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Diagramação│Simone Schneider
Revisão NÃO PROFISSIONAL
Capa │M. S Designer Editorial
É proibida a reprodução total ou parcial desta obra de qualquer formar ou quaisquer meios
eletrônicos, mecânicos e processo xenográfico, sem a permissão da autora. (Lei 9.610/98)
Ela colocou uma taça bem cheia de sorvete para ela e Kevin, óbvio que o
seu estava duas vezes maior e com mais calda, salivava tanto que tinha medo
de que ele visse a baba escorrer por sua boca.
Sentou no sofá e colou as pernas esticadas em cima dele. Kevin não fez
menção de pegar o sorvete servido, apenas entrou na casa e desde então
observava atentamente cada parte da sala, vez ou outra tocando um objeto, ou
um quadro dependurado que Emily pintou, era um desenho aleatório, apenas
uma forma de expressar o que sentia, a arte a movia.
Colocou uma colher na boca e sentiu como se estivesse no paraíso,
fechou os olhos e apreciou o sabor doce em sua boca, suspirando de prazer e
satisfação. Essa era uma das partes boas de estar grávida, quando desejava
comer algo, o sabor parecia diferente, melhor, beirava ao divino.
— Ai, meu Deus! Isso é realmente maravilhoso! - Exclamou extasiada
com os olhos ainda fechados enquanto saboreava a primeira colher.
Quando abriu os olhos viu que Kevin a encarava de forma intensa,
desviou os olhos envergonhada por ser observada num momento tão íntimo.
— Eu não quero que você saia sozinha de casa. - Era uma ordem, e fez
questão de deixar evidente, que não queria ser contrariado.
— Você só pode estar de brincadeira, não tem como eu conseguir alguém
para ficar comigo agora. - Disse enquanto tomava mais do sorvete com
colheradas generosas.
— Você está sendo irresponsável ao extremo. Acha que pode ficar
sozinha nessas condições? - Encostou a colher na taça e respirou fundo, o
encarando com certa impaciência.
— Eu não estou doente, Sr. Daime. - Ele estava de pé, ao lado da
poltrona, a mais próxima da saída e parecia bastante irritado, o que parecia
ser sua marca registrada, no entanto, Emily não se importou com seu tom
arrogante.
— E quando os bebês nascerem, quem vai cuidar de você e das crianças?
- Questionou com impaciência.
— Bem, eu tenho uma prima que mora a alguns quilômetros daqui. Ela
vai me ajudar no que eu precisar nos primeiros dias, mas acredito, que logo
que eu me recupere, posso muito bem cuidar dos meus filhos. - Voltou a
tomar mais do sorvete que já começava a derreter, chateada por ele atrapalhar
um momento como aquele, em que saboreava seu objeto de desejo.
— Isso não parece ser o suficiente ou o adequado, são dois bebês, irei
assumir as responsabilidades a partir de agora, você vai ter que se mudar para
um apartamento mais próximo ao centro e vou contratar enfermeiras para
acompanhá-la vinte quatro horas por dia.
Emily ficou de boca aberta diante de tanta extravagância, não havia
necessidade para tanto e ela já tinha tudo planejado.
— Isso não vai acontecer. - Disse categórica, não estava aberta a
negociações, muito menos que ele controlasse ou dissesse o que faria ou
deixaria de fazer.
— Pode apostar que vai. Exijo que um teste de DNA seja feito assim que
as crianças nascerem. - Emily já esperava pelo pedido, afinal, eram
desconhecidos e ele não parecia fazer o tipo que confiava facilmente.
— Entendo. - Terminou sua porção e ainda não estava satisfeita, poderia
tomar o pote inteiro, mas manteria a compostura na presença do grande e
estúpido empresário. — Você pode pegar para mim o sorvete que coloquei
para você? - O pedido foi atendido de pronto sem questionamentos ou
recriminação.
— Se o teste for positivo...
— Vai ser positivo. - O interrompeu imediatamente, sem que pudesse
controlar a língua, o encarando sem desviar de seus olhos verdes.
— Como eu ia dizendo, se for positivo faremos um contrato. - Emily
parou de tomar seu sorvete, desconfiada com o andar do diálogo.
— Que tipo de contrato?
— Eu vou querer a guarda dos meus filhos. - A boca de Emily ficou seca.
Seu estômago começou a revirar então correu mais uma vez para o banheiro
fechando a porta com força. — Emily, o que está acontecendo? - Se inclinou
no sanitário e vomitou tudo que havia engolido. Quando parou sua garganta e
seus olhos ardiam terrivelmente.
— Abra essa maldita porta ou a arrebento! - Limpou-se, trêmula, na pia, e
abriu a porta.
Parou quando viu preocupação verdadeira nos olhos de Kevin, mas ela
não podia de forma alguma se deixar enganar por aqueles olhos penetrantes.
— Estou bem. - Sussurrou com a garganta seca a voz saindo esganiçada.
Ele lhe deu espaço para sair e Emily foi até a geladeira e tomou um copo
de água com breves goles, para não vomitar o líquido também.
— Isso acontece com muita frequência? - Quis saber, já a seu lado.
— Mais do que eu gostaria. - Prendeu os cabelos e voltou para sala
recolhendo as taças e as colocando na pia. Parou ao lado da bancada e o
encarou. — Não pense que vai tomar de mim, meus filhos, isso jamais vai
acontecer, eu nunca irei impedir você de vê-los e fazer parte da vida deles,
mas é só isso, não abrirei mão da guarda.
Os olhos dele brilhavam, e Emily sabia que Kevin não iria desistir
facilmente de seu plano, ele colocou as mãos nos bolsos da calça e a encarou
longamente.
— O que está pretendendo, Emily? O que você realmente quer? - Emily
não entendeu a pergunta fria e carregada de desconfiança.
— Acho que já deixei claro o que quero, podemos fazer um acordo com
relação ao pagamento do valor da cirurgia, sei o quanto pode demorar, mas
tenha certeza, que eu o farei, pagarei cada centavo gasto.
Agora ela entendia o que aquele brilho nos olhos dele queriam dizer, ele
estava desconfiado. Desconfiava dela, desconfiava de suas intenções.
— Não confio em você. - Disse em alto e bom tom. - Como posso confiar
em uma mulher que se entregou a um desconhecido? - A pergunta a chocou,
mas Kevin tinha razão, ela fez isso, não se arrependia, mas jamais diria isso
ao homem diante de si.
— Você não precisa confiar em mim, Sr. Daime.
— Pare de me chamar assim, droga! - Explodiu, assustando-a, ele desviou
os olhos e respirou fundo. — Irei falar com seu médico amanhã. - Contou ele,
instantes depois do ataque de fúria. — E tratarei de todo o processo
necessário, o apartamento vai estar a sua disposição, se assim você preferir,
mas a partir de hoje, não teremos mais nenhum contato, quando as crianças
nascerem irei vê-las e meu advogado vai providenciar o exame de DNA. -
Emily engoliu em seco ao ouvir a decisão dele. — A partir de agora, seremos
estranhos um para o outro, você é apenas a mãe dos meus prováveis filhos,
quero que isso fique bem claro.
Ele a encarou para que ficasse evidente o que ele queria, minutos depois
saiu sem se despedir deixando-a no mesmo lugar, sem ar.
Sentia, que esse era só o começo.
S
ubiu as escadas para seu quarto e deitou-se, cobriu-se com uma das
mantas que ela mesma havia tricotado e chorou molhando o travesseiro.
Havia fantasiado um Kevin totalmente diferente do que mostrou
ser. Sabia o quanto ele podia ser um idiota e insensível, mas o Kevin que ela
havia criado na cabeça era totalmente o oposto.
O Homem que ela idealizou para contar aos seus filhos era totalmente
diferente do que ele realmente era. Odiou a si mesma por ser tão estúpida e
infantil.
Acabou dormindo enquanto chorava e no dia seguinte estava se sentindo
melhor, pois pelo menos havia dormido bem, o peso havia finalmente
deixado seus ombros e o procedimento necessário seria feito assim que seu
filho nascesse e ele iria ficar bem, tinha que ficar bem.
— Bom dia. — Disse acariciando o ventre e recebendo um chute forte, na
mesma hora, como resposta. — Au! Vocês têm que começar a pegar leve
com a mamãe. — Disse sorrindo.
Levantou e conseguiu comer seu desjejum sem precisar correr para o
banheiro depois e ficou feliz por isso. Deixou tudo limpo e foi para seu ateliê.
Sua casa era modesta e pequena, não tinha qualquer extravagância. Era
uma construção antiga de dois andares, o andar de baixo ficavam a sala, o
quarto de hospede, o qual ela transformou em ateliê, o banheiro social,
cozinha e a área de serviço.
No andar de cima tinha seu quarto, que era o cômodo maior da casa, ali
tinha um banheiro próprio e até um closet, o outro quarto seria o de seus
filhos, já estava quase tudo pronto para eles, estava bem adiantada com a
decoração e enxoval.
As paredes já estavam pintadas e enfeitadas com desenhos de bonecas e
carrinhos, ela mesma desenhou. Tinha jeito para essas coisas e às vezes fazia
isso profissionalmente. Mentiu ao dizer para Kevin que tinha o próprio
negócio, ela tinha, mas só podia atender um ou dois clientes por ano o que
tornava a coisa nada formal. Fazia enxovais para bebês, todo ele, se os pais
assim desejassem.
Costurava, bordava e tricotava entre outras coisas, e tudo era feito com
tamanha perfeição que a mesma não acreditava que tivesse realizado tal feito.
Muitas mães a procurava, e ela fazia o que podia, quando podia. Havia
terminado há dois meses sua última encomenda e agora se dedicava
exclusivamente ao seu próprio enxoval, tudo estava sendo feito com todo seu
amor e carinho, cada peça de roupa e sapatinho a deixava emocionada.
Estava tão ansiosa para que seus bebês usassem o quanto antes as
coisinhas que preparou, que passava boa parte do dia dentro do quarto deles,
ansiosa.
No dia seguinte recebeu a ligação de seu médico confirmando a visita do
pai de seus bebês, ele estava feliz por saber que seu pequeno teria uma
chance. Emily nem havia pensado mais em Kevin ele não merecia, mas não
pensar estava ficando cada vez mais difícil.
Saiu para comprar algumas linhas e botões e ao passar na banca de jornal
não resistiu e olhou as capas das revistas. Ele estava estampado nelas, claro.
Em algumas mencionavam o belo trabalho, e em outras qual era sua mais
nova conquista, ele sorria para uma loira muito bonita, o sorriso era frio, mas
ele sorria, mesmo que seus olhos não houvesse nenhum humor.
Não soube explicar porque, mas ver aquilo a machucou demais. Ao
chegar em casa chorou feito uma criança e ficou com raiva de si mesma ao
constatar que estava apaixonada pelo homem errado, o homem que a odiava.
As semanas passaram rápido, sem mais nenhum contato de Kevin ou de
algum representante dele. Dr. Paulo lhe disse, que seu parto já estava
marcado, teria que fazer uma cesárea, não ficou muito feliz com isso, pois
temia não estar acordada para ver com seus próprios olhos seus pequenos
virem ao mundo.
Na segunda-feira acordou com a campainha, que tocava insistente, eram
dez horas, ela havia, mais uma vez, dormido além da conta.
Vestiu rapidamente um roupão sobre a camisola grande e calçou suas
pantufas rosa. Abriu a porta e deu um passo para trás. Ficou cega durante um
segundo com os vários fleches em sua direção.
— Emily, pode nos contar como conheceu Kevin Daime? — Alguém
perguntou, ela não respondeu, fechou a porta e se recostou nela respirando
com dificuldade.
— Ai... Meu... Deus! — Trancou a porta e andou lentamente para o sofá.
Voltaram a bater em sua porta, mas ela não se atreveu a atender. Estava
encolhida no sofá sentido uma dor terrível nas costas, tentou relaxar, mas não
conseguiu.
Meia hora depois já estava começando a ficar desesperada. Foi quando o
telefone ao seu lado tocou, alto demais, a assustando. Ao atender a voz fria
do outro lado da linha era controlada demais para aquele momento.
— Estou na porta, abra agora. — Foi tudo o que ele disse e logo depois a
campainha soou, a essa altura suas costas doíam tanto que demorou uma
eternidade para levantar.
Quando chegou a porta estava sem fôlego. A abriu e Kevin entrou
fechando-a com força atrás de si.
— Acho que você conseguiu o que queria. — Disse ele, jogando, aos pés
de Emily, um jornal onde estava sua foto ao lado de Kevin andando na rua
onde a moça vive, o dia em que saiu para o comprar o sorvete, tendo ele
como acompanhante. — Eu já devia saber que tipos como você ambicionam
mais.
Emily não prestava muita atenção ao que ele dizia estava em choque com
a publicação aos seus pés.
***
Acordou com uma luz forte incomodando seus olhos. Virou para o outro
lado e ouviu um gemido. Paralisou quando os braços fortes de Kevin a puxou
para mais perto de si.
Sentiu um arrepio quando a mão dele pesou sobre seu ventre, fazendo
um carinho inconsciente. Os bebês mexiam loucamente totalmente despertos.
Kevin estava bem ali, na sua frente, seu belo rosto relaxado, seus lábios
um pouco entreabertos, o outro braço por baixo do pescoço de Emily, notou
que usava o mesmo como travesseiro.
Tudo que ouvia era a respiração dele e seu coração acelerado, estava tão
alto, que ela podia jurar que a casa inteira podia ouvi-lo.
Observou atentamente cada traço de seu rosto. A barba por fazer, as
madeixas de seu cabelo castanho claro em desalinho, sem camisa, vestindo
apenas uma calça moletom preta, vê-lo assim, semi despido lhe tirou o
fôlego. Ele era lindo demais. Estava ali, era seu marido, mas nunca o sentiu
tão distante, era como se nunca o alcançasse.
Ele sorriu em seu sono, quando sentiu os gêmeos chutando sua mão
quente. Eles gostavam do toque, tanto quanto ela. Gemeu baixinho ao sentir
um chute bem em sua costela, o que o acordou, quase teve um infarto ao ver
tão de perto seus belos olhos verdes como joias preciosas.
Seu vestido estava levantado, expondo sua barriga grande. Ele voltou os
olhos para o ventre e começou a acariciá-lo, enquanto sorria, se ergueu um
pouco e ela ficou paralisada o observando beijar sua barriga, fazendo seu
corpo ficar quente instantaneamente.
Tudo aconteceu rápido demais, ele se afastou, ela sentou e começou a
baixar o vestido.
— Como está se sentido? — Perguntou já levantando e apanhando a
camisa que estava sobre o baú aos pés da cama.
— Me sinto ótima. — O sol entrava pelo janelão de vidro, era cedo, o
relógio marcava cinco e meia.
Ele pegou um copo, encheu com água e estendeu para Emily.
— O médico disse que você precisava se hidratar bem, assim que
acordasse. — Ela pegou o copo e tomou um gole, sua garganta estava seca.
— Quando ele esteve aqui? — Estava confusa, lembrava de entrar no
quarto chorando descontroladamente e Judy ter dado um sedativo.
— Ontem.
— Depois da festa?
— Não.
— O que aconteceu comigo? — Ele parecia não querer responder,
estava um tanto impaciente, foi para o banheiro dela. — Kevin? — Chamou,
mas ele não respondeu, logo depois pôde ouvir o barulho do chuveiro.
Levantou e entrou no banheiro, paralisando a porta ao constatar que seu
marido tomava banho. Estava de costas para ela, e teve o vislumbre de seus
ombros largos e musculosos, sua cintura estreita e seu traseiro magnifico. Ele
se virou, a flagrando, não conseguiu controlar seus olhos para não olhar,
nunca tinha visto um homem nu, eles haviam transado na praia, mas ela
estava tão cega de desejo que não tinha visto muita coisa.
— Gosta do que vê? — Engoliu em seco, seu rosto queimando de
vergonha.
— Sim... quer dizer... — Era melhor não dizer nada. Ele ria dela, aquele
sorriso que fazia seu íntimo vibrar.
Ele desligou a água e caminhou até ela. Que ficou parada observando,
mantendo os olhos acima de seus ombros. Chegou bem perto, ela fechou os
olhos, mas nada aconteceu. E quando os abriu ele estava se cobrindo com a
toalha, com aquele sorriso no canto dos lábios. Se sentiu uma tola.
— Hoje é terça. — Ela ficou boquiaberta. Dormiu um dia inteiro. — A
enfermeira calculou mal seu calmante e você acabou tomando uma dose
muito grande.
Os cabelos dele pingavam, molhando o peito forte. Observar aquilo
deixava sua boca mais seca, pegou outra toalha e entregou a ele, que sorriu e
começou a secar o cabelo.
Se afastou, fechando os punhos para controlar o impulso louco de se
jogar nos braços de seu suposto marido.
— Pobre Judy, deve ter ficado desesperada, preciso falar com ela.
— Ela foi embora.
— Quando ela volta?
— Nunca mais. — Emily arregalou os olhos.
— Você a demitiu. — Pegou um prendedor e começou a juntar o cabelo,
fazendo um coque no cabelo curto. Sua aparência devia está péssima,
enquanto ele estava impecável.
— Ela colocou a vida dos meus filhos em risco. — Kevin começava a se
vestir ali mesmo, virou as costas quando ele tirou a toalha. Respirou fundo,
pois tinha perdido o ar por completo.
— Ela não teve culpa, eu estava muito nervosa, eu a deixei nervosa. —
Não podia permitir que Judy fosse colocada em uma situação de
imprudência, ela podia perder tudo. — Eu a quero de volta.
— Não vai acontecer. — Virou-se para confrontá-lo, ele já havia vestido
a calça social e começava a vestir uma camisa azul escuro. Lindo demais.
Fechou os olhos e respirou fundo mais uma vez, tentando controlar seus
pensamentos.
— Ela é mais do que uma enfermeira.
— Você terá outra, mais competente.
— Eu não quero outra. — Controlou a vontade de gritar com ele. — Ela
é minha amiga.
— Ela é só uma empregada como outros tantos nessa casa, você tem que
aprender a separar as coisas. — O que ele pensava que ela era? Uma
criança?
— Não vai me fazer mudar de ideia, ou será ela ou não será ninguém. —
Disse categórica. Ele franziu o cenho e a observou atentamente enquanto
abotoava um a um os botões pequenos de sua camisa.
— Certo, mas... — Não gostou do tom de voz dele. — O próximo erro
que ela cometer será o último, sairá daqui direto para cadeia, não duvide. —
Finalizou a ameaça vestindo o paletó.
— Obrigada. — Ele saiu, e ela sentou numa poltrona, suas pernas
completamente bambas, mas saber que conversaram, quase que
civilizadamente, e chegaram ao um consenso a deixou muito feliz.
uando Kevin saiu, ela viu, no móvel ao lado da cama, a aliança e seu
Q coração acelerou. Se aproximou a passos lentos e pegou o anel. Sim,
era sua aliança de casamento, a que os ladrões haviam afanado. Seu
marido a recuperou, por isso não voltou junto com ela naquela noite. Tinha
ido atrás dos bandidos.
Saber disso não a deixou feliz. Como ele pôde fazer isso, se colocar em
risco, por bens materiais que ele podia facilmente repor?
Estava confusa.
Tomou banho e vestiu uma camiseta, uma jardineira soltinha e prendeu
o cabelo. Deixou a aliança lá mesmo, não sabia se a usaria novamente, a peça
a faria lembrar do terror que viveu naquela noite.
Ouviu umas batidinhas leves na porta e foi abrir.
— Senhora, seu marido a aguarda para o café da manhã. — Avisou e
saiu. Ficou sem saber se acatava o pedido, não achava que seria conveniente,
porém acabou indo, estava morta de fome.
Chegando à sala de jantar uma outra empregada a guiou até a varanda,
onde a mesa estava posta a céu aberto, mas o sol não caia sobre a mesa.
Kevin estava sentado confortavelmente, com as pernas cruzadas, uma xícara
de café numa mão e um jornal noutra.
Ele nem deu atenção para ela, então, serviu pra si um copo de suco e
comeu algumas frutas. Pouco depois a empregada trouxe ovos mexidos e ela
comeu de bom grado.
— Bom dia, família. — Emily não pôde evitar pular de susto em sua
cadeira ao ouvir a voz do Chris. Kevin depositou a xícara com força no pires,
demonstrando sua raiva, sem se importar com o gesto rude do primo, Chris
foi até Emily e a beijou no rosto, ela estava paralisada sem saber o que estava
acontecendo, enquanto ele sentava e se servia.
— Quando vai embora? — Perguntou Kevin de mau humor, dobrando o
jornal e colocando-o sobre a mesa. Chris sorriu pra ele e pegou o jornal
desprezado.
— Não tenho pressa. — Ele folheou o jornal rapidamente e deixou
escapar um palavrão. — Desculpe-me, Emily. — Pediu, desprezando o
jornal.
— A queda foi grande. — Kevin comentou com um sorriso de canto,
enquanto comia seus desjejuns. Emily só conseguia olhar de um para o outro
sem entender nada.
— Não tanto quanto eu gostaria. — Alfinetou Chris. O que tinha
naquele jornal afinal de contas? — Como está se sentido hoje, Emily? —
Estava claro que ele queria mudar de assunto.
— Estou ótima, obrigada por perguntar. — Ele sorriu, mostrando seus
dentes brancos e perfeitos, era demasiado galante.
Nesse momento o telefone de Kevin tocou, era o mesmo aparelho que
roubaram, seu coração acelerou ao ver a aliança no dedo dele.
— Não Ana, de forma alguma, cancele. — Percebeu o maxilar
contraído, endurecendo suas feições. — Ela não vai, não precisa ir, já está
tudo resolvido. Pouco me importa a impresa. — Olhou para Emily um
instante. — Você é minha advogada, eu não preciso te dizer o que você tem
que fazer, esse assunto está encerrado, não me faça perder tempo com coisas
insignificantes. — Desligou o aparelho e o colocou sobre mesa com certa
força. Emily não pode evitar o estremecimento.
— Por que vocês precisam acordar tão cedo? — Emily sorriu ao ver
Janie, que pareceu surpresa ao vê-la. — Emily, querida, que bom que
acordou. — Disse beijando seu rosto e sentando ao seu lado.
— Negócios não se resolvem sozinhos, Janie. — Resmungou Chris,
ainda atento ao celular enquanto Kevin bebia mais uma xícara de café,
ignorando completamente a madrasta, uma frieza pesava ali, e deixou Emily
desconfortável, eles não pareciam uma família.
Diferente de Kevin, que estava de terno, Chris estava vestindo uma
camisa polo branca e calça jeans, no pulso ele tinha um relógio lindo e no
outro uma pulseira de ouro.
Uma empregada chegou e serviu mais suco fresco para todos, Chris
pediu ovos, Kevin e Janie recusaram. Janie estava linda, seus cabelos
estavam soltos, ela vestia um conjunto azul muito chique, que realçava suas
curvas.
Ela pegou o jornal que os dois haviam desprezado e começou a ler, do
nada começou a rir, Kevin fingiu que não ouviu e Chris pareceu irritado.
— Vocês já viram isso? — Ela perguntou descartando o jornal. Emily
estava curiosa para saber o que tinha naquele maldito jornal de tão engraçado.
— Isso não é nada, perto do que eu ainda posso fazer. — Disse Chris
entre dentes.
— Continue repetindo isso, até que você mesmo acredite em suas
palavras. — Ironizou Kevin, apanhando o celular e digitando rapidamente.
Chris coçou o queixo desgostoso. — Preciso ir. — Ele disse, mas estava com
os olhos voltados para Emily. Se aproximou e segurou seu queixo e a beijou.
Ela ficou tão envergonhada com o gesto repentino, que parou de respirar, os
olhos arregalados.
— Nos vemos mais tarde. — Ele disse se afastando e colocando o
celular no bolso do paletó, saindo em seguida, sem falar com Chris ou Janie.
Ficou respirando com dificuldade durante alguns instantes, seu corpo
totalmente alheio a tudo a sua volta.
— Pretende ficar muitos dias? — Tentou focar no desjejum diante de si,
mas a rispidez de Janie a incomodou um pouco.
— Ora, a dona não se queixou. — Viu Janie contrair os punhos e
estremecer de raiva.
— Kevin não está nada satisfeito com sua presença. — Continuou, ele
apenas seguiu dando pouca importância.
— Ele e eu nos entendemos, como você bem sabe. — Entediado, ele
colocou o telefone sobre a mesa e bebeu um pouco do café.
— Voltar foi um erro Chris, perceba isso o quanto antes. — Escutou
Janie dizendo, mas estava perdida na conversa.
— Já se passaram dez anos Janie, eu não posso mais esperar e caso não
tenha ficado claro, isso não é da sua conta. — Parecia que Emily estava
assistindo um filme começando pelo meio. Ele jogou o guardanapo de linho
sobre a mesa no momento exato em que a empregada trazia seus ovos. —
Perdi o apetite. — Disse levantando. — Me desculpe, Emily. — Saiu logo em
seguida lhe dirigindo um sorriso caloroso, apesar de aparentar está muito
chateado com a intromissão de Janie.
— Homens. — Exclamou Janie tomando seu café, Emily não perguntou
nada, apesar de estar curiosa, mas eles tinham uma intimidade, e ela não fazia
parte dela. — Querida, quero te mostrar como está o quarto dos bebês, a
pintura foi feita ontem.
— Eu gostaria muito. — Falou virando-se para ela.
— Já encomendei os móveis, acho que chegam na sexta, tudo muito
bonito, você vai amar. — Não ficou feliz com isso, afinal ela não a incluiu na
escolha, os filhos eram seus e isso era algo que devia intervir pessoalmente.
— Obrigada, por tudo. — Janie sorriu e segurou sua mão.
— Seus filhos vão ser como netos pra mim, se é que eu possa dizer isso.
— Ela riu da própria piada.
Janie tinha trinta e oito anos, era três anos mais velha que o Kevin,
andou pesquisando sobre a família, mas não tinha muita coisa na internet,
eles eram bem discretos. Descobriu que em breve Kevin faria aniversário, por
isso ela corria contra o tempo para tricotar o casaco de lã, um presente
simples para um homem que tinha tudo, mas era de coração.
Pelo canto do olho percebeu uma movimentação e ao voltar os olhos viu
Judy, levantou e correu até a amiga, a abraçando forte.
— Emily, estou tão feliz que estejam bem. — Ela estava com os olhos
marejados.
— Vamos para o quarto, precisamos conversar. — Ela confirmou com a
cabeça. Emily voltou até a varanda e se despediu de Janie, que estava no
meio de uma ligação.
Quando entrou no quarto, Judy foi logo pegar um copo de água para ela,
e colocou em suas mãos as vitaminas.
— Estou tão feliz em ter você aqui.
— Eu que agradeço por me dar uma segunda chance. — Secou a
lágrima que teimava em cair de seus olhos.
— Me conte tudo que aconteceu Judy, por favor.
— Peço que me perdoe Emily, eu realmente não sei o que aconteceu,
você já tinha tomado esse calmante antes e não teve essa reação. — Emily
franziu o cenho sem entender a amiga.
— Eu estou bem, os bebês estão bem, graças a você, por sempre cuidar
de mim. — Ela suspirou um tanto aliviada.
— Você dormiu profundamente, e eu logo me recolhi, não demorou
muito e você começou a gritar. — Os olhos delas se encheram de lágrimas
novamente. — Tentei acordá-la, mas não consegui. — Ela esfregava as mãos
na calça jeans. — A casa toda ouviu, seu marido veio, você chamava por ele
sem parar e gritava por ajuda.
Emily colocou as mãos nos lábios, seu coração acelerado, as lembranças
do pesadelo não eram claras, mas ela recordava bem da sensação de pânico e
medo.
— Logo Dr. Paulo chegou e você já estava um pouco melhor, ele
explicou que o trauma estava te causando aquela reação. — Ela tremia um
pouco, segurou a mão da amiga e apertou seus dedos. — Seu esposo ficou o
tempo inteiro ao seu lado, segurando sua mão.
Judy chorava ao lembrar do ocorrido, pensar no que havia causado a
amiga a deixava arrasada.
— Você não fez nada de errado, eu confio minha vida a você. —
Respirou fundo. — Eu não devia ter tomado nenhum remédio depois do que
aconteceu, a lembrança daquele dia não sai da minha cabeça.
— Charles me contou o que aconteceu. — Ela disse. — O Sr. Daime
encontrou os bandidos pelo GPS do carro e recuperou tudo, agora eles estão
presos.
As informações dançavam na mente de Emily, ele havia encontrado os
ladrões, podia ter sido ferido, ou pior, lembrava de ter visto sangue em sua
camisa, mas pela manhã ele estava despido e não havia nenhum machucado,
então, o sangue não era dele.
— Dr. Paulo me pediu para levar você até o hospital hoje, para realizar
alguns exames. — Informou. — Poderemos ver os bebês também. — Ela
disse sorrindo e instantaneamente Emily também sorriu.
Adorava os ultrassons, poder ver seus bebês, ouvir os corações. Correu
para mudar de roupa, optando por um vestido azul simples. Judy saiu para
providenciar o carro. Separou seus documentos e colocou tudo dentro da
bolsa.
Ficou em frente ao criado mudo olhando para a aliança. Sentiu um
arrepio ao lembrar daquela noite, só de pensar no que poderia ter acontecido,
seu estômago revirou.
Pegou o celular, que dificilmente usava e viu as mensagens que tinha
recebido no dia anterior. Uma delas era de Day, a representante da loja de
joias que Jennifer levou.
“Emily, fui até sua casa, mas você estava indisposta, me ligue assim que
puder. Beijo, Day.”
Fez cara feia para exigência e torceu os lábios, digitando uma breve
mensagem em resposta.
"Estou bem, mas queimei uns cookies que fiz, seguindo o livro de receita
de sua mãe. Como você está? Chegou bem? Fiquei preocupada."
"Por favor, não arrume confusão com isso, eu posso dar um jeito.
Sabia que agora, ela era tudo que Jennifer tinha, e não pensaria duas
vezes em fazer de tudo para ajudá-la.
Ela não pode evitar o sorriso alto, Judy estava de folga, o maldito entrou
no quarto e achou o pote.
— Posso saber do que tanto rir? — Perguntou Kevin, olhando para ela
desconfiado.
— Seu primo roubou meu pote de cookies. — Bufou, mas não se
importava tanto assim, gostava da brincadeira saudável que tinha com Chris.
— Estou com fome.
— Você comeu no avião. — Ele disse voltando a atenção para o
computador.
— Aquela comida era uma droga. — Fez uma careta. — Eu não tocaria
naquele alimento nem que fosse a último do mundo.
Na realidade, não gostou da cara da comissária, então, preferiu não
arriscar beber ou comer o que ela trazia quando Kevin mandava.
— Isso é muito infantil da sua parte, um chefe muito competente prepara
as comidas, são boas.
— Aposto que a minha é melhor. — Disse cruzando os braços.
Levantou. — Vou tomar um banho. — Avisou indo para o quarto. Tirou das
malas suas roupas bem dobradas e colocou em cabides do closet.
Retirou os ternos de Kevin também, olhou para porta e esperou, quando
não houve nenhum barulho ela cheirou a camisa branca, colocou no cabide de
madeira e pendurou ao lado de suas roupas.
Pegou sua necessaire e a de Kevin e levou para o banheiro. Tirou as
roupas e tomou um banho, aproveitando para lavar os cabelos, que já
chegavam aos seus ombros.
Se enxugou com uma toalha e vestiu um roupão branco bem macio.
— O almoço chegou. — Disse Kevin a porta do banheiro, quando ela
estava secando os cabelos com uma toalha.
— Obrigada. — Ela disse olhando para