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Escola Plena Carlos Hugueney

Atividades Escolares/Setembro 2020


Ensino Médio

SOCIOLOGIA

CURSO: ENSINO MÉDIO TURMA: 2º ANO PERÍODO : INTEGRAL

PROFESSOR (A): NOEL A. DOS SANTOS ALUNO:

1. PENSANDO A SOCIENDADE

A Sociologia é uma ciência que se concentra no estudo das relações sociais. Seu fundamento, no
entanto, dá ênfase às relações sociais que têm certa regularidade. O estudo sociológico entende que há
determinados modos de vida, de comportamento e de conduta que se reproduzem e aparecem
historicamente com frequência. A vida em sociedade não pode ser entendida como um processo aleatório,
no qual tudo pode acontecer. Pelo contrário, as relações sociais são sempre resultado de processos
históricos, isto é, têm sua base em um passado de outras relações sociais.
Nesta etapa do ensino de Sociologia vamos conhecer os três grandes clássicos da Sociologia: Émile
Durkheim, Max Weber e Karl Marx. A introdução ao pensamento desses autores é de fundamental
importância, pois é com base em suas obras que a Sociologia se constituiu como disciplina científica
distinta das ciências da natureza e das ciências exatas.

2. O CAPITALISMO E O PENSAMENTO CLÁSSICO

Desde o século XVI, diversas transformações sociais vêm caracterizando o que hoje chamamos de
capitalismo. A vida em sociedade ganhou um formato específico, isto é, formas de produção, de
conhecimento, de cultura e de consumo foram constituídas ao longo dos últimos cinco séculos, conferindo
uma feição particular à sociedade capitalista, que é diferente daquelas que a precederam. Entretanto, o
capitalismo teve origem nas sociedades feudais, organizadas em torno do trabalho servil e da produção
agrícola localizada nos feudos.
A vida em sociedade se desenvolveu com base em uma série de acontecimentos históricos. A
sociedade em que vivemos hoje é resultado de transformações históricas geradas nos séculos anteriores. O
acúmulo de experiências sociais constitui o conjunto das condutas sociais , necessidades, padrões culturais
e de comportamento, formas de organização política e do conhecimento científico que reproduzimos hoje.
A produção e a reprodução social são, portanto, uma síntese de acontecimentos históricos.
A formação da Sociologia é também resultado do processo de consolidação da sociedade capitalista.
Esse campo de estudo só pôde se manifestar porque já existiam os elementos sociais necessários ao seu
surgimento. Como todo e qualquer acontecimento histórico, a origem da Sociologia tem relação direta com
as necessidades sociais que se manifestaram no momento de seu nascimento. Ou seja, a origem da
Sociologia está relacionada à própria forma como o capitalismo se difundiu nos séculos XIX e XX.
A indústria teve grande desenvolvimento, transformando os modos de organização das cidades. Na
Europa do século XVIII, em que a dinâmica da sociedade era ditada pela indústria de tecidos, um dos
objetivos da ciência era incrementar a produção de mercadorias, a fim de torná- la mais eficiente, rápida e
barata. Com a introdução das máquinas, a produtividade aumentou vertiginosamente, e o trabalhador foi
condicionado ao ritmo das máquinas.

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À semelhança da divisão do trabalho na indústria, o conhecimento científico começou a sofrer
divisões. Novas práticas científicas e novas formas de conhecer a vida em sociedade seguiram o padrão
de desenvolvimento industrial. Assim, as transformações produtivas tiveram grande influência e peso
sobre a origem da Sociologia e de outras Ciências Sociais, como a Economia, a Antropologia e a Ciência
Política.
Foi nesse contexto que surgiram os três grandes pensadores clássicos da Sociologia: Émile
Durkheim, Max Weber e Karl Marx. Na Alemanha do século XIX, Marx argumentava que as condições
materiais de existência eram determinantes na vida em sociedade. Segundo ele, a humanidade é responsável
por realizar sua própria história. Não há, assim, um destino predeterminado. A luta entre grupos sociais
com interesses antagônicos constitui a base da mudança e das transformações sociais. Com isso, as
explicações fundamentadas em crenças espirituais devem dar lugar à ideia de que a vida em sociedade é
condicionada pelo conflito entre grupos com interesses opostos.
Já o sociólogo francês Émile Durkheim, na virada do século XIX para o XX, aproximou a
Sociologia do método das Ciências Naturais. Para esse autor, a sociedade era como um organismo vivo, e
cada parte desse organismo se relacionava com o todo (o organismo social) na medida em que dependia
dele. A integração social foi tema central da obra de Durkheim, sobretudo porque ele considerava que a
sociedade exercia uma força (uma coerção) sobre os indivíduos, moldando-os à sua semelhança.
No início do século XX, Max Weber inverteu o princípio geral de Durkheim. Em lugar de pensar a
sociedade espelhada nos indivíduos, Weber entendia que as ações dos indivíduos eram orientadas por outras
ações, isto é, uma ação social tinha como referência um conjunto de outras ações. Nesse sentido, a ação
social tanto era influenciada por outras ações individuais como as influenciava. Weber elegeu, assim, a
ação social como objeto central de sua análise sociológica.
Como você pôde observar, a origem da Sociologia tem relação direta com a história do capitalismo,
especialmente com o desenvolvimento industrial e político do século XIX. Podemos dizer que a Sociologia
nasceu em razão desse desenvolvimento e pela necessidade de explicar as transformações sociais ocorridas
no século XIX. Karl Marx contribuiu para a análise do capitalismo na medida em que construiu uma teoria
segundo a qual a sociedade passou a ser entendida como resultado de embates entre grupos sociais distintos.
Durkheim, por sua vez, procurou explicar a desordem provocada pelas transformações políticas e
industriais, buscando a unidade em um mundo cada vez mais compartimentado pela divisão do trabalho.
Sua sociologia tratou de ordenar uma sociedade caótica, tentando encontrar um estado de equilíbrio social.
Max Weber, por fim, entendeu que a Sociologia deveria partir da análise da ação do indivíduo, sem que
houvesse, entretanto, oposição entre o indivíduo e a sociedade. Para Weber, as normas sociais só se tornam
concretas no momento em que cada indivíduo as manifesta. A ação individual, portanto, é sempre orientada
pela ação de outra pessoa.

3. PERFIL DE ÉMILE DURKHEIM

Émile Durkheim viveu entre 1858 e 1917, na França. Formou- se em Filosofia na École Normale
Supérieure (ENS), em Paris. Desde cedo se interessou pelo estudo da sociedade, influenciado pela
leitura do pensador inglês Herbert Spencer e do filósofo francês Augusto Comte. Passou um tempo na
Alemanha, em seguida trabalhou na Universidade de Bordeaux, já como cientista social, e aí fundou
o primeiro departamento de Sociologia da Europa. Depois passou a lecionar Sociologia na Sorbonne
(Universidade de Paris), ganhando grande prestígio internacional.
O trabalho intelectual de Durkheim o tornou conhecido como um dos pais da Sociologia,
responsável por estabelecer o ponto de vista sociológico como fundamental para o entendimento da vida
em sociedade. Suas percepções sobre o fato social, a coesão social, a importância do sistema social e do

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método sociológico foram muito influentes no mundo inteiro. A sociologia de Durkheim e sua preocupação
com a ordem e o equilíbrio foram essenciais na constituição da Sociologia como disciplina reconhecida
academicamente.
Sua obra foi também fundamental para o desenvolvimento da Antropologia, principalmente As
formas elementares da vida religiosa, texto obrigatório nos cursos de formação antropológica. Sua
influência sobre a antropologia inglesa, por um lado, e francesa (através de seu sobrinho Marcel Mauss)
ajudou a definir a Antropologia no século XX.
Émile Durkheim, influenciado pela obra do filósofo francês Augusto Comte (1798-1857), que
sistematizou pela primeira vez a Sociologia como ciência específica, aproximando-a dos métodos das
ciências naturais, Durkheim procurou consolidar a Sociologia como ciência social distinta das ciências
naturais. Com esse objetivo, preocupou-se em desenvolver uma teoria e um método de análise com
conceitos específicos para o estudo da vida em sociedade. Como veremos a seguir, os fundamentos da
sociologia de Durkheim podem ser resumidos nos conceitos de coesão, de divisão do trabalho (ou
especialização do trabalho) e de fato social.
Durkheim foi particularmente influenciado pelos desdobramentos históricos dos séculos XVIII e
XIX. A Europa do século XIX desenvolveu-se em torno dos preceitos da Revolução Industrial e da
Revolução Francesa. A Revolução Industrial, iniciada em meados do século XVIII, intensificou
brutalmente a produção de mercadorias. Valendo-se dos avanços tecnológicos introduzidos nas fábricas, a
produção industrial na Inglaterra do século XVIII se expandiu para outros países no século XIX, tornando-
se o centro de organização da vida social.
Já a Revolução Francesa, que teve seu desfecho em 1789, foi marcada por transformações
políticas estruturais. A sociedade feudal, que precedeu a sociedade capitalista, foi destruída. As
instituições políticas feudais deram lugar às organizações políticas capitalistas. A monarquia foi
substituída por instituições políticas que tinham como fundamento os ideais de liberdade, igualdade
e fraternidade. As escolas, antes controladas pela Igreja, passaram às mãos do Estado, tornando-se
laicas. A livre- iniciativa foi estimulada por novas regras e leis.
No fim do século XIX, Durkheim observava esse acelerado processo de transformação social,
singular mente impulsionado pela indústria, e tentava responder à seguinte questão: como pode a sociedade
capitalista, que se divide e se especializa em funções cada vez mais heterogêneas, garantir uma unidade,
uma coesão social? Em busca de uma explicação sociológica para essa dinâmica, Durkheim procurava
entender a unidade social em um mundo cada vez mais dividido pela especialização do trabalho. Ele se
perguntava como indivíduos tão diferentes, em funções sociais tão distintas, poderiam se integrar
socialmente.
Para explicar esse processo de diferenciação, Durkheim partiu da seguinte hipótese: todas as
sociedades se caracterizam por algum tipo de divisão (especialização) do trabalho. Ou seja, ao longo do
desenvolvimento das sociedades, os indivíduos tendem a se tornar cada vez mais diferentes uns dos outros.
Em sociedades com menor divisão do trabalho, os indivíduos são mais semelhantes entre si quando
comparados aos que pertencem a sociedades em que a divisão do trabalho é maior.
É nessa perspectiva que Durkheim observa a coesão social. Em sociedades que desenvolveram
muito a divisão do trabalho predomina uma dinâmica dupla. Ao mesmo tempo que ocorre uma
diferenciação profissional, cria-se uma interdependência funcional entre os indivíduos. Os laços sociais,
a rede de interdependência, caracterizam uma forma de coesão social. Em sociedades que desenvolveram
menos a divisão do trabalho, são as crenças que garantem a unidade social, já que o processo de
especialização das funções profissionais ainda é rudimentar.
Para esclarecer melhor, podemos comparar duas sociedades: uma sociedade feudal e uma
sociedade industrial. Em uma sociedade feudal hipotética, a divisão do trabalho se dá com base em

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atividades predominantemente agrícolas. Os servos trabalham na maior parte do mês em benefício do
senhor feudal e reservam apenas uma pequena parte do seu tempo para prover sua subsistência e a de sua
família. As técnicas de trabalho são rudimentares e as tarefas estão ligadas ao plantio, à colheita e ao
cuidado com os animais. Há grande semelhança entre as técnicas produtivas empregadas nos diferentes
feudos.

3.1 Émile durkheim - coesão e fato social

Já na sociedade industrial, ocorre uma intensa divisão do trabalho: mulheres e homens exercem
funções extremamente diferenciadas. Existem faxineiros, pedreiros, carpinteiros, publicitários,
professores, operários, comerciantes, só para citar um pequeno número de profissões, e dentro dessas
profissões ainda há várias subdivisões. Entre os professores, por exemplo, estão os que ensinam
Matemática, Física, Sociologia, Antropologia, Biologia, Arte, Educação Física, etc. Para Durkheim, essas
sociedades são mais especializadas, têm maior grau de divisão profissional, o que acaba por caracterizar
indivíduos muito diferenciados entre si.
A divisão do trabalho é, para Durkheim, o elemento social que impulsiona o desenvolvimento das
sociedades. As funções sociais são fundamentais para sua análise, e, por isso, a Sociologia desse autor foi
considerada “funcionalista”. Esse foi o aspecto que influenciou os antropólogos que estudamos
anteriormente. Entretanto, para refletir sobre a divisão do trabalho, Durkheim desenvolveu outros conceitos
importantes. Entre eles, o conceito de fato social, essencial para definir o que é próprio ou não do campo
sociológico.
Com o objetivo de criar conceitos com o maior rigor possível, Durkheim entendia o fato social como
uma coisa, um fenômeno tão apreensível quanto qualquer elemento físico ou biológico. Os fatos sociais
seriam, assim, formas de pensar, sentir e agir que exercem uma força externa (uma coerção) sobre os
indivíduos. Para Durkheim, a sociedade precedia os indivíduos e agia sobre eles, determinando suas formas
de ser. Assim, um fato social poderia ser reconhecível com base na coerção social imposta a um ou mais
indivíduos.
Levando isso em conta, só seria considerado fato social o fenômeno que apresentasse:
• Uma generalidade (que estivesse presente e fosse reconhecível em toda uma sociedade ou
grupo social);
• Uma externalidade (que fosse exterior às consciências sociais, isto é, que existisse
independentemente da vontade e dos anseios do indivíduo);
• Uma força coercitiva externa aos indivíduos, moldando as vontades individuais ao coletivo.
Nesse sentido, a sociologia de Durkheim, além de funciona- lista, é também considerada
estruturalista, na medida em que a sociedade (a estrutura social) determinaria as condutas
individuais.
Exemplos de fatos sociais são o direito, a educação, a divisão do trabalho, as crenças religiosas e
políticas, os esportes. O futebol, por exemplo, é um fato social na medida em que está presente em toda a
sociedade brasileira. É externo aos indivíduos, pois sua existência não depende da vontade individual. É
também coercitivo, pois impõe aos indivíduos um padrão esportivo. Além disso, muitos meninos
brasileiros desejam ser, em primeiro lugar, jogadores de futebol. Esse “desejo” pode ser visto como coerção
externa, propriamente social.
Nos termos de Durkheim, a Sociologia deve ter como fundamento o estudo dos fatos sociais.
Aqueles fenômenos que não estiverem dentro de sua definição serão considerados do domínio de outras
ciências. Para Émile Durkheim, a Sociologia é a ciência que estuda os fatos sociais.

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REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA1

ARANHA, Mária Lúcia de Arruda [et.al]. Filosofando. Volume Único. São Paulo: Editora Moderno, 2009.
AMORIM, Richard Garcia [et.al] Filosofia. Volume 1 e 2. São Paulo: Editora Bernoulli

QUESTÕES

1. O sociólogo francês Émile Durkheim (1858- 1917), em sua obra As Regras do Método Sociológico,
ocupou-se em estabelecer o objeto de estudo da sociologia. Entre as constatações de Durkheim, está a de
que o fato social não pode ser definido pela sua generalidade no interior de uma sociedade. Nessa obra,
Durkheim elabora um tratamento científico dos fatos sociais e cria uma base para a sociologia no interior
de um conjunto coeso de disciplinas sociais, visando fornecer uma base racional e sistemática da sociedade
civil. Sobre o significado do fato social para Durkheim, é correto afirmar que:
a) os fenômenos sociais, embora obviamente inexistentes sem os seres humanos, residem nos seres
humanos como indivíduos, ou seja, os fatos sociais são os estados mentais ou emoções dos indivíduos.
b) os fatos sociais, parecem, aos indivíduos, uma realidade que pode ser evitada, de maneira que se
apresenta dependente de sua vontade. Nesse sentido, desobedecer a uma norma social não conduz o
indivíduo a sanções punitivas.
c) a proposição fundamental do método de Durkheim é a de que os fatos sociais devem ser tratados como
coisas, ou seja, como objeto do conhecimento que a inteligência não penetra de forma natural, mas através
da observação e da experimentação.
d) Durkheim considera os fatos sociais como coisas materiais. Pode-se afirmar, portanto, que todo objeto
de ciência é uma coisa material e deve ser abordado a partir do princípio de que o seu estudo deve ser
abordado sem ignorar completamente o que são.
e) os fatos sociais são semelhantes aos fatos psíquicos, pois apresentam um substrato semelhante e evoluem
no mesmo meio, de maneira que dependem das mesmas condições.

2. (UFMA) – Os principais fatos histórico-sociais que propiciaram o surgimento da sociologia foram:


a) a Revolução dos cravos em Portugal e a Revolução Moçambicana.
b) a Revolução Industrial e a Revolução Francesa.
c) a Revolução Russa e a Revolução Chinesa.
d) a Revolução Mexicana e a Revolução Nicaraguense.
e) a Revolução Cubana e a Revolução Chinesa.

3. (UFU/2015) – A concepção da Sociologia de Durkheim se baseia em uma teoria do fato social. Seu
objetivo é demonstrar que pode e deve existir uma Sociologia objetiva e científica, conforme o modelo das
outras ciências, tendo por objeto o fato social.

ARON, R. As etapas do pensamento sociológico. São Paulo: Martins Fontes, 1995. p. 336.
Em vista do exposto, assinale a alternativa correta.

a) Segundo Durkheim, a primeira regra, e a mais fundamental, é considerar os fatos sociais como coisas
para serem analisadas.

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b) Durkheim demonstrou que o fato social está desconectado dos padrões de comportamento culturais do
indivíduo em sociedade e, portanto, deve ser usado para explicar apenas alguns tipos de sociedade.
c) O estado normal da sociedade para Durkheim é o estado de anomia, quando todos os indivíduos exercem
bem os fatos sociais.
d) A solidariedade orgânica, para Durkheim, possui pequena divisão do trabalho social, como pode ser
demonstrada pela análise dos fatos sociais da sociedade.

4. De acordo com Émile Durkheim, os fatos sociais são características que moldam o comportamento dos
indivíduos em sociedade. Os fatos sociais são definidos pelo autor como sendo:
a) Exteriores ao indivíduo, expressivos e generalizados.
b) Generalizados, expressivos e naturais.
c) Exteriores ao indivíduo, coercitivos e generalizados.
d) Coercitivos, naturais e expressivos.

5. Cite o nome dos três pensadores clássicos da Sociologia.

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