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METABOLISMO DE ÁGUA E ELETRÓLITOS NA Prof.

José Aroldo Filho


goncalvesfilho@nutmed.com.br
SAÚDE E NA DOENÇA
ÁGUA CORPORAL Componentes extravasculares:
- líquido intersticial – 9L;
A água e eletrólitos são componentes essenciais do meio - água de tecido conjuntivo/cartilagens – 3L;
interno do organismo. São os principais componentes - água nos ossos – 3L;
celulares (75% das células musculares e 5% das células - água transcelular – 1L (fluidos TGI e renal).
adiposas).
Em condições como íleo paralítico ou obstruções
Gradiente de eletrólitos  pré-requisito para a intestinais, quantidades excessivas de líquido extracelular
excitabilidade celular, condução de sinais e processo de podem ficar retidas no intestino, constituindo efetivamente
transporte e movimento celular. perdas funcionais.

Os eletrólitos também servem como mensageiros FUNÇÕES DA ÁGUA


celulares, coenzimas ou possuem funções estruturais.
Possui como funções:
COMPARTIMENTO DE ÁGUA E LÍQUIDOS - solvente;
- participa como substrato nas reações metabólicas;
A água corporal total (ACT) de um indivíduo saudável - componente estrutural celular;
corresponde a 60% do peso corporal (porcentagem - essencial para os processos de digestão, absorção e
maiores em crianças e neonatos e em menores excreção;
quantidades em obesos). - meio de transporte de substância e papel chave na
estrutura e função do sistema circulatório;
Está distribuída em diferentes compartimentos: - auxilia no controle da temperatura corporal.
- água intracelular (AIC) – 40% peso corporal total;
- água extracelular (AEC) – 20% do peso corporal total. A absorção de sódio e água está aumentada no intestino
delgado superior pela concentração de sódio acima de
90mmol e pelos CHOs. NO cólon a absorção de água é
estimulada pelos AGCC.

Secreção Na+ K+ Cl-


Saliva 44 20 -
Gástrica 70 – 120 10 100
Intestino Delgado 110 – 120 5 – 10 105
Bile 140 5 100
Pâncreas 140 5 75
Diarréia 56 25 55
Tabela 1: Concentrações de eletrólitos nos fluidos e
Separados funcionalmente pela membrana celular, com secreções digestivas.
sua bomba de sódio, que mantém sódio no ambiente
extracelular e o potássio no intracelular. Desta forma, as Os conhecimentos das perdas de secreções, água e
PTNs ficam impossibilitadas de saírem deste ambiente, eletrólitos são fundamentais para prescrição alimentar com
exceto como AA após a proteólise. conteúdos apropriados a cada caso patológico (perdas por
vômitos, diarréia, ostomias e íleo). Por exemplo, podemos
Em estados catabólicos, o potássio deixa o ambiente prever que um indivíduo que perde 2L diários através de
intracelular na mesma proporção da degradação protéica. uma fístula de delgado, precisará de 2L adicionais de
O inverso, no anabolismo, também ocorre. água, 220 a 240mmol de sódio e 10 a 20mmol de potássio.

Em doentes extremamente graves, o funcionamento da FUNÇÃO DOS RINS NO EQUILÍBRIO HÍDRICO


bomba de sódio pode ficar prejudicado, permitindo
concentração intracelular de sódio acima do normal  Os rins filtram as PTNs plasmáticas a uma taxa de
síndrome da “célula doente”. 125mL/min. Desse total, 124mL/min são reabsorvidos nos
túbulos proximais, de forma que o volume “obrigatório”
O espaço extracelular é dividido em componentes intra e excretado na urina é suficiente para eliminar produtos
extravasculares, separados pelas membranas capilares, indesejáveis de metabolismo (uréia e creatinina).
que em indivíduso saudáveis, o lado poroso dos capilares
limita a saída de PTNs plasmáticas, assegurando maior A regulação homeostática pelo TGI, rins e cérebro mantém
pressão oncótica no plasma do que em todo ambiente o conteúdo de água da massa magra regularmente
extracelular, mantendo integridade de volume plasmático. constante.

Mesmo em condições normais existe extravasamento A osmolalidade do líquido extracelular gira em torno de
pequeno e normal de albumina para o ambiente 280 mOsm/l e, no plasma a osmolalidade total é igual a
extravascular, que retorna à circulação via linfáticos (fluxo osmolalidade efetiva, mantendo-se equilíbrio osmótico. A
dez vezes maior que a taxa de síntese diária de albumina osmolalidade plasmática pode ser estimada:
– toda a albumina percorre o espaço intersticial uma vez a
cada 24 a 48 horas). [Na plasma + K plasma] x 2 + Glicose plasma / 18 +
Uréia plasma/ 2,8.
Citocinas inflamatórias  aumenta a porosidade capilar 
aumenta o extravasamento  edema local.
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Um indivíduo saudável pode manter concentração diária Desbalanço Hídrico: toxicidade hídrica e desidratação são
de uréia plasmática até 100 vezes a concentração urinária, definidas com base na quantidade de água e sal perdidos
necessitando de volume urinário mínimo de 500mL para ou ganhos.
manter homeostasia.
Classificação de desidratação, segundo DAN (2009):
Doentes e idosos  mínimo 1.000mL de diurese. 1.Isotônica: perda proporcional de água e sal, como na
ingestão inadequada de fluidos e sal, ascite e uso de
Em resposta ao trauma, doenças agudas, perda de volume diuréticos.
sanguíneo ou débito cardíaco diminuído, os rins ativam os
2.Hipertônica: maior perda de água que de sal, como na
sistemas renina angiotensina-aldosterona, vasopressina e
peptídeo natriurético, levando a maior retenção de sódio e sudorese, diarréia osmótica e ingestão inadequada de
água. Tais pacientes, após reposição volêmica, retêm água e vômitos.
água e sódio, resultando em edema característico dos 3.Hipotônica: maior perda de sal que água, como na
processos agudos. sudorese e reposição de água pura.

Os rins estão menos aptos para alterar as concentrações Princípios da reposição de fluidos
de potássio que sódio. O objetivo da reposição de fluidos é trazer o paciente para
um estado de hemodinâmica e osmolalidade corporal
BALANÇO EXTERNO DE LÍQUIDOS normais. Principais pontos da terapia:
* identificar déficits e completá-los;
O melhor método para estimar balanço hídrico médio é o * providenciar as necessidades basais de sódio, potássio e
peso e variações de peso corporal, como é visto em água;
unidades renais. O único inconveniente é que esta medida * identificar as perdas que estão ocorrendo e providenciar
incluirá líquidos armazenados no intestino e em outras sua reposição.
cavidades e, portanto, ficam perdidos para a função renal.
Vários fatores modificam a necessidade diária de água.
Entradas Perdas
Ingestão – 2.200mL Suor – 1000mL São eles:
Metabolismo – 300mL Fezes – 100mL
Urina – 1.400mL a) Febre: aumentada devido a hiperventilação e
TOTAL – 2.500mL TOTAL – 2.500mL aumento da evaporação. Febre de 39º. C aumenta a
Tabela 2: Esquema de BH. necessidade em 500 ml por dia. A elevação de 1º. C
implica necessidade de administração de 250 ml de
Cuidados intensivos são necessários nas fases agudas água ou 12,5% acima da necessidade hídrica diária.
das doenças críticas, quando os fluidos são seqüestrados b) Sudorese excessiva: acima de 29º. C de temperatura
para o espaço intersticial. Reposição insuficiente  ambiente e na ausência de ar condicionado, a
falência circulatória e hipoperfusão tecidual, o que pode necessidade aumenta até 25%, de acordo com a
resultar em necessidade de até 10L de solução cristalóide. temperatura.
c) Hipermetabolismo; acréscimo de 25 – 50% como em
Em pacientes críticos, pode ser necessário manter o débito grandes queimados.
urinário entre 50 a 100mL/h, mesmo que no período pós- d) Hipometabolismo: necessidade diminuída como no
operatório de cirurgias não-complicadas não seja hipotireoidismo.
necessário um débito urinário tão alto para a excreção e) Desidratação: a presença de diarréia, vômitos ou
adequada de produtos do catabolismo. perda de sucos digestivos através de fístulas.

NECESSIDADES A excreção de 1g de N2 requer 40 a 60mL de água.


Assim, o maior conteúdo de PTN da dieta aumenta a
O corpo não possui condições para armazenamento de necessidade de água. A quantidade de CHO (quanto
água, logo, a quantidade de água perdida em 24h deve ser menor a quantidade, maior a necessidade) e fibra (quanto
reposta. maior a quantidade, maior a necessidade) também alteram
a necessidade de água.
Sob circunstâncias normais, uma recomendação razoável
é de 1 mL/kcal consumida para adultos e 1,5mL/kcal para ELETRÓLITOS
lactentes.
SÓDIO
Isso se traduz por:
Principal cátion e agente osmótico do líquido extracelular.
Adultos: 35 mL/kg de peso usual Mudanças na pressão intravascular e no fluxo sanguíneo
Crianças: 50 – 60 mL/kg ativam os sistemas renina-angiostensina-aldosterona,
Latentes: 150 mL/kg hormônios natriurético, dopamina, prostaglandinas e
Nutriz: acréscimo de 600 – 700 mL/d na necessidade sistema nervoso simpático na tentativa de controlar a
quantidade de sódio excretada e manter homeostase no
Os lactentes possuem maior necessidade em razão da sistema extracelular.
capacidade limitada dos seus rins para manejar a carga de
soluto renal. Método prático: utilização do peso corporal para cálculo do
balanço hídrico e conteúdo de sódio do plasma.
Idoso: 30ml/kg (DAN WAITZBERG, 2009).
Caso as alterações hidroeletrolíticas não sejam
Ingestão: estima-se que 20 a 25% da água ingerida seja conhecidas, o sódio do plasma não necessariamente
proveniente de alimentos e 75 a 80% de bebidas. refletiria uma mudança do sódio corporal total.

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A avaliação do sódio urinário em 24 horas é um bom constipação, paralisia, parestesias, confusão mental,
parâmetro de excesso ou falta em pessoas normais, mas arritmia cardíaca e morte.
em situações patológicas não é um bom método de
avaliação. Pode ser desencadeada por hipoaldosteronismo, síndrome
de Cushing, acidose diabética, desnutrição, diarréia,
Deficiência e toxicidade - WAITZBERG (2009) fistulas, vômitos, diurese osmótica, inotxicação digitálica e
na presença de hipomagnesemia.
A hiponatremia é definida quando a concentração de sódio
é inferior a 135mEq/L. Pode ser aguda ou não. Na A hipercalemia é definida quando o valor é superior a
hiponatremia aguda tem-se letargia, fraqueza, covulsões e 5,0mEq/L. Os sintomas normalmente ocorrem quando os
até morte. A hiponatremia hipotônica (dilucional) pode ser valores atingem 5,5mEq/L e incluem parestesias, paralisia,
causada por perdas excessivas (diarréia, fistulas TGI), dores musculares, confusão mental, arritmia, elevação de
síndrome de secreção inapropriada de ADH e síndrome onda T ao ECG e parada cardíaca. A DRI é de 4,7g para
nefrótica. homens e mulheres adultos e idosos.

A hipernatremia é definida com concentrações superiores Tabela 3: Valores de ingestão adequada de sódio e
a 145mEq/L, observada em pacientes neurológicos e na potássio segundo ciclo de vida (COZZOLINO &
presença de entubação orotraqueal COMINETTI, 2013)
Estágio de vida Sódio (g/dia) Potássio (g/d)
POTÁSSIO 1 – 3 anos 1,0 3,0
4 – 8 anos 1,2 3,8
Principal cátion intracelular. A baixa concentração de 9 – 13 anos 1,5 4,5
potássio plasmática pode desencadear hipocalemia, 14 – 50 anos 1,5 4,7
particularmente se acompanhada de alcalose. 51 – 70 anos 1,3 4,7
>70 anos 1,2 4,7
Em algumas situações, a deficiência de potássio corpórea Gestantes e 1,5 nd
total pode vir acompanhada de hipercalemia, decorrente nutrizes
de estado catabólicos associados à oligúria.

A acidose metabólica está associada à perda intracelular EQUILÍBRIO ÁCIDO-BASE


de potássio, de maneira oposta, um aumento no pH vem
acompanhado de aumento da captação de potássio. Um ácido é qualquer substância que tende a liberar íons
hidrogênio em uma solução e uma base é uma substância
A diminuição do volume circulatório pode aumentar a que tende a receber íons hidrogênio em solução. A
excreção de potássio, depletando reservas de potássio,
concentração de H+ determina a acidez. O equilíbrio ácido
que aumenta a excreção de íons H+, promovendo alcalose
– base é o estado dinâmico da concentração de
e acidificação da urina. hidrogênio.
Essa alteração é corrigida com a administração de
A manutenção do pH sangüíneo na faixa de 7,35 – 7,45 é
potássio e volume. A administração de glicose quando
crucial para muitas funções fisiológicas e reações
associada à insulina promove captação de potássio para o bioquímicos. Os mecanismos regulatórios dos rins,
meio intracelular. No início do suporte nutricional, as pulmões e sistema tampão capacitam o corpo a manter o
concentrações de potássio devem ser verificadas
nível de pH.
diariamente.
Teste clínico Valor de gases no sangue
Deficiência e toxicidade - WAITZBERG (2009)
arterial
pH 7,35 – 7,45
A hipocalemia é definida quando os valores de K séricos
ficam abaixo de 3,6mEq/L, frequentemente associada a PCO2 35 – 45mmHg
perdas excessivas na urina e fezes. PO2 80 – 100mmHg
H2CO3- 22 – 26mEq/L
Os sintomas normalmente aparecem quando os valores Saturação de O2 >95%
são inferiores a 3,0mEq/L, como dor de cabeça, fraqueza, Tabela 4: Valores de referência de gasometria arterial.

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CARACTERÍSTICA DA ALTERAÇÃO DE PH E CONDIÇÕES ASSOCIADAS (KRAUSE)

Tabela 5: Distúrbios de pH segundo KRAUSE.

Segundo Dan (2009), existe considerações específicas para os diferentes distúrbios respiratórios e metabólicos, onde:

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5
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