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POR QUE FILGSOFO?* ) Qs textos aqui publicados alimentaram a mesa-redonda sob o mesmo. titulo, promovida pela Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciéncle, em sua XXVIII Reunido Anual, realizada am julho de 1975, na cidade de Balo Horizonte. prenincio do livro, para tentar uma relaggo mais intima com seu piblico, conformando-o e sendo conformado por ele. Trata-se, em suma, de recuperar © clima da Academia ou do Liceu, empregando todas as técnicas da comu: nicago moderna, abandonando obviamente 0 intuito de preparar reis-fl6- sofos para enfrentar de vez a tarefa de estimular 0 nascimento de cidadios livres. Estaremos entdo pouco @ pouco nos apropriando de nossos préprios instrumentos, de nossas palavras e seu Ambito, de nosso convivio, de nossas instituig6es, até desaparecer a rigida separagao entre fil6sofos e no-filésofos, quando a teoria estiver ligada 20 exereicio da critica racional. $6 assim deixaremos de ser voyeurs da liberdade e servos do poder. GERARD LEBRUN A questfo que nos é proposta, de uma forma to generosamente inde terminada, s6 posto encontrar um sentido, que alidsndo me satxfaz: por que hb um mereado filos6fico (manuais escolares, colegdes filosficas ete. ..)? Por aque 0 filosofar, como insttuigo cultural, que em alguns pases se centra em torno de um servigo piblico: a Universidade? Exe sentido nfo me satsfz, pois logo nos conduz a uma investigagéo socio-cultural que, 2 despeito de seu fzande interesse, transforma inevitavelmente a quest¥o numa outra, muito restr: por que a partic do século XIX o filosofar se insttucionalizou ¢ ‘pasou a ser subvencionado pelo Estado? Mas acontece que a recusa dessa Interpretapdo derrapante suscitaoutra questio: por que nossa primeira idéia, quando somos arguidos a propésito da finalidade do filosofar, consiste em nos interrogar sobre a finalidade de uma insttuisdo? Aqui a resposta parece féei: nfo hd outro meto de compreender, sem arbitrio, o filosofar no singulr Citem-me outrarubrica alm da socologia da cultura para dar conta deste sin- gular ~ de minha parte, eu nfo aencontro. Nosso filosofar institucionalizado consstria na forma modems da “philosophia perennis”? Mas como, .. Os manuais podem muito bem tentar fazer com que os jovens das clases finals do curso secundério acteditem serem eles descendontes de SGctates; mas neles apenss vejo sobrinhos de Victor Cousin. A Agrégation de Philosophie, em Franga, tem pouca cols a ver com a questfo sobre o Ser e muito com 0 aprendizado de uma rtorica € de um saber minimo que garantem a banca que o jovem professor nfo aborre cerd demasiadamente seus alunos, em Ihes drs frvolidades. De que servisia fevocar aqui as sombras dos pensadores gregos? Imaginem Séerates ouvindo luma ligio de Teeteto sobre’ “Indugi0” ou de Alcibiades sobre o “amor como modo de conhecimento”? Passemos da flosofs escolar para a literatura filosbfca: outrararso nos profbe de atribuit uma significaggo que néo seja sécioculturl & expressio Singular do “filosofar". O que existe de comum entre um estudo de flosofia analitica e a meditagao heideggeriana sobre uma palara arcica? A flosofia nfo postu outra unidade além daquela de um arquipélago. E certos fl6sofos tm tanta consciéncia dessa diseminagdo de trritorios que tentam desespera 148, damente compensar por um alinhamento doutrinal sua inevitével especiali- ‘ago ~ neste tempo em que se apagam todos os grandes sistemas de referén cia (como 0 tomismo) tentam colocar-se sob a dependéncia de um pensador do século XIX (Marx, Freud, Nietzsche), ou tomar uma ciéneis humana (economia, linguistics) como paradigma ‘de suas pesquisas. “Marxismo”, “freudismo”, “estruturalismo”. Essas etiquetas deixam transparecer contudo que ainda nZo se renunciou 3 grande vontade de sistema dos velhos tempos. A realidade, infelizmente, émaismelancdlica, Sob acapa do “.ismo” assumido, (© que fazem os melhores desses fil6sofos? Quer histOria da filosofia (bons comentarios de texto sobre o autor predileto), quer um trabalho monogréfico 4 respeito duma cigncia humana. Sem davida ainda se permanece “fil6sofo", pois ndo se esquece, de tempo em tempo, de invocar grandes conceitos e pedir pela Wissenschaft unitéria (reconstituindo nos lugares em branco e nas lacunas de Talmud). Mas o que significa esse compromisso com a “filosofia™ Parece- -me que a razdo de ser desta obstinago em se dizer “filésofo” reside inteira- ‘mente nesta distincia ~ a qual ndo se quer renunciar — entre uma pesquisa, fecunda porque localizada, e @ pretensio a um saber absoluto (ainda que este soja itil Aquela como as idéias sobre o casamento o foram a Russell quando escrevia os “Principles”), Isto, por certo, no melhor dos casos. Deixemos de lado os ingénuos ~ espirituaistas de preferéncia — que teimam em dogma- tizar como em 1900 — aqueles que continuam a determinar o ser da lin- guagem ou do espaco sobre a base cientifica de alguns “Que saisje? ”, ou ainda tragam aftescos historicos que fazem a alegria dos historiadores. ‘A fenomenologia foi 0 ultimo sobressalto de um discurso dogmético que ainda teve estatura. Ora, o que resta hoje dela, uma vez a moda passada, na Europs, pelo menos? sesta de “Humanismo e Terror”, este bom livre de Merleau-Ponty, depois de lermos o livro de historia de Mme. Annie Kriegel sobre 0s processos de Moscou? Nada mais do que um romance engenhoso sobre 0 bolchevismo. Por certo, um livro ainda itil, porquanto fornece diretrizes conceituais ¢ um estilo de interrogagio, mas nada que parega a um saber, a menos que a teoria dos turbilhGes seja ainda tomada como um deles. Seria fécil aumentar esse balango: basta uma geragZ0 para que o filosofar que ‘nos apaixonava se reduza Aquilo que Aristoteles colocaria entre os discursos “Jogikoi". Nao ha pois esperanca alguma de que um aparelho doutrinal possa legitimar o singular: 0 filosofar, se esta palavra deve designar um saber. Enquanto fildsofo, o filésofo dispensa apenas uma inteligibilidade efémer sua Wissenschaft (soja qual for 0 sentido que se empreste ¢ 0 cuidado para nao © deixar contaminar pelo modelo das cincias positivas) nunca é mais do que ‘uma promessa no cumprida Por que pois a filosofia? Por que um falso saber? — Questo impru- dente. Tomemos cuidado aqui para ndo nosperdermos. Acabo de pronunciar a palavra “logikOs” que, em Aristoteles, significa "verbal, vazio”. A despeito esse sentido pejorativo, porém, o argumento “logik: do & sindnimo de “sofistico”. E um raciocinio que ndo diz respeito & natu- reza da coisa, ou uma investigagdo que no parte de princfpios proprios & coisa, Mas tal raciocinio e tal investigagio possuem direito de cidadania no 149 saber aristotélico, O no especialista tem o direito de interrogar “logikés”; 0 especialista sobre a validade de seus princfpios; o dialético, enquanto ndo se Oe a concorter com 0 cientista, tem o direito de falar “logikés” sobre todas, as coisas (“kata pant6n”). E se essa dalética, mais proxima da retérica do que da epistemé, nunca determina universal, circunscreva-o negativamente, ccapta verossimilhangas, orienta-nos na fixaso dos principios. M. Aubenque mostrou como, na Metafisica, a pritica do filésofo se confunde com a do dialético, Nao se trata aqui, porém, de investigar donde provém essa se- ‘melhanga. Observemos simplesmente, no que concemne a nossa problemitica, que Aristoteles ¢ 0 primeito a dissociar — com muita insistencia,aliés — 05 “mathémata” e a investigagdo do universal: antes dele, pitagéricos e plato- nicos, esses arcaicos, haviam confundido os dois planos. A ‘partir dai a filosofia pode ser investida duma vocagdo bem determinada: fixar a esséncia, elimitar as regides eidéticas, discernir os prineipios ~ entendendo-se que, no terreno, nenhuma epistemé poderia substituila. Se 0 filbsofo tem direito & dialética ¢ a0 “logikos” & na medida em que procura 0 universal por seus ‘proptios meios, em que seu método nada tenha a ver, seguramente, com 0 método. de uma disciplina regional, porque somente a ele e unicamente a ele ceabe constituir aquilo a respeito de que fala o técnico “ingénuo”. E flagrante que essa originalidade do filos6fico em relagio a0 matemitico também se presenta tanto ao surgic da metafisica especial quanto na Critica kantiana, {que tange os sinos finebres dessa ultima. Ainda aqui € por felicidade que 0 {ildsofo se embasbaque diante do conceito de triéngulo, ou que sejaincapaz de ‘uma definigéo ao iniciar sua pesquisa: sinal de que seu saber nfo é homo- ‘neo ao saber que a mathesis parecia ter monopolizado (e que as cigncias positivas logo vao substitur). E sabemos que se, com Aristoteles, a dalética, arte de interrogar e investigar & margem do saber, resume-se num instrumento legitimo do filbsofo, a identificagdo entre dialético ¢ filosdfico sera total ‘depois de Kant ~e, em parte, gragas a ele. — A flosofia, um falso saber? Nio, por certo; 0s filésofos tomaram suas precaugGes: é um saber homénimo a nossos saberes “finitos”, “positivos”, “ingmuos”. Nao estou pensando aqui simplesmente em Hegel, mas em quase todos ‘9s grandes nomes da filosofia modema depois de Kant. Que se tomem os. “idealistasalemdes” (Naturphilosophie contra ciéncia), os “desmistiicadores” (Marx contra a economia politica), « fenomenologia (Husserl e as ciéncias positivas): surge por toda parte a mesma preocupagio de situar-se num Aiscurso que, por principio, néo possa ser atingido pelas objeySes fomentadas por uma ciéncia positiva, a mesma pretensGo de operar uma totalizagdo, uma critica ou uma fundago, que no mais prestem contas a um cOdigo de significagdes jé disponivel, inclusive, seguramente ¢ talvezsobretudo, & logice formal (Fichte, Hegel, Husser!). Existem excegGes ilustres, eu 0 sei, Conte € Bergson, notadamente, tiveram 2 modéstia (a honestidade ow a imprudéncia) de falar a linguagem do homem comum, daquele que pode ser chamado a prestar contas a ciéncia (comparemos, por exemplo, a coragem infeliz de Durée et Simultanéité com esta obra-prima de esperteza epistemol6gica que & 150 a Krisis de Husser}). Mas em geral, enrolado em seu discurso, protegido por este corpus de significagOes que uma sintaxe original articula, 0 “filésofo” se tornou ainda mais impermeavel do que era 0 sofista antigo: toda critica advird da “ingenuidade” ou da “finitude”, a mais timida objegdo seré sintoma do “ideolégico”. Quem jamais exprimiri todos os recursos dessa retorica inexpugndvel que se forjou no turbilhio verbal do “idealismo alemao"? ~ A filosofia, um falso saber? Percebemos que ndo se trata mais disso. Um falso saber pretende possuir uma resposta para tudo. O “filbsofo” (vejam nossos marxistas de hoje) se coloca na condigio de nfo ser contradito a propésito de tudo o que afirma, de nunca ser desmentido por um resultado cientifico (com ‘2 matemitica as vezes ocorrem, na verdade, desacertos: Husserl ¢ o teorema de Gadel) Por que fl6sofo? ”,nessas condigbes? A resposta esté a nosso aleance. Muito cedo 0 aprendiz-lésofo percebe os recursos dessa maravilhosa disc! pina. Nunca acreditei que um estudante pudesse orientarse pare a filosofia porque tivesse sede de verdade: a formula ¢ vazia. E de outra coisa que 0 Jovem tem necessidade: falar uma lingua da seguranga, instalarse num Yvocabulirio que se ajusta a0 méximo as “dificuldades” (no sentido cartesia no), munirse de um tepertério de “topoi” — em suma, possuir uma retorica que Ihe permitiré a todo instante denunciar a “ingenuidade” do “cientista” (Ou a “ideologia” de quem no pensa como ele. Qual melhor recurso se lhe apresenta sendo tomar emprestado um discurso filos6fico? Nfo vejo outro ‘motivo para o atrativo ainda potente que exerce a tilosofia quando deixa de ser uma “doutrina” oficial (do Eu, do Mundo, de Deus). E uma moda ou vive ‘pelas modas, podemos dizer. Sim, sem divida. Mas, desde que deixa de ser ensinada como verdade de Estado, separa-se a filosofia do fascinio por ‘uma linguagem que, de um s6 golpe, dé a seu usudrio — a custa de uma ‘erudig§o hist6rica (as vezes muito leviana) — a seguranga de uma dominagdo intelectual, um meio de orientar-se no pensamento? No final das contas, “o Fil6sofo” trazia outra coisa a Santo Tomaz? Nao desprezemos, pois, demasia- damente as modas: a todos nfo é dado escrever a Suma, mas quem no tem necessidade de uma topica? — Assim, ef estamos, .. Desde o inicio, desconfiavase onde queriamos cchegar, demolidor, melifluo, .. A filosofia para vocé é uma topica, uma reto- rica, A deformagio do espfrito que 0 ensino universitirio dispensa, vocé a ‘transforma na esséncia do filosofar. Vocé ainda nfo digeriu sua agregacao. —E vooé esti certo de no a ter assimilado demasiadamente ‘bem? Acaba de pronunciar a palavra esséncia; mas quando pretendi eu delimitar uma esséncia? Perguntam-me: “por que fil6sofo?" — e, em resposta, me pergunto por que me deram o gosto de determinar as esséncias, ‘por que logo retirei disso um prazer tio vivo. Acontece que neste tempo, no ‘que me diz respeito, eu me acreditava marxista, entretanto, como ainda no se ensinava a “ler” 0 Capital, era preciso recorrer is “condigdes transcenden- tais”, langar mio do “Conceito” hegeliano, to comodo. Para articular a hhist6ria — do mesmo modo, para contrabalangar ~ convinha recolher algumas fesséncias materiais no coragio do vivido. Bagagem de bazar, admito, Mas que 1s cada fil6sofo licenciado opere um sincero retomo a seu passado; muitos encontrario uma “Erzichung” mais nobre? E no curso desta, entretanto, que aprenderam assim a marcar 0 sentido de todas as palavras traduzidas do alemfo que permanecem seus pontos de referéncia (“para si", “em si”, ientificidade”, “Ieide-esséncia”, “universal concreto”. .). Assim dizendo ‘no insinuo que nossa formagio nos transformou em papagaios: nko, ela fez de nfs... filésofos. Nzo pretendo dizer que nos metgulhou num elemento rarefeito, Jonge do “concreto” (onde pode este se alojar? ): néo, ela nos ceducou ~ segundo o acaso das influéncias ¢ das leituras — para a inteligibili dade. Deu-nos 0 meio de discernir uma “Gesetzmaszigkeit” onde os ingénuos 6 véem fatos diversos, acontecimentos amontoados. quetem uma prova? Consultem um verdadeito fildlogo sobre a sorte da palavra “physis” ou da palavra “aletheia” ou ainda um historiador do judaismo sobre a histria de Moisés. Ficardo decepcionados: 1é nada mais hd do que sentidos heteréclitos que se encavalam — aqui, nada mais do que presungdes, muitas vezes contraditérias (em ciéncias humans, 0 rigor conduz frequentemente & constatagio da dispersfo, da desordem). Em seguida, abra Heidegger ou Freud: encontraréo 0 palécio de Versalhes no lugar da floresta virgem — ld, um sentido univoco do qual seguimos o declinio ea laténcia — aqui, uma intriga bem montada, Entdo, “por que fil6- sofo? ” — porque até mesmo as eriangss, dizia Hegel, gostam de encontrar lum encadeamento © uma conclusao nos contos. Descrever a filosofia como ‘uma ret6rica consste pois somente em comentar 0 ideal de intligibiidade que ela difunde, Insistir na necessidade retérica a que responde para 0 adolescente ocidental nao significa desprezé-la. Comprometidos com diregdo, alguns ecabam efetivamente por transformar-se em “Wissenschattle bastante retorcidos, sabendo localizar uma “Gestalt” ow um “Zusam. ‘menhang”, assim como seus maiores ~ e que praticardo a “begriinden” talvez mais habilmente do que eles (aqui é preciso falar alemo). Nao me cabe pois @ censura de caricaturar a filosofia, Notadamente, desde que Kant nos mostrou (0s perigos que nos preserva a Dedugio transcendental (sea Tetra, num tnico dia, passasse de um clima torrido para o glacial), filosofar consiste principal- mente em expulsar 0 acaso, decifrar a todo custo uma legalidade sob 0 fortuito que se dé na superficie. Especificamente filos6fico é 0 problema de compreender 0 funcionamento de uma configura¢do a partir de uma lei que Ihe ¢ infusa (€ preciso que haja uma), conforme & ordem que se exprime nela (€ preciso que'haja uma) ~ quer se trate de compreender a possibilidade do juizo a partir da afinidade dos materiais sintaticos ou, de maneira mais desembaragada, a sociedade feudal a partic do moinho de vento. .. Cada vez que a “physis” da coisa eontenha uma unificago a priori ou um encadea- mento “ogico”, o filésofo triunfa. ‘Até af nada de grave; nada que deva levar-nos a desconfiar de uma ginistca para 0 intelecto t30 formadora como a igebra ou 2 versio latina O desastre aparece quando a procura do universal élevada @ sério — e quando 03 usuirios do c6digo raramente tenham a lueidez de tomar 0 “transcen- dental”, 0 “Conceito” ou a “infraestrutura” simplesmente como pegas deste 152 480 apaixonante da linguagem que ¢ 0 jogo do sentido a todo custo. Longe ‘de mim querer aqui iniciar um processo de intengdes, Pergunto-me contudo © 2 questo que nos foi proposta nio supe que o filosofar seja uma coisa séria, porquanto ndo se perguntaria 0 porqué de um jogo. .. E bem verdade que, como fil6sofos, ndo mais sabemos jogar, como sabiam os gregos. — Retomemos Arist6teles, Ndo temos vontade ‘de perguntarlhe: “por que filésofo? ” Primeiro, porque nolo diz. em algumas palavras, no umbral da Metafisica: para nunca se admirar com a incomensurabilidede da diagonal ‘mas unicamente com o-fato de ela tersido tomada como admirével em suma, ‘convencerse de que a Justia reine nas coisas. Depois, e sobretudo, porque sua prética descuidada desmente muitas vezes 0 cardter s6rio do objetivo. ‘Ananké”, diz ele, tem este sentido, depois outro e mais outro; tentemos este “primeiro que talvez retina todos e vamos ver 0 que di Tal é o estilo desse jogo. Ou ainda: diga-me, qual formula convém a todos os tipos de alma? de minha parte ndo a vejo; Gorgias teria razdo? Deixa-se que a dispersio atinja seu mais alto grau, depois, quando tudo parece perdido, se entrevé que apesat de tudo hé um meio de dominar a desordem, — que ha um pélo unificador de todos os usos da palavra “satide”. E, cada vex que se desfaz 0 espedagamento das. significagées, responde-se por’ meio do fato a questio: “por que {l6sof0? "Mas 0 jogo & de tal modo bem levado que ndo se tem vontede de {nterrompé-to com esta questo indisereta Mas, chegando a este ponto, 0 historisdor da filosofia constate que hé muito ele se separou do filésofo. Em virtude de ter freqlientado os alqui ‘istas do Logos unificador, criou o hbito de nao ver mais do que o tema, infinitamente renovével, de um exercicio intelectual. Néo pretende mais por sua conta retomar a pesquisa do universal: ele nfo & mais flésofo. O que sganhou por ter atravessado este pais fantéstico? Pois bem, isto justamente ‘um dia sentir 0 desejo de quebrar seus brinquedos, romper o puzzle — e por fim exclamar: O que importa 0 filosofar? O que thes serve, vocés que teimam em se ttansformar nos instrumentos da repressio ocidental, de seus universais, de suas lis de esséncia, de seu aparelho de racionalidade — vocés auniliares da segurana moral? Esta é a questio que ele poe de agora em ite queles que pretendem residir em alguma “Verdade” ou alguma “Justia”. Entfo, que se meca quso uma vez mais a vitria da antifilosofia, “deve ser completa — ele que sempre permanece, junto de toda a huma- nnidade, na ofensiva endo possui qualquer estagdo fia, nenhuma residéncia, que numa ocasido qualquer seja obrigado a’ defender” (. HUME. 8° Didlogo). 153

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