Atualidades em psicologia da
saúde. São Paulo: Thomson, 2004. 185 p. ISBN 852210428X.
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Vários autores
Bibiliografia
ISBN 85-221-0428-X
04-0535 CDD-155.916
Página 3
THOMSON
Página 4
Impresso no Brasil.
Printed in Brazil.
1 234 06 05 04
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sejam quais forem os meios empregados sem a permissão, por escrito, da Editora.
Aos infratores aplicam-se as sanções previstas nos artigos 102, 104, 106 e 107 da
Lei n° 9.610, de 19 de fevereiro de 1998.
Vários autores.
Bibliografia.
ISBN 85-221-0428-X
1. Angerami — Camon,
Valdemar Augusto.
04-0535
CDD-1 55.916
Página 5
Apresentação
Este livro traz os mais recentes avanços na área da Psicologia da Saúde. O que
existe de mais significativo foi arrolado e os autores exponenciais apresentam aquilo
que é a atualidade na Psicologia da Saúde.
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Os Autores
Gildo Angelotti
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Sumário
Capítulo 1 - 1
Capítulo 2 - 29
Preservação da Saúde Mental do Psicólogo Hospitalar
Aidyl M.de Queiroz Pérez-Ramos
Capítulo 3 - 61
E o Tratamento se Inicia na Sala de Espera...
Silvia Martins lvancko
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Capítulo 4 - 85
A Dor no Estágio Avançado das Doenças
Maria Margarida Mi. de Carvalho— Magui
Capítulo 5 - 103
Tratamento Cognitivo-Comportamental do Alcoolismo
Gildo Angelotti
Capítulo 6 -135
A Racionalidade Médica Ocidental e a Negação da Morte, do Riso, do
Demasiadamente Humano
Geórgia Sibele Nogueira da Silva
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Capítulo 1
Introdução
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Breve Reflexão
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De um povo que sequer pode pensar em autocrescimento, pois está ainda preso ao
estágio de luta pela pura sobrevivência. De uma população desdentada, desnutrida
e que assiste a presidente após presidente curvar-se aos interesses do mercado
financeiro, enquanto desfia seu corolário de sofrimento, padecendo à míngua sem
trégua nem piedade de quem quer que seja. É fato que a nossa elite cultural
simplesmente é atendida, em termos de intervenção psicológica, por modelos
teóricos advindos de Viena, no final do século XIX, ou seja, em um total
distanciamento da nossa realidade sociocultural.
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outros países nada mais são do que uma conversão que fazemos para o interior da
nossa própria realidade conceitual. E sem demérito a quem quer que seja estamos
construindo uma conceituação teórica sobre a nossa realidade por mais que possa
desagradar a um sem- número de estudiosos que vivem debruçados sobre teorias
construídas em outras realidades que sequer tangenciam a nossa condição
sociocultural. Uma conceituação que possa considerar o ranger de dentes da nossa
precariedade existencial, na qual todos os nossos esforços de construção teórico-
filosófica esbarram em nossa própria pobreza sociocultural, que, embora apresente
em alguns segmentos requintes semelhantes àqueles encontrados nos países de
Primeiro Mundo, na maioria dos casos são revestidos de uma quase total falta de
embasamento de condições mínimas necessárias para reversão desse quadro tão
desolador. O que assistimos praticamente sem alternância é o apego dos nossos
profissionais a teorizações que sequer consideram a nossa especificidade. Desse
modo, encontraremos desde concepções teóricas estanques diante de nossas
mudanças estruturais até devaneios que impregnam a tudo e a todos de um
psicologismo simplista. É dizer que a cada dia necessitamos de uma nova
reestruturação de nossos postulados teóricos para não corrermos o risco de ficar à
margem de nossa própria história.
Uma psicologia que se mostre soberana diante de nossos anseios libertários e que
também possa considerar as especificidades de nossa população e contribuir para
que tenhamos no futuro uma população mentalmente sadia. Estamos trabalhando
para construir um nicho de saber e conceituação que possa dimensionar o
aprisionamento do homem contemporâneo diante da cultura do medo a que ele foi
exposto e da qual não tem como conseguir libertar-se. Uma concepção teórica que
considere não apenas os avanços obtidos ao longo dos últimos anos no campo da
psicologia, mas também de outras áreas do saber, e que de alguma forma
contribuem para uma compreensão mais ampla da própria condição humana.
Somos os artífices de uma nova estruturação conceitual que possa abranger uma
nova realidade de mundo, uma nova estruturação emocional
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diante dos desatinos que estão a se sedimentar na nossa realidade atual. E isso é o
desafio que se lança à nossa frente, ao mesmo tempo que nos lançamos na
tentativa de superação de nossas próprias limitações para construir algo que esteja
solidamente sedimentado em níveis teóricos e que possa, assim, ser sustentáculo
teórico-prático de tantos que sobre ele se lancem em busca de uma nova luz de
compreensão da própria realidade humana. Assim, é necessário que estabeleçamos
em âmbitos epistemológicos as bases de sustentação de nossa proposta conceitual,
e, a partir disso, construir um novo modelo de compreensão dessa realidade que se
mostra ao nosso campo perceptivo. Essa é a nossa alternância conceitual e o nosso
desafio no sentido de refletir sobre o enfeixamento de uma base teórica que
considere os moldes sobre os quais o século XXI se apresenta, e o modo
particularmente enigmático que se mostra diante de nossos olhares.
Sempre é bom lembrar que o século XX apresentou, desde sua metade até o final,
um teor de desenvolvimento tecnológico que supera todos os períodos da história.
Assim, qualquer previsão que se faça sobre o novo século que estamos vivendo é,
no mínimo, ingênua, pois a velocidade com que as transformações e avanços
tecnológicos se sucedem superam as mais otimistas das expectativas. E, no campo
do conhecimento envolvendo o comportamento humano, as novas descobertas da
fisiologia estão deixando muitas das teorizações efetivadas na tentativa de
compreensão do homem contemporâneo. E, de maneira estonteante, assistimos,
igualmente, a uma sucessão indescritível de necessidades que são impostas e que
de alguma maneira acabam se transformando em instrumento de pressão gerador
de muito estresse emocional. Ou é possível negar-se o sofrimento gerado pelo
consumismo de nossa sociedade em nossos adolescentes? Ou ainda a necessidade
que se estabelece de consumos intermitentes dos mais diferentes objetos impostos
pela tecnologia moderna? Basta se considerar, por exemplo, o paradoxo existente
em nossa sociedade, na qual, ao lado de automóveis e celulares importados,
assistimos a um sem-número de pessoas lançadas na sarjeta sem teto ou qualquer
tipo de proteção. Falamos em uma nova sociedade e convivemos com
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A psicologia hospitalar tem seu início em uma data que se configura até mesmo
como precedente do próprio reconhecimento da
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Nesse sentido, até práticas que se propõem a ser libertárias como a “psicologia
comunitária”, a “psicologia hospitalar” etc. estão, muitas vezes, solidificadas em
embasamentos teóricos distantes de maneira abismosa de nossa realidade social. É
dizer que até mesmo quando buscamos a libertação de nossa condição de
estrangulamento socioemocional vamos ao encontra de um instrumental teórico que
perde sua eficácia diante de nossas peculiaridades. A psicologia, assim, se alinha
com outras áreas do saber que, igualmente, estão sedimentadas em outras
realidades sociais e se distancia das especificidades brasileiras. É cada vez mais
importante trazer-se à tona das discussões sobre a eficácia de abrangência da
intervenção psicológica o célebre pensamento de Maslow, segundo o qual somente
após realizar suas necessidades básicas de sobrevivência é que o homem pode
pensar em quesitos como autocrescimento e autoconhecimento. O que não significa
necessariamente afirmar-se que alguém que vive
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A psicologia, de outra parte, e na medida em que faz parte do rol das especialidades
incluídas na chamada área da saúde, também apresenta, além das contradições e
dos modelos teóricos de realidades de países de Primeiro Mundo, somo citamos
anteriormente, outro aspecto bastante complicador, que é a diversidade de suas
abordagens teóricas. Assim, se em alguns campos do conhecimento como a
matemática, a física, a engenharia etc. se busca com intensidade cada vez maior um
denominador comum, uma resposta única para os problemas, a psicologia convive
com diferentes tipos de compreensão representada pelas mais diferentes
abordagens. E muitas vezes não encontramos sequer congruência entre as
diferentes tentativas de compreensão da realidade humana com cada abordagem
trazendo para si a “verdade” sobre a maneira mais eficaz de intervenção psicológica.
E com uma abrangência cada vez mais disforme e repleta de controvérsia, a
psicologia vai abrindo os mais diferentes espaços nos mais diferentes campos de
atuação. E sempre que se questiona a real importância da atuação do psicólogo fica
evidenciado que muitas dessas atuações são, como dissemos anteriormente, uma
necessidade ditada muito mais pelo estrangulamento de seu mercado de atuação do
que propriamente por uma real necessidade do paciente.
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que digam respeito apenas ressaltar nesse ponto que não somos contrários aos
avanços obtidos pela psicologia nos mais diferentes segmentos sociais, apenas
queremos enfatizar ser preciso que essas conquistas representem uma nova
dinâmica no quesito de necessidades de intervenção psicológica, e não apenas um
mero acoplamento determinado pelas nossas necessidades mercadológicas. É na
psicologia que se depositam as esperanças de construção de uma sociedade mais
saudável do ponto de vista emocional, derivando daí, inclusive, uma nova
configuração da saúde física em sua totalidade.
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A rapidez com que as informações circulam pela Internet, exigindo que todos
aqueles que minimamente tenham algum compromisso acadêmico estejam
continuamente ligados a essa rede, é indício da necessidade da constante
atualização exigida na realidade contemporânea. Basta se comparar, por exemplo,
que apenas há uma década para se fazer uma pesquisa acadêmica era necessário
uma série de visitas
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a várias bibliotecas nos mais diferentes cantos da cidade, algo totalmente distante
da atualidade quando, com a facilidade proporcionada pela Internet, a partir de
simples comandos de botões temos todo o panorama mundial de pesquisas e
publicações diante de nós na tela do computador. E na medida em que esses
avanços são incorporados ao nosso cotidiano simultaneamente aos seus
aparecimentos não nos surpreendemos com a mudança que efetivaram em nossas
práticas teórico-acadêmicas. Apenas e tão-somente quando refletimos para o
passado, embora não tão distante, é que vemos escancarado o abismo que separa
a área do conhecimento em apenas algumas décadas. Hoje não é mais possível se
conceber um pesquisador acadêmico que, mamamente, não possua o seu e-mal e
com o qual se relaciona e se mantém infoiimado com todos os avanços da ciência.
Apesar disso tudo, ainda não conseguimos desvincular a psicologia do pejorativo de
que se trata de uma área do conhecimento que tenta se impor enquanto ciência,
mas que, na realidade, apenas comprova com instrumentos ditos científicos aquilo
que a sabedoria popular já constatou livremente. Essas críticas, longe de estarem
distantes do real, ao contrário, mostram de modo contundente a necessidade de um
aprumo que incorpore não apenas as verdadeiras necessidades sociais, como
também, e principalmente, mostrem que o avanço das reflexões e das pesquisas em
psicologia estão à frente desses impropérios que nos são lançados livremente. É
fato que uma simples consulta ao conjunto de teses acadêmicas em psicologia
constata nua e cruamente o grande número de pesquisas efetivadas com animais
como se fôssemos apenas um ramo da zootecnia.
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hoje, uma plenitude de produção teórica e acadêmica que lhe assegura lugar de
destaque na proeminência das ciências contemporâneas. E, ao contrário de outras
áreas nas quais se buscam o consenso e a uniformidade teórica, temos na
psicologia um universo cada vez mais amplo de ideias e teorizações que, debatidas,
geram inúmeras outras abordagens nesse fascínio e mistério que é a tentativa de
compreensão da condição humana.
A psicologia da saúde, de outra parte, ganha espaços cada vez mais significativos
no rol das teorizações contemporâneas. E seguramente desde as nossas primeiras
publicações, quando tartamudeávamos as nossas primeiras criações teóricas e
práticas, certamente os nossos universos e perspectivas de atuação se expandiram
de modo absolutamente alvissareiro. Um exemplo desse panorama são justamente
os encontros e simpósios realizados na tentativa de discussão das atividades
empreitadas nessa área. Desde o início dos anos 1980 são realizados os Encontros
Nacionais de Psicólogos da Área Hospitalar, aos quais se somaram também os
Congressos Brasileiros de Psicologia Hospitalar. Trata-se de encontros dos quais
participam elementos de todas as áreas do País, não apenas para se atualizarem
sobre os avanços ocorridos na área, mas também para efetivarem presença
naqueles que são os mais significativos eventos da área. Em 2001, surge o 1
Congresso Brasileiro de Psicologia da Saúde e Psicossomática, ao qual se somou
também o 1 Simpósio Brasileiro de Psiconeuroimunologia. Esse congresso marcou o
início de uma junção de diferentes áreas que se acoplavam ao escopo da Psicologia
da Saúde. Igualmente, o encontro de muitos colegas dos mais diferentes cantos do
País em busca de diferentes matizes que pudessem embasar suas práticas clínicas.
No Quadro 1 podemos observar os diversos segmentos que se fizeram presentes
nesse congresso. Em 2003, ocorre o II Congresso Brasileiro de Psicologia da Saúde
e Psicossomática e novamente agregando o II Simpósio Brasileiro de
Psiconeuroimunologia. Novamente, colegas de todos os cantos do País
comparecem ao evento, fazendo com que ele passe a fazer parte do calendário dos
principais eventos ocorridos em âmbito nacional. E, o que é mais importante,
contemplando os mais diferentes matizes teóricos em uma perfeita
complementaridade. No Quadro 2, podemos observar o perfil do evento e a sua
abrangência conceitual. E,
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Um novo tempo da psicologia que se imbrica com o novo século para determinar
novas perspectivas teóricas e também novas abrangências metodológicas. E para
que não nos percamos em nossa exposição é sempre importante ressaltar que a
cada evento que reúne os diferentes profissionais dos mais diferentes cantos, o
somatório das discussões sempre faz com que o enriquecimento estrutural da área
seja não apenas promissor, mas tenha também contornos e especificidades reais. É
dizer, sem medo de erro, que caminhamos muito a cada encontro. E que a
perspectiva de novas publicações sempre traz em seu bojo um pouco do que foi
discutido nesses eventos. Em cada novo livro temos um pouco da fragrância que
restou de cada encontro. É importante ainda destacar que, segundo levantamento
dos conselhos regionais, é uma das abrangências da psicologia da saúde, a
psicologia hospitalar, a área que mais cresce em termos de procura pelos
acadêmicos em sua busca de espaços de atuação.
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que lhes dão chancela. Assim, esses hospitais possuem um trabalho de alto esmero
sem a necessidade de contratação, pois o serviço de psicologia é praticamente
desenvolvido pelos alunos sob a supervisão de alguns poucos profissionais
contratados. Frise-se ainda que alguns hospitais sequer apresentam profissionais
contratados, pois a respectiva coordenação e supervisão são feitos por profissionais
pertencentes às instituições acadêmicas que, no afã de ministrarem cursos de
psicologia hospitalar, fazem convênio com esses hospitais para que seus alunos
possam efetivar o respectivo estágio. Ocorre que dessa maneira temos a efetivação
do estágio pelo estágio, pois esses alunos, ao adquirirem seus certificados de
conclusão, não possuem campo efetivo de atuação, na medida em que a maioria
dos hospitais sensíveis à atuação do psicólogo já possui serviços de psicologia
hospitalar estruturados a partir de estágios não remunerados. E é evidente que a
empresa hospitalar não pretende modificar essa estrutura na medida em que tem
um trabalho altamente especializado e totalmente sem ônus. As unidades
hospitalares que geralmente possuem psicólogos contratados são aquelas
pertencentes à rede pública de saúde e também aquelas que fazem parte da
estrutura acadêmica de algumas universidades. Ainda assim, no entanto, vamos
encontrar, mesmo nesse segmento, hospitais que têm sua estrutura de
funcionamento de psicologia hospitalar totalmente estruturada nos cursos de
especialização em psicologia hospitalar mantidos por essas instituições. Entretanto,
é necessário que se ressalte ainda que essa estrutura de estágios que praticamente
viabiliza uma mão-de-obra especializada sem nenhuma remuneração não é
“privilégio” apenas da psicologia hospitalar. Vamos encontrar, dessa maneira, em
quase todos os segmentos universitários esse mesmo tipo de exploração sem que
nenhum organismo competente tome alguma providência para inibir esse abuso.
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estágios é contrária ao que ocorria décadas atrás, quando o estágio era uma
passagem de experiência para uma possível efetivação contratual da empresa.
Hoje, infelizmente, o novo panorama solidifica, como vimos anteriormente, o estágio
pelo estágio, sem nenhum compromisso por parte da empresa que não seja apenas
abrir seu espaço para que o acadêmico possa, então, adquirir experiência em um
ambiente profissional. Evidentemente que a mudança desse estado de coisas irá
depender de uma ação conjunta dos acadêmicos e das universidades às quais
pertençam.
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intensa reflexão dos instrumentos de intervenção da Psicologia e estão, cada vez
mais, disponíveis e a serviço da população necessitada. É que, concomitante ao
aumento do número de profissionais de houve também uma preocupação qualitativa
sobre os desígnios da psicologia e seu real comprometimento para construção de
uma sociedade libertária na qual os verdadeiros anseios da população sejam
considerados em toda a sua dimensão. E maneira bastante promissora teremos no
século XXI, ao menos é que se descortina nesses momentos iniciais, uma psicologia
que esteja preocupada apenas e tão-somente com as questões que permeiam a
realidade de nossa elite socioeconômica.
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hospitalar surgia na década de 1980 como uma das possibilidades que tirariam a
psicologia da situação autofágica, ou seja, algo que vive de si mesmo, que come a si
próprio. Tentou-se ampliar o leque de possibilidades de intervenção do psicólogo,
mas acabou-se lançando- o nas garras de outros psicólogos que, de maneira ladina,
souberam explorar de modo ardiloso seu afã em busca dessa nova perspectiva de
atuação.
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necessário que tais questionamentos sejam refletidos de modo amplo para que se
estabeleçam, então, novas diretrizes nessa área.
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Ao lançar seus raios de ação sobre a população excluída, a psicologia avança
significativamente rumo ao seu desígnio mais nobre, que é, justamente, o de ser um
instrumento colocado ao alcance das pessoas para que elas alcancem sua plenitude
de vida. E também rechaça um antigo preconceito o qual simplesmente afirmava
que pelo fato de essas pessoas estarem em total situação de penúria econômica
não apresentam problemas emocionais. É como se a vida totalmente carente de
recursos econômicos básicos determinasse uma gama tão grande de problemas e
sofrimentos que não seria possível também a existência de problemas emocionais.
Mas como é possível, então, uma vida sem a menor consistência de dignidade não
apresentar os mais variados tipos de sofrimentos emocionais? Esse tipo de
questionamento passava ao largo da psicologia, que não apenas ignorava tal
asserção, como igualmente lhe virava as costas da maneira mais simplista possível.
A psicologia comunitária resgata esse modo distorcido de compreensão da
realidade, ao mesmo tempo que se coloca na vanguarda no sentido de resgatar
essa população para novas perspectivas existenciais. Dessa maneira, o leque de
possibilidades de intervenção psicológica atinge todos os segmentos da população,
e não apenas aquelas pessoas que possuem condições econômicas privilegiadas.
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exclusivamente de situações de estresse emocional que foram impostas ao
organismo.
Dessa maneira, temos todos os motivos para acreditar que a psicologia ocupará seu
lugar no século XXI e corresponderá a todos os anseios daqueles que sonham com
uma condição humana mais digna. Uma psicologia que poderá enfeixar-se com
outras áreas do conhecimento e trabalhar para que a fragmentação contemporânea
seja algo que fique apenas como reminiscência de um passado distante, pois urge
com cada vez mais frequência a necessidade de uma compreensão global da
condição humana na qual todas essas áreas sejam contempladas. Uma abordagem
psicológica que considere igualmente os conhecimentos da sociologia, da economia,
da antropologia, da medicina etc. Um esboço teórico que traga em seu corpo as
marcas do seu tempo; algo que possa transcender o reducionismo que encontramos
em muitas das teorias que são apresentadas como modernas, mas que trazem, na
realidade, traços de outras épocas, ponteamentos em que não cabe
contemporaneidade. Uma psicologia que traga para os campos de discussão da
realidade humana contribuições significativas para que possamos avançar nesse
detalhamento que é a compreensão humana em seus aspectos emocionais.
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sociais, apenas precisamos estudá-las e considerá-las no momento de criarmos as
nossas formas de concepções teórico-práticas. Como dissemos anteriormente,
temos de unir todos os esboços de diferentes áreas do conhecimento, e isso tem de
incluir, naturalmente, outras teorizações psicológicas. Os modelos concebidos em
outras realidades não podem ser simplesmente desprezados em nome de uma
possível xenofobia, mas considerados em suas limitações, que são determinadas
pela origem de suas criações. A nossa realidade de Terceiro Mundo, e aí incluindo-
se países das Américas Latina e Central, se consideramos todo o atraso de nossas
sociedades que determina, inclusive, condições precárias de pesquisas
universitárias, mostra-se surpreendente no quesito de produção acadêmica em
psicologia. Frise-se que até mesmo publicações nossas, criadas e concebidas na
realidade brasileira, são referência em países da Europa, o que, seguramente, traz
contornos de que, embora ainda tenhamos muito para caminhar, certamente
também temos muito para contribuir na construção de novos parâmetros no campo
da psicologia da saúde.
É fato que, ao produzirmos nossas publicações, não temos consciência nem mesmo
dimensionamento do alcance que esses escritos atingirão. No entanto, uma vez
lançado, o livro segue caminhos que nos surpreendem e mostram que a nossa
contribuição, embora pequena, soma-se a outras experiências na formação de
novos parâmetros na construção de uma nova psicologia. O nosso primeiro livro de
Psicologia da Saúde, publicado em 2000, já traz contribuições significativas do modo
como concebemos diferentes matizes da compreensão da realidade humana. Esse
livro delimitou não apenas aquelas áreas que julgávamos pertencer ao campo da
psicologia da saúde, como também estabeleceu parâmetros bastante dinâmicos
para novas conceituações e reflexões sobre o nosso campo de intervenção. Ao se
tornar referência nacional e mesmo internacional na psicologia, mais do que
simplesmente estabelecermos novos limites de atuação, ampliamos os horizontes
de perspectivas que podem ser abarcados pela psicologia da saúde. E ao
constatarmos o tanto que avançamos nesse quesito, sem dúvida alguma,
espraiamos nossas ideias de modo amplo a ter, na retrospectiva
Página 26
teórica que fazemos, novos denominadores sobre possibilidades que se descortinam
no campo da psicologia. Temos um trabalho muito árduo pela frente, principalmente
se considerarmos que os fatos são dinâmicos e estão em constante mudança, de
modo a fazer com que determinados aspectos que prevaleciam em determinado
período percam sua importância em outros momentos. E a psicologia assim terá de,
igualmente, ser dinâmica para acompanhar os fatos e se instrumentalizar, inclusive,
para poder alterá-los. Novos aspectos que se formam em uma nova forma de
concepção de valores e nos quais a psicologia estará presente fazendo-se
catalisadora e contribuindo para que os avanços das diversas áreas do
conhecimento direcionem seus avanços para a verdadeira humanização da
condição humana, tão aviltada e acachapada pelo tecnicismo que assolapa a
dignidade do homem contemporâneo de modo tão impiedoso e cruel. E embora seja
fato irreversível que os avanços tecnológicos estão determinando até mesmo
diferentes configurações inclusive nas relações interpessoais, é mister que os
avanços da psicologia caminhem no sentido de fazer com que não percamos ainda
mais a nossa característica humana diante desses avanços. Assim, estaremos de
fato caminhando para a construção de paradigmas teóricos que façam da psicologia
um instrumento eficaz em nossa busca libertária. Outras vertentes da psicologia da
saúde que trazem em seu bojo avanços da medicina, como a neuropsicologia,
trazem diferentes desdobramentos para o verdadeiro alcance do raio de ação da
psicologia.
das no final do século XIX, pois esse modo de agir é por demais dogmático e está a
exigir uma completa revisão de posturas e atitudes.
Uma psicologia da saúde revigorada e que se atualize a cada nova conquista dos
avanços científicos e que se mostre na vanguarda do pensamento contemporâneo.
Isso é o que estamos construindo com nossas reflexões e digressões teóricas. Algo
que seja parte de sua historicidade, presença do seu tempo nos avanços dos
instrumentos utilizados na tentativa de compreensão da condição humana. Uma
psicologia verdadeiramente humana. Uma psicologia que pulse em nosso peito
como o coração, com vigor e irrigando a todos que sobre ela se debrucem em busca
de conhecimento. Uma psicologia que possamos escrever com a certeza de que ela
será um pouco de nós, é fato, mas também parte de todas as pessoas envolvidas
em nosso tecido social.
Referências Bibliográficas
ANGERAMI, V. A. (org.). Psicologia da Saúde. São Paulo: Pioneira Thomson
Learning, 2003.
Página 28 – Em branco
Página 29
Capítulo 2
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Página 31
Página 32
Página 33
tristeza e angústia perante a luta entre a vida e a morte dos pacientes atendidos
nesses serviços. Situações que, mais uma vez, clamam por um apoio efetivo a
esses profissionais.
A situação de violência, conforme reitera o autor referido, tem sido mais intensa nos
grandes hospitais, onde é livre a movimentação das pessoas, há grande volume de
população a ser atendida, com extensas filas de espera, frequentemente com
insuficiente dotação de pessoal, entre outras circunstâncias que colocam os
funcionários e os assistidos em estado de tensão e de perigo iminente, aumentando,
por conseguinte, a interferência de outros agentes estressantes.
Baseando-se no exposto sobre a violência nessas instituições, as quais deveriam
caracterizar-se por ser um ambiente de tranquilidade, Gbézo faz um chamado à
implantação de políticas públicas de prevenção e controle dessa situação, com o
compromisso do envolvimento de todas as autoridades e profissionais responsáveis
pelo cumprimento de tais medidas. Condição que resultará em evidente diminuição
da intensidade de fatores estressantes, resultantes dessa situação perigosa.
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Quadro 1 – Distribuição Individual das Médias das Respostas dos Sujeitos nas
Dimensões de confronto e de Evasão
Inventario sobre superação de Stress Profissional (ISSP)
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Questões Metodológicas
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Com respeito aos instrumentos de coleta de dados, vários critérios são utilizados
para a seleção, adaptação e mesmo para sua elaboração, se for necessário. Citam-
se os considerados mais importantes:
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Este instrumento, como pode ser observado no Anexo 1, consta de duas partes: a
primeira, referente aos dados sociodemográficas que investigam as características
individuais e a situação profissional, de modo a configurar um perfil do psicólogo
participante; a segunda,
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constituída por 56 afirmações com respostas tipo Likert, subdivididas em sete blocos
relativos às fontes de stress, de acordo com as categorias apresentadas na Tabela
1, com os itens do questionário a elas referentes.
Tabela 1 - Categorias de estressores e seus respectivos itens
CATEGORIAS ITENS
(1) Desempenho profissional 1a8
(2) Inter-relacionamento com a equipe multiprofissional 9 a 16
(3) Desempenho de papéis 17 a 24
(4) Reconhecimento/compensação profissional 25 a 32
(5) Perspectivas de progresso 33 a 40
(6) Estrutura e dinâmica organizacional 41 a 48
(7) Relacionamento com o cliente e seus familiares 49 a 56
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pesquisa realizada por Cunha (2000),já referida. Compõe-se, além das instruções
para a sua aplicação, de dois blocos: um sobre os dados pessoais e profissionais e
outro que é compreendido de 48 afirmações, com respostas tipo Likert, destinadas a
avaliar as tentativas de coping.
Os dados pessoais a serem obtidos pelo primeiro bloco compreendem: sexo, idade,
estado civil e número de filhos, e os de natureza profissional, tipo de hospital, regime
de trabalho, situação funcional, tempo de trabalho, setor de atendimento e nível
hierárquico. Os itens que compõem o segundo bloco destinam-se à avaliação das
dimensões de confronto e de evasão, em suas categorias (Tabela 2). São
distribuídos em forma simulada para evitarem-se respostas influenciadas pela
referida classificação.
CONFRONTO
CATEGORIAS ITENS
(1) Raciocínio lógico Tentativas cognitivas para compreender e preparar-se
mentalmente para enfrentar essa situação
Esforços cognitivas de construir ou reestruturar
(2) Reavaliação positiva mentalmente uma situação estressante aceitando sua
realidade positivamente
(3) Orientação/apoio Ações comportamentais para a busca de informações
orientação ou ajuda.
(4) Tomada de decisão Ações comportamentais para tomar decisões e atuar
diretamente na situações estressante
EVASÃO
(5) Racionalização evasiva Esforços cognitivos para evitar pensamentos
realísticos sobre a situação estressante.
(6) Aceitação resignada Tentativas cognitivas para aceitar, com resignação a
situação estressante.
(7) Alternativas compensatórias Ações comportamentais para criar, em substituição,
novas fontes de satisfação.
Esforços comportamentais para reduzir a situação
(8) Extravasamento emocional estressante mediante a expressão de emoções
intensas e depreciativas.
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Para avaliação dos resultados obtidos pela prova, relacionam-se os dados obtidos
em ambos os blocos, cuja pertinência foi comprovada na pesquisa de Cunha (2000).
Considerações Gerais
A compreensão integral deste trabalho conduz à inferência básica de que a
relevância da preservação da saúde mental do psicólogo hospitalar é comprovada
cientificamente, além de constatar a possibilidade de desenvolver esta área do
conhecimento mediante estudos e pesquisas, e suas aplicações no exercício clínico
desse profissional.
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Nesses cursos são também propícios temas sobre a análise das condições do
ambiente hospitalar que possam compensar a influência negativa dos agentes
estressores existentes, como seriam a valorização das funções do psicólogo na
equipe clínica, o acolhimento do mesmo nesse contexto, a consideração que possa
receber de seus companheiros de trabalho e a clara identificação do seu rol
profissional, entre outros.
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Instruções
Início da imagem
Fim da imagem
Fim da descrição
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Marque com um X, nos parênteses correspondentes, o número indicativo que lhe for
aplicável.
1.1 Idade
1.( )até 20 anos
2.( )de 21 a 25anos
3.( )de 26 a 30 anos
4.( )de 31 a 35 anos
5.( )de 36 a 40 anos
6.( )de 41 a 45 anos
7.( )de 46 a 50 anos
8.( )de 51 a 55 anos
9.( )de 56 a 60 anos
10.( ) mais de 60 anos
1.2 Sexo
1. ( ) masculino
2. ( ) feminino
1.4 Filhos
0.( )nenhum
1.( )1 filho
2.( )2filhos
3.( )3filhos
4.( )4filhos
5. ( ) 5 filhos ou mais
1.( )de6al0anos
2.( )dellal5anos
3.( )del6a2oanos
4.( )de2la25anos
5.( )de26a3oanos
6.( ) mais de3l anos
1.7 Tempo de serviço (instituição atual)
Página 47
1. Fico tenso (a) no desempenho do meu trabalho pelas constantes interrupções dos
outros.
1 – Nunca
2 – raramente
3 – às vezes
4 - frequentemente
5 – sempre
1 – Nunca
2 – raramente
3 – às vezes
4 - frequentemente
5 – sempre
1 – Nunca
2 – raramente
3 – às vezes
4 - frequentemente
5 – sempre
4. As atividades profissionais realizadas fora do horário de trabalho prejudicam
minhas responsabilidades pessoais e familiares.
1 – Nunca
2 – raramente
3 – às vezes
4 - frequentemente
5 – sempre
1 – Nunca
2 – raramente
3 – às vezes
4 - frequentemente
5 – sempre
1 – Nunca
2 – raramente
3 – às vezes
4 - frequentemente
5 – sempre
Página 48
7. Sinto-me aborrecido (a) com o desinteresse dos outros profissionais pelo meu
desempenho,
1 – Nunca
2 – raramente
3 – às vezes
4 - frequentemente
5 – sempre
1 – Nunca
2 – raramente
3 – às vezes
4 - frequentemente
5 – sempre
1 – Nunca
2 – raramente
3 – às vezes
4 - frequentemente
5 – sempre
1 – Nunca
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5 – sempre
11. Fico confuso (a) no meu trabalho porque verifico que minhas funções estão
insuficientemente definidas.
1 – Nunca
2 – raramente
3 – às vezes
4 - frequentemente
5 – sempre
1 – Nunca
2 – raramente
3 – às vezes
4 - frequentemente
5 – sempre
13. Sinto-me perdido (a) no meu trabalho por não estar seguro(a) de minha posição
na estrutura da instituição
1 – Nunca
2 – raramente
3 – às vezes
4 - frequentemente
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14. Meu prestígio profissional fica prejudicado com a imagem negativa que os outros
têm da instituição em que atuo.
1 – Nunca
2 – raramente
3 – às vezes
4 - frequentemente
5 – sempre
15. Eu me sinto frustrado(a) com a desordem que se observa na rotina da minha
instituição.
1 – Nunca
2 – raramente
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5 – sempre
1 – Nunca
2 – raramente
3 – às vezes
4 - frequentemente
5 – sempre
17. A natureza dos serviços que são prestados pela instituição cria-me nervosismo e
desgaste nas minhas atividades profissionais.
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2 – raramente
3 – às vezes
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5 – sempre
18. A falta de linhas de supervisão bem definidas atrapalha minha rotina de trabalho.
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3 – às vezes
4 - frequentemente
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19. A insuficiente atualização a estrutura organizacional de meu serviço desestimula
meu desempenho.
1 – Nunca
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3 – às vezes
4 - frequentemente
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1 – Nunca
2 – raramente
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4 - frequentemente
5 – sempre
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21. A experiência que estou acumulando no trabalho atual limita minhas aspirações
no progresso profissional.
1 – Nunca
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4 - frequentemente
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1 – Nunca
2 – raramente
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4 - frequentemente
5 – sempre
24. Ao perceber que minha categoria profissional vem perdendo prestígio, sinto-me
diminuído (a) nas minhas aspirações.
1 – Nunca
2 – raramente
3 – às vezes
4 - frequentemente
5 – sempre
25. A falta de apoio no trabalho que exerço, para desenvolver minhas capacidades e
ideias, empobrece minhas perspectivas profissionais.
1 – Nunca
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4 - frequentemente
5 – sempre
1 – Nunca
2 – raramente
3 – às vezes
4 - frequentemente
5 – sempre
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28. Os conflitos e ciúmes entre colegas no meu serviço entorpecem meu progresso
profissional.
1 – Nunca
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1 – Nunca
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1 – Nunca
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1 – Nunca
2 – raramente
3 – às vezes
4 - frequentemente
5 – sempre
33. Fico nervoso (a) com os conflitos, de relacionamento entre as pessoas que são
atendidas na instituição e os profissionais desta.
1 – Nunca
2 – raramente
3 – às vezes
4 - frequentemente
5 – sempre
1 – Nunca
2 – raramente
3 – às vezes
4 - frequentemente
5 – sempre
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35. Sinto-me tenso (a) com o excesso de atendimentos que impedem o bom
relacionamento com os atendidos.
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5 – sempre
1 – Nunca
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37. Fico preocupado (a) porque certos colegas transgridem os princípios éticos no
trabalho.
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4 - frequentemente
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38. A falta de lealdade e cooperação dos meus colegas para comigo incide
negativamente no meu trabalho.
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2 – raramente
3 – às vezes
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39. Sinto-me preocupado (a) com a falta do conceito de equipe existente no meu
serviço.
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42. É frustrante para mim perceber a escassa importância que a instituição dispensa
ao meu desempenho no trabalho.
1 – Nunca
2 – raramente
3 – às vezes
4 - frequentemente
5 – sempre
43. A insegurança que tenho em conservar meu emprego atual afeta negativamente
meu estado de ânimo.
1 – Nunca
2 – raramente
3 – às vezes
4 - frequentemente
5 – sempre
44. Fico desanimado (a) ao verificar que as condições de minha instituição não
oferecem melhores possibilidades de crescimento profissional.
1 – Nunca
2 – raramente
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45. Vejo-me obrigado (a) a continuar no meu trabalho atual pela falta de outras
oportunidades de emprego.
1 – Nunca
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46. E conflitante para mim sentir que a estrutura de minha organização não oferece
oportunidades de promoção.
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1 – Nunca
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48. Sinto que não sou considerado (a) nas decisões de importância para meu
trabalho.
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1 – Nunca
2 – raramente
3 – às vezes
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50. É frustrante o fato de que a instituição em que trabalho não facilite a minha
participação em eventos que visem ao crescimento profissional.
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3 – às vezes
4 - frequentemente
5 – sempre
Comentários:
Página 55
Referências Bibliográficas
BIANCHI, E. R. F. Estresse em enfermagem: análise da atuação do enfermeiro em
centro cirúrgico. São Paulo, Tese de doutorado, ll8p., Escola de Enfermagem,
Universidade de São Paulo, 1990.
JAMAL, M. e BABA, V. V. Shiftwork and department. Type related to job stress work
attitudes and behavioral intentions. A study of nurses. Journal of Organizational
Behavior, 12(5), 449-64, 1992.
Página 56
MAGNUSUN, D. Situational determinants of stress: interactional perspective. In:
Goldberger, L.; Breznitz, S. Handbook of stress: theoretical and clinical aspects.
Nova York: The Free Press, 1986, p. 23 1-53.
Página 57
De um aniversário.
Trinta e um anos de muita luz
Página 58
Página 59
Fazer trinta e um anos é mais do que
uma simples comemoração... é saber que
a tua superação é luz.., vida.., azul.., força
capaz de superar as mais intransponíveis barreiras...
é fazer de cada momento a certeza de
que somos privilegiados em partilhar da
tua alegria e da tua superação nas vicissitudes
que a vida colocou em teu caminho...
somos a tua porção de fragilidade.., e nos
fortalecemos com a tua alegria e com a
luz da tua alma, alegre e radiante,a
nos mostrar que
a vida é uma eterna superação...
Página 60 – Em branco
Página 61
Capítulo 3
Página 62
A cirurgia vai dar certo? Será que vou retirar os pontos? E o dreno? Terei que fazer
novos exames? Será que estou curado? E se tiver uma recidiva? Metástase? Por
que a quimioterapia? Terei que fazer radioterapia?
Vou me curar? E se não der certo? Que medo!”
É bem verdade que este fato ainda ocorre, com muito menos freqüência do que há
poucos anos, mas no momento em que se ouve o diagnóstico, estes “fantasmas”
nos invadem sem nos pedir licença.
Esta cena é muito comum em clínicas e hospitais oncológicos, todos já vimos ou até
mesmo já vivemos cenas como esta.
Página 63
A espera é um dos momentos mais difíceis para o paciente, inclusive para seu
acompanhante e familiares. É o momento de “suspensão” quando não há um
caminho para dar vazão às emoções. Não há direção para se prepara todas as
possibilidades são viáveis e o paciente imagina tudo o que pode acontecer, mas não
pode agir.
Morte? Dor? Perda dos cabelos? Perda do emprego? Como fica a família?
Página 64
Normalmente esses pacientes vivem essas emoções de forma solitária, sem apoio,
fragilizados, tentando demonstrar força, naturalidade, disfarçando até para si
próprios o momento que enfrentam, tanto na pré como na pós-consulta.
“E se, de repente
A gente não sentisse
A dor que a gente finge
E sente
Se, de repente
A gente distraísse
O ferro do suplício
Ao som de uma canção
Página 65
Comecei então a coleta de dados para a minha monografia. Ao final das sessões,
que duravam em média uma hora e meia, pedíamos autorização aos pacientes para
gravar o discurso de cada um sobre o que era, para eles, a “Sala de Espera” Os 52
pacientes que autorizaram tiveram seus depoimentos gravados.
O objetivo do trabalho era saber se a Sala de Espera contribui, e de que forma, para
o paciente.
Página 66
A partir desses depoimentos foi feita, por meio de uma metodologia qualitativa
proposta por Fernando Lefêvre (2000), a classificação do “Discurso do Sujeito
Coletivo” de acordo com as seguintes palavras-chave:
Após a divisão dos discursos nas nove categorias, foi feito um único relato de cada
categoria representativa dos pacientes em questão.
Na categoria Tempo, foram colocados os discursos que relacionam a Sala de
Espera ao fato de o tempo passar mais rápido.
“.. Quando a gente conversa passa o tempo rápido; calado, o tempo demora a
passar, aqui as horas passam e você nem vê... para mim sala de espera é aquela lá
fora onde o tempo não passa, essa aqui não; aqui o tempo passa rápido. É melhor
do que lá fora porque aqui o tempo passa e a gente nem num vê, num é verdade?
Enquanto esperamos, é melhor ficar conversando, ajuda a hora passar.”
“A gente expõe o que a gente sente, se está triste ou se está alegre... a gente põe
para fora a tristeza, é bom, falar é bom e poder colocar para fora o sentimento de
cada um é muito bom. Ficar se distraindo, ouvindo as emoções das pessoas, você
se sente bem e ficar calada esperando você junta um problema com o outro e só
atordoa a cabeça da gente. Aqui não enche a cabeça, até esvazia, tira o stress... Se
não tivesse isso aqui, a gente não suportava o problema da gente, porque aqui a
gente amadurece, a gente cresce, com o problema de cada um e a gente suporta
carregar a cruz da gente com mais facilidade. É diferente da
Página 67
outra sala, porque, às vezes, na outra sala alguém te conta um problema e você não
desabafa com ninguém e vai segurando o problema de um, o problema de outro e
chega uma hora que você fica pior do que já estava, e aqui já é um outro modo... dá
pra desabafar, ajuda muito nessa parte de medo, a gente conversa, descarrega um
pouco os problemas... ajuda. Ficar calado assim é neurótico, a gente desabafa, a
pessoa desabafa, eu acho muito importante falar tudo o que está acontecendo..., o
desabafo faz bem! Eu vou pensar em mais alguma coisa e confessar mais algumas
outras; por exemplo, que nem da outra vez que eu vim, tinha umas pessoas que
estavam muito impressionadas, um nervoso, até falando palavrão e no fim ele
estava totalmente tranquilo, e se sentiu bem no final da reunião, as pessoas têm
medo e o medo é pior do que a doença...”
Na categoria Esclarecimento, os discursos relacionados são os que relatam algum
tipo de esclarecimento em Sala de Espera.
“Se tiver alguma dúvida, a gente pergunta e lá fora não; a pessoa fala do problema
dela e você do seu e fica na mesma ou até pior, né? Aqui se tem um esclarecimento
maior, a gente fica mais preparada, depois de ter passado aqui pelas reuniões. Eu
me senti mais segura, mais confiante, eu sei o que nós devemos fazer e estamos
fazendo. Agora eu estou mais preparada para enfrentar, não sou mais aquela
pessoa nervosa, que ficava ansiosa. A gente fica ciente de muitas palavras, de
muitos conselhos, de muitas explicações, muitas coisas que falaram, eu não sabia e
aprendi hoje... Sobre reclamar, eu não sabia... é um direito meu!...”
“Às vezes, a gente fica meio oprimido, achando que está sendo vítima, e
conversando aqui, a gente nota que tem pessoas que estão passando por situação
ainda pior do que a da gente; então é muito reconfortante. Tem gente que não tem
nem um real para tomar condução para vir aqui, então a gente se sente numa
condição privilegiada. A gente se emociona também com a emoção dos outros, você
pensa na situação dos outros... a dele está pior do que a minha ou a minha está pior
do que a
Página 68
dele... eu já estive aqui chorando... A gente se sente bem melhor quando conhece o
problema dos outros...”
Na categoria Amizade, as frases selecionadas são as que associam a Sala de
Espera com o fato de se relacionar socialmente e conhecer novas pessoas.
“... Aqui a gente também fica amigo dos outros, conta o seu problema, ouve o
problema dos outros, fica conhecendo muita gente... as pessoas são amigas que
ajudam a gente a segurar a mesma barra... eu converso com o pessoal, é bom ver
as pessoas.”
“Eu venho nessa reunião e eu gostei, aqui dá pra gente aquela força, aquela
liberdade; é um trabalho maravilhoso, eu acho vir aqui bom à beça... se ainda me for
possível vir aqui da próxima vez... eu acho que vale a pena... foi ótimo hoje... É
muito importante o trabalho que vocês fazem porque descontrai e ajuda muito as
pessoas, então eu acho que esse trabalho que vocês fazem é magnífico, eu gostei
muito.”
“Agora eu estou rindo, mas eu cheguei nos nervos para falar com o médico, que eu
pensei: vou me embora, mas agora eu já mudei de atitude, vou falar mais alegre
com o homem... Eu tô me sentindo melhor agora, eu não tô tão inseguro, né, quanto
tava, realmente ajudou, agora eu tenho confiança, eu me trancava muito e sofria
muito, mas depois que eu passei a vir na sala de espera eu melhorei muito, hoje eu
consigo falar, antes eu não conseguia...”
Página 69
“A reunião de vocês é muito boa, espero que vocês continuem porque é muito
importante! Eu espero que vocês levem esse projeto adiante... e que Deus ajude
que vocês possam levar esse trabalho em todas as outras áreas.”
Também foram incluídos trechos de discursos de caráter catártico, nos quais os
pacientes, ao serem inquiridos sobre a avaliação da Sala de Espera, não
responderam a questão, mas aproveitaram o momento para falar de seus medos,
insatisfações, inseguranças e problemas que estavam sendo vividos, muitas vezes
ditos pela primeira vez.
Paciente 1 — “Neste mês, eu contei segundo por segundo para chegar a hora da
consulta porque isso (mostra o local do câncer) está me incomodando muito..., dói...
e me irrita muito a burocracia, faz seis meses que estou tentando curar isso só na
espera de falar com o médico. Porque o pobre é tratado de qualquer jeito, é um
problema político, o brasileiro não sabe reclamar nada’
Paciente 2 — “Estou muito preocupada por ter aparecido este outro tumor, não
contei para ninguém lá em casa (começa a chorar) ...”
Paciente 3 — “Esperei meu filho até as 6 horas da manhã, ele não apareceu e então
eu vim sozinha de ônibus... é difícil para mim, pois tenho muitas dores na perna e às
vezes ela endurece e não consigo andar. Minha vida é muito sofrida, moro sozinha,
sou separada desde muito tempo e tenho só um filho. Durante alguns anos, morei
junto com ele e minha nora, mas ela me tratava tão mal, que precisei ir embora de
lá. Vocês acreditam, que meu prato e os meus talheres ela separava dos outros da
casa? Depois que eu tomava banho, ela entrava no banheiro e ficava desinfetando,
como se esta doença fosse contagiosa.”
Página 70
Paciente 4 — “Faz tempo que eu venho aqui e nada é resolvido, este tumor vaza e
faz uma fedentina horrível, tem dia que chego a trocar quatro vezes de camisa.”
Paciente 5 — “É muito difícil, sou de Pernambuco, deixei lá meu marido, meus filhos
e minha mãe. Moro com meu pai aqui há um ano e meio.”
Paciente 6 — “Pra mim é difícil estar aqui para fazer este tipo de consulta, eu jogava
futebol como amador, e tive que parar o esporte... quando saio na rua, às vezes,
minha perna fica endurecida e os amigos me chamam de saci... estou oprimido, não
posso mais jogar bola, não posso fazer mais nada, enquanto estiver com este tumor,
quero que seja feito aqui o melhor, quero ser operado logo para retirar ele daqui... às
vezes, tenho vontade de rasgar isso com uma faca.., foi bom estar aqui porque pude
desabafar a história do saci, nunca contei isso a ninguém, só para vocês:’
Paciente 8 — “Fiz a biópsia, porém não pude ser operado, pois o médico me disse
que a chance de morrer na cirurgia é grande, sinto muita dor, estou mal, não estou
gostando desta situação (da doença), na verdade eu tenho ódio do mundo por estar
assim. Sei que estou na clínica de hematologia, prefiro não saber o que tenho...”
Paciente 10 — “... Mas tem o seguinte, comentar aqui é uma coisa, para quem sabe
do nosso problema, fora daqui são poucas as pessoas que sabem que tenho câncer,
pois as pessoas são preconceituosas e temem que esta doença seja contagiosa.”
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Paciente 11 — “Nunca fiquei doente, nunca fui a um hospital, não gosto de falar em
doença e nem de ouvir coisas que de repente nem têm cura..., é ruim. Ninguém quer
ficar doente, todo mundo quer ter saúde. Mas errar o diagnóstico, é demais, deixar
chegar no estado em que chegou para mandar fazer biópsia... é para estar
revoltado, eu nem sei se o meu caso tem cura ou se vou morrer em três meses, mas
com essa demora ficou pior. Acho que não é bom ficar falando, queria voltar para a
roça onde moro e tocar a vida como sempre, esquecer isso.”
Este resultado tem concordância com os objetivos de Melio Filho (1998), ao que se
refere a fazer um atendimento de qualidade à grande demanda de clientes que
esperam longo tempo pela consulta. Nesse seu trabalho, também afirma que “é mais
fácil falar das emoções com um igual a partir da relação que se institui no grupo e
que a sala de espera sensibiliza o paciente quanto às dimensões psicológicas da
sua situação, trocando a posição passiva e receptiva do paciente para uma posição
ativa e participativa”.
Segundo Winnicott (1949), este seria o “espaço potencial”, ou seja, a “área onde se
dão as trocas entre o indivíduo e o meio e onde
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Ferreira Santos (1999) afirma que o apoio vindo do terapeuta produz o alívio da
sensação de o paciente sentir-se absolutamente só e desamparado. Além disso, a
participação ativa do paciente no processo de tomada de decisão em relação ao
tratamento facilita sua cooperação com as intervenções propostas, assim como a
adesão ao tratamento.
A Sala de Espera
Concluído o trabalho do Hospital das Clínicas da FMUSP, fui convidada por um
Instituto de Cancerologia a apresentar um projeto de trabalho que se adequasse às
reais necessidades dele.
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Ao iniciar meu trabalho nessa clínica, notava certa curiosidade por parte dos
funcionários e alguns médicos não estavam bem certos do benefício que a atuação
na sala de espera pudesse trazer, mas aguardaram os resultados.
Os pacientes chegam a esse instituto indicados pelos seus médicos, ou pelo livreto
do convênio, mas quando saem do elevador deparam-se com o nome do instituto; e
a palavra “CANCEROLOGIA”, fazendo com que os menos avisados sofram o
primeiro impacto do nome câncer. Foi então que me perguntei: o que poderia ser
feito para aliviar a dor emocional desses pacientes?
Uma psicóloga conversando na sala de espera? Para quê? Ela quer me analisar?
Será que ela vai perceber como estou? Alguém para me
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dar atenção, para falar comigo? Que bom! Que medo! Essas foram algumas das
frases que ouvi, tempos depois, de alguns pacientes.
Página 75
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No instituto, não foram gravados depoimentos, porém o conteúdo que foi ouvido em
Sala de Espera, nos corredores ou mesmo dito para os médicos, em nada difere do
primeiro estudo no Hospital das Clínicas. Informalmente, os depoimentos são
ouvidos, como esse dado a um médico:
“Doutor, o senhor deu o mesmo diagnóstico do outro médico, mas vou fazer a
cirurgia com o senhor, por dois motivos: gostei do senhor e gostei do trabalho na
Sala de Espera” (dito a um médico).
“Eu vim ontem trazer minha mãe para a quimioterapia e fiquei ouvindo o trabalho da
Sala de Espera, hoje trouxe minha mãe novamente para a quimio, mas também
trouxe minha avó e minha tia para participarem da Sala de Espera” (acompanhante
de paciente de quimioterapia na sala de espera).
“Eu fiz cirurgia com o doutor..., e digo que você pode ficar tranquila porque está em
boas mãos” (paciente na Sala de Espera para outra paciente).
“Ë que naquela época eu estava precisando receber; hoje, eu tenho para dar!”
(resposta da referida paciente)
Página 77
“Na primeira vez que eu estive aqui, só chorava... Hoje, estou muito ansiosa,
nervosa, mas não estou chorando! Quem sabe da próxima vez vou estar mais
calma!”
Descrever essa experiência a empobrece muito, pois fica praticamente impossível
descrever o tom, o colorido, a emoção, o aroma, o sabor, por meio de palavras. Mas
se foi possível visualizar a cena anterior em uma sala de espera comum, dita
normal, vou ousar expor em palavras um pouco do que vivemos nessa Sala de
Espera, digamos, diferenciada.
No início, como já disse, havia surpresa, dúvida e desconfiança, tanto dos médicos e
dos funcionários como dos pacientes.
Hoje, vemos que apesar das dificuldades enfrentadas, é permitido sorrir, brincar,
fazer piadinhas, falar sério, chorar, compartilhar, estar VIVO apesar do câncer. Com
certeza, essa postura deixou o Instituto muito mais “barulhento” e leve, bem
diferente da conotação anterior da palavra câncer!
Eu sou mais forte e melhor que essa parte minha que está doente; por que vou
deixar que o menor e mais fraco me vença?
Se eu preciso parar para fazer uma cirurgia e me restabelecer, eu paro, mas depois
continuo vivendo, trabalhando, amando, estudando, comendo, me divertindo, indo
ao cinema, viajando.
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Se eu tiver que fazer quimioterapia, eu vou, quando sair da aplicação vou me dar um
presente, fazer uma coisa bem gostosa. Se eu perder o cabelo, uso boné, peruca,
lenço, turbante, chapéu, assumo a careca como as atrizes; e não vou me
envergonhar por estar lutando pela minha vida; vergonha de quê?
Se enjoar, sei que vai passar, pois é só uma reação, e quando passar, vida normal!
Se eu tiver que fazer radioterapia, vou todos os dias, é rápido; depois tenho o dia
todo, e o fim de semana para viver a vida normalmente.
Se a pessoa acredita que vai ser curada por alguma coisa, como cogumelos, xamãs,
u por um placebo, ela realmente pode se autocurar, através da modulação do
sistema imunológico pela mente. Até mesmo o efeito pós-cirúrgico de uma operação
complexa e radical pode ser afetado, em última análise, pelas reações psíquicas do
paciente, como relata Dr. Bernie Siegel (1989).
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Essas descobertas nos mostram que existe uma relação estreita entre mente e
doença. Quanto mais saudáveis formos, do ponto de vista emocional e psíquico,
melhor será para nossa saúde orgânica.
Os antigos já diziam que o bom humor afasta as doenças, “Quem canta seus males
espanta”, “Mens sana in corpore sano”, e isso é uma verdade, agora sabem os
cientistas.
“...o que impede que o sistema imunológico de uma pessoa, num determinado
momento, reconheça e destrua células anormais, permitindo, assim, que elas
cresçam e se convertam num tumor que ameaça a vida?”
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Numerosos estudos sobre a causa do câncer sugerem que três situações podem
provocar tensões cruciais no ser humano e gerar sentimentos de desespero,
desesperança ou impotência. São eles a ameaça a algum papel da pessoa na
sociedade, a ameaça a alguma relação satisfatória central da sua identidade e uma
sucessão de momentos nos quais aparentemente não há saídas ou meios de
superação.
Conclusão
Página 82
Referências Bibliográficas
Página 83
GROSS, J. Emotional expression in cancer onset and progression. Soc Sci Med,
1989, 1239-48.
HASSED, C. How humour keeps you well. Aust Fam Physician 2001, 30(1):25-8.
Página 84
TAKAHASHI, K.; IWASE, M.; YAMASHITA, K.; TATSUMOTO, Y.; UE, H.;
KURATSUNE, H.; SHIMIZU, A.; TAKEDA, M. The elevation of natural killer cell
activity induced bylaughter in a crossover designed study. IntJMol Med, 2001,
8(6):645-50.
Página 85
Capítulo 4
Introdução
Nós nos deparamos no contato com os doentes gravemente enfermos, com dores
muito mais complexas e profundas, existenciais, que se referem ao significado da
vida e da morte. Saunders (1991) fala da dor total referindo-se às diversas
dimensões da dor: física, emocional, social, financeira, interpessoal, familiar e
espiritual. Nos doentes terminais é a dor total que encontramos e é da dor total que
precisamos cuidar. No momento do “não há mais nada a fazer para curar”, surge a
necessidade de cuidar desses pacientes, na sua condição humana.
Página 86
Esta é uma necessidade crescente na vida atual, em que a evolução dos recursos
médicos possibilita o prolongamento da vida, mesmo sem a possibilidade da
remissão da doença. Esses pacientes podem sobreviver por muito tempo na
condição de terminalidade.
Deve a vida ser prolongada ou encurtada por meio de recursos técnico-científicos?
O paciente pode decidir sobre medidas para o prolongamento ou o encurtamento da
vida, evitando dores e sofrimento? A família tem esse direito? Os médicos? Todas
estas e muitas outras questões relativas ao processo de morrer e as dores do morrer
são atualmente os temas da Bioética, que é o estudo das dimensões morais das
ciências da vida. Segundo Pessini (1997) devemos cuidar para que a vida e a morte
aconteçam com dignidade e que a competência técnico-científica caminhe junto ao
humanismo. O compromisso com a qualidade da morte de cada paciente é hoje a
preocupação dos profissionais de saúde, no atendimento aos pacientes fora de
possibilidade de cura.
O cuidar desses pacientes exige uma equipe especializada em dor total, uma equipe
multidisciplinar, envolvendo médicos, enfermagem, psicólogos, assistentes sociais,
amparo espiritual. Esses cuidados são oferecidos dentro do que é hoje denominado
cuidados paliativos. Esta é uma área, segundo Kovács (1999), de
Para que estes objetivos sejam alcançados, o atendimento à dor total vem como
necessidade básica.
Assim, no estágio avançado das doenças ou fase terminal de vida, qualquer dor
presente, seja física, psicológica ou espiritual, pode e
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Sobre a Dor
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Em resumo, cada dor é a dor de uma pessoa, com sua história, sua etnia,
personalidade contexto, momento. A mesma dor, em diferentes situações, pode nem
ser percebida ou ser muito forte, em decorrência da distração ou atenção oferecidas
a ela. Para tratá-la, portanto, é necessária a compreensão da complexidade e da
realidade de todas as dores para quem a sente (Carvalho, 1994).
Ainda citando Erickson (1992), a dor pode estar servindo certos objetivos úteis para
a pessoa. Ela é um aviso persistente da necessidade de ajuda. Traz restrições
físicas à atividade, mas frequentemente beneficia o sofredor. Portanto, a dor não é
apenas uma sensação indesejável a ser abolida, mas uma experiência a ser cuidada
de forma que o sofre- dor obtenha benefícios.
Várias linhas teóricas focalizaram a dor, cada uma trazendo contribuições valiosas
para a área: psicanálise terapia comportamental,
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Uma das maiores dificuldades no cuidar da dor é sua avaliação. Segundo Mattos
Pimenta (1999), esta vai abranger a lesão tecidual, o substrato emocional, cultural e
ambiental das reações da dor, permitindo a compreensão da origem e da magnitude
da dor. Os métodos para a avaliação são basicamente inferenciais, baseados no
auto-relato do paciente, mas também no conhecimento do caso clínico (história da
doença, exames físicos e laboratoriais) e técnicas para a aferição das características
da dor e da sua repercussão nas atividades cotidianas (funcionamento biológico e
psicossocial).
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Dor Total
O conceito de dor total foi elaborado por Cicely Saunders, na década de 1960, na
Inglaterra. De formação multiprofissional — enfermeira, médica e assistente social
—, Cicely Saunders dedicou sua vida aos doentes fora de possibilidade de cura.
Para ela, quando não era mais possível curar, era possível cuidar. E com o objetivo
de permitir que o paciente e sua família pudessem viver tão plena e dignamente
quanto possível a doença, a morte e o luto, fundou o Hospice São Cristóvão, santo
padroeiro dos viajantes, em 1967.
A palavra hospice significa abrigo, albergue. Sua origem vem da Idade Média,
quando, nas longas peregrinações aos lugares santos, os viajantes aí encontravam
hospedagem, alívio e apoio para os seus males. Cansados e doentes, os viajantes
muitas vezes morriam nos hospices, terminando sua árdua caminhada nesses
albergues.
Inspirada no conceito dos antigos albergues, Saunders criou um hospice que visa
cuidar dos pacientes com uma equipe multiprofissional, composta por médicos,
enfermeiros, psicólogos, assistentes sociais, religiosos, voluntários e outros
profissionais quando necessários. Seus pacientes eram os considerados
irrecuperáveis pela medicina, ou seja, aqueles nos quais a doença era progressiva e
nenhum tratamento poderia alterar o seu curso. Nesse processo de evolução da
enfermidade, os cuidados nos hospices visavam manter o paciente livre de dor e
sofrimento; oferecer informações e controle das decisões ao paciente; ouvi-lo e
acolhê-lo como ser humano, com suas dificuldades, medos, esperanças, crenças,
valores; e ter a possibilidade de morrer onde o paciente escolhesse.
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Elias e Giglio (2002) propõem uma classificação para a dor do paciente em estado
avançado da doença, a qual denominaram dor simbólica da morte. Esta engloba a
dor psíquica e a dor espiritual. Na dor psíquica estariam o medo do sofrimento e o
humor depressivo representado por tristezas, angústias e culpas ante perdas; na dor
espiritual, o medo da morte e do pós-morte e culpas perante Deus.
Atendimento Domiciliar
O atendimento da dor total nos cuidados paliativos pode ocorrer nos hospitais, nos
hospices e no atendimento paliativo domiciliar. Este é considerado a melhor forma
de atendimento, quando a família tem condições de cuidar do paciente com o auxílio
da equipe especializada do hospital ou do hospice. O doente prefere sua casa, sua
cama, a presença da família, do calor humano e do afeto, em seus últimos
momentos de vida. A presença regular da equipe de cuidados paliativos é
fundamental na manutenção da qualidade de vida do paciente, que deve ser
monitorado nas suas dores, no seu conforto, seu sofrimento.
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Segundo Gimenes (2003), para que uma pessoa possa vivenciar e aceitar a morte
sem medo é necessário que haja a manutenção de um vínculo entre a sua alma e o
Eu Superior, no momento da morte do corpo físico. E a crença de que a vida é
contínua e eterna.
/pois a doença vivida pelo paciente é impregnada pelo significado que ele atribui a
ela, pelas perdas que sofreu em decorrência da doença, pelo impedimento de
retornar às atividades anteriores, pelo futuro interrompido e suspenso, pela
autoimagem e autoestima alteradas (p. 141).
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sabe que vai morrer e aceita em paz esta realidade. A família, entretanto, pode estar
ainda revoltada, culpada por possíveis omissões ou erros de conduta, triste,
desamparada, perdedora.
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sabe-se que o processo de luto não começa com a morte e sim com as relações
existentes antes da morte, que serão o determinante crucial na qualidade do
processo de luto. As vicissitudes da terminalidade colocam a unidade de cuidados
(paciente e família) diante de decisões, lembranças, revivências, que poderão trazer
aspectos dificultadores ao processo em si, merecendo, portanto, atenção por parte
dos profissionais envolvidos (p. 188).
As dores do luto acabam por se confundir com as dores físicas e todas elas
interagem no processo de sofrimento.
Este quadro acaba muitas vezes levando a um desejo de acabar com a própria vida,
com um suicídio (Carvalho, 1996). O psicólogo que atende ao paciente
manifestando este desejo deve estar preparado para interpretar o seu apelo. Na
maioria das vezes, a ideia de suicídio é um pedido de ajuda, de socorro, de alívio do
sofrimento da dor total. E este pedido pode ser revertido com o atendimento às suas
necessidades. Segundo Viorst (1990), nos “casos terminais há um interesse
crescente na ideia de suicídio” O desejo de não sofrer, de manter o controle, de ser
lembrado pelas pessoas que amam como eram antes, tudo isso motiva algumas
pessoas a escolher a hora da própria morte... Mas, acrescenta a autora,
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Cuidando do Cuidador
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causados por tumores, queimaduras ou outras enfermidades, lidar com mau cheiro,
excrementos, pus e sangue, lidar com ideações suicidas, enfim, com toda uma gama
de situações objetivas e subjetivas adversas e aversivas são tarefas árduas.
O burnout, que significa “queimado, destruído, esgotado”, foi o termo criado para
descrever o desgaste físico e psíquico, em especial, dos profissionais de saúde, pela
proximidade com o sofrimento, pelo alto nível de exigências profissionais, fadiga,
esforço, tensão constantes. O resultado de uma situação de burnout é,
frequentemente, uma apatia, um desinteresse pelo trabalho, muitas vezes chegando
ao cinismo e à inflexibilidade, prejudicando seu desempenho profissional e sua vida
pessoal. Problemas psicossomáticos podem ocorrer, gerando maior dificuldade na
execução de suas tarefas. O esgotamento do profissional de saúde o leva, com
freqüência, ao abandono da profissão, caso não haja um auxílio na compreensão e
no tratamento do seu estresse. Um processo psicoterápico, ajudando a encontrar
uma melhor forma de
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Bioética é o neologismo derivado das palavras gregas bio (vida) e ethike (ética),
segundo a Enciclopédia de Bioética (1995). É definida como sendo o estudo
sistemático das dimensões morais — incluindo visão, decisão, conduta e normas
morais — das ciências da vida e do cuidado da saúde, utilizando uma variedade de
metodologias éticas, em um contexto interdisciplinar. Segundo Pessini (1997/2001),
as áreas de atuação da Bioética são as do relacionamento profissional-paciente,
saúde pública, questões sociopolíticas na saúde, morte e morrer, fertilidade e
reprodução humana, doação e transplante de órgãos, pesquisa biomédica, códigos
de ética, eutanásia, suicídio assistido, distanásia, entre outros tópicos.
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Referências Bibliográficas
BROMBERG, M. e Helena, P. E A Psicoterapia em situações de perdas e luto.
Campinas: Editorial Psy, 1994.
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Capítulo 5
Tratamento Cognitivo-Comportamental do Alcoolismo
Gildo Angelottí
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Pithecantropus erectus há 250 mil anos havia se encantado com o sabor da bebida
alcoólica, com a ingestão de sucos de frutas maduras, que, ao caírem no solo, eram
fermentadas pela exposição ao calor proporcionado pelas luzes solares. Tal reação
se dava pela presença do açúcar da fruta e da água, sendo fermentada pelo calor.
O alcoolismo passou a ser considerado como uma doença crônica por Magnus
Huss, em 1849, em sua obra Alcoolismo Crônico, descrita em termos da
desorganização de estruturas e funções orgânicas, que não é muito diferente do que
se sabe hoje em dia (Bertolote, 1997).
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D. Os sintomas não se devem a uma condição médica geral nem são melhor
explicados por outro transtorno mental.
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(3) insônia
(4) náuseas ou vômitos
(5) alucinações ou ilusões visuais, táteis ou auditivas transitórias
(6) agitação psicomotora
(7) ansiedade
(6) convulsões de grande mal
D. Os sintomas não se devem a uma condição médica geral nem são melhor
explicados por outro transtorno mental.
Especificar se:
Com perturbações perceptuais
Existem outros transtornos induzidos por álcool, mas vou apenas citá-los, sem tecer
comentários: delirium por intoxicação com álcool; delirium por abstinência de álcool;
demência persistente induzida por álcool; transtorno amnéstico persistente induzido
por álcool; transtorno psicótico induzido por álcool; transtorno do humor induzido por
álcool; transtorno de ansiedade induzido por álcool; disfunção sexual induzida por
álcool e transtorno do sono induzido por álcool.
Além dos transtornos induzidos por álcool, há também aqueles relacionados e que
estão associados com a dependência ou abuso de substâncias (por exemplo,
Cannabis, cocaína, heroína, anfetaminas e sedativos, hipnóticos e ansiolíticos e, por
fim, a nicotina). A interação entre essas drogas pode levar o dependente a
apresentar sintomas de depressão, ansiedade e insônia, que muitas vezes
precedem o
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De 90% a 98% do álcool ingerido são eliminados do corpo pela oxidação em dióxido
de carbono e água, e a maior parte que escapa da oxidação é excretada, inalterada,
no ar expirado, na urina e no suor, dependendo da quantidade ingerida ou em
temperaturas elevadas, podendo ocorrer um aumento no escape por estas vias
corporais.
Em geral, de 90% a 98% do álcool são metabolizados no fígado e o índice médio de
metabolismo em adultos sadios é de 120 mg por quilo por hora, equivalente a 30 ml
em três horas, variando conforme o peso e grau de dependência.
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Foram propostos vários processos fisiológicos que mediram o fenômeno pelo qual
pequenas quantidades de álcool disparariam o processo de ingestão de grandes
quantidades dessa substância. Encontraram alterações no metabolismo celular,
inibições nos centros de controle do cérebro e a ativação de circuitos neurais
específicos localizados no hipotálamo que desencadeiam a compulsão pelo álcool
(Formigoní e Monteiro, 1997).
A princípio, uma pessoa que começa a beber pesadamente pode ampliar seu
repertório e a variedade de estímulos que a predispõem a beber. Conforme a
dependência avança, os estímulos relacionam-se crescentemente ao alívio ou
evitação da abstinência do álcool, e seu repertório pessoal de beber torna-se cada
vez mais restrito. O adicto começa a beber a mesma quantidade nos dias de
trabalho, finais de semana ou mesmo em feriados; a natureza da companhia ou seu
próprio humor não alteram a ordem dos fatores, ou seja, fazem cada vez menos
diferença.
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O clínico deve estar atento aos significados das palavras que fazem parte do
repertório verbal de cada paciente, mas, de forma geral, refletem a cultura em que
aprendeu a beber e as contingências que mantêm o comportamento de ingestão de
álcool. A possibilidade de compreensão muitas vezes será destruída se termos
convencionais como a compulsão ou a perda de controle forem introduzidos
prematuramente.
Epidemiologia do Alcoolismo
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O abuso e a dependência de álcool são mais comuns entre o sexo masculino, com a
razão de homens para mulheres afetadas chegando a 5:1. Entretanto, esta razão
varia substancialmente, dependendo do grupo etário. As mulheres tendem a
começar a beber excessivamente mais tarde do que os homens e podem
desenvolver transtornos relacionados ao álcool mais tarde. Uma vez que o abuso ou
a dependência de álcool desenvolvam-se em mulheres, a condição pode progredir
mais rapidamente, de modo que, na meia-idade, as mulheres podem ter a mesma
faixa de problemas de saúde e consequências sociais, interpessoais e ocupacionais
que os homens (DSM-JV, 1994).
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Por meio dos dados citados na Tabela 1, podemos ter uma noção dos estudos
realizados no Brasil e, em razão da carência de recursos financeiros, torna-se
impossível conduzir pesquisas que envolvam estudos longitudinais, de modo que
fica quase impossível organizar e executar uma política de saúde voltada ao estudo
do álcool.
Políticas do Álcool
Por se tratar de uma questão que atinge toda ou grande parte da população
mundial, políticas de saúde desenvolvidas em países desenvolvidos e em
desenvolvimento, ao longo do espaço e tempo históricos e dentro do contexto de
sistemas de valores determinados cultural- mente, de fórmulas administrativas e de
crenças quanto à natureza fundamental das questões-alvo, estes problemas deram
origem a uma diversidade de respostas políticas. Algumas políticas incluem:
proibições quanto ao uso; racionamento e monopólios estatais; impostos cobrados
sobre a venda de bebidas alcoólicas; leis dirigidas ao licenciamento a distribuidores;
horários de consumo ou definição da idade legal para fazer uso do álcool;
campanhas de informação, educação e, para finalizar, as crenças desenvolvidas
quanto ao consumo de álcool e comportamentos em geral, entre outras (Edwards,
1998).
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alguns elementos inclusos nas análises estatísticas não publicadas (Rice, 1993).
Tratamento Cognitivo-Comportamental
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Por se tratar de uma abordagem focal, a TCC deve ser ativa, diretiva e estruturada,
caracterizada pela aplicação de procedimentos clínicos como introspecção, insight,
teste de realidade e aprendizagem, visando aperfeiçoar discriminações e corrigir
concepções equivocadas, tais como comportamentos, sentimentos e atitudes
perturbadoras. O foco principal é ajudar o paciente a examinar o modo
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e Rollníck, 1991). Não faz parte do papel do terapeuta ser autoritário, muito menos
utilizar-se de confrontos com o cliente, mas conduzi-lo à mudança, criando urna
base positiva. A meta a ser estabelecida é aumentar a motivação do paciente,
deixando-o com a responsabilidade de efetuar a própria mudança, visto que a busca
pela terapia é metade do caminho que deverá ser percorrido.
Avaliação
Um modelo conceitual que se faz necessário para uma melhor compreensão quanto
ao consumo de bebidas alcoólicas, utilizado para integrar os fatores que sustentam
d consumo individual ou relacionado a circunstâncias ambientais ou relacionamentos
interpessoais, por meio de repetidas combinações com reforço positivo ou negativo
ou mesmo por antecipação de reforço é conhecido como modelo Sorc. Esse modelo
Sorc integra considerações em um modelo específico ao consumo de bebidas
alcoólicas. O S indica os estímulos ambientais previamente à ingestão, evocando
reações cognitivas, afetivas e fisiológicas do — O — organismo. Segue-se a — R —
resposta do ato de ingestão a qual pode ser mantida pelas — C — consequências
positivas do consumo.
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Fatores individuais, familiares e interpessoais, entre outros, podem estar
relacionados à ingestão de bebidas alcoólicas. No âmbito individual, antecedentes
ambientais podem estar associados com situações específicas de consumo,
determinados momentos do dia ou o próprio odor. As variáveis ligadas ao
organismo, tais como a fissura, sintomas de abstinência, afetos negativos, auto
avaliações negativas ou mesmo as crenças irracionais provenientes do (ab)uso do
álcool, ou expectativas positivas quanto ao efeito proporcionado pela bebida em
situações particulares, quando reforçados individualmente, podem diminuir os
sintomas de desejo ou abstinência, reduzindo o afeto negativo ou mesmo aumentos
no afeto positivo, diminuindo as auto avaliações negativas ou a idade de esquecer
problemas (McCrady, 1999).
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A solução de problemas ajuda o paciente a identificar as situações que
possivelmente estimulam o paciente ao ato de beber e como manejá-las; utilizando-
se de estratégias para lidar com possíveis problemas e com as adicções, por meio
do manejo do craving (fissura).
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Dia/hora - Situação - Sentimentos Emoção(ões) - Pensamento(s) Automático(s) –
Resposta Racional
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Conclusão
Nota-se que, com a mobilização de toda a sociedade, se faz jus, a incansável tarefa
de prevenção de recaída, em razão dos danos causados pela ingestão excessiva
dessa substância, tanto em nível orgânico quanto psicológico, social, familiar etc.
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Referências Bibliográficas
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Página 129
De um sorriso doce...
Para Cacheadinha...
SERRA DA CANTAREIRA
Eu quero da vida o teu sorriso doce... o mesmo que você exibe quando te estreito
em meus braços... quero passear pelo teu corpo do mesmo modo como caminho
pela serra nas manhãs e madrugadas... sentindo cada detalhe da caminhada com
um prazer que nunca se exaure... e sempre se renova...
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penetrante e abrangente...
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JOÃO PESSOA
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• Capítulo 6
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humano, afeto, respeito à dor do outro, envolvimento, entrega, de um ouvir que não
escuta, da morte ou interdição dos sentimentos.
Até a água eles custam a me dar. Parece que eu contamino só com a presença. O
médico não acredita que eu possa sair dessa, ele diz isso com seus olhos, com sua
desatenção. Ele pouco vem aqui. Acho que ele tem medo quando eu tento tocá-lo,
que a minha morte o leve também. Ele não aprendeu que a morte é de cada um, ela
não é contagiosa, cada um tem a sua e pior, eu sei que ela não avisa quando vem
mesmo que o doutor se iluda achando que ele sabe o meu tempo... e o dele, será
que ele também sabe?
Sabe, é como se eu já tivesse morrido, eu preciso estar provando que estou vivo,
por isso eu às vezes tenho essas “crises de nervoso”. (Portador do HIV/ 1998/ ficção
ou realidade?)
Um jovem soldado, durante a primeira grande guerra mundial, é atingido por uma
bomba, perde seus braços e pernas, seus olhos, nariz e boca, mas permanece vivo,
com a mente funcionando, porém os médicos acreditavam que ele não estivesse
lúcido e, por isso, aceitam sem muito pesar a manutenção de sua vida. Ë prescrito
um medicamento para seus movimentos (abalos musculares) e é também prescrito
que nenhum membro da equipe deve ter “envolvimento emocional” com o paciente.
Este é deixado num quarto isolado onde ninguém pode vê-lo ou saber de sua
existência. Duas personagens transgridem esta prescrição. A primeira, uma
enfermeira que se penaliza do rapaz, abre as janelas e, com o calor do sol em sua
pele, Johnny pôde começar a medir o tempo, dia, noite, dia, semana, semana, mês,
outro mês, até que se passa um ano, vários anos (em seu calendário interno). A
segunda, uma outra enfermeira (curioso que sejam enfermeiras a desempenhar
esse papel e não médicos) que, ao ver o paciente pela primeira vez, chora e acaricia
sua testa (e, em sua mente, Johnny grita, ao sentir as lágrimas caindo em seu corpo:
“que bom, você não tem nojo de mim”. Num outro momento, Johnny tem um sonho
erótico, fica excitado (seu pênis fica ereto), a enfermeira não entende por que ele se
debate, procura o motivo retirando as cobertas, o vê excitado e o masturba. Depois,
ainda por resolução dela, aparentemente sem motivo algum, ou sem lógica alguma,
a não ser a lógica de seu sentimento, a enfermeira escreve com a
Página 137
A junta de médicos e militares lhe diz que “infelizmente, isso não é possível”. Ele
retruca que, se é assim, se não vão permitir que ele saia, ele prefere que o matem e
repete insistentemente: “matem-me, matem-me”. Eles saem e o de patente superior
determina que o ocorrido não seja divulgado a quem quer que seja.
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Dialogo com vários autores, na tentativa de aliviar minha solidão. Insinuo assertivas,
encontro alguns abrigos em teóricos e praticantes de uma “nova” medicina e
Psicologia. Parto do meu caminho e arrisco-me ao dividir os primeiros frutos
nascidos de algumas sementes, plantadas em direção a uma prática hospitalar
capaz de acolher o riso e a dor e, quem sabe, imaginar pistas para uma
racionalidade mais tolerante, acolhedora, saudável e de fato humana.
Em alguns momentos sinto que Foucault tem razão: a palavra é a morte da coisa.
Em outros, como diria Samira Chalhub, a escrita caminha como um corpo falante.
Minhas idéias, ainda em gestação, estão expostas, e o desassossego continua...
“A porta da verdade estava aberta mas só deixava passar meia pessoa de cada vez.
Assim, não era possível atingir toda a verdade, porque a meia pessoa que entrava
só trazia o perfil da meia-verdade. E sua segunda metade voltava igualmente com
meio perfil. E os meios perfis
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Por capricho, ilusão ou miopia, o mundo ocidental moderno fez a opção de isolar a
razão dos afetos na produção do conhecimento. Tal separação é resultado da
crença de que a verdade está além do sujeito que a produz. Luz (1988) afirma que a
racionalidade científica moderna postula a razão e o método científico como norma
fundamental para obtenção do conhecimento ou, de modo mais geral, como o modo
de produção da verdade, nos quatro séculos de sua construção. “Uma razão
instrumentada pela observação repetida, tecnificada.” É essa razão que institui a
Natureza como objetividade e como exterioridade ao homem, como materialidade a
ser apreendida e explicada, que se constrói com o renascimento científico, que se
explicitava no século XVII como “revolução científica”.
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Assim, vamos ter a máxima da pureza da razão e, a partir de Descartes, sob a égide
da máquina, o mundo natural e humano passa a ser expiado. A ciência é a teologia
da época; o relógio é a grande metáfora do Universo; o Positivismo, o guia
necessário. A expulsão da subjetividade é a base dessa conquista. No entanto,
desde o início do século XX, as dúvidas quanto à exequibilidade desse dualismo
exacerbado vêm crescendo.
O saldo do progresso civilizatório dos últimos séculos foi desastroso. Quanto mais
nos afastamos e dominamos a natureza, em nome da tecnologia, do avanço, mais
contribuímos para a degradação da qualidade de vida. Nosso progresso foi uma
questão predominantemente racional e intelectual. Essa evolução unilateral atingiu
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um estágio alarmante que beira a insanidade. Hoje fica cada vez mais evidente que
o paradigma cartesiano encontra-se obsoleto.
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“Eu quero das mortes a mais traiçoeira. Diferente da que, sincera, se anuncia. Não
quero aquela que vai-se chegando com as rugas, atrasando os movimentos,
dificultando o gozo. Não quero a morte perversa, que toma o braço do senil e fica ao
lado do entrevado. Não quero a morte sincera, nem respeito mais a morte que avisa
que já vem vindo, morte catatônica. Morte que não me deixa esquecê-la. E, quando
for chegando a hora, que venha ainda em silêncio, sem avisar a ameaça. De manso,
durante um bom sono, tome-me. Morte, boa morte, é a que nem se deixa perceber,
depois de uma vida muda, cega e tetraplégica, ressurge uma vez só e toma de
assalto e vence. Uma bala. Um golpe pelas costas. Quero para mim da morte a mais
traiçoeira.”
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“Eu só queria que tivesse alguém para segurar minha mão, talvez fosse menos difícil
morrer.”
Camus (1989) nos colocou que uma forma cômoda de travar conhecimentos sobre
uma cidade é procurar saber como se ama e como se morre. Como lidamos com o
morrer, como se porta o homem diante da morte, nos desvenda quem é esse
homem, como é a sociedade que ele criou, em que valores ela se assenta. Podemos
dizer que a concepção de morte revela a concepção de vida. Uma sociedade que
nega a morte, para a qual a morte não tem sentido, é também uma sociedade, como
dizia Weber, que perdeu o sentido da vida.
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De acordo com Martins (1985), não sabemos lidar com a morte porque
transformamos a doença e a morte em um problema técnico, e para isso criamos as
empresas, os técnicos mais qualificados, os equipamentos mais sofisticados,
capazes de prolongar a agonia de um homem durante meses, anos, mas incapazes
de devolver-lhe a vida, a vida verdadeira, a vida com sentido.
Esse exorcismo da morte em nossa cultura é um elemento estrutural da civilização
contemporânea que atende aos desejos da racionalidade médica ocidental. Essa
insinuação que proponho encontra amparo na seguinte assertiva de Luz (s.d.):
“Toda racionalidade (mesmo a racionalidade científica) conserva suas bases em
valores, interesses e investimentos de desejo, que permeiam o conjunto de
representações, concepções e teorizações que a definem como racionalidade”.
Portanto, vivemos em um mundo que cultua corpos sãos, ativos, produtivos,
reprodutivos, dentro de um sistema cujo objetivo é a eficiência, a rentabilidade e o
consumo. Tolerar a existência da morte é no mínimo dificílimo — torna-se
imprescindível exorcizá-la em nome da manutenção do nosso modo de vida
consumista, voltado para noções instituídas de juventude e progresso.
O início dessa fantasia tem sua marca nas aulas de Anatomia, mediante o estudo de
um sem-número de cadáveres, destituídos de subjetividade. A dissecação é fruto do
Renascimento, tempo em que a separação corpo/alma tornou o corpo e a morte
objetos de estudo.
Nessa mesma direção, Zaidhaft (1990) nos convida à reflexão, dizendo: Por seu
desamparo e passividade, o cadáver permite aos alunos experimentar a sensação
de poder absoluto. A relação mantida com o
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cadáver é registrada e se torna a relação ideal, que será buscada anos depois no
encontro com os pacientes (p. 143).
Cabe salientar que esse fato talvez possa ser considerado a coroação do ritual de
iniciação na racionalidade médica, sendo o seu processo permeado por um
constante aprendizado de negação da morte, da dor, da capacidade de envolver-se,
de vincular-se; emoções incompatíveis com a racionalidade tecnológica.
“Não se envolva com o paciente”; “é preciso ter sangue frio”; “para aprender é assim
mesmo”; “são apenas corpos”; “se você ficar sofrendo a cada morte de paciente,
você não aguenta e larga a medicina”
Estes são alguns dos elementos introjetados para se atravessar o batismo de fogo,
um verdadeiro ritual de iniciação na medicina, responsável, no futuro, por relações
mortas entre paciente e terapeuta, na qual infelizmente o cadáver é o doente ideal
buscado em cada novo paciente.
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médico. Portanto, a morte é silenciada também nos hospitais. A linguagem nessa
instituição denuncia este fato. Não se morre no hospital, vai-se a óbito, perde-se na
mesa, tem-se alta celestial.
Penso que se nosso referencial não for a cura, salvar a qualquer preço, mas um
retorno à arte terapêutica, o cuidar daquele que sofre, poderemos ter re-significado
nossa ação e o nosso papel de cuidadores.
Embora se fale hoje que a equipe de saúde deve estar atenta aos aspectos
emocionais do paciente, nem sempre reconhecemos com a mesma ênfase que o
emocional da equipe é parte fundamental nessa relação. Pouco é dito sobre o
cuidado com o cuidador, que é atingido pelo sofrimento do seu paciente. É
imprescindível cuidar do cuidador. Estamos falando em formação acadêmica, em
medidas profiláticas, se quisermos caminhar em direção a um atendimento mais
humanitário, de maior qualidade; se quisermos caminhar para uma racionalidade
que priorize o agir terapêutico, que resgate o papel da relação médico (profissional
de saúde) /paciente; em que o paciente possa ser reconhecido como sujeito em toda
sua subjetividade, que valorize a arte de curar e, principalmente, a tarefa maior da
humanidade que, segundo Kierkegaard, é o cuidado. Uma medicina que promova o
encontro entre as pessoas.
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Sabemos que outras racionalidades médicas integram essas dimensões e por isso
mesmo são buscadas pelos pacientes, como, por exemplo, a homeopatia e a
medicina oriental.
Penso que há momentos na vida de uma profissão que para ser fiel a si mesma e a
seus princípios éticos é preciso mudar. Mudar talvez menos do lugar teórico, mas
muito mais do lugar da prática. Não é possível lidar com a vida humana sem paixão,
a não ser eliminando a vida em nós mesmos. Não é possível mais pensar, desejar
uma ordem que não cura, mortifica. Mas desejar que, em vez de promover o caos,
possa ser responsável pela reorganização, possa retirar o mundo do
desencantamento com o próprio homem.
“A morte ilumina a vida”. Ela pode nos iluminar para um novo ethos. Não podemos
negar o fato de que a morte define a vida como um campo limitado, nos lembra que
temos um tempo marcado (como nos alertou “aquele” paciente HIV positivo). A
questão é, se exorcizamos a morte, negando-a, ou insistimos em percebê-la como
uma conselheira invisível, que nossa jornada alerta para que não esperemos pelo
amanhã, incita a fazer o que pudermos, queremos e sonhamos para re-significar
nossa vida pessoal e profissional. O carpe diem é a reconciliação da vida com a
morte.
Tudo isso para dizer que estou convencida de que pensar o lugar da morte nas
instituições de saúde pode contribuir para melhorar a
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qualidade de vida e de morte presente na prática médica e de toda a equipe de
saúde. Lançar o olhar para o exorcismo realizado com a morte pode levar ao
reconhecimento do ritual de iniciação da racionalidade médica ocidental e possibilitar
a visão das sequelas dessa história macabra, na qual muitas vezes o paciente é
morto em vida, para não lembrar a nossa própria finitude.
Mas uma pergunta me desassossega: como alguém não consegue se envolver com
a morte? Talvez seja preciso não se envolver com a vida! Busco auxílio nas
observações de Zaidhaft (1990):
“Há muito mais verdades entre o céu e a terra do que supõe nossa vã filosofia.”
Hamlet
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A nossa recusa em girarmos nossas cabeças para o outro lado da bandeja faz
sentido dentro do percurso realizado pela medicina e por todos nós, profissionais de
saúde. Engolimos verdades absolutas e irrefutáveis, cobrimos a nossa própria visão
e continuamos famintos.
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O autor afirma que a própria forma de interrogar o paciente pode induzir o sintoma.
Por mais objetivos que sejam os dados do exame, sua utilização está sempre sujeita
à subjetividade.
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ao demonstrarem que o córtex cerebral deixa de ter como único morador a razão.
Afirmam que o pensamento racional é influenciado pela emoção, argumentando que
profundas interconexões biológicas demonstram que a ausência de emoção
impossibilita a ação do raciocínio.
Possuímos, ainda que não tenhamos nos dado conta, uma profunda relação de
intimidade com nossos órgãos e sistemas e, a despeito de toda cisão a que fomos
expostos como indivíduos/objeto nestes últimos tempos, ainda assim mantivemos
uma relação muito estreita entre nossas emoções e seus correspondentes
biológicos (p. 29).
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Vale ressaltar que a psiconeuroimunologia e a psicooncologia trilham o caminho da
psicossomática; são companheiras na arte de guiar nossas cabeças em direção à
sobremesa, ou seja, a reedição de uma medicina integral.
O mesmo autor explica que tal abordagem tem implicações importantes para o
diagnóstico. Este pressupõe necessariamente uma anamnese biológica, que
significa estabelecer um diálogo não diretivo, interrogatório; dirigir a atenção para
perceber a demanda por trás da queixa (verdade feminina); e o terceiro elemento, do
qual depende o sucesso dos outros dois — a postura profissional que favoreça a
formação do vínculo interpessoal. Ele afirma:
Tudo isso para dizer que, rejuntando os elos perdidos, recuperamos a arte da
terapêutica; ampliando nosso olhar e nossa intervenção, re-significamos o lugar do
paciente, do terapeuta, e a importância do vínculo interpessoal.
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Ainda assim, as muitas verdades entre o céu e a terra continuarão a existir. Este foi
um dos grandes ensinamentos de Shakespeare, cuja função parece ter sido dar vida
à nossa mente, permitindo que nos tornemos conscientes do que jamais
descobrimos sem ele.
Conta-nos a lenda:
Deméter, deusa da fertilidade, tem uma filha que se chama Perséfone, a quem ama
muito. Hades, deus do reino dos infernos, rapta sua filha. A deusa sai à procura da
filha, mas não consegue encontrá-la, fecha-se em sua própria dor e para de rir. Em
razão da dor da deusa da fertilidade, interrompe-se na Terra o crescimento das
ervas e dos cereais. A serva Jamba faz um gesto obsceno e a deusa ri. Com o riso
da deusa a natureza volta a viver e sobre a Terra retorna a primavera.
Trazer para o diálogo com a racionalidade médica ocidental o trabalho realizado pela
Unidade de Palhaçada Intensiva (UPI!) traduz a tentativa de acrescentar, às
imagens reais e fictícias do início do texto, imagens de vida presente na dor e no riso
dos pequenos pacientes atendidos pelos doutores da UPI! Imagens que nos dizem
muito sobre como acolher o convite em direção a uma racionalidade que nos
devolva o lugar de humanos. Cada pensamento arriscado, cada história contada,
cada argumento gerado espelha essa intenção.
Apenas um ano de existência tem a UPI! Pouco tempo... (estou consciente de que o
parto talvez esteja sendo prematuro, mas parte das dores das parturientes se deve à
incerteza de como o mundo acolherá seu rebento) Um tempo repleto de histórias, de
dores, de cores, de vidas que, olhando para a dor, continuam celebrando o prazer.
Um tempo capaz de iluminar o que ocorre quando o riso se faz presente diante da
solenidade da doença; a transgressão que ele pode representar na nossa
racionalidade científica, mas também de
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como ele pode fertilizar novas relações no contexto da doença, novos caminhos na
ciência, restaurando a vontade de potência, de saúde, vontade de parir outra
realidade.
O riso da deusa restaura a vida em si e fertiliza a vida à sua volta, O riso dos nossos
pacientes, o riso presente nos corredores e enfermarias dos hospitais fertiliza a
dimensão da vida neles e em todos nós. É o motivo de existência da UPI!, mais do
que entretenimento, mudança.
Direção de Atores:
Fernando Yamamoto
Coordenador do Projeto:
Gustavo Wanderley
Psicológica:
Geórgia Sibele Nogueira da Silva
Assessoria Médica:
Diana Dantas
Atores:
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Objetivo
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O riso, como recurso terapêutico, vem sendo discutido nas duas últimas décadas.
Doutores “palhaços” surgem no mundo todo e inspiram os doutores da UPI!. Não
estamos inventando a roda, mas temos um objetivo claro de como girar a roda, ou
como girar a cabeça para o outro lado da bandeja — o desejo de contaminar a
racionalidade médica ocidental com os ensinamentos dos doutores clowns. Os
efeitos do riso nos falam de um benefício físico e emocional dos pacientes. E nos
falam também de outra maneira de enxergar e praticar medicina — possibilitam a
receita para uma autêntica medicina psicossomática.
A esta altura é impossível não fazer a pergunta: como é possível? Antes de falar em
procedimentos e resultados, é oportuno indagar: o riso é terapêutico? Qual a relação
entre a técnica do clown ou a racionalidade dos doutores da UPI! e a racionalidade
médica ocidental? Em outras palavras, como entendemos o processo saúde-
doença, como percebemos a apreensão da realidade, que tipo de verdade
perseguimos, nos remete às crenças que guiam nossas ações.
O caminho inverso começa a ser vislumbrado também pela ciência médica, mesmo
que timidamente. O resultado de várias pesquisas, entre elas a de William Fry, vem
demonstrar que um dos maiores efeitos do riso é reduzir a liberação dos hormônios
associados ao estresse — o cortisol e a adrenalina. Com menos hormônios desse
tipo circulando no organismo, o sistema imunológico se fortalece. Produzidas nos
gânglios linfáticos e na medula óssea, as células de defesa do organismo não só
aumentam em quantidade como também se tornam mais ativas, com destaque
sobretudo para os linfócitos B, responsáveis pela produção de anticorpos, e os T,
que detectam vírus ou bactérias (Veja, 2001).
jornalista americano curou-se de uma doença grave por meio do riso. Escreveu sua
história anos depois, lançando, em 1979, Anatomia de uma doença, tornou-se
símbolo da terapia do riso e inspirou pesquisas nessa direção.
Falar em cura pelo riso pode ser ainda uma interrogação, mas estou convencida de
que esta discussão pode contribuir para reafirmar a impossibilidade da separação
entre mente e corpo. A tentativa de entender e intervir no processo saúde-doença,
demonstrando que a alegria pode suscitar a vontade de potência ou de saúde, como
diria Nietzsche, pode aliar-se ao tratamento, devolvendo a dimensão humana da
alegria, apesar do momento de dor.
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Fica claro que a criança, em sua brincadeira, seja com sua boneca particular, seja
em uma interação de ludoterapia ou na interação com os doutores da UPI!, está
atuando com objetos transicionais, fazendo uma catarse de seus problemas e
equilibrando suas emoções.
Melaine Klein (1993), estudando o brincar, também concluiu que as crianças sentem
um prazer muito intenso em suas brincadeiras, não apenas pelo prazer, “mas
também porque aí encontram um meio de dominar sua angústia” (p. 86).
Rir movimenta as nossas emoções positivas. Poder trazer essa experiência corporal
e emocional no momento da doença é tocar na centelha de vida que pode ficar
embotada na estrutura hospitalar. E, como gritou Nietzsche: “Sempre que encontrei
vida, encontrei vontade de poder’ Por que não dizer, vontade de saúde. Para a
criança ou adolescente, rir, mais do que efeito de um entretenimento, é fazer circular
vitalidade e, para a instituição, essa vida em ação pode suscitar mudanças. O riso
devolve a vontade de poder, no sentido nietzscheano, que significa uma vontade de
crescer, de vir a ser, de criar. Remete a criança à vida que ela tem em si.
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O doutor Clown sente que tem empatia pela dor de seu paciente, mas sabe que
sempre pode fazer algo, pode cuidar do sofrimento dele; ele se coloca à disposição
dele para lidar com sua dor e resgatar sua alegria. Ele enxerga sempre a essência
de uma criança que é a sua alegria e não a doença, o seu prognóstico. Já em seu
diagnóstico, está preocupado em como tocar nessa dimensão da criança. Como
acender sua Higéia, seu potencial interno de saúde, vida, prazer.
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Ele nos diz ainda sobre o caminho que impregnou a racionalidade científica
ocidental:
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As clássicas cirurgias do nariz para trazer felicidade contam sempre com outros
pacientes como assistentes; a prescrição do uso do nariz vermelho, que se usado
três vezes ao dia traz felicidade; a fita métrica para medir a pressão e a meia de
chulé anestésico fazem parte de rotinas desses médicos. Bem como o pato purific,
que purifica a região que vai ser cirurgiada, gorila que suga a dor, o adesivo que dá
fome de leão, o adesivo calmante para pais irritados, brincadeiras de assistente de
médico e prescrições diversas.
O MUNDO VERMELHO
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Refrão
UPI!
Cabe destacar que os doutores da UPI! são solicitados por enfermeiros e médicos,
para ajudarem em procedimentos de outros médicos. Familiares remarcam exames
nos dias que os doutores da UPI! trabalham, para também terem seus filhos
consultados por eles. A equipe solicita que os doutores da UPI! trabalhem mais dias.
Por tudo isso, podemos também sorrir e falar em resultados para o paciente,
familiares e para a instituição hospitalar.
Assim como embaixo da lona do circo todos são envolvidos pelo riso, no hospital, os
cuidadores (equipe e família) também têm seus
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ganhos quando o riso cobre o dia-a-dia. Apesar de esta reflexão sobre a UPI!
enfatizar em primeiro plano os pacientes, são inegáveis os ruídos, e aprendizados
da equipe, bem como o contágio prazeroso das mães ou pais, ao verem o sorriso de
seus filhos ou eles próprios experimentarem tal dimensão da vida.
Chiattone (1996) também nos convida a continuar seguindo essa direção quando
revela:
O clima antes era de apreensão. Com a UPI! elas [as crianças ficam mais receptivas
aos procedimentos. “Os médicos da alegria” não só
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aliviam o sofrimento, como facilitam o nosso trabalho. (Ana Maria Guimarâes —
psicóloga do Hospital Varela Santiago.)
“F. nos chamou [doutor Sushi e eu, doutor Labrô] e disse que estava com medo da
biópsia que tinha de fazer no outro dia. Então, com a ajuda de P. [outro paciente],
fizemos a cirurgia um dia antes, tirando um pedaço da massa de modelar [que seria
a parte da biópsia], de manipular, brincar e depois deixamos um adesivo no local
para o médico substituir pelo ponto. Ficou bem tranquilo e soubemos pelas
enfermeiras na outra visita que ele foi bastante calmo e confiante para a biópsia.”
O relato de doutor Labrô ressalta que intervenções dessa natureza amenizam a
ansiedade e o estresse do paciente, e favorecem o bom andamento do exame. Além
do fato de que toda caricatura cômica feita para a realização da “tal cirurgia” rende
muitos sorrisos.
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POSSIBILIDADE DE AUTONOMIA E ATIVIDADE NO COMPORTAMENTO DOS
PACIENTES
“(...) O fato de termos três ‘Zés’ na enfermaria nos fez batizar a ‘enfermaria dos Zés’.
Começamos, já que eram crianças um pouco mais velhas, a conversar sobre o
cotidiano do hospital, e por acaso acabou surgindo a questão do comportamento dos
médicos. Começamos a interagir com elas, simulando como um médico deveria ou
não cuidar de seus pacientes, desde a entrada nas salas, o cumprimento, a
abordagem às crianças, enfim, elas iam nos dizendo como fazer, e nós íamos
reproduzindo. Algumas vezes elas faziam, e acabavam fazendo como os médicos
fazem ao falar com elas. Muitas vezes chegando sem cumprimentar e já
perguntando: E aí? Fez cocô hoje? Fez xixi? E nós, ao perguntarmos se elas [as
crianças] não cumprimentavam os médicos, muitos deles disseram que sim e elas
nem respondem. Foi muito boa a intervenção, todas se divertiram muito e se
expressaram à vontade — uma completava a outra ou tomava a vez. Disseram uma
série de sensações e desejos que têm, de como gostariam que fossem, como
gostariam de ser tratadas... Exageramos as falas, levamos as atitudes dos médicos
ao extremo e encenamos com elas bem alto (tipo:o médico chega e não
cumprimenta, as crianças, sob nossa orientação diziam:’ Bom-dia, doutor!’, ele não
respondia se virava e perguntava: ‘E aí? Cagou hoje? Mijou?’), e as crianças se
deleitavam com isso! Em alguns momentos, as crianças devolviam a pergunta: ‘E o
senhor cagou? ’O deleite era maior, maior. Haja catarse!”
Nesse relato fica evidente que a presença dos doutores da UPI! também espelha
ruídos, que podem servir de luz para outros caminhos, para outras formas de
relação terapeuta-paciente, se puderem ser comunicados.
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É indiscutível também o efeito terapêutico da catarse realizada, bem como a
vivência ativa dos pacientes.
O Pequeno Jornalista
Frente:
Verso:
Chegando na oncologia, qual foi a minha surpresa, mesmo tendo tido uma “meia
informação” a respeito de M., ao ver que a mãe — e o pai, que eu nunca tinha visto
antes — estava na antessala, lavando as mãos, antes de
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entrar no espaço em si. Ela estava no isolamento, junto ao P., outra criança muito
especial para mim, cujo tumor se desenvolve na área de um dos olhos, e que não
reconheci de cara, por estar deitado para o outro lado. Enfim, voltando a M., pude
ver uma emoção muito grande nos olhos da mãe, também velha conhecida, e do
pai, com quem nunca havia encontrado (mas esse brilho denunciou que ele já havia
ouvido falar do doutor Labrô e do doutor Cem), uma alegria em nos ver por lá. Foi
muito forte!
Ao ver M. pela janela, numa enfermaria cujo acesso nos foi naquele momento
negado, me surpreendeu o seu estado debilitado, muito magra, mais frágil ainda do
que o normal, mas o seu sorriso — revelado depois pelos pais que não acontecia há
um certo tempo — e o esforço descomunal para levantar seu braço e nos dar tchau,
foi algo muito especial, confirmou uma relação muito forte, apesar de ter sido
construída devagar, com dificuldades. Como não podíamos entrar, eu fazia mímica,
tentava comunicar com o olhar, então resolvemos mandar um cartão com uma
dedicatória muito carinhosa, verdadeira e do fundo do coração para ela. Avisamos
que voltaríamos à janela mais tarde, após passarmos pelas outras enfermarias,
quando o fizemos, já no final da visita, pude ver a cena maravilhosa de M., dormindo
ao lado do cartão, quase que um travesseiro, me pareceu ter sido muito especial
para ela. Pra mim com certeza foi... Poderia ser a última vez que a estaria vendo
assim de longe, sem poder tocá-la, trocar uma palavra com ela.
Doutor Sushi
No relato desse ator ao descrever a visita do doutor da UPI! vemos uma pessoa
humana por trás do doutor, vivenciando os sentimentos provocados pela iminência
da morte do outro, enfrentando esse sentimento com atitudes de carinho, afeto,
possibilidades terapêuticas pouco usadas, mas eficientes no cuidar daquele que
sofre. No silêncio e na distância, a presença humana de nossos doutores Sushi e
Amado.
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Um episódio foi especial. Com E., quando ele estava com medo de tomar a injeção.
Pedimos que ele nos dissesse uma música que gostava, e ele atacou de funk. A
enfermeira, que acredito é a legítima enfermeira do funk, nos acompanhou, cantou,
dançou. Fizemos uma coreografia que virou hit no hospital, e o melhor — enquanto
M. aplicava o remédio, o pequeno E. dava gargalhadas, sem nem sentir a picada ou
o líquido.
A versão criada pela enfermeira começava assim: “Só uma injeçãozinha não dói,
uma injeçãozinha não dói”. Todos os pacientes só querem receber injeção
acompanhada por música e show coreografado.
Doutor Labrô
Apesar dos insistentes pedidos das crianças e dos doutores da UPI!, a enfermeira
do funk não cantou e dançou mais como “naquele dia”. Em outra ocasião em que a
UPI! pedia, ela timidamente cantava, mas com o cuidado para não contaminar o
ambiente. Como já relatou outra enfermeira (fato já descrito anteriormente): “Não
pode, se não contamina o ambiente”. Retratando o culto à tristeza e a solenidade da
doença na instituição hospitalar e a consequente não permissividade ao riso.
Veia Bailarina
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Refrão
Vamos fazer diferente quem se esconder agora perde
o bobo, quem aparecer é o rei
Nessa brincadeira ganha quem gosta de ser companheiro
E dar as mãos na roda pra dançar
F. não conseguia controlar muito bem os movimentos dos braços, nem tinha forças
físicas para ficar em pé ou sentado, mas sua vontade de viver saltava pelos seus
olhos e dançava pelo quarto inteiro. Doutora Biela notou que ele gostava de ler
histórias em quadrinhos e conseguiu um canal de comunicação pelos heróis das
histórias, eu aproveitei para conversar com a mãe que, acabei descobrindo, era do
mesmo interior que eu havia visitado recentemente e conhecia o mesmo senhor cuja
casa eu havia me hospedado. Pronto, depois de cinco minutos éramos velhos
conhecidos e já
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combinávamos um café da tarde, quando doutora Biela chamou minha atenção para
o suco que havia sido deixado intacto na bandeja. F. logo disse que não gostava de
suco de acerola, mas que havia gostado muito do peixe servido no jantar, era uma
pena não haver mais. Na mesma hora nos olhamos e tomamos uma decisão que
não sabíamos quais as consequências, mas decidimos assumir os riscos. Iríamos
buscar mais peixe e trocar o suco de F. Saímos da enfermaria e falamos com as
enfermeiras e nutricionistas, perguntando como e se poderíamos levar o jantar, que
já havia se transformado no prato francês para o sr. F. Depois da resposta positiva,
fomos à cozinha e eu fiz questão de repassar a homenagem ao cozinheiro que ficou
muito feliz por seu peixe ter sido bem aceito. Conseguimos trocar o suco de acerola
por um de goiaba e colocamos junto ao peixe em uma bandeja coberta, formando o
prato especial levado pelos doutores — garçons franceses. Quando chegamos na
enfermaria preparamos um ambiente digno do jantar francês do sr. F. e, quando a
bandeja foi descoberta, os olhos do nosso senhor de 12 anos ficaram mais azuis e
no meio de um sorriso ainda inédito na visita, ele disse: “Agora vai ficar bom’. E sua
mãe reforçou: “meu filho, come, você logo vai ficar bom”.
Doutor Labrô
Ele não ficou bom, mas alimentou-se na véspera de sua morte com um apetite e
felicidade como nos tempos de saúde. Houve intervenção terapêutica, porque os
doutores da UPI! acreditam que sempre é possível cuidar.
Naquele instante ele foi feliz, o tum-tum do tambor da vida bateu mais forte, e mais
uma vez inspirou doutor Amado a criar mais uma música para nossa UPI!.
Tambor da Vida
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K. e a Superação do Doutor
Peguei na maleta, me aproximei, mas ele não respondia, estava encolhido, parado,
frágil como nunca o tinha visto. A mãe o segurava carinhosamente, proteção. “Ëta,
que menino lindo, olha meu filho o doutor palhaço, lembra como você gostava de
mexer na mala dele?” Não respondia, peguei a
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Por trás dos Clowns está um ator que é tocado pela dor de seu paciente, por sua
aparência forte (ele não possuía os dois glóbulos oculares), mas esse doutor é
trabalhado para esse enfrentamento em sua supervisão, ele também é cuidado.
O fragmento a seguir mais uma vez revela a busca pela condição de enfrentamento
de realidades dolorosas por esses doutores, mediante o trabalho de supervisão.
Cabe lembrar da ausência de trabalho nessa direção para os nossos médicos não
clowns. Trabalhos que remetam ao fato de sermos tocados pela dor de nossos
pacientes.
Doutor Sushi
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É o que diz a canção primeira da UPI! É o convite lançado por seus doutores, diante
de uma sociedade marcada pela negação da morte, que não reconhece o prazer
como fonte de saúde, que vive sob o signo da poderosa medicina tecnológica, na
qual qualquer ruído é atacado de forma que a ordem seja estabelecida.
Neste momento, gostaria de me despedir do texto buscando mais uma vez oxigênio
para meu desassossego. As metáforas realizam esse feito.
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Eles nos ensinam que o caos existente no interior de nossos sentimentos, que o
enfrentamento da morte, da dor e do delírio prazeroso, além de não nos destruir, é a
trilha possível para perceber a realidade. Um conhecer que junta as três filhas do
caos — arte, filosofia e ciência.
Penso que esse caminho só pode ser trilhado se o nosso pensamento praticar o
abraço, como nos seduz Almeida (1998). Saber praticar o abraço é promover a
dialógica entre a universalidade e a singularidade, é exercitar uma estrutura mental
aberta ao acolhimento e à hospitalidade, mas também às ruínas e à desordem.
Será que podemos pensar em uma medicina com paixão, capaz de acolher, como a
um pássaro, o sofrimento do doente? Esta pergunta me desassossega. Aquele
paciente de HIV positivo faleceu grávido de um abraço de seu médico; enquanto o
personagem Johnny sentiu sua alma abraçada nos gestos silenciosos da
enfermeira.
E as cenas reais vivenciadas pelos pequenos pacientes dos doutores da UPI! nos
ensinam a reencontrar o que há de mais humano em nós. Primeiro passo para
rasgar o guarda-sol e inventarmos outras verdades, inventarmos uma racionalidade
humana, demasiadamente humana.
“Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é passível de fazer
sentido. Eu não: quero é uma verdade inventada.”
Clarice Lispector
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Referências Bibliográficas
Página 182
FELLINI, F. Felline por Felline. 3. ed. Tradução de José Antônio Pinheiro Machado,
Paulo Hecker Filho e Zilá Bernd. Porto Alegre: L&PM, 1986.
Página 183
Racionalidades médicas e terapêuticas alternativas. In: Cadernos de Sociologia —
Saúde Coletiva, vol. 7. Programa de Pós Graduação em Sociologia, Porto Alegre:
UFRS, 1995.
MASUR, J. O frio pode ser quente? 16. ed. São Paulo: Ática, 1999.
Página 184
SACKS, O. O homem que confundiu sua mulher com o chapéu: e outras histórias
clínicas. Tradução de Laura Teixeira Mota. São Paulo: Companhia das Letras, 1997.
O bom humor evita doenças. Revista VEJA, Edição 1.708. Editora Abril, ano 34, n
27, 11 de julho de 2001 (98-101).
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Página 186
THOMSON
PSICOLOGIA DA SAÚDE
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A ÉTICA NA SAÚDE
Textos de Ana Maria L. C. de Feijoo, Viviane R. Soldati, Nelson Cruz dos Santos,
Marcia M. B. Bartilotti, Wilson Luiz Sanvito, Leo Pessuii, Heloisa B. de C. Chiattonc e
Ricardo \V Sebastiani. Tratar do tema “Etica” é sempre uma missão tão importante
quanto polêmica. Importante por ser componente fundamental de uma sociedade
organizada, que tenciona buscar e aprimorar o comportamento humano,
aperfeiçoando o relacionamento entre as pessoas e criando parâmetros de conduta.
Polêmica por estar ancorada no juízo pessoal, em códigos de conduta próprios ou
mesmo cm códigos impressos, mas que por muitas vezes dependem de
interpretações pessoais. Está dividido cm 9 capítulos, com diversas abordagens
sobre o tema.
DEPRESSÃO E PSICOSSOMÁTICA
VALDEMAR A. ANGERAMI — CAMON (ORG.)
assim, um grande avanço nos estudos que visam a uma melhor compreensão do
fenômeno da depressão. Trata-se de mais um lançamento da Editora Pioneira
Thomson Learnmg que se coloca, outra vez, na vanguarda das discussões
contemporâneas envolvendo temáticas tão presentes na condição humana. Essa
obra certamente é indispensável a todos que se debruçam para um melhor
entendimento da depressão e de suas sequelas na vida humana.