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Homens e mulheres: duas humanidades diferentes?

Somos realmente, e simultaneamente iguais e diferentes, nas mesmas coisas ...

Mulheres e Homens são:

Iguais

Somos na mesma natureza humana, somos pessoas, somos corpo animado /


espirito encarnado ... Ambos!

Diferentes

No corpo, no modo de experienciar o corpo, no modo de ser e existir, no modo de


olhar o mundo e a nós mesmos, na espiritualidade.

Igualdade na diferença

Do campo da genética dizem-nos que todas as células do corpo são sexuadas, isto é
têm a marca do sexo genético: até as células dos dedos são de “marca” diferente,
conforme têm XX (feminino) ou XY (masculino). Mas homens e mulheres divergem,
geneticamente, em apenas cerca de 3%, ou seja, são mais iguais do que diferentes.

Claro que a genética não é tudo. As hormonas acrescentam uma diferença mais
marcante e mais dinâmica, condicionando tanto a biologia humana, diversa, como os
canais através dos quais exercemos, contruímos e experimentamos a inteliG~encia, a a
vontade, os afetos, também diferentes – no modo de expressar - entre homens e
mulheres.

Mas por pequena que seja a diferença entre mulheres e homens, essa diferença está
presente em todos os aspetos da nossa personalidade. Entre um homem asiático, um
europeu e um africano, as diferenças não são tão marcantes, como entre um homem e
uma mulher, ainda que estes dois sejam ambos sejam europeus, e até do mesmo país e
da mesma região!

Esta pequena diferença torna-nos complementares; onde se complementam


(complementam e não completam, porque ambos são já completos) masculino e
feminino jorra fertilidade, não só no aspeto biológico, mas na cultura, nas artes, no
campo político e na área social. Atualmente há necessidade de encarar esta dimensão de

1
Blanca Castilla Cortazaar, La complementariedad hombre-mujer, nuevas hipotesis,
http://books.google.pt/books/about/La_complementariedad_var%C3%B3n_mujer.html?id=ELy8rYeUl3
4C&redir_esc=y
modo novo, num novo feminismo, porque a complementaridade tem sido mal
entendida.

Durante séculos, e até mesmo hoje em dia, a imagem intelectual da


complementaridade tem sido a do andrógino de Platão: um ser dividido em duas
metades, que se completam mutuamente, aportando cada um a sua metade. Este modelo
continua vivo no imaginário coletivo.

Mas o ser humano não é andrógino: homem e mulher são dois seres, com identidade
biológica bem definida desde o primeiro instante, a primeira célula, da sua vida. Não
são originalmente um ser partido em dois, mas exatamente o contrário – de dois
(homem e mulher) origina-se um (o filho); são dois que se tornam um.

Chama-se a isto a unidualidade dos seres humanos; não deixam de ser


complementares do ponto de vista biológico, psicológico e da sua própria natureza. É
aquilo que a filosofia atual – numa disciplina chamada antropologia diferencial – tenta
desenvolver na procura do “elo perdido” do feminismo 2 que permita aprofundar “em
quê e porquê as mulheres são diferentes dos homens”.

De facto continuamos a ter que batalhar com o grave problema da subordinação da


mulher, que se mantém na prática social em muitos aspetos e que, nalgumas culturas,
como a islâmica, se encontra inclusive justificado pela lei e cultura locais.

Diferença na igualdade

Contra isto se têm concentrado muitos debates, e até se construiu um termo


académico para designar esta situação que é “patriarcado”, isto é, uma cultura em que
domina o androcentrismo, uma cultura centrada na visão masculina do mundo.
Algumas feministas tentam criar novos termos que definam melhor a situação desejável
da mulher, como “equipotencia” 3 ou”equivalência” 4, para deixar claro que mulher e
homem são da mesma categoria, sem colocar em causa que são diferentes. Outro termo
atualmente usado é “modalização”, homem e mulher são diferentes no modo como
vivem, sentem e desempenham as tarefas de construção do mundo e da intervenção
social, sem que nenhum desses modos possa ser considerado superior ou inferior, em si
mesmo.

Mas na opinião da feminista Blanca Castilla, os termos por excelência seriam


“reciprocidade” e “complementariedade”; segundo ela, estas são as questões que
matam todos os fantasmas da submissão unilateral.

Alguns dos erros que têm dificultado este debate são:

1. Considerar o homem como superior à mulher, como se a mulher não pudesse, por si

2
Janne Haaland Matlary – University of Oslo,
http://www.socialtrendsinstitute.org/Activities/Family/Family-Policies-in-Western-Countries/Janne-
Haaland-Matlary-.axd
3
Amelia Varcarcel, http://www.e-mujeres.net/entrevista/amelia-varcarcel
4
K. Borresen, http://147.96.1.15/info/ucmp/cont/descargas/documento26219.pdf
mesma, ter valor a não ser como complemento do homem, tendo como missão estar ao
serviço dele. Contra isto se bateu de modo vigoroso Simone de Beauvoir.

2. Considerar que as qualidades se distribuem de acordo com o sexo – falava-se de


“virtudes femininas” e masculinas. Considerava-se como próprio do homem, a força, e
da mulher, a ternura. Isto deve ter empurrado homens de meia-idade para a frustração
pela sua dificuldade de desenvolverem relações humanas e sociais equilibradas por
ausência de “inteligência emocional”.

3. Por último, considerar que as “metades” feminina e masculina correspondiam a


uma distribuição fixa dos papeis sociais. Para esta teoria, “eles” tinham como campo
privativo a intervenção pública, a atividade política, a direcção e o comando; “elas”,
ficariam com o cargo do espaço privado, do trabalho subalterno e de apoio. Isto foi
aplicado durante séculos. A mulher considerada passiva, e sentimental, indefesa numa
sociedade criada por homens educados para serem agressivos e racionais, a necessitar
de “proteção” (deles ...) nos espaços que simpaticamente lhes teriam sido reservados.

A mulher real do mundo atual, a mulher que constitui a maioria das mulheres de
todas as nações e culturas do planeta, não corresponde ao estereotipo do pequeno setor
de algumas mulheres de elite do feminismo radical e ocidental: muitas delas estão
afastadas dos centros onde se tomam decisões, decisões que as afetam diretamente. 5

Esta mulher real, ainda carrega com a quase totalidade das tarefas domésticas e,
apesar disso ainda consegue encarregar-se de que a família desempenhe aquelas tarefas
estratégicas e chave para que a sociedade possa subsistir: transmissão da vida, educação
e socialização das crianças, solidariedade e coesão entre as gerações, estabelecimento e
sanação de laços afetivos, transferência de tradições e costumes ... 5

Sem estas funções, nenhuma sociedade poderia subsistir!5 Os resultados estão à


vista ...

Propostas

É verdade que o “elo perdido” – a diferença masculino-feminino - também tem as


suas dificuldades. Igualdade não é uniformidade, nem igualitarismo. É ilusório dividir
as qualidades “femininas” e “ masculinas”. As qualidades não dependem do sexo,
dependem de cada pessoa individual; e os “hábitos éticos” (as virtudes dos gregos da
antiguidade clássica) são próprias dos seres humanos – homens e mulheres. Cada um
deles e qualquer um deles, pode viver e praticar qualquer virtude.

O que acontece é que devido à diferença sexual, homens e mulheres têm geralmente
mais inclinação para umas determinadas competências. Isto é, espontaneamente podem
ter mais facilidade para por exemplo, estabelecer relações, terem atenção aos
pormenores concretos, terem mais intuição, serem mais persistentes, ou preferirem a
exatidão, os projetos de longo prazo, etc.

55
Viladrich, Pedro Juan. La Palabra de la Mujer, Documentos ICF, Rialp: 2000.
Mas isto apenas significa que cada sexo pode aprender com o outro; aprender, não
imitar.

Homems e mulheres têm um modo próprio de viver e fazer, fazendo e vivendo as


mesmas coisas.

Isto não tem nada a ver com atribuição de papeis: a maioria dos trabalhos são
intersubstituíveis entre homem e mulher. Precisamente porque homens e mulheres são
diferentes é que é bom que as equipas de trabalho estejam representadas por ambos. Isto
traduz-se em melhores equipas, melhores soluções, melhores intervenções na sociedade,
precisamente por haver complementariedade.

Por isso é necessário na nossa sociedade uma maior presença das mulheres no
espaço social, e uma maior presença dos homens no espaço familiar: caminhar para uma
sociedade com “mulheres na cultura, e homens na família”6.

Isto requer muitas mudanças, sociais e culturais, mas “uma viagem de mil passos,
começa com o avanço do primeiro pé” (Lao Tsé).

6
Blanca Castilla Cortazaar

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