz, mascarada de uma alegria ruidosa e aparente que bem observada é
dramática. Quando vemos nos meios de comunicação social as suas festas, fica-nos uma sensação de angústia
por ver aqueles homens ou mulheres prisioneiros da neurose sexual a caminho da sua destruição psíquica que
desemboca, por vezes, no desespero.

Discriminar o homossexual ou a lésbica – não, nem por sombra; são seres humanos que não querem
compaixão, mas que devem ser respeitados na sua dignidade de pessoas. Querer, porém, conferir-lhes os
mesmos direitos, por exemplo em matéria de casamento, de direitos familiares ou de adopção não é aceitável. É
muito mais útil fazer-lhes ver que a sua personalidade não está completamente desenvolvida, mas que podem,
se quiserem, com vontade firme, chegar à normalidade.

10. Sexualidade e castidade

Muitos hoje, em um grande pré-conceito em relação à fé católica, acreditam que a Santa Igreja vê o
sexo como algo mau, impuro ou pecaminoso, e isso é um engano.
Um olhar mais aprofundado sobre a doutrina católica mostra a imensa dignidade na qual a Santa Igreja
vê a sexualidade. Diz o Catecismo da Igreja Católica que "a união do homem e da mulher no casamento é uma
maneira de imitar na carne a generosidade e a fecundidade do Criador. (…) Dessa união procedem todas as
gerações humanas." (Catecismo da Igreja Católica, 2335).

Diz também o Catecismo ainda que, pela sexualidade, “os esposos participam do poder criador e da
paternidade de Deus. ” (Catecismo da Igreja Católica, 2367) Isso está claro já nos primeiros capítulos da
Sagrada Escritura, quando Deus cria o homem e a mulher à sua imagem e semelhança, e lhes diz: “Frutificai, e
multiplicai- vos, enchei a terra e submetei-a.” (Gen. 1,28) E mais adiante: “Por isso o homem deixa seu pai e sua
mãe para se unir à sua mulher; e já não são mais que uma só carne. ” (Gen. 2,24)

Se, portanto, a Santa Igreja crê que: pela sexualidade o homem e a mulher imitam a generosidade de
Deus. Deus condiciona ao ato sexual nada menos do que a geração de uma nova vida humana pelo ato sexual
os esposos participam do poder criador de Deus o próprio Deus ordena que, em sua vocação natural, o homem
e mulher se unam no ato sexual

10.1. Como se poderá afirmar que a fé católica vê o sexo como algo mau, impuro ou pecaminoso?

Foi o próprio Deus, ainda, que dispôs a natureza de forma à haver prazer no ato que perpetua a espécie
humana da mesma forma que normalmente há prazer natural em todos os atos humanos necessários para a
sobrevivência e perpetuação da espécie: comer, beber, dormir, e assim por diante.

O Sagrado Magistério da Igreja ensina ainda que não há problema algum em os esposos desejarem este
prazer no ato sexual e o gozarem, desde que isso seja vivido nos justos limites. Nesse sentido, o saudoso Papa
Pio XII nos ensina: "O próprio Criador estabeleceu que nesta função os esposos sentissem prazer e satisfação
no corpo e no espírito. Portanto, os esposos não fazem nada de mal em procurar este prazer e em gozá-lo. Eles
aceitam o que o Criador lhes destinou. Contudo, os esposos devem manter-se nos limites de uma moderação
justa." (Catecismo da Igreja Católica, 2362)

10.2. Finalidades procriadora e unitiva

Quais seriam estes justos limites? É aquilo que a fé católica chama de virtude da castidade. O
Catecismo da Igreja Católica nos ensina: "A castidade significa a integração correta da sexualidade na pessoa."
(Catecismo da Igreja Católica, 2347) E ainda: "Todos os fiéis de Cristo são chamados a levar uma vida casta
segundo seu estado de vida." (Catecismo da Igreja Católica, 2348) Ou seja, a virtude da castidade consiste na
maneira correta de viver a sexualidade. Cada membro da Santa Igreja é chamado por Nosso Senhor Jesus
Cristo à viver a castidade segundo a sua vocação.
Para isso, precisamos compreender que o ato sexual naturalmente tem duas finalidades: a finalidade
unitiva, que diz respeito ao bem e à santificação do casal, e a finalidade procriadora, que diz respeito à geração
da vida. Diz o Catecismo: "Salvaguardando esses dois aspectos essenciais, unitiva e procriador, o ato conjugal
conserva integralmente o sentido de amor mútuo e verdadeiro e sua ordenação para altíssima vocação do
homem para a paternidade." (Catecismo da Igreja Católica, 2369)

O prazer é consequência natural do ato conjugal, e não finalidade do ato. Assim, qualquer atitude que
faça uso da sexualidade buscando o “prazer pelo prazer”, fora da sua finalidade unitiva ou fechando-se
intencionalmente à sua finalidade procriadora, é uma atitude imoral.

10.3. Pecados contra a castidade

O Catecismo especifica: "Entre os pecados gravemente contrários à castidade é preciso citar a


masturbação, a fornicação, a pornografia e as práticas homossexuais." (Catecismo da Igreja Católica, 2396)

A masturbação atenta tanto contra a finalidade unitiva do ato sexual, quanto contra a finalidade
procriadora, e por isso é si mesmo imoral. Diz o Catecismo: "Por masturbação se deve entender a excitação
voluntárias dos órgãos genitais a fim de conseguir um prazer venéreo. (…) A masturbação é um ato intrínseca e
gravemente desordenado. Qualquer que seja o motivo, o uso deliberado da faculdade sexual fora das relações
conjugais normais contradiz sua finalidade." (Catecismo da Igreja Católica, 2352)

Embora a masturbação seja em si mesmo imoral, certos fatores psicológicos podem atenuar a
culpabilidade do ato, de forma que, em certas circunstâncias, possa ser apenas um pecado venial ou não ser
nem mesmo pecado, embora seja sempre um ato imoral (Catecismo da Igreja Católica, 2352).

A fornicação é a "união carnal fora do casamento entre um homem e mulher livres." (Catecismo da Igreja
Católica, 2353) Atenta contra a finalidade unitiva do ato sexual, pois é praticado fora do compromisso definitivo
entre homem e mulher que se dá no matrimônio. O contexto adequado para o ato sexual é, portanto, o
matrimônio, e jamais o namoro, nem mesmo o noivado. A fornicação "é gravemente contrária à dignidade das
pessoas e da sexualidade humana, naturalmente ordenada para o bem dos esposos, bem como para a geração
e educação dos filhos." (Catecismo da Igreja Católica, 2353)

Diz o Catecismo que "a homossexualidade designa as relações entre homens e mulheres que sentem
atração sexual, exclusiva ou predominantemente, por pessoas do mesmo sexo. (…) Apoiando-se na Sagrada
Escritura, que os apresenta como depravações graves, a tradição sempre declarou que os atos de
homossexualidade são intrinsecamente desordenados. São contrários à lei natural. Fecham o ato sexual ao dom
da vida. Não procedem de uma complementaridade afetiva e sexual verdadeira. Em caso algum podem ser
aprovados. As pessoas homossexuais são chamadas à castidade." (Catecismo da Igreja Católica, 2357)
A Santa Igreja, porém, acolhe e respeita o homossexual enquanto pessoa, embora não aprove as
práticas homossexuais; ela ama o pecador, mas odeio o pecado. Diz o Catecismo: "Um número não
negligenciável de homens e mulheres apresenta tendências homossexuais inatas. Não são eles que escolhem
suas condições homossexual; para a maioria, pois, esta constitui uma provação. Devem ser acolhidos com
respeito, compaixão e delicadeza. Evitar-se-á para com eles todo sinal de descriminação injusta. Estas pessoas
são chamadas a realizar a vontade de Deus na sua vida e, se forem cristãs, a unir ao sacrifício da cruz do
Senhor as dificuldades que podem encontrar por causa de sua condição. As pessoas homossexuais são
chamadas à castidade. Pelas virtudes de autodomínio, educadoras da liberdade interior, às vezes pelo apoio de
uma amizade desinteressada, pela oração e pela graça sacramental, podem e devem se aproximar, gradual e
resolutamente, da perfeição cristã." (Catecismo da Igreja Católica, 2359)

10.4. Castidade no matrimônio

Opõe-se à castidade no matrimônio: O adultério.

O espaçamento do nascimento dos filhos sem razões justas (sejam elas físicas, psicológicas,
econômicas, etc.) O espaçamento do nascimento dos filhos por métodos contraceptivos artificiais, que tornam o
ato sexual intencionalmente infecundo

No matrimônio, "os dois se doam definitiva e totalmente um ao outro. Não são mais dois, mas formam
doravante uma só carne. A aliança contraída livremente pelos esposos lhes impõe a obrigação de a manter una
e indissolúvel." (Catecismo da Igreja Católica, 2364) O adultério designa a "infidelidade conjugal. Quando dois
parceiros, dos quais um é casado, estabelecem entre si uma relação sexual, mesmo efêmera, cometem
adultério." (Catecismo da Igreja Católica, 2380)

Como no matrimônio há uma união indissolúvel, se o matrimônio é válido e uma das partes do casal
contrai a chamada "segunda união", comete adultério. Se, por condições particulares, a convivência enquanto
casal torna- se impossível, e havendo dúvidas sobre a validade do matrimônio supostamente contraído (existem
diversas razões que podem haver comprometido sua validade), deve-se procurar os Tribunais Eclesiásticos para
avaliar se o matrimônio realmente existiu ou não.

Sobre isso, assim se expressou recentemente o Santo Padre Bento XVI: "Nos casos em que surjam
legitimamente dúvidas sobre a validade do Matrimônio sacramental contraído, deve fazer-se tudo o que for
necessário para verificar o fundamento das mesmas. Há que assegurar, pois, no pleno respeito do direito
canônico, a presença no território dos tribunais eclesiásticos, o seu caráter pastoral, a sua atividade correta e
pressurosa; é necessário haver, em cada diocese, um número suficiente de pessoas preparadas para o solícito
funcionamento dos tribunais eclesiásticos. (…) Enfim, caso não seja reconhecida a nulidade do vínculo
matrimonial e se verifiquem condições objetivas que tornam realmente irreversível a convivência, a Igreja
encoraja estes fiéis a esforçarem-se
por viver a sua relação segundo as exigências da lei de Deus, como amigos, como irmão e irmã; deste modo
poderão novamente abeirar-se da mesa eucarística, com os cuidados previstos por uma comprovada prática
eclesial." (Sacramentum Caritatis, 29)

Deve-se observar que um matrimônio consumado jamais poderá ser anulado, mas sim, declarado que,
por condições específica, sempre foi inválido.

Diz o Catecismo: "A fecundidade é um dom, um fim do matrimônio, porque o amor conjugal tende
naturalmente a ser fecundo. (…) A Igreja, que está do lado da vida, ensinada que qualquer ato matrimonial deve
estar aberto à transmissão da vida." (Catecismo da Igreja Católica, 2366) Porém, "por razões justas, os esposos
podem querer espaçar o nascimento dos filhos. Cabe-lhes verificar que seu desejo não provém do egoísmo, mas
está de acordo com a justa generosidade de uma paternidade responsável. Além disso, regularão seu
comportamento segundo os critérios objetivos da moral. (…) A continência periódica, os métodos de regulação
da natalidade baseados na auto-observação e no recurso aos períodos infecundos estão de acordo com os
critérios objetivos da moralidade. Estes métodos respeitam o corpo dos esposos, animam a ternura entre eles e
favorecem a educação de uma liberdade autêntica. Em compensação, é intrinsecamente má toda ação que, ou
em previsão do ato conjugal, ou durante a sua realização, ou também durante o desenvolvimento de suas
consequências naturais, se proponha, como fim ou como meio, tornar impossível a procriação." (Catecismo da
Igreja Católica, 2368-2370).

Como foi dito acima, as razões justas para espaçar o nascimento podem ser tantas físicas, como
psicológicas, financeiras, e assim por diante (ver encíclica Humanae Vitae, n. 16), e isso é moralmente lícito se
for feito através dos métodos naturais. Existe um método de observação do corpo da mulher chamado método
Billings, muito seguro se bem utilizado (segurança de 97%, segundo a Organização Mundial da Saúde). Uma
rápida pesquisa na Internet mostrará muitas informações sobre ele, mas para aprender a utilizá-lo é importante
procurar um instrutor experiente.

Por outro lado, é absolutamente imoral o uso de métodos contraceptivos que tornam o ato sexual
infecundo (tais como: camisinha, pílula anticoncepcional, DIU, laqueadura e vasectomia), se utilizados com a
intensão de fechar o ato sexual para a geração da vida. Nesses casos, e nos casos que mesmo por meios
naturais o casal espaça o nascimento dos filhos sem razões justas para isso, a atitude se reveste de grande
gravidade, pois o casal se fecha para a geração de vidas que se comprometeu ao acolher quando assumiu o
Matrimônio.

10.5. Luta pela castidade

O Catecismo cita ainda a luxúria como "um desejo desordenado ou um gozo desordenado do prazer
venéreo. O prazer sexual é moralmente desordenado quando buscado por si mesmo, isolado das finalidades da
procriação e da união." (Catecismo da Igreja Católica, 2351) Aqui deve-se distinguir entre o "sentir" e o
"consentir";
o sentir desejo sexual de forma desordenada é natural devido as consequências do pecado original em nós, e
por isso mesmo não é imoral; o "consentir" no desejo desordenado, isto é, a atitude que tomamos em relação ao
este desejo desordenado é que pode ser virtuosa ou imoral, pois o pecado implica vontade. Esta atitude imoral
pode ser tanto um comportamento externo ou uma atitude interna de "curtir" o desejo desordenado – e nesse
sentido Nosso Senhor Jesus Cristo fala em cometer um adultério através do olhar (Mateus 6, 27-28).

Com toda a certeza são necessárias renúncias para viver a castidade. O próprio Senhor nos diz: "Aquele
que quer me seguir, tome a sua cruz e siga-me. De que vale ganhar o mundo inteiro se vier ao perder a sua
alma?" (Mateus 16, 16) Por outro lado, reconhecer a necessidade da renúncia da sexualidade desordenada de
forma nenhuma significa que o sexo, em si mesmo, é algo mau, impuro ou pecaminoso. Muito pelo contrário!
Significa que a sexualidade é algo tão cheio de dignidade que não pode ser vivido de qualquer maneira.

O próprio Santo Padre Bento XVI escreveu ao respeito do amor que os gregos chamavam de "eros", isto
é, o amor entre homem e mulher: "Na crítica ao cristianismo que se foi desenvolvendo com radicalismo
crescente a partir do iluminismo, esta novidade foi avaliada de forma absolutamente negativa. Segundo Friedrich
Nietzsche, o cristianismo teria dado veneno a beber ao eros, que, embora não tivesse morrido, daí teria recebido
o impulso para degenerar em vício. Este filósofo alemão exprimia assim uma sensação muito generalizada: com
os seus mandamentos e proibições, a Igreja não nos torna porventura amarga a coisa mais bela da vida?
Porventura não assinala ela proibições precisamente onde a alegria, preparada para nós pelo Criador, nos
oferece uma felicidade que nos faz pressentir algo do Divino? Mas, será mesmo assim? O cristianismo destruiu
verdadeiramente o eros? (…) São necessárias purificações e amadurecimentos, que passam também pela
estrada da renúncia. Isto não é rejeição do eros, não é o seu « envenenamento », mas a cura em ordem à sua
verdadeira grandeza." (Deus Caritas Est, 3-5)

Santo Afonso de Ligório, doutor da Igreja, nos ensina: "Depois da queda de Adão, rebelaram-se os
sentidos contra a razão, e não há para o homem mais difícil virtude a praticar do que a castidade." (Glórias de
Maria, Tratado 3, cap. VI) Mas já dizia um grande sábio que "a juventude não foi feita para o prazer, mas para o
heroísmo."

Para viver a castidade, é necessário, portanto, buscarmos:

 Vida de oração profunda


 Participação frequente no Santo Sacrifício da Missa e na Comunhão Eucarística
 Devoção à Santíssima Virgem, grande modelo de castidade
 Vigilância em relação às tentações
 Fuga das ocasiões mais prováveis de queda
 Busca do Sacramento da Confissão sempre que for necessário
11. O que a Igreja pensa sobre homossexualidade por Isabela Maria de Sales

Sobretudo desde quando foi realizada, em Buenos Aires, a primeira união civil argentina e latino-
americana entre dois homens, o tema do “casamento entre homossexuais” tem ocupado muito espaço na mídia
brasileira.

Um aspecto que tem sido colocado em evidência é o posicionamento da Igreja, especialmente no que foi
manifestado pelo Cardeal Joseph Ratzinger, à época prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, através do
documento “Considerações sobre os projetos de reconhecimento legal das uniões entre pessoas
homossexuais”, do dia 3 de junho de 2004.

Pinçando algumas ideias isoladas e descontextualizadas, os jornais têm publicado uma visão parcial
acerca do que pensa e diz a Igreja sobre isso. Tem até mesmo incitado a opinião pública contra a Igreja,
lançando sobre ela uma imagem de preconceito e “perseguição” contra os homossexuais. Porém, o eixo central
do documento trata, exatamente, de esclarecer o que vem a ser o matrimônio: “Nenhuma ideologia pode
cancelar do espírito humano a certeza de que só existe matrimônio entre duas pessoas de sexo diferente, que
através da recíproca doação pessoal, que lhes é própria e exclusiva, tendem à comunhão das suas pessoas.
Assim se aperfeiçoam mutuamente para colaborar com Deus na geração e educação de novas vidas” (n. 2).

O documento prossegue: “o matrimônio é instituído pelo Criador como forma de vida em que se realiza
aquela comunhão de pessoas que requer o exercício da faculdade sexual. ‘Por isso, o homem deixará o seu pai
e a sua mãe e unir-se-á à sua mulher e os dois tornar-se-ão uma só carne’ (Gen. 2,24).

(…) Deus quis dar à união do homem e da mulher uma participação especial na sua obra criadora. Por
isso, abençoou o homem e a mulher com as palavras: ‘Sede fecundos e multiplicai-vos’ (Gen. 1,28). No plano do
Criador, a complementaridade dos sexos e a fecundidade pertencem, portanto, à própria natureza da instituição
do matrimônio” (n. 3).

Em virtude disso é que a união entre pessoas do mesmo sexo não deve se constituir matrimônio, logo,
não deve ser legalizada.

Mas a postura com relação aos homossexuais continua a mesma que a Igreja sempre pregou. O
documento, no parágrafo 4, diz: “os homens e as mulheres com tendências homossexuais devem ser acolhidos
com respeito, compaixão e delicadeza. Deve evitar-se, para com eles, qualquer atitude de injusta discriminação.
Essas pessoas, por outro lado, são chamadas, como os demais cristãos, a viver a castidade. A inclinação
homossexual é, todavia, objetivamente desordenada e as práticas homossexuais são pecados gravemente
contrários à castidade”.

O que isso quer dizer? O Frei Antônio Moser explica: “Você pode ter tendência ao álcool e por isso
nunca põe álcool na boca. Assim a pessoa pode ter tendência, mas nunca vai praticar atos homossexuais”.
O Papa João Paulo II, diversas vezes, referiu-se aos homossexuais como pessoas amadas por Deus.
Há cerca de 10 anos, quando esteve em São Francisco da Califórnia, nos Estados Unidos, disse-lhes: “Deus vos
ama. E Deus vos ama infinitamente”.

No Catecismo da Igreja Católica consta: “Um número não desprezível de homens e de mulheres
apresenta tendências homossexuais. Eles não escolhem a sua condição de homossexuais; essa condição
constitui, para a maior parte deles, uma provação. Devem ser acolhidos com respeito, compaixão e delicadeza
(…) Evitar-se-á, em relação a eles, qualquer sinal de discriminação injusta. Estas pessoas são chamadas a
realizar na sua vida a vontade de Deus e, se forem cristãs, a unir ao sacrifício da Cruz do Senhor as dificuldades
que podem encontrar devido à sua condição” (n. 2358).

Portanto, nossa obrigação como católicos é reconhecer as pessoas homossexuais como filhas de Deus
e respeitá-las. Entretanto – finalizando com o que diz o Cardeal Ratzinger – “o respeito para com as pessoas
homossexuais não pode levar, de modo algum, à aprovação do comportamento homossexual ou ao
reconhecimento legal das uniões homossexuais” (n. 11).

12. A sexualidade humana e a vocação do corpo

Muitas vezes por falta de compreendermos o significado de coisas muito simples perdemos a riqueza de
aspectos da vida cristã que são fundamentais. Como por exemplo: ao falarmos de corporeidade e de
sexualidade. Ficaremos surpresos ao descobrir como Deus ao nos criar e dar-nos um corpo quis revelar ao
homem dimensões importantíssimas de sua vocação. E mais ainda, como a sexualidade humana traz em si
normas, exigências que ela mesma faz para poder se desenvolver.

Não mais estaríamos falando de regras (não consegui interpretar a palavra) externas que às vezes nos
fazem cair no puro moralismo, mas partiríamos de uma compreensão de nossa própria natureza caminhando em
busca de crescimento. É assim que expondo a sexualidade humana à luz do Mistério de Cristo é que podemos
enxerga-la como um chamado a realizar aquela Caridade que o Espírito Santo infundiu em nossos corações.

A sexualidade é um componente fundamental da nossa personalidade. É um modo de ser e de se


manifestar, de comunicar-se com o outro, de sentir, de expressar e de viver o amor humano. Portanto ela é a
chave para o desenvolvimento harmonioso da nossa personalidade.

Faz-se necessário compreender que esta abrange não somente o plano físico, mas também o plano
psicológico e o plano espiritual, marcando toda sua expressão. Orientá-la, elevá-la e integrá-la pelo amor é o
único meio de torná-la verdadeiramente humana.

Jesus indicou-nos também, pela Palavra e pelo exemplo, a Vocação ao celibato, a virgindade por causa
do Reino dos Céus. O celibatário, por não estar condicionado às obrigações nupciais, está mais disponível para
o
amor gratuito dos irmãos. Exprime melhor a doação de Cristo ao Pai pelos irmãos e melhor prefigura a realidade
da vida eterna.

Se por um lado implica numa renúncia ao amor típico do matrimônio, por outro assume de um modo
mais profundo e evidenciado essa dinâmica do amor oblativo aos outros, que é um aspecto inerente à
sexualidade. Em suma, a sexualidade é chamada a exprimir valores diversos a que correspondem exigências
morais específicas, no diálogo interpessoal e na abertura ao dom de si. A vida afetiva, própria de cada sexo
exprime-se de modo característico nos diversos estados de vida; no matrimônio, no celibato, naqueles que
caminham em um processo de discernimento. Integrar a sexualidade, ordená-la para o amor, é o dever de cada
cristão.

Para chegarmos a uma concepção cristã do homem e de sua sexualidade devemos antes atribuir, ou
mais que isso, reconhecer ao corpo humano a sua função particular: O corpo contribui para revelar o sentido da
vida e da vocação humana. Ao que chamaremos de ora em diante de corporeidade definiremos como sendo o
modo particular, específico de existir e de agir que é próprio do espírito humano.

12.1. Em poucas palavras: O corpo revela o homem.

Este primeiro significado é de natureza antropológica, mas há também um significado de natureza


teologal: O corpo participa na revelação de Deus e de seu amor criador enquanto manifesta o homem como
criatura.

Deus criou o homem, criou-o alma e corpo. O corpo é testemunha da criação, portanto não pode ser
compreendido senão sob a ótica do amor de Deus, do amor com o qual foi criado. Desse dom do amor o corpo
procede e a ele está ligado em uma íntima relação de dependência que imprime no homem um caráter oblativo,
essencial para se entender a sua vocação.

O corpo enquanto sexuado exprime a vocação do homem à reciprocidade, isto é, ao amor e ao mútuo
dom de si. Deus criou o homem e a mulher para dizer-lhes que, em sua diversidade, são iguais em natureza e
em dignidade. Ao mesmo tempo semelhantes para se compreenderem a diferentes para se completarem. Ser
homem e ser mulher constituem dois modos segundo os quais a criatura humana realiza a sua participação no
ser divino pois foram criados à imagem e semelhança de Deus. Por sua natureza, a pessoa humana exige uma
relação de (autoridade?). Por isso, o homem e a mulher, realizam completamente a sua vocação não só como
pessoas singulares, mas também como casal.

Orientados, para a união e fecundidade, o homem e a mulher casados participam do amor criador de
Deus, vivendo a comunhão com ele através do outro. O pecado obscurece a percepção deste aspecto, mas seu
significado permanece inscrito no profundo do coração humano como uma exigência do dom recebido.

“Somente no Mistério do Verbo Encarnado encontra verdadeira Luz o mistério do homem. ” (Gs,22).
Assim é que se compreende que a nossa existência humana não pode encontrar seu significado fundamental se
não for sob a luz do nosso chamado a participar, mais ainda, viver a vida divina.
13. Vamos brincar de namorar? Por Breno Gomes Furtado Alves

A “ficada” de hoje cada vez mais se aparta dos verdadeiros sentimentos e emoções e se aproxima da
frieza das carícias, com o fim único de dar e receber prazer.

Vamos brincar de namorar? Sim? Então, comecemos: no salgadinho que você acabou de comprar há
duas cartelinhas: uma para as meninas, de cor rosa, e uma para os meninos, de azul. Na sua, a cantada fatal:
“Quero você”! Para efetivar a paquera, eu tenho de raspar uma das três opções: “Eu também! ”, “Agora” ou
“Longe! ”. Minha vez! Na minha cantada está escrito muito singelamente: “Beijo”. Você, em continuidade, raspa
uma das três opções: “Na bochecha”, “Na boca” ou “Nem pensar! ”. Dependendo de como as coisas vão rolar,
pinta um “fica” e cada um vai para o seu canto depois, sem entrosamento nem conversa fiada! E, então, até à
próxima compra…

A brincadeira acima pode ser encontrada em certo pacote de salgadinhos disponível em supermercados,
ali, logo ao alcance da mão. São duas pequenas cartelas que ensinam o desenrolar da cantada apenas com
uma raspadinha. Comprando, raspando, ficando! Simples assim! Cabe a você raspar no lugar certo (quem sabe
uma boate, uma festinha de colegial, um cinema…), no momento certo e com a pessoa certa. E, pronto, aprendi
a ficar no melhor método “passo a passo”, sem nenhuma contra indicação, sem nenhuma consequência
desagradável, nada além de azaração. Como todo mundo já sabe namorar, as receitas já vêm prontas e
acabadas, no ponto de experimentar, sem a perspectiva de um mínimo vínculo afetivo, sem a oportunidade do
auto descoberta e da descoberta do outro em sua imensa riqueza e carisma, de sua integridade e personalidade.
A “ficada” de hoje cada vez mais se aparta dos verdadeiros sentimentos e emoções e se aproxima da frieza das
carícias, com o fim único de dar e receber prazer. Como se, necessidades sensoriais satisfeitas, não houvesse
mais lugar para a sincera escolha do amor fértil, do profundo respeito pela outra pessoa.

Herdeiros de uma moda que valoriza o “experimentar” em detrimento do “descobrir”, os pré-adolescentes


já não separam a brincadeira do beijar e “ficar” escondido, da seriedade do relacionamento fecundo, e isso
facilita a falta de carinho entre eles no difícil caminho rumo à sadia afetividade. A mídia, explorando a fabricação
de pequenos “adultos” sobre estereótipos e ideias vagas de liberdade, faz deles vítimas perfeitas dessa
crescente mania de valorizar a outra pessoa naquilo que ela pode me dar e não no inverso, provocando uma
modificação profunda de comportamento que possivelmente irá desaguar em relacionamentos e matrimônios
imperfeitos. Se hoje eu não valorizo a pessoa com quem fico, usando-a na medida do prazer que ela me
possibilita, amanhã, certamente, não irei privilegiar o cônjuge que elegi (muitas vezes em requisitos errados),
porque, no passar dos anos, a falta de sensualidade talvez o faça parecer decaído aos meus olhos. Porque
ninguém mais procura se valorizar como ente dotado da graça da personalidade e da pessoalidade, torna-se
difícil encontrar a medida certa nos relacionamentos, sem o respeito e sem a responsabilidade que eles
acarretam.
O professor Felipe Aquino, em texto sobre namoro, ensina, a respeito dos relacionamentos de hoje: “É o
instinto que comanda, não a razão. Como uma pessoa dessa pode amar, como pode dar-se, renunciar a si
mesmo, se o que importa é a satisfação do seu corpo? Quando o corpo impera, a razão enfraquece, o espírito
agoniza, e o amor perece”. Da valorização do “eu” há o descuido do “tu” e, consequentemente, nenhum
relacionamento válido se efetiva, pois não há a complementaridade nem a entrega necessária. O entendimento
cristão de amor ao próximo (Lc 10,27) casa bem com esta intenção de amor frutuoso a ser buscado dentro do
namoro. Porque o outro existe e ama, quero eu amá-lo em toda a sua extensão e profundidade para dele
absorver o amor que me preenche. Nessa doação, que satisfaz plenamente o outro e, em consequência, a si
mesmo, esconde-se a fórmula do sadio amor a ser aprendido no seio do namoro. Isso deve ser assimilado por
aqueles adolescentes que, imaturos, anseiam por descobrir o verdadeiro significado das suas relações, para
que, no crescimento da caminhada rumo ao amor conjugal, saibam discernir, ainda no âmbito do namoro, a
sabedoria e responsabilidade que ele pede.

Em vista disso, não cabe nessa fase de amadurecimento a busca do prazer pelo prazer, em situações
de sexo, masturbação, ficadas e outros. Estes momentos, ao invés de cimentarem uma sexualidade e
afetividade sadias, acabam por minar nossa dignidade de filhos de Deus e fecham nossa vida afetiva na
centralização dos nossos desejos, situação de egoísmo que nos faz morrer no pecado e anular a graça do Pai
em nós. Por conta disso, essas receitas fáceis de namoro, compradas a preço de pechincha para preencher o
nosso vazio pessoal na busca do prazer instantâneo, trazem um preço alto demais a ser pago em riqueza
pessoal e intimidade com o próximo e com Deus. Modelando-nos na via fácil do carinho descartável, corremos o
risco de tornar igualmente descartáveis a nossa dignidade e a beleza que há no namoro.

Importante é que, nessa brincadeira que se torna séria pela nossa maturidade afetiva encontrada em
Deus, raspemos o “Longe! ” Para a escolha fácil do amor egoísta e o prazer que insiste em nos desviar do
respeito pelo outro e o “Nem pensar! ” Para as oportunidades de pecado que nos levam a desprezar o amor
verdadeiro, dado pelo Pai, em nossos corações. Saber namorar (e não ficar) deve ser, para nós, não a evocação
vaga da letra da música, mas verdade de vida colocada em nós pela graça de Cristo.

14. Para vencer os pensamentos impuros por Mary Beth Bonacci

Atingir a castidade no interior de nossas mentes não é uma tarefa fácil. É uma luta para a vida toda, e
deve ser lutada dia após dia.

Aparentemente, estou me tornando a rainha dos “artigos em duas partes”. Uma vez que inicio um
assunto, geralmente há muito mais a se dizer, e às vezes um artigo só não basta.

Meu último artigo não é exceção. Nele eu falava sobre uma edição de revista com mulheres de biquíni.
Quando Cristo disse “qualquer homem que olhe para uma mulher com luxúria no coração já cometeu adultério
com ela em seu coração”, Ele deixou claro que a castidade – e a falta dela – não começam com o que fazemos,
mas sim com o que pensamos. O fato de buscar de livre e espontânea vontade uma estimulação sexual
desordenada, mesmo que seja através da imaginação, já constitui um pecado contra a castidade.

Mas há um outro lado, que também merece atenção. No último artigo, falava de pessoas que, de livre e
espontânea vontade, procuravam pensamentos sexuais desordenados. Mas o que dizer sobre todos aqueles
pensamentos sexuais que surgem em nossa mente – dia após dia – sem desejarmos? Eles também são
pecaminosos? E, se são, como alguém pode ser santo?

Primeiramente, é importante compreender que é impossível pecar “acidentalmente”. O pecado tem que
ser o resultado de uma livre escolha. O pecado acontece na vontade, não no subconsciente, nem nos
hormônios, nem em outro lugar.

14.1. Sexualmente atraentes

Deus nos criou homem e mulher. E Ele nos criou para sermos sexualmente atraentes um para o outro,
homem sexualmente atraente para a mulher, e a mulher sexualmente atraente para o homem. Isso é uma coisa
boa no casamento, onde a atração deve, supostamente, ser levada às últimas consequências. O problema é que
nossos hormônios não parecem discernir quem é “esposo (a) ” de quem é “não-esposo (a) ”. E portanto, de
tempos em tempos, respondemos sexualmente a uma pessoa “não-esposo (a) ”. Começamos a pensar que nos
daria muito prazer usar o corpo dessa pessoa. Então, é aí que reside o desafio.

Os cristãos são chamados a permanecer acima dos instintos básicos. Isso significa que, quando esses
pensamentos aparecem no cérebro, devemos deixá-los ir. Olhamos para além da atratividade sexual dessa
pessoa, para vê-lo (a) como uma imagem e semelhança muito amada de Deus. O pecado da luxúria ocorre
quando, ao invés de fazer isso, de livre e espontânea vontade nos apegamos a esses pensamentos, e dizemos:
“Eu quero pensar um pouco mais sobre usar essa pessoa para meu prazer pessoal”. Nesse ponto, já estamos
realmente usando a outra pessoa para conseguir prazer sexual para nós mesmos. Quando deliberadamente
consentimos com esses pensamentos, quando começamos a nos apegar à fantasia, então pecamos contra a
castidade. É como disse um estudante meu: “Não é o primeiro olhar que te coloca em perigo, é o segundo”.

14.2. A coragem de ser casto

Nossa vida emocional, infelizmente, também pode contribuir para as fantasias sexuais não-desejadas. O
Pe. Benedict Groeschel, em seu excelente livro “A coragem de ser casto”, diz que essas fantasias muitas vezes
refletem a nossa necessidade de carinho, reforço, intimidade e amor espiritual. Quando não temos esse carinho
e amor espiritual, tendemos a ficar mais vulneráveis às fantasias sexuais desordenadas.

Isso faz as pessoas mais sensíveis lutarem contra o sentimento de culpa, muitas vezes
desnecessariamente. Essas pessoas pensam que são más só porque esses pensamentos aparecem em suas
mentes. Elas acham que a castidade significa que seus impulsos sexuais deviam desaparecer. Nada poderia
estar mais longe da verdade. Esses pensamentos involuntários não são pecaminosos em si. Sim, eles são um
convite ao pecado (essa é a definição de tentação). Mas não pecamos, a não ser que aceitemos o convite.
Podemos ser invadidos por pensamentos sexuais o dia todo, mas enquanto não consentirmos voluntariamente
neles, não há pecado. (Consentimento, de acordo com o Pe. Groeschel, significa ter a consciência mental de
dizer, “Isso é pecado, mas eu vou fazer mesmo assim”).

É claro, esses pensamentos nem sempre vão embora assim facilmente. Eles ficam grudados na mente,
atormentando-nos. Tentar forçá-los a sumir da mente é inútil. (Você já tentou não pensar em algo? O próprio ato
de tentar parar de pensar naquilo faz você pensar mais ainda). E mesmo que conseguíssemos expulsar da
mente os pensamentos sexuais, isso não seria lá muito saudável. É uma forma de repressão à sexualidade.
Enterrar pensamentos assim ajuda a mantê-los vivos no subconsciente, onde eles podem causar todo tipo de
problema.

14.3. Vidas em ordem

Então, o que fazer? Nós não cedemos e damos atenção a esses pensamentos, mas também não
ficamos com medo, tentando afastá-los. Nós simplesmente reconhecemos esses pensamentos como parte do
que é ser humano, e então levamos nossa atenção para outra coisa. Podemos nos distrair com outra coisa. (Pe.
Groeschel observa que poucas pessoas se sentiriam tentadas durante um alarme de incêndio). Nós ignoramos
os pensamentos, mesmo que eles clamem por nossa atenção. No final das contas, eles se vão.

Também é importante manter nossas vidas em ordem. Se a solidão ou a necessidade de intimidade está
servindo de combustível para nossa imaginação, precisamos mudar de vida, satisfazer essas necessidades – do
modo correto.

14.4. Felicidade duradoura

Em resumo, não é fácil lidar com pensamentos que nos prometem tanto prazer. Precisamos da ajuda de
Deus. A castidade sem oração é impossível. Toda virtude moral diz respeito a recusar certo prazer momentâneo
em troca de uma felicidade duradoura. E isso requer uma força maior do que a possuímos.

Atingir a castidade no interior de nossas mentes não é uma tarefa fácil. É uma luta para a vida toda, e
deve ser lutada dia após dia. O Pe. Groeschel nos encoraja dizendo que “toda tentação resistida é um grande
ato de louvor a Deus. Resistir à tentação e não buscar o caminho mais fácil é um reconhecimento poderoso da
soberania de Deus… Mesmo se a pessoa cair depois, ela terá cumprido um ato de louvor obediente que não
será esquecido” (A coragem de ser casto, p. 90).

Resista à tentação. Não é fácil, mas as recompensas são enormes.


15. A castidade: um belo desafio para o jovem por Veritatis Splendor

A castidade longe de ser uma prisão, ao contrário, abre cada vez mais as portas da verdadeira liberdade.

A luta cristã contra a impureza exige que se fuja de toda ocasião de pecado. Sabemos que “a ocasião
faz o ladrão”, e aquele que brinca com o perigo nele perece. Se você, jovem, quer se manter puro e casto antes
do casamento, terá que fugir de toda ocasião que possa excitar a paixão: livros, revistas, filmes eróticos, bem
como, no namoro, toda ocasião que possa propiciar uma vivência sexual precoce. O namoro não é o tempo de
viver as carícias matrimoniais, pois elas são o prelúdio do ato sexual, que não deve ser realizado no namoro. O
que precisa haver entre os namorados é carinho, não as carícias íntimas. Além disso será preciso, para todos,
solteiros e casados, o auxílio da graça de Deus; para os solteiros, a fim de que não vivam o sexo antes do
casamento; para os casados, a fim de serem fiéis um ao outro. É grande a recompensa daquele que luta
bravamente para manter a própria pureza. Jesus disse que esses são bem aventurados (felizes) porque verão a
Deus. (Mt 5,8) Um jovem casto é um jovem forte, cheio de energias para sua vida profissional e moral. É na luta
para manter a castidade que você se prepara para ser fiel ao seu cônjuge amanhã.

A grandeza de um homem não se mede pelo poder que possui de dominar os outros, mas pela
capacidade de dominar a si mesmo. Está sempre foi a coluna que manteve de pé as civilizações e os grandes
homens, e hoje, também, precisa ser resgatada e preservada, sob pena de vermos perecer a nossa civilização.
Nossa humanidade hedonista, amante do prazer, a qualquer custo, ri da castidade e da virgindade, e por isso
paga um preço caro pela devassidão dos costumes. Para reerguer esta sociedade será preciso resgatar esses
valores que nunca envelhecem. Vale a pena refletir um pouco no que dizia o Mahatma Ghandi, o célebre indiano
hindu, que não era católico, que libertou a Índia da Inglaterra, pela força da não violência. Ele dizia:

“A castidade não é uma cultura de estufa… A castidade é uma das maiores disciplinas, sem a qual a
mente não pode alcançar a firmeza necessária”. Gandhi amou tanto a castidade que alterou até a sua vida
conjugal. “Sei por experiência que, enquanto considerei minha mulher carnalmente, não houve entre nós
verdadeira compreensão. O nosso amor não atingiu o plano elevado… No momento em que disse adeus a uma
vida de prazeres carnais, todas as nossas relações se tornaram espirituais”. Depois dos quarenta anos, Ghandi
não teve mais vida sexual, nem mesmo com a esposa. Embora este pensamento não esteja plenamente de
acordo com a moral católica, no entanto, mostra o valor imenso da castidade para um homem que não era
batizado. Ele ainda dizia: “A vida sem castidade parece-me vazia e animalesca”. “Um homem entregue aos
prazeres perde o seu vigor, torna-se efeminado e vive cheio de medo.

A mente daquele que segue as paixões baixas é incapaz de qualquer grande esforço”. A castidade longe
de ser uma prisão, ao contrário, abre cada vez mais as portas da verdadeira liberdade. Só compreende isto
quem a vive. Só é livre quem se possui. Para haver a castidade nos nossos atos, é preciso que antes ela exista
em nossos pensamentos e palavras. Jamais será casto aquele que permitir que os seus pensamentos, olhos,
ouvidos,
vagueiem pelo mundo do erotismo. É por não observar esta regra que a maioria pensa ser impossível viver a
castidade. Meu caro jovem, se você quiser no futuro formar uma família feliz, então comece agora, por você
mesmo; e, contra tudo e contra todos que lhe oferecem o sexo vazio e fácil, antes do casamento, viva a
castidade. Garanto-lhe que vale a pena, pois eu vivi isto. Eu tive que lutar muito também para chegar inteiro ao
meu casamento; mas hoje, vinte e oito anos depois, ao lado de uma esposa fiel, cinco filhos saudáveis e um lar
feliz, eu posso dizer-lhe que vale a pena. O jovem e a jovem cristãos terão que lutar muito para não permitir que
o relacionamento sexual os envolva e abafe o namoro. Alguns querem se permitir um grau de intimidade
“seguro”, isto é, até que o “sinal vermelho seja aceso”; aí está um grave engano. Quase sempre o sinal vermelho
é ultrapassado, e muitas vezes acontece a gravidez e outras coisas. Um namoro puro só será possível com a
graça de Deus, com a oração, com a vigilância e, sobretudo quando os dois querem se preservar um para o
outro. Será preciso então, evitar todas as ocasiões que possam facilitar um relacionamento mais íntimo. O
provérbio diz que “a ocasião faz o ladrão”, e que, “quem brinca com o perigo nele perecerá”. É você quem decide
o que quer. Se você sabe que naquele lugar, naquele carro, naquela casa, etc., a tentação será maior do que as
suas forças, então fuja destes lugares; esta é uma fuga justa e necessária. É preciso lembrar as moças, que o
homem se excita principalmente pelos olhos. Então, cuidado com a roupa que você usa; com os decotes, com o
comprimento das saias… Não ponha pólvora no sangue do seu namorado se você não quer vê-lo explodir.
Muitas vezes as namoradas não se dão conta disto. Para a mulher a excitação se dá muito mais por palavras,
gestos, fantasias, romances; mas para o homem, basta uma roupa curta, um decote, um cruzar de pernas
aparentes, e muita adrenalina será injetada no seu sangue… Não provoque seu namorado. Além de tudo isso,
se somos cristãos, temos que obedecer e viver o mandamento de Deus que manda “não pecar contra a
castidade”; isto é, não viver a vida sexual nem antes do casamento (fornicação) e nem fora dele (adultério).

A gravidade do pecado da impureza, também chamado de luxúria, é que com ele, se mancha o Corpo
de Cristo. “Ora, vós sois o corpo de Cristo e cada um de sua parte, é um dos seus membros” (1Cor 12,27). “…
assim nós, embora sejamos muitos, formamos um só corpo em Cristo, e cada um de nós somos membros uns
dos outros”. (Rm 12,5) Quando eu cometo um pecado de impureza, não sujo apenas a mim mesmo, mas
também ao Corpo de Cristo, do qual sou membro.

É neste sentido que São Paulo alertava os fiéis de Corinto sobre a gravidade desse pecado. “Não sabeis
que vossos corpos são membros de Cristo? ” (1Cor 6,15). Note que o Apóstolo enfatiza os “corpos”; isto é, a
realidade do corpo místico de Cristo não é apenas espiritual, mas também corporal. Sem os nossos corpos não
haveria a impureza. “Tomarei, então, os membros de Cristo, e os farei membros de uma prostituta? Ou não
sabeis que o que se ajunta a uma prostituta se torna um só corpo com ela? Está escrito: Os dois serão uma só
carne (Gen. 2,24) ”, (1Cor 6,16). Para o Apóstolo, entregar-se à prostituição é o mesmo que prostituir o Corpo de
Cristo, a Igreja. Esta é uma realidade religiosa da qual ainda não tomamos ciência plena; isto é, toda vez que eu
peco, o meu pecado atinge todo o corpo de Cristo. Esta é uma das razões porque nos confessamos com o
ministro da
Igreja, para nos reconciliarmos com ela, que foi manchada pela nossa falta. De forma especial isto ocorre no
pecado de impureza; o que levava São Paulo a pedir aos coríntios, entre os quais havia este problema: “Fugi da
fornicação. Qualquer outro pecado que o homem comete é fora do corpo, mas o impuro peca contra o seu
próprio corpo”. (1 Cor 6,18) É preciso entender que nós não apenas “temos” um corpo, mas “somos” um corpo.
Nossa identidade está ligada ao nosso corpo; ela é fixada pela nossa foto, impressão digital ou código genético
(DNA).

Portanto, o pecado da impureza agrava-se na medida em que, mais do que nos outros casos, envolve
toda a nossa pessoa, corpo e alma. E o Apóstolo, mostra que o Espírito Santo não habita apenas a nossa alma,
mas também o nosso corpo; e daí a gravidade da sua profanação. “Ou não sabeis que o vosso corpo é templo
do Espírito Santo que habita em vós, o qual recebestes de Deus, e que, por isso mesmo, já não vos pertenceis?
Porque fostes comprados por um grande preço”. (1 Cor 6,19) São Paulo ensina que devemos dar glória a Deus
com o nosso corpo: “O corpo, porém não é para a impureza, mas para o Senhor e o Senhor para o Corpo: Deus
que ressuscitou o Senhor, também nos ressuscitará a nós pelo seu poder”. (1 Cor 6,20) Nosso corpo está
destinado a ressuscitar no último dia, glorioso como o corpo de Cristo ressuscitado. “Nós, porém, somos
cidadãos dos céus. É de lá que ansiosamente esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo, que transformará
nosso mísero corpo tornando-o semelhante ao seu corpo glorioso …” (Fil. 3,20) Nosso corpo glorificado dará
glória a Deus para sempre, assim como os corpos de Jesus e Maria, já no céu. Isto explica a importância do
nosso corpo, que levava Paulo a dizer aos coríntios: “Se alguém destruir o templo de Deus, Deus o destruirá.
Porque o templo de Deus é sagrado – e isto sois vós”. (1 Cor 3,16´17) Quantas pessoas destruíram-se a si
mesmas, porque destruíram os seus próprios corpos!

O desrespeito ao corpo, seja pela impureza ou pelos vícios, compromete a integridade e a dignidade da
pessoa toda, que é templo de Deus. Jesus foi intransigente com o pecado da impureza. No Sermão da
Montanha, marco dos seus ensinamentos, Ele disse: “Todo aquele que lançar um olhar de cobiça para uma
mulher, já adulterou com ela em seu coração”. (Mt 5, 27´28) Jesus quer assim destruir a impureza na sua raiz;
isto é no coração dos nossos pensamentos. “Porque é do coração que provém os maus pensamentos, os
homicídios, os adultérios, as impurezas, os furtos, os falsos testemunhos, as calúnias”. (Mt 15,19) Para viver a
pureza há, então, que estarmos em alerta o tempo todo, como recomendou o Senhor: “vigiai e orai para que não
entreis em tentação. O espírito está pronto, mas a carne é fraca”. (Mt 26,41) Todos nós já pudemos comprovar
como é fraca a nossa carne, a nossa natureza humana, enfraquecida pelo pecado original. Portanto, não nos
resta outra alternativa para prevenir a queda, senão, vigiar e orar.

16. Cruz, escola de castidade!

A castidade é tudo amar sem nada possuir, eliminando o risco de trair o amor no que ele tem de mais
belo: ser um sinal eterno de pertença filial a Deus.
Bismarck, famoso ditador alemão, dizia que uma mentira dita um milhão de vezes, torna-se verdade. A
técnica de massificar o engano e diluir a verdade é uma das estratégias adotadas pelos formadores de opinião
para induzir a sociedade ao consumo dos apelos hedonistas e introduzir o coração do homem nas sendas dos
seus próprios impulsos cegos e egoístas, em propostas lisonjeiras mas interesseiras, enganadoras e volúveis,
que atrás de si deixam o vazio e a frustração1.

A grande mentira contada milhões de vezes no seio da sociedade é que as criaturas têm valor absoluto
e trazem felicidade em si mesmas e que o prazer vivido na relação entre as criaturas é suficiente para realizar
plenamente o homem! Porém, isso é apenas mais uma miragem vendida nos comerciais, rotulada nas garrafas,
estampada nas vitrines e que pouco a pouco vai instigando os desejos e manobrando a moral humana na
direção desta terra de ninguém chamada idolatria.

Perdida nesta realidade onde se pretende excluir Deus e na qual os principais critérios por que se rege a
existência são o poder, o ter ou o prazer 2, a sociedade vai naufragando de paixão em paixão e encontra-se tão
envolvida que passou a odiar a verdade por amor àquilo que toma como verdadeiro 3.

Sabemos que a felicidade é a alegria que provém da verdade e, por isso, nenhuma proposta de vida
construída sobre a mentira pode realizar o homem. Na busca pela verdade, gerações e gerações fortemente
influenciadas pelas promessas de encontrar felicidade no amor estilo “self-service” e “fast-food” olham frustradas
para suas vidas e se interrogam: o que deu errado na minha busca pela felicidade? Será que é verdadeiro este
amor que me apresentaram? Se for verdadeiro, porque permanece o vazio, a depressão, a desilusão, os vícios,
as feridas, a escravidão, as insatisfações, a falta de sentido e a tristeza? Porque parece que algo está errado?
Porque não consigo me satisfazer com coisas e pessoas? Será que o amor é uma mentira ou mentiram para
mim a respeito do amor?

Estas perguntas sempre surgem no coração de homens e mulheres que procuram encontrar a felicidade
somente no amor pelas coisas e pessoas. Assim, vivem à espera de uma retribuição do amor que as sacie mas
que nenhuma criatura pode dar e que só encontra resposta eficaz no lugar onde o amor foi total, a Cruz de
Cristo.

Ali, revela-se aos homens a verdade essencial do amor, ou seja, que ele cresce e realiza-se na medida
que é dado. Na cruz, Deus assume o lugar do homem e ensina o homem a amar a Deus e ao próprio homem.

Mas o que a cruz tem a ver com a castidade? Muito simples. A castidade supõe o amor ordenado,
educado, integral, vivido segundo os planos de Deus, então, a única e verdadeira escola capaz de educar o
amor do homem para a castidade é a Cruz, ou seja, a oferta total de si mesmo a Deus em favor dos outros.

Se o homem geme e anseia por realizar-se no amar, somente na vivência da castidade ele pode lançar-
se todo no amor de Deus sem reservas, cálculos, posses, reservas, misturas, rasuras e ponderações. É o casto
amor que, vivido segundo os planos de Deus, sempre encontra resposta proporcional à sua busca e protege o
amor do homem de possuir ou entregar-se ao que não lhe sacia plenamente.

Por isso, a castidade é bandeira a ser erguida diante de um mundo que aprisiona o amor nas grades do
prazer, tratando-o como mercadoria barata que se pode comprar e vender, desvinculando-o daquilo que o faz
verdadeiramente amor, ou seja, ser entrega total. A castidade é tudo amar sem nada possuir, eliminando o risco
de trair o amor no que ele tem de mais belo: ser um sinal eterno de pertença filial a Deus.

Portanto, a castidade ultrapassa os atos e revela a liberdade interior daqueles que são incapazes de
permitir que haja qualquer elemento de divisão entre o seu coração e o coração de Deus. A castidade, portanto,
é um antídoto eficaz que anula o efeito do veneno da idolatria, colocando o homem frente a frente com o
verdadeiro sentido amor, ou seja, a cruz.

Ser casto é amar tanto a Deus que, sabendo que num determinado ambiente vou ofendê-lo, vou amar
mais aos outros do que a Ele, dou meia volta e vou pra casa! Ser casto é não criar substitutos para Deus. É
fazer como São Francisco que se jogava numa roseira para não pecar, é fazer como São Thomas de Aquino
que pegou uma lenha em brasa na lareira para espantar a mulher que tentava seduzi-lo, ou como Santa
Teresinha que aos três anos de idade rezava um mistério do terço quando sentia vontade de pecar.

Quando nos expomos deliberadamente a situações de pecado, quando dialogamos com ele, pesamos
os prós e contras e temos justificativas para cometê-lo e soluções para suas consequências, estamos nos
dividindo! Estamos abrindo para o pecado um espaço que deve ser ocupado por Deus. Estamos renunciando a
cruz e abrindo mão da castidade.

Portanto, a castidade é uma batalha para manter-se no caminho do amor integral, na via que faz os
verdadeiros homens, no Calvário, lugar de colher os alegres frutos da cruz, que não dependem de estações, são
eternos, jamais apodrecem e sempre saciam os que deles se deliciam.

17. Santificai Cristo em vossos corações

Um coração santo e uma verdadeira alegria encontramos somente em Jesus Cristo. Só Ele é a certeza
absoluta de vida plena e eterna.

“Quando alguém tem o coração puro e unido a Deus, sente em si mesmo uma suavidade e uma doçura
que inebriam e uma luz maravilhosa que o envolve” São João Maria Vianney (Cura d’Ars).

São Pedro Apóstolo, de forma magistral, aconselha: “Santificai Cristo em vossos corações” (1Pd 3,15).
Sim, quando nosso coração está santificado e pronto para entronizar Cristo, como Senhor (1Pd 3,15), nossa vida
está totalmente pronta para viver a alegria de Jesus (Lc 6,45). Em nosso coração, não há espaço para outra
coisa
senão para o amor de Jesus (Jo 14,21), que nos é derramado pelo Espírito Santo (Rm 5,5). Desse modo, temos
um novo coração (Ez 36,26), cheio de uma alegria que ninguém pode tirar de nós (Jo 16,22).

Alguém da sua casa, do seu círculo de amizades, do seu trabalho, ou da sua escola, já perguntou o
motivo da esperança e da alegria que você tem demonstrado (1Pd 3,15)? Você acha estranha esta pergunta?
Pois saiba que a nossa vida em Cristo e o nosso amor por Ele não conseguem ser mantidos apenas dentro do
nosso coração santificado: em nosso coração, eles se avolumam e extravasam pelo nosso corpo todo. E essa
alegria transbordante flui através de nós (Jo 7,38; 4,14) e vai contagiar o mundo triste, ressequido e carente das
águas vivificantes do Espírito Santo (S1 63,2).

Vamos santificar Jesus em nossos corações (1Pd 3,15). Vamos dar testemunho, com nossas palavras e
com nossas ações, da alegria que há em nossos corações (Lc 6,45). Vamos motivar as pessoas a buscarem a
Jesus e a encontrarem a Sua alegria (Fm 20).

“Para São João Bosco, a conversão autêntica é inseparável da alegria; nem pode ser diferente, pois
consiste em acolher Jesus e o Seu Santo Evangelho de que Deus é o nosso Pai e nos ama para sempre”.

Cristo é a nossa completa alegria

“Disse-vos estas coisas para que a minha alegria esteja em vós, e a vossa alegria seja completa” (Jo
15,11).

Como vemos pelo ensinamento do Evangelho, Jesus veio para nos dar a Sua alegria, de modo que nós
nos alegrássemos completamente (Jo 15,11). Entretanto, será que nós estamos interessados na alegria
completa e duradoura que Jesus quer nos dar? Será que, a julgar pelas nossas vidas, não preferimos mais a
alegria passageira e superficial do mundo, que não requer de nós tantos compromissos com a justiça, com a
verdade e com o amor ao próximo? Sim, a alegria completa de Jesus também nos traz responsabilidades que
nem sempre estamos dispostos a aceitar. Senão vejamos:

 Jesus se alegra quando nós O obedecemos, nos esforçamos, e damos frutos para Ele (Mt 25,
21.23). Será que nós nos alegramos por trabalharmos para Jesus e nos capacitarmos a receber tarefas cada vez
mais difíceis?
 Jesus se alegra quando um pecador é resgatado (Lc 15,5. 32). Será que nós estamos
dispostos a nos arriscarmos para resgatar pessoas em situação de pecado, e conduzi-las à conversão?
 Jesus mantém a alegria mesmo em meio às perseguições (Mt 5,12; Lc 6,23). Será que, se
formos perseguidos por sermos fiéis a Jesus, sentiremos alegria?

Nosso Senhor Jesus Cristo quer compartilhar totalmente a Sua alegria conosco no Espírito Santo (Lc 10,
21; Jo 17,13), e a Sua alegria torna a nossa alegria completa (Jo 15,11). Ora, a alegria é um dos frutos do
Espírito Santo (G1 5,22), que é dado aos que obedecem a Deus (At 5,32). Portanto, se formos obedientes e
renunciarmos
às nossas vontades (Lc 9,23), o Espírito Santo estará conosco, e a alegria de Jesus (Jo 17,13), e ninguém
jamais poderá tirá-la de nós (Jo 16,22). Nossos nomes, então, para alegria de Jesus, estarão “escritos nos céus”
(Lc 10,20). Nós podemos querer mais?

Coração santo e verdadeira alegria somente em Jesus Cristo. Só Ele é a certeza absoluta de vida plena
e eterna. Viver a intimidade profunda com Nosso Senhor é a nossa vocação radical.

“A vida cristã se define como uma vida com Jesus Cristo” (Papa emérito Bento XVI).

18. O namoro cristão e suas exigências por Pe. Marcos Chagas

O senso da medida, a prudência e a temperança, o bom senso e o discernimento evangélico vão


abrindo os caminhos para namoros e noivados santos e maduros.

As experiências de abrir-se ao tu são de grande importância no processo de auto definição do eu. A


diferença abre portas e janelas impensáveis além de oferecer abertura e possibilidades para uma notável auto
percepção, para o conhecimento de si.

“Ser com os outros no seu significado profundo e genuíno, significa que o sujeito humano consciente de
si nunca está sem referência a outros sujeitos humanos. A sua existência está sempre voltada aos outros, ligada
aos outros, em comunhão com os outros. A existência pessoal se desenvolve e se realiza junto com os outros
no mundo. O senso mesmo da existência está ligado ao apelo do outro que deseja ser alguém diante de mim, o
que me convida a ser alguém diante dele, no amor e na construção de um mundo mais justo e mais humano”.

O processo de autoconstrução da pessoa na sua dimensão de identidade (também na esfera sexual) é


de grande importância e principia sobretudo a partir da adolescência. “O amor nos adolescentes é em grande
parte uma tentativa de definir a própria identidade por meio da projeção da imagem confusa do próprio eu sobre
uma outra pessoa, com o fim de vê-la assim refletida e progressivamente mais clara”.

As amizades e o processo do surgimento dos namoros devem ser marcados pelo autêntico desejo de
uma autoconstrução positiva, na serenidade, no respeito recíproco, no domínio de si, na dedicação a deveres
assumidos com seriedade e responsabilidade. São ocasiões de crescimento verdadeiro. O tempo que antecipa a
vivência do matrimônio deve ser uma etapa de mútuo conhecimento, de diálogo, de oração, de descoberta da
pessoa amada numa acolhida positiva e fecunda. É um tempo de aprender a superar os conflitos e conviver
sadiamente com as diferenças. O namoro é uma caminhada de crescimento a dois que seguramente exigirá
algumas renúncias. Uma vez assumidas com coragem e generosidade, tais renúncias criarão nos noivos ou
namorados capacidades e possibilidades de assumirem sempre novas renúncias e os desafios próprios do
casamento. Assim, estarão se preparando para a vivência madura de um matrimônio autenticamente cristão
cujas tribulações e desafios não são poucos e nem são tão simples.
O deterioramento de certos casamentos pode ter por causa o desgaste. E por que este amor esfriou, se
acabou? Por faltarem bases sólidas. O amor durante o tempo do namoro foi muito superficial, muito apegado aos
prazeres, às facilidades. Faltou a renúncia, a oblatividade, uma gratuidade efetiva e afetiva. Muitas vezes a
instabilidade encontrou bases na incapacidade de sofrer pelo outro, de dar a vida pela pessoa amada. Noutras
palavras, se buscou o que o outro me proporciona de bom e de belo, tantas vezes esquecendo o outro enquanto
pessoa, também capaz de errar ou com seus limites. Sem este espírito altruísta, sem a gratuidade que se
consolida no sacrifício e na renúncia, o amor não se sustenta.

Quem pode garantir que haverá fidelidade nas tribulações, nas crises matrimoniais, nas doenças, nas
crises econômicas, nos desafios do controle de natalidade responsável, da gestação e da criação dos filhos, nas
tentações de outros amores que prometem e parecem resolver todos os problemas? Os noivos na liturgia do
matrimônio prometem ser fiéis um ao outro na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, amando-se e
respeitando-se todos os dias da própria vida. Estas promessas não serão cumpridas quando o amor é hedonista,
egoísta, superficial, sem nenhuma capacidade de abraçar renúncias e sofrimentos. A dimensão da intimidade,
tantas vezes entendida como acesso ao corpo do outro, exige um forte componente desta dimensão altruísta e
aberta. “A intimidade acontece quando um indivíduo é capaz de equilibrar o dar e o receber e pode buscar de
satisfazer mais o outro do que simplesmente buscar a autossatisfação e o sucesso”.

Namoros superficiais e instrumentalizadores da pessoa do outro em proveito próprio (do próprio prazer)
podem gerar frustrações, desconfianças e medo de viver um relacionamento profundo e verdadeiro. Também os
noivos “são convidados a viver a castidade na continência. Nessa provação eles verão uma descoberta do
respeito mútuo, uma aprendizagem da fidelidade e da esperança de se receberem ambos da parte de Deus.
Reservarão para o tempo do casamento as manifestações de ternura específicas do amor conjugal. Ajudar-se-
ão mutuamente a crescer na castidade”

É bem verdade que um desejo de manifestar fisicamente este amor, este afeto profundo, é natural e
compreensível. Mas quando assume conotações claramente sexuais (no sentido de um profundo abrir-se à
esfera de carícias que induzem ao uso da genitalidade) se mergulha não queimar de etapas que são próprias do
matrimônio enquanto convívio estável na manifestação de um amor esponsal sacramentalizado com finalidades
unitivas (o bem dos cônjuges) e procriativas (abertura à geração de filhos) formando assim uma família.

Se o amor humano na sua expressividade sexual-genital e demais dimensões foi elevado à dimensão de
sacramento, então significa que o uso da sexualidade-genitalidade antes do matrimônio não manifesta só a
ausência de um rito, mas a ausência da Igreja e por conseguinte de Cristo.

Na intimidade sexual, e também nas demais expressões da união matrimonial, Deus se serve da
mediação dos esposos para manifestar o seu amor. Deus ama o esposo através da esposa e a esposa através
do esposo. E quem introduz Cristo e sua graça no convívio estável de uma vida a dois entre um homem e uma
mulher é
exatamente o sacramento do matrimônio. Com razão, S. Paulo chama este sacramento de grande. O
sacramento do matrimônio é símbolo do grande mistério da união esponsal de Cristo para com a Igreja. Por isso,
seria banalizar o matrimônio todo reducionismo da sexualidade ao prazer genital ou destituir tal prazer da
necessidade de uma inclusão integrada na esfera do amor a dois elevados à dignidade de sacramento.

Bem nos ensina o prof. Felipe Aquino: “A vida sexual de um casal não pode ser começada de qualquer
jeito, às vezes dentro de um carro numa rua escura, ou mesmo num motel, que é um antro de prostituição. (…).
O namoro é tempo de conhecer o coração do outro não o seu corpo; é tempo de explorar a sua alma, não o seu
físico. (…). Espere a hora do casamento, e então você poderá viver a vida sexual por muitos anos e com a
consciência em paz, certo de que você não vai complicar a sua vida, a da sua namorada, e nem mesmo a da
criança inocente”.

A partir disso, a pessoa estrategicamente vai evitando tudo o que de alguma maneira pode excitá-la ou
agitá-la sexualmente, tendo sempre em vista um bem maior. Namorados e noivos por exemplo evitarão carícias
exageradas uma vez que tudo isso levará a certos movimentos hormonais e psíquicos que direcionarão a uma
busca de prazer, culminando no uso da genitalidade. Se por exemplo, o lugar do encontro dos namorados é
isolado e está solidão constitui a possibilidade de certas liberdades, seria bom buscar de ir namorar em lugar
mais iluminado, mais frequentado por outras pessoas. Bom seria dialogar mais, algumas vezes rezar juntos, etc.
Um namoro autêntico não se esgota nas manifestações afetivas de ordem física. O importante é usar de
sinceridade consigo próprio e com Deus. O senso da medida, a prudência e a temperança, o bom senso e o
discernimento evangélico vão abrindo os caminhos para namoros e noivados santos e maduros. Quem aprendeu
a se controlar e a viver estas saudáveis renúncias agora, se capacitará para viver as renúncias que lhes serão
exigidas depois no matrimônio.

Além disso, o auxílio divino é sempre precioso, indispensável e essencial. Orar, meditar, viver a amizade
com o Senhor nos ajudará a entender, que mesmo que existam elementos de ordem biológica e psíquica ou
mesmo influências de ordem sociocultural, existem também forças espirituais que atuam neste contexto. S.
Agostinho fala da importância desta continência como unificação pessoal. Além disso, centraliza o amor em
Deus que se coloca numa verdade profundíssima: pede a Deus o que Deus mesmo há de lhe pedir: “É graças à
continência que nos reunimos e nos reconduzimos à unidade, da qual nos afastamos para nos perdermos na
multiplicidade. Pouco te ama aquele que ao mesmo tempo ama outra criatura, sem amá-la por tua causa. Ó
amor, que sempre ardes e não te extingues jamais! Ó caridade, meu Deus, inflama-me! Tu me ordenas a
continência: concede-me o que ordenas, e ordena o que quiseres”. Não nos iludamos pois que “não temos de
lutar contra a carne e o sangue mas sim contra os principados e potestades contra os dominadores deste mundo
tenebroso, contra os espíritos malignos espalhados pelos ares”. Poderíamos até considerar ingenuidade o fato
de tantas pessoas atribuírem somente à esfera bio-psíquica uma realidade que também comporta um acirrado
combate
espiritual! Evidentemente não as desprezaremos (estas dimensões bio-psíquicas), mas não podemos nos deter
nas mesmas. Haveria de ser um reducionismo perigoso.

Diz o apóstolo que «Deus não nos chamou a impureza, mas sim para a santidade» e para tanto ele
exorta:
«Mortificai, pois, os vossos membros terrenos: fornicação, impureza, paixão, desejos maus, e a cupidez, que é
idolatria». O próprio Mestre Divino aborda o assunto afirmando essa necessidade:

«Por isso, se o teu olho direito é para ti ocasião de queda, arranca-o e lança-o para longe de ti, porque é
melhor para ti que se perca um dos teus membros, do que todo o teu corpo seja lançado na geena. E, se tua
mão direita é para ti causa de queda, corta-a e lança-a para longe de ti, porque é melhor para ti que se perca um
dos teus membros do que todo o teu corpo seja lançado na geena».

Note-se, porém, que este arrancar não deve ser entendido no sentido literal, pois tudo o que Deus
colocou no corpo humano tem uma finalidade boa, tem um sentido positivo, válido e significativo: «Deus viu tudo
o que tinha feito; e era muito bom». Todas as pessoas tanto os celibatários tanto os casados precisam tomar
consciência que os órgãos sexuais continuam sendo sagrados e fazem parte do grande tabernáculo do Espírito
Santo que é corpo humano e integram portanto a grande dignidade da pessoa humana.

No entanto, esta finalidade da sexualidade na pessoa humana, em função das desordens provocadas
pelo pecado original, pode sofrer desvios e degenerações. Por isso, com palavras incisivas, Jesus proclama a
necessidade de um compromisso sério e de uma dura intransigência para superar qualquer forma de desvio
egoísta, com o fim de salvar o amor e dar-lhe vigor, mesmo que a custa de amputações dolorosas, porém
libertadoras. Deus convoca a pessoa humana ao uso de uma liberdade responsável na sua capacidade de gerir
a sua sexualidade e tal gestão possui uma significativa repercussão a nível escatológico. Deste modo, o uso dos
órgãos sensíveis da visão, do tato, da audição (ao menos estes prevalentemente) devem se desviar e manter
uma salutar distância de tudo o que comporta uma compreensão ou expressão da sexualidade afastada do
plano de Deus ou que venha, de algum modo, a comprometer esta coerência com o projeto divino a esse
respeito. Eis o sentido do cortar, arrancar, lançar fora. Não diz respeito ao anular, destruir ou sufocar, mas
envolve um direcionamento que leve a integrar, direcionar, sublimar numa dinâmica positiva de abertura ao
querer de Deus. Para que este processo atinja níveis de bom êxito na vivência da castidade, vai ser muito útil
que a vontade seja sadiamente exercitada, iluminada por uma consciência bem esclarecida; eis a importância
dos estudos, da reflexão da Escritura e sobretudo da intimidade com Deus na oração. Importa lembrar que antes
de ser algo que se sustenta no muito saber, a castidade brota do muito amar e o muito amar só pode brotar do
muito contemplar, do muito escutar e deixar-se trabalhar pelo Senhor.

O Senhor também diz que “O olho é a lâmpada do corpo. Se o teu olho for são, todo o teu corpo terá luz.
Mas se o teu olho for defeituoso, todo o teu corpo estará em trevas. Se pois a luz que há em ti são trevas, quão
espessas serão as próprias trevas! ”. Esta parábola pequena nos ensina que se a inteligência e a vontade do
homem forem obscurecidas e corrompidas pelo apego aos bens passageiros da terra ou pelas paixões ou
apetites desordenados, toda a vida espiritual da pessoa ficará comprometida e corrompida pelo vício e como que
lançada na escuridão, sem possibilidade de discernir o bem do mal e apreciar as coisas retamente.

À luz desta indicação que o Senhor nos oferece, importa abraçar com generosidade uma vida austera,
uma vida de sacrifício. Custa muito? Então vamos em frente porque tudo aquilo que custa é porque tem valor. O
que não tem valor, ninguém valoriza, nem aprecia. É tolice imaginar que terá domínio e controle sereno de seus
impulsos sexuais quem se expõe às ocasiões, quem tem vida mole, folgada, vive no conforto, na preguiça, no
espontaneismo, na falta de disciplina pessoal. Quem vive no ócio deve pensar que “gente desocupada é oficina
de demônio”. Também diz S. João Crisóstomo: «A raiz e o fruto da virgindade é a vida crucificada». Esta vida
crucificada levará o cristão a uma amizade sempre crescente com o Senhor, afinal quem ama se identifica com a
pessoa amada. Teresa de Jesus, com seu bem humorado senso do realismo afirma: “Deus leva por caminho
penoso os que ama. Quanto mais lhes quer, menos os poupa. (…). Ora, crer que Deus admita à sua íntima
amizade gente comodista e sem sofrimentos é disparate”. E nessa íntima amizade a castidade, acolhida como
dom e conquistada com esforço, é um elemento que seguramente não pode faltar.

Os casais de namorados e noivos bem como cada indivíduo, busquem trabalhar-se corajosamente,
encontrar soluções e não desistir de conduzir livremente a própria vida exercendo um decidido senhorio sobre
seus impulsos, tendo por base os valores evangélicos e o equilíbrio afetivo.

A felicidade é também uma conquista que brota do autodomínio. A Igreja nos instrui que o domínio de si
mesmo “é um trabalho a longo prazo. Nunca deve ser considerado definitivamente adquirido. Supõe um esforço
a ser retomado em todas as idades da vida”. A quem sinceramente se empenhar de atingir este bem aventurado
autodomínio, não faltará o auxílio generoso e abundante da graça divina. Vale a pena conferir!

19. As faces do amor

É claro que um casal se aproxima pelo coração, mas cresce pelo amor, que transcende os sentimentos
e se enraíza na razão.

O amor gera a vida; o egoísmo produz a morte. A psicologia mostra hoje com toda clareza que as
graves perversões morais têm quase sempre como causa principal uma ‘frustração de amor’. Os jovens se
encaminham para as drogas, para o sexo vazio, para o alcoolismo e para tantas violências, porque são carentes
de amor, ‘desnutridos’ de amor. A pior anemia é a do amor. Leva à morte do espírito. Ninguém pode ser feliz se
não for amado; se não fizer uma experiência de amor. Se isto é importante na infância e na adolescência,
também na vida conjugal isto é verdade.

E esse ‘amor conjugal’ começa a ser aprendido e treinado no namoro. Na longa viagem da vida
conjugal, que começa no namoro, você precisa levar a bagagem do amor. Você amará de verdade o seu
namorado, não só
porque ele é simpático, bonito ou porque é um atleta, mas porque você quer o bem dele e quer ajudá-lo a ser
ainda melhor, com a sua ajuda. Muitas vezes você quis e procurou uma namorada perfeita, ou um rapaz ideal,
mas saiba que isto não existe.

A primeira exigência do amor é aceitar o outro como ele é, com todas as suas qualidades e defeitos. Só
assim você poderá ajudá-lo a crescer, amando-o como ele é. Alguém já disse que o amor é mais forte do que a
morte, e capaz de remover montanhas. O amor tem uma força misteriosa; quando você ama o outro
gratuitamente, sem cobrar nada em troca, você desperta-o para si mesmo, revela-o a si mesmo, dá-lhe ânimo e
vida, ‘ressuscita- o’. É com a chama de uma vela que você acende outra. É com a doação da sua vida que você
faz a vida do outro reviver. Desde o namoro você precisa saber que ‘amar não é querer alguém construído, mas
construir alguém querido’.

É claro que um casal se aproxima pelo coração, mas cresce pelo amor, que transcende os sentimentos
e se enraíza na razão. Todo relacionamento humano só terá sentido se implicar no crescimento dos envolvidos.
De modo especial no namoro e no casamento isto é fundamental. A ordem de Deus ao casal é esta: ‘crescei’.
Deus não nos dá uma ‘ajuda adequada’ para ‘curtirmos a vida’ a dois; mas para crescermos a dois. Isto vale
desde o namoro. E o que faz crescer é o ‘fermento’ do amor. Ninguém melhor do que São Paulo expressou as
exigências do verdadeiro amor: ‘O amor é paciente, O amor é bondoso. Não tem inveja. O amor não é
orgulhoso. Não é arrogante. Nem escandaloso. Não busca os seus próprios interesses, Não se irrita, Não guarda
rancor. Não se alegra com a injustiça, Mas se rejubila com a verdade. Tudo desculpa. Tudo crê, Tudo espera,
Tudo suporta. O amor jamais acabará’ (1Cor 13,4-7).

Medite um pouco em cada linha deste hino do amor, e pergunte a você mesmo, se você está vivendo
isto no seu namoro. Você é paciente com a namorada ou não, sabe se controlar diante dos defeitos dela? Você
é bondoso para com ele, ou será que algumas vezes exige ´vingança´, e quer ir à desforra por causa de algo
que ele fez e que você não gostou? Ser bondoso é saber perdoar, é ser compreensivo e tolerante, sem ser
conivente com o erro, claro. Será que você tem inveja dele porque ele a supera em certas atividades? Será que
você é um namorado orgulhoso, que acha que só por ser homem já é suficientemente superior a ela? Se você
não admite ser ultrapassado pelo outro nas coisas boas, saiba que você não o ama de verdade; pois, quando se
ama queremos que o outro seja melhor que nós. Será que você não é arrogante, que se acha superior ao outro,
e que quer sempre impor a sua vontade? Até que ponto você permite que a presunção o domine, fazendo o
achar-se ‘o bom’?

Saiba que a arrogância e a prepotência atravancam o caminho do amor e do crescimento do casal. Será
que você é escandalosa, e parte para a chantagem emocional para conseguir aquilo que você não consegue
pela força dos argumentos? Saiba que a gritaria é muitas vezes a linguagem dos fracos, que agem assim por
falta de razões.
Será que você é egoísta no seu namoro, e ele tem que fazer tudo o que você quer? Aqui está a pedra de
tropeço principal para muitos casais. Uma vez que o egoísmo é o oposto do amor, um casal egoísta pode ser
comparado a duas bolas de bilhar: só se encontram para se chocarem e se afastarem em sentidos opostos…
Será que você é daquelas que vive mau humorada ou que ´derruba o beiço´ por qualquer contrariedade? Será
que você é daqueles que se irrita por qualquer coisinha dela que não esteja do seu gosto? Você perdeu a linha
porque ele se atrasou quinze minutos? Você deixou o seu namoro azedar porque ele olhou apenas um instante
para a outra moça que passou ao lado?

O amor não se irrita, não xinga, não ofende, não grita! O amor não guarda rancor, diz o apóstolo. É
claro que haverá no namoro momentos de desencontros. São normais os pequenos desentendimentos. É fruto
das diferenças individuais e das circunstâncias da vida. O feio não é brigar, mas não se reconciliar, não saber
perdoar, não saber quebrar o silêncio mortal e manter o diálogo. Para evitar as brigas e desentendimentos é
preciso saber combinar as coisas. O povo diz que ´aquilo que é combinado não é caro´. Aprendam a combinar
sobre o passeio, sobre as atividades que cada um gosta de fazer, etc. … É preciso dizer aqui que a face mais
bela do amor é a do perdão. Você tem o direito de ser perdoada, pois errar é humano; mas tem também o dever
de perdoar quando ele errar e pedir perdão.

O gesto mais nobre de Jesus foi o de perdoar os algozes que o crucificavam. Não pode haver futuro
para um casal que não sabe se perdoar mutuamente. Esta é a maior reserva de estabilidade para o casal. Outra
face bela do amor é a fidelidade. Ser fiel ao outro não quer dizer apenas não ter outro parceiro; é muito mais do
que isto, é ser verdadeiro em tudo. É não tapear o outro em nada. É não ser fingido, mascarado ou dissimulador.
Se você mente para a sua namorada saiba que está destruindo o amor entre vocês. Nada é mais fatal para o
amor! A mentira gera a desconfiança; a desconfiança gera o ciúme; o ciúme gera a briga e a separação. Ser fiel
ao outro é saber respeitá-lo, defendê-lo, e não traí-lo de qualquer forma, seja por pensamentos ou palavras. Se
você fizer do seu namoro uma brincadeira de ´esconde ‘esconde´, você estará brincando de amar, e isto é muito
mal. Portanto, quebre toda falsidade, dissimulação e fingimento, porque isto destrói o amor.

A mentira tem pernas curtas, diz o povo; ela logo aparece, e quando isto ocorre deixa o mentiroso
desqualificado, e não mais digno de confiança. Desde o namoro é preciso ter em mente que a beleza do amor
está exatamente na construção da pessoa amada. É uma missão para gente madura, com grandeza de alma.
Construir uma pessoa é educá-la em todos os aspectos, e isso é uma obra do coração. O amor tudo suporta,
tudo crê, tudo espera; o amor não passa jamais. Não há o que o amor não possa fazer. Quando não ajudamos o
outro a crescer é sinal de que o nosso amor por ele ainda é pequeno. Se o seu namoro não for um exercício
constante do amor, ele ficará vazio, monótono, e sem sabor. E como a natureza tem horror ao vácuo, este vazio
será preenchido por desentendimentos e brigas.
Namorando se aprende a amar, mas amando se aprende a namorar. Para você meditar: Sete vezes
menosprezei a minha alma:

 Quando a vi disfarçar-se com a humildade para alcançar a grandeza;


 Quando a vi coxear na presença dos coxos;
 Quando lhe deram para escolher entre o fácil e o difícil, e escolheu o fácil;
 Quando cometeu o mal e consolou-se com a ideia de que outros cometem o mal também;
 Quando aceitou a humilhação por covardia e atribuiu sua paciência à fortaleza;
 Quando desprezou a lealdade de uma face que não era, na realidade, senão uma de suas
próprias máscaras;
 Quando considerou uma virtude elogiar e glorificar.
20. O que entendemos por vontade de Deus? Por Padre Emmanuel Sj

Buscar a vontade particular de Deus não é um ato solitário

O texto apresentado a seguir são notas usadas pelo autor em um curso sobre Discernimento Espiritual.
Baseia-se em vários autores e em notas pessoais, e não foi escrito para publicação. Por este motivo, faltam
muitas referências. A inspiração principal vem de um artigo do Pe. Michel Rondet SJ, publicado na revista
francesa CHRISTUS, octobre, 1989, nº 144, pp.393-401, cujo título é: DEUS TEM UMA VONTADE
PARTICULAR PARA CADA UM DE NÓS?

20.1. Discernimento: optar e comprometer-se

O Pe. Cabarrus define o discernimento como a ousadia de deixar-se levar (Cf CABARRUS, CARLOS: “A
pedagogia do discernimento – a ousadia de deixar-se levar”. São Paulo: Loyola, 1991). E uma ousadia porque a
pessoa deixa-se levar por Deus por caminhos que muitas vezes a razão não pode enquadrar em suas categorias
lógicas para garantir sua segurança. Opta-se ousadamente, diante da liberdade, por onde não se vê, por onde
se é levado. Neste sentido se reproduz a experiência de lnácio, que citamos anteriormente:

“lnácio seguia o Espírito. Não se adiantava a ele. Deste modo era conduzido com suavidade para o
desconhecido… Pouco a pouco, o caminho se abria, e ele o percorria, sabiamente ignorante, com o coração
posto simplesmente em Cristo” (Nadal, Diálogos n. 17, Fontes Narrativae TI).

Esta ousadia implica em uma opção comprometida por aquilo que é a Vontade de Deus. O
discernimento só se conclui quando, identificando a moção do Espírito, opto pelo caminho que ela me aponta e a
historicizo em ações concretas. Por isso, o que nos interessa no processo de eleger-comprometer-decidir-
comprometer-se é oposto à cultura patológica deste tempo de exaltação do indivíduo, de narcisismo exagerado
que vivemos. Nunca se teve tantas possibilidades de eleger e tão reduzida capacidade de se comprometer como
hoje. O ideal parece ser eleger tudo e não se comprometer com nada optar sem renunciar. Ser livres de tudo e
livres para nada. (Cf
Carlos Dominguez Morano… “Los registros del deseo – Del afecto, el amor y otras pasiones” – BILBAO: Desclée
de Brouwer, 2001).

Os Exercícios Espirituais de Santo lnácio querem preparar e dispor a pessoa para uma eleição
comprometida, que pode amadurecer-se fora e depois deles. Trata-se de optar comprometidamente para a
Vontade de Deus. Por isso é importante compreender o que significa VONTADE DE DEUS.

20.2. O Que significa vontade particular de Deus para mim?

Discernir e fazer Eleição é conhecer, acolher e historicizar a vontade de Deus para mim. Por isso é
muito importante entender o que significa esta expressão: vontade de Deus.

20.2.1 Imagens de Deus e vontade de Deus

Muitas vezes nossa imagem de Deus se aproxima mais de uma divindade pagã que do Deus de Jesus
Cristo. Lembro-me sempre da pergunta chocante de Karl Rahner: será o Deus dos cristãos um Deus cristão?
Devemos nos fazer algumas vezes esta pergunta, pois a imagem que muitas vezes temos de Deus – e que no
Retiro já devemos a esta altura ter reelaborado – é uma imagem perversa. E uma imagem perversa de Deus
impossibilitará nossa Eleição.

Trata-se de um Deus todo-poderoso, que sabe tudo e vê tudo, diante do qual a história humana se
desenrola como um espetáculo sem nenhuma surpresa, e que simplesmente espera que cada um de nós ocupe
seu lugar de cúmplices que não têm nenhuma iniciativa própria. Este lugar está previsto desde toda a
eternidade. Por isso nós temos que descobrir qual esta vontade e abraçá-la com urgência. Qualquer erro de
decisão pode ter efeitos dramáticos, e inclusive levar à condenação eterna.

Certamente Deus tem um desígnio para nós, expresso muitas vezes nas escrituras. Por exemplo: A
todos os que o receberam concedeu o poder de se tornarem filhos de Deus (Jo 1)2). É um desígnio de salvação,
que expressa o ser mais profundo de Deus: um amor que se dá e se comunica para que todos tenham vida em
abundância (Jo 10,10). E porque é uma vontade de Aliança, só pode ser dirigido a pessoas livres.

Assim, há um desejo de Deus dirigido pessoalmente a cada um de nós. Se Deus se manifesta pelo
Verbo Encarnado, sua Palavra, é para ser escutado por nós. Se Deus nos chama a ser filhos no Filho Único, é
porque certamente espera que nos expressemos em uma palavra que venha unir-se à sua. A revelação de seu
amor pode fazer nascer em nós esta palavra. Compete a nós pronunciá-la livremente. De maneira alguma ela
nos é ditada por Deus.

Dito de outro modo, ao criar-nos à sua imagem e semelhança, Deus chama cada um a dar a esta
imagem uma ressonância particular. Como Jesus deu um rosto humano à imagem do Pai, cada um de nós é
chamado a refletir em sua vida traços da Santidade de Deus.
Deus, diante de quem existimos, não é um supercomputador capaz de programar e ter presentes
milhões de destinos individuais, a quem deveríamos perguntar com medo e espanto pelo futuro. Ele é o Amor
que correu o risco de chamar-nos à vida, semelhantes a ele e ao mesmo tempo diferentes, livres, para oferecer-
nos a Aliança e a comunhão. Assim, reconhecer a vontade de Deus não é reconhecer uma imposição ou uma
fatalidade, mas um chamado a uma criação em comum.

A imagem de Deus que trazemos muitas vezes é marcada por traços neuróticos e perversos, que dão
espaço para a crítica freudiana ao se referir ao Deus de Jesus como o Deus da criança. Se dermos o passo do
Deus da criança ao Deus Vivo e Verdadeiro revelado em Jesus Cristo, não poderemos jamais nos render à sua
vontade e, portanto, não estaremos em condições de fazer qualquer discernimento que seja, já que discernir é
ter a ousadia de deixar-se levar pelo Deus Amor.

Tentamos a seguir um paralelo muito genérico entre estas duas imagens, mas que pode ajudar em
nossa reflexão e experiência (Cf Carlos Domínguez Morano, Crer depois de Freud, Loyola, SP):

20.2.1.1. DEUS DA CRIANÇA

Deus mágico: que é um aliado do eu e está aí Deus que nos remete à realidade e que não para gratificar
e tomar suportável a dureza vem resolver nossos problemas, mas da “ida. É o fantasma do homem-menino que
não se atreve a enfrentar a realidade”.

Deus explica-mundos: o que sabe tudo e possui uma resposta para cada problema humano,
especialmente os problemas existenciais, que o narcisismo infantil não suporta deixar sem respostas

Deus ciumento no campo da sexualidade. É o pai da lei que separa da mãe e proíbe os desejos sexuais
infantis

Deus de proibições, de ameaças, de castigos e de vigilância perpétuas sobre cada atam e intenção das
pessoas. É o deus do tabu, ante o qual há sempre uma ambivalência afetiva, pois desejar é pecar.

Deus que desconhece a morte, porque a criança a nega pela ferida que esta causa em seu narcisismo.

Deus onipotente, todo poderoso origem de toda norma e proibição. Uma representação da figura paterna
que mobiliza fantasias infantis.

20.2.1.2. O DEUS DE JESUS

Deus que nos remete à realidade que não vem resolver nossos problemas, mas não dinamizarmos para
que nós mesmos os enfrentemos.

É aquele que chama ao compromisso histórico na luta por um mundo onde justiça e paz se abracem para
que todos os homens tenham vida plena.
O Deus de Jesus exige que respeitemos sua liberdade, e só assim podemos ser livres e adultos. Ele não
se deixa manipular.

O Deus de Jesus não pretende dar explicações para todas as incógnitas da existência humana, mas ser
companhia e fazer-se esperança e promessa de sentido diante daquilo que é absurdo. Ele não nos exime do
“não saber”.

Ao Deus de Jesus importam muito mais coisas, tal como injustiça, a hipocrisia, a opressão de uma
religião legalista e deturpadora da imagem de Deus.

Neste sentido não há Deus sem história, e encontrar-se com ele é encontrar-se com todas as alegrias e
esperanças, dores e cruzes de todos os seres humanos. Seu ponto sensível é a dor dos pequenos, dos
marginalizados, dos sofredores, de todo seres humanos. Seu ponto sensível é a dor dos pequenos, dos
marginalizados, dos sofredores, de todo ser humano diminuído de alguma forma na sua dignidade.

20.2.1.3. Deus bom, exclusivamente bom.

Como tal for acolhida radical e gratuita do ser humano, com todas as suas limitações e incoerências, é
misericórdia e perdão.

Deus cria por amor, nos dá a vida, nos dá o mundo e nos entrega o nosso próprio ser. O alento divino
nos vivifica e sai de Deus com a generosidade de quem dá tudo que tem em si. A criação não é fruto de uma
tirania divina, mas dom total e gratuidade absoluta do amor infinito.

A intenção da criação é a comunicação do amor e da alegria eterna experimentada pelo Criador. Não há
rivalidade com a criatura, mas busca sua plenitude e máxima perfeição. Assim quanto mais o ser humano é
autônomo, mais está cumprindo o desígnio de Deus, cuja glória é q eu o homem viva (Santo Irineu). Este é o
verdadeiro sentido da presença de Deus na vida humana. Ele não criou homens e mulheres para servi-lo como
escravos, mas para que vivam e sejam felizes.

Deus que não afirma em momento algum que não passaremos pela frustração, pela decepção, pela
doença, pela dor ou pela morte. Mas afirma que nada disso tem a última palavra, e que apresenta uma oferta de
sentido diante de todas estas limitações da existência humana.

Por tanto, é o Deus que para salvar deseja nossa felicidade e realização já nesta vida, e plenifica na
outra todo o bem que fazemos e vivemos nesta.

Deus cuja única medida de onipotência é a força transformadora do amor, que tem o poder de amar até
as últimas consequências.
A humanidade sempre tendeu a definir o finito em oposição ao infinito. A revelação cristã mostra o
contrário: não pode existir nada que seja fora de Deus, pois tudo que não é Deus tem nele sua origem e
consistência (Cf At 28-29). Só ele pode criar liberdades sem oprimi-las e sem anular-se, pois não necessita
competir com elas.
A humanidade sempre tendeu a definir o finito e em oposição ao infinito. A revelação cristã mostra o contrário:
não pode existir nada que seja fora de Deus, pois tudo que não é Deus tem nele sua origem e consistência (Cf
At 28- 29). Só Ele pode criar liberdades sem oprimi-las e sem anular-se, pois não necessita competir com elas.

No livro Recuperar a Criação, Andrés Torres Queiruga dá um título provocativo a um dos capítulos –
Deus não é religioso -, tentando superar o dualismo religioso que desfigura o rosto do Deus de Jesus. Esta
imagem de Deus que só se interessa pelo religioso e quer nos ter ao seu serviço, como um amigo distante e
severo, é o que, nos tempos modernos, gerou a concepção de um Deus rival do homem. O Deus de Jesus é
aquele que afirma o humano em sua totalidade. Ele cria por amor e se faz sempre presente na história para,
única e exclusivamente, promover a vida em todas as suas dimensões e salvar (QUEIRUGA, “Recuperar a
Criação”, São Paulo: Paulus, 1999, p 78).

“Urge que vivenciemos o Deus onipotente, criador do céu e da terra como daquele que por amor nos
põe na existência e que pauta sua glória não na adoração que se converte na anulação masoquista do escravo,
mas na afirmação confiante da vida: ‘A glória de Deus é o homem viva’” (TORRES QUEIRUGA. Do terror de
Isaac ao Abbá de Jesus – Por uma nova imagem de Deus. São Paulo: Paulinas, 2001, p 67.).

20.2.2. Compreendendo o conceito Criação

“Nos criastes Senhor para Ti, e o nosso coração está inquieto até encontrar-te” (Sto. Agostinho).

Nas palavras de Sto. lnácio: O homem é criado para louvar, reverenciar e servir a Deus, e desta forma
salvar a sua alma… [Santo Inácio de Loyola, Exercícios Espirituais, no 23]

É CRIADO:

· Minha origem = Deus

· Criação = Transbordamento do Amor de Deus, que não pode reter o Amor para si, mas quer comunicá-
lo. Ele quer que muitos participem de sua FELICIDADE ETERNA. Ele CRIA PARA COMPARTILHAR. Na
Criação tudo é Dom, tudo tem um sentido, tudo está evoluindo para a PLENITUDE. Tudo está envolvido pela
presença amorosa de Deus.

· A ideia Bíblica de Criação não se refere, nem primariamente nem exclusivamente à pergunta pela
origem do mundo e dos seres humanos. A ideia bíblica de “criação” se expressa com o verbo bara, que denota
não só a
ação de dar princípio à realidade, mas também a ação restauradora (recriadora) e consumadora dessa mesma
realidade. Deus cria quando:

20.2.3. Por que uma tradução em comum?

A resposta que vamos dar a Deus não está escrita em lugar nenhum, nem no livro da vida, nem sequer
no coração de Deus, mas é uma expectativa e uma esperança. É a esperança daquilo que Deus mesmo não vê
e ao qual nós vamos dar forma e imagem. Esta é a grandeza e o risco de nossas vidas: sermos chamados a
despertar o gozo de Deus pela qualidade e generosidade de nossa resposta.

As eleições que nós fazemos não são criações do nada. As preparamos com o material constituído por
nossas limitações humanas, nossos condicionamentos, nosso temperamento, nossos dons, enfim, toda a nossa
história.

20.2.4. Para o bem do Corpo

Buscar a vontade particular de Deus não é um ato solitário. O Espírito nos une neste caminho, como
uma força interior, em Igreja. Discernir é perguntar sobre nosso lugar no Corpo de Cristo. Não um lugar
marcado, pré- estabelecido, mas aquele que eu posso e desejo assumir. Que membro serei eu para o bem de
todo o corpo? A resposta pertence a mim. Deus a espera, generosa e nova, como esperou pela resposta de
Maria na Encarnação.

20.2.5. O que é então à vontade de Deus

O discernimento não entrega os projetos de Deus prontos para nós. Ele nos dispõe a reconhecer em
nossos desejos e aspirações, aqueles que podem ser atribuídos ao Espírito de Cristo.

Assim, à vontade Deus não é que eu escolha isto ou aquilo. Consiste em eleger por mim mesmo, depois
de uma reflexão leal, livre de todo egoísmo e todo medo, a maneira mais fecunda e mais feliz de realizar a minha
própria vida. Para isso devo ter em conta o que sou, meu passado, minha história, os encontros que tive na vida,
a percepção que tenho das necessidades da Igreja e do mundo. Neste sentido, que resposta pessoal posso dar
aos apelos que senti no Evangelho? O que Deus espera de mim não é que eu eleja um caminho previsto por ele
desde a eternidade, mas que eu invente hoje minha resposta à sua presença e ao seu chamado. Assim, não se
trata de descobrir e realizar um programa pré-estabelecido, mas de fazer que brote uma fidelidade.

20.3. Alguns critérios para avaliar se os apelos que sinto são Vontade de Deus para mim

Falar da vontade particular de Deus sobre cada um de nós é falar de uma resposta pessoal de cada um
ao desejo de Deus. Deus vai trazendo apelos a mim, que se manifestam em forma de movimentos interiores ou
moções, e muitas vezes se expressam em meus desejos. Alguns critérios podem nos ajudar avaliar estes
apelos, moções ou desejos.
a) Experiência de consolação: Deus se comunica comigo como só ele pode fazer. Experimento paz, mesmo se
o chamado for muito difícil.
b) Busca do maior serviço: na experiência de paz, há uma busca sincera do Mágis, de um maior serviço. A
pessoa não está centrada em si. Deus sempre me leva em direção ao outro.
c) Medida e equilíbrio: Deus me respeita e me prepara para caminhar com segurança. Pede mais do que estou
dando, mas nunca exige mais do que posso dar. Respeita minhas forças e minhas limitações. O que Deus
pede é possível de ser posto em prática. Exagero não vem de Deus.
d) Tranquilidade: Deus não tem pressa. Manifesta-se com calma, preparando o caminho. Não nos atropela.
Respeita o nosso ritmo. Pressa e precipitação não vêm de Deus. Aquilo que provoca em mim um estado de
agitação na imaginação e no espírito, levando a uma impaciência ou a uma urgência em relação ao novo
não vem de Deus.
e) As constantes de Deus: Deus não se manifesta repentinamente, sem respeito à nossa história.
Normalmente, quando descobrimos um apelo de Deus, se fazemos uma leitura retrospectiva de nossa vida,
descobriremos que este apelo de alguma forma já estava presente. Acontece que muitas vezes não consigo
percebe-lo. Deus então vai repetindo o apelo, preparando o caminho, até que eu o perceba. Mas isto sempre
com paciência, com respeito à minha liberdade. Por isso, este apelo ou desejo tem duração no tempo.
f) Experiência de sentido, de realização: muitas vezes experimentamos um vazio e uma inquietação profunda,
e não encontramos respostas em nossas buscas. Quando encontramos e aderimos à vontade de Deus para
nós, fazemos uma experiência de integração, de harmonia interior.
g) Desconfiar da pura interioridade: não confundir moções interiores com um sentimentalismo isolado de nossa
vida passada e da realidade que nos rodeia. Inácio descobriu que tinha moções porque viveu intensamente.
Quando se vive pouco ou não se leva em conta o que se vive, setorizamos a realidade de tal maneira que
passamos a crer que a experiência cristã se reduz à pura interioridade. Quando se cai neste tipo de
reducionismo, o discernimento perde toda a sua força. A palavra discernimento se converte em um jogo
narcisista de autocontemplação e ensimesmamento. Até os EE, que são uma escola de discernimento,
acabam se convertendo em uma prática espiritual que se repete a cada ano sem consequências fortes em
nossas vidas ou em um evento que participo para cumprir uma regra. Por isso é importante Ter presente que
o que acontece no meu interior não está à margem de nosso modo de viver e da realidade que nos circunda.
h) Eclesialidade: Deus nos chama no contexto da Igreja, da comunidade, e conta com este contexto. Ele não
procura franco-atiradores.
a. As Obras de justiça solidária: O que experimento deve me levar à solidariedade com os mais empobrecidos.
Tudo que fazemos deve ser para os empobrecidos, muitos de nós com os empobrecidos e alguns como os
empobrecidos (Mt 25, 31 ss).
i) A misericórdia alegre: este desejo leva-nos, de alguma forma, como Jesus, a entrar na miséria do coração
do outro (Lc 6,36).
j) A incompreensão e a perseguição: fazer a vontade de Deus é ser criticado, perseguido, incompreendido. E
uma consequência do seguimento de Jesus e da opção pelo Reino de Deus (Mc 8,34 li; Lc 8,14 ss).
k) O Amor a si mesmo: o primeiro beneficiado com as moções sou eu mesmo. Deus quer a minha felicidade e
realização pessoal. Se o trabalho pelo Reino leva a uma autodestruição neurótica, a uma auto depreciação,
não vem de Deus. O grão de trigo que morre e não produz fruto é vida desperdiçada (Mt 19,19; Jo 12,23).

Por fim, a referência fundamental será sempre a pessoa de Jesus e seu Reino: responder a este apelo é
uma maneira específica de ser desde os valores do Evangelho, como Jesus.

21. As marcas da Vocação Shalom por Assessoria Vocacional

É da comunhão com o Senhor que o nosso coração se abastece para também entrar em comunhão com
os irmãos.

“Não poderá jamais existir a verdadeira Paz nas almas dos homens e no mundo se esta Paz não estiver
embasada em um amor incondicional a Jesus Cristo, pois aí nasce o Shalom de Deus. Aí está também aquilo a
que fomos chamados: a entregar, consumir nossas vidas neste amor. No amor que busca cada vez mais o
esquecimento de si, de sua própria vontade, de seus próprios interesses, de sua própria vida e que, cada vez
mais inflamado de amor pelo Amado busca somente a Ele, a vontade d’Ele, os interesses d’Ele, a vida d’Ele, a
obra d’Ele” (Regras de Vida).

Estas palavras escritas em nossa Regra são um farol que ilumina o caminhar de nossa vivência
comunitária. É da comunhão com o Senhor que o nosso coração se abastece para também entrar em comunhão
com os irmãos. É dela que brotam a unidade e a fraternidade a que somos chamados a viver e a revelar ao
mundo o plano de Deus sobre a comunhão a qual todos os homens foram criados para viver. É assim, aos
poucos, doando as nossas vidas, unindo os nossos corações, vivendo a fraternidade entre nós para transbordá-
la para o mundo, que colaboramos com a construção da “civilização do amor”.

Se temos a consciência profunda de que somos chamados a viver a união com Deus e com os homens,
para nós a pobreza, a obediência e a castidade são um porto seguro para que não nos afastemos deste
chamado de comunhão. Eles são como terra fértil que ajudarão a desenvolver o amor em nossos corações.

A pobreza a que somos atraídos a viver é “em primeiro lugar estarmos nas mãos de Deus, ser Seus
operários, e como fruto de nosso trabalho, esperarmos o pão de cada dia” (Regras de Vida). Trabalhamos com
dedicação para evitarmos toda “pseudo pobreza” e investimos nossas vidas na busca da sobriedade em todos
os aspectos dela para não atropelarmos a vida dos irmãos e tirar o que é do outro para a nossa própria
satisfação, saindo assim de todo individualismo e apegos, como nos ensina Catherine Doherty: “No Reino de
Deus, Deus é o primeiro, o irmão é segundo e eu sou o terceiro”. “É isto ser pobre: ser o terceiro”. Seguindo
assim também o
pensamento de São Francisco: Quando há uma necessidade, aparece a ajuda do outro. A pobreza cria
necessidades e as necessidades abrem os irmãos uns para os outros” (Irmão de Assis, p. 203).

A castidade é o outro caminho seguro que nos leva a mergulhar nossas vidas inteiramente nos braços
de Deus, onde a graça divina encontra um vazio criado por ela para realizar em nós a transcendência do prazer.
Não queremos viver apenas para nos contentar, para termos o prazer egoísta que só pensa em si mesmo, que
se fecha em si mesmo, que não sabe pensar nos outros. Temos a certeza que não nascemos apenas para
sermos felizes, mas principalmente para fazermos os outros felizes. Queremos trilhar este caminho casto para
que possamos amar a Deus Pai e a todos os homens com o mesmo amor total, divino e humano de Cristo, que
gera relacionamentos interpessoais que continuarão sendo válidos na outra vida, transcendendo assim toda
mediação fundada nos sentidos.

A obediência é sinal para nós de perfeita submissão filial plena e amorosa ao querer do Pai. É
demonstração concreta de docilidade ativa e responsável à vontade de Deus diante do conhecimento do plano
salvífico d’Ele para as nossas vidas e aceitá-lo incondicionalmente com todas as suas consequências. Por ela
nos comprometemos, diante de Deus e dos irmãos, a viver em total docilidade à vontade amorosa do Pai e a
acolhê- la como critério único de vida, sejam quais forem as mediações humanas ou sinais que manifestem esta
vontade. Pela obediência temos a oportunidade de vivermos a verdadeira liberdade de filhos de Deus, a
liberdade cristã, que nos projeta além do horizonte individual, que nos conduz a não decidirmos autonomamente
sobre nós mesmos, mas nos liberta dessa tendência inata de colocarmos no centro do universo os nossos
próprios interesses.

Para compor este belo jardim divino, o Senhor chama casais ou famílias inteiras, celibatários e
sacerdotes, porque estes estados de vida para nós, apesar de terem características próprias que devem e são
respeitadas, nunca poderão ser vividos numa perspectiva individualista, fechados neles próprios, mas sempre
abertos à doação e transbordamento para a Comunidade, a Obra, a Igreja e o mundo. Compreendemos
claramente que os estados de vida, seja ele matrimônio, celibato ou sacerdócio, “são um dom que o Senhor nos
dá para amá-lO melhor e servi-lO segundo a Sua vontade, em sinceridade, abertura e serviço” (Regras de Vida).

22. 7 pontos sobre a Espiritualidade Shalom

A espiritualidade não é fruto de um planejamento humano, mas é um projeto divino que hoje se
manifesta na nossa vida

A espiritualidade Shalom é um presente de Deus para a Igreja e para o mundo de hoje. Ela se concretiza
na vida de cada membro da Comunidade e está presente no coração de todos aqueles que são chamados por
Deus a esta magnífica vocação. A espiritualidade não é fruto de um planejamento humano, mas é um projeto
divino que hoje se manifesta na nossa vida, é uma graça que cada irmão recebe a fim de construir no mundo,
como Comunidade, a “civilização do amor”.

Podemos resumir a espiritualidade Shalom em sete pontos, a saber:

22.1. Compromisso com o espírito da Renovação Carismática Católica (R.C.C.) e uso dos carismas
do Espírito Santo para a edificação da Igreja

“Fundamentados na grande experiência carismática do Novo Pentecostes na Igreja, a Comunidade,


através da experiência da efusão do Espírito Santo e do desabrochar e uso dos seus carismas (…) vive sua
consagração, serve à Igreja e colabora com a implantação da paz no mundo” (ECCSh, 4).

Somos uma Comunidade carismática, estamos comprometidos com a espiritualidade da R.C.C., pois
nascemos a partir desta graça e sem ela não podemos existir. Isso não implica um compromisso com a estrutura
hierárquica da R.C.C., e, sim, com a experiência da efusão do Espírito Santo e com a utilização dos seus
carismas na nossa vida pessoal, comunitária e apostólica.

22.2. Amor esponsal e incondicional a Jesus Cristo, segundo o modelo de vida de São Francisco de
Assis e o caminho de oração de Santa Teresa D’Ávila

“O amor esponsal a Jesus Cristo, obra da vontade do Pai que o Espírito Santo realiza e inflama em
nossos corações, é a base de nossa espiritualidade e fonte de nossa vida” (RVSh, 158).

“Neste caminho de amor esponsal e santidade, o Senhor nos dá um modelo: Francisco de Assis. Como
o Senhor deu a Francisco um coração amante e despojado, assim também Ele no-lo quer dar. Por outro lado, o
Senhor nos dá um caminho a seguir: o de Santa Teresa D’Ávila. O caminho de oração, de intimidade com o seu
Senhor, de união íntima com o Amado, é caminho também para as nossas almas” (RVSh, 216).

22.3. Amor filial por Nossa Senhora como Mãe e Rainha da Paz

“Para mergulharmos em todo o mistério de Cristo, quis o Senhor nos entregar sua Mãe (cf. Jo 19,27).
Acolhendo-a em nossa vida, na verdade, somos acolhidos no seu seio onde, pelo poder do Espírito, ganhamos
uma profunda intimidade com o Verbo Encarnado de Deus” (ECCSh, 82). Nossa Senhora é sempre para nós
aquela que nos lança em Deus e na sua vontade. Por ela nutrimos um amor e relacionamento filiais e a
honramos todos os dias com a recitação do terço. Como sinal de nossa devoção, temos sempre em nossas
capelas um ícone ou imagem da Virgem Maria.

22.4. Forte chamado à oração profunda e à união da vida contemplativa com a vida ativa

“O Senhor nos chama a desfrutar dessa intimidade com Ele com profundidade e intensidade. Devemos
estar conscientes de que é a partir desta intimidade profunda, pessoal e comunitária com o Senhor, onde Ele
nos
encherá do seu amor, que poderemos transbordar este amor no trabalho de sua vinha, espiritualizando,
santificando, cristificando cada momento e cada serviço” (RVSh, 153). O chamado à oração profunda concretiza-
se na vida de oração pessoal e comunitária, nos momentos de adoração ao Santíssimo Sacramento, nos retiros
pessoais e comunitários, na vida sacramental, no estudo da Palavra, no terço e nos momentos de ensino. O
louvor é a base de nossa intimidade com Deus. Abraçando e vivendo em profundidade esses momentos de
oração, poderemos assim transbordar em nossa vida a presença de Deus. Mantendo nossos corações e nossas
mentes unidos a Ele, seremos sempre contemplativos, inclusive no apostolado e na vivência fraterna.

22.5. Exercício do amor fraterno segundo o modelo de unidade e caridade da Trindade

“Devemos ser porto seguro de compreensão, amor e orientação para todos aqueles que nos rodeiam
(…). Devemos desenvolver a virtude da escuta dos irmãos e a maneira sábia de os conduzir a Jesus Cristo,
Nosso Senhor. A vivência do perdão é sinal vivo da presença do Senhor no meio de nós e é exercício que
devemos desenvolver constantemente” (RVSh, 111).

“É anseio do coração do Amado que nos dediquemos a dar provas de amor uns para com os outros. O
amor ao irmão é uma maneira concreta de mostrarmos o quanto amamos o nosso Amado, amando aquele a
quem tanto Ele ama e por quem Ele deu a sua própria vida” (RVSh, 228).

22.6. Amor sincero pela Igreja e desejo de servi-la através da obra e da vida missionária

“Como portadora de um carisma particular na Igreja, a Comunidade cultiva sua profunda comunhão com
ela, expressa por meio de um especial amor, submissão e serviço ao Santo Padre e aos senhores Bispos,
colocando-se, de acordo com o carisma que lhe foi dado, a serviço da edificação da sua Igreja” (ECCSh, 22).

O amor pela Igreja é uma forte característica de nossa vocação. Nela nascemos e nela existimos. Por
isso somos missionários, estamos à disposição da Igreja para servi-la onde ela precisar de nós.

22.7. Opção radical pelo Evangelho mediante uma consagração de vida

Chamados que fomos a uma consagração de vida, temos a consciência de que o Senhor nos convida a
algo mais, a um compromisso mais profundo do que aquele assumido em nosso Batismo e confirmado no
sacramento da Crisma: “O dom Shalom é um chamado de Deus para uma nova forma de vida pessoal e
comunitária baseada na vivência radical do Evangelho” (RVSh, 27).

23. Fontes Bibliográficas:

Site da Comunidade Católica Shalom

Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé. Carta aos Bispos sobre a colaboração entre o homem e a
mulher na Igreja e na sociedade, p. 14
OQUENDO NOGUEIRA, Maria Emmir, Tecendo o Fio de Ouro, 6 a ed., Ed. Shalom 2006.

João Paulo II, Familiaris Consortio, n. 37

Pontifício Conselho para a Família, Sexualidade Humana e Significado, www.vatican.va

Cencini, Amedeo. Celibato e Virgindade Hoje – Para uma Sexualidade Pascal. Editora: Paulus, 2005.

Teologia do Matrimônio – Compêndio. Editora: Santuário, 2009

Papa Bento VI. Deus Caritas Est – Encíclica Editora: Paulus, 2009

Sexualidade, verdade e significado” – Encíclica de João Paulo II. Ed. Paulinas, 1998.

Catecismo da Igreja Católica. Ed. Paulinas, 1998.

Discurso de Bento XVI na Festa de acolhimento dos jovens, Praça de Cibeles, Madrid Quinta-feira, 18 de
Agosto de 2011

Homilia da Santa Missa com os seminaristas na Catedral de Santa Maria la Real de la Almudena (Madri,
20 de agosto de 2011)

Santo Agostinho, Confissões, Livro X, Cap. XXIII

Você também pode gostar