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Sentidos em movimento: identidade e argumentação
referências
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Recursos persuasivos
nos textos de auto-ajuda
Arnaldo Cortina
1. Uma descrição mais detalhada da pesquisa que deu origem a minha tese de livre-docência pode
ser verificada em Cortina (2006 e 2007).
Coleção Mestrado em Lingüística
Por meio do levantamento das listas dos livros mais vendidos no Brasil
entre 1966 e 2004, em Cortina (2006), constituí um corpus, formado pela
relação de 58 livros, que correspondia aos dez livros mais vendidos em cada
uma das décadas a que se referiu o período da pesquisa, quais sejam, década
de 1960, de 1970, de 1980, de 1990 e de 20002. Desses 58 livros, tratarei
neste texto de apenas sete, exatamente aqueles que foram elencados entre
as obras que pertenciam a um conjunto classificado tipologicamente como
livros de “auto-ajuda”. Nessa categoria de textos, os sete que serão aqui
examinados pertencem a uma subcategoria por mim designada “autoco-
nhecimento”. Com o objetivo de auxiliar seus leitores no enfrentamento de
diferentes situações próprias da vida de qualquer pessoa comum, a vertente
do “autoconhecimento” da categoria de auto-ajuda funciona como um
texto programador. Todas as obras desse subtipo oferecerão técnicas ou
“formas de pensamento” que têm uma função terapêutica.
Resta dizer ainda que a concepção teórico-metodológica que deu
suporte à pesquisa com os livros mais vendidos no Brasil, e que será a
base da discussão sobre os recursos persuasivos proposta para este tex-
to, é a semiótica discursiva. Originária dos trabalhos de Greimas, cuja
obra fundadora é Semântica estrutural, Greimas (1976), a semiótica
constitui-se em uma das perspectivas dos estudos da linguagem que se
debruça sobre a questão da significação, entendida como o resultado de
articulações do sentido. Ao invés de se ocupar do que se poderia chamar
“sentido verdadeiro” do texto, entendido como o produto de um discurso
enunciado, a semiótica focaliza seu simulacro, isto é, o parecer verdadeiro
(Greimas; Courtés, s/d).
Numa versão clássica da semiótica, o sentido é constituído a partir
de um percurso gerativo, que compreende três diferentes instâncias: a
fundamental, a narrativa e a discursiva. Numa visão mais contemporânea
2. Não se trata de erro de cálculo matemático. A razão pela qual o levantamento do corpus que
abarca seis décadas, selecionando-se para cada uma delas os 10 livros mais vendidos, chegou a um
total de 58 obras e não a um de 60, deveu-se ao fato de que dois livros apareceram repetidamente
em duas listas. Um deles foi O meu pé de laranja lima, de José Mauro de Vasconcelos (entre os mais
vendidos das décadas de 1960 e 1970) e outro, Virando a própria mesa, de Ricardo Semler (entre os
mais vendidos das décadas de 1970 e 1980).
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É para esse “leitor amigo” que o enunciador irá propor uma fórmula
para alcançar o sucesso, a satisfação pessoal. O recurso à intimidade é
uma estratégia do discurso para instaurar um efeito de subjetividade,
isto é, para aproximar o sujeito que fala, a imagem de autor construída
em seu interior, do sujeito com quem ele fala, imagem de leitor a quem
se dirige. Ao discutir o que entende por sucesso no primeiro capítulo do
livro, seu discurso faz uso do argumento da ilustração. No sentido em
que Perelman e Olbrechts-Tyteca (1996) empregam esse termo, a ilustra-
ção consiste num caso particular que confirma a regra geral enunciada.
Observemos o seguinte trecho do livro de Ribeiro:
Uma pessoa bem-sucedida não é muito diferente de
outra que não consegue o que quer na vida.
A distância é muito menor do que parece. O su-
cesso mede-se em centímetros. Veja por exemplo,
na figura 1, a chegada de uma corrida de cavalos3.
O primeiro colocado ganhou um prêmio de 15 mil
dólares e, o segundo, de cinco mil dólares. Isso quer
dizer que o primeiro cavalo seria três vezes mais
rápido que o segundo? Claro que não! Na verdade,
se medirmos a diferença da chegada entre eles e
dividirmos pelo total da pista, quanto mais rápido o
segundo colocado precisaria ter corrido para chegar
na frente do primeiro? Quase nada!
Isto significa que uma pequena diferença em desem-
penho faz uma tremenda diferença no resultado.
Daqui a uma semana, todos vão se lembrar do nome
do cavalo vencedor e já terão se esquecido do segun-
do. Mas a diferença entre os dois foi mínima!
3. Do lado esquerdo da página onde está localizado o trecho citado aparece um desenho, aqui
reproduzido, com dois cavalos de corrida disputando cabeça a cabeça o páreo. O que chegou em
primeiro lugar está a uma distância de alguns centímetros do segundo, o que é demonstrado pela
presença de uma escala de régua acima dos desenhos dos cavalos.
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a ciência não tem respostas. E é por esse motivo que o assunto em torno
do qual o texto é construído é a “felicidade”. A ciência não tem uma
explicação para esse sentimento, mas a filosofia religiosa professada pelo
monge budista tem. Uma vez mais a condição de “manual de instrução”
para a aquisição de um saber é referida: tanto na construção do discurso,
quanto na própria apresentação do livro, que tem como subtítulo “Um
manual para a vida”. Vejamos um trecho do texto:
– Para mim o próprio objetivo da vida é perseguir
a felicidade. Isso está claro. Se acreditamos em
religião, ou não; se acreditamos nesta religião ou
naquela; todos estamos procurando algo melhor na
vida. Por isso, para mim, o próprio movimento da
nossa vida é no sentido da felicidade...
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À guisa de conclusão
Referências
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Bibliografia do corpus
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