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Diagramação│Simone Schneider
Revisão NÃO PROFISSIONAL
Capa │M. S Designer Editorial

É proibida a reprodução total ou parcial desta obra de qualquer formar ou quaisquer meios
eletrônicos, mecânicos e processo xenográfico, sem a permissão da autora. (Lei 9.610/98)

Essa é uma obra de ficção. Os nomes, personagens, lugares e acontecimentos descritos na


obra são produtos da imaginação da autora. Qualquer semelhança com nome e
acontecimentos reais é mera coincidência.
Esse livro é escrito em terceira pessoa, além de contar a história de uma mocinha inocente e
bobinha, tendo como mocinho um homem arrogante e frio, o famoso cavalo, então te peço,
se você não aprecia esse tipo de leitura, por favor, não deixe uma avaliação negativa
usando isso como desculpa, isso só prejudica o autor, que nada mais faz do que criar
histórias que a dominam.

Desde já, agradeço. Boa leitura.


Atenciosamente, Simone Schneider
Para Michelle Castelli e Jhonata Avelino.
Qualquer um pode amar uma rosa,
Mas é preciso um grande coração
Para incluir os espinhos.
Clarice Lispector
E mily sabia que estava muito encrencada, grávida de cinco meses aos
dezenove anos e desde então tudo havia dado errado, a começar por
sua gestação não ter sido planejada pela própria, não que não sonhasse
em ter filho, ela almejava isso mais que tudo, família era o que mais desejava.
Sempre desejou ser mãe, mas não assim, não do jeito que seria, não da
forma que tudo aconteceu.
Afastou da mente as lembranças, não queria lembrar da loucura que
cometeu, do ato impulsivo, que a trouxe até aqui, até esse momento fatídico.
Começava a ficar com as mãos suadas, o coração batendo mais forte contra as
suas costelas e o ar querendo faltar, tudo isso era o medo, sabia muito bem e
sempre o usava para recuar, para deixar de fazer o que devia.
Era injusto, ele precisava saber, não podia esconder para sempre, não
pensou em fazer isso, estava apenas esperando o melhor momento. Mas
acabou sendo no momento em que eu nem planejei direito. Ralhou consigo
mesma. Por um momento pensou que agir por impulso fosse o ideal.
Puxou o ar com mais força e tentou controlar as emoções, se houvesse
outro jeito, o usaria sem pensar duas vezes, entretanto, nem tudo era tão
simples, não para ela e sabia por experiência própria que não existia nada
ruim que não pudesse piorar.
Estava em frente ao grande arranha céu da International Daime e
procurava coragem para entrar, tinha que entrar, pois o tempo estava se
esgotando, tinha que ser o quanto antes, precisava deixar de ser uma
tremenda medrosa e fazer tudo.
Ergueu o rosto para vislumbrar toda estrutura, vidro e metal, fria e
luxuosa. Podia ser visto de vários pontos do centro da cidade e um pouco
mais além, o que a impedia de esquecer tudo o que fez. Acima dele, somente
as nuvens densas. Dentro daquele prédio, estava o seu destino, de certa
forma.
Nos primeiros meses dizia para si mesma que tinha que fazê-lo para não
ficar com a consciência pesada pela vida toda, porém no último mês isso
virou mais que uma necessidade, virou algo de extrema importância.
Perguntou-se se seria bem recebida, mas estava apenas se enganando.
- Droga! - Resmungou consigo mesma, tão baixo, que as pessoas que
passavam indo e vindo, nem ouviram, ou se tivesse, nem deram um pingo de
atenção. Devia ter ligado, mas tinha quase certeza de que não seria atendida.
E como poderia? Continuava a ser uma desconhecida.
Percebendo seu nervosismo os pequenos seres em seu ventre mexem
freneticamente, buscando espaço, ainda são pequenos, seria mãe de gêmeos
bivitelinos[SA1], até então, não podia acreditar, o movimento de ambos era
algo agradável e reconfortante avisando que estavam bem, que estavam
seguros e que estavam com ela.
Havia começado a senti-los no começo da semana e havia chorado tanto,
um misto de sensações desconhecidas, mas agora compreendia, que não
estava mais sozinha, que tinha duas crianças dentro de si, que logo viriam ao
mundo e a chamariam de mamãe. Conhecia várias outras grávidas agora, e
algumas delas estavam no começo da gestação e já sentiam seus bebês, temia
que algo estivesse errado e realmente estava, infelizmente.
Acariciou o ventre e enxugou as lágrimas teimosas que corriam pelo seu
rosto, tinha que ser forte, precisava ser, pelos seus pequenos, por sua Karen e
seu Kevin.
Havia escolhido Karen em homenagem a sua mãe se fosse menina e
Kevin pelo nome do pai do bebê, se fosse um menino, mas o destino foi
travesso e lhe deu os dois juntos. A princípio, ficou desesperada de medo, foi
um tremendo choque, quando a médica mostrou na tela dois bebês e não um,
afinal, duas crianças exigem muito, e a moça não era do tipo que tinha uma
rede de apoio na cidade em que vivia, os poucos parentes que tinha, viviam
longe e não eram muito íntimos.
Bocejou, já estava quase na hora da sua soneca, a gravidez a fazia dormir
por horas a mais que o normal e diversas vezes ao dia, mudando totalmente
seus hábitos, já que dormia muito pouco e sempre acordava cedo, para que
seu dia rendesse o máximo.
Precisava entrar naquele maldito prédio o quanto antes ou voltar pra casa
como uma fracassada, era como se sentia, mas afastou o pensamento
pessimista. Ela suspirou, só de pensar no que teria que enfrentar, quando
ultrapassasse aquelas portas de vidro.
— Você consegue, Emily! - Incentivou a si mesma, na esperança de se
convencer, respirou fundo ao menos cinco vezes. Lentamente se aproximou
da entrada, se forçando a isso, pois tinha medo, não tinha como não ter,
afinal, trazia junto consigo, uma bomba e não gostava da ideia, nenhum
pouco, no entanto, adiantou os passos quando chegou à porta para que
pudesse entrar logo, antes que sua coragem fosse embora.
A porta abriu automaticamente, mostrando o grande e luxuoso saguão
com seu chão brilhante de porcelanato cinza, havia espelhos em toda parte,
viu seu reflexo em um e não gostou do vislumbre de si mesma. Estava pálida
e grande, sorriu, na verdade, seu ventre era a única coisa volumosa em seu
corpo, seus braços estavam finos e suas pernas haviam perdido as coxas
grossas que antes odiava.
Estava com um vestido branco florido confeccionado por ela mesma,
assim como o casaquinho de crochê roxo, a única joia que possuía era uma
gargantilha, a qual tinha um pingente em formato de coração na ponta, dentro
havia uma foto antiga de casamento de seus pais. A única que tinha desde o
incêndio que a deixou órfã com apenas dez anos. Trazia consigo uma bolsa à
tira colo, seus cabelos encaracolados e castanhos estavam soltos e chegava
até a cintura, ela parecia uma menina grávida e frágil. Ao redor de seus olhos
castanhos escuros, haviam olheiras, acentuadas por sua pele pálida, quase
sem vida, dormiu mal na noite anterior, ansiosa tanto pela consulta, quanto
pela visita que decidiu fazer ao pai de seus filhos.
Desviou os olhos do espelho grande e suntuoso. Quantas vezes estivera
ali, naquele saguão se encarou naquele mesmo espelho e não conseguia fazer
o que devia? Diversas vezes, desde que descobriu que estava grávida e todas
às vezes voltou atrás, era uma covarde, a maior de todas. Agora é diferente,
dizia a si mesma mais uma vez.
Não seguiu até o balcão imenso de recepção, aquela era a hora em que os
funcionários chegavam, então, sua presença não era notada. Entrou
rapidamente no elevador, quando o mesmo abriu, antes que recuasse mais
uma vez, apertou o número do andar desejado e esperou. Sua mente gritava
que devia recuar, que devia guardar o segredo para si, mas a necessidade
também estava presente, a lembrando que não tinha outro jeito.
Quando as portas lentamente foram se fechando, mãos a impediram, o
movimento inesperado assustou Emily terrivelmente, mas ficou ainda pior, a
moça ficou sem chão quando notou quem impediu as portas de se fecharem,
notou quem entrou no elevador, assim como ela, ele também estava surpreso,
viu isso nos olhos de Kevin, o homem parecia ser um fantasma, não esperava
que o confronto fosse ocorrer assim, não esperava que o destino se
encarregaria de o colocar diante de si assim, de forma inesperada, esperava o
encontrar em sua sala, atrás de sua mesa. Um instante antes de desfalecer, viu
a dureza tomar conta das feições de Kevin Daime e antes de perder os
sentidos ele a amparou com seus braços fortes.

Antes de abrir os olhos, Emily tocou o ventre como de costume e logo


seus bebês responderam seu pedido silencioso de mostrar que estavam bem,
chutavam e se contorciam dentro do espaço que dividiam. Sorriu agradecida.
— Que bom que você acordou. — A voz fria de Kevin Daime a
despertou por completo. Assustada, levantou rápido demais e tudo começou a
girar a sua volta, como se estivesse em um carrossel. As mãos quentes de
Daime a amparam, e só então lembrou do desmaio no elevador, a recordando
de o porquê estar ali, com ele. — Sente-se, antes que desmaie mais uma vez.
— A ordem fora apenas sussurrada, mas ela não pode deixar de acatar, pois o
tom deixou todo seu sangue enregelado. — Mas que droga, Júlia onde está o
maldito médico? — Gritou ele demonstrando impaciência.
Emily, apenas fechou os olhos e recostou a cabeça no sofá, onde foi
sentada novamente, o lugar em seu braço, onde Kevin Daime havia tocado,
queimava de forma assustadora, era incrível como seu corpo reagia a um
simples toque dele, fazendo suas terminações nervosas entrarem em pânico e
seu coração saltar descompassado.
Respirou lentamente várias vezes e só quando relaxou abriu os olhos e
entendeu o que ele gritava com a assistente.
— O médico já está a caminho. — Anunciou a loira exuberante de olhos
fatais como uma cobra, parou de encarar quando a moça se voltou para ela,
em seu semblante nenhuma emoção, sequer empatia pelo estado da gestante.
— Médico? Não preciso de um, estou bem. — Avisou com a voz fraca.
Estava na sala dele, tinha certeza, a perfeição em cada detalhe dizia que
aquela sala pertencia a Kevin Daime e ali ele trabalhava diariamente.
A mesa no meio da sala era grande e organizada, nada estava fora do
lugar, um iMac e um MacBook estavam de frente para a poltrona confortável
onde ele se sentava, assim como alguns aparelhos de telefone que tocavam
quase que silenciosamente.
Aos fundos estava uma varanda enorme, onde em uma das paredes havia
uma pequena cachoeira ornamental, que caia tranquilamente num lago
artificial, onde peixes de várias espécies nadavam, cada um mais bonito e
colorido que o outro.
Ao meio do lago havia uma ponte de madeira que levava até a parede de
vidro de onde se podia ver toda a cidade e mais além o mar azul. Era de tirar
o fôlego, por isso, desviou os olhos, pois tinha medo de altura e não queria
pensar o quanto estava no alto naquele momento. Kevin desligou o aparelho
celular um instante depois de o atender e voltou a olhar para ela, desviou os
olhos dele também, ainda não estava pronta, pelo que pôde notar.
— Você precisa sim, de um médico, desmaiou.
— Estou me sentindo perfeitamente bem, desmaios são comuns no meu
estado, quando sou sobressaltada. — Os olhos verdes dele a fitavam de alto a
baixo a envergonhando, pareciam despi-la, ou arrancar de si todos seus
segredos.
A secretaria havia saído sem que notasse, e os telefones na mesa já não
tocavam mais. Estava sozinha, com ele, e começou a se sentir temerosa e
terrivelmente desconfortável, principalmente, porque o homem alto e forte, a
encarava de maneira fria e um tanto curiosa, mas nada satisfeito.
— Mesmo assim, insisto que meu médico a examine. — Olhou para
mesinha de vidro com algumas revistas de investimento e um jornal dobrado,
apenas para quebrar o contato visual.
— Acabei de vir de uma consulta e não há nada de errado comigo,
acredite, estou bem. — Sabia que estava discutindo com ele à toa, pois Kevin
Daime fazia o que queria, quando queria.
Como uma pantera ele se aproximou deixando-a acuada e assustada,
mesmo sabendo que ele não seria capaz de lhe fazer mal a moça se afastou
um pouco, mas ele apenas sentou em sua frente e a encarou demoradamente,
a proximidade era sufocante de certa forma.
— Então, já que está em perfeita saúde, posso saber o que faz aqui? —
O coração de Emily doeu ao notar o quanto ele desejava que ela não estivesse
ali, o quanto ele a desprezava e o mesmo deixava em evidência o que se
passava em sua mente, seu corpo inteiro emanava isso.
Ela nunca teve ilusões com ele, afinal, eles eram de classes sociais
diferentes, mundos diferentes e estranhos um para o outro. Haviam ficado
juntos apenas uma única vez e foi suficiente para marcá-la para sempre.

Cinco meses antes


Emily estava andando pela praia à tarde e decidiu nadar, aquela região
era calma e agradável, pois somente os donos das casas ao redor
desfrutavam dela. Estava fazendo um trabalho em uma das casas e podia
passear livremente, mesmo se sentindo uma invasora.
Quando decidiu entrar na água não esperava ser puxada para o fundo por
uma corrente, em minutos estava se afogando, lutou apenas um instante e
logo se deixou afundar, não tinha muito pelo que viver e morrer não seria
tão ruim, mas braços fortes a puxou do fundo rapidamente, meio
inconsciente foi tirada do mar e vomitou toda a água salgada que havia
bebido, seu peito doía e a garganta ardia, assim como seus olhos, seu corpo
inteiro tremia, a percepção de saber que por pouco não morreu e que seria
sua inteira culpa, pois não lutou o suficiente.
— Você está louca? Tentando se matar justamente na minha praia! — A
arrogância na voz do seu Salvador, fez seu queixo tremer, e assim que
começou a chorar não conseguiu mais parar e o desconhecido a abraçou
forte e carinhosamente, a surpreendendo, já que ele não foi nada gentil.
Assim que Emily se sentiu melhor o encarou, o achou lindo, seu corpo inteiro
já queimava pelo abraço apertado.
Ficaram se encarando durante segundos e então, sem esperar, ele a beijou
com ternura no começo e logo depois com urgência sugando seu ar, levando-
a ao céu em segundos com apenas um beijo.
Não resistiu, queria sentir mais, queria experimentar mais dele. Logo seu
biquíni branco foi tirado e as mãos dele estavam percorrendo cada
centímetro de seu corpo deixando-a louca enquanto gemia sem reconhecer a
própria voz e ele sussurrava carinhosamente o quanto seu corpo era belo o
quanto a desejava, eram meros desconhecidos e ela era tão inexperiente, que
apenas obedecia aos comandos de suas mãos, reagindo a elas.
O ato de amor ficou na cabeça da moça durante semanas, ela sonhava
com as caricias dele e acordava a noite com o corpo queimado de desejo.
Não podia voltar a tê-lo, pois ele deixou bem claro que tudo o que viveram
naquelas areias foi apenas um caso passageiro nada mais que um erro do
qual ele se arrependia e que se odiava por ter se deixado levar.
O coração dela ficou em frangalhos, observou-o ir embora e só então
chorou.
Uma semana depois descobriu quem era o desconhecido ao qual entregou
sua inocência, o quanto era rico e poderoso, e tinha a mulher que queria
quando tinha vontade, sua foto com beldades diferentes estava todos os dias
nas revistas de fofoca, todas o queriam, pois ele era o melhor partido da
cidade.
Decidiu então não pensar mais nele, não ser mais uma a desejá-lo, mesmo
isso sendo quase impossível.
Quando descobriu que estava grávida ficou desesperada sem saber o que
fazer, mas logo decidiu não contar, teria o bebê e ele seria só dela, seria sua
melhor lembrança.
Lembraria apenas do doce momento em que estivera nos braços dele e
nunca se arrependeria de ter se entregado pela primeira vez a um homem
impossível para ela.
— Estou esperando uma explicação. — Emily respirou fundo, sentia
vontade de sair correndo dali o quanto antes, mas já que estava na chuva
então ia se molhar, agora não tinha mais volta e a necessidade gritava que ela
precisava.
— Eu... E-eu estou... grávida. — Gaguejou e mordeu a língua quando
finalizou a sentença, soou muito idiota e a expressão dele deixou claro que
pensava o mesmo.
— Isso está evidente, mas o que você acha que eu tenho a ver com isso?
— O ambiente parecia a sufocar, e o desejo latente de fugir ficava mais forte,
principalmente quando ele abria a boca para destilar toda sua arrogância e
frieza.
Ficou sem palavras até que a secretária magra e alta, dele, entrou
novamente, os interrompendo ou a salvando, a mesma dava espaço para um
senhor de meia idade baixo e com cabelos grisalhos, agradeceu por não
precisar ficar mais um instante sozinha com o imponente Sr. Kevin Daime,
mesmo sabendo que tinha que estar a sós para poder lhe contar tudo que
precisava, para só então sair correndo dali. Jamais seria capaz de falar tudo na
frente de quem quer que fosse, não estragaria jamais a reputação dele.
Kevin levantou e cumprimentou o médico com um aperto de mão rápido.
— Obrigado por vir tão rapidamente, Dr. Diaz. — Kevin era lindo
demais, e sua voz calma era sedutora. Ele explicou ao médico o ocorrido,
como se a mesma não estivesse ali ou fosse uma criança que não soubesse
falar por si mesma.
— Muito bem, vamos examinar a mamãe. — Ele sentou a seu lado no
sofá e abriu sua maleta preta.
Emily observou Kevin se afastar deles com Júlia e conversarem por um
instante antes de ela se retirar, só então ele voltou a atenção para o que o
médico fazia.
Sentia-se tola por desviar os olhos dos dele toda vez que a fuzilava, mas
não conseguia encará-lo por muito tempo, seus olhos verdes deixavam em
evidência o quanto não estava satisfeito com a situação.
— Pode me dizer como está se sentindo agora? — Perguntou o médico
assim que prendeu o aparelho de pressão em seu braço e iniciou o breve
exame físico.
— Estou me sentindo bem. — Respondeu baixinho, focando a atenção no
senhor diante de si e tentando esquecer que Kevin não desviava os olhos dela
um segundo sequer.
— Sua pressão está baixa, Sr. Daime, poderia conseguir um copo de leite
com uma pitada de sal? — Kevin prontamente pegou um dos telefones da
mesa e fez o pedido.
Estava se sentindo terrivelmente envergonhada com os olhos de Kevin a
encarando o tempo todo. Ouviu uma batida leve na porta e logo uma
funcionária entrou no escritório com uma jarra de leite numa bandeja prata.
Kevin mostrou a moça onde devia colocar a bandeja e logo ela
abandonou o local. Ele mesmo preparou a bebida, conforme orientações do
médico, que guardava suas coisas, após a examinar.
— Aqui está. — Estende o copo de cristal alto, com uma boa quantidade
do líquido branco.
— Não gosto muito de leite. — Disse ao pegar o copo e notou que Kevin
retesava o maxilar.
— Tome apenas um pouco. — Pediu o médico com paciência, sorrindo
brevemente. — Você está tomando todas as vitaminas pré-escritas pelo seu
médico? — Emily balançou a cabeça confirmando que sim, pois estava
tomando o leite.
— Sim, todas elas nos horárias certinhos. — Disse lambendo os lábios,
Kevin se aproximou novamente e lhe entregou o próprio lenço, tirando-o de
seu bolso do paletó alinhado que vestia.
— Você ainda está suja de leite. — Corou com o comentário, olhando
para o lenço em sua mão estendida, o pegou e enxugou os lábios aspirando,
no processo, o cheiro dele que impregnava o lenço branco.
— Tem ido regulamente as consultas? — O doutor Diaz era
extremamente profissional e fingiu não notar a tensão entre ela e Kevin,
mesmo que ela fosse gritante.
— Sim. — Mais umas perguntas e logo o médico se despediu de ambos,
desejando melhoras a Emily, que quase insistiu para que ele permanecesse no
local, mas apenas o observou sair e fechar a porta atrás de si.
— Agora que estamos mais uma vez sozinhos pode me dizer o que raios
faz aqui? — Tremeu com a pergunta e tentou esconder seu nervosismo,
esfregou as mãos uma na outra e olhou em torno.
— Bom... já é óbvio que estou grávida. — Ele ergue as sobrancelhas
irritado e impaciente.
— E?
— E você é o pai. — Pronto ela disse, agora não podia mais voltar atrás,
um minuto de silêncio se fez após soltar a verdade, como se ela fosse uma
bomba nuclear. Só não esperava pela reação dele, Kevin simplesmente
começou a gargalhar alto, assustando-a.
— É mesmo? — Perguntou ele voltando a ficar sério, o sorriso não tinha
alcançado seus olhos, ele apenas zombava e deixava evidente o que fazia. —
Você tem ideia de quantas mulheres já me disseram isso?
A voz dele era debochada e nada agradável, Emily cerrou os punhos com
força.
— Escuta, só vim até aqui porque estou desesperada, você é o pai sim,
não me compare com as mulheres que você sai, eu não sou assim. — Disse
nervosa, mas jamais o deixaria humilhá-la novamente, não agora.
— O que a difere das outras, minha cara? Sequer sei seu nome, sequer me
lembrava que você existia. — Ela não podia culpá-lo, ela mesma não sabia
quem ele era e descobriu tudo sobre o homem diante de si nas revistas e
jornais. — Você é exatamente como elas, só mais uma querendo aplicar o
golpe do baú, dizendo que o filho que espera é meu, quando pode ser de
qualquer um.
Emily não pode se conter, levantou rapidamente, com toda força que lhe
restava o esbofeteou fortemente na face, fazendo-o virar o rosto. Os cabelos
dele eram extremamente lisos e estavam penteados para trás, com o golpe o
penteado foi desfeito e os fios caiam agora soltos pela sua testa lisa.
— Quem você pensa que é, para falar de mim assim? — Emily já não
continha as lágrimas, e agora chorava tudo o que guardou apenas para si. —
Como você mesmo disse, você não me conhece e tenho certeza que
amaldiçoa o dia que me conheceu, mas acredite-me, eu mesma começo a
amaldiçoar em tentar ao menos lhe dar a oportunidade de conhecer meus
bebês. — Choque, foi o que viu nos olhos do magnata Kevin Daime. — Eles
não merecem o pai que tem, você não merece ser o pai dos meus filhos, não
merece sequer minha consideração.
— Gêmeos? — A pergunta não passou de um sussurro, tão baixa que
Emily pensou que estava imaginando coisas, mas o jeito como Kevin a
encarava deixava claro que estava mesmo questionando sobre os bebês.
— Sim, gêmeos, um menino e uma menina, infelizmente meu pequeno
não tem a mesma saúde da irmã, terá que realizar uma cirurgia logo após o
parto, é por isso, Sr. Daime, é por isso que eu estou aqui, pelo meu filho, não
pelo seu maldito dinheiro, não por você, apenas por ele. — Ergo meu queixo,
controlando o tremor de raiva que dominava meu corpo e tentando colocar a
razão no lugar da emoção.
Kevin a encarava com o rosto vermelho, piscou algumas vezes e passou o
dedo entre os cabelos demonstrado o quanto estava nervoso e talvez um
pouco confuso, o gesto de seus dedos fez com que os fios castanhos ficassem
mais desalinhados, não tornando a ficar como antes.
— Que tipo de doença? — A curiosidade na voz dele a surpreendeu.
Secou as lágrimas e pegou todos os exames que estavam em sua bolsa, as
mãos tremiam e demorou mais do que queria para fazê-lo.
Estendeu tudo e Kevin os avaliou e depois pegou os papéis, se afastou
para lê-los próximo a parede de vidro ao fundo da sala. Emily se sentou, pois,
suas pernas tremiam muito e temia cair logo agora. Tomou fôlego e aperto a
saia de seu vestido, para que sua mão parasse de tremer, a palma ardia pelo
impacto do tapa que deferiu no rosto do homem mais rico que teve o
desprazer de conhecer. Ainda custava a acreditar que foi capaz disso, que
teve coragem de atacá-lo daquela forma, mas a raiva falou por si.
Sentia que o peso que carregava durante os cinco meses havia enfim
deixado seus ombros e de uma forma surpreendente se sentia aliviada,
mesmo ainda um tanto apreensiva com o desfecho que viria a seguir.
Ficou observado enquanto Kevin lia todos os exames e olhava as diversas
ultrassons que ela havia feito para que os médicos pudessem ter certeza de
seus temores da doença no seu bebê. A angústia por vezes dominava a moça,
que se orgulhava de ser forte e determinada, mas quando se deu conta que
seria mãe, que teria crianças, algo em si, mudou, e ela temia por aqueles seres
pequenos que cresciam em seu ventre, ao mesmo tempo que sabia que faria
de tudo por eles.
Quando por fim ele terminou de ler, colocou os papéis sobre uma
mesinha ao lado da janela e ficou encarando a paisagem a diante, eram
apenas arranhas céus em vidro, ferro e granito, deve ter sido por isso que ele
colocou aquele pequeno lago com peixes, para ter algo que o fizesse esquecer
que estava no topo do mundo.
Passaram-se vários minutos até que ele falasse algo, Emily já estava com
o coração na mão, ansiosa e voltando a tremer pela sensação de que podia ter
feito uma escolha ruim ao ir até ele, para buscar ajuda.
— Você foi aconselhada a realizar um aborto. — Respirou fundo.
— Sim, assim que descobriram o quanto a minha gravidez é de risco os
médicos me aconselharam a não continuar. — Jamais seria capaz de tal coisa,
eles mereciam uma chance, qualquer que fosse e não desistiria facilmente.
— Por que continuou? — Perguntou ele, voltando os olhos finalmente
para Emily e, dessa vez, ela não os desviou, queria que Daime visse que não
estava mentindo.
— Porque eles agora já são um pedaço de mim e de você e mesmo que eu
morra quero que eles venham ao mundo, que tenham uma chance, eu já os
amo com todas as minhas forças. — Nunca pensou que seria tão fácil assim
contar tudo.
— Por que só agora decidiu me contar? — Percebeu o quanto ele estava
abalado, não esperava por isso.
— Desde a descoberta da minha gravidez decidi que jamais iria lhe
procurar que jamais iria atrapalhar sua vida com um filho indesejado. — A
postura do homem tinha mudado drasticamente e ela não sabia bem como
lidar com isso.
— Quantos anos você tem? — A pergunta repentina a surpreendeu,
fazendo com que se perdesse no meio do que conversavam.
— Isso não tem importância. — Ele tentou conter a impaciência.
— Quantos anos? O que faz da vida? Como pretende cuidar de duas
crianças? — Pelo visto, sua postura altiva falava mais alto e ele fazia questão
de deixar claro isso.
— É... Eu tenho dezenove anos e na verdade eu não tenho pensado muito
nisso, só consigo pensar nessa maldita cirurgia, só consigo pensar em como
meu bebê vai suportar essa provação. — As lágrimas mais uma vez a
assaltou, e a enxugou com o lenço que Kevin a entregou minutos antes. Algo
nele de repente havia mudado, algo que ela havia dito havia mudado toda a
postura e frieza dele e ele oscilava entre isso e sua frieza gritante.
— Você é tão jovem, como poderá assumir duas crianças?
— Bem, tenho algumas economias, um negócio próprio em casa, tenho
certeza que nada vai faltar aos meus bebês. — Kevin aproximou-se dela e
sentou na poltrona a sua frente mais uma vez.
— Você ia realmente ter essas crianças e ser capaz de nunca me contar
sobre a existência delas? — Emily estava cada vez mais sem saber o que
estava acontecendo com ele.
— Sim, eles são frutos da minha imprudência e decidi tê-los sozinha, é
apenas minha responsabilidade. — Ele desviou os olhos dos dela por um
instante.
— Qual o seu nome?
— Emily.
— Emily... — Sussurrou, ela se sentiu tão quente, tão feliz por ouvi-lo
dizer seu nome pela primeira vez, que fez aquele momento enfim parecer real
e não um sonho. — Se eu a ajudar com as despesas da cirurgia, o que você
fará? — Emily suspirou.
— Você não precisa ter contato algum comigo, não precisa sequer saber
quando tudo vai acontecer, nos papéis que te dei contém o número do meu
médico. Os valores podem ser discutidos com ele, nada vai passar pelas
minhas mãos, você não vai precisar depositar ou me dar qualquer dinheiro.
— Parou um instante para tomar fôlego, e ele olhava para ela de uma forma
diferente da anterior, encarava longamente seu ventre. — Enfim, nenhum
contato entre mim e você ou meus bebês.
— Você está errada. — A afirmação repentina a assustou. Será que ele
estava fingindo toda aquela postura curiosa?
— Não estou... entendendo. — Engoliu em seco.
— Vou deixar bem claro para você, Emily, eles não são seus bebês, são
nossos bebês, meus também. — Emily sentiu que seu coração falhava uma
batida, não esperava por isso. — Eles são meus e você jamais será capaz de
me separar deles e se ao menos pensar em fazer isso pode ter certeza de que
eu tomo os dois de você para sempre, não duvide, eu tenho a influência e o
poder para isso.
A
ameaça de Kevin ainda estava vivada em sua mente, a lembrança a
fez estremecer, as palavras se repetiam várias vezes, a lembrando da
sensação de medo e impotência. Sabia que não era um blefe, que ele
realmente seria capaz de tomar os dois dela em um piscar de olhos e isso a
deixava a beira do desespero. Não podia perder seus bebês, precisava deles,
eram tudo o que tinha.
Abraçou a si mesma tentando afastar aquela possibilidade terrível de sua
mente.
Kevin Daime não disse mais nada depois da ameaça, Emily também não
foi capaz de proferir nenhuma palavra de defesa, ficou totalmente vidrada e
temerosa.
Não esperava pelo que aconteceu, esperava uma ajuda sim, sabia o quanto
seria difícil fazê-lo crer que ela estava grávida de filhos dele e se surpreendeu
quando o mesmo pareceu propenso a fazer o necessário para que tudo desse
certo, mas jamais imaginou que ele iria querer qualquer contato a mais com
seus bebês além do necessário.
Kevin fez algumas ligações e segundo depois, um senhor a guiou até a
saída e a colocou dentro de uma elegante limusine, era algo tão extremamente
elegante, que ficou paralisada no banco de couro, sem tocar em nada, temia
quebrar a coisa que a levou direto para sua casa. E desde que havia chegado
ainda estava ali, em sua cozinha sentada, pensando, tentando entender, mas
não conseguiu.
Enfim, desistiu de tentar compreender aquele homem e fez seu jantar,
esperava que pudesse comê-lo naquela noite, estava faminta.
Preparou um frango a base de ervas e um purê de batatas com cenoura e
uma salada verde. Riu quando tudo estava pronto e posto sobre a mesa,
salivava só de pensar em devorar tudo aquilo, mas quando sentou e preparou
seu prato não conseguiu, correu para o banheiro de visitas e vomitou o que
tinha e o que não tinha em seu estômago.
Lavou o rosto com água fria da pia até se sentir menos enjoada e tonta,
essa era a pior parte da gestação.
— Vocês têm que deixar a mamãe comer. - Resmungou acariciando o
ventre que não parava de mexer, fazendo ondas e por vezes deixando leves
incômodos.
Guardou toda comida intocada e depois de tudo arrumado foi para sala e
ligou a TV, estava passando um comercial de sorvetes e pareciam saborosos
demais.
— Ai, não! - Quando viu toda aquela calda de chocolate, sendo posta no
sorvete, sua boca encheu de água instantaneamente e os bebês se agitaram
mais.
Procurou no freezer, mas não encontrou sorvete, jurava que tinha um
pote, mas provavelmente devia ter devorado em algum momento daquela
semana.
Pensou em esquecer o sorvete, e deixar para o dia seguinte, mas a ideia de
tomar o gelado estava enraizada em sua cabeça de tal forma que podia jurar
que sentia o sabor em sua boca.
Vencida pelo desejo, pegou o casaco e calçou um sapato mais
confortável, a fim de ir comprar o tão almejado sorvete. A dois quarteirões de
sua residência havia uma loja de conveniência, o que era uma benção, e sabia
que lá tinha o que precisava com desespero, sentia que poderia enlouquecer
se não saísse para conseguir o que queria. Tirou a bolsa do gancho, verificou
a carteira e abriu a porta, levou um susto ao dar de cara com Kevin, parado
em frete a sua casa, com a mão erguida, como se fosse tocar a campainha.
— O que está fazendo aqui? - Perguntou de forma defensiva e curiosa.
— Onde pensa que vai a essa hora? - Ele ainda estava com mesmo terno,
devia ter vindo do escritório, sabia que não estava de passagem, pois Kevin
Daime, o bilionário mais influente do país, tinha uma cobertura do outro lado
da cidade, do lado rico da cidade.
— Estou indo comprar sorvete na loja da esquina. - Saiu e fechou a porta
atrás de si, nada contente com seu tom rude. Qual a necessidade disso? Ela
estava sedenta e isso tirou-lhe um pouco da paciência, por tanto saiu
andando, como se o homem lindo e alto, não estivesse a fuzilando com seus
incríveis olhos verdes.
— Você está louca, saindo à essa hora para comprar sorvete, devia comer
algo mais nutritivo. - Emily não gostou do tom da voz dele. Quem ele
pensava que era para lhe dizer o que fazer? Estava começando a ficar mais
zangada, pediu a Deus paciência, respirou fundo e se voltou rapidamente para
ele.
— Eu adoraria comer o belo jantar que preparei, mas acontece que os
seus filhos pensam diferente. - Disse entre dentes e voltou a marchar em
direção a loja de conveniência.
— Mas do que você está falando? - Emily andava o mais rápido que seu
ventre avantajado permitia, Kevin seguia ao seu lado resmungando.
— Você não entende nada de gravidez, não é? - A pergunta o
desconcertou, tirando um pouco de sua postura altiva. — Pois bem, acabo de
ter um desejo enorme e incontrolável de tomar sorvete, sorvete de creme com
bastante calda de chocolate, e o mais engraçado é que eu odeio misturas em
sorvete, mas meus pequenos parecem que são loucos por calda, quanto mais
dela, mas satisfeito ficam.
Percebeu que estava tagarelando com o pai de seus filhos como se o
conhecesse bem, como se fosse algo que fizessem com frequência, mas a
aparência e a postura dele, a lembrava que era algo impossível e soltou um
sorriso zombeteiro pela ideia absurda que a assaltou.
— Bem, eu adoro sorvete com calda de chocolate. - A confissão a fez
estancar no meio da calçada, se voltou para ele e sorrio.
— Está explicado, seus filhos já estão puxando a você, antes mesmo de
nascer. - Ele apenas a olhou, como se tivesse dito algo muito insano, então
tornou a seguir para o seu intento, antes que continuasse a dizer bobagens
para o grande empresário.
— Emily, nós temos que conversar. - Disse de súbito. Devia imaginar que
era isso o que ele queria, mas quando saiu da Internacional Daime, imaginou
que tudo tinha sido esclarecido a ponto de não precisar vê-lo novamente, pelo
menos não por agora, muito menos em sua zona de conforto.
— Iremos. - Falou parando e esperando para atravessar a rua, já podia ver a
loja de conveniência do outro lado e sua boca tornou a salivar. —, mas só
depois que eu estiver sentada em casa tomando meu maldito sorvete de creme
com calda de chocolate.

Ela colocou uma taça bem cheia de sorvete para ela e Kevin, óbvio que o
seu estava duas vezes maior e com mais calda, salivava tanto que tinha medo
de que ele visse a baba escorrer por sua boca.
Sentou no sofá e colou as pernas esticadas em cima dele. Kevin não fez
menção de pegar o sorvete servido, apenas entrou na casa e desde então
observava atentamente cada parte da sala, vez ou outra tocando um objeto, ou
um quadro dependurado que Emily pintou, era um desenho aleatório, apenas
uma forma de expressar o que sentia, a arte a movia.
Colocou uma colher na boca e sentiu como se estivesse no paraíso,
fechou os olhos e apreciou o sabor doce em sua boca, suspirando de prazer e
satisfação. Essa era uma das partes boas de estar grávida, quando desejava
comer algo, o sabor parecia diferente, melhor, beirava ao divino.
— Ai, meu Deus! Isso é realmente maravilhoso! - Exclamou extasiada
com os olhos ainda fechados enquanto saboreava a primeira colher.
Quando abriu os olhos viu que Kevin a encarava de forma intensa,
desviou os olhos envergonhada por ser observada num momento tão íntimo.
— Eu não quero que você saia sozinha de casa. - Era uma ordem, e fez
questão de deixar evidente, que não queria ser contrariado.
— Você só pode estar de brincadeira, não tem como eu conseguir alguém
para ficar comigo agora. - Disse enquanto tomava mais do sorvete com
colheradas generosas.
— Você está sendo irresponsável ao extremo. Acha que pode ficar
sozinha nessas condições? - Encostou a colher na taça e respirou fundo, o
encarando com certa impaciência.
— Eu não estou doente, Sr. Daime. - Ele estava de pé, ao lado da
poltrona, a mais próxima da saída e parecia bastante irritado, o que parecia
ser sua marca registrada, no entanto, Emily não se importou com seu tom
arrogante.
— E quando os bebês nascerem, quem vai cuidar de você e das crianças?
- Questionou com impaciência.
— Bem, eu tenho uma prima que mora a alguns quilômetros daqui. Ela
vai me ajudar no que eu precisar nos primeiros dias, mas acredito, que logo
que eu me recupere, posso muito bem cuidar dos meus filhos. - Voltou a
tomar mais do sorvete que já começava a derreter, chateada por ele atrapalhar
um momento como aquele, em que saboreava seu objeto de desejo.
— Isso não parece ser o suficiente ou o adequado, são dois bebês, irei
assumir as responsabilidades a partir de agora, você vai ter que se mudar para
um apartamento mais próximo ao centro e vou contratar enfermeiras para
acompanhá-la vinte quatro horas por dia.
Emily ficou de boca aberta diante de tanta extravagância, não havia
necessidade para tanto e ela já tinha tudo planejado.
— Isso não vai acontecer. - Disse categórica, não estava aberta a
negociações, muito menos que ele controlasse ou dissesse o que faria ou
deixaria de fazer.
— Pode apostar que vai. Exijo que um teste de DNA seja feito assim que
as crianças nascerem. - Emily já esperava pelo pedido, afinal, eram
desconhecidos e ele não parecia fazer o tipo que confiava facilmente.
— Entendo. - Terminou sua porção e ainda não estava satisfeita, poderia
tomar o pote inteiro, mas manteria a compostura na presença do grande e
estúpido empresário. — Você pode pegar para mim o sorvete que coloquei
para você? - O pedido foi atendido de pronto sem questionamentos ou
recriminação.
— Se o teste for positivo...
— Vai ser positivo. - O interrompeu imediatamente, sem que pudesse
controlar a língua, o encarando sem desviar de seus olhos verdes.
— Como eu ia dizendo, se for positivo faremos um contrato. - Emily
parou de tomar seu sorvete, desconfiada com o andar do diálogo.
— Que tipo de contrato?
— Eu vou querer a guarda dos meus filhos. - A boca de Emily ficou seca.
Seu estômago começou a revirar então correu mais uma vez para o banheiro
fechando a porta com força. — Emily, o que está acontecendo? - Se inclinou
no sanitário e vomitou tudo que havia engolido. Quando parou sua garganta e
seus olhos ardiam terrivelmente.
— Abra essa maldita porta ou a arrebento! - Limpou-se, trêmula, na pia, e
abriu a porta.
Parou quando viu preocupação verdadeira nos olhos de Kevin, mas ela
não podia de forma alguma se deixar enganar por aqueles olhos penetrantes.
— Estou bem. - Sussurrou com a garganta seca a voz saindo esganiçada.
Ele lhe deu espaço para sair e Emily foi até a geladeira e tomou um copo
de água com breves goles, para não vomitar o líquido também.
— Isso acontece com muita frequência? - Quis saber, já a seu lado.
— Mais do que eu gostaria. - Prendeu os cabelos e voltou para sala
recolhendo as taças e as colocando na pia. Parou ao lado da bancada e o
encarou. — Não pense que vai tomar de mim, meus filhos, isso jamais vai
acontecer, eu nunca irei impedir você de vê-los e fazer parte da vida deles,
mas é só isso, não abrirei mão da guarda.
Os olhos dele brilhavam, e Emily sabia que Kevin não iria desistir
facilmente de seu plano, ele colocou as mãos nos bolsos da calça e a encarou
longamente.
— O que está pretendendo, Emily? O que você realmente quer? - Emily
não entendeu a pergunta fria e carregada de desconfiança.
— Acho que já deixei claro o que quero, podemos fazer um acordo com
relação ao pagamento do valor da cirurgia, sei o quanto pode demorar, mas
tenha certeza, que eu o farei, pagarei cada centavo gasto.
Agora ela entendia o que aquele brilho nos olhos dele queriam dizer, ele
estava desconfiado. Desconfiava dela, desconfiava de suas intenções.
— Não confio em você. - Disse em alto e bom tom. - Como posso confiar
em uma mulher que se entregou a um desconhecido? - A pergunta a chocou,
mas Kevin tinha razão, ela fez isso, não se arrependia, mas jamais diria isso
ao homem diante de si.
— Você não precisa confiar em mim, Sr. Daime.
— Pare de me chamar assim, droga! - Explodiu, assustando-a, ele desviou
os olhos e respirou fundo. — Irei falar com seu médico amanhã. - Contou ele,
instantes depois do ataque de fúria. — E tratarei de todo o processo
necessário, o apartamento vai estar a sua disposição, se assim você preferir,
mas a partir de hoje, não teremos mais nenhum contato, quando as crianças
nascerem irei vê-las e meu advogado vai providenciar o exame de DNA. -
Emily engoliu em seco ao ouvir a decisão dele. — A partir de agora, seremos
estranhos um para o outro, você é apenas a mãe dos meus prováveis filhos,
quero que isso fique bem claro.
Ele a encarou para que ficasse evidente o que ele queria, minutos depois
saiu sem se despedir deixando-a no mesmo lugar, sem ar.
Sentia, que esse era só o começo.
S
ubiu as escadas para seu quarto e deitou-se, cobriu-se com uma das
mantas que ela mesma havia tricotado e chorou molhando o travesseiro.
Havia fantasiado um Kevin totalmente diferente do que mostrou
ser. Sabia o quanto ele podia ser um idiota e insensível, mas o Kevin que ela
havia criado na cabeça era totalmente o oposto.
O Homem que ela idealizou para contar aos seus filhos era totalmente
diferente do que ele realmente era. Odiou a si mesma por ser tão estúpida e
infantil.
Acabou dormindo enquanto chorava e no dia seguinte estava se sentindo
melhor, pois pelo menos havia dormido bem, o peso havia finalmente
deixado seus ombros e o procedimento necessário seria feito assim que seu
filho nascesse e ele iria ficar bem, tinha que ficar bem.
— Bom dia. — Disse acariciando o ventre e recebendo um chute forte, na
mesma hora, como resposta. — Au! Vocês têm que começar a pegar leve
com a mamãe. — Disse sorrindo.
Levantou e conseguiu comer seu desjejum sem precisar correr para o
banheiro depois e ficou feliz por isso. Deixou tudo limpo e foi para seu ateliê.
Sua casa era modesta e pequena, não tinha qualquer extravagância. Era
uma construção antiga de dois andares, o andar de baixo ficavam a sala, o
quarto de hospede, o qual ela transformou em ateliê, o banheiro social,
cozinha e a área de serviço.
No andar de cima tinha seu quarto, que era o cômodo maior da casa, ali
tinha um banheiro próprio e até um closet, o outro quarto seria o de seus
filhos, já estava quase tudo pronto para eles, estava bem adiantada com a
decoração e enxoval.
As paredes já estavam pintadas e enfeitadas com desenhos de bonecas e
carrinhos, ela mesma desenhou. Tinha jeito para essas coisas e às vezes fazia
isso profissionalmente. Mentiu ao dizer para Kevin que tinha o próprio
negócio, ela tinha, mas só podia atender um ou dois clientes por ano o que
tornava a coisa nada formal. Fazia enxovais para bebês, todo ele, se os pais
assim desejassem.
Costurava, bordava e tricotava entre outras coisas, e tudo era feito com
tamanha perfeição que a mesma não acreditava que tivesse realizado tal feito.
Muitas mães a procurava, e ela fazia o que podia, quando podia. Havia
terminado há dois meses sua última encomenda e agora se dedicava
exclusivamente ao seu próprio enxoval, tudo estava sendo feito com todo seu
amor e carinho, cada peça de roupa e sapatinho a deixava emocionada.
Estava tão ansiosa para que seus bebês usassem o quanto antes as
coisinhas que preparou, que passava boa parte do dia dentro do quarto deles,
ansiosa.
No dia seguinte recebeu a ligação de seu médico confirmando a visita do
pai de seus bebês, ele estava feliz por saber que seu pequeno teria uma
chance. Emily nem havia pensado mais em Kevin ele não merecia, mas não
pensar estava ficando cada vez mais difícil.
Saiu para comprar algumas linhas e botões e ao passar na banca de jornal
não resistiu e olhou as capas das revistas. Ele estava estampado nelas, claro.
Em algumas mencionavam o belo trabalho, e em outras qual era sua mais
nova conquista, ele sorria para uma loira muito bonita, o sorriso era frio, mas
ele sorria, mesmo que seus olhos não houvesse nenhum humor.
Não soube explicar porque, mas ver aquilo a machucou demais. Ao
chegar em casa chorou feito uma criança e ficou com raiva de si mesma ao
constatar que estava apaixonada pelo homem errado, o homem que a odiava.
As semanas passaram rápido, sem mais nenhum contato de Kevin ou de
algum representante dele. Dr. Paulo lhe disse, que seu parto já estava
marcado, teria que fazer uma cesárea, não ficou muito feliz com isso, pois
temia não estar acordada para ver com seus próprios olhos seus pequenos
virem ao mundo.
Na segunda-feira acordou com a campainha, que tocava insistente, eram
dez horas, ela havia, mais uma vez, dormido além da conta.
Vestiu rapidamente um roupão sobre a camisola grande e calçou suas
pantufas rosa. Abriu a porta e deu um passo para trás. Ficou cega durante um
segundo com os vários fleches em sua direção.
— Emily, pode nos contar como conheceu Kevin Daime? — Alguém
perguntou, ela não respondeu, fechou a porta e se recostou nela respirando
com dificuldade.
— Ai... Meu... Deus! — Trancou a porta e andou lentamente para o sofá.
Voltaram a bater em sua porta, mas ela não se atreveu a atender. Estava
encolhida no sofá sentido uma dor terrível nas costas, tentou relaxar, mas não
conseguiu.
Meia hora depois já estava começando a ficar desesperada. Foi quando o
telefone ao seu lado tocou, alto demais, a assustando. Ao atender a voz fria
do outro lado da linha era controlada demais para aquele momento.
— Estou na porta, abra agora. — Foi tudo o que ele disse e logo depois a
campainha soou, a essa altura suas costas doíam tanto que demorou uma
eternidade para levantar.
Quando chegou a porta estava sem fôlego. A abriu e Kevin entrou
fechando-a com força atrás de si.
— Acho que você conseguiu o que queria. — Disse ele, jogando, aos pés
de Emily, um jornal onde estava sua foto ao lado de Kevin andando na rua
onde a moça vive, o dia em que saiu para o comprar o sorvete, tendo ele
como acompanhante. — Eu já devia saber que tipos como você ambicionam
mais.
Emily não prestava muita atenção ao que ele dizia estava em choque com
a publicação aos seus pés.

"Kevin Daime e a mãe misteriosa de seu filho?"

Desviou os olhos do jornal e respirou fundo tentando se acalmar. Uma


dor forte atingiu seu ventre, ela se apoiou no sofá para não cair, gemendo.
— Tem alguma coisa errada. — Sussurrou sem fôlego, temia respirar,
temia sequer se mover.
— Que espécie de teatro é esse? — Perguntou furioso.
Emily sentiu algo quente no meio de suas pernas.
— Meu Deus... o que é isso? — Afastou o roupão e viu uma pequena
mancha vermelha, se formar na camisola. — Não... por favor... não! — Pediu
temendo o pior.
— Pare agora mesmo de fingir, a mim você não engana mais, não depois
de hoje. — Emily ficou sem palavras, com lágrimas nos olhos o encarou.
Não perdeu tempo discutindo, aproximou-se lentamente do telefone e
ligou para seu médico. No segundo toque Emily já estava desesperada.
— Doutor... — Disse entre lagrimas. — Eu acho que os estou perdendo...
por favor... me ajude.
— Emily! Você tem como vim para o hospital? Tem alguém com você?
Alguém que possa trazê-la? — Paulo era mais que um médico para ela, havia
se tornado um amigo.
— Humrum. — Sentou com o telefone ainda no ouvido, sentindo o olhar
de Kevin ainda a fuzilando.
— Passe o telefone, vou dar todas as instruções. — Esticou o aparelho e
Kevin o pegou sem fazer perguntas. Enquanto ela respirava com cuidado.
— Quem está falando? — Ouviu-o perguntar. — Ah, sim. O quê? É
realmente necessário? — A voz dele agora estava realmente preocupada. —
Imediatamente doutor, chegaremos aí em um minuto. — Avisou desligando
em seguida.
— O que ele disse? — Perguntou desesperada.
— Você precisa ir imediatamente ao hospital. — Emily não conteve mais
as lágrimas. — Sua maldita imprudência está pondo em risco a vida dos
bebês.
— Pelo amor de Deus, não faça eu me sentir pior do que já estou. —
Pediu com um fio de voz, já em lágrimas.
Ele resmungou e a pegou no colo, saíram e os fotógrafos com certeza
adoraram a cena. Kevin a colocou com cuidado no banco do carona e logo o
carro corria.
Esperava que não fosse tarde demais.
E
la não tinha culpa, na verdade nem sabia direito o que estava
acontecendo, quando chegou ao hospital uma maca já a aguardava.
Ficou realmente com medo, quando várias pessoas a rodearam.
— Como assim não posso entrar? — Ouviu Kevin gritando com alguém
enquanto a levavam por um longo corredor branco.
— Ele é o pai das crianças, podem deixá-lo passar. — A voz do Dr. Paulo
a acalmou um pouco. — Emily, como está se sentido? — Emily apertou a
mão que ele lhe ofereceu.
— Está doendo doutor, por favor, não me deixe perdê-los. — Implorou
voltando a chorar de desespero — Faça com que eles fiquem bem. — Emily
chorava, enquanto o médico batia levemente em sua mão e logo a soltou para
começar a realizar os exames necessários.
Ela foi espetada, apertada, olhada, mas toda vez que perguntava algo a
qualquer uma das enfermeiras que a medicava, apenas recebia um rápido
olhar e logo era deixada sozinha novamente, até que entrou numa espécie de
transe, ouvia todos a sua volta, mas não conseguia abrir os olhos, já não
sentia dor.
— Emily, acorde Emily. — Lentamente abriu os olhos, demorou uns
instantes até que pudesse associar a voz ao dono, ainda estava meio grogue,
com a boca seca.
Recordou de onde estava e tentou levantar, mas mãos fortes a impediram.
— Acho que ela já está melhor. — Disse Kevin friamente.
— Não se esforce Emily, tente se acalmar, está tudo bem. — Avisou o
Doutor Paulo.
— Meus filhos... eles estão bem?
— Fique tranquila, parece que suas crianças são fortes, igual a você,
apesar do susto, eles estão bem. — Emily agradeceu aos céus por isso,
acariciou o ventre e se sentiu bem melhor.
— O que aconteceu?
— Bem, parece que sua vida está mais agitada que o normal e pelo que eu
sei você levou um tremendo susto com os repórteres em sua porta, enfim,
muitas coisas podem ter levado a isso, mas agora está tudo bem. — Emily
não queria olhar para Kevin a seu lado, não queria ver em seus olhos o
quanto ele a achava imprudente e irresponsável.
— Obrigada. — Apertou a mão de seu médico.
— A partir de agora, Emily, não poderá fazer qualquer esforço, seu noivo
vai fazer o necessário para que você possa ser acompanhada vinte e quatro
horas por uma enfermeira especializada. — Emily parou de ouvir depois da
palavra "noivo". O que ela havia perdido no tempo em que ficou
desacordada?
— Como...? Não entendi.
— Isso mesmo, você não pode mais exercer qualquer trabalho, repouso e
nada mais, até segunda ordem ou até os bebês nascerem, veremos como você
reagirá nas próximas semanas, mas acredito que logo estará bem. — O
médico não havia entendido sua pergunta, mas ela não voltou a questionar.
Dr. Paulo saiu depois de lhe dizer que ela poderia ir para casa no dia
seguinte. Quando ele fechou a porta ela encarou Kevin.
Ele estava com o mesmo terno em que havia chegado a sua casa para
levá-la ao hospital, o que indicava que não havia saído do seu lado para nada.
— O que... O que ele quis dizer com...? — Ela desviou os olhos e se
odiou por não conseguir ser mais forte, por não conseguir enfrentá-lo.
— Isso mesmo, nós vamos nos casar. — Emily achou que ainda devia
estar sofrendo com o efeito dos remédios. Fechou os olhos por um segundo e
quando voltou a abri-los ele ainda estava lá.
— Eu não quero me casar. — Disse categórica.
— Isso não está em discussão, depois daquele espetáculo na sua casa com
os repórteres não vejo mais alternativas. Minha madrasta já está cuidando de
tudo nesse momento.
— Sempre tem uma outra alternativa, você pode negar tudo.
— Não tem mais volta, a confirmação da paternidade vazou assim que
chegamos aqui. — Ele passou os dedos nos cabelos. — Você só tem
dezenove anos, e isso também complica as coisas.
— Eu sou totalmente independente! — Quase gritou. Sabia que ele era
bem mais velho que ela, entretanto, as pessoas não podiam colocar a idade de
ambos em questão, mas entendia, que por ele ser alguém da alta sociedade a
mídia não perdoaria e isso podia ser péssimo para os negócios.
— Já está decidido. — Finalizou.
Pensar que poderia, de forma indireta, prejudicá-lo de alguma forma, a
deixou pior, não queria causar nenhum tipo de problema para ele. Sabia que
Kevin não acreditaria em suas intenções, então, não disse nada sobre isso.
Sentiu que mesmo que fosse casar, como ele havia decidido, jamais seria
parte de sua família.
— Não quero falar sobre isso agora, não agora, por favor, me deixe
sozinha. — Notou que Kevin não gostou nada do pedido, mas ela realmente
precisava de espaço para pensar. Ele se retirou sem dizer nada, mas para
Emily foi o mesmo que uma bofetada.
Ele a odiava, estava claro em seus olhos que tudo que queria era ela bem
longe de sua vida, queria nunca a ter conhecido.
Deixou que as lágrimas corressem soltas pelo seu rosto pálido, a culpa era
toda dela, sempre seria dela.
Não queria pensar no quanto seria difícil casar com ele, sem que ele a
amasse como devia, Kevin com certeza iria evitar vê-la após o casamento,
saber disso antecipadamente a deixou pior que antes.
Sentiu seus bebês mexendo e parou de respirar e logo eles voltaram a
mexer novamente, ficou tão feliz, estavam bem, aquela era a prova, e por eles
ela devia parar de chorar e enfrentar tudo o que viria a partir de agora.
Adormeceu e acordou cedo no dia seguinte, tomou um banho e vestiu um
de seus vestidos, Kevin devia tê-lo trazido, gostou da pequena gentileza.
Trançou os cabelos e sentou ao lado da janela.
Ela estava no melhor hospital da cidade e o mais caro também. Uma
batida leve e logo o Dr. Paulo entrou junto a uma enfermeira.
— Bom dia, Emily. Dormiu bem? — Ele era sempre tão amável com ela,
agradecia a Deus por tê-lo conhecido, era um bom médico, além de ser um
bom amigo para Emily.
Era jovem, moreno, alto, cabelos cheios e encaracolado, seus olhos
pareciam cor de mel, o tipo de médico que deixava as enfermeiras
apaixonadas, pelo que podia notar.
Ao seu lado estava uma moça de cabelos castanhos presos num coque
alto, sua pele era bem branquinha, mas do tipo saudável, seus olhos azuis
escuros, ela vestia camisa e calça branca. Seu rosto era fino e magro, ela era
alta como Dr. Paulo e aparentava ser muito competente.
— Dormi sim, obrigada. — Checou com ela tudo, antes de apresentar a
enfermeira.
Explicou que só estava tendo alta por ter certeza de que seria bem cuidada
na casa de seu noivo, caso contrário teria que ficar no hospital mais dias, para
ficar em observação.
— Bem, seu noivo me pediu para indicá-lo uma enfermeira, essa é Judy,
trabalha comigo desde que me formei, ela é ótima você pode confiar nela. —
Judy sorriu e Emily agradeceu por ser ele a escolher sua enfermeira.
— Obrigada por tudo, é um prazer conhecê-la Judy.
— O prazer é todo meu, recebi ordens para levá-la a casa de seu noivo
assim que estiver pronta, um carro nos aguarda.
Emily não queria pensar em Kevin agora, ainda não conseguia assimilar a
ideia de que iam se casar.
Outro enfermeiro entrou no quarto trazendo consigo uma cadeira de rodas.
— É realmente necessário? — Quis saber, pois não queria se sentir uma
invalida.
— No seu estado atual é melhor não arriscar, você poderá caminhar, mas
apenas durante poucos minutos, quando se sentir melhor, faremos nova
avaliação. — Sabia os sacrifícios que teria que fazer de agora em diante, e
faria de bom grado. Sentou na cadeira com a ajuda de Judy.
Assim que saíram do hospital o mesmo motorista uniformizado que a
levou em casa, veio até elas para pegar as poucas coisas que Emily tinha
consigo.
Fechou os olhos e voltou o rosto para o sol. O dia estava lindo e
agradável, ela adorava o sol e sentiu-se instantaneamente renovada.
Entrou no carro e observou o caminho que percorreram, ela sabia que
seria difícil dali em diante, ter que ver ou não Kevin, viver com ele, ser a
esposa dele.
Não era o que queria, jamais seria capaz de usar seus filhos para forçá-lo
a casar. Casar e ter uma família, era o que mais desejava, mas nunca pensou
que seria dessa forma.
Ele havia mencionado que a madrasta estava organizando a cerimônia,
Emily não sabia nada da vida pessoal dele, pelo que via nas colunas sócias
Kevin Daime é muito reservado com relação a família, sabia, apenas, que o
pai dele havia falecido exatamente no mesmo dia em que se conheceram.
Soube disso depois, e essa era a única justificativa plausível para que ele
ficasse com ela aquele dia.
uando o carro entrou em um caminhou ladeado de árvores de ambos os
Q lados da estrada sabia que estava próxima da casa dele, a residência
ficava no final de uma estrada de pedregulhos, ficou sem fôlego ao
avistar a imponente mansão, era realmente espetacular, toda branca, parecia
coisa de filme.
A construção tinha dois andares nos quais podia se ver pequenas e
grandes varandas, os janelões com cortinas brancas em todas elas, em frente à
casa havia uma fonte grande e redonda, os jarros ao redor da fonte traziam
flores lindas e coloridas.
Uma escada com aproximadamente dez degraus levava a entrada da
mansão, o motorista desceu e abriu a porta para Judy que correu para ajudá-lo
a retirar a cadeira de rodas, o senhor se chama Charles e era um homem de
meia idade muito educado e sorridente, Emily gostou dele de imediato.
Ambos a ajudaram a sentar na cadeira, Emily estava se sentindo
desconfortável e meio temerosa, pois não sabia o que a aguardava por trás
daquela porta imensa.
Assim que Judy começou a empurrá-la em direção a entrada, a porta
grande e luxuosa se abre. O coração de Emily parou e voltou a bater feito
louco em seu peito, ela cobriu o corpo com o xale, para que não vissem o
quanto seu coração estava disparado.
Era Kevin, ele estava vestido uma camisa polo e uma calça cinza, estava
com os cabelos molhados caindo em sua testa, incrivelmente lindo. O
imponente empresário veio até ela e Emily desviou os olhos dos dele no
mesmo instante.
— Espero que a viajem não tenha deixado você muito cansada. — Ele
mesmo começou a empurrar a cadeira e só então, Emily notou a rampa ao
lado da escada, o que facilitou o acesso.
— Estou bem, obrigada. — Quando entraram no hall tentou não
demonstrar o quanto estava impressionada com a riqueza e beleza da mansão.
Se o lado de fora havia lhe tirado o fôlego, dentro lhe tirou
completamente o bom senso.
— Ai... Meu... Deus! — Ficou furiosa consigo mesma no mesmo
instante.
— O que aconteceu? Você está sentido alguma coisa? — A preocupação
na voz dele a encheu de prazer, mesmo que não fosse exatamente com ela
que ele estivesse preocupado.
— Não... quer dizer... é que... — Parou e respirou fundo, estava mais
nervosa do que podia supor. — Não é nada.
Sabia que muitas pessoas ficariam impressionadas como ela, isso não era
nada, afinal, a casa era linda demais para se morar nela, mas demonstrar isso
na frente de alguém como Kevin era algo que ninguém jamais deveria fazer.
O Hall era enorme, tinha um estilo moderno com alguns quadros, uma
grande escadaria em frente que dava acesso ao andar superior ao meio uma
mesa redonda com um jarro cheio de flores. O lustre pendurado no teto era
um sonho.
No andar de baixo havia portas duplas fechadas e outras abertas e por elas
a luz do sol entrava na residência, o chão era todo de piso lustroso, e podia
ver a si mesma nele, era tudo muito luxuoso.
Judy não estava com eles, ela provavelmente havia entrado na casa pela
porta de serviço, saber que estava sozinha com Kevin a deixou muito
desconfortável.
Kevin guiou a cadeira até uma das portas duplas abertas, e ao chegar
próximo da mesma ouviu um sorriso de mulher, e se perguntou quem seria.
Era provavelmente a sala de visitas, um ambiente grande e bem
iluminado, muito aconchegante com sofás creme formando um C grande no
meio, em frente uma lareira de mármore branco.
O chão era acarpetado, diferente do hall, o carpete era de um vinho
neutro. Assim que entraram dois homens e uma mulher se levantaram dos
sofás e poltronas onde estavam sentados.
Emily tentou não olhar diretamente para a mulher, mas não conseguiu.
Ela era jovem, não como Emily, acho que tinha por volta da idade de
Kevin, muito bonita e elegante. Loira, os cabelos estavam presos num coque
frouxo, vestia um vestido muito chique e soltinho e no pescoço fino trazia um
colar de pérolas branquinhas, nos dedos duas alianças. Os olhos dela era
incrivelmente azuis e penetrantes, também a avaliava, magra e alta,
aparentava altivez e segurança.
— Emily, quero que conheça meu tio George. — Emily desviou os olhos
da mulher e encarou o senhor que Kevin havia apresentado, podia ver o
parentesco nas feições de ambos, Kevin parecia muito com o tio, que é um
senhor com cabelos lisos como ele a diferença era que os cabelos do tio eram
prateados, o que dava ao mesmo certo charme, Emily gostou do homem, pois
seu sorriso era terno.
— Olá, futura sobrinha, é um prazer conhecê-la. — Apertou a mão
oferecida e correspondeu ao sorriso. — Ela é, realmente, muito linda, não me
admira ter fisgado o coração duro de um homem como meu sobrinho. — Os
outros dois desconhecidos riram, menos ela e Kevin, que demonstrou não
gostar do comentário. — Não seria melhor sentar-se em um dos sofás? Tenho
certeza que será mais confortável. — Sugeriu, assim que todos calaram.
— Eu adoraria. — Ofereceu a mão novamente e ajudou-a a levantar.
Afundou instantaneamente, o estofado era muito mais macio do que
aparentava.
— Agora que está mais à vontade, quero que conheça um dos meus
advogados, o Richard, ao lado dele está minha madrasta, Janie. — Emily
ficou surpresa, não esperava que a madrasta de Kevin fosse alguém tão
jovem.
Jaine deixou a taça da bebida em cima de um console e se aproximou,
sentou a seu lado e segurou sua mão, as dela eram tão frias, mas muito
macias e a mulher tinha um cheiro maravilhoso.
— Oh, querido, ela é realmente muito bonita, fico muito feliz em
conhecê-la Emily, tenho certeza de que seremos grandes amigas. — A voz
dela era muito bonita e aveludada.
— O prazer é todo meu. — Sorriu para ela começado, enfim, a se sentir
mais relaxada.
— Vamos ao que interessa, Richard. — Nenhum deles parecia se alterar
com o jeito rude de Kevin.
O advogado era o único de terno, e estava impecável, este tinha
provavelmente a mesma idade que o tio de Kevin.
Janie continuava a segurar sua mão. Ela estava sentada e com o braço
apoiado no encosto do sofá, suas pernas longas cruzadas e a outra mão
apoiada em seu joelho de forma casual.
Enquanto o advogado retirava e separava alguns documentos da
pasta, Kevin se afastou até a parede a sua esquerda onde havia um bar, se
serviu de uísque, tomou o conteúdo do copo com um único gole.
O advogado se aproximou de Emily e lhe entregou alguns papeis.
— O que é isso?
— É um contrato pré-nupcial. — Respondeu Kevin com sua costumeira
voz fria.
— Isso mesmo. — Confirmou Richard. — Leia com cuidado Emily e me
diga se houver algo que não concorde, estou aqui para aconselhar e tirar
dúvidas, não se acanhe. — O tio de Kevin sentou em uma das várias
poltronas de espaldar alto da sala e acendeu um charuto, no mesmo instante
levantou e pediu desculpas retirando-se até uma das portas que levava ao
jardim.
Kevin estava recostado na lareira e olhava para um dos quadros
pendurados na parede cinza claro. Janie sorriu levemente para Emily e
levantou, se juntando a George, podia avistá-los, juntos, conversando
enquanto ele acendia para ela um cigarro.
Desviou os olhos deles e fitou o contrato, leu em instantes. E tentou ao
máximo conter a fúria que queria tomar conta dela.
— Não vou assinar isso.
— C omo não? - Perguntou Kevin com a voz carregada de raiva. — O que
você pensou Emily? Pensou que eu não ia fazer um contrato negando-lhe
tudo caso haja uma separação? - O sorriso dele era sarcástico e odioso aos
seus ouvidos. Richard ficou em silêncio, totalmente desconfortável com a
situação.
— Como você é sem noção, eu não quero nada seu, jamais quis, não queria
nem mesmo esse casamento! - Emily respirava com dificuldade, mas tentou
se acalmar. — Acha realmente que eu vou assinar isso? Aqui diz que caso
venhamos a nos separar você terá a guarda total dos meus filhos, jamais irei
concordar com isso! Estou de acordo com todas as outras cláusulas, mas essa
não, não irei assinar.
Ele passou a mão pelos cabelos deixando-os desalinhados, furioso, mas ela
pouco se importou com isso, lutaria por seu direito como mãe até o fim.
— A senhorita concorda com todas as cláusulas anteriores? - Perguntou
Richard sem entendê-la.
De acordo com o contrato, ela sairia daquele casamento exatamente como
agora, sem nada.
— Concordo, tenho certeza que o senhor poderá refazer, tirando a última
cláusula, só o assinarei se ela estiver fora. - Foi firme ao dizer as palavras e
mesmo que os olhos de Kevin a encarassem de forma ameaçadora, ela apenas
o ignorou.
— Muito bem, faça como ela diz Richard, faça isso amanhã mesmo, pois
neste final de semana nos casaremos e quero que o contrato já esteja
assinado. - Emily não desviou os olhos dos de Kevin, não podia, era como se
medissem forças, seu orgulho a impedia e isso a deixou feliz.
Richard se despediu de ambos e se retirou instantes depois. Deixando-os
mais uma vez, a sós. George e Janie continuavam do lado de fora, mas isso
não significava muito, pois aquela era a casa de Kevin e ele faria o que
quisesse quando quisesse.
— Preciso lhe pedir uma coisa. - Disse assim que encontrou coragem.
— É mesmo? - O sarcasmo se fez evidente, o que era de se esperar, vindo
dele.
— Na verdade, é uma exigência e não me casarei com você se não disser
sim. - Kevin sentou numa das poltronas a sua frente e cruzou as pernas
musculosas, enquanto a encarava.
— Eu já esperava por isso, só não imaginava que fosse tão rápido. - Emily
ignorou o comentário. — O que seria essa exigência?
— Quero que meus filhos usem o enxoval que eu mesma preparei e que
está em minha casa. - Kevin franziu o cenho sem entender. - Quero também
que traga as minhas roupas e alguns objetos pessoais.
— Você não vai precisar de nada disso. - Falou ele sem dar importância.
— Como eu disse é uma exigência e não quero que meus filhos usem outra
coisa, tudo já está pronto para eles. - O olhar que ele lhe lançou a deixou sem
jeito, parecia tentar ver algo em seus olhos, querer desvendar seus
pensamentos e imaginou que ele podia muito bem fazê-lo se assim desejasse.
— Muito bem, Charles irá até sua casa hoje à tarde para buscar tudo o que
você quiser. - Emily suspirou satisfeita.
— Muito obrigada.
— Não precisa agradecer. - Disse ele sem emoção. — Vou encarregar a
alguém os cuidados de sua casa, até que seja decidido o que farei.
— A casa continua sendo minha, então, eu mesma decido o que farei com
ela. - Enfrentá-lo estava se tornando um hábito, que ele demonstrava
claramente não estar gostando.
Agradeceu por ouvir o riso de Janie e George mais próximo, ambos
estavam bem descontraídos.
— E então, meninos, já resolveram tudo? - Emily decidiu que gostava da
voz de George, lhe agradava muito.
— Ainda não tio, mas amanhã estará tudo resolvido.
— Espero sinceramente que sim Kevin, já está quase tudo pronto para
sábado, não podemos deixar que um empecilho adie a cerimônia, já mandei
metade dos convites ontem por e-mail e deu muito trabalho para Patrícia. -
Avisou ela enquanto aproxima-se do bar e serviu champanhe para os três. —
Emily, querida, gostaria de beber alguma coisa? - Perguntou com um sorriso
radiante.
— Obrigada, não quero dar trabalho. - Janie gargalhou.
— Ora essa, não é trabalho algum, você vai ter que se acostumar com isso.
- Ela entregou as taças com champanhe a todos e até a Emily, mesmo ela se
negando. — Não se preocupe criança, eu beberei por você, faremos apenas
um brinde para comemorar a sua chegada, você não sabe quanta alegria está
nos trazendo.
Janie tinha o dom de deixar campo de guerra em um ambiente de paz, e
Emily gostava disso. Era o que todos precisavam naquele instante, um pouco
de distração.
— Janie está animada demais com a organização do casamento, não fala de
outra coisa. - Comentou George tomando logo um gole de seu champanhe.
— Para mim é um prazer, infelizmente Kevin colocou um freio em minhas
ideias, a lista de convidados foi reduzida a míseros seiscentos convidados,
muita gente ficará chateada ao saber que não foi inclusa num momento tão
importante da vida do meu enteado. - Emily não conseguiu evitar ficar
boquiaberta. Seiscentas pessoas? Aquilo era pior do que imaginava. —
Amanhã Darla virá para ver as medidas do vestido da noiva.
— Isso é realmente necessário? - A pergunta de Emily tomou todos de
surpresa, pois aparentemente ninguém mais lembrava de sua presença na
sala, todos os olhares estavam voltados para Janie.
— Claro que sim, querida, será um casamento real. O que você esperava
de um Daime? Não podemos decepcionar a sociedade. - Emily não sabia se
estava chocada ou louca, enfim, decidiu que era uma mistura dos dois.
— Tudo bem, se é assim que desejam, eu não me importo, mas o vestido
não será necessário, eu já tenho um.
O anuncio deixou todos sem fala.
— Como assim, já tem um? - Quis saber Kevin sem esconder sua
costumeira frieza.
— Eu tenho o vestido de noiva da minha mãe, faço questão de usá-lo. -
Avisou. Notou que George tentava conter o sorriso, não um sorriso de zomba,
ele estava gostando de ver Janie e Kevin chocados.
— Bem, se você faz questão, mas tem certeza que vai usar esse tal vestido?
Ele provavelmente nem vai caber em você. - E não cabia mesmo.
— Farei eu mesma os ajustes necessários, quanto a isso não se preocupe. -
Kevin levantou e colocou a taça em um canto.
— Com licença, eu não aguento mais ouvir tanta bobagem. - O modo rude
dele não agradou ninguém. Procurou não deixar que aquilo a afetasse tanto.
Judy chegou na porta e pediu licença a todos.
— Espero que não esteja bebendo, Srta. Emily. - Ela pegou seu pulso e
olhou no relógio. — Você está bem? Seu coração está acelerado demais.
— Estou bem, não se preocupe Judy, por favor, me chame apenas de
Emily, eu faço questão. - Judy sorriu e tomou de suas mãos a taça com o
champanhe intocado, colocando-a na mesinha ao lado do sofá.
George e Janie conversavam baixinho num canto, Janie olhava para ela a
todo instante e sorria.
— O que acha de fazermos um rápido passeio no jardim? O dia está lindo e
o sol ainda não está muito forte, faremos breves caminhadas duas vezes ao
dia, até que fique totalmente recuperada.
Emily estava perdida demais em seus pensamentos para prestar atenção ao
que Judy dizia, concordava quando achava que devia, e sequer notou que
estavam saindo pela mesma porta que antes Janie e George haviam saído,
apenas se deixou ser guiada, perdida demais em seus pensamentos e em sua
atual situação.
A porta de vidro se abria para uma varanda feita com pedras brancas, a sua
frente, não muito ao longe estava a piscina enorme, a água brilhando com sol.
O jardim rodeava toda casa, pelo que pode notar, havia flores de todas as
cores e tipos. Emily adorava cravos e havia muitos deles ali, ficou feliz e
esqueceu por um instante de seus problemas. Sua casa tinha um jardim, era
modesto, mas ela havia cultivado cada flor com muito amor.
Sentiu um leve formigamento na nuca e ao voltar o rosto para casa viu
Kevin a encarado numa das varadas do andar de cima. Ele a observava
enquanto falava ao telefone. Queria poder não sentir o que sentia, quando o
via, parecia que seu estômago estava cheio de borboletas tentando voar,
deixando-a sem fôlego, e logo depois vários chutes de seus bebês, que até
então estavam calmos, sorriu e acariciou o ventre.
O rosto de Kevin parecia uma máscara fria, os olhos dele demonstravam o
quanto ele a odiava, o quanto ele odiava aquela situação, ele balançou a
cabeça e entrou.
Aquilo a deixou muito triste, não entendia porque ele a odiava tanto, sabia
que havia estragado a vida dele, mas aquele ódio era demasiado ao ponto de
não conseguir assimilar, sentiu que estava perdendo um pouco de suas forças
naquele instante.
— Emily, acho melhor entrar, você está muito pálida. — Não protestou,
era muito discreta, jamais teve ninguém com quem conversar suas angustias e
mesmo que a tivesse não seria capaz de fazê-lo, pois muita coisa estava em
jogo.
Quando voltaram para sala encontrou apenas Janie que as aguardava.
— Ela está bem?
— Acho que o calor não me fez muito bem. — Falou encerrando as
perguntas.
— É melhor descansar um pouco, seu quarto já está pronto, como não pode
subir e descer escadas preparei um quarto aqui, no térreo, se não estiver de
seu agrado pode dizer. — Janie estava sendo muito gentil, ao menos alguém a
estava tratando bem naquela família.
Judy a obrigou a sentar na cadeira de rodas novamente, mesmo ela dizendo
que estava perfeitamente bem. O quarto era do tamanho de sua casa, ela não
precisava de tanto. Era neutro, mas havia flores em todos os cantos alegrando
o ambiente que, assim como os outros, era bem arejado e iluminado
naturalmente pelo sol que entrava no quarto pelas janelas de vidro que iam do
chão ao teto, do lado de fora também tinha uma pequena varada com mesa e
cadeiras confortáveis. A cama tinha o estilo antigo com dossel nos quatro
cantos e cortinas brancas presas a ele.
No quarto, também havia quatro poltronas muito confortáveis e uma
lareira. O carpete é em tom pêssego bem discreto, o branco fazia contraste
com os móveis amadeirados. Havia uma mesa de escritório com notebook e
telefone.
O closet era do tamanho da sala de sua casa, a parede ao fundo continha
um espelho do chão ao teto, lá dentro uma penteadeira com mais três
espelhos e algumas luzes para auxiliar na hora da maquiagem, ela nem tinha
tantas roupas assim e quase nunca usava maquiagens.
Uma outra porta levava a um quarto adjacente, com uma cama de casal,
um closet pequeno e um banheiro simples, Judy disse que dormiria ali por
enquanto, para poder estar perto dela sempre que precisasse. Após avaliar
cada cômodo sentou numa poltrona confortável em frente a porta de vidro da
varanda.
Queria não pensar tanto no pai de seus filhos, mas desde o dia em que
haviam ficado juntos naquela praia não conseguia evitar, queria estar com
ele, mas sabia que seria impossível, mesmo que em breve, fossem se unir em
matrimônio.
— Charles me contou que irá em sua casa hoje à tarde. — Emily
sobressaltou-se com a voz de Judy, estava tão perdida em seus próprios
pensamentos que nem notou que ela ainda continuava ali. — Me pediu para
acompanhá-lo, se estiver bom e você me disser que ficará bem, eu poderia
ajudá-lo com as suas coisas.
— Eu adoraria, vou fazer uma lista, dizendo onde está tudo que quero que
tragam. — Judy trouxe até ela um bloco da mesa de escritório e Emily
rabiscou tudo o que achou que iria precisar de imediato. — Não esqueça de
trazer minha cesta de costura que está no meu ateliê, no andar de baixo.
Sua cesta era de bambu e um tanto pesada, ainda bem que Charles iria com
Judy. Nela havia os sapatinhos de crochê que estava terminando, assim como
toalhinhas que bordava com os nomes dos bebês.
— Certo, pode anotar tudo, trarei com certeza.
— O principal está em meu quarto Judy, meu vestido de noiva, você vai
encontrá-lo no closet, está em caixa de papel grande e parda, lhe imploro que
cuide dele com sua própria vida é o meu bem mais precioso. — Judy ouvia
atentamente seu pedido.
— Não se preocupe, vou trazer até você em perfeitas condições. — Emily
agradeceu, por agora ter uma amiga a seu lado, mesmo que ela tivesse que
cuidar dela acima de tudo. Entregou as suas chaves. Tomou alguns
medicamentos que Judy lhe trouxe e deitou em sua enorme e confortável
cama, sem querer acabou cochilando quase que imediatamente.
Sonhou com seus bebês, com eles sorrindo para ela e ao seu lado uma
pessoa a abraçava fortemente, quando voltou o rosto para cima viu que era
Kevin, tão lindo, ele sorria e o sorriso era tão radiante, que aquecia seu
coração.
Só queria que fosse real e não um sonho, mas ele era Kevin Daime e a
realidade é que, o homem dos seus sonhos, não existia.
A
cordou se sentindo um pouco tonta e um tanto triste, por aquilo ser
apenas um sonho, pegou-se pensando em como seria bom se
realmente fosse real, verdadeiro.
— Olá, bela adormecida. — Judy acabara de entra no quarto quando
sentou na cama, trazia consigo uma bandeja. — Trouxe seu almoço.
— Eu dormi muito? — Levantou e sentou em uma mesa ao lado da
janela. Judy colocou a bandeja sobre a mesa. Emily estava com faminta.
— Você precisa descansar, e aqui é tão calmo. — Ela tinha que concordar
com isso, não que sua casa também não fosse, morava em uma residência
muito aconchegante, mas às vezes um vizinho ou outro ligava o som de casa
muito alto e isso tirava a paz. — Assim que você terminar de almoçar vou
sair com o Charles, vamos o quanto antes até sua casa.
Notou que Judy gostava muito de falar e não a pressionava para fazer o
mesmo, isso a alegrou, pois ainda estava um tanto triste, após acordar de seu
sonho tão magnífico.
Comeu sem nem ao menos notar os gostos ou sabor do almoço. Judy
continuou a falar em o quanto a casa era grande e aconchegante. Assim que
terminou de comer Judy saiu levando a bandeja.
Uma leve batida na porta a tirou de seus pensamentos.
— Entre. — Era Janie, radiante como sempre.
— Querida, fiquei triste quando não se juntou a nós no almoço. —
Comentou aproximando-se.
— Sinto muito, acabei dormindo.
— Entendo. — Falou demorando o olhar no ventre de Emily. — Ser mãe
era um dos meus maiores desejos. — Confessou desviando os olhos e
olhando para o jardim pela janela de vidro.
— Gostaria de sentar? — Perguntou, pois era a única coisa que poderia
dizer no momento, afinal ainda estava se sentindo um pouco deslocada por
estar naquela casa com aquelas pessoas.
— Obrigada, minha querida. — Sentou numa poltrona ao lado de Emily
voltou a sorrir a fitando nos olhos, todos seus gestos eram elegantes, até
mesmo o som de seu sorriso. — De quantos meses você está? — Quis saber.
— Quase sete meses.
— Essas crianças vão trazer muita alegria para essa casa, ainda não estava
preparada para ser avó, mas a ideia até que não é má. — Emily sorriu e
acariciou o ventre, tinha curiosidade, queria fazer perguntas, mas não sabia se
tinha o direito de fazê-lo.
— São somente vocês três na casa? — Janie franziu o cenho.
— Nós três?
— Sim, Kevin você e o tio George. — Ela gargalhou e abanou a mão.
— Ah, não querida. George aparece raramente por aqui, ele mora sozinho
em um apartamento é viúvo, e Kevin, bem... — Emily não entendeu a pausa.
— Kevin não mora aqui desde que a mãe morreu, infelizmente sou a única
que residia na casa, felizmente você apareceu e ele resolveu que deveria criar
os filhos onde cresceu.
A resposta a deixou mais curiosa com relação a tudo sobre a vida do seu
futuro marido.
— Entendo, deve ser horrível viver sozinha em uma casa tão grande
como essa. — Apontou, ela mesma jamais seria capaz de morar ali sozinha.
— Com o tempo as coisas ficam mais fáceis, na verdade, faz pouco
tempo que vivo aqui sozinha. — Notou a tristeza nos olhos dela. — Bryan, o
pai de Kevin, você sabe, faleceu há poucos meses.
— Sinto muito.
— Nós estávamos planejando ter filhos esse ano, mas infelizmente... você
sabe, ele se foi... — O sorriso dela agora era pálido, sem vida. Segurou a mão
Janie e apertou para lhe dar um pouco de apoio.
— Deve ter sido muito triste para todos vocês.
— Sim. — Disse enxugando uma lágrima com a ponta dos dedos. — Mas
agora tem você e os bebês, talvez isso possa amolecer o coração do Kevin e o
aproximar mais da família.
— É o que eu espero, ele é tão... — Parou quando notou que poderia estar
sendo indelicada. Janie a encarou e bateu levemente em sua mão.
— Eu sei, sei muito bem, ele é muito rude e temo por você, afinal você é
tão jovem. — Janie desviou os olhos por um segundo. — Espero que possa
mudar, pelos filhos, você vai ter que ter muita paciência, ele sempre foi muito
sozinho, filho único. — Ela bateu mais uma vez em sua mão. — Não quero
sobrecarregá-la com assuntos tão velhos de família.
— Não está, eu... eu quero saber, quero conhecê-lo melhor. — Pediu
antes que sua coragem a abandonasse.
— Eu acho que eu sou a grande culpada. — Emily não entendeu.
— Como assim?
— Bryan casou comigo não muito depois da morte da mãe de Kevin, o
mesmo jamais aprovou, mas acho que agora já até se acostumou comigo. —
Ela fez uma pausa e Emily pensou que havia se arrependido de falar. —
Bryan era bem mais velho que eu, na realidade, eu e Kevin temos quase a
mesma idade. — Emily tentou não demonstrar o quanto estava chocada com
a revelação e seria bobagem da parte dela, afinal isso era normal e não
julgava as escolhas alheias. —Acho que somando isso a morte da mãe
transformou Kevin no que ele é hoje.
— Entendo.
— Nós somos uma família agora, não deve existir segredos entre nós.
Após uma batida leve, Judy entrou, carregando a caixa nos braços e com
Charles em seu encalço trazendo seu cesto de costuras com um pouco de
esforço.
— Onde coloco isso? — Perguntou ele.
— Aqui, ao meu lado. — Assim que ele a colocou do seu lado, Emily
agradeceu e ele se retirou. — Gostaria de ver o meu vestido de noiva, Janie?
— Perguntou repentinamente.
— Eu adoraria.
— Judy, você poderia retirar o vestido da caixa, por favor? — A
enfermeira assentiu e puxou o laço que mantinha a caixa fechada.
— Que lindo! — Exclamou Judy estupefata, antes mesmo de retirar o
vestido da caixa de papel. Quando o tirou, Emily encarou Janie e ela ficou de
queixo literalmente caído. Emily também voltou os olhos para o vestido e seu
coração ficou emocionado, mesmo já o tendo visto tantas e tantas vezes
antes, a sensação de repetia.
— Ele é magnífico Emily. Onde o conseguiu? — O vestido era tomara
que caia todo em fuxico branco com perolas róseas em casa centro dos
fuxicos.
— Foi minha mãe quem o fez. — Por baixo do fuxico havia seda também
branca, ele não era um vestido espalhafatoso e também não tinha uma saia
balão, a saia era reta e longa nesta parte os fuxicos eram mais afastados e
pontos de crochê unia um ao outro, era uma obra de arte única.
— Você vai ficar linda, mas tem certeza de que vai conseguir fazer os
ajustes necessários sem estragá-lo? — Era comum as pessoas ficarem
descrentes com suas habilidades.
— Sim, não se preocupe. — Judy o colocou de volta na caixa.
— Muito bem, o que acha de se juntar a nós no jantar? Vai ser ótimo
todos juntos. — Ela não tinha como dizer não, não queria encarar Kevin, mas
não podia fugir do noivo para sempre, não na casa dele.
— Com prazer. — Respondeu. Janie então levantou e alisou a roupa.
— Nos vemos no jantar. — Ela a beijou no rosto antes de sair.
— Que bom que não ficou a tarde inteira sozinha. — Judy colocou o
vestido no closet ainda vazio.
— Trouxe tudo que lhe pedi? — Quis saber, pois na lista havia pedido
para trazerem suas roupas e artigos de higiene pessoal.
— Sim, trouxemos tudo.
— Ótimo, eu adoraria poder tomar um banho agora. — Emily não
precisou de ajuda para isso, já estava se sentindo muito melhor. Colocou um
de seus vestidos de grávida e penteou os longos cabelos o que demorou um
pouco já que os cachos, um tanto rebeldes, não ajudavam muito, mas queria
ficar bonita.
A porta do quarto de Judy estava sempre aberta caso Emily precisasse de
algo. Quando ficou apresentável, alguém bateu em sua porta.
— Está aberta. — Falou da penteadeira onde fechava um de seus cremes
para as mãos. Olhou pelo espelho para o recém chegado, e sua boca ficou
instantaneamente seca. Kevin entrou em seu quarto e veio a seu encontro.
— Vim buscá-la para o jantar. — Avisou ele, ríspido demais
demonstrando que estava ali apenas por obrigação, desviou os olhos para
esconder seu desapontamento.
— Não era necessário. — Disse um tanto fria.
— Eu faço questão. Você pode andar? — Perguntou encerrando a
discussão.
— Sim. — Ela havia escolhido um vestido creme com um casaquinho de
crochê, um dos vários que tinha, o vestido chegava até os joelhos e na ponta
ela havia bordado flores coloridas, esse era o único enfeite da peça. Levantou
e, sem que esperasse, Kevin tomou sua mãe e a apoiou em seu braço, a
guiando pela casa.
Ele se esforçava para andar devagar. Queria perguntar como havia sido
seu dia, mas sabia que receberia uma resposta irônica do tipo: não é da sua
conta.
Então, fez o mesmo que ele, ficou em silêncio.
E
le cheirava tão bem que Emily se pegou fechando os olhos por um
instante para sentir melhor a fragrância, uma mistura de colônia, com
loção pós-barba que a deixou inebriada.
Ela chegava à altura dos ombros fortes de seu noivo, que estava vestindo
um terno esportivo preto e branco o que acentuava sua pele bronzeada.
A sala de jantar ficava do lado oposto de seu quarto, logo que chegaram
ele a acomodou em uma das cadeiras. Janie chegou acompanhada de George,
que também vestia um terno esportivo azul. Sorriram para Emily, Janie
sentou à sua frente George sentou ao lado da mesma e Kevin a cabeceira da
mesa de jantar, ficando Emily a sua direita.
— Boa noite Emily, você está radiante. — Elogiou George deixando-a
rubra, ouviu o baixo resmungo de Kevin, mas não deu importância.
Dois empregados uniformizados começaram a servir todos com bebidas e
a entrada. Emily não estava acostumada com tanta sofisticação e ficou um
pouco receosa, não queria errar na frente de Kevin. Janie parece ter notado
seu nervosismo, pois sorriu e pegou o primeiro talher lhe mostrando como
deveria fazer.
Kevin e George discutiam sobre trabalho, e como Emily não entendia
nada sobre o assunto, não deu muito ouvidos ao desenrolar dos diálogos.
— Ah, Emily, esqueci de comentar com você está tarde, que amanhã uma
decoradora virá para falar sobre os preparativos do casamento e também do
seu quarto e dos bebês, se você quiser dar sugestões seria bom. — Avisou
Janie assim que o segundo prato da noite foi retirado.
— Claro que sim, mas de que quarto exatamente você está falando, não
será o que eu estou, o meu quarto? — A pergunta silenciou os homens.
— Claro que não Emily, teremos um quarto só para nós, assim que os
bebês nascerem. — A resposta de Kevin a surpreendeu. Não sabia das
intenções dele.
— A florista também virá, você pode escolher as flores que quiser para
cerimônia se assim desejar. — Emily apenas assentiu, pois ainda tentava
digerir as informações.
O jantar acabou e Emily se retirou quando Judy apareceu para lhe dar
mais um remédio, usou uma desculpa qualquer e os abandonou. Kevin não
pareceu notá-la, não disse nada, simplesmente continuou a ignorá-la. Queria a
todo custo ignorá-lo também, mas daquela forma não sabia como. Ficou
sentada em frente à TV durante muito tempo, até que Judy veio e alertou
sobre a hora e como era importante dormir bem, então deitou e não conseguiu
encontrar a posição ideal. Logo ficou irritada, não conseguia parar de pensar
nele, toda vez que fechava os olhos para tentar dormir, era os dele que
encontrava, parecia um tormento. Desistiu de tentar dormir e levantou.
Judy já havia se recolhido, mas sabia que qualquer barulho a despertaria
imediatamente, então, saiu pela porta de vidro de seu quarto que levava ao
jardim, sem fazer nem um ruído.
Estava tão fresco e úmido do lado de fora, cobriu mais o corpo e só
depois notou que estava descalça, adorava andar sem os sapatos, e sentir a
grama macia foi quase uma benção. Afastou-se mais e acabou encontrando
um caramanchão cheio de trepadeiras e flores coloridas, abaixo dele havia um
banco de pedra, sentou e ficou ouvindo o barulho da fonte e dos grilos.
— O que está fazendo aqui fora?! — Saltou assustada quando ouviu a voz
de Kevin.
— Meu Deus! Você quase me matou de susto. — Reclamou e não gostou
do ar reprovador que viu nas feições de seu noivo.
— Você é louca, está tarde e frio aqui fora. — Ficou tentada a dar uma
resposta mal criada, mas se conteve.
— Não consigo encontrar a posição ideal para dormir, acho que estou
estranhando a cama, a casa, não sei.
Estava mentido, ela não conseguia parar de pensar nele e não gostava
disso.
— Está sendo imprudente, não se esqueça que está de repouso absoluto,
poderia passar mal ou desmaiar. É realmente uma tola! — Estava começando
a ficar cansada da frieza dele.
Ele estava furioso e ela estava se controlando para também não ficar.
— Não pude evitar, eu simplesmente...
— Eu não me importo com você Emily, quero que isso fique bem claro,
estamos nos casando, se é o que você queria, mas essa era a última coisa que
eu desejava no momento. — Emily fincou as unhas nas mãos até doer para
evitar que a dor que as palavras que lhe jogava na cara não alcançasse seu
coração já tão despedaçado. — Você é tão infantil e sempre tão imprudente.
— Cale a boca! — Gritou com um fio de voz deixando-o chocado. —
Você é o homem mais insensível que eu já conheci em toda minha vida, juro
por Deus, desejava que o pai dos meus filhos fosse outro homem, qualquer
um, se eu pudesse voltar atrás jamais teria entregado minha inocência para
alguém podre como você!
A voz saia esganiçada, conteve as lágrimas não queria mais chorar na
frente dele, não queria que visse o quanto ela era realmente frágil, ele não
merecia, não mais.
— Ou você é muito esperta ou é realmente a maior tola do mundo, me
tratando assim. — Ele se considerava alguém intocável e para as outras
pessoas até podia ser, para ela um dia até foi, mas agora sabia que Kevin não
passava de um homem arrogante e prepotente, ele poderia tratar a todos a sua
volta como lixo, no entanto, ela não era esse tipo de mulher, ela tinha seu
orgulho e jamais abriria mão disso.
— É o que você realmente merece. Sabe o que mais? Eu vou embora, não
me importo com a imprensa ou com seu maldito ego, você pode inventar uma
desculpa para eles, eu não o quero como pai dos meus filhos. — Quando ela
tentou passar, ele a impediu.
— Não vai, você e as crianças me pertencem e não vai embora até eu
dizer o contrário. — Emily começou a ficar assustada. — Vamos nos casar
sim, e quando as crianças nascerem faremos o DNA e se o resultado for
positivo pode ter certeza de que nada nem ninguém poderá me separar deles.
— Se for negativo? — Perguntou num sussurro.
— Vou destruir você por me fazer de tolo, que isto fique bem claro, você
jamais vai esquecer de mim. — Kevin selou a promessa de vingança com um
beijo que deixou as pernas de Emily bambas.
Sentiu o gosto de sangue no mesmo instante, o beijo foi grosseiro e
possessivo, as mãos dele apertavam com força seus braços, lutou, mas ele era
muito mais forte, então o mordeu, por fim, a largou, sorriu, um sorriso sem
graça e limpou o lábio ferido com a ponta da língua.
Emily não conseguia conter o tremor que a invadia, sentou no banco de
pedra, antes que caísse. Seus lábios estavam inchados e doloridos. Quando o
encarou os olhos de Kevin brilhavam de forma ameaçadora, ergueu o queixo
tentando afastar o medo que a corroía por dentro.
Seus bebês pareciam estar sabendo exatamente o que estava acontecendo
do lado de fora e seu ventre saltava sem parar.
— Isso pode ser diferente, sei que me odeia por estragar sua vida, mas
deseja viver ao lado da pessoa que, em sua opinião, não merece pisar o
mesmo chão que você?
Kevin colocou as mãos nos bolsos e ergueu as sobrancelhas, olhando-a
dos pés à cabeça, demorando-se no ventre alto.
— Tudo mudou no momento em que você abriu a boca para imprensa. —
Emily abriu a boca sem acreditar no que acabara de ouvir.
— Eu não abri a boca coisa alguma, você está redondamente enganado.
— Pelo olhar dele viu que não estava acreditando em nenhuma de suas
palavras.
— Não me venha com mais uma mentira, eu odeio mentiras Emily.
Como ela podia acreditar por um minuto sequer que aquele homem a sua
frente fosse um homem bom como havia imaginado anteriormente?
— Quem mais poderia dar tantos detalhes? As únicas pessoas que sabiam
com exatidão de tudo eram você, Janie, tio George e eu, e eles, eu posso jurar
que jamais fariam tal coisa.
Pronto, mais uma na conta dela, sabia que nenhuma explicação seria
suficiente para fazê-lo acreditar em sua inocência. Balançou a cabeça sem
acreditar na própria sorte.
— Muito bem então, acredite no que quiser, eu começo a não me importa
mais. — Ele a olhou desconfiado e sabia que muitas coisas ruins sobre ela
passavam por sua mente naquele momento, mas estava cansada de tentar
mostrar quem ela realmente era. — Vou me deitar, essa agitação toda não era
o que eu estava procurando.
— Ora, pare de fingir ao menos por um instante, esse teatro deve ter sido
todo proposital, afinal, você deve saber que meu quarto fica de frente para
esse caramanchão. — Só podia ser brincadeira, pensou consigo mesma.
— Como eu poderia saber deste detalhe? — Perguntou no mesmo tom de
zomba que ele usou.
— Não se faça de desentendida, não combina com você! —Suspirou e
tentou mais uma vez passar por ele sem lhe responder a afronta, mais uma
vez a impediu.
— Me deixe passar. — Pediu tentando soar confiante, mas podia jurar
que ele podia ler sua expressão corporal muito bem.
Ficaram alguns instantes com os rostos a apenas a alguns centímetros um
do outro, sabia que estava rubra pelo olhar penetrante, no entanto, não
desviou, não poderia, na verdade, não sabia como não o fazer.
Levou um susto, e seus olhos demonstraram isso, quando sentiu a mão
dele tocar o centro de seu ventre, enquanto ele ainda continuava a encará-la
daquela forma ameaçadora e possessiva.
— Eles são fortes. — Comentou e ela pode sentir o hálito fresco, e o
toque quente da mão de Kevin a fez ficar arrepiada instantaneamente. Por que
ele exercia aquela atração tão intensa nela? A poucos minutos ela queria estar
a milhões de quilômetros dali e no instante seguinte queria que aquele
instante durasse para sempre, mas não durou muito. Ele retesou o maxilar e a
soltou com rispidez.
— Volte para seu quarto agora e não quero vê-la do lado de fora a essa
hora novamente. — A ordem foi bem explicita, só depois ele se foi,
amaldiçoou a si mesma por querer algo a mais com ele, seria impossível.
Estava claro que aquilo nunca daria certo, para nenhum dos dois.
A
cordou no dia seguinte depressiva e comeu e bebeu tudo que Judy a
oferecia, de forma automática.
— Você está muito apática, Emily, precisa mudar isso. —
Aconselhou Judy, quando ela não quis sair para caminhar no jardim aquela
tarde.
— Estou bem, não se preocupe, além do mais eu preciso mesmo terminar
os reparos do meu vestido.
A enfermeira não a pressionou, porém ficou o tempo todo de olho, saindo
o mínimo possível do seu lado chegando a ajudá-la com seu vestido.
No final da tarde uma das empregadas da casa veio avisá-la que Janie
aguardava na sala de visitas. Foi apenas porque havia pedido para ser
incluída, mas não sentia a mínima vontade de sair de sua prisão rica.
Afinal, Janie estava sendo muito gentil, cuidando dela como a uma filha,
mesmo não a conhecendo, a aceitou como parte da família de imediato.
Na sala, encontrou Janie e mais duas mulheres muito bem vestidas,
conversando animadamente.
— Emily, querida! Quero que conheça minha amiga e decoradora Loren e
a florista e paisagista Carmem, meninas essa é a noiva. — As mulheres
tinham provavelmente a mesma idade que Janie e notou no olhar delas, certa
hostilidade.
— Ela é muito jovem. — Comentou Loren, a medindo, com os olhos, de
alto a baixo, reparando em sua modesta roupa. Jamais se sentiria diminuída
por seus trajes, pois ela mesma os havia confeccionado com muito amor e as
peças eram únicas.
— E linda como você havia dito, não é à toa que fisgou seu enteado,
Janie. — Janie sorriu e indicou um lugar para Emily ao seu lado no sofá.
— É um prazer conhecê-las, senhoras. — Uma outra empregada, muito
bem uniformizada serviu a todas com chá gelado, uma brisa fresca entrava
pelas janelas grandes deixando o ambiente muito aconchegante.
Só então, Emily notou uma outra mulher no canto da sala, ela analisava
alguma coisa num notebook e logo aproximou-se delas segurando um tablet
preto nas mãos com unhas muito bem manicuradas.
— Emily, está é Patrícia, minha secretaria pessoal. — Lembrou de Janie
tê-la mencionado no dia anterior. — Logo você irá precisar de uma também,
são muitas coisas com as quais terá que lidar, após o casamento. — Patrícia
vestia um terninho sobre medida verde oliva. Ela era muito bonita e séria,
seus olhos e cabelos castanhos, pele bronzeada, os cabelos estavam presos
num coque alto acentuando seu rosto. Emily não queria pensar em nada após
o enlace, não agora.
— Então, Loren, quais as novidades na decoração? Quero que o quarto do
casal fique perfeito, seria ótimo se você pudesse ver o quarto de vocês Emily,
fica na ala mais bonita da casa, dele você poderá apreciar o nascer do sol. —
Imaginou que sim. — O quarto é grande e aconchegante, você terá o seu
próprio banheiro, tem também uma antessala, tenho certeza que vai gostar de
como tudo vai ficar no final.
— É um tremendo exagero, mas se você acha que está bom, então, para
mim também está. — Loren mostrou para elas cores de carpete e papel de
parede, no final Janie acabou decidido as cores, pois Emily havia achado
todos lindos.
— Para os quartos dos bebês, já decidiram as cores ou ficam com os
tradicionais? — Loren era uma profissional muito eficiente pelo que pôde
constatar.
— Quartos? Como assim quartos? — Loren ergueu as sobrancelhas,
estava um tanto cética, devia ser mais uma a achá-la uma tola.
— Sim, querida, dois quartos, as crianças precisarão de espaço e como
você terá um casal nada mais justo que a menina tenha um quarto só dela e o
menino também, não acham meninas? — As demais concordaram.
— Entendo, mas eles ainda são bebês e será apenas um quarto para os
dois, decore uma das paredes de azul com carrinhos coloridos e uma outra de
rosa com bonecas é só o que quero.
— Mas Emily eles não são crianças comuns, são filhos de Kevin. —
Rebateu Janie sorrindo sem jeito
— São meus filhos também, Janie, e terá que ser do meu jeito ou nada
feito para mim, eles poderiam muito bem ficar comigo em meu quarto, afinal
de contas, tem tanto espaço, mas como podem ter um só para eles não vejo
nada demais, mas um quarto para cada um dos bebês não acho certo, já que
eles terão apenas uma mãe. — Deixou bem claro a última parte. Todas
ficaram a encarando como se estivesse falando uma outra língua.
Sabia que seria difícil, mas aquele casamento estava fadado a não dar
certo e quanto menos planos fizesse melhor.
— Então... — Carmen retomou. Patrícia aproximou-se de Janie e mostrou
a ela alguma coisa em seu tablet, conversando baixinho. — Qual a sua
escolha com relação às flores? — A pergunta foi feita com cautela. Sabia que
havia sido um tanto rude, mas precisava se impor quando se tratava de seus
filhos.
— Eu gostaria muito de colocar copos de leite, e o meu buquê também.
— Boa escolha. — Elogiou. Uma outra empregada entrou e anunciou a
chegada do advogado da família. Janie pediu para que o guiasse até ali, sendo
atendida de pronto. Tinha noção de que aquela casa enorme tinha muito mais
que duas empregadas, até o momento já havia visto muitas, todas a tratavam
com educação polida, mas evitavam conversar ou ficar no ambiente mais que
o necessário.
— Boa tarde, senhoras. — Richard cumprimentou a todas e assim que lhe
ofereceram algo para comer e beber apenas agradeceu e retirou de sua maleta
o acordo pré-nupcial. — Emily, fiz um contrato exatamente como o anterior,
porém retirei a cláusula que você não concordou, fique à vontade para ler.
Leu com atenção e estava tudo exatamente como ele havia dito, assinou
sem demora e entregou os documentos para ele.
— Já está de saída, Richard? — Quis saber Janie. — Não gostaria de ficar
para o jantar?
— Agradeço o convite, mas o dever me chama. — Ele educadamente
beijou a mão de Janie e ela sorriu. — Emily, acredito que nos veremos
apenas em seu casamento, até lá, boa sorte para você e seus bebês!
— Obrigada. — Sabia que ele estava indo ao encontro de Kevin para lhe
mostrar os papéis devidamente assinados, ele queria a prova, sabia disso,
sabia que por nenhum motivo do mundo confiaria nela, mesmo não a
conhecendo o suficiente para saber que Emily era incapaz de trair.
Judy veio logo depois que Richard saiu trazendo consigo seus remédios.
Conversou mais um pouco com Carmem que mostrou em seu notebook as
tendências das flores nos casamentos. Loren também lhe mostrou como o
jardim seria enfeitado e onde a cerimônia seria realizada. Seria no
caramanchão e pelo exemplo tudo seria muito lindo.
Carmem se despediu de todas no começo da noite, agradecendo pelo
convite de ficar para o jantar.
Emily não havia gostado muito das duas amigas de Janie e não entendia o
porquê alguém como ela tinha a seu lado mulheres tão cheias de prepotência.
Elas olhavam para Emily de forma que demonstravam o que realmente
estavam pensando de toda aquela história de casamento.
Sabia que não fazia parte da alta sociedade e que não sobreviveria a
aquilo tudo se fosse fraca, e pelo que pôde notar, pela forma de como o nome
de Kevin dançava em suas bocas, elas eram atraídas por ele. Afinal, que
mulher não ficaria? Ele é terrivelmente lindo, arrancava suspiros por onde
passava e em breve seria seu marido.
Assim que Kevin chegou, ela saiu dando uma desculpa qualquer, sem ao
menos falar com ele, ainda estava um pouco abalada e não queria ficar muito
próximo do noivo naquele momento.
Sabia que teria que vê-lo no jantar, mas até lá, evitaria o máximo.
Tomou um banho relaxante e vestiu um vestido rosa, deixou os cabelos
encaracolados soltos e brilhantes caírem sobre suas costas, os cabelos de sua
mãe eram exatamente como os seus e conservá-los assim a fazia lembrar
dela. Lembrava com exatidão, de suas mãos carinhosas, trançando suas
madeixas e lhe contando historias antes de dormir, se agarrava a cada
lembrança, era a única coisa que tinha.
Não esperou que Kevin viesse buscá-la, saiu antes que ele batesse em sua
porta. Na sala de jantar com aquela mesa de madeira com mais de vinte
cadeiras Janie conversava animosamente com sua amiga Loren.
— Nossa Emily, seu cabelo é lindo. — Elogiou Loren, assim que a viu.
— Mas acho que um corte moderno favoreceria mais. — Alfinetou em
seguida.
— É mesmo, eu não havia notado antes, pois sempre estava trançado,
muito bonito, mas realmente a deixa um pouco infantil. — Emily tinha
certeza de que Janie ainda devia estar chateada, depois de tê-la repreendido a
tarde, na frente de suas amigas, não demonstrava, mas podia notar um tom
diferente em sua voz.
— Eu acho que está encantadoramente linda. — O coração de Emily
parou ao ouvir a voz de Kevin a suas costas, não podia acreditar que havia
recebido um elogio da parte dele, só podia ser um sonho ou um pesadelo.
Não se atreveu a virar-se para olhá-lo, sabia pelo cheiro no ar que ele
devia estar impecável, vestindo algo que o deixava ainda mais sexy.
— Kevin, precisamos colocar a conversa em dia, você não me contou
sobre a sua viajem de amanhã. — Emily percebeu o quanto Loren queria
voltar o centro das atenções para ela e não se importou.
Sentou numa das poltronas o mais afastado possível, uma criada entrou e
perguntou se eles desejavam algo para beber antes do jantar.
— Martini para as senhoras, uísque sem gelo para mim e um suco de uva
para Emily. — Não questionou a escolha, enquanto ele conversava com Janie
e Loren, o observou e naquele instante percebeu que seus filhos não era a
única desculpa de estar ali, de casar com ele, desejava isso, seu ser desejava
estar ao lado dele para sempre, mesmo não sendo o que esperava.
Bebericou seu suco distraidamente, enquanto ouvia-os conversar,
ninguém fez menção de colocá-la no meio da conversa.
— Conseguirá chegar a tempo para o casamento? — Perguntou Loren
com os olhos brilhando, sua taça foi cheia mais uma vez.
— Chegarei dez minutos antes, se o avião atrasar tenho certeza de que
serei aguardado. — Disse olhando para Emily, enquanto tomava o restante de
sua bebida âmbar. Precisava parar de corar na frente dele, toda vez que a
olhava daquela forma penetrante, sentia um leve formigamento na nuca e seu
sangue parecia estar em chamas em suas veias.
— Vai chegar a tempo. — Comentou Janie.
Logo depois, o jantar começou a ser servido. Emily sentia falta de estar
em sua casa jantando sozinha, não estava acostumada a comer com tanta
gente desconhecida.
— Vai viajar? — Quando formulou a pergunta arrependeu-se na mesma
hora, ele provavelmente, não a queria se metendo em seus assuntos.
— Sim, amanhã bem cedo. — Respondeu educadamente a deixando
surpresa. — Espero que fique bem, em minha ausência. — Olhou para ele
com olhar interrogativo sem acreditar em toda aquela preocupação. Emily
estava, quase que em choque.
— Não se preocupe, ela está em boas mãos. — Falou Janie sorrindo para
Emily.
— Soube que está ajustando o vestido. — Notou que ele estava ignorando
Janie e que ela não estava gostando muito disso.
— Sim... — Respondeu meio sem graça, não conhecia aquele lado dele e
estava um tanto sem jeito. — Na verdade, o ajuste não era muito grande e já
terminei, o vestido está pronto.
— Fiquei sabendo que o vestido é lindo Emily, outra hora você tem que
me mostrar, soube que sua mãe o fez, é verdade? — O sorriso de Loren já
estava deixando Emily nauseada.
— Você poderá vê-lo no dia da cerimônia. — Disse fria. Todos ficaram
em silêncio um instante. Infelizmente o tio de Kevin não estava ali, ele era
bom em quebrar gelo, sempre tinha algo muito importante para dizer ou
perguntar.
— Assinou o contrato. — Não foi uma pergunta, mas percebeu pelo tom
na voz dele que não acreditava que ela fosse assinar, que iria impor mais uma
desculpa.
— Como eu disse que faria. — Estava começando a perceber que a bola
da frieza havia passado para ela. Respirou fundo algumas vezes e ficou em
silêncio, enquanto Loren e Janie conversavam animosamente com Kevin ou
tentavam, já que ele apenas respondia de forma sucinta.
— Loren, acho melhor você não ir para casa hoje, não nessas condições.
— Ambas riram do comentário de Janie. — Então, os nomes dos gêmeos já
estão decididos?
— Eu ainda não pensei nada sobre isso. — Respondeu Kevin parando
com o garfo no ar, dar nomes aos bebês os tornavam mais reais, isso devia
estar acontecendo com Kevin. — Você já pensou em nomes, Emily?
— Sim. — Escolher os nomes era um momento entre pai e mãe, mas
como Emily não imaginava que fosse conviver com o pai dos seus filhos já
havia escolhido de antemão.
— Que nomes escolheu, querida? — Perguntou Janie, Loren continuava a
beber seus drinks, ela não havia comido quase nada e já aparentava estar
embriagada.
— Karen e Kevin. — Acariciou o ventre e viu surpresa nos olhos de seu
noivo.
— Meu nome? Você escolheu o meu nome? — Perguntou, agora mais
desconfiado, ela não sabia o que tinha feito a ele para desconfiar tanto dela,
mas precisava descobrir e remediar.
— Sim, escolhi quando ainda estava com dois meses, Karen é em
homenagem a minha mãe.
— Onde está sua família, Emily? — A voz de Loren saiu embargada pela
bebida.
— Meus pais morreram a nove anos em um acidente, tenho alguns
parentes, mas moram em outras cidades e nunca tive muita proximidade com
eles. — Limpou os lábios e tomou um gole de água, não queria falar de seus
pais na frente de desconhecidos, muito menos agora que sentia tanta vontade
de chorar. — Estou muito cansada, vou me deitar, boa noite.
Saiu rapidamente antes que alguém protestasse. Não se sentia confortável
para contar a eles sobre tudo o que havia passado, após a morte prematura de
seus pais, não achava que eles dariam a importância para tal assunto tão
íntimo e particular.
Vestiu uma camisola e deitou, não evitou que as lágrimas caíssem sobre o
travesseiro, ela agora teria uma família, mas no fundo ainda se sentia só,
muito mais só que antes.
Teve um pesadelo terrível e quando acordou sentiu que suas forças
haviam esvaído por completo, ouviu o movimento da enfermeira pelo quarto,
mas não abriu os olhos, não queria ver ou falar com ninguém no momento. O
grito de desespero de Judy a fez sentar rápido demais.
— Mais o que aconteceu? — Judy estava com as mãos sobre os lábios e a
encarava como se Emily fosse uma aparição.
— Meu Deus, o que fizeram com você?! — Emily continuou sem
entender o que estava acontecendo, foi então que sentiu que uma parte sua
estava lhe faltando. Passou as mãos pelos cabelos e as madeixas saíram
facilmente caindo sobre seu colo.
— Oh, não... não! — Sobre o travesseiro estava todo o seu cabelo, eles
não haviam caído, alguém havia o cortado enquanto dormia e agora ele
chegava apenas a sua orelha num corte mal feito todo repicado.
Cobriu o rosto com as mãos e chorou, com nunca antes.
J
udy acabou tendo que medicá-la com um sedativo leve o que a deixou
num estado quase vegetativo, ouvia vozes a sua volta, sem entender e
não fazia questão de saber o que acontecia e o que diziam.
Janie estava terrivelmente furiosa, após descobrir o acontecido e ficou ao
lado de Emily durante boa parte do tempo.
Estava tão triste que mesmo após o efeito do remédio passar não saiu da
cama ou falou com ninguém, todos tentavam inutilmente consolá-la, mas era
em vão. Como alguém poderia ter feito aquilo com ela? Como alguém
poderia odiá-la tanto sem nem ao menos conhecê-la realmente? Ela sabia
quem havia feito, sabia desde o princípio, a única pessoa naquela casa que a
odiava mais do que tudo era ele e mais ninguém, só de pensar nisso ficava
enjoada.
Kevin ligou para várias vezes e se recusou a atendê-lo, logo não ligou
mais. No segundo dia o médico foi chamado, pois Judy já não sabia o que
fazer, ele falou, mas ela não estava pronta para se abrir com quem quer que
seja.
Percebeu que aquele ódio que Kevin sentia por ela, também estava em
seu coração, algo, com certeza havia morrido. A única coisa que realmente a
consolava e que a obrigava a comer, beber e caminhar eram os seus
pequenos, nada mais importava.
Sabia que se Kevin era capaz de fazer o que havia feito, era capaz de
fazer pior e por isso jamais voltaria a baixar a guarda para ele novamente.
Janie chamou um cabeleireiro, que a deixou mais apresentável, mas Emily
não conseguia mais se olhar no espelho, aquela que via não era mais ela, era
outra pessoa.
No dia do casamento ela se aprontou, vestiu o vestido de noiva que ficou
um tanto folgado, mas de forma imperceptível, sabia que seu peso havia
caído consideravelmente, mas não sabia o que fazer para remediar, já que não
tinha tanto apetite, Judy insistiu com a maquiagem dizendo que ela não
poderia aparecer na frente dos convidados tão pálida como estava. Seus
cabelos ondulados foram enfeitados com uma tiara de flores em rosa e
amarelo, Judy ficou emocionada quando a noiva enfim estava pronta.
— Você está tão linda. - Disse enxugando as lágrimas com um lenço
branco. — Eu sei que já repeti isso várias vezes, mas... - Sabia o que ela ia
dizer.
— Então, não diga nada. - Cortou antes que ela prosseguisse.
Respirou fundo e tentou não dar mais importância para aquele detalhe.
Ninguém jamais saberia o valor emocional que seus cabelos tinham e o
porquê de se sentir tão mal sem ele.
Uma leve batida na porta a salvou das desculpas sem necessidade de
Judy.
— Posso entrar? - Era George, o tio de Kevin, ele a acompanharia até o
altar. Assim que a viu, entrou e ficou boquiaberto. — Você está tão linda. -
Elogiou e sentiu a sinceridade nas palavras. — Eu trouxe o meu presente de
casamento. - Emily ficou sem palavras diante do anúncio.
— Não precisava se incomodar com isso. - Disse meio sem jeito.
— Eu realmente faço questão, vejo que não está usando nenhuma jóia,
então queria que aceitasse esse modesto presente é de família e você agora
faz parte dela. - Ele se aproximou de onde Emily estava sentada e entregou a
ela um estojo de veludo quadrado, quando abriu ficou sem fôlego. Uma
gargantilha pequena toda em diamantes repousava sobre o veludo, a joia
brilhava mais do que tudo que ela já havia visto em sua vida. O presente não
era nada modesto. A gargantilha tinha brilhantes pequenos e notou que havia
um rosa no espaço de cada um, transparente, não sabia onde começava ou
terminava.
— Eu não posso aceitar. - Disse num fio de voz.
— Não só pode como deve, a partir de agora você também é minha
sobrinha e não sabe o quanto isso me alegra.
Antes que pudesse negar o presente mais uma vez, ele o retirou do estojo
e colocou-o em seu pescoço, o peso frio a deixou um tanto desconfortável,
tocou as pedras e temeu perdê-las.
— O noivo já está esperando, se você já estiver pronta, podemos ir. -
Aceitou o braço oferecido e saíram pela grande janela de vidro de seu quarto.
Um caminho de flores foi feito a partir de seu quarto fazendo um
contraste perfeito com a grama tão verde.
Respirou fundo quando sentiu que estavam chegando ao caramanchão.
Cadeiras brancas foram postas e já estavam todas preenchidas com os
convidados desconhecidos. Todos levantaram quando a marcha nupcial
inesperadamente começou a tocar.
Viu Kevin no altar e tentou inutilmente, não ficar nervosa, mas seu coração
não obedeceu a seu pedido e começou a bater descontrolado.
Desviou os olhos dos dele quando o mesmo ficou surpreso de forma
descarada com o seu novo visual. Como ele podia ser tão sínico?
Se concentrou na grama que fazia cócegas nos seus pés descalços. Não
achava necessário calçar sapatos já que a cerimônia seria realizada no jardim
e não tinha nada que combinasse perfeitamente com o vestido, ninguém
poderia dizer que estava sem eles, já que o vestido era longo e mesmo que
não o fosse, Emily não se importava.
Quando enfim se aproximaram tentou mais uma vez controlar a batidas
de seu coração masoquista, não havia outra explicação para ele ficar tão
descompassado diante de uma pessoa que a fazia sofrer terrivelmente.
George beijou sua mão fria e a colocou sobre a que Kevin ofereceu e a
aninhou em seu braço forte e quente. Ele aproximou seus lábios sedutores de
sua orelha e sentiu que as borboletas em seu estômago batiam as asas
depressa demais.
— Você está linda. — Não disse nada, apesar de toda a atração que ele
exercia sobre ela, ainda estava furiosa.
Não entendeu metade do que o juiz a sua frente disse, já que sua mente
estava voltada totalmente para o homem ao seu lado, num estado constante de
amor e ódio de si mesma.
— Emily Marie Graham, você aceita Kevin Edward Daime como seus
legítimo esposo? — Voltou os olhos para Kevin.
— Sim. — Respondeu sem jeito. Após alguns instantes Kevin respondeu
a mesma pergunta e enfim estavam casados. Ele colocou em seu dedo uma
aliança dourada e ela coube perfeitamente, só não esperava que ele fosse usar
uma também e ficou surpresa quando, com mãos trêmulas, colocou no dedo a
aliança grande.
— Pode beijar a noiva. — Disse o juiz, e ao ouvir tais palavras, Emily
sentiu que o ar a sua volta sumiu e uma ansiedade se formou.
Sem espera os lábios mornos dele tocaram os seus, Emily não sentiu mais
nada, apenas ele, e aproveitou aquele momento, mesmo odiando tanto a si
mesma por esperar tanto por aquele instante. O beijo era totalmente diferente
dos que ele lhe deu anteriormente, era cálido e gentil, parecia saborear sua
boca.
Ele se afastou primeiro e as palmas dos convidados a trouxe de volta a
realidade.
— Espero que mais tarde, me explique porque maldita razão, cortou os
cabelos. — Disse, antes de afastar o rosto do dela, deixando-a chocada e sem
palavras, aquilo sim, era o cúmulo do cinismo.
A guiou até a mesa principal coberta por uma tenda branca e a acomodou
numa das cadeiras. Não teve tempo para dizer nada, os convidados fizeram
fila para parabenizá-los e vê-la de perto, estava se sentido um animal exposto.
A banda não parou um instante de tocar e logo após toda a apresentação
ela e Kevin tiveram que dançar. Seu ventre avantajado a impediu de ficar
mais próxima dele, mas não deu importância a isso, já que agora estava
terrivelmente frustrada depois de ouvi-lo dizer que ela havia cortado os
próprios cabelos.
— Seu vestido está deixando todas as mulheres mortas de inveja. —
Ficou surpresa quando ele falou, pois não esperava que quisesse jogar
conversa fora naquele momento.
— Acho que é outra coisa que estão as deixando mortas de inveja. —
Respondeu taciturna. — Ai! — Exclamou.
— O que foi? Está sentindo alguma dor? — Perguntou parando no
mesmo instante de dançar.
— Não foi nada, você pisou no meu pé. — Ele ergueu as sobrancelhas e
inclinou-se um pouco para poder erguer a ponta de seu vestido revelando
seus pés descalços.
Agora todos sabiam que ela não estava de sapatos já que, os convidados
observavam o casal na pista de dança.
— Você não para de me surpreender com suas imprudências. — Falou
frio.
— Não vi mal nenhum em ficar de pés descalços, e é muito mais
confortável, já que meus pés inchados não cabem em nenhum dos meus
sapatos. — Respondeu também de forma fria.
— Acho melhor sentar.
— Estou bem. — Disse irritada com a preocupação desnecessária.
— Não foi um pedido. — A segurou pelo braço e a guiou para a mesa
principal, foram de imediato servidos. — Você não atendeu nenhuma das
minhas ligações.
— Não tinha nada para dizer. — Respondeu de mau humor. O olhar dele
demonstrou que não estava gostando nada de seu tom, nem ela mesma estava
se reconhecendo.
— Não gostei do seu novo corte de cabelo. — Emily fechou os olhos e
contou até dez lentamente para se acalmar, não podia se exaltar.
— Como pode ser tão sínico? — Ele bebericava o seu vinho
tranquilamente e olhou para ela sem entender.
— Não seja tão infantil Emily, você não precisava fazer isso para chamar
minha atenção, pois ela já está toda voltada para você.
Desviou os olhos dos deles e observou os casais, que agora dançavam na
pista.
— Eu jamais seria capaz de fazer nada para chamar a sua atenção. — Ele
sorriu, debochando dela.
— O que você quer dizer com isso? Você não tem feito nada mais além
de tentar chamar minha atenção. — Emily sentiu vontade de jogar o vinho na
camisa branca dele, mas se conteve.
— Não sei de onde tirou isso, e suas mudanças de humor estão me
deixando confusa. — O sorriso dele se apagou e seus olhos ficaram frios.
Ele colocou a taça sobre a mesa e aproximou-se dela, não pode se afastar
sem que caísse no chão. Passou a ponta dos dedos sobre seu queixo trêmulo,
enquanto olhava no fundo de seus olhos. Cada vez o entendia menos.
— Está com medo de mim? — O hálito fresco dele a inebriou
completamente.
— Não... — Disse num fio de voz.
— Não minta, está claro em seus olhos. — Ele tocou levemente seus
lábios e se afastou, no mesmo instante a beijou novamente e demorou mais
dessa vez.
— O que você quer de mim? — Perguntou, quando ele afastou os lábios
novamente. Estava tonta por conta dos beijos possessivos e intensos.
— Não quero mais nada, agora tudo já é meu.
— Você me odeia. — Kevin a olhou rapidamente, franziu o cenho e
desviou os olhos para o palco. — Eu gostaria de saber porque.
Ele não respondeu, Janie aproximou-se da mesa e lhe tirou a
oportunidade de enfim descobrir o motivo para tratá-la tão friamente.
— Kevin, os rapazes estão solicitando sua presença. — Ele levantou sem
dizer nada e a deixou sozinha com Janie. — Emily, todas estão me
perguntando onde você encomendou o vestido. — Disse ela rindo da
inocência das amigas. — Ninguém acredita que foi feito por sua mãe, uma
pessoa simples e desconhecida.
Emily tomou um pouco de suco de laranja e observou, disfarçadamente,
Kevin conversando com os amigos, ele agia tão naturalmente diante de outras
pessoas, o erro estava realmente nela, não fazia parte da vida dele e havia
entrado de forma inconveniente.
— Esse colar ficou perfeito em você. — Notou que Janie ainda estava ao
seu lado conversando sem parar.
— Obrigada, George me deu antes da cerimônia. — Comentou tocando
nas pedras.
— Você gostou de como tudo ficou?
— Sim, ficou muito bonito, obrigada, Janie. — Ela segurou sua mão livre
e bateu levemente nela.
— Não precisa agradecer, você agora faz parte, verdadeiramente, da
família. — Loren aproximou-se delas e sentou ao lado de Janie.
— Emily querida, vejo que seguiu meu conselho com relação a seu
cabelo. — Emily estranhou o sarcasmo de Loren, lembrou que ela tinha
comentado sobre isso outro dia.
Seu coração deu um salto quando uma ideia passou rapidamente em sua
cabeça. Ela não havia escondido de ninguém o quanto estava chateada com o
casamento dela com Kevin e apostava que seria capaz de fazer qualquer coisa
para prejudicá-la.
Sabia que estava na mira de muitas mulheres e isso a chocava.
Ela jamais teria como saber quem havia feito aquela maldade e isso a
deprimia, saber que mais uma pessoa poderia ter feito isso a deixava ainda
mais confusa.
— Ai não! ela está vindo. — Resmungou Loren ao notar que uma das
convidadas se aproximava. Janie deu um sorriso de deboche para amiga.
— Loren, Janie, como estão queridas? — O desagrado estava evidente na
voz da recém chegada.
Emily havia recebido o cumprimento dela no começo da festa, mas não
recordava o nome. Ela era alta, loira e tinha os olhos azuis. Extremamente
linda e muito elegante.
— Jennifer! — Ao exclamar o nome e cumprimentá-la Loren e Janie não
disfarçavam o quanto estavam odiando falar com a tal Jennifer. — Por onde
anda, querida? Nunca mais tive notícias suas. — A falsidade de Loren estava
deixando Emily nauseada.
— São tantas coisas para fazer ultimamente, que não tenho tido tempo
para andar em shoppings como vocês. — Emily mordeu a bochecha para não
rir, já estava começando a gostar da fulana.
— Soube que está fazendo tratamento para engravidar. — Janie acertou
no ponto fraco de Jennifer, uma sombra passou repentinamente pelos olhos
dela, mas foi apenas um instante.
— É verdade. — Respondeu cautelosa, mas voltando a postura. — Enfim
Garon decidiu que era o momento, estamos tentando, muito.
— Com licença meninas, estão me chamando. — Desculpou-se Loren
entediada com a conversa. Janie logo inventou uma desculpa e saiu deixando-
as a sós.
— Então, Emily... — O nome dançou lentamente nos lábios dela, Jennifer
a olhou de alto a baixo, mas não notou que ela a olhasse como as outras ali,
como se a estivessem avaliando para enfim dizer se ela era realmente ideal
para Kevin. — Ouvi comentários de que esse vestido foi confeccionado por
sua mãe.
— Sim, ela mesma fez para o casamento. — Ela sorriu e sentou a seu
lado.
— É muito lindo, sua mãe era uma verdadeira artista. — Ela parou um
instante e pareceu estar refletindo. — Conheço muita gente Emily e não é a
primeira vez que ouço falar de sua mãe ou você, a um tempo atrás você
confeccionou todo o enxoval da minha prima, a Bianca, não sei se recorda.
— Sim, lembro-me bem, ela é maravilhosa, teve uma menina, foi uma
honra, fazer o enxoval da pequena. — Os olhos de Jennifer brilhavam agora.
— Eu conheço o seu trabalho, e tenho que dizer que é algo raro de se ver,
um trabalho único, você poderia ganhar muito com o seu talento.
Emily estava acostumada com os elogios pelo seu trabalho, fazia tudo
com o maior amor e carinho.
— É uma pena que você não possa mais fazê-los, eu mesma queria muito
que meu enxoval fosse feito por você.
— Como assim? Eu pretendo sim, continuar a confeccionar enxovais. —
Os olhos de Jennifer brilharam com a notícia, Emily adorava a reação que as
mães tinham com seu trabalho, isso a enchia de prazer mais do que qualquer
dinheiro do mundo.
— Você não sabe como isso me deixa contente. — Jennifer olhou ao
redor, como se procurasse alguém. — Talvez já esteja grávida. — Sussurrou
ela mordendo os lábios.
— Você já fez um teste ou exame?
— Ainda não. — Não parecia muito feliz com isso. — Quero muito um
filho, mas não sei se seria o momento. — Ela desviou os olhos e focou num
homem que estava ao lado de Kevin, ambos tinham a mesma altura, mas ele
não combinava muito com Jennifer.
Era magro, nada atlético, seus cabelos eram castanhos, cortado bem
baixo, ele fumava e bebia, estava bem vestido, mas não se destacava em meio
aos outros homens, parecia ser mais velho que Jennifer. Ficou imaginando se
seria um daqueles casamentos de conveniência, igual ao seu.
Segurou a mão da nova amiga e ela voltou a sorrir com o toque.
— Tudo vai ficar bem, fique tranquila, as coisas vão se ajeitar para você.
—Ela apertou seus dedos. — Eu não imaginava que as mulheres da alta
sociedade desejassem ter filhos.
— A maioria o faz por pura obrigação.
Tomou um gole de suco e seguiu Kevin com os olhos, ele estava tão lindo
com aquele terno que ela suspirou sem querer.
— Outro dia Janie me contou que desejava muito ser mãe, mas que
infelizmente não foi possível, já que o marido morreu. — Jennifer gargalhou
e Emily ficou meio sem jeito. Será que havia falado demais?
— Ela definitivamente não é do tipo maternal, mas entendo perfeitamente
quais os motivos para tanto.
Ela não continuou e Emily não insistiu, não queria falar mais do que
devia e odiava fofocas.
K
evin veio pegá-la para que pudessem cortar o bolo e tirar mais
algumas fotos, ela não estava satisfeita com a ideia e muito menos
ele, mas já que Janie havia organizado tudo com tanto capricho não
era capaz de se negar.
Judy veio ao encontro dela, duas horas depois e aconselhou que o melhor
seria que fosse descansar, apesar de já está recuperada e de ter tido alta a
enfermeira continuava a cuidar dela com afinco.
Agradeceu por poder sair da festa, pois seus nervos estavam em
frangalhos. Jennifer a convidou para um chá em sua casa e Emily insistiu que
ela poderia vir até a casa de Janie.
Tomou um banho quente e colocou o vestido de volta na caixa e o
guardou no closet, futuramente esperava que sua filha também o usasse se
assim desejasse, seria maravilhoso.
Comeu e deitou, eram cinco horas da tarde e um som distante ainda podia
ser ouvido, mas não era um incomodo, dormiu e só acordou de madrugada,
morta de fome e sede. Levantou e pensou em chamar Judy, mas ela ressonava
tranquilamente no seu quarto ao lado.
Abriu a porta lentamente, mas a madeira não produziu barulho algum,
saiu e parou do lado de fora se perguntando onde seria a cozinha já que nunca
esteve lá antes. Respirou fundo e rezou para não acordar ninguém.
Imaginou que a cozinha provavelmente ficava em algumas daquelas
portas da sala de jantar, torceu para que estivesse certa, pois seu estomago já
reclamava alto.
Na casa só alguns abajures estavam acesos, e ela realmente não gostou, já que
temia a escuridão.
Quando alcançou a sala de jantar ficou aliviada, do outro lado da mesa de
frente para porta de onde estava havia uma porta e no fundo havia outra.
Amaldiçoou a si mesma por nunca prestar a atenção nos empregados na hora
do jantar, não fazia ideia de qual delas eles saiam.
Resolveu tentar a que estava do outro lado, abriu e reclamou baixinho,
havia um corredor enorme atrás desta.
Um tapete vermelho cobria o piso de madeira, havia seis portas três de
cada lado e no fim do corredor mais uma daquelas janelas grandes, que
podiam abrir dando passagem para o jardim. Como alguém podia viver
naquele labirinto sem se perder diariamente?
— Uni, duni... — Riu da própria brincadeira para encontrar a porta,
esperava que a sorte estivesse ao seu lado, porque, por mais que agora fosse a
esposa do dono, aquela casa nunca seria sua de verdade.
Abriu a primeira porta a sua esquerda.
— Quem está aí? — Ao ouvir a voz de Kevin paralisou na porta semi
aberta. Seu coração saltou e subiu até sua boca.
Ao ouvir passos deu um passo para trás, mas sabia que não tinha porque,
já que não tinha onde se esconder e jamais seria capaz de correr, suas pernas
estavam bambas.
— Que maldição! Quem me incomoda a...? — As palavras dele morrem
ao vê-la, ele a condenou e a fuzilou com apenas um olhar.
Desviou imediatamente os olhos dos dele e enfim pode notar que aquela
ala jamais seria a ala da cozinha, ali era o seu escritório, as paredes eram
cobertas por prateleiras de livros e mais livros, do chão ao teto, não pode ver
mais nada, pois agora ele estava a sua frente.
— Eu devia imaginar. O que quer? Já é tarde, devia estar dormindo. —
Dessa vez não se surpreendeu com o tom rude na voz dela.
— Eu... — Fechou os olhos ao ver a expressão impaciente do marido. —
Estava apenas procurando a cozinha.
Disse por fim, com a voz saindo forçada.
— Hum... entendo. — Não se preocupou em dizer que era realmente
verdade ao notar a descrença em sua voz. Ele suspirou e abriu mais a porta.
— Venha, acabei de pegar um lanche. — Foi à vez dela de não acreditar no
que ouviu. — Eu não vou chamar outra vez. — Disse entre dentes.
Com isso, ela entrou.
No centro da sala havia uma mesa enorme com aparelhos eletrônicos,
todos ligados, tinha também três telefones e dois aparelhos de celular. Em
frente a grande mesa de trabalho ficava duas poltronas muito confortáveis de
mogno.
No canto direito da sala tinha uma lareira, em frente um sofá e mais duas
poltronas idênticas em frente à mesa e no centro uma mesinha onde estava o
lanche, na verdade, era um banquete e tanto.
Sua boca encheu de água quando notou os lanches, quitutes, café e chá
seu estômago roncou alto e Kevin a olhou no mesmo instante erguendo uma
das sobrancelhas, ele lhe deu as costas no mesmo instante e ela podia jurar
que ele estava sorrindo, o que era impossível, claro. Sentiu-se uma tola,
comeria o mais rápido possível e iria embora logo.
— Como estão os bebês? — Perguntou já sentado do outro lado da mesa
e com alguns papéis em mãos. Ficou surpresa com a pergunta.
— Estão bem, recebi a visita do Dr. Paulo esses dias, ele me deu um
tremendo puxão de orelha. — Mordeu a língua ao terminar a frase, como
sempre havia falado demais. Ele parou de ler os documentos e olhou para ela.
— O que aconteceu? — Tentou não tremer ao colocar o chá na fina xícara
de porcelana, mas estremeceu ao notar que ele havia levantado e vinha em
sua direção, tomou o bule de suas mãos e a serviu ele mesmo. Não conseguiu
conter sua respiração e ele notou o quanto ela estava nervosa.
— Não quero incomodar você com esse assunto. — Tentou desconversar,
pois sabia o quanto ele era ocupado, então o quanto antes saísse melhor.
— Quero saber de tudo a partir de agora. — Pegou a xícara que ele lhe
ofereceu e bebeu para tentar acalmar seu coração que parecia querer sair de
seu peito.
— Os bebês estão bem, me informou também que está tudo preparado
para a cirurgia assim que eles nascerem. — Piscou algumas vezes para as
lágrimas não escaparem e quando olhou para ele, notou, por um breve
instante que tinha algo ali, mas nunca foi boa em ler as pessoas.
— Você está muito preocupada com isso?
— Sim. — Olhou para a prateleira, pois o olhar dele era tão penetrante
que a seduzia de forma inexplicável. — Não suporto a ideia de que ele vai
passar por uma grande provação sendo ainda tão pequeno.
Acariciou o ventre e os bebês chutaram fazendo-a sorrir.
— Não vou deixar que nada aconteça com eles, eu lhe garanto. — Emily
ficou boquiaberta com a promessa. — Agora coma e vá dormir, ouvi dizer
que tem visita amanhã.
— Sim. — Respondeu mordendo um bolinho e revirou os olhos de
prazer. — Jennifer, conheci ela mais cedo.
— Gosto da ideia de você a ter como amiga, é uma boa pessoa. — Ele
pegou o tablet que estava a seu lado e começou a mexer enquanto tomava seu
chá.
Emily se sentiu feliz como não se sentia a dias, a companhia dele a
acalmava e adorava ficar admirando-o enquanto ele se distraia com seu
trabalho. O silêncio de ambos era confortável de uma maneira que achou
estranho, por uns instantes nem pareciam inimigos.
— Você tem muitos livros aqui. — Kevin tirou os olhos de seu tablet e
olhou dela para os livros nas prateleiras.
— Meus pais gostavam, eu acho um desperdício de árvores.
Emily adorava o cheiro dos livros e de sentir o peso deles em suas mãos,
mas guardou esse pensamento para si mesma.
— Será que posso dar uma olhada?
— Fique à vontade. — Levantou com certa dificuldade e sob o olhar
atento de Kevin. Nas prateleiras havia de tudo, desde livros sobre política a
romances. Pegou um sobre arte e o folheou.
— Pode me emprestar esse? — Perguntou com receio na voz. Ele sorriu e
voltou a trabalhar em seu tablet.
— Você pode pegar o que quiser, não precisa me pedir. — Ficou meio
sem jeito, mas sentou na poltrona novamente e abriu o livro.
Vez ou outra pegava-se olhando para ele. Como podia ser tão perfeito?
Seus cabelos estavam em desalinho, estava vestindo uma camisa social
cinza e uma calça preta, não parecia estar cansado, apesar de ter chegado de
viagem e da festa do casamento.
Seus olhos estavam tão atentos que sequer piscava enquanto olhava para
o aparelho em sua mão, os lábios estavam serrados e de vez em quando os
dedos longos encostavam ali, deixando-a sem folego, desviou os olhos para o
livro antes que ele a flagrasse praticamente babando.
E
mily acordou com os raios de sol em seu rosto, sentindo-se
maravilhosamente bem.
— Vejo que acordou disposta. - Assustou-se com a voz de Judy, ainda
não estava habituada a ter alguém ao seu lado em tempo integral. Sorriu e
sentou, Judy pegou a bandeja, que estava sobre a mesa e colocou em suas
pernas.
— Acho que tive um sonho bom. - Lembrava de cada detalhe como se
realmente tivesse acontecido.
— Fico feliz. - Tomou as vitaminas que Judy colocou em sua palma com
o suco de laranja. — Que livro é esse? - Ao ver o livro nas mãos de Judy
quase engasgou com o suco e o remédio.
Então não foi um sonho, ela apenas não lembrava de como havia chegado
até sua cama, a não ser...
Colocou a mão sobre os lábios.
— Você está bem? - Judy colocou o livro de volta no lugar e Emily não
conseguia desviar os olhos dele.
— O que está acontecendo? Ela está bem? - A voz ríspida de Kevin
assustou as duas, tanto que Emily findou derrubando café sobre a bandeja.
Pegou o guardanapo e tentou limpar, Judy à impediu.
— E-estou... bem...
— Eu cuido disso. – A enfermeira pegou a bandeja e saiu do quarto.
Kevin observou a movimentação de Judy e assim que ela saiu voltou seus
olhos para Emily que desviou os seus no mesmo instante. Pegou o roupão
levantou e o vestiu.
— Eu ainda não li o livro. - Mordeu a língua, por ter dito algo tão
estúpido, ele com certeza não estava ali para resgatar o livro.
— Não estou aqui por isso. - O coração dela estava tão acelerado que
temia que ele pudesse ver. — Hoje à noite temos um jantar beneficente para
comparecer. - Engoliu seco.
— Temos? - A pergunta saiu como um sussurro.
— Sim, temos. Conversei com seu médico e ele falou que você pode ir,
que já teve sua alta. - Ficou um pouco triste ao perceber que ele não estava ali
pelo motivo que ela imaginava.
Você está sonhando alto Emily.
— Não sei se seria adequado.
— Você é minha esposa, e esse papel vem com obrigações. - Frio como
gelo, claro.
— Mas...
— Sem mas, esteja pronta as sete. - Ele saiu batendo a porta, fazendo-a
tremer.
— Idiota. - Tinha vontade de gritar isso, mas falou para si mesma.
Já que tinha uma tarefa tudo bem, ela tinha um vestido perfeito, só faltava
o sapato. Gemeu só de pensar em apertar seus pés inchados.
— Emily, telefone para você. - Avisou Judy entrado com outra bandeja,
que depositou na mesinha.
Pegou o aparelho estendido.
— Alô?
— Bom dia, Emily, é a Jennifer. - Sorriu ao ouvir a voz da nova amiga.
— Que bom que me ligou, preciso de sua ajuda. - Escutou os gritinhos de
alegria da outra. Explicou sobre o evento.
— Sim, também estarei lá, infelizmente. - Jennifer parecia ser do tipo que
não gostava de socializar.
Contou a ela sobre os sapatos.
— Meus pés estão tão inchados que nem sei se existe algo que eu possa
calçar. - Reclamou.
— Não seja por isso, eu posso te ajudar, vou ligar agora mesmo para loja
de uma amiga, a tarde a levo em sua casa. - Agradeceu por isso. — Pensando
bem, acho que você precisa de um dia de princesa, melhor eu ir agora
mesmo.
Riu da animação da amiga, ela era contagiante. Despediram-se e por fim
pôde comer o desjejum. Tomou um banho e ficou aguardando Jennifer
chegar.
Quando chegou parecia um furacão, trouxe junto com ela um batalhão.
Fizeram massagem em seus pés, limpeza de pele, manicure e pedicure.
Experimentou vários sapatos confortáveis e escolheu um salto baixo.
— Você vai precisar de joias. - Avisou Jennifer. Já era meio dia e Judy
trouxe almoço pra todos. Janie não apareceu em momento algum, não
entendia porque, pois Jennifer era realmente uma pessoa boa.
— Eu tenho o colar que o tio do Kevin me deu. - Sua amiga abanou a
mão descartando a ideia.
— Nada disso. - Sinalizou para uma moça, que se aproximou com uma
maleta ao abrir Emily ficou boquiaberta.
— O conjunto safira vai combinar perfeitamente. - Falou a moça,
mostrando um conjunto azul, brilhava tanto que temia ficar cega. Era lindo
demais e com certeza devia valer uma fortuna.
— Eu não posso pagar por isso. - Disse enquanto tocava as joias.
— Não seja boba, é emprestado.
— Não posso, e seu eu perder?
— Ela vai ficar com esse conjunto, Day. - A moça pegou a caixa de
veludo e entregou a Emily, que a apertou contra o peito, por segurança, todos
riram. — Amanhã Day passa aqui e pega a joia, isso se Kevin não a comprar.
Bufou, duvidava muito que ele fosse comprar algo tão caro para ela,
alguém que odiava com fervor.
Aos poucos o pessoal foi indo embora, ficando apenas um maquiador,
que também daria um jeito em seu cabelo.
Uma empregada junto com Judy trouxe um lanche. A companhia de
Jennifer era tão agradável que nem lembrava de seus problemas. Contou para
Emily que tinha casado aos vinte dois, como havia pensando antes, era um
casamento de conveniência, escolhido pelos pais, a família de Jennifer era
dona de uma rede de hotéis, presente em vários países, a elegância e
educação vinha de berço.
Tinha agora trinta e dois anos, e a ausência de filhos a deixava com um
traço de tristeza, para Emily parecia haver mais ali, porém que ela escondia
bem.
— Preciso ir. - Ela avisou tomando o último gole de chá. — Leo vai
cuidar bem de você. - Levantou e a abraçou. — Nos vemos a noite.
Assim que ficou sozinha deitou na cama, colocou o estojo com a joia
embaixo do travesseiro e dormiu.

Quando Léo deu o último retoque na maquiagem, Emily vestiu o vestido


e o maquiador a ajudou com a jóia, que repousou sobre sua clavícula com
perfeição.
Ao visualizar sua imagem no espelho grande se surpreendeu, estava linda.
O vestido vermelho alcançava seu calcanhar, deixando exposto aquele
ossinho dos pés, se sentiu um pouco atrevida com aquele decote enorme nas
costas, a fenda chegava próximo do seu traseiro.
Judy e Leo estavam de boca aberta olhando para ela.
— Parece uma princesa. - Disse Judy ao olhá-la dos pés à cabeça. A
maquiagem era bem discreta, realçando seus olhos, nos lábios apenas um
brilho labial, deixando seus lábios carnudos bem em evidência.
Leo puxou um lado de seu cabelo pra cima e deixou o outro lado solto.
Ainda não estava acostumada com o corte, mas achou que estava legal com o
penteado simples.
As sete em ponto ouviram as batidas na porta, o que fez seu coração
acelerar. Pegou a minúscula bolsa no momento em que Kevin abriu a porta e
entrou. Ele paralisou ao vê-la, avaliando-a dos pés à cabeça de forma intensa,
tanto que lhe roubou o ar.
Também o avaliou, como sempre, sem marido estava deslumbrante, um
pecado de tão bonito. Vestia smoking feito sob medida, preto, uma camisa
branca e uma gravata borboleta. As abotoaduras feitas de ouro brilhavam,
assim como a aliança que ele ainda usava.
Os olhos dele brilhavam enquanto a olhava. Se aproximou lentamente,
feito predador, sem desviar os olhos dos seus, se inclinou e a beijou no
pescoço, bem perto de sua orelha, deixando-a totalmente arrepiada e sem
jeito.
— Você está linda. - Disse enquanto deslizava a mão quente por seu
braço alcançando a mão trêmula de Emily, levou-a até seus lábios e também
deixou um beijo em seus dedos. Pensou que poderia desmaiar a qualquer
instante, dado o grau de ansiedade que se formou em seu íntimo.
— Você também. - Ficou feliz por não gaguejar feito idiota, seu coração
continuava saltando descontrolado. Seus bebês pareciam reconhecer a voz do
pai e mexiam muito.
Ele percebeu o movimento e acariciou o ventre, sua mão quente penetrava
as camadas do vestido e podia jurar que a sensação era a de que ele estava
tocando sua barriga sem nada. Tremeu um pouco.
— Vamos? - Ele chamou, colocando a mão dela apoiada em seu braço e a
guiando para saída.
Do lado de fora uma limusine os aguardava.
— Charles, traga meu carro, irei sozinho, com minha esposa. - O
motorista pegou o telefone e deu instruções para que trouxessem o carro.
Logo uma Mercedes cromado parou Kevin ele abriu a porta para ela
entrar, entrando ao seu lado em seguida.
Ele devia ter vários automóveis, esse era tão confortável que temia dormir
durante o trajeto. Os bancos de couro, o painel totalmente eletrônico. Kevin
dominava bem aquela fera potente. Com certeza aquele carro valia mais do
que as joias que ela usava.
Uma música tocava, bem baixinho, não conseguiu identificar a letra.
Estava bem quentinho dentro do veículo, diferente do lado de fora. Ela não
tinha nada pra cobrir os ombros nus, esperava que a festa fosse dentro de
casa.
Entraram numa rua movimentada por carros, em frente a uma mansão
maior que a de Kevin e diante dela havia uma grande quantidade de
fotógrafos. Gemeu só de pensar em ser fotografada. Não esperava por isso.
— Esse é um dos preços que a gente paga. - Ele disse entre dentes. -
Estou cogitando seriamente em dar meia volta. - Olhou para ele, enquanto o
carro se aproximava da entrada.
— Eu ficaria feliz com isso. - Ele olhou para ela e sorriu, o que a deixou
perdida e mais ansiosa, Kevin estava muito estranho e anormalmente
educado.
— Acredito. Tudo que eu quero é que ninguém coloque os olhos em
você, mas ao mesmo tempo, quero que todos vejam o que eu consegui. - Os
dedos dele passearam por seu queixo, deixando-a trêmula.
Ela não sabia dizer se era um elogio e se sentia como um objeto, sendo
exposto.
Ao parar o carro Kevin correu e foi até sua porta, abriu e a ajudou a
descer, os flashes das câmeras não paravam.
— Precisamos parar um segundo para as fotos. - Obedeceu e sorriu,
mesmo sem enxergar nada. Percebeu que ele olhava para ela de um jeito
diferente.
Seguiram e agradeceu quando entraram, estava realmente muito frio
naquela noite. Adentraram e foram recebidos por um senhor muito bem
vestido, que os guiou até o salão lotado.
Assim que os convidados os viram começou um pequeno murmurinho.
Kevin tirou sua mão de seu braço e ela quase reclamou, mas ficou muda
quando sentiu a palma se espalmando com possessividade em suas costas
nuas.
— Kevin, meu querido sobrinho, que bom que veio. - Uma senhora de
vestido preto e cabelos prateados o abraçou, porém ele não retribuiu, ela o
olhava como se fosse um filho. Conhecia a senhora diante deles, de seu
casamento. Era tia de Kevin, no entanto, ele mantinha uma distância. Assim
que o soltou, abraçou Emily com força, deixando-a sem ar. Sorriu sem jeito.
— Emily, lembra de Adelaide? Esteve em nosso casamento. - Ela
lembrava do abraço forte, com certeza.
— Como poderia esquecer?
— Oh, Kevin, meu querido, você é um homem de sorte, ela é linda
demais. - Adelaide não perguntou, já foi acariciando seu ventre e seus bebês
chutaram. — Vejam só, meus sobrinhos já reconhecem a tia. - Ela falava alto,
as pessoas ao redor ficavam observando a cena.
— Adelaide, se nos dá licença. - O tom dele era firme e um tanto
grosseiro, mas a senhora nem se importou. Pelo que pôde notar, na
cerimônia, a família dele era grande, mas não pareciam viver em harmonia.
Kevin colocou as mãos em suas costas, novamente e a guiou até um
grupo de senhores, onde o tio dele estava. Ao vê-la, George sorriu e abriu os
braços, não estava acostumada com tanto afeto, principalmente de pessoas
que nem conhecia bem. A beijou no rosto.
— Belíssima, Emily. - Elogiou e ela riu sem jeito. — Deixe-me
apresentá-la a esses velhos moribundos. - O senhor mais próximo fez careta.
— Lembre-se que você faz parte do grupo. - Ele disse e todos riram. —
Kevin realmente tem um bom gosto. - Um garçom se aproximou e serviu a
eles uísque, Kevin tomou o seu em um único gole, pegou seu porta dinheiro
de ouro e colocou uma nota no bolso do garçom, não ouviu o que e
disse, o garçom aquiesceu e se afastou.
— Este é Jonathan, ele é diretor de nossa filial na Califórnia. - George
apontou para o senhor que havia a elogiado antes. Eles eram altos e magros,
tinham cabelos um tanto grisalhos, vestiam smoking igual a todos e exalavam
dinheiro.
Segurou a mão de Emily e beijou.
— Seu servo, minha senhora. - Além de ricos eram galantes.
— Ao seu lado temos o Thomas, que trabalha diretamente com Kevin na
empresa. - Sorrio para o outro senhor que também beijou sua mão.
— Emily? - Kevin a chamou, e colocou em sua mão um copo de cristal
com suco. Estava faminta, não houve tempo para o jantar, então, agradeceu e
bebeu com calma. O garçom estendeu um guardanapo de linho branco, mas
Kevin dispensou e entregou o seu lenço de bolso.
— Raul e Charles você já conhece do seu casamento. - Emily não
lembrava, foram muitas pessoas, e mesmo tendo sido a um dia atrás ela não
recordava.
— Kevin, Emily! Por que não me esperaram? - A voz de Janie os fez
voltar o rosto em sua direção.
— Eu estava com pressa. - Janie, estava fantástica, num vestido verde
musgo totalmente decotado, expondo parte dos seus seios siliconados.
— Venha Emily, deixe os homens discutir negócios. - Janie a puxou pela
mão. Perfeito, agora seria obrigada a socializar com as amigas falsas da Janie.
Olhou para Kevin enquanto se afastava e ele sorriu ao perceber o quanto
ela estava chateada por ser afastada dele, mas ver o sorriso, fez tudo valer a
pena.
garçom que Kevin pagou, a servia o tempo inteiro, já estava começando a
Oficar irritada, tanto pelo homem que parecia ser sua sombra, quanto por
Janie, que insistia em apresentá-la a todo mundo que estava naquela maldita
festa.
Que festa é essa que não tem comida?
Resmungou consigo mesma. A intenção era deixar todos bêbados para
fazerem doações gordas?
Sentiu que alguém a observava, mas já havia olhado para todos os lados e
nada. Kevin havia entrado em uma sala com outros e já estavam lá a algum
tempo.
Procurou Jennifer, mas também não a encontrou, pelo visto não
veio, ligaria para ela no dia seguinte. Apanhou o copo de água que pediu e
seus olhos visualizaram um homem, do outro lado do salão. Ele era alto, forte
e loiro, seu cabelo comprido estava despenteado e solto, sua camisa social um
pouco aberta, parecia que estava agarrando alguém. Trazia nas mãos uma
taça de champanhe. Olhava para Emily dos pés à cabeça enquanto bebia
lentamente. Sentiu um arrepio na nuca enquanto o olhava.
Quando o estranho começou a vim em sua direção, só pensou em sair
correndo. Virou-se para Janie.
— Preciso ir ao banheiro.
— Claro querida, fica naquele corredor, terceira porta. — Disse
apontando o local. Seguiu para lá sem olhar para trás. Antes de entrar voltou
o rosto e lá estava o homem, no início do corredor, sorrindo.
Entrou e fechou a porta. Se aliviou, estava apertada a mais tempo que
devia. Retocou o brilho e saiu. Levou um susto ao encontrar o homem parado
em frente a porta, encostado na parede, bem relaxado.
— Olá. — Sua voz era grossa e sensual. — Eu sou o primo do Kevin. —
Disse esticando a mão grande e forte. Hesitou um instante. — Me chamo
Christopher, mas todos me chamam apenas de Chris. — Como ela não fez
menção de segura a mão oferecida, o mesmo se adiantou e a pegou, levando
até seus lábios e depositando um beijo.
— Não sabia que Kevin tinha primos. — Comentou tentando arrancar a
mão da sua, mas ele continuava segurando com firmeza.
— Cheguei ontem à noite, não deu tempo de ir ao casamento,
infelizmente. — Acariciava sua mão com o polegar. Puxou com mais força e
conseguiu se livrar do toque.
— Que pena, mas você não perdeu nada. — Sabia que não conhecia nada
da vida de Kevin, além das fofocas em tabloides e nem fazia ideia de quem
eram as pessoas que o rodeava.
Tentou voltar para o salão, mas o loiro alto a impediu. Já estava irritada
por ter sido deixada para trás por Kevin, por estar com fome e por ter que
aturar as amigas chatas da Janie e agora esse homem irritante. Mantinha o
controle só porque odiava vexame.
— Meu primo escondeu você muito bem. — Franziu o cenho sem
entender o comentário.
— Me escondeu? — Ele sorriu de forma indecifrável.
— O maldito tem uma tremenda sorte, pelo visto. — Olhou para Emily
como se buscasse entender algo. — Consigo entender quais os motivos que o
levaram a desposá-la. — O ar parecia querer lhe faltar. — Gêmeos, não é? Eu
posso tocar? — Só entendeu o que ele queria, quando sua mão se aproximou,
tentando tocar seu ventre, antes que conseguisse Kevin segurou seu punho no
meio do caminho e o empurrou contra a parede.
— Como se atreve a tocar em minha esposa? — Kevin mantinha o primo
preso contra a parede, segurando-o pelo paletó.
— Eu só queria sentir os meus sobrinhos. — Chris disse rindo, deixando
Kevin mais irritado.
— Eles são meus, não se atreva a se aproximar dela novamente. — Emily
começou a ficar nervosa, algumas pessoas que vinham pelo corredor pararam
para observar o que acontecia.
— Kevin... por favor. — Pediu num fio de voz. Ele soltou o primo e o
empurrou contra a parede mais uma vez. O outro continuava a rir, enquanto
arrumava o smoking amarrotado.
Kevin a pegou pelo braço com força e a guiou em direção a saída.
— Você está me machucando. — Reclamou quando seu braço começou a
latejar. Todos ao redor olhando para eles. Kevin soltou seu braço e colocou a
mão em sua cintura.
— Vamos embora. — Seguiu ele. Não saíram pela porta principal, os
fotógrafos, com certeza permaneciam do lado de fora, ele pegou o telefone e
conversou com alguém, logo desligou. Andaram rápido por alguns corredores
e ao final do último Kevin abriu uma porta, e o vento frio os atingiu. Era a
saída de funcionários, o chão de pedrinha e alguns garçons estavam fumando,
saíram sorrateiramente assim que viu o casal.
Estava tão frio que seu nariz já estava começando a ficar gelado.
Abraçou o corpo e controlou a vontade de tremer. Kevin não a olhava, estava
muito irritado. Passava a mão nos cabelos diversas vezes, deixando os fios
lisos desalinhados.
— O que ele te disse? O que ele queria? — As perguntas não faziam
sentido.
— Eu... — Gaguejou com o frio, já era uma da manhã e o clima não
estava ajudando. Ele então virou e percebeu que ela estava congelando.
Retirou o paletó e colocou sobre seus ombros, agarrou a peça, tentando
aquecer as mãos. Irritado, a puxou para si, à abraçando. Enterrou o rosto no
peito quente de seu marido e suspirou.
Não havia bebido uma gota de álcool, mas ao sentir o cheiro dele
percebeu que estava embriagada e tudo o que queria era mais.
— Como pode estar tão quente? — Pensou alto. Ele riu, o que fez seu
peito forte vibrar.
— Se você estivesse mais coberta não sentiria frio. — Não ligou para a
crítica, ele podia ser um bloco de gelo, mas seu corpo era quente e ela queria
aproveitar cada instante.
Nesse momento seu estômago roncou alto, deixando-a totalmente sem
jeito. Ele se afastou um pouco e ela reclamou, encostando o rosto no peito
dele de novo.
— Por que você não comeu? — Perguntou passando os braços em torno
da cintura de Emily.
— Essas festas de rico não têm comida, e eu não tive tempo de jantar em
casa. — Aspirou o cheiro dele. — Por que estamos parados aqui?
— Estão trazendo o carro, mas pode demorar um pouco por causa do
fluxo dos outros saindo e chegando, eu queria evitar a mídia, uma vez já foi
suficiente, não quero seu rosto estampado mais que o necessário nas revistas.
— Explicou, franziu o cenho sem entender o porquê de tudo aquilo.
Ela podia aguentar mais um pouco, não estava tão ruim e deixou de lado
todo resto.
— Meus pés estão doendo e estou morrendo de fome e sono. — Bocejou,
confirmando o fato. No mesmo instante Kevin a ergueu em seus braços. — O
que está fazendo? Me coloca no chão.
— Fica quietinha e passe seu braço em torno do meu pescoço, vai ficar
mais confortável. — Ele disse apertando seu corpo contra o dela.
— Eu consigo aguentar mais um pouco. — Protestou sem muita ênfase,
fazendo o que ele pediu e rodeado seu pescoço. — Estou muito pesada, você
vai ficar com dor nas costas. — Alertou e ele a olhou de forma desafiadora.
— Você parece uma pena. — Sentiu seu rosto queimar de vergonha.
Colocou o rosto no pescoço quente. E respirou ele, era bom demais. — O que
está fazendo? — Ele perguntou entre dentes.
— Nada. — Mentiu.
— Está me cheirando? — Agarrou o pescoço dele com mais força,
prevendo que ele a colocaria no chão, e não queria sair dali.
Sua outra mão estava congelado enquanto isso. Abriu um botão da camisa
branca e colocou a mão dentro. Ele gemeu ao senti-la. — Você está
congelando.
— Estou melhor agora. — Suspirou. Ficou frustrada quando ouviu o
carro se aproximando.
— Graças a Deus. — Ele disse. O manobrista carro parou o rapaz e se
adiantou em abrir a porta do passageiro, Kevin a colocou lá dentro, queria
protestar, mas ficou em silêncio, estendeu as mãos na direção do aquecedor,
sentindo o ar quente e agradecendo por isso.
Kevin voltou ao carro e abriu sua porta, deixando o frio entrar.
— O que diabos...? — Ficou muda quando Kevin enfiou a mão dentro do
paletó, seus dedos roçando os seios dela, que ficaram duros com o contato.
— Precisava disso. — Ele mostrou o prendedor de ouro com o dinheiro.
Passou os dedos gentilmente sobre seus lábios e se afastou, indo até o
manobrista. Ao retornar Emily já estava aquecida, mas não graças ao
aquecedor do carro.
Ele dirigiu em silêncio, a mansão ficando para trás. Emily retirou os
sapatos, e suspirou aliviada.
— Odeio festa de gente rica. — Confessou.
— Você se saiu bem, todos estavam te elogiando. — Disse concentrado
na estrada.
— Hum... espero que a exposição não seja algo frequente e que parem de
me ver como algo que você comprou. — Alfinetou, o que o fez se volta para
ela rapidamente, apenas sorriu, estava engolindo isso durante toda noite.
Kevin voltou a atenção para pista, sem a recriminar pelo que tinha dito,
parecia pensar. — Você poderia parar em algum drive thru[S2]? —
Perguntou, sua boca já salivando de desejo.
— Não pode comer essas porcarias.
— Eu preciso, nós precisamos. — Apontou para a barriga, ele riu e estava
começando a se acostumar com aquele jeito dele, mesmo ainda com certa
desconfiança.
— Não pode usar os bebês para conseguir o que quer. — Disse, soando
brincalhão? Constatou ser real, quando Kevin entrou na fila do drive, a
fazendo flutuar com o pequeno gesto.
E
stavam no estacionamento comendo sanduíche e bebendo milkshake,
na verdade, ele bebia, ela estava com cara feia e nada satisfeita.
— Isso é muito injusto, eu não sinto mais frio. — Reclamou
dando mais uma mordida no hambúrguer com queijo duplo. Fechou os olhos
e suspirou de prazer. — É muito bom.
— Não reclame, eu comprei os hambúrgueres. — Era uma ofensa ele
beber aquele milkshake de baunilha com tanto gosto. — Está muito tarde e
você pode ficar resfriada.
Emily revirou os olhos. Ele a encarou e segurou seu queixo com uma
mão, ficou sem ar no mesmo instante, observando aqueles olhos penetrantes.
Foi se aproximando lentamente e Emily queria se jogar logo em seus braços,
seus lábios se encontraram e mais uma vez ele foi gentil, saboreando sua
boca, mordendo levemente, fazendo-a suspirar. Puxou ele para mais perto
pela camisa branca. Kevin havia tirado a gravata borboleta e colocado no
bolso, estava descontraído e muito sexy, os cabelos em desalinho.
Emily gemia baixinho entre os lábios dele, queria mais, queria sentir ele,
seu corpo quente, ela mesma já estava febril com o contato. Seus hormônios a
flor da pele, prestes a explodir. Ele segurava sua nuca com uma mão e
apertava sua coxa com a outra.
Uma batida metálica no vidro fez ela pular assustada, se afastando do
marido no mesmo instante.
— Abre o carro e saia devagar, não vai querer que meu amigo exploda a
cabeça dessa vadia. — Eram dois homens, o que estava do seu lado segurava
uma arma e a apontava para sua cabeça, o outro não tinha arma, mas fazia as
ameaças para Kevin, que retesou o maxilar e abriu a porta. Emily não
conseguiu se mexer, estava em choque.
Eles estavam sendo assaltados.
— Pode levar tudo, só me deixem ajudar minha esposa a descer do
veículo. — A voz de Kevin era firme, diferente dela, ele não demonstrava
medo, apenas certa impaciência.
— Não tente nenhuma gracinha. — Avisou o assaltante do lado de
Emily, se afastando um pouco e apontando a arma para Kevin, que se
adiantou abrindo a porta e a puxando pela cintura.
Tremia tanto que temia cair no chão, seus pés descalços ficaram
molhados com chão frio. Haviam carros ali a poucos instantes, agora só tinha
eles.
Os dois indivíduos estavam vestindo preto, uma jaqueta surrada e botas.
O que estava desarmado estava tragando um cigarro, apreciando o medo nos
olhos dela. Sentiu um arrepio, quando ele a olhou dos pés a cabeça. Emily
ainda estava com o paletó de Kevin em seus ombros.
Um dos ladrões era mais baixo que Kevin, seu corpo franzino, o cabelo
com corte baixo, em seu pescoço uma tatuagem, que ela não conseguiu ver
direito. Já o outro com a arma era mais alto e forte, musculoso e parecia estar
alucinado, seus olhos estavam um pouco irritados, e esfregava o nariz vez ou
outra, tinha barba e cabelos castanhos também curtos.
— Celulares e carteira, passem tudo que tiver aí. — Kevin tirou do bolso
da calça o aparelho e o prendedor com o dinheiro. O indivíduo assoviou ao
ver tantas notas, tomando tudo das mãos de Kevin, enquanto o outro
apontava a arma para Emily.
— Pegue tudo e vão embora. — Ordenou Kevin, fazendo o que
segurava a arma rir, sua mão apertava seu quadril com força, visivelmente
tentando se controlar.
— O que essa princesa está escondendo embaixo de toda essa roupa? —
Perguntou o mais velho da dupla estendendo a mão na direção de Emily,
Kevin o empurrou.
— Quer morrer!? — O outro gritou descontrolado, apontando a arma
para cabeça de Kevin, que ergueu a mão. O outro veio e deu um soco no
abdômen de Kevin, que arfou soltando o ar. Ela o segurou, tentando impedir
mais ataques.
— Por favor, não o machuque. — Se colocou na frente da arma, os
olhos do bandido brilharam quando viram o colar em seu pescoço.
Kevin a puxou pelo braço com força, para trás de si, e percebeu que ele
poderia reagir e causar uma tragédia.
— Sem mais gracinhas. — Avisou o tatuado, colocando o cigarro na
boca e se aproximando novamente, arrancando o colar de seu pescoço e os
brincos de suas orelhas. Levou também as alianças e as abotoaduras de
Kevin. Depois entraram no carro e saíram em alta velocidade.
— O que pensou que estava fazendo? — Ele estava com raiva dela?
— Eles levaram o colar, ele não era meu. O que direi a Jennifer? — Ele
ficou mais zangado.
Seus olhos encheram de lágrimas e seu queixo começou a tremer, a
adrenalina deixando seu corpo e permitindo que o medo a dominasse. Eles
podiam ter morrido.
Ainda esbravejando Kevin a pegou no colo e caminhou em direção a
lanchonete. Um atendente correu até eles.
— Acionei a polícia. — Avisou sem fôlego. O jovem trouxe uma
cadeira e Kevin a fez sentar, se afastando um pouco e indo conversar com o
atendente, o mesmo entregou seu próprio telefone para Kevin, que fez
algumas ligações. Em poucos minutos um Escalade [S3]preto chegou, sendo
seguido por uma limusine branca. Kevin a puxou pelo braço e a guiou até o
veículo. Assim que ela se acomodou ele se afastou.
— Leve-a para casa, informe a enfermeira que administre algum
calmante, minha esposa está em choque. — Ordenou ao motorista, que Emily
não conhecia.
— O que vai fazer, Kevin? — Questionou tentando controlar os
tremores de seu corpo. Era visível o quanto ele estava furioso.
— Vá para casa. — Fechou a porta e o carro saiu, deixando-o para trás.
Chorou, no caminho viu uma viatura indo em direção a lanchonete.
Estava muito assustada. Era tudo culpa dela, se não tivesse insistido em parar
ali nada disso teria acontecido. Sentiu seu estômago revirar. Assim que a
limusine parou na frente de casa ela abriu a porta e vomitou.
— O que aconteceu? — Perguntou Judy, que estava com o rosto em
pânico ao vê-la. O motorista passou as instruções para a enfermeira — Sim,
eu tenho os calmantes dela.
— Nada de calmantes, vou esperar meu marido. — Avisou, descendo do
carro e indo para dentro. Judy veio correndo logo atrás. Em seu quarto
começou a tirar o vestido. Precisava tomar um banho quente.
Judy a deixou sozinha, indo à cozinha para providenciar um chá.
Suspirou aliviada quando a água quente caiu sobre sua pele. As lágrimas se
confundindo com as gotas que caiam do chuveiro.
Havia estragado tudo, estava tão perfeito e ela estragou. Seus dedos dos
pés estavam um pouco roxos, devido ao frio, seu braço e seu quadril
latejavam, neles marcas vermelhas causadas por Kevin.
Desligou a água e saiu. Judy já estava lá com o chá, ajudou-a a vestir as
roupas, pois ela continuava tremendo.
— Emily, é melhor você tomar o calmante, seu estado pode prejudicar
os bebês.
— Os bebês estão bem. Que droga! — Gritou, deixando Judy com os
olhos arregalados. — Eu preciso esperar ele, ninguém vai me impedir. —
Encerrou entre dentes. Estava determinada. Calçou uma meia, vestiu um
casaco de lã e foi para o hall da mansão.
Ficou lá sentada em uma poltrona, sozinha, atenta a qualquer barulho.
Esperando. Por que ele não veio? Esperaria nem que fosse uma vida inteira.
Precisava saber se estava bem.
Era três da manhã quando ouviu o barulho de carro, seu coração
acelerou e ela correu para entrada principal.
Kevin entrou, ainda estava zangado, viu em sua camisa algumas
manchas de sangue, o que a fez estancar no lugar. Uma empregada correu na
direção dele.
— Guarde essas joias no cofre. — Emily vislumbrou o colar sendo
entregue para moça e sentiu suas pernas fraquejarem.
Só então Kevin notou sua presença.
— Por que você não está na cama? — Ele perguntou entre dentes se
aproximando a passos largos.
— Precisava saber se você estava bem. — Disse e ao tentar tocar nele, o
mesmo se afastou um passo, encarando-a com frieza nos olhos. — Está
ferido? — Tentou se aproximar e ele se afastou novamente.
— Não toque em mim. — Emily abaixou o braço erguido e seu queixo
começou a tremer, seus olhos enchendo de lágrimas. — Vá para o seu quarto,
agora. — Deu as costas para ele e se afastou soluçando enquanto as lágrimas
percorriam seu rosto.
Tomou o calmante, mas foi pior, ficou mergulhada em um pesadelo sem
fim, do qual não conseguia acordar, gritava e gritava, Kevin inerte aos seus
pés, seu corpo sem vida. Mãos em seu pescoço a impediam de respirar,
sufocando suas palavras.
E aqueles homens estavam lá, rindo dela, tocando nela, tentava fugir,
gritava mais, mas ninguém vinha, ninguém.
— O que você deu a ela? — Ouviu a voz de Kevin, muito ao longe. —
Chame o médico, agora! — Ele gritou exigindo.
Tentou abrir os olhos, mas estavam tão pesados. Sentiu uma mão forte
segurando a sua. — Acorde. — A voz rude ordenava, para logo em seguida
sentir seus lábios em sua testa. — Estou aqui, é só um pesadelo, não vou sair.
— Não conseguiu acordar, a voz dele foi sumindo, até não fazer nenhum
sentido.

***

Acordou com uma luz forte incomodando seus olhos. Virou para o outro
lado e ouviu um gemido. Paralisou quando os braços fortes de Kevin a puxou
para mais perto de si.
Sentiu um arrepio quando a mão dele pesou sobre seu ventre, fazendo
um carinho inconsciente. Os bebês mexiam loucamente totalmente despertos.
Kevin estava bem ali, na sua frente, seu belo rosto relaxado, seus lábios
um pouco entreabertos, o outro braço por baixo do pescoço de Emily, notou
que usava o mesmo como travesseiro.
Tudo que ouvia era a respiração dele e seu coração acelerado, estava tão
alto, que ela podia jurar que a casa inteira podia ouvi-lo.
Observou atentamente cada traço de seu rosto. A barba por fazer, as
madeixas de seu cabelo castanho claro em desalinho, sem camisa, vestindo
apenas uma calça moletom preta, vê-lo assim, semi despido lhe tirou o
fôlego. Ele era lindo demais. Estava ali, era seu marido, mas nunca o sentiu
tão distante, era como se nunca o alcançasse.
Ele sorriu em seu sono, quando sentiu os gêmeos chutando sua mão
quente. Eles gostavam do toque, tanto quanto ela. Gemeu baixinho ao sentir
um chute bem em sua costela, o que o acordou, quase teve um infarto ao ver
tão de perto seus belos olhos verdes como joias preciosas.
Seu vestido estava levantado, expondo sua barriga grande. Ele voltou os
olhos para o ventre e começou a acariciá-lo, enquanto sorria, se ergueu um
pouco e ela ficou paralisada o observando beijar sua barriga, fazendo seu
corpo ficar quente instantaneamente.
Tudo aconteceu rápido demais, ele se afastou, ela sentou e começou a
baixar o vestido.
— Como está se sentido? — Perguntou já levantando e apanhando a
camisa que estava sobre o baú aos pés da cama.
— Me sinto ótima. — O sol entrava pelo janelão de vidro, era cedo, o
relógio marcava cinco e meia.
Ele pegou um copo, encheu com água e estendeu para Emily.
— O médico disse que você precisava se hidratar bem, assim que
acordasse. — Ela pegou o copo e tomou um gole, sua garganta estava seca.
— Quando ele esteve aqui? — Estava confusa, lembrava de entrar no
quarto chorando descontroladamente e Judy ter dado um sedativo.
— Ontem.
— Depois da festa?
— Não.
— O que aconteceu comigo? — Ele parecia não querer responder,
estava um tanto impaciente, foi para o banheiro dela. — Kevin? — Chamou,
mas ele não respondeu, logo depois pôde ouvir o barulho do chuveiro.
Levantou e entrou no banheiro, paralisando a porta ao constatar que seu
marido tomava banho. Estava de costas para ela, e teve o vislumbre de seus
ombros largos e musculosos, sua cintura estreita e seu traseiro magnifico. Ele
se virou, a flagrando, não conseguiu controlar seus olhos para não olhar,
nunca tinha visto um homem nu, eles haviam transado na praia, mas ela
estava tão cega de desejo que não tinha visto muita coisa.
— Gosta do que vê? — Engoliu em seco, seu rosto queimando de
vergonha.
— Sim... quer dizer... — Era melhor não dizer nada. Ele ria dela, aquele
sorriso que fazia seu íntimo vibrar.
Ele desligou a água e caminhou até ela. Que ficou parada observando,
mantendo os olhos acima de seus ombros. Chegou bem perto, ela fechou os
olhos, mas nada aconteceu. E quando os abriu ele estava se cobrindo com a
toalha, com aquele sorriso no canto dos lábios. Se sentiu uma tola.
— Hoje é terça. — Ela ficou boquiaberta. Dormiu um dia inteiro. — A
enfermeira calculou mal seu calmante e você acabou tomando uma dose
muito grande.
Os cabelos dele pingavam, molhando o peito forte. Observar aquilo
deixava sua boca mais seca, pegou outra toalha e entregou a ele, que sorriu e
começou a secar o cabelo.
Se afastou, fechando os punhos para controlar o impulso louco de se
jogar nos braços de seu suposto marido.
— Pobre Judy, deve ter ficado desesperada, preciso falar com ela.
— Ela foi embora.
— Quando ela volta?
— Nunca mais. — Emily arregalou os olhos.
— Você a demitiu. — Pegou um prendedor e começou a juntar o cabelo,
fazendo um coque no cabelo curto. Sua aparência devia está péssima,
enquanto ele estava impecável.
— Ela colocou a vida dos meus filhos em risco. — Kevin começava a se
vestir ali mesmo, virou as costas quando ele tirou a toalha. Respirou fundo,
pois tinha perdido o ar por completo.
— Ela não teve culpa, eu estava muito nervosa, eu a deixei nervosa. —
Não podia permitir que Judy fosse colocada em uma situação de
imprudência, ela podia perder tudo. — Eu a quero de volta.
— Não vai acontecer. — Virou-se para confrontá-lo, ele já havia vestido
a calça social e começava a vestir uma camisa azul escuro. Lindo demais.
Fechou os olhos e respirou fundo mais uma vez, tentando controlar seus
pensamentos.
— Ela é mais do que uma enfermeira.
— Você terá outra, mais competente.
— Eu não quero outra. — Controlou a vontade de gritar com ele. — Ela
é minha amiga.
— Ela é só uma empregada como outros tantos nessa casa, você tem que
aprender a separar as coisas. — O que ele pensava que ela era? Uma
criança?
— Não vai me fazer mudar de ideia, ou será ela ou não será ninguém. —
Disse categórica. Ele franziu o cenho e a observou atentamente enquanto
abotoava um a um os botões pequenos de sua camisa.
— Certo, mas... — Não gostou do tom de voz dele. — O próximo erro
que ela cometer será o último, sairá daqui direto para cadeia, não duvide. —
Finalizou a ameaça vestindo o paletó.
— Obrigada. — Ele saiu, e ela sentou numa poltrona, suas pernas
completamente bambas, mas saber que conversaram, quase que
civilizadamente, e chegaram ao um consenso a deixou muito feliz.
uando Kevin saiu, ela viu, no móvel ao lado da cama, a aliança e seu
Q coração acelerou. Se aproximou a passos lentos e pegou o anel. Sim,
era sua aliança de casamento, a que os ladrões haviam afanado. Seu
marido a recuperou, por isso não voltou junto com ela naquela noite. Tinha
ido atrás dos bandidos.
Saber disso não a deixou feliz. Como ele pôde fazer isso, se colocar em
risco, por bens materiais que ele podia facilmente repor?
Estava confusa.
Tomou banho e vestiu uma camiseta, uma jardineira soltinha e prendeu
o cabelo. Deixou a aliança lá mesmo, não sabia se a usaria novamente, a peça
a faria lembrar do terror que viveu naquela noite.
Ouviu umas batidinhas leves na porta e foi abrir.
— Senhora, seu marido a aguarda para o café da manhã. — Avisou e
saiu. Ficou sem saber se acatava o pedido, não achava que seria conveniente,
porém acabou indo, estava morta de fome.
Chegando à sala de jantar uma outra empregada a guiou até a varanda,
onde a mesa estava posta a céu aberto, mas o sol não caia sobre a mesa.
Kevin estava sentado confortavelmente, com as pernas cruzadas, uma xícara
de café numa mão e um jornal noutra.
Ele nem deu atenção para ela, então, serviu pra si um copo de suco e
comeu algumas frutas. Pouco depois a empregada trouxe ovos mexidos e ela
comeu de bom grado.
— Bom dia, família. — Emily não pôde evitar pular de susto em sua
cadeira ao ouvir a voz do Chris. Kevin depositou a xícara com força no pires,
demonstrando sua raiva, sem se importar com o gesto rude do primo, Chris
foi até Emily e a beijou no rosto, ela estava paralisada sem saber o que estava
acontecendo, enquanto ele sentava e se servia.
— Quando vai embora? — Perguntou Kevin de mau humor, dobrando o
jornal e colocando-o sobre a mesa. Chris sorriu pra ele e pegou o jornal
desprezado.
— Não tenho pressa. — Ele folheou o jornal rapidamente e deixou
escapar um palavrão. — Desculpe-me, Emily. — Pediu, desprezando o
jornal.
— A queda foi grande. — Kevin comentou com um sorriso de canto,
enquanto comia seus desjejuns. Emily só conseguia olhar de um para o outro
sem entender nada.
— Não tanto quanto eu gostaria. — Alfinetou Chris. O que tinha
naquele jornal afinal de contas? — Como está se sentido hoje, Emily? —
Estava claro que ele queria mudar de assunto.
— Estou ótima, obrigada por perguntar. — Ele sorriu, mostrando seus
dentes brancos e perfeitos, era demasiado galante.
Nesse momento o telefone de Kevin tocou, era o mesmo aparelho que
roubaram, seu coração acelerou ao ver a aliança no dedo dele.
— Não Ana, de forma alguma, cancele. — Percebeu o maxilar
contraído, endurecendo suas feições. — Ela não vai, não precisa ir, já está
tudo resolvido. Pouco me importa a impresa. — Olhou para Emily um
instante. — Você é minha advogada, eu não preciso te dizer o que você tem
que fazer, esse assunto está encerrado, não me faça perder tempo com coisas
insignificantes. — Desligou o aparelho e o colocou sobre mesa com certa
força. Emily não pode evitar o estremecimento.
— Por que vocês precisam acordar tão cedo? — Emily sorriu ao ver
Janie, que pareceu surpresa ao vê-la. — Emily, querida, que bom que
acordou. — Disse beijando seu rosto e sentando ao seu lado.
— Negócios não se resolvem sozinhos, Janie. — Resmungou Chris,
ainda atento ao celular enquanto Kevin bebia mais uma xícara de café,
ignorando completamente a madrasta, uma frieza pesava ali, e deixou Emily
desconfortável, eles não pareciam uma família.
Diferente de Kevin, que estava de terno, Chris estava vestindo uma
camisa polo branca e calça jeans, no pulso ele tinha um relógio lindo e no
outro uma pulseira de ouro.
Uma empregada chegou e serviu mais suco fresco para todos, Chris
pediu ovos, Kevin e Janie recusaram. Janie estava linda, seus cabelos
estavam soltos, ela vestia um conjunto azul muito chique, que realçava suas
curvas.
Ela pegou o jornal que os dois haviam desprezado e começou a ler, do
nada começou a rir, Kevin fingiu que não ouviu e Chris pareceu irritado.
— Vocês já viram isso? — Ela perguntou descartando o jornal. Emily
estava curiosa para saber o que tinha naquele maldito jornal de tão engraçado.
— Isso não é nada, perto do que eu ainda posso fazer. — Disse Chris
entre dentes.
— Continue repetindo isso, até que você mesmo acredite em suas
palavras. — Ironizou Kevin, apanhando o celular e digitando rapidamente.
Chris coçou o queixo desgostoso. — Preciso ir. — Ele disse, mas estava com
os olhos voltados para Emily. Se aproximou e segurou seu queixo e a beijou.
Ela ficou tão envergonhada com o gesto repentino, que parou de respirar, os
olhos arregalados.
— Nos vemos mais tarde. — Ele disse se afastando e colocando o
celular no bolso do paletó, saindo em seguida, sem falar com Chris ou Janie.
Ficou respirando com dificuldade durante alguns instantes, seu corpo
totalmente alheio a tudo a sua volta.
— Pretende ficar muitos dias? — Tentou focar no desjejum diante de si,
mas a rispidez de Janie a incomodou um pouco.
— Ora, a dona não se queixou. — Viu Janie contrair os punhos e
estremecer de raiva.
— Kevin não está nada satisfeito com sua presença. — Continuou, ele
apenas seguiu dando pouca importância.
— Ele e eu nos entendemos, como você bem sabe. — Entediado, ele
colocou o telefone sobre a mesa e bebeu um pouco do café.
— Voltar foi um erro Chris, perceba isso o quanto antes. — Escutou
Janie dizendo, mas estava perdida na conversa.
— Já se passaram dez anos Janie, eu não posso mais esperar e caso não
tenha ficado claro, isso não é da sua conta. — Parecia que Emily estava
assistindo um filme começando pelo meio. Ele jogou o guardanapo de linho
sobre a mesa no momento exato em que a empregada trazia seus ovos. —
Perdi o apetite. — Disse levantando. — Me desculpe, Emily. — Saiu logo em
seguida lhe dirigindo um sorriso caloroso, apesar de aparentar está muito
chateado com a intromissão de Janie.
— Homens. — Exclamou Janie tomando seu café, Emily não perguntou
nada, apesar de estar curiosa, mas eles tinham uma intimidade, e ela não fazia
parte dela. — Querida, quero te mostrar como está o quarto dos bebês, a
pintura foi feita ontem.
— Eu gostaria muito. — Falou virando-se para ela.
— Já encomendei os móveis, acho que chegam na sexta, tudo muito
bonito, você vai amar. — Não ficou feliz com isso, afinal ela não a incluiu na
escolha, os filhos eram seus e isso era algo que devia intervir pessoalmente.
— Obrigada, por tudo. — Janie sorriu e segurou sua mão.
— Seus filhos vão ser como netos pra mim, se é que eu possa dizer isso.
— Ela riu da própria piada.
Janie tinha trinta e oito anos, era três anos mais velha que o Kevin,
andou pesquisando sobre a família, mas não tinha muita coisa na internet,
eles eram bem discretos. Descobriu que em breve Kevin faria aniversário, por
isso ela corria contra o tempo para tricotar o casaco de lã, um presente
simples para um homem que tinha tudo, mas era de coração.
Pelo canto do olho percebeu uma movimentação e ao voltar os olhos viu
Judy, levantou e correu até a amiga, a abraçando forte.
— Emily, estou tão feliz que estejam bem. — Ela estava com os olhos
marejados.
— Vamos para o quarto, precisamos conversar. — Ela confirmou com a
cabeça. Emily voltou até a varanda e se despediu de Janie, que estava no
meio de uma ligação.
Quando entrou no quarto, Judy foi logo pegar um copo de água para ela,
e colocou em suas mãos as vitaminas.
— Estou tão feliz em ter você aqui.
— Eu que agradeço por me dar uma segunda chance. — Secou a
lágrima que teimava em cair de seus olhos.
— Me conte tudo que aconteceu Judy, por favor.
— Peço que me perdoe Emily, eu realmente não sei o que aconteceu,
você já tinha tomado esse calmante antes e não teve essa reação. — Emily
franziu o cenho sem entender a amiga.
— Eu estou bem, os bebês estão bem, graças a você, por sempre cuidar
de mim. — Ela suspirou um tanto aliviada.
— Você dormiu profundamente, e eu logo me recolhi, não demorou
muito e você começou a gritar. — Os olhos delas se encheram de lágrimas
novamente. — Tentei acordá-la, mas não consegui. — Ela esfregava as mãos
na calça jeans. — A casa toda ouviu, seu marido veio, você chamava por ele
sem parar e gritava por ajuda.
Emily colocou as mãos nos lábios, seu coração acelerado, as lembranças
do pesadelo não eram claras, mas ela recordava bem da sensação de pânico e
medo.
— Logo Dr. Paulo chegou e você já estava um pouco melhor, ele
explicou que o trauma estava te causando aquela reação. — Ela tremia um
pouco, segurou a mão da amiga e apertou seus dedos. — Seu esposo ficou o
tempo inteiro ao seu lado, segurando sua mão.
Judy chorava ao lembrar do ocorrido, pensar no que havia causado a
amiga a deixava arrasada.
— Você não fez nada de errado, eu confio minha vida a você. —
Respirou fundo. — Eu não devia ter tomado nenhum remédio depois do que
aconteceu, a lembrança daquele dia não sai da minha cabeça.
— Charles me contou o que aconteceu. — Ela disse. — O Sr. Daime
encontrou os bandidos pelo GPS do carro e recuperou tudo, agora eles estão
presos.
As informações dançavam na mente de Emily, ele havia encontrado os
ladrões, podia ter sido ferido, ou pior, lembrava de ter visto sangue em sua
camisa, mas pela manhã ele estava despido e não havia nenhum machucado,
então, o sangue não era dele.
— Dr. Paulo me pediu para levar você até o hospital hoje, para realizar
alguns exames. — Informou. — Poderemos ver os bebês também. — Ela
disse sorrindo e instantaneamente Emily também sorriu.
Adorava os ultrassons, poder ver seus bebês, ouvir os corações. Correu
para mudar de roupa, optando por um vestido azul simples. Judy saiu para
providenciar o carro. Separou seus documentos e colocou tudo dentro da
bolsa.
Ficou em frente ao criado mudo olhando para a aliança. Sentiu um
arrepio ao lembrar daquela noite, só de pensar no que poderia ter acontecido,
seu estômago revirou.
Pegou o celular, que dificilmente usava e viu as mensagens que tinha
recebido no dia anterior. Uma delas era de Day, a representante da loja de
joias que Jennifer levou.

“Emily, fui até sua casa, mas você estava indisposta, me ligue assim que
puder. Beijo, Day.”

Havia esquecido completamente. Será que Kevin havia recuperado o


conjunto também? Lembrava, que ao chegar em casa, naquela madrugada, ele
pediu para uma empregada guardar algo. Teria que perguntar a ele.
Antes que pensasse mais, ligou para o marido, seu número de celular
estava salvo na agenda, mas ela nunca ligou. Enquanto o telefone chamava,
sentou, estava nervosa, boca seca.
— Sim? — A voz dele era tão fria que ela sentiu até mesmo ali.
— Kevin, eu... — Ficou tão balançada com a voz dele, perdendo
totalmente o raciocínio.
— Você tem algo para me dizer ou só ligou para ouvir a minha voz? —
Pura arrogância saia daqueles lábios lindos e carnudos, que beijava muito
bem. — Não estou com tempo para brincadeiras.
Bufou e revirou os olhos.
— Preciso do conjunto, que você recuperou. — Disse com raiva.
— Para que exatamente? — Ele soou desconfiado.
— Ora.
— Não seja infantil.
— Não seja estúpido! — Desligou. Suas mãos tremiam de raiva. Ele
retornou, deixou tocar algumas vezes, antes de atender.
— Quem você pensa que é? Com quem pensa que está falando? —
Afastou o aparelho ao ouvir o grito.
— Não falarei com você até que deixe de agir dessa forma, e se bem me
lembro, eu sou sua esposa. — Desligou mais uma vez.
Sentia que podia explodir de tanta raiva, ambos haviam perdido a
compostura. Ele ligou novamente e ignorou, Judy voltou, olhou para ela e
franziu o cenho.
— Você está bem? — Respirou fundo, tentando controlar os ânimos. —
O carro está pronto. — Avisou quando não obteve uma resposta e se
aproximou do celular que tocava de forma persistente. — Seu marido está
ligando, devo atender?
— Não, vamos indo. — Levantou, pegou o celular e colou para vibrar,
em seguida jogou o aparelho dentro de sua bolsa e seguiu junto de sua
enfermeira, que não estava entendendo sua mudança súbita de humor. No
hall encontraram Janie.
— Está de saída?
— Sim, aliás, você poderia pegar uma coisa para mim no cofre? — Ela
enrugou a testa e logo depois alisou o local.
— Claro. Tem em mente algo específico? — Perguntou seguindo para
uma sala que Emily não conhecia. Ela abriu uma porta falso e expôs o grande
cofre.
— O conjunto que usei no evento. — Ela balançou a cabeça e digitou
um código, ensinando a Emily como fazer, caso precisasse. A porta grossa
abriu e Emily viu uma grande quantidade de dinheiro, muitas caixas de joias
e documentos.
— Aqui está. — Ela estendeu a caixa aberta, Emily olhou e confirmou
que era o que buscava, fechou a caixa e colocou dentro da bolsa.
— Obrigada, agora preciso ir.
— Até logo. — Acenou e saiu. Judy e Charles aguardavam ao lado da
limusine. — Charles, não tem um carro menos chamativo? — Questionou.
— Sim, senhora. — Ele disse meio sem jeito.
— Nada de senhora, apenas Emily. — Ergue a mão o interrompendo. —
Eu insisto.
— Claro. Vou providenciar o outro carro. — Ele entrou na limusine e
saiu, Judy ria.
O sol estava tão gostoso, ergueu o rosto em direção a ele e fechou os
olhos, aproveitando a vitamina D ao máximo.
Charles voltou com um Audi preto, descrição não fazia parte da coleção
de Kevin. Suspirou e entrou no carro alto. O veículo parecia novo, o cheiro
de couro era forte, espirrou, mas dentro estava bem quentinho.
Ao colocar a bolsa no colo sentiu seu celular vibrando. Revirou os olhos
e o pegou. Havia cerca de vinte ligações perdidas de Kevin, além de umas
algumas mensagens. Abriu a última.

“Atende o celular, agora!”

Fez cara feia para exigência e torceu os lábios, digitando uma breve
mensagem em resposta.

“Você não manda em mim.”

Aguardou e parece que o pequeno embate havia se encerrado, ou talvez


ele tenha se entretido em suas reuniões. O celular de Charles tocou, e como
estava dirigindo atendeu com o comando de voz.
— Sim, Sr. Daime? — Emily paralisou ao ouvir a voz de Kevin saindo
pelo viva voz do carro. Cerrou os dentes e fechou os olhos.
— Charles, avise a minha esposa, que irei encontrá-la no hospital. —
Seu coração estava a mil.
Charles respondeu e a olhou pelo retrovisor, sorriu para ele sem graça.
E
stava sentada na sala de espera, aguardando. Cruzava as pernas,
descruzava, levantava, bebia água e sentava novamente, balançando as
pernas e olhando para porta a cada segundo.
— Por que está tão nervosa? — Perguntou Judy, segurando sua perna
pra parar de balançar.
— Não estou nervosa. — Sorriu. Pegou o celular e verificou se havia
alguma chamada. Nada. Suspirou.
Dr. Paulo saiu de sua sala e veio até elas, podiam ouvir os suspiros das
outras grávidas.
— Vamos, Emily?
— Estou esperando meu marido. — Assim que calou a boca a porta
abriu e Kevin entrou na área de recepção. Ela suspirou, igual as outras
grávidas fizeram ao verem o médico.
— Desculpem o atraso. — Ele estendeu a mão para cumprimentar o
médico.
— Chegou na hora exata, vamos? — Kevin estendeu a mão para Emily,
para ajudá-la a levantar, colocou sua mão trêmula na dele e ele apertou.
Judy indicou a Emily uma salinha onde podia trocar a roupa, colocou a
bata rosa e saiu. Judy estava sentada em frente ao computador da sala.
— É realmente possível vê-los? — Perguntou Kevin ao lado do médico
que já preparava o material. Ela subiu na cama e deitou. Judy veio até ela,
colocou um lençol em suas pernas e ergueu a bata, expondo a barriga.
— Sim, agora eles já estão maiores, poderemos ver em partes. —
Explicou o médico. — Vou verificar a espessura da placenta, a quantidade de
líquido amniótico, peso e comprimento aproximado. — Dr. Paulo sentou num
banco de ferro, diante do aparelho de ultrassonografia. — Isto está um pouco
gelado. — Avisou antes de colocar um gel frio na barriga de Emily.
Kevin se posicionou ao lado dela, ficando assim, de frente para o
monitor, Emily estava um pouco desconcertada com ele ali.
O médico colocou sobre seu ventre uma espécie de mouse e passou ele
por toda extensão do ventre, pedido para ela respirar fundo, em seguida
segurar o ar. Ela olhava para o monitor, mas nada fazia sentido. Judy digitava
tudo o que o médico dizia.
Quando tinha três meses conseguia vê-los melhor, ficou um pouco
preocupada de agora não conseguir visualizar nada.
— Onde eles estão? Por que não consigo vê-los como das outras vezes?
— Perguntou o coração já acelerado.
Kevin segurou sua mão ao perceber o quanto estava nervosa, e se
agarrou a ela como se fosse uma tábua de salvação.
— Fique calma. — Pediu o médico, enquanto continuava passeando
com o aparelho. — Antes você conseguia ver bem porque eles eram
pequenos, a máquina usava o zoom para aumentar a imagem, agora eles estão
grandes e a máquina não precisa mais usar zoom. — Ele digitou no teclado
da máquina e voltou a colocar o sensor em seu ventre.
— Quero muito vê-los.
— Vou mostrar agora. — Ele posicionou o sensor em sua pélvis e
apontou para tela. — Veja, essa é a sua menina. — Emily conseguiu ver
perfeitamente o rostinho da sua pequena Karen, começou a chorar de
emoção.
— Ela é tão linda. — O médico riu, afinal, as imagens não eram
precisas, mas para uma mãe, era tudo, e a sensação era de pura felicidade.
Emily olhou para Kevin e ele parecia realmente emocionado, seus olhos
brilhando, apertou sua mão e ele desviou os olhos da tela, e quando viu as
lágrimas no rosto da esposa, estendeu a mão livre e as secou com a ponta dos
dedos.
Paulo reposicionou o sensor mais próximo de seu estômago e apontou
para tela.
— Aqui está o menino. — Emily queria estender a mão e tocar na tela,
soluçava nesse momento, a emoção dominando seu peito.
— Como eles estão? — Perguntou sem fôlego de tanto chorar.
— Eles estão bem, como o esperado. Você está agora com vinte seis
semanas, a menina está pesando aproximadamente 583 gramas e o menino
com 463 gramas. — Ele retirou o sensor e entregou a ele alguns papéis toalha
para secar a barriga molhada com gel.
— Isso é bom doutor? — Perguntou Kevin.
— Sim, eles estão se desenvolvendo bem, bebês e mamãe estão ótimos.
— Ele mantinha os olhos na tela do aparelho e digitava enquanto explicava
tudo a eles. — Em duas semanas você chegará ao sétimo mês, nada de
estresse até lá, vamos manter o padrão, controlar a pressão e ansiedade. —
Disse a última parte olhando pra ela e para Kevin.
Emily enxugou a barriga e baixou a bata, sentou e pode respirar com
facilidade. Kevin entregou seu lenço de bolso para ela. Pegou e enxugou as
lágrimas.
Já tinha três lenços de bolso com esse último, guardava cada um como
uma lembrança boa. Entrou na sala e vestiu sua roupa. Quando voltou Kevin
já estava apertando a mão do médico se despedindo.
— Muito obrigada por tudo.
— Me liguem se acontecer qualquer eventualidade. — Dr. Paulo pegou
a impressão que tinha feito com o rosto dos bebês e entregou a Kevin, que a
pegou e guardou dentro do paletó.
— Vamos, Emily. — Estancou ao ouvi-lo chamá-la.
— Sim. — Disse olhando para Judy. — Vamos? — Chamou a amiga,
um tanto apreensiva.
— Você vem comigo, ela vai junto com Charles. — Ele abriu a porta e
esperou ela passar. Engoliu em seco e fuzilou Judy com os olhos, que não
entendeu nada e deu tchauzinho com a mão.
Passou por Kevin rapidamente, assim que ele fechou a porta atrás de si
segurou-a pelo braço.
— Não tão rápido. — Ele disse em seu ouvido, fazendo-a estremecer.
As mulheres que estavam sentadas, na sala de espera, encaravam Kevin
descaradamente.
Ele colocou a mão em sua cintura e a guiou para o elevador. Agradeceu
por não estarem sozinhos dentro daquela caixa de ferro, porém a mão dele em
sua cintura lhe queimava a pele, causando arrepios por seu corpo. Desceram
na garagem do prédio. O coração de Emily deu um salto e ela parou quando
viu dois homens vestindo terno preto e usando óculos escuros.
— Não tenha medo, são meus seguranças. — Ele pegou a mão dela e
andou para o carro. Era o Mercedes Cromado.
— Isso agora é... necessário? — Caminhou até o veículo com passos
vacilantes.
— Não, a mídia estava... causando transtorno, de alguma forma
souberam do que houve naquele estacionamento. — Abriu a porta para ela.
Emily estancou ali, seu corpo estremeceu.
— Isso é ruim?
— Não se preocupe. Entre no carro. — Obedeceu, sentindo suas pernas
bambas. Talvez ele também pense que ela os alertou sobre os assaltantes, de
toda forma estava calmo demais, o que a deixava sem saber o que pensar.
— Aonde vamos? — Perguntou quando ele sentou ao seu lado dentro do
carro.
— Almoçar. — Disse ligando o motor, saindo do estacionamento do
hospital e entrando no trânsito agitado, olhou para trás e viu o carro preto os
seguindo a certa distância. — Onde está a joia?
— Aqui comigo, preciso devolver para Day.
— Não será necessário.
— Ela me emprestou, preciso devolver.
— Eu comprei para você, agora é seu. — Franziu o cenho e o encarou.
— Eu não quero essa joia, irei devolver e pegar o seu dinheiro de volta.
— Disse já nervosa.
— Não seja teimosa, ela é sua e ponto. — Ele folgou a gravata vermelha
e a tirou, jogando no banco de trás do carro.
— Você não entende. — Suspirou. — Não serei capaz de usar essa jóia
nunca mais, elas me farão lembrar do que aconteceu naquela noite. —
Desviou os olhos do rosto sério dele e olhou para fora.
— É por isso que você não está usando a aliança? — O carro parou no
sinal e ele olhou para ela, podia vê-lo pelo vidro da porta, Emily passou a
mão no rosto para secar as lágrimas. Malditos hormônios da gestação.
— Sim. — Cruzou os braços.
— Tudo bem, já que é assim que deseja, eu resolvo isso pessoalmente.
— Ele esticou a mão, Emily abriu a bolsa e colocou a caixa na palma dele,
Kevin abriu o porta luvas e guardou a caixa dentro. — Você deve ser a única
mulher que não aceita joias.
— Eu não sou comprada com coisas brilhantes, Sr. Daime. — Encarou
ele ao dizer seu sobrenome. Ele retesou o maxilar e apertou o volante do
veículo.
— O que te compra, Emily? — O sinal abriu e ele avançou.
— Sorvete de creme com bastante calda de chocolate. — Um sorriso
enorme surgiu nos lábios de seu marido, o que a deixou sem fôlego.
Kevin parou em frente ao restaurante, e se adiantou para abrir a porta
para Emily, entregando a chave ao manobrista e a guiando para dentro do
local. Tentou ao máximo disfarçar sua cara de impressionada quando entrou
no restaurante.
Sentiu que estava numa daquelas mansões de Versalhes, a área decorada
com lustres de cristal, bronze e mármore, janelas de vidro enormes, e podia
avistar um belo jardim.
Kevin segurava sua mão enquanto falava com a hostess na entrada. Uma
mulher jovem, muito bem vestida e maquiada, que sorria para ele mostrando
seus estúpidos dentes brancos e perfeitos. A mesma os guiou pelo meio do
restaurante. As clientes ali estavam usando vestidos de grife e joias
caríssimas, as mesmas olhavam para Emily de alto a baixo, como se a
julgasse, mas não ficou desconfortável por estar com seu vestido azul,
casaquinho branco e uma sapatilha confortável.
Vão para o inferno todas vocês!
Revirou os olhos.
Eles sentaram numa área privativa, e lá estavam, mais uma vez, uma
infinidade de garfos e facas, além de vários copos de cristal.
O maître, veio e serviu água para ambos. Kevin pediu uma dose de
whisky e foi atendido de pronto. Tomou o líquido de cor âmbar num único
gole e dispensou a segunda dose oferecida.
— Isso deve ser muito bom, porque você sempre bebe. — Disse olhando
o cardápio, indo direto para as sobremesas.
— É um hábito. — Ele disse olhando para ela, sentiu seu rosto ficar
quente.
— Aqui não tem sorvete. — Desprezou o cardápio e cruzou os braços.
Kevin riu.
— Você é sempre assim? — Ele descartou o maître com a mão mais
uma vez assim que ele se aproximou.
— Assim como? — Tomou um gole de água bem lentamente,
observando tudo ao redor.
A mesa era redonda, coberta por uma toalha de mesa branca, as cadeiras
eram muito confortáveis, um estilo clássico com desenhos dourados, devia
ser ouro. A área privativa tinha apenas quatro mesas, mas só havia eles ali, o
ambiente era semelhante a área principal, muito luxuoso e bem iluminado
pelo gigante lustre e as janelas grandes de vidro, a lareira era um sonho e
crepitava baixinho enquanto a madeira queimava.
— Imprudente, cabeça dura, mal educada e teimosa. — Ele cruzou a
perna e descansou a mão no joelho.
— Cabeça dura e teimosa, não seria a mesma coisa? — Inqueriu
depositando a taça de água sobre a mesa e erguendo o queixo.
— Eu não terminei.
— Nem precisa. — Nos olhos dele, ela via divertimento, parecia
instigado à medida que Emily o desafiava.
— Se você se comportar, eu posso providenciar o sorvete de creme. —
A boca de Emily salivou, acariciou o ventre.
— Isso seria quase uma chantagem.
— Não tenho muitas armas, mas as que tenho, faço questão de usar. —
Ele passou os dedos sobre os lábios, olhando para os movimentos das mãos
dela no ventre. — Enfim, na sua lista também temos: boca suja e
desobediência.
Emily riu dele.
— Não sou criança, e não te devo obediência. — Ele franziu o cenho,
nada satisfeito, mas Emily não relutou. — Só tem isso na sua lista? —
Afrontou.
— Por hora, sim. — Ele estreitou os olhos verdes com cílios perfeitos
demais. Emily balançou a cabeça para afastar os pensamentos que a
invadiam.
— Sua lista, ultrapassa a minha. — Piscou para ele com desdém. Ele
ergueu a sobrancelha surpreso.
— O que tem nessa lista? — Ele abriu o botão do paletó, descruzou a
perna e se inclinou sobre a mesa.
— Posso dizer, se... — Se aproximou e colocou a mão ao lado da boca e
sussurrou. — Se eu conseguir aquele sorvete de creme. — Kevin se inclinou
para trás e gargalhou. Ela nem pôde esconder o espanto, nunca tinha visto ele
rir daquele jeito.
Tão lindo. Suspirou.
— Kevin! — Uma ruiva alta, muito magra, vestindo um vestido branco
justíssimo, calçando salto alto e linda de morrer gritou na porta da sala.
Seus olhos estavam cheios de lágrimas e ela tremia os lábios, tentando
conter o choro. Emily lembrou de ter visto ela, numa revista de fofoca, ao
lado de Kevin, uma vez.
Lembrava bem da manchete, na capa dizia: modelo internacional é novo
affair de Kevin Daime.
— Inferno! — Ele resmungou e levantou quando a viu vindo até a mesa
como se fosse fazer alguma loucura. — Fique aqui. — Ele ordenou com
firmeza. Segurou a ruiva pelo braço e se afastou, a arrastando para fora da
sala privativa.
Sentiu um ódio grande em seu peito, soube que era ciúmes, seu
estômago estava revirado, sentia vontade de vomitar. Passou alguns minutos
e ele não retornou, Emily foi até o banheiro e molhou o rosto com água fria
para conter a vontade de chorar. O ódio fervia em sua pele, o ciúme corroía
seu cérebro. Imaginava os dois juntos numa outra sala privativa, se beijando.
Seu telefone vibrou na bolsa, pegou o aparelho, era Jennifer. Atendeu de
imediato.
— Emily! — A voz dela era puro pânico. — Eu não tenho para quem
recorrer. — Ela disse e começou a chorar.
A mão de Emily começou a suar frio.
— Onde você está? — Ela respirou e disse. — Me encontre em minha
casa.
— Não! — Jennifer gritou do outro lado. — Ninguém pode saber onde
eu estou, por favor, me prometa.
— Sim, fique calma, façamos o seguinte me encontre na minha antiga
casa. — Ditou para ela o endereço. — Estou indo para lá agora, estarei te
esperando.
Desligou e saiu do banheiro, avistou uma saída de emergência, era os
fundos do restaurante, uma rua movimentada. Acenou para o táxi que parou
de pronto. Passou o endereço e o motorista seguiu.
Ia escrever uma mensagem para Kevin, mas ainda estava com raiva dele,
quando decidiu enviar uma para Judy o celular descarregou. Jogou o aparelho
dentro da bolsa, descontando nele, sua raiva.
Chegar a sua casa, demorou um pouco, havia praticamente atravessado a
cidade. Acabou tendo que pagar uma fortuna ao motorista.
Seguiu para a porta e levantou um jarro na varanda, para pegar a cópia
de sua chave, abriu e entrou. Estava tudo limpo, o pessoal de Kevin ia até lá
ao menos duas vezes na semana.
Foi até a cozinha e colocou água na chaleira para preparar um chá.
Assim que ligou o fogo ouviu as batidas na porta.
Era Jennifer, ela vestia calça jeans surrada, um all star[SA4], um casaco
esportivo cinza, meio manchado, com capuz, que mantinha seu cabelo
escondido. Estava de óculos escuros grande, que cobria seu rosto, quase que
completamente, seu lábio inferior tinha um corte, puxou ela para dentro e
trancou a porta.
Ela tirou os óculos e Emily levou a mão aos lábios para não gritar. Os
olhos dela estavam bem roxos, seu nariz aparentava estar quebrado.
Abraçou-a quando começou a ter uma crise de choro. Aquela nem
parecia ser a sombra de Jennifer. Ela soluçava alto, chorando desesperada.
— Está tudo bem, você está segura aqui, eu estou com você. — Disse
alisando suas costas. Ajudou ela a sentar e foi para cozinha preparar o chá,
colocou a água quente em xícaras e entregou uma para Jennifer. Trouxe para
a amiga uma compressa para colocar sobre os olhos.
— Precisa de um banho. Eu tenho roupas que você pode usar, se quiser.
— Ela abriu o casaco cinza e o tirou, seu cabelo estava bem bagunçado, pôde
ver que seus braços tinham marcas também roxas.
— Muito obrigada Emily, não sabia para onde ir, gastei o meu último
centavo no hotel. — Ela enxugou o nariz com cuidado. — Eu não tinha para
quem ligar.
— Não se preocupe com isso, você pode ficar aqui quanto tempo quiser.
— Ela segurou as mãos de Emily.
— Eu nem sei como agradecer, você nem me conhece direito e foi a
única, que não me negou ajuda. — Emily acariciou a mão da amiga.
— Quem fez isso com você Jennifer? — Ela respirou fundo algumas
vezes, e desviou os olhos, parecendo envergonhada.
— Garon, meu marido.
E
mily saiu e foi até a loja de conveniência, em casa não tinha nenhum
alimento, comprou tudo que Jennifer podia precisar enquanto estivesse
lá.
O rapaz do mercado que sempre a ajudava, levou as compras. Quando
chegou Jennifer tinha subido para tomar banho. Arrumou tudo dentro dos
armários e separou ingredientes para fazer uma sopa.
Garon havia batido nela, muito, o corpo de Jennifer estava cheio de
marcas. Ela não estava bem o suficiente para contar e Emily não a
questionou.
Já tinha passado a hora do almoço e muito e Emily não havia comido
nada, abriu o pote de sorvete e começou a comer direto da embalagem,
suspirando a cada colherada.
Jennifer desceu, vestindo uma das roupas de Emily, um de seus
vestidos de grávida, que ficou bem folgado e um pouco acima do joelho.
Jennifer era magra e mais alta. Estava mais apresentável, apesar das manchas
roxas nos olhos.
— Eu também quero. - Ela disse com um sorriso tímido. Emily pegou
uma colher na gaveta e estendeu para amiga. Deixou-a saboreando, seu
amado sorvete de creme e começou a preparar o jantar.
— Comprei várias coisas para que você não precise sair. - Abriu a
geladeira e mostrou que estava abastecida.
— Eu nem sei mais o que dizer para agradecer. - Ela tomava o sorvete
com calma.
— Acho que consegue durar ao menos quinze dias. - Avisou.
— Eu não sei preparar nenhum tipo de alimento, nunca precisei
cozinhar. - Ela disse dando de ombros. Emily se aproximou e pegou mais
uma colher de sorvete. Foi até o armário e pegou o livro de receitas de sua
mãe e entregou para Jennifer.
— Você pode aprender por esse livro, as explicações são simples e as
receitas são práticas, é só seguir à risca e não haverá erro. - Folheava aquele
livro tantas vezes que havia decorado cada uma das receitas. Passando os
dedos pelas letras lindas de sua mãe.
— Acho que consigo, não pode ser tão difícil. - Ela disse um pouco
entusiasmada. Guardou o sorvete e começou a ajudar Emily a preparar o
jantar. — Alguém sabe que você está aqui? - Jennifer perguntou, sua voz
demonstrando seu medo.
— Não, eu vim de táxi, estava com Kevin em um restaurante, sai sem
falar com ele depois que você me ligou. - Ela arqueou as sobrancelhas.
— Por quê?
— Ele preferiu a companhia de outra. - Começou a cortar as verduras
com raiva.
— Mas deve estar procurando por você, louco de preocupação, não
acha?
— Duvido muito. - Colocou os legumes cortados dentro da panela e
acrescentou um pouco de água. Cortou vários legumes e Jennifer ainda estava
no primeiro.
— Quem era a outra?
— Eu não sei. - Disse meio emburrada. Abriu a geladeira e pegou um
prato de carne. - Uma modelo ruiva, peituda, magricela e com dois metros de
altura. - Jennifer riu alto com a descrição da amiga.
— Pamela Gonzales. Aquilo tudo é prótese. - Disse ainda rindo. —
Você acha mesmo que ele está te traindo, assim, a vista de todos?
— Eu não sei, Jennifer, não conheço meu marido. - Explicou para ela
sobre seu casamento de conveniência.
— Isso é muito estranho, Kevin sempre foi um solteiro convicto, não
acredito que uma gravidez inesperada o faria casar se não quisesse. - Jennifer
começou a lavar as mãos, aquelas unhas não durariam um dia como dona de
casa.
— O nosso acerto não incluía casamento, mas a mídia soube de tudo e
ele teve que agir dessa forma. - Emily dificilmente se abria tanto com
alguém, mas sentia que podia confiar em Jennifer. — Você o conhece bem?
— Nós crescemos juntos, estudamos na mesma escola, frequentamos
os mesmos lugares, mas eu não diria que somos amigos, ele nunca foi de
amizade, digamos que... o pai dele sempre foi muito rígido e colocou no filho
todo peso de um império comercial. - Emily mostrou para ela a quantidade
boa de sal para colocar naquela porção de carne. — Ele preza muito a
reputação, não ia querer seu nome envolvido em um escândalo, nós prezamos
muito pela integridade. - Ela estava muito entristecida. — Veja o que
aconteceu comigo, a mídia me condena, o nome da minha família está no lixo
e a culpa nem foi minha. - Segurou a mão da amiga, o queixo da mesma
tremia.
— Você vai ficar bem. - Consolou, sem saber muito bem o que dizer.
Jennifer piscou várias vezes e sorriu sem nenhum humor.
— Então, eu acho que posso afirmar que ele não seria capaz de fazer
algo a vista de todos, e se houve algo entre eles, foi apenas um caso, ele
sempre fez questão de frisar que casamento não estava em seus planos.
— Ele não confia em mim, eu me entreguei para ele sem nem saber
quem ele era. - Suspirou, enquanto Jennifer seguia tentando entender tudo.
— Por que vocês foram morar na mansão? Kevin tem uma cobertura,
vocês podiam viver bem lá. - Jennifer alcançou os temperos que estavam no
alto do armário da cozinha e entregou para Emily.
— Janie disse que lá era um bom lugar para criar as crianças, e ele
achou melhor assim.
— Janie, hãm? Talvez ela tenha colocado o dedo nisso. - Afirmou
Jennifer, Emily ficou meio abismada. — Ele sempre dizia que a mansão
deixou de ser sua casa depois que a mãe morreu.
Emily colocou a panela no fogão e ligou o fogo, fechou com a tampa e
sentou à mesa, Jennifer sentou ao seu lado. — Não confie em Janie, ela é um
tanto... manipuladora, nem sei como você está conseguindo viver sobre o
mesmo teto que ela. - Alertou, mas Emily não via motivos para tanto. — Ela
não vale nada.
— Ela sempre foi boa comigo. - Defendeu, afinal nem Jesus agradou
todo mundo.
— Entendo, mas ela sempre faz algo para obter um benefício próprio. -
Frisou. — É o que chamam de caça dotes. - Emily não se sentia confortável
em falar de alguém que não estava presente.
A casa logo ficou cheirando a sopa, e os olhos de Jennifer brilharam de
expectativa.
— Você precisa de algum dinheiro Jennifer? - Perguntou assim que
sentaram no sofá da sala. — Eu não tenho muito, mas pode ser que seja útil.
— Preciso de algum dinheiro para sair do país, não posso mais viver
aqui, eu perdi tudo que meus pais me deixaram. - Era um grande patrimônio.
— Farei algo para te ajudar com isso.
— Preciso de um trabalho, começar minha vida de novo, do zero. - Ela
continuava bem abatida. Devia ser terrível ter tudo a vida toda, acordar e não
ter mais nada.
— Se você for para a cidade onde minha prima vive, eu posso falar
com ela. - Ligou a TV e deixou no mudo, num canal qualquer. — Ela é uma
ótima pessoa, você pode ficar com ela até que consiga arrumar algo.
Jennifer ficou um pouco animada com a proposta.
— Eu gostaria muito. - Anotou o endereço da prima em um papel e
entregou para Jennifer.
— Eu vou ligar para ela o quanto antes. - Jennifer sentou mais à
vontade no sofá, abraçando um travesseiro.
— Eu nunca vou esquecer o que você fez por mim. - Ela confessou, as
lágrimas voltando a rolar por seus olhos.
— Você vai ficar bem. - Disse apertando o ombro da amiga.
— Pelo menos eu não estou grávida daquele maldito, mentiroso. - Ela
riu sem graça. — Nem acredito que implorei tanto para ter um filho com ele.
— Foi por isso que ele te bateu, por que você descobriu tudo? — Ela
desviou os olhos.
— Acredito que em parte. — Emily sentia que tinha mais, porém não
pressionou. — Eu fui tão tola, Emily, o deixei assumir tudo que eu tinha, o
infeliz só me usava.
Emily foi até a cozinha, verificou a sopa, encheu um copo com água e
entregou a Jennifer.
— Ele te expulsou de casa?
— Não, eu fugi. — Ela disse e bebeu alguns goles de água, respirando
fundo depois, suas mãos tremiam um pouco. — Ele perdeu tudo em jogo,
estava recebendo ordem de despejo a meses e não me contou nada.
— Meu Deus!
— Eu descobri tudo quando achei a ordem de despejo, ainda consegui
falar com um advogado, que me informou que Garon começou a perder
dinheiro aos poucos, ele devia ao banco, a agiotas, uma infinidade de coisas.
— Ela cobriu o rosto com as mãos. — Descobri tudo quando voltei de sua
casa, ele não estava lá.
— Por que ninguém te alertou?
— Eu não tinha mais ninguém de confiança da época dos meus pais,
Garon tinha demitido todos. Meus pais confiavam nele, eu confiava. —
Emily tomou das mãos dela o copo e colocou sobre a mesa de centro. —
Minhas joias haviam sumido, me arrumei para ir ao evento, abri o cofre de
casa e não tinha nada, estava limpo.
— Onde ele estava? Fugiu?
— Agora? Não sei, mas aquele dia eu o encontrei na festa. — A pedido
de Emily, Jennifer levantou e foi desligar o fogo, mas ambas estavam sem
apetite, depois do início da conversa. — Quando cheguei... encontrei, uma
pessoa. — Ela segurou a ponta dos cabelos e começou a enrolá-lo nos dedos
finos. — Alguém do meu passado, que me odeia. Garon nos viu juntos e
surtou, foi um prato cheio para mídia. — Ela passou a pentear o cabelo com
as mãos, estava nervosa. — Ao chegar em casa o questionei, mas ele estava
tão furioso, pela briga, por tudo, e começou a me espancar, eu não me lembro
bem do que aconteceu depois, acordei e ele não estava mais lá, então eu fugi.
— Ela começou a chorar de novo, Emily a abraçou.
— Eu nem sei o que te dizer, mas acho que você devia procurar a
polícia, esse canalha tem que ser preso. — Disse se afastando do abraço e
segurando as mãos da amiga.
— Eu não posso mais voltar, tenho medo dele. — Emily podia
imaginar, violência doméstica não causava só danos físicos, os danos
psicológicos eram maiores. — Além disso, estou sendo perseguida, e... ele
disse que me acharia no inferno se preciso fosse, para conseguir sua
vingança. — Emily estremeceu junto com ela.
— Tudo vai ficar bem, ninguém vai saber que você está aqui, você
pode ficar o quanto quiser. — Ela limpou o rosto e sorriu. — Vamos tentar
esquecer isso. — Jennifer balançou a cabeça e ergueu o queixo.
— Não irei derramar mais nenhuma lágrima, eu juro. — Ambas
fitaram a tv muda, sem prestar muita atenção na programação.
Emily acordou com dor nas costas, havia dormido sentada toda torta no
sofá, olhou o relógio e praguejou, eram duas da manhã. Jennifer também
dormia toda encolhida. Seu estômago roncou alto. Pegou um lençol para
Jennifer e a cobriu, ela resmungou algo, mas não acordou.
Emily foi para cozinha e esquentou a sopa, se serviu e comeu sem fazer
barulho, aos poucos foi vendo Jennifer se acomodar mais no sofá. Ela
provavelmente não dormia bem, com medo de ser encontrada.
Graças a Deus agora ela estava segura. Começou a chover forte e
Emily ligou o aquecedor. Já estava muito tarde para ligar para casa, e não
tinha como ir embora sem antes falar com Jennifer.
Pensou em como poderia ajudar a amiga a sair da cidade, tinha
dinheiro, mas não era muito, ela precisava de uma quantia que lhe desse uma
estabilidade de ao menos alguns meses.
Ficou martelando isso enquanto comia seu segundo prato de sopa. A
chuva estava tão forte que o barulho as vezes a assustava. Quando ouviu
alguns raios tremeu na cadeira. Colocou o prato vazio na pia e tomou mais
algumas colheres de sorvete e depois subiu para seu quarto, colocou um
lençol limpo sobre a cama e deitou, ficou fazendo carinho na barriga até que
dormiu.
Ao acordar levou um susto, dando de cara com Jennifer deitada ao seu
lado, dormindo segurando sua mão. Ainda chovia, eram quatro e meia.
Precisava voltar para casa. Levantou e foi para o banheiro, escovou os dentes
e tomou banho.
Voltou pro quarto, Jennifer já tinha decido, vestiu um vestido amarelo
e um casaco marrom de lã bem grosso. No andar de baixo encontrou Jennifer
sentada na mesa, tomando sopa.
— Está muito bom Emily, você cozinha muito bem, é uma das
melhores sopas que já comi. — Sorriu para ela e preparou um café. Deixou
pronto para ela beber.
Fez um suco e panquecas, enquanto comia, Jennifer lavava os pratos de
forma desastrada, ambas riram da sua falta de jeito.
— Você aprende rápido, não fique apressada, lavar pratos requer anos
de treinamento. — Jennifer gargalhou alto. Parecia mais feliz naquela manhã,
seu rosto estava menos inchado depois das compressas, avisou a ela para
continuar fazendo. — Preciso ir.
Jennifer fez um muxoxo, mas a abraçou e beijou seu rosto.
— Obrigada mais uma vez Emily.
— Assim que eu puder, volto, deixarei algum dinheiro caso precise. —
Colocou algumas notas sobre a mesa.
Usou o telefone de Jennifer para chamar o táxi e saiu cobrindo a cabeça
com o casaco para não se molhar tanto. Deu o endereço ao motorista e ele
seguiu para casa.
Havia esquecido completamente de carregar a droga do celular e ele
continuava morto em sua bolsa. Judy devia estar doida de preocupação.
Quando estava chegando perto da estrada de árvores que levava a mansão ela
viu o valor no taxímetro. Arregalou os olhos, não tinha todo aquele valor.
Pediu ao motorista para parar e o pagou. Ele era mal educado e nem insistiu
em levá-la, dando a volta e a deixando na chuva.
Caminhou por cerca de trinta minutos, seu peso e suas roupas
molhadas não ajudando em nada. Agradeceu aos céus ao avistar a mansão. Já
tinha tirado os sapatos porque escorregavam muito estando molhados e quase
caiu. Estava encharcada até a alma e tremia igual bandeira ao vento.
Devia ter esperado mais, ao menos até a chuva passar. Não havia
ninguém do lado de fora, e ainda chovia muito. Quando subiu os degraus já
estava tão exausta que pensou em desistir e sentar ali mesmo, mas estava
enregelada, então se arrastou até a porta, que estava trancada, morava ali e
nem tinha a chave da maldita porta. Tocou a campainha e esperou,
imaginando como estava sua aparência.
Não demorou muito, uma empregada abriu a porta e fez uma careta ao
vê-la molhada e com os pés sujos. Outra que estava arrumando as flores saiu
correndo em direção a sala de estar. Entrou e respirou aliviada, ali dentro
estava tão quentinho.
— Emily! graças a Deus! — Gritou Judy correndo até ela e a
abraçando. — Você está fria como gelo. Como pôde sair nessa chuva?
Nesse mesmo instante Kevin e Chris vieram correndo da sala de estar,
Kevin ainda estava com o mesmo terno do dia anterior, e pela cara, não tinha
dormido nada. Seu semblante mudou de aliviado para furioso em fração de
segundos.
— Onde você estava? — Chris segurou o primo pelo braço ao perceber
seu tom ameaçador, mas ele se soltou com um safanão. O chão ao redor de
Emily já estava uma poça de água. Seu corpo inteiro tremia. — Como pode
agir com tanta imprudência?
Quem ele pensava que era pra falar com ela daquele jeito? Gritava
para todo mundo da casa ouvir. Ergueu o queixo e o ignorou, começando a
andar para seu quarto. — Responda, ou eu juro por Deus. — Parou a alguma
passos do marido e o fitou com toda raiva que conservou dentro de si desde
que foi abandonada no restaurante.
— O quê? Vai me bater? — Kevin desmontou sua cara furiosa ao ouvir
sua pergunta e trincou o maxilar com força, contendo a explosão, era visível
o seu desagrado, mas por um momento ela viu relutância. Talvez ele
realmente estivesse preocupado, mesmo assim, Emily não relutou. — Eu não
te devo explicações Sr. Daime, passar bem.
E
ntrou no quarto junto com Judy, que teve que tirar suas roupas, pois
ela não conseguia parar de tremer. A deixou somente de calcinha e
sutiã e cobriu seu corpo com um cobertor grosso.
— Você é louca, seu marido estava... ele parecia que ia enlouquecer. —
Não se deu ao trabalho de responder, estava com frio demais. — Vou encher
a banheira com água morna, e pedir a alguém para preparar um chá bem
quentinho.
Ela andava pelo quarto separando roupas quentes, entrando no banheiro
e ligando a água.
Emily pulou da cadeira quando Kevin entrou batendo a porta.
— Saia. — Ordenou em tom firme, assim que Judy retornou do banheiro
para ver o que estava acontecendo. Ela olhou para Emily antes.
— Pode... ir... — Disse com os dentes batendo.
— Vou preparar o chá. — Avisou, antes de sair.
Kevin a encarava enquanto aguardava a saída da enfermeira, o frio de
seu olhar parecia penetrar os ossos de Emily, tamanha sua intensidade, a
fazendo se agarrar mais ao cobertor.
— Onde você estava?
— Não... é... da... sua... conta. — Revirou os olhos quando ele praguejou
alto, totalmente sem paciência.
— Então, vou reformular a pergunta. — Ele disse entre dentes. — Com
quem você estava? — Emily revirou os olhos de novo.
Começou a espirrar, várias vezes, seu nariz já corizando. Era só o que
faltava, ficar resfriada. Kevin deu um passo em sua direção e ela se encolheu,
ele parou. — Não vou bater em você, droga! — Ele passou os dedos nos
cabelos e respirou fundo várias vezes. Quando voltou a olhar para ela seus
olhos já estavam diferentes, parecia enfim controlar a raiva que sentia por não
obter resposta para seus questionamentos.
Observou ele ir ao banheiro, enquanto teve outro ataque de espirros, o
cobertor já estava molhado, não a aquecendo.
Kevin retornou, mantendo seus olhos verdes, lindos, fixos nos dela,
deixando claro que não ia machucá-la, como afirmou que ele faria, mas sentia
que ele não seria capaz de tal coisa, no entanto, não o conhecia bem. A pegou
no colo e levou para o banheiro. A colocou no chão e abriu seus dedos
congelados para soltar o cobertor, Emily teve outro ataque de espirros.
Kevin tirou os sapatos e depois a ergueu no colo, entrando com ela na
banheira, ainda com a roupa. Colocou ela lentamente dentro da água, mas foi
horrível, não pôde controlar a chuva de palavrões que saíram de sua boca
quando a água quente pareceu mil agulhas penetrando seu corpo frio.
Após alguns instantes relaxou, seu corpo estirado dentro da banheira de
hidromassagem, suas costas apoiadas no peito dele. Repousou a cabeça e
suspirou, os tremores sumindo por completo. Kevin passou as mãos fortes
por seus braços e pernas para ajudar na circulação do calor, era tão gostoso,
quando ele começou a acariciar sua barriga os gêmeos começaram a pular
descontrolados. Riu e acabou cochilando.
Ao acordar já estava deitava no peito de Kevin, na cama, vestia um
conjunto de moletom masculino e meias bem quentinhas. Havia também dois
edredons sobre seu corpo.
Kevin estava dormindo abraçado a ela. Seu peito nu subia e descia
regularmente, tão quentinho ali, mas quentinho que qualquer cobertor do
mundo. Não queria se mexer e acordá-lo, ele era tão lindo dormindo, podia
ficar para sempre o observando dormir e respirar, sentido o cheiro bom que
ele emanava.
Seu nariz estava entupido e respirava pela boca, o que deixava sua boca
seca. Precisava de um litro de água, sua bexiga estava cheia e seu estômago
reclamava de fome, mas tudo que ela queria era ficar ali, nos braços de seu
marido.
Sentiu que ia espirrar, tentou controlar à vontade, mas era bem mais
forte que ela, colocou a mão sobre o nariz e espirrou alto de todo jeito. Kevin
levou um susto e pulou da cama, acertando seu braço bem no nariz de Emily.
— Au! — Gemeu de dor.
— Você está bem? — Ele perguntou meio irritado, a voz rouca.
— Claro que não. — Resmungou segurando o nariz dolorido. — Acho
que você quebrou o meu nariz.
— Me deixa ver. — Ele afastou a mão dela que segurava o nariz e
observou atentamente, perto demais. — Não está sangrando. — Ele apertou o
nariz dela de leve, mesmo assim doeu.
— Ai, seu bruto! Isso dói de verdade. — Deu um tapa na mão dele. E
afastou o lençol para poder levantar. Calçou a pantufas e espirrou, fazendo
seus ossos vibrarem.
— Aonde você vai? — Perguntou com ignorância.
— Fazer xixi, posso? — Perguntou irritada. Ele não respondeu e ela
seguiu, fechou a porta com força.
— Mal criada! — Ele resmungou do quarto.
— Acrescente mais isso a sua estúpida lista de defeitos — Ela gritou de
volta sua voz saindo estranha por conta do nariz.
Aliviou-se e foi até a pia, seu cabelo estava completamente bagunçado e
seu nariz bastante vermelho, observou bem, e apalpou para ter certeza de que
não havia uma fratura. Sobre a pia estavam as coisas dela, que eram poucas, e
havia também... espera ai! Creme de barbear, barbeador e loção pós barba.
Ele estava se apossando do banheiro. Quer dizer, o banheiro já é dele, enfim.
Sentiu vontade de jogar tudo no lixo, só para reafirmar que ele estava certo
quanto a ela e para se sentir bem por fazer algo que ele não esperava, mas
pensou bem, talvez faria isso outra hora.
Saiu e ele tinha vestido uma camisa, o que era uma lástima. Judy e uma
empregada com uma bandeja entraram, como se soubessem a hora ideal.
— Como você está? — Guiou Emily para uma das poltronas no quarto.
A empregada deixou a bandeja sobre a mesa onde ela sempre comia e saiu.
Olhou para a janela, chovia, ainda era cedo, mas com a chuva já parecia
ser noite. Judy ajudou-a a tirar o casaco grosso, que devia ser de Kevin,
devido ao cheiro maravilhoso. Ela vestia, por baixo deste, um top cobrindo os
seios, se perguntou quem teria a vestido e sentiu seu rosto arder de vergonha.
A enfermeira, a examinou.
Kevin tinha sentado na mesa e bebia suco, com o tablet na mão livre. Os
olhos estreitos analisando a tela com atenção.
— Sem sinal de febre ou inflamação na garganta. — Sorriu para Judy.
— Vou preparar uma nebulização com soro e buscar a vitamina C, que Dr.
Paulo receitou, enquanto isso, coma seu almoço.
Ela não precisou de um segundo incentivo, tirou a calça e vestiu o
roupão. Aquela roupa era ótima para dormir, mas péssima para se
movimentar, já que era muito grande. Sentou em frente a Kevin e pegou seu
prato.
Estava com tanta fome que começou a olhar para o prato de Kevin,
mesmo com o seu ainda intocado.
— Você não vai comer minha comida. — Ele disse sem desviar os olhos
do tablet.
— Que droga. — Resmungou e cortou o bife suculento, começou a
mastigar, fechou os olhos e soltou um suspiro de prazer com as sensações que
o alimento provocava em sua boca. Quando abriu os olhos para cortar mais
um pedaço da carne Kevin a encarava, seus punhos contraídos, seus olhos
brilhando de uma forma estranha.
— Não faça isso. — Ele sussurrou e sentiu sua nuca arrepiar. Tentou
disfarçar seu desconcerto continuando a comer.
— Fazer o quê? — Gemeu de novo, quando mastigou os brócolis
refolgado.
Ele bateu os punhos na mesa.
— Eu já disse para você não fazer.
— Parar com o que exatamente? Devo decifrar tudo que diz? Não estou
com muita paciência para isso agora. — Fungou com seu nariz estupido e
congestionado.
— Eu preciso de um minuto. — Ele disse apertando o nariz com os
dedos. Por fim, ela tinha comido toda a comida de seu prato e olhou para o
dele.
— Enquanto você tem o seu minuto acho melhor eu comer sua comida,
pode esfriar. — Colocou nos lábios o seu melhor sorriso.
Ele pegou o prato e cedeu, colocando diante de Emily.
— Muito obrigada, querido. — Ele levantou se supetão derrubando a
cadeira.
— Eu realmente preciso...
— Sim, sim, você pode ter o que quiser, com tanto que não atrapalhe
meu almoço. — Disse continuando a sorrir, contente por ter conseguido o
prato que ele não tocou.
— Eu acho que a gente não fala a mesma língua. — Kevin a puxou para
seu peito e devorou seus lábios em um beijo inesperado e sedento.
Respirar.
Precisava desesperadamente, respirar. Os lábios quentes e firmes de
Kevin a impedia de respirar, seu nariz completamente tapado não permitia a
entrada de nenhuma quantidade de oxigênio.
Colocou a mão no peito dele e tentou empurrá-lo, mas ele segurou seu
pulso com uma mão forte, e a impediu de se afastar. Seus pulmões
queimavam com a falta de ar, resmungava entre os lábios, mas isso só o
deixava mais desnorteado, mais sedento. Sua língua penetrava sua boca,
como se estivesse a possuindo.
Quando não conseguiu mais aguentar a falta de ar, mordeu os lábios dele
com força, sendo solta de imediato. Se apoiou na mesa e começou a respirar
desesperadamente pela boca.
— Você me mordeu, de novo. — Emily sentou, ainda sem conseguir
suprir à quantidade necessária de oxigênio que seus pulmões exigiam.
Os lábios de Kevin sagravam um pouco, ele pegou o guardanapo de
linho sobre a mesa e comprimiu o ferimento.
— Você queria me... matar! — Seu peito subia e descia muito rápido,
estava um pouco tonta e com uma leve pontada de dor na cabeça.
Ele olhou incrédulo para ela, sua raiva evidente nos olhos. Judy entrou
no quarto novamente e notou que Emily estava sem fôlego.
— O que aconteceu? — Ela correu até Emily e começou a massagear
suas costas. — Com calma, imite meus movimentos, inspire lentamente, isso
mesmo, agora expira. — Ela ligou o aparelho de nebulização na tomada e
colocou a máscara sobre sua boca e nariz.
Pegou um oxímetro e colocou no indicador de Emily. Kevin observava
cada movimento de Judy e parecia não compreender o que estava
acontecendo.
— Sua saturação está muito baixa.
— Vou ficar bem... é momentâneo. — Disse sua voz saindo abafada
pela máscara.
— O que isso quer dizer? — Perguntou Kevin tirando o guardanapo dos
lábios e se aproximando delas. O peito de Emily ainda subindo e descendo
muito rápido.
— Significa que o oxigênio não está chegando as extremidades como
deveria. — Ele fez cara de quem não estava entendendo nada do que a
enfermeira dizia, por isso ela prosseguiu. — Isso quer dizer, que o corpo está
dando prioridade aos órgãos vitais, como cérebro, coração e rins. — Emily
estremeceu.
— Isso é ruim para os bebês?
— Sim. — Ele passou os dedos entre os cabelos, ficando nervoso. —
Vamos esperar ela terminar a nebulização, caso o quadro não mude
precisamos levá-la para o hospital, vou ligar para Dr. Paulo, para deixá-lo
ciente. — Ela pegou o celular e saiu.
Kevin andou de um lado para o outro do quarto, praguejando baixinho.
— Acho melhor irmos de uma vez para o hospital, não é bom correr
riscos em seu estado. — Ele disse de repente, parando em frente a ela, pronto
para arrastá-la. Balançou a cabeça se negando.
— Estou me sentindo melhor. — Seu nariz já estava parcialmente
descongestionado, o vapor do soro fazendo gotículas em seu rosto.
— Por que você tem que ser tão teimosa? — Ele gritou, ela estremeceu.
— Mais uma vez sendo imprudente, primeiro sumindo um dia inteiro, depois
andando na chuva, agora se negando a ir ao hospital.
Emily inspirou pelo nariz com um pouco de dificuldade, fez esses
movimentos cinco vezes, até que sua via aérea ficou totalmente desobstruída.
Acariciou o ventre e sentiu os pequenos chutes, eles ficariam bem, ela ficaria
bem. — Por que não me esperou, como eu disse para fazer?
— Deve ser porque eu não sou igual aos outros que você manda e
desmanda. — Retrucou entre dentes, já respirando melhor. — Eu não ia
continuar lá fazendo papel de idiota para todos, enquanto você se divertia
com a ruiva siliconada.
Ele arregalou os olhos.
— Do que exatamente você está falando?
— Por favor, não se faça de desentendido, não combina com você. —
Ironizou, bufando na máscara.
— Ela estava prestes a causar um escândalo, e isso vem acontecendo
com frequência desde que te conheci. — Olhou para ele furiosa, sem
acreditar em sua desculpa esfarrapada, Kevin respirou fundo. — Você sabe o
desespero que foi voltar lá e você ter sumido, sem que ninguém tivesse visto?
— Eu sempre causo essa impressão de invisibilidade no meio da sua
sociedade hipócrita. — Olhou o conteúdo do copo da máscara e viu que tinha
terminado, desligou o aparelho e colocou a máscara sobre a mesa. — Não me
venha com sua falsa preocupação.
— Não seja infantil. — Ouvir isso a irritou.
— O infantil aqui, é você! — Pegou o prato, ainda com o alimento, e
jogou contra o marido, errando por pouco.
— Veja só, é o que você é! Estou pensando seriamente em trancar você
num asilo de loucos, com vigilância vinte quatro horas. — Emily arregalou
os olhos, pegou os copos e começou a lançar nele.
— Você não se atreveria. — Gritou. Antes que ela pegasse o prato
vazio, ele se aproximou e segurou seus pulsos.
— Pare!
— Não vou parar, nunca vou parar. — Disse seu coração acelerado com
a proximidade.
— Se eu descobrir onde você estava e com quem estava, pode ter
certeza, que farei você ver o pior de mim. — Tentou se soltar, mas ele a
impediu, apertando mais a mão em seus dois pulsos. — Os médicos vão tirar
os bebês de você e não permitirei que você os veja, não serei feito de idiota,
não me tente. — Ele passou os dedos da mão livre sobre seu rosto trêmulo.
— Você me entendeu? — Segurou seu queixo e ergueu seu rosto para que
seus olhos não desviassem. — Diga que entendeu.
— Eu entendi. — Sussurrou.
— Assim é melhor.
— Vá para o inferno! — Amaldiçoou.
Nesse instante, Judy entrou no quarto, ainda com uma ligação em
andamento, Kevin se afastou indo em direção a saída.
— Vamos ver como está a saturação agora. — Emily tentou disfarçar os
tremores em suas mãos, respirando fundo.
— Eu estou bem, meu nariz também está melhor. — Ela corizava um
pouco, e limpava com um lenço de papel que estava sobre a mesa.
— Melhorou sim. — Judy olhou ao redor do quarto, vendo a bagunça.
— O que aconteceu aqui?
— Campeonato de arremesso em idiotas. — Judy tentou segurar o riso,
mas não conseguiu, gargalhando com a piada.
— Vou chamar alguém para limpar essa bagunça, antes que alguém
machuque.
— Judy, preciso falar com a pessoa que estar responsável pela
manutenção da minha casa.
— Aconteceu alguma coisa? — Ela perguntou curiosa, enquanto
arrumava o aparelho de nebulização e guardava suas coisas numa bolsa rosa.
— Não, eu a aluguei, então, não será preciso que alguém vá até lá para
limpar.
— Isso é ótimo. — Odiou estar mentindo, mas o segredo não era dela,
para que pudesse sair contando a outros. — Avisarei, não se preocupe com
isso, aliás, eu tomei a liberdade de entregar o colar que você ganhou do Sr.
George para que fosse guardado no cofre.
Lembrar disso fez Emily ter uma ideia.
— Certo, obrigada por isso. — Judy saiu. Emily pegou seu celular já
carregado e mandou uma mensagem para Jennifer.

"Como você está?"

Ela não demorou em responder, o que a aliviou.

"Estou bem, mas queimei uns cookies que fiz, seguindo o livro de receita
de sua mãe. Como você está? Chegou bem? Fiquei preocupada."

Se apressou em digitar uma mensagem. Já estava mais calma.

"Acabei me molhando um pouco, mas estou bem, não se preocupe. Eu já


sei como conseguir o dinheiro para sua viagem."

Sorriu, contente por poder ajudá-la, ela merecia uma chance de


recomeçar, longe de tudo que a fez sofrer.
Emily sabia que ela não tinha como, se tivesse outras opções, não estaria
em sua casa agora, sem nenhum dinheiro.

"Por favor, não arrume confusão com isso, eu posso dar um jeito.

Sabia que agora, ela era tudo que Jennifer tinha, e não pensaria duas
vezes em fazer de tudo para ajudá-la.

"Não se preocupe. Vou penhorar meu presente de casamento."


E
mily o aguardou voltar, quando ele não veio foi até o banheiro e jogou
as coisas dele no lixo. Estava começando a ficar louca.
Passou a tarde toda sentada em frente a porta de vidro, olhando a
chuva e pensando em tudo que Kevin disse, as ameaças que fez. Só de
lembrar, ela sentia um arrepio. Abraçava seu ventre o tempo inteiro. Ela não
tinha para onde ir, a única parente que tinha era sua prima, ele a acharia lá
facilmente, voltar pra sua casa também estava fora de cogitação.
Cobriu o rosto com as mãos. Estava perdida. Sem seus filhos ela
morreria, enxugou as lágrimas e limpou o nariz com um lenço de papel, a
caixa já estava quase no fim.
— Entre. — Disse ao ouvir as batidas na porta, não era ele, ele não
batia, ele entrava e ponto.
— Com licença, a senhora Janie me pediu para acompanhá-la até o
quarto dos bebês. — Explicou uma moça bem uniformizada. Emily não
conhecia nenhuma das empregadas que trabalhavam naquela casa.
— Sim, vamos, quero muito ver como está ficando, me espere só um
momento. — Levantou e foi ao closet vestir uma roupa.
A empregada a guiou até o hall, subiram as escadas que davam acesso
ao andar de cima. Nunca tinha ido até lá. Será que o quarto de Kevin seria ao
lado do quarto dos bebês?
Estremeceu só de pensar em dividir o quarto com ele. No andar de cima,
no final da escada tinha um sofá muito elegante e algumas poltronas, o lado
esquerdo como o lado direto era um longo corredor.
A empregada a guiou para o lado direito, disse que o lado esquerdo do
andar superior era a ala onde Janie ficava.
Ela abriu a segunda porta. Era um quarto grande, com uma ante sala
bem espaçosa, não havia móveis ainda, as paredes estavam pintadas de
creme, uma cor bem neutra, o chão era todo coberto por um carpete cinza. A
área onde ficariam os berços era bem grande, havia duas portas de vidro e
uma varanda grande com visão para a piscina. O banheiro também era
enorme, ficou imaginando como faria para dar banho nos bebês ali, pois só
havia uma pia muito grande com duas cubas, o sanitário e uma banheira de
hidromassagem.
O closet era muito maior do que o que tinha no quarto de Emily.
— Emily, querida, que bom que veio, o que achou? — Janie entrou no
quarto desprovido de móveis e a abraçou. — Agora só falta a mobília. — Ela
disse orgulhosa observando o quarto.
— Janie, sem querer ser desagradável, mas isso não se parece em nada
com um quarto de criança. — O sorriso dela murchou.
— Sério? Emily, está é a última moda em Paris, todas as mães estão
copiando.
— Olha só, me arranja umas latas de tinta e eu farei meu trabalho aqui,
eu quero que esse ambiente seja colorido, do jeito que eu fiz em minha casa.
— Janie não ficou contente com seu pedido e isso ficou visível.
— Eu não sei se o Kevin, vai aprovar.
— Janie, o quarto é dos filhos dela, deixe-a fazer a seu modo. — Falou
Chris na porta de entrada, assustando as duas. — Eu também não acho que
essas cores neutras sejam para um quarto de bebê. — Ele olhou ao redor e fez
uma careta de desagrado.
— Qual a cor dos móveis, Janie? — Emily perguntou.
— Creme mais escuro. Não faz essa cara Emily, os móveis são lindos,
totalmente fabricados a mão.
— São bebês que vão dormir, brincar e tomar banho aqui. — Lembrou
Emily. — Eu quero que cada canto os lembre de que estão num lar feliz.
— Eu vou providenciar as tintas Emily. — Avisou Chris se adiantando.
— Volto já.
— Eu fiz tudo com muito carinho, como se fosse para os meus filhos. —
Ela disse de mau humor, mas Emily estava sem paciência para sarcasmo.
— Quando você tiver os seus filhos você decide como será. — Janie
arregalou os olhos. — Traga para mim o portfólio do seu fornecedor.
Janie saiu batendo a porta, minutos depois uma empregada voltou
trazendo um livro grande com as fotos dos móveis. Pegou o celular e
primeiro digitou uma mensagem para Kevin, afinal, ele que pagaria por tudo
aquilo.

"Estou mudando os pedidos para os móveis do quarto dos bebês, por


você tudo bem?"

Enviou e aguardou, a resposta demorou alguns minutos para vir.

"A casa é sua, faça o que achar melhor."


Olhou para mensagem sem entender bem o que ele quis dizer, mas tinha
pressa em mudar o que precisava, então esqueceu isso. Ligou e conversou
com o fornecedor, que era um senhor muito educado, explicou como queria
que fossem os móveis do quarto e ele se prontificou em fazer com que tudo
ficasse pronto o quanto antes.
Desligou o aparelho e logo depois, Chris e Charles entraram carregando
várias latas de tinta, e diversos tamanhos de pincéis.
— Obrigada pelo apoio e a ajuda Chris. — Ela começou a separar as
cores que usaria no quarto.
— Farei qualquer coisa pelos meus sobrinhos. — Ele disse rindo. —
Não deixe que ninguém te impeça de fazer as coisas do seu jeito.
— Obrigada.
— Já está na hora de Janie entender, que a senhora da casa agora, é
você.
Emily não queria aquele tipo de responsabilidade, nem sabia como teria
que ser feito se precisasse, ninguém no mundo precisava de tudo aquilo para
viver bem e feliz.
Charles trouxe uma escada, Emily começou a desenhar na parede um
céu azul e uma grama verde, Chris a ajudava o tempo todo, quando ela
terminou uma parede já era noite, Chris se retirou, deixando-a sozinha,
fazendo os últimos retoques.
Na grama verde duas crianças brincavam. Desenhou alguns ursinhos,
flores e uma bola de futebol.
Seu rosto estava sujo de tinta assim como suas mãos e sua roupa
totalmente estragada, no dia seguinte usaria sua roupa de trabalho.
Uma empregada veio avisá-la que estava sendo aguardada para o jantar.
— Por favor, sirva meu jantar em meu quarto, ainda preciso tomar um
banho, não quero que ninguém tenha que me esperar. — A empregada anuiu
e se retirou.
Emily fechou bem as latas, estava se sentindo muito bem colocando sua
arte ali, no quarto que seria de seus filhos, pelo menos ali eles teriam um
cantinho acolhedor.
Desceu a escadaria com cuidado e foi direto para seu quarto, tirou as
roupas e tomou banho. Seu nariz já tinha melhorado um pouco, corizava
menos agora.
Quando entrou no quarto seu jantar já estava sobre a mesa. Vestiu uma
camisola e sentou para comer. Enquanto se deliciava com tudo, Kevin entrou,
olhou para ela e depois seguiu para o banheiro. Voltou logo depois.
— Onde estão minhas coisas? — Ele perguntou da porta do banheiro.
— Que coisas?
— As que deixei sobre a pia do banheiro pela manhã. — Emily se
encostou bem na cadeira, bebeu um gole de chá e fingiu estar pensando.
— Não faço a mínima ideia do que você está falando. — Disse enquanto
repousava a xícara no pires.
Ele olhou para Emily desconfiado e ela manteve o rosto sem nenhuma
emoção, então entrou dentro do banheiro mais uma vez e ouviu quando ele a
xingou lá de dentro.
— Você jogou tudo no lixo!
— Sou inocente até que se prove o contrário. — Colocou mais uma
colher do alimento na boca e mastigou lentamente.
Kevin estava com uma cara muito furiosa, por um momento gostou de
vê-lo daquele jeito, era muito sexy.
— Sairei em viajem hoje à noite, retorno em uma semana. — Tentou
não demonstrar a tristeza, que sentiu ao ouvir a notícia.
— Faça uma boa viajem.
— Em minha ausência, peço que não saia e que se comporte.
— Não farei promessas. — Kevin resmungou e saiu, batendo a porta
atrás de si.
Quatro longas semanas se passaram e ela não conseguiu sair sozinha, em
nenhum momento. Conversava com Jennifer todos os dias, ela agora sabia
assar biscoitos sem queimar.
Emily conversou com o dono na loja de conveniência, que aceitou de
pronto fornecer tudo que a amiga precisava. Fez as transferências dos valores
na conta do filho dele. Sentia-se um tanto aliviada por ajudá-la mesmo que
com tão pouco.
Evitava sair do quarto, passou a trancar a porta, não queria ter contato
com Kevin, ele fazia o pior dela vir à tona, parecia querer o mesmo, já que
passava tanto tempo viajando a negócios e quando retornava, a via
brevemente.
Seu ventre de trinta semana estava muito distendido e tinha muita dor
nas costas, sua pele estava tão esticada que ela sentia que podia explodir a
qualquer momento.
Ainda faltavam dez semanas. Judy explicou a ela como seria o
procedimento realizado em seu filho. Uma cirurgia por cateter ou de peito
aberto, tudo dependia de como ele estaria ao nascer. Orava todos os dias,
pedindo que tudo desse certo e que ele ficasse bem.
O tempo deu uma trégua e o sol aparecia forte todos os dias. Quando
acordou de manhã vestiu um biquíni, colocou um vestido leve de alcinha, e
óculos escuros. Pegou seu protetor solar e saiu pela porta de vidro.
Judy já conhecia toda a casa e a maior parte dos funcionários, ainda
dormia no quarto ao lado do seu, mas passava muito tempo na cozinha, até
que outro dia levou Emily lá, a cozinha era um sonho, um espaço maior que o
quarto dos bebês, com uma mesa grande as paredes cheias de armários, uma
ilha grande com o fogão perfeito, tinha dois fornos, era equipada com tudo
que havia de mais moderno.
A casa tinha um chef, Anthony, o que não a surpreendeu, afinal, Kevin
era um dos homens mais ricos e exigia qualidade em tudo a seu redor, nada
na casa estava fora do lugar, nada era negligenciado. Anthony fazia um
cardápio semanal, de acordo com os gostos de Kevin e descobriu que ela
mesma seguia uma dieta balanceada e que as verduras e legumes eram
orgânicas e chegavam todos os dias pela manhã para que ela só comesse
coisas saudáveis e nutritivas.
De tanto Jennifer falar em cookies Emily foi até a cozinha outro dia e os
fez, seguindo a receita de sua mãe, todos comeram a mesa junto com ela e
Judy. Percebeu que os empregados eram pessoas boas, apenas profissionais
demais, sabendo a hora certa para entrar e sair dos cômodos, sem chamar
muita atenção.
Anthony revelou para Emily que Kevin adorava doces, que seu bolo
preferido era o de chocolate. Ela pediu para que alguém fosse servi-lo com
alguns cookies, já que ele tinha passado boa parte da tarde e da noite
enfurnado em seu escritório. A empregada voltou rindo.
— Ele mandou elogiar o chefe. — Todos riram.
— Isso é uma novidade, ele nunca elogia nada que eu faço. —
Resmungou Anthony. Todos riram mais, com o drama que ele fez.
A partir daquele dia Emily fez da cozinha um de seus locais preferidos.
O quarto dos gêmeos era o cantinho da casa que mais gostava. Os
móveis ficaram do jeito que ela pediu, depois da pintura e dos móveis serem
postos no devido lugar, não conseguia sair de lá. Todos da casa amaram o
resultado, Chris não cansava de elogiar seu trabalho, e por mais abusado que
ele fosse, ela gostava do primo de seu marido.
Tirou o vestido e sentou numa espreguiçadeira branca, pegou o protetor
e passou em seu corpo, cobrindo cada centímetro da pele do seu ventre
grande.
— Não é possível, ninguém some do mapa assim, continue procurando.
— Gritou Chris para o celular, se aproximando de onde Emily estava.
Ele estava estressado a dias, mas sempre disfarçava bem. Chris prendeu
o cabelo num coque alto e sentou ao lado dela, vestia apenas uma sunga
preta.
— Me dá isso, deixa eu passar em suas costas antes que o sol torre você.
— Entregou o protetor e ele passou.
— Por que você está tão zangado? — Perguntou curiosa, enquanto
passava o protetor no rosto.
— É um mal de família, ainda não notou? — Disse irritado, por fim
suspirou. — Não é nada.
— Muitos nadas te deixam irritado ultimamente. — Ele riu, passando
em seus ombros o protetor.
— Você já quis tanto algo que sentiu seu coração doer? — Ele
perguntou deixando-a meio sem jeito.
— Sim. — Era frustrante, ela admitia.
— Vingança me move agora, e eu não vou descansar até que consiga. —
Emily estremeceu.
— Atrapalho? — Perguntou Kevin, chegando sem que eles
percebessem. O coração saltava desenfreado. Chris apenas o olhou
rapidamente, sem se alterar.
Fazia três dias que Emily não o via. Desviou os olhos ao perceber que o
marido não estava gostando do que via, mas não havia nada demais
acontecendo entre ela e Chris, por isso voltou o olhar para ele novamente.
— De forma alguma. — Disse erguendo o queixo. Kevin estava de terno
e calças cinza. Lindo demais. Mantinha as mãos nos bolsos, a olhava com
intensidade, passeando o olhar por seu corpo vestindo apenas o biquíni.
Sentiu o rosto arder e o ar lhe faltar.
— Você não perde a oportunidade de colocar as mãos em minha mulher,
não é primo? — Chris devolveu para Emily o tubo de filtro solar e deu de
ombros.
— Somos família, Emily para mim é como uma irmã, como você bem
sabe. — Ele disse rindo, pareciam irmãos, um sempre alfinetando o outro,
mas não havia um clima pesado.
— Espero que você volte logo para o seu apartamento, não me obrigue a
ter que chutar seu traseiro para fora de casa. — Chris tirou os óculos e
colocou em cima da mesinha onde tinha um guarda sol.
— Você não faria isso.
— Não me tente. — Kevin deu apenas um passo em direção ao primo, e
o mesmo pulou na piscina molhando ambos. Emily soltou um grito ao sentir
a água gelada atingir sua pele.
— Não posso voltar para o meu apartamento, lá não tem ninguém para
fazer cookies para mim. — Ele disse quando emergiu, piscando para ela.
— Eu posso disponibilizar o chefe, se isso o fizer ir embora. — Chris
gargalhou.
— Eu aceitaria de bom grado, se você soubesse o que está falando. —
Piscou o olho para Emily, que usava o vestido para secar o corpo. Kevin era o
único na casa, que não sabia que era ela quem fazia os biscoitos.
— Emily, arrume uma mala, vamos viajar. — Ele disse começando a se
virar para sair.
— Viajar? Para onde? — Perguntou assustada.
— Vou precisar comparecer a um evento de trabalho, você vem comigo.
— Ele se voltou para responder, seu terno estava encharcado. — Tem uma
hora pra ficar pronta. — Kevin tinha acabado de chegar e já estava saindo
novamente, mas dessa vez a levaria consigo, não conseguiu conter a alegria
que sentiu.
Ele caminhou para casa e ela ficou o observando.
— É isso o que você mais deseja no mundo?
— Sim. — Respondeu sem pensar ainda olhando Kevin se afastando. —
Quer dizer... — Ele começou a gargalhar alto. Virou para encará-lo.
— Querida, só esse idiota não enxerga o que está perdendo. — Ele disse
jogando água nela. Emily gritou e ele continuou.
— Você é um idiota, nada de cookies para você. — Ele parou erguendo
as mãos em rendição.
— Eu não posso mais viver sem cookies.
— Pois comece a aprender. — Fingiu uma irritação que não sentia, pois
estava ansiosa pela viagem e pela oportunidade de ficar com Kevin mais um
pouco. Levantou, pegou o vestido e foi embora, de longe ainda podia ouvir a
gargalhada dele.
O
jatinho pousou numa pista particular três horas depois. Um
helicóptero tinha pego eles em casa e os levou ao aeroporto, onde o
jatinho de Kevin aguardava. Sabia que ele era rico, mas não
imaginava que fosse tanto.
Havia detalhes em madeira envernizada na aeronave, os seis assentos
eram de couro branco, um sofá creme muito confortável além de uma mesa
onde Kevin trabalhou em seu notebook durante toda viagem.
A comissária de bordo era loira de olhos azuis, alta, lindíssima e parecia
querer agradá-lo durante toda viagem, ele a dispensava com a mãos em
alguns momentos, em outro pedia para servir Emily com alguma comida ou
bebida. Não deu atenção a cara de desgosto da moça ao ter que servi-la.
Assim que desceu percebeu que estava numa casa de campo, uma
mansão do mesmo tamanho da casa de Kevin.
— Essa é a casa do meu sócio, alguns árabes estão vindo para negociar,
preciso que sorria e seja gentil. — Ele disse quando seguiram de carro até a
casa, que ficava um pouco distante para ir a pé. — Providenciei o vestido que
você vai usar.
O carro parou em frente a mansão. A residência tinha três andares,
Emily podia ver a piscina enorme e o jardim muito bem cuidado. Foram
recebidos por um senhor vestido um fraque, muito sério.
— Me permita levá-los aos seus aposentos. — Ele esticou o braço e
indicou a escada para o casal. O hall era tão luxuoso quanto o da casa de
Kevin, só que tinha muita extravagância, ao meio uma obra de arte de um
homem nu.
Subiram os primeiros degraus e seguiram por um corredor longo, o
mordomo abriu as portas duplas e eles entraram. Estavam numa sala grande,
com lareira, sofás, poltronas, uma mesa de canto com duas cadeiras.
Uma porta de madeira levava a uma varanda grande que dava para os
fundos da mansão, onde havia várias tendas brancas armadas, os empregados
andavam de um lado para o outro afim de organizar tudo.
Um dos seguranças de Kevin entrou carregando as malas, o mordomo
abriu outra porta dupla, era o quarto, com a maior cama que ela já havia visto.
Pelo jeito teria que dividi-la com Kevin.
O quarto tinha um carpete vermelho muito macio, os móveis eram
brancos, o closet, e o banheiro tão grande quanto.
Tirou os sapatos e observou tudo, no quarto também tinha uma porta de
madeira, que estava aberta, com a mesma vista que a antessala.
Voltou para saleta, e Kevin já estava sentando numa cadeira, seu
notebook sobre a mesa. Ele olhava para a tela enquanto falava ao telefone.
— Cubra a oferta. — Ele disse, Emily sentou no sofá em frente a uma tv
enorme, ligou a deixou no mudo.
Pegou seu celular e escreveu uma mensagem para Jennifer, contando
onde estava.

"Aproveite, o lugar é lindo, eu já estive aí várias vezes."

Leu a mensagem da amiga, e torceu para que essa fosse diferente da


anterior.
— Eu preciso disso para hoje à noite antes do início da recepção. —
Kevin resmungou com seu costumeiro tom arrogante e impaciente. — Não
importa, faça com que seja entregue o quanto antes. — Ele desligou e
colocou o aparelho sobre a mesa, que logo em seguida voltou a tocar, ele
olhou e ignorou.
Recebeu outra mensagem, dessa vez do Chris.

"Emily, eu achei o seu esconderijo, vou comer todos eles."

Ela não pode evitar o sorriso alto, Judy estava de folga, o maldito entrou
no quarto e achou o pote.
— Posso saber do que tanto rir? — Perguntou Kevin, olhando para ela
desconfiado.
— Seu primo roubou meu pote de cookies. — Bufou, mas não se
importava tanto assim, gostava da brincadeira saudável que tinha com Chris.
— Estou com fome.
— Você comeu no avião. — Ele disse voltando a atenção para o
computador.
— Aquela comida era uma droga. — Fez uma careta. — Eu não tocaria
naquele alimento nem que fosse a último do mundo.
Na realidade, não gostou da cara da comissária, então, preferiu não
arriscar beber ou comer o que ela trazia quando Kevin mandava.
— Isso é muito infantil da sua parte, um chefe muito competente prepara
as comidas, são boas.
— Aposto que a minha é melhor. — Disse cruzando os braços.
Levantou. — Vou tomar um banho. — Avisou indo para o quarto. Tirou das
malas suas roupas bem dobradas e colocou em cabides do closet.
Retirou os ternos de Kevin também, olhou para porta e esperou, quando
não houve nenhum barulho ela cheirou a camisa branca, colocou no cabide de
madeira e pendurou ao lado de suas roupas.
Pegou sua necessaire e a de Kevin e levou para o banheiro. Tirou as
roupas e tomou um banho, aproveitando para lavar os cabelos, que já
chegavam aos seus ombros.
Se enxugou com uma toalha e vestiu um roupão branco bem macio.
— O almoço chegou. — Disse Kevin a porta do banheiro, quando ela
estava secando os cabelos com uma toalha.
— Obrigada. — Ela disse olhando para