A ABAP é uma associação que reúne mais de uma centena de profissionais da arquitetura e do
paisagismo com uma atuação voltada para a paisagem.
Há uma sequência de incorreções nos procedimentos adotados que podem trazer danos
irreversíveis ao patrimônio ambiental e cultural desta cidade. O parecer técnico para esta
campanha publicitária, contratado à empresa “Nehrer Sustentabilidade, Meio Ambiente e
Comunicação Ltda” não considera o fato de a projeção acontecer dentro de uma Unidade de
Conservação e tampouco há análise adequada com relação aos impactos para a biota local. Da
mesma forma, não há qualquer menção sobre o fato de a área ter proteção como sítio do
Patrimônio Mundial e sobre o uso privado para uma campanha de marketing da imagem de
um bem público da cidade, reconhecido internacionalmente.
Nos causa enorme estranheza a súbita liberação dessa ação pela prefeitura, contrariando
todos os procedimentos anteriores. Sobretudo, nos causa preocupação a realização dessa ação
sobre um monumento como o Pão-de-Açúcar, patrimônio tombado pelo IPHAN e elemento
central do sítio Patrimônio Mundial, sem a devida autorização deste órgão. Dessa forma, além
de estar em desacordo com as normas nacionais de preservação, esta ação também contraria
os compromissos assumidos com a Unesco para a preservação do sítio, presentes no plano de
gestão entregue em 2014 e que prevê a manutenção dos níveis de proteção existentes e
consulta prévia à sociedade.
Lembramos que pareceres técnicos anteriores já vedaram projeções luminosas nos costões da
cidade, baseados em informações científicas como consta no parecer técnico n. 003/2011 da
própria Secretaria Municipal de Meio Ambiente que resultou o Ofício 716/SMAC, que neste
momento muda a entendimento e passa a autorizar essas ações. No âmbito federal, sequer
consultado, o parecer 002/96 do então Departamento de Proteção do Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional já apontou claramente os impactos e vedou tentativas de ações
semelhantes relacionadas a projeções e iluminação, sejam permanentes ou mesmo
momentâneas nos costões da cidade. No referido parecer, elaborado por Carlos Fernando
Delphin e Marta Queiroga Amoroso Anastácio, referências na área, são analisados os
fundamentos do tombamento do Penhasco Dois Irmãos, incluídos no mesmo processo que o
Pão-de-Açúcar e outros morros da cidade (Processo 869-T-73), e termina por apontar para a
iluminação do referido morro como “clara e imediatamente percebida como antagônica à sua
preservação” indicando também seus impactos sobre o meio físico, o meio biótico e o meio
antrópico.
Nos salta aos olhos que uma empresa preocupada com sua imagem e com a preservação
ambiental e cultural tome uma atitude como esta em uma cidade como o Rio de Janeiro que
tem na sua paisagem um dos seus bens mais importantes.
Esta mesma preocupação já foi manifestada por diversas outras associações da sociedade civil
que não foram ouvidas, nem nos fóruns adequados para tal, como o Comitê Gestor do
Patrimônio Mundial. Manifestamos a preocupação com essa ação que, além de gerar um
impacto ambiental que não foi devidamente analisado, promove a associação de uma imagem
importante de um monumento patrimônio mundial e da cidade com uma empresa, abrindo
um importante precedente e rompe com o entendimento anterior que vedava esse tipo de
ação, presente em vários documentos, sem estudos adequados e sem qualquer consulta à
sociedade.